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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.

0020

A C Ó R D Ã O
(5ª Turma)
GMDAR/crx/LPLM

I. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA DE IPIRANGA PRODUTOS DE
PETRÓLEO S.A. PROCESSO REGIDO PELA
LEI 13.015/2014. 1. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA DE
PRONUNCIAMENTO COM RELAÇÃO À
POSSIBILIDADE DE OS MOTORISTAS
PODEREM REALIZAR AS OPERAÇÕES DE
CARREGAMENTO E DESCARREGAMENTO DA
CARGA E À COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES PARA
DECIDIR SOBRE A NECESSIDADE DE
ACOMPANHAMENTO ESPECIALIZADO NO
TRANSPORTE RODOVIÁRIO. Diante da
possibilidade de provimento do
recurso e em atenção aos princípios
processuais da celeridade e da
economia, a matéria não será objeto
de exame, com fundamento nos artigos
282, § 2º, do CPC/2015 e 249, § 2º,
do CPC/73. 1.1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. AUSÊNCIA DE
PRONUNCIAMENTO COM RELAÇÃO À EFICÁCIA
ERGA OMNES DA DECISÃO PROFERIDA EM
SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Esta
Corte vem consolidando o entendimento
no sentido de que os recursos em que
se suscita a nulidade do acórdão
regional por negativa de prestação
jurisdicional, aviados sob a égide da
Lei 13.015/2015, devem conter a
transcrição dos argumentos dos
embargos de declaração opostos ao
acórdão do recurso ordinário, bem
assim a transcrição dos fundamentos
do acórdão proferido no seu
julgamento. O requisito citado está
inserido nas disposições do artigo
896, § 1º-A, IV, da CLT (incluído
pela Lei 13.015, de 2014). Assim, sem
a observância desse requisito, resta
desatendida a prescrição legal que
buscou agilizar o exame, pelo
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Relator, do prequestionamento da tese


jurídica ou premissa fática suscitada
nos Embargos de Declaração. 2. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
DO TRABALHO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 114
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. Trata-se de ação
civil pública, ajuizada pelo
Ministério Público do Trabalho, em
que se pretende a tutela inibitória
para que a empresa Ré não mais exija
ou permita - nos estabelecimentos que
possui, opera ou administra -, que os
motoristas executem atividades de
carregamento dos caminhões-tanque,
determinando-se, ainda, que a
execução dessa atividade seja
realizada apenas por empregados
próprios. Nesse sentido, a
competência da Justiça do Trabalho
para julgar esta demanda decorre da
relação de trabalho que permeia a
execução da terceirização de mão de
obra, nos exatos termos do artigo 114
da Constituição Federal, sendo
irrelevante a natureza civil do
contrato celebrado entre a empresa
tomadora (ora Recorrente) e a
prestadora de serviços
(transportadora de combustível).
Ademais, conforme noticiado na peça
inicial, são destinatários dos
interesses jurídicos ora tutelados
"... motoristas empregados de terceiros (das
transportadoras, dos postos de combustível etc.) ou
mesmo motoristas autônomos, agregados e
pseudoautônomos", portanto, também,
sujeitos de direito in abstrato, não
abrangidos no citado contrato de
prestação de serviços de natureza
civil. Desse modo, exsurge a
competência desta Justiça do Trabalho
para processar e julgar o feito, nos
exatos termos do artigo 114 da
Constituição Federal. Ilesos os
dispositivos de lei indicados. 3.
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LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO


PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. NORMAS RELACIONADAS À
SEGURANÇA DO TRABALHO. 1. O Tribunal
Regional rejeitou a arguição de
ilegitimidade ativa, sob o fundamento
de que o Ministério Público do
Trabalho, por expressa previsão
constitucional e legal, possui
legitimidade para defender direitos e
interesses difusos, coletivos ou
individuais homogêneos de
trabalhadores. Ressaltou, ainda, a
Corte Regional, tratar-se de defesa
da ordem jurídica trabalhista. 2.
Consta do acórdão regional que o
Ministério Público pretende por meio
desta Ação Civil Pública: "(...) a) a
abstenção da empresa em "exigir ou permitir, nos
estabelecimentos que possui, opera ou administra, que
os motoristas dos caminhões executem atividades de
carregamento dos veículos, sejam esses motoristas
empregados próprios ou de terceiros ou mesmo
trabalhadores autônomos, podendo eles apenas
acompanhar, estar presentes, quando das operações
de carregamento"; e b) a determinação para que a
reclamada passe "a executar diretamente, com
empregados próprios, todas as atividades
relacionadas ao carregamento dos combustíveis e
demais produtos que comercializa, notadamente
quanto ao carregamento dos caminhões-tanque,
abstendo-se de contratar ou utilizar terceiros, pessoas
físicas ou jurídicas, para realização dessas atividades
(...)". 3. É pacífica a jurisprudência
desta Corte em reconhecer a
legitimidade ativa do Parquet nas
ações coletivas para a tutela dos
direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos de
trabalhadores integrantes da
categoria. É o que se extrai,
inclusive, da interpretação
sistemática dos artigos 127, caput, e
129, III, da CF/88 e 83, III, da Lei
Complementar 75/93, 81 e 82 da Lei
8.073/90, não havendo falar, pois, em
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ilegitimidade ativa. Incidência da


diretriz da Súmula 333/TST. 4.
EFICÁCIA ERGA OMNES DA SENTENÇA
PROFERIDA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
ARTIGO 896, § 1º-A, I, DA CLT.
INDICAÇÃO DO TRECHO DA DECISÃO
RECORRIDA QUE CONSUBSTANCIA O
PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA.
PRESSUPOSTO RECURSAL NÃO OBSERVADO.
De acordo com o § 1º-A do artigo 896
da CLT, sob pena de não conhecimento
do recurso de revista, é ônus da
parte: "I - indicar o trecho da
decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia
objeto do recurso de revista". No
caso dos autos, a parte não
transcreveu os trechos da decisão
recorrida que consubstanciam o
prequestionamento da controvérsia, de
forma que a exigência processual
contida no referido dispositivo não
foi satisfeita. 5. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. MOTORISTA. CAPACITAÇÃO PARA
O TRANSPORTE DE CARGA ESPECIAL.
CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEL.
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER IMPOSTA.
VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
(ART. 5º, II, DA CF). CARACTERIZAÇÃO.
Ante a aparente vulneração do artigo
5º, II, da Constituição Federal,
merece ser provido o agravo de
instrumento para melhor exame da
revista. 6. ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. DESVIO DE FUNÇÃO.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. ÓBICE
DA SÚMULA 297/TST. Não editada tese
no acórdão regional à luz das
disposições do art. 193/CLT (ausência
de proibição de exercício de
atividade perigosa), desde que pago o
adicional de periculosidade
respectivo (§ 1º do art. 193 da CLT),
tampouco acerca de eventual desvio ou
acúmulo de funções, a ponto de
repercutir na integralidade das
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cláusulas contratuais pactuadas (CLT,


art. 456), incide o óbice da Súmula
297/TST ao cabimento do recurso de
revista, ante a ausência do
necessário prequestionamento da tese
jurídica. Agravo de instrumento
parcialmente provido.

II. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO DA 4ª REGIÃO. PROCESSO
REGIDO PELA LEI 13.015/2014.
CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEIS.
OBRIGAÇÃO DE CONTRATAR EMPREGADOS
PRÓPRIOS. TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA. 1.
ARTIGO 896, § 1º-A, I, DA CLT.
INDICAÇÃO DO TRECHO DA DECISÃO
RECORRIDA QUE CONSUBSTANCIA O
PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA.
PRESSUPOSTO RECURSAL NÃO OBSERVADO.
De acordo com o § 1º-A do artigo 896
da CLT, sob pena de não conhecimento
do recurso de revista, é ônus da
parte: "I - indicar o trecho da decisão recorrida
que consubstancia o prequestionamento da
controvérsia objeto do recurso de revista". No
caso dos autos, a parte não
transcreveu o trecho do acórdão
regional que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia, de
forma que a exigência processual
contida no referido dispositivo não
foi satisfeita. 2. ANTECIPAÇÃO DOS
EFEITOS DA TUTELA. AUSÊNCIA DOS
REQUISITOS PREVISTOS NO ARTIGO 273 DO
CPC/1973 (ARTIGO 294 DO CPC/2015). Na
esteira da motivação exposta na
análise do recurso de revista da
empresa Ré, em que se deu provimento
ao referido recurso para afastar a
obrigação de não fazer imposta na
sentença e ratificada pela Corte
Regional, julgando-se, portanto,
improcedentes os pedidos deduzidos
nesta ação civil pública, reputo
prejudicada a análise da questão
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atinente à antecipação dos efeitos da


tutela. Agravo de instrumento
prejudicado quanto ao tema.

III. RECURSO DE REVISTA DE IPIRANGA


PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A.. PROCESSO
REGIDO PELA LEI 13.015/2014. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. MOTORISTA. CAPACITAÇÃO
PARA O TRANSPORTE DE CARGA ESPECIAL.
CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEL.
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER IMPOSTA.
VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
(ART. 5º, II, DA CF). CARACTERIZAÇÃO.
Caso em que a Corte Regional, embora
reconhecendo que o carregamento dos
caminhões com combustível, realizado
pelos motoristas, era executado em
consonância com as normas e
instruções de segurança e saúde do
trabalho, estabelecidas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego –
MTE (art. 19 Decreto 96.044/88 c/c o
art. 25 da Resolução ANTT 3886/2012),
manteve a sentença em que imposta
obrigação de não fazer, ligada ao
exercício da referida atividade, com
base na parte inicial do artigo 7º,
XXII, da CF. Tal preceito dispõe que
constitui direito dos trabalhadores
urbanos e rurais a "redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança". Ao assim decidir, a
Corte Regional conferiu autonomia
normativa à fração descritiva do bem
jurídico objeto da tutela
constitucional, desconsiderando que o
próprio legislador vinculou a
realização daquele objetivo às normas
de segurança e proteção ao trabalho.
Em outras palavras, na forma disposta
no Texto da Constituição, a redução
dos riscos inerentes ao trabalho há
de ser implementada em conformidade
com as normas editadas pelo Poder
Público, no exercício do poder de
polícia assegurado no art. 21, XXIV,
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da própria Constituição Federal. A


técnica de interpretação adotada na
esfera regional, portanto, acabou
impondo a ruptura da unidade de
sentido do texto normativo,
alcançando resultado contrário ao
próprio procedimento inscrito no
dispositivo constitucional. A reserva
de conformação administrativa
constitucionalmente expressamente
prevista no art. 7º, XXII, da CF,
impede a adoção de vias outras para a
realização daquele ideal – redução de
riscos no ambiente laboral, disso
resultando a ausência de competência
político-institucional do Poder
Judiciário para dispor sobre a
questão. Consequentemente, ao impor
obrigação de não fazer sem lastro
legal, fundada na leitura fracionada
do preceito constitucional (CF, art.
7º XXII), a Corte de origem malferiu
o artigo 5º, II, da Constituição
Federal que consagra o princípio da
legalidade, autorizando a intervenção
desta Corte para a adequação cabível.
Recurso de revista conhecido e
provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Recurso de Revista com Agravo n° TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020, em que
é Agravante, Agravado e Recorrido MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA
4ª REGIÃO e Agravante, Agravada e Recorrente IPIRANGA PRODUTOS DE
PETRÓLEO S.A. e Agravado e Recorrido SINDICATO DOS TRABALHADORES DO
TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS LÍQUIDAS E GASOSAS, DERIVADOS DE
PETRÓLEO E PRODUTOS QUÍMICOS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO e


IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A. interpõem agravo de instrumento,
em face do acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região,

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mediante o qual foi denegado seguimento aos recursos de revista


interpostos.
Buscam a modificação da mencionada decisão,
afirmando terem atendidos aos pressupostos de admissibilidade do
artigo 896 da CLT.
Foram apresentadas contraminutas às fls.
18240/18252 e 18276/18304 e contrarrazões às fls. 18256/18271 e
18306/18331.
Dispensada a remessa dos autos ao Ministério
Público do Trabalho, nos termos do Regimento Interno do TST.
Recursos de revista interpostos em face de acórdão
publicada na vigência da Lei 13.015/2014.
É o relatório.

V O T O

I. AGRAVO DE INSTRUMENTO DE IPIRANGA PRODUTOS DE


PETRÓLEO S.A.

1. CONHECIMENTO

CONHEÇO do agravo de instrumento, porque


preenchidos os pressupostos extrínsecos de admissibilidade, eis que
tempestivo (fls. 18160 e 18170), com representação (fl. 364, 365,
366, 17542, 17543, 17544 e 17545), e preparo (fls. 17650, 17652,
18074, 188207) regulares.

2. MÉRITO

2.1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA


DE PRONUNCIAMENTO COM RELAÇÃO À POSSIBILIDADE DE OS MOTORISTAS
PODEREM REALIZAR AS OPERAÇÕES DE CARREGAMENTO E DESCARREGAMENTO DA
CARGA, À COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES PARA
DECIDIR SOBRE A NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO ESPECIALIZADO NO

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TRANSPORTE RODOVIÁRIO, À EFICÁCIA ERGA OMNES DA DECISÃO PROFERIDA EM


SEDE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

Diante da possibilidade de provimento do recurso e


em atenção aos princípios da celeridade e economia processuais, a
matéria não será objeto de exame, com fundamento nos artigos 282, §
2º, do CPC/2015 e 249, § 2º, do CPC/73.
Especificamente quanto à alegada negativa de
prestação jurisdicional por ausência de pronunciamento com relação à
eficácia erga omnes da decisão proferida em sede de ação civil
pública, a questão deve ser solucionada por outro prisma.
A Agravante alega que "...opôs embargos de declaração
demonstrando que o E. TRT da 4ª Região partiu de premissa equivocada pelo fato de ter limitado a
licitude da terceirização ao Pool de Passo Fundo, sem conferir a devida eficácia erga omnes à
decisão proferida em sede de Ação Civil Pública" (fl.18179).
Diz que, mesmo instado mediante a oposição de
embargos de declaração, o TRT não emitiu provimento jurisdicional
sobre a questão.
Aponta ofensa aos artigos 93, inciso IX, e 97 da
Constituição Federal, 832 da CLT e 458 do CPC, contrariedade à
Súmula 10/STF.
Ao exame.
Esta Corte vem consolidando o entendimento no
sentido de que os recursos em que se suscita a nulidade do acórdão
regional por negativa de prestação jurisdicional, aviados sob a
égide da Lei 13.015/2015, devem conter a transcrição dos argumentos
dos embargos de declaração opostos ao acórdão do recurso ordinário,
bem assim a transcrição dos fundamentos do acórdão proferido no seu
julgamento.
O requisito citado está inserido nas disposições
do artigo 896, § 1º-A, IV, da CLT (incluído pela Lei nº 13.015, de
2014),do seguinte teor:
(...)
§ 1º-A. Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:
(...)
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IV - transcrever na peça recursal, no caso de suscitar preliminar de


nulidade de julgado por negativa de prestação jurisdicional, o trecho dos
embargos declaratórios em que foi pedido o pronunciamento do tribunal
sobre questão veiculada no recurso ordinário e o trecho da decisão regional
que rejeitou os embargos quanto ao pedido, para cotejo e verificação, de
plano, da ocorrência da omissão.

Assim, sem a observância desse requisito, resta


desatendida a prescrição legal que buscou agilizar o exame, pelo
Relator, do prequestionamento da tese jurídica ou premissa fática
suscitada nos Embargos de Declaração.
Ressalto que, embora tenha transcrito o acórdão em
que julgados os embargos de declaração opostos (fls.17992/17996), a
parte deixou de transcrever os argumentos que embasaram os
declaratórios, a fim de possibilitar o cotejo e se verificar
eventual omissão.
NEGO PROVIMENTO.

2.2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA.

Consta da decisão agravada:

(...)
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO /
JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA / COMPETÊNCIA.
Alegação(ões):
- violação do(s) art(s). 114,1, da Constituição Federal.
- violação do(s) art(s). 267 do CPC;
- divergência jurisprudencial.
O Colegiado rejeitou a arguição de incompetência da Justiça do
Trabalho para decidir a controvérsia, nos seguintes termos: "Prevê o art.
114, inciso I, da Constituição Federal, que à Justiça do Trabalho compete
processar e julgar "as ações oriundas da relação de trabalho (...)". Nesse
contexto, seja na forma de contratação direta envolvendo relação de
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emprego, seja por meio de vínculo indireto do qual é exemplo a


terceirização de serviços, a contratação de trabalhadores para a realização
de atividade produtiva da empresa mediante o pagamento de salário é, por
expressa previsão constitucional, matéria intrinsecamente sujeita à análise
da Justiça do Trabalho. Ressalto, ao contrário do afirmado no recurso, que a
investigação sobre a legalidade ou não da contratação de trabalhadores por
empresa interposta não interfere na autonomia privada das empresas,
gerando a interpretação judicial efeitos tão-somente quanto à regularidade
do vínculo jurídico dos trabalhadores que a ela disponibilizam sua força de
trabalho, matéria, frise-se, vinculada à competência constitucional da
Justiça do Trabalho."
Não constato violação aos dispositivos de lei e da Constituição
Federal invocados, circunstância que obsta a admissão do recurso pelo
critério previsto na alínea "c" do art. 896 da CLT.
Nos termos da Súmula 296 do TST, a divergência jurisprudencial
ensejadora da admissibilidade do recurso "há de ser específica, revelando a
existência de teses diversas na interpretação de um mesmo dispositivo
legal, embora idênticos os fatos que as ensejaram", situação não
configurada na espécie.
(...) (fl. 18157).

A Reclamada sustenta que "... ante a análise genérica do juízo


de admissibilidade a quo quanto à ‘Incompetência da Justiça do Trabalho’, a agravante pede vênia
para reiterar as razões de seu recurso de revista, a fim de demonstrar a violação direta ao art. 114, I,
da Constituição Federal, o que comporta a interposição do recurso de revista... " (fl. 18181).
Aduz que "... na medida em que o contrato em questão decorre de
relação de natureza civil entre a agravante e a transportadora, não há como se reconhecer a
competência desta Justiça Especializada, eis que não se está diante de relação de Trabalho, na forma
exigida pelo aludido dispositivo constitucional" (fl. 18182).
Argumenta, por fim, que "... além de desrespeitar a autonomia
privada da agravante e das transportadoras de combustível com quem se relaciona -- e que não são
partes desta ação --, no que se refere a liberdade de deliberar a respeito das obrigações de cada uma
delas nos contratos celebrados, a demanda, como foi proposta, transcende a competência dessa
Justiça Especializada, já que àquela relação contratual é de todo estranha as relações de trabalho
albergadas por este foro." (fl. 18183).
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Aponta ofensa aos artigos 114, inciso I da


Constituição Federal e 267 do CPC/1973.
À análise.
O Tribunal Regional decidiu de acordo com os
seguintes fundamentos:

(...)
MÉRITO.
RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA.
1. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
A reclamada argui a incompetência da Justiça do Trabalho para
decidir a controvérsia. Salienta que a obrigação de carregamento de
combustíveis por motoristas-carreteiros decorre do contrato de prestação de
serviços firmado entre a recorrente e as empresas transportadoras, e a
demanda, tal como proposta, pretende interferir na autonomia privada das
empresas, fato que transcende a competência desta Justiça Especializada.
Menciona parecer de Carmem Camino acerca da questão.
Razão não lhe assiste.
Prevê o art. 114, inciso I, da Constituição, Federal, que à Justiça do
Trabalho compete processar e julgar "as ações oriundas da relação de
trabalho (...)".
Nesse contexto, seja na forma de contratação direta envolvendo
relação de emprego, seja por meio de vínculo indireto do qual é exemplo a
terceirização de serviços, a contratação de trabalhadores para a realização
de atividade produtiva da empresa mediante o pagamento de salário é, por
expressa previsão constitucional, matéria intrinsecamente sujeita à análise
da Justiça do Trabalho.
Ressalto, ao contrário do afirmado no recurso, que a investigação
sobre a legalidade ou não da contratação de trabalhadores por empresa
interposta não interfere na autonomia privada das empresas, gerando a
interpretação judicial efeitos tão-somente quanto à regularidade do vínculo
jurídico dos trabalhadores que a ela disponibilizam sua força de trabalho,
matéria, frise-se, vinculada à competência constitucional da Justiça do
Trabalho.
Nego provimento.
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(...). (fls. 17861/17862).

A partir da Emenda Constitucional 45/2004, a


Justiça do Trabalho passou a ser competente para julgar os processos
relativos às relações de trabalho e emprego, excluídas as de caráter
administrativo ou estatutária.
A hipótese dos autos diz respeito à ação civil
pública, ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho, em que se
denunciam irregularidades na prestação de serviços por motoristas
autônomos ou contratados mediante empresa interposta que estariam
sendo compelidos a realizar atividade de carregamento dos caminhões-
tanque, não obstante as disposições do artigo 19 do Decreto
96.044/88.
Pretende o Autor a tutela inibitória, consistente
em não mais exigir ou permitir, nos estabelecimentos que possui, opera ou administra, que os
motoristas dos caminhões executem atividades de carregamento dos veículos, podendo eles apenas
acompanhar, as operações de carregamento, como também o provimento jurisdicional
no sentido de se determinar que a execução da atividade de
abastecimento dos caminhões-tanque, seja realizada por empregados
próprios (fls. 42 e 44).
Como se observa, a competência da Justiça do
Trabalho para julgar esta demanda decorre da relação de trabalho que
permeia a execução da terceirização de mão de obra, sendo
irrelevante a natureza civil do contrato celebrado entre a empresa
tomadora (ora Recorrente) e a prestadora de serviços (transportadora
de combustível).
Ademais, conforme noticiado na peça inicial, são
destinatários dos interesses jurídicos ora tutelados "... motoristas
empregados de terceiros (das transportadoras, dos postos de combustível etc.) ou mesmo motoristas
autônomos, agregados e pseudoautônomos" (fl.6), portanto, sujeitos de direito
in abstrato, não abrangidos no citado contrato de prestação de
serviços de natureza civil.
Desse modo, exsurge a competência desta Justiça do
Trabalho para processar e julgar o feito, nos exatos termos do
artigo 114 da Constituição Federal.
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.14

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

Ilesos os artigos indicados.


NEGO PROVIMENTO.

2.3. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. NORMAS RELACIONADAS À SEGURANÇA DO
TRABALHO.

Consta da decisão agravada:

(...)
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / PROCESSO
COLETIVO / AÇÃO CIVIL PÚBLICA / LEGITIMIDADE ATIVA.
Alegação(ões):
- violação do(s) art(s). 127 e 129, III, da Constituição Federal.
- violação do(s) art(s). 6°, 83 da LC 75/93; 81, 117 do CDC-; 21 da
Lei 7.347/85; dentre outros.
A Turma manteve a sentença que reconheceu a legitimidade ativa do
Ministério Público do Trabalho para defender os interesses coletivos dos
trabalhadores que prestam e que prestarão serviços à empresa ré.
Considerou que, "Os pedidos formulados na petição inicial envolvem: a) a
abstenção da empresa em "exigir ou permitir, nos estabelecimentos que
possui, opera ou administra, que os motoristas dos caminhões executem
atividades de carregamento dos veículos, sejam esses motoristas
empregados próprios ou de terceiros ou' mesmo trabalhadores autônomos,
podendo eles apenas acompanhar, estar presentes, quando das operações
de carregamento"; e b) a determinação para que a reclamada passe "a
executar diretamente, com empregados próprios, todas as atividades
relacionadas ao carregamento dos combustíveis e demais produtos que
comercializa, notadamente quanto ao carregamento dos caminhões-tanque,
abstendo-se de contratar ou utilizar terceiros, pessoas físicas ou jurídicas,
para realização dessas atividades" (itens 2.1 e 2.2 -fls. 21-2). Nesse
contexto, observo que o provimento jurisdicional defendido pelo Parquet,
além de ensejar a proteção a futuros trabalhadores que, na função de
motoristas-carreteiros, possam ser expostos ao risco das operações de
carregamento, igualmente almeja resguardar os interesses que são
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titularizados por grupo determinado ou determinável de pessoas, as quais


encontram-se ligadas com a parte contrária por uma relação jurídica base.
Ademais, o objeto desses interesses detém a marca da indivisibilidade, fato
que os classifica como direitos difusos e coletivos em sentido estrito, a teor
do art. 81, parágrafo único, incisos I e II, do Código de Defesa do
Consumidor, por atingir de maneira equivalente os interesses jurídicos dos
trabalhadores, atuais e futuros, que prestam ou prestarão serviços de
transporte à reclamada, o que revela a legitimidade do Ministério Público
do Trabalho para atuar na defesa judicial desses trabalhadores. Ressalto,
por outro lado, que tais interesses são enquadrados naqueles suscetíveis de
tutela pelo Ministério Público do Trabalho por força dos artigos 127,
caput, e 129, inciso III, da Constituição Federal, em razão de se referirem
à garantia da ordem jurídica trabalhista no tocante ao resguardo dos
direitos fundamentais garantidos a qualquer trabalhador, notadamente
aqueles relacionados à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso XXII), e à
valorização do trabalho humano (art. 170, caput), bem como ao
fundamento previsto nos artigos 1º, inciso IV, da Lei nº 7.347/85 (Lei da
Ação Civil Pública), e 83, inciso III, da Lei Complementar nº 75/93, os
quais estabelecem: Lei nº 7.347/85 Art. 1º Regem-se pelas disposições
desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por
danos morais e patrimoniais causados:
(...) IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. Lei Complementar nº
75/93 Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das
seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho: (...) III -
promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para
defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos. Nesse sentido, e tendo em conta a
impossibilidade de supressão da garantia constitucionalmente assegurada
à defesa da ordem jurídica trabalhista pelo Ministério Público do
Trabalho, reconheço a legitimidade ativa do Parquet para ajuizar a
presente ação civil pública."
Não há afronta direta e literal aos preceitos da Constituição Federal
indicados, tampouco violação literal aos dispositivos de lei invocados,

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circunstância que obsta a admissão do recurso pelo critério previsto na


alínea "c" do art. 896 da CLT.
CONCLUSÃO
Nego seguimento.
Intime-se.
(...) (fls. 18157/18158).

A Agravante alega que os interesses tutelados


nesta ação civil pública pertencem a sujeitos "... perfeitamente identificados,
circunstância que caracteriza os interesses defendidos na exordial como individuais disponíveis."
(fl. 18185).
Aduz que "Não há que se falar, portanto, em direitos coletivos difusos,
perseguidos por intermédio de ação civil pública..." (fl. 18185).
Informa que foram propostas três ações individuais
perante a Justiça do Trabalho da cidade de Canoas/RS, inclusive
envolvendo a Reclamada.
Argumenta que "... naquelas demandas os motoristas-carreteiros,
entre outros pedidos, pretendiam receber adicional por desvio de função em decorrência da atividade
de carregamento. Tal fato, por si só, já demonstra a natureza heterogênea do direito ora
perseguido." (fl. 18185).
Esclarece que "... a atuação do Ministério Público está delimitada
pela Constituição Federal que estabelece, em seu artigo 127, que a ele incumbe a defesa de
‘interesses sociais e individuais indisponíveis’"(fl. 18186).
Ademais, ressalta que "... o Ministério Público detém
legitimidade para a defesa dos interesses sociais (difusos e coletivos) e, na esfera individual, apenas
dos interesses indisponíveis. Não sendo esse o caso dos autos... " (fl. 18189).
Aponta ofensa aos artigos 127 da Constituição
Federal, 25, inciso IV, alínea "a", da Lei 8.625/93 e 83 da Lei
Complementar 75/1993.
À análise.
O Tribunal Regional decidiu de acordo com os
seguintes fundamentos:

(...)

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2. ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO.
A sentença reconheceu a legitimidade ativa do Ministério Público do
Trabalho para defender os interesses coletivos dos trabalhadores que
prestam e que prestarão serviços à empresa ré (fls. 8722v-3).
Inconformada, a reclamada sustenta a Ilegitimidade ativa do
Ministério Público do Trabalho. Argumenta que os interesses a que se busca
proteção nesta reclamatória caracterizam-se como individuais disponíveis.
Ressalta que os motoristas-carreteiros ajuizaram diversas ações contra a
empresa pretendendo o pagamento de adicional de desvio de função em
decorrência da atividade de carregamento de combustível, fato que, no seu
entender, revela a natureza heterogênea do direito perseguido, e a
possibilidade de plena identificação dos trabalhadores. Tece considerações
acerca do critério legal para distinguir os interesses coletivos dos
individuais, bem como do cabimento da ação civil pública em razão das
condicionantes previstas no Código de Defesa do Consumidor. Invoca os
artigos 127 da Constituição Federal, 25, inciso IV, alínea "a", da Lei n°
8.625/93, 6°, inciso VII, alíneas "c" e "d", e 83, inciso III, estes da Lei
Complementar n° 75/93. Requer a extinção do processo, sem resolução de
mérito, nos termos do artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil.
Examino.
Os pedidos formulados na petição inicial envolvem: a) a abstenção da
empresa em "exigir ou permitir, nos estabelecimentos que possui, opera ou
administra, que os motoristas dos caminhões executem atividades de
carregamento dos veículos, sejam esses motoristas empregados próprios ou
de terceiros ou mesmo trabalhadores autônomos, podendo eles apenas
acompanhar, estar presentes, quando das operações de carregamento"; e b)
a determinação para que a reclamada passe "a executar diretamente, com
empregados próprios, todas as atividades relacionadas ao carregamento dos
combustíveis e demais produtos que comercializa, notadamente quanto ao
carregamento dos caminhões-tanque, abstendo-se de contratar ou utilizar
terceiros, pessoas físicas ou jurídicas, para realização dessas atividades"
(itens 2.1 e 2.2 - fls. 21-2).
Nesse contexto, observo que o provimento jurisdicional defendido
pelo Parquet, além de ensejar a proteção a futuros trabalhadores que, na
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função de motoristas-carreteiros, possam ser expostos ao risco das


operações de carregamento, igualmente almeja resguardar os interesses que
são titularizados por grupo determinado ou determinável de pessoas, as
quais encontram-se ligadas com a parte contrária por uma relação jurídica
base.
Ademais, o objeto desses interesses detém a marca da
indivisibilidade, fato que os classifica como direitos difusos e coletivos em
sentido estrito, a teor do art. 81, parágrafo único, incisos I e II, do Código
de Defesa do Consumidor, por atingir de maneira equivalente os interesses
jurídicos dos trabalhadores, atuais e futuros, que prestam ou prestarão
serviços de transporte á reclamada, o que revela a legitimidade do
Ministério Público do Trabalho para atuar na defesa judicial desses
trabalhadores.
Ressalto, por outro lado, que tais interesses são enquadrados naqueles
suscetíveis de tutela pelo Ministério Público do Trabalho por força dos
artigos 127, caput, e 129, inciso III, da Constituição Federal, em razão de se
referirem à garantia da ordem jurídica trabalhista no tocante ao resguardo
dos direitos fundamentais garantidos a qualquer trabalhador, notadamente
aqueles relacionados à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7°, inciso XXII), e à
valorização do trabalho humano (art. 170, caput), bem como ao fundamento
previsto nos artigos 1°, inciso IV, da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil
Pública), e 83, inciso III, da Lei Complementar n° 75/93, os quais
estabelecem:
Lei n° 7.347/85
Art. 1° Regem-se pelas disposições desta Lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por
danos morais e patrimoniais causados:
(...)
IV- a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
Lei Complementar n° 75/93
Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o
exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça
do Trabalho:
(...)
III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça
do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando

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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente


garantidos.
Nesse sentido, e tendo em conta a impossibilidade de supressão da
garantia constitucionalmente assegurada à defesa da ordem jurídica
trabalhista pelo Ministério Público do Trabalho, reconheço a legitimidade
ativa do Parquet para ajuizar a presente ação civil pública.
Nego provimento.
(...) (fls. 17862/17865).

O Tribunal Regional rejeitou a arguição de


ilegitimidade ativa, sob o fundamento de que o Ministério Público do
Trabalho, por expressa previsão constitucional e legal, possui
legitimidade para defender direitos e interesses difusos, coletivos
ou individuais homogêneos de trabalhadores.
Ressaltou, ainda, a Corte Regional tratar-se de
defesa da ordem jurídica trabalhista.
Consta do acórdão regional que o Ministério
Público pretende por meio da Ação Civil Pública:

(...)
a) a abstenção da empresa em "exigir ou permitir, nos
estabelecimentos que possui, opera ou administra, que os motoristas dos
caminhões executem atividades de carregamento dos veículos, sejam esses
motoristas empregados próprios ou de terceiros ou mesmo trabalhadores
autônomos, podendo eles apenas acompanhar, estar presentes, quando das
operações de carregamento"; e b) a determinação para que a reclamada
passe "a executar diretamente, com empregados próprios, todas as
atividades relacionadas ao carregamento dos combustíveis e demais
produtos que comercializa, notadamente quanto ao carregamento dos
caminhões-tanque, abstendo-se de contratar ou utilizar terceiros, pessoas
físicas ou jurídicas, para realização dessas atividades.
(...) (fl. 17863).

É pacífica a jurisprudência desta Corte em


reconhecer a legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho

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nas ações coletivas para a tutela dos direitos difusos, coletivos e


individuais homogêneos de trabalhadores. É o que se extrai,
inclusive, da interpretação sistemática dos artigos 127, caput, e
129, III, da CF/88 e 83, III, da Lei Complementar 75/93.
Nesse sentido, vale citar os seguintes julgados:

EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO NA


AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO. INTERESSES INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. NÃO PROVIMENTO. 1. Trata-se de ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho em que se objetiva a defesa
de direitos dos empregados da reclamada à observância mínima da duração
de trabalho e sua correta anotação. 2. A Constituição Federal de 1988
atribuiu ao Ministério Público a função de defensor dos interesses da
sociedade, cabendo-lhe, conforme a dicção dos artigos 127, caput, e 129,
III, respectivamente, "a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis" e a promoção da "ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos". 3. Por sua vez, o artigo
82, I, do CDC estabelece que, para fins do artigo 81, parágrafo único, o
Ministério Público é parte legítima para ajuizar a ação coletiva, donde se
conclui que o Parquet detém legitimidade para a defesa de interesses ou
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Não bastasse, o artigo
6º, VII, "d", da Lei Complementar nº 75/93 atribui competência ao
Ministério Público da União para propor ação civil pública visando à
proteção de "outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos,
sociais, difusos e coletivos". 4. Portanto, a interpretação que emana dos
dispositivos mencionados é de que a sua legitimidade abrange também a
ação coletiva tendente a proteger interesses ou direitos individuais
homogêneos, espécie de direitos coletivos lato sensu. 5. No presente caso,
portanto, em que se busca a tutela de direitos dos empregados da
reclamada à observância mínima da duração de trabalho e sua correta
anotação, não há como afastar a legitimidade do Ministério Público do
Trabalho para propor a ação civil pública visando à preservação da ordem
jurídica trabalhista, nos termos do artigo 127, caput, da Constituição
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Federal. Precedentes. 6. Recurso de embargos a que se nega provimento.


(...). (TST-E-ED-RR-2254-12.2012.5.09.0660, Relator
Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, Subseção
I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT
07/10/2016 - grifei).

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO DA RÉ - RECURSO DE


REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - AÇÃO
CIVIL PÚBLICA - DANO MORAL COLETIVO - TERCEIRIZAÇÃO DE
ATIVIDADE-FIM - ILICITUDE - CARACTERIZAÇÃO - QUANTUM
INDENIZATÓRIO Vislumbrada violação ao artigo 5º, V, da Constituição,
dá-se provimento ao Agravo de Instrumento para determinar o
processamento do recurso denegado. II - RECURSO DE REVISTA DA
EMPRESA RÉ - PRELIMINAR DE NULIDADE DO ACÓRDÃO
REGIONAL POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL O
Eg. Colegiado Regional solucionou a controvérsia de forma fundamentada,
não havendo falar em nulidade do acórdão recorrido por negativa de
prestação jurisdicional. AÇÃO CIVIL PÚBLICA - LEGITIMIDADE
ATIVA AD CAUSAM - DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS O
Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para o ajuizamento de
Ação Civil Pública visando à proteção de interesses difusos e coletivos, tal
como preconizado no artigo 129, III, da Constituição, e que também
contempla a defesa de interesses individuais homogêneos, considerados
espécies de interesses coletivos em sentido amplo. Conquanto o pedido de
reconhecimento de vínculo de emprego possa ser vindicado mediante
ações individuais, é inequívoco que se encontram vinculados a uma
origem jurídica comum, decorrente da terceirização ilícita entabulada
pela empresa. Assim, não há como afastar a natureza de direito individual
homogêneo da postulação, motivo pelo qual se reconhece a legitimidade do
Ministério Público do Trabalho. SENTENÇA CONDICIONAL -
PRECLUSÃO - ALEGAÇÃO INOVATÓRIA NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO EM RECURSO ORDINÁRIO A alegação de sentença
condicional foi suscitada apenas na oposição dos Embargos de Declaração
perante o Eg. Tribunal Regional do Trabalho. Assim, precluso o exame da
matéria, não suscitada no momento oportuno. DANO MORAL COLETIVO
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- TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADE-FIM - ILICITUDE -


CARACTERIZAÇÃO - QUANTUM INDENIZATÓRIO O recurso
encontra-se desfundamentado em relação ao reconhecimento da licitude da
terceirização, não cabendo conhecimento nessa instância. Por outro lado, a
questão do valor arbitrado a título de indenização por dano moral coletivo
comporta conhecimento. Levando em consideração os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, a importância arbitrada pelo Tribunal
Regional deve ser reduzida, considerado o valor médio de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais), suficiente para cumprir a finalidade de reparar dano
moral coletivo e inibir persistência na conduta identificada. Recurso de
Revista conhecido parcialmente e provido. ( RR - 1300-
67.2010.5.04.0015 , Relatora Ministra: Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento:
21/06/2017, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT
30/06/2017 - grifei).

(...) PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO


PÚBLICO DO TRABALHO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
INOBSERVÂNCIA, PELO RÉU, DOS DIREITOS DOS EMPREGADOS.
Quando se trata de direitos metaindividuais, o que determina realmente se o
objeto da ação coletiva é de natureza difusa, coletiva ou individual
homogênea é a pretensão trazida em Juízo, uma vez que um mesmo fato
pode dar origem aos três tipos de pretensões, de acordo com a formulação
do pedido, como bem destaca Nelson Nery Júnior, in Código Brasileiro de
Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, 9ª edição.
Por outro lado, nos termos do ordenamento jurídico brasileiro e na esteira
da jurisprudência iterativa desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, o
Ministério Público detém legitimidade para ajuizar ação civil pública. De
acordo com o artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, o Ministério
Público possui legitimidade para propor ação coletiva para a proteção dos
interesses difusos e coletivos. O artigo 6º, inciso VII, alínea "d", da Lei
Complementar nº 75/93 confere ao Ministério Público da União
legitimidade para propor ação civil pública para a "defesa de outros
interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e
coletivos". O artigo 83, inciso III, da mesma Lei Complementar também
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prevê a legitimidade do Ministério Público do Trabalho para "promover a


ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de
interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos". Ademais, os direitos individuais
homogêneos estão definidos no inciso III do artigo 81 da Lei n° 8.078/90
(Código de Defesa do Consumidor). Conforme se observa no caso em
análise, "a tutela buscada está relacionada ao respeito à garantia de
direito fundamental relacionado ao valor social do trabalho e aos
direitos trabalhistas, direitos esses que estariam a ser ameaçados com o
descumprimento de medidas de higiene, saúde e segurança do trabalho,
garantidas por norma de ordem pública e relativas aos limites da
jornada de trabalho". Ante o exposto, é patente a legitimidade ativa do
Ministério Público do Trabalho para o ajuizamento desta demanda. Assim,
não se observa a apontada violação dos artigos 129 da Constituição Federal
e 83, III, da Lei Complementar nº 75/1993. Agravo de instrumento
desprovido. (...). (TST-AIRR-1362-27.2011.5.15.0093,
Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2ª
Turma, DEJT 11/04/2017 - grifei).

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO PELA RÉ. 1. ILEGITIMIDADE ATIVA. No caso, em que
se discutem supostas irregularidades praticadas pela ré atinentes às
normas de saúde e segurança dos seus empregados, os interesses são
individuais, mas a origem única recomenda a sua defesa coletiva em
um só processo, pela relevância social atribuída aos interesses
homogêneos, equiparados aos coletivos, não se propondo uma
reparação de interesses meramente individuais. Logo, não há dúvidas
quanto à legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho, em face
do disposto nos artigos 83, I e III, da LC nº 75/93 e 127, caput, e 129, III,
da CF. 2. DANO MORAL COLETIVO. No caso, ficou demonstrado o
reiterado descumprimento de direitos trabalhistas de uma coletividade
de empregados da ré, como a inobservância de normas de saúde e
segurança do trabalho e de duração do labor. Ora, aquele que por ato
ilícito causar dano, ainda que exclusivamente moral, fica obrigado a repará-
lo, de modo que, ficando caracterizado que a ré cometeu ato ilícito,
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causando prejuízos à coletividade de trabalhadores e à própria ordem


jurídica, tem-se um típico caso de dano moral coletivo a ensejar a
condenação ao pagamento da indenização, não se vislumbrando, assim,
ofensa aos artigos 3º e 13 da Lei nº 7.347/85. 3. VALOR ARBITRADO À
INDENIZAÇÃO. O artigo 5º da LINDB apenas preceitua que, "Na
aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum", logo não dispõe especificamente sobre
critérios para a fixação do valor de indenização, razão pela qual não há
como se concluir por ofensa à sua literalidade, nos termos do artigo 896,
"c", da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-
AIRR-9-71.2011.5.01.0341, Relatora Ministra Dora
Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT 28/04/2017 -
grifei).

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO. NATUREZA DOS DIREITOS VINDICADOS.1. A
substituição processual pelo Ministério Público do Trabalho legitima-se
mediante a defesa de direitos coletivos ou de direitos individuais
homogêneos, assim entendidos aqueles que decorrem de origem comum.2.
A atual, notória e iterativa jurisprudência do STF e do TST reconhece a
legitimidade do Ministério Público do Trabalho para a propositura de ação
civil pública que vise a resguardar direitos individuais homogêneos
indisponíveis ou, no caso dos disponíveis, desde que, em função da
natureza da lide ou do elevado número de titulares, haja repercussão social
a admitir a atuação do Parquet. Exegese que se extrai dos arts. 127, caput, e
129, III, da Constituição Federal e 6º, VII, "c" e "d", e 83, III, da Lei
Complementar nº 75/93. Precedentes.3. O descumprimento, em tese, da
legislação trabalhista em relação a uma coletividade de empregados pode
configurar lesão ou ameaça a direitos coletivos e/ou individuais
homogêneos, conforme a natureza indivisível ou divisível, respectivamente,
da pretensão deduzida em juízo. Ambas as hipóteses, segundo a
jurisprudência assente do STF e do TST, autorizam o manejo da ação civil
pública.4. A pretensão de salvaguardar o direito à observância, pela
Reclamada, do percentual mínimo de contratação de empregados
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portadores de deficiência objetiva a tutela de direitos sociais. 5.


Reconhecida a legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho para a
defesa dos direitos individuais homogêneos que se visa a tutelar, a teor do
disposto no art. 83, III, da Lei Complementar nº 75/83.6. Agravo de
instrumento interposto pela Reclamada de que se conhece e a que se nega
provimento. (TST-AIRR- 220300-23.2008.5.20.0006,
Relator Ministro João Oreste Dalazen, 4ª Turma,
DEJT 28/04/2017).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 -
DESCABIMENTO. 1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS INDISPONÍVEIS. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. O "Parquet" intenta ressarcir
prejuízos dos empregados em razão do descumprimento pelo empregador
de dispositivos da Constituição Federal (salários, quitação de verbas
rescisórias e rescisões formais). Tal circunstância constitui direito
individual homogêneo indisponível, passível de defesa pelo MPT. Não há
que se confundir tais direitos com sua repercussão financeira. Ademais, nos
termos do art. 3° da Lei n° 7.347/85, "a ação civil pública poderá ter por
objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer." 2. (...). Agravo de instrumento conhecido e desprovido.
(TST-AIRR-12-14.2013.5.10.0015, Relator Ministro
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª
Turma, DEJT 14/10/2016.).

(...) AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO. LEGITIMIDADE ATIVA. DEFESA DE DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. SAÚDE DOS TRABALHADORES.
CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER PELOS RÉUS. O
Ministério Público do Trabalho, conforme teor do artigo 83, inciso III, da
Lei Complementar nº 75/1993, possui legitimidade para "promover a ação
civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses
coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente
garantidos", como a saúde dos trabalhadores. No caso, o Parquet visa
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

tutelar interesses individuais homogêneos: imposição de obrigação de fazer,


mediante provimento jurisdicional de caráter cominatório, consistente na
determinação de que os réus mantenham ambiente de trabalho arejado.
Verifica-se, pois, que o Ministério Público do Trabalho, na ação civil
pública, não busca a reparação individual do bem lesado, mas a tutela de
interesses coletivos, precisamente direitos individuais homogêneos, com
repercussão social. Desse modo, o Tribunal a quo, ao reconhecer a
legitimidade do Ministério Público para a defesa em ação civil pública de
interesses individuais homogêneos, decidiu em consonância com a
jurisprudência iterativa, notória e atual da SBDI-1, o que afasta a indicação
de divergência jurisprudencial e de ofensa aos artigos 129, inciso III, da
Constituição Federal e 83, inciso III, da Lei Complementar nº 75/93.
Agravo de instrumento a que se nega provimento. (...). (TST-ARR-
447500-68.2009.5.09.0660, Relator Ministro: José
Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DEJT
29/04/2016.).

(...) RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


TERCEIRIZAÇÃO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO.
1. O Tribunal Regional concluiu pela legitimidade ativa do Ministério
Público do Trabalho, forte nos arts. 127 e 129, III, da Constituição Federal e
83, III, da LC 75/93. 2. Em hipóteses como a dos autos, em que os pedidos
formulados na ação civil pública decorrem de práticas uniformes da
empresa reclamada - terceirização das atividades relacionadas ao transporte
de produtos farmacêuticos -, há de se reconhecer a homogeneidade dos
direitos defendidos. 3. Verifica-se, assim, que a decisão recorrida está em
harmonia com a jurisprudência desta Corte, firme no sentido de que o art.
83, III, da LC 75/93 autoriza a atuação do Ministério Público do Trabalho,
mediante o ajuizamento de ação civil pública, na defesa dos interesses
individuais homogêneos dos trabalhadores. Precedentes. 4. Ilesos os arts.
267, VI, do CPC e 83, III, da LC 75/93, bem como inviável o exame dos
paradigmas trazidos a cotejo, a teor do art. 896, § 4º, da CLT e da Súmula
333/TST. Recurso de revista não conhecido, no tema. (...). (TST-RR-5-

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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

86.2010.5.01.0044, Relator Ministro Hugo Carlos


Scheuermann, 1ª Turma, DEJT 11/03/2016.).

(...) ILEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO. A Constituição Federal, em seu artigo 129, III, confere ao
Ministério Público do Trabalho propor ação coletiva quando os interesses
em litígio forem difusos e coletivos, considerados em sentido amplo da
mesma forma que fez em relação aos direitos sociais. Por sua vez, o próprio
artigo 129, em seu inciso IX, autoriza o Ministério Público a "exercer
outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua
finalidade". Com efeito, o direito postulado na ação é individual
homogêneo, ainda que os titulares pertençam a categorias distintas dentro
da mesma empresa, e ainda que os valores resultantes da eventual
procedência da ação demandem instrução ou execução individualizadas.
Ressalta-se que a SBDI-1 (TST-E-ED-RR-88900-77.2004.5.09.0022,
SBDI-1, DEJT 21/05/2010) adotou a tese de que são direitos individuais
homogêneos aqueles que "têm origem comum no contrato de trabalho", o
que inequivocamente se aplicaria ao caso de jornada de trabalho. Nesse
contexto impõe-se prestigiar a solução coletiva de conflitos como forma de
uniformidade e celeridade na prestação jurisdicional, bem como de redução
da sobrecarga do Poder Judiciário. Ademais, ainda que se admitam como
individuais os interesses aqui debatidos, a sua homogeneidade é
indiscutível, por terem notadamente origem comum, a teor do art. 81, III, da
Lei nº 8.078/90, trazendo, também por essa razão, a legitimidade ativa ao
Parquet, a teor do art. 6º, XII, da Lei Complementar nº 75/93 (ação civil
coletiva para defesa de interesses individuais homogêneos), sobretudo
porque os direitos tutelados constituem direitos sociais constitucionalmente
garantidos. Acrescente-se que os interesses homogêneos nada mais são do
que a reunião de interesses individuais, e nesse contexto, não se vislumbra
óbice à legitimidade do Ministério Público para representar interesses de
empregados submetidos à mesma conduta ilegal praticada pela empresa.
Logo, trata-se de interesse individual de origem homogênea. E, por fim, a e
SBDI-1 do TST tem reconhecido a legitimidade do Parquet para ajuizar
ação civil pública para a defesa de interesses individuais homogêneos.
Precedentes. Recurso de revista não conhecido. (...). (TST-RR-
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

9892200-41.2006.5.09.0004, Relator Ministro


Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, DEJT
26/02/2016.).

LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CUMPRIMENTO DE NORMAS
ALUSIVAS À DURAÇÃO DA JORNADA. 1. A Lei Complementar
75/1993 dispõe sobre a organização, atribuições e estatuto do Ministério
Público da União, conferindo-lhe legitimidade para -promover o inquérito
civil e a ação civil pública para (...) outros interesse individuais
indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos- (art. 6º, inc. VII,
alínea -d-), mormente quando -decorrentes dos direitos sociais dos
trabalhadores- (art. 84, inc. II), como também para -promover a ação civil
pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses
coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente
garantidos- (art. 83, inc. III), observando-se idêntica conclusão no art. 5º da
Lei 7.347/85. Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor (Lei
8.076/90) definiu, em seu art. 81, as espécies de interesse passíveis de
defesa coletiva aplicáveis ao processo do trabalho, ex vi do art. 769 da CLT,
ressaltando, no inc. III, os -interesses ou direitos individuais homogêneos,
assim entendidos os decorrentes de origem comum-. 2. A presente Ação
Civil Pública foi proposta pelo Ministério Público do Trabalho objetivando
impor à empresa obrigação de fazer e de não fazer, consistente em: a) abster
de prorrogar a jornada norma de trabalho além do limite de duas horas
diárias sem qualquer justificativa legal; b) conceder a todos os empregados
intervalo interjornadas mínimo de onze horas consecutivas; c) conceder a
todos os empregados descanso semanal remunerado de vinte e quatro horas
consecutivas, coincidentemente com o domingo; d) abster-se de exigir
trabalho em domingo sem permissão prévia da autoridade competente; e)
consignar em registro mecânico, manual ou sistema eletrônico os horários
de entrada, saída e os períodos de repouso praticados pelos empregados, de
modo a apurar as horas efetivamente trabalhadas. 3. Trata-se, portanto, de
pretensão que se enquadra na categoria dos direitos ou interesses coletivos,
na espécie de direito individual homogêneo, de origem comum, porquanto
decorrente de uma relação jurídica base. Com efeito, o direito às parcelas
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

decorrentes do descumprimento de normas trabalhistas relativas à jornada


de trabalho dos empregados da empresa ré constitui interesse individual
homogêneo, vez que resultam de origem comum, justificando a
legitimidade do Ministério Público do Trabalho para propor a Ação Civil
Pública. Recurso de Embargos de que se conhece e a que se dá provimento.
(destaquei, E-RR - 170000-69.2009.5.11.0007 Data
de Julgamento: 11/04/2013, Relator Ministro: João
Batista Brito Pereira, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT
19/04/2013).

Nesse contexto, à luz dos dispositivos


constitucionais e legais mencionados, não há falar em ilegitimidade
ativa.
Portanto, estando o acórdão regional em
consonância com a interativa, notória e atual jurisprudência desta
Corte Superior, o processamento do recurso de revista, no tópico,
encontra óbice na Súmula 333 do TST, não havendo falar em violação
de dispositivos da Constituição Federal e de lei, tampouco em
divergência jurisprudencial.
NEGO PROVIMENTO.

2.4. EFICÁCIA ERGA OMNES DA SENTENÇA PROFERIDA EM


AÇÂO CIVIL PÚBLICA.

Consta da decisão agravada:

(...)
RECURSO DE: IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A.
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Recurso tempestivo (decisão publicada em 13/11/2015 - fl. 8954;
recurso apresentado em 20/11/2015 - fl. 8958).
Representação processual regular (fl. 9002).
Preparo satisfeito (fls. 9003).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / ATOS


PROCESSUAIS / NULIDADE / NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/SUBSIDIÁRIA / TOMADOR
DE SERVIÇOS/TERCEIRIZAÇÃO / LICITUDE / ILICITUDE DA
TERCEIRIZAÇÃO.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / PROCESSO
COLETIVO / AÇÃO CIVIL PÚBLICA / TUTELA INIBITÓRIA
(OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER).
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) Vinculante 10 do STF.
- violação do(s) art(s). 5º, II, 7º, XXII, 93, IX, 97 da Constituição
Federal.
- violação do(s) art(s). 193, 456, § único, e 832 da CLT; 458 do CPC;
16 da Lei 7.347/85; - divergência jurisprudencial.
Outras alegações:
- violação a dispositivo de decreto e de portaria.
A Turma deu parcial provimento ao recurso ordinário da reclamada
para absolvê-la da obrigação de executar com empregados próprios as
atividades relacionadas ao carregamento dos combustíveis e demais
produtos que comercializa, notadamente quanto ao carregamento de.
caminhões-tanque em relação ao Pool de Passo Fundo. Os fundamentos
foram reproduzidos na análise do recurso precedente. De outro lado,
manteve a determinação para que a ré não mais exija ou permita, nos
estabelecimentos que possui, opera ou administra, que os motoristas dos
caminhões executem atividades de carregamento dos veículos sozinhos,
podendo eles apenas acompanhar ou fazer parte das atividades quando
preenchidos os requisitos do art. 19 do Decreto 96.044/88, sejam esses
motoristas empregados próprios, de terceiros ou autônomos, sob pena de,
em caso de descumprimento, sem prejuízo da observância da obrigação de
não fazer, pagar multa diária de R$ 100.000,00 em favor do Fundo de
Defesa de Direitos Difusos - FDD. Assim fundamentou: "Registro,
inicialmente, diante dos termos do decidido em tópico anterior, que a
análise do recurso limitar-se-á à base de operação de carregamento
referente ao "Pool de Passo Fundo", o qual, consoante alegado no
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

processo, é administrado pela reclamada. Com efeito, dispõe o art. 19 do


Decreto n" 96.044/88, in verbis: O condutor não participará das operações
de carregamento, descarregamento e transbordo da carga, salvo se
devidamente orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo destinatário, e
com a anuência do transportador. (Grifei) Assim, é relevante notar que a
regulamentação vigente veda, em princípio, a atividade de carregamento
de produtos perigosos pelos motoristas, permitindo-a, entretanto, se
atendidos os pressupostos normativos relacionados à orientação do
trabalhador e à autorização do expedidor-destinatário-transportador na
consecução da tarefa. Nesse passo, a farta documentação trazida aos autos
pela reclamada (fls. 518 e seguintes) demonstra o rigoroso processo de
verificação formal quanto à capacitação do motorista para a realização do
transporte de carga especial. Ademais, indica que a empresa realiza
efetivamente a orientação dos trabalhadores para a execução das tarefas
relacionadas ao carregamento da carga, bem como capacita-os sobre as
questões envolvendo a-segurança da operação de carregamento. Contudo,
ainda que os motoristas sejam orientados na realização do transporte e
carregamento de cargas que representem risco para a saúde das pessoas,
para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7º, inciso
XXII, da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos
riscos inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista
participe da atividade de carregamento, consoante autorizado pelo
Decreto nº 96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente
se considerado o elevado risco decorrente da atividade. Ressalto, por outro
lado, que a exigência de utilização dos equipamentos de proteção
individual pelos motoristas ou a concessão de treinamento pela empresa
para a realização da função constitui obrigação que decorre da própria
legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I e II, da CLT, não
importando para o reconhecimento da regularidade da atribuição aos
trabalhadores a existência de laudos periciais judiciais ou particulares que
demonstrem o adequado gerenciamento da atividade de risco pela
empresa. De qualquer sorte, o carregamento de produtos perigosos não se
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos


prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial nº 397/2002), o que
determina a manutenção do entendimento esposado na decisão originária.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário da reclamada, no
aspecto."
Negou provimento aos embargos de declaração da reclamada, nos
seguintes aspectos: "1. Terceirização das atividades de carregamento de
combustíveis. Contradição. Obscuridade. Arguição de não conhecimento
do recurso da reclamada. No tocante à alegada contradição ou
obscuridade do acórdão ao limitar a possibilidade de terceirização das
atividades de carregamento de combustíveis ao Pool de Passo Fundo, ao
mesmo tempo em que rejeita a arguição, formulada em contrarrazões, de
não conhecimento do recurso da reclamada por ausência de interesse,
entendo não assistir razão à embargante.
O acórdão, em exame preliminar, é claro ao enfatizar que a empresa
é legitimamente interessada para recorrer quanto às diversas bases de
operação de carregamento de caminhões-tanque no Estado do Rio Grande
do Sul em razão da natureza genérica do pedido e da sentença prolatada.
No entanto, na análise do mérito da questão, ficou decidido que a
absolvição à obrigatoriedade de contratar empregados próprios para a
realização das atividades de carregamento de combustíveis limita-se ao
Pool de Passo Fundo em face da existência de acordo formulado perante o
Ministério do Trabalho e Emprego, em que a reclamada se propôs a
realizar, quanto às demais unidades da empresa estabelecidas no Estado, a
operação de carregamento dos caminhões-tanque por meio de empregados
próprios como uma das medidas de saneamento de riscos. Nesse contexto,
denoto que o que pretende a recorrente, em suas razões de embargos de
declaração, é o reexame da matéria e a reforma da decisão que lhe foi
desfavorável. Incabível, contudo, a pretensão de reapreciação de questões
objeto de análise e julgamento do recurso ordinário, em embargos de
declaração, especialmente quando do acórdão constaramn os fundamentos
que nortearam a decisão. Embargos não acolhidos. (...) 3. Omissão.
Negativa de vigência a dispositivo regulamentador. Competência
legislativa. Transporte de produtos perigosos. Carregamento de
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

combustíveis. Ausência de desvio funcional. (...) Todavia, no caso, 'o aresto


embargado não apresenta os vícios alegados pela reclamada., Este
Colegiado adota tese explícita no sentido de que (fl. 8904v), (...) ainda que
os motoristas sejam orientados na realização do transporte e carregamento
de cargas que representem risco para a saúde das pessoas, para a
segurança pública ou para o meio ambiente, entendo que os motoristas-
carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e demais
produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à função
de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7º, inciso XXII, da
Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos riscos
inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista participe
da atividade de carregamento, consoante autorizado pelo Decreto nº
96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente se
considerado o elevado risco decorrente da atividade. Por outro lado, o
acórdão explicita que "a exigência de utilização dos equipamentos de
proteção individual pelos motoristas ou a concessão de treinamento pela
empresa para a realização da função constitui obrigação que decorre da
própria legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I e II, da
CLT", bem como que "o carregamento de produtos perigosos não se
assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial nº 397/2002)" (fis. 8904v-5).
Assim, não há como se confundir omissão no julgado com insatisfação com
a decisão proferida, ainda que esta comporte entendimento diverso ou
contrário às pretensões da parte. Eventuais equívocos na avaliação da
matéria ou erro de julgamento, caso este seja o entendimento da
embargante, não são passíveis de correção por meio de embargos de
declaração. Incabível, portanto, a reapreciação de questões objeto de
análise e julgamento do recurso anteriormente manejado, em sede de
embargos de declaração. O reexame- de questão de mérito já decidida pelo
acórdão é consabidamente vedado, diante do contido no artigo 471 do
Código de Processo Civil. Vale notar que o prequestionamento, ainda que
necessário à interposição de recursos às instâncias superiores, não
autoriza o reexame da matéria, em relação à qual já houve
pronunciamento. Registro, por pertinente, o entendimento consubstanciado
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

na Orientação Jurisprudencial nº 118 da SDJ-I do TST, in verbis:


PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA
SÚMULA Nº' 297. Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão
recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa do dispositivo
legal para ter-se como prequestionado este. Ademais, destaco que o
prequestionamento não se confunde com interpretação literal de
dispositivo legal, não estando o Julgador obrigado, ainda, a manifestar-se
sobre todos os argumentos, artigos de lei e entendimentos jurisprudenciais
utilizados pela parte, mas aplicar as normas do ordenamento jurídico
pátrio incidentes, segundo o seu entendimento, fundamentando o julgado
no sentido de conferir plena prestação jurisdicional, nos termos do artigo
93, inciso IX, da Constituição Federal. Diante do exposto, não acolho os
embargos de declaração opostos pela reclamada."
Tendo em vista os fundamentos acima referidos, não constato
contrariedade à Súmula Vinculante indicada.
Não há afronta direta e literal aos preceitos da Constituição Federal
indicados, tampouco violação literal aos dispositivos de lei invocados,
circunstância que obsta a admissão do recurso pelo critério previsto na
alínea "c" do art. 896 da CLT.
À luz da Súmula 296 do TST, aresto que não revela identidade fática
com a situação descrita nos autos ou que não dissente do posicionamento
adotado pela Turma não serve para impulsionar o recurso.
A reprodução de aresto que provém de órgão julgador não
mencionado na alínea "a" do art. 896 da CLT não serve ao confronto de
teses.
É ineficaz a impulsionar recurso de revista alegação estranha aos
ditames do art. 896 da CLT.
(...) (fls. 18153/18157).

A Agravante sustenta que "... o acordo extrajudicial não sofre


os efeitos da coisa julgada, não pode haver limitação do julgado à base não abrangida pelo acordo
firmado no ano de 2012" (fl. 18190).
Enfatiza que "O provimento do recurso desta ação deve ser amplo e
sem restrições, em obediência à diretriz contida no artigo 16 da Lei 7.347/85, por tratar-se de
decisão proferida em Ação Civil Pública." (fl. 18190).
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Aduz que "Diante dos termos do dispositivo da decisão regional, em


que pese tenha havido expresso reconhecimento de que a agravante não tem obrigação legal de ter
empregados próprios realizando as atividades de carregamento de caminhões-tanque, o provimento
do apelo foi limitado a base localizada na cidade de Passo Fundo/RS, única base de combustíveis
da agravante que não foi abrangida pelo acordo extrajudicial firmado com a SRTE/RS, em
fevereiro de 2012." (fl. 18192, grifo no original).
Destaca que "... não se admite que o acordo, sobre o qual não incide
os efeitos da coisa julgada, conforme destacado na decisão regional, limite a eficácia geral que a
decisão decorrente de ação civil pública deve emanar." (fl. 18193).
Por fim, assevera que "...valendo-se da existência de acordo
extrajudicial firmando com o objetivo de levantar a interdição da base de Canoas/RS, a decisão
regional limita os efeitos do provimento do recurso ordinário, circunstância que não pode prosperar,
haja vista que ' afronta ao artigo 16, da Lei 7.347/85" (fl. 18193).
Aponta violação do artigo 16 da Lei 7.347/85.
À análise.
Quanto ao tema, registro que o inciso I do § 1º-A
do artigo 896 da CLT, incluído pela Lei nº 13.015/2014, assim
dispõe:

§ 1º-A. Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:


I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista;
(...).

No caso dos autos, observo que a parte interpôs


recurso de revista sem indicar, em relação à matéria, os trechos da
decisão recorrida que consubstanciam o prequestionamento da
controvérsia, de forma que a exigência processual contida no
referido dispositivo não foi satisfeita.
Acrescento, ainda, que a transcrição dos trechos
do acórdão regional às fls.18190 e 18191, não supre a exigência do
artigo 896, § 1º-A, I, da CLT, porquanto não indicada, pontualmente,
a resposta do Tribunal Regional à questão controvertida sobre a qual
se pretende a reapreciação desta Corte, com os seus fundamentos
relevantes, em atenção ao princípio da impugnação específica.
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Verifico, também, que a parte não observou a


exigência do cotejo analítico, mediante confronto entre a motivação
do Tribunal Regional e os dispositivos tidos por violados,
contrariedades indicadas ou arestos transcritos ao confronto de
teses (artigo 896, § 1º-A, III, da CLT).
De fato, não é tarefa deste Tribunal Superior
realizar o cotejo analítico e pontual entre os motivos lançados na
decisão impugnada e os argumentos veiculados pela parte em sua peça
recursal que ensejariam o processamento da revista.
Nesse contexto, o conhecimento do recurso de
revista encontra óbice no artigo 896, § 1º-A, I, da CLT.
NEGO PROVIMENTO.

2.5. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MOTORISTA. CAPACITAÇÃO


PARA O TRANSPORTE DE CARGA ESPECIAL. CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEL.
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER IMPOSTA. VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE (ART. 5º, II, DA CF). CARACTERIZAÇÃO.

Eis os termos da decisão de admissibilidade a


fração de interesse:

(...)
RECURSO DE: IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A.
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Recurso tempestivo (decisão publicada em 13/11/2015 - fl. 8954;
recurso apresentado em 20/11/2015 - fl. 8958).
Representação processual regular (fl. 9002).
Preparo satisfeito (fls. 9003).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / ATOS
PROCESSUAIS / NULIDADE / NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/SUBSIDIÁRIA / TOMADOR
DE SERVIÇOS/TERCEIRIZAÇÃO / LICITUDE / ILICITUDE DA
TERCEIRIZAÇÃO.
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.37

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / PROCESSO


COLETIVO / AÇÃO CIVIL PÚBLICA / TUTELA INIBITÓRIA
(OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER).
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) Vinculante 10 do STF.
- violação do(s) art(s). 5º, II, 7º, XXII, 93, IX, 97 da Constituição
Federal.
- violação do(s) art(s). 193, 456, § único, e 832 da CLT; 458 do CPC;
16 da Lei 7.347/85;
- divergência jurisprudencial.
Outras alegações:
- violação a dispositivo de decreto e de portaria.
A Turma deu parcial provimento ao recurso ordinário da reclamada
para absolvê-la da obrigação de executar com empregados próprios as
atividades relacionadas ao carregamento dos combustíveis e demais
produtos que comercializa, notadamente quanto ao carregamento de.
caminhões-tanque em relação ao Pool de Passo Fundo. Os fundamentos
foram reproduzidos na análise do recurso precedente. De outro lado,
manteve a determinação para que a ré não mais exija ou permita, nos
estabelecimentos que possui, opera ou administra, que os motoristas dos
caminhões executem atividades de carregamento dos veículos sozinhos,
podendo eles apenas acompanhar ou fazer parte das atividades quando
preenchidos os requisitos do art. 19 do Decreto 96.044/88, sejam esses
motoristas empregados próprios, de terceiros ou autônomos, sob pena de,
em caso de descumprimento, sem prejuízo da observância da obrigação de
não fazer, pagar multa diária de R$ 100.000,00 em favor do Fundo de
Defesa de Direitos Difusos - FDD. Assim fundamentou: "Registro,
inicialmente, diante dos termos do decidido em tópico anterior, que a
análise do recurso limitar-se-á à base de operação de carregamento
referente ao "Pool de Passo Fundo", o qual, consoante alegado no
processo, é administrado pela reclamada. Com efeito, dispõe o art. 19 do
Decreto n" 96.044/88, in verbis: O condutor não participará das operações
de carregamento, descarregamento e transbordo da carga, salvo se
devidamente orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo destinatário, e
com a anuência do transportador. (Grifei) Assim, é relevante notar que a
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regulamentação vigente veda, em princípio, a atividade de carregamento


de produtos perigosos pelos motoristas, permitindo-a, entretanto, se
atendidos os pressupostos normativos relacionados à orientação do
trabalhador e à autorização do expedidor-destinatário-transportador na
consecução da tarefa. Nesse passo, a farta documentação trazida aos autos
pela reclamada (fls. 518 e seguintes) demonstra o rigoroso processo de
verificação formal quanto à capacitação do motorista para a realização do
transporte de carga especial. Ademais, indica que a empresa realiza
efetivamente a orientação dos trabalhadores para a execução das tarefas
relacionadas ao carregamento da carga, bem como capacita-os sobre as
questões envolvendo a-segurança da operação de carregamento. Contudo,
ainda que os motoristas sejam orientados na realização do transporte e
carregamento de cargas que representem risco para a saúde das pessoas,
para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7º, inciso
XXII, da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos
riscos inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista
participe da atividade de carregamento, consoante autorizado pelo
Decreto nº 96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente
se considerado o elevado risco decorrente da atividade. Ressalto, por outro
lado, que a exigência de utilização dos equipamentos de proteção
individual pelos motoristas ou a concessão de treinamento pela empresa
para a realização da função constitui obrigação que decorre da própria
legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I e II, da CLT, não
importando para o reconhecimento da regularidade da atribuição aos
trabalhadores a existência de laudos periciais judiciais ou particulares que
demonstrem o adequado gerenciamento da atividade de risco pela
empresa. De qualquer sorte, o carregamento de produtos perigosos não se
assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial nº 397/2002), o que
determina a manutenção do entendimento esposado na decisão originária.

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Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário da reclamada, no


aspecto."
Negou provimento aos embargos de declaração da reclamada, nos
seguintes aspectos: "1. Terceirização das atividades de carregamento de
combustíveis. Contradição. Obscuridade. Arguição de não conhecimento
do recurso da reclamada. No tocante à alegada contradição ou
obscuridade do acórdão ao limitar a possibilidade de terceirização das
atividades de carregamento de combustíveis ao Pool de Passo Fundo, ao
mesmo tempo em que rejeita a arguição, formulada em contrarrazões, de
não conhecimento do recurso da reclamada por ausência de interesse,
entendo não assistir razão à embargante.
O acórdão, em exame preliminar, é claro ao enfatizar que a empresa
é legitimamente interessada para recorrer quanto às diversas bases de
operação de carregamento de caminhões-tanque no Estado do Rio Grande
do Sul em razão da natureza genérica do pedido e da sentença prolatada.
No entanto, na análise do mérito da questão, ficou decidido que a
absolvição à obrigatoriedade de contratar empregados próprios para a
realização das atividades de carregamento de combustíveis limita-se ao
Pool de Passo Fundo em face da existência de acordo formulado perante o
Ministério do Trabalho e Emprego, em que a reclamada se propôs a
realizar, quanto às demais unidades da empresa estabelecidas no Estado, a
operação de carregamento dos caminhões-tanque por meio de empregados
próprios como uma das medidas de saneamento de riscos. Nesse contexto,
denoto que o que pretende a recorrente, em suas razões de embargos de
declaração, é o reexame da matéria e a reforma da decisão que lhe foi
desfavorável. Incabível, contudo, a pretensão de reapreciação de questões
objeto de análise e julgamento do recurso ordinário, em embargos de
declaração, especialmente quando do acórdão constaram os fundamentos
que nortearam a decisão. Embargos não acolhidos. (...) 3. Omissão.
Negativa de vigência a dispositivo regulamentador. Competência
legislativa. Transporte de produtos perigosos. Carregamento de
combustíveis. Ausência de desvio funcional. (...) Todavia, no caso, 'o aresto
embargado não apresenta os vícios alegados pela reclamada., Este
Colegiado adota tese explícita no sentido de que (fl. 8904v), (...) ainda que
os motoristas sejam orientados na realização do transporte e
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^carregamento de cargas que representem risco para a saúde das pessoas,


para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7º, inciso
XXII, da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos
riscos inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista
participe da atividade de carregamento, consoante autorizado pelo
Decreto nº 96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente
se considerado o elevado risco decorrente da atividade. Por outro lado, o
acórdão explicita que "a exigência de utilização dos equipamentos de
proteção individual pelos motoristas ou a concessão de treinamento pela
empresa para a realização da função constitui obrigação que decorre da
própria legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I e II, da
CLT", bem como que "o carregamento de produtos perigosos não se
assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial nº 397/2002)" (fis. 8904v-5).
Assim, não há como se confundir omissão no julgado com insatisfação com
a decisão proferida, ainda que esta comporte entendimento diverso ou
contrário às pretensões da parte. Eventuais equívocos na avaliação da
matéria ou erro de julgamento, caso este seja o entendimento da
embargante, não são passíveis de correção por meio de embargos de
declaração. Incabível, portanto, a reapreciação de questões objeto de
análise e julgamento do recurso anteriormente manejado, em sede de
embargos de declaração. O reexame- de questão de mérito já decidida pelo
acórdão é consabidamente vedado, diante do contido no artigo 471 do
Código de Processo Civil. Vale notar que o prequestionamento, ainda que
necessário à interposição de recursos às instâncias superiores, não
autoriza o reexame da matéria, em relação à qual já houve
pronunciamento. Registro, por pertinente, o entendimento consubstanciado
na Orientação Jurisprudencial nº 118 da SDJ-I do TST, in verbis:
PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA
SÚMULA Nº' 297. Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão
recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa do dispositivo
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legal para ter-se como prequestionado este. Ademais, destaco que o


prequestionamento não se confunde com interpretação literal de
dispositivo legal, não estando o Julgador obrigado, ainda, a manifestar-se
sobre todos os argumentos, artigos de lei e entendimentos jurisprudenciais
utilizados pela parte, mas aplicar as normas do ordenamento jurídico
pátrio incidentes, segundo o seu entendimento, fundamentando o julgado
no sentido de conferir plena prestação jurisdicional, nos termos do artigo
93, inciso IX, da Constituição Federal. Diante do exposto, não acolho os
embargos de declaração opostos pela reclamada."
Tendo em vista os fundamentos acima referidos, não constato
contrariedade à Súmula Vinculante indicada.
Não há afronta direta e literal aos preceitos da Constituição Federal
indicados, tampouco violação literal aos dispositivos de lei invocados,
circunstância que obsta a admissão do recurso pelo critério previsto na
alínea "c" do art. 896 da CLT.
À luz da Súmula 296 do TST, aresto que não revela identidade fática
com a situação descrita nos autos ou que não dissente do posicionamento
adotado pela Turma não serve para impulsionar o recurso.
A reprodução de aresto que provém de órgão julgador não
mencionado na alínea "a" do art. 896 da CLT não serve ao confronto de
teses.
É ineficaz a impulsionar recurso de revista alegação estranha aos
ditames do art. 896 da CLT.
(...) (fls. 18153/18157).

A Reclamada sustenta que "... a decisão regional reconhece que


todos os pressupostos do artigo 19 do Decreto n° 96.044/1988 estão atendidos pela empresa,
contudo, deixa de aplicá-lo no caso concreto, ao manter a vedação da realização do carregamento
pelos motoristas, sem acompanhamento, sob o argumento de que existem riscos atrelados à
atividade" (fl. 18194).
Informa que não há "...vedação legal para impedir que a
agravante exija ou permita que os motoristas dos caminhões executem atividades de carregamento
dos veículos sozinhos..." (fl. 18195).
Argumenta que "... a decisão a quo, ao afastar a aplicação do Decreto
96.044/88, impedindo a realização da atividade de carregamento pelos motoristas, mesmo
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reconhecendo que todos os requisitos para tanto foram atendidos pela empresa, representa violação
literal às disposição contidas no artigo 97 da Constituição Federal e na Súmula Vinculante n° 10."
(fl. 18196).
Aponta ofensa aos artigos 5º, II, e 97 da
Constituição Federal e contrariedade à Súmula Vinculante 10/STF.
À análise.
O debate proposto nos autos diz respeito à
possibilidade de os motoristas de caminhões que prestam serviços à
empresa Ré executarem sozinhos, em adição, atividades de
carregamento de combustível dos veículos.
Nos termos das normas que regulamentam o
transporte rodoviário de produtos perigosos, não há, em tese,
impedimento para a realização das operações de carregamento desses
itens, desde que atendido o comando normativo vinculado à proteção e
segurança da atividade.
Nesse sentido, editado o Decreto 96.044/88, com a
redação introduzida pelo Decreto 4.097/2002, que assim dispõe: "Art.
19. O condutor não participará das operações de carregamento, descarregamento e transbordo da
carga, salvo se devidamente orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo destinatário, e com a
anuência do transportador".
A Resolução 3886/2012 da Agência Nacional de
Transportes Terrestres - ANTT, especificamente acerca do transporte
de produtos perigosos, conforme redação do art. 25, preconiza: "As
operações de carregamento, descarregamento e transbordo de produtos perigosos devem ser
realizadas atendendo às normas e instruções de segurança e saúde do trabalho, estabelecidas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego - MTE."
Na situação em apreço, a Corte Regional, embora
constatando que a farta documentação trazida aos autos demonstra o
rigoroso processo de verificação formal quanto à capacitação dos
motoristas para a realização do transporte de carga especial, que
representam risco para a saúde – e sem se reportar à eventual
descumprimento de norma de segurança e saúde-, concluiu que o
carregamento de material combustível os sujeita a riscos adicionais,
não inerentes à atividade profissional contratual, em contrariedade
ao que dispõe a norma fundamental inscrita no art. 7º, XXII, da CF.
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Deduz aquela Corte que "...o carregamento de produtos


perigosos não se .assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos prevista na
Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (Portaria
Ministerial n° 397/2002)" (fl.17878), razão por que mantém a obrigação de
não fazer imposta na origem, quanto à execução da atividade de
carregamento de combustível pelos próprios motoristas.
Assenta, ainda, a regular utilização de EPIs,
conforme laudos periciais em que conferido o adequado gerenciamento
da atividade de risco pela empresa.
No preceito fundamental extraído do art. 7º, XXII,
da Carta Constitucional, o legislador preconiza a garantia de
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança.
Assim, tendo sido delineada, no acórdão regional,
premissa relacionada ao cumprimento das normas de proteção ao
trabalho, parece-me imprópria a mitigação do exercício da atividade
proposta, sob o pálio de ofensa ao referido preceito protetivo.
Nesse cenário, ante a aparente vulneração do art.
5º, II, da Constituição Federal, merece ser provido o agravo de
instrumento para melhor exame da revista.
Pelo exposto, DOU PROVIMENTO ao agravo de
instrumento.
Conforme previsão dos arts. 897, § 7º, da CLT, 3º,
§ 2º, da Resolução Administrativa 928/2003 do TST, 256 e 257 do
RITST, proceder-se-á de imediato à análise do recurso de revista na
primeira sessão ordinária subsequente.

2.7. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. DESVIO DE


FUNÇÃO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. ÓBICE DA SÚMULA 297/TST.

Consta da decisão agravada:

(...)
RECURSO DE: IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A.
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
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Recurso tempestivo (decisão publicada em 13/11/2015 - fl. 8954;


recurso apresentado em 20/11/2015 - fl. 8958).
Representação processual regular (fl. 9002).
Preparo satisfeito (fls. 9003).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / ATOS
PROCESSUAIS / NULIDADE / NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/SUBSIDIÁRIA / TOMADOR
DE SERVIÇOS/TERCEIRIZAÇÃO / LICITUDE / ILICITUDE DA
TERCEIRIZAÇÃO.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / PROCESSO
COLETIVO / AÇÃO CIVIL PÚBLICA / TUTELA INIBITÓRIA
(OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER).
Alegação(ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) Vinculante 10 do STF.
- violação do(s) art(s). 5º, II, 7º, XXII, 93, IX, 97 da Constituição
Federal.
- violação do(s) art(s). 193, 456, § único, e 832 da CLT; 458 do CPC;
16 da Lei 7.347/85;
- divergência jurisprudencial.
Outras alegações:
- violação a dispositivo de decreto e de portaria.
A Turma deu parcial provimento ao recurso ordinário da reclamada
para absolvê-la da obrigação de executar com empregados próprios as
atividades relacionadas ao carregamento dos combustíveis e demais
produtos que comercializa, notadamente quanto ao carregamento de.
caminhões-tanque em relação ao Pool de Passo Fundo. Os fundamentos
foram reproduzidos na análise do recurso precedente. De outro lado,
manteve a determinação para que a ré não mais exija ou permita, nos
estabelecimentos que possui, opera ou administra, que os motoristas dos
caminhões executem atividades de carregamento dos veículos sozinhos,
podendo eles apenas acompanhar ou fazer parte das atividades quando
preenchidos os requisitos do art. 19 do Decreto 96.044/88, sejam esses
motoristas empregados próprios, de terceiros ou autônomos, sob pena de,
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em caso de descumprimento, sem prejuízo da observância da obrigação de


não fazer, pagar multa diária de R$ 100.000,00 em favor do Fundo de
Defesa de Direitos Difusos - FDD. Assim fundamentou: "Registro,
inicialmente, diante dos termos do decidido em tópico anterior, que a
análise do recurso limitar-se-á à base de operação de carregamento
referente ao "Pool de Passo Fundo", o qual, consoante alegado no
processo, é administrado pela reclamada. Com efeito, dispõe o art. 19 do
Decreto n" 96.044/88, in verbis: O condutor não participará das operações
de carregamento, descarregamento e transbordo da carga, salvo se
devidamente orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo destinatário, e
com a anuência do transportador. (Grifei) Assim, é relevante notar que a
regulamentação vigente veda, em princípio, a atividade de carregamento
de produtos perigosos pelos motoristas, permitindo-a, entretanto, se
atendidos os pressupostos normativos relacionados à orientação do
trabalhador e à autorização do expedidor-destinatário-transportador na
consecução da tarefa. Nesse passo, a farta documentação trazida aos autos
pela reclamada (fls. 518 e seguintes) demonstra o rigoroso processo de
verificação formal quanto à capacitação do motorista para a realização do
transporte de carga especial. Ademais, indica que a empresa realiza
efetivamente a orientação dos trabalhadores para a execução das tarefas
relacionadas ao carregamento da carga, bem como capacita-os sobre as
questões envolvendo a-segurança da operação de carregamento. Contudo,
ainda que os motoristas sejam orientados na realização do transporte e
carregamento de cargas que representem risco para a saúde das pessoas,
para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7º, inciso
XXII, da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos
riscos inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista
participe da atividade de carregamento, consoante autorizado pelo
Decreto nº 96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente
se considerado o elevado risco decorrente da atividade. Ressalto, por outro
lado, que a exigência de utilização dos equipamentos de proteção
individual pelos motoristas ou a concessão de treinamento pela empresa
Firmado por assinatura digital em 26/06/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
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para a realização da função constitui obrigação que decorre da própria


legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I e II, da CLT, não
importando para o reconhecimento da regularidade da atribuição aos
trabalhadores a existência de laudos periciais judiciais ou particulares que
demonstrem o adequado gerenciamento da atividade de risco pela
empresa. De qualquer sorte, o carregamento de produtos perigosos não se
assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial nº 397/2002), o que
determina a manutenção do entendimento esposado na decisão originária.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário da reclamada, no
aspecto."
Negou provimento aos embargos de declaração da reclamada, nos
seguintes aspectos: "1. Terceirização das atividades de carregamento de
combustíveis. Contradição. Obscuridade. Arguição de não conhecimento
do recurso da reclamada. No tocante à alegada contradição ou
obscuridade do acórdão ao limitar a possibilidade de terceirização das
atividades de carregamento de combustíveis ao Pool de Passo Fundo, ao
mesmo tempo em que rejeita a arguição, formulada em contrarrazões, de
não conhecimento do recurso da reclamada por ausência de interesse,
entendo não assistir razão à embargante.
O acórdão, em exame preliminar, é claro ao enfatizar que a empresa
é legitimamente interessada para recorrer quanto às diversas bases de
operação de carregamento de caminhões-tanque no Estado do Rio Grande
do Sul em razão da natureza genérica do pedido e da sentença prolatada.
No entanto, na análise do mérito da questão, ficou decidido que a
absolvição à obrigatoriedade de contratar empregados próprios para a
realização das atividades de carregamento de combustíveis limita-se ao
Pool de Passo Fundo em face da existência de acordo formulado perante o
Ministério do Trabalho e Emprego, em que a reclamada se propôs a
realizar, quanto às demais unidades da empresa estabelecidas no Estado, a
operação de carregamento dos caminhões-tanque por meio de empregados
próprios como uma das medidas de saneamento de riscos. Nesse contexto,
denoto que o que pretende a recorrente, em suas razões de embargos de
declaração, é o reexame da matéria e a reforma da decisão que lhe foi
Firmado por assinatura digital em 26/06/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
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desfavorável. Incabível, contudo, a pretensão de reapreciação de questões


objeto de análise e julgamento do recurso ordinário, em embargos de
declaração, especialmente quando do acórdão constaram os fundamentos
que nortearam a decisão. Embargos não acolhidos. (...) 3. Omissão.
Negativa de vigência a dispositivo regulamentador. Competência
legislativa. Transporte de produtos perigosos. Carregamento de
combustíveis. Ausência de desvio funcional. (...) Todavia, no caso, 'o aresto
embargado não apresenta os vícios alegados pela reclamada., Este
Colegiado adota tese explícita no sentido de que (fl. 8904v), (...) ainda que
os motoristas sejam orientados na realização do transporte e
^carregamento de cargas que representem risco para a saúde das pessoas,
para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7º, inciso
XXII, da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos
riscos inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista
participe da atividade de carregamento, consoante autorizado pelo
Decreto nº 96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente
se considerado o elevado risco decorrente da atividade. Por outro lado, o
acórdão explicita que "a exigência de utilização dos equipamentos de
proteção individual pelos motoristas ou a concessão de treinamento pela
empresa para a realização da função constitui obrigação que decorre da
própria legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I e II, da
CLT", bem como que "o carregamento de produtos perigosos não se
assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial nº 397/2002)" (fis. 8904v-5).
Assim, não há como se confundir omissão no julgado com insatisfação com
a decisão proferida, ainda que esta comporte entendimento diverso ou
contrário às pretensões da parte. Eventuais equívocos na avaliação da
matéria ou erro de julgamento, caso este seja o entendimento da
embargante, não são passíveis de correção por meio de embargos de
declaração. Incabível, portanto, a reapreciação de questões objeto de
análise e julgamento do recurso anteriormente manejado, em sede de
Firmado por assinatura digital em 26/06/2019 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
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embargos de declaração. O reexame- de questão de mérito já decidida pelo


acórdão é consabidamente vedado, diante do contido no artigo 471 do
Código de Processo Civil. Vale notar que o prequestionamento, ainda que
necessário à interposição de recursos às instâncias superiores, não
autoriza o reexame da matéria, em relação à qual já houve
pronunciamento. Registro, por pertinente, o entendimento consubstanciado
na Orientação Jurisprudencial nº 118 da SDJ-I do TST, in verbis:
PREQUESTIONAMENTO. TESE EXPLÍCITA. INTELIGÊNCIA DA
SÚMULA Nº' 297. Havendo tese explícita sobre a matéria, na decisão
recorrida, desnecessário contenha nela referência expressa do dispositivo
legal para ter-se como prequestionado este. Ademais, destaco que o
prequestionamento não se confunde com interpretação literal de
dispositivo legal, não estando o Julgador obrigado, ainda, a manifestar-se
sobre todos os argumentos, artigos de lei e entendimentos jurisprudenciais
utilizados pela parte, mas aplicar as normas do ordenamento jurídico
pátrio incidentes, segundo o seu entendimento, fundamentando o julgado
no sentido de conferir plena prestação jurisdicional, nos termos do artigo
93, inciso IX, da Constituição Federal. Diante do exposto, não acolho os
embargos de declaração opostos pela reclamada."
Tendo em vista os fundamentos acima referidos, não constato
contrariedade à Súmula Vinculante indicada.
Não há afronta direta e literal aos preceitos da Constituição Federal
indicados, tampouco violação literal aos dispositivos de lei invocados,
circunstância que obsta a admissão do recurso pelo critério previsto na
alínea "c" do art. 896 da CLT.
À luz da Súmula 296 do TST, aresto que não revela identidade fática
com a situação descrita nos autos ou que não dissente do posicionamento
adotado pela Turma não serve para impulsionar o recurso.
A reprodução de aresto que provém de órgão julgador não
mencionado na alínea "a" do art. 896 da CLT não serve ao confronto de
teses.
É ineficaz a impulsionar recurso de revista alegação estranha aos
ditames do art. 896 da CLT.
(...) (fls. 18153/18157).

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fls.49

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

A Agravante sustenta que "... ao impedir que os motoristas


realizassem o carregamento de combustíveis sob o fundamento de que haveria um risco adicional
não inerente à atividade, deixou de levar em consideração que os motoristas dos caminhões-
tanque. justamente em razão dos riscos atrelados a sua atividade, recebiam o respectivo adicional
de periculosidade, na forma do artigo 193 da CLT..." (fl. 18199, grifo original).
Assevera que "Todas essas circunstâncias demonstram que o
motorista-carreteiro não é um simples motorista. Trata-se de profissional especializado, com
treinamento e condições de trabalho específicas. O carregamento, portanto, é inerente a sua função e,
na forma do artigo 193, tem remuneração diferenciada justamente pelas suas peculiaridades." (fl.
18201).
Enfatiza que "... conforme se extrai dos contratos de transporte que
foram carreados aos autos, foi contratado para e sempre desempenhou suas atividades nessas
mesmas e idênticas condições, não havendo que se falar em desvio de função" (fl. 18204).
Aponta ofensas aos artigos 7º, incisos XXII da
Constituição Federal, 193 e 456, § 1º, da CLT.
À análise.
O Tribunal Regional decidiu de acordo com os
seguintes fundamentos:

(...)
4. CARREGAMENTO DOS COMBUSTÍVEIS. OBRIGAÇÃO
DE NÃO EXIGIR OU PERMITIR QUE OS MOTORISTAS-
CARRETEIROS EXECUTEM AS ATIVIDADES SOZINHOS.
A sentença decidiu a controvérsia consoante os seguintes
fundamentos (fls. 8723V-6):
Anteriormente, a matéria era regulada pelo art. 19 do
Decreto 96.044/88, com a redação que lhe foi dada pelo
Decreto 4.097/2002: "O condutor não participará das
operações de carregamento, descarregamento e transbordo da
carga, salvo se devidamente orientado e autorizado pelo
expedidor ou pelo destinatário, e com a anuência do
transportador"
(...)
A Resolução ANTT n° 3886, de 06 de setembro.de 2012
alterou o teor da norma referida, a qual passou a ter a seguinte
redação:
"Art. 25. As operações de carregamento,
descarregamento e transbordo de produtos perigosos devem ser
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

realizadas atendendo às normas e instruções de segurança e


saúde do trabalho, estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e
Emprego - MTE."
A nova redação dada à norma não autoriza, no entanto, a
conclusão defendida pela ré, no sentido de que os motoristas
poderiam, sozinhos, ser responsáveis pelo carregamento da
carga perigosa a ser transportada.
A ANTT não detém competência para dispor sobre
normas relativas à segurança e à saúde do trabalhador e, até
por isso, a nova-redação da Resolução deixa de tratar sobre a
questão, remetendo a regulamentação às normas estabelecidas
pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Assim, é necessário concluir que, enquanto não for
publicado regramento específico pelo órgão referido, aplica-se
a estas atividades o disposto no Decreto 90.044/88, o qual
permanece em vigor até que o Ministério do Trabalho e
Emprego disponha em sentido diverso por meio de nova Norma
Regulamentadora, ÓU de alteração de Norma
Regulamentadora já vigente, o que - não há notícia de que
tenha ocorrido até o presente momento.
Ainda que a reclamada comprove que os motoristas são
submetidos a treinamentos específicos, o que, aliás, é exigido
pelo art. 27 da Resolução relativamente à atividade de
transporte, não é possível constatar, em que tese a farta
documentação trazida aos autos, que o treinamento fornecido é
suficiente e eficaz para sanar o acréscimo de risco a que está
submetido o motorista ao desenvolver, também, a tarefa de
carregamento e descarregamento dos produtos perigosos.
Entendo que a atividade de carregamento e
descarregamento do caminhão, por si só, em tese é plenamente
compatível com a atividade de motorista quando se trata de
uma carga comum. A carga e descarga de produtos perigosos
tem regulamentação específica e, efetivamente, agrega um
risco adicional que não é inerente à atividade desenvolvida.
Tem razão, portanto, o Ministério Público do Trabalho ao
afirmar que a imposição de um acréscimo de riscos que não
são naturalmente inerentes à função do trabalhador viola as
disposições do art. 7°, XXII da Constituição Federal, o qual
assegura o direito "à redução dos riscos inerentes ao
trabalho".
(...)
Sendo assim, defiro o pedido 2.1, para determinar à ré
que não mais exija ou permita, nos estabelecimentos que
possui, opera ou administra, que os motoristas dos caminhões
executem atividades de carregamento dos veículos sozinhos,
podendo eles apenas acompanhar ou fazer parte das
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

atividades^ quando preenchidos os requisitos do art. 19 do


Decreto 96.044/88, sejam esses motoristas empregados
próprios, de terceiros ou autônomos, sob pena, em caso de
descumprimento, de, sem prejuízo da observância da
obrigação de não fazer, pagar multa diária de R$ 100.000,00
em favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos - FDD.
(Grifos no original)
A reclamada investe contra o decidido. Argumenta que o art. 19 do
Decreto n° 96.044/88 autoriza que o motorista-carreteiro execute o
carregamento do combustível, desde que atenda aos demais requisitos
impostos na norma-, sem, contudo, vedar que o trabalhador o faça
individualmente. Invoca a interpretação conferida à norma pela
doutrinadora Carmem Camino, bem como em outras decisões proferidas
por este Regional. Salienta que os motoristas-carreteiros que trabalham no
transporte de derivados de petróleo submetem-se, por imposição legal, a
treinamento especial para a movimentação de cargas perigosas, além de
participarem de programas permanentes em segurança do trabalho por
exigência da empresa. Aduz que a vasta documentação juntada ao processo
comprova a capacitação dos motoristas dos caminhões-tanque. Menciona
que o entendimento quanto à existência de desvio funcional e risco
adicional não inerente à atividade dos motoristas pelo exercício da
atividade de carregamento decorre de equivocada interpretação conferida
ao Decreto n° 96.044/88. Alega que a jurisprudência trabalhista rechaça a
caracterização de desvio de função em razão do carregamento dos produtos,
por entendê-lo inerente à função de motorista-carreteiro. Colaciona
jurisprudência. Afirma que o Ministério do Trabalho e Emprego, por meio
da Classificação Brasileira de Ocupações - Portaria Ministerial n°
397/2002, enumera entre as atribuições do motorista-carreteiro a atividade
de coleta de cargas e operação de equipamentos. Sustenta que as normas
coletivas da categoria autorizavam expressamente, até o ano de 2002, a
execução do carregamento dos caminhões pelos motoristas. Assevera que o
Perfil Profissiográfico Previdenciário descreve dentre as atribuições dos
motoristas-carreteiros o carregamento e descarregamento dos produtos.
Entende que a realização do carregamento não representa risco adicional à
atividade do motorista, pois além de devidamente treinado para a função, o
trabalhador utiliza adequadamente os equipamentos de proteção individual.

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Alerta para o laudo pericial elaborado na ação anulatória n° 0164600-


75.2005.5.04.0018, em que reconhecido o cumprimento da legislação
atinente à medicina e segurança do trabalho pela empresa. Indica que o
acidente ocorrido na base de operação de carregamento dos caminhões,
conforme laudo técnico- juntado aos autos, ocorreu por falha humana,
devido ao não cumprimento dos procedimentos de segurança. Busca, por
fim, seja absolvida da condenação quanto ao pedido 2.1 da petição inicial.
Analiso.
Registro, inicialmente, diante dos termos do decidido em tópico
anterior, que a análise do recurso limitar-se-á à base de operação de
carregamento referente ao "Pool de Passo Fundo", o qual, consoante
alegado no processo, é administrado pela reclamada.
Com efeito, dispõe o art. 19 do Decreto n° 96.044/88, in verbis:
O condutor não participará das operações de
carregamento, descarregamento e transbordo da carga, salvo
se devidamente orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo
destinatário, e com a anuência do transportador. (Grifei)
Assim, é relevante notar que a regulamentação vigente veda, em
princípio, a atividade de carregamento de produtos perigosos pelos
motoristas, permitindo-a, entretanto, se atendidos os pressupostos
normativos relacionados à orientação do trabalhador e à autorização do
expedidor destinatário-transportador na consecução da tarefa.
Nesse passo, a farta documentação trazida aos autos pela reclamada
(fls. 518 e seguintes) demonstra o rigoroso processo de verificação formal
quanto à capacitação do motorista para a realização do transporte de carga
especial. Ademais, indica que a empresa realiza efetivamente a orientação -
dos trabalhadores para a execução das tarefas relacionadas ao '
carregamento da carga, bem como capacita-os sobre as questões
envolvendo a segurança da operação de carregamento.
Contudo, ainda que os motoristas sejam orientados na realização do
transporte e carregamento de cargas que representem risco para a saúde das
pessoas, para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo' que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7°, inciso XXII,
da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos riscos
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inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista participe da


atividade de carregamento, consoante autorizado pelo Decreto nº
96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente se
considerado o elevado risco decorrente da atividade.
Ressalto, por outro lado, que a exigência de utilização dos
equipamentos de proteção individual pelos motoristas ou a concessão de
treinamento pela empresa para a realização da função constitui obrigação
que decorre da própria legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I
e II, da CLT, não importando para o reconhecimento da regularidade da
atribuição aos trabalhadores a existência de laudos periciais judiciais ou
particulares que demonstrem o adequado gerenciamento da atividade de
risco pela empresa.
De qualquer sorte, o carregamento de produtos perigosos não se
assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial n° 397/2002), o que determina
a manutenção do entendimento esposado na decisão originária.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário da reclamada,
no aspecto.
(...) (fls. 17872/17878).

Não editada tese no acórdão regional à luz das


disposições do art. 193/CLT (ausência de proibição de exercício de
atividade perigosa), desde que pago o adicional de periculosidade
respectivo (§ 1º do art. 193 da CLT), tampouco acerca de eventual
desvio ou acúmulo de funções, a ponto de repercutir na integralidade
das cláusulas contratuais pactuadas (CLT, art. 456), incide o óbice
da Súmula 297/TST ao cabimento do recurso de revista, ante a
ausência do necessário prequestionamento da tese jurídica com
relação às matérias indicadas.
NEGO PROVIMENTO.

II. AGRAVO DE INSTRUMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO DA 4ª REGIÃO.

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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

1. CONHECIMENTO

CONHEÇO do agravo de instrumento, porque


preenchidos os pressupostos extrínsecos de admissibilidade, eis que
tempestivo (fls. 18160 e 18210), com regular representação (item I
da Súmula 436/TST), e preparo dispensado (art. 1º, IV, do Decreto-
Lei 779/69).

2. MÉRITO

2.1. CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEIS. OBRIGAÇÃO DE


CONTRATAR EMPREGADOS PRÓPRIOS. TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA.

Consta da decisão agravada:

(...)
RECURSO DE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Recurso tempestivo (decisão publicada em 27/07/2015 - fl. 8910;
recurso apresentado em 03/08/2015 - fl. 8911).
Regular a representação processual.
Isento de preparo - art. 790-A da CLT e DL 779/69.
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA/SUBSIDIARIA / TOMADOR DE
SERVIÇOS/TERCEIRIZAÇÃO ILICITUDE / ILICITUDE DA
TERCEIRIZAÇÃO.
Alegação(Ões):
- contrariedade à(s) Súmula(s) 331, I, do Tribunal Superior do
Trabalho.
- violação do(s) art(s). 2° e 3° da CLT;
A Turma absolveu a reclamada da obrigação de executar com
empregados próprios as, atividades relacionadas ao carregamento dos
combustíveis e demais produtos que comercializa, notadamente quanto ao
carregamento de caminhões-tanque em relação ao Pool de Passo Fundo, por
entender que, "... No particular, o artigo 3º dos Estatuto da reclamada, que
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

trata de seu objeto social, dispõe (fl. 73): A Companhia, agindo por conta
própria ou de terceiros, tem por fim a importação, exportação,
armazenamento, beneficiamento, venda, transporte e distribuição de
produtos de petróleo, seus derivados e outros produtos conexos, inclusive
pneumáticos, baterias e acessórios automobilísticos, como também os
respectivos equipamentos, instalações, aparelhos e máquinas do ramo em
geral, seja de origem nacional ou estrangeira, podendo prestar serviços
correlatos e ainda realizar quaisquer atividades acessórias. A situação é
análoga à examinada pela 3ª Turma deste Tribunal na ação civil pública
0000109-11.2010.5.04.0201, ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho
contra Petrobrás Distribuidora S.A. cujos fundamentos adoto: Apesar do
transporte de derivados de petróleo também ser sua atividade-fim, é
razoável que a reclamada delegue tal atividade quando realiza a venda dos
seus produtos, uma vez que atividade de suporte ao comércio e
distribuição. O carregamento dos produtos, ainda que em suas próprias
dependências, caracteriza mera atividade-meio, pois a essência de sua
atuação econômica está na produção, distribuição e comércio dos
derivados de petróleo e outros combustíveis. Sequer se perquire, por
exemplo, da necessidade de cada posto de combustíveis contar com
empregados da recorrida para fazer o descarregamento dos derivados de
petróleo distribuídos pelo país. Nesse sentido, a prestação de serviços
representada pelo contrato das fls. 61-103 - suporte operacional na
atividade de carregamento e descarga de caminhões (cláusula 1.1) - não
pode ser considerada atividade-fim, pois não inserta nas atividades
essenciais da recorrida. Embora os equipamentos necessários à prestação
dos serviços sejam da própria reclamada, conforme se depreende da
especificação dos serviços (Anexo II, fl. 84), todos os equipamentos a
serem utilizados pelos trabalhadores são fornecidos pela empresa de
prestação de serviços (Cláusula 3.1.6 do Contrato de prestação de
serviços, à fl. 62). A terceirização das atividades de carregamento e
descarga para empresa prestadora de serviços foi opção gerencial
enquanto a recorrida adota medidas para atender as condições de saúde,
medicina e segurança no trabalho, capazes de atender os termos da
decisão proferida na Ação Civil Pública nº 00075-2003-024-04-00-0, com
o objetivo de que as atividades voltem a ser realizadas pelos motoristas de
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

caminhões. Das obrigações da contratada, figura no item 3.1.6 da


Cláusula Terceira do Contrato de Prestação de Serviços que entre si fazem
a Petrobrás Distribuidora S/A e Serviço Administração e Mão de Obra
Ltda. (fls. 61-103) a relação de equipamentos de proteção individual a
serem fornecidos aos trabalhadores (fl. 62) e no item 3.1.22 (fl. 64) a
manutenção do dos programas de Controle Médico Ocupacional
(PCMSO), Prevenção e Riscos Ambientais (PPRA) e Proteção Respiratória
(PPR), exigência constante, também, da cláusula 18.8 (fl. 79). As
obrigações são estabelecidas para a prestadora de serviços, evidenciando
sua autonomia em relação à contratante. Verifica-se, portanto, que a
terceirização da atividade de carregamento e descarga de caminhões-
tanque no terminal de Canoas da recorrida não coincide com sua
atividade-fim. Segundo a Lei n.º 9.478, de 6 de agosto de 1997, que "
Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao
monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética
e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências." , em seu art.
6°, XX, distribuição é a " atividade de comercialização por atacado com a
rede varejista ou com grandes consumidores de combustíveis, lubrificantes,
asfaltos e gás liquefeito envasado, exercida por empresas especializadas,
na forma das leis e regulamentos aplicáveis;" . Não há previsão, portanto,
de a distribuição incluir o carregamento, descarga e transporte de
derivados de petróleo. Mais do que isso, a cadeia produtiva do petróleo é o
(art. 6°, XXVII, da mesma lei) " sistema de produção de petróleo, gás
natural e outros hidrocarbonetos fluidos e seus derivados, incluindo a
distribuição, a revenda e a estocagem, bem como o seu consumo." ,
incluindo, portanto, até mesmo o consumo, o que dificulta a própria
diferenciação entre atividade-meio e atividade-fim. Por outro lado, do
ponto de vista fático não há qualquer evidência no sentido de que a
prestação dos serviços fosse dirigida pela empresa-recorrida. Da mesma
forma, não está comprovada nos autos a existência de pessoalidade e
subordinação entre a recorrida e os empregados da(s) empresa(s)
prestadora(s) de serviço(s). Por fim, não há qualquer comprovação que o
meio utilizado pela empresa para desenvolver as atividades, enquanto
prepara o cumprimento das obrigações legais exigidas para a sua
realização pelos motoristas dos caminhões-tanque, tenha causado
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prejuízos aos trabalhadores, à coletividade ou ao meio ambiente, não se


podendo presumir a as lesões ao patrimônio, pessoas ou ao ordenamento
jurídico. (TRT da 04ª Região, 3a. Turma, 0000109-11.2010.5.04.0201 RO,
em 11/10/2011, Desembargador João Ghisleni Filho - Relator.
Participaram do julgamento: Desembargador Ricardo Carvalho Fraga,
Desembargadora Flávia Lorena Pacheco). Seguindo a mesma linha de
raciocínio, impõe-se absolver a reclamada da obrigação de contratar
empregado próprio para o carregamento de combustíveis e demais
produtos que comercializa. Vale referir que a presente ação trata
exclusivamente de carregamento de produtos de petróleo, não havendo
qualquer questionamento acerca dos descarregamentos juntos aos postos
de gasolina: Ora, seguindo o raciocínio do autor, o descarregamento
também deveria ser efetuado por empregados da ré. E com certeza a
atividade de descarregamento não é menos perigosa que a de
carregamento, pelo contrário, pois as instalações dos postos de gasolina
nem sempre têm o mesmo padrão de segurança das instalações da
Ipiranga. Contudo, considerando o acordo antes mencionado, a despeito
de ser legitimada para recorrer, o provimento do presente recurso limita-se
ao Pool de Passo Fundo. Nesse contexto, dou parcial provimento ao
recurso ordinário da reclamada para absolvê-la da obrigação de executar
com empregados próprios as atividades relacionadas ao carregamento dos
combustíveis e demais produtos que comercializa, notadamente quanto ao
carregamento de caminhões-tanque em relação ao Pool de Passo Fundo."
Acolheu em parte os "primeiros embargos de declaração da
reclamada para, "corrigindo erro material constante do decisum, reescrevê-
lo conforme os termos seguintes: "preliminarmente, por unanimidade,
rejeitar a prefaciai de não conhecimento do recurso ordinário da
reclamada no tocante às bases de operação de carregamento do Estado,
por ausência de interesse. Preliminarmente, por unanimidade, rejeitar a
arguição de não conhecimento do recurso ordinário da reclamada por
ausência de legitimidade, formulada em contrarrazões. No mérito, por
maioria, parcialmente vencido o Presidente, dar provimento parcial ao
recurso ordinário da reclamada para absolvê-la da obrigação de executar
com empregados próprios às atividades relacionadas ao carregamento dos
combustíveis e demais produtos que comercializa, inclusive quanto ao
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carregamento de caminhões-tanque, em relação ao Pool de Passo Fundo,


bem como para cassar a antecipação dos efeitos da tutela deferida no
tocante à obrigação de não exigir ou permitir que os motoristas dos
caminhões executem atividades de carregamento dos veículos sozinhos, nos
estabelecimentos que possui, opera ou administra. Valor da condenação
que se reduz para R$ 50.000,00 para os efeitos legais"."
Quanto aos segundos embargos, assim decidiu: "No caso dos autos, o
acórdão, de forma ampla, reconhece o direito de a reclamada terceirizar as
atividades de carregamento de combustíveis em relação às diversas bases
de operação de carregamento de caminhões-tanque no Estado. Absolve-a,
no entanto, da obrigatoriedade de contratar empregados próprios tão-
somente no Pool de Passo Fundo, em razão da existência de acordo
extrajudicial formulado entre a empresa e o Ministério do Trabalho e
Emprego quanto às demais bases de operação. Insisto, foi reconhecido o
direito de contratar trabalhadores sem vínculo de emprego com a Ipiranga
deforma ampla, mas tal reconhecimento, por si só, não é hábil a afastar a
eficácia do acordo extrajudicial realizado entre a reclamada e o Ministério
do Trabalho, o qual sequer sofre os efeitos da coisa julgada, razão pela
qual o aresto embargado não absolve a ré da obrigação contida no acordo.
Dessarte, acolho parcialmente os embargos de declaração opostos pela
reclamada para agregar fundamentos ao acórdão, sem, contudo, conferir-
lhe efeito modificativo." (Relatora: Maria da Graça Ribeiro Centeno).
Tendo, em vista os fundamentos acima referidos, não constato
contrariedade à Súmula indicada.
Não detecto violação literal aos dispositivos de lei invocados,
circunstância que obsta a admissão do recurso pelo critério previsto na
alínea "c" do art. 896 da CLT.
(...) (fls. 18148/18151).

O Autor se insurge contra a decisão em que


denegado seguimento ao recurso de revista, reiterando a observância
do artigo 896/CLT.
Afirma que "... a atividade que os motoristas dos caminhões
desempenhavam dentro dos estabelecimentos da ré, fazendo as vezes de operadores de carregamento
de combustíveis, insere-se em seus fins de comercialização e distribuição" (fl. 18216).
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Ressalta que "... os trabalhadores que executam as operações de


carregamento de combustíveis, antigamente os motoristas dos caminhões, executam essa atividade
sob permanente fiscalização dos seus prepostos. como ela mesmo admitiu, determinando a
pessoalidade e subordinação direta. (fl. 18217).
Assevera que "... nos termos do entendimento sumulado pelo Egrégio
Tribunal Superior do Trabalho, a utilização dos próprios motoristas de caminhão para a execução da
atividade de carregamento de combustíveis (atividade-fim da empresa) é suficiente para configurar a
terceirização ilícita de mão de obra..." (fl. 18218).
Aponta violação dos artigos 2º e 3º da CLT e
contrariedade à Súmula 331, I, do TST.
À análise.
O Tribunal Regional decidiu de acordo com os
seguintes fundamentos:

(...)
3. CARREGAMENTO DOS COMBUSTÍVEIS. OBRIGAÇÃO
DE CONTRATAR EMPREGADOS PRÓPRIOS. TERCEIRIZAÇÃO
ILÍCITA.
A sentença (fls. 8726-7v) reconheceu que a função de carregamento
de combustível é indispensável à consecução da atividade-fim do
empreendimento econômico, o que impede sua terceirização, nos termos da
Súmula n° 331 do TST. Assim, determinou à ré que:
passe a executar diretamente, com empregados próprios,
todas as atividades relacionadas ao carregamento dos
combustíveis e demais produtos que comercializa, notadamente
quanto ao carregamento dos caminhões-tanque, abstendo-se de
contratar ou utilizar terceiros, pessoas físicas ou jurídicas,
para realização dessas atividades, sob pena, em caso de
descumprimento de, sem prejuízo da observância da obrigação
de fazer, pagar multa diária de R$ 100,000,00 em favor do
Fundo de Defesa de Direitos Difusos -FDD. (dispositivo à fl.
8729).
Inconformada, a reclamada afirma inexistir vedação legal que
autorize a terceirização tão-somente nas funções empresariais
caracterizadas como atividades-meio. Salienta que a aplicação do
entendimento consubstanciado na Súmula n° 331 do TST importa em
violação direta ao art. 5°, inciso 11, da Constituição Federal. Argumenta
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que o carregamento de combustíveis constitui um "braço autônomo" que


contribui para a comercialização dos produtos da empresa, esta a verdadeira
atividade-fim.
Impugna a caracterização de quaisquer dos elementos característicos
da relação de emprego entre a ré e os motoristas, razão pela qual entende
lícita a terceirização. Invoca o julgamento proferido por este Regional na
ação civil pública registrada sob o n° 0000109-11.2010.5.04.0201, ajuizada
pelo Ministério Público do Trabalho em desfavor da Petrobrás Distribuidora
S.A. Requer, assim, ser absolvida da condenação quanto ao pedido 2.2 da
petição inicial.
Decido.
A diferenciação entre a dualidade atividades-fim e atividades-meio é
conceituada por Mauricio Godinho Delgado nos seguintes termos:
Atividades-fim podem ser conceituadas como as funções
e tarefas empresariais e laborais que se ajustam ao núcleo da
dinâmica empresarial do tomador dos serviços, compondo a
essência dessa dinâmica e contribuindo Inclusive para a
definição de seu posicionamento e classificação no contexto
empresarial e econômico. São, portanto, atividades nucleares e
definitórias da essência. da dinâmica empresarial do tomador
dos serviços.
Por outro lado, atividades-meio são (...) atividades
periféricas à essência da dinâmica empresarial do tomador dos
serviços. São, ilustrativamente, as atividades referidas,
originalmente, pelo antigo texto da Lei n. 5.645, de 1970:
"transporte, conservação, custódia, operação de elevadores,
limpeza e outras assemelhadas". São também outras atividades
meramente instrumentais, de estrito apoio logístico ao
empreendimento (serviço de alimentação aos empregados do
estabelecimento, etc). (In Curso de Direito do Trabalho, 13ª
ed., São Paulo: LTr, 2014-p. 468)
A Constituição Federal de 1988, por sua vez, ainda que não regule
especificamente as hipóteses permissivas da contratação de trabalhadores
por empresa interposta, impõe limites normativos claros ao instituto da
terceirização, por meio de normas assecuratórias da dignidade da pessoa
humana (art. 1°, inciso III), valorização do trabalho e pleno emprego (art.
170, caput e inciso VIII), bem como da vedação a quaisquer formas de
discriminação (art. 3°, inciso IV), fatores considerados pela jurisprudência
consoante se observa no enunciado da Súmula n° 331 do TST.
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fls.61

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

No particular, o artigo 3° dos Estatuto da reclamada, que trata de seu


objeto social, dispõe (fl. 73):
A Companhia, agindo por conta própria ou de terceiros,
tem por fim a importação, exportação, armazenamento,
beneficiamento, venda, transporte e distribuição de produtos de
petróleo, seus derivados è outros produtos conexos, inclusive
pneumáticos, baterias e acessórios automobilísticos, como
também os respectivos equipamentos, instalações, aparelhos e
máquinas do ramo em geral, seja de origem nacional ou
estrangeira, podendo prestar serviços correlatos e ainda
realizar quaisquer atividades acessórias.
A situação é análoga à examinada pela 3ª Turma deste Tribunal na
ação civil pública 0000109-11.2010.5.04.0201, ajuizada pelo Ministério
Público do Trabalho contra Petrobrás Distribuidora S.A. cujos fundamentos
adoto:
Apesar do transporte de derivados de petróleo também
ser sua atividade-fim, é razoável que a reclamada delegue tal
atividade quando realiza a venda dos seus produtos, uma vez
que atividade de suporte ao comércio e distribuição.
O carregamento dos produtos, ainda que em suas
próprias dependências, caracteriza mera atividade-meio, pois
a essência de sua atuação econômica está na produção,
distribuição e comércio dos derivados de petróleo e outros
combustíveis. Sequer se perquire, por exemplo, da necessidade
de cada posto de combustíveis contar com empregados da
recorrida para fazer o descarregamento dos derivados de
petróleo distribuídos pelo país.
Nesse sentido, a prestação de serviços representada pelo
contrato das fls. 61-103 - suporte operacional na atividade de
carregamento e descarga de caminhões (cláusula 1.1) - não
pode ser considerada atividade-fim, pois não inserta nas
atividades essenciais da recorrida.
Embora os equipamentos necessários à prestação dos
serviços sejam da própria reclamada, conforme se depreende
da especificação dos serviços (Anexo II, fl. 84), todos os
equipamentos a serem utilizados pelos trabalhadores são
fornecidos pela empresa de prestação de serviços (Cláusula
3.1.6 do Contrato de prestação de serviços, à fl. 62).
A terceirização das atividades de carregamento e
descarga para empresa prestadora de serviços foi opção
gerencial enquanto a recorrida adota medidas para atender as
condições de saúde, medicina e segurança no trabalho,
capazes de atender os termos da decisão proferida na Ação
Civil Pública n° 00075- 2003-024-04-00-0, com o objetivo de
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fls.62

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

que as atividades voltem a ser realizadas pelos motoristas de


caminhões.
Das obrigações da contratada, figura no item 3.1.6 da
Cláusula Terceira do Contrato de Prestação de Serviços que
entre si fazem a Petrobrás Distribuidora S/A e Servilit
Administração e Mão de Obra Ltda. (fls. 61-103) a relação de
equipamentos de proteção individual a serem fornecidos aos
trabalhadores (fl. 62) e no item 3.1.22 (fl. 64) à manutenção do
dos programas de Controle Médico Ocupacional (PCMSO),
Prevenção e Riscos Ambientais (PPRA) e Proteção
Respiratória (PPR), exigência constante, também, da cláusula
18.8 (fl. 79). As obrigações são estabelecidas para a
prestadora de serviços, evidenciando sua autonomia em
relação à contratante.
Verifica-se, portanto, que a terceirização da atividade de
carregamento e descarga de caminhões-tanque no terminal de
Canoas da recorrida não coincide com sua atividade-fim.
Segundo a Lei n° 9.478, de 6 de agosto de 1997, que
"Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades
relativas ao monopólio do petróleo, instituí o Conselho
Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do
Petróleo e dá outras providências.", em seu art. 6°, XX,
distribuição é a "atividade de comercialização por atacado
com a rede varejista ou com grandes consumidores de
combustíveis, lubrificantes, asfaltos e gás liquefeito envasado,
exercida por empresas especializadas, na formadas leis e
regulamentos aplicáveis;". Não há previsão, portanto, de a
distribuição incluir o carregamento, descarga e transporte de
derivados de petróleo. Mais do que isso, a cadeia produtiva do
petróleo é o (art. 6°, XXVII, da mesma lei) "sistema de
produção de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos
fluidos e seus derivados, incluindo a distribuição, a revenda e a
estocagem, bem como o seu consumo.", incluindo, portanto, até
mesmo o consumo, o que dificulta a própria diferenciação entre
atividade-meio e atividade-fim.
Por outro lado, do ponto de vista, fático não há qualquer
evidência no sentido de que a prestação dos serviços fosse
dirigida pela empresa-recorrida. Da mesma forma, não está
comprovada nos autos a existência de pessoalidade e
subordinação entre a recorrida e os empregados da(s) empresa
(s) prestadora(s) de serviço(s). Por fim, não há qualquer
comprovação que o meio utilizado pela empresa para
desenvolver as atividades, enquanto prepara o cumprimento
das obrigações legais exigidas para a sua realização pelos
motoristas dos caminhões-tanque, tenha causado prejuízos aos
trabalhadores, à coletividade Ou ao meio ambiente, não se
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

podendo presumir a as lesões ao patrimônio, pessoas ou ao


ordenamento jurídico. (TRT da 04^ Região, 3a. Turma,
0000109-11.2010.5.04.02Ó1 RO. em 11/10/2011,
Desembargador João Ghisleni Filho - Relator. Participaram do
julgamento: Desembargador Ricardo Carvalho Fraga,
Desembargadora Flávia Lorena Pacheco).
Seguindo a mesma linha de raciocínio, impõe-se absolver a reclamada
da obrigação de contratar empregado próprio para o carregamento de
combustíveis e demais produtos que comercializa.
Vale referir que a presente ação trata exclusivamente de carregamento
de produtos de petróleo, não Havendo qualquer questionamento acerca dos
descarregamentos juntos aos postos de gasolina. Ora, seguindo o raciocínio
do autor, o descarregamento também deveria ser efetuado por empregados
da ré. E com certeza a atividade de descarregamento não é menos perigosa
que a de carregamento, pelo contrário, pois as instalações dos postos de
gasolina nem sempre têm o mesmo padrão de segurança das instalações da
Ipiranga.
Contudo, considerando o acordo antes mencionado, a despeito de ser
legitimada para recorrer, o provimento do presente recurso limita-se ao
Pool de Passo Fundo.
Nesse contexto, dou parcial provimento ao recurso ordinário da
reclamada para absolvê-la da obrigação de executar com empregados
próprios as atividades relacionadas ao carregamento dos combustíveis e
demais, produtos que comercializa, notadamente quanto ao carregamento
de caminhões-tanque em relação ao Pool de Passo Fundo.
(...) (fls. 17865/17872).

Em sede de embargos de declaração, o Tribunal


Regional assim decidiu:

(...)
VOTO
DESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO
CENTENO (RELATORA):
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA RECLAMADA.

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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

OPOSIÇÃO EM FACE DE DECISÃO DE EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO.
PREQUESTIONAMENTO.
A reclamada renova, em novos embargos de declaração, a alegação de
omissão e contradição. Assevera que o acórdão consigna entendimento de
que a empresa é legitimamente interessada para recorrer quanto às diversas
bases de carregamento de caminhões-tanque no Estado, bem como
reconhece a licitude da terceirização das atividades de carregamento de
combustíveis. Salienta, contudo, que o acórdão a absolve da
obrigatoriedade de contratar empregados próprios para a realização das
atividades de carregamento de combustíveis tão-somente quanto ao Pool de
Passo Fundo. Alega que o julgado merece ser esclarecido, pois parte de
premissa equivocada em relação à extensão dos efeitos da decisão.
Alerta que, se a terceirização é declarada lícita, o provimento do
recurso deve ser amplo, notadamente em razão da eficácia erga omnes da
decisão prolatada em ação civil pública, sob pena de manutenção da
decisão de primeira instância, exceto em relação a Passo Fundo, e da
possibilidade de ocorrer julgamento extra petita. Objetiva, por fim, o
prequestionamento dos artigos 16 da Lei n° 7.347/85, 126, 128, 458, inciso
IH, 458 e 460; do Código de Processo Civil, 832 da CLT, e 93, inciso ÍX, da
Constituição Federal.
Decido.
Os embargos de declaração constituem instrumento hábil para sanar
contradição, obscuridade, omissão ou manifesto equívoco no exame dos
pressupostos extrínsecos do recurso, a teor dos artigos 897-A da CLT e 535
do CPC.
No caso dos autos, o acórdão, de forma ampla, reconhece o direito de
a reclamada terceirizar as atividades de carregamento de combustíveis em
relação às diversas bases de operação de carregamento de caminhões
tanque no Estado. Absolve-a, no entanto, da obrigatoriedade de contratar
empregados próprios tão-somente no Pool de Passo Fundo, em razão da
existência de acordo extrajudicial formulado entre a empresa e o Ministério
do Trabalho e Emprego quanto às demais bases de operação.
Insisto, foi reconhecido o direito de contratar trabalhadores sem
vínculo de emprego com a Ipiranga de forma ampla, mas tal
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reconhecimento, por si só, não é hábil a afastar a eficácia do acordo


extrajudicial realizado entre a reclamada e o Ministério do Trabalho, o qual
sequer sofre os efeitos da coisa julgada, razão pela qual o aresto embargado
não absolve a ré da obrigação contida no acordo.
Dessarte, acolho parcialmente os embargos de declaração opostos
pela reclamada para agregar fundamentos ao acórdão, sem, contudo,
conferir-lhe efeito modificativo.
(...) (fls. 17973/17975).

Quanto ao tema, registro que o inciso I do § 1º-A


do artigo 896 da CLT, incluído pela Lei nº 13.015/2014, assim
dispõe:

§ 1º-A. Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:


I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista;
(...).

No caso dos autos, observo que o Autor interpôs


recurso de revista sem indicar, em relação à matéria, os trechos da
decisão recorrida que consubstanciam o prequestionamento da
controvérsia, de forma que a exigência processual contida no
referido dispositivo não foi satisfeita.
Acrescento, ainda, que a transcrição dos trechos
do acórdão regional às fls. 17892 (ementa do acórdão), 17894/17896
(fundamentos na íntegra) e 17898, não supre a exigência do artigo
896, § 1º-A, I, da CLT, porquanto não indicada, pontualmente, a
resposta do Tribunal Regional à questão controvertida sobre a qual
se pretende a reapreciação desta Corte, com os seus fundamentos
relevantes, em atenção ao princípio da impugnação específica.
Verifico, também, que a parte não observou a
exigência do cotejo analítico, mediante confronto entre a motivação
do Tribunal Regional e os dispositivos tidos por violados,
contrariedades indicadas ou arestos transcritos ao confronto de
teses (artigo 896, § 1º-A, III, da CLT).
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

De fato, não é tarefa deste Tribunal Superior


realizar o cotejo analítico e pontual entre os motivos lançados na
decisão impugnada e os argumentos veiculados pela parte em sua peça
recursal que ensejariam o processamento da revista.
Nesse contexto, o conhecimento do recurso de
revista encontra óbice no artigo 896, § 1º-A, I, da CLT.
NEGO PROVIMENTO.

2.2. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.

O Agravante sustenta que "... em que pese tenha reconhecido a


existência de conduta ilícita por parte da ré e a tenha condenado em obrigações de não fazer-
(obrigação de não exigir ou permitir que os motoristas-carreteiros executem as atividades de
carregamento de produtos de petróleo sozinhos), deixou de conceder a antecipação de tutela para
que o comando sentencial seja exigível desde logo..." (fl. 18221).
Alega que "... a manutenção da situação ilegal no dito "Pool" de Passo
Fundo trará sérios prejuízos à saúde dos motoristas, expostos a produtos tóxicos, sujeitos a
sofrerem acidente típico ou adquirirem moléstias graves com o passar dos anos, bem como prejuízo
ao meio ambiente, em caso de explosões" (fl. 18222).
Alerta que "... em outubro de 2011, ocorreu acidente com explosão e
incêndio em terminal de abastecimento da agravada em Canoas, justamente durante operação de
carregamento que estava sendo executada pelo motorista do próprio caminhão. Nesse acidente,
ficaram feridas 6 pessoas, dentre elas o motorista do caminhão, o que deu ensejo, inclusive, a
posterior interdição do terminal de Canoas" (fl. 18223).
(fl. 18223).
Esclarece, por fim, para além de outros argumentos
apresentados, que "... o receio de ineficácia do provimento final está presente pelo
indiscutível e grave prejuízo advindo aos trabalhadores que realizam o carregamento de combustível,
que permanecerão expostos a grandes riscos pessoais e ambientais não inerentes às suas funções de
motoristas, e à sociedade em geral, exposta a acidentes como explosões" (fl. 18225).
Aponta ofensas aos artigos 7º, inciso XXII da
Constituição Federal, 84, § 4º do CDC e 11 e 12 da Lei 7347/1975,
além de divergência jurisprudencial.
À análise.

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Na esteira da motivação exposta na análise do


recurso de revista da empresa Ré, em que se deu provimento ao
referido recurso para afastar a obrigação de não fazer imposta na
sentença e ratificada pela Corte Regional, julgando-se, portanto,
improcedentes os pedidos deduzidos nesta ação civil pública, reputo
prejudicada a análise da questão atinente à antecipação dos efeitos
da tutela.

III. RECURSO DE REVISTA DE IPIRANGA PRODUTOS DE


PETRÓLEO S.A.

1. CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos extrínsecos de


admissibilidade, passo ao exame dos pressupostos intrínsecos do
recurso de revista.

1.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MOTORISTA. CAPACITAÇÃO


PARA O TRANSPORTE DE CARGA ESPECIAL. CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEL.
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER IMPOSTA. VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE (ART. 5º, II, DA CF). CARACTERIZAÇÃO.

A Reclamada sustenta que "... a decisão regional reconhece que


todos os pressupostos do artigo 19 do Decreto n° 96.044/1988 estão atendidos pela empresa,
contudo, deixa de aplicá-lo no caso concreto, ao manter a vedação da realização do carregamento
pelos motoristas, sem acompanhamento, sob o argumento de que existem riscos atrelados à
atividade" (fl. 18194).
Informa que não há "...vedação legal para impedir que a
agravante exija ou permita que os motoristas dos caminhões executem atividades de carregamento
dos veículos sozinhos..." (fl. 18195).
Argumenta que "... a decisão a quo, ao afastar a aplicação do Decreto
96.044/88, impedindo a realização da atividade de carregamento pelos motoristas, mesmo
reconhecendo que todos os requisitos para tanto foram atendidos pela empresa, representa violação
literal às disposição contidas no artigo 97 da Constituição Federal e na Súmula Vinculante n° 10."
(fl. 18196).
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PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

Aponta ofensa aos artigos 5º, II, e 97 da


Constituição Federal e contrariedade à Súmula Vinculante 10/STF.
À análise.
O Tribunal Regional decidiu de acordo com os
seguintes fundamentos:

(...)
4. CARREGAMENTO DOS COMBUSTÍVEIS. OBRIGAÇÃO
DE NÃO EXIGIR OU PERMITIR QUE OS MOTORISTAS-
CARRETEIROS EXECUTEM AS ATIVIDADES SOZINHOS.
A sentença decidiu a controvérsia consoante os seguintes
fundamentos (fls. 8723V-6):
Anteriormente, a matéria era regulada pelo art. 19 do
Decreto 96.044/88, com a redação que lhe foi dada pelo
Decreto 4.097/2002: "O condutor não participará das
operações de carregamento, descarregamento e transbordo da
carga, salvo se devidamente orientado e autorizado pelo
expedidor ou pelo destinatário, e com a anuência do
transportador"
(...)
A Resolução ANTT n° 3886, de 06 de setembro.de 2012
alterou o teor da norma referida, a qual passou a ter a seguinte
redação:
"Art. 25. As operações de carregamento,
descarregamento e transbordo de produtos perigosos devem ser
realizadas atendendo às normas e instruções de segurança e
saúde do trabalho, estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e
Emprego - MTE."
A nova redação dada à norma não autoriza, no entanto, a
conclusão defendida pela ré, no sentido de que os motoristas
poderiam, sozinhos, ser responsáveis pelo carregamento da
carga perigosa a ser transportada.
A ANTT não detém competência para dispor sobre
normas relativas à segurança e à saúde do trabalhador e, até
por isso, a nova-redação da Resolução deixa de tratar sobre a
questão, remetendo a regulamentação às normas estabelecidas
pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Assim, é necessário concluir que, enquanto não for
publicado regramento específico pelo órgão referido, aplica-se
a estas atividades o disposto no Decreto 90.044/88, o qual
permanece em vigor até que o Ministério do Trabalho e
Emprego disponha em sentido diverso por meio de nova Norma
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fls.69

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

Regulamentadora, ÓU de alteração de Norma


Regulamentadora já vigente, o que - não há notícia de que
tenha ocorrido até o presente momento.
Ainda que a reclamada comprove que os motoristas são
submetidos a treinamentos específicos, o que, aliás, é exigido
pelo art. 27 da Resolução relativamente à atividade de
transporte, não é possível constatar, em que tese a farta
documentação trazida aos autos, que o treinamento fornecido é
suficiente e eficaz para sanar o acréscimo de risco a que está
submetido o motorista ao desenvolver, também, a tarefa de
carregamento e descarregamento dos produtos perigosos.
Entendo que a atividade de carregamento e
descarregamento do caminhão, por si só, em tese é plenamente
compatível com a atividade de motorista quando se trata de
uma carga comum. A carga e descarga de produtos perigosos
tem regulamentação específica e, efetivamente, agrega um
risco adicional que não é inerente à atividade desenvolvida.
Tem razão, portanto, o Ministério Público do Trabalho ao
afirmar que a imposição de um acréscimo de riscos que não
são naturalmente inerentes à função do trabalhador viola as
disposições do art. 7°, XXII da Constituição Federal, o qual
assegura o direito "à redução dos riscos inerentes ao
trabalho".
(...)
Sendo assim, defiro o pedido 2.1, para determinar à ré
que não mais exija ou permita, nos estabelecimentos que
possui, opera ou administra, que os motoristas dos caminhões
executem atividades de carregamento dos veículos sozinhos,
podendo eles apenas acompanhar ou fazer parte das
atividades quando preenchidos os requisitos do art. 19 do
Decreto 96.044/88, sejam esses motoristas empregados
próprios, de terceiros ou autônomos, sob pena, em caso de
descumprimento, de, sem prejuízo da observância da
obrigação de não fazer, pagar multa diária de R$ 100.000,00
em favor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos - FDD.
(Grifos no original)
A reclamada investe contra o decidido. Argumenta que o art. 19 do
Decreto n° 96.044/88 autoriza que o motorista-carreteiro execute o
carregamento do combustível, desde que atenda aos demais requisitos
impostos na norma-, sem, contudo, vedar que o trabalhador o faça
individualmente. Invoca a interpretação conferida à norma pela
doutrinadora Carmem Camino, bem como em outras decisões proferidas
por este Regional. Salienta que os motoristas-carreteiros que trabalham no
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fls.70

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

transporte de derivados de petróleo submetem-se, por imposição legal, a


treinamento especial para a movimentação de cargas perigosas, além de
participarem de programas permanentes em segurança do trabalho por
exigência da empresa. Aduz que a vasta documentação juntada ao processo
comprova a capacitação dos motoristas dos caminhões-tanque. Menciona
que o entendimento quanto à existência de desvio funcional e risco
adicional não inerente à atividade dos motoristas pelo exercício da
atividade de carregamento decorre de equivocada interpretação conferida
ao Decreto n° 96.044/88. Alega que a jurisprudência trabalhista rechaça a
caracterização de desvio de função em razão do carregamento dos produtos,
por entendê-lo inerente à função de motorista-carreteiro. Colaciona
jurisprudência. Afirma que o Ministério do Trabalho e Emprego, por meio
da Classificação Brasileira de Ocupações - Portaria Ministerial n°
397/2002, enumera entre as atribuições do motorista-carreteiro a atividade
de coleta de cargas e operação de equipamentos. Sustenta que as normas
coletivas da categoria autorizavam expressamente, até o ano de 2002, a
execução do carregamento dos caminhões pelos motoristas. Assevera que o
Perfil Profissiográfico Previdenciário descreve dentre as atribuições dos
motoristas-carreteiros o carregamento e descarregamento dos produtos.
Entende que a realização do carregamento não representa risco adicional à
atividade do motorista, pois além de devidamente treinado para a função, o
trabalhador utiliza adequadamente os equipamentos de proteção individual.
Alerta para o laudo pericial elaborado na ação anulatória n° 0164600-
75.2005.5.04.0018, em que reconhecido o cumprimento da legislação
atinente à medicina e segurança do trabalho pela empresa. Indica que o
acidente ocorrido na base de operação de carregamento dos caminhões,
conforme laudo técnico- juntado aos autos, ocorreu por falha humana,
devido ao não cumprimento dos procedimentos de segurança. Busca, por
fim, seja absolvida da condenação quanto ao pedido 2.1 da petição inicial.
Analiso.
Registro, inicialmente, diante dos termos do decidido em tópico
anterior, que a análise do recurso limitar-se-á à base de operação de
carregamento referente ao "Pool de Passo Fundo", o qual, consoante
alegado no processo, é administrado pela reclamada.
Com efeito, dispõe o art. 19 do Decreto n° 96.044/88, in verbis:
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fls.71

PROCESSO Nº TST-ARR-2-25.2010.5.04.0020

O condutor não participará das operações de


carregamento, descarregamento e transbordo da carga, salvo
se devidamente orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo
destinatário, e com a anuência do transportador. (Grifei)
Assim, é relevante notar que a regulamentação vigente veda, em
princípio, a atividade de carregamento de produtos perigosos pelos
motoristas, permitindo-a, entretanto, se atendidos os pressupostos
normativos relacionados à orientação do trabalhador e à autorização do
expedidor destinatário-transportador na consecução da tarefa.
Nesse passo, a farta documentação trazida aos autos pela reclamada
(fls. 518 e seguintes) demonstra o rigoroso processo de verificação formal
quanto à capacitação do motorista para a realização do transporte de carga
especial. Ademais, indica que a empresa realiza efetivamente a orientação -
dos trabalhadores para a execução das tarefas relacionadas ao '
carregamento da carga, bem como capacita-os sobre as questões
envolvendo a segurança da operação de carregamento.
Contudo, ainda que os motoristas sejam orientados na realização do
transporte e carregamento de cargas que representem risco para a saúde das
pessoas, para a segurança pública ou para o meio ambiente, entendo' que os
motoristas-carreteiros, na realização do carregamento de combustíveis e
demais produtos perigosos, sujeitam-se a riscos adicionais não inerentes à
função de motorista, fato que contraria a previsão do artigo 7°, inciso XXII,
da Constituição Federal, o qual assegura o direito "à redução dos riscos
inerentes ao trabalho". A mera possibilidade de que o motorista participe da
atividade de carregamento, consoante autorizado pelo Decreto nº
96.044/88, não significa que possa fazê-lo sozinho, notadamente se
considerado o elevado risco decorrente da atividade.
Ressalto, por outro lado, que a exigência de utilização dos
equipamentos de proteção individual pelos motoristas ou a concessão de
treinamento pela empresa para a realização da função constitui obrigação
que decorre da própria legislação trabalhista, por força do art. 157, incisos I
e II, da CLT, não importando para o reconhecimento da regularidade da
atribuição aos trabalhadores a existência de laudos periciais judiciais ou
particulares que demonstrem o adequado gerenciamento da atividade de
risco pela empresa.

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De qualquer sorte, o carregamento de produtos perigosos não se


assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos
prevista na Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério
do Trabalho e Emprego (Portaria Ministerial n° 397/2002), o que determina
a manutenção do entendimento esposado na decisão originária.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário da reclamada,
no aspecto.
(...) (fls. 17872/17878).

O debate proposto nos autos diz respeito à


possibilidade de os motoristas de caminhões que prestam serviços à
empresa Ré executarem sozinhos, em adição, atividades de
carregamento de combustível dos veículos.
Nos termos das normas que regulamentam o
transporte rodoviário de produtos perigosos, não há, em tese,
impedimento para a realização das operações de carregamento desses
itens, desde que atendido o comando normativo vinculado à proteção e
segurança da atividade.
Nesse sentido, editado o Decreto 96.044/88, com a
redação introduzida pelo Decreto 4.097/2002, que assim dispõe: "Art.
19. O condutor não participará das operações de carregamento,
descarregamento e transbordo da carga, salvo se devidamente
orientado e autorizado pelo expedidor ou pelo destinatário, e com a
anuência do transportador".
A Resolução 3886/2012 da Agência Nacional de
Transportes Terrestres - ANTT, especificamente acerca do transporte
de produtos perigosos, conforme redação do art. 25, preconiza: "As
operações de carregamento, descarregamento e transbordo de produtos
perigosos devem ser realizadas atendendo às normas e instruções de
segurança e saúde do trabalho, estabelecidas pelo Ministério do
Trabalho e Emprego - MTE."
Na situação em apreço, a Corte Regional, embora
constatando que a farta documentação trazida aos autos demonstra o
rigoroso processo de verificação formal quanto à capacitação dos
motoristas para a realização do transporte de carga especial, que
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representam risco para a saúde – e sem se reportar a eventual


descumprimento de norma de segurança e saúde -, concluiu que o
carregamento de material combustível os sujeita a riscos adicionais,
não inerentes à atividade profissional contratual, em contrariedade
ao que dispõe a norma fundamental inscrita no art. 7º, XXII, da CF.
Deduziu aquela Corte que "o carregamento de produtos
perigosos não se assemelha à atividade de coleta de cargas e operação de equipamentos prevista na
Classificação Brasileira de Ocupações emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (Portaria
Ministerial n° 397/2002)" (fl.17878), razão por que manteve a obrigação de
não fazer imposta na origem, quanto à execução da atividade de
carregamento de combustível pelos próprios motoristas.
Assentou, ainda, a regular utilização de EPIs
pelos trabalhadores, conforme laudos periciais em que conferido o
adequado gerenciamento da atividade de risco pela empresa.
No preceito fundamental extraído do art. 7º, XXII,
da Carta Constitucional, o legislador preconiza a garantia de
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança.
Como se sabe, no exercício de seus direitos
fundamentais, o cidadão não é absolutamente livre, devendo em alguns
casos, fixados em lei, adotar posturas positivas e/ou negativas, com
deveres de abstenção e de ação, como esclarece Celso Antônio
Bandeira de Mello:

"(...) a atividade da Administração Pública, expressa em atos normativos ou


concretos, de condicionar, com fundamento em sua supremacia geral e na
forma da lei, a liberdade e a propriedade dos indivíduos, mediante ação ora
fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo coercitivamente aos
particulares em dever de abstenção (non facere) a fim de conformar-lhes os
comportamentos aos interesses sociais consagrados no sistema normativo."
(MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Poder de
Polícia. In Curso de Direito Administrativo. 27.
ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2010. p.
837)

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Para Marçal Justen Filho, o poder de polícia


administrativo é identificado na " competência administrativa de disciplinar o
exercício da autonomia privada para a realização de direitos fundamentais e da democracia, segundo
os princípios da legalidade e da proporcionalidade". (JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de
Direito Administrativo. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2006. p. 393).
Hely Lopes Meirelles o considerava como "a faculdade de
que dispõe a Administração Pública, para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e
direitos individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado". (MEIRELLES, Hely
Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 36. ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2010. p. 134).
Também sobre o tema Maria Sylvia Zanella Di Pietro
pontua que:

"(...) o Poder Legislativo, no exercício do poder de polícia que incumbe ao


Estado, cria, por lei, as chamadas limitações administrativas ao exercício
das liberdades públicas. A Administração Pública, no exercício da parcela
que lhe é outorgada do mesmo poder, regulamenta as leis e controla a sua
aplicação, preventivamente (por meio de ordens, notificações, licenças ou
autorizações) ou repressivamente (mediante imposição de medidas
coercitivas)". (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito
Administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p.
117)

Embora fundamentalmente exercitado por agentes


públicos, o poder de polícia administrativo (CTN, art. 78),
aplicável ao universo das relações de trabalho (CF, art. 21, XXIV,
c/c os arts. 155 a 201 da CLT e art. 11 da Lei 10.593/2002),
representa importante instrumento de afirmação e defesa da eficácia
das normas de direito social, razão pela qual, além do Ministério
Público do Trabalho e dos Sindicatos, também as empresas, cuja
responsabilidade social é expressamente referida em vários preceitos
do Texto Constitucional (CF, arts. 5º, XXIII, 170, 173, § 1º, I,
182, § 2º, 184 e 186), estão habilitadas a adoção de medidas

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vinculadas a esse mesmo objetivo de máxima realização das normas de


proteção social.
No caso dos autos, tendo sido delineada, no
acórdão regional, premissa relacionada ao cumprimento das normas de
proteção ao trabalho, parece-me imprópria a mitigação do exercício
da atividade proposta, sob o pálio de ofensa ao referido preceito
protetivo.
Explico.
Conforme deflui do acórdão, a Corte Regional,
embora reconhecendo que o carregamento dos caminhões com
combustível, exercitado pelos motoristas, encontrava-se em
consonância com as normas e instruções de segurança e saúde do
trabalho, estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE
(art. 19 Decreto 96.044/88 c/c o art. 25 da Resolução ANTT
3886/2012), manteve a sentença em que imposta obrigação de não
fazer, ligada ao exercício de tal atividade, com base na parte
inicial do artigo 7º, XXII, da CF.
Tal preceito dispõe que constitui direito dos
trabalhadores urbanos e rurais a "redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança".
Ao assim decidir, a Corte Regional conferiu
autonomia normativa à fração inicial da norma constitucional,
desconsiderando que o próprio legislador vinculou aquele objetivo às
normas de segurança e proteção ao trabalho.
Em outras palavras, na forma disposta no Texto da
Constituição, a redução dos riscos há de ser implementada em
conformidade com as normas editadas pelo Poder Público, no exercício
do poder de polícia assegurado no art. 21, XXIV, da própria
Constituição Federal.
A reserva de conformação administrativa
constitucionalmente prevista no art. 7º, XXII, da CF, impede a
adoção de vias outras para a realização daquele ideal – redução de
riscos no ambiente laboral, disso resultando a ausência de
competência político-institucional do Poder Judiciário para dispor
sobre a questão.
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Conforme lecionam a Ministra Kátia Magalhães


Arruda e Rubem Milhomem, "Não se pode esquecer a relevância do art. 5º, II, da CF, que,
enquanto positivação do princípio da legalidade, não tem apenas um conteúdo mínimo que se impõe
na interpretação constitucional. Pelo contrário, é o desdobramento e a síntese do próprio Estado
Democrático ‘de Direito’ consagrado no art. 1º da Carta Magna, exigindo, nesse status
constitucional de profundo significado, a sua plena concretização." (A Jurisdição
Extraordinária do TST na Admissibilidade do Recurso de Revista, 2ª
ed., São Paulo, LTR, 2014, pag. 302).
A técnica de interpretação adotada na esfera
regional, portanto, acabou impondo a ruptura da unidade de sentido
do texto normativo, alcançando resultado contrário ao próprio
procedimento inscrito no dispositivo constitucional.
Consequentemente, ao impor obrigação de não fazer
sem lastro normativo, fundada na leitura fracionada do preceito
constitucional reputado aplicável (CF, art. 7º XXII), a Corte de
origem malferiu o artigo 5º, II, da Constituição Federal que
consagra o princípio da legalidade, autorizando a intervenção desta
Corte para a adequação cabível.
Diante do exposto, CONHEÇO do recurso de revista
por vulneração do artigo 5º, II, da Constituição Federal.

2. MÉRITO

2.1. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MOTORISTA. CAPACITAÇÃO


PARA O TRANSPORTE DE CARGA ESPECIAL. CARREGAMENTO DE COMBUSTÍVEL.
OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER IMPOSTA. VULNERAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE (ART. 5º, II, DA CF). CARACTERIZAÇÃO.

Como consequência lógica do conhecimento do


recurso de revista por violação do artigo 5º, II, da Constituição
Federal, DOU-LHE PROVIMENTO para, reformando o acórdão regional,
afastar a obrigação de não fazer imposta na sentença e ratificada
pela Corte Regional, julgando-se, portanto, improcedentes os pedidos
deduzidos nesta ação civil pública.

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ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quinta Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, por unanimidade, I - dar parcial provimento ao
agravo de instrumento de IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A. para,
convertendo­o   em   recurso   de   revista,   determinar   a   reautuação   do
processo   e   a   publicação   da   certidão   de   julgamento   para   ciência   e
intimação   das   partes   e   dos   interessados   de   que   o   julgamento   do
recurso de revista se dará na primeira sessão ordinária subsequente
à data da referida publicação, nos termos dos artigos 256 e 257 do
Regimento  Interno  desta  Corte; II - negar provimento ao agravo de
instrumento do Ministério Público do Trabalho; e III - conhecer do
recurso   de   revista  de IPIRANGA PRODUTOS DE PETRÓLEO S.A., por
violação   do   artigo   5º,   II,   da   Constituição   Federal   e,   no   mérito,
dar­lhe   provimento   para, reformando   o   acórdão   regional,   afastar   a
obrigação de não fazer imposta na sentença e ratificada pela Corte
Regional, julgando­se, portanto, improcedentes os pedidos deduzidos
nesta   ação   civil   pública. Invertido o ônus da sucumbência, custas
pelo Autor Ministério Público do Trabalho, de cujo pagamento fica
isento (CLT, art. 790-A, II).
Brasília, 19 de junho de 2019.

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DOUGLAS ALENCAR RODRIGUES
Ministro Relator

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