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O ARQUITETO E O

IMPERADOR DA ASSÍRIA

FERNANDO ARRABAL

Cidadão espanhol, Fernando Arrabal vive na França desde 1955. Contrário


ao regime do generalíssimo Francisco Franco, partiu para um exílio
voluntário, da mesma forma que outros intelectuais espanhóis, como o
pintor Pablo Picasso (1881-1973) e o cineasta Luís Buñuel. Com a morte de
Franco, em 1975, muitos desses artistas puderam retornar. Menos Arrabal,
“persona non grata” no país desde 1967.

Nesse ano, acompanhado da esposa. Luce Moreau, Arrabal viajou para a


Espanha. Em Madri, foi abordado por um jovem que, entregando-lhe um
volume de seu livro mais recente (Celebrando a Cerimônia da Confusão),
pediu uma dedicatória e um autógrafo. Alguns dias depois, em Múrcia, sua
casa foi invadida por um grupo de policiais. Devia segui-los a fim de
responder a um interrogatório; usariam a força, se recusasse. Arrabal só
veio a saber do motivo de sua prisão quando foi enviado para a
Penitenciária de Madri. Era acusado de ter escrito uma dedicatória
sacrílega e antipatriótica, pela qual poderia ser condenado de seis a
doze anos de reclusão.
Enquanto Luce Moreau procurava, por todos os meios possíveis, conseguir
sua liberdade, Arrabal permanecia encarcerado numa solitária: uma placa
de metal lhe servia de cama, e os ratos passeavam livremente pelo chão.
Foi solto, algumas semanas mais tarde, à espera do processo. As
autoridades espanholas haviam ficado surpresas com os telegramas e cartas
de protestos que chegaram do mundo inteiro.
Em setembro, Arrabal sofreu um julgamento absurdo pelo qual foi condenado
a pagar cinqüenta mil pesetas de multa. Quando, na volta à França, um
jornalista lhe perguntou como tinha sido sua estadia na Espanha, ele
respondeu: “No que diz respeito à política, só posso enunciar uma série
de chatices ou então falar em termos do bom senso comum. Sempre fui
contrário a todos os tipos de tiranias e ditaduras. A razão pela qual fui
provocado, preso, julgado e perseguido na Espanha, no último verão, está
além da minha compreensão. Mas continuo pensando nos outros que estavam
presos comigo na prisão de Carabanchel e que vão passar muitos anos atrás
das grades por atos que uma nação civilizada não pode condenar, sem
desonrar-se”.
As autoridades espanholas nunca perdoaram a Arrabal o fato dele anunciar
publicamente a repressão política e de refletir em sua obra as
contradições de seu pais de origem.

OS CAMINHOS DA LIBERDADE

Fernando Arrabal nasceu em Melilla (Marrocos espanhol), no dia 11 de


agosto de 1932. Seu pai, Fernando Arrabal Ruiz, era comunista e foi preso
em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola. Durante seis anos percorreu as
prisões de Ceuta, Ciudad Rodrigo e Burgos. Em Ceuta tentou o suicídio; de
Burgos, fugiu, e nunca mais foi visto.
Em 1959, na novela autobiográfica Baal-Babilônia, Arrabal refere-se ao
pai e à importância que teve em sua vida: “Um homem enterrava meus pés na
areia. Era na praia de Melilla. Lembro-me das suas mãos em minhas pernas.
Eu tinha três anos. Enquanto o sol brilhava, o coração e o diamante se
estilhaçavam em inúmeras gotas de água. Perguntam-me sempre quem mais me
influenciou, quem admiro mais, e então, esquecendo Kafka e Lewis Carroll,
a terrível paisagem e o palácio infinito, esquecendo Gracian e
Dostoiévski, os confins do universo e o sonho maldito, respondo que foi
alguém de quem me lembro apenas das mãos nos meus pés de criança: meu
pai”.
Sua mãe, Carmen Teran Arrabal, mulher muito religiosa e devotada
rigidamente às obrigações domésticas, envergonhava-se do marido ateu e
“vermelho”, omitindo a Fernando e seus dois irmãos todas as informações
sobre o marido. Quando Arrabal Ruiz foi julgado, em março de 1937, e
condenado a trinta anos de prisão, Carmen não fez o menor movimento no
sentido de ajudá-lo a suportar a prova. Escrevia-lhe cartas duras e
reprovativas, que teriam provocado no marido a tentativa de suicídio no
presídio de Ceuta. Carmen nunca procurou entender as idéias do marido e
guardou consigo a magoa de ter que assumir os filhos sozinha, trabalhando
e escondendo dos vizinhos que Arrabal Ruiz era um preso político. Chegou-
se mesmo a aventar a possibilidade de que teria sido ela a denunciá-lo à
Falange. Em Os Dois Carrascos (Les Deux Bourreaux), o próprio Arrabal
sugere a delação, mas, em 1956, quando escreveu essa obra, seu rancor
contra a mãe ainda estava muito vivo.
Em 1941, já vivendo em Madri com os três filhos, Carmen foi informada de
que o marido desaparecera da prisão de Burgos. Na noite da fuga, havia
mais de um metro de neve na cidade e Arrabal Ruiz, estava vestido apenas
com um pijama. Mas nem sua morte nem sua sobrevivência puderam ser
provadas. Muitos anos depois, Arrabal tentou localizá-lo, conversando com
guardas e alguns de seus companheiros, mas nada conseguiu apurar. Quando
foi notificada da fuga do marido, Carmen reuniu os filhos comunicou-lhes
simplesmente que o pai falecera. Aos 16 anos, vasculhando documentos da
família, Fernando inteirou-se da verdade e o choque da notícia levou-o a
romper com a mãe. Durante cinco anos não falou com ela.
Nessa época, Fernando estava cursando a Academia Militar, na qual
ingressara em 1947, convencido pela família a fazer carreira no Exército.
Como seu espírito militar era nulo, trocava as aulas por sessões de
cinema, empolgando-se com os irmãos Marx e Chaplin. À noite, lia muito:
Lewis Carroll, Dostoiévski, Kafka e Proust.A vida era então, segundo ele,
terrível.
Baixinho, mordaz, exótico, perambulava pelas ruas e ia acumulando sua
raiva de tudo e de todos. “Odiava a Espanha porque na rua todos
caçoavam da minha estatura: odiava minha mãe e minha família porque eram
franquistas.” A revelação sobre o pai acelerou sua saída da Academia
Militar.
No outono de 1949 partiu para Tolosa, indo trabalhar numa fábrica de
papel. Durante dois anos trabalhou, leu, escreveu poemas, repensou a
vida, sua relação com a família e a religião. Gradativamente rompeu as
amarras.
Ao voltar a Madri, em 1962, para fazer o curso de direito, a família
recebeu-o reticente. Fernando não ia mais a missa, não visitava os padres
do colégio de Santo Antão, onde estudara, não se confessava nem
comungava. E continuava sem falar com a mãe. A noite, trancado no quarto,
escrevia, sabendo que à hora das refeições as tias fariam as zombarias
costumeiras: “Vejam só Fernandito escritor!”
Foi nesse período que escreveu sua primeira peça de teatro, Piquenique no
Front (Los Soldados), que ao ser montada em Paris, em 1959, seria
considerada por alguns críticos “uma verdadeira jóia surrealista”. O
cenário é a guerra. As personagens são um soldado, que recebe no front a
visita de seus alienados pais, que ali vão fazer um piquenique, e outro
soldado, inimigo, que é feito prisioneiro em pleno lanche. Do confronto
entre os horrores da guerra e a inconsciência dos visitantes e
participantes nasce um cômico absurdo, mais notável ainda porque o autor,
ao escrever a peça, não conhecia nem os dramaturgos de vanguarda. nem o
teatro surrealista.
O Triciclo (Los Hombres del Triciclo) deu a Arrabal, em 1953, o
segundo prémio no Concurso da Cidade de Barcelona e foi a única das suas
peças a ser montada na Espanha. Em 1958, o Dido Pequeño Teatro de
Madrid levou-a à cena sem o menor sucesso. O Triciclo era a primeira peça
na qual Fernando Arrabal apresentava uma linguagem, personagens e temas
que seriam freqüentes em seu teatro: marginais que infringem
inconscientemente uma ordem estabelecida e suas reações trágicas, cômicas
ou inocentes, diante de uma realidade incompreensível.
Quando escreveu O Triciclo, Arrabal acabava de descobrir os autores de
vanguarda nas montagens tímidas de Josefina Sanches Pedreño. No Dido
Pequeño Teatro, essa companhia era a única na Espanha a arriscar alguma
coisa de Ionesco, mesmo sabendo que na platéia havia poucos espectadores
realmente interessados nesse tipo de teatro. Mas, no árido panorama da
vida intelectual espanhola, o Dido era o único lugar onde Arrabal se
nutria de esperanças. Era bem possível que sua linguagem teatral, até
então inédita, fosse um dia compreendida.
O prêmio por O Triciclo foi uma bolsa de estudos em Paris, onde durante
três meses Arrabal poderia estudar teatro. O tempo era muito breve, mas
para o dramaturgo estava muito claro que em Madri não havia condições
para escrever.
Em 1955, sem saber que estava tuberculoso, concretizou seus planos de
partida. A família, inconformada com sua decisão, não lhe deu o menor
apoio; na hora da despedida os gritos da mãe foram ouvidos por todos os
vizinhos: “Valha-me Virgem Maria! Meu filho há de pagar!”

A PAIXAO SEGUNDO ARRABAL

No inverno de 1955, Arrabal instalou-se na Casa da Espanha, na Cité


Universitaire de Paris. Luce Moreau, uma estudante francesa, passou a ser
sua companhia constante. Em fevereiro de 1956, graças a ela, Arrabal se
transferiu da Cité Universitaire para o sanatório de tuberculosos de
Bouffémont, onde ficaria um ano e meio.
Fernando Arrabal considera o período em Bouffémont um dos melhores de sua
vida: “Conservo as melhores recordações do sanatório. Tinha todo o tempo
livre para mim, o pessoal era bom e a comida farta”. Em Bouffémont
escreveu quatro peças: Fando e Lis (Fando et Lis), Cerimônia para um
Negro Assassinado (Cérémonie pour un Noir Assassiné,), O Labirinto (Le
Labyrinthe,) e Os Dois Carrascos (Les Deux Bourreaux.). No fim de sua
estação no sanatório, Luce encaminhou o texto de O Triciclo a Jean-Marie
Serreau que, fascinado com Arrabal, comprometeu-se a publicar todas as
suas obras.
Animado pela perspectiva dos 300 francos mensais que Serreau se propôs a
pagar, Arrabal entregou-se freneticamente à tarefa de escrever. Em dois
anos, produziu oito textos: Cemitério de Automóveis (Le Cimetière des
Voitures), Orquestração Teatral (Orchestration Théatrale), Os Quatro
Cubos (Les Quatre Cubes,), A Primeira Comunhão (La Communion Solennelle),
em 1957, e no ano seguinte, Concerto Dentro de um Ovo (Concert Dans un
Oeuf); Guernica (Guernica) e A Bicicleta do Condenado (La Bicyclette du
Condamné) foram escritas em 1959.
Quando Serreau montou a primeira peça de Arrabal, Pique-nique no Front, o
nome do escritor já era conhecido nos meios intelectuais parisienses.
Serreau via no teatro de Arrabal a mesma tendência para o absurdo que
marcava a obra de Beckett, Ionesco e outros dramaturgos. Apesar da
admiração pelos autores de vanguarda, Arrabal afirmava que suas obras
tinham horizontes mais selvagens, menos especulativos e mais
espetaculares. Longe de qualquer preocupação teórica, colhia a matéria
teatral dentro de sua memória, de seus medos e pesadelos. Obcecado por
uma infância prisioneira, Arrabal criava personagens sem idade definida,
usando uma linguagem e uma lógica que não faziam parte do mundo dos
adultos. São frequentes os jogos de palavras, o nonsense, a violência
instintiva, as imagens colhidas no inconsciente. Arrabal diz que escreve
tudo o que lhe passa pela cabeça, que não revê o que cria, nem se detém
numa palavra ou frase para refazê-la. Não é incomum que suas peças girem
em torno do mesmo tipo de personagem, temas e situações, infatigavelmente
repetidos, como se o autor tivesse um compromisso muito maior consigo
mesmo que com o público. “Eu escrevo para mim, como para me drogar. Se o
público não gosta, tanto pior. É um jogo, uma exaltação.”
Geralmente o herói de Arrabal é ambíguo. Tirano e escravo, bom e cruel,
inocente e culpado, vítima e carrasco, vive sempre à margem de um mundo
ordenado que ele não compreende. Seu espaço, a terra de ninguém; sua
condição, a miséria. A maior ameaça que paira sobre ele vem do mundo
exterior, expressa através da repressão brutal e anônima que surpreende
seus valores antisociais e sua liberdade, acabando por imobilizá-lo.
Nessa situação, a personagem feminina de Arrabal é mais lúcida que o
homem, realizando a mediação entre o herói e o mundo opressor. A mulher
aparece sempre sob um tríplice aspecto de mãe-criança-prostituta, plena
de instintos e intuição. Escrava ou déspota, ela é a fonte de todas as
possibilidades de iniciação do homem. E toda a dramaticidade de Arrabal
vem do jogo das relações entre as personagens e das múltiplas combinações
que seus caracteres ambíguos lhes permite.
Em Fando e Lis, dois adolescentes reescrevem a história de Romeu e
Julieta. Seu amor é negado não pelas famílias, mas por sua condição
física. Fando conduz Lis, que é paralítica, dentro de um carrinho de
criança. Sem poder possuí-la fisicamente, ele transforma seu desejo
sexual em violência. Mas Lis, a inválida, consegue encontrar certa
fascinação no sofrimento, e, quando domina a situação, é capaz, por seus
mutismos, de levar Fando ao desespero. As inversões brutais na relação
senhor-escravo são um dos aspectos mais notáveis nas peças de Arrabal.
Fidio e Lilbé de Oração (Oraison), após matarem uma criança,
decidem se tornar bons e puros; para isso, lêem o Velho e o Novo
Testamento. Mas a descoberta da história de Jesus os desconcerta. “O
menino ajudou seu pai que era carpinteiro a fazer mesas e cadeiras. Como
ele era muito sábio, a mãe o abraçava muitas vezes. (...) Depois ele se
fez homem e o mataram: eles o crucificaram com cravos nas mãos e nos pés.
Você se dá conta? Essa peça. escrita em 1957, anuncia a idéia de
Cemitério de Automóveis, produção de 1960, onde Emanou, o herói, também é
tomado por irresistível desejo de ser bom e acaba como Cristo, traído e
assassinado.
A encenação mais famosa de Cemitério de Automóveis foi realizada em 1966
pelo diretor argentino Victor Garcia. Na montagem que ele apresentou pela
primeira vez no Festival de Dijon e posteriormente em Paris e São Paulo.
Cemitério de Automóveis era apenas uma das quatro peças de Arrabal
integradas às várias seqüências do espetáculo. Funcionando como prólogo,
estava Oração, logo a seguir vinha o 1º ato de Cemitério de Automóveis,
depois a ação de Os Dois Carrascos, sucedida pelo 2º Ato do Cemitério, o
texto de Primeira Comunhão e, finalmente, o epílogo da peça principal.
Num cemitério de pesadelo, entre sucata e carcaças de automóveis, Fidio,
personagem de Oração, ao descobrir a história de Jesus, prepara os
espectadores para Emanou, de Cemitério de Automóveis, uma espécie de
Cristo da era do jazz, que tem 33 anos e dois amigos, Topé (Judas) e
Fodère (Pedro).
Na intersecção de Primeira Comunhão, nos momentos finais de Cemitério de
Automóveis, Victor García procurou não romper com a ação da peça mestra.
Escrita em 1958, Primeira Comunhão é praticamente um longo monólogo de
uma avó que se dirige à netinha que vai comungar pela primeira vez,
discorrendo sobre as virtudes da ordem e da limpeza e as vantagens de uma
vida cristã. Enquanto a avó discursa para uma menina desinteressada,
prepara-se paralelamente o suplício de Cristo-Emanou.
Após uma paródia das cenas da paixão de Cristo, nas quais Judas-Topé
beija e trai o herói e Fodère-Pedro o renega três vezes, Emanou é
crucificado numa motocicleta, mas, ao contrário de Jesus, não tem
esperanças de ressurreição.
A violência de Cemitério de Automóveis foi acentuada pela ação de Os Dois
Carrascos. De cunho autobiográfico, essa peça conta a história de
denúncia e morte, na qual uma mãe delata o marido “culpado de ter
comprometido o futuro dos seus filhos” em atividades subversivas,
Maurice e Benoit, seus filhos, tomam posições radicalmente opostas em
relação ao gesto que levaria o pai à prisão, onde ele seria torturado e
morto. Enquanto Benoit se coloca ao lado da mãe, Maurice repele com
horror a delação. Mas Françoise, a mãe, no papel da grande mártir,
consegue que Maurice lhe peça perdão, pois acima de tudo foi pensando
neles que assim procedeu. Sem muita convicção e quase chorando, o filho
“rebelde” abraça a mãe. Houve quem visse na personagem de Maurice o
símbolo de um povo humilhado, mas não vencido.

O HUMOR, A POESIA, O PÂNICO

Quando Victor Garcia montou Cemitério de Automóveis, o nome de Fernando


Arrabal estava estreitamente ligado ao chamado teatro pânico. O conceito
de “pânico” começara a ser elaborado a partir das discussões de Arrabal,
Roland Topor, Alexandro Jodorowski, Jacques Sternberg e outros
intelectuais, que entre 1960 e 1962 se reuniam no Café de la Paix, em
Paris.
Numa conferência em Sidney, por ocasião da montagem australiana de Fando
e Lis, em 1963, Arrabal dizia que pânico não era um grupo nem um
movimento, mas uma “maneira de ser” de acordo com uma ideologia que
tinha por fundamento a exaltação da moral múltipla.
Arrabal definia o herói pânico como um desertor: Ele tem fantasmas
(paranóia e não esquizofrenia), megalomania e modéstia, desespero (e não
angústia; ele não se suicida), doenças ou deformações, ciúmes,
fetichismo, necrofilia, mitomania. etc.”. O teatro pânico era, em suma,
um grande cerimonial presidido por confusão, humor, terror, acaso e
euforia.
Nos primeiros anos da década de 60, as publicações, exposições e filmes
de curta metragem do grupo fizeram sucesso em Paris. Topor realizou um
happening memorável, com 500 quilos de carne fresca; Jodorowski – que
era um dos melhores encenadores do teatro de Arrabal –, inspirado no
teatro espanhol do século de ouro (XVI), montou um grande auto
sacramental; Gallimard fez aparecer nas livrarias a primeira coleção de
livros pânico; Arnaiz pintou o quadro Arrabal Combatendo sua Megalomania.
Por outro lado, uma série de diretores como Victor García, Jodorowski,
Georges Vitaly, Jorge Lavelli, Jerôme Savary, animados pela necessidade
de fazer um teatro novo, inquietante e liberador de emoções, encontraram
na obra de Arrabal um veículo perfeito para suas proposições.
Na verdade, as novas inquietações em relação ao espetáculo teatral não se
circunscreviam ao grupo pânico e aos encenadores que gravitavam em torno
dele. Como diz o próprio Arrabal, o pânico estava no ar. Possivelmente,
não o mesmo tipo de pânico, mas a preocupação com um teatro onde a
platéia fosse atingida numa relação direta, torturante e muitas vezes
física. Apesar de diferirem das tentativas de Jerzy Grotowski, de Peter
Brook. ou do Living Theatre, nenhum deles negava a necessidade do teatro
se fazer ritual, romper seus espaços convencionais e entrar num contato
mais estreito com o público. Como Antonin Artaud, eles achavam que o
teatro devia realizar uma função: “O teatro não poderá tornar a ser ele
próprio, ou seja, constituir um meio de ilusão verdadeira, se não
fornecer ao espectador modelos verídicos de sonhos, em que seu apetite do
crime, suas obsessões eróticas, sua selvageria, suas quimeras, sua noção
utópica de vida e das coisas e seu próprio canibalismo transbordem para
um plano que não é suposto nem ilusório, mas interior”.
Antonin Artaud elaborara seu Manifesto do Teatro da Crueldade em 1932.
Trinta anos depois suas idéias encontraram eco numa nova geração de
encenadores. E muitos deles, mesmo ignorando as teorias de Artaud,
chegavam por seus próprios caminhos a conclusões semelhantes. O
pânico foi inicialmente revelado por Arrabal nos romances O Enterro da
Sardinha (L’Enterrement de la Sardine), de 1961, e A Pedra da Loucura (La
Pierre dela Folie,), de 1964. As primeiras peças do teatro pânico
surgiram em 1964: A Coroação (La Couronnement), O Grande Cerimonial (Le
Grand Cérémonial,) e StripTease do Ciúme (Strip-Tease de la Jalousie).
Dois anos depois ele escreveria uma das melhores peças da sua carreira, O
Arquiteto e o Imperador da Assíria (L’Architecte et L’Empereur d’A
ssyrie). Quando a obra foi montada, em 1967, por Jorge Lavelli, seu
sucesso projetou o nome de Arrabal numa grande parcela de público que,
desinteressada pelas manifestações de vanguarda, ainda não o conhecia.
Como ele próprio diria: “Eu acho que o povo começou a dizer, para si
mesmo, Arrabal existe”.
Arrabal existia, mas o governo espanhol não sabia. Nesse ano, seria
preso em Múrcia. Foi sua última viagem à Espanha. De volta a Paris,
terminou uma nova peça, O Jardim das Delícias (Le Jardin des Délices),
para a qual fora buscar atmosfera na Espanha. A obra, inspirada na
fantasmagoria simbólica de um quadro de Hieronimus Bosch, enriqueceu-se
com a experiência da prisão. A personagem principal, Lais, era uma
artista que vivia reclusa no mundo das quimeras e fantasias de sua
infância e adolescência, vividas num internato religioso. Arrabal mostra
esse mundo terrível e repressivo, com suas práticas inquisitórias que
foram reavivadas na visita à Espanha. Mas a expressão mais clara de sua
experiência de preso político foi registrada em 1969, em E Eles Colocaram
Algemas nas Flores (Ei lis Passérent des Mennotes aux Fleurs, J. Durante
um ano, a peça ficou em gestação. Nesse período ele escreveu Aurora
Vermelha e Preta (L’Aurore Rouge ei Noire), Bestialidade Erótica
(Bestialité Erotique) e Uma Tartaruga Chamada Dostoiévski (Une Tortue
Nommée Dostoievsky), preparando-se para registrar, à sua maneira, a tra-
gédia dos prisioneiros políticos.
O título, E Eles Colocaram Algemas nas Flores, foi inspirado numa
frase de Lorca: “Diga às flores que não se envaideçam de sua beleza. Pois
elas serão algemadas e viverão sob os ventos corrompidos da morte”. Essas
palavras, pronunciadas pelo poeta pouco antes de morrer, são consideradas
por Arrabal um aceno premonitório à repressão que se abateria sobre a
Espanha.
E Eles Colocaram Algemas nas Flores é uma mescla de fantasia e realidade,
surrealismo e documentário, através da qual o autor desvela a paródia dos
julgamentos políticos, as degradantes condições das prisões espanholas e
as etapas do processo que condenam um homem ao garrote vil. Os sonhos, no
curso dos quais os prisioneiros experimentam seus únicos momentos de
liberdade, são um aspecto da realidade obsessivamente revelada por
Arrabal. Em seus delírios oníricos, os detidos liberam seu erotismo, mas
não conseguem tirar da memória os seus pavores.
A peça prevê a integração da cena com o espectador. Desde o momento em
que o público faz sua entrada no teatro, começa a participar do
espetáculo, pois ele não senta onde deseja, mas onde o ator, que o conduz
ao espaço de representação, acha que ele deve ficar. Os planos reservados
à platéia praticamente se confundem com os planos da ação. Por assim
dizer, o espectador está dentro da peça o tempo todo, gozando do mesmo
desconforto que as personagens, torturado por seus sonhos e por sua
condição, Arrabal sugere que na metade do espetáculo ou no epilogo o
espectador participe realmente da ação, no momento em que os atores,
improvisando, convidam a assistência a contar um fato de sua vida, ou
pedem voluntários para um ritual sadomasoquista. Na França e nos Estados
Unidos, mais da metade da audiência queria participar, o que transformava
o espaço cênico numa grande área de psicodrama. Arrabal colocava nessa
obra todos os pontos do manifesto de Artaud, alguns dos quais já tinham
aparecido em peças anteriores, sobretudo na montagem que Victor García
realizou para Cemitério de Automóveis.
Em 1970, Arrabal voltou-se para o cinema e realizou o filme Viva La
Muerte!, uma adaptação de seu romance Baal-Babilôinia. Seguiram-se A
Árvore de Guernica (L’Arbre de Guernica) e Eu Correrei como um Cavalo
Louco, onde os mitos e obsessões de Arrabal são levados ao paroxismo.
Alguns críticos sustentam que Arrabal, onde quer que manifeste seu gênio
criativo, realiza sempre a mesma obra, delirante e autobiográfica, cuja
fonte é a Espanha mística, blasfema, reprimida, repressora, trágica,
farsesca e barroca. O próprio Beckett dizia aos juizes de Madri, em carta
que foi lida pelo advogado de Arrabal durante o processo de 1967: “Onde
quer que suas peças sejam montadas e elas são montadas em todos os luga-
res a Espanha está ali”.

À PROCURA DA METAMORFOSE

O cenário de O Arquiteto e o Imperador da Assíria é uma ilha deserta.


As personagens, dois homens. Um, civilizado, único sobrevivente de um
desastre aéreo. O outro, um primitivo. A peça inicia-se precisamente com
um quadro rápido: o encontro do civilizado com o assustado homem
primitivo. A luz se apaga e quando o palco volta a se iluminar, dois anos
decorreram. Agora. eles são o arquiteto e o imperador da Assíria.
O sobrevivente, herdeiro de um mundo hierárquico — o mundo dos
civilizados — ressuscitou como um hipotético Imério, fez-se imperador e
nomeou como seu absurdo arquiteto o homem primitivo. Nos dois anos que se
seguiram ao acidente, o imperador ensinou o selvagem a falar e
incansavelmente tenta ainda fazer com que seu aluno assimile os valores
de sua cultura.
Em seu refúgio numa antiguidade hipotética, o homem civilizado não
conseguiu banir seus fantasmas e, apesar dos esforços que faz para
esquecer o passado, ele vem à luz a todo instante, trazido do fundo de
sua memória e de seu inconsciente. Ao se fazer supremo mandatário de uma
nação impossível, constatou que seu único súdito e servidor goza de mais
vantagens do que ele, pois não tem passado, nem memória e,
principalmente, não tem mãe.
Mesmo distante do mundo civilizado e traumático, o imperador não consegue
deixar de sonhar e fantasiar suas perversões e seus medos, arrastando
continuamente para seu jogo o parceiro único. Uma imagem, uma lembrança,
uma palavra, são capazes de desencadear uma série de situações,
sentimentos, conflitos, que se multiplicam e se movimentam com a
velocidade das imagens cinematográficas. A todo momento as máscaras se
modificam e se invertem os papéis de dominador-dominado. Os dois homens
são alternadamente mãe e filho, marido e mulher, vítima e carrasco, juiz
e criminoso. Há momentos de verdade no intervalo do jogo, mas eles
escapam ao parceiro. Cada uma das personagens entrega-se a representação
de várias pessoas num caleidoscópio de situações. Entretanto, sob a
aparente desordem, o espectador sente a dramaticidade sutil que nasce das
relações entre os jogadores.
A solidão é permanentemente preenchida por esse perpétuo jogo de faz-de
conta. Nos momentos de trégua, um tortura o outro com a possibilidade de
abandono ou se fecha num silêncio desesperador que o outro não suporta.
Ambos se invejam, cada qual por seus motivos, O arquiteto deseja tornar-
se civilizado: o imperador aspira à barbárie, a inocência, a ignorância e
ao poder sobre a natureza de que o arquiteto desfruta.
Dissimulando sua fragilidade, o imperador a todo instante ostenta sua
superioridade de civilizado: “O mundo civilizado! Que maravilha! Durante
séculos o homem acumulou conhecimentos e enriqueceu sua inteligência até
atingir essa maravilhosa perfeição que é a vida moderna. Por toda parte a
felicidade, a alegria, a tranqüilidade, o riso, a compreensão”.
Mas o arquiteto é capaz de ordenar a um pássaro que lhe traga um copo de
água ou de remover uma montanha para o imperador, que tem vagas suspeitas
de que ele possa ler seus pensamentos e descobrir a fraude de sua
onipotência. Eles se temem e se odeiam e se necessitam e se amam — e
estão condenados a viver juntos. Incapaz de levar até o fim a farsa da
superioridade, o imperador exige para si um julgamento, no qual ele será
o réu, e o arquiteto, o juiz. Sua culpa: ter assassinado a mãe. Única
atenuante: estava sufocado pelo amor materno.
O longo processo que toma todo o segundo ato vai revestir-se das
mesmas características de ambivalência. O imperador veste as máscaras da
esposa, do irmão, de um cego, das várias outras testemunhas de acusação.
Por seu turno, o arquiteto tem dois papéis dominantes: o de presidente do
tribunal e o da vítima (a mãe).
Após desfilar seus motivos e testemunhos, o imperador exige que seja
executado pelo arquiteto numa cerimonia de antropofagia. E, como num
ritual de comunhão solene, o arquiteto come seu corpo, suga seu cérebro e
descobre subitamente o inferno da consciência culpada e solitária que
tanto atormentara o imperador. Este, sem cérebro e sem memória.
reencarna-se no homem primitivo — e a peça termina exatamente como
começou. Dá-se uma explosão e um homem entra em cena, dizendo:
“Cavalheiro, venha me ajudar, sou o único sobrevivente do acidente”. Só
que desta vez o sobrevivente é o arquiteto. E o jogo pode recomeçar.
Arrabal considera O Arquiteto e o Imperador da Assíria uma peça terna.
Diz tê-la escrito com “uma grande felicidade misturada com sofrimento e
muita alegria”. Para muitos críticos é a demonstração mais feliz do
teatro pânico. E embora não rompa com os limites convencionais do teatro,
relativos ao espaço palco-platéia, o espectador entra no jogo e
representa consigo mesmo a tragicomédia da cena.
Por seu movimento delirante, O Arquiteto e o Imperador da Assíria não
permite que o público seja apenas assistente. Quem se contentar com essa
condição, terá perdido o melhor da festa: ou o rito ou o jogo ou as duas
cerimônias combinadas. O imperador e o arquiteto estão dentro de todos os
homens e a luta pela predominância dos papéis não tem trégua.
A cerimônia é devidamente orquestrada: todos os movimentos cênicos são
indicados pelo autor e não há improviso. Como todas as peças de Arrabal
tocam o espectador pelo fascínio — e não pela razão , seu objetivo é a
purgação das paixões. Por outro lado, a complexidade das personagens e do
jogo cênico exige atores experimentados, capazes de dominar todas as
técnicas de expressão corporal e oral. Nas indicações para a montagem de
O Arquiteto e o Imperador da Assíria nos Estados Unidos, Jorge Lavelli, o
diretor da encenação parisiense, sugeriu três nomes para o papel do
imperador: Alce Guinness, Peter O’Toole e Paul Scoffield, resumindo sua
exigência numa pequena frase: “Que fosse pelo menos ator shakespeariano,
sensível e engraçado, apaixonado e espiritual”. Para a personagem do
arquiteto não sugeriu nomes, apenas dois traços essenciais: mistério e
inocência.
Nesse sentido, os intérpretes brasileiros da montagem realizada em 1970
pelo Teatro Ipanema do Rio de Janeiro foram perfeitos. Rubens Corrêa, um
de nossos atores mais completos, personificava o imperador, e o talentoso
José Wilker, o arquiteto, Apoiados pela direção sensível de Ivan
Albuquerque, eles realizaram um dos melhores espetáculos daquele ano.
Também em 1970, a peça causava grande impacto no festival shakespeariano
de Stratford, Canadá, provocando grande entusiasmo em Sir Lawrence
Olivier, que foi o produtor da montagem inglesa dirigida por Victor
García em 1971.

PERSONAGENS

O IMPERADOR DA ASSÍRIA – guarda-roupa rico, vestimentas antigas e


modernas, de estilo barroco.

O ARQUITETO – cobre nudez com uma pele de animal

ATO I

A ação se passa numa pequena clareira, numa ilha onde o Arquiteto vive
só.
Cenário: uma cabana e uma espécie de cadeira rústica. Ao fundo, abrolhos,
urzes.

QUADRO 1

Barulho de avião.
O Arquiteto como um animal perseguido e ameaçado procura um refúgio,
corre em todas as direções, escava a terra, treme, recomeça a correr e
por fim enfia a cabeça na areia.
Explosão. Clarão forte de chamas.
O Arquiteto, com a cabeça enfiada na areia, tapa os ouvidos com as mãos e
treme de medo.
Alguns instantes depois o Imperador entra em cena. Traz consigo uma
grande mala. Possui uma certa elegância afetada. Procura guardar seu
sangue frio.
Toca o outro com a ponta da sua bengala, dizendo:

Cavalheiro, venha me ajudar. Sou O único sobrevivente do acidente.

ARQUITETO (horrorizado)
Ei! Ei! Ei! Figa! Figa! (Por um momento olha aterrado para o Imperador, e
sai correndo. Escuridão.)
QUADRO II

Dois anos mais tarde


Em cena, o Imperador e o Arquiteto

IMPERADOR
Mas é tão simples. Vá, repita.

ARQUITETO (tem uma certa dificuldade para pronunciar o .s)


Ascensorista.

IMPERADOR (com ênfase)


Há dois anos que vivo nessa ilha, há dois anos que lhe dou aulas e você
ainda hesita! Seria preciso que o próprio Aristóteles ressuscitasse para
lhe ensinar que 2 e 2 são 4.

ARQUITETO
Já sei falar, não é?

IMPERADOR
Bom. . . Pelo menos, se alguém cair um dia aqui, nessa ilha perdida, você
poderá lhe dizer Ave Caesar.

ARQUITETO
Mas hoje você tem que me ensinar. .

IMPERADOR
Agora escute a minha musa cantar a cólera de Aquiles. Meu trono!
(O Imperador se senta. O Arquiteto se inclina diante dele, numa
reverência.)

IMPERADOR
Ah! Muito bem. Muito bem. Não se esqueça que sou o imperador da Assíria.

ARQUITETO
A Assíria é limitada ao norte pelo mar Cáspio, ao sul pelo oceano Índico.

IMPERADOR
Chega.

ARQUITETO
Agora me ensine o que você prometeu.

IMPERADOR
Calma, calma! Ah. (Sonhador,) Ah! A civilização, a civilização!

ARQUITETO (muito contente)


Fale, fale.

IMPERADOR
Cale-se. O que você pode saber, você que viveu sempre enfurnado nessa
ilha que nem existe nos mapas e que Deus cagou no oceano, por desprezo?

ARQUITETO
Conte, conte.

IMPERADOR
De joelhos! (O Arquiteto se ajoelha.) Está bem, levante-se, não é
preciso. (O Arquiteto se levanta. Com muita ênfase) Eu explico.

ARQUITETO
Ah, explique, explique!

IMPERADOR
Cale-se! (De novo com ênfase.) Eu explico: minha vida. (O Imperador se
levanta com grandes gestos.) Levantava-me ao primeiro clarão da aurora,
todas as igrejas, todas as sinagogas, todos os templos soavam suas
trombetas. O dia começava a despontar. Meu pai vinha me acordar seguido
de um regimento de violinistas. Ah ! A música. Que maravilha! (De repente
inquieto) Você cozinhou a linguiça com as lentilhas?

ARQUITETO
Sim, majestade!

IMPERADOR
Onde é que eu estava? Ah, sim, o meu despertar pelo regimento de
trombetistas que vinham de manhã, os violinos nas igrejas. . . Que
manhãs! Que despertar! Depois vinham as minhas divinas escravas, cegas e
nuas que me ensinavam a filosofia. Ah! A filosofia! Um dia eu lhe explico
o que é.

ARQUITETO
Majestade, como é que elas explicavam a filosofia?

IMPERADOR
Não entremos em detalhes. E minha noiva. . . e minha mãe.

ARQUITETO
Mamãe, mamãe, mamãe.

IMPERADOR (assustado)
Onde foi que você ouviu essa palavra?

ARQUITETO
Foi você que me ensinou.

IMPERADOR
Quando? Onde?

ARQUITETO
Noutro dia.

IMPERADOR
Que foi que eu disse?

ARQUITETO
Você disse que sua mãe o punha no colo. o ninava. o beijava na testa e.

(O Imperador revê a cena evocada, ele se encolhe na cadeira como se uma


pessoa invisível o ninasse, o beijasse.)

E você disse que ás vezes ela lhe batia com um chicote e segurava a sua
mão quando passeavam pelas ruas e que. . .

IMPERADOR
Pare! Pare! O fogo esta aceso?

ARQUITETO
Está.

IMPERADOR
Tem certeza que fica aceso dia e noite?
ARQUITETO
Tenho, olhe a fumaça.

IMPERADOR
Está bem, tanto faz.

ARQUITETO
Como tanto faz? Você disse que, um dia, um navio ou um avião ia nos ver e
vinha buscar a gente.

IMPERADOR
E então o que é que nós vamos fazer?

ARQUITETO
Aí nós vamos para o seu país, onde há automóveis, discos, televisão,
mulheres, travessas de confete, quilômetros de pensamentos, quintas-
feiras maiores que as da natureza e. . .

IMPERADOR (mudando de conversa)


Você preparou a cruz?

ARQUITETO
Está aqui. (Mostra os espinhos.) Vai me crucificar agora?

IMPERADOR
Mas como? E você que vai ser crucificado? Não eu?

ARQUITETO
Nós tiramos a sorte. Já esqueceu?

IMPERADOR (colérico)
Como é possível? Nós tiramos a sorte para saber quem iria redimir a
humanidade?

ARQUITETO
Mestre, você esquece tudo.

IMPERADOR
Como é que nós tiramos a sorte? Com quê?

ARQUITETO
Com os charutos.

(O Imperador tem um acesso de riso, enquanto repete: “charutos, charutos.


. .”)

Por que que está rindo, mestre?

IMPERADOR
Como? Agora você me trata por você?

ARQUITETO
Você disse que. .

IMPERADOR
Nunca lhe disse o que significa a palavra “Charuto”, chupar um charuto?

ARQUITETO
Então, posso ou não posso chamá-lo de você?

IMPERADOR
Minhas mulheres cegas que me ensinavam a filosofia vestidas somente com
uma toalha de banho cor de rosa! Que memória a minha! Me lembro como se
fosse ontem. Como elas acariciavam o meu divino corpo, como elas limpavam
os recantos mais escondidos com. . . A cavalo!

ARQUITETO
Faço o cavalo?

IMPERADOR
Não, eu faço. (O Imperador se põe de quatro. O Arquiteto monta.) Diga,
hei.

ARQU ITETO
Hei, hei .

IMPERADOR
Bata-me com o chicote!

(O Arquiteto bate com um galho.)

ARQUITETO
Hei, hei! Mais depressa! Temos que chegar a Bahil5nia! Mais rápido! Hei

(Eles trotam. Fazem várias vezes a volta da mesa. De repente o Imperador


o joga ao chão.)

IMPERADOR (fora de si)


Como? Você não colocou as esporas?

ARQUITETO
O que são esporas?

IMPERADOR
Como é que você quer chegar a . . .

ARQUITETO
A Babilônia.

IMPERADOR (aterrado)
Onde ê que você aprendeu essa palavra’? Quem lhe ensinou? Quem vem
visitá-lo enquanto estou dormindo?

(O Imperador se joga sobre ele e quase o estrangula.)

ARQUITETO
Foi você que me ensinou.

IMPERADOR
Eu?

ARQUITETO
E, você disse que era uma das cidades do seu império da Assina.
IMPERADOR (se refazendo com ênfase)
Formigas! (Olha um cortejo de formigas no chão.) Formigas! Minúsculas
escravas Ide buscar na fonte uma ânfora cheia d’água. (Senta-se no trono
e espera. (Inquieto) Não ouviram? (Longo silêncio.) Ide buscar uma ânfora
cheia d’água, já disse. (Furioso) Como? Não se respeita mais o Imperador
da Assíria? Será possível? Morram sob os meus pés!

(Dirige-se raivosamente em direção a um cortejo de formigas e as


estraçalha com furor. Cai no trono, exausto.)

ARQUITETO
Toma.

IMPERADOR (derrubando a taça)


O que é que eu vou fazer com essa água? Só bebo vodka. . . (Risinho.)

ARQUITETO
Mas você não disse que. . .

IMPERADOR
E minha noiva, já lhe falei da minha noiva?

ARQUITETO (como se repetisse uma lição)


Ela - era muito - bela - muito - linda - muito - loura com - olhos verdes
e. . .

IMPERADOR
Está debochando?

ARQUITETO
Você já me falou dela.

IMPERADOR
Quer fazer minha noiva?

ARQUITETO
Agora?

IMPERADOR
Não quer fazer minha noiva? (Furioso) Selvagem!

ARQUITETO
Agora sou sempre eu a noiva e você sempre é que me passa na cara...

IMPERADOR
Ensinei-lhe gíria também. Estou perdido.

ARQUITETO
Quando é que vai me ensinar arquitetura?

IMPERADOR
Para quê? Você já não é arquiteto?

ARQUITETO
Está bem, vou fazer a noiva.

IMPERADOR
Mas você não acabou de exprimir o desejo de que eu te ensine arquitetura?
Ah! A arquitetura!

ARQUITETO
Nós estávamos dizendo que eu ia fazer a noiva.

IMPERADOR
Nós dizíamos que hoje vou te ensinar arquitetura. . . as bases da
arquitetura são... Está bem, eu faço a noiva, já que você insiste.

ARQUITETO
Então, quais são as bases da arquitetura?

IMPERADOR (furioso)
Eu disse que hoje eu faço a noiva, já que você tanto insiste.

ARQUITETO
Ponha a saia e as anáguas.

IMPERADOR
Não sei onde é que estão. Você perde tudo. Deixa as coisas todas jogadas.
Mas. . . será possível que você ignore quais são as bases da arquitetura,
um arquiteto da Assíria? Será possível que tenha abusado da minha
confiança e eu lhe tenha conferido o título de Supremo Arquiteto da
Assíria, quando você ignora até os rudimentos da arquitetura? O que dirão
os vizinhos?

ARQUITETO
Foi você quem me nomeou. Não tenho culpa. Não sou eu e imperador.

IMPERADOR
Onde é que estão essas malditas anáguas? Formigas! Ide buscar minhas
anáguas e minhas saias!

ARQUITETO
Elas não vão lhe obedecer.

IMPERADOR
Como não vão me obedecer? Formigas, escravas, ide apanhar minhas anáguas,
hoje eu represento a noiva. Não estão ouvindo? Onde é que estou com a
cabeça? Esqueci que tinha estraçalhado todas (Com muita doçura) Escute,
seja franco, você acha que sou um ditador?

ARQUITETO
O que é um ditador?

IMPERADOR
Evidentemente nau sou um militar. Digam, meus súditos, vocês se sentem
oprimidos pelo meu jugo? Digam, confessem, sou um tirano?

ARQUITETO
Vai ou não vai vestir as anáguas?
IMPERADOR
Estou perguntando se sou um tirano.

ARQUITETO
Não. Você não é um tirano. (Exaltado) Chega.
IMPERADOR
Eu exterminei as formigas! Os tiranos. . .

ARQUITETO
As saias!

IMPERADOR
Mas vamos brincar de padre hoje?

ARQUITETO
Está bem. já vi que você não quer.

IMPERADOR (sem enfiar a saia, se transforma em mulher, com voz de mulher)


“Oh, meu amor, você me ama? Iremos juntos. . .”

ARQUITETO
“Você é tão bonita que quando penso em você sinto uma flor brotar entre
minhas pernas e sua corola transparente cobrir minhas ancas. . . permite
que toque nos seus joelhos?”

IMPERADOR (mulher)
“Nunca fui tão feliz assim, uma alegria tão grande me invade que das
minhas mãos jorram jatos d’água para as suas mãos.”

ARQU ITETO
“Você e os seus joelhos tão brancos, tão doces, tão redondo”

IMPERADOR
Acaricie-os.”

(O Imperador começa a levantar a perna das calças para mostrar os


joelhos. Não consegue.)

IMPERADOR
Merda! As saias!
(Silêncio.)

ARQUITETO
Eu construí uma canoa. . .

IMPERADOR
Você vai partir? Vai me deixar sozinho?

ARQUITETO
Vou remar até chegar a uma outra ilha.

IMPERADOR (com ênfase)


Ó jovem afortunado, Homero se fez o pregoeiro das suas virtudes!

ARQUITETO
O que é que você está dizendo?

IMPERADOR
E sua mãe?

ARQUITETO
Nunca tive mãe, você sabe muito bem disso!
IMPERADOR
Você é filho de uma sereia e de um centauro, a união perfeita! (Muito
triste) Mamãe, mamãe. (Dá alguns passos para procurá-la debaixo do
trono.) Mamãe, onde é que você está? Sou eu, estou sozinho aqui, todos me
esqueceram, mas você.

ARQUITETO (que colocou um véu na cabeça e representa a mãe)


“Meu filhinho, que é que você tem? Você não está sozinho, estou aqui, a
sua mãezinha.”

IMPERADOR
Mamãe, todo mundo me detesta, me abandonaram nesta ilha.

ARQUITETO (muito maternal, protege-o, envolvendo-o com os braços)


“Não, filhinho. Estou aqui para protegê-lo. Você não deve se sentir
sozinho. Conte tudo para mamãe.

IMPERADOR
Mamãe, o Arquiteto quer me abandonar, construir uma canoa para ir embora
e eu vou ficar aqui sozinho.

ARQUITETO (mãe)
“Não é nada disso; vai ver que é para o seu bem, ele vai buscar ajuda e
vem salvá-lo.”

IMPERADOR
Tem certeza, mamãe?

ARQUITETO
Tenho, meu filhinho.

IMPERADOR
Mãezinha, não vá embora, fique aqui comigo para sempre.

ARQUITETO (mãe)
Está bem. Filhinho, vou ficar aqui com você dia e noite.

IMPERADOR
Mamãezinha querida, beije--me.

(O Arquiteto se aproxima para beijá-lo. O Imperador o empurra com


violência.)

Você fede! Você fede! O que foi que você comeu?

ARQUITETO
A mesma coisa que você.

IMPERADOR
Então marque hora no dentista. Vá obturar os dentes. Você tem mau hálito.

ARQU ITETO
Você prometeu. . .

IMPERADOR
Eu prometi, eu prometi. . .E daí? Traga minha caixa de charutos.
ARQUITETO (com uma reverência)
Que a vontade de Vossa Majestade seja feita. (Sai e volta com uma pedra.)

IMPERADOR
Quando falo meus charutos, falo de charutos cubanos...

(O Arquiteto sai por um instante e volta com a mesma pedra.)


ARQUITETO
Aqui estão, senhor.

IMPERADOR (toca na pedra, finge escolher um bom charuto, apanha, cheira,


corta a ponta)
Ah, que perfume digno dos deuses! Ah, esses charutos!

ARQUITETO (finge acender o charuto com um isqueiro)


Aqui está o fogo, senhor.

IMPERADOR
Como? Com um isqueiro? Você, um mordomo que estudou na Universidade de .
. Que vergonha! Onde é que você botou a canoa?

ARQUITETO
Na praia.

IMPERADOR (muito triste,)


E quando construiu? (Sem deixá-lo responder) Por que é que construiu sem
me dizer nada? Jura que não vai embora sem me dizer nada.

ARQUITETO
Juro.

IMPERADOR
Por quem?

ARQUITETO
Por quem você quiser, por quem é de mais sagrado.

IMPERADOR
Pela Constituição da ilha.

ARQUITETO
Mas não é uma monarquia absoluta?

IMPERADOR
Silêncio! Aqui quem fala sou eu e só eu.

ARQUITETO
Quando é que você vai me ensinar isso?

IMPERADOR
Mas de que é que você está falando? Você passa todo o santo dia a
cacarejar “Ensine-me isso, ensine-me aquilo”.

ARQUITETO
Você prometeu que hoje ia me ensinar como é que a gente faz para ser
feliz.
IMPERADOR
Agora não; mais tarde, prometo.

ARQUITETO
Você responde sempre a mesma coisa.

IMPERADOR
Está duvidando da minha palavra?

ARQUITETO
Quando a gente é feliz, como é que é?

IMPERADOR
Vou lhe contar isso. Que impaciência, que impaciência! Ah! A juventude!

ARQUITETO
Sabe como é que eu imagino a felicidade? Acho que, quando a gente é
feliz, a gente está junto de alguém que tem a pele muito fina e depois a
beijamos nos lábios e tudo se encobre de uma névoa rósea e o corpo da
pessoa se transforma numa multidão de espelhinhos e quando olhamos para
ela somos refletidos milhões de vezes, e passeamos com ela montados nas
zebras e nas panteras em volta de um lago e ela nos puxa por uma corda e
quando olhamos para ela chovem penas de pombos, que, caindo no chão,
relincham como potros jovens e entramos depois num quarto e começamos a
passear de mãos dadas pelo teto. . . (fala precipitadamente). . . e as
cabeças se cobrem de serpentes que nos acariciam, e as serpentes se
cobrem de ouriços que nos fazem cócegas e os ouriços se cobrem de ouro,
cheios de presentes, e escaravelhos de ouro.

IMPERADOR
Chega!

ARQUITETO
Mu! Mu ! (Põe-se de quatro.) Está vendo, sou uma vaca.

IMPERADOR
Cale a boca, você é louco.

ARQUITETO
Masturbe-me.

IMPERADOR
Você não me respeita mais?

ARQUITETO
Você é o mui ilustre e mui sábio imperador da mui poderosa Assíria. (Faz
grandes reverências)

IMPERADOR
O que foi que você sonhou hoje?

ARQUITETO
A Assíria, que é o maior império do mundo ocidental. na sua luta contra a
selvageria do mundo oriental.

IMPERADOR
Grandissíssimo asno! E o contrário!
ARQUITETO
Estou falando do perigo amarelo.

IMPERADOR
Ah, agora virou reacionário?

ARQUITETO
Não é assim?

IMPERADOR
Façamos a guerra.

(Eles se preparam. Agacham-se. Apanham as “metralhadoras Atiram: tac,


tac, tac. Arrastam-se pelo chão e se encontram cara a cara camuflados.
Cada um tem um capacete e uma bandeira.)

ARQUITETO (camuflado, vendo-se apenas a sua bandeira)


Aqui, a Rádio dos vencedores. (Voz de locutor) Soldados inimigos, não vos
deixeis enganar pela propaganda mentirosa de vossos oficiais. E o general
chefe que vos fala. Ontem liquidamos com bombas de hidrogênio a metade da
população civil do vosso país. Rendei-vos como soldados e tereis direito
às honras de guerra. Por um mundo melhor!

IMPERADOR (a mesma coisa)


Aqui fala a Rádio Oficial dos futuros vencedores. É o marechal-chefe quem
vos fala. Soldados inimigos, não vos deixeis seduzir pela demagogia de
vossos superiores. Ontem nossos foguetes massacraram toda a população
civil da vossa nação, a população civil de vossa nação, a população civil
de vossa nação. . .

(Disco arranhado. O Arquiteto sai camuflado do seu setor. Chora. O


Imperador também sai chorando. Eles dão as costas um para o outro, todos
dois vestidos de soldados e “armados “. Choram olhando as fotografias dos
seus civis mortos. De repente se viram, se examinam, apontam as armas e
gritam)

ARQUITETO e IMPERADOR
Mãos ao alto, traidor!

(Mãos ao alto, eles jogam longe as metralhadoras e se olham com pavor.


Enfim:)

ARQUITETO
Você é um soldado inimigo?

IMPERADOR
Não me mate!

ARQUITETO
Você também não me mate!

IMPERADOR
Mas é assim que vocês lutam por um mundo melhor?

ARQUITETO
Para falar a verdade tenho medo da guerra. Fico bem agachado na minha
trincheira. . . na esperança de que isso termine logo.
IMPERADOR
Eu levantei as mãos para o alto por sua causa. Tenho nojo. Bonitos
soldados, os do exército inimigo!

ARQUITETO
E vocês?

IMPERADOR
Eu, não sou um guerreiro, aqui no meu setor. Nós queremos apenas que tudo
isso acabe logo. Mas o que você está olhando nessas fotografias?

ARQUITETO (quase chorando)


Toda a minha família que vocês mataram com as suas bombas.

IMPERADOR (condescendente)
Vamos, meu velho, não chore, olhe os meus que vocês também mataram.

ARQUITETO
Também? Realmente não temos sorte. (Chora copiosamente.)

IMPERADOR
Permite que eu chore com você?

ARQUITETO
Está bem, mas isso não é uma tática de guerra. é?

(Eles choram como duas fontes.)

IMPERADOR (joga fora, com majestade, o seu equipamento de soldado)


Ah, que vida era a minha! Todas as manhãs meu pai vinha me acordar com um
cortejo de bailarinas. Todas elas dançavam só para mim. Ah! A dança. Um
dia vou lhe ensinar a dançar. Toda a Assíria assistia ao meu despertar
graças à televisão. Depois vinham as audiências. Primeiro a audiência
civil que concedia no meu leito, enquanto as minhas escravas
hermafroditas me penteavam e derramavam sobre o meu corpo todos os
perfumes da Arábia. Começava então a audiência militar que concedia do
alto do meu trono suspenso. por fim a audiência eclesiástica. . . (Muito
inquieto) Qual é a sua religião?

ARQUITETO
A que você me ensinou.

IMPERADOR
Então você acredita em Deus?

ARQUITETO
Você me batiza?
IMPERADOR
Como? Você não é batizado? Está perdido. Durante toda a eternidade vai
assar dia e noite e as mais belas diabinhas serão escolhidas para excitá-
lo, mas elas lhe enfiarão ferros em brasa no cu.

ARQUITETO
Você disse que eu ia para o céu.

IMPERADOR
Ah, meu filho! Como conhece mal a vida!

ARQUITETO
Confesse-me.

(O Imperador se senta no trono, O Arquiteto se põe de joelhos.)

Padre, eu me acuso de. . .

IMPERADOR
Mas que farsa é essa? Sou eu outra vez que faço o papel de confessor!
Fora daqui, seu pestinha idiota. Não o confesso. Vai morrer esmagado pelo
peso dos seus crimes e queimar por toda a eternidade por culpa minha.

ARQUITETO
Sonhei que. . .

IMPERADOR
Quem foi que pediu para você contar seus sonhos?

ARQUITETO
Você acabou de me pedir.

IMPERADOR
Que m’importam os seus sonhos... Está bem, conte.

ARQUITETO
Sonhei que estava sozinho numa ilha deserta, de repente caía um avião, aí
entrei em pânico e corria para todos os lados e quis até enterrar a
cabeça na areia, quando alguém atrás de mim me chamou e. . .

IMPERADOR
Pare. É muito esquisito esse sonho! Freud, me ajude!

ARQUITETO
É erótico também?

IMPERADOR
E você acha que podia ser de outro jeito?

ARQUITETO (traz um chicote)


Bata-me.

IMPERADOR (condescendente)
Que papel você quer que eu represente?

ARQUITETO
Tanto faz.

IMPERADOR
Sua mãe?

ARQUITETO
Depressa, bata, não agüento mais. (Está com as costas nuas e espera pelas
chicotadas)

IMPERADOR
Por que tanta pressa? Agora é preciso servir ao mestre na hora certa.
Falou, está feito.

ARQUITETO
Então me bata, só dez chicotadas. (Tom suplicante) Por favor.

IMPERADOR
“Só” dez chicotadas. Na minha idade? Por acaso você pensa que sou o jovem
Hamlet pulando por cima dos túmulos dos seus antepassados podres?

ARQUITETO
Bata-me, bata-me, não agüento mais, estou me sentindo mal.

IMPERADOR
O que é isso? Não adianta dar um ataque histérico. Eu o açoito... Mas...
quantas vezes?

ARQUITETO
Quantas vezes quiser, mas depressa. Se me bater com força, uma vez chega.

IMPERADOR
Onde devo açoitá-lo, meu senhor? (Com ênfase) Sobre as róseas nádegas,
sobre seu torso do ébano, sobre as suas pernas, colunas elegíacas da
imortal Esparta. . .

ARQUITETO
Bata-me, bata-me.

IMPERADOR
Está bem, lá vou eu.

(Com muita solenidade ele o açoita só uma vez, muito de leve e com
extrema doçura: o chicote apenas aflora a sua pele. O Arquiteto se joga
sobre o Imperador, arranca-lhe o chicote e se fustiga duas vezes com
muita violência. Cai por terra como louco. Depois se levanta e vai
embora.)

ARQUITETO
Vou embora para sempre.

(O Imperador acompanha a cena com majestade.)

IMPERADOR
Está bem. Sejamos shakespearianos. Isso me dá a oportunidade para um
monólogo. (Soluça. Assoa o nariz num grande lenço.) Ah, enfim só!
(Caminha com ar agitado.) Mas como é que eu vou fazer para redimir a
humanidade sozinho? (Mima a crucificação. De repente, urrando) Arquiteto!
Arquiteto! (Mais baixo) Perdoe-me. (Soluça e se assoa. Mima a
crucificação.) Os pés, sim. Os pés consigo pregar melhor do que um
centurião, mas. . . (Mostra com gestos a dificuldade de pregar as mãos.)
Arquiteto! Volte, eu lhe bato quanto você quiser e com a força que você
quiser. (Chora. O Arquiteto entra. Muito digno o Imperador pára de
soluçar.) Ah, está aí, não é? Escutando atrás das portas? Me espionando?

ARQUITETO
Você não está zangado, não é?

IMPERADOR
Quer que eu bata?

ARQUITETO
Não precisa.

IMPERADOR
Já lhe falei das minhas catorze secretárias?

ARQUITETO
As catorze - secretárias - sempre - nuas que escreviam - as obras-primas
- que - você lhes - ditava.

IMPERADOR
Você tem a audácia de debochar da minha literatura? Pois fique sabendo
que fui Prêmio . . . como é mesmo. . .

ARQUITETO
Prêmio - Nobel - e - você recusou porque. . .

IMPERADOR
Cale a boca, energúmeno, o que é que você entende de moral?

ARQUITETO
A moral é limitada ao norte pelo mar Cáspio, ao sul. . .

IMPERADOR
Animal! Você mistura tudo. Isso é a Assíria. Confundir a Assíria com a
moral! Que troglodita! Que selvagem!

ARQUITETO
Quer que escureça?

IMPERADOR
Para mim, tanto faz.

ARQUITETO
Le-lo-mi-loooooo-looooo.

(O céu se escurece enquanto o Arquiteto diz essas palavras e a noite cai.


Escuridão total.)

VOZ DO IMPERADOR (no escuro)


Mais uma das tuas brincadeiras! Já estou cheio. Que o dia volte. Faça
voltar a luz. Ainda não escovei os dentes.

VOZ DO ARQUITETO
Mas você disse que eu podia fazer o que eu quisesse.
VOZ DO IMPERADOR
Tudo o que você quisesse, menos fazer a noite cair.

VOZ DO ARQUITETO
Está bem, lá vou eu!

VOZ DO IMPERADOR
Depressa.

VOZ DO ARQUITETO
Mi - ti – riiii – tiiii !

(A luz volta como tinha desaparecido.)

IMPERADOR
Não faça mais isso.

ARQUITETO
Pensei que você quisesse dormir.

IMPERADOR
Não se meta nisso. Já temos muita coisa para fazer. Deixe a natureza
cuidar do sol e da lua.

ARQUITETO
Então me ensina filosofia?

IMPERADOR
A filosofia? Eu? (Sublime) A filosofia? Que maravilha! Um dia vou
ensinar-lhe essa maravilha humana. Esse divino fruto da civilização.
(Inquieto) Diga-me uma coisa, como é que você faz para transformar o dia
em noite?

ARQUITETO
Ora! É muito simples. Eu nem sei como é que é.

IMPERADOR
E essas palavras que você resmunga?

ARQUITETO
Falo assim, sem saber por quê. Mas posso fazer a noite sem falar isso
também. É só querer.

IMPERADOR (intrigado)
E essas palavras. . . (Retomando-se) Grandissíssimo ignorante! Você não
viu nada! Já lhe falei da televisão, da Coca-Cola, dos tanques, dos
museus de Babilônia, dos nossos ministros, dos nossos papas, da imensidão
do oceano, da profundidade de nossas teorias. . .

ARQUITETO
Conte, conte!

IMPERADOR (majestosamente, enquanto se senta no trono)


Pássaro! É, você que está aí nesse galho, vá apanhar para mim uma perna
de cabrito. Não está ouvindo? Sou o imperador da Assíria. (Espera, numa
pose de grande senhor. Inquieto) Como? Você ousa se revoltar contra o meu
poder ilimitado, contra a minha ciência e a minha soberana eloqüência,
minha palavra e meu orgulho? Ordenei que fosse buscar uma perna de
cabrito. (Ele espera. O Imperador apanha uma pedra e a joga na direção do
galho.) Pois bem, você vai morrer. . . Reinarei apenas sobre súditos
obedientes.

ARQUITETO
Que se jogarão aos pés do mais poderoso dos imperadores do Ocidente.
(Prosterna-se aos pés do Imperador.)

IMPERADOR
Do Ocidente? Do Ocidente e do Oriente. Você ignora que a Assíria já
lançou vários satélites habitados a Netuno? Diga, existe alguma outra
façanha comparada a essa?

ARQUITETO
Ninguém é mais poderoso sobre a nossa amada terra!

IMPERADOR
Ai! Meu coração! A padiola! (O Imperador se contorce de dor. O Arquiteto
volta com uma padiola) Escute o meu coração. Sinto uma dor, uma pontada.
Infelizmente, o meu fraco coração... (O Arquiteto se curva para auscultar
o coração do Imperador. Ele escuta.)

ARQUITETO
Sossegue, Imperador, não é nada. Descanse e a dor vai passar como das
outras vezes.

IMPERADOR (arquejante)
Não, dessa vez é grave. Sinto que vou desmaiar. Tenho certeza de que é um
enfarte do miocárdio.
ARQUITETO
O seu pulso está quase normal.

IMPERADOR
Obrigado, meu filho. Sei que procura me consolar.

ARQUITETO
Durma um pouco, vai ver que tudo passa.

IMPERADOR (inquieto)
Minhas últimas palavras? Eu esqueci. Diga, diga depressa, quais são?

ARQUITETO
“Morro e me sinto feliz: abandono uma vida transitória para entrar na
imortalidade.” Mas não se aflija com isso.

IMPERADOR
Eu desejo confiar-lhe uma coisa, uma coisa que nunca confessei a ninguém.
Quero morrer disfarçado. (Uma pausa.) Disfarçado em (muito esnobe).
valete de paus.

ARQUITETO
Valete de quê?

IMPERADOR
Valete de paus. Faça o que peço. É muito simples: você coloca um pau
entre as minhas nádegas para que eu possa ficar de pé, e me vista com uma
fantasia de valete.

ARQUITETO
Sua vontade será feita.

IMPERADOR
Ai! Estou morrendo, estou morrendo! Faça o que eu pedi. (O Arquiteto traz
um bastão e a fantasia: um saco. Ele disfarça o Imperador. Abre um buraco
no saco para que a figura apareça.) Ai! mãezinha, estou morrendo.

ARQUITETO
Acalme-se. Você vai ficar bom. Aí está a roupa de valete de paus.

IMPERADOR
Beije-me. (Eles se beijam. O Imperador, com voz arquejante) “Morro
contente: abandono essa vida transitória para (Sua cabeça cai. O
Arquiteto chora lágrimas ardentes. Toma-lhe a mão e a beija.)

ARQUITETO (soluçando)
Está morto! Está morto!

(Coloca o cadáver disfarçado num caixão. Fecha o caixão. Começa a abrir


uma fossa, sempre em lágrimas. De repente o caixão se abre e o Imperador
sai, tirando o disfarce.)

IMPERADOR
Seu porco, seu bosta, seu lixo, então ia me enterrar. Selvagem,
hermafrodita, débil mental.

ARQUITETO
Mas você não mandou?

IMPERADOR
Enterrar-me? Idiota, cretino. E quando eu acordasse no túmulo, quem é que
ia me tirar de lá, com dez palmos de terra em cima de mim?

ARQUITETO
Na última vez.

IMPERADOR
Já disse para você me incinerar. (Sublime) E jogar minhas cinzas no mar,
como as de Byron, de Shakespeare, de Fênix, de Netuno, de Plutão.

ARQUITETO
Outro dia você ficou furioso porque eu ia incinerá-lo, disse que ia
acordar com os culhões queimados, dançando rumba e gritando “Viva a
República!”

IMPERADOR (muito sério)


Curvo-me diante dos seus caprichos. Mas tome cuidado com a minha morte.
Não quero nada errado. Dessa vez foi um rosário de erros. Que fossa a
minha!

ARQUITETO
Vou m’embora no meu barco.

IMPERADOR (humildemente)
Para onde?

ARQUITETO
Para ilha em frente. Deve ser habitada.
IMPERADOR
Que ilha? Não vejo nenhuma ilha.

ARQUITETO
Aquela, lá embaixo.

IMPERADOR
Não vejo nada.
ARQUITETO
A montanha está atrapalhando. Vou afastar. (O Arquiteto bate com as mãos.
Ouve-se um estrondo enorme) Está vendo agora?

IMPERADOR
Você move montanhas? Você move as montanhas também. . . (Sincero) Não vá
embora. Faço o que você quiser. Nomeio-o imperador da Assíria, abdico.

ARQUITETO
Vou embora e vou arranjar uma noiva.

IMPERADOR
Mas eu não chego para você?

ARQUITETO
Vou passear pelas cidades e cobrir as ruas de garrafas para que os
adolescentes se embriaguem, e colocar por toda parte balanços para que as
avós mostrem os fundilhos, vou comprar uma zebra, cruzo-a com um veado
para que ela tenha galhos, vou ser muito feliz, pois vou conhecer o mundo
e vou ver..

IMPERADOR
Arquiteto, confesse que me odeia.

ARQUITETO
Não, não o odeio.

IMPERADOR
Dou-lhe de presente os meus sonhos, quer?

ARQUITETO
Você sonha sempre a mesma coisa, sempre o jardim das delícias, sempre
Bosch, já estou cansado de ver mulheres com rosas plantadas no cu.

IMPERADOR
Você não é um artista, é um grosso! Ignora o sublime, só gosta da
escória.

ARQUITETO
O que é que vale mais? Você nunca me disse.

IMPERADOR
Vá ao meu guarda-roupa imperial e apanhe a roupa que quiser.

ARQUITETO
Quando eu for embora vou ter todas as roupas que quiser: vou me vestir
com fósforos, de uma maneira vaga e indefinida, vou ter ceroulas de lata
e gravatas elétricas, túnicas em xícaras de café e camisas cinza-pérola
rodeadas de uma cadeia infinita de caminhões carregados de casas.

IMPERADOR
Quer que o circuncide? Guardo seu prepúcio sobre um altar e ele fará
milagres, tantos quanto Cristo.

ARQUITETO
Ensine-me filosofia?
IMPERADOR
Ah! A filosofia! A filosofia! (De repente se põe de quatro) Sou o
elefante sagrado. Suba nas minhas costas e vamos para o Ano Santo de
Brama. (O Arquiteto sobe nele.) Enrole a corrente em volta da minha
tromba. (Ele põe a corrente.) E agora me faça andar e reze.

ARQUITETO
Para frente elefante branco.

IMPERADOR
Sou um elefante sagrado, sou cor-de-rosa!

ARQUITETO
Para frente elefante sagrado cor-de-rosa, vamos em peregrinação ver Brama
das catorze mãos, vamos ser abençoados catorze vezes por segundo. Viva
Deus! (O Imperador o joga ao chão.)

IMPERADOR
Que palavras sacrílegas você pronunciou?

ARQUITETO
Viva Deus!

IMPERADOR
Viva Deus! Ah, então não sei se é um sacrilégio. Preciso ler a Suma
Teológica ou então a Bíblia em quadrinhos.

ARQUITETO
Antes de ir embora, queria lhe fazer um pedido.

IMPERADOR
Diga tudo. . . Sou seu pai, sua mãe, sou tudo para você. (Pausa.) Um
momento, estão me chamando ao telefone vermelho. (Cerimoniosamente mima a
cena do telefone.) Sim, aqui fala o Presidente. (Uma pausa.) Pode falar!
Pode falar! O caro Presidente, como é que vai? (Um tempo.) Que simpático!
Sempre brincando! (Fingindo enrubescer) Uma declaração. Presidente, nós
não estamos mais no internato. (Pausa.) Mas não, não leve a coisa para
esse lado, não sabia que o senhor era homossexual. Fazer uma declaração a
mim! Velho libidinoso, libertino! (Pausa.) Como? Uma declaração de guerra
ao meu país? (Com cólera) Do alto desses arranha-céus, dez mil séculos
vos contemplam! Eu vos estriparei como uma mosca estripa um elefante
selvagem, meu povo invadirá o vosso e. . . O quê? Uma bomba de hidrogênio
vai estourar nas nossas cabeças dentro de trinta segundos? Mamãe, mamãe.
(A seu secretário) Um guarda chuva! (O Arquiteto abre um guarda-chuva e
ambos se refugiam debaixo. Ao telefone) Criminoso de guerra! Assassino
das sogras! (Ao Arquiteto) E nós que tínhamos preparado os aviões para
jogar as bombas de surpresa amanhã às cinco horas. Meu reino por um
Fênix!

(Eles mimam o barulho da queda de uma bomba. Morrem, vítimas do bombar-


deio. Caem nos abrolhos. De repente surgem o Arquiteto, o Imperador,
imitando dois macacos. Eles se unham no rosto. Contemplam a desolação em
que tudo ficou depois das bombas.)

ARQUITETO (macaco)
Hum, hum, não sobrou nem um homem vivo depois da guerra atômica, hum,
hum.
IMPERADOR (macaco)
Hum! Hum! Papai Darwin! (Os dois macacos se abraçam apaixonadamente.)

ARQUITETO (macaco)
É preciso recomeçar tudo de novo. (Refugiam-se num lugar propício para
ficarem a sós.)

IMPERADOR (mudando de tom, muito colérico)


Eu o proíbo de ir embora, proíbo de fazer um último pedido, sou eu
quem manda aqui; ordeno que destrua o barco.

ARQUITETO
Vou embora.

IMPERADOR
Por que tanta pressa? juventude desmiolada, desnorteada. Você não é feliz
comigo?

ARQUITETO
O que quer dizer feliz? Você nunca me ensinou.

IMPERADOR
Feliz.. . .Feliz significa. . . (Colérico) Merda, eu não sei nada.
(Terno) Você fez hoje?

ARQUITETO
Fiz.

IMPERADOR
E como é que você fez, duro ou mole?

ARQUITETO
Hum. . .

IMPERADOR (inquieto)
Como é que não sabe? Por que é que não me chamou? Gostei tanto de ver
você fazer. . .

ARQUITETO
Era meio mole e cheirava. . .

IMPERADOR
Deixe para lã o cheiro . . (Mais calmo) Estou sempre com prisão de
ventre. (Pausa.) Seria bem diferente se você fosse formado, se tivesse
cursado uma universidade, qualquer uma. Nós não nos compreendemos.
Pertencemos a dois mundos diferentes.

ARQUITETO
Eu . . . (Sinceramente) Gosto de você.

IMPERADOR (muito emocionado, quase chorando)


Você está debochando de mim.

ARQUITETO
Não.
IMPERADOR (se assoa, dá uma volta sobre si mesmo e diz em outro tom,
muito enfático)

Você não pode imaginar todas as manhãs a televisão da Assíria transmitia


o meu despertar, meu povo contemplava esse espetáculo com tal emoção que
as mulheres choravam e os homens murmuravam meu nome. Depois corriam,
para me ver, trezentas admiradoras nuas e surdas que cuidavam do meu
delicado corpo, perfumando-o com essência de rosas.

ARQUITETO
Conte-me, como é o mundo.

IMPERADOR
Você quer dizer o mundo civilizado. Que maravilha! Durante milhares de
séculos o homem acumulou conhecimentos e enriqueceu sua inteligência até
atingir essa maravilhosa perfeição que é a vida moderna. Por toda parte a
felicidade, a alegria, a tranqüilidade, o riso, a compreensão. Tudo foi
criado para tornar a existência do homem mais simples, sua felicidade
maior, sua paz mais duradoura. O homem descobriu tudo o que é necessário
para o seu conforto e hoje é o ser mais feliz e mais sereno de toda a
criação. Um copo d’água.

ARQUITETO (falando com um pássaro que o espectador não vê)


Pássaro, traga-me um copo d’água. (Ligeira espera. O Arquiteto acompanha
seu vôo. Estende a mão e apanha o copo que o pássaro trouxe.) Obrigado!

IMPERADOR (depois de ter bebido)


Agora você fala com os pássaros na minha língua?

ARQUITETO
Isso é o de menos. O importante é o que penso: entre nós, há transmissão
de pensamento.

IMPERADOR (apavorado)
Diga-me uma coisa, sem mentir: você lê meus pensamentos?

ARQUITETO
Quero escrever. Ensine-me a ser escritor. Você deve ter sido um grande
autor.

IMPERADOR (vaidoso)
Tenho sonetos famosos! E peças de teatro, com monólogos e apartes. Nenhum
escritor conseguiu igualar-se a mim. Os melhores me copiaram! Beethoven.
d’Annunzio, James Joyce. o próprio Shakespeare e seu sobrinho Bernstein.

ARQUITETO
Diga-me uma coisa, como é que você a matou?

IMPERADOR
Quem?

ARQUITETO
Bem. . .

IMPERADOR
Mas quando? Como? Quando e que lhe falei disso?

ARQUITETO
Já esqueceu?

IMPERADOR
Eu, esquecer? (Pausa.) Escute. Retiro-me do mundo. Vou me consagrar
somente à meditação. Acorrente-me.

ARQUITETO
Por que vai se retirar do mundo?

IMPERADOR (com solenidade religiosa)


Ouça, essas são minhas últimas palavras: estou cansado de ver, quero me
afastar de tudo o que ainda me prenda ao mundo: quero me desligar de
você. Sobretudo, não fale mais comigo. Ficarei só, mergulhado nas minhas
meditações.

ARQUITETO
Isso e uma nova brincadeira.

IMPERADOR
Não, é a verdade. De qualquer maneira tenho de me acostumar a ficar
sozinho para quando você for embora com o barco.

ARQUITETO
Eu não vou mais

IMPERADOR
Chega de falação. Traga as correntes.
(O Arquiteto traz as correntes. O Imperador passa as correntes em volta
do tornozelo e se prende numa árvore.)

ARQUITETO
Onde é que você vai?

IMPERA DOR
Entro na minha cabana. Nunca mais fale comigo.

ARQUITETO
Mas.

(O Imperador entra na cabana.)

IMPERADOR (solenemente)
Adeus (O Imperador desaparece no interior da cabana.)

ARQUITETO
Está bem, já entendi que é um jogo. (Silêncio. Pouco a pouco aparecem as
roupas do imperador pela clarab6ia.) Mas. . . Por que é que esta se
despindo? Vai se resfriar. (Olha pela clarabóia. O Imperador fecha por
dentro.) Escute, deixe-me ao menos vê-lo! Abra a clarabóia. (Pausa. O
Arquiteto escuta atrás da porta) Como, você esta rezando? Abra um
pouquinho só Está dormindo? Pare de resmungar. Será possível que agora
você deu para rezar? Você vai morrer? Vou lhe contar meu sonho. Escute:
sonhei que era uma Sabina e vivia numa cidade muito antiga. Um dia os
guerreiros chegaram, com Casanova e Don Juan como chefes e me raptaram.
Isso lhe interessa? (Olha para todos os lados. Faz um gesto em direção
aos abrolhos.) Serpente! Traga-me um leitão. (Entra no mato e se debruça
para frente.) Que rapidez! Obrigado, muito obrigado (volta com um pernil
de leitão.) Imperador da Assíria, suas admiradoras acabaram de trazer um
leitão. Sinta o perfume. (Passeia com ele nos braços.) É a comida que
você mais gosta, como é? Não vem buscar? (Silêncio. O Arquiteto sai de
cena e volta vestido de mulher: é uma roupa sumária que se pode pôr ou
tirar com facilidade.) Olhe pela fresta, admire a linda garota que
desembarcou nesta ilha. (O Arquiteto vai e volta coquetemente.)

ARQUITETO (mulher)
Imperador, saia, sou sua humilde escrava. Ofereço-lhe todas as bebidas,
as iguarias mais deliciosas e meu corpo escultural que lhe pertencem.
(Silêncio.) Arquiteto, que é que eu posso fazer para que o homem dos meus
sonhos saia para me ver?

ARQUITETO
Você que é mulher deve saber melhor que eu. De qualquer modo ele é tão
ciumento que nem ouso ficar por aqui.

ARQUITETO (mulher)
Imperador, saia um minuto! Que a minha boca rele nos seus lábios divinos,
que minhas mãos acariciem seu corpo de ébano, que nossos ventres se
juntem numa eterna união.

ARQUITETO
Como você é linda! Você se parece tanto com a mãe do Imperador, não sei
como ele resiste a tanto charme.

ARQUITETO (mulher)
Ó Imperador, você é cruel como as hienas do deserto, se me abandona,
terei de ir embora com o Arquiteto.

ARQUITETO
Não me beije com tanta paixão, o Imperador é ciumento como um tigre.

ARQUITETO (mulher)
Ó lindo jovem, fecho os olhos e quando o abraço finjo estar nos braços do
Imperador. Como você é jovem e sedutor. O provérbio é verdadeiro: tal
imperador, tal escravo. Deixe-me abraçar o seu ventre de fogo.

ARQUITETO
Ah Chega Não posso mais resistir. Como você é bela e feiticeira Mesmo que
o Imperador saia e me mate num acesso de ciúmes, eu me rendo, vítima do
seu encanto. (Barulho de beijos, murmúrios apaixonados. De repente o
arquiteto furioso se dirige para a clarabóia.) Não falo mais com você.
Não falo mais com você. E não adianta depois vir me dizer que é meu
amigo. Não quero mais velo. Vou buscar meu barco e vou embora para
sempre. Não quero nem mesmo me despedir: dentro de alguns minutos vou
remar para a ilha de frente.
(Sai furioso. Longo silêncio. Ouve-se Imperador murmurar orações. O
murmúrio vai crescendo. A porta se abre. O Imperador aparece nu ou
vestido com uma minúscula tanga.)

IMPERADOR (em tom meditativo)


Construirei para mim uma gaiola de madeira e me fecharei dentro. De lá
perdoarei a humanidade todo o ódio que ela demonstra por mim. Perdoarei
meu pai e minha mãe pelo dia em que seus ventres se uniram para me
engendrar. E perdoarei minha cidade, meus amigos e vizinhos por não terem
percebido meu valor e ignorado quem sou, e perdoarei, e perdoarei. . .
(Inquieto, olha de um lado para o outro. Enquanto fala, fabrica um
espantalho que coloca sobre o trono.) Ah! Acorrentado. Enfim, só!
Ninguém mais vai me contradizer, ninguém vai debochar de mim, ninguém
será testemunha de minhas fraquezas. Acorrentado Que felicidade. Vivan
las cadenas! Meu universo: uma circunferência que tem por raio o
comprimento da corrente. (Mede.) Digamos três metros. (Mede outra vez.)
Digamos dois metros e meio ou talvez três e meio. Portanto, se o raio é
de três metros. digamos quatro, eu não quero roubar, a superfície terá
(R2, isto é 3,1416, R igual a 3, ao quadrado nove, multiplicado por ( . .
.dá doze metros quadrados. Que mais poderiam querer os H.L.M.?
(Choraminga, se assoa. Começa a vestir o espantalho com suas roupas de
imperador, continuando seu monólogo. Procura subir numa árvore, sem
sucesso. Pula, procura ver ao longe. Por fim, grita) Arquiteto!
Arquiteto! Venha, não me deixe sozinho. Estou sozinho. Arquiteto ! Arqui
. . (Recobra se.) Preciso me organizar. Nada de negligências. Levantar as
nove da manhã. Pequena toalete. Meditação. Pensar na quadratura do
círculo. Talvez escrever sonetos. A manhã passará sem que eu sinta. A uma
hora, almoço, abluções, depois pequena sesta, se masturbar uma vez,
somente uma, mas bem, que isso dure três quartos de hora. Para isso eu
penso nessa atriz, como é mesmo que ela se chama, estou com o nome na
ponta da língua, com pernas arqueadas tão estranhas, tão sexy e esses
cabelos louros e esse ventre tão proeminente. . . Stop! Depois da sesta.
. . (Cuida dos detalhes para que o espantalho reproduza exatamente sua
própria silhueta.) Aí está, falando sozinho. Você ficou esquizofrénico.
Não pode fazer isso. Cuidado com a loucura. (Pausa.) De tarde, uma hora
para me lembrar da minha família, outra para recordar o Arquiteto, ou
meia hora, ou talvez ele mereça apenas quinze minutos. Jantar. Abluções.
Enfim. cama . . digamos, as dez horas. Três ou quatro horas para
conseguir dormir, e outro dia vai chegar. Quanta economia vou fazer: nem
cinema, nem jornais, nem coca cola. (Sempre falando, tira a corrente.
Olha para todos os lados e grita tristemente) Arquiteto! Arquiteto Volte!
(Imitando a voz do Arquiteto) Ascensorista, ascensorista, ascensorista!
(Humildemente, ao espantalho) Não brigue comigo, sei que faz um ano que
você me ensina a falar e não consigo pronunciar o s certo. (Faz uma
profunda reverência.) Conte, Imperador, como era o seu despertar na
Assíria, ao som da música tocada por uma legião de flautistas. A
televisão transmitia o seu despertar, não é? E cem mil escravas,
acorrentadas e marcadas com o seu selo, se apressavam em lavar e esfregar
cada célula do seu corpo divino com perfumes do Afeganistão. (Finge
escutar o que diz o Imperador.) Não, minha vida não tem importância.
(Pausa.) Não, não estou me fazendo de rogado, mas minha vida não tem
nenhuma graça. (Pausa.) O que é que eu era? Minha profissão? Não
interessa. (Envergonhado) Pois bem ultimamente tinha um bom salário. Como
minha mulher ficou contente quando me aumentaram Se tivesse continuado
poderia subir pelo elevador principal e conseguiria a chave do escritório
dos diretores. (Pausa. Sai. Volta com uma saia feita de feixes e a enfia
cerimoniosamente enquanto continua falando.) Quem lhe disse? Quando
entrei, eles estavam nus sobre o leito. Ele disse “Venha ver corro violo
essa mulher. (Tempo.) Ela resistia com todas as forças e me pareceu que
chorava. Suplicava: “Não, não. Depois parou de debater-se e respirou
regularmente, beijando-lhe o ombro via- se apenas o branco de seus olhos.
Quando tudo terminou, ela recomeçou a chorar e ele a rir às gargalhadas.
(Tempo.) A mesma cena repetiu-se várias vezes. Finalmente ele se levantou
rindo e disse: “Aí está a sua mulher”. Então aproximei-me dela que
chorava, acariciei-lhe as costas e de repente ela começou a gritar.
(Senta-se no chão. Chora.) Mas nós nos amávamos, ela era muito boa para
mim, quando eu apanhava e menor resfriado, ela imediatamente me aplicava
cataplasmas. (Tempo.) Meus chefes também gostavam muito de mim e certo
dia disseram que iam me nomear. (Tempo. Ele chora.) Minha mãe?. . .
(Pausa) Nós passávamos as vezes as tardes inteiras discutindo. (Pausa.)
Ela não gostava mais de mim como quando eu era pequeno; ela me odiava
mortalmente. Não, minha mulher, essa me amava para valer. (Pausa.)
Amigos. . . Sim, eu tive, mas é claro, eles tinham inveja. Morriam de
ciúmes de mim! (Tenta subir numa árvore, sem sucesso. Pula para ver ao
longe. Grita.) Arquiteto! Arquiteto! Volte. Não me deixe sozinho. Não me
deixe sozinho. Sinto-me muito só. Arquiteto! Arqui. . . Eu devia chamá-lo
de Arqui... É mais chique... (Domina-se.) Claro, no fim eu não via mais
meus amigos. . . Trabalhava muito e não sobrava tempo para eles. Quando
se trabalha oito horas por dia e ainda por cima se toma trem, ônibus e. .
. não tinha tempo para mais nada e tinha me tornado indispensável, era o
que afirmavam os meus chefes. (Pausa.) Quando eu era criança, era
diferente. Que sonhos eu tinha! Uma vez tive uma noiva e comecei a voar,
mas ela não acreditou, mas eu sabia que um dia seria imperador, como
você... Imperador da Assíria: era isso que eu pensava ser: imperador como
você. Quem diria que eu iria encontrá-lo. Sonhava que ia ser o primeiro
em tudo. Que ia escrever e ser um grande poeta, mas, pode ter certeza de
que, se tivesse tido tempo, se não tivesse que trabalhar o dia inteiro,
teria sido um grande poeta. E teria escrito cem livros tão bons quanto Os
Caracteres de La Bruyère e acertava as contas com todos os meus inimigos,
que tinham inveja de mim. Ninguém sairia ileso. (Risinho um pouco tolo.)
Imperador, que quer? Sou seu subordinado! Ordene. (Pausa.) Você se
entedia, eu me mato, mas terei que alegrá-lo. (Sai e volta com um pinico.
Levanta as saias e senta. Faz força.) Impossível. Estou com prisão de
ventre. (Longo momento de silêncio. O Imperador continua sentado no
pinico. Passa um longo tempo. Levanta-se e leva embora o pinico. Volta
sem ele. Começa a chorar.) Poderia ter sido relojoeiro. Teria sido livre
e teria ganho muito dinheiro, sozinho, em casa, consertando os relógios,
sem patrão, sem superiores, sem ninguém para debochar de mim.
(Choraminga.) Quando era pequeno, era diferente (Anima-se.) Sabe? Faltou
pouco para eu ter uma amante. Como teria sido chique: eu com uma amante.
Ela, muito loura, muito bela. . . Fomos muito felizes... Encontramo-nos
num parque e conversamos durante muito, muito tempo. E marcamos encontro
para o dia seguinte. Passei a noite desenhando para ela um coração
trespassado por uma flecha. Um grande coração como aqueles das igrejas.
E, para o vermelho, usei meu próprio sangue. Picava o dedo muitas vezes.
Como doía. (Chora. Olha ao longe e grita desesperado.) Arquiteto!
(Acalma-se.) Está bem. Voltemos à vaca fria. Continuando. Onde é que eu
estava? (Pausa.) Pensava nela noite e dia; ela era muito loura, muito
bela, quando olhava para o corpo dela me nasciam escamas e eu sentia que
era um enorme peixe que escorregava entre as suas pernas. Consegui
desenhar o coração. . .Talvez ele fosse um pouco redondo. Fiz uma flecha
e escrevi meu nome. Enquanto desenhava. pensava que estava voando pelos
ares com ela e nos perdíamos no céu e seu corpo era apenas mãos e lábios
. . .enfim, era lindo: o coração, as flechas, as notas de sangue que
pingavam. Era um símbolo. O chato é que depois o sangue ficou preto . .
Ela era tão bonita, tão loura, nós conversamos ao menos meia hora no
parque . . .banalidades, sobre o tempo, ela me perguntando onde ficava
tal e tal rua. . . mas sabia que atrás dessas palavras nos falávamos do
nosso amor. . Sem dúvida alguma ela me amava e quando dizia “faz menos
frio que o ano passado”, eu sabia que ela queria dizer “nós partiremos
juntos e comeremos juntos ouriços enquanto cobrirei suas mãos e seu púbis
de aparelhos fotográficos”; e quando eu respondia “e no ano passado nessa
época não se podia passear no parque”, era como se dissesse “você se
assemelha a todas as gaivotas do mundo na hora da sesta, você dorme sobre
mim como um passarinho numa garrafa, sinto seu coração bater e o ritmo de
sua respiração sobre os poros da minha pele e do meu coração jorra um
jato de água cristalina para banhar seus pés brancos. . .” e pensava
ainda muitas outras coisas e passei toda a noite desenhando para ela;
como ignorava seu nome, decidi chamá-la de Lis. Na manhã seguinte fui
correndo para o encontro; como estava emocionado! Trabalhei na
escrivaninha, meus chefes me acharam esquisito. Que dia, vivia pensando
nela! Perguntei a mim mesmo se falaria com minha mulher. Mas não lhe
disse nada. Quando cheguei ao parque. . . (Está quase chorando.) E, ela
deve ter se enganado, não compreendeu direito. Durante uma semana fui ao
parque, ao menos cinco horas cada tarde. . . Ela deve ter sido atropelada
por um carro. Não pode ser de outro jeito. . . (Mudando de tom) Vou
dançar para você. (Executa uma dança grotesca.)

IMPERADOR
Devo ter dançado como um deus. Que acha? Está se entediando comigo?
(Recita.)

“Quando voltarei a ver, a fumaça querida


Da casa de minha infância e em que estação
Voltarei para ver o muro de minha casa
Que é para mim a província e muito mais!”
Não deveria ter caído aqui. Quando Sua Majestade vai receber as
audiências? (Tira a saia e fica em tangas.) Quer que me vista? (Sai e
volta com uma calcinha de mulher, de renda preta.) Que cheiro bom tem
isso! (Cheira. Veste a calcinha.) E além do mais, Deus e suas criaturas.
Nós (Vê o efeito que faz a calcinha.) Nada mal, bem? Imperador. . . sabe
que apostei a existência de Deus no bilhar elétrico? Se em três partidas
eu ganhasse uma. Deus existia. Não tive medo da dificuldade. Além do
mais, manejo os flippers com uma tal facilidade... e era uma máquina que
eu conhecia. Acendi o jogo num fechar de olhos. Jogo a primeira partida:
670 pontos e precisava de mil. (Sai e volta com um espartilho.) Começo a
segunda partida. Primeira bola, erro terrível, ela escorrega mal.
Dezesseis pontos, um recorde. (Veste o espartilho e o ajusta ao corpo.)
lanço a segunda. Senti uma inspiração, digamos divina. Os clientes do bar
estavam abobados. Eu fazia a máquina vibrar como um negro dançando com
uma branca. A máquina respondia a tudo: 300, 400, 500, 600, 700 pontos.
Tudo dava certo, o bônus, o retrovalor, os pontos, a bola suplementar.
Por fim obtive. . . (Ele se examina. Ajusta mais o espartilho.) Não fico
mal, hein? O que acha de meu espartilho? Ah, se o Arquiteto estivesse
aqui, nós ainda construiríamos Babilônia e seus jardins suspensos. 973
pontos. 973 quer dizer que se eu tiro 16 pontos da primeira: 957 pontos,
o que tinha feito com uma só bola. Quando obtivesse 1000, aí estaria
tudo. Deus existia. Impacientava-me, Deus estava nas minhas mãos. Tinha a
prova irrefutável de sua existência Adeus ao grande relojoeiro, o
Arquiteto supremo, o grande organizador: Deus existiria e ia demonstrá-lo
da maneira mais peremptória. meu nome apareceria em todos os manuais de
teologia, fim dos concílios, das elocubrações dos bispos e dos doutores,
ia descobrir tudo sozinho. Falariam de mim em todos os jornais. (Sai e
volta trazendo um par de meias pretas.) Prefiro as pretas, e você?(Veste
as meias com vaidade e prende no porta-liga do espartilho.) Arquiteto!
Arquiteto! Volte! Eu falo com você. Não me tranco mais na cabana.
(Choraminga.) Pássaros, obedeçam-me, vão chamá-lo, digam-lhe que espero
por ele. (Colérico) Vocês ouviram? (Mudando de tom) Como é que ele dizia?
Clu-cli-cli-clu-cli. Não, não era isso. Pensar que ele falava com os
passarinhos. Que homem! E move as montanhas. Montanha, para frente! (Olha
para ver se acontece alguma coisa. Com inquietação) Nada, nem um sopro.
Montanha, ordeno que caia no mar. (Observa. Silêncio.) Que cara! Ele faz
o dia virar noite. (Sai. Volta com um sutiã de rendas. Coloca-o. Põe
pêssegos nos bojos do sutiã.) Se minha mãe me visse. Onde é que eu
estava? 973 pontos! Por assim dizer, Deus estava nas minhas mãos e só
faltavam 27 pontos para ganhar. Nunca, nem mesmo nos meus piores dias,
faço menos que isso. Lanço a bola artisticamente e ela cai justamente no
triângulo dos bônus. Um ponto cada vez que o tocamos e com meu estilo. .
. Começo a empurrar a bola que vai e vem a minha vontade. Compreende,
Imperador! Compreende, Majestade? (De repente, grita) Arquiteto! Volte,
vou ter um filho, não me deixe só, sozinho. (Começa a rezar.) Nesse vale
de lágrimas.” (Não se ouve o resto.) Imperador, minha mãe me detestava,
eu juro, acredite, foi culpa dela, culpa dela! (Sai.)

VOZ DO IMPERADOR
Não encontro. . . Onde foi que esse moleque enfiou isso? E, no entanto,
não é por falta de eu lhe dizer: “Ponha tudo em ordem: cada coisa no seu
lugar”. Como saber onde ele deixa as coisas? Um pente! Ora! Um
preservativo nessa ilha? Será que o anticoncepcional chegou até aqui? Vou
colocá-lo! E ainda por cima serve certinho em mim. (Grita.) Arquiteto!
Onde você botou o meu vestido? Deve estar remando como um condenado ou
como um degenerado dos Jogos Olímpicos! Ah! a juventude! Que animal! Olha
onde o guardou! Um vestido tão bonito na gaveta das pranchas de
borboletas. (Pensa.) Que queria dizer com isso? Imperador, venho em
seguida. (Aparece com um vestido no braço.)

IMPERADOR
Todos os clientes do café estavam em volta de mim e eu mexia na máquina
como um diabo. Ela me obedecia, submissa: 988, 989, 990, 991, 992. . . E
era preciso completar só 1 000 pontos . . . E a bola ainda estava em
cima. Não podia mais perder: caindo ela daria automaticamente dez pontos.
Estava louco de alegria. Deus tinha se servido do mais humilde dos
mortais para provar sua existência. (Ajusta vaidosamente as meias, o
porta-ligas, a cinta e o sutiã. Coloca sapatos de salto alto. Anda um
pouco.) Como é que elas conseguem andar com isso? (Anda com dificuldade.)
Deve ser uma questão de hábito. Cum amicis deambulare. Que latinista
poderia ter sido! Tenho certeza de que se começar a andar com esses sal-
tos consigo, em pouco tempo, até mesmo concorrer na Maratona. Emocionante
a minha chegada em Atenas. . .Era em Atenas? de salto alto e porta-liga.
“Atenienses, conseguimos trazer conosco a maior vitória dos tempos
modernos”, depois venderia minhas memórias para uma revista qualquer.
Arquiteto! (Grita.) Escute, vou ser mãe, vou dar à luz uma criança. Venha
para perto de mim. (Muda de tom.) Que nojento, com seu barquinho na. . .O
que é que ele sabe da vida? (Desabotoa a roupa para vesti-la.) É um
hábito de freira. (Veste-se.) Escute-me bem, pois não poderá acreditar!
Marcava cada vez mais pontos com a bola e mais e mais: 995, 996, 997,
998, 999 e nesse instante um cafajeste esbarra no bilhar e pá! A máquina
fica travada, a partida tinha terminado e como uma idiota ela indicava
999, 999. (Olha se com a roupa de freira.) Que carmelita eu teria sido!
Mas descalça não, nem pensar. (Grita) 999. Compreende, Imperador? No que
devo acreditar? Devo considerar válidos os dez pontos ganhos
automaticamente? A terceira partida, é melhor não falar nisso. Chocante!
999 pontos. (Anda, examinando-se.) E se eu fizesse milagres? As
carmelitas fazem milagres. (Grita.) “E parece miraculoso alimentar uma
multidão como Cristo fez, com duas míseras sardinhas e um cotoco de pão?
O capitalismo cristão fez muito melhor depois.” Que homem, o que escreveu
nessas linhas! É dos meus! Imperador, está me ouvindo? Você está muito
silencioso. Diga alguma coisa. Parece que falo com uma parede. Está
zangado comigo? Não lhe agrado como carmelita? (Joga-se aos pés do
Imperador-espantalho. Segura uma das pernas e a acaricia.) Imperador,
estou apaixonado por você. Você é o mais bonito, o mais sedutor dos
homens. Por uma palavra dos seus lábios... (levanta-se, vai e vem.) Vou
partir sozinha. (Grita) Arquiteto, está chegando, está chegando. (Seu
ventre incha anormalmente) Elas têm invenções maravilhosas, as irmãs de
caridade: com uma roupa como essa, quase não se percebe que elas estão
grávidas. Padre, eu me acuso de ter. . . isto é. . . de ter me deixado
conduzir a más ações.

IMPERADOR (confessor)
Como, infeliz! Como ousou cometer um tão grande sacrilégio. Maldita
cadela! Miserável!

IMPERADOR (carmelita)
Padre, o diabo me tentou horrivelmente.

IMPERADOR (confessor)
Com quem você fez isso, mulher dissoluta?

IMPERADOR (carmelita)
Com esse pobre velho que mora sozinho no quinto andar.

IMPERADOR (confessor)
Perversa, você enfiou alguns espinhos a mais na carne do Cristo, com esse
farrapo humano. Quantas vezes você fez, cadela profanadora?

IMPERADOR (carmelita)
Quantas, quantas vezes? Quantas vezes o senhor quer que eu tenha feito?

IMPERADOR (confessor)
É o que estou perguntando, pecadora.

IMPERAI)OR (carmelita)
Uma vez só. Ele é muito velho, coitado.

IMPERADOR (confessor)
Nenhuma penitência poderá resgatar seu erro. Infiel! Pagã!

IMPERADOR (carmelita)
Que poderia fazer, padre, para receber a absolvição?

IMPERADOR (confessor)
Sacrílega! Essa noite você irá para o meu quarto com os silícios e os
chicotes. Vou tirar sua roupa e passar a noite açoitando-a. Seus crimes
são tão abomináveis que eu também tenho de pedir a Deus que a perdoe, e,
para conseguir isso, também vou me despir e você vai me açoitar, cadela
maldita. (Mudando de tom) Arquiteto, venha depressa, preciso de você.
(Grita.) Sinto as últimas dores. Onde é que está a padiola? (Deita-se
nela.)

IMPERADOR (parturiente)
Diga-me uma coisa, doutor, vou sofrer muito? (Silêncio.)

IMPERADOR (doutor)
Respire como cachorrinho.

(Ele respira.)

IMPERADOR (doutor, zangado)


Você não aprendeu a fazer parto sem dor? Respire. Assim: Ah! Ah!

(Ele respira mal.)


IMPERADOR (parturiente)
Doutor, não consegui aprender. Ajude-me. Estou sozinha... abandonada por
todos.

IMPERADOR (doutor)
Você só sabe trepar! E a única coisa que vocês sabem fazer sem aprender.
Ah! Ah! (Respira como cachorrinho, mas bem.) Viu como é fácil? (Ele
respira mal.) Infeliz! Pensar que você ficava de quatro como um animal
com seu homem, e agora não sabe latir. Que humanidade! Cristo deveria ter
nascido cachorro, teria sido crucificado num poste e a humanidade inteira
canificada viria mijar no poste. Respire, cadela. Ah! Ah!

IMPERADOR (parturiente)
Doutor, me ajude. Dê-me a mão.

IMPERADOR (doutor)
Noli me tangere.

IMPERADOR (parturiente)
Sinto as últimas contrações! Já vem. Estou sentindo

IMPERADOR (doutor)
Ah, aqui está a cabeça, boa cabeça . . .aparecem os ombros. . .
Bons ombros.
(Voz ofegante, ele parturiente geme, urra, baba.)

Aqui está o peito, belo peito. Um último esforço. Mais um esforço.

IMPERADOR (parturiente)
Não agüento mais, doutor. Me anestesie. Dê me uma droga.

IMPERADOR (doutor)
Você pensa que é Thomas De Quincey? Dar-lhe uma droga! Quem você pensa
que é? Mais um esforço ainda! (Urro dilacerante.) Aqui está. Inteirinho.
Belo espécime terreno.
(Voz do parturiente que geme, chora e se acalma.)
Um novo elemento da nossa raça. Aqui está. Não podemos reprová-lo por não
ter colaborado na defesa dos valores de nossa civilização. Um a mais.

IMPERADOR (mãe)
Homem ou mulher?

IMPERADOR (doutor)
Que e que você queria que fosse? Uma menina. Agora só há mulheres. Um
mundo inteiro de lésbicas. Acabaram-se as guerras, as religiões, os
alcoviteiros, os desastres de automóvel. Uma humanidade feliz. O melhor
dos mundos. Só gastaremos dinheiro com “consoladores”.

IMPERADOR (mãe)
Doutor, deixe me ver a menina.

IMPERADOR (doutor)
Está aqui, olhe. . .

IMPERADOR (mãe)
Como é bonita! Que amor! Que gracinha! É a cara do pai cuspida e
escarrada. Como vou ser feliz! Vou coser as roupinhas dela. (Senta se na
padiola. Nina a criança e canta.) Seu rosto todo cuspido, tão lindo, tão
adorável.

IMPERADOR (doutor)
Que rosto?

IMPERADOR (mãe)
O do relógio da catedral. Se o relógio risse, riria como ela. Vou dar-lhe
o nome de Geneviève de Brabant.

IMPERA[)OR (doutor)
Que profissão vai lhe ensinar?

IMPERADOR (mãe)
Fisioterapeuta, é o que há de mais chique. Suas mãos vão massagear as
costas, as coxas, os ventres de todos os homens do mundo. Ela vai ser a
reencarnação de Maria Madalena. (Curta pausa. Em outro tom, dirigindo-se
ao Imperador-espantalho) Imperador, Imperador. (Em outro tom, num grilo
doloroso) Arquiteto Arquiteto Arquiiiii (A o Imperador) Veja só como ele
é! Ele me detesta, me abandona á minha triste sina Foi embora em busca de
aventura nessas ilhas e só Deus sabe o que encontrará. (Põe-se de
quatro.) Imperador. sou um camelo sagrado do deserto, suba nas minhas
costas que eu vou lhe mostrar os mais fascinantes mercados de escravos
machos e fêmeas de todo o Oriente. Suba nas minhas costas, Imperador.
Bata-me com o seu chicote imperial, para que meu passo seja duro e eficaz
e para que a sua divina pessoa possa, dentro em breve, purificar-se ao
contato de corpos educados, jovens e vigorosos. (Endireita-se.) Que
selvagem! Numa canoa! No século de progresso, de civilização, de discos
voadores, viajar de canoa! Se Ícaro, Leonardo da Vinci ou Einstein
levantassem do túmulo! Para que nós inventamos os helicópteros? (Pausa.)
999 pontos. Sem aquele bêbado eu marcaria automaticamente dez pontos a
mais. A partida, Deus. Os anjos. O céu e o inferno. Os bons e os maus. O
santo prepúcio e seus milagres. As hóstias que sobem ao céu em cálices
suspensos por correntes de ouro. O concilio medindo o comprimento das
asas dos anjos. As estátuas da Virgem que choram lágrimas de sangue. As
piscinas e as fontes milagrosas, o asno, a vaca, a mangedoura. (Um tempo.
Citando) “Tudo o que há de atroz, e nauseabundo, de fétido, de vulgar, se
resume numa palavra: Deus.” (Ri.) Esse é dos meus. Que cara! (Pausa.)
Creia, Imperador, com todo o respeito que devo a sua pessoa, com toda a
veneração que tenho por você, não compreendo como um homem como o
Arquiteto, entre parênteses, o Supremo Arquiteto da Assíria, possa viajar
numa canoa. Ele nem ao menos levou um agente de segurança. O mundo é uma
boa porcaria. (Grita.) Escaravelhos, vão buscar um cetro de ouro para o
Imperador! (Espera. Nada acontece. Procura inquieto.) Eu os acostumei
muito mal. Só fazem o que lhes dá na telha. A educação moderna, O
progresso. A sociedade protetora dos animais! Tudo anda de pernas para o
ar. Um dia os discos voadores descerão na terra. (Mima a chegada.) Senhor
Marciano. . . (A parte) Supondo que sejam marcianos. . . Sejam benvindos
a terra.

IMPERADOR (marciano)
Glu-tri-tro-piiiii.

IMPERADOR (ao Imperador-espantalho)


Os marcianos falam assim. (Ao marciano) O que é que você está dizendo?

IMPERADOR (marciano)
Tru-tri- loo-piiiiii.
IMPERADOR (ao Imperador-espantalho)
Ele fala dos sistemas de educação. (Ao marciano) Sim, eu compreendo. Você
tem razão. Com nossos sistemas caminhamos para o abismo.

IMPERADOR (marciano)
Flu-flu -flu - flu-flu-jiiiii.

IMPERADOR
Você quer me levar para o seu planeta? (Aterrado) Não. muito obrigado,
prefiro ficar aqui.

IMPERADOR (marciano)
Tri-clu-tri-clu-tri . . .

IMPERADOR
Eu sou o terráqueo mais engraçado que você conheceu? (Enrubescendo) Eu?
Pobre de mim! Mas eu sou como todo o mundo.

IMPERADOR (marciano)
Plu-plu-plu-griiii.

IMPERADOR
Você não vai me botar no jardim zoológico?

IMPERADOR (marciano)
Pli pli. . .
IMPERADOR
Ah! Felizmente.

IMPERADOR (marciano)
Jlu-jli-gni-gni-poooo.

IMPERADOR
A filha do rei dos marcianos está apaixonada por mim? Ela me ama?

IMPERADOR (marciano)
Ki -klo- looooo.

IMPERADOR
Ah! Desculpe, eu compreendi mal. Você é muito bonitinho. Enfim.. . mais
ou menos.

IMPERADOR (marciano)
Gri - gri - treeeee.

IMPERADOR
Que engraçado! Você acha que somos esquisitos e feios. Espero que você
não esteja dizendo isso de mim. . . mas dos outros. As pessoas nunca
tomam banho hoje em dia. Não adianta insistir. Não quero ir para o seu
jardim zoológico, nem para a sua cidade. (Aumentando a voz até a cólera)
Quero ficar na terra, ainda que você tenha me dito que, no que diz
respeito as coisas do espírito, nós apenas conseguimos suportar a dor,
mesmo que seja maravilhoso em Marte, tenho certeza, apesar de nunca ter
posto os pés lá, que não vale nada em relação à terra. (Ao Imperador
espantalho, mudando de tom) Imagine que todos os dias, pela manhã, ele
faz a loucura de se lavar nessa fonte gelada. Eu lhe digo: Arquiteto,
você vai apanhar uma pneumonia, mas ele acha graça e fica debaixo do jato
d’água, se banhando. Ele se fricciona com essa água, e o mais incrível é
que ele quer que eu o imite. Depois dos quarenta. . . ele não sabe mais
contar. . . Não compreende nada. Depois dos quarenta. . . na verdade ele
nunca me disse a idade que tem. Como é que ele pode saber quantos anos
tem? Deve ter 25, 35. É tão poético! Poderia ser meu filho? Talvez. Meu
filho. Eu deveria ter tido um filho. Teria lhe ensinado a jogar xadrez
com 3 ou 4 anos e a tocar piano. Teríamos passeado pelos parques, uma
criança atrai a atenção das garotas. Que flertes teria tido! Arquiteto!
Volte! Pare de remar, faz mal aos pulmões. Você vai ter uma crise de
asma. (Ao Imperador-espantalho) Falar de asma com ele, um cara que se
banha todos os dias na fonte mais fria da ilha; sempre a mesma. No verão,
com bastante roupa, perto da estufa, quando o sol está muito quente, ao
meio-dia, não digo que não se possa tomar uma ducha, mas claro, com
muitas precauções. Ele não, joga-se como um louco. Tão jovem e já com
manias. E depois essa história de cortar os cabelos uma vez por ano, no
começo da primavera. Como é que ele consegue calcular o tempo sem minha
ajuda? (Pára no meio da cena e grita) Arquiteto, volte! Seremos amigos.
Construiremos juntos uma casa. Ergueremos palácios com labirintos,
escavaremos piscinas onde virão se banhar as tartarugas do mar, dar-lhe-
ei um automóvel para que possa percorrer todos os meus pensamentos.
(Muito triste) E cachimbos de onde vai jorrar a fumaça líquida, onde as
espirais se transformarão em despertadores, enxugarei os pântanos para
que surja do seu lodo uma névoa de flamingos vermelhos com coroas de
papel prateado, temperarei as iguarias mais deliciosas e você beberá
licores destilados com a essência dos meus sonhos . . Arquiteto !
(Grita.) Arquiteto (Quase chorando.) Seremos felizes. (Baixa a cabeça e
fica assim algum tempo. Recompõe-se. Diz com ênfase) Eu o vejo,
Imperador. Vejo seu despertar. A televisão da Assíria que transmite em
dose as primeiras batidas dos seus cílios sobre os olhos fechados . . .
em todos os povoados e nas aldeias, as mulheres deviam chorar ao
contemplá-lo. (Muda de tom.) Não, ele não tem mais de 35 anos, tem 35 no
máximo. Ele é tão criança, tão poeta, de uma tão grande espiritualidade,
que idéia nomeá-lo Arquiteto! (Tem uma idéia luminosa.) Imperador,
podemos saber a idade dele. Podemos calcular . . . (Dirige-se para a
cabana.) Aqui está o saco. (O espectador não vê o que ele faz. Sai.) Vou
explicar. Vai ver como é simples. Ele corta os cabelos uma vez por ano e,
por causa de uma superstição, ele os enrola numa folha e coloca no saco.
Para saber a idade dele basta contar o numero de folhas. Você compreende.
Imperador, como são brilhantes as minhas idéias! Minha mãe já dizia: como
meu filho é inteligente! (Entra na cabana.)

VOZ DO IMPERADOR
Um, dois, três... Mas tem muitas folhas... (Inquieto) quatro, cinco,
seis, sete.. . (Pausa. Longo silêncio. Ele sai apavorado.) É impossível,
há centenas de folhas. Será que, por acaso, essa fonte.. . Centenas de
folhas, pelo menos mil. . . Banhando-se todos os dias. . . Mil talvez.
(Entra na cabana. Longa espera. Sai.) E todas as folhas com cabelos, os
cabelos dele, alguns já meio podres... A fonte da juventude... (Aterrado)
Mas como... Ele nunca me disse. Reconheço os cabelos dele, sempre da
mesma cor, do mesmo tom. . . Como é que pode.

(Espantado, sai correndo. Silêncio. Entra o Arquiteto.)

ARQUITETO (grita)
Imperador!
(O Imperador aparece logo, medrosamente. Cada um deles se encontra numa
extremidade do palco.)

IMPERADOR
Diga-me uma coisa, quantos anos você tem?

ARQUITETO
Não sei. Mil e quinhentos – dois mil. Não sei ao certo.

CAI O PANO LENTAMENTE

ATO II

QUADRO I

Mesmo cenário. O Arquiteto entra em cena com precaução, sem fazer


barulho. Dirige-se para a cabana.

ARQUITETO (docemente)
Está dormindo, Imperador?

(Ele sai da cabana e de cena pelo lado do jardim. Pausa. Do lado do


jardim aparece uma grande mesa. O Arquiteto a empurra até o centro do
palco, tira uma toalha e cobre a mesa. Prepara uma enorme travessa, uma
faca e um garfo gigantescos. Põe-se a mesa. Finge esquartejar um ser
gigantesco que está deitado à mesa. Finge comer um pedaço, por fim guarda
tudo na gaveta, vira a toalha pelo avesso: é o tapete da mesa de um juiz.
Da gaveta de uma mesa, tira máscaras, uma sineta e um livro muito grande,
com bordas douradas. Penteia-se e coloca uma máscara de juiz. Agita a
sineta.)

VOZ DO IMPERADOR
O que há, Arquiteto? (Sai da cabana.)

ARQUITETO
Acusado, aproxime-se e diga: juro dizer a verdade, toda a verdade, nada
mais que a verdade.
IMPERADOR (levantando a mão direita)
Juro. (Em outro tom) É para isso que você me acorda a essa hora?

ARQUITETO (levantando a máscara um instante)


Não tolero nem um aparte, entendeu? (Coloca novamente a máscara.) O
acusado pode se. sentar se quiser, e procure ser preciso em suas
declarações, estamos aqui para ajudar a justiça e para que tudo fique
claro em relação à sua vida e ao crime de que é acusado.

IMPERADOR
Que crime?

ARQUITETO
O réu é casado?

IMPERADOR
Sou, senhor juiz.

ARQUITETO
Há quanto tempo?

IMPERADOR
Não sei. . . Há uns dez anos. . .

ARQUITETO
Lembre-se de que todas as suas declarações podem ser usadas contra você.

IMPERADOR
Mas. . . me acusam.. . não sei. . . O senhor faz alusão. . . à minha mãe?

ARQUITETO
É o tribunal que interroga.

IMPERADOR
Mas minha mãe desapareceu.

ARQUITETO
Ainda não chegamos lá.

IMPERADOR
Sou culpado, se ela foi embora, só Deus sabe para onde?

ARQUITETO
Levaremos em conta todas as circunstâncias atenuantes que possa
apresentar para sua defesa.

IMPERADOR
Isso é o cúmulo. (Em outro tom.) Arquiteto, pare com essa brincadeira,
você fala comigo de um jeito que me faz sofrer. (Com grande ternura) Sei
falar com os pés como você me ensinou. (Deita-se no chão com os pés para
cima e começa a agitá-los.)

ARQUITETO (tira a máscara e a toga)


Já recomeçou com sacanagem? (Imperador mexe com os pés novamente.) É
sempre a mesma coisa.

IMPERADOR
Entendeu?

ARQUITETO
Tudo. Você é que não entende nada.

IMPERADOR
Entendo tudo.

(O Arquiteto se deita no chão atrás da mesa. Só se vêem seus pés


descalços que se mexem.)

ARQUITETO
Aposto que você não é capaz de entender o que eu estou dizendo.

(O Imperador ri.)
IMPERADOR
Devagar. Olhe como eu sei ler tudo: “Aqui o poder falta a minha
imaginação que quer guardar a lembrança de um espetáculo tão elevado.” (O
Arquiteto continua mexendo os pés. O Imperador traduz) “Assim como duas
rodas obedecem a uma mesma ação, meu pensamento e meu desejo, dirigidos
por uma mesma harmonia, são conduzidos para além pelo amor sagrado que
põe em movimento o sol e as estrelas.”

(O Arquiteto reaparece furioso. Coloca a toga e a máscara.)

ARQUITETO
O tribunal tomará conhecimento de tudo. A primeira testemunha a ser
chamada é sua mulher.

IMPERADOR
Por favor, não a envolva nesta história. Ela não sabe de nada e nada
poderá dizer.

ARQUITETO
Silêncio. Que entre a primeira testemunha. (O Imperador se fantasia de
esposa, coloca uma máscara.) A senhora e a esposa do acusado?

IMPERADOR (esposa)
Sou, senhor juiz.

ARQUITETO
Vocês se amavam?

IMPERADOR (esposa,)
Ah! O senhor sabe, estávamos casados há muito tempo.

ARQUITETO
A senhora o amava?

IMPERADOR (esposa)
Eu o via muito raramente. Ele saía de manhã, bem cedo, e voltava muito
tarde. Ultimamente nem nos falávamos.

ARQUITETO
Foi sempre assim?

IMPERADOR (esposa)
Ah! Não. No começo ele parecia um louco. Dizia que sabia roubar. Falava
sem parar. Sonhava que um dia ia ser imperador.

ARQUITETO
E depois?

IMPERADOR (esposa)
Depois? Ele nem mesmo me batia.

ARQUITETO
Mas algum dia ele bateu na senhora?

IMPERADOR (esposa)
Bateu. Para afirmar a sua virilidade. Para se vingar das humilhações que
sofria. Depois nem tinha mais tempo, ele chegava tão cansado do
escritório.

ARQUITETO
Quais eram os seus sentimentos em relação a ele?

IMPERADOR (esposa,)
Claro que nunca o amei com loucura. Eu o suportava.

ARQUITETO
Ele sabia disso?

IMPERADOR (esposa,)
Claro, apesar de não ter ele inventado a pólvora, acho que não tinha
ilusões a meu respeito.

ARQUITETO
A senhora o traiu com outros homens?

IMPERADOR (esposa,)
E o que é que o senhor queria que eu fizesse o dia inteiro sozinha?
Esperar por ele?

ARQUITETO
Vocês têm filhos?

IMPERADOR (esposa)
Não.

ARQUITETO
Isso foi premeditado?

IMPERADOR (esposa)
Foi mais um esquecimento.

ARQUITETO
Qual era o seu maior desejo?

IMPERADOR (esposa)
Tocar cítara em trajes da época, enquanto um cavalheiro do tipo Maquiavel
acariciasse ou beijasse minhas costas nuas, onde se via a grande curva da
minha cintura. Gostaria também, apesar de não ser lésbica, de possuir um
harém de mulheres para cuidarem de mim. Gostaria ter galinhas sábias e
borboletas que eu levaria com uma fita, enfim, mil coisas. Acho que teria
gostado também da cirurgia. Vejo-me operando, toda de branco, dentro de
uma sala inteiramente envidraçada. (Curta pausa.) De qualquer modo, ele
só gostava mesmo da mãe.

ARQUITETO
“Ele” quem?

IMPERADOR (esposa)
Meu marido. Posso fazer uma revelação?

ARQUITETO
Fale, o tribunal está aqui para ouvi-la.
IMPERADOR (esposa depois de ter olhado para todos os lados, para ter
certeza de que ninguém a ouve)
Acho que ele só casou comigo para contrariar a mãe.

ARQUITETO
Ele odiava a mãe?

IMPERADOR (esposa)
Odiava mortalmente, e amava, como um louco, só vivia para ela. O senhor
acha que é normal para um homem da idade dele ficar dia e noite agarrado
nas saias da mãe? Ele não precisava de uma mulher, mas de uma mãe. Quando
estava com raiva dela fazia qualquer coisa para lhe desagradar, até mesmo
se casar. Fui a vítima desta vingança. (O Imperador tira sua máscara de
esposa.)

IMPERADOR
Você perdeu a razão. Ficou louco.

ARQUITETO (tira a máscara de presidente do tribunal) Mas o que é que está


acontecendo com você?

IMPERADOR
Você está ficando louco como ele?

ARQUITETO
Você me faz ficar arrepiado.

IMPERADOR
Eu?

ARQUITETO
Quem?

IMPERADOR
O que, quem?

ARQUITETO
Quem ficou louco como eu?

IMPERADOR
Deus.

ARQUITETO
Ah!

IMPERADOR
Mas quando, antes ou depois?

ARQUITETO
Antes de quê?

IMPERADOR
Pergunto quando é que ele ficou louco, antes ou depois da criação?

ARQUITETO
Pobre coitado!
IMPERADOR
Você acha que Deus está no centro da terra?

ARQUITETO
Nunca fomos lá para ver.

IMPERADOR
Claro que está lá, precisamente no centro geométrico, de jeito que possa
ver as calcinhas de todas as mulheres.

ARQUITETO
Nunca fomos lá para ver!

IMPERADOR
Então vamos. Ah! Já imaginou eu tranqüilamente no centro, cercado de
terra por todos os lados, feliz como um verme, completamente louco e
pensando ser um transistor.

ARQUITETO
Tiro a terra?

IMPERADOR
Tire. (Arquiteto tira um pedaço de terra como se fosse uma gaveta. Os
dois olham para dentro. Deitam-se no chão para ver melhor.) Vou buscar o
binóculo. (Volta com o binóculo. Observam com curiosidade o que podem ver
no centro da terra.) Não se vê nada. É muito escuro. (O Arquiteto
concorda, balançando a cabeça, e se ajeita para fechar a terra. De
repente, muito inquieto) Diga-me uma coisa, tem certeza de que ninguém
pode nos ver?

ARQUITETO
Claro que tenho.

IMPERADOR
Você acha que a cabana está bem camuflada?

ARQUITETO
Acho.

IMPERADOR
Não se esqueça dos satélites espiões, os aviões com câmaras fotelétricas,
o radar.

ARQUITETO
Não se preocupe, ninguém pode nos achar aqui.

IMPERADOR
E o fogo e a fumaça. Você apagou bem apagado para não sair fumaça?

ARQUITETO
As vezes, levanta-se um pinguinho de fumaça.

IMPERADOR
Infeliz, vão nos descobrir, vão nos descobrir.

ARQUITETO
Não, claro que não.
IMPERADOR
Vamos ser descobertos por causa das suas negligências. Para que comer
comida quente? Sibarita babilônico. Não ouviu falar de Sodoma e Gomorra?
Merecia que Deus arrasasse nossa ilha como fez com essas cidades que se
entregavam aos vícios. Comer comida quente, fazer fumaça. Você ignora as
virtudes higiênicas da carne crua. Seu esquenta-comida, seu cozinheiro de
nabos, seu papa-moscas. Que a minha cólera de Aquiles caia sobre você!

ARQUITETO
Está bem, concordo. (De joelhos) Você gosta de mim? (Arquiteto se põe
rapidamente a mesa. Recoloca a máscara de presidente do tribunal.) Que
entre a segunda testemunha: o irmão do acusado.

(O Imperador coloca a máscara de “irmão” )

IMPERADOR (irmão)
Claro que sei, que devo jurar dizer a verdade. O senhor sabe, na minha
profissão temos um grande respeito pela justiça, não é? Meu irmão, o
poeta..

ARQUITETO
Há uma certa ironia nas suas palavras.

IMPERADOR (irmão)
Que ironia? Se ele fosse poeta, nós todos saberíamos: é um trabalho
público, não é? Teríamos visto na televisão. Enfim, assim penso eu. O
poeta. Sempre na lua. Vossa Alteza, desculpe, quer dizer, Vossa
Excelência sabe como se divertia o poeta quando era criança?

ARQUITETO
Fale, estamos aqui para esclarecer tudo.

IMPERADOR (irmão)
Peço perdão às senhoras, mas devo revelar que meu irmão tinha um hábito
estranho no internato, beber a urina dos seus colegas de classe.

ARQUITETO
Ainda que o fato possa ter uma certa gravidade, não acha que. . .

IMPERADOR (irmão)
Desculpe lhe cortar a palavra. Se isso não era grave, vejamos o que pensa
do que ele tentou fazer comigo. Vou explicar.
(O Imperador arranca com raiva a máscara.)
IMPERADOR
Não, isso não. Não meta meu irmão nessa história. Eu proíbo. Meu irmão é
um imbecil que não entende nada. Você não está aqui para fazê-lo falar,
que ele vá embora. Isso é traição. Não brinco mais. Chega de julgamento.
(Senta-se no chão e treme de raiva.)

ARQUITETO (agitando a sineta)


Chega de infantilidade, ao processo, ao processo. Não vou tolerar nenhuma
interrupção.

(O Imperador pára de tremer e se apruma cheio de dignidade.)

IMPERADOR (como Cícero, num tom solene) Quousque tandem abuteris,


Catilina, patientia nostra? ou patientia mea. . . Até quando, Catilina,
abusarás da minha paciência? Nossa pátria Roma. . .(interrompe-se e
tomando um tom familiar) Você é uma safado; permito tudo, menos
interromper meu irmão. Meu irmão é um animal aquático da família do
crocodilo, do tubarão e do hipopótamo. Eu o imagino nas regiões verdes,
ainda não dominadas pelo homem, nadando no rastro de sua presa. E eu,
como o anjo exterminador, contemplando suas evoluções. Observe o rosto
dele e o meu. (Pára.) Arquiteto, faremos da Assíria um país para a
frente, à nossa imagem e semelhança, os países subdesenvolvidos viverão
ao abrigo da miséria.

ARQUITETO (tirando a máscara)


Imperador, eu penso que. . .

IMPERADOR
Cale a boca, miserável! Ouça a brisa dos séculos que proclama a nossa
obra imortal. (Silêncio.) Do alto desses. . . (Hesita.) Você será
arquiteto, o arquiteto supremo, o grande organizador, um deus de bolso,
para me expressar melhor. E, diante de você, conduzindo-o, o grande
Imperador, modéstia à parte, eu mesmo, regendo o destino da Assíria e
conduzindo a humanidade para gloriosos amanhãs.

ARQUITETO
Sinto como se um enorme olho. . .

IMPERADOR
Eu também. . . um grande olho de mulher.

ARQUITETO
Ele nos vigia.

IMPERADOR
É.

ARQUITETO
Por quê?

IMPERADOR
Olhe para ele. (Eles olham o céu.) Ele vela o nosso presente. Olhe como
os cílios dele são longos e curvos. (Com muita violência) Cruel
Desdêmona, cruel como as hienas do deserto, vá embora para longe de nós.
(Eles olham desesperados. Ao Arquiteto) O olho não se mexe.

(De repente o Arquiteto pega a sineta e coloca a máscara. O Imperador faz


o mesmo.)

ARQUITETO
A testemunha ia nos contar o que seu irmão fazia com o senhor.

IMPERADOR (irmão)
Meu irmão, o po-e-ta, se divertia quando eu tinha dez anos e ele quinze,
me pervertendo, me violando e me obrigando a violá-lo. (Arrancando a
máscara) Eram brincadeiras de criança, sem importância nenhuma.

ARQUITETO
Silêncio. Que a testemunha continue o seu depoimento.

IMPERADOR (irmão)
Como eu dizia. . . Será que vou ter que fazer um desenho? Vou contar como
era.
IMPERADOR (furioso, sem máscara)
Chega! Chega!

ARQUITETO
O tribunal pede silêncio. Que a testemunha prossiga.

IMPERADOR (irmão)
Ele esperava que mamãe saísse. Ficávamos sozinhos em casa, então ele
enchia a banheira de azeite até a metade e começava a brincadeira. O mais
engraçado vinha depois. Quando tudo tinha acabado, ele começava a tremer
e a se jogar de encontro á banheira. Lembro-me de que, um dia, acabou
dando um corte profundo na mão e molhou seu sexo com o sangue, entoando
um cântico e soluçando. (Tira a máscara, começa a chorar e cantarola.)
Dies irae, dies illa
Quem morre vai embora
Dies irae, dies illa
Merda para Deus, etc.

ARQUITETO (tira a máscara de presidente do tribunal e coloca a de mãe)


Meu filhinho, que é que você está fazendo aí, chorando e blasfemando?

IMPERADOR
Dies irae, Dies illa. . .

ARQUITETO (mãe)
Meu filhinho, sou eu, sua mãe, não me reconhece? Você ainda é uma
criança, como é que pensa na morte? O que aconteceu? Está todo
ensangüentado. Se cortou aqui. E preciso chamar um médico.

IMPERADOR
Mamãe, quero que você me jogue num poço bem fundo, e me traga todos os
dias um pouco de comida, só um pouquinho, para eu não morrer.

ARQUITETO (mãe)
Meu filho, que é que você está dizendo!

IMPERADOR
Aos domingos, você me empresta o seu rádio de pilha só para eu saber o
resultado do jogo de futebol. Está bem?

ARQUITETO (mãe)
Meu filho, o que foi que fez para ficar tão triste?

IMPERADOR
Mamãe, perverti . . .

ARQUITETO (mãe)
Seu irmão?

IMPERADOR (levantando-se violentamente)


Senhor presidente, com o consentimento deste tribunal desejo fazer eu
mesmo a minha defesa. Como disse um grande poeta: “Pouco sacana ou muito
sacana, somos todos sacanas” . Essa é a grande verdade. Gostaria de saber
em nome do que me julgam?

ARQUITETO
Somos a justiça.

IMPERADOR
A justiça? Que justiça? O que é a justiça? A justiça é um certo número de
homens como os senhores e eu, que, na maioria das vezes, escapam dessa
justiça graças à hipocrisia ou a astúcia. Julgar alguém por tentativa de
assassinato . . . Quem nunca desejou matar alguém? Em outras palavras,
não quero agir como todo mundo. Esqueço todos os conselhos. Esqueço que
me recomendaram chorar para causar boa impressão, de ter um ar arre-
pendido. Para o diabo todos os conselhos! E para que continuar com todos
esses truques do tribunal? Para que continue a representar a grande
comédia da justiça. Se choro ou tenho um ar contrito, os senhores não
acreditarão nem nas minhas lágrimas nem no meu arrependimento, mas
compreenderão que assumo o meu papel nessa peça e levarão isso em conta
na hora da sentença. Os senhores estão aí para me dar uma lição: mas
sabem muito bem que a lição pode ser dada a qualquer um, a começar pelos
senhores. Pouco me importam os seus tribunais, seus juizes de opereta,
seus promotores marionetes, suas prisões vingativas.

(De repente o Arquiteto tira a toga e fala.)

ARQUITETO (tapando os olhos com as mãos. Muito devagar, e ao mesmo tempo


se arrumando para correr)
1 - 2 - 3 quem chegar por último é a mulher do padre.

(Saem da cena correndo em disparada.)

VOZ DO IMPERADOR
Você está roubando. Já estava com o pé na frente.

(Ouvem-se ao longe risinhos e barulho de queda. De repente o Arquiteto


entra em cena.)

ARQUITETO
Espero você aqui, comendo um ovo de dromedário com molho de faisão. Não
tenha medo, não vou torear você. Eh! Touro, touro.

VOZ DO IMPERADOR
Mu, mu.

ARQUITETO
Um belo par de chifres nasce até mesmo em gente muito bacana.
(Entra o Imperador com a cabeça ornada por um par de chifres.)

IMPERADOR (em tom choroso)


E pensar que antigamente você era para mim como uma avó, me amava, não
fazia nada sem mim. Ensinei-lhe tudo. Agora não me respeita mais. Nem um
pingo. Se meus ancestrais levantassem do túmulo! Um par de chifres! Um
par de chifres que você colocou na minha testa. fazendo macumba só porque
cheguei antes de você no pique. (Muge e chora)

ARQUITETO
Oh! Touro de ouro, de bronze, touro herdeiro de Taurus!

IMPERADOR
Você é minha vaca sagrada?

ARQUITETO
Sou sua vaca e sua camela cor de rosa.

IMPERADOR
Então coce minha pernas. (Estende uma perna O Arquiteto coça por um
instante.) Não, assim não, coce com mais força. Mais em cima. (Ele coça
com mais força)

ARQUITETO
Já estou cansado de coçar. Assim que começo, você dorme.

IMPERADOR
Durmo? É assim que você trata um Imperador da Assíria? Um Imperador da
Assíria ainda por cima chifrudo, o que não quer dizer nada hoje em dia.
Viva a monarquia!

ARQUITETO
Todas as noites a mesma coisa: “coce-me um pouquinho até eu dormir”. Num
instante começa a roncar como um fole, mas logo que paro de coçar, você
abre um olho e diz: “coça mais, ainda não estou dormindo”.

IMPERADOR
Tire-me esses chifres. Não esqueça que também tenho minha dignidade. Além
do mais, isso pesa muito e não posso virar a cabeça.

ARQUITETO
Como é que você quer que desapareçam? Acha que basta eu dar uma palmada
na mão?
IMPERADOR
Você e louco! Dar uma palmada em sua mão! Nunca! Sabe o que sonhei essa
noite? Que me batiam e eu chorava. Então uma garota me disse no sonho:
“Não chore”. Aí. eu respondi: “Não vê que estou sofrendo?” Ela riu e
disse: “Como é que pode sofrer se é só um sonho? Isso não é verdade”. Eu
não acreditei. Mas ela, para me convencer de que tinha razão, disse para
eu bater em minhas mãos. Aí eu bati e vi as paredes da cabana. Acordei de
repente de mãos juntas, sentado na cama.

ARQUITETO
É, eu vi, e o compreendi.

IMPERADOR
Imagine que agora você bate palmas e. . .que eu acorde desse sonho que
penso ser a vida. . . para. . .Você se vê comigo noutro mundo. . . Melhor
ser pequeno na casa da gente, que grande na casa dos outros. (De repente,
com muita ostentação, toma posição para bater palmas. Hesita alguns
instantes. Vai bater com as mãos lentamente. Pára. Virando a cabeça para
o Arquiteto)
Quando é que vai fazer desaparecer esses malditos chifres, pelo amor de
Deus!

ARQUITETO
Está bem, não precisa ficar assim. É muito simples. Esfregue a cabeça no
tronco do coqueiro que eles caem. (O Imperador sai correndo.) Não, aí
não. No outro.

(Pausa. Barulhos confusos. O Imperador volta sem chifres, ainda


esfregando a testa com uma folha.)

IMPERADOR
Não fico mais moço sem chifres?

(O Arquiteto furioso se dirige para a mesa onde funcionava o tribunal,


enfia a roupa, ajusta a máscara de presidente e fala.)

ARQUITETO
Depois de ter ouvido o irmão do acusado, o tribunal convoca a testemunha
seguinte: senhor Sansão.

(O Imperador põe a máscara de senhor Sansão.)

IMPERADOR (Sansão)
Juro dizer toda a verdade.
ARQUITETO
Onde conheceu o acusado?

IMPERADOR (Sansão)
Jogando bilhar.

ARQUITETO
O senhor só o via nessas ocasiões?

IMPERADOR (Sansão)
Não, um dia ele me pediu para ajudá-lo. Quer dizer, ele me convidou para
jantar e aceitei.

ARQUITETO
Para fazer o quê?

IMPERADOR (Sansão,)
Para fazer o anjo.

ARQUITETO
Para fazer o anjo?

IMPERADOR (Sansão)
É, numa igreja.

ARQUITETO
Conte, por favor.

IMPERADOR (Sansão,)
Quando a igreja ficava vazia, às onze horas da noite, nós íamos para o
coro. Ele se despia e colava algumas penas nas costas, dez ou doze.
Depois ele se amarrava com uma porção de cordas e eu o empurrava no ar.
Ele se balançava de lá para cá, como um anjo ou um arcanjo e, quando ele
não agüentava mais, eu o içava. Perdia sempre a metade das penas e me
pergunto o que devia pensar o pessoal da igreja, quando as encontrava no
chão, na manhã seguinte.

ARQUITETO
O senhor conheceu a mãe dele?

IMPERADOR (0Sansão,)
Conheci. O acusado me disse que se eu fizesse sumir a mãe dele, me daria
todos os tesouros do mundo.

ARQUITETO
O senhor recusou, é claro.

IMPERADOR (Sansão,)
Como se eu fosse um criminoso! Brincar de anjo, está bem. Mas daí para
matar. . . E depois, o senhor precisava ver os dois juntos; um dia, no
cinema, eu vi por acaso. A gente podia jurar que era um casal de namora-
dos.

ARQUITETO
Obrigado pelo seu depoimento. O tribunal deseja ouvir ainda uma vez a
esposa do acusado.

(O Imperador troca a máscara.)

IMPERADOR (esposa)
Precisam ainda do meu testemunho?

ARQUITETO
O tribunal deseja saber a sua opinião sobre as relações que havia entre o
acusado e sua mãe.

IMPERADOR (esposa)
Eu já disse eles se amavam e se odiavam. Tudo dependia do momento.

ARQUITETO
Acha que havia entre eles alguma coisa equívoca, digamos, incestuosa?

IMPERADOR (esposa,)
Quanto a isso sou categórica: acho que não.

ARQUITETO
A senhora ouviu o depoimento da testemunha anterior?

IMPERADOR (esposa)
Segundo os mexericos, meu marido tinha um temperamento fogoso, impetuoso.
Mas nunca teve com sua mãe relações incestuosas. Aqui está uma prova:
pouco antes do desaparecimento dela, atravessavam uma época de ódio
feroz, então a mãe dele me pediu que conseguisse uma entrevista com o
filho, e meu marido aceitou sob as seguintes condições: primeiro, que a
mãe lhe pagasse por cada minuto do encontro uma soma muito elevada:
segundo, que ela o masturbasse com “sua boca maternal”, para que assim
cometesse o mais infame dos pecados, como ele dizia. Era muito inocente.
ARQUITETO
E o que prova tudo isso?

IMPERADOR (esposa)
Isso prova nitidamente que nunca houve nada de equívoco entre eles, senão
ele não exigiria o que acabo de lhes contar, como algo de excepcional.
Agora mesmo, me lembro de um detalhe que pode interessar ao tribunal

ARQUITETO
Fale, por favor.

IMPERADOR (esposa)
Ultimamente, quando a mãe ia visitá-lo, ele me pedia para tapar seus
olhos com esparadrapo e algodão. As vezes aceitava falar com ela, mas
cada um num quarto.
(O Imperador arranca a máscara.)

IMPERADOR
Aposto que vai me condenar.

ARQUITETO
Olho por olho, dente por dente.

(O Imperador muito triste dá uma volta pelo palco e se senta no chão,


dando as costas ao Arquiteto. Torna a cabeça entre as mãos. O Arquiteto o
observa com um ar contrariado. Depois, vendo que o caso é sério, se
dirige para ele. Examina-o minuciosamente e por fim tira a máscara.)

Acalme-se, não é tão grave assim. Quer assoar o nariz? (O Imperador diz
que sim com a cabeça. O Arquiteto, falando para os galhos mais altos de
uma árvore invisível para o espectador.) Árvore, dê-me uma de suas
folhas. (Com efeito, na mesma hora cai uma folha, uma folha bem grande. O
Arquiteto a pega.) Tome, assoe o nariz. (O Imperador se assoa e joga
longe, com raiva, o lenço-folha, depois se coloca de maneira a dar mais
ainda as costas ao Arquiteto.) Deseja alguma coisa? (O Imperador
choraminga.) Está bem, eu sei. É verdade. Você era o imperador, você
ainda é o imperador da Assíria, quando se levantava pela manhã todos os
trens e todas as sirenes mugiam para avisar ao povo que você acabava de
acordar. (Depois de ter dito isso, vai ver o que está acontecendo. O
Imperador continua sem ouvir.) Dez mil amazonas, de corpos esculturais,
nuas, nos seus aposentos. . .

(De repente o Imperador se levanta, enche os pulmões como se fosse imitar


um ator de melodramas. Total grandiloqüência.)

IMPERADOR
Dez mil amazonas, que meu pai importava diretamente das Índias Orientais,
vinham nuas de manhã para meus aposentos e me beijavam a ponta dos dedos
enquanto entoavam em coro o hino imperial cujo refrão é o seguinte:
“Viva nosso Imperador imortal,
Deus o guarde como tal”.
Que ecos! Dez mil. . (A parte) Como se meu quarto fosse um estádio. (De
novo, com ênfase) Minha vida teve sempre a marca de um destino único, no
grande destino universal, foi um exemplo para as gerações futuras e para
as que virão, numa palavra, para a posteridade. (Pausa. Senta-se.)

IMPERADOR
Os senhores têm razão, tentei matar minha mãe, Sansão disse a verdade.
(Levantando-se bruscamente, com grande força e convicção) E o que é que
tem? Tentei matar minha mãe, e daí? Se pensam que vou ficar com complexo
de culpa, estão enganados. Para mim, tanto faz. (De repente fica
inquieto. De joelhos se arrasta até o Arquiteto.) Você vai continuar
gostando de mim, apesar disso?

ARQUITETO
Você nunca me falou dessa tentativa de assassinato.

IMPERADOR (levantando-se, muito digno)


Tenho meus segredos.

ARQUITETO
Estou vendo.
IMPERADOR
Se quer saber a verdade, eu só gostava de uma coisa no mundo, do meu
cachorro policial. Ele vinha me buscar todos os dias. Nós passeávamos
juntos, como dois namorados. Eu não precisava de despertador: ele corria
todas as manhãs para lamber minhas mãos, assim eu não precisava lavá-las.

(O Arquiteto se põe de quatro, passa uma trela em volta do pescoço.)

ARQUITETO
Sou o seu cachorro policial.

IMPERADOR
Uh! Médor! Vá buscar, vá buscar. (O Arquiteto começa a arranhar a terra
como um policial.) Vejamos o que vai descobrir o meu bom e fiel cão.

(O Arquiteto continua escavando e latindo. Por fim tira da terra uma


perdiz viva, que segura entre as mandíbulas e leva correndo, feliz. Logo
volta. O Imperador o acaricia com ternura e lhe dá tapinhas no lombo.)

“Na escala das criaturas apenas o homem inspira um nojo constante, a


repugnância que inspira o animal é apenas passageira.” (O cachorro-
arquiteto aprova feliz e late alegremente.) Esse é dos meus. Fique para
sempre ao meu lado, como um cachorro, e o amarei por toda a eternidade.

(Fica cego e coloca óculos de cego.)

IMPERADOR (cego – tom solene)


“Cante, ó minha musa, a cólera de Aquiles.” Acho que já disse isso antes.
Uma esmolinha para um cego de nascença que não pode ganhar seu pão. Uma
esmolinha. Obrigado, minha senhora, a senhora é muito boa, que Deus lhe
dê uma longa vida e lhe conserve por muitos anos. Uma esmolinha pelo amor
de Deus sabe, agora que sou cego, é que vejo Deus com mais clareza. Ó
Senhor, vejo-vos com os olhos da fé, agora que meus olhos estão cegos. O
Senhor, como sou feliz! Sinto a mesma coisa que Santa Teresa de Ávila,
vós me introduzis uma espada no cu.

ARQUITETO (em linguagem canina)


Nas minhas entranhas.

IMPERAD0 R
Isso mesmo, nas minhas entranhas, sinto que vós introduzis nas minhas
entranhas uma espada de fogo que me proporciona uma alegria e uma dor
sublimes. Ó Senhor, sinto também, como a santa, que os diabos jogam bola
com minha alma. Ó Senhor! Finalmente encontrei a fé. Quero que a
humanidade inteira seja testemunha desse acontecimento. Quero que meu
cachorro também tenha fé. Cachorro, diga-me uma coisa, você tem fé em
Deus? (Latido incompreensível do cão-policial-arquiteto.) Seu sarraceno,
não acredita em Deus? (Vai bater no cachorro, mas esse foge. Como um cego
ele tateia por todos os lados com sua bengala) Animal maldito. Venha para
perto de mim. Sou a voz da revelação, da fé. (Dá golpes com a bengala em
todas as direções, procurando atingir o cachorro que debocha dele) Farei
uma cruzada de crentes cegos para combater a golpes de baionetas todos os
cães ateus do mundo. Animal maldito. Venha cá. Ajoelhe-se comigo, vou
rezar. (Distribui golpes com a bengala para todos os lados O cachorro
zomba dele.)
E você ainda por cima zomba de mim! Maldito coiote dos pampas. Pobre
animal. Ele não compreenderá nunca as altíssimas virtudes do
proselitismo.

(O Arquiteto tira a coleira e volta para o tribunal.)

ARQUITETO (presidente)
Que entre a testemunha seguinte. (O imperador, resmungando, tira os
óculos de cego.) Eu disse que introduzissem a testemunha seguinte.
Madame. . . Olympia de Kant.

IMPERADOR (Olyntpia de Kant)


Posso ajudar em alguma coisa?

ARQUITETO
Conheceu a mãe do acusado?

IMPERADOR (Olympia)
Como poderia não conhecer? Era minha melhor amiga. Éramos amigas de
infância: fomos expulsas do mesmo colégio.

ARQUITETO
Por que foram expulsas?

IMPERADOR (Olympia)
Coisas de garota. Brincávamos de médico, nuas, botávamos termômetro, mil
coisas, derramávamos tinteiros cheios de tinta na cabeça. Nessa época tão
quadrada, imagine o que pensaram! Claro que nos beijávamos, por que é que
não íamos nos beijar? Éramos duas garotinhas que despertavam para a vida.
O fato é que nos expulsaram do colégio.

ARQUITETO
Que idade vocês tinham?

IMPERADOR (Olympia,)
Ela era um pouco mais velha que eu. Duas garotinhas. Eram brincadeiras,
brincadeiras inocentes, mas acho que não estamos aqui para falar sobre
esse assunto.

ARQUITETO
Assunto que não deixa de ser interessante. Que idade tinham na época da
expulsão?

IMPERADOR (Olympia)
Quem? Eu? (Muito séria.) Apenas vinte anos.

ARQUITETO
Oh! (Silêncio crispado.) É claro que conhecia o acusado, não é?

IMPERADOR (Olympia,)
Ele era o grande amor da mãe. Ela só vivia para ele. E sempre achei que
ele também a amava com o mesmo ardor.

ARQUITETO
Eles nunca discutiam?

IMPERADOR (Olympia)
Todos os dias tinham brigas violentas. Isso é que é o amor. Era comum vê-
los passeando num parque como um casal de namorados. Brigavam aos gritos,
sem se importar com os outros. Nunca imaginei que as coisas pudessem ir
tão longe.

ARQUITETO
Tão longe?

IMPERADOR (Olympia)
Alguns dias antes de a mãe dele desaparecer para sempre, de-sa-pa-re-
cer. .

ARQUITETO
O que quer dizer com esse tom irônico?

IMPERADOR (Olympia)
Acho que ninguém desaparece, mas que desaparecem com a pessoa.

ARQUITETO
Tem consciência da gravidade da sua acusação?

IMPERADOR (Olympia)
Nunca confundo nada. O que dizia é que, alguns dias antes do
desaparecimento dela, aconteceu um incidente que acho que vale a pena
contar. Enquanto dormia, seu filho se aproximou sem fazer nenhum barulho
e, com muito cuidado, colocou perto da cama um garfo, sal, um guardanapo
e um machado de açougueiro. Com muito jeito levantou o pescoço da mãe e,
quando ia desferir uma bruta machadada para decapitá-la, ela se afastou.
O acusado, em vez de ficar sem graça, teve um acesso de riso.

(O Imperador pára, é tomado de um riso histérico; antes já tinha tirado a


máscara de Olympia.)

IMPERADOR
Carne de mãe. Boa e macia. Açougue-modelo. Artigo do dia. (Ri como louco.
De repente se vira para o Arquiteto, com ar muito sério, muito triste.)
Nunca lhe disse isso, mas você sabe? Quando vou para longe de você. .
.(Muito alegre) Quando penso que poderia ter lhe dado um belo golpe com a
machadinha e cortá-la em posta. Minha mãe em bifes. (De novo, muito
triste) Você nunca soube, mas quando me afasto de você para ir. . .
(Muito digno) Ir à privada, porque. . . (Ri.) Minha mãe era um caso
sério. Espero que você não tenha acreditado numa só palavra do que disse
Madame Olympia de Kant. (Triste) Pois bem, hoje você vai saber de tudo,
vou lhe dizer toda a verdade. Afasto-me de você para blasfemar.

ARQUITETO
Mas por quê? Não quer blasfemar comigo?

IMPERADOR (triste)
Não me obrigue a causar escândalo. Não esqueça essas palavras históricas:
“Se tua mão é causa de escândalo, é melhor cortá-la”. “Se teu pé. . .”
Será por isso que hoje em dia há tantos pernetas?

ARQUITETO
Não há escândalo algum. Se quiser podemos blasfemar juntos agora.

IMPERADOR (inquieto)
Juntos? Eu e você? Blasfemar?
ARQUITETO
Claro, seria maravilhoso

IMPERADOR
Que tal blasfemar com música?

ARQUITETO
Ótima idéia!

IMPERADOR
Qual será a música que mais chateia Deus?

ARQU ITETO
Você deve saber melhor do que eu.
IMPERADOR
Blasfemar com um fundo de música militar deve dar tanto prazer quanto um
chute nos culhões. (Triste) Sabe o que faço quando vou pra longe? Evacuo
com grande dignidade, em recolhimento. Depois, com o produto, que me
serve de tinta, escrevo: “Deus é um filho da puta. . .”Você acha que um
dia ele vai me transformar em estátua de sal?

ARQUITETO
Porque agora ele transforma as pessoas em estátua de sal?

IMPERADOR (grandiloqüente)
Imbecil! Não leu a Bíblia? É inacreditável! Que juventude! Você não
sabia? Deus o transforma em estátua de sal ou faz chover fogo do céu ou
inunda a terra de água. Por isso, tome cuidado!

ARQUITETO
Está bem, vamos ou não vamos blasfemar juntos?

IMPERADOR
Como, você não tem medo?

ARQUITETO
Mas, você disse. . .

IMPERADOR
Não me faça recordar meus pecadinhos da juventude! Você nada sabe sobre
as fraquezas da carne. Ouça com atenção. (Toma a atitude dum tenor e
canta com ênfase, num tom de ópera.) Merda para Deus. Merda para sua
imagem divina. Merda para sua onipresença. (Ao Arquiteto) Faça ao menos
tra-lá-lá-lá-lá. Odeio Deus e todos os seus milagres.

ARQUITETO
Trá-lá-lá-lá-lá-lá.

IMPERADOR (furioso)
Animal! Como ousa me interromper?

ARQUITETO
Você, você quem pediu. . .

IMPERADOR
Cale a boca! Não viu que eu seguia a minha inspiração? Pensa que é fácil
cantar ópera? (Pausa.) A propósito do julgamento, onde é que estávamos?
ARQUITETO
Agora, é você que está interessado?

IMPERADOR
Volte imediatamente para o seu lugar. Você nunca vai fazer justiça nessa
ilha perdida. Se Cícero se levantasse do túmulo, que catilinárias ele
iria compor para nós.

(O Arquiteto põe a máscara de presidente do tribunal.)

ARQUITETO
A justiça será feita. Que entre a testemunha seguinte. Um momento. . . O
tribunal acredita ter ouvido todas as testemunhas. Vamos ouvir o que o
acusado tem a dizer em sua defesa. Que acham da carta que encontramos:
“Como o pássaro que voa para as margens sobre a cabeça dos pescadores que
remam. . .”

IMPERADOR
Não diga mais nada, reconheço o estilo da minha mãe.

ARQUITETO (resmungando, enquanto lê para si mesmo)


Ham, que interessante! “Fui sempre para meu filho como uma rocha, como
uma biblioteca, como um radiestesista, para ele. . .

IMPERADOR
A ladainha de sempre: todo o amor que ela me dedicou etc... etc...

ARQUITETO (murmura e por fim lê)


“Quando ele era pequeno, eu tinha de deitá-lo na calçada, cobri-lo com um
lençol, depois aparecer, levantar o lençol e dizer: “Meu filhinho, meu
tesouro, morreu longe da sua mãezinha...’”

IMPERADOR (impaciente)
Brincadeiras, brincadeiras inocentes. Nada de especial.

ARQUITETO
Não esqueça que ela escreveu essa carta alguns dias antes do seu pretenso
desaparecimento.

IMPERADOR
O que é que eu tenho com o desaparecimento dela?

ARQUITETO (lendo)
“Temo que alguma coisa horrível aconteça, ultimamente ele ficou muito
esquisito, me faz mil malcriações sem nenhum motivo. Quando, nas claras
noites de luar, passeamos no bosque, não dançamos mais a farândola como
antigamente, tenho a impressão de que ele me espiona, que me . . .

(O Imperador sai correndo. Arquiteto tira a roupa de presidente e coloca


a máscara de mãe, depois se embrulha num xale, com o qual cobre a cabeça.
O Imperador executa uma dança endemoniada, e canta.)

IMPERADOR
De noite, as estrelas
Se cobrem de meias e ligas de mulher.
De noite, as estrelas
Me chamam para o interior de meu cérebro.
(O .Arquiteto-mãe dança com ele uma espécie de farândola.)

IMPERADOR (pára de repente)


Vou dar você para o cachorro.

ARQUITETO (mãe)
Que é que você está dizendo, meu filhinho?

IMPERADOR
Vou matá-la e mandar o cachorro comê-la.

ARQUITETO (mãe)
Meu filhinho, como você está perturbado, meu pobre filhinho querido.

IMPERADOR
Mamãe, sou muito infeliz.

ARQUITETO (mãe)
Filhinho, estou aqui para ajudá-lo.

IM PERADOR
Você vai ficar sempre junto de mim para me ajudar?

ARQUITETO (mãe)
Mas que idéia! Você não gosta mais de mim?

IMPERADOR
Gosto. Olhe, sou uma banana, me descasque e me coma se quiser.

ARQUITETO (mãe)
Filhinho, ponha um pouco de juízo nessa cabeça. Você está ficando louco.
Está sempre só. Deve sair mais, ir ao cinema. . .

IMPERADOR
Todo mundo me detesta.

ARQUITETO (mãe)
Venha ao meu colo, que vou niná-lo. (Pousa a cabeça no colo do Arquiteto-
mãe.) Filhinho, não chore. Pobrezinho. Ninguém gosta dele porque é melhor
do que os outros. Todos têm inveja.

IMPERADOR
Mamãe, deixe-me sentar a seus pés como quando eu era pequenininho.

ARQUITETO (mãe)
Está bem, meu filhinho.

(O Arquiteto-mãe levanta os pés. O Imperador, sentado de costas para a


mãe, apóia o pescoço contra a planta dos pés do Arquiteto. Posição muito
delicada para ser tomada e para ser mantida. O Arquiteto-mãe canta uma
canção de ninar.)

Tutu marambá não venha mais cá


Que a mãe do menino te manda matar
(ou qualquer outra canção de ninar).
(A mãe cantarola enquanto o Imperador cochila. De repente ele se levanta,
tomado do maior frenesi.)

IMPERADOR
Que me ouçam todos os séculos: é verdade, matei minha mãe, eu mesmo, sem
ajuda de ninguém.

(O Arquiteto corre e veste a roupa de presidente do tribunal.)

ARQUITETO
Tem consciência da gravidade de sua confissão?

IMPERADOR
Para mim tanto faz. Que todos os castigos do céu caiam sobre mim, que
seja devorado por mil plantas carnívoras, que um esquadrão de abelhas
gigantes chupe o sangue de minhas veias, que me amarrem pelos pés no
espaço infinito, a dez milhões de anos-luz desse planeta; que os dragões
de Satã me queimem as nádegas até que se transformem em dois tamborins
escarlates.

ARQUITETO
Como foi que você a matou?

IMPERADOR
Com uma martelada na cabeça, enquanto dormia.

ARQUITETO
Teve morte instantânea?

IMPERADOR
Teve. (Sonhador) Que coisa estranha, da abertura da sua cabeça escaparam
uns vapores e tive a impressão de que da ferida saía um jacaré. Subiu na
mesa que estava na minha frente, sua garganta saliente se agitava
ofegante e ele me olhava fixamente. Examinando de mais perto, percebi que
o rosto dele era o meu próprio rosto. E quando procurava aprisioná-lo,
desapareceu como se fosse um fantasma.

ARQUITETO
Mas quando.

IMPERADOR
Depois, não sei por que, tive uma vontade horrível de chorar. Sentia-me
muito infeliz. Beijava minha mãe, e minhas mãos e meus lábios ficaram
sujos de sangue. Quis gritar por ela, mas ela não me respondia, e me
senti cada vez mais triste e mais infeliz. (O Imperador procura.)
Mãezinha, sou eu. Não queria machucá-la. Que é que você tem? Por que não
se mexe mais? Olhe como você está sangrando. Quer que eu dance só para
você? (Começa a se contorcer, a executar falsas piruetas, muito
malfeitas, recitando)
“Era uma vez uma princesa muito bonita
que se chamava Branca de Neve”. (Geme.)
“Ela morava num palácio. . .”
Mãezinha, eu não queria machucá-la, dei apenas uma marteladinha, bem de
leve. . . “muito bonito, mas tinha uma madrasta muito má”. Você gostou,
mãezinha querida? Contei bem? Fale comigo. (Pausa.) Diga alguma coisa.

(O Arquiteto bate na mesa.)


ARQUITETO
O que fez com o cadáver? Como explica que não tenha aparecido nunca?

IMPERADOR
É. . . (Baixa a cabeça, timidamente.) Que importância tem?

ARQUITETO
A justiça deve saber de tudo.

IMPERADOR
O policial que nós tínhamos. . . o cachorro. O cachorro. . . quer dizer.
. . comeu o cadáver.

ARQUITETO
E você não impediu?

IMPERADOR
Eu. . . não. . . mas que mal há nisso?. . . Ele levou muitos dias. Cada
dia comia um pedaço. . . Eu é que abria a porta para ele entrar.

ARQUITETO
Ele devorou tudo, mesmo os ossos?

IMPERADOR
Os que ele não tinha roído eu joguei na lata de lixo da Faculdade de
Medicina.

ARQUITETO
O tribunal julgará seus atos.

IMPERADOR (num tom muito falso)


Como um barco com as velas infladas pára em todas as escalas do seu
itinerário, assim minha dor conhecerá todas as escalas do martírio. (Tom
sincero) Arquiteto, me condene à morte, sei que sou culpado. Sei que me-
reço. Não quero suportar por um minuto a mais essa vida frustrada, cheia
de fracassos. Acho que teria sido feliz num aquário, cercado de água e de
peixes onde as garotas viriam me ver aos domingos. . . Em vez disso. . .
Arquiteto, diga que é. . . meu amigo, diga que, apesar de tudo, você não
vai me mandar embora hoje de noite.

ARQUITETO
Estamos aqui para julgá-lo.

IMPERADOR
Arquiteto, diga de uma vez que você me condenou. (Pausa.) Escute, sou sua
Fênix. (Imita Fênix.) Suba nas minhas costas e o levarei ao paraíso das
lições obscuras.

ARQUITETO
Nada de histórias. O senhor está diante de um tribunal.

IMPERADOR
Meus argumentos são seus cisnes redondos durante o último período de lua
cheia.

ARQUITETO
Você será julgado com grande severidade.
IMPERADOR
Posso saber qual será meu castigo?

ARQUITETO
A morte.

IMPERADOR
Posso escolher minha morte?

ARQUITETO
Fale.

IMPERADOR
Queria ser morto por você com uma martelada; Arquiteto, você mesmo vai me
matar.

ARQUITETO
Acho que podemos satisfazer os seus desejos.

IMPERADOR
Mas sobretudo. . .

ARQUITETO
Não deseje, exija, é a última vontade de um condenado a morte. Fale de
uma vez.

IMPERADOR
Depois da minha morte. . .
ARQUITETO (tirando a toga)
Imperador, você está falando sério?

IMPERADOR
Muito sério.

ARQUITETO
Seu julgamento, seu processo, era apenas mais uma brincadeira. . . mas
parece que você levou a sério. Imperador, você sabe que eu gosto de você.

IMPERADOR (emocionado)
Você está falando sério?

ARQUITETO
Muito sério.

IMPERADOR (mudando de tom)


Mas hoje não estávamos brincando.

ARQUITETO
Hoje é um dia como os outros.

IMPERADOR
Não, era diferente, confessei-lhe muita coisa que não queria confessar.

ARQUITETO
Tanto faz. Você me beija?
(O Arquiteto fecha os olhos. O Imperador se aproxima dele e lhe beija
muito cerimoniosamente a testa) Na testa?
IMPERADOR
Eu o respeito, que é que você entende disso?

ARQUITETO
Ensine-me, como tudo que me ensinou.

IMPERADOR
Hoje você vai me matar: você me condenou à morte e deve executar a
sentença.

ARQUITETO
Mas morrer não é uma brincadeira como as outras: é irreparável.

IMPERADOR
Eu exijo. É meu castigo. . . são esses os meus últimos desejos!

ARQUITETO
Fale.

IMPERADOR
Desejo. . . desejo. . . que você me coma, que me coma. Que seja ao mesmo
tempo eu e você. Você deve me comer inteiro, Arquiteto, entendeu?

(Escuridão.)

QUADRO II

Algumas horas mais tarde. Sobre a mesa que antes serviu para o julgamento
jaz o cadáver nu do Imperador. A mesa está posta como para uma refeição.
Quando a cena se ilumina, o Arquiteto aparece, com um enorme guardanapo
amarrado ao pescoço. À medida que se passa a ação, o Arquiteto toma a
voz, o tom, os traços e as expressões do Imperador. Quando volta a luz, o
Arquiteto está cortando o pé do Imperador com um garfo e uma faca.

ARQUITETO
Frágil! Tinha o tornozelo muito duro. (Serra um pouco para arrancar, mas
em vão. Dirigindo-se para a cabeça de morto do Imperador,) Eh! Imperador,
que é que você tem nos ossos dos pés que não há jeito de quebrar? (Entra
na cabana e sai com um serrote rudimentar. Serra com o serrote. O pé
resiste.) Matá-lo. . . comê-lo. . . E eu aqui sozinho. Quem me levará
agora para a Babilônia no dorso de um elefante? Quem vai coçar minhas
costas para eu dormir? Quem vai me açoitar quando eu quiser? (Dirige-se
para as folhagens) Toupeiras, vão buscar um machado, para que eu consiga
arrancar esse maldito pé. (Estende a mão, não acontece nada.) O que é que
está acontecendo? Não me obedecem? Sou eu quem fala, eu sou o Arquiteto e
não o Imperador. Tragam-me um machado. (Estende a mão. Espera inquieto.
Depois de um grande tempo de expectativa um machado aparece entre as
folhagens). Custaram, esses vagabundos. Será que não me obedecem mais?
Vejamos. Que a chuva e a tempestade caiam imediatamente. (Espera
angustiado.) O quê? Isso também não? Sinto-me diferente. Estou inquieto.
Banhei-me na fonte da juventude, fiz todos os exercícios e no entanto não
obedecem mais. (Tempestade e chuva.) Ah! Ainda bem! Antes tarde do que
nunca. (Com o machado na mão se dirige para o Imperador. Golpeia vio-
lentamente o pé do Imperador e consegue cortá-lo. Toma-o nas mãos. Segura
o pé e o examina bem de perto.) Aqui estão os cinco dedos. Os calos. Belo
pé, um pouco grande. Viva Deus. Não deve mais sentir cócegas. (Faz
cócegas na sola do pé. É ele quem ri.) Comê-lo assim, sem molho. . . um
salzinho até que não seria ruim. (Põe sal. Morde e saboreia a dentada.)
Hum! até que é gostoso. Fico com a boca cheia d’água. (De repente pára de
comer, aterrorizado.) Espero que hoje não seja dia de jejuar. Será que é
sexta-feira? Acho que não. Qual é mesmo a religião que proíbe comer carne
às sextas-feiras? Esse nojento do Imperador! Não me disse. Numa, tem essa
história de sexta-feira e de cruzadas. Ora bolas, não me lembro de nada.
Na outra, haréns. Está uma meleira na minha cabeça. Se não me falha a
memória, todas proíbem a masturbação, exceto quando. . . Que diabo, onde
é que estão esses malditos livros de piedade? Mas, afinal de contas, qual
a minha religião? Bem, é melhor eu esquecer isso. (De repente muito
inquieto) O papel, onde é que está o papel? (Sai, entra na cabana e volta
com um pedaço de papel na mão. Lendo o papel) “Quero que se vista como
minha mãe para me comer. Não esqueça de vestir o espartilho de lacinhos”
Ora, ia esquecendo o principal. (Dirige-se para a cabana e volta com uma
grande mala onde está escrito com letras grandes: “Roupas de minha
mãezinha adorada”‘ Abrindo a mala) Que cheiro! Porra! Essa senhora deve
ter feito xixi em cima disso. Fedem mais que o Imperador. E quando ele
inventava de mexer no sexo, fedia mais que uma lebre. Que idéia: o dia
todo mexendo nele, botando para fora, contemplando... (De repente começa
a rir.) E, quando o escondia entre as pernas, dava a impressão de que não
tinha. Era uma criança. (Tira o espartilho. Veste. Começa a amarrar.)
Para que todos esses lacinhos? Espera aí! Será que eu estou falando
igualzinho ao Imperador? Que é que está acontecendo comigo? Estou falando
sozinho também. Como ele dizia: estou só, isso me fornece a ocasião de
ser shakespeariano e de dizer um monólogo. Maldito espartilho! Quem
inventou isso? Por que mandou disfarçar-me com as roupas da sua mãe? Bem,
é melhor não misturar as coisas. (Para poder melhor apertar os laços, ele
os pendura num galho. Amarra com violência.) Sufoco. Como é que elas se
arrumavam para se deixar bolinar com todas essas quinquilharias?
(Terminou de amarrar o espartilho. Envolve-se num xale e coloca um chapéu
rococó.) Que mãe maravilhosa eu fico! Minhas entranhas estão prestes a
engendrar o próprio Nero. . . (Inquieto) Mas não era assim que falava o
Imperador? Abaixo a monarquia! Estou cheio de você e da sua mãe. Essa é a
última coisa que faço por você, comer seu cadáver, vestido como sua mãe,
depois vou para outras praias com a minha canoa. Ouço, vindo das águas, o
chamado de dez mil trombetas de Jericó. Do meu ventre vai nascer a luz
que vai me guiar para um país onde viverei sufocado de felicidade, onde
as crianças correrão como as rainhas de Sabá e onde os velhos dominarão
as mulheres de mãos acariciantes. (Está sumariamente disfarçado de mãe.
Senta-se à mesa e come cerimoniosamente mais um pedaço do pé do
Imperador. Pára de mastigar e fala chorando, para a cabeça do Imperador.)
Sabe, sinto muito. Estou muito sozinho. Você me fazia companhia. Promete
que vai ressuscitar. Por que você não fala comigo? Diga ao menos que é
meu amigo. (Espera um pouco.) Por favor, diga alguma coisa. Faça um
milagre. Os santos falam depois de mortos, você mesmo me contou. Faça um
milagre para mim. Qualquer um. . .para que sinta a sua presença, isso é
tudo que desejo. Olhe esse copo d’água, faça-o virar uisque. (Levanta o
copo.) Vamos, faça um esforço. E um copinho pequenininho. Se eu lhe
pedisse para fundir um sino de igreja e tornar fecundas as mulheres
estéreis que o tocassem, você podia reclamar, mas só um uísque. . . um
esforçozinho. . . Então um ainda mais fácil: transforme a água em vinho
branco. (Espera, sem nada acontecer.) Em vinho branco. É tão fácil. . .
Em sangria. (Furioso) Está bem, não falo mais com você. Que se dane.
Acabe de morrer sozinho. (Morde furiosamente o pé do Imperador. Toma o
copo de água que tinha levantado antes. Leva-o aos lábios para beber.
Furioso, joga-o longe.) Porco, bosta. Transformou a água em purgante.
Você é um trapaceiro, um santo de botequim. Se isso é um milagre, eu sou
Sarah Bernhardt. (Devora um grande pedaço do pé.) Que é que você quis
dizer com isso? Purgante. Então há uma outra vida. . . um além. Se
tivesse uma mesa com três pés me comunicava com ele. Em todo caso ainda
tenho escolha. Depois que tiver comido o cérebro dele com todo o ácido
nucleático, serei capaz de tudo. (Dirige-se à cabana e volta com um
cinzel de escultor e um canudinho.) Permite? Primeiro vou chupar teu
ácido nucleático, graças a ele. . . mas claro, eu compreendo, o purgante
era para a mãe dele. . . Para a mãe dele. (Ri.) Graças ao seu ácido
nucleático vou ser dono de sua memória, dos seus sonhos. . . dos seus
pensamentos. (Bate no cinzel colocado atrás da orelha do Imperador. Faz
um buraco. Enfia o canudinho. Aspira o cérebro, pedaços de uma substância
parecida com iogurte escorrem pelas suas faces. Ele lambe.) Uf! (Terminou
de chupar o cérebro.) Sinto-me outro homem. Bem que mereço uma sesta.
Gorilas da floresta, vão buscar uma rede. (Espera com confiança.) O que é
que está acontecendo? Não ouviram? Pedi uma rede. (Espera com
impaciência.) Mas como? Não querem me obedecer? (Dirige-se para as
folhagens.) Ei, você aí, gorila. Vá buscar uma rede para mim. (Espera
algum tempo.) Não somente não me obedece, como sai correndo. É o cúmulo!
(Senta-se gemendo tristemente.) Perdi toda a minha autoridade.

(Escuridão.)

QUADRO III

Sobre a mesa não restam do Imperador senão os ossos. O Arquiteto tem a


mesma entonação de voz que o Imperador, os mesmos gestos. Quando volta a
luz, o Arquiteto está chupando o último osso.

ARQUITETO
Agora que não posso mais dominar os animais, vou treinar uma cabra.
Quando eu lhe mandar assinar com o casco, ela fará um rabisco, quando lhe
disser para imitar Einstein, ela vai por a língua para fora, quando
mandar fazer o bispo ela vai se ajoelhar. Imperador, onde é que você
está? Como o pude comer tão facilmente? Você é pó e ao pó há de voltar. .
.E o sol? Será que o sol ainda me obedece? Vamos verificar: que caia a
noite. (Não acontece nada. Chupando de novo o último osso, ele o coloca
sobre a mesa.) Agora posso dizer, sem mentir, que terminei. (Os ossos
ficam sobre a mesa, onde formam uma espécie de esqueleto deslocado.) Falo
sozinho como se estivesse com ele. E preciso me dominar. (Empurra a mesa
com a mão e um dos ossos cai no chão. Ele se abaixa para apanhá-lo.
Desaparecem totalmente aos olhos dos espectadores.)

VOZ DO ARQUITETO
Onde caiu esse maldito osso?

(Quando reaparece, é o Imperador que surge de debaixo da mesa, vestido


como o Arquiteto.)

IMPERADOR (Arquiteto)
Ah! Está aqui. Aqui está o maldito osso. Preciso tomar cuidado. Derrubo
tudo. Uma cabra, isso mesmo, uma cabra sábia que vai ser princesa da
Caldéia ou imperatriz ou uma freira libidinosa. (Empurra a mesa onde
estão os ossos e a mesa desaparece.) Que desapareçam todos os traços da
ceia imperial! Enfim só! Agora tenho certeza, vou ser feliz. Uma vida
nova começa para mim. Esqueço todo o passado. Mais ainda, esqueço todo o
passado, mas para tê-lo mais presente ainda no espírito, para não recair
em nenhum dos meus erros de outrora. Nada de sentimentalismo. Nada de
lágrimas pelos outros. (Chora. Retomando) Já disse, nem uma lágrima pelos
outros. Sereno. Tranqüilo. Feliz. Sem complicações, sem sujeição. Vou
estudar e chegarei a descobrir sozinho o eterno movimento do universo.
(Estende uma perna e olha na direção oposta.) Coce-me a perna, me faça
cócegas. (Lentamente, o rosto virado para o lado oposto, deixa escorregar
uma das mãos para a perna. No momento em que toca o joelho com a mão, diz
voluptuosamente) Assim, aí, coce, aí, devagar, mais embaixo, com a unha.
Com mais força. Com as unhas. Estou dizendo com as unhas. Com mais força.
Coce com mais força. Aí. Mais ainda. Mais para baixo. Com força. Com
força.

(De repente é tomado de frenesi. Segura com a outra mão aquela que o es-
tava coçando, como se ela não tivesse vida, e a contempla surpreso.)

IMPERADOR
Que orgias preparo para mim! Eu sozinho. Vou ser o primeiro, o único, o
melhor. Preciso prestar atenção para que ninguém me veja. Escondido dia e
noite. E nada de fogo. Nada de cigarro. A luz de um megaton é captada
pela televisão de um radar a 10 000 km à sua volta. É preciso tomar todas
as precauções. Vou cantar árias de ópera. (Canta.) “Fígaro – Fígaro -
Fígaro - Fígaro.” Que sujeito! E como sou único, a humanidade não vai me
invejar, nem me perseguir. Ninguém vai conhecer o talento que possui esse
único habitante de um planeta, quero dizer, de uma ilha solitária. E por
isso, agora, já que ninguém me ouve. . . (Louco de alegria) Viva eu! Viva
eu ! E merda para os outros! Viva eu! Viva eu! Viva!

(Dança feliz, louco de alegria. Nesse momento ouve-se um barulho de


avião. O Imperador escuta por um momento, imóvel, depois, como um animal
perseguido e ameaçado, procura um refúgio, corre em todas as direções,
escava a terra, treme, recomeça a correr e por fim enfia a cabeça na
areia. Explosão. Luz forte de chamas. O Imperador, com a cabeça na areia,
tapa os ouvidos com as mãos e treme de medo. Alguns minutos depois o
Arquiteto entra em cena. Traz uma grande mala. Tem uma certa elegância
afetada. Procura recobrar seu sangue-frio. Toca o Imperador com a ponta
da sua bengala, dizendo)

ARQUITETO
Cavalheiro, venha me ajudar, sou o único sobrevivente do acidente.

IMPERADOR (horrorizado)
Fi! Fi! Figa Figa! Fi! Fi!

(Olha-o por um momento aterrado e sai correndo. A cortina cai na mesma


hora.)

FIM

Casa de Campo, 1965.

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