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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CAMPO GRANDE


LINGUAGEM E TECNOLOGIAS DIGITAIS

Acadêmica: Gong Li Cheng – RGM: 34136


Curso: 2º Ano de Licenciatura em Letras – Português, Espanhol e suas Literaturas
Disciplina: LTD, ministrado pelo Prof. Dr. Ruberval Franco Maciel

MACIEL, R.F. Eu sei o que é bom para você: a lógica da emancipação revisitada. In: ZACCHI, V.:
STELLA. P. Novos Letramentos. formação de professores e ensino de língua inglesa. Maceió:
Edufal, 2013.

O professor e pesquisador Ruberval Maciel (2013) propõe uma visão crítica sobre a questão
da emancipação nas práticas e na formação moderna dos professores. O autor explica que o título
“Eu sei o que é bom para você” faz alusão à discussão sobre “quem emancipa quem (em sala de
aula)?”, com o um colega igualmente pesquisador. “Nesse sentido, busco discutir alguns aspectos
relacionados à formação de professores com base em uma experiência de pesquisa colaborativa com
característica etnográfica da qual participaram duas professoras de uma escola pública em Campo
Grande-MS durante três anos.” (MACIEL, 2013, p. 248).
Antes de prosseguir com a exposição dos dados empíricos das duas professoras, o autor faz
uma reflexão sobre o que significa a palavra “emancipar”; de modo geral, conclui, que, emancipar-
se significa tornar-se independente ou livre de algum modo de opressão, como por exemplo o
movimento social feminismo que, emancipou as mulheres da subalternização masculina. “Assim, o
objeto da emancipação [sujeito a ser emancipado] torna-se livre como resultado da emancipação”.
(Ibid., p. 249).
Para fundamentar o conceito de emancipação pretendido, o autor busca fontes históricas e
teorias filosóficas para uma melhor compreensão de como os sujeitos foram emancipando-se ao
longo da constituição das civilizações. Nesse sentido, o Iluminismo é um momento-chave, já que
filósofos como Kant, postularam que o pensamento deveria ser visto como uma parte herdada da
natureza humana, além do ser humano só se constituir pela educação. Entretanto, o mundo ocidental
passou a ser regido por uma visão logocêntrica, hierarquizada, o que, por conseguinte, gerou
processos excludentes no âmbito da educação.
Considerando-se a vertente da educação crítica sob influência da teoria marxista ou neo-
marxista, pode-se considerar que a emancipação se detém em analisar as estruturas
opressivas, as suas práticas e as suas teorias. […] O emancipado, nessa perspectiva, é
incapaz de compreender as ideologias, bem como de identificar como o poder opera através
delas e, consequentemente, perceber como suas consciências são moldadas em função
disso. (Ibid., p. 250).

Nessa acepção, fica claro a importância de se compreender os processos políticos e


históricos da constituição do conceito e das práticas de emancipação, dado que há dois modos
identificados de veicular ou trazer à baila da discussão, o olhar crítico para as ideologias vigentes,
nas escolas. A pedagogia crítica que, pressupõe que os professores já se emanciparam de uma
ideologia dominante e opressiva para passar uma ideologia libertadora e colaborativa ao processo
de emancipação dos alunos. Visão esta bastante limitante, na medida em que há uma pressuposição
bastante presunçosa que parecer diz (mais uma vez) “eu sei o que é bom para você”. Processo
inverso seria o do letramento crítico, por idealizar um espaço que possibilite o questionamento
coletivo do que seria transformador, construtivo ante um sistema hierárquico excludente. Estas
problemáticas geram um certo conflito na formação continuada dos professores, ao dizer que há
certas intempéries que os agentes educadores não enxergam ou não sabem lidar com as mesmas.
Ao elucidar questões antes desconhecidas ou apresentar possíveis soluções aos professores,
o autor transcreve a narrativa eufórica das duas professoras. Processo este bastante interessante na
medida em que diminui o abismo que há entre a universidade e a escola pública, entre
pesquisadores e professores da educação básica. No entanto, ao analisar as duas narrativas, também
é preciso pensar em como o pesquisador parece dar o aval da emancipação para os professores.
Retomando as premissas sobre emancipação do início desta seção: se emancipar (sic)
estaria relacionado a fazer com que as pessoas pensem por si mesmas, que tomem suas
próprias decisões e que cheguem às suas próprias conclusões, parece-me incoerente que
uma pessoa externa tenha que desempenhar o papel de desvelar uma verdade ou de apontar
os caminhos a serem seguidos para um contexto que não lhe é familiar. Assim, há uma
discrepância na premissa principal da emancipação. Essa lógica, segundo Rancière (2010),
introduz uma noção de dependência na realização da emancipação, isso porque os
emancipados permanecem dependentes da verdade e do conhecimento a eles revelados pelo
emancipador. (MACIEL, 2013, p. 253).

Assim como o processo de pedagogia crítica, os professores ficam dependentes dos


pesquisadores. E se os professores pensassem em sugestões como: “mas e se fosse dessa maneira
outra maneira que poderia atender mais o meu contexto local? Nesse momento, há também uma
quebra de círculo hermenêutico interpretativo do pesquisador, que inicialmente não havia
considerado tal possibilidade.” (Ibid., p. 255). Rompendo com o julgamento que pressupõe que os
professores sempre sabem o que é mais adequado, ou o que os alunos precisam saber etc.
À vista disso, é preciso que os professores, com base no letramento crítico, comecem a
refletir em sua prática relações menos verticais e mais horizontais, dando espaço para que os
próprios alunos sejam agentes de sua emancipação.

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