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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt. osb
(in mamoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz 510 Pedro que devemos
estar preparados para dar a razêo da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir (1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do Que outrora,
.;. .... visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. SOmos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste sita Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas. elucidando-as do ponto de
vista cristão 8 11m de que as dúvidas se
. . dissipem e a vivência católica se fortaleça
._ _i 6 no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritalls Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de Julho de 2003.
Pe. Es'ev.o Betlencourt, aSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Eslevão Betlencourt e


passamos a disponibilizar nesta área. o excelenle e sempre alual
conleúdo da revisla teológico • filosófica MPergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publtcaçlo.
A d. Estêvão Bettencourt agradecemos a confiaça
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
confront
Sumário
....
o SANTUARIO DA FAMILIA ...
AClto • nKlukltde 1
CI SNC1A CONTEMPORÃN EA E EX ISTêNCI .... Cf OEUS ..,
A p.I.... '. do PipI :
DISCURSO AOS BISPOS 00 BRAS il .

A pllavr. do Papl :
'"
AS COMUNIDADES EC LESI AIS DE BA SE
."
E. o num'N) da BISII?
668 (Apocalipse 13,18 1 '.9
AVISO ••. 0 .0 ••

Um. peça limou :


" A LOJA DO OURIVES" de Karo l Wojtylll . .

LIVROS EM ESTANTE 3' cIpa

COM APAOVAÇAO ECLESIAsTICA

• • •
NO PtOXIMO NOMERO :

E a , epullur,g de São Pedro ? - e " plolão de mogrMico e patorni-


dade responsóvel. - A e ulonQsio. _ Indica Gero I de 1980 .

x
. PERGUNTE E RESPONDEREMOS.
N úmero avulso d e qualquer mês 32,00
Assinatura anual . ........ . . , .. . . , ....... . 320,00
PEDIMOS AOS NOSSOS ASSINANTES aUE AINOA NÃO
NOS MANDEM O PAGAMENTO REFERENTE A 1981

Direçãio e Redação de Estêvão Betteneourt O .S .B.


ADI'IINISTRAÇAO REDAÇAO DE rn
Llvrarla aJlsalonArIa Edltorll Ca1x.a. Poa&aJ .2 .666
Rua ~tt!xlco. 111-B (Cu te-lol
ZO . UI ruo de .Janeiro (lUl !O .OOO RIo de Janeiro (81'
TeI.: 2U-OOSI
o SANTUÁRIO DA FAMíLIA
A fanúlla wm estado em foco na imprensa das illt1mas
semanas, pois o Slnodo dos Bispos reunido em Roma houve por
bem dedicar-lhe solfcita atenção.
Compreende.se o porquê deste apreço. Na verdade, a faml-
lia é a célula-mãe da sGcledade civil e da Igreja. O sacramento
do matrimônio faz do contrato natural entre o homem e a
mulher um canal pennanente de santificação, de modo que
esposo e esposa cristãos constituem o que se chama uma cigreja
doméstica\t. Esta expressão significa que tudo o que se realiza
na lar. mesmo as funcões maIs elementares (atencão à RrnI·
mação da casa, à economia, à educação dos filhos ... ) é ocasião
de santlflcacão para os cOnjuges. Com outras palavras: na vida
conjugal cristã, o esposo e a esposa vêm a ser mais do que eles
mesmos ou mais do que duas criatUras que compart11ham o
mesmo modo de v1ver; com efeito, diz São Paulo que o esposo
faz as vezes de Cristo e a esposa as da Igreja (cf. EC 5. 315).
Isto quer dizer: o esposo cristão prolonga o ministério de graça
e redenção do Cristo, ao passo que a esposa exerce o m1n1stêrlo
de graÇa e santUicaeão da Igreja (Esposa de Cristo). Nenhum
d09 dois vive simplesmenta El sua vida pessoal, mas cada um
desempenha uma tarera transcendental, pois é assumIdo por
Cristo para uma obra que toca os valores definItivos. Por Isto
afirma ainda São Paulo que mesmo nos lares em que só um
dos cônjuges é fiel à sua vocação cristã, o consorte fiel santi-
fica a famIlIa ou vem a ser penhor de graças para o consorte
infiel e para os filhos (Cf. 1Cor 7,14).

Por isto também a. familia é a primeira escole. de fê para


os f11hos õ é lã que, jwttarhente com o leite e os rudimentos da
higiene e da educaeão, a n).ãe e o pai transmitem l prole os
prJmelros ensinamentos de .Cristo, ensinamentos sem os quais
a vida carece de sentido. O testemunho dos pais é doo"lvo para
as criancas. como bem observou o S. Padre João Paulo n na
homilia da qual vai um trecho transcrJto na quarta capa deste
fasclculo.
Tão sublime ta reta nio pode deixar de impUcar sacrifício
e renúncia para os dois cônjuges. A1IAs, O sacrifício é inerente
à realização de qualquer nobre ideal. A felicidade não consiste
necessariamente nem unicamente no prazer senslvel; ela con~
siste essencialmente no cultivo de grandes valores que tomam
a pessoa mais nobre. mais plenamente pessoa. Ora-tal nobreza,
associada à renúncia, ocorre quando alguém ama verdadeira·
-441-
mente e procura o bem do ser amado. O Cristo, que amou a
sua Esposa, a Igreja, morreu por ela; ora a vida conjugal é
participação da vida e da missão de Cristo; ninguém se caso.
só para servir a si ou atender apenas aos seus inreresses. Ora,
desde que alguém se disponha a ajudar o outro a tomar·s.:=
mais rllho de Deus através do matrimônio, compartilha a Paixiio
de Cristo (que, aliás, é Inseparável da Ressurreição). Por isto
os noivos cristãos hão de ser preparadcs para os momentos
düiceis da vida conjugal; não se decepcionarão quando tiverem
que os atravessar.
Estas reflexões são proferidas estritamente à luz da C(:
cristã. Talvez não as entenda quem não tenha fé. Apesar disto,
é oportuno propô-Ias mais uma vez, em eco ao Sínodo dos
Bispos. pois tals reflexões contêm para todos os homens o
segredo da verdadeira felicidade no matrimônio. A Igreja lem-
bra tais verdades tendo em vista o bem da grande farrúlia hu.
mana, numa época em que vãrios fatores ameaçwn fortementa
a farrúlia como se fosse urna instituicãD ultraJ)RSsada; o falso
conceito de felicidade, Identificada com o de .prazer sensua1,
leva muitos a crer que o amor é descomprometido ou livre 1.!
não mais exige a paciente procura do bem comum.
Para os fiéis catóUcos, a estabilidade da fanúlla é de imo
portância. capital. ~ o que sabiamente recordava, entre outros,
o arcebispo metropollta Mons. Anthony Padijara. de Changa·
nacherry (tndia), durante o Sinodo:
"Depenela de famllla a ulvaçlo ou a destrulçio da lore)a am determl·
nada regllo. " ·'ore)a. como um todo, traz:, é vordade, a prom8$N da que
fIA0 aucumbl,.. a" o pm dos tampoe. Ma esta promessa nlo vlle nacesaa-
rlamente palll todo e qualqller lerrllOrlo da IgreJI. A. subsls1tnçla da Igreja
em delermlnado pala nlo dependa da elemenlos exl,lnsecos, nem di des·
tru~Ao de IgreJu e conventos, nem, em IllUma InstAncla, da hierarquia
KIMI"Uca, DeIMnda, 11m, da que oa noman. a u. mulh.ares que se adml·
nlstraram mutuamenta o .acramento do matrlmónlo, transformam as suas
tamlUu. pela graça dasta ucrameRlo, em ~R!Ju clom6atlca.. l esta
_ nem mal. nem manos - a tlnlca COIM neceNérla no momento atual'·.

A subsistência da Igreja, no caso, não é entendida em


sentido egolsta, mas, sim, como sendo a própria subsistência dos
vaJores evangéUcos e da obra redentora de CrIsto, que é sal-
vação para o mW1do inteiro.
Possam as nossas famílias, conscientes da sua insubstltui.
vel missão, corroborar. se e tornar-se assim sempre mais autên.
tlcas células de VIDA!
E.II.

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XXI - ~ 251 - Novembro de 198()

Acuo e nece•• ktade?

ciência (ontemporânea e existência


de deus
Em alnl... : A ciêncIa da nossos dias olerece ao homem dados .x~
parlmO"lals da precisa0 singular, etil nunca atlnglda.. .. dedo. madlante
os quals OI pens.adores podem tantar construir a I U8 cOImovfslo ou
Wtllanacheuung, Ora fi cltncla contampor6n•••• toma cada vez mais con..
cranta d. presença de uma Inteligência Suprema que pra.lda t evoluçlo
da. criaturas; d. modo especial, o ser '11'10 " o espéclmen m./t significa-
tivo da •• tI.dorla do Senhor 08U9 Criador. O pre.ente artigo aponta vArio.
aapecloa da ".lIdada dos vlvenl•• (anatomia, IIslologla, embriagO".., ... ),
que atestam. 811:11t6n% da um mOdelo regulador das funç&ia de cada
o4lulo viva, modelo qUI garanl. a evohJç1o flMII,t, doa vivente. a • lua
tend'ncla a se reconslrulr quendo lesados; esle modelo' obra e expreulo
da sabedoria do Supramo Artlllca. Tais elamanloa, descobartoa e afirmados
pela ciência conlflmporênea, op08m-sa ls concepç6a8 mecanlclstu a In-
nlllstu dos clenllstaa do ,'culo XIX oU mesmo da eacola r.eoposIllWI.
representada no óculo XX por. Jacques Monod; çanllrmam oulroulm a
exlstlncla de Deus, sempre professada por dbloa, mas posta am xequa
paiOl materialistas do século puado, cuJa ciência ainda ar. ralallvam.n~
Inclplenle. Mal, uma V8Z 98 comprova QUI a pollca ciência ala,la de Deua,
mas fi multa ciência lava a Deus .

• • •
CGmeatário: Em todas as épocas os homens pro·
curavam ter uma Weltal1SCbUlUllg ou visão global do mundQ
e do homem. Para tant(), costumam partir dos dados da ciência
da sua época. Ora nos últimos decênios a ciência progrediu
enonnemente, adquirindo algumas certezas de grande importAn.
eia. Tenha·se em vista, por exemplo, o fato de que os homens
construiram uma nave espacial, foram à Lua e de lá vo1taram à
Terra; este fenômeno significa que os conceitos vigentes de
estrutura da matérIa, das leis que a regem e das que comandam
as transfonneçées da energia e a atração dos corpos, corres·
podem, e rngrande escala, à realidade, pois, apoiando-se em tais
leis, os homens reaU:zaram a viagem à Lua. Note·se outrossim
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4 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 251/1980

que o fato de que a medicina consegue a profilaxia e a cura


de doencas cada vez mais numerosas, comprova os conheci·
mentes adquiridos na área biomédica.
Eis por que, nas pãginas subseqüentes, nos baseamos em
dados da ciência de- nossos dias. escolhendo, em especial, a
bIologia contemporânea, para propor um principio de cosmo-
visão Que será muito diferente da tllosofia materialista de
decênios passadosj com efeito, apontará a exIstência de Deus
como algo Que decorre da observação objetiva do fénomeno
«vida» e Uustra todos os demais conhecimentos do homem.
Consideraremos 1) tracos caracterlsti.cos do ser vivo; 2)
a embJ1ogênese; 3) a explicação mecanicista da vida. Ao quê
&e segulrá uma conclusão.

1. O ser vivo: elementos. corad'erfstlcos


Dentre os viventes, seja o homem seleclonado para uma
análise mais detida. Consideremo-Io em três nivels diferentes: o
da célula, o do órgão e o do organismo.
1•1• A c6Iulo hemNlltO
A célula é wna W1idade que, observada BO miscroscõplo
eletrônico, revela estrutura e atividade complexas, mas cheIas
de sentido.
A parede da célula isola esta das suas vizinhas e a põe
em comunicação com as mesmas e com o meio ambiél1te.
Pennlte intercâmbios dirigidos e controlados com precisão num
sentido e noutro.
O citoplasma ou massa liquida da célula é sede de ativi-
dades qulmlc::as extremamente requintadas e de extraordlnAria
complexidade: graças aos elementos recebidos de fora, elabora
as substAnclas e as energias necessárias à conservação das
suas estruturas é ao funcionamento do organismo. Todas estas
operacõés se realizam com exatidão, hannonia e capacidade de
adaptacão surpreendentes.
Quanto ao núcleo da c~lula, contém a cromatina, cujo
componente mais importante é o ácido desoxiribonucléico ou
ADN, suporte das informacóes cujo conjunto constitui o pro-
grama génétlco. Este se acha Inscrito, segundo um código Que
começa a ser decifrado, sobre a longa fita quP. é o ADN. com-
parável 8 uma fita magnética: dirige soberanamente todas as
a.tividades da célula. Por ocasião de cada divisão de c:élula, as

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cmNCIA CONTEMPORANEA E EXISttNCIA DE DEUS 5

intonnaeões são copiadas pejo desdobramento da fita de ADN


e transmitidas Integralmente às células-fllhas.
1. 2 . A "r...1 .6rgáo
Especializadas. dif.rencladas, as células microsc6plcas lO
agrupam em centenas de milhões para formar conjuntos ma-
croscópicos de fonna e volume bem definidos, como o figado, o
coração e o cérebro, etc. As células da flgado põem em reserva
produtos energéticos trazidos pelo sangue e l1beram-nos segundo
8S necessidades precisas do organismo a cada momento. Segre..
gam diátases 1, eliminam dejetos, neut..raUzam toxinas. As
células do coração estão agrupadas de modo a formar ~
bomba que aspira e preme, com as suas cavidades, as suas
válvulas e os seus canais . . . ; são multo alongadas; o seu cito-
plasma contém .um sem número de pequenas: fibras paralelas,
Que funcJonam em ritmo rigoroso e em estrita sincronia, de
modo a provocar as contrações do coracão; esta bomba, que é
o coração, preenche a sua tarefa segundo por segundo durante
toda a vida do organismo.
No tocante ao cérebro, note-se que é .w na estrutura for-
mada por mais de dez blThões de eélulas. cada uma das quais
está ligada a multas outras por vár:las dezenas de mUbares de
conexões. Entre os seres vlsivels. o cérebro humano é o mais
prodigioso, pois vem a ser o s.uporte material e o 1nstrwnento
cuja integridade é indispensável ao exerclcio do pensamento.
1.3. A ,,(vel de organismo

Os diversos 6re:ãos, associados aos ossos. aos nervos, aos


músculos, à peje ... estão integrados numa unidade maior que
é o organismo. rico em atividades físicas e pslqulcas. e que se
reproduz para dar orIgem a organismos semelhantes. que lhe
farão as vezes e lhe darão contlnuldade após a morte.
A reprodução genética. que permite aos viventes perdurar
através do tempo, chama· nos a atencão para o fato de que o
individuo está integrado numa unidade muito maior Que é a
MpécIe, a qual por sua vez está Integrada no conjunto das esp6.
cleI que hoje existem e, por último, na árwre da vida. Esta é
constituida por numerosIsslmas espécies que, procedendo da
primeira bactéria, se escalonam em graus ascendentes, toman·
do-se cada vez maIs complexas e perfeitas até chegar 80 arga-
I ~utlle: fermento ou outra subtl.nela produ:dda pOl diluiu 'flvu
ou por glAndulu e que dleomp6e oa allmentoa ou a malé,' a org.nlca.

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6 .rPERGUNTE E RES.PONDEREMOS. 251/19SO

nlsmo do primata. mais evoluído; a este Deus quis jnfundir uma


alma espiritual criada especialmente para tal organismo, dando
assim origem ao composto humano ou à espécie humana I. O
processo que vaJ da bãctéria ao surto do tipo humano conta
aproximadamente três bilhócs e melo de anos.

2. A embrioga.....
1. Todo ser vivo se desenvolve a partir de uma eéJula
única, a cêcula-ovo. oriunda da fusão de duas células reprodu-
toras: uma do pai, outra da mãe . .. A célula-ovo, microscópica,
dIvide·se em 2, 4, 8, 16... etc. Fonna-se rapidamente um
aglomerado de céluJas indiferencladas, que continuam a se dividir
e, com o tempo, se vão diferenciando, de modo a constituir pro-
gressiva e hannonJosamente todos os órgãOs e todas as partes
de um novo organismo, num processo Que, no caso do homem,
chega a termo em nove meses.
Os estudiosos se dedicaram partlcu1.a rmente ao estudo do
ovo da galInha, que é mais facilmente observável e que pOde
ser objeto de Intervenções experimentais. O ovo consta de re-
seIVas de duas espécies - a clara e a gema - e da célula-ovo
microscópica, situada sobre a membrana Que separa clara e
gema. Colocado o ovo sob o corpo da galinha-mãe ou numn
incubadelra. :El céluJa.ovo se divide e subdivide, utilizando as re-
servas da clara e da gema; ao termo de vinte e um dias, está
assim formado o pInto vivo. Este rompe então a casca do ovo c
sal, capaz de ver, ouvir, mover-se, alimentar-se e emitir sons que
têm significado para a galinha e para o próprio observador hu-
mano. Com efeito, quando se afasta da galinha-mãe e verifica Qtl'~
está só. o pinto põe-se a piar de maneira aguda, intensa e pro-
Jangada. Desde que a galinha.mãe o procure, o pJntinho emite
sons menos intensos e de outro ritmo. que significam apazi-
guamento e segurança. Vê-se assim Que o pintinho é dotado de
instintos cujas expressões são diversificadas e características.
- A transição da célula-ovo ao.pinto é portento tipico d3 em·
briogênese.
2. Examinemos agora alguns aspectos típicos dessa. tran-
sição.
No conjunto das células originadas pelas primei.ras divisões
da célula-ovo. podem-se distinguir regiões, que se chamam esbo-
1 Not .... que a alma humana nlo é produto da avoluçloj ali nlo . .
ollglna de matérll, porque nlo é mltérla: conseqüentemente, tem origem
Independente da mllt1!rla. ou seJe. num criador de Deus, que Ih. dá •
e:x1!16ncla.

- 44ô-
C=ClA CONTEMPOIUNEA E ElC!S"ttNClA DE DEUS 1

_ dos quais cada um tem sua finalidade própria. Evolul1io de


modo a produzir os d1feren~ 6rg~os que integram o corpO:
coração, fIgado. aparelho digestivo, ossos.
múscUlos, etc. cada
urna dessa zonas é regida por wn modelo local, que lhe é
próprio. :t; o que veriflçamos quando, a titulo de experiência',
extraImos do embrião a massa de 1 ou 2 mm de dJlmetro
cor,respondente ao esboço D.U à zona do fêmurj coloquemos essa
massa num tubo de ensaio dentro de um liquido allmentlclo
,a rtificial, Observaremos então que (, esboço continuará ~
crescer e se transfonnará em. um pequeno fêmur bem consti.~
Mdo de 10 a 15 mm de comprimento, com B. sua diãflse e as
suas "duas' epitlses 1,
No embrIão, os diversos es~os se desenvolvem influen-
ctando-se e informandO-Ae mutuamente para formar aos poucos
e em perfeita coordenacão o conjunto maravllhoso que é O
pinto vIvo. Se no inicio do desenvolvimento do embrião am.-
pularmos Parte de uma região-esboço ou mesmo uma região
inteira, outros conjW'ltos de çéluJas Jé. orientadas para detennl-
nado objetivo mudarão de orientação ou se desdobrario para
solucionar a perturbação criada pela intervenção do operador.
Em conseqüência, apesar dos distúrbios causados no embrião.
·um pintinho perfeito poderá sair do OVO: com efeito, o embriip
é capaz de autG-regu1ação. Deste fenômeno se eonclui q,ue os
modelos reguladores locais gozam de certa autonomia, mas
estão subordinados hierarquicamente a .um modelo regulador
geral, que dirige e coordena as atividades parciais e loca1s e
que é capaz de Identificar e de suprir dnteUgentemente. as
falhas de um acidente imprevisto.
Notemos ainda que todo o desenrolar da embrJogénese
estã programado sobre a fita de ADN do núcleo da célula·ovo
no caso do pintinho como no de qualquer vivente; essa pro·
gramação, aliás, persiste no vivente de modo a presidir a toda
a evolução 'biológica do mesmo na sua vida de adulto até a
morte.
3 . A explicação mecanicista do vida
A ciência do século XIX sugeriu a não poucos cIentistas
uma exPlicação mecanici!lta da vida e da origem da vida ...
explicacão que Jacques Monod reiterou no seu livro <O acaso e
a necessidade. 'Z . Este autor admite, como não podia deixar de
admitir, a existência de sentido e finalidade de .projeto. e eati·
1 DllfI•• : bastlo do osso. EpI''": oxlrem Idade do OUO.
: Tradulilo do frllnc." "La Jo.uard ai la Mcftllil6. eu_, lur I_ phllo.o-
pt,iI nalU,.lI• • Ia biologia mod.ra" pela Editora VOZ"' . P.lr6polls.

- 441-
8· .iPERGUNTE E RESPONDEREMOS' 251/1980

vJdade projetivas nos seres vivos. Mas acredita que essa proje..
tlvidade OU programacão procede do cnão.senso. ou da não--
.projetlvidade iniciai e fundamental do unlverso j ao acaso teriA
am aparecido, na massa Inlcial .do 'unIversO, "moléculas capazes
de se reproduzir e de transmitir fielmente Infonnaçôes. Estas
estariam inscritas no ADN dos cromo,sSomos dos seres vIvos e
seriam suscetivels de mudanças ocorrentes ao acaso e devidas
a erros de acoplamento ou ao efeito' de ,radiações; tais mudanças
seriam chamadas, em linguagem técnica, crnutacÕes,. Os indi·
viduos oriundos desses programas a,lterados teriam apresen-
tado caracteristlcas que se transmitiram aos seus desc4!ndentes.
Os IndlvIduos crnutantes:o, segundo Monod, sofreram a seleção
natural: aqueles cujas mu·taeões eram vantajosas para se adap-
tar às condições e clrcunstànelas do ambiente, subsistiram,
reproduzJram.se e, aos poucos, foram suplantando os Indivíduos
não adaptados ao ambiente.

Tal mecanismo, desenvolvendo-se durante centenas de mio


lhões de anos, explicaria, segundo Monod. o aparecimento da
vida e Q evolucão desta a partir da bactéria até o homem.
Não teria havido nenhuma previsão, nenhum planejamento,
nenhuma finalidade no universo antes do surto da vida par
mero ocaso. Por conseguinte, nAo haveria Intellgêncla Suprema
Reguladora., ••• não haverIa Deus.

A evolução mecanicista da vida e do setor da biologia,


baseada ·wticamente sobre o acaso e as propriedades ftslco·qui-
micas do ADN, nunca foi reconhecida \Ulanlmente como satis·
fat6rJa. Não é de estranhar que precisamente os biólogos - os
cIentistas mais bem informados na matéria - tenham sido os
mais enérgicos adversárIos da tese mecanicista 1: propuseram
argumentos nwnerosos e 1rrefutáveis em contrário. Seja sufi~
clente neste contexto, chamar a atenção para o que há de
l

Inversosslmll na expUcação mecalÚcista de um olho, de um


ouvido, de um pulmão ou de uma asa de animal. Teria sido
necessârio enonne número de mutações. todas orientadas no
mesmo sentido e fortemente coordenadas para que o acaso,
corrigido peja seleção, pudesse ser tido como causa única da
origem desses órgãos. Já ~e calculou que, para produzir o
mundo dos viventes como hoje ele existe, o acaso teria necessi.
tado de muito mais tempo do que o comprovado pela ciência
I Tanham-sa em vista as obras de
GRASSé, P. P.• L' tvolullon du vlvanl. Mat6r1aux pour UM nou-nlle
lh4orl. 1I11111Iofmld•• Paris, A. Michel 1973.
JACOB, F., LI! loa1que du manL Pa,I" Gall imard 1970.

-448 -
cmNClA CONTEMPORÂNEA E EXISttNCrA DE DEUS 9

ou mesmo um tempo aJnda mais longo do que o da duraCia


do universo inteiro.
Aliás, náo se deveria conceber o acaso como um sujeito
ou como algo de subsistente (ainda que inCBpa% de explicar o
surto do universo). O acaso é o nome que se dá. ao Cnl28.-
mento de duas ou mais causas bem deflnJdas e orientadas que
se encontram sem que o observador o pudesse prever ou o
saiba explicarj cada qual das causas que se cruzam nwn fenO-
meno «casual., tem sua razão de ser e sua finalidade precisas;
aJRnas acontece então que o observador, colhido de surpresa,
expr1~ a sua ignorância através do nome «acaso •. Donde ,se
vê que «e.caso. não ê um sujeito próprio, mas é um nome que
encobre e traduz a ignorância do observador.
Conscientes das verdades atê aqui expostas, os biólogos
mais sagazes sempre admitiram que a vIda e regida por uin
dinamismo próprio que, sem dúvida, ut1l1za as forças físico·
.quimicas. mas, ao mesmo tempo, as .ultrapassa de maneira
estupenda.
AB observacÕes até aqui propostas levam-nos 8 pro-
curarwna
4. Conclusão
Os clentistas contemporâneos têm-se voltado não só para os
dados da biologia, mas também para os da microfIslca e os da
nstrofisicB e, a partir das mais recentes conclusões destas
ciências, julgam poder e dever afirmar a existência de uma
InteUgência Superiol' que concebeu o universo, lhe deu a exis-
tência e o conserva na sua realidade. Esta Inteligência se chama
Deus; é a Fonre de todas as perfeicões, porque é a própria
Perfeição ou o Ser Perfeito, o Ser por excelência.
Tudo () que cxlste na natureza aponta para essa Inteli-
gência, pois as criaturas dão testemunho da mesma. Quanto
mais o homem sonda as riquezas das núCl'Ot$truturas e das
macro esferas, tanto mais descobre os sinais e reflexos da Suma
Sabedoria que as marcou com. o seu sinete.
Em tal contexto da ciência moderna. toma·se imposslvel o
materialismo e o atelsmo para quem tenha a mente livre de
preconceitos. Verifica-se assim, mais uma vez, que a pouca
ciência pode afastar de Deus, mas a multa ciência Jeva a Deus.
o conteudo deste anlgo devHe aubttanclalmente 80 trabalho de
Joslph DI.lrleh InUM,do "Scllnce 1i IXltltnca de Dllu" • publicado .m
" Rh'uI _ SdlncH R.llgleu..... rfI 204, 1 geO/2:, pp. 164-172.

- 449-
A palavra do Popa:

discurso aos bispos do brasil

Em sim..: o presente artigo apresenta as grandes linhas do dis-


curso do S. Padra Jólo Paulo 11 aos Bispos do Brasil reunidos em Ferta·
'8t1 (10/07lBD). Trata-se de autênllco progrema de aç6Q palloral que Im·
pile. comunhlo 8 fidelidade. .. Comunhlo dos Bispos do Brlllll entre sI
• com a 56 de Padre . • . Fidelidade lO Senhor Jesus ti aos homens; 8.la
fidelidade h6 da ".lgnllJe.!. de um I,do, o culllvo da oraçlo 8 o 1810 pela
tranamllllo fnlegr. 8 IncOluma das verdades d.. "; de "ulro lado, Implica
solicitude para com OI p~lbllero,. os Religioso •• 08 lamlnarlstas, OI leigos,
especialmente os mata carante.. Ab,.... l.slm aos Bispos • perspectiva
de 'uma paslOlal sDela/, que visa a promover todo homem • o homem todo
• qUe hé. de ,8r consantAnea com 08 prlnclplol lundam,olal, do Evangelho
• da doulrlna ,oclal d . IgreJ.; tal pasloral nlo hé de ,er confundida com
pollllca partldAII. nem pretende derrogar • • utorldade civil legltlmlmente
conSlllulda.

• •

Vomeutário : Dentre as numerosas alocuções do S. Padre


João Paulo n proferidas no BraslJ, a mais importante, no dizer
de S. Santidade mesmo, é a que foi dirigida a cerca de duzentos
Bispos reunidos em. Fortaleza aos 10/ 07/ 80. Ponderadamente
redigida e retocada pelo Sumo Pontlflce, tal a1ocução traça
linhas de ação para a Igreja no Brasil Que marcarão o futuro
da evangellza.cão em nosso pais. Eis por que apresentamos, lla.:i
páginas que se seguem, uma síntese da mesma, guardando,
quanto posslveJ, as próprias pa1avras de S. Santidade.

I. OS DIZERES DE JOÃO PAULO 11


1. Inlnodução In' 1-21
Com grande a1egrla João Paulo n aguardou o encontro
com o episcopado bras.lleiro, episcopado Que é o mais numeroso
do mundo e, a1ém do mais, Intensamente ativo. Constitui atual-
mente a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. que já
conta vinte e oito anos de existência, através dos quais tem
cumpr1do a rnlssão de facilitar a convergência da ação pastoral
das dioceses, assIm como o vem representando, com a maior
autenticidade posslveJ, o Episcopado brasileiro junto a outras
instAnclas, sem excluir a civil.

- 450-
o PAPA AOS BISPOS DO BRASa. 1l

Ltmge de se deter na auto-satisfacão do Que jA realizou" á


Conferência dos Bispos do Brasil deve tender a se tornar cada
""" mais fiel às suas tareias. Donde a pergunta: Como podem
aperfeiçoar-se e crescer a rede de serviços da CNBB? O
documento de Puebla sugere a resposta: na comunhão, na parti.
cipação e na evangelizacão.

2. Comunhão na CNBB In' 31


A finalidade primeira de toda Conferencia Episcopal é
manter viva a comunhão entre os Bispos que a compõem, apesar
das eompreensívels dIferenças que entre eles existam.
Como base e cimento dessa comunhão, Quatro grandes
valores se podem citar; há. um só Senhor, do qual todos são
ministros; uma só verdade, da qual são mestres e servidore5j
uma única salvação, que todos anunciam e atualizam; uma só
caridade fraterna, que congrega na unidade. Com efeito, a
comunhão lmpUca o amor fraterno. que 1eVB a superar parti.
cuIarlsmos, partidarismos ou disputas entre grupos, e integra
em pluralismo sadio a compreensível diversidade..
.' .- A experiência ensina que qualquer pronunciamento de Con-
ferência Episcopal é tanto mais significativo quanto mais nele
se reflete a unidade dos Bispos que falam. Esta .u nidade hã de
ser estimulada pelo diálogo fraterno. que cria um clima prop!clo
à reciproca confiança. A coJÚiancs. que não se 1hn1ta à simples
cordialidade no trato mútuo. leva cada um a aceitar opiniões
ou posições diversas das próprias, desde que fique salvaguar-
dado o bem comum da Igreja.

3. Participação na CNBB (n' 41


Crescer em participação é a segunda meta. O crescimento
Implica que as decisões da Conferência levem sempre em conta
os sentimentos e as convicções das parcelas do conjunto, ainda
que não sejam majorltArfas. Requer outrossim que nos órgãos
de decisão haja representação dos Bispos membros da Confe-
rência.
Embora aos Bispos toque responsabilidade individual pe.
rante Cristo e a Igreja, é importante que solicitem a colabo.
ração de sacerdotes, leigos, Religiosos e Religiosas nos setores
- 451-
12 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 25V1980

da respectiva competência. Tais colaboradores merecem louvor.


Todavia são os Bispos que respondem perante e. própria cons·
ciência e perante Deus pelos pronunciamentos e documentos da
Conferência. Por conseguinte, a ninguém deveria surpreender
que, em suas assembléias, os Bispos disponham de penados
suficientemente longos para o encontro e o diAlogo entre si,
sem a presenoa de outras pessoas, para. reforçarem a sua uni-
dade como mestres da fê e partllharem a comum responsabi.
lidade.

4. A evangelização e ti CNBB {n' SJ


Comunhão e participação devem benefIcIar a principal
tarefa da CNBB, que é a evangelização.
o Documento de Puebla apresenta, como conteúdo essen-
cial da evangelização, as verdades SQbre Jesus Cristo
(n' 170-219), sobre a Igreja (n' 220-303) e sobre o hom-em
(n<t 304.339). Tudo o mais é «parte Integrante» da evangeli-
.zacão•
Especialmente em nosso mundo ameaçado de secularismo
ateu, a proclamação do AbSOluto de Deus, do mistério de Jesus
Cristo, da transcendência da sa1vação. da fé 'C dos sacramentos
ê dever dos Pastores da Igreja.
cN6s f ministros de Jesus Crido .. ", s6 teremOs <:redibilidade e
.f1e6ela CiO "alarmos dos realidades t.. mporais, , .. antes - ou, pelo
rn.enos, 00 mesmo tempo - estivermos otenloso proclamar uma
solvoc;ao Que ultrapassa todos os limites temporais para rcallzor·se
no absoluto de ~uu .
Todavia a atenção aos valores transcendentais não exclui
8S urgentes questões de ordem b!mporal que afetam os homens
de nossos dias. «As assembléias das Conferencias Episcopais hão
de ter a preocupaçã.o de aferir pelo J)ensamento de Deus .. _ os
problemas emergentes da vida dos homens e da sociedade, sem
deixar de tratar tempestiva e seguramente os problemas pró-
prios da vida da Igreja, corno os relativos 'à Liturgia e à
oração, às vocações .sacerdotais. à Vida Religiosa e à SUB reta
renovação. à catequese, à fonnação religiosa dos jovens, à
piedade popular e suas exigências, ao desafio de seitas aberran-
tes, à avalanche da imoralidade, etc. ~
Nota-se, a vários tltulos, Que o povo brasllelro conseNa a
fome de Deus e dos valores sagrados. Contudo só possui exlguo
-452 -
o PAPA AOS BISPOS DO BRASn. 13

conhecimento das verdades da fé; donde resultam vulnerabl-


lldade a doutrinas abelT1ll1tes, tendência a religiosidade mais
sentimental do que convicta e profunda, risco de fé pri~tista e
desl1gada da v.ida . • . <cDlante disto a catequese é wna urgêncJa» i
de.. constituir preocupação constante da Conferência Eplsco-.
pai e de cada um dos seus Bispos. Será preciso que OI Bispos.
voltados para 8 catequese, dêem especial atenção aos textos da
mesma: como são elaborados? qual o seu conteúdo? que mensa-
gem transmitem? que Imagem de Deus, de Jesus Cristo, da
Igreja. da vida cristã. da vocaçáo do homem. eles comunicam?
A propósito vem uma palavra sobre as Comunidades Ecle-
slais de Base: háo de ser acompanhadas e assistidas pare que
dêem os frutos desejados, sem se desviar para finalidades hete.
rogêneas.
Importa agora considerar as responsabWdades pessoais de
cada Bispo. que não são cerceadas nem dlmimúdas pelo · tato
de estar inserido na respecUva Conferência Episcopal.

5. Responsabilidade pessoal d. ,lida Bispo (n' 6)


Antes do mais, impõe-se uma referhlcla à pobreza e slmpli.
cidade de vida dos Bispos do Brasil, Que já é um fato e que só
pode merecer encorajamento. Assim inseridos na existê'ncla dos
seus fiéis, os Bispos devem sentlr.se muito à vontade para
exercer os múltiploS aspectos da sua mlssão pastoral: «Vosso
povo precisa de que asswnais tais aspectos e, embora silencio.
samente, vo-lo suplica».
E quais são esses aspectos?
5.1. c:5ede mtstres de oração. (nf '.11
«Sois os primeiros responsAvels por fazer rezar o vosso
povo e os primeiros zeladores de uma oracão litúrgica digna e
fervorosa •. Isto quer dizer, entre outras coisas, que aos Bispos
compete, de um lado, promover a autêntica renovação litúrgica
preconizada pejo ConcUJo do Vaticano II e, de outro lado, evitar
os abusos litúrgicos, o subjetivismo e a anarquia que rompem a
Wúdade do culto, des<lrientam os fiéis e prejudicam a beleza das
celebrações.
5.2. cAnundador" de Crllto e d. sua mensagem. In' 6.2)
c:Bem podemo. repetir com São Pavio quo não viomo. proclamar
dlneto humana algllmo, mas Jesu. CridO, 11 Je.u. Cristo Cl'udficado,

-453-
14 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 2SlI1980

~ojl em. nieló 00 nosso povo. não somo. peritos d. politlca ou eco-
nomia, n60. somos Ilcttr.S
. em vista de alguma empresa temporal, mas
mlniltros .do Evcna~lt1o:t. .
. Este é o ponto ,mais firtimo da comunhão entre OS BIspos.
Podem dlvldir·se diante de opções temporais acidentais, inas é
imposs1v~l: 'q ue não se encontrem inseparavelmente unidos na
tarefa de anlUlc1ar Jesus Cristo.

5.3 . c~ores da. comunidade .clniol» In' 6 . 3J


, Os 'Bispos -São sacramentos - sinais e artifices - de
eomunh~O; Devem, pois, «convocar os que estão clispersos, reunir
os que estão separados, construir assim a Igreja e mantê-la na
unidade, apesar de todas as forças de ruptura e desulÚlo:..
5 . .. . eM. . . da Verdad. . (nt 6.4J
Trata·se da verdade confiada por Jesus Cristo à Igreja
para ser proclamada e defundida com coragem. Já em Puebla
João Paulo n salientou com ênfase especial as verdades sobre
Jesus Cr.1sto, a Igreja e o homem.
A serviço destas verdades encontram-se os teólogos, cuja
tarefa; unida ao conjunto do servlCO eclesiaJ, é altamente
fecunda e ennqueeedora para a Igreja.
«o verdadeiro tfltlogo sobe, atf par uma intuição sobrenClturol,
que caberá CIO Bispo valor pClJtaralmente sobre o 'UG atividade teoló-
gica, em bentHc:ia do f6 do povo de Deu•.
Sltrlamol bem feli~" todos, se erros e desvios nesles t,i. çampos
- Cristo, a Igrelo e o homem - fauem algo de remoto, posdvet.
quem .abe, mos por ara irreal. Sobeis que não ~ .assim e que, por
isso mesmo, a crucificante, mOI indeclin6ve l dever de apontar tais
erra, com 5er.nidade e ftrmez.a e de propor pontuCllmente oos fifis CI
Verdade, é paro vó. algo de próximo e mais que atual. O Senhor vai
dj o corismCl do dl.cernimento pClro ter sempre presentes estas '1er-
dClde. e o liberdad. e .e,gurar'lca paro ensiná-Ias sempre. rebCltendo
Cluim tudo quanto a elo. se oponho;,.

5 . 5. «Pai•• Innio. de vossos presbf'eros» In' 6 .S)


Que todo Bispo ofereça aos seus presbiteros CGmpreensão
e amparo nas horas dJflceis; mostre-lhes a conf!lI'nta de um
Irmão e a segurança, impregnada de afeto. de um paI. Mas
sobretudo recorde-se de que nada pOde ser mais urgente ~ pre-
doso do que a santidade dos sacerdotes. Seja, portanto, o Bis}Xl
-454 -
o PAPA AOS BISPOS DO BRASn.
dorma putoram.., OU seja, modelo de seus sacerdotes em tudo
aquilo ql1l! <onstltul a espiritualldade - santidade e zelo apos-
tólico - dos seus presblteros.
5.6 . As IfOUlSÓ4ts sacerdotais In' 6.6)
Um Bispo poderá estar certo d. jamais ter perdido o
tempo e os talentos que éle despender na ~fe. de -suscitar
vocações sacerdotals e religiosas. cVelal, pois, por vossos'Semi-
nários com a consciência de que toda imperfeição ou desvio
que houver na forma~o dos futuros sacerdotes, por temor
de ser exigentes. por acomodação ou por uma menor atenção
da "'ssa parte... é um dano para os próprios seminaristas
hoje e um da:l0 maior para a Igreja amanhb.

$.7 . «PoIs e Irmóos dos Rellglosou In' 6.7)


cHolo lempre a ccmunhéio mais perfeita poutvel enlre O Bllpo •
os Religiosos o Religiosas da Igrela local~.
O Bispo lnterpelará os Religiosos a viver cada vez mais
intensamente a própria vocacão e o carisma peculiar de cada
tamllia religiosa. Do seu lado. os Religiosos estarão dispostos
a se inserir cada vez mais no dlnarn1smo pastoral da dioca!';
acolham e respeitem o carisma dos Bispos na Igreja como
mestres da fé e guias espirituais. O mútuo relacionamento entre
Bispos e Religiosos baseado nas virtudes da confiança, do res-
peito, da lealdade, da caridade e do espírito de serviço serA.
imensamente útil à Igreja.
5.' . «Pois genefosos e acolhHoI'H dos I.igos~ I,nt 6 . ')
O leigo é, por deflnlçio, um seguidor de Cristo, um homem
da Igreja presente e ativo no coração do mundo para gerir as
realidades temporais e ordenA-Ias ao Reino de Deus. Os leigos
esperam de seus pastores alimento para a sua fé, seguranca de
doutrina, sustento espiritual para a sua vida e orientação finne
para a sua Qçáo como cristãos nO rnW\do. Esperam apoio e
estimulo para serem leigos sem risco de cler1callzação; e, para
isto, esperam que seus Pastores sejam pastores em plenitude,
aem ris<os de laIcização.
5.9. cPromoto,.. dos grandes valores humanos» (n' 6.91
Antes do mais, promovam os Bispos a verdadeira digni-
dade do homem, filho e imagem de Deus, innão e herdeiro de
Jesus Cristo.
-455 -
16 ~GUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

cVossa vocacâo de Bispos vos proíbe com clareza total . ..


tudo quanto se pareça com partidarismos polltlcos, sujeição a
tal ou qual ideologJa ou sistema. Mas não prolbe, antes convida,
a estar proxlmos e a serviço de todos os homens, espectal.
mente dos mais desvalidos e necessitados». Note.se, porém, que
a opeão preferencial pelos pobres (tenno este cujo conteúdo
pode ser diversamente Interpretado) nlio é convite a exclusI-
vismo, pois é dever do Bispo proclamar todo o Evangelho a
tod.. OS homens.

A Igreja não tem a pretensão de assumir, com() função


própria, as atividades políticas. Ela respeita a autoridade cons-
tituída (cf. lPd 2.13·17) e não deixa de proclamar que. para o
bem da sociedade, a autoridade é necessária. Todavia a Igreja
reivindlcEL, como seu direito e dever, a prática de uma pastoral
social não como projeto puramente temporal, mas como Corma
e orientação das consciências para que a sociedade se torne
maJs Justa.

A fnu de que esta Pastoral seja eficiente, há condlcões


fundamentais a. preencher:
1) Tal programa sodal tenha autenticidade, Isto é, esteja
em .coerência com os principios do Evangelho c com o magis-
tério da Igreja. 'Não se baseie em premissas que. apesar de
todos os predJcados que se lhes atribuam, sejam contrárias ã
verdade catOlIca em seus próprios fundamentos.

2) Esse programa seja autenticamente braslleiro. !rem


deixar de ser universal. Deve ter os olhos abertos para todas
as violações dos direitos humanos, seja onde for, no dominio
dos bens materiais como no dos bens espirituais. Se faltar esta
ética fundamental. ele corrt'rá o risco de ser objeto de mani.
pulações unHatems.
3) A Pastoral social deve também ser orgânica. Isto quer
dizer que não deve levar em conta apenas o~ fatores econô·
micos e técn1cos; não pode ter como objetivo único a coletivi.
zaçAo dos meios de produção, menos ainda se com isto se
entende a concentração de tudo nas mãos do Estado, conver-
tido na única verdadeira força capitalista. Mas a Pastoral social
devem considerar também as exigências culturais do homem, es·
pecialmente a educacão e a instrução, pré-requisitos de igual
promoção para todos os homens. Por conseguinte, dê atenção
ao homem Integral com todas as suas componentes, inclusiw
-456 -
o PAPA AOS BISPOS 00 BRASn. 17

eom a sua abertura para o Absoluto, mesmo o Absoluto de


Deus. De modo espec1al IlV!rece rmncAo o acesso à propriedade
particular, condição Indispensável da liberdade e crlaUvldBde
do homem, que lhe pennite sair do anonimato e da alienação
quando se trata de colaborar com o bem comum.
«Os ministros da Igreja - Bispos e Sacerdotes - terão cons-
dlnda de .q ue o sua parlicipoçgo melhor e mais eficoz: neslo Posloral
lOCiol não é a que consistiria em empenho,••• em lutas partld6r1a. ou
.m opçõ.s de grupos e sistemo., meu Q que faz: deles ....rdadeiros
'educadores ria fé', guios $eglUOj, a"imodores espirituais. O. Religiosos
evitarão p'ermutor aquilo que cornlilui O ,eu carlsmo no IgreJa-
consagração tolal a 08UI, a aracao, a testemunho do vida futura, o
.busco da santidade - por empenhos pollticos que nôo servem nem
a elos próprios, que perdem a sua Idontidade, nem Q Igr.Ja, que
ficCl emprobrecido com o perda de lima .ua dimensão eu.neial, nem
ao mundo e 6 sociedade, igualmente pri ...ados daquele elemento orl'
ginal que s6 o Vida Religioso podia fornecer 00 legitimo pluralllmo •.

5 . 10. drmãos do sucessor d. P~ro. Int.l0)

Estejam OS Bispos .unidos à Sé de Pedro afetiva e eletiva-


mente, independentemente da pessoa daquele que no momento
faz as vezes de Pedro. Esta comunhão com o Papa dá à missão
de cada Bispo a sua plena eclesJaUdade. Ela inclui não apenas
a acolhida à palavra pessoal do Papa, mos também o acato aos
pronunciamentos dos órgãos e Congregações que com o Papa
colaboram no Governo da Igreja e falam em nome do Papa
OU com a aprovacão expUclta do Romano Pont1fi~ ou por man-
dato recebido deste.

6. Evocação de irmãos Bispos (n' 71


Ainda se faz mister evocar as figuras de gl'and~$ Bispos
que, desde Dom Pedro Fernandes SardInha. o primeiro, dUNlnte
quatro séculos e meio se dedicaram à construção do Reino
de De.us no Bra.sJ1.
«Qualquer citação de nomes 4: forcesamente limitado, mas como
nllo evocor figuras cama as de Dom Vital de Oliveira fi Dom Anl6nio
MCléldo Cosia, d. Dom Ant6nia Ferreiro Vicoso, dai doIs primeiros
Cardeais brasileiros Dom Joaquim Arcoverde e Dom Sebolflão teme
da Silveira untra, de Dom Sil...ério Gomls Pimenta e d. Dom Jod

- 457-
18 ",PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 2511198)

Gaspar Affonseeo e Silya? Camo não ,yoco' aqui em Forlal'll:! I:!


fiaura admlráyel d, Dom Antõnia d, Almeida Lu.IOSD, que r@pouso
nesta Caledral , que deixou nesta dioe@S8 o Imagem luminosa de um
,gbio • de um ,anlo? POlia a recordaç60 destes irmão•• de tantos
• lanlo. oulros, que nos preced.ram com o ,Inal da fé, estimular· nos
mais • mais no •• ,viço do Senharl:.

11. COMENTANDO ...


Quem lê o discurso atrãs compendiado, tem a impressão
de que João Paulo n quis deixar aos Bispos do Brasil uma
súmula de ação pastoral, levando em conta os mais diversos
setores em que esta se realiza. Procurando ir ao âmago desta
alocução, pode.se dizer que duas grandes idéias a perpassam e
dominam: comunhão e fidelidade.

1. Comunhão
A comunhão tem dois aspectos: comunhão dos Bispos entre
li e eomunhão dos Bispos com o sucessor de Pedro.

t . 1. O, Bispo, entre si
Ninguém pode negar que nem sempre os Bispos do Brasil
se pronunciam do mesmo modo diante das situações públiCas
que efetam o pais. Isto pode dar a impressão de que estão
twldamentalmente divldJdos entre si. - Ta11nterpretação seria
falsa: os Bispos do Brasil professam a mesma fé e compar·
tllham o mesmo pão eucarisUco. Podem divergir entre si no
tocante à orientação pastoral que dão às .respectivas dioceses:
assim hâ os que mais acentuam ta) Unha de ação, como há os
que enfatizam tal outra linha ... Esta dlferenta ê compreen·
sível dentro da Wlldade básica. Pode ser explicada mediante
uma comparação: quem se acha diante de sinal verde ou verme·
lho. sabe nitidamente como deve proceder; avançará. ou não,
de acordo com a cor assinalada. Todavia quem se vê diante de
sinal amarelo, pode hesitar a respeito da sua conduta: avançarA
ou não? HIi quem oPte então pelo Nilo, ponderando rIscos que
o avanço pode aC8netar; dlz·se que tal pessoa é prudente. Mas
ht quem, diante de sinal amarelo, opte pelo ultmpassamento,
ponderando os riscos que a espera pode acarretar·lhe (poderá
perder a «hora marcada:.) ; tal pessoa também pode estar sendo
prudente . . . Qual dos dois tem razão: o Que aguarda ou o Que
avanca? Quem rem condições de dirimir a dúvida? Mais: note·se

- 458-
o PAPA AOS BISPOS DO BRASll. 19

que, embol'él um diga ~80 e o outro SIm em atitudes práticas


contraditórias, ambos são fundamentalmente prudentes ou vir·
tuosos ou bem Intencionados. A prudência é a virtude mais sulr
letiva que existe, pois ela tem parte das suas raIzes. nas expe.
riêncIas pessoais, na fonnação, na idade, no temperamento do
respectivo individuo; para a prudêncla, não há padrões pre-
cisos. universais e predefinidos. Também é de observar que a
prudência não é necessariamente a vIrtude do recuo ou do
fechamento intimidado; ela pode incitar também a grandes fa-
canhas, de acordo com a situação dlante da qual ela se vir.
Veja.se, pois, por debaixo das divergências pastorais doa
Bispos do Brasil, a intenção fundamental de acertar ou de
construir o Reino de Deus nas circunstâncias polivalentes cde
sinal amarelo», em Que exercem a sua ação apostólica.
Ora João PauJo n pede aos Bispos do Brasil que, através
das suas naturais e compreensiveis diferenças pessoais, con·
servem a ccmunhâo entre si no tocante aos valores básicos da
fé e do amor fraterno.

1 .2 . O,. 811J101 e o sue.nor de Pedro


A tarefa pastoral dos Bispos do Brasil sO tem valor dJante
de Deus se executada em espirito eclesial, ou seja, em comu·
nhão com os demais Bispos da Igreja e. especialmente, com o
Bispo de Roma. sucessor de Pedro. Este é o fator e o penhor
da unIdade da Igreja, de modo que quem se afasta de Pedro,
se afasta da Igreja e quem se afasta da Igreja se afasta de
Cristo e do Pai.
A comunhão com Pedro exige capacidade de superação do6
particularismos, às vezes interessantes, em favor de um bem
maior, que é o atendimento aos apelos da unidade e da fé.

2. F"odelldad.
Vinculados entre si pela comunhão fratemlt, os Bispos
procuram ser fiéis . _ ., fiéis a Deus e aOs homens. Essa fldeU-
dade implica diversos aspectos, dos quais dois sejam postos em
relevo:

2. I _ Adelldade a Deus e à verdade r ....elada


1. A fidelidade a Deus implica, antes do mais, a prática
assidua da oração. lt -esta que alimenta o espirito de fé e ti.

- 459-
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 251/1980

afinidade com o Senhor que há de inspirar o comportamento


de cada Bispo. Homem de oração pessoal e litúrgJca, o PllStor
diocesano há de ser mestre e animador da oração pessoal e co~
munltárla dos seus fiéis.

2. O S. Padre tem-se mostrado cioso da missão que Cristo


lhe confiou: cConflnna teus innãos na fé , (Lc 21,32). Por
isto desde o inicio do seu pontificado vem chamando a atenção
para a necessjdade de se guardarem incólumes as verdades da
fé. Esta atitude tem significado especial numa época em que
os teólogos, com legitima intencão, procuram reformular os
artigos do Credo em linguagem moderna, mais acessivel ao
homem de hoje. Os desvios ocorrIdos ameaçam tornar o errô~
neo tão comum e «certo, quanto a genulna fonnulação e com·
preensão das verdades reveladas. Aos Bispos toca exercer espe·
cial vigilâncla a tal prop6sito, pois a ~es o Espírito Santo
outorgou o t:arisma da verdade e do magistério na Igreja
(cf. Constituição Del Verbwn n' 8).

Joio Paulo TI enumera diversos tipos de l-"eSsoas às quais


o Bispo deve fidelidade: os presbiteros, os Religiosos, OS futuros
presbiteros ou ReUgiosos, os leigos . .. e, em suma, todos Q!j
homens, partlcuIannente os mais carentes (observe.se 8. propó·
sito que os ricos de bens materiais podem ser carentes dos
valores da fé).
A perspectiva de fidelidade a todos os homens abre aos
Bispos vasto campo de ação socla1 ou de promoção de todo
homem e do homem todo. Tal ação social, para ser autentica-
mente cristã e eclesial, deverá. ser marcada por notas bem defi.
nldas: fidelidade o.os prlnclplos doutrinários da fé e da Igreja,
universalidade (levando em conta as violações dos direitos hu-
manos tanto no plano material quanto no plano espiritual),
organicldade (o que decoITe do fato de que o homem nAo é só
matêria, mas é personalidade a ser educada e cultivada). cor·
responsabllldade.
Eis, em slntese, o que, a nosso ver. João Paulo n deixou
como mensagem pastoral ao Episcopado brasileiro e, conse·
qüentemente, a toda a Igreja do Brasll, inclui dos os fiéis leigos.
Possa tal anúncio fn,ltlflcar ainda copIosamente- entre nós!
-460 -
4 pllavra cio PlPO;

às comunidades edesiais de base

Em ~m...: A aJocuçlo d. Joio Paulo II aos lideres das comun"


IlIdada eeleslela de b... acentuou tr • • Importantes aspectos:
1) ECletland• • ou fidelidade' Igreja a • seus PastOrel. sem conta--
",lnaçAo Ideol6gica ou pattld' rlo-polrtlca.
2) Sollda,llIdada 8nlAl OI membros da mesma comunidade, cama
tamb6m ltrTl relaçlo aos damal. Irmlos; ta, solidarIedade axprlmJr......
antes do mais, em aJuda aos IrmlO! par. qua possam aprofundar a lUa f6;
ferA em mlr. outrossim OI direitos humanoa pllote.dos a a Inal....lIç1o da
)UIUça IOClal.
3) O antmadot da uma comunidade eeles'a' d. base deve prenchlr
IrIs principais pr6-requls UoI:
.) IIstaJa p.soalmente em comunhlo com 08 piam,.. da Igrelli
b) moatr••,,10 _mplnho 11m formar-se nl doutrina da " , I flm
da ajudar IIUI Irmlo. a cresceI na 16:
c) creia no yalor da orlçAo 111 reza.
• • •
Comentário: Em sua v1s1ta pastoral ao Brasll, o S. Padre
João Pa~ n quis dar especial atenção às Comunidades Ecl\.....
sim de Base, menclonando-u mais de uma vez e dedlcando·lhes
uma de suas alOaJcÕeS 1. Não poucas pessoas perguntam o qw:
venham a ser Comunidades EcIeslais de Base (CEB). das quais
ouvem falar em docwnentos da Igreja; nem sempre são con·
vergcntes entre 51 as noticIas que a respeIto se dl.ssem1nam.
EIs por que, a seguir, exporemos smnarJamente o que são as
CEB, e reproduziremos o discurso de S. Santidade ê.s meSl1l8!J.

1. Que são as Comunidades Eclasfals d. Base?


Ao CEB tiveram origem no Estado do RIo Grande do
Norte ou, mais precisamente, em São Paulo do Potengi, na
arquldloeese de Natal.
I Em virtude d. j:lremlncla do tem~o. 1St. dlscurlo "lo chegou. IIr
proferido de viva voz, mas, escrito. foi entregue ao Plalldenl. di Com.-
tine!!!; Naelon.1 doa Bll pol do 8r.IU.

- 461-
·22 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 251/1980

Na década de 60, Mons. ExpedIto de Medeiros, Vigário da


localidade, verificava ter uma grei demasiado grande e espan;a
para poder a sós servir-lhe adequadamente. Não podia contaI
com o reforço de colegas no ministério, cujo número era cada
vez mais exiguo para as necessidades da população minha.
Dai nasceu o plano de consUtu1r dentro da sua paróquia núc1e~
ou comunidades de leIgos que, sob a coordenação de um anima-
dor especialmente fonnado para tanto, cultiva.ssem a sua vida
cristã através de oração, culto dominical, leitura da Bíblia.
reflexão, apoio mútuo e solidariedade ...
Essas comunIdades, que constariam cada qual de quinze
pessoas aproxlmadamenre, herdav8mt de certo modo, o método
de reflexão da Ação CatóUca Rural, orientada pelo Pe. Servat.
Isto quer cllzer: procuravam reaJl.2ar suas reflexões segundo os
três pontos do ro~lro: VER, .nJLGAR, AGffi. Com efeito, os
membros das comunidades aplicavam-se a ver ou corusideru a
sItuação religiosa, moral, humana em que estavam imersos; n
seguir, ju1ga.vam, isto é, confrontavam tal situação ~m. a Pa-
lavra de Deus lida na Blblia ou, mais precisamente, no Evan-
gelho; dai tiravam suas conclusões relativas à resposta a dar
a tal realIdade num agir cristão. O Evangelho deveria ser o
padrão e referencIal do modo de pensar e atuar de tais cristãos.
Como se vê, as Comwlidades Ecleslals de Base foram con-
cebidas para. criar t! fomentar o espírito cristão de amor a
Deus e ao próximo entre os seus membros - o que seria muito
dificll se não se pensasse em repartir ou subdividir a paróquia.

Uma vez fonnadas as Comunidades e o respectivo lider, o


sacerdote ou o Bispo diocesano as acompanhava, e acompa-
nha. mediante visitas periódicas, por ocasião das quais ceie.
bra 8. S. Eucaristia e administra o.u tros sacramentos.
Outro fato, mais remoto, pode ser citado como inspirador
Indireto das CEB. Na dêcada de 50 e no começo da de &O, o
lider polltico esquerdista J"ulião percorria 8 zona rural nordes-
tina, fundando as Ligas Camponesas. de tendências marxistas.
Em resposta 8 tal instituição, a Igreja se Interessou pela fund3.·
tão de Sindicatos de trabalhadores rurais, Sindicatos estrutu-
l'ados por fUosofia não ma.rxista ou pela doutrina social da
Igreja_ Todavia os Pastores da Igreja tomaram consciência ni·
Uda de que um Sindicato não é ainda, por si, uma célula da
Igreja. Foi esta verificação que impellu a promover e fomentai·
o surro de outro tipo de agrupamento de cristãos, mais defini·

- 462-
AS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 23

damente eclesJal do que os SindIc:atos, ou seja, as Comunida~s


Ecleslals de Base.

A experiência iniciada em S. Paulo do Potcngi foi trans.


plantada para outros pontos do pais e do exterior, principalmen.
te para as zonas ruraJs (os ambientes urbanos são, por sua m·
dole agitada e dispersa, refratários a tal tipo de instituIção). As
CEB, multiplicando-se, adaptaram·se 'às diversas circuntAnclas
em que Iam sendo criadas. Como é compreensiveI, porém, tal
instituição sofreu cá e IA as eon.seqUênclas de fatores estranhos
ou heterogêneos: tomaram-se por vezes objeto de exploracão
política, seja por parte dos próprios lideres, seja por intervenção
de pessoas de fora; as preocupações sócIo-econOmioas deram
caracterisUcas a detenn1nadas CEB que as desviaram do i deal
dos seus fundadores.
Mo.:""
:t esta problemática que explica a atenção cllspensada por
S. Santidade às CEB. assim como os pontos do discurso q~
abaixo vai transcrito.

2. A pakrno de João Paulo 11


Am_. Irmios,

1. Vosso desejo de poder avlstar·vos com o Papa du--


rente a sua visita ao Brasil viria ao encontro do desejo que eu
mesmo nutria de reunil'.me convosco. Mas nAo fal posslval,
com grande pena para mim, tomar contacto com todas as
realidades e experiências da Igreja no Brasil. Quanto a algumas
dalas, tive de resignar-me a conversar com pessoas ligadas a
elas. Assim sucedeu convosco, Membros e ResponSáveis de
COmunidades Ecleslals de Base. A leitura dos relatórios qtlln-
quanals dos Bispos do Breal! e minhas converses com eles por
ocasUlo da atual visite "ad IImlna apo.tolorum" confirmam
algo que eu I' conhecia por anteriores Informações: a enorme
Importância que têm as comunidades eclesiais de base na pas.
toral da Igreja no Brasil. Por Isso, nAo se tendo .proporcionado
ocaslAo para tal encontro, nAo quereria delxar·vos sem uma
palavra, como sinal de Interesse.

2. Alegra·me, antes de tudo, poder renovar agora aquela


confiança que meu saudoso Predecessor, o Papa Paulo Sexto.
quis manifestar em relação às Comunidades Ecleslals de Base.

-463 -
U cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 25Ul980

A elas consagrou um parágrafo denso, rico de conteúdo, lu..


minoso em seus conceitos e altamente significativo, em sua
magIstral Exortação Apostólica "EvengeUI Nuntlancll" (n. 58). Ele
recolheu neste texto tudo quanto sobre essas comunidades se
havia discutido no corrar do Slnodo dos Bispos de 1974, no
qual a Divina Providência quis que eu assumisse tarefas de
grande responsabilidade. Jé no decurso da viagem pastoral
ao Mbico, três meses após a eleição para o Supremo Ponti-
ficado, eu tivera oportunidade de declarar que as Comu-
nidades Eelesiais de Base podem ser um valioso instrumento
de formação cristA e de penetração capilar do Evangelho na
Sociedade (.cf. Insegnamentl di Gravannl Paolo li, 1979,
p. 252s5); elas o serAo na medida em que se mantiverem fiéis
àquela Identidade fundamental tao bem descrita por Paulo VI
no citado parágrafo da "Ev8ngelll Nuntlandl".
3. Entre as dimensões das Comunidades Ecleslais de
Base, julgo conveniente chamar a atençAo para aquela que
mais profundamente as define e sem 8 qual se esvaziaria sua
identidade: a Ecleslalldade. Sublinho esta Ecleslalldade, porque
está expllelta Já na designação que, sobretudo na América
latina, as comunidades receberam. Ser ecleslais é sua marca
originai e seu modo de existir e operar. Formam-se em comu·
nidades orgênlcas 'Para melhor serem Igreja. E a base a que se
referem. é de caráter nitidamente eeleslal e não meramente
sociológico ou outro. Sublinho também esta eclesialidade
porque o perigo de atenuar essa dimensão, se nAo deixé-Ia
desaparecer em beneficio de .outras. não é nem Irreal nem
remoto. antes é sempre atual. ê particularmente Insistente o
risco de intromissão do político. Esta intromissão pode dar-se
na própria gênese e formação das comunidades, que se con-
gregariam não 8 partir de uma visão de Igreja, mas com cri~
térlos e .objetivos de Ideologia poHUca. Tal intromissão, porém,
pOde dar-se também sob a forma de Instrumentalização polltlca
de comunidades Que haviam nascido em perspectiva eclesial.
Uma delicada atenção e um sério e corajoso esforço para
manter em toda a sua pureza a dimensAo eclesial dessas co-
munidades são um eminente serviço que se presta. de uma
parte. a elas pr6prias e, de outra parte, à Igreja. A elas, porque
preservá-Ias em sua Identidade ecleslal é garantir-lhes a liber-
dade, a eficácia e a própria sobrevivência. À. Igreja, porque só
servirão à sua missão essencial de evangelização comunidades
que vivam aulentlcamente a insplraçAo ecleslal sem dependên-
cias de outra ordem. Aquela atenção e aquele esforço são
um dever sagrado do sucessor de Pedro, por força de sua

-464 -
ÀS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 25

"sollcl1ude do toda. as IgreJas" (cf. 2 Cor 11, 28). sao um


dever de cada Bispo em sua Diocese e dos Bispos ooleglal-
mente unidos no âmbito de uma Nação. São um dever também
dos que têm alguma responsabilidade no seio das próprias
comunidades. A oportunidade desta viagem parece--me o
momento adequado para exortar as comunidades ecles lals da
base do Brasil a conservar Intacta a sua dimensGo eelesial. nAo
obstante tendências ou Impulsos que venham do Exterior ou
do próprio Pais num sentido diverso, Se. nos anos passados, as
Comunidades de Base latino-Americanas, BI'Bsileiras ém par-
ticular. manifestaram enorme vitalidade e foram acolhidas
como vatioslssimo elemento pastoral, se tiveram, além disso,
notAvel repercussAo no Exterior. foi Justamente porque soube·
ram manter, sem desvios nem alterações, a dimensão ecleslel,
fugindo à contaminação ideológica. Penso ser supérfluo definir
de novo os elementos de uma verdadeira ecleslalldade: eles
aparecem todos com suficiente clareza na Exortação Apostó-
lica nevang.m NunUandi" , Basta recordar que essa eclesia-
IIdade se concretiza em uma sincera e leal vinculação da comu-
nidade aos seus legitimas 'pastores, em uma fiei adesAo aos
objetivos da Igreja. em uma total abertura às outras comuni-
dades e à grande comunidade da Igreja Universal, abertura
que evitará toda tentação de sectarlzação.
4. li! sabido que uma comunidade ecleslal tem de ser
forçosamente uma comunidade de caridade ou de emor ira-
terno, NAo foi por acaso que, querendo apontar o traço carac-
terfstico dos seus discfpulos é seguidores, o Senhor procla-
mava; "Nisto conhecerlo que sois meus disclpulos, se vos
amardes uns aos oulros" (Jo 13,35), ~ comunidade de cari-
dade enquanto seus membros procuram mais e mais conhe-
cér-se, viver juntos, partilhar alegrias e tloras, riquezas e ne-
cessidades. De resto, qual é o primeiro motivo de formaç80 de
comunidades de baSe so nAo a necessidade e o desejo dé
criar grupos, nio multitudinérlos, mas à medida humana, capa-
zes de constituir e9paÇtls de verdadeiro diálogo e partilhar? A
comunidade de base serA comunidade de caridade sobretudo
enquanto se revela instrumento de serviço mútuo no Interior
da mesma comunidade e servIço aos outros Irmãos, sobretudo
aos mais necessitados. Uma comunidade que se mostra verda-
deiramente ecleslal- porque nascida de um Impulso eeloslal,
porque voltada para os objetivos da Igreja, porque vinculada
80S pastores da Igreja e porque sensivel à escuta da palavra de
Deus, ao crescimento da fé, à oração, nAo deixa de ser eclealsl.
porque vive a caridade, Ao contrário, ela cresce é se consolida

- 465-
26 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 25111980

na prática concreta da caridade desde que esta nAo fique


comprometida, como pode acontecer. com projetos polltlcos.
A caridade vivida por lima comunidade poderá tomar formas
bem diversas: em primeiro lugar, ajudar alguém a aprofundar
a própria fé, depois, também em gestos de promoção human2.
de pessoas ou grupos em depressAo, ou gastos de Integr8-
çAo ,de marginalizados, defesa ~e direitos humanos plsoteados.
busca da Justiça em situações de IniQÜidade, ajudar a superar
.condições lnfra-humanas, criação de mais solidariedade em
uma determinada sociedade, etc. Tudo Isto, porém, deve levar ó
marca de uma verdadeira caridade, tal como a descreve São
Paulo (pacIente, benigna, esquecida de si mesma para só
cuidar dos outros. Incapaz de se alegrar com o mal, cf. 1 Cor
13, 4ss) ou São Joio: "Nla hé maior caridade do que dar a
vida pela pessoa amada" (Jo 15, 13),

5. Nesta brevo mensagem. uma última consideração a


respeito daqueles que exercem nas comunidades eclsslals de
base uma função de animação espiritual.

A hist6rla, breve, mas já bastante rica, das comunidades


ecleslals de base no Brasil como na América Latina parece
mostrar que, sempre sob a responsabilidade pastoral dos legi-
timas pastores (do Blapo na Diocese e dos Presblteros devida-
mente mandados pelo Bispo), numerosos leigos encontram a
possIbilidade de servir à Jgreja mediante aquela animação es-
piritual que garante às mesmas comunidades dinamismo e -efi-
cácia. Em vossas regiões, onde 08 sacerdotes do escassos e
assoberbados multas vezes até o extremo de suas energias,
esta colaboração dos leigos em uma tarefa precisa, eslend-e e
multiplica maravilhosamente a ação do sacerdote.

!: importante a função destes lideres 'de Comunidades Ecle·


Alals de Base, pois deles, em estreita associação com os pas-
tores responsáveis, depende muito a orientação das Comuni-
dades. Por Isso, há exigências a ser sempre observadas. NAo é
supl!rtluo recordar algumas: pela sua relevância, a primeira é
a necessidade Já apontada de os lideres estarem, eles em pri-
meiro lugar, em comunhão com os pastores, se se deseja que
as Comunidades Eclesials de BaBe mantenham-se nesta comu-
nhão. Em segundo lugar, o IIder, ~hamado a orientar a marcha
da comunidade e provavelmente a ajUdar os seus membros à
crescerem na fé, deve ter o sério empenho de formar-se. ele
prImeiro, na fé. Ele nao transmite seu pensamento ou doutrina
sua, mas o que aprende e recebe da Igreja, Dal sua obrigação

-466 -
ÁS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 2"i

de acolhar com diligência da boca da Igreja o que ela lha


quer dizer: a reta Interpretaçlic da Revelação divina na Blblla
e na tradlç40, os melas de salvação, as normas de comporta-
mento moral, a vida de 01açlo e a liturgia, etc.

Acrescentarei qU3 , em todos 09 casos, um IIder de Comu ·


nidades Ecleslais de Base, multo mais do que um mestre, é
uma testemunha: 8 comunidade tem o d ireito de receber dele
o exemplo persuasivo de vida cristã, de fé operosa e Irradiante,
de esperança transcendente, de amor desinteressado, Que ele
seja ademais um homem que crê na oração e que rezal

6 . Na simplicidade e modést ia destas palavras, sei que


vai, brevamente delineado, amados Irmãos, todo um 9ro9 rama.
Conllo-o à vossa reflexlo e, rezando por vós, recomando-o ê:
assistência divina. Não faltem às vossas Comunidades 8 a vós
que as representais, Os dons que o Esplrito concede 'Para B edi-
ficação <:Ia Igreja (cf. 1 Cor 14, 12). Que esta EsprrllO faça
brotar e crescar em vós, como principio vital de vossa autên-
tica ecleslalldade, um grande amor à mesma Igreja, amor filiai
maduro e simples, ao mesmo tempo, terno e resoluto, capaz
de alegria e de sacrlflcio. Sela este amor a InsplraçAo de
vossa vldal

3. Tra~os saUentes
Deste oportuno discurso, procuremos pôr em. relevo os
pontos mais importantes, assim concebidos: eclesialidade. soli-
dariedade, retrato de- um animador de CEB.

Como diz o respectivo nome, as Comunidades EcleslaJs de


Base devem estar intimamente vinculadas à Igreja: Igreja local
ou diocesan a e Igreja Universal. Esta dimensão eclesial é amea-
çada pela Indevida ingerência do partldarfsmo polltlco, o qual
compromete as comunidades, por vezes, em sua própria orlg"o!Ol.
«Um sério e corajoso esforco para manler em loda a sua pureza
a dimensão ec:le,lol deuas comun1dodes é eminenle serviço que .0
presto, d. uma parle, o elo s próprios e, de outro porte, à Igreja :...

- 467-
28 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 251/1980

3.2 . Solldariedad.
As CEB são comunidades de caridade, que se revela em
servl!:,o mútuo dentro da própria comunidade e em assistência
também aos innãos de fora, sobretudo aos mais necessitados.
1:: preciso, porém, que a prática concreta da caridade não seja
comprometida com projetos polltioos. Esse exerclcio do amor
fratemo terã em mira não só defender direitos humanos piso-
teados, mas também e, em primeiro lugar, ajudar os Innãos a
aprofundar a próprJa téj por conseguinte, jâmals poderá esque·
cer a primazia dos valores espirituais sobre os temporais (em-
bora na ordem concreta possam uns e outros destes valores
merecer simultânea atenção) .

3.3 . O """,,o do aniMador de as


Três são as exigências a ser especialmen te observadas por
quem coordena uma CEB.
1) Guarde a comunhão com os Pastores da Igreja e, pOl'
conseguinte, com a propria Igreja. Se o animador não conserva
tal comunhão, nem a respectiva CEB a guardará.
2) Mostre sério empenho em fonnar-se nas verdades
da fé para poder elucidar ou instruir os irmãos; em matéria
de fé, não transmita sua douttina pessoal, mas o que aprende
e recebe da Igreja •
.'
3) «Seja ademais um homem que crê na oração - c
que reza:.. Esta nonna é a chave de ouro que encena "
alocução de S. Santidade. Indica o csegredo~ da atuação ecle-
sial de todo Uder cristão ou, simplesmente. de todo e qualquer
cristão. A oração _ aparentemente inútil - garantirá a efi.
cácla fiel e integra do animador e da respectiva comunidade na
construçAo da Igreja locaI.
A respeito podem-se consultar as seguintes obrns:
MARINS J . E EQUIPE, Comunldad .. ecl"'ats de base: toco de 0'1.""
oeUaçJo • Itberlaçloo. - Coleçlo "Pulorlll 11 Comunidade" - 14. - Ed .
Paulln.s, Slo Paulo 1980.
ID~, MetOdologia omeral1-olo das comunidades Gclella" d. b....
Co[.çlo "Paatoral • Comunidade - 13. - Ed. Paullnas, S80 Paulo 1980.
IDEM, Puebl• • • cOtnunldad" ecle:dals de base, Coleçio "Paliaral
e Comunidade" - 12. - Ed. PiluUn••, 580 Paulo 19aO.

- 468- .
E o nOmero cio BostII?

666
(Apocalipse 13,18)

Em 81"1••• : o paslor Anlbal Pereira Ael, acaba de PlJbllc., um


livro IntllUlado "666. Apocalipse 13: 18", em que defende a ,... segundo.
qu.' • Beata do Apocalipse em Ap 13,1& 4, por seu número, slmbolo do
Papa. Par. provar Isto, o l utor lenta decifrar o número 666, como se
corrCllpond.sse a LATElNOS, AWMYYT, DUX CLERI, V1CARIU9 RUI DEI ...

O"" nenhuma das InlerprelaçOes proposta. por A. p . Rei•• adequada.


Com .1,110; fü .... mister ponder.r que o 8ulor do Apocallps. queria levar
aOI ..us Imediatos leitores (crlallo. da Ali. Menor no 11m do Ik. I parse-
guldol pelo Império) uma mens.gem de reconforto e esperança; lal men-
.agem Implicaria 8 rulna do pelseguldor designado veradamante pelo nú-
maro 666. Por conseguinte, é "acessAria procur.r decifrar o numero em
pauta. partir das clrcun$tlnclaa hlltórlcas de fins do século I: le S. Joio
.. t.Iveu. r.f.rldo a pel.soa ou evanlos poIl.rlor•• a tal 'poca, nlo terl.
lido entendido pelos leus Imedl.tol lellor.. : o A.pocallpse .nllo nada al;na.
flClrla para 811'1. Ora nolHe que o Papado JallWlb poderia tar lido
entendido como o perseguidor fad.do a perecer, visto que o próprio Papa
ou o bispo da Roma era ptlraeguldo com OI crlstloa do século I (08 pri-
meiros Papal foram todos mA"lr.,,).
~ Intarpretaçlo clenllflca m.11 prov6val afirma qua o n9' 666 COfres-
ponda l exp"'laao aSR HAYN. te.., Nero: designa, polt , o Imperador
Nero como r.prtsentanle da todol os pilltl8guldores da 10reJI, qUe por
certo realizam Obra vi, fadada 80 Insucasso (666 é . Imbolo de precari-
edade).

• • •
Comentário: Foi recentemente publicado em São Paulo
um opúsculo do pastor Alúbal Pereira Reis com o titulo 668.
Apocallpse 8: 18'. E<te escrito tem seu aparato de erudição
apto a impressionar o públicoj embora não mereça ser levado
ao plano da exegese cientifica, pois está imbuído de precon-
ceitos e lavrado em linguagem passlona1, será. considerado nas
páginas subseqüentes, em vista das impressões e dúvidas que

I EdiçOaI "Camlnho d. Damasco", 510 Paulo 1980, 35 pp.,


135 x 1nmm.

-469 -
30 «PERGUNTE E RESPONDEREMO& 251/1980

suscita no grande púbUco. Referiremos, pois, o conteúdo do


opúsculo, ao Que se seguirão comentArias a respeito do número
fMl8 de Ap 13, 18.

1• O IIvrelo em foco
Anlbal Pereira Reis tenciona propor a exegese de famosa
passagem do Apocalipse, que assim reza:
"Eis aqui a sabedorlll QUIm Ifyer Inlellgencla. calcule o número ds
f.,a, porque • nO mero de um homem, e esse número li .e'scenlot e
._anla a se's" (Ap 13,1&1.

Nesta passagem, o autor sagrado pratica gematria, ou seja,


a arte de atribuir valor numérico a determinado nome. Tal
procedimento supõe algo de usual entre hebreus, gregos e (em
proporção menor) latinos : as letras do alfabeto tinham valor
numérico, de tal modo Que a soma dos números corresponden-
tes a cada letra de um nome dava o valor numérico de tal
nome. Assim uma palavra podia ser substitulda, num texto, por
seu valor numérico; os Intérpretes, ao lerem tal número, deviam
saber depreender do mesmo o nome assim indicado. Tal empre-
endimento era dificll, pois cada número é passivel de diversas
interpretações, de mais a maIs que nunca se sabe a quantas
letras (ou parcelas quantitativas) corresponde a soma ou o
número con-elativo ao nome Intencionado. Apesar das dificul -
dades de interpretação. a gematria era de uso freqüente na
antiguidade. Entre outros exemplos, pode-se citar o das esca-
vações de Pompei (Nápoles. Itália), onde foi encontrada. gra-
vada em parede, uma declaracão de amor do seguinte teor :
philo hes arithmÕJ phme. amo aquela cujo número é phme
(ph = 500 + m = 40 + e =
5; donde 545).
A gematrla era devida ao desejo de crevelar velcndo:t em
drcunstAnclas especiais_

Ora o autor do Apocalipse, escrevendo a fiéis cristãos da


ÁSia Menor, submetidos a perseguição, tinha em mira dizer-lhes
algo que os reconfortasse aludindo ao Império Romano persegui.
dor; tal alusão. como se compreende, devia ser rev.eladora. e ve·
lD.da. 80 mesmo tempo.
SObre o significado do numero da Fera do ApocaJipse têm
sido escrito os mais diversos comentários, como se depreen·
- 470-
· o NóMERb DÁ. BÉSÍ'"Á 31

derã mais adiante. Anfbal Pereira Reis tenta, plr SUB. vez, uma
Interpretação. Procedendo de maneira sutil, este autor lembra
que, segUndo S. lreneu (t cerca de 2(2), o ntímero ·666 era"
decifrado no sécu10 n como sendo equivalente ao vocA.bulo
grego L&tOin.. (= Latino):

L (lambda) = 30
A :(alfa) _ 1
T (Iau) = 300
E . (épsllon) 5
I . (lola) = 10
N (nu) = 50
O ;(6mlkron) = 70
S (slg",a) =200
666

Desta contagem deduz A. Reis (em salto brusco) que tal


número designa o Sumo Pontlfice ou o Papa; e, paro ccorro-
boran esta conclusão, diz que o Papa passa PDI1' cVlgário de
Fllho de Deus:.: VicarillS FUil Del. expressão cujo valor n.umé-
rJco é 666:

VIC ARIUS FIL 11 D EI


51100 15 15011 500 1
Em latim, as letras A, It, S, E e F carecem de valor nu·
mérico; por isto não são computadas. Além do quê, a grafia do
do U era. igual à do V. J'a2áo pela qual se apresenta com o
valor lS.
Aníbal Reis recorre outrossim 9. expressão ~ Clert. que
ele atribui 80 Papa e que também tem o valor numérico 66&.
Apela outrossim, para os vocábulos caldaicos SATURo e TErrAN,
ao quais Anlbal R-eis atribui Igualmente o va10r 666.

Como se vê, o autor do opúsculo tenta todos os recursos e


artlflclos conceblvels para cdemonstran ao leitor que a Fera
do Apocalipse simboliza o Papa, qua1quer que seja o nome da
respectiva pessoa. De principio a fim. usa linguagem passional
e agressiva. que destoa das normas da caridade (aga.pe) cristã,
que S. Pau10 descreve e elogia em leor 13: cA caridade é pac1-
ente, benigna, .,. não é Inconveniente, ... não se irrita, n~o
suspeita mal •.
- 471-
32 cPEROUNTE E RESPONDEREMOS» 251/1980

Além disto, é de notar que Anlbal Reis, procurando na


Sibila do Antigo Testamento B ocorrência do nÚJl'lero 666, chega
a cltar wn texto no qual tal número não aparece. Assim à p. 14:
1Cr 9. 13: " .,. Tinham Irmlos. cheia. da, suas casas patriarcal.;
num tolll de mil setecentos e sessenta' homens valiosos, ocupados no
.. Mço da cua da Deus",

Além do conteúdo do livro _ Insustentável aos olhos da


exegese clentifica, como se verá abaixo - é de lamentar o es·
tUo do autor, violento e injusto, ou seja, pouco condizente com
a maneira de apresentar um. trabalho de valor científico e Obje-
tivo.

Examinemos, pois, de mais perto a tese de Aníbal Reis e


o significado do número da Fera do ApocaUpse, levando em
conta as nOnnas da ciência exegéUca destitulda de preconcei.
tos.
2. Comentando o livro., ,
1 . O Apoea.lipse de S. João foi escrito por volta do ano
de 96, quando o Apóstolo se achava deportado na ilha de Pat-
mos sob a perseguição do Imperador Domiciano (81·96) . O
objetivo do Apóstolo. ao escrever tal livro, era o de levar aos
seus imediatos leitores uma palavra de consolação e de espe·
rança, pois estavam deprimidos pela inclemência da situação
em que viviam: o Império Romano pagão os boicotava, os jUdeus
não os aceitavam e o Senhor Jesus não voltava para julgar os
homens e implantar definitivamente a justiça sobre a terra. O
Apocalipse, portanto, tem em vista destinatários imediatos bem
caracterizados; tenciona falar a tais leitores necessitados de
apolo e estimulo. Embora o Apocalipse e. em geral, os livros bí.
bllcos tenham. slgniflcado e valor perenes (pois são a Palavra
de Deus feIta palavra do homem para a salvacãQ de todos os
homens), os livros sagrados se dirigem sempre 8 leltores ime·
diatos inseridos em circunstâncias geográficas, históricas e cro-
nolOglcas bem definidas; é somente através de tais circunstân-
cias e tais leitores que eles falam aos leitores de épocas poste-
riores. Desta observação se segue que, para entender o signlfi.
cad.o de alguma passagem bíblica, é necessário reconstituir o
ambiente geográfico e histórico dentro do qual e em vista do

I.
(lual ela foi escrita. Não se pode nem deve jamais supor que
n10 r.aJaC81Moa e ",unia e ..lI, como çlla An!bal ReIs.

- 472-
o NOMERO DA BESTA
a Palavra de Deus caia do céu diretamente para nós, situados
no séculG XX, a fim de atender a questões que nós hoje levan~
tamos, mas que não ~ram problemas para os Imediatos destina.
tárlos do livro sagrado (no caso, .. . do Apocalipse).

Até mesmo as profecias biblicas mais genuinas fazem aluo


sões Q acontecimentos da época do profeta e se desenvolvem a
partir de tais eventos ; tenham-se em vista, por enmplo, Is 7,14;
Mq 5.1.3; Is 52. 13·53. 12 ...
Posto este principio, verifica-~ que, por conseguinte, é fal.
50 procurar em vocábulos da linguagem latina a decifracão do
número 666 do Apocalipse. Em outros tennos; não se pode dIzer
que 666 equivalha a VlOARIUS FILII DEI, ou a DUX OLEJU,
pois jamais os leitores lmedJatos do Apocalipse, residentes na
Asla Menor, teriam entendido tal insinuação. :e certo que não
falavam latim nem conlreciam tal Idioma, que na época ainda
era um dialeto falado somente no LAdo ou no centro da penín-
sula itAllca. Se S. Joio tivesse tJdo em rnlra o Papa insinuad)
por tal número, não teria levado mensagem alguma 80S se.us
leitores imediatos.

Anlbal Reis, porém, além de Interpretar o número 666 a


partir de vocábulos latinos. tenta declfrá·lo também a partir dos
tennos LA.'I'ElNOS (em earacteres gregOS) e RWMYYT (em
hebraico). Assim procedendo, o autor já nio peca contra a
regra exegética enunciada, mas não chega à conclusão que de·
seja; com efeito, LATElNOS e RWMYYT, podlam designar o
Império Romano ou Latino como os destinatários do livro ~
conheciam, com os seus Irrtperadores Caligu1a, Nero, Domi-
clano .. . : jamais tais vocábulos significariam o Papa para os
leitores Imediatos do livro.
Ainda menos propósito tem a procura de interpretação para
666 a part1r dos vocábulos ca1daicos SATUR e TEITAN. O
autor se perde em sutUezas descabidas e artificiais quando quer
associar tais palavras ao Papado. Jamais os leitores im.ed1atos
conceberiam ou entenderiam tais malabarismos. O próprio leitor
moderno não pode deixar de reconhecer qUe A. Reis faz autên.
tJoos jogos de trapé:z.io ao desenvolver a sua explanação. Gasta
erucUção que pode ofuscar o leitor Incauto, mas nada significa
aos olhos de Quem estudou o assunto.
Vê-se, pois, que a exegese apresentada por Anibal Reis se
inspira em preconceito. pois «a ferro e fogo~ quer identificar o
- 473-
34 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 251/1980

Papa com a Fera do Apocalipse. O livro do A. Reis pode imo
pressionar o público pelo aparato de alusões e cItações que
traz; parece fruto de grande cultura, Na verdade, porém, corno
jã foi dito, não pocle ser tido como livro de ciência, pois esta
Imbuldo de teses preconcebidas e passlonalmente sustentadas.
2 . Se alguém abstrai do contexto histórico e da mentali ..
dade do autor e dos primeh'Os leitores do Apocalipse, chega,
como Arúbal R~is. às mais cstranhas conclusÕés. Eis alguns
espécimens de tais absurdos cexegéticos., Que por vezes podem
ter o sabor de .. br~adelra$:
1) O próprio Jesus poderia ser considerado a Besta do
Apocalipse, como já. lembrou certo rabino. Com efeito, as letras
hebraicas do nome «Jesus de Nazaré~ perfazem o total 666:
Y R S N v S Y
10 200 90 50 6 300 10 = 666 1

Doutro Jado, o nome de Jesus escrito em caracteres gregos


perfaz o total 888. que seria simbolo de toda a perfeição e
santidade:
I H S O Y S
10 8 200 70 400 200 = 888
A identificação entre Jesus e 888 é feita pelo apócrito
cristão cDraculos Sibilinos» 1 326·330.
2) A fundadora do Adventlsmo (denominação protes-
tante). que viveu no século passado, também poderia ser con-
siderada a Besta do Apocalipse:
HELLEN GOVL D W H I T E
50 50 5 50 500 5+5 1 666
3) O herói da libertação irlandesa, Parnell, pode também
ser Identificado com a Besta do Apocalipse, desde que se es-
creva o seu nome em grego, dobrando o ro (r):
PAR R N E L L O S
80 1 100 100 50 5 30 30 70 200 = 666
I O primeiro B cormpol'lde à lelra Saq = 90, ao p.no que o se-
gundo A letra SchIn = 300.
- 474-
o NúMERO DA BESTA 35

4) A própria Besta (tborioD. em grego) pode ser desig-


nada pelo número 666. caso se utUlzem caracteres hebraicos.:
T R Y V N
400 200 10 6 50=666
Poder-se·lam multiplicar os exemplos deste tipo de inter-
pretação abusiva, pois a gematria se presta a isto. Taia ponde ..
rações evidenciam. que, se alguém deseja aproxImar.se do au..
têntlco sentido do número 666 em Ap 13, 18. evitando deva..
nelos fanta5lstas ou preconceituosos, deve procurar reconstruir
exatamente a intenção do autor sagrado ao redigir tal ver~
siculo. Ora inegavelmente tal Intenção era a de transmitir aos
seus imediatos leitores wna significativa mensagem de conso·
lação, reeolÚorto e esperança. Se o númtro não pudesse ser
decilrado peJos cristãos da ÁSia menor do século I, mas supu·
sesse drcurltâncias históricas posteriores ao século I, S. João
não atingida o seu objetivo. Ê preciso frisar que o Apocalipse
loi concebido, antes do mais, como mensagem para os cristãos
residentes na ÁSia Menor no último decênio do século I. A
alusão a sltuaeões da Igreja posteriores 80 século I tornaria o
número indecifrável aos leitores imediatos.
Mais ainda: é de notar que tais leitores estavam acabru·
nhados por eleito da perseguição dos Imperadores Romanos.
Por conseguinte, se S. João os queria reconfortar indicando ISo
queda ou a ndna do perseguidor, devia mencionar algum Im~
perador Romano como perseguidor (Anticristo) fadado a pe-
recer. Não vem ao caso o Papado ou algum Papa, poIs o Papa
não perseguia os cristãos da ÁSIa menor, mas era ele mesmo
perseguido pelos Imperadores Romanos (tenhamos em vista o
fato de que os primeiros Papas foram mártIres da fé: Pedro.
Uno, eleto, Clemente .. . ).
Após tais ponderações, procuremos objetivamente o slgnl-
Clcado do número em loco.

3. Que diz a exegese científica?


Quem examina a. literatura cristã antJga, concebe a imo
pressâo de que muito cedo se extinguiu entre os cristãos a
consciência do significado de Ap 13,18.
Com efeito. Já. S. Ireneu (f cerca de 202) notava que
seria mais recomendável nem procurar decifrar o número 666,
-475 -
36 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 251/1980
• pois que muitos nomes se podiam propor como correspondenM
a tal número. Cf. Adv. Baer. V 30,2.
Mais ainda: como observava o próprio S. Ireneu, jã no
séc. 11 os manuscritos blblicos oscilavam, pois alguns apresen.
tavam o número 616 em lugar de 666, o que bem mostJra que
os cristãos jâ nio possulam com clareza a chave de interpre-
tação do famoso número. Verdade é que, segundo o próprio
s. lreneu e os melhores códices da tradição manuscrita, a versão
pref'erivel é 666.
Abstraindo de h.lpOteses inverossimels, apresentamos duas
tentativas de interpretação que merecem a atenção dos bons
exegetas:
1) O número 666 corresponde às letras da expressão
César Nero escrita em caracteres hebraicos:
N V R N R S Q
50 6 200 50 200 00 100 = 100'
caso se omita o nun (N) final de Nero(n). dando-se I:l.
fonna latina Nero ao nome, tem·S4! o total: 666 - 50 = 616.
Isto explicaria e. oscUação dos códices entre 666 e 616 .
. Tal interpretação, que vê na Besta do Apocalipse o Impe·
rador Nero (tipo do poder político perseguidor dos cristãos) , é
bem fundamentada, pois Nero fei o primeiro Imperador Ro.
~ano a decretar persegu1cão aos cristãos; por sua crueldade
tornou-se realmente o protótipo dos adversários da Igreja.
Há quem objete que a palavra q s r deveria trazer um y
(iod) entre o q e 4) s. Todavia pode·se responder que a grafia
com y ou a grafia plena. cedia por vezes à grafia deficiente,
sem iod; não era, POis. insólita, como testemunham Büxtorf,
Renan, AlIo ... e outros autores (cf. a bibliografia deste ar-
tigo).
Também há quem observe que o autor do Apocalipse se
teria referido a uma expressão grega (Kaisar Nerón) .utillzando
caracteres não gregos, mas hebraicos (QSR NRUN) - o que
parece artificial. - Tal objeção se desfa:z desde que se tenha
em vista que na ÁSia Menor muitos cristãos eram de origem
judaica e, por isto, conheciam tanto a lingua hebraica como a
grega. Além do Quê, se observa que a intenção de crevf"la:r
velando» pocUa levar o autor do Apocalipse a procurar dessa
maneira dificultar aos estranhos Q decifra~ão do número 666.
1 lela-sa da dIreIta para a fl squerda.

- 476-
o NOMERO DA BESTA 3'!

A lnternretaçAo de 666 que visa a Cesar Nero, é de todas


a maJs provável. São João em Ap 13.18 teria denunciado o Im.
perador Romano fadado a perder o seu poder. visto que 666 é
número de imperfeição (6 é 7.1, é a perfeição truncada, cor.
tada, deficiente). Esse Imperador Identificado com a primeira
Besta em Ap 13, 1.10, seria mais explicitamente apontado em
Ap UI,18. Quanto à segunda Besta, descrita em ·Ap 13, 11.17,
designa a falsa religião do Império Romano, que servia ao
culto do Imperador e, desta fonna. contribuia para causar
maI~tar aos CJistãos.

2) Quem prefere (menos abalizadamente) ler 616, em


vez de 666, interpreta o niunero como equivalente ao nome do
Imperador Galo 06sa;r, escrito em caracteres gregos:
G A lOS K A I S A R
311070 ao<> 20 1 10 200 1 100 = 616
Ora Caligula reinou de 37 a 41 a. C. e foi também cruel;
declarou ser ele mesmo deus e combateu o monoteismo àt;:
Israel. Todavia esta interpretação, além de se- basear na vemo
616, menos segura, preconiza a alusão a um Imperador lA. dis-
tante, no tempo, dos imediatos leitores do Apocallpse, que vi·
viam no fim do século L O Imperador Nero, que primeiro .
decretou a perseguição e rein()u de 54 a 68, estava muito vivo
na recordação dos primeiros destinatários do livro do Apoca-
lipse.
Em conclusão, é de todo preferivel a inlerpretacão: 666 =
César Nero. O texto de Ap 13,18 ficará sempre mislelÍoso para
os leitores do séc:u1o XX, visto que o era para os do século lI.
Importa. porém. que, apesar da obscuridade, os leitores não
percam as pistas da interpretacão clentlfica do texto e não se
deixem levar por devaneios ou especulações fanteslstas, artifi·
ciosas e preconcebidas.

4. A interpreta São triangular


Chama-se «número triangular~ aquele que resulta da sonw
dos números que vão da unidade até o tenno fixado. Assim 10
é o mimero triangular de 4, pois a soma de 1, 2. 3, 4 é 10; 21 é
o número triangular de 6"" pois I, 2, 3, 4, 5, 6 dão o total
21 ' " , O recurso aos números triangulares era usual entre os
antJgos.

- 477-
38 cPERGUNTE E RESP,ONDEREMOS, 251/1980

Na base desta observação. a.lguns nurores tencionam deci.


'rrar o número 666 como se fosse número triangular. Propõem,
pois, o seguinte raclocinio:
666 e o nUmero triangular de 36, pois 1 + 2 + 3 + 4 +
... 36 = 666;
36, por sua vez. é o número triangular de 8. pois 1 + 2 +
3 + 4 .... + 8 = 36.
Ora, contonne as regras de linguagem antiga, o slgnifi.
cado do número triangular vem a ser o do último nÍlJD!l'O ao
qual ele é redutlvel. Por conseguinte, 666 = 36 = 8.
Qual seria, portanto. o significado de 8 no Apocalipse?
Os autores lembram Ap 17,11, onde se diz que 8 é o nú.
mero da Besta que sobe do abismo. Tal Besta é, segundo o
contexto, o Imperador Romano, ou ainda o Imperador Nero,
que, segundo a lenda do «Nero redlvlvus», devia voltar ê. vida,
depois de morto, para reInar.
Tal interpretação é menos abalizada e pouco aceita entre
os exegetas, pois parece mais subjetiva e arbitrária.

Blbllogral1.:
ALLO, E. e" Apocalipse. Paris 1933.
OATTLER, F , R., O Imo d. AenlaçAo. ComentAdo do Apoc.lJpM. 510
Paulo 1971.
EUl.JL, J., Apoc.IlpN. Arqull.lura em movimento. Saio Paulo 1980.
GORGULHO, G. e ANOERSON, A. F., Mio tenham medo. ApoallpM.
Slo Paulo 1977.
ROHLE. O., Artlhmóa, em : Gr1Inde LeMIcó dei Nuovo T..t.menlo, FOI\-
dato d. Oerh.rd KltlItl • conllnu.to d • .aerbud F,led,lch. '101, I B/II~sç[.
1965, pp. 1229-1238.

• • •
A VISO
QUEIRAM 08 NOSSOS ASSINANTES AGUARDAR pARA. FAZER O
PAGAM!NTO OE 1181.
A Admlnlslraç:lo.

-478 -
Uma peça famosa:

"a loja do ourives"

Em .In.... : A poça ",., Loja do Ourlvas" do jovem Karol Woltyt..


hoJa Papt Joio Paulo li, varsa aobrs o amor conJugaI. Apresentando ttts
cas.ls, dOa Qu.'s um , bem eslrulurado, o aegundo SI vi fr.c .... do e o
lercelro conala do filho do primeiro conClblo 8 c!e uma filha do aegundo
enlace manclon.dol. ,.,Irav" de"e. Irt. tipo. de casal, o autor tenclOrdl
propor ao p(Jbllco uma rellmo .obre o matrlmOnlo:
- o amor nlo , volupl. apena., ma. é doaçlo mülua generou: t
aliança do. cora9Oe., 18m a qual as alianças da ouro nada velam. SI
multoa casala fracanam, 1910 18 d..... ao daspr.paro doi nolvot, qUI nlo
chagam a concebs! a autêntica noçAo de amor: o Esposo por excelêncl.
, o Crlslo Jesus, mencionado Indiretamente na paribola das dez vlrgena
em 25,1-13;
- la. pa's toca mlnlo de anorma r.aponsabllldade junto aos filhoti
por seu modelo da vida, formam ou deformam profundamenta as persona·
IIdades I o futuro da nova gereçlo.. Principalmente nos cuos da disso-
luçlo de um casa' as princIpaIs vitimas v6m e aer os filhos.
A plça 11m, POli, conltOdo rico e Interesslnte; o seu eslllo Ilmbollsta
exIge rsllado por pIIrtll do lallor, qua daverá procurar compreendar ai
Inslnuaçoas do .ulor.
• • •
Coment6:rio : Saiu em tradução bras.ileira a peta de teatro
concebida por Karol WojtyJa em juventude com o titulo cA
Loja do o.u;ves 1:.. Trata do matrimõnio, sugerindo ao pübliCO
profundas reflexOes sobre o mesmo, em parte explicitamente
fonnuladas, em parte insinuadas por imagens. Aba1xo repro-
duzlremos o conteúdo da peça, ao qual acrescentaremos alguns
poucos comentários.

1. O enredo
A peça desenrola-se em ~ atos: 1) Os avisos; 2) O es.
poso; 3) Os flIhos (Mônica, Cristóvão).
I Titulo do orIginai polonta: "przed Skeplem Jubllera" da aulorla de
Karol WoJty1. com o paaudOnlmo de AndtuJ Juwlen. Traduçlo de Leopoldo
5chemar com a. colaboraçlo da lula Artlgu Mayayo. - Ed. layoJ_, 510
Paulo 137 x 208 mtn, 71 pp.

- 479_
40 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 25111980

1• 1 . Os AvlMlJ
No primeiro ato, é apresentado o casal Teresa e André
que, depois de firmar o seu noivado, vai procurar uma lOja de
ourives, ao qual encomendam as respectivas alianças. O ourives
(que- 'Ioltará até o flm. do t>nredo da ~) desempenha yapel
profético. pois lembra 80S joveM que as aliancas são mais do
que peças de metal; o seu peso nã() é o do OUl'O, mas o do ser
humano, . .. o de cada um dos nubentes e o dos dois nubentes
jWltos (p. 20). Teresa e André preparam-se para o casamento,
tomando consclência de que o amor é capaz de vencer as perpfe-
xidades e determinar o futuro dos consortes; tal amor não ~
somente satisfação carnal, mas passa pelos corpos como
por um caminho em demanda de algo maior (p. 24).

1. 2. O Etposo
No segundo ato aparece outro casal, Ana c Estêvão, jâ
unidos em matrimônio e responsáveis por três filhos: Marcos,
MOnica e João. Os dois cônjugues não se entendem entre si, s
ponto de romper a convivência e separar·sei o amor fracassou.
Ana procura então a loja do ourives, pois quer vender 8
aliança de oW'O. Diz·lhe entao o arUfice:
c Esta alianca nSa tem peso,
o fiel da balonca pára s.empre em zero,
e não pono IlrClr dela nem mesmo um miligrama de ouro.
$eu marido deve estor vivo - neste caso
nenhuma dai duas oIJoncas tem peso lozinha
- tim pes!;) somente CIS duo. juntas,
A minha balClnça d~ ourives
Ponul esta porticulonidad~ :
Nao pesa o metal em si;
ela peso todo a ser humano e o seu destinai. Ip. 3"' .

Ana verifica que o amor não é apenns questão de senti.


mentos, mas é a sintese de duas exlstênclas que convergem
num só ponto. cE as duas existências resultam numa só» (p.38).
O amor, portanto, «não é uma aventura. .. Não pode durar
um momento 56. A eternidade do homem passa pelo amor::.
(p. (1).
Entra em ~na um personagem chamado AdA.o, que se põe
a dialogar com Ana. Detém-na no momento preciso em que la
entregar-se a um aventw-elro Que a convidava para entrar no
seu carro ... Adão mostra então a Ana 8$ cinco virgens sábw
- 480-
cA LOJA DO OURIVES,

e as cinco vIrgens levianas da parábola de Mt 25, 1-13; Ana


assemelha-se a estas últimasj por Isto Adão 6 desperta da sua
leviandade para que reconheça o Esposo que em breve passará
por e1a. Ora o Esposo aparece realmente, mas Ana, 80 vê--lo,
verifica que tem o rosto de Estêvão e foge. .. O Cristo, que ela
quer amar, faz questão de ir ao seu encontro através de Es.
têvio e Isto a deixa perplexa ou mesmo sem coragem . . .

1 .3 . Os filhos CM6nfeo, cn..4.v6o)


,
O casal Teresa e André teve um filho chamado Cristóvão.
Este, aos dois anos de idade, perdeu o pai, tombado em campo
de batalha. Feito rapaz, encontra-se com Mônica, tllha do
casal separado Ana e Estêvão.
Cristóvão tornou-se o digno herdeiro das virtudes de seu
pai André e tenciona amar MOnica com amor nobre e perene.
Eis, pOrém, que Mônica se ressente da instabilidade da união
de seus genltores, e hesita:
c.Tenllo modo de mim mesma e lenho também medo por voei •••
O pai de vacê fol · .e e mbora e morreu, m(u a união sobreviveu,
voe& foi o .eu porla-vo:l, a amar Iranderiu-s. pora voeI.
Meu. pai. vivem como duas peuoas estranhas . ' .
Nõo .erá um erro, me u amor? N80 acabaremos depre ..a?
Você não me a.bondonar6 um belo dia, como fez. meu pc:I i, um
e.tranho em noua ca.o?

Ou não abandonarei voei talvez eU1 como feI. noSlO mãe, to,·
nando-se também ela um.o estranha?
Pode o omor humano durar quanlo dura a vida de um homem?»
10 .571
Ao quê CrlstóvAo n!Sj>Oncle:
c.E pred.o sepultor ai lembral'l(as e CO" slrui, o nosso pr6pno
dedlno •.•
O amor' um de. afio contInuo. O pr6prio Oeu. 1.0 Ivu no. desa-
fi .., para que n6. me.mo. de.afiemol o de.ttno» Ip. 59) .
Finalmente MÔnica e Cristóvão resolvem casar·se.
A cerim6JÚa do enlace compareceram os pais de Mônica
assim como Teresa, a máe de Cristóvão i Adão também se fez

- 481-
(2 c-PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 251/1980

presente, como Que assumindo o lugar de André, que morrera


ao seu lado no campo de batalha.
Após o casamento dos jovens, Adão reflete sobre o fra-
casso da união de Estêvão nos seguintes termOS:
cA CQusa de ludo islo •• 16 no pOIlCldo. Ali é que esteve o
erro ..• Quero dizer que a ~ente se deixa levar pelo amor como
se fosse 01. o absoluto, mesmo faltando os dimensi5es do obsolulo.
A ~enl. ,,,,Que o próprio ilusõo. ~m procurar inserir o amor fiO Amor,
que tem elSO dimensõo de Absolutop (p. 691 .

Por conseguinte, Mônica e Cristóvão deverão procurar, em


sua UJÚão matrimonial, «renetir o Ser e o Amor Absoluto»
(p. 70) .
A peça encerra·se com a cena em que Estêvão se volta
para Ana, a esposa de quem se separara; põe.lhe a mão
no brato (o que, havia muito tempo, eJ.e não não fazia) e
observa:
"Que peno. que pena que há lontos OflOS nao nos tenhamos
mais sentido como doi. jovens I
Ano, Ano. quanta coho nós perdemos por islol. Ip. 72).
O enredo da peça, cheio de insinuações, suscita algumas

2. Reflexõe.
Parecem ser dois os principais títulos de ponderações suge-
ridas por cA Loja do Ourives:»:
2 . 1 • Amor: qu. é?
Não há. dúvida, uma das grandes Intenções do autor da
peça é a de propolr a autêntica no~o de amor conjugal. Este
nâo é apenas volúpia e prll2er 5'eJ1SÍvel, mas vem a ser, antes
do mais, para o cristão, inserção no Amor absoluto. .. Amor
que tem seu protótipo no eornpo~nto do Cristo, fiel à Es·
posa-Igreja até a morte; Eie é o Esposo, que toda nubente se
deve acostwnar a descobrir através dos traços humanos do
seu consorte; paralelamente toda esposa representa a Igreja,
que o marido· deve saber amar, através das características da
mulher.
O fracasso · de numerosas uniões conjugais tem sua cauu
na superficialidade dos afetos com que os nubentes julgam

-482 -
amar·se mutuamente. O autêntico amOr suscita não somente
aleg'ria, mas também uma santa reverência ou um certo temor,
que é prec1sarnente a antitese de leviandade e temeridade ima·
turas. O amor, porém, náo se deixa intimidarj ele tem a co-
ragem de conceber nobres e grandes Ideais, em vista dos quais
assume as suas responsabilidades.
N a peça, duas figuras lembram enfaticamente as facew
do verdadeiro amor: o ourives e Adão.
o ourives vê comparecer à sua vitrina OS tres casais da
peca ... 1: ele quem fornece as respectlvas alianças, que valem
não pelo ouro que as constitui, mas peJa doação mútua das duas
pessoas que se dispõem a tr82ê-las. Uma aliança de ouro
que não corresponda a wn coração genef'oSo, tem peso zero ou
nada vale. O ourives assim tenta mostrar o que deva ser o enla-
ce conjugal.

Quanto a Adão. o nome recorda o prlmeiro esposo e pai


mencionado em Gn 1-3: .é uma espécie dI! denominador comum
de todos nós, ao mesmo tempo que porta-voz e juiz», diz Te·
resa (p. 71) . li: Adão quem indica a Ana o Esposo Cristo;
ele se consuma ou re6liza no Cristo Jesus, o segundo Adão. ~
bem posslvel que, jogando com tais personagens, o autor da
peça tenha intencionado aludir ao binOmlo paullno do prJ.nreiro
e do segundo Adão.

2 •2 • A missão cios pai.


o terceiro casal, Mônica e CristóvAo, representa precisa.
mente o truto de duas uniões conjugais; das quais a prim~1ra
(a de Ana e Estêvão) fracassa e se dilui, enquanto a outra (a
de Teresa. e André) perdura mesmo na ausência forçada do
c6njuge que morre na guerra.

Os :t1lhos tIra:zern a marca do amor ou do desamor dos


respectivos pais. Observa Ana, a Infeliz esposa de Estêvão:
«Vivemos um para o outra? Não aer.dito • .. Dos mevl filho.,
M6nica 6 a moi. diffdl. foi em M6nlc:a que mal, coisas destrvlmon
I • . 681.
Mônica tlntetlza muito bem a intluêncla que o modelo d~
pais exerce sobre os fllhos, quando diz a Cristóvão:

-483-
44 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 251/1980

"Você disse que seu poi foi embora para nunro mois voltar:
mas ele permanece\,l com voc:~s. Com meu pai tudo é "diferente,
assim como com minha mau Ip. 58).
Na verdade. quando um casal se dissolve, a principal vitimu
são geralmente os filhos. A Importância dos paIS na formacAo
dos filhos é talvez muito mais vultosa e significativa do que os
próprios genltores possam imaginar!. ..
Todavla o autor náo deixa de enfatizar por duas vezes que
aos filhos compete perdoar aos pais; na verdade ninguém pode
sondar os coracÕeS- Assim fala Cristóvão:
cOs homens não sao somen'. carOl, mOI eles fim qualquer
coisa de moi. profundo.

Mônico, que' que voei lobe do ln'imo de suo mõe e de '.\1


poi Es'êvõo? (p. 641-

~ Ana quem observa:

"M6nica levará conlloo a convlccõo do culpo do. pais, mas


aqui, talvez:, esteja errada» p. 681.

São estas - cremos - as principais linhas da mensagem


que Karol Wojtyla, ainda no inicio da sua vida cultural, quis
transmitir ao público através da peça cA Loja do Ourives •. Co-
mo se vê, esta vem a ser o eco fiel da concepção cristã do amor
e do casamento. A linguagem simbolista do autor Contribui paro:.
incutir suavemente tal mensagem. Todavia deve-se reconhecer
que certos trechos dos discursos da peca poderiam ser mais
claros e compreensIvels, ao menos na traducão brasileira de
que dispomos.
Congratulamo-nos com a Editora I..oy<Ila pela publicação
deiSe valioso monumento literário e sugerimos que, na próxima
edição, acrescente ao texto .urna breve Apregentação que in-
fome o público a respeito da data e das circunstâncIas de
origem da peça; se possivel, diga aos leitores qual a aceitacão
Que a mesmo encontrou ou estA encontrando no arn~Jlente do
teatro internacional. Seriam para desejar outrossim uma pã-
gina de sumftrio do livro, assim como uma nota em ,rodapé da
p, 43 (quadro VI do 20 ato) para lembrar aos leitores que a
referência às dez virgens, às lampadas e ao Esposo se deve
à parâbola de Mt 25,1.13.
Estêvão Beltenooart 0, S. 11.
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livros em esta nte
Tlologla plt. o eri.llo d. hoJ., Vel. 11: Saht.~ • Rtd.~, pelo
Imllluto DIocesano de EnsIno Superior de Wuerzburg. Traduçao a cergo
dOI professores do Col6$110 M. Cristo Rei, de Slo Leopoldo (RS). - Ed.
Loyola, 510 Paulo 1980. 160 x 230 mm, 268 pp.

A. obra em foco. de granda envargadura nlo sO quanlllallva, ml.


também qualltatlVl. Embora suponha n/vel CUIlUUJI europeu e duenvolva o.
seus Iam • • com freqüenll recurso li lIlolona moderna, merece conslderaçlo
da parte dos .sludlosol brasileIros. de mar, a mais que os Iradutore., lob
• COOldenaçlo do Pe. SllvIno ArntlOld S. J., procuraram adaptar o conteúdo
8 a bibliografia de cada 'Iotum. lO ambiente e aos tnleresses do leitor
brasilerro.
o presente volum, Itala do mar , do peeado no mundo ('9 tema):
aborda as esperanças de aalvaçlo , • perda de lanlldo rlI: .ocl.dade
hodleme (29 temi) , a m.n.aoem erlslll da sall/açao (39. tema), o enOnelo
paullno da "'l/açAo (49 tema) e a esperança cristA do futuro (5'1 tema) ,
No decorrer do livro encontram-se balas p4glnas. Chama-nos a al,nçlo
especialmente o que OI lutore. apresentam 8 respeito do mal no mundo:
expOem a origem e a história da novlo de S.II, o Advers6rlo ou Tentador,
na Sibila e concluem que .e pode "admitir qUI a Idéia de um poder do
mal trlnacenden!e .0 homem, 8 vencido por Jesus, perlence ao conteúdo
das aUrmaçOel do NT" (p. 3B) . Como se vê, os lulores acellam a
existência do dem6nlo, com a Tradlçlo cllstA & o maglstéllo da rgteJa;
todavia lecomendam lobrledlde na manalr. de concebe, e açlo nalalla do
damllnlo neste mundo ; pense o homem. anles do mais, na responsabIlidade
que tOCI a ell, homem, diante da. altuaç6es de pecado nl hlstó,111 - No
toclnte lO pecado, os autole. oferecem Interessantes e sAbia ponderaçaes!
acenem a dlsllnçAo enlra pecado venial e pecado mortal, embora mostrem
• dificuldade da I. distinguir concrelamente uma e outra lo"",,, de pecldo;
d isto resuna qua nlo l a pode o crlsllo tlanqOiUzar peto fato de .60
"descobllr" pecadO$ venlala em sua vida; tais pecados, que lhe pal.cem
lev8s, podem ser a expresslo da um estado da tibieza ou covardia elpl-
rllual qua o deve Inqulelar e Incitar a pór mlos ê obra na demanda da
peri,lçlo crisl. (cl. pp. <45-551 .

Em slntese, o livro " bem construido fi rico de conteOdo. loUvamOl


os tradutores pelo sou eslorço de .publlclI a obra am condlçOn acesslvall
e protlcuas ao p~bl1co blasilelro.
O Concilio. Medemn, Puabla e • Educaçio, por Pe. R.. Palva. - Ed.
Loyola, 510 Paulo 1970, 1.0 x 210 mm, 79 PP.
o Pa. Raul Palvl 5 . J . trabatha em Educaçlo h.6 vAllos anos. "Tendo
lido ocaallo da Ollantar reclctagana de outros educadores, varlllcou qua
Instltulçoas, h'
mHmo enlra 08 prollsslonals católicos da Educaçlllo. Inclusiva Diretores de
um amplO selOf que nAo leu os documentos balcol da
Igraja Unlverul 8 LaUno-tA.merlcana. Fora deste circulo. e sltuaçlo se
agrava. t comum enconlrar at!! 1I1I",lIa condenaçlo da Escola Católica em
noma do Concilio ou de Medellln. Mais dificilmente da Puebla" (p. 31.

Em conseqüência, o autor oferece ao p~bllco '8xlos selelos do Con-


cilio do Vaticano 11 (1962-1955 ' , das I"IsIembléle8 do CELAM raatl:tadu em
Medemn (1968) • Puetlla (1979) • "apaUo de aducaçlo. Estas textol,
acompanhedos de questlon611OS para rallexlo, bem mostram qUlh'lto a
Igrojl esllml I Escola CalOllca em todo.. os seul nlvels e se empenha por
quo ela $ubslsta hoje em dia , apesar das cllllculd.ades que enfrente, e do
ceticIsmo que se apoderou de educldor.s eal6Ucos. Em dois Anexol, o
Pe. Palva ainda alude la [}()cumenlo ela S. Congregaçlo para a Educaçlo
C.I~JlC. do HII03 f n e 80 da CN BB do 26/06 / 74 , Clue reefllmam o aproço
da Igreja pelos educand8rlos católicos. A CNBB chega a considera r
"conrdla, InUdelldade o InJusllça" a renúncia. Escola Cltóllcl (P. 19l.
O livro é de grande ah.lalldade. Seria paTa desejar que todos os
educadorea católicos o conheceuom e medllassorn sobre " labias ponde-
,aç6., em prol do es torço ed ucacional crlsUlo. Sab~$O quo é na escola
que .. formam os cldadlos de amanhl e se anuncia o Evang81ho que
multu fem lUas já tllo transmitem 80S fil hos.
E.e .

A FAMíLIA. ESCOLA DE Ft
"ANTES DE MAIS NADA : A CATEQUESE NA FAMILlA,
NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA DA CRIANÇA, LANÇAM·SE
A BASE E ' O FUNDAMENTO DO SEU FUTURO, POR ISTO
MESMO, DEVEM OS PAIS COMPREENDER A IMPORTANCIA
DE SUA MISSAO' A ESTE RESPEITO, EM VIRTUDE DO SA·
TISMO' E' DO MATRIMONIO SAO ELES OS PRIMEIROS CATE·
QUISTAS DE SEUS FILHOS : DE FATO, EDUCAR é CONTI·
NUAR' O ATO DE GERAÇÃO. NESTA IDADE, DEU,S P,ASSA
DE MODO PARTICULAR ATRAV~S DA INTERVENÇÃO DA
FAMILIA.
AS CRIANÇAS UM NECESSIDADE DE APRENDER E DE
VER OS PAIS QUE SE AMAM , QUE RESPEITAM A DEUS,
QUE SABEM EXPLICAR AS PRIMEIRAS VERDADES DA Fé,
QUE SABEM APRESENTAR O CONTEODO CRISTÃO NO
TESTEMUNHO E NA PERSEVERANÇA DE UMA VIDA DE
TODOS OS DIAS VIVIDA SEGUNDO O EVANGELHO.
O TESTEMUNHO ~ FUNDAMENTAI.. A PALAVRA DE
DEUS ~ ' EFICAZ EM SI MESMA, MAS ADQUIRE SENTIDO
CONCRETO QUANDO SE TORNA REALIDADE NA PESSOA
QUE ANUNCIA, ISTO VALE DE MODO PARTICULAR PARA
AS CRIANÇAS QUE AINDA NÃO TtM CON'DIÇOES PARA
DISTINGUIR ENTRE A VERDADE ANUNCIADA E A VIDA
DAQUELE QUE A ANUNCIA. PARA A CRIANÇA, NÃO HÁ
DISTINÇÃO ENTRE A MÃE QUE REZA E A ORAÇÃO; MAIS
AINDA, A ORAÇÃO TEM ESPECIAL VA~OR PORQUE t A
REZA DA MAE u •
(JOÃO PAULO li, SOBRE A CATEQUESE, EM PORTO
ALEGRE, 5/07180)

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