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RELATO DE CASO

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Carolina Carbonell
dos Santos¹ Atividades educativas em
sexualidade com adolescentes na
escola: relatando experiência
Educational activities in sexuality with adolescents in school:
reporting experience

> RESUMO
Objetivo: Trata-se de um relato de experiência com grupos de adolescentes entre 10 e 15 anos, em que se utilizou a
metodologia participativa para abordar a temática sexualidade solicitada pela escola, visto a iniciação sexual precoce
dos alunos. Descrição do caso: Foi possível consolidar uma parceria entre o serviço de saúde e a escola, seguindo um
dos princípios da estratégia de saúde da família que é a promoção de saúde. Comentários: No discorrer do relato são
apresentadas as dinâmicas conduzidas pelas enfermeiras.

> PALAVRAS-CHAVE
Adolescente, educação em saúde, sexualidade.

> ABSTRACT
Objective: This is an experience report with groups of adolescents aged between 10 and 15 years, in which a participative
methodology was used to deal with the sexuality issue requested by the school due to the early sexual initiation of the
students. Case Description: It was possible to consolidate a partnership between the health service and the school, following
one of the principles of family health strategy which is the promotion of health. Comments: During the development of the
report, the dynamics conducted by nurses are related.

> KEY WORDS


Adolescent, health education, sexuality.

> INTRODUÇÃO individual e ao coletivo, o que amplia o entendi-


mento do existir adolescente para além de um
A adolescência é uma etapa da vida hu- processo biológico de vivências orgânicas1.
mana entremeada de transformações, conflitos, Entende-se a adolescência como um fenô-
desafios, crises e descobertas. Está articulada meno único e diverso, pois as necessidades dos
a várias dimensões e inter-relacionada ao nível adolescentes dependem do meio social, cultural,

¹Enfermeira da Estratégia de Saúde da Família do município de Caçador/SC. Caçador, SC, Brasil. Mestranda do Programa de Pós-graduação
em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Santa Maria, RS, Brasil.

Carolina Carbonell dos Santos (carolinaufsm@hotmail.com) – Av. Roraima, nº 1000, Prédio 26, 3º andar, Camobi – Santa Maria,
RS, Brasil. CEP: 97104-900.
Recebido em 02/10/2012 – Aprovado em 04/02/2013

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 53-55, outubro 2013
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ADOLESCENTES NA ESCOLA: RELATANDO EXPERIÊNCIA

econômico e psicológico em que vivem. Com- metodologia, a infraestrutura necessária para as


preende-se, em consonância com a autora, que o oficinas, as datas e os horários possíveis.
“viver humano é marcado pelo seu tempo e es- Na metodologia participativa, a pesquisa
paço, pelas possibilidades sociais criadas pela hu- articula-se com o processo de assistência, inte-
manidade em geral, e para cada ser em particular, grando-se às atividades cotidianas dos adoles-
em face de suas também mutáveis necessidades”2. centes. Isto pode ser explicado pelo fato de que
Com o intuito de contribuir com a deman- a estratégia de discussão em grupo favorece a
da de tal realidade, fez-se uma parceria com uma conversação que é um processo ativo que se de-
escola situada na área de abrangência de uma senvolve entre sujeitos, uma aproximação com o
estratégia de saúde da família no município, de outro em sua condição de sujeito5.
maneira que as enfermeiras da Estratégia Saúde O tema sexualidade foi solicitado pela es-
da Família (ESF) abordassem questões relativas à cola, visto que foi identificado pelos professores
sexualidade dos adolescentes. Dessa forma, foi que os alunos estariam tendo comportamentos
possível que eles expressassem seus sentimentos “estranhos” referentes aos seus órgãos sexuais e
ante as transformações, os anseios, os tabus e as ao corpo dos colegas.
dúvidas inerentes a essa fase3. Por conta disto, previamente, as facilitadores,
Utilizou-se a Metodologia Participativa como duas enfermeiras e uma auxiliar de enfermagem,
estratégia para desenvolver educação em saúde elaboraram um cronograma de desenvolvimento
com os adolescentes. Esta metodologia adota da atividade, o material necessário e disponibili-
como pressuposto básico a participação, o de- zaram seu tempo de atendimento na ESF.
senvolvimento da reflexão crítica e o estímulo à No primeiro momento todos os presentes
criatividade e à iniciativa. Trata-se de uma forma apresentaram-se e, em seguida, a equipe de faci-
de trabalho didático e pedagógico baseada no litadoras deu início à primeira dinâmica do gru-
prazer, na vivência e na participação em situa- po denominada “O corpo do homem e o corpo
ções reais e imaginárias, em que, por intermédio da mulher”. Nesta atividade, foram identificadas
de técnicas de dinâmica de grupo, jogos dramá- as diferentes partes do corpo do homem e da
ticos e outros, os participantes conseguem, por mulher e suas funções, bem como as mudanças
meio da fantasia, trabalhar situações concretas4. corporais na adolescência, oportunizando o co-
nhecimento do físico de ambos os sexos e esti-
mulando o autocuidado na saúde dos adolescen-
> DESENVOLVIMENTO tes. O grande grupo de adolescentes foi dividido
em dois pequenos grupos mistos de meninos e
O público-alvo dos encontros constituiu-se meninas, onde um responsabilizou-se por dese-
de adolescentes dos dois sexos. Todos são mora- nhar em um cartaz de papel pardo o corpo do
dores da área de abrangência da ESF, e sua faixa homem e o outro grupo, o corpo da mulher.
etária oscilou entre 10 e 15 anos. A partir dessa atividade, foi possível discutir
Em primeiro lugar, foram esclarecidas dú- e comparar as diferenças anatômicas, os carac-
vidas sobre o desenvolvimento das atividades a teres individuais de cada um, a higiene do cor-
fim de despertar o interesse dos adolescentes. po, as modificações do corpo na adolescência e
Em seguida, foram convidados e a captação se a autoestima, reforçando que cada corpo é um,
deu por livre adesão, de acordo com o interesse e nenhum é igual ao outro.
individual. No segundo momento, iniciou-se a dinâ-
Para dar início aos encontros, a escola con- mica sobre a gravidez na adolescência, aborto e
tatou o serviço de saúde; a partir daí as enfer- anticoncepção, que oportunizou discutir sobre
meiras explicaram o objetivo do encontro, os a repercussão do tema em relação à vida social,
temas que seriam abordados, e combinou-se a à rotina diária e aos planos dos adolescentes

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para o futuro. Propiciou, também, conhecer CONCLUSÃO


>
os métodos anticoncepcionais mais adequados
aos adolescentes. Percebe-se, diante dessa experiência de
As facilitadoras apresentaram alguns mé- aproximação, que tal compreensão é ainda he-
todos contraceptivos: pílulas, diafragma, esper- gemônica nos meios sociais em que os adoles-
micida, DIU, camisinha masculina e feminina. centes vivem. No entanto, para atuar de uma for-
ma integral, faz-se necessário entender e analisar
Esses métodos foram demonstrados visualmen-
os adolescentes numa perspectiva multidimen-
te e os alunos puderam manuseá-los, o que os
sional e articulada em nível individual e coletivo.
atraiu fortemente ao assunto em vista da curio-
A inserção da ESF na comunidade concre-
sidade que o tema provoca.
tiza-se nas ações educativas, e o próprio servi-
A partir destas questões, foram debatidas
ço de saúde passa a ser visto de forma positiva,
as doenças sexualmente transmissíveis mais co-
como esclarecedor e acessível à comunidade.
muns, a formas de contágio, os sinais e sintomas
É primordial desenvolver a orientação para
e a forma de prevenção destas doenças.
o autocuidado, ampliar o acesso a atividades
Destaca-se que as discussões depreendi-
educativas e recreativas e estimular a participa-
das nas oficinas não se limitam a informações ção dos adolescentes, por meio de ações coleti-
de caráter biológico ou preventivo, mas são vas. Isso repercutirá na promoção do desenvolvi-
estimuladoras para questionamentos, o que mento de atitudes e habilidades nos adolescentes
possibilita a ampliação conceitual dos partici- para lidar com essa fase de suas vidas.
pantes em semelhança a outros trabalhos com O desenvolvimento de um vínculo de con-
adolescentes6 também sintonizados com meto- fiança entre o adolescente e o profissional é a
dologia participativa. base para qualquer trabalho educativo, possibili-
Foram realizados dois encontros, um com tando a discussão e reflexão de temáticas de inte-
alunos entre 10 e 12 anos e outro com alunos resse deles, por meio de uma linguagem simples.
entre 13 e 15 anos. No encerramento de cada Ademais, considera-se imprescindível a
um dos encontros, realizou-se uma dinâmica de execução de atividades educativas dentro e fora
finalização de acordo com a temática, e foi en- da estratégia de saúde da família, fortalecendo,
tregue a cada adolescente uma guloseima e um assim, o vínculo desta com a comunidade, apro-
preservativo. ximando-se das instâncias sociais.

> REFERÊNCIAS
1. Ramos FRS, Pereira SM, Rocha CRM. Viver e adolescer com qualidade. In: Ramos FRS. Adolescer:
compreender, atuar, acolher. Brasília: ABEN; 2001. p.19-32.
2. Ramos FRS. Bases para uma re-significação do trabalho de enfermagem junto ao adolescente. In: Ramos
FRS. Adolescer: compreender, atuar, acolher. Brasília: ABEN; 2001. p. 11-8.
3. Ressel LB. Adolescer: crescer e viver. Projeto de Ensino e Extensão. Santa Maria: UFSM; 2003.
4. Serra ASL, Mota MSF. Adolescentes promotores de saúde. In: Ramos FRS, Monticelli M, Nitscke RG,
organizadores. Projeto Acolher: um encontro da enfermagem com o adolescente brasileiro. Brasília: ABEN;
2000. p 56-60.
5. Girondi J, Nothaft S, Mallmann F. A metodologia problematizadora utilizada pelo enfermeiro na educação
sexual de adolescentes. Cogitare Enferm. 2006;11(2):161-5.
6. Soares SM, Amaral MA, Silva LB, Silva PAN. Oficinas sobre sexualidade na adolescência: revelando vozes,
desvelando olhares de estudantes do ensino médio. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2008;12(3):485-91.

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