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DIREITO TRIBUTÁRIO

LIMITAÇÕES AO PODER DE
TRIBUTAR
 Embora o tributo seja inerente a qualquer governo, em qualquer época da
História, houve um período em que revoluções (motivadas invariavelmente por
razões tributárias) levaram ao estabelecimento, ou a um mais eficaz
restabelecimento, visto que algumas já existiam na Antiguidade, de normas que
limitam esse poder de tributar.
 Aliás, tais revoluções levaram ao surgimento e à consolidação do próprio
Estado de Direito e à promulgação das primeiras Constituições e Declarações
de Direitos nos quais se estabelecem limites ao poder estatal em seus mais
variados aspectos, tal como ainda hoje conhecidas.
 Foi o que se deu com a revolta dos barões contra João Sem Terra, que levou à
Carta Magna de 1215; com a Revolução Gloriosa de 1688; com a independência
americana e as tentativas de tributação, por parte da metrópole, sem o voto dos
colonos; com a Revolução Francesa diante do inconformismo do povo em relação
aos pesados tributos exigidos pela Corte de Luís XVI, dentre vários outros
exemplos que poderiam ser aqui apontados.
 Em face de tais normas, limitadoras do poder de tributar, este passa a ser
conhecido como competência tributária, assim entendido o poder de tributar
devidamente legitimado, limitado e, se for o caso, dividido em seu exercício por
uma Constituição.
 No caso do Brasil, em virtude de sua forma federativa, o poder, além de
limitado, é também dividido, em seu exercício, entre União, Estados-membros,
Distrito Federal e Municípios. É por isso que se diz que a finalidade do Direito
Tributário é disciplinar – estabelecendo critérios e impondo limites – a maneira
como o Poder Público poderá instituir e cobrar tributos.
 Para dar rigidez aos mais importantes desses limites, evitando que sejam
suprimidos ou revogados do ordenamento jurídico, e para que a eles se submetam
não apenas as autoridades do Poder Executivo, mas também o próprio Poder
Legislativo de cada ente tributante, optou-se por inseri-los no texto da
Constituição.
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 Não por acaso, a separação dos poderes, o princípio da legalidade e a ideia de


rigidez e supremacia constitucionais surgiram no mesmo período, como fruto das
já referidas revoluções liberais, cujas motivações foram marcadamente tributárias.
 Tem-se, assim, as chamadas limitações constitucionais ao poder de tributar,
previstas, na CF/88, precipuamente em seus arts. 150, 151 e 152. Depois de
legitimado, delimitado e dividido pela Constituição, o poder de tributar é então
chamado de competência tributária.
 O exercício da competência tributária não é absoluto.
 A Constituição impõe limites à competência tributária, ora no interesse do
cidadão, ou da comunidade, ora no interesse do relacionamento entre as próprias
pessoas jurídicas titulares de competência tributária, daí surgem os princípios
com a função de proteger o particular e delimitar o poder de tributar do
Estado

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

 De acordo com o art. 150, I, da CF/88, é vedado à União, aos Estados, ao


Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o
estabeleça
 Não pode haver tributos além daqueles dispostos na CF, e é ela que distribui as
competências para a tributação
 É o conhecido princípio da estrita legalidade. Diz-se estrita porque considerada
mais “exigente” que a legalidade “ampla”, ou “genérica”, já contida no art. 5º, II,
da CF/88
 A ideia da legalidade é própria do Estado de Direito. É algo que se encontra
no artigo 5º, II, da Constituição Federal: “Ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. É uma garantia do
cidadão contra abusos por parte dos governantes.
 Lei, para fins de atendimento do princípio da estrita legalidade, é o ato normativo
editado pelo órgão dotado da função legislativa, nos termos do processo
legislativo previsto constitucionalmente (lei em sentido formal). Ainda, sendo
necessário a hipoteticidade, logo, geral e abstrato (lei em sentido material)
 A criação ou aumento, extinção ou diminuição de tributos só pode ocorrer por lei
em sentido estrito, passar sobre o crivo do legislativo
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 Não é só a criação e o aumento de tributos que exigem lei. De acordo com o


princípio do “paralelismo das formas”, também a redução e a extinção de
tributo dependem de lei de igual ou superior hierarquia.
 Isso é um reforço ao Estado democrático, trazendo a legitimidade para as
ações do legislativo, ainda permite a participação da sociedade, visto que foi o
legislativo foi eleito pelos cidadãos, devendo refletir suas vontades
 A medida provisória também pode criar tributos, pois essa tem força de lei, o
que significa ter a aptidão de fazer tudo o que a uma lei competiria fazer,
desde que, naturalmente, sejam observadas as exigências e as exceções
previstas na própria Constituição
 podem exigir ou aumentar qualquer tributo, desde que este não tenha que ser
instituído por lei complementar (art. 62, III, CF).
 Note-se que, exceto em relação aos impostos previstos nos arts. 153, I, II, IV,
V, e 154, II, a MP só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se
houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editado
(art. 62, § 2º, CF).
 Só pode ser editada nos casos de relevância e urgência (cuja presença o STF
ordinariamente entende não ter competência para avaliar), a medida provisória
não pode tratar de matéria privativa de lei complementar (CF/88, art. 62, §
1º, III). Isso significa, no campo tributário, que tal espécie normativa não pode
ser utilizada, por exemplo, na criação de empréstimos compulsórios (CF/88,
art. 148), do imposto sobre grandes fortunas (CF/88, art. 153, VII) e de
impostos ou contribuições “residuais” destinadas à seguridade social (CF/88,
art. 154, I, e 195, § 4º).
 Não pode regulamentar imunidades nem traçar normais gerais de em
matéria tributária
 Para que o tributo se considere “criado” pela lei, é preciso que, partindo
apenas do texto legal, seja possível determinar em quais circunstâncias será
devido (hipótese de incidência), por quem (sujeito passivo), em que montante
(base de cálculo e alíquota) e a qual ente tributante (sujeito ativo). Não basta
que a lei lhe anuncie o nome e transfira para o decreto, ou para outro ato normativo
inferior, a definição de tais elementos essenciais. Apenas o prazo para o
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recolhimento do tributo, caso já não esteja fixado na lei, pode ser estabelecido
e alterado por norma infralegal.
 Por isso o princípio da legalidade tem como desdobramento o princípio da
tipicidade tributária, que disciplina que a lei deve descrever com clareza em
quais hipóteses o tributo será devido, assim, fazendo, por exclusão, que não seja
devido em todas as outras hipóteses não referidas
 Como consequência do princípio da legalidade, ressalvadas as exceções
previstas na própria Constituição
 somente a lei pode estabelecer a instituição de tributos ou a sua extinção;
 a majoração de tributos ou a sua redução;
 a definição do fato gerador da obrigação principal e de seu sujeito passivo;
 a fixação da alíquota do tributo e de sua base de cálculo;
 a cominação de penalidades para as infrações nela definidas e as hipóteses de
exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou
redução de penalidades (CTN, art. 97).
 A lei, em decorrência do princípio da legalidade, precisa ser clara e de fácil
compreensão, sem contradições ou obscuridades
 As exceções estabelecidas pela Constituição ao princípio da estrita legalidade
tributária dizem respeito apenas à fixação das alíquotas do imposto de
importação, do imposto de exportação, do IPI e do IOF (e, depois, por obra
do poder constituinte derivado, também da CIDE-Combustíveis), que podem
ser majoradas ou reduzidas por ato infralegal do Poder Executivo. Ainda
assim, devem ser atendidas condições e limites estabelecidos em lei, ou seja, a
lei deve necessariamente determinar uma alíquota máxima e uma mínima (que
geralmente é zero), bem como os parâmetros que o Executivo deverá observar
para, em cada caso e dentro desses limites, fixar a alíquota correspondente.
 É dever da autoridade que efetua o lançamento do tributo a demonstração
de que ocorreram os fatos previstos em lei como pressuposto para a
incidência da regra legal tributária, e é seu dever, também, investigar os
aspectos de fato suscitados pelo contribuinte em oposição a essa cobrança. A
produção de provas não deve ser vista como favor ou benefício concedido ao
contribuinte, mas como algo indispensável a que a lei seja corretamente aplicada:
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afinal, aplicar a lei a fatos diversos dos nela previstos como necessários e
suficientes à sua incidência é o mesmo que violar suas disposições
 O Princípio da Legalidade desdobra-se em quatro facetas, assim apontadas
por Gerd W. Rothmann:
 Legalidade da administração, regra que implica as autoridades
administrativas estarem vinculadas, em sua atuação, à legislação
tributária, bem como a obrigatoriedade, implicando o dever de a
administração cobrar o tributo nascido com a lei. É por isso que o artigo 142
do CTN dispõe que o lançamento é uma atividade administrativa vinculada e
obrigatória: a administração pública não pode deixar de cobrar o tributo;
 Reserva da lei, a especificação da regra da legalidade da administração,
vinculando-a não ao direito, de uma forma genérica, mas à lei formal,
entendida como aquela elaborada com a participação precípua de
representação popular. Mais uma vez, esclareça-se que a jurisprudência já
pacificou o entendimento de que a Medida Provisória, que tem força de
lei em virtude do artigo 62 da Constituição Federal, atende ao Princípio
da Legalidade;
 Estrita legalidade tributária, enquanto regra que contém a proibição
constitucional de instituir tributos sem lei que o estabeleça;
 Conformidade da tributação com o “fato gerador”, que, como se verá,
assume a feição de princípio (mandamento de otimização), ao dispor que não
pode a lei deixar ao critério da administração a diferenciação objetiva,
devendo ela própria realizar esta diferenciação, prevendo, na maior
medida possível, os aspectos necessários à configuração do “fato gerador”.
Assim, não basta o legislador autorizar a criação do tributo, genericamente; a
ele cabe descrever a situação que dará nascimento à obrigação tributária.
 São tributos que só podem ser criados, aumentados, reduzidos ou extintos
por lei complementar
 Empréstimos compulsórios (art.148, CF)
 Impostos sobre grandes fortunas (art.153, VII, CF)
 Imposto residual, ou seja, de competência residual (art.154, II, CF)
 Contribuição de seguridade social residual (art.195, §4º, CF)
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 O STF, numa interpretação a contrário sensu entendeu que as matérias não


elencadas no art. 97 do CTN não estão sujeitas à “reserva legal”, podendo ser
tratadas por atos infralegais (como um decreto, uma portaria, uma instrução
normativa). Essencialmente são as seguintes:
 Obrigações acessórias, que são obrigações instrumentais não pecuniárias
instituídas no interesse da arrecadação e fiscalização dos tributos. Contudo,
isto não pode ocorrer em relação à estipulação de penalidade pelo
descumprimento de qualquer obrigação tributária.
 Prazos para pagamento/recolhimento de tributos;
 Correção monetária (o próprio CTN, no § 2º do art. 97, explicita que a
atualização monetária da base de cálculo não constitui majoração de tributo).
Note-se que os Estados podem adotar índices locais para a correção monetária
de seus tributos, uma vez que tal matéria não se insere na competência
privativa da União (art. 22, VI, CF), e sim da competência concorrente do
art. 24, I, CF (STF, RE 143.871-SP, Rel. Min. Marco Aurélio). Contudo, não
se pode utilizar percentual superior ao índice oficial de correção monetária
(Súmula 160 STJ).
 Conclui-se que todas as matérias relativas à obrigação principal (criação
extinção de tributos, aumento e diminuição de tributos, estabelecimento de
infrações, de multas e sua graduação, suspensão, exclusão e extinção do crédito
etc.) estão reservadas à lei.
 O que não estiver ligado à existência ou à quantificação da obrigação principal,
como regra, não se encontra reservado à lei.
 a iniciativa das leis que disponham sobre matéria tributária, nas três esferas
de governo (federal, estadual e municipal), não é privativa ou reservada.
Apenas no caso de leis sobre matéria tributária concernente aos Territórios
Federais, a iniciativa é privativa do Presidente da República (art. 61, § 1º, II, “b”,
CF).
 O STF entendeu que Tribunal de Justiça tem legitimidade para iniciativa de
lei estadual instituidora de taxa de polícia com fundamento na fiscalização das
atividades dos serviços notariais e de registro exercida pelo Judiciário estadual
(ADI 3151/MT, Rel. Min. Carlos Brito).
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 É possível a utilização, em matéria tributária, da lei delegada (art. 68, CF),


cuja delegação será dada mediante resolução do Congresso Nacional, que
especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. Entretanto, não é
possível a delegação legislativa “em branco”, ou seja, o Poder Executivo não
pode, fundando-se em mera permissão legislativa constante de lei comum, valer-
se do regulamento delegado ou autorizado como sucedâneo da lei delegada para
efeito de disciplinar, normativamente, temas sujeitos à reserva constitucional de
lei (STF, ADIn 12967, Rel. Min. Celso de Mello).

MITIGAÇÃO DO PRINCÍP IO DA LEGALIDADE

 A flexibilização de um princípio tão rígido encontra justificativa no fato de que,


o próprio constituinte viu em certos tributos um veículo interessante para
introduzir no ordenamento jurídico normas indutoras do comportamento
dos contribuintes. Ou seja: desejou o constituinte que o Poder Executivo, dentro
de certos limites, pudesse valer-se do tributo como um instrumento de intervenção
no Domínio Econômico.
 Art. 153, § 1º, CF: Autoriza o Poder Executivo, por ato próprio (atos
administrativos, infralegais), alterar as alíquotas do Imposto de Importação (II),
Imposto de Exportação (IE), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Não é autorização absoluta ao
Executivo, já que deverão ser observadas as condições e limites estabelecidos
em lei. Inexistindo a lei, não pode o Executivo exercer a prerrogativa (norma
constitucional de eficácia limitada).
 Motivo: Esses impostos têm natureza extrafiscal (intervenção no setor
produtivo, incentivando ou desestimulando atividades por meio de maior ou
menor tributação). Fez-se necessário dotar o Executivo de meio ágil para
alteração de suas alíquotas, para produção dos efeitos pretendidos. Essas
exações são gravames regulatórios ou reguladores de mercado.
 A Emenda Constitucional n. 33/2001 criou mais duas exceções ao princípio da
legalidade:
 Art. 177, § 4º, I, “b” c/c art. 149 §2º, II, ambos da CF, permite ao Poder
Executivo reduzir e restabelecer, por ato próprio (infralegal, exemplo de
decreto presidencial), as alíquotas da contribuição de intervenção no
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domínio econômico relativa às atividades de importação ou


comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados
e álcool combustível (CIDE-combustível). A sistemática é a seguinte: Uma
vez estabelecida a alíquota pela lei, o Poder Executivo pode reduzi-la,
mediante ato infralegal. Nesse caso, poderá restabelecê-la novamente até que
atinja o mesmo valor estabelecido pela lei (não mais do que esse patamar).
 Art. 155, § 4º, inciso IV, alínea “c”, da Constituição. Os Estados e Distrito
Federal devem, mediante convênio celebrado no âmbito do CONFAZ –
Conselho Nacional de Política Fazendária, pelos representantes de seus
Poderes Executivos (veja Lei Complementar n. 24/75), definir as alíquotas
do ICMS incidente em etapa única sobre os combustíveis e lubrificantes
definidos em lei complementar, possuindo esses convênios, ainda, a
prerrogativa de reduzir e restabelecer essas alíquotas.
 Incidência unifásica ou monofásica: Nesse caso não há sistema de débitos
e créditos, ou seja, não existe incidência em mais de uma etapa da cadeia
produtiva, não fazendo sentido, portanto, falar em “compensação de valor
devido em uma etapa com montantes pagos em etapas anteriores”. Trata-se de
um mecanismo semelhante à substituição tributária, pois a lei atribui a um
determinado contribuinte a responsabilidade pelo tributo devido em toda a
cadeia de um produto ou serviço. O objetivo desse sistema é facilitar a
cobrança e a fiscalização do tributo pelo sujeito ativo.
 Conclui-se que o princípio da legalidade tributária é absoluto quanto à instituição
de tributos, mas pode ser mitigado em relação à alteração de alíquotas, nas
hipóteses previstas na Constituição Federal
 Matérias tributarias que não dependem de lei em sentido estrito, são as que
não estão no art 97, CTN. Essas matérias podem ser expressas por legislação
tributária (Art. 96.CTN, A expressão "legislação tributária" compreende as leis,
os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas
complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações
jurídicas a eles pertinentes.)

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;


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II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21,


26, 39, 57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o


disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto


nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus


dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de


dispensa ou redução de penalidades.

§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que


importe em torná-lo mais oneroso.

§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste


artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

 assim não dependem de lei, podendo ser instituídas por legislação tributária
 prazo de vencimento do tributo (art.160, CTN)
 instituições de obrigações tributarias acessórias (art.133, § 2º, CTN)
 atualização da base de cálculo do tributo (art.97, §2º, CTN) desde que
respeitados os índices oficiais de correção monetária (STJ 160)
 Sumula 160 STJ: “É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto,
em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.”

PRINCÍPIO DA ISONOMIA

 É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir


tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou
função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos
rendimentos, títulos ou direitos (CF/88, art. 150, II).
 Trata-se de desdobramento, ou explicitação, do princípio geral da isonomia, ou da
igualdade, que neste caso foi consagrado expressamente não apenas em seu
aspecto formal (atendido com a mera generalidade da lei tributária), mas também
em sua feição substancial, que significa tratar igualmente os iguais, e
desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam.
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 Indica duas concepções:


 Dirige-se ao legislador (igualdade na lei): Veda-lhe o tratamento diverso
para situações iguais ou equivalentes, isto é, todos devem ser tratados com
igualdade pelo legislador.
 Dirige-se ao intérprete da lei (igualdade perante a lei): Diante de
determinada lei, toda e qualquer pessoa que se enquadre na hipótese
legalmente descrita ficará sujeita ao mandamento legal. Não há pessoas
“diferentes” que possam, sob tal pretexto, escapar do comando legal, ou ser
dele excluídas. O intérprete não pode diferenciar as pessoas, para efeito
de ora submetê-las, ora não, ao mandamento legal (assim como não se lhe
faculta diversificá-las, para o fim de ora reconhecer-lhes, ora não, benefício
outorgado pela lei)
 Para que se possa concretizar o Princípio da Igualdade, é preciso que se tenha
um critério de comparação constitucionalmente justificado. Ou seja: para que
se atenda ao Princípio da Igualdade, percorrem-se três etapas: primeiro,
encontra-se um critério; em seguida, busca-se fundamentação constitucional
para o critério encontrado. Finalmente, comparam-se as situações a partir do
critério eleito.
 O critério eleito deve ser adequado para identificar motivação suficiente para
o tratamento diferenciado, como exigência da razoabilidade
 Em matéria tributária, em regra, o critério usado é a capacidade contributiva
 Diz-se em regra porque, em situações excepcionais, nas quais se estiver utilizando
o tributo para atingir finalidades extrafiscais, por exemplo, outras medidas de
desigualdade podem ser consideradas (v. g., tributos mais altos para o cigarro, não
por conta da maior capacidade contributiva de quem fuma, mas em face da
nocividade desse produto).
 Dino Jarach assim conceitua a capacidade contributiva: “É a potencialidade
de contribuir com os gastos públicos que o legislador atribui ao sujeito
passivo particular. Significa ao mesmo tempo existência de uma riqueza em
posse de uma pessoa ou em movimento entre duas pessoas e graduação de
obrigação tributária segundo a magnitude da capacidade contributiva que o
legislador lhe atribui”
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 A tributação segundo a capacidade contributiva pode assumir duas feições: a


absoluta e a relativa. Enquanto do ponto de vista relativo (subjetivo) a
capacidade contributiva se aplica a todos os tributos, no sentido absoluto
(objetivo), ela é um critério a ser empregado para distinguir quem será
contribuinte
 A capacidade contributiva pode ser:
 capacidade contributiva relativa ou subjetiva: um limite ou critério para
a graduação da tributação; a parcela dessa riqueza que será objeto da
tributação em face de condições individuais (capacidade contributiva como
critério de graduação e limite do tributo)
 capacidade contributiva absoluta ou objetiva: um parâmetro para a
distinção entre situações tributáveis e não tributáveis. Esta será “a
existência de uma riqueza apta a ser tributada (capacidade contributiva
como pressuposto de tributação)”
 o princípio da isonomia não veda a concessão de isenções, de maneira geral, mas
impede que estas sejam instituídas de maneira discriminatória, a partir de
critérios não razoáveis, até como forma de preservação da livre concorrência, no
que tange a isenções concedidas a agentes econômicos que concorrem com outros
eventualmente não isentos, pois não pode tratar desigualmente os contribuintes
semelhantes
 A distinção legal deve ser feita tendo em conta, sempre, uma justa ponderação
dos valores constitucionais envolvidos, sendo razoável em função da
finalidade que com a norma se quer chegar.
 Na prática, caberá ao Poder Judiciário, em cada caso, decidir se uma lei
desrespeitou ou não o princípio da isonomia, utilizando-se como instrumento
para tanto o princípio da razoabilidade. O STF já decidiu que: “a lei tributária
pode discriminar por motivo extrafiscal entre ramos de atividade econômica,
desde que a distinção seja razoável” (ADIMC 1643).
 Contudo, segundo o STF, quando uma lei deixe de incluir em uma regra
instituidora de um benefício ou vantagem um grupo, classe ou categoria de
pessoas que deveriam ter sido incluídas, por estarem em situação equivalente à
dos beneficiários da lei, o Judiciário, embora possa reconhecer a ofensa à
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isonomia, nada pode fazer pelo grupo que esteja pleiteando ser incluído na regra
instituidora do benefício.
 Isto se dá porque, segundo jurisprudência do STF, o Judiciário não pode atuar
como “legislador positivo” (criando norma legal), somente podendo fazê-lo
como “legislador negativo” (negando aplicação de determinada lei ou norma a
um caso concreto, ou mesmo retirando-a do mundo jurídico, no caso de controle
abstrato de constitucionalidade).
 O acolhimento da inconstitucionalidade pode resultar na declaração de
“nulidade da norma concessiva da isenção, mas não a extensão jurisdicional
dela aos fatos arbitrariamente excluídos do benefício, dado que o controle da
constitucionalidade das leis não confere ao Judiciário funções de legislação
positiva” (REx 191526-9, Rel. Sepúlveda Pertence).

PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE

 Se do Princípio da Legalidade já se tem a ordem de que somente em virtude


de uma lei é que surgirá a obrigação tributária, o Princípio da
Irretroatividade vem em seu complemento, esclarecendo que a referida lei
deve ser anterior ao próprio fato tributado
 É proibida a exigência de tributos em relação a fatos ocorridos antes do início da
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado
 Ressalta-se que a vigência (aptidão para produzir efeitos) não precisa coincidir
com a data da publicação.
 A vedação à retroatividade das leis não comporta qualquer exceção relativamente
à instituição ou ao aumento de tributos.
 Não existem situações excepcionais nas quais seja possível exigir tributo em
relação a um fato ocorrido antes de iniciar-se a vigência da lei correspondente.
Entretanto, como se trata de proteção do cidadão contribuinte em face do
Estado, a limitação de que se cuida não impede o poder público de editar
normas de efeitos retroativos em benefício do contribuinte (p. ex., anistia,
redução de penalidades etc.).
 “É inconstitucional a aplicação retroativa de lei que majora a alíquota
incidente sobre o lucro proveniente de operações incentivadas ocorridas no
passado, ainda que no mesmo ano-base, tendo em vista que o fato gerador se
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consolida no momento em que ocorre cada operação de exportação, à luz da


extrafiscalidade da tributação na espécie”. (STF Repercussão Geral no RE
592.396-7)
 o tema da irretroatividade passa pela questão da segurança jurídica: busca-se
proteger a confiança do contribuinte na situação jurídica existente.
Consoante salientado pelo Ministro Celso de Mello, “a essencialidade do
postulado da segurança jurídica e a necessidade de se respeitarem situações
consolidadas no tempo, amparadas pela boa-fé do cidadão, representam fatores a
que o Judiciário não pode ficar alheio”
 Art. 105, CTN: A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos
geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência
tenha tido início, mas não esteja completa.
 Ou seja, mesmo que o início do fato gerador se antes, sua conclusão que irá
definir a norma a ser utilizada.

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE

 A lei nova quando é meramente interpretativa (art.106, I, CTN) poderá


retroagir a fatos pretéritos (em qualquer caso), excluída a aplicação de
penalidade por eventual infração dos dispositivos interpretados.
 A lei nova que extingue ou reduz penalidade (art. 106, II, CTN), ex: lei nova,
posterior ao fato gerador, que instituiu uma alíquota e uma multa mais baixas, a
alíquota mais benéfica não pode ser aplicada, mas a multa menor sim. A alíquota
mesmo que mais benéfica na data do pagamento não retroagira em benefício do
contribuinte. Essa retroatividade só é possível em atos não transitados em julgado

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:


I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de
penalidade à infração dos dispositivos interpretados;
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão,
desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de
tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da
sua prática.
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 Lei nova que estabeleça novos critérios de controle e de fiscalização ou que


outorgue ao crédito tributário maiores garantias e privilégios (art.144, §1º,
CTN)

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

 O Princípio da Anterioridade impõe a existência de um prazo entre a lei que


institui ou aumenta um tributo e o início de sua vigência.
 Pode ser chamado de "anterioridade privilegiada", ou "anterioridade
qualificada", "anterioridade nonagesimal", “anterioridade mínima" ou, ainda,
"princípio da carência" (esta, uma expressão de José Afonso da Silva)
 Objetiva alcançar o princípio geral da não-surpresa, próprio do Estado de
Direito.
 O princípio de desdobra em:
 Anterioridade do exercício financeiro (art. 150, III, “b”, CF): Veda a
cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro no qual eles tenham
sido instituídos. Poucos importa se esta ocorreu em Janeiro ou em Dezembro,
a cobrança somente poderá ocorrer no exercício seguinte ao da publicação
da lei que os instituiu ou aumentou.
o Versa sobre a eficácia da lei tributária e qualquer tentativa de suprimir este
direito representará afronta a CF.
o As obrigações acessórias não precisam obedecer ao princípio da
anterioridade.
o O exercício financeiro corresponde ao período entre 1º de Janeiro e 31
de Dezembro, incluindo-se ambos os dias na contagem.
 Anterioridade mínima/noventena (art. 150, III, “c”, CF): Estabelece a
antecedência mínima de 90 dias entre a instituição ou majoração de
determinado tributo e sua efetiva cobrança.
o Aplicável aos tributos em geral (exceção das contribuições sociais)
o Visa evitar abuso do poder legislativo que instituísse norma tributária
nos últimos dias do exercício financeiro.
o Ampliação da anterioridade ordinária.
DIREITO TRIBUTÁRIO

o Também se aplica as reduções de tributos, criação de obrigações


acessórias, cominação de penalidades, exclusão, suspensão ou
extinção de créditos tributários e dispensa ou redução de penalidades.
o O prazo deve ser contado de modo combinado com o período da
anterioridade. Não é a soma, mas a obediência recíproca.
o Exceções: se referem geralmente aos tributos que possuem uma elevada
carga de extrafiscalidade. Ex. II, IE, IPI, IOF.
o Também não se aplicam na hipótese de simples prorrogação de alíquota
já aplicada anteriormente
 Anterioridade Nonagesimal (art. 195, §6º, CF) Aplicado APENAS as
contribuições sociais.
o Os tributos podem ser instituídos e cobrados no mesmo exercício
financeiro, desde que observados 90 dias entre a sua publicação e
entrada em vigor
 O que a Constituição faz, nos seus arts. 150, III, b e c, e 195, § 6º, é estabelecer
uma vacatio legis obrigatória (porquanto imposta por norma hierarquicamente
superior, que não pode ser afastada por disposição da própria lei de cuja vacatio
se cogita) para as leis que instituem ou aumentam tributos, como forma de
prestigiar o princípio da segurança jurídica.
 Medidas Provisórias: em decorrência das regras sobre medidas provisórias,
advindas da EC n. 42/2003, bem como da conciliação do princípio da
anterioridade, da anterioridade nonagesimal e da noventena, resulta:
 Na instituição de impostos por meio de medidas provisórias, deverão ser
observadas, cumulativamente, três requisitos:
o o princípio da anterioridade tributária (mudança de exercício
financeiro), previsto no art. 150, III, “b”, ressalvadas as exceções
estabelecidas no art. 150, § 1º;
o a conversão da medida provisória em lei até o último dia daquele
exercício em que foi publicada, ressalvadas as exceções previstas no art.
62, § 2º;
o o transcurso de um período mínimo de noventa dias entre a publicação
da medida provisória e a efetiva exigência do tributo (ressalvadas as
DIREITO TRIBUTÁRIO

exceções previstas no art. 150, § 1º e a fixação da base de cálculo do IPVA


e do IPTU)
 Na instituição dos impostos II – IE – IPI – IOF – IEG e das demais
espécies tributárias (taxas, contribuições e contribuições de melhoria) por
meio de medida provisória, não há que se falar na observância do disposto
no art. 62, § 2º, da CF, devendo ser avaliada, caso a caso, a aplicação (ou
não) dos princípios da anterioridade (art. 150, III, “b”, observadas as
exceções previstas no art. 150, § 1º) e da “noventena” (art. 150, III, “c”,
observadas as exceções previstas no art, 150, § 1º).

Anterioridade Anterioridade
Tributo
do Exercício de 90 dias

o todos (impostos, taxas, contribuições etc.), salvo os Sim Sim


abaixo especificados.

o contribuições destinadas à Seguridade Social, Não Sim


fundadas no art. 195 da CF/88 (p. ex., COFINS,
CSL);
o imposto sobre produtos industrializados – IPI;
o CIDE-combustíveis (apenas quanto às alíquotas);
o ICMS-combustíveis (apenas se e quando for
implementada a sistemática da EC nº 33/2001, e
somente quanto às alíquotas).

o IPVA e IPTU (somente quanto à fixação da base Sim Não


de cálculo);
o Imposto de Renda

o empréstimo compulsório destinado a atender Não Não


despesas extraordinárias com guerra ou calamidade
pública;
o imposto de importação;
DIREITO TRIBUTÁRIO

o imposto de exportação;
o imposto sobre operações de crédito, câmbio e
seguros – IOC ou IOF;
o imposto extraordinário de guerra.

 Finalmente, observe-se que, pela mesma razão que a mera fixação do prazo
para pagamento do tributo não se submete ao princípio da legalidade, entende
o STF que também não há exigência de que se observe o princípio da
anterioridade: “Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação
tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade” (Súmula 669/STF). Afinal,
trata-se apenas do prazo para cumprir os efeitos de uma norma já incidente, sobre
fatos já ocorridos, sem, contudo, alterar esses efeitos a serem cumpridos.

PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO

 Em função do direito de propriedade e da proteção à livre-iniciativa, na


Constituição foi explicitada a proibição de que o tributo seja utilizado com
efeito de confisco (art. 150, IV).
 O Princípio da Proibição do Efeito de Confisco exterioriza a necessidade de um
limite máximo para a pretensão tributária. Estende-se a todos os tributos,
conforme se extrai do texto constitucional:
 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV – utilizar tributo com efeito de confisco;
(...)
 Pode ser difícil determinar, de forma prévia, quando um tributo é confiscatório e
quando não o é. Mas isso não impede o Poder Judiciário de, caso considere estar
havendo confisco, considerar o tributo inconstitucional por ofensa a esse
princípio, porquanto confiscar significa, como esclarece Humberto Ávila,
“aniquilar a eficácia mínima dos princípios da proteção da propriedade e da
liberdade em favor da tributação.”
 Para se avaliar se um tributo está sendo usado de forma confiscatória, seu
“ônus” deve ser considerado em conjunto com os demais tributos que oneram
o mesmo fato, e não isoladamente
DIREITO TRIBUTÁRIO

 Assim, mesmo que a Constituição autorize a União a instituir mais de um


tributo sobre um mesmo fato (por exemplo, IRPJ e CSLL, ou IRPF e
contribuição previdenciária), haverá inconstitucionalidade se esses dois
tributos, somados, tornarem-se confiscatórios, mesmo que cada um,
isoladamente, aparentemente não o seja.
 Segundo parte dos estudiosos do Direito Tributário, a vedação ao confisco diz
respeito apenas aos tributos, não alcançando as penalidades pecuniárias
(multas). Para os partidários de tal corrente, o verdadeiro limite ao poder de
aplicar multas é a proporcionalidade que deve haver entre o montante da multa e
a gravidade da infração praticada.
 Infrações leves, havidas no âmbito de operações não tributadas, que não causam
prejuízos ao Erário, por exemplo, não devem ser punidas com multas pesadas em
função da desproporção entre a infração e a multa, e não por conta do suposto
caráter “confiscatório” destas.
 Para outros autores, porém, as multas também estão abrangidas pelo
princípio, e não podem ser confiscatórias.
 Ambos estão corretos, em certo sentido, se admitirmos que as multas realmente
não podem ser confiscatórias, e que o confisco acontece não quando se desrespeita
a “capacidade contributiva” do infrator, mas sim quando a multa é
desproporcionalmente elevada diante da pequena gravidade do ilícito
correspondente
 Esse parece ter sido o posicionamento assumido pelo STF. No julgamento da ADI
551/RJ, por exemplo, quando da concessão da medida cautelar, o STF
simplesmente afirmou que as multas também não podem ser confiscatórias
 Em seu voto, o Min. Ilmar Galvão consignou que “o eventual caráter de
confisco de tais multas não pode ser dissociado da proporcionalidade que
deve existir entre a violação da norma jurídica tributária e sua consequência
jurídica, a própria multa”. As penalidades pecuniárias (multas tributárias),
portanto, não podem ser confiscatórias, desde que assim entendidas não
propriamente aquelas que se afigurarem “elevadas”, mas sim as que forem
desproporcionais ao ilícito que visam combater
 Não existe uma alíquota limite a partir da qual se possa afirmar que o tributo
assumiu natureza confiscatória. Um tributo pode ter alíquota elevada, a
DIREITO TRIBUTÁRIO

exemplo de IPI sobre bebida alcoólica, mas nem por isso se pode ser dizer que
possui efeito de confisco. Muitas vezes um tributo elevado revela apenas o seu
efeito extrafiscal.
 É por isso que a doutrina afirma que o princípio em estudo pode ser entendido
como uma exigência de razoabilidade da carga tributária, ou, pelo menos, de
tolerabilidade da transferência de riqueza privada para o Estado por meio dos
tributos.

PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO

 Estabelece a Constituição ser vedado à União, aos Estados-membros, ao


Distrito Federal e aos Municípios estabelecer limitações ao tráfego de pessoas
ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a
cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.
 Trata-se do conhecido princípio da liberdade de tráfego, que tem fundamento na
forma federativa de Estado, pois serve para viabilizar a integração entre os
diversos entes que compõem o Estado Federal
 O citado princípio não veda, propriamente, a cobrança de tributos em
operações interestaduais ou intermunicipais. Não há uma imunidade para essas
operações. O que não é possível é tributá-las de modo mais pesado que as
operações internas, utilizando-se o tributo como forma de desestimular o tráfego
de pessoas e bens dentro do território nacional.
 EX: se um comerciante estabelecido no Ceará compra mercadorias de outro,
estabelecido no Piauí, pode haver a incidência do ICMS, mas o ônus fiscal não
deve ser superior ao que incidiria se a mercadoria tivesse sido comprada dentro
do próprio Estado do Ceará.
 O fato de haver sido transposta uma fronteira estadual ou municipal não
pode ser motivo para a cobrança de um tributo específico, nem fator de
discriminação para a elevação de um tributo já existente.
 Para evitar dúvidas, a Constituição ressalvou a possibilidade de cobrança de
pedágio pelo uso de vias conservadas pelo Poder Público, sendo importante
observar que esse pedágio, para ser válido, deve ter como fundamento o uso da
via, e não a transposição da fronteira em si mesma.
DIREITO TRIBUTÁRIO

 Objetiva proibir tributos cujo fato gerador pretendesse ser a transposição de


divisas interestaduais ou intermunicipais. Ou seja, veda que o fato gerador de
qualquer tributo seja especificamente a circulação intermunicipal ou
interestadual de pessoas ou mercadorias.
 Em razão do princípio em questão, são inconstitucionais as normas estaduais
que exigem uma “antecipação” do ICMS pelo simples fato de a mercadoria
ser oriunda de outros Estados, especialmente quando o contribuinte que as
pretende revender é optante do SIMPLES, sistemática de recolhimento
unificada e simplificada de tributos, aplicável às microempresas e empresas
de pequeno porte (LC 123/2006), pois não se assegura a tais empresas sequer o
direito ao crédito do imposto que são forçadas a “antecipar”, o que faz com que
paguem a exação novamente quando da venda da mercadoria ao consumidor final.
Essa distorção, contudo, ainda não foi corrigida pela legislação, nem coibida pelo
Poder Judiciário

PRINCÍPIO DA UNIFORM IDADE GEOGRÁFICA

 Dirige-se especificamente à união, segundo princípios da isonomia e de respeito


ao pacto federativo.
 Art. 151. É vedado à União
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que
implique distinção ou preferência em relação ao Estado, ao Distrito Federal ou a
Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais
destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as
diferentes regiões do País;
(...)
 Veda, por exemplo, tratamento diferenciado entre contribuintes de regiões
diferentes/diferentes entes federativos.
 A instituição de tributos deve ser uniforme em todo o território nacional,
admita a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento socioeconômico entre diferentes regiões do país.
 O princípio também é aplicado analogicamente aos Estados quanto a seus
Municípios.

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DE TRIBUTAÇÃO DE RENDAS


DIREITO TRIBUTÁRIO

 Art. 151. É vedado à União:


(...)
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos
respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas
obrigações e para seus agentes;
 Como a União tem a competência para tributar a renda, por meio do imposto
de renda, se ela estabelece uma diferença de alíquota apenas para rendas
oriundas de divida publica federal, é como se ela quisesse com isso privilegiar
e atrair as ações apenas para os títulos federais, os Estados e municípios
seriam prejudicados

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO ÀS ISENÇÕES HETERÔNOMAS

 Art. 151. É vedado à União:


(...)
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal
ou dos Municípios.
 Esse princípio haveria de ser respeitado, ainda que não fosse expresso, pois diz
respeito a existência da federação.
 Uma entidade federativa não pode sofrer abalo em sua autonomia
econômica-financeira por atitude de outra.
 Portanto, as isenções são autônomas às entidades federativas, e não se permite a
União “conceder cortesia com chapéu alheio”.
 Ressalta-se que o princípio não se aplica à multa fiscal moratória. Esta se constitui
pena administrativa e não se caracteriza como tributo.
 Em relações a isenções em caso de tratados internacionais, o STF tem adotado
o posicionamento de que o âmbito de aplicação do princípio é o da relação
das entidades federadas entre si, e não quando a União se apresenta na ordem
externa.
 Em verdade, uma vez que nesses casos a União representa a todos, poderiam
até ser classificadas como isenções autônomas propriamente ditas.
 Na Constituição de 1988 há duas exceções a esse princípio:
DIREITO TRIBUTÁRIO

 O artigo 155, § 2º, XII, “e”, autoriza a União a, por meio de lei
complementar, excluir da incidência do ICMS serviços e outros produtos
exportados para o exterior além daqueles a que a CF atribui imunidade
tributária. Esse dispositivo chegou a ser regulamentado pela LC n. 87/96.
 Contudo, ficou sem aplicação depois da EC n. 42/2003, que alterou o artigo
155, § 2º, X, “a”, da CF, de modo que a imunidade do ICMS na exportação
passou a abranger todas as mercadorias (e não apenas produtos
industrializados) e serviços destinados ao exterior.
 Artigo 156, § 3º, II, que autoriza a União a editar lei complementar que
exclua da incidência do ISS as exportações de serviços para o exterior. A
regulamentação encontra-se no artigo 2º, I, da LC n. 116/2003.
 Tratados internacionais: podem conceder isenções ou outros benefícios
fiscais relativos a tributos da competência da União, Estados, Distrito Federal
ou Municípios. Nesse caso, a União apresenta-se na ordem externa, não sendo
alcançada pelo princípio em estudo, que se aplica apenas nas relações das
entidades entre si.

PRINCÍPIO DA NÃO-DISCRIMINAÇÃO TRIBUTÁRIA

 Art. 152, CF. Veda aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer
diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua
procedência ou destino.
 Fundamenta-se nos princípios federativo e da isonomia, constituindo-se em
num desdobramento do princípio da uniformidade geográfica. Também encontra-
se conectado ao princípio que veda o estabelecimento de restrições ao tráfego
de pessoas ou bens.
 Evita-se com isso a chamada “guerra fiscal” entre os componentes da
federação.

PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

 Art. 145, § 1º, CF. Estabelecido apenas para impostos.


 Caráter pessoal dos impostos: Refere-se à distinção entre impostos
pessoais e reais. Os primeiros têm natureza subjetiva, pois levam em conta
condições pessoais do contribuinte, enquanto os segundos incidem sobre
DIREITO TRIBUTÁRIO

bens e operações considerados objetivamente, sem nenhuma relação direta


com a condição pessoal do contribuinte.
 Nesse contexto, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal, cujas
circunstâncias individuais deverão ser levadas em conta para efeito de
tributação.
 Graduação conforme a capacidade contributiva: É regra básica: “deve pagar
mais quem pode pagar mais”! Pode ser alcançado de diversos modos
 Nos impostos pessoais: a exemplo da redução da base de cálculo do
imposto, mediante deduções de despesas essenciais, ou da progressividade
(maior alíquota para maior base de cálculo), no caso do IR.
 Nos impostos reais: o princípio da capacidade contributiva é atendido pela
simples proporcionalidade. Ou seja, alíquota constante, base de cálculo
variável. Ex.: IPVA com alíquota de 3%, incidente sobre base de cálculo
variável (o valor do veículo). Exceção para o IPTU, após a EC 29/2000 (deu
nova redação ao art. 156, § 1º, CF).

PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA

PRINCÍPIO DA SELETIV IDADE

 O princípio da seletividade, para o IPI (art. 153, § 3º, I, da CF/88) e para o ICMS
(aart.155, §2º, III, CF) é uma regra constitucional que estabelece que tanto a
União, no caso do IPI, como os Estados, no caso do ICMS, ao estabelecerem as
alíquotas que serão cobradas vão observar a essencialidade do produto, de
modo que existam alíquotas maiores para aquelas mercadorias que sejam
consideradas supérfluas e alíquota menor para os produtos considerados
essenciais
 O critério da seletividade é utilizado para concretização da capacidade
contributiva. Significa, em linhas gerais, que, quanto mais essencial for o
produto menor deverá ser a carga tributária incidente, justamente para
proporcionar acesso.
 Neste sentido, os produtos que compõem a cesta básica serão tributados de forma
reduzida, porque são elementares para dignidade humana. Todavia, quem
consome produtos não essenciais demonstra deter maior capacidade contributiva.
Produtos menos essenciais e, portanto, supérfluos, como cigarros, bebidas
DIREITO TRIBUTÁRIO

alcoólicas etc., recebem um tratamento tributário mais enérgico, justamente


porque não são essenciais.
 Diferente da seletividade do ICMS que é facultativa, a Seletividade do IPI é
obrigatória.

PROGRESSIVIDADE, PROPORCIONALIDADE E REGRESSIVIDADE

 É um sub-princípio da capacidade contributiva


 A progressividade é um instrumento tributário que visa concretizar o
postulado da capacidade contributiva do contribuinte, ou seja, quem detém
mais riquezas, deve contribuir mais para a manutenção do Estado. Nesse sentido,
a interpretação da progressividade tem maior afinidade com tributos cuja
característica é pessoal.
 Todavia, a CF e o STF têm entendimentos que, em casos excepcionais, haverá
progressividade em impostos REAIS. São eles:
 ITR: manutenção de propriedades improdutivas
 IPTU: Função social da propriedade
 ITCMD: STF 562.045/RS
 Art.153, §2º, I, CF, imposto de renda (IR), cabe ao legislador decidir como a
progressividade do Imposto de Renda se dará
 Art.153, §4º, I, CF, ITR, a progressividade desse imposto busca forçar o dono
do imóvel a torná-lo produtivo
 Arts 156, §1º, I, CF (fiscal) e 182, §4, II, CF (extrafiscal)que tratam do IPTU,
 A fixação das alíquotas percentuais de um tributo pode dar-se de modo
proporcional, progressivo ou regressivo. No primeiro caso, a alíquota
percentual será idêntica, pouco importando o valor da base de cálculo. Nos dois
últimos casos, a alíquota percentual crescerá ou decrescerá, respectivamente,
conforme cresça a base de cálculo.
 Súmula 668 STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes
da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se
destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.
 Súmula 656 STF: É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas
para o imposto de transmissão inter vivos de bens imóveis - ITBI com base no
valor venal do imóvel.
DIREITO TRIBUTÁRIO

 O STF se filia a interpretação no sentido de só ser possível aplicação de


alíquotas progressivas para impostos reais ante a expressa autorização da
Constituição
 Obs: o supremo no RE562045 passou admitir alíquotas progressivas para
o ITCMD por causa do princípio da capacidade contributiva, pois não foi
entendido como um imposto real e sim pessoal, visto que para ser calculado
as características da pessoa que serão levadas em conta
 Súmula 539 STF: É constitucional a lei do Município que reduz o imposto predial
urbano sobre imóvel ocupado pela residência do proprietário, que não possua
outro.
 Súmula 589 STF: É inconstitucional a fixação de adicional progressivo do
imposto predial e territorial urbano em função do número de imóveis do
contribuinte.

NÃO CUMULATIVIDADE

 A Constituição Federal, ao tratar do IPI (art.153, §3º, II, CF) e do ICMS


(art.155, §2º, I, CF), determina que ambos os impostos sejam não
cumulativos. A não cumulatividade é, ainda, opção aberta pelo constituinte
derivado para as contribuições sociais. Cabe, assim, conhecer a não
cumulatividade, enquanto técnica inserida no âmbito do estudo da tributação
sobre o consumo
 Na entrada se tem um crédito, que se pagou embutido no peço, na saída,
quando se calcular o débito, esse terá desconto do valor da etapa anterior
 Sumula 411 STJ: É devida a correção monetária ao creditamento do IPI quando
há oposição ao seu aproveitamento decorrente de resistência ilegítima do Fisco.
 Sumula 495 STJ: A aquisição de bens integrantes do ativo permanente da
empresa não gera direito a creditamento de IPI.
DIREITO TRIBUTÁRIO

IMUNIDADES

 Há imunidade quando a Constituição veda a criação e a cobrança de tributos


sobre determinados fatos ou sobre determinados sujeitos, retirando-os do
âmbito das regras que delimitam a competência tributária, âmbito no qual, do
contrário, não fosse a regra imunizante, tais fatos ou sujeitos estariam
normalmente abrangidos.
 Trata-se de um impedimento constitucional, hierarquicamente superior,
verdadeira limitação à competência tributária dos entes tributantes.
 A lei, se pretender criar o tributo sobre a pessoa ou situação imune, será
inconstitucional.
 A distinção entre a imunidade e a isenção: enquanto a primeira é matéria
constitucional, sendo limitação à atuação do legislador, a isenção é assunto
que se compreende dentro da competência do legislador ordinário. Vale a
regra: quem pode tributar também pode isentar
 A imunidade surge como uma limitação da própria competência tributária e
tal como a competência, a imunidade é matéria tratada pela própria Constituição
Federal. Uma e outra, em conjunto, delimitarão o campo onde pode atuar o
legislador na instituição de um tributo.
DIREITO TRIBUTÁRIO

 A isenção é estabelecida por lei, e não pela Constituição. É o ente tributante


(União, Estado, Município...), competente para criar o tributo, que edita
norma mais específica que a norma de tributação, estabelecendo exceções (as
hipóteses de isenção) nas quais o tributo não será devido. Em princípio, do
mesmo modo que a lei concedeu a isenção, pode também a qualquer tempo
revogá-la.
 Na sistemática adotada pelo Código Tributário Nacional, a isenção não se
confunde com a não incidência, mas pressupõe a incidência. É por isso que a
isenção é incluída, no artigo 175 do Código Tributário Nacional, como
hipótese de exclusão do crédito tributário. Ou seja: no modelo teórico ali
inserido, o crédito tributário surge, mas o pagamento é dispensado, por conta da
isenção. Assim é que a isenção está compreendida dentro do campo da incidência
da norma, já que o legislador contemplou a hipótese (e por isso não seria caso de
falar-se em não incidência), mas isentou o contribuinte do pagamento
 a não incidência abrange todas aquelas situações não descritas na lei como
sendo tributadas.
 Se o legislador tratou da hipótese e decidiu não tributá-la, então há isenção; não
incidência surgiria apenas quando o legislador se omitisse sobre a situação.
 Para se diferenciar uma isenção de uma hipótese de não incidência apenas
explicitada na legislação, basta imaginar qual seria a consequência do
desaparecimento da regra correspondente. Se o tributo continuar não sendo
devido, trata-se de não incidência; se tornar-se devido, tem-se isenção. Imagine-
se, por exemplo, que uma lei estadual disponha “O IPVA não incide sobre: (i)
ambulâncias; (ii) bicicletas e patinetes”. No caso do inciso (i), tem-se uma isenção,
e, no (ii), uma não incidência apenas explicitada
 Doutrina majoritária entende as imunidades como clausulas pétreas, pois
envolvem garantias fundamentais
 Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de
determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer
tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.
 Súmula 544 STF: Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não
podem ser livremente suprimidas.
 As imunidades NÃO versam apenas sobre impostos
DIREITO TRIBUTÁRIO

 Segundo o art. 150, VI, da CF/88, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios instituir impostos sobre:
 patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
 templos de qualquer culto;
 patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações,
das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de
assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
 livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão;
 fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras
musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral
interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou
arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de
mídias ópticas de leitura a laser.
 A impossibilidade de cobrança de impostos sobre o patrimônio, renda ou
serviços uns dos outros é conhecida como imunidade recíproca e representa
proteção da forma federativa de Estado.
 Além de evitar que União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios se
destruam mutuamente, ou tentem fazê-lo, com o uso da tributação, a imunidade
de que se cuida parte de duas premissas importantes e relacionadas: entes
federativos não podem exercer a soberania uns sobre os outros e tampouco
eles estão sujeitos ao dever de solidariedade no pagamento de impostos, pois
eles já pertencem à coletividade
 A imunidade é extensiva às autarquias e fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes (CF/88, art.
150, § 2º), mas não abrange o patrimônio, a renda e os serviços da entidade que
estejam relacionados à exploração de atividade econômica regida pelas normas
inerentes aos empreendimentos privados, ou em que haja pagamento de preço ou
tarifa pelo usuário.
 Também não exime o promitente comprador da obrigação de pagar imposto
relativamente a bem imóvel (CF/88, art. 150, § 3º).
 A imunidade dos templos de qualquer culto tem por finalidade proteger o
direito fundamental às liberdades de crença e de culto religioso, evitando que
DIREITO TRIBUTÁRIO

o Estado (em sentido amplo) reprima ou interfira no seu exercício através dos
impostos.
 Sua abrangência é ampla, alcançando não apenas o imóvel no qual os cultos
são realizados (imune ao IPTU ou ao ITR e ao ITBI), mas quaisquer outros, e
mesmo outros bens, rendimentos e serviços, desde que relativos às finalidades
essenciais da entidade (CF/88, art. 150, § 4º).
 Segundo o STF, até mesmo imóveis alugados a terceiros são beneficiados com
a imunidade, desde que a receita obtida com o aluguel reverta para o
financiamento das finalidades essenciais da entidade religiosa (STF – RE
325.822/SP – DJ de 14/5/2004, p. 33).
 O STF tem o entendimento pacífico de que a locação de imóveis de entidades
imunes, quando a renda do aluguel é revertida para suas finalidades
essenciais, não afasta a regra imunizante.
 Conforme o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a imunidade
recíproca é extensiva às sociedades de economia mista e empresas públicas
que prestam serviços públicos essenciais e obrigatórios, ainda que
remunerados por tarifas, desde que não haja apropriação privada dos lucros
obtidos com a atividade pública, preservando-se, assim, o patrimônio, a
renda e os serviços vinculados às suas finalidades essenciais.
 em sede de repercussão geral (no RE 330817), aprovou-se a tese segundo a qual
“a imunidade tributária constante do artigo 150, VI, ‘d’, da Constituição
Federal, aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-lo”.
 A imunidade de livros, jornais e periódicos abrange inclusive os chamados
“álbuns de figurinhas”, vale dizer, “álbuns a serem completados por cromos
adesivos considerados tecnicamente ilustrações para crianças” (RE 339.124).
 Súmula 730 do STF: A imunidade tributária conferida a instituições de
assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, "c", da Constituição,
somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não
houver contribuição dos beneficiários
 Imunidade em relação às contribuições sociais:
DIREITO TRIBUTÁRIO

 A contribuição para a seguridade social não incidirá sobre aposentadoria e


pensão concedidas pelo regime geral de previdência de que trata o art. 201
(art. 195, II da CF).
 São isentas de contribuições sociais para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em
lei (art. 195, §7º da CF). Embora mencione “isentas”, trata-se de imunidade.
 Imunidades com relação as taxas:
 Art. 5º XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento
de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;
 O art. 149, § 2º, I, da CF/88 concede imunidade em relação às contribuições
(sociais ou de intervenção no domínio econômico), quanto às receitas oriundas de
exportações. Essa imunidade tem por propósito estimular as exportações
brasileiras, evitando que o ônus representado pelas contribuições tire a
competitividade do produto brasileiro no exterior.
 No informativo n.767 (2014), o STF assentou que a imunidade recíproca da
ECT alcança até mesmo os serviços por ela prestados em regime de
concorrência, a exemplo do serviço de entrega de bens e mercadorias. Para o
Supremo, a hipótese cuida de uma espécie de “financiamento cruzado” dos
Correios. Quer dizer, imunizam-se também esses serviços típicos da iniciativa
privada para que a empresa pública tenha condições financeiras de prestar os
serviços exclusivos, que, em geral, geram prejuízo econômico à empresa. Caso se
restringisse a imunidade recíproca apenas aos serviços prestados em regime de
monopólio, tributando os demais, a ECT não subsistiria financeiramente, e a
imunidade a ela conferida perderia o sentido.
 Outras imunidades
 Imposto Territorial Rural – ITR, relativamente à pequena gleba rural, sempre
que o seu proprietário a explorar e não possuir outro imóvel (CF/88, art. 153,
§ 4º, II);
DIREITO TRIBUTÁRIO

 ICMS, sobre operações que destinem mercadorias para o exterior e sobre


serviços prestados a destinatários no exterior (CF/88, art. 155, § 2º, X, a);
 ICMS, sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive
lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia
elétrica (CF/88, art. 155, § 2º, X, b);
 ICMS, sobre o ouro utilizado como ativo financeiro (CF/88, art. 155, § 2º, X,
c);
 ICMS, nas prestações de serviço de comunicação nas modalidades de
radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita, embora
essa hipótese possa ser considerada mera explicitação de uma não incidência
que ocorreria com ou sem a regra “imunizante” (CF/88, art. 155, § 2º, X, d).

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