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4º Entre as teses defendidas acerca do sentido e referência dos nomes próprios destacam-
se: a) a referência de um nome próprio é o próprio objeto que por seu intermédio designamos –
é na expressão de seu sentido que o nome designa sua referência. Nesse caso, o sentido do nome
próprio é o que se faz responsável pela concretização da referência. Um mesmo objeto, nesse
sentido, pode ser identificado por múltiplos nomes, já que o mesmo parte de uma representação
subjetiva que sugere a sua objetividade, isto é, a sua referência. O sentido, como nos mostra
Minguens, é um critério de identificação da referência e não algo como uma imagem privada;
b) nada impede que vários indivíduos ‘capturem o mesmo sentido, mesmo se eles não podem
ter a mesma representação subjetiva – as diferenças entre as representações são apenas modos
distintos de ser da abstração – diferenças que em nada desvirtua o sentido e a referência. Dessa,
resulta, por fim, a tese cuja assertiva diz que c) o sentido é um modo de apresentação (partilhável
por vários indivíduos).
5º Das teses dos nomes próprios, Frege então busca defender que o pensamento é o
sentido de frases e o valor de verdade é a sua referência. Esta defesa se dá sob a análise do
sentido e referência de frases simples completas. Tomemos novamente como exemplo duas
sentenças sobre John Lennon. John Lennon escreveu Imagine; o garoto de Liverpool escreveu
Imagine. Vemos, nesse caso, que o objeto dessas sentenças possui modos de apresentação
divergentes. Isso quer dizer: o pensamento de cada sentença é nos apresentado de maneira
distinta. Essa distinção, contudo, não é motivo para que a referência seja distorcida:
apercebemos que, mesmo com expressões distintas para uma mesma pessoa, ambas sentenças
ainda se remetem a uma mesma pessoa. Disso se infere: o pensamento não está intimamente
atrelado a referência, mas ao sentido (sentido do objeto = ora expressado como John Lennon,
ora como Garoto de Liverpool). Frege afirma, por sua vez, que o valor de verdade está
condicionado a sua referência. Tomemos como referência a figura folclórica do Curupira.
Afirma-se que o Curupira tem os pés virados para trás, e isto tem total sentido. No entanto, a
figura do Curupira nunca foi constatada. Disso resulta que não há possibilidade de referência
para tal figura, não podendo assim a sentença (o Curupira tem os pés virados para trás) ser
inserida num valor de verdade, isto é, que ela seja verdadeira ou falsa. Portanto, o valor de
verdade está intimamente condicionado a sua referência, ou dito com outras palavras, é
somente na constatação da referência que uma sentença pode adquirir um valor de verdade.
6º Para afirmar com certeza a tese que diz que o valor de verdade de uma sentença está
condicionada a sua referência, Frege propõe então uma análise de contextos indiretos
específicos, ou melhor, de frases compostas (frases dentro de frases), com a intenção de
verificar se o valor de verdade das mesmas permanecem inalterados quando alguma de suas
expressões é trocada por outra com o mesmo valor referencial mas com sentido distinto. É, pois,
nas orações subordinadas (considerando aqui as substantivas, adjetivas e adverbiais) que Frege
busca elucidar se as referência das mesmas também se desvelam como valor de verdade. Frege
apercebe que a referência de uma frase subordinada não se encontra num valor de verdade. Na
verdade, a sua referência se encontra somente em uma das orações, em uma parte da frase, e
isto é, em uma parte do pensamento. Nesse sentido, as referências dessas espécies de orações
não são senão o pensamento, e isto é, aquilo que revela um sentido. Tomemos como exemplo
uma sentença subordinada simples: eu creio que Curupiras existem. Nesta assertiva, é notável
que o valor de verdade não é sua referência, já que, mesmo sabendo que Curupiras não existem,
a frase não perde sua veracidade. Vê-se que a referência se faz indiferente a veracidade do todo
da frase. A frase, desse modo, encontra sua referência não na existência dos Curupiras, mas na
crença em que o ‘eu’ se debruça; de forma técnica: a referência não se encontra no valor de
verdade do todo da frase, mas somente em parte de seu pensamento, qual seja, no fato da crença
na existência dos Curupiras.