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É fato que Cuiabá contou com problemas relacionados à saúde de sua população
durante todo o período imperial. Na busca por compreender como era a realidade das doenças
e epidemias em Cuiabá em meados do século XIX, faculta algumas das melhores fontes
históricas que temos: os relatos daqueles que por aqui passaram – e as impressões de um
médico que aqui esteve, tão importantes quanto os relatos de viajantes curiosos e
aventureiros, são um importante quadro histórico do olhar especializado na capital do Mato
Grosso oitocentista. Com base em apontamentos sobre a climatologia, o conhecido médico
Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira Barroso, um dos líderes da Sabinada, escreveu
suas notícias médicas acerca da região em que esteve preso.
MATERIAL E MÉTODOS
Para fins de análise, o texto escrito por Sabino configura um rico material que precisou
ser entrecruzado com outros documentos e cotejado com o contexto da época, quando Mato
Grosso era tido como um lugar distante e de difícil acesso, com larga extensão territorial e
poucos pontos efetivamente povoados pelo império, muitas tribos indígenas e vários lugares
ainda não explorados, população pobre e cultura inflada de superstições religiosas. Nesse
período, Mato Grosso não foi um lugar onde residiam os principais médicos do império e onde
pudessem existir centros universitários de medicina. No geral, Sabino relata não apenas
questões de clima e saúde, mas também descreve as situações que viveu em Mato Grosso e
as perseguições que sofreu por parte das autoridades quando ele esteve preso brevemente
em Cuiabá. O relato em questão provém de um artigo publicado na “Gazeta mensal de
medicina, cirurgia e ciências acessórias”, onde é levantado os principais focos de epidemia
na região.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De passagem forçada por Cuiabá, Sabino não entendia o motivo das pessoas da
região não usarem o sulfato de quinina, mesmo com a presença de um médico alemão no
lugar. O que ele alega ter encontrado nestas terras foi a prática do charlatanismo, e a pessoa
que encarnou a figura do charlatão, nas palavras de Sabino, foi o médico Adolfo Josetti.
O médico João Adolfo Josetti era muito conhecido e requisitado em Mato Grosso. No
seu artigo, Sabino o chamou de grão charlatão, impostor, hortelão ordinário, um reles guarda
de granjas em seu país natal. Esta descrição talvez seja pelo fato de Josetti praticar uma
medicina homeopática. Na Santa Casa, Josetti usava e cuidava da botica para manipular
remédios considerados caseiros para curar as doenças dos pacientes daquele hospital. Este
hospital passou por vários problemas de estrutura e falta de materiais durante o Império. Na
segunda metade do século XIX não havia nenhuma irmandade cuidando do lugar.
Era na botica de tal estabelecimento que Josetti colocava em prática o seu saber
médico e, mesmo com as denúncias de Sabino, Josetti não perdeu seu prestígio. O viajante
Mulhall esteve em Cuiabá e se encontrou com tal médico alemão, nascido em Hamburgo, e
descreveu uma vida próspera do mesmo, que além de médico era oficial do exército brasileiro
e vivia sua velhice com muitos netos e grande família na capital.
É preciso mencionar que Josetti foi muito requisitado pela polícia para realizar os
corpos de delito e as exumações de cadáveres. As práticas periciais se valiam de um saber
médico e a medicina legal era instrumento nas investigações policiais, esta atividade
fomentava uma espécie de “insuspeita habilidade detetivesca”. Nesta época os processos
criminais não desprezavam “o conhecimento médico como determinante da existência de um
crime e de seu culpado”, nem sempre se baseavam “em testemunhos e provas” que poderiam
ser “desmentidos por uma verificação médica”.
Se por um lado Sabino fala mal do médico Josetti, por outro ele elogia o médico José
Antônio Murtinho, que era, segundo suas palavras, o médico de mais lata clientela de Cuiabá.
Murtinho conseguiu licença para conversar com Sabino, quando este se encontrava
incomunicável na prisão de Cuiabá. O assunto principal entre os dois foi a reinante e
assoladora epidemia de Cuiabá.
Sabino pondera que uma afecção mórbida que estava se tornando endêmica no Brasil
imperial era a pneumonia inflamatória. E em Mato Grosso as causas desta doença eram o
clima e a condição social da população. De setembro a outubro em diante, quando se
aproximava a estação das águas, a temperatura ficava muito elevada e no meio de dias
quentes baixava de forma súbita, aparecendo então a friagem. Era nessa variação climática
que se encontrava a cidade de Cuiabá, situada sobre morros, um lugar muito úmido e quente.
Outra coisa, segundo a análise de Sabino, era a péssima construção das casas,
principalmente na periferia. “O pouco cuidado, e desleixo usual no vestuário da gente de
condição mais baixa, e dos trabalhadores do campo, são outras tantas causas eficientes” para
que ocorresse o aparecimento desta doença. De todo modo, essas perspectivas também são
apresentadas por outros chegantes e também estão incorporadas nos discursos dos
dirigentes.
Sabino relembra a capital, ele construiu sua imagem de Cuiabá como uma cidade
pobre e doentia. Na “crise fatal de epidemia” o médico revolucionário chegou à cidade e os
cuiabanos se encheram de esperanças. Ele entrou na cidade e todos pediram que ele ficasse
enquanto durassem os estragos da epidemia. Porém, as autoridades não corresponderam às
expectativas, dando a ordem de mandá-lo ao Forte Príncipe da Beira. No relato, Sabino diz
que está a todo o momento furtando-se às escoltas e às ordens prisão.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
STEINEN, Karl Von Den. O Brasil central: expedição em 1884 para exploração do rio
Xingú. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1942.
VOLPATO, Luiza Rios Ricci. Cativos do Sertão: vida cotidiana e escravidão em Cuiabá:
1850-1888. São Paulo, Ed. EdUFMT, 1993.
FONTES HISTÓRICAS
Doc. 050 - R03. Anexo n. 2. Santa Casa de Misericórdia. 16 de novembro, 1878. Cuiabá,
Tip. do Liberal, 1878.