I Workshop do Clube de Xadrez Online 2015

Autor: MI Evandro Amorim Barbosa

Ebook 5: Avaliação Estratégica das Posições

 Sumário

Introdução…………………………………………………………………..

Cap. 1 – Tática x Estratégia……………………………………………...

Cap. 2 – Aprendendo com os Clássicos…………………………….....

Cap. 3 – Tático ou Posicional…………………………………………....

 O que você encontrará neste ebook?

Nesse ebook você encontrará minha forma de estudar estratégia.

O ebook está dividido em três capítulos:
No capítulo 1 vou falar sobre a relação tão estreita que existe entre
a tática e a estratégia, analisando algumas partidas onde ficará
mais clara essa relação.
No capítulo 2 tratarei do que podemos aprender com os clássicos. E
começo a falar sobre o primeiro campeão mundial oficial que
revolucionou a teoria do xadrez da sua época. O criador dos
primeiros princípios sobre estratégia: Steinitz.
No capítulo 3 continuo falando sobre outros dois campeões
mundiais - Tal e Botvinnik - onde discutirei sobre estilo de jogo.
Nada melhor do que falar sobre esses dois ex-campeões mundiais
considerados de estilos tão opostos.
Mas, como veremos, não tão opostos assim...
 Introdução

Como estudar estratégia?

Acredito que a melhor maneira de melhorar nossos conhecimentos

nesse pilar é conhecendo os clássicos.

E o que quer dizer isso?

Estudar os campeões mundiais, entender a evolução do xadrez.

Ver como as partidas clássicas podem contribuir bastante na

melhora não só do nosso jogo estratégico, mas em todas as fases
da partida.
 Capítulo 1 – Tática x Estratégia
É impossível encontrar uma partida onde podemos dizer que foi
jogada usando apenas a tática ou usando apenas a estratégia, pois
as duas andam sempre juntas.

Existe uma relação muito estreita entra tática e estratégia, isso

porque uma depende da outra, nos só conseguimos obter alguma
vantagem estratégica com o uso da tática, e para conseguir uma
combinação também vamos precisar de elementos estratégicos
suficientes para ter êxito.

Então nesse primeiro capítulo vou analisar algumas partidas

mostrando essa relação.

1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 Bc5 4.b4

O gambito Evans, com esse sacrifício as brancas tratam de ganhar

tempos para desenvolver suas peças e ocupar o centro com peões.

Se 4.c3 Cf6 5.d4 exd4 6.cxd4 Bb4+ 7.Bd2 Bxd2+ 8.Cbxd2 d5!

4...Bxb4 5.c3 Ba5 6.d4 exd4 7.0–0 Bb6 8.cxd4 d6 9.Cc3 Cf6?

9...Ca5! Ainda que a atividade do cavalo se reduze

consideravelmente no canto do tabuleiro, neste caso concreto essa
preciso obrigar o bispo branco a abandonar a forte diagonal a2–g8.
Esse caso demonstra que é preciso aplicar os conceitos e princípios
estratégicos de uma forma flexível.; 9...Bg4

10.e5!
 Diagrama 1

E surge a primeira oportunidade das brancas de combinar.

O desenvolvimento das pelas é claramente superior e possuem um

forte centro de peões.

Baseando-se nessas vantagens posicionais as brancas fazem a

ruptura no centro.

Resumindo as brancas já possuem elementos posicionais para

buscar alguma ação concreta.

10...dxe5 11.Ba3!

As brancas executaram com êxito a primeira parte do plano

estratégico: manter o rei das pretas no centro.

Agora é o momento de pensar nos meios táticos pra tirar proveito

disso.

E aqui vem uma regra: uma vez conseguida a vantagem posicional,

as considerações estratégicas passam para segundo plano e entra
em ação a tática, as ideias combinatórias.

11...Ca5 12.Cxe5 Cxc4 13.Da4+ Bd7 14.Dxc4 Be6 15.d5!

Diagrama 2

Além de abrir a coluna d, atrai o bispo para uma cravada.

15...Bxd5
Caso 15...Cxd5 16.Tad1 c6 17.Cxd5 Bxd5 18.De2.
16.Da4+ c6 17.Tad1 Cd7 18.Cxd7 Dxd7 19.Cxd5 cxd5 20.Txd5!

Diagrama 3

Decisivo arremate!

Nós podemos tirar a seguintes conclusões dessa partida.

- Estratégia e tática estão estreitamente ligadas.

- Para fazer uma combinação o lado ativo deve ter alguma

vantagem posicional. Por exemplo: vantagem no desenvolvimento
(como vimos na partida), maior efetivo de peças que o adversário
no local do ataque...

- As peças do lado ativo devem atuar com energia e harmonia.

- Se o objetivo do ataque é chegar ao rei inimigo é preciso

considerar sacrifícios de material.
Barbosa, Evandro Amorim (2343) - El Debs, Felipe De Cresce
(2497) [C41]
Zonal 2.4 - Open Araruama - Rio de Janeiro (8), 25.06.2011

A seguinte partida foi uma partida muito importante para mim, já

que com essa partida praticamente garanti meu título de MI.

E essa partida também demonstrar essa relação entre tática e

estratégia.

Durante as partida fui acumulando pequenas vantagens

estratégicas, até que chega um momento em que já tinha
elementos suficientes para fazer uma combinação.
1.e4 e5

Primeira surpresa. El Debs normalmente joga Siciliana Taimanov ou

Caro Kann.

2.Cf3 De7

Diagrama 4

O estranho lance de dama é conhecido como Defesa Brasileira, por

ter sido jogada vária vezes pelo MI Helder Câmara.

A ideia de El Debs é surpreender e evitar linhas mais teóricas.

Desse ponto de vista parece uma ideia interessante, mas de um

ponto de vista mais objetivo 2...De7 não pode ser um lance bom.

Pretas desenvolvem a dama muito cedo e esta peça em e7

atrapalha o desenvolvimento natural das outras peças como o bispo
de f8.

Assim, o lance vai contra alguns princípios estratégicos da abertura.

3.Cc3 c6 4.d4 d6 5.a4

É preciso pensar não só nos nossos objetivos, mas também em

dificultar as ações do adversário.

A ideia de a4 é desenvolver o bispo a c4 sem se preocupar com

...b5.

5...g6 6.h3
A ideia é parecida com o lance anterior.

As pretas estão em uma posição restringida. Então faz sentido

trocar algumas pelas para ganhar espaço.

Fazer h3 é para impedir ...Bg4, que levaria a simplificação.

6...Cf6 7.dxe5 dxe5 8.Bc4 Bg7 9.0–0 0–0 10.b3!

O lance crítico da posição, com ideia de Ba3 já incomodando a

dama em e7.

10...Cbd7 11.Ba3 Cc5?!

Depois desse lance as pretas enfrentam sérios problemas.

11...c5! era a melhor opção das pretas, mesmo cedendo o total

controle da casa d5 as brancas. Seguiria 12.a5! Cb8 13.Ca4±
(13.Cd5±)

12.a5!

Diagrama 5

A ideia é jogar Ca4, onde as pretas teria dificuldade para sair da

cravada.

12...Tb8

O plano é poder jogar b6, evitando qualquer tema tático na coluna

a.
13.De2 Bh6

Mexendo novamente com a mesma peça, mas nesse caso é

necessário para evitar De3.

Caso 13...b5 14.axb6 axb6 15.Ca4 Cfd7 16.De3±, com ideia de

Ce1-d3.

14.Ca4 b6 15.axb6 axb6 16.Cxc5 bxc5 17.Bb2

E após um jogo estranho do meu adversário na abertura, consigo

transformar a vantagem dinâmica (melhor desenvolvimento) em
uma vantagem estática (melhor estrutura de peões) e as pretas
ainda continuam com problemas para coordenar as peças.

17...Bf4 18.Ta5 Cd7 19.Td1 Bb7 20.Ta7 Tfd8 21.g3 Bh6

É interessante notar que todas as peças brancas estão nas

melhores casas, enquanto as peças pretas estão completamente
descoordenadas.

E seguindo os princípios estratégicos de Steinitz, fui acumulando

pequenas vantagens até chegar o momento em que a vantagem é
tão grande que é possível combinar.

22.Bxe5!

Diagrama 6

Aproveitando que a dama em e7 está sobrecarregada, as brancas

conseguem converter a vantagem.

22.Cxe5+–, também é possível.

22...Cxe5 23.Txd8+ Txd8 24.Cxe5 Dxe5 25.Txb7 Tf8 26.Df3 De8
27.Rg2

As brancas em um peão a mais e ataque.

A presença dos bispos de cores opostas não dá chance de

resistência às pretas, já que o bispo das brancas é ativo e o bispo
adversário passivo.

27...Bg7 28.h4 h5 29.Df4 Bd4 30.e5!

E as pretas não têm como defender a ameaça de Dh6, seguido de

Dxg6.
 Capítulo 2 – Aprendendo com os Clássicos
Todo forte jogador saber a importância de estudar os clássicos.

Estudar os clássicos quer dizer estudar os campeões mundiais e o

jogadores que fizeram par da evolução do xadrez.

Estudando as partidas clássicas nós conseguimos não só evoluir

nosso jogo estratégico, mas todas as fases do jogo.

A principal ideia deste capítulo é mostrar os primeiros princípios da

estratégia através dos clássicos.

E é claro, devemos começar estudando o primeiro campeão

mundial, o pai da estratégia: Wilhelm Steinitz!

Então vou analisar algumas partidas mostrando os primeiros

conceitos sobre estratégia estabelecidos por Steinitz.

Mas antes disso, vamos analisar uma partida jogada pelo gênio
americano Paul Morphy.

Morphy foi o jogador mais forte do período romântico do xadrez.

Esse período ficou marcado pelos sacrifícios brilhantes, ataques

fulminantes ao adversário, o que era uma característica de Morphy.

Mas, porque ele conseguiu ser o jogador mais forte de sua época?

Essa pergunta também foi feita por Steinitz.

Então, Steinitz resolveu estudar as partida de Mophy e descobriu

que Mophy já dominava alguns princípios da estratégia, por isso era
o jogador mais forte da sua época.

Assim, Steinitz aprendeu muito com as partidas de Morphy e

surgiram os primeiros conceitos sobre estratégia.

Vajamos uma partida de Morphy:

Morphy,Paul - Isouard,Carl [C41]

Paris it Paris, 1858
1.e4 e5 2.Cf3 d6 3.d4 Bg4?
Hoje já sabemos que esse lance é um erro, já cedendo o par de
bispos.
[3...Cc6?! 4.d5 (4.Cc3 --> Olmeda-Orosso; 4.dxe5 dxe5 Ramirez-
Opuama) 4...Cb4 --> Craig-Marie]
4.dxe5 Bxf3
4...dxe5 5.Dxd8+ Rxd8 6.Cxe5+-; 4...Cd7 5.exd6 Bxd6
6.Be2 (6.Cc3 --> Frommel-Nathe) 6...Cgf6 --> Szigeti-
Deak (6...De7 --> Rodriguez-Fernandez)
5.Dxf3
5.gxf3 dxe5 6.Dxd8+ Rxd8 7.f4+/- Pachman
5...dxe5 6.Bc4 Cf6?
6...Df6 --> Sulliman-Bernschutz 7.Db3 Bc5 8.0-0 Bb6 9.a4 a5
10.Cc3 Ce7 11.Be3 Cd7 12.Tad1|^; 6...Dd7
7.Db3
Um tema simples de ataque duplo.
7.Bg5 --> Fievet-Touati
7...De7
Esse lance é forçado, mas é claro que esse lance vai deixar a
peças pretas descoordenadas já que a dama atrapalha o
desenvolvimento natural do bispo de f8.
7...Dd7 8.Dxb7 Dc6 9.Bb5
8.Cc3!
As brancas poderiam tomar o peão de b7, mas Morphy faz um
lance mais incisivo, colocando o cavalo em jogo a vantagem de
desenvolvimento das brancas aumenta ainda mais.
Também era possível 8.Dxb7 Db4+ 9.Dxb4 Bxb4+ 10.Bd2+-;
8.Bxf7+! Rd8 (8...Dxf7 9.Dxb7+-) 9.Dxb7 Db4+ 10.Dxb4 Bxb4+
11.c3 Bc5 12.Bg5 Cbd7 13.Cd2 Tf8 14.Be6 h6 15.Bxd7 hxg5
16.Bc6 Tb8 17.Cf3 Txb2? 18.0-0-0+ 1:0 Tenk-Egert,Brno 1930]
8...c6 9.Bg5 b5?
9...Dc7
10.Cxb5!

Diagrama 7

Como vimos no primeiro capítulo, as brancas já possuem elementos

suficientes para combinar e fazem um forte sacrifício de peça
aproveitando a vantagem no desenvolvimento e o rei preto
centralizado.
10.Be2 Db4=
10...cxb5 11.Bxb5+ Cbd7
11...Rd8 12.0-0-0+
12.0-0-0 Td8 13.Txd7!
E aqui Morphy tem a chance de mostrar todos sua genialidade na
arte das combinações.
Mas, o mais interessante é perceber que essa combinação só foi
possível graças a essa diferença entre dominar alguns conceitos
básicos da estratégia, como centro, desenvolimento, tempo e
espaço.
13...Txd7 14.Td1 De6 15.Bxd7+
15.Dxe6+ fxe6 16.Bxf6+-
15...Cxd7 16.Db8+!!
 Diagrama 8

Arrematando a partida com um bonito sacrifício de dama.

16...Cxb8 17.Td8++

Steinitz,William - Chigorin,Mikhail [C65]

World Championship 04th Havana (4), 07.01.1892

De acordo com Steinitz, um ataque na ala deve ser defendido com

um contra-ataque no centro. E, por isso só pode ter êxito com um
centro fechado ou bem apoiado.
Foi isso que Steinitz demonstrou nesta partida.
Foi nela que ficou claro a diferença entre os dois jogadores.
Chigorin era mais "avançado" que os jogadores do período
romântico do xadrez, mas ele não podia competir com Steinitz no
jogo posicional.
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bb5 Cf6 4.d3
4.0-0 Cxe4 5.d4 Cd6 6.Bxc6 dxc6 7.dxe5 Cf5 8.Dxd8+ Rxd8
4...d6 5.c3
Essa é uma formação característica de Steintiz. Dsse é um centro
muito flexível onde as brancas podem fazer a ruptura d4 em
qualquer momento, mas o mais importante é que contra d5 das
pretas as brancas podem simplesmente responder De2, mantendo
com o controle do centro.
5...g6 6.Cbd2 Bg7 7.Cf1 0-0 8.Ba4
8.De2 Bd7 9.Ba4 Cd4 10.cxd4 Bxa4 11.dxe5 dxe5 12.Cxe5 Bb5-/+
(Steinitz).
8...Cd7
A ideia é manobrar o cavalo para e6, evitando assim a ruptura d4.
8...a6 9.Ce3 (9.Cg3 b5 10.Bb3 d5 11.De2 Te8 12.0-0
Bb7 Keres) 9...b5 10.Bb3 Ca5 11.Bc2 d5 Euwe; 8...d5!? (Mason).
9.Ce3 Cc5
9...f5!? Reti 10.b4 (10.exf5 gxf5 11.Cd5+/= Neistadt) 10...f4 11.Cd5
g5 com jogo complicado.
10.Bc2 Ce6 11.h4!

Diagrama 9

Normalmente esse tipo de ataque não é perigoso no estágio inicial

da partida, mas aqui Steinitz percebeu um problema na ala do rei
das pretas.

Ele notou que agora não existe mais o cavalo em f6 defendendo a

ala do rei e que o fianqueto do bispo em g7 enfraqueceu algumas
casas pretas.

Por isso, a ideia é atacar na ala do rei.

Mas, o principal para esse ataque ter sucesso é que as pretas não
conseguem criar contra-jogo no centro.

Um ataque na ala só tem sucesso com um centro sólido onde o

adversário não consiga criar contra-jogo.

Se 11.0-0 f5, com jogo complicado.

11...Ce7
Com ideia de d5, criando contra-jogo no centro.

11...f5!? 12.exf5 (12.h5 f4 13.Cd5 g5 14.h6 Bf6 15.Bb3

Rh8 Chigorin) 12...gxf5 13.Cd5 (13.d4!+/- -> Neistadt) 13...Ce7
14.Cxe7+ Dxe7 15.Cg5 h6~~; >=11...h6 Mason 12.h5 g5 13.Cf5 /\
14.d4+/-

12.h5 d5

12...g5!? (Mason) 13.h6! com vantagem das brancas.

13.hxg6 fxg6?

E aqui Chigorin comete um sério erro estratégico, pois esse lance

enfraquece a diagonal a2-g8 e consequentemente o rei das pretas.

Para 13...hxg6 14.exd5 (14.De2 /\ Bd2, 0-0-0 +/- Reti) 14...Cxd5

15.Cxd5 Dxd5 16.Bh6 Bxh6 17.Txh6 Rg7 18.Dd2 Cf4=/+ (Chigorin]

14.exd5 Cxd5 15.Cxd5 Dxd5 16.Bb3+/- Dc6 17.De2 Bd7

>=17...a5 18.a4 Db6 19.Bxe6+ (19.Dc2 /\ 20.Be3+/-) 19...Bxe6

20.Cg5 Bf5 21.Cxh7 Tfd8~/= |^ (Chigorin)

18.Be3

18.Cxe5? Dxg2

18...Rh8

>=18...Tf7 /\ Bh8 Steinitz 19.0-0-0 Bh8 20.d4!+/-

19.0-0-0 Tae8 20.Df1!

 Diagrama 10

Um lance bem fino! A ideia é poder fazer a ruptura d4 e ao mesmo

tempo passar a dama para a coluna h,ajutando no ataque na ala do
rei.

20...a5

20...Tf5! /\ 21... Nf8; >=20...Cf4 Steinitz/Chigorin

21.Txh7+a) 21.Cg5! h6 22.Cf7+ Rh7= Chigorin 23.d4! Dxg2
24.Dxg2 Cxg2 25.Cxh6+- Ravinsky; b) 21.d4! exd4 (21...Bg4
22.Cg5 h6 23.f3+/- Neistadt) 22.Txd4!+/-; 21...Rxh7 22.Cg5+ Rh6
23.Cf7+ Txf7 24.Dh1+ Rg5 25.Bxf7 Th8 26.Dg1 Rf6-/+

21.d4!

Steinitz percebe que a única peça que defende o rei das pretas é o
bispo de g7, então busca a abertura de linhas e a trocar dessa
importante peça.

21...exd4 22.Cxd4 Bxd4

22...Cxd4 23.Txh7+ Rxh7 24.Dh1++-; 22...Da6 23.Bc4 Da8 24.Cf3+-

Euwe; 22...De4 23.Bc2 Dg4 24.f3 Dg3 25.Cf5 gxf5 26.Txd7+-

23.Txd4!+-
 Diagrama 11

Esse lance arremata a partida e o ataque pelas casas pretas é

irresistível!
23...Cxd4
23...Te7 24.Tdh4 Tff7 25.g3 /\ 26.Bd4 Kg8 27.Qd3 /\ 28.Qg6+-
(Chigorin)
24.Txh7+! Rxh7 25.Dh1+ Rg7 26.Bh6+ Rf6 27.Dh4+ Re5
28.Dxd4+
Uma bonita vítória de Steinitz, ficando bem clara a superioridade da
Escola Clássica de Steinitz (com o primeiros princípios da
estratégia) sobre a Escola Romântica representada por Chigorin.
28.Dxd4+ Rf5 29.g4#1
E as brancas ganham.

Steinitz,William - Paulsen,Louis [C25]

Baden-Baden Baden-Baden (13), 30.07.1870

Nessa partida Steinitz usa o gambito que leva seu nome e

demonstra a superioridade de entendimento sobre fatores de longo
prazo e fatores de curto prazo.

1.e4 e5 2.Cc3 Cc6 3.f4 exf4 4.d4?! Dh4+ 5.Re2

Muitos jogadores poderiam acreditar que as pretas tem vantagem

nessa posição, já que o rei branco perdeu o roque e está no centro.

Mas, Steinitz percebeu outros fatores que são mais importantes

nesse momento.
Aqui vai ficar mais clara essa diferença de entendimento de Steinitz.

Ele percebeu que as peças brancas poderiam ganhar tempos em

cima da dama, conseguindo vantagem no desenvolvimento.

As brancas possuem um forte centro de peões o que dificulta o

desenvolvimento natural das pretas.

O resultado é que os fatores de longo prazo como o centro e

desenvolvimento são muito mais importantes do que o rei
momentaneamente no centro.

Esse último é um fator de curto prazo e as brancas consolidando a

posição – ao colocar seu rei em segurança - terão clara vantagem.

5...d6

5...d5!?

6.Cf3 Bg4 7.Bxf4 0-0-0?!

7...f5!

As pretas deveriam ter feito este lance buscando as abertura de

linhas.

8.Re3 8...Dh5?

8...Bxf3 seria melhor, evitando perder tempos com a dama.

9.Be2 Da5?

Esse lance apenas perde mais tempos com a dama.

Novamente a melhor chance das pretas seria: 9...f5 10.h3 Bxf3

11.Bxf3 De8

10.a3!

A dama das pretas segue sendo um problema constante para o

segundo jogador.

10...Bxf3 11.Rxf3!
 Diagrama 12

Paulsen não esperava este lance e agora as pretas enfrentam

sérios problemas.
11.Bxf3 g5, com contra-jogo.
11...Dh5+
11...g5? 12.b4 Db6 13.Be3, seguido de Cd5 ou Ca4.
12.Re3 Dh4 13.b4!
As brancas estão melhor desenvolvidas e possuem o total controle
do centro.
Esses já são elementos suficientes para começar um ataque na
ala.
13...g5 14.Bg3 Dh6 15.b5 Cce7 16.Tf1 Cf6 17.Rf2 Cg6 18.Rg1!

Diagrama 13

É difícil de acreditar que as brancas já fizeram seis movimentos

com o rei, mas agora o rei está em segurança e o branco tem clara
vantagem.
18...Dg7 19.Dd2 h6 20.a4 Tg8 21.b6!

Um temático sacrifício de peão para abrir linhas sobre do rei do

inimigo.

21...axb6 22.Txf6! Dxf6 23.Bg4+ Rb8 24.Cd5 Dg7 25.a5

Não tem como parar o ataque das brancas.

25...f5

Desespero. Tentando colocar a dama em jogo. Mas outros lances

também falham.

25...Ce7 26.axb6 Cxd5 27.Ta8+! Rxa8 28.Da5+ e decide; 25...b5

26.a6 b6 27.a7+ Rb7 28.Cxc7! Rxc7 29.Dc3+ Rb7 30.Bd7, etc.

26.axb6 cxb6 27.Cxb6!

Diagrama 14

Bonito arremate!

27...Ce7

27...fxg4 28.Ta8+ Rc7 29.Dc3+ Rxb6 30.Da5+ Rc6 31.d5+ e

ganhou.

28.exf5

28.Db4 seria o mais preciso do ponto de vista do computador.

28...Rc7 29.Ca8+ Rc8 30.Bxf5+ Td7 31.Bxd7+ Rxd7 32.Dxd6+ Re8
33.Cc7+ Rf7 34.De6++

Ma,s o lance de Steintiz também é suficiente.

28...Df7 29.f6 Cc6 30.c4

Pode parecer lento, porém as pretas não têm como se defender.

30...Ca7 31.Da2 Cb5 32.Cd5

E as pretas já poderiam abandonar.

32.Da8+ Rc7 33.Da5 com mate em 3.

32...Dxd5 33.cxd5 Cxd4 34.Da7+ Rc7 35.Tc1+ Cc6 36.Txc6++

 Capítulo 3 – Tático ou posicional

Escrevi esse capítulo para falar sobre a diferença de estilos.

É muito comum encontrar jogadores que se auto denominam
jogadores táticos ou jogadores posicionais.

Mas será que é possível fazer uma partida usando apenas a tática?

Ou apenas a estratégia?

Pensando nisso resolvi estudar o match pelo campeonato do

mundo jogado entre Tal e Botvinnik, considerado por muitos o duelo
entre a tática versus a estratégia.
Quando comecei a analisar estas partidas não consegui perceber
quem era o tático e quem era o jogador posicional no duelo.

Acontece que os dois jogadores dominavam tanto a tática, quanto a

estratégia.

Por isso vou analisar uma partida mostrando como o gênio das
combinações Mikhail Tal também dominava a estratégia.

Tal,Mihail - Suetin,Alexey S [B42]

Goglidze Memorial Tbilisi, 12.1969

Como dizia Emanuel Lasker: “O jogo posicional constitui a fase

prepatória da combinação”.
A partida que se segue é um ótimo exemplo disso.

1.e4 c5 2.Cf3 e6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 a6 5.Bd3 Ce7 6.Cc3 Cbc6

7.Cb3

Esse lance não chega a ser uma perda de tempo, já que as pretas
vão perder um tempo com Cg6.

7...Cg6 8.0-0 b5 9.Be3 d6 10.f4 Be7 11.Dh5

Agora fica claro que o cavalo não está muito bem colocado em g6,
permitindo Dh5, onde a dama branca fica muito bem colocada.
11...Bf6?!
 Diagrama 15

Na Defesa Siciliana vemos o combate de duas ideias estratégicas

igualmente agressivas.

A pretas esperam conseguir contra-jogo pela coluna c semi aberta e

o ataque da minoria com b5.
Já as brancas vão buscam um ataque na ala do rei.

O lance Bf6 cria debilidades na estrutura de peões das brancas na

ala da dama.
Porém, Suetin não percebe que estregando seu bispo de casas
pretas estas casas vão ficar muito debilitadas.

Para 11...0-0, então 12.Tf3.

12.Tad1!

Com Dh5 as brancas deixaram claro suas intenções agressivas na

ala do rei.

Como vimos na primeira partida, antes de se lançar ao ataque é

necessário respeitar alguns princípios estratégicos e um deles é o
desenvolvimento!

Por vezes, muito focados no ataque, esquecemos de completar o

desenvolvimento.

12...Bxc3 13.bxc3 Dc7 14.Td2!

 Diagrama 16

14...Cce7?!

Movendo várias vezes a mesma peça, as pretas somente

conseguem atrasar o seu desenvolvimento.
15.Cd4!

Voltando o cavalo para o centro.

15...Bd7 16.f5!

Diagrama 17

Aproveitando sua vantagem no desenvolvimento e o rei das pretas

no centro,Tal resolve buscar a abertura de linhas.

16...exf5 17.exf5 Ce5 18.Ce6! Bxe6 19.fxe6 g6

Opção é 19...0-0-0!

20.Dxe5!
 Diagrama 18

Se 20.De2 segue 20...f5.

20...dxe5 21.exf7+

A posição final ilustra muito bem os erros cometidos pelas pretas

nesta partida.

Em primeiro lugar o atraso no desenvolvimento.

As torres seguem nas posições iniciais.

A troca do bispo somente serviu para debilitar as próprias casas

pretas.

Pelo contrário, as peças brancas ocupam casas muito ativas.

Conclusão: como na outra partida, as brancas conseguiram

transformar sua vantagem posicional em um ataque de mate.

21...Rf8

21...Rd7 22.Bf5+ Rc6 23.Be4+ Cd5 24.Bxd5+

22.Bh6++

11.Tac1 Dd6 12.Ce5 Tfd8 13.Tfd1 Tac8 14.Da5

14.c5 Db8 15.b4 f6 16.Cd3 Bf5

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