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1

In Memoriam:

José Edilson dos Santos


alguém que deixou saudades e a quem é dedicado, o poema,
"Pai".
2
3

Aos meus quatro grandes amores na vida:

Alexandre Almeida [filho tesouro adorável];


Mª Izaira Soares dos Santos [Géia linda e amável];
Geny Lustosa [Afrodite de beleza incomparável];
e à crítica social [companheira maleável e inesquecível].

Sem vocês essa singela mitopoesia não teria sido possível...


4

[IN]EXISTÊNCIAS
MITOPOÉTICAS
5

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARAÁ

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Vice-Reitor

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José Alex Soares Santos

[IN]EXISTÊNCIAS
MITOPOÉTICAS
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[IN]EXISTÊNCIAS MITOPOÉTICAS

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Projeto Gráfico
(José Alex Soares Santos)

Capa
(Antonio Carlos Bonfim)

Revisão de Texto
(Francisca Geny Lustosa)

Ficha Catalográfica
(INCLUIR NOME DA BIBLIOTECÁRIA E NÚMERO DO CRB)
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO................................................
11
......................

POÉTICA DO
13
DEVANEIO.........................................................

PARTE I -
MITOPOESIA..................................................... 17
........
DEUSA DA
SEDUÇÃO...................................................................... 19
.........
APOLO E
DIONISO....................................................................... 20
............
PELOS
DEUSES!....................................................................... 21
..................
ENDIMIÃO E MEU MODO DE
22
SER ...........................................................
FILOSOFIA....................................................................
23
............................
AMBROSIA....................................................................
24
...........................
CÓPULA QUE A FÊNIX FEZ
25
RENASCER....................................................
SONETO À
POSÍDON...................................................................... 26
.........
À DEUSA
AFRODITE..................................................................... 27
.............
AFRODITE E
ADÔNIS........................................................................ 28
........
ANÊMONA.....................................................................
29
..........................
AO DEUS
EROS............................................................................ 30
.............
ARMADILHA DE
EROS............................................................................ 31
..
SORPO DE 32
9

ÉOLO............................................................................
..........
EOS: O PARTO DO
33
DIA............................................................................
DESTINO DE
IO................................................................................. 34
........
BENÇÃO DE DIONISO À LUTA COM
35
ARTE..............................................

PARTE II - INTERFACES
37
POÉTICAS...........................................
VIVEMOS PARA
QUÊ.............................................................................. 39
.
PAI...............................................................................
40
.............................
A
PARTIDA....................................................................... 41
.........................
TREM DA
VIDA............................................................................ 42
.............
TÂNATOS: A
MORTE......................................................................... 43
........
ENCONTRO COM O
44
NADA.....................................................................
DEPRESSÃO..................................................................
45
............................
SER
LIVRE........................................................................... 46
.......................
BOEMIA
EXCITANTE.................................................................... 47
.............
VELA DO
FILOSOFAR................................................................... 48
............
A
GREVE.......................................................................... 49
.........................
SANGUE
REVOLUCIONÁRIO......................................................... 50
..........
O CAPITAL E A
BARBÁRIE..................................................................... 51
...
INCONTROLÁVEL
52
CAPITAL......................................................................
10

ARQUÉTIPOS DO
53
CAPITAL.......................................................................
FULMINANTE
CAPITAL........................................................................ 54
.....
O MALVADO
CAPITAL........................................................................ 55
.....
O CAPITAL E OS SENTIDOS DO
56
TRABALHO............................................

PARTE III - POEMAS


58
NATUROMÂNTICOS................................
PÔR DO
SOL.............................................................................. 60
...............
PALAVRAS AO
VENTO.......................................................................... 61
...
AMANHECER DE
62
SAUDADES...................................................................
ENCONTRO SEM
63
PROCURA.....................................................................
SELENE E
EOS.............................................................................. 64
..............
FLOR DA
TOSCANA...................................................................... 65
...........
NO PÔR DO SOL, O BOLERO DE
66
RAVEL..................................................
SONETO
D'AMANTE ................................................................... 67
............
OLHAR DE SELENE
68
I..................................................................................
VIVER
D'AMOR........................................................................ 70
.................
TERRA
MOLHADA..................................................................... 71
................
AMOR E
PAIXÃO......................................................................... 72
............
CHUVA
LITORÂNEA................................................................... 73
..............
FERIDO POR 74
EROS............................................................................
11

........
ARCO-ÍRIS NA
CIDADE......................................................................... 75
..
PÉROLA OU
FLOR............................................................................ 76
.........

APRESENTAÇÃO

[...] Que a arte nos aponte uma resposta


Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer...
(Oswaldo Montenegro)

O
que leva alguém a escrever poesia e aventurar-se no mundo da
criação literária? Os motivos são vários e, diversos são os
matizes da sentimentalidade posta em versos, como forma de
12

manifestação da beleza poética. Com inspiração em tais sentimentos


começa a gestação estética da obra [In]existências mitopoéticas.
O nascedouro de filho tão amado está poeticamente vinculado as
[in]existências experimentadas pelo autor ao longo de sua trajetória,
entrecortada de vivências pintadas pelas cores do arco-íris, bem como
pelo tom de chumbo de nevoeiros, acompanhados de trovoadas.
Dizemos isso, em virtude de ter despertado o interesse pela poesia
no momento em que nos recuperávamos de uma primeira crise
depressiva, a qual precederia outras e, diante delas, mais poesias que
revelam estados emocionais os mais diferentes e jamais imaginados. No
entanto, acreditamos que são nas circunstâncias vividas e sentidas
profundamente que se fazem os poetas. O poeta é aquele que tatua suas
emoções na alma, para em seguida, transpô-las ao papel por meio da
escrita, ou simplesmente declamá-las.
São tais [in]existências que nos levam ao encontro do deus Dioniso
e, quando nos deparamos com este, somos capazes de musicar, pintar,
poetizar em vários tons e matizes, a tristeza e a melancolia, a sensação de
prazer e alegria, os efêmeros momentos de felicidade, bem como todas as
manifestações do que há de mais subterrâneo nas entranhas de nosso ser
obscuro e repleto de incógnitas.
Com os fios aqui delineados, começamos a tecer a rede filigranada
por emoções, sentimentos e a força da paixão com reverência aos deuses
e deusas da mitologia greco-romana, a partir da sensibilidade poetizada.
Seja homenageando-os, ou utilizando-os como metáforas para revelar
paixões, amores, saudades, lutas e, por fim, a crítica social à ordem
sociometabólica do sanguinário e parasitário capital. É com esse tom que
a primeira parte da obra constitui sua tessitura estético-política, sob o
título de Mitopoesia.
Como a candura das luzes de Nepal vai surgindo os contornos da
parte II, intitulada, Interfaces poéticas. Nesse ponto da obra temos
poemas sobre a dramaticidade e a simplicidade da vida. O conjunto de
poemas aqui reunido, em específico, convida o leitor a viajar em um
caleidoscópio existencial, ou seja, com as questões que habitam a vida e
prenunciam a morte, na mais terna dialética dos contrários.
13

Por fim, na parte III - com o título de Poemas Naturomânticos -


aparecem os poemas que buscam apresentar com romantismo o contato
do poeta com a natureza interiorana da "Terra das Pedras que Estalam", a
querida cidade de Itapipoca. O surgimento da aurora, o desaparecimento
da lua; o pôr do sol; a noite acompanhada pelo nascimento do luar; o
cheiro da terra molhada nas primeiras chuvas de janeiro; o emergir da
relva orvalhada, bem como trata de aventuras e desventuras amorosas,
sem as quais não conseguimos nos fazer humanos, demasiados humanos,
ou seja, sempre abertos para amar, ter prazer, sofrer, chorar, sorrir e
termos momentos de felicidade - elemento que se apresenta para o ser
humano como o horizonte, ou seja, quanto mais o buscamos, mais insiste
em afastar-se.

José Alex Soares Santos.


Itapipoca, 11 de outubro de 2013.
14

POÉTICA DO DEVANEIO

Geny Lustosa
Profa. da Universidade Federal do Ceará - UFC.
Pedagoga, Me. e Dra. em Educação Brasileira pela UFC.

[...] O mito atrai, em torno de si, toda a parte do irracional


no pensamento humano, sendo, por sua própria natureza,
aparentado à arte, em todas as suas criações. E talvez seja
este o caráter mais evidente do mito grego.
(Junito de Souza Brandão)

A
s experimentações poéticas com as quais nos deparamos nesta
obra traduzem o reconhecimento do poeta, tanto na melodia
exalada, quanto nos sentidos e significados que este oferece. Esta,
preserva a unidade da marca humana e de sua intensidade, junto com a
enorme capacidade de paixão, reunidas em um sentido poético. A poesia
de Alex Santos faz-nos imergir, destarte, em algumas de suas instâncias
de passionalidade: a vida e seus desejos mais pulsantes – o amor, o medo,
a dor, a separação, a luta social...
A Mitologia, fio condutor de sua obra, nos parece apenas o pretexto
(um contexto?) retratado pelos arquétipos de deuses e deusas, bem como
nas narrativas e simbologias que enredam. Tal como Sherazade, o poeta
encanta quando começa a contá-las, vez por outra; encanta,
principalmente, por amar e conhecer com tanta propriedade as narrativas
mitológicas, no que faz emergir uma verdadeira sistematização e
explicação do Olimpo - Panteão dos deuses.
Quando ao perguntar-se sobre o que leva alguém a escrever poesia
e aventurar-se no mundo da criação literária, não ousamos sequer tentar
aventarmos possíveis respostas, mas não seria, talvez, a credibilidade de
que o processo criativo é produtor de seres humanos e mundos, no qual
pode se fundamentar o humano em sua capacidade de reinvenção?
Mesmo não podendo perspectivar de fato, respostas absolutas para
indagação tão particular, apreendemos parte das inquietações atuais,
concernentes ao autor, acerca da natureza e da possível interrelação
“arte-ser humano-mundo-transformação social” (aqui formuladas sob
15

nossos grifos!).
Qual a potência dessa linguagem para os processos de reinvenção
dos sujeitos, na produção de novos modos de existência social, ou como
diria Nietzsche, de novos processos de "subjetivação dissidente?" E na luta
revolucionária, qual a possibilidade de produzir "sujeitos resistentes ou
linhas de fuga e devires?"
Nesse instante nos ocorre, que suas indagações gravitam em
verossimilhança a Bachelard, quando se debatendo com os problemas
colocados pela imaginação poética se inquieta em reflexões, e para quem
a imagem poética é "comparada em arquétipo adormecido no
inconsciente."
Em seus poemas, imaginação poética transitam em [in]existências
que devaneiam entre o mito e a realidade, que bailam, dançam na leitura
do mundo - um mundo que prescinde tão fortemente da arte, da
criatividade como reinvenção. É a própria poética do imaginário, tal como
Bachelard a compreende. Em [In]existências mitopoéticas, essa
poética emerge em metáforas, como um produto direto do coração e da
alma de seu autor, arrebatado na leitura citadina do cotidiano em sua
atualidade.
Ao pensarmos sobre os poemas e nas narrativas da mitologia
expressas na referida obra, belamente encontramos Alex Santos em duas
principais personificações, as quais temos a sensação de que este se
conjuga, em uma unidade-dual, “Apolo e Dioniso”.
A nós, esse par de contrários aparece também em sua poética, pois
o autor utiliza-se do que é dionisíaco, ou seja, do que é criativo, caótico,
estonteante e do esteticamente embriagante presente nas vicissitudes
humanas, pari passu, em se tratando do apolíneo, concilia a unidade
dialética da beleza, harmonia, da perfeição, da sistematização que estão
mais presentes nas virtudes. Estes aspectos estão claramente perceptíveis
no poema “Apolo e Dioniso": [...] “um, é todo impulso, força e violência.
Outro, juventude, luz e canção. Ao unirem-se dão vida à arte criadora,
necessidade destrutiva, princípio de ordenação”. (p.16).
Revisitando Bachelard, mais uma vez, para quem era imperativo se
chegar a uma "fenomenologia da imaginação poética", em limites bem
16

singelos, esta "mitopoesia", ao responde filósofo francês, posto que as


motivações poéticas de Alex Santos são sempre da ordem do desejo
pulsante do humano. Ao lê-las, vemos as (re)leituras da mitologia no
tempo presente nos componentes da realidade: no amor, na crítica social,
na contemplação dos fenômenos da natureza, uma vez que tais parecem
consolidar, de modo exemplar, as existências que o poeta prefere se
perguntar se reais ou não. [In]existentes?
Nessa polifonia entre existências e [in]existências, está situada a
ponte que é construída entre mito e poesia? Que semelhança temos nós e
o mundo em que vivemos hoje com essa ordenação mitológica?
Arriscamos a crer que a poética proposta nesta obra, na técnica,
métrica, (des)alinhada é dionisíaca, mas suas repercussões imagéticas no
pensamento e as sensações que produzem na subjetividade dos que a
leem poderiam ser comparadas ao efeito apolíneo: certeiras no alvo, no
coração e na alma d'aqueles(as) que, agora, podem ter contato com tão
sutis informações sobre o universo mitológico, que aqui são partilhadas,
pertencente a poucos, mas que em tempos remotos, já explicaram e
organizaram o mundo.
Em síntese, ousamos afirmar que a "apreciação ética e estética da
vida" parece ser o fio que costura os versos e poemas que por hora
expressam a reinvenção da "poética do devaneio".

Fortaleza, 16 de outubro de 2013.


17
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PARTE I
MITOPOESIA

Arte: Carlos Bonfim

O mito é o nada e o tudo.


O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,


Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
(Fernando Pessoa)
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20

DEUSA DA SEDUÇÃO

Onde estará,
Bela Afrodite?
Deusa da sedução
Que desperta prazeres!
Elementos da paixão
Na deidade consiste.
Olimpiana mais linda
E perfumada que existe.
Das graças recebeu a beleza,
Por Posídon abençoada,
Da genitália de Urano gerada,
De Zeus, a sua realeza.
Foi por Ares muito amada,
Por Hefesto desposada,
No entanto, Adônis
É por quem foi enamorada.
Teve Eros como filho
Que Psiqué adorava
Pelo travesso conquistada,
Deixando a mãe enciumada.
21

APOLO E DIONISO

Em sua carruagem dourada, Apolo,


Distribui as chamas que aquecem o dia,
Fazendo da ordem sua grande primazia
Enquanto espalha seu clarão entre os polos.

Eis que Dioniso constitui audiência


E estabelece a embriaguez em seu solo
Para os artistas, boêmios e poetas o consolo,
Enquanto os errantes sentem sua ausência.

Jogo de contrários, funda a existência,


Morte da inocência, nascimento da paixão.
Caos e incerteza, beleza e contemplação
Germinam nas entranhas da contingência,

Deixam em escombros desvairada solidão!


No Olimpo são de notória presença.
Um, é todo impulso, força e violência,
O outro, juventude, luz e canção.

Ao unirem-se dão vida à arte criadora,


Necessidade destrutiva, princípio de ordenação.
Controle repressivo, vontade de libertação,
Portal da verdade e mentira sedutora.

Ó filhos de Zeus, grande deus do trovão!


Irmãos de Atená, sagaz deusa da inteligência.
Dioniso, as festas e a alegria são tuas vivências,
Já o deus Apolo é luz, serenidade e contemplação!
22

PELOS DEUSES!

Filha de Afrodite auxiliada por Eros teu irmão,


Seduziu-me com teus encantos e tua voz sibilante
Alinhou-me em tua luz de raio ofuscante...
Tomando para ti o amor de enternecido coração.

Dioniso condoído ofertou-me o vinho embriagante,


Para olvidar os suplícios advindos com a paixão
E ao Hades não sucumbir, empurrado pela solidão.
Salvaguardai-me do subterrâneo, oh, vida entediante!

Retornando da embriaguez é Prometeu que sou,


Dores fulminantes consomem-me as entranhas
Feito águia a devorar-lhe nas escarpadas montanhas.
Este castigado por Zeus e eu pelo deus do amor.

Como Electra é trágica a vida de quem ama,


A espera de quem não volta, a ermo desprezada,
Desvanecendo em lágrimas, pelo sofrimento esgotada.
Ultrajada no próprio lar e corrompida pela infâmia!
23

ENDIMIÃO E MEU MODO DE SER

Em meu modo de ser,


Não consigo me ver
Na forma de Endimião,
Mito de infinita perfeição!

Por Zeus atendido


Em estranho pedido.
À eterna conservação
Da beleza, sucumbi a ação.

Prefiro viver o pecado


Como experimentado
No Éden, por Eva e Adão,
Ao provarem a fruta da perdição.

Por Deus abandonados


Ao mundo condenados,
A uma vida de aflição
Por descobrirem a paixão.
24

FILOSOFIA

Ambrosia que alimenta a alma de alegria,


Néctar refrescante da sede de conhecimento,
Acordes da lira de Apolo para o pensamento
Teus amantes seguem fecundados de sabedoria.

Das ideias socráticas tornaste apologia


Na luta entre a crueza da ignorância
E a resplandecente clareza da esperança,
Com Platão no Mito da Caverna foste alegoria.

No idealismo contemplação, no marxismo militância


Por Nietzsche tocada de pessimismo existencial,
Nasce o filosofar do martelo, prometendo vingança

À racionalidade moderna em seu pedestal.


Abalo nos paradigmas, crise e inconstância...
De Foucault à Derrida se fez pós-modernisno irracional?
25

AMBROSIA

Manhã de domingo, casa vazia,


Televisão ligada, solidão.
Você tatuada no coração,
A passear em pensamentos
Torna-se a única companhia.
Uma flor de adocicado perfume,
Conduz a aromáticas lembranças
De Eros, envolto a fragrâncias
De eterna e solene primazia.
Pelo deus Apolo iluminada
Tua beleza espalha e irradia,
Ao despertar sonhos dourados,
O pólen de suave alegria.
Fonte de néctar e ambrosia,
Alimento de divina dinastia
No Olimpo, apascenta a agonia
De seres divinos e adorados.
26

CÓPULA QUE A FÊNIX FEZ RENASCER

Na pele branca, sedosa e suave


Caminha o suor intenso do prazer.
O calor de corpo nu aquece o ser,
Como notas organizadas em clave.

A beleza encantadora faz renascer


Feito Dioniso, fugindo de ira obscura
Ou a Fênix ressurgindo de terra escura,
Vencidas as cinzas pela vida do arborescer.

A voluptuosidade do gozo desprendida


Com os arrepios do corpo a crescer.
Intensidade fremida, impossível de conter
Sob a pele sem mácula e límpida,

No solstício de inverno é entardecer.


Na carne crava-se o sopro da vida,
Tez latente que explode compelida
Pela força do desejo de querer ser.
27

SONETO À POSÍDON

Olho pela fresta da janela


E vejo o imenso Posídon a balançar.
Vem e volta, incessante sem parar
Traz à minha presença barcos sem vela,

Nas ondas espumantes de meu despertar.


O som dissonante de forte melodia,
Uma orquestra de vento e maresia,
Extasiado fico a ti contemplar.

Logo recebe de Apolo companhia


Com seus raios cor de ouro a brilhar.
Esmaece a aurora, anúncio do dia,

De fulgurante espelho em pleno mar.


Águas quebradas, tom de melancolia,
Cores entreabertas pela brisa do ar.
28

À DEUSA AFRODITE

Sensual Deusa Vênus, nascida da espuma do mar


Gerada dos laços de Zeus e a ninfa Dione
Dos homens recebe culto por tua beleza sem par
Por isso teus epítetos de Pandêmia e Anadiôneme.

Tão esplêndido é teu arquétipo e cruel tua vingança


Àqueles que a cultuam, os encantos do amor
Para os que te desprezam, amargura e dor
Sobre tua deidade o oposto se lança.

Em Ares atirou-se com paixão e adúltero ardor,


Fez nascer em Hefesto a desconfiança,
Voltando-se para Adônis com seu estilo sedutor,

Ao tirá-lo de Perséfone, rompe divina aliança.


Ares, enciumado desperta em Ártemis a matança,
Interveio Zeus, mantendo no Olimpo a temperança.
29

AFRODITE E ADÔNIS

Deusa Afrodite mãe do amor


Com belos traços se formou,
O contorno de poder sedutor
Nas espumas do mar se criou.

Filha das águas, Posídon abençoou!


Aceita por Zeus na olímpica realeza
Tratou de espalhar infinita beleza
Ao assumir a forma de pérola e flor,

Por Adônis o Olimpo abandonou.


Encantada com sua juventude e destreza
Seus lugares favoritos não mais visitou.

Das feras que armou a natureza


Esforçou-se para afastar o caçador
Quando um javali o atacou: que tristeza!

ANÊMONA
30

Flor efêmera, os teus botões,


Ao sopro do vento se abrem
E tuas pétalas logo caem,
Memórias de Vênus, lamentações!

Do sangue tua cor logo brotou


De Adônis no solo mortificado,
Sobre o colo da deusa consolado
Lembrança trágica de tristeza e dor.

Sentida por Afrodite que ficou


Como a ti ao ser despetalada,
Ao sentir que Zéfiro chegou.

Igual a romã é teu encarnado


Superior, portanto, é teu amargor,
Símbolo da perda de jovem amado.

AO DEUS EROS

Formoso deus, arco e flecha a contento,


A ferocidade dos corações amansa,
31

Feito amantes unidos por tua lança,


Impossível ser amado sem teu consentimento.

Espalha sobre Réia tuas sementes vindouras,


Por Psiqué a paixão e, de Vênus o ressentimento.
Sem consolo, abandonado nos confins do firmamento,
Floresce a mata virgem de anêmonas e papoulas.

Tua beleza divina contorna o vermelho das rosas


Em vestes de púrpuras e aromáticas lantejoulas,
Fragrância sedutora, sensibilidade corola.

Faz a volúpia intensificar ao diminuir o respirar


E, em delírios inebriantes de aliança venturosa,
Êxtase magnânimo, una dois em um só par.

ARMADILHA DE EROS

Eros da aljava a flecha sacou


Em tiro certeiro meu peito alvejou.
Rendi-me aos caprichos da paixão
E confiei a ti meu abnegado coração.
32

Vivemos por um tempo com ternura e sedução,


Entregues ao invólucro do bálsamo embriagante.
Enleados no manto dos deuses e deusas inebriantes,
Rasgado por ambos incorrerem em traição...

O tempo apagou o remorso e veio o perdão,


Laços e partilhas adquiriram textura
Consagramos um ao outro carinho e ternura
Até o dia que do teu perjúrio tive convicção.

Aliança rompida sem prestidigitação.


Aos prantos ficaste sem consolo,
Combalida lamuriava entre soluços e choro,
Fim trágico de doce-amarga relação.

SOPRO DE ÉOLO

Estava indo eu em busca de sossego


Aparece você em meus pensamentos,
Inebria min’alma de contentamento,
Procuro o teu colo para um aconchego.

Distante, essa hora está.


33

Fico um instante sem consolo,


Na face há expressão de choro
Pois estás por aí e eu por cá.

Que os ventos de lá a traga aqui,


No conforto do teu seio possa sonhar
As fantasias e contos de quem quer amar.

Sopra, sopra pelo litoral leste, deus Éolo,


Cruze os polos com asas de velo,
Mas traga esta bela, p’ra comigo morar!

EOS: O PARTO DO DIA

Ao acordar acompanho a mansidão do amanhecer,


Brisa leve movimenta as nuvens de brando caminhar!
Tu és o canto do pássaro, no arvoredo a balançar.
Eos, tua luz a manhã colore, pois é dia querendo ser.

Olho ao redor, em meio a tanta pureza, me falta você,


No aconchego dos meus braços a alvorada apreciar.
O movimento da Gaia, soberano, pleno contemplar,
34

Envolto por Eros a espera de Hélio que vai nascer.

O bom e o belo sempre em ti me fazem pensar


Sobre tua nobreza esplendorosa de princesa
Ao insurgir-se de fabuloso e reluzente alvorecer.

É a natureza de tantas incógnitas e delicadeza,


Preparando o dia com decência para nos receber,
No fazer-se de dourada luz em crepúsculo dilucular.

DESTINO DE IO

Jovem princesa de rara beleza, a Zeus encantou,


Grande deus pela sacerdotisa de Hera se apaixonou,
Mas, o ciúme vingativo da zelosa esposa despertou.
A filha de Ínaco, linda e desejada em novilha transformada
E como presente foi entregue à deusa enciumada.
A Argos Panoptes, de incansável vigiar, recomendada
Para o marido infiel não ter mais como a encontrar.
Nos campos de Argos pastava e a voz embargada
Só mugidos ecoavam sem a que ninguém pudesse falar.
O amante compadecido com o castigo, a Hermes procurou,
35

Ao filho encarregou que o cão de cem olhos adormecesse.


O mensageiro e intérprete dos deuses a siringe tocou,
Argos Panoptes os cem olhos fechou e, do cativeiro Io libertou.
Hera inconformada fez com que o tormento crescesse
Enviando-lhe grande moscardo para a novilha picar,
E em sua fuga desesperada várias terras percorresse,
Sem consolo e sem descanso em nenhuma pode parar.
Cruzou a nado o Estreito de Bósforo, até a Cítia atravessar,
Chegou ao monte Caúcaso, com Prometeu acorrentado foi ter.
O Titã a informou que no Egito sua forma humana ia reaver,
Seu castigo chegaria ao fim, um filho de Zeus teria,
Com Telégono casaria e uma bela e feliz rainha ia ser.

BENÇÃO DE DIONISO À LUTA COM ARTE

A luta com arte tem mais vida,


Faz da coletividade, pintura colorida
E como o arco-íris, prenuncia, vitória garantida!
Ao reunir em um só quadro as cores da conquista.

A coragem é pintada de suave, mas intensa alegria.


É como ouvir de Beethoven, a nona sinfonia.
Um caleidoscópio que reuni força, vibração, beleza e magia.
Orquestra divina que faz do diverso, elevada sintonia.

Ó arte! Tu que és por Dioniso abençoada,


Tua beleza por Afrodite apreciada
36

Faz da luta o Panteão de tua morada,


Ao conduzir corações e mentes para épica jornada.

A essência da práxis em ti e com a luta é revelada,


Tal qual a melodia do uirapuru assobiada,
Por um dueto de canários da floresta encantada...
É assim que potentes deidades podem ser poetizadas.
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PARTE II
INTERFACES POÉTICAS

Arte: Carlos Bonfim

Hoje que a tarde é calma e o céu tranquilo,


E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que é que tem.

Olho por todo o meu passado e vejo


Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que o vago e incógnito desejo
De ser eu mesmo de meu ser me deu.
(Fernando Pessoa)
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VIVEMOS PARA QUÊ?

Vivemos para quê? Lamentações de sofrimento


Pode ser para sentir prazer, eterno.
Ao copular em cima de outro ser Negação do amor fraterno
E atingir o gozo com o amanhecer. Que o ódio fez enfermo?
Amar intensamente e fenecer,
Lamentar a juventude e Quem sabe talvez!
envelhecer, Viver é desfrutar da lucidez.
Ver no pôr do sol a luz esmaecer. Sair da solidão, matar a viuvez.
Suavizar com a sensibilidade a
Conhecer teorias e não praticar, intrepidez.
Sentir a poeira nos olhos e Sentir pulsar a existência com
lacrimejar, avidez.
No sorriso da criança a dor Mostrar a alegria em toda sua
apascentar, nudez
Quando a boca não quer calar, Com a suavidade do dançarino
E a liberdade, sorrindo, anunciar. cortês!

O perfume de a felicidade sentir. Viver para o grande final!


Sustar o sono ao dormir, Apreciar o azul celestial.
Alegrar um coração ao sorrir, Conhecer a aurora boreal.
Sem ao menos pressentir Extravasar em noite de carnaval.
Que ao acordar é hora de partir Quebrar as amarras da velha
Para um lugar bem distante dali! moral
Sem temer os castigos do juízo
Não sabemos ao certo! final.
Será apreciar a chuva no inverno? Destruir seus valores como um
Escrever poemas no caderno canibal?
Sobre Dante e seu inferno,
PAI

Poliedro Painel
Ágape, Ampliado,
Imortal. Iluminação.

Potência Paisagem
Amorosa, Atrativa,
Incondicional. Insofismável.

Pássaro Plano
Alado, Angular,
Idoneidade. Imutável.

Porção Porte
Aromática, Apolíneo,
Intimidade. Incomparável.

Portal Pórtico
Aberto, Adornado.
Imensidão. Istmo.

Paixão Paz,
Adorável, Amor.
Implosão. Imolação.
A PARTIDA

A bruma surge sorrateira na aurora,


Enroscando com leveza a rude montanha.
Penso no dia que fostes embora
Como suportar ausência tamanha?

Sopra a brisa, fios de cabelos rolam na cama.


Na memória a imagem sedutora de outrora
E a fragrância de Eros me perfuma a lembrança
Nesta dor da partida que só Cronos controla!

Passam os dias e a saudade me amola,


Sonhos e fantasias a volúpia assanha,
Sensualidade de transparente camisola.
Como suportar ausência tamanha?

Prazer lancinante a alma entranha


Como caipira à modinha de viola,
Versos sextilhados cheios de gana
Nesta dor da partida que só Cronos controla!

De problemas e tragédias a vida está cheia,


As torturas e sofrimentos, a dor acompanha.
De repente a vida de bela ficou feia...
Como suportar ausência tamanha?
TREM DA VIDA

Entre pessoas, paisagens e cores


Segue o trem da vida sua viagem,
Rumo ao horizonte pede passagem,
Feito um coro ao entoar louvores.

No espelho das águas, o verde dos montes


Cruzam-se rios, lagos, vales e serranias,
Liberdade é esperada como companhia
Na alegre travessia de mágicas pontes.

Acesso aos campos por trilhas vicinais,


Infindáveis belezas mapeadas na lembrança.
Do vivaz viajante, avizinham-se os sinais,

Ao exalar das flores a enorme fragrância.


Uma cortina de neve e o fogo dos castiçais,
Morte, percurso da existência, a última instância.
TÂNATOS: A MORTE

Tu que vens sem avisar,


Age sorrateira e fria.
És conforto de quem parte
Para quem fica, só melancolia.
Os moribundos por ti clamam,
Os que tem vida acham-te sombria.
Tristeza e dor a acompanham,
Distante está da calma e d'alegria.
Nas faces vivas choro e lágrimas,
Contingências da agonia.
Ó senhora! O teu papel,
Exerce com tanta tirania!
Impossível não ser cruel,
Em tal reinado de vilania.
Leva todos sem distinção,
Ninguém fica à tua revelia,
Seja no escuro da noite,
Seja no clarão do dia.
Estas notas compõem
Tua macabra sinfonia.
Morte sedenta:
Ceifa mais uma vida
E a esta, eterna clamaria.
Na memória dos vivos
Deixa apenas lembranças,
Saudades e lamentos:
Eis, a tua cortesia!

ENCONTRO COM O NADA


A velocidade das atuais mudanças
Deixou o ser humano atordoado.
Imprimiu à vida, ritmo alucinado
E, quase apaga a chama da esperança.

Corre-se, feito cavaleiros de Granada


Como Cervantes registrou em Dom Quixote.
Disputa-se o tempo sob o som do chicote
E segue sem descanso ao encontro do nada.

Existência plena, jamais lembrada


Ficou presa em inquebrantável caixote,
Esquecida como velho e inútil malote
Nos confins do viver desprezada.

A amizade por todos relegada.


Competir, único verbo conjugado
Na linguagem do ter, aclamado,
Solidariedade se ver ultrajada!

Na poeira do consumo perdeu-se a temperança,


Liberdade coletiva parece guilhotinada.
O individualismo é a força exaltada,
No mundo que cultiva intolerância!

DEPRESSÃO

Noite escura, negra solidão. Vida seca e ausência de brio,


Sentimentos amargos e vazios.
Assim o é, quem sofre de No poço profundo do isolamento
depressão! Anda-se cabisbaixo e triste.
Perde-se o desejo em riste,
O coração de quente torna-se frio. Ecoa o grito de choro e lamento.
A morte surge como solução
Para um ser que perdeu a O corpo é invadido pela lassidão.
emoção, Infinito até parece que é o
Vivendo sem prazer dias tormento.
sombrios. Pensar no suicídio é passatempo
De quem é companheira a aflição.
Para o trabalho falta concentração
Porque o sono já não existe, Olhar humilhado, condecorada
Junto vem a perda de apetite, melancolia,
Tamanha é a sofreguidão Situação de alguém
expressamente abatido.
Que faz da alegria algo ausente. Na leve sensação de que tudo
Desânimo, constante sensação, está perdido,
Resultante do viver, a negação, A morte parece ser a mais nobre
Dor na alma é o que se sente. companhia.

SER LIVRE

Sorrir com o gesto de simplicidade.


Romper a barreira da covardia.
Superar os obstáculos com valentia.
Negar os grilhões da miserabilidade.

Enfrentar com coragem a realidade.


Guiar-se pelo horizonte da vontade.
Desviar-se dos caminhos da maldade,
Sem perder a retidão e a humildade.

Exercer a consciência revolucionária,


Contrária ao servilismo caudatário
E não perder de vista a lealdade
Com a causa da classe proletária.

Contrapor-se as ideologias reacionárias.


Superar o individualismo casuístico
Afastar-se do fatalismo místico,
Ao destruir com luta, fantasias perdulárias.

BOEMIA EXCITANTE

Lua cândida noite serena.


Eu e você embriaguez solene,
Buscando viver na grande arena
Dos bares a madrugada perene.
Música ambiente, show sem artista,
Olhares desviados, conversas perdidas.
Luzes ofuscantes encandeiam a vista
Após tantas doses de álcool ingeridas.

Copos cheios em movimentos desmedidos


Das bocas vorazes vão ao encontro
Com goles suaves aos poucos despidos
Retornam nus à mesa sem assombro.

Pensamentos insanos, ideias incertas,


Lábios nos lábios, bocas solícitas,
Paixão ardente a libido desperta,
Em meio a boemia, a carne excita!

VELA DO FILOSOFAR

Após te conhecer,
Aprendi a perguntar,
Sobre a existência do ser
E a imensidão do mar.
Foram tantos, porque?
Difícil todos explicar,
Mas, fizeram-se saber
Nas páginas do ensinar.
No teu caminho busquei,
Com a intenção de aprender
O que está por revelar.
Contigo nas ideias viajei,
Ao mundo, questionar comecei,
Depois de com Sophia dialogar.
Andando em tua presença,
Estou sempre contente.
Tristeza, só com tua ausência,
Pois, tua arte o fogo acende
A forte vela do filosofar.
Os que de ti se aproximam,
Teu calor latente logo aquece,
De ignorância ninguém padece
Quando resolve ti experimentar.

A GREVE

Atividade política, símbolo da luta


Contra a tirania, o jugo e a opressão.
Inimiga da vilania, coletiva organização
Daqueles que vivem na dura labuta.

Pulsar intenso de “sagrada” resistência


Pelas tuas trilhas a vitória se alcança.
O trabalhador ao apropriar-se de ti avança,
Exercitando o embate com persistência.
Ao emergir para o patrão, logo o faz tremer,
Desde que seja com vigor e consistência,
Mas, no afã de tua relapsa ausência,
Ai! O operário se faz forçosamente gemer.

Ao ausentar-se, dor e sofrimento aparecem,


A exploração no mundo do trabalho cresce,
Os corpos de quem a sofre amolecem,
Quando a ânsia e gana do capital apetecem.

Greve...! Jamais pode ser esquecida.


A conquista dos direitos trabalhistas,
Nunca teu horizonte, deve perder de vista,
Por garantir condições dignas de vida.

SANGUE REVOLUCIONÁRIO

Avança o povo nas farpas


Da burguesia fétida e alterada,
Sobre o poder dos burocratas,
Seguindo a trilha das FARC
E as veredas de Chiapas.
Contra coturnos e fardas
Soldados e armas,
Sem temer as ameaças
Vai constituindo tua marcha.
Povo tua história é escrita
Com sangue revolucionário!
Sem medo da desdita,
Anunciada pelos reacionários.
A coragem é tua força,
A voz coletiva teu fuzil
E a liberdade teu berçário.
Marcha povo sobre a miséria
E na revolução constrói tua estrada.
Não te deixas derrotar,
Continua firme a caminhada.
Povo tua história é escrita
Com sangue revolucionário!
O CAPITAL E A BARBÁRIE

O que penso já não falo,


O que calo já não penso!
O que falo é silêncio
De um pensar silenciado.

Vagando na catástrofe do real,


Da fatídica loucura da razão
Sem merecimento e nem perdão,
Guiado pela lucidez irracional.

Vivi como tolo e inocente, o banal.


Do bem restou a lembrança,
Ao ver assassinada a esperança,
Sobrou, apenas, o grande mal!

Saído do escuro subterrâneo


Senhor supremo e infernal,
Na mitologia, deus cruel e letal,
Deixou de herança e sucedâneo,

Aos estimados coetâneos,


Seu filho de natureza abissal.
A todos conhecido por capital,
Deus do mundo contemporâneo.

Divide o trono de sua realeza


Com sua companheira incondicional,
A sujismunda, barbárie social -
Rainha do mercado e das impurezas.
INCONTROLÁVEL CAPITAL
Incontrolável capital de dinâmica perversa,
De lógica expansionista e círculo reprodutor.
Fetichisza o trabalho, dando-lhe forma inversa,
Atribui vida as coisas e coisifica o trabalhador.

Na corrida irrefreável pela busca de mais-valia,


Tua indústria suga suor e sangue do operário,
Subjugado ao ritmo alienante do maquinário,
Expropriado da riqueza, entrega-se à vampiria.

Na tua ordem, Divina Providência é dinheiro -


Com ele se compra tudo, "inclusive" beleza e vida.
Com a hegemonia fortalecida e a fama mantida,
De todas as obras humanas faz-se engenheiro.

Na tua outra ponta, miséria e pobreza,


Somadas à fome e guerras genocidas,
Assim, avoluma-se o rol das lástimas produzidas,
Com riscos perniciosos para a vida no planeta.

ARQUÉTIPOS DO CAPITAL

Demônio da guerra, sangue da dor,


Símbolo da Terra, sábio sagaz.
Vento que soterra, onda que desfaz
Mares de saberes, mágico furor.
Espírito da cólera, esfinge da traição,
Cruz pestilenta, contos malditos,
Morte sedenta, atos ilícitos,
Vida coveira, Drácula na escuridão!
Víbora carnívora, anjo do mal!
Serpente peçonhenta, cavalo de troia,
Lúcifer em chamas, príncipe da tramoia,
Calvário dos pobres, vírus letal.
Rei dos covardes, deus da perdição.
Moinhos de vento, miragem colossal,
Cortina de fogo, teatro de sal.
Atração fatal para os fracos de coração?
Fortaleza dos inescrupulosos, martírio da simplicidade
Ou Paraíso dos corruptos e inferno dos famélicos?
És amuleto dos ambiciosos e coléricos,
Um talismã maléfico para a coletividade.
Horizonte da miséria, fonte de exploração,
Reino do consumismo, triturador da humanidade,
Oposto de comunismo, farsa de liberdade.
Fétido capital de impurezas e deslealdade,
Ponte decrépita, translado da contradição!

FULMINANTE CAPITAL

Veio o capital e o mundo fez-se castrado,


Ao exercer contra a natureza, fúria dilapidadora,
Constituindo horda sociometabólica aniquiladora.
Bens renováveis e não-renováveis são imolados.
De Gaia as energias abruptamente sugadas,
Pela lógica do desperdício vilipendiadas.
O cosmo e as vidas que nele há, ameaçados,
Pela voracidade do capital, despedaçados.

Artificiais forças de consumo são produzidas,


Vicissitudes incontroláveis que o humano coisifica,
Em nome da competitividade, desleal se fica,
Quando à lei do mercado às relações são reduzidas.

Fulminante capital, tua fome de valor é insaciável,


Devora o húmus planetário organicamente contido.
Devolve o direito à vida por ti, a muito, retido...
Garganta profunda de dimensão incomensurável!
O MALVADO CAPITAL

Avassalador, o malvado capital resiste


Às crises cíclicas e, recentemente estrutural
Que mesmo produzindo catástrofe natural
Sua incontrolável sanha persiste.

Ao expandir a tragédia social,


Alimentando-se do trabalho e do penhor.
Atribui a todas as coisas um certo valor,
Tornando-se perverso e imoral,

Na exploração impiedosa do trabalhador


Com salários indignos e precários,
A riqueza é para poucos, a pobreza de vários.
No conflito de classes tem condição de senhor.

Alimenta sua gana de "escravos" passivos,


Ávidos consumidores de bens materiais,
Onde supermercados e shoppings são catedrais
Da nova massa de "crentes" fervorosos e ativos.

Sob o fogo que derrete a cera dos castiçais,


O adorado, deus mercado, de cânone perdulário,
Vive entre abundância e miséria, o salafrário,
O que proporciona a todos danos letais!

Entre estes aparecem os desastres ambientais,


Como se Ceres do alto Panteão se rebelasse,
Em atitude irada, os humanos castigasse
Pelo negligente abandono das festas paganais.
O CAPITAL E OS SENTIDOS DO TRABALHO
Submetido à tarefa de Sísifo
Na nova "desordem" do capital,
O trabalhador sente a dor colossal
Desferida sobre Prometeu Acorrentado.
O astuto deus, por Zeus castigado
A ter as vísceras dilaceradas
Por grande águia de bico postiço.
Ao ter mutilada a subjetividade,
Pressionado pela alta produtividade
É presenteado com o destino de Io -
Herdeira de grande desespero
Corre a dimensão do mundo inteiro,
Tentando fugir de sua desgraça.
Atormentado pelo alto desemprego
Sente na alma a angústia de Ceres,
Tonando-se infértil e vazia, após
O rapto da amada filha Proserpina
Por Hades, o grande deus do inferno.
Talvez, esse seja o fiel retrato
Do submundo que habita o precariado.
A crua e doentia realidade que aliena
E escraviza os sentidos do trabalho,
Ao terrível e cruel deus do mercado.
PARTE III

POEMAS NATUROMÂNTICOS

Arte: Carlos Bonfim

Uma só luz sobreia o cais


Há um som de barco que vai indo.
Horror! Não nos vemos mais!
A maresia vem subindo.

E o cheiro prateado a mar morto


Cerra a atmosfera de pensar
Até tomar-se este como porto
E este cais a bruxulear [...]
(Fernando Pessoa)
PÔR DO SOL

Pose majestosa na colina da montanha,


Fulgura soberano o clarão crepuscular.
Uma luz esmaecida, apoteose tamanha,
Envolve o horizonte de brilho aureolar.

O gelo das nuvens parece em chamas


Ao insistir teu cortejo acompanhar.
Raios incandescentes que tu derramas.
Fim efêmero com retorno anunciar.

Segue teu destino, astro pomposo!


Absorvido pela imensidão do mar
Em meio a espumas, visco volumoso,
Finda o dia com teu sutil apagar.

Anunciada a noite, doce escuridão.


O vento frio resfria o corpo.
À beleza de tua morte,
Presságio da ressurreição.
PALAVRAS AO VENTO

Constelação de estrelas, ramalhete de flores.


Brilho ofuscante, aromas embriagantes.
Paisagem ardente, vidas errantes.
Corpos queimantes na ilha dos amores.
Águas borbulhantes, espinhos cortantes.
Ondas sorridentes espumam as dores,
No espelho das gotas nascem as cores,
Berço recôndito de paixões lancinantes.
Flora verdejante, desejos alucinantes,
Esconderijo de corpos em flamejantes ardores.
Feitos frutos silvestres de todos os sabores,
No banquete eterno dos verdadeiros amantes.
Luz do equilíbrio, fantasma da verdade.
Ciranda da felicidade, roda-viva do amor.
Rosa dos prazeres onde pousa o beija-flor,
Voo refinado, sereno de sensibilidade.
Águia da coragem, vibrante condor
Soberanos no céu plainam no ar,
Na velocidade de Éolo, lento vagar.
Planos secretos, desmedido furor,
Resplandece na lua meigo fulgor.
Sorrisos indecisos, olhares penetrantes.
Sombras da noite, afagos colantes.
Seres aquecidos, suave calor.
AMANHECER DE SAUDADES

Raios de sol, o dia amanheceu!


Movimentos sem fim a cidade acordou.
Casa vazia você não apareceu.
Saudades de ti o coração quase parou!

Finda veraneio, o inverno chegou.


Noite fria, o calor do dia esmaeceu.
Sua ida sem volta minh’alma chorou.
Lamento profundo, alegria feneceu.

Rosto que brilha feito camafeu,


Contrasta com a flor que secou.
Como rosa sem vida, padeço eu,
Náufrago no amanhecer que iniciou.

Saudade sombria foi o que restou.


Infeliz amor que padeceu,
Meridiano da paixão modificou,
Na madrugada finita que amanheceu.
ENCONTRO SEM PROCURA

Estava à toa sem pensar no amor,


Sem procurar acabei por te encontrar.
Envolvimento repentino e arrebatador.
Pensamentos adormecidos a acordar.

Rosa púrpura, encantadora beleza.


Aroma embriagante exalado
Pelas pétalas da delicadeza
Faz do florista um ser alado.

Flutuante sobre tua correnteza,


Desfruta de suas águas claras,
Protegidas por mágica fortaleza,
Transposta por doces palavras.

Ao mergulhar no rio de prazeres


Presta reverência à tua realeza,
Súdito permanece sob teus poderes
No desfrute de singela nobreza.

Extasiado pela alegria do encontro,


Imagina as mais loucas fantasias.
Para amar novamente sente-se pronto.
Adeus! Tornou-se passado a melancolia.
SELENE E EOS

Nuvens voluntárias e plumosas,


Linda Selene, fazem-te esmaecer
No colo de bruma carinhosa
que caminham rumo ao amanhecer.
Nesse instante perde força e brilho
E a silhueta das colinas faz-te fenecer,
Gérmen seminal para Eos aparecer.
Lua esse é teu brilhante destino,
Quando Nix anuncia sua partida
E o deus Hélio começa nascer.
Abandonada pelas nuvens
Que seguem o sopro do Éolo,
É Posídon quem te dar consolo
Ao ocultar-te sob onda tamanha.
No cerne de pusilânime retorno,
A nudez dos corpos não mais assanha
O penteado da libido e do prazer.
Com tua partida melancólica,
Os ardentes amantes ficam aflitos.
Desejosos em eternizar a deusa Nix,
Potencializando gemidos e gritos,
Semelhantes aos ouvidos no reino de Asterix.
Astro noturno como dói tua efêmera despedida,
Iguala-se a poesia de Patativa: "triste partida",
Ao raiar daquele que sempre te apaga!
À carruagem de Apolo tu sedes vaga,
Para fazer crescer a beleza do dia,
Que ao chegar da noite sente-se vencida.
FLOR DA TOSCANA

Amanhecia e leve brisa fria,


Tocava o corpo de coração aquecido
Por doce sentimento, jamais esquecido
Que na chuva fina se fortalecia.

Em bálsamo o pensamento envolvia


Nas lembranças de delicada flor da toscana,
Fogo de desejos fosforesce em flama
Na pira da paixão, dantes vazia.

Flor! Exala teu perfume e inebria,


A mais calcinada das almas seduz,
Resgata-a das trevas, mostra-lhe o dia,

Na fragrância que comunica a luz.


O desabrochar de tuas pétalas seja guia
Do caminho que a ti me conduz.

NO PÔR DO SOL, O BOLERO DE RAVEL


Na luz esmaecida do entardecer
Segues mansamente ao fundo do mar.
Após, o dia, com calor apascentar
És poesia contente de um lindo morrer,

Em João Pessoa o teu cortejo a contemplar


Encantada deusa, feita abelha no mel
Ao som de um violino toca o bolero de Ravel,
Confundida com teus raios em vias de apagar,

Na companhia do crepúsculo e o vermelho do céu.


Êxtase no espírito de quem vai apreciar,
No sol as espumas das ondas colocarem o véu

Permitindo ao vento, o frio da noite anunciar.


Imagens da natureza e da arte, doce coquetel
Embriagante, em um pôr do sol para relembrar.

SONETO D'AMANTE

Chama prazenteira de vivacidade poética,


Fogo lírico de versos flamejantes
Aquece o coração dos espíritos delirantes,
Nas centelhas de tua criação estética.

Incendeia os corpos na fé apologética.


Calor abrasivo de metáforas lancinantes
Instiga a liberdade dos seres brincantes
Suavizando a austeridade da vida ascética.

Flama sagrada de cores brilhantes,


Violeta fosforescente és tua essência
Fonte de incontidos desejos borbulhantes

Espalha no mundo tua luminescência.


Ó! Substância que transpõe os amantes
Na ponte mágica das reincidências.

OLHAR DE SELENE

Luminoso olho da noite,


Astro que combate a escuridão.
Vem fazer companhia
A um solitário coração!

Acentua o contorno da serrania,


Desenhando cordilheiras de emoção.
Pensamentos ao vento, sintonia,
No olhar de reluzente paixão.

Na copa dos coqueirais um feixe de luz,


Forma lentamente coroa aureolar,
Prenúncio do olhar de Selene, é noite de luar.
Globo ocular do céu, brilho que seduz.

Espelho das águas, brilho e redenção.


Colore o céu, matizes de realeza,
No firmamento, formidável beleza
Desmancha no ar, incomoda solidão.

II

Inocência e pureza formam tua visão


Ao encher os caminhos de meiguice,
Ó luar! teu encanto, alguém me disse:
Reluzente, traz contentamento e celebração.

Espelho na Terra dos caminhantes noturnos.


Guia dos amantes no labirinto da desilusão,
Consola quem se perdeu na fria escuridão,
Empresta suave companhia aos seres soturnos.

Tua trilha de astro noturna segue a clarear.


O teu beijo nas águas sempre reluz,
No movimento das ondas que te conduz,
Em meio às espumas, para os braços do mar.

Astro notívago de luminosidade especular,


Reflete teu esplendor nos pobres corações,
Combalidos por nauseabundas paixões,
Soterrados nos escombros de triste vagar.
VIVER D'AMOR

Linda orquídea, perfumada flor,

Tenta não sofrer por amor!

Nas linhas da paixão, desfia o laço

Que tenta enfeitiçar teu coração.

Para não desfazê-lo em mil pedaços,

Encontre aconchego, em tempos de dor.

Na presença do frio, abrace o calor,

Ao permitir colocá-la em meus braços.

Conforta tua aflição no calma e regaço,

Da luz de luar, sublime e rejuvenescedor.

Deixa-me velar teu sono ao anoitecer,

Quando teu corpo cansado padecer

E acordá-la com um beijo, no alvorecer.

Tocar teus doces lábios com frescor,

E sentir a felicidade com intenso prazer.

Acariciar tua pele suave, em êxtase,

Pela fragrância do jardim das Hespérides -

Suntuoso lugar que Héracles acessou

E as maçãs de ouro, o glorioso, pegou.

Precioso presente de Géia, Hera ganhou

E às ninfas, guardá-lo, tinha recomendado.

Depois de aroma embriagante inalado,

Porque não dizer: isso é viver d'amor!


TERRA MOLHADA

Da terra molhada e escura


Brota o verde em grande escala.
Germina vida que aos olhos regala,
No coração do sertanejo, alegria pura.

Da relva exala a fragrância do orvalho,


Expandida pelo vento que sussurra
Ao tempo, e as nuvens lentamente empurra
Para aos raios servirem de agasalho.

No campo pastam os animais contentes,


As gramíneas sentem tremenda surra,
De bocas famintas e pisoteado frequente,

Os bichos saciam a fome, enchem a panturra.


A tristeza se esvai, melancolia fica ausente,
Eis o cenário da caatinga quando cai a chuva.
AMOR E PAIXÃO

O amor coaduna-se com a paixão


Entre ambos há convergência,
Mas, não se pode negar a diferença:
Este alimenta alma, aquela o coração.

Aos casais pitadas de ternura e emoção


Numa saga épica e envolvente.
Aproximam distâncias em ato comovente,
Condensadas em alucinante combinação.

Paixão que sangra lascívia e latente,


Apascentada por amor lúcido e sereno.
Figuras distintas no mesmo terreno
Produzem sentimentos de comoção.

Juntos causam explosiva sensação


Nos amantes próximos ou ausentes.
Não importa, fulgor é o que se sente
Em intensidade e contínua vibração.

CHUVA LITORÂNEA
Chuva desfiada em pingos pelo ar,
Formando densa e alva cortina.
Cobre com suavidade a verde colina
Com plumas líquidas em lento caminhar.

Arrematada pela folhagem verde anil,


Chega aos telhados num doce chiar
E expansiva segue sem cansar,
A sua tênue e constante marcha viril.

Em sua passagem transborda o rio.


Alagamento na cidade pode causar
E o sossego da população acabar,
Desdobrando-se em insolente frio.

De nuvens robustas desfeitas em fios.


Água feita que chega a terra coroar
E no interior da superfície se infiltrar
Ao se desfazer os nevoeiros sombrios.

FERIDO POR EROS


Amor perdido olhar vazio,
Rio de lágrimas derramado,
Decepção de choro alucinado,
Bruma despedaçada em fio.

Coração que sangra amargurado


No peito de um ser sem brio,
Sentimentos de amor esmagado
Pela força da separação hostil.

A dor de “Prometeu Acorrentado”.


Agruras da privação que sentiu,
Solidão e suplício no monte escarpado
Sofrimento e igual desgraça só de Io.

A separação faz o humano desgarrado,


Em tempos que a compaixão partiu.
Desilusão permanece sorrateira, ao lado,
Daquele que Eros com sua flecha, feriu.

ARCO-ÍRIS NA CIDADE

Na geografia urbana da cidade,


Existe a leste uma vasta serrania.
Tarde de domingo, que felicidade!
O arco-íris veio fazer-lhe companhia.

Lindas cores matizadas, o céu irradia,


De fino sereno sob nuvens carregadas.
Pinta um quadro interiorano de nostalgia.
Bucólicas sensações de vida, reveladas.

Alvissareira memória, lembranças pueris.


Vento melancólico, impressões febris.
Alucinações no inconsciente instigadas.
No coração sentimentos nobres e vis.

Paradoxos da visão do arco-íris,


Efêmera existência tem teu colorido.
Chuva e sol são tuas raízes,
Fragrância da vida, perfumado florido.

PÉROLA OU FLOR?

Nome de pérola ou flor,


Fruto das conchas do mar,
Imune às carícias do ar
Do sol não conheces o calor.
Acompanhada das ninfas está,
No reino de musas e nereidas.
Ó doce canto das sereias!
Tua beleza, nas ondas, a encantar.

Orquídea em águas límpidas, soberana,


Fazes a orquestra de Netuno musicar,
Belos acordes em Alfa, Beta e Gama.

Pétalas espumantes a desabrochar,


Nas ondas do mar de quem ama,
Algas azul-marinha a perfumar.

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