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1- Acepções do Direito- Direito Subjetivo e Direito Objetivo

1.1- Direito Objetivo e Direito Subjetivo

Na sua plurivalência semântica, apresentada no post: “Noções de Direito”, percebemos que este
vocábulo comporta numerosas manifestações conceituais. Em razão desta generalização da
palavra direito, começaremos a dividi-la quanto aos seus usos.

Quando falamos em direito objetivo e direito subjetivo não estamos falando de dois direitos
diferentes, mas sim de dois aspectos para um mesmo direito, de dois lados de um mesmo
fenômeno jurídico, para simplificar, como se fosse dois lados de uma mesma moeda. Um é o
aspecto social, outro o aspecto individual.

O direito objetivo (norma agendi): é o conjunto de normas impostas a todos os homens pelas
necessidades de uma manutenção da ordem social. Ou seja, é quando nos referimos ao direito
enquanto matéria que estuda nas universidades da mesma. Uma regra assume seu caráter
objetivo quando esta é vista em si mesma, sendo considerada, como norma de ação. Segundo o
jurista brasileiro Caio Mário da Silva Pereira (1913-2004), o direito objetivo é: “considerado
objetivamente, o direito é a norma do comportamento, que se traduz num complexo de regras
disciplinadoras da conduta” (Instituições do Direito Civil, 2000, p.33). Desse modo, este
complexo de normas os indivíduos devem obediência, sob a sanção do Estado.

O direito subjetivo (facultas agendi): é a faculdade de ação, a liberdade de agir. É o poder que
tem o homem de exigir garantias para a realização de seus interesses. É, segundo a expressão de
Von Ihering, “o interesse juridicamente protegido”. Este pode ser evidenciado quando a regra é
vista do sujeito. Este último, apresenta-se com uma faculdade que o titular deste tem de usá-lo ou
não na proteção do bem jurídico garantido pela norma. Podemos citar um exemplo clássico para
entendermos de uma maneira clara estas duas acepções, imagine, que você está com o seu carro
parado num semáforo. Entretanto, um automóvel colide na traseira do seu veículo. Nesta
situação, você tem a liberdade de agir (direito subjetivo) para garantir os seus interesses que
estão previstos e protegidos juridicamente, no Código de Trânsito Brasileiro (direito objetivo).

Aplicações desta divisão em frases:

1- “A Constituição Brasileira regulamenta que todos tem Direito ao voto.”- A palavra direito
neste caso representa o direito Subjetivo, pois nesta frase o Direito não se mostra enquanto
norma de ação, está apenas regulamentando um fato jurídico do qual todos tem o direito ao voto,
está, por fim, demonstrando a liberdade de agir do indivíduo, podendo este votar ou não.

– “O Direito brasileiro diz que todos devem votar”- Direito Objetivo, pois mostra o direito
enquanto norma, matéria.

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2- “Aquele sujeito me deve dinheiro, vou cobrar amanhã, pois O Direito me permite isso.”-
Direito Objetivo, pois nos mostra o direito enquanto norma, pois apesar do indivíduo invocar
uma causa, cita O Direito não o SEU direito.

– “Aquele sujeito me deve dinheiro, vou cobrar amanhã, pois TENHO Direitos que permitem
isso.”- Direito Subjetivo, pois o Direito neste caso não se mostra enquanto norma, em sua
expressão pura, ele está regulamentando um fato jurídico do qual este tem o direito a cobrar de
quem o deve.

Observações importantes:

1- Não existe Direito Subjetivo sem Direito Objetivo. A liberdade de agir dos indivíduos só pode
ser considerada e regulamentada se existir a norma. Portanto, o direito subjetivo se funda no
objetivo. Se assim não fosse, poderíamos recorrer a interesses diversos que, em algumas
circunstancias, vão contra ao ordenamento jurídico.

2- Para identificarmos com maior facilidade nas frases qual é o direito proferido (objetivo ou
subjetivo) devemos analisar se no caso o individuo cita O Direito, caracterizando-se assim a
norma propriamente dita ou se ele cita o SEU Direito, o que evidencia a sua liberdade de agir.
Tal exercício é frequente em provas de Introdução ao Estudo do Direito.

3- Temos, também, tentativas de explicar o Direito Subjetivo, vamos passar aqui três mais
relevantes:

3.1- Windsheid (vontade): para o jurista alemão, o Direito Subjetivo é o poder da vontade
reconhecido pela ordem jurídica. Porém, esta teoria foi alvo de inúmeras críticas, pois a vontade
é necessária para o exercício do direito e não para tê-lo. Um bom exemplo disso é que um bebê
tem direitos, mesmo que não tenha capacidade de exercê-los.

3.2- Von Ihering (interesse): decompondo o direito sobre outro ângulo, para ele o Direito
Subjetivo reside no fim prático do direito e consiste no interesse juridicamente protegido.
Recebeu críticas, há um problema acerca do uso da palavra interesse. Por exemplo, novamente,
um bebê não tem interesse, todavia, tem capacidade de ter direitos, embora não possa exercê-los.

3.3- Hans Kelsen (teoria mais aceita): para o jurista e filósofo austríaco o Direito Subjetivo não
existe. Ele é no máximo um reflexo de um dever. Isto é, um dever de um é um direito para outro,
o meu direito subjetivo à vida é o dever dos outros de não me matar.

4- O Direito Objetivo sempre nasce de um fato, que por estar inserido no ordenamento jurídico,
chamamos de fato jurídico.

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Referências:

– PEREIRA SILVA DA, Caio Mário. Instituições de Direito Civil, 19ºed. Rio de Janeiro:
Forense, 2000

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