Gomes N4 25
História da Psicologia
William B. Gomes
Aula 4
4.1 Os Céticos
Uma doutrina grega nem sempre incluída nos livros de História
da Psicologia é o ceticismo. Entende-se por ceticismo a dúvida radical
sobre o conhecimento verdadeiro. Deve-se, contudo, diferenciar o
ceticismo metodológico do ceticismo universal. O ceticismo
metodológico é um procedimento necessário para que se legitime o
conhecimento. Já o ceticismo universal preocupa-se com as
contradições insolúveis do conhecimento, com a relatividade do
conhecimento sensorial e com a falta de um critério suficiente de
verdade (Brugger, 1987).
A doutrina do ceticismo foi descrita por um filósofo chamado
Sexto, o Empírico que nasceu na Grécia e viveu em Alexandria e em
Roma (Século III d.C.). Sexto classificou as doutrinas ou seitas gregas
em três categorias: a) os dogmáticos, que acreditavam haver
descoberto a verdade, os exemplos são Aristóteles, os epicuristas e os
estóicos (os dois últimos serão tratados nos itens 4.2 e 4.3); os
acadêmicos, que acreditavam que a verdade não poderia ser
apreendida, referindo-se aos alunos da Academia de Platão; e os
céticos, que defendiam a busca incessante do conhecimento através da
investigação. Note que a distinção entre os dois tipos de ceticismo é
decorrente da definição apresentada na última categoria. De acordo
com Sexto, o principal representante do ceticismo foi Pirrón de Elis
(360-270, a.C.). Pirrón defendia que nossos juízos sobre a realidade são
convenções, pois são sempre baseados em sensações mutáveis. Desta
forma devia-se suspender o juízo e não se decidir por nenhuma crença
ou opinião. Um conceito importante que aparece com os céticos é o de
suspensão de juízos ou epoché. Na verdade o ceticismo não constitui
uma única doutrina mas várias correntes, e suas origens remontam ao
Século V antes de Cristo. Entre as idéias que de alguma forma parecem
ter influenciado o ceticismo, estão os gimnsofistas (gregos influenciados
por sábios hindus que levam vida austera), os cirenaicos que defendiam
o domínio completo de si mesmo e os sofistas que defendiam a
relatividade da verdade. Os principais alunos de Pirrón foram Filón de
Atenas e Nausifanes de Teos que foi o mestre de Epicuro (Mora, 1988).
4.2 Os Epicuristas
A escola do filósofo grego Epicuro ( 341-270 AC) radicaliza a
concepção materialista de Aristóteles e, por conseguinte, nega qualquer
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4.3 Os Estóicos
O estoicismo foi uma escola filosófica grega iniciada por Zeno de
Citium (336-265 AC) e teve muitos discípulos. Foi divulgado em
diferentes partes do mundo da época tendo exercido muita influência
sobre os romanos. Por exemplo, o imperador Marco Aurélio (121-80 AC)
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4.4 Cícero
Marco Túlio Cícero (106-43 AC) foi um importante orador e
estadista romano influenciado pelos ensinamentos de Platão e dos
estóicos. Ele recupera o conceito platônico de alma imortal e
incorpórea. A alma constituía-se de muitos poderes tais como memória,
criatividade, atenção e sabedoria. Para ele estes poderes não poderiam
ser explicados por teorias materialistas. A alma tem uma parte inferior
que se relaciona com o corpo e uma parte superior que é imortal.
Reconhece um conjunto de doenças da alma (animi medicina) que
corresponderiam a insanidade, deficiência mental, e demência. Estas
doenças deveriam ser curadas pela alma. Em outras palavras, ele está
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4.5 Plotino
Plotino (204-270 DC) nasceu no Egito e seus pais eram romanos.
Foi educado em Alexandria e depois foi professor em Roma. Foi
influenciado pelas muitas tendências místicas que circulavam em
Alexandria, tendo conhecimento do pensamento hebreu e persa. No
plano das idéias sua doutrina representa o reencontro das filosofias de
Platão e de Aristóteles. Foi o último grande filósofo da Antigüidade.
Suas idéias serviram de intermediação entre o pensamento grego e
cristão.
A filosofia de Plotino tem como ponto de partida um princípio
cósmico chamado o Ser Absoluto, ou o Um. Assim, haveria uma alma
universal de onde emanariam todas as almas. Essa alma universal seria
o nous que é pura inteligência, dela emanaria a alma que faz fluir o
mundo que por sua vez faria fluir a alma dos homens e animais, até
chegar à matéria propriamente. Os seres humanos pertencem ao
mundo da inteligência e ao mundo dos sentidos. A noção de alma
assemelha-se as formulações de Platão. A alma habita o corpo e o corpo
é apenas um instrumento da alma. A alma é como um centro que está
ligado aos sentidos e apreende todas as percepções. É uma unidade que
atua em diferentes níveis e tem muitos poderes.
Plotino fala em um conhecimento de um mundo interior e também
o conhecimento de uma identidade individual. Ele dizia que o intelecto
percebe intelectualmente e que o intelecto vê intelectualmente. Faz
uma distinção entre a informação sensorial e a impressão que é
influenciada pela interpretação e pelo julgamento. Com isso, Plotino
parece reconhecer a existência de um mundo exterior e de um mundo
interior. A alma, mesmo habitando um corpo que não é seu, tem poder
para purificar a si mesma e libertar-se. Este poder não vem da ciência,
mas de um conhecimento intuitivo superior que culminará numa união
entre a alma individual e a alma universal. Este deve ser o grande
objetivo de todos os seres humanos.
O pensamento de Plotino exercerá grande influência em
Agostinho (354-430) um importante teólogo cristão. A seguir a teologia
cristã será a idéia dominante em um período que vai de 400 DC a 1450.
Recapitulação