JOANA (aparece) Não, você não. Não quero nada com você, Jasão (querendo sair) JASÃO Espera. JOANA Filho meu não vai te ver. JASÃO Não vim por isso. JOANA Que é que você quer? JASÃO Falar com você. JOANA O que? JASÃO Calmamente. JOANA É coisa ruim. JASÃO Espera. JOANA Não mente. JASÃO Vim fazer uma proposta. JOANA Proposta? JASÃO É. E preciso logo da resposta. (pausa; silêncio mortal) Quero pedir. Pedir, não. Implorar. Que você... arranje um outro lugar. É... quem sabe? Talvez até... melhor, quer dizer... pode ser até maior... JOANA Pára, Jasão, pára! Assim já é demais. Você tem cara pra vir aqui e me botar pra fora? JASÃO Não é assim, Joana. Vim aqui na melhor das intenções pra cumprir com minhas obrigações de pai. JOANA Pai? Porra, que pai! Essa não! JASÃO Não grita! Eu vim buscar a solução ideal, acredite se quiser, eu fico te pagando todo mês uma pensão, seria uma espécie de aposentadoria. JOANA Eu não quero dinheiro de Creonte. JASÃO O dinheiro é meu! JOANA É? Qual é a fonte de renda? Violão? JASÃO Isso não importa. JOANA Você quer me convencer, Jasão — corta essa — que com a sua batucada vai sustentar a princesa dourada de Creonte? Qual é? JASÃO Ai, meu cacete. JOANA Eu não quero esse dinheiro. JASÃO Não vim discutir. Vim pra ver o que é que você pretende fazer. JOANA Nada, eu vou ficar aqui. E você. JASÃO Isso não dá. JOANA Por quê? JASÃO O dono do imóvel não quer. JOANA Otário, Creonte é ladrão. JASÃO Ele é proprietário. JOANA É proprietário seu. JASÃO Está co’a lei. JOANA Vou sair e perder o que paguei? JASÃO Você está atrasada. JOANA Eu sei, Jasão. Estou e nunca mais pago um tostão. O preço que constava na escritura eu já paguei. Por isso eu digo, Jasão, essa casa é minha, sim, e Creonte é ladrão. JASÃO Falando assim, mulher, você se arrasa. JOANA Não. Esta casa eu paguei, seu Jasão. JASÃO Creonte tem a lei. JOANA Então me diz, se tem tanta gente aí atrasada, qual é a explicação? O que é que eu fiz, que sou a única a ser despejada? JASÃO Você fica esculhambando Creonte. Futrica, xinga a mãe, zomba. Tá bom, comigo você faz, desfaz. vinga, amaldiçoa. Mas fazer guerra contra um cara que é dono dessa terra, das casas, de tudo, ora, olha pra mim, Joana. JOANA Pois eu amaldiçôo, sim. Você, Creonte e aquela mosca morta. JASÃO Quer dizer que você não quer acordo? JOANA Acordo com Creonte? Ah, eu me mordo, mas não faço o que ele quer. JASÃO Então eu lavo as minhas mãos, mulher. (sai) JOANA (gritando) Corre! Vai procurar aquela puta! Não fica perdendo tempo comigo. Vai bajular Creonte, mas, escuta, de algum lugar há de vir o castigo. A vida não é assim, seu Jasão. Não se pode ter tudo impunemente.