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Faça-se a Beleza!
Quando Deus vê, no fim de cada dia da obra da criação que “Tudo era bom”, ele vê
que tudo é belo, pois a palavra grega usada é “Kalón”palavra usada para dizer que é
formoso, é belo e ao mesmo tempo dizer que é bom.
Paul Evdokimov diz: “ao criar o mundo do nada, o Criador, como poeta divino,
compõe sua sinfonia em seis dias e em cada um dos seus gestos “viu que era
belo”.
A potencia do amor divino contém o universo e do caos faz o Cosmos, a Beleza.
Normalmente, todo ser vivo, está direcionado para o Sol da Beleza divina(...)na sua
essência foi criado com sede de beleza, ele mesmo é a sede, porque imagem de
Deus”.
Deus se revelou por primeiro na obra da criação, e sua primeira palavra foi: “Faça-se a
luz”! Isto quer dizer também, faça-se a Revelação e com ela faça-se a Beleza!
O homem por sua vez criado a imagem de Deus, foi criado com sede de Beleza pois
sua origem é Beleza, Deus. “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”. (Gn
1,26). Imagem e semelhança não são sinônimas. Semen= imagem, cópia; demut =
semelhança, correspondência, parentesco. Somos do parentesco de Deus,portanto
somos belos. Deus criou o ser humano a sua imagem, criou-o com a sua mesma
beleza.
A imagem comporta a presença indestrutível da graça inerente à natureza humana.
Independente das fraquezas, do pecado que nos fez perder a semelhança, não
perdemos a imagem, diz São Gregório Palamas. A imagem perdura, sem mudanças
porem esta imagem é ineficaz; o mal destrói a capacidade de semelhança, que no-la é
restituída pelo caminho sobrenatural.Nenhum mal poderá apagar o mistério inicial da
criatura, pois nada apagará a marca indelével de Deus. Por isso aspiramos à Beleza, a
aquela beleza original, a beleza de Deus.
Nós somos imago dei. Este é o primeiro destino do ser humano.
A Beleza de Cristo
Sois belo, o mais belo dos filhos dos homens. (Sl45,3) ”Jesus é a beleza suprema”,
exclama o coração de Teresinha.
O Deus, aquele que ninguém pode contemplar o seu rosto sem morrer, mostrou-se na
face resplendente do seu filho Jesus Cristo. (conf II Cor 4,6).
O Deus que contém a beleza infinita e indizível, enviou o seu Filho, cheio de graça e
de verdade, e nós contemplamos a sua glória. Jesus, ‘imagem de Deus invisível’
reflexo da sua glória (2 Cor 4,4-6), é o mais belo dos homens, quem o viu, viu o Pai. A
beleza de Jesus é única e “todos nós recebemos de sua plenitude”. (Jo 1,16).
Santo Agostinho canta a beleza “formoso sendo Deus, o Verbo em Deus (...) És
belo no céu e na terra; ‘és formoso no seio, nos braços de teu Pai, belo nos
milagres, nos açoites, formoso no teu nascimento não preocupando-se com a
morte, belo dando a vida, belo retomando-a, belo na cruz, na sepultura e no céu.
Ouçam entendendo o cântico, e a fraqueza da sua carne, não afastem de seus
olhos o esplendor de sua formosura” Vita Consecrata n 24.
O homem coberto de vergonha e temor, se esconde do Senhor que passeia no jardim.
E Jesus passeia pelo jardim, o busca e o chama e grita: “onde estás?” (Gn 3,9).
“levanta te e vem, trago, para ti uma túnica de beleza”.
Jesus vem resgatar-nos da caída, nos salva, não somente expiando o pecado, mas
restabelecendo a natureza primeira. Ele é o bom Pastor, ou melhor dizendo, segundo
a tradução grega – ho poimén ho kalós- (Jo 10,14)- o Pastor belo, que vai em busca
da ovelha perdida, escondida e maltratada. Ele é o ser perfeito que devolveu à
descendência de Adão a semelhança divina, deformada pelo primeiro pecado
(Gaudium et Spes, 22).”Em Cristo redentor e salvador, a imagem divina, alterada no
homem pelo pecado, foi restaurada na sua beleza original, e enobrecida com a graça
de Deus” (Catecismo, 1701). Desde então o homem será realmente homem,
descobrirá o seu mistério, poderá ver a sua verdadeira imagem e assemelhar-se a ela;
verá o seu rosto verdadeiro no rosto de Jesus, como num espelho,. Cristão é aquele
que se reveste da beleza de Cristo. Encontra novamente uma túnica bela para se
revestir, e com ela, tapar sua nudez.
Para melhor entender porque somos chamados à BELEZA vamos saborear
este texto do Cardeal Paul Pouppard:” Evangelizar pela beleza”.
Sagrado
Segundo Mircea Eliade, sagrado é o que de certa forma foi eleito, foi
escolhido e por isso difere do homogêneo, do igual. Por exemplo: Um
espaço é sagrado quando nele se faz uma experiência que remete ao
transcendente, ao totalmente outro, ao inexplicável. Por outro lado
podemos também dizer que existem experiências muito fortes que nos
conectam com realidades não totalmente explicáveis que recortam, marcam
espaços. Pode ser o lugar do primeiro beijo, para os namorados, pode ser o
lugar, numa estrada onde morreu alguém querido, pode também perfeitamente
ser uma paisagem que nos tocou em determinada situação, de dor, de alegria,
de encontro, de partida.
Ainda Eliade diz que a pessoa a partir destas experiências marca,
estabelece centros que correspondem quase que a uma nova criação do
mundo; refundação do mundo. “Para viver no mundo é preciso fundá-lo-
e nenhum mundo pode nascer no “caos”da homogeneidade e da
relatividade do espaço profano. A descoberta ou a projeção de um ponto
fixo-o “Centro”- equivale à criação do mundo...Em contrapartida , para a
experiência profana, o espaço é homogêneo e neutro: nenhuma ruptura
diferencia qualitativamente as diversas partes de sua massa.”
O espaço de celebração, uma igreja para uma pessoa religiosa, é um espaço
diferente, não é o espaço da rua onde ela mora, da sua casa, ou do sítio.
No caso do espaço sagrado, diz-se que é tal porque é um espaço destinado à
uma comunidade que é santa, santificada pelo batismo e porque é neste
espaço, mesmo que não exclusivamente,ela faz a experiência de entrar em
comunhão com a divindade, através da liturgia, dos sacramentos.
A rigor todo o cosmos é sagrado, manifesta a presença da divindade, mas
existem espaços que de forma mais eminente falam de Deus, fazem
transcender.
Há lugares que podemos considerar do ponto de vista, bem seculares mas,
que para alguns podem parecer sagrados. O Mysterium Tremendum,
reconhecer-se criatura e que se está diante de algo tremendamente maior, que
merece honra, glória louvor.
Quem já não sentiu isso na contemplação de algum entardecer, na aurora, em
alguma paisagem. Pois é, um espaço aparentemente profano, torna-se
sagrado a partir da experiência que ele provocou.
“O homem se encontra configurado pela experiência do sagrado, o
mundo religioso, em sentido arcaico. Esta ordem se vê continuamente
ameaçada e violada por aquilo que se lhe opõe e complementa, o profano,
que a dessacraliza e a erode e lhe subtrai zonas de poder e de pureza’’.
(Francisco Garcia Bazán).
É desta dessacralização que sofremos hoje. O mundo, a ciência em constante
evolução faz-nos pretensos deuses incapazes de perceber dentro de nós a
emergência do sagrado. Ele existe mas está mal configurado e necessitamos
recuperar a capacidade de percebe-lo.
No caso do espaço sagrado que a comunidade estabeleceu como um
lugar especial, separado, recortado, sempre deverá ser possível fazer a
experiência da transcendência,de Deus.
É o que aconteceu com os nossos pais na fé, Jacó, Moisés, Abraão.
“Quão terrível é este lugar! Em verdade é aqui a casa de Deus: é aqui a
Porta do céus! Agarrou a pedra de que fizera cabeceira, erigiu-a em
monumento e verteu azeite sobre ela. A este lugar chamou Betel, que quer
dizer “Casa de Deus”( Gn 28,12-19).
Há prerrogativas, no espaço que poderão ajudar a comunidade fazer a
experiência da transcendência.
Beleza e liturgia
Espaço Belo
Unidade
Unidade nos elementos, ver e conceber o espaço na sua totalidade.
As partes têm que estar em harmonia.
Os materiais também devem combinar entre si, falar a mesma linguagem
quanto ao design.
Se a reunião da comunidade é para fazer memória do mistério Pascal e a
formar um ‘CORPO’, é fundamental que o espaço também fale a linguagem da
UNIDADE.
Como conceber espaços unitários, que revelem o DEUS UNO; comunitários,
DEUS-TRINO?
Não há mágica, mas precisa despojar-se, deixar de lado o subjetivismo para
que na nudez nossa possa falar a plenitude.
Verdade – Sinceridade
Cada vez mais precisamos respeitar a matéria.
Diz Merleau Ponti: “A matéria de per si está grávida da forma”.
“Daí o caráter espúrio e inartístico que apresenta toda adulteração dos
materiais, por ser um atentado contra o direito de a matéria mostrar o seu
poder expressivo peculiar”.
A beleza dos materiais está em si, na madeira, na pedra, no tijolo, no barro.
Vivemos num mundo de falsificações, fazer de conta; marmorizados, folhados,
fórmicas e agora o porcelanato... etc.
Fazer de conta é contar mentira e este ato não combina com o lugar da
VERDADE.
Simplicidade - Essencial
Tudo aquilo que está a serviço da comunidade deve ser feito não para glorificar
a si mesmos com preciosismos e rebuscamentos. Também não é o caso de
transcender a realidade pessoal e o que somos para poder trabalhar com o
espaço sagrado.
Buscar em tudo o essencial, através das formas puras, que nunca passam com
o tempo.
“O simples não é o pobre, mas aquilo que tem poder de domínio sobre a
diversidade amorfa do múltiplo, e que o decisivo não é o esforço da busca, mas
a realidade que constitui a meta e, portanto, o impulso de buscar”.
“A pobreza é verdadeiramente transparente, rasga a opacidade de tanta
presunção acumulada progressivamente, liberta as formas da espessura
asfixiante e parasita da matéria morta, e sobre a forma nua faz descer o fulgor
do mistério que brilha tanto mais quanto sua presença se aproxima de nós
mais desembaraçada, mais indefesa”.
(F. Pérez Gutiérrez)
Onde há o essencial há epifania do mistério.
Funcionalidade
Não é o funcionalismo, que seria uma renúncia até do estético. O espaço de
celebração deverá atender às necessidades do rito, daquilo que se celebra.
Encantam as coisas simples, precisas, eficazes, oportunas. No entanto, o
funcional deve proceder de dentro para fora, só assim será acompanhado de
beleza.
Perguntar-se antes, para que serve, não significa renunciar à criatividade, à
poesia, mas,
partir delas para criar o belo, o funcional. “Há um vínculo muito grande entre a
obra bem feita e a obra bela, vínculo que revela as profundas e misteriosas
raízes ontológicas da beleza.” (Afonso López Quintás).
Experiência estética