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ATRIBUIÇÕES DA SUBDIVISÃO DO JULGAMENTO DA RAÇA GIR EM: GIR LEITEIRO

E GIR DUPLA-APTIDÃO
SILVA, P. B. R 1 ; MACHADO, C. H. C.2
1
Pós-Graduando em Julgamento das Raças Zebuínas, Faculdades Associadas de Uberaba, Uberaba (MG), e-mail:
braunervip@hotmail.com
2
Especialista em Julgamento das Raças Zebuínas, Faculdades Associadas de Uberaba, Uberaba (MG), e-mail:
abczsmg@abcz.org.br

RESUMO: Objetivou-se com este trabalho fazer um comparativo entre as atribuições da subdivisão do julgamento da raça
Gir no ano de 2004 em: Gir Leiteiro e Gir Dupla-Aptidão. O modelo utilizado para chegar aos resultados foi bem
semelhante ao que ocorre dentro de uma pista de julgamentos, pelo método comparativo, onde foram comparadas as
Grandes Campeãs da EXPOZEBU desde 2000, passando pela subdivisão em 2004 até chegar à última edição da
EXPOZEBU em maio de 2010. As Grandes Campeãs de 2000 até 2003 (quando ainda não havia a subdivisão) são bem
semelhantes às Grandes Campeãs Gir Dupla-Aptidão a partir de 2004, então o Gir Dupla-Aptidão é a continuidade do que
vinha sendo feito com toda a raça Gir, sem distinguir suas aptidões para carne ou para leite. As características fenotípicas
em que houve grandes diferenças entre o Leiteiro e o Dupla-Aptidão foram pescoço, cupim, região dorso-lombar, costado,
garupa, inserção de cauda, posterior, culote e úbere. A subdivisão do julgamento da raça Gir foi uma excelente opção para
dar oportunidade aos animais leiteiros de sagrarem-se como modelos a serem seguidos para a seleção leiteira.

PALAVRAS-CHAVES: Características fenotípicas. Dupla-aptidão. Gir Leiteiro. Julgamento.

TASKS OF THE SUBDIVISION OF TRIAL OF RACE GIR IN: GIR DAIRY AND DOUBLE-APTITUDE
ABSTRACT: The objective was to draw a comparative on the tasks of the division of trial Gir in 2004 between: Gir Dairy
(the old Aptitude-milk) and Gir Double-Aptitude. The model used to achieve the results was very similar to what happens
inside a track trials, where we compared the major fields of Expozebu since 2000, through the subdivision in 2004, until
the latest issue of Expozebu in May 2010. The Grand Champions from 2000 to 2003 (when there was no subdivision) are
very similar to Grand Champions Gir Double-aptitude 2004, so the Gir Double-aptitude is a continuation of what has been
done with all the Gir, without distinguishing their ability to meat or milk. The phenotypic characteristics that have major
differences between the Dairy and Doble-aptitude were the neck, hump, back-lumbar region, back, rump, tail insertion,
posterior, outer thighs and udder. The subdivision of the trial of Gir was an excellent choice to give opportunity to dairy
animals to consecrate themselves as role models for dairy selection.

KEYWORDS: Double-Aptitude. Gir Dairy. Phenotypic characteristics. Trial.

INTRODUÇÃO naquele momento era preciso fazer uma seleção racial,

Não faz muito tempo que um dos zebuínos
mais leiteiros que se conhece, o Gir, era relegado dentro
das raças produtoras tradicionais. Nas exposições
permanecia esquecido ou quase que escondido. Mas isto
é coisa do passado. Atualmente, animais da raça
frequentam mostras especializadas, são avaliados em
torneios leiteiros e os criadores promovem leilões
luxuosos, um deles ocorre no badalado Copacabana
Palace Hotel, no Rio de Janeiro, sendo arrematados por
lances elevados de novos e tradicionais criadores. Um
fator determinante para este reconhecimento da raça, que
quase foi esquecida no Brasil, foi à união de técnicos e
selecionadores que acreditaram em seu potencial,
garimparam os melhores exemplares e começaram a
estabelecer o PNMGL (Programa Nacional de
Melhoramento do Gir Leiteiro), com a meta de
desenvolver um tipo mais funcional e moderno de
animal (PITOMBO, 2009).
A raça Gir, vem sendo selecionada há mais de
um século no Brasil. Nas primeiras décadas teve seu
apogeu por ser a principal raça zebuína criada no país,
era preciso distinguir o que de fato era raça pura e o que
era cruzamento, e o Gir teve papel fundamental, pois era
a única raça zebuína que era fácil de identificar se
realmente era puro ou não, o perfil da cabeça ultra-
convexo e as orelhas de tamanho médio, pendentes e
formando um gavião na ponta eram características que
somente a raça Gir apresentava.
Posteriormente, a raça foi substituída pelo
Indubrasil, que era uma raça de porte maior e que tinha
um peso ao abate muito maior que o Gir. Mais tarde a
raça novamente foi substituída por outra raça zebuína,
após as ultimas importações de zebu da Índia, em
especial a última ocorrida em 1962, que foram feitas
pelos celebres zebuzeiros Rubico Carvalho (Fazenda
Brumado), Torres Homem Rodrigues da Cunha (Marca
VR), Nenê Costa e Celso Garcia Cid (Cachoeira 2C), a
raça Nelore se firmou como a principal raça zebuína de
corte no Brasil, cabendo ao Gir se firmar como o
principal zebuíno para a produção de leite.
Cabe destacar o pioneirismo dos pecuaristas
Continentino Jacinto, Francisco Figueiredo Barreto
(Marca FB), Gabriel Donato de Andrade (Fazenda

Calciolândia), João Batista Figueiredo Costa (Marca
CA), Randolpho de Mello Resende e Rubens Resende
Peres (Fazenda Brasília), como os primeiros criadores
particulares a organizarem plantéis leiteiros da raça Gir,
nas décadas de 30-40-50. Estes criadores,
pacientemente, vasculharam as fazendas e realizaram
operações de recolhimento de muitos dos exemplares
que se distinguiam pela habilidade leiteira, dispersos
pelos rebanhos nacionais. Submetendo as vacas ao
manejo de gado leiteiro, comprovaram esta vocação do
Gir para produção de leite, revelada e consubstanciada
em suas propriedades (ABCGIL, 2010).
A maioria desses rebanhos Gir Leiteiros,
formados na década de 30-40, sempre foram
acompanhados quanto ao registro pela ABCZ, com
pedigrees avaliados, bem como serviram de estudo para
teses e dissertações desde sua formação, não cabendo
nenhuma dúvida quanto sua origem Gir ‘indiana’
(LEDIC, 2009).
Ainda segundo Ledic (2009), as vacas de
fundação desses criadores pioneiros do Gir Leiteiro eram
oriundas dos rebanhos de gado Gir selecionados para
carne dos criadores mais tradicionais da época e que não
se mostravam adequadas ao sistema de produção
extensivo. Eram vacas ‘descarnadas’, com úberes
grandes e que exigia a presença de vaqueiro porque o
excesso de leite dificultava a criação do bezerro e elas
tinham de ser ordenhadas para evitar mamite ou diarréia
das crias, além de não apresentarem o mesmo
desempenho ponderal exigido para animais de corte, que
desviam todo o metabolismo para produção de carne.
E foi graças a saga e determinação destes
criadores “visionários”, que o Gir, se firmou como a
principal raça zebuína na produção de leite, que mesmo
com todas as dificuldades encontradas ao longo das
últimas décadas, jamais desistiram da criação do Gir
Leiteiro, seja na produção de leite ou nos cruzamentos
com a raça holandesa, que originou o Girolando, e hoje
utiliza maciçamente os touros provados e em Teste de
Progênie, através do PNMGL, que é executado e
realizado através da parceria entre a ABCGIL
(Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro) e
EMBRAPA/Gado de Leite.
Segundo Ledic (2009), foram estes criadores
que souberam com perseverança e ideais, melhorar os
úberes, com tetas de tamanhos médios e bem colocados;
aprumos perfeitos e estrutura óssea vigorosa; boa
resposta de ovulação nos processos de TE (Transferência
de embriões) e FIV (Fertilização in vitro) e reduzir a
idade ao primeiro parto e intervalo de partos.
Em 2004, a ABCZ (Associação Brasileira dos
Criadores de Zebu), representada pelo seu
Superintendente de Melhoramento Genético, Carlos
Henrique Cavallari Machado e a ABCGIL, representada
pela figura do então presidente da entidade, Eduardo
Falcão de Carvalho, apresentaram uma proposta sem
precedentes na historia da raça, que foi a divisão do
julgamento da raça Gir em: Gir Aptidão Leiteira e Gir
Dupla-Aptidão. Na época a proposta causou muita
polêmica, pois muitos eram a favor e outros eram contra.
2
Mas, graças ao bom senso do Conselho Técnico da raça,
a brilhante proposta de Carlos Henrique e Eduardo
Falcão, é aprovada e consolidada, e o Gir passa a ocupar
duas posições dentro da pista de julgamento.
O objetivo deste artigo foi descrever quais
foram às atribuições da subdivisão nas pistas de
julgamento da raça Gir em: Gir Leiteiro e Dupla
Aptidão. E estabelecer um comparativo entre quais são
as principias características morfológicas, econômicas e
sociais, que distinguem uma aptidão da outra
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas as Grandes Campeãs da Raça
Gir dos últimos 10 anos, ou seja, desde o ano de 2000,
da EXPOZEBU, que é realizada anualmente pela ABCZ,
nas dependências do Parque Fernando Costa, em
Uberaba- MG. O trabalho teve como proposta comparar
as diferentes matrizes consideradas como referência para
a raça, e fazer um paralelo da evolução das mesmas, e
depois comparar as Grandes Campeãs Gir, desde 2004,
quando houve a divisão do julgamento da raça em Gir
Aptidão-Leiteira e Gir Dupla-Aptidão.
Para a execução do trabalho, foram anexadas as
fotos dos animais, sendo que as FIG. 1, 2, 3 e 4,
correspondem respectivamente as Grandes Campeãs da
EXPOZEBU da raça Gir, do ano de 2000 até o ano de
2003, período esse em que o julgamento ainda não era
dividido. As FIG. 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11, correspondem
respectivamente as Grandes Campeãs da EXPOZEBU
da raça Gir Dupla-Aptidão, durante o período de 2004
até 2010. As FIG. 12, 13, 14, 15,16 e 17, correspondem
as Grandes Campeãs da EXPOZEBU da raça Gir
Aptidão-Leiteira durante o período de 2005 até 2009. A
FIG. 18 corresponde a Grande Campeã Gir Leiteiro da
76ª EXPOZEBU/2010. A partir do ano de 2010 por
decisão do Conselho Técnico da raça Gir a antiga
nomenclatura Gir Aptidão-Leiteira, passa a ser chamada
simplesmente de Gir Leiteiro. Um comparativo dos
animais foi feito assim como é realizado dentro das
pistas de julgamento de todos os animais, ou seja, quais
as características fenotípicas que sofreram alguma
mudança nos últimos 10 anos, e quais são as
características que vistas a olho nu são diferentes de um
animal Gir Leiteiro e um animal Gir Dupla-Aptidão.
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FIGURA 1: Grande Campeã da 66ª EXPOZEBU FIGURA 3: Grande Campeã da 68ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2000 da raça Gir: DALILA DA OLHOS ocorrida no ano 2002 da raça Gir: BABAYARA DP, do
D’ÁGUA, do expositor Luiz Antônio Figueiredo expositor João Machado Prata Júnior

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

FIGURA 2: Grande Campeã da 67ª EXPOZEBU FIGURA 4: Grande Campeã da 69ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2001 da raça Gir: KAMILA DA 2M, do ocorrida no ano 2003 da raça Gir: IMAGEM FAN, do
expositor Organização Mamedi Mussi expositor Fábio André

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

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FIGURA 5: Grande Campeã da 70ª EXPOZEBU FIGURA 7: Grande Campeã da 72ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2004 da raça Gir Dupla-Aptidão: ocorrida no ano 2006 da raça Gir Dupla-Aptidão:
KULINA DP, do expositor João Machado Prata Júnior KAYARA DP, do expositor João Machado Prata Júnior

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

FIGURA 6: Grande Campeã da 71ª EXPOZEBU FIGURA 8: Grande Campeã da 73ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2005 da raça Gir Dupla-Aptidão: ocorrida no ano 2007 da raça Gir Dupla-Aptidão:
KULINA DP, do expositor João Machado Prata Júnior BAGDA DOBI, do expositor José Luiz Junqueira Barros

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

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FIGURA 9: Grande Campeã da 74ª EXPOZEBU FIGURA 11: Grande Campeã da 76ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2008 da raça Gir Dupla-Aptidão: ocorrida no ano 2010 da raça Gir Dupla-Aptidão:
BAGDA DOBI, do expositor José Luiz Junqueira Barros RAINHA R2, da expositora Heda Borges Machado

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

FIGURA 10: Grande Campeã da 75ª EXPOZEBU FIGURA 12: Grande Campeã da 70ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2009 da raça Gir Dupla-Aptidão: ocorrida no ano 2004 da raça Gir Aptidão-Leiteira:
FAVORITA DOBI, do expositor José Luiz Junqueira UNÇÃO DA SILVÂNIA, do expositor Bom Jardim da
Barros Serra Agropecuária

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

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FIGURA 13: Grande Campeã da 71ª EXPOZEBU FIGURA 15: Grande Campeã da 73ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2005 da raça Gir Aptidão-Leiteira: ocorrida no ano 2007 da raça Gir Aptidão-Leiteira:
JAMA DA PALMA, do expositor Joaquim Domingos JAMA DA PALMA, do expositor Agropecuária Palma
Roriz Ltda

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010

FIGURA 14: Grande Campeã da 72ª EXPOZEBU, FIGURA 16: Grande Campeã da 74ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2006 da raça Gir Aptidão-Leiteira: ocorrida no ano 2008 da raça Gir Aptidão-Leiteira:
COMENDA TE SILVÂNIA, do expositor Eduardo TAÇA FIV JMMA, do expositor José Mário Miranda
Falcão de Carvalho Abdo

Fonte: ABCZ, 2010 Fonte: ABCZ, 2010


FIGURA 17: Grande Campeã da 75ª EXPOZEBU do
ano 2009 da raça Gir Aptidão-Leiteira: GEMADA DA
GENIPAPO, do expositor Paulo Roberto Andrade
Cunha
Fonte: ABCZ, 2010
FIGURA 18: Grande Campeã da 76ª EXPOZEBU
ocorrida no ano 2010 da raça Gir Leiteiro: ESFERA TE
DE BRASÍLIA, do expositor Fazenda Brasília
Agropecuária
Fonte: ABCZ, 2010
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sequencia da ordem das figuras foi feita de
maneira, para que ao analisar as Grandes Campeãs, antes
da divisão do julgamento em 2004, fossem feitas
comparações entre elas, e se de fato era necessário ou
não a divisão do julgamento. Até o ano de 2003, a pista
de julgamento era composta por duas modalidades de
julgamento de animais Gir: Gir Mocha e Gir. A
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modalidade de julgamento da raça Gir variedade Mocha,
não será discutida nesse trabalhão, pois não é o objetivo
do mesmo, uma vez que também a partir de 2010, passa
a ser julgada em conjunto com os animais de chifre,
ficando a divisão a partir de 2010, de apenas Gir Leiteiro
e Gir Dupla-Aptidão.
Alguns fatos merecem destaque nestes últimos
10 anos de EXPOZEBU. Em 2004 e 2005, a vaca Kulina
DP (FIG. 5e 6), sagrou-se como Bi Grande Campeã Gir
Dupla-Aptidão da EXPOZEBU, já no ano de 2007,
Kulina DP, sagrou-se como Reservada Grande Campeã,
de uma matriz que mais tarde também se tornaria Bi
Grande Campeã Gir Dupla-Aptidão da EXPOZEBU, a
vaca Bagda DOBI (FIG. 8 e 9), Grande Campeã da raça
nos anos de 2007 e 2008. Em 2006 Bagda DOBI foi
Reservada Grande Campeã da matriz Kayara DP (FIG.
7). Em 2009, a Grande Campeã Gir Dupla-Aptidão da
EXPOZEBU, foi à vaca Favorita DOBI (FIG. 10), que é
filha da Bi Grande Campeã Bagda DOBI (FIG. 8 e 9).
Favorita DOBI, sagrou-se como Reservada Grande
Campeã Gir Dupla-Aptidão da EXPOZEBU de 2010.
Estes destaques têm duas explicações: a primeira é que
de fato as matrizes são realmente superiores, e
comprovaram anos depois que não foram grandes
campeãs em uma pista tão acirrada quanto a de Uberaba,
simplesmente pelo momento, mas, sim por sua
superioridade genética e fenotípica, transmitindo isso
também para sua progênie. A segunda é que com o
crescimento e consolidação constante do Gir Leiteiro, os
animais de Dupla-Aptidão, estão ficando cada vez mais
restritos, diminuindo assim a variabilidade dos animais
de aptidão para corte, e por consequência sem apelo
comercial, desestimulando assim seus criadores a
investirem na aptidão para corte.
Segundo Barros (2009), a especialização
zootécnica é inevitável, animais, precisam dar conta do
recado, e ai nesse caso não se precisa de um animal que
faça um pouco de tudo e sim do animal que faça tudo do
pouco.As aptidões são desafiadas a cada geração, e a
cada geração, são especializadas e definidas para que
façam esse “tudo do pouco”.
Agora a riqueza da raça Gir é exatamente essa,
a raça é capaz de escolher, selecionar e obter indivíduos
especializados em carne e indivíduos especializados em
leite; ou seja, é uma raça de dupla aptidão com
indivíduos com aptidões particulares e definidas (ou leite
ou carne).
Não podemos correr o risco de eleger os “super
heróis”, que supostamente produzam leite e carne.
Lembro: onde deve ter um úbere produtivo, não
conseguimos encontrar massas musculares evidentes, e
obviamente onde encontramos massas musculares
evidentes não sobra espaço para um úbere produtivo
(BARROS, 2009).
Ao analisarmos as Grandes Campeãs Gir de
2000 até 2003 (FIG. 1, 2, 3 e 4), nota-se grande
semelhança fenotípica com as Grandes Campeãs Gir
Dupla-Aptidão de 2004 até 2010 (FIG. 5, 6, 7, 8, 9, 10 e
11), do que com as Grandes Campeãs Gir Leiteiro de
2005 até 2010 (FIG. 12, 13, 14, 15, 16, 17e 18).
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As Grandes Campeãs de 2000 até 2010 (FIG.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11), são muito semelhantes
fenotipicamente, os biotipos destes animais se
aproximam muito. Até o ano de 2003, o julgamento era
único, sendo que não havia distinção entre as aptidões
para leite e corte, então se torna claro e evidente que a
divisão do julgamento a partir de 2004, foi uma
excelente opção para dar oportunidade aos animais
leiteiros de sagrarem-se como modelos a serem seguidos
para a seleção leiteira, ou seja, o que vinha sendo feito
nas pistas de julgamento até 2004, era o julgamento para
aptidão para corte, e vale ressaltar que nem os jurados
que estavam realizando os julgamentos e nem os
criadores que participavam das exposições devem ser
culpados por isso, uma vez que aquele biotipo era o
melhor a ser selecionado naquela época. A divisão do
julgamento deixa bem evidente, que as Grandes
Campeãs Gir Dupla-Aptidão a partir de 2004, são a
continuidade do que vinha sendo feito com toda a raça
Gir, sem distinguir suas aptidões para leite ou corte antes
da divisão do julgamento.
Segundo Ledic (2009), o problema é que os
criadores de Gir dupla-aptidão alegam que o Gir Leiteiro
é mestiço ou teve infusão de ‘taurus’. Isso não é uma
verdade tendo em vista que esses rebanhos Gir Leiteiro
foram formados de linhagens importadas, a maioria
descendentes de nove touros importados da Índia:
Alambique, Gaiolão, Gandhi, Hindostan, Krishna,
Naidu, Rajá, Lobisomen e Vijaya. O que ocorreu é que
esses criadores não se apegaram tanto nos detalhes de
refinamento de beleza racial e sim nos aspectos
produtivos, todavia enquadrados dentro do padrão racial
exigido para registro na ABCZ.
Se analisarmos, hoje as tecnologias são de fácil
acesso com custos totalmente acessíveis, e em contra
partida a exigência de qualidade e produtividade estão
cada vez mais insuportáveis, digo insuportável, por que
com esse sistema globalizado, quem não da conta do que
se exige, ta fora, infelizmente, o romantismo e
preciosismo, não pagam as contas (BARROS, 2009).
Essa realidade do Gir como raça leiteira,
seguindo sua aptidão natural como em seu país de
origem e adotada nos outros países que importam do
Brasil, atualmente é perseguida por todos, como uma
reparação do erro cometido quando de sua introdução no
Brasil, que a considerou como raça de corte. Tanto que a
própria ASSOGIR está com intuito reavivar a Entidade
dando enfoque para seleção leiteira junto aos seus
associados. Esse é o destino do Gir (LEDIC, 2009).
O QUA. 1 faz um comparativo entre as
diferenças das características fenotípicas entre as
Grandes Campeãs Gir Leiteiro e Gir Dupla-Aptidão da
Expozebu desde de 2004, quando o julgamento passou a
ser subdividido.

QUADRO 1 – Comparativo entre as diferenças fenotípicas observadas entre as Grandes Campeãs Gir Leiteiro e Gir
Dupla-Aptidão da EXPOZEBU, desde o ano de 2004, quando houve a divisão do julgamento
GIR LEITEIRO
Cabeça Padrão racial conforme o estabelecido pela
(Características raça, sem diferenças com o Dupla-Aptidão
Raciais)
Pescoço mais anguloso, sem grandes
Pescoço revestimentos musculares
Cupim Cupim mais discreto, mais arredondado
Região Dorso-lombo forte, com boa sustentação
Dorso-lombar para as costelas, porém descarnado
Costado profundo, com costelas bem
Costado arqueadas. As costelas são vistas a olho
nu. Região descarnada, sem cobertura
muscular
Garupa Garupas largas, compridas e levemente
inclinadas, sem grandes coberturas
musculares. Descarnadas
Inserção de Inserção de cauda discreta, sem acúmulo
cauda de tecido adiposo
Posterior Enxutos de musculatura e tecido adiposo,
ideal em raças leiteiras
Culote Quase ausente, bem discreto, formando um
ângulo de 180 °, o que garante melhor
acomodação do úbere
Úbere Úberes bem volumosos, bem sustentados
por fortes ligamentos. Tetos de calibre e
tamanhos médio, com bom espaçamento
entre os mesmos.
Todas as matrizes estavam paridas e
apresentavam o piso do úbere acima da
linha dos jarretes
O QUA. 1, demonstra cada característica fenotípica e as
suas diferenças entre o Gir Leiteiro e o Gir Dupla-
Aptidão. Outra característica analisada e que merece
destaque é o peso das Grandes Campeãs. A média de
peso das Grandes Campeãs de 2000 até 2003 foi de 613
kg, a média de peso das Grandes Campeãs Dupla-
Aptidão de 2004 até 2010 foi também de 613 kg, e a
média de peso das Grandes Campeãs Gir Leiteiro foi de
514 kg. A aferição do peso dos animais participantes da
EXPOZEBU, não deixa a menor dúvida de que o Gir
Dupla-Aptidão é simplesmente a continuidade do que
vinha sendo feito antes da divisão do julgamento, uma
vez que as Grandes Campeãs de 2000 até 2003
obtiveram exatamente a mesma média de peso das
Grandes Campeãs Gir Dupla-Aptidão de 613 kg de peso
vivo. Mas o fato que mais chama a atenção quanto ao
peso é referente às duas últimas edições da EXPOZEBU,
quando as Grandes Campeãs do Gir Leiteiro 2009 e
9
GIR DUPLA-APTIDÃO
Padrão racial conforme o estabelecido pela raça,
sem diferenças com o Leiteiro
Pescoço apresenta revestimento muscular bem
evidente
Cupim bem mais evidente, de maior volume, se
aproximando bem com o das raças de corte
Dorso-lombo forte, com boa sustentação para as
costelas, com bastante cobertura muscular
Apresentam costelas arqueadas e profundas, com
musculatura evidente recobrindo as costelas
Garupas largas, compridas, menos inclinadas do
que no Leiteiro. Região com musculatura bem
evidente
Inserção de cauda, recoberta por tecido adiposo
Com bom revestimento muscular, região com
muitos feixes musculares
Culote com fortes feixes musculares, descendo até
os jarretes, deixando pouco espaço para
acomodação do úbere
Úberes sem muito destaque, com forma e volume
bem discretos.
2010, respectivamente, Gemada da Genipapo (FIG. 16)
com 644 kg e Esfera TE de Brasília (FIG. 17) com 560
kg, pesaram mais do que as Grandes Campeãs Dupla-
Aptidão 2009 e 2010, respectivamente, Favorita DOBI
(FIG. 10) com 483 kg e Rainha R2 (FIG. 11) com 522
kg). Isso demonstra que as matrizes leiteiras além de se
enquadrarem perfeitamente dentre os padrões raciais,
ainda são matrizes pesadas porém sem perder sua
angulosidade e o seu tipo leiteiro, isso fica comprovado
mediantes o resultado das duas últimas edições da
EXPOZEBU.
CONCLUSÕES
A subdivisão do julgamento foi um divisor de
águas da raça Gir. Foi a principal alavanca que as
seleções de Gir Leiteiro necessitavam. Trabalhos de
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seleção dos criadores desde os anos de 1930, controles

leiteiros, criação e consolidação do PNMGL, o árduo
trabalho dos técnicos e pesquisadores foram de suma
importância para a raça, mas foi a partir do momento em
que o Gir Leiteiro passou a ocupar a sua posição dentro
das pistas de julgamento, que a raça ganhou seu
destaque. A partir desse momento animais da raça
passaram a frequentar mostras especializadas, leilões
luxuosos, com recordes dentre o número de inscritos em
exposições, prova disso é a 76ª EXPOZEBU/2010, onde
depois de mais de 40 anos, uma raça conseguiu superar o
Nelore dentro das instalações do Parque Fernando Costa.
Conclui-se que a subdivisão do julgamento da raça Gir
em 2004, foi um marco sem precedentes para o Gir
Leiteiro.

REFERÊNCIAS

ABCGIL (Uberaba-MG). Associação Brasileira dos

Criadores de Gir Leiteiro. A ABCGIL hoje. Disponível
em: <http://www.girleiteiro.org.br/index.php?page=a-
associacao>. Acesso em: 12 ago. 2010
ABCGIL (Uberaba - MG). Associação Brasileira dos
Criadores de Gir Leiteiro. Desempenho do Gir
Leiteiro. Disponível em:
<http://www.girleiteiro.org.br/index.php?page=desempe
nho>. Acesso em: 10 ago. 2010.
ABCZ (Uberaba - MG). Associação Brasileiras Dos
Criadores de Zebu. EXPOZEBU 70 ANOS: O ponto de
encontro da pecuária internacional. Disponível em:
<http://www.expozebu.org.br/2004/>. Acesso em: 15
ago. 2010.
ABCZ (Uberaba - MG). Associação Brasileira Dos
Criadores de Zebu. Galeria dos Grandes Campeões da
EXPOZEBU desde 1935. Disponível em:
<http://www.abcz.org.br/site/campeoes/index2.htm>.
Acesso em: 15 ago. 2010.
BARROS, José Augusto. Gir: dupla aptidão?
Conhecemos a raça gir, como raça de duplo propósito.
Muito bom, sensacional... Os filhos de qualquer touro da
raça irão produzir fêmeas muito leiteiras e machos muito
carnudos, são os super indivíduos; para completar isso
tudo, sem comer ração, só no pasto. Disponível em:
<http://www.portaldogir.com/site/artigos.php?tla=2&co
d=1833&pag=1>. Acesso em: 15 ago. 2010.
LEDIC, Ivan Luz. O Gir Leiteiro Puro - Uma
realidade na América Latina: No Brasil se verifica que
entraram somente cerca de 680 animais da raça Gir..
Disponível em:
<http://www.portaldogir.com/site/artigos.php?tla=2&co
d=1830&pag=1>. Acesso em: 08 ago. 2010.
PITOMBO, Luiz H.. Gir Leiteiro: demanda cresce e
valoriza a raça. Disponível em:
<http://www.portaldogir.com/site/artigos.php?tla=2&co
d=1835&pag=1>. Acesso em: 08 ago. 2010.