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E-leitor: Um estudo sobre as percepções de universitários

sobre as eleições na era das redes sociais


Hugo Cristo Sant’Anna, Msc.
Núcleo de Interfaces Computacionais – Departamento de Desenho Industrial (UFES)
hugocristo@gmail.com

RESUMO conectada da população [5], muitas vezes adotando estratégias


A pesquisa E-leitor teve como objetivo mapear os hábitos de uso controversas [6] ou realizando ações que poderiam ser
da Internet de uma amostra de 429 estudantes da Universidade consideradas como spam [7]. Ao mesmo tempo, os candidatos e
Federal do Espírito Santo (Ufes) e suas expectativas e percepções seus estrategistas parecem conhecer pouco essa parcela
sobre o uso da Internet e suas redes sociais no processo eleitoral conectada, seus hábitos e preferências, além do seu potencial
de 2010. Os resultados indicam preocupações dos participantes quantitativo e qualitativo de mudar o rumo do pleito.
sobre a regulamentação do uso das redes durante a campanha, A pesquisa realizada se propôs a investigar as questões descritas
sinalizam uma discordância entre número de contatos dos com um recorte específico: os universitários. Tal delimitação
candidatos e as reais intenções de votos dos eleitores, e sugerem resulta de duas questões principais: primeiramente, por se tratar
que embora o grupo entrevistado acredite no potencial do meio do projeto de pesquisa desenvolvido dentro de uma instituição de
como um novo espaço para o debate político, a distância entre ensino superior, a conveniência de recrutar os participantes nas
eleitores e candidatos não seria necessariamente reduzida. imediações da própria Universidade foi fundamental. Em segundo
lugar, os universitários apresentariam uma diversidade de faixas
Palavras-Chave etárias e condições sócio-econômicas interessante para a pesquisa,
Eleições, redes sociais, comportamento do internauta. especialmente se considerarmos que a Ufes oferece acesso à
Internet gratuitamente e incentiva seus alunos a utilizarem as
TICs no seu cotidiano acadêmico. Em outras palavras, dentre os
1. INTRODUÇÃO universitários seria possível observar diferentes usos da rede
A campanha realizada em 2008 por Barack Obama à presidência tendo um eixo central – a educação superior. Cabe também
dos EUA parece ter se firmado como o divisor de águas do uso da ressaltar a importante participação do movimento estudantil na
Internet como plataforma eleitoral. Embora a adoção de história política do país ao longo do séc XX, de forma que a
ferramentas digitais [1] como estratégia de marketing político não Universidade sempre foi um espaço de discussão e debates sobre
fosse novidade, o planejamento inteligente e o sucesso obtido pela os rumos da política nacional.
equipe de Obama despertaram o interesse de candidatos e Partindo do cenário apresentado, a pesquisa teve como objetivo
políticos já eleitos de todo o mundo sobre as possibilidades geral realizar um levantamento acerca dos hábitos e expectativas
oferecidas pelo “novo” meio. dos alunos da Ufes em relação ao uso da Internet nas Eleições de
Se por um lado as ferramentas são gratuitas e de livre acesso, por 2010. Como objetivos específicos pretendeu: 1) investigar o
outro parece não haver receitas prontas sobre o uso delas. No comportamento do estudante universitário da Ufes quanto ao
contexto norte-americano, vários analistas e pesquisadores se tempo diário de permanência on-line, locais de acesso e tipo de
ocuparam de explicar [2], detalhar [3] e esmiuçar [4] o fenômeno conexão; 2) levantar os meios de comunicação utilizados pelos
Obama, demonstrando que não se tratou apenas de uma boa idéia, estudantes no pleito de 2008 para se informarem sobre os
mas de um conjunto de fatores culturais, econômicos e sociais que políticos, seus partidos e respectivas propostas de campanha; 3)
favoreceram o sucesso da estratégia que elegeu o primeiro identificar as expectativas de uso dos meios de comunicação no
presidente negro da história dos EUA. pleito de 2010; e 4) pesquisar a percepção dos estudantes sobre o
crescimento da Internet como plataforma de campanha,
Mas qual a chance de sucesso de uma estratégia nos mesmos abordando questões ligadas à democratização do debate, maior
moldes funcionar num país como o Brasil? Será que o momento acesso do eleitor, relacionamento político x eleitor, uso das redes
sócio-econômico apresenta questões semelhantes às americanas, sociais e regulamentação do uso da rede no processo.
viabilizando um eventual pensamento de que as Eleições de 2010
serão decididas pela Internet? Até que ponto um eleitor ou 2. MÉTODO
candidato distantes das novas tecnologias de informação e Foram entrevistados 429 estudantes de 34 cursos dos campi de
comunicação (TICs) seriam afetados por essa possível revolução? Goiabeiras e Maruípe entre os dias 22 de abril e 03 de junho. Os
entrevistadores percorreram os campi em busca dos participantes,
O centro das atenções das Eleições 2010 parece ser a disputa pela
que foram convidados a responder o questionário após breve
Presidência da República, mas os candidatos ao Governo dos
apresentação dos objetivos da pesquisa.
Estados e às cadeiras no Poder Legislativo também estão
utilizando as redes. A partir do início oficial do período destinado O questionário continha 24 questões: oito do tipo fechado
à propaganda política, diversos candidatos publicaram e vêm relativas ao perfil do participante e seus hábitos de uso da
utilizando suas plataformas online para buscar o apoio da parcela Internet; duas semi-abertas sobre o uso dos meios de comunicação
nas eleições de 2008 e sobre as expectativas de uso dos meios em 3.3 Usos e expectativas de usos dos meios de
2010; uma fechada sobre a quantidade de vezes que o participante
teria votado; e uma escala do tipo Likert com quatorze afirmações comunicação nas Eleições
sobre a adoção da Internet nas campanhas políticas, onde o aluno Os participantes da pesquisa indicaram a televisão como principal
expressou sua opinião selecionando os termos discordo meio de comunicação utilizado nas Eleições de 2008 para
completamente, discordo, não concordo nem discordo, concordo e obterem informações sobre os candidatos (379 citações), seguido
concordo plenamente. O margem de erro foi de 6%, com intervalo dos jornais (225), Internet (203), santinho (115), carro de som
de confiança de 99%. Os dados quantitativos receberam (105) e rádio (81). Mesmo estando proibidos desde as eleições de
tratamento estatístico visando identificar possíveis correlações 2006, os muros pintados com propaganda dos candidatos ainda
entre hábitos e preferências, assim como entre os diferentes perfis foram citados pelos participantes (82 referências). O número total
de participantes e as opiniões sobre o uso da Internet no processo de citações foi superior ao de entrevistados porque mais de um
eleitoral. Os coeficientes da correlação de Pearson foram meio poderia ser citado.
interpretados com base nas recomendações de Cohen [8] para as
379
ciências do comportamento.

3. RESULTADOS 225
203

3.1 Perfil dos participantes


115
105
A amostra foi composta por 200 participantes do sexo masculino 81 82
65

(47%) e 229 do sexo feminino (53%) com idades entre 17 e 44 41 40

13
anos, sendo a maior parte situada entre 18 a 24 anos (80%). 7 4 3

Muro Pintado
Internet
Televisão

Rádio

Santinho

Carreata

Revista
Jornal

Cabo Eleitoral

conversas

Outros
Comício

Família

Debates e
Carro de som
Tabela 1. Entrevistados por faixa etária
Faixa Etária Total %
Menos de 18 anos 9 2% Figura 1 – Mídias utilizadas nas Eleições de 2008 pelos
18 a 21 anos 209 49% participantes como fonte de informação sobre os candidatos
22 a 24 anos 134 31%
25 a 30 anos 63 15% Em relação ao pleito de 2010, foi solicitado aos participantes que
Mais de 30 anos 14 3% indicassem apenas um meio que pretenderiam utilizar na obtenção
de informações sobre os candidatos e explicassem o porquê da
Em relação à distribuição dos participantes quanto ao ano em escolha. A Internet foi mencionada por 196 participantes (46%),
curso na Universidade, 30% estão no 1º ou 2º períodos; 23% no 3º ligeiramente mais lembrada que a televisão, que recebeu 179
ou 4º; 14% no 5º ou 6º; 20% no 7º ou 8º; 9% no 9º ou 10º; e 5% menções (42%). Os jornais apareceram em terceiro lugar, citados
em outra situação, incluindo alunos de pós-graduação ou fora da por 32 participantes (7%) e os demais meios juntos não somaram
periodização ideal. Quando perguntados sobre o comparecimento mais do que 5% das respostas.
aos pleitos eleitorais, 12% dos participantes disseram ainda não
terem votado, 23% votaram apenas uma vez, 21% duas vezes e As principais justificativas dos entrevistados para a escolha da
44% votaram três vezes ou mais. Internet foram: facilidade de acesso; praticidade; disponibilidade
para consulta a qualquer momento; quantidade e qualidade das
3.2 Hábitos de uso da Internet informações. Dentre os que indicaram a televisão, as principais
justificativas foram: maior facilidade; [discurso] mais pessoal;
A maioria dos entrevistados (78%) disse acessar a Internet de candidatos podem falar mais; todos têm acesso; não preciso
casa, ficando a Universidade em segundo lugar (12%), o trabalho procurar ou não tenho tempo para procurar. A escolha dos jornais
em terceiro (9%) e outros locais como lan-houses aparecem em foi justificada por respostas como: mais sério; menos tendencioso;
quarto (1%). No que diz respeito ao tempo diário de conexão, a maior acesso.
maior parte dos estudantes permanece até 4h conectado (65%)
principalmente utilizando banda larga (88%). 3.4 Hábitos versus preferências
Tabela 2. Tempo médio de conexão diário Foi encontrada uma baixa correlação negativa (r=-0,11) entre a
Faixa Etária Total % preferência pela Internet como meio de informações sobre os
Até 2h 127 30% políticos nas eleições de 2010 e os participantes de idades entre
2 a 4h 151 35% 26 e 30 anos. Ainda em relação aos meios a serem utilizados em
4 a 6h 81 19% 2010, participantes do sexo masculino apresentaram baixa
Mais de 6h 70 16% correlação positiva (r=0,147) com a preferência pela Internet e
baixa correlação negativa (r=-0,155) com a preferência pela
Tabela 3. Conexão com a Internet televisão. As entrevistadas do sexo feminino apresentaram
Tipo Total % correlações igualmente baixas, porém invertidas: televisão com
Discada 4 1% r=0,155 e Internet com r=-0,146.
Cabo, Velox, GVT 379 88% Nos demais meios nenhuma correlação foi encontrada. O tempo
3G 30 7% gasto na Internet apresentou baixa correlação negativa (r=-0,185)
Não sei 16 4% com os participantes que passam até duas horas conectados
diariamente, e baixa correlação positiva com os que passam mais 3.5.1 Otimistas e pessimistas
de seis horas conectados (r=0,19).
O primeiro grupo temático foi definido por seu otimismo ou
3.5 Opiniões sobre o uso das redes sociais pessimismo em relação ao potencial da Internet como ferramenta
pelos candidatos nas Eleições de 2010 para a aproximação entre eleitores e candidatos, discussão de
propostas e participação do cidadão no processo eleitoral. As
As respostas graduadas na escala Likert a partir das 14 afirmações gradações entre otimistas e pessimistas e seus respectivos escores
que encerraram o questionário foram analisadas a partir de quatro padronizados estão listadas na Tabela 6. Os participantes muito
grupos temáticos que classificaram os participantes em otimistas e otimistas estariam completamente de acordo com todas as
pessimistas, abertos e fechados, inclusivos e seletivos, afirmações, enquanto os muito pessimistas discordariam
preocupados e despreocupados. A Tabela 4 apresenta os escores completamente de todas.
para as alternativas da escala, a partir dos quais os extremos das
pontuações de cada grupo temático foi definida. Tabela 6. Escores padronizados

Tabela 4. Escores para a escala Avaliação Escore


Muito pessimista Até 5
Avaliação Escore Sigla Pessimista 6 a 10
Discordo completamente 1 DC Moderado 11 a 15
Discordo 2 D Otimista 16 a 20
Não concordo nem discordo 3 NCD Muito otimista 21 a 25
Concordo 4 C
Concordo completamente 5 CC As afirmações que delimitaram esse grupo foram: 1, 2, 4, 7 e 10.
Considerando a totalidade da amostra, pode-se perceber uma
As opiniões gerais sobre as 14 afirmações são apresentadas na tendência moderada dos participantes, com mais de 90% das
Tabela 5, incluindo as medidas de tendência central dos dados. respostas situadas entre pessimistas e otimistas.
Tabela 5. Afirmações e medidas de tendência central para as 53,1%

respostas: Moda (Mod), mediana (Méd) e desvio padrão (s)


Questão Mod Med s
34,3%
1. Os candidatos ficariam mais próximos NCD
D (2)
(3)
1,17
dos eleitores.
2. Os eleitores teriam acesso mais fácil ao
C (4) C (4) 1,07
passado e propostas do candidato.
3. Diferentes candidatos e partidos 10,0%
C (4) C (4) 0,97
deveriam ter o mesmo espaço na Internet.
2,6%
4. A propanda eleitoral seria mais acessível 0,0%
NCD
e os eleitores participariam mais do D (2)
(3)
1,12 Muito Pessista Pessimista Moderados Otimista Muito Otimista

processo.
5. A capacidade do candidato em se Figura 2 – Otimismo em relação ao uso da Internet nas
NCD
relacionar com seus eleitores via Internet D (2)
(3)
1,08 Eleições 2010 (N=429)
seria fundamental para ser eleito.
6. Candidatos poderiam usar redes sociais No grupo dos entrevistados que disseram optar pela Internet como
(Blog, Twitter, Orkut, Facebook) para C (4) C (4) 1,11 fonte de informação sobre os candidatos (N=196), há uma
conhecer e se aproximar dos seus eleitores.
diminuição do número de pessimistas (8,7%) e moderados
7. Uma boa campanha virtual poderia
substituir uma campanha ruim nas ruas.
D (2) D (2) 1,11 (44,9%) e crescimento dos otimistas (41,8%) e muito otimistas
8. A propaganda política online seria mais (4,6%). Entre os entrevistados que indicaram a televisão como
atraente para quem tem conhecimentos de C (4) C (4) 1,07 fonte de informação (N=179), os pessimistas representam 10,3%,
informática. moderados 60,6%, otimistas 27,9% e muito otimistas 1,1%. Já nos
9. A propaganda política online seria mais participantes que optaram pelos jornais (N=32), quatro
C (4) C (4) 0,97
atraente para os jovens. participantes se disseram pessimistas, 22 moderados e seis
10. O candidato poderia ser eleito apenas otimistas quanto ao uso da Internet pelos políticos.
D (2) D (2) 1,00
fazendo campanha via Internet.
11. Quem adicionasse um candidato no 3.5.2 Abertos e fechados
Orkut ou o seguisse no Twitter seria seu D (2) D (2) 0,90
eleitor. O segundo grupo temático foi definido por sua abertura ou
12. Quanto mais contatos e seguidores
D (2) D (2) 1,00
fechamento em relação à interação com o candidato que utiliza a
online, mais votos. Internet para se aproximar dos seus potenciais eleitores. Os
13. A propaganda eleitoral via Internet escores padronizados para a gradação entre os perfis muito
precisaria ter regras assim como os demais CC (5) CC (5) 0,85 fechados e muito abertos são apresentados na Tabela 7. As
meios.
afirmações que definiram o segundo grupo temático foram: 5, 6,
14. Candidatos e partidos poderiam inserir
propaganda política em qualquer site da D (2) D (2) 1,15
11 e 12.
Internet.
Tabela 7. Escores padronizados nem discordam; 19,1% concordam completamente; 7,2%
discordam; 0,5% discordam completamente.
Avaliação Escore
Muito fechado Até 4 47,1%

Fechado 5a8
Moderado 9 a 12
Aberto 13 a 16
26,1%
Muito aberto 17 a 20
19,1%

Por meio dos dados tabulados para todos os participantes, a


tendência de moderação também se manteve como dominante 7,2%
(62,7%), seguida dos abertos (23,1%) e fechados (12,4%).
0,5%

Discordo Completamente Discordo Não concordo nem Concordo Concordo completamente


62,7% discordo

Figura 4 – Caráter seletivo ou inclusivo da propaganda


política online (N=429)

Nos dados do grupo que indicou a Internet como fonte de


23,1% informação sobre os políticos (N=196), 1% discordam
completamente do caráter seletivo da propaganda online, 2,6%
12,4%
discordam, 31,1% nem concordam nem discordam, 44,9%
0,2%
1,6% concordam e 20,4% concordam completamente. Entre os
Muito fechados Fechados Moderados Abertos Muito Abertos participantes que disseram optar pela televisão (N=179), não
houve quem discordasse completamente das afirmações ao
Figura 3 – Abertura e fechamento para as interações eleitor
mesmo tempo em que houve um crescimento no número de
versus candidato via Internet nas Eleições 2010 (N=429)
discordantes (10%) e uma diminuição daqueles que nem
Entre os entrevistados que indicaram a Internet como fonte de concordam nem discordam das afirmações (22,9%). Os que
informação, os números se mantiveram próximos à média da preferem a televisão e acreditam no caráter seletivo da
amostra: moderados 61,7%; abertos 25,5%; fechados 10,2%; propaganda online se mantiveram na média da amostra: concordo
muito abertos 2%; muito fechados 0,5%. No grupo dos 46,9%; concordo completamente 20,1%. Entre os universitários
universitários que optaram pela televisão (N=179), o cenário que indicaram os jornais como fonte de informação (N=32), dois
também se manteve similar entre os moderados (60,9%), abertos disseram discordar, sete nem concordam nem discordam, 20
(21,8%) e muito abertos (1,7%), com um acréscimo de cinco concordam e três concordam completamente com as afirmações
pontos entre os fechados (15,6%) e nenhuma ocorrência de muito do grupo temático.
fechados. Para os participantes que escolheram os jornais como
fonte de informação, 20 participantes estão entre os moderados,
3.5.4 Preocupados e despreocupados
nove entre os moderados e três entre os fechados. O último grupo temático avaliou a opinião dos participantes sobre
a necessidade de regulamentação da propaganda política na
3.5.3 Inclusivos e seletivos Internet por meio de três afirmações: 3, 13 e 14.
No terceiro grupo temático, os participantes foram agrupados a Os entrevistados preocupados concordariam completamente com
partir da dimensão inclusiva ou seletiva da Internet enquanto as três afirmações, enquanto os despreocupados discordariam
espaço de debates e participação política, considerando duas completamente, endossando uma visão menos regulamentada do
principais afirmações: 8 e 9. uso da Internet durante o período de propaganda eleitoral. Os
Os inclusivos seriam aqueles que discordariam completamente escores padronizados e suas respectivas gradações são
das duas afirmações, enquanto os seletivos acreditariam que a apresentados na Tabela 9.
propaganda online seria mais direcionada aos jovens e pessoas Tabela 9. Escores padronizados
com conhecimentos de informática. As gradações e escores
padronizados são listados na Tabela 8. Avaliação Escore
Muito despreocupados Até 3
Tabela 8. Escores padronizados Despreocupados 4a6
Avaliação Escore Moderados 7a9
Discordo completamente Até 2 Preocupados 10 a 12
Discordo 3a4 Muito preocupados 13 a 15
Não concordo nem discordo 5a6 As avaliações da amostra considerada em sua totalidade (N=429)
Concordo 7a8 apontam claramente uma preocupação dos participantes em
Concordo completamente 9 a 10 relação à necessidade de regulamentação da propaganda política
Os dados computados para todos os participantes (N=429) na Internet. Essa tendência se repetiu nos grupos que optaram pela
apontaram uma tendência maior em direção ao caráter seletivo da Internet (N=196; preocupados 68,9%, muito preocupados 10,2%),
propaganda política: 47,1% concordam; 26,1% nem concordam
pela televisão (N=179; 73,2% preocupados, muito preocupados e comodidade, percepção de imparcialidade, tom do discurso e
15,6%) e jornais (N=32; 26 preocupados, um muito preocupado). assim por diante.

71,1%
Uma terceira questão que poderia ser levantada diz respeito
especificamente ao perfil do entrevistado, que não representa a
realidade da maioria da população brasileira. Estima-se que cerca
de 27% dos domicílios brasileiros possuem acesso à Internet [9],
enquanto a amostra deste estudo já está quase integralmente
conectada por meio de conexões de banda larga.
Pode-se sugerir ainda que a Internet e suas ferramentas fazem
15,6%
12,1% parte cotidiano do universitário, o que também contribuiria para a
0,0% 1,2%
manifestação de opiniões mais elaboradas e consistentes sobre
Muito despreocupados Despreocupados Moderados Preocupados Muito Preocupados
questões de privacidade, regulamentação da propaganda política
online ou mesmo sobre o alcance efetivo das redes sociais como
Figura 5 – Preocupados e despreocupados com a ferramentas de mobilização e articulação social.
regulamentação da propaganda política online (N=429) Por fim, vale recuperar o período de realização do estudo como
mais um fator de influência. Após o início oficial do horário
A maior porcentagem de moderados está entre os participantes político na televisão e rádio, muitos candidatos adotaram
que indicaram a Internet como fonte de informação (19,4%), estratégias de comunicação baseadas na Internet que podem
quase o dobro dos moderados que preferem a televisão (10,6%) e mudar as percepções dos participantes deste estudo em especial e
cerca de 50% maior do que os moderados da amostra completa da população brasileira em geral no que tange ao potencial efetivo
(10,6%). Nenhum dos grupos apresentou participantes muito da Internet como mais um espaço democrático para a discussão de
despreocupados e os despreocupados se mantiveram por volta de projetos políticos para o país e para a obtenção de informações
1% das respostas. sobre os candidatos, suas histórias de vida e propostas.
4. DISCUSSÃO 5. REFERÊNCIAS
De forma geral, pode-se entender que o estudante da Ufes é [1] Wikipedia: Barack Obama presidential campaign.
cauteloso quanto ao potencial da Internet como espaço para http://en.wikipedia.org/wiki/Barack_Obama_presidential_ca
debates políticos. Talvez por isso a televisão ainda apareça como mpaign,_2008#Innovations
uma forte alternativa sustentada por justificativas que defendem a
facilidade de acesso e comodidade na obtenção da informação. [2] ReadWriteWeb: Obama’s Social Media Advantage.
Apesar das limitações do presente estudo, principalmente no que http://www.readwriteweb.com/archives/social_media_obama
tange à sua circunscrição ao universo dos alunos da Ufes, pode-se _mccain_comparison.php
observar a emergência de importantes questões sobre a [3] How social media won Obama the US Election.
expectativa dos eleitores em relação à propaganda política na http://www.marketingmag.com.au/blogs/view/how-social-
Internet e do comportamento online dos candidatos. media-won-obama-the-us-election-865
Em primeiro lugar, suposições como quanto mais contatos, mais [4] How Barack Obama Won: A State-by-State Guide to the
votos não parecem fazer sentido para os participantes. Embora a Historic 2008 Presidential Election. Knopf Doubleday
tendência de abertura às interações com os candidatos por meio Publishing/Vintage Press, 2009.
das redes sociais figure nos dados de moderada para aberta, outras [5] O Globo Online: Campanha oficial começa e candidatos não
dimensões como a preocupação sobre a regulamentação da perdem tempo para pedir votos no Twitter.
ocupação das redes pela propaganda política e a discordância em http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2010/mat/2010/07/06/c
relação à maior acessibilidade e mais oportunidades de ampanha-oficial-comeca-candidatos-nao-perdem-tempo-
participação no processo também devem ser considerados. para-pedir-votos-no-twitter-917078569.asp
Se por um lado a Internet oferece mais oportunidades de conhecer [6] O Globo Online: Candidato posta vídeos picantes no
o passado do candidato, o meio ainda não é suficiente para ser YouTube para fazer propaganda eleitoral.
adotado como única estratégia de campanha, tão pouco é http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2010/mat/2010/08/17/c
percebido como uma alternativa para aproximar eleitores e andidato-posta-videos-picantes-no-youtube-para-fazer-
candidatos. A percepção de que a Internet ainda é mais atraente propaganda-eleitoral-917413187.asp
para jovens e pessoas com conhecimentos de informática se faz [7] Políticos compram listas de seguidores do Twitter. Correio
presente nas afirmações dos estudantes da Ufes, o que pode ser Braziliense, 27/06/2010.
um indício de que os participantes possuem pessoas em seus http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/201
círculos sociais que ainda não estariam preparados para um debate 0/6/27/politicos-compram-listas-de-seguidores-do-twitter
político mediado pelas tecnologias de informação e comunicação. [8] Cohen, J. Statistical power analysis for the behavioral
Um segundo ponto importante diz respeito às escolhas dos sciences (2nd ed.). Routledge Academic, 1988.
universitários. A opção por um ou outro meio como fonte de [9] Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e
informação sobre os políticos parece estar relacionada a uma série Comunicação – TIC Domicílios e TIC Empresas 2009.
de fatores: tempo diário dedicado ao veículo, facilidade de acesso Comitê Gestor da Internet no Brasil.
http://www.cetic.br/tic/2009/index.htm

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