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EXERCÍCIO, ESTRESSE OXIDATIVO E MAGNÉSIO | 563

COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION

Aspectos atuais da relação entre exercício


físico, estresse oxidativo e magnésio

Current aspects of the relationship between physical


exercise, oxidative stress and magnesium

Aline Guimarães AMORIM 1


Julio TIRAPEGUI 2

RESUMO

Este trabalho visa a contribuir com informações atualizadas sobre a relação entre exercício, estresse oxidativo
e magnésio. São escassos os trabalhos que discutem a produção de radicais livres nesse contexto. A deficiência
de magnésio altera a fluidez das membranas celulares e mitocondriais e promove perturbações na homeostase
do cálcio e na atividade das defesas antioxidantes. No exercício, a falta de magnésio nos tecidos musculares os
torna mais suscetíveis à infiltração de macrófagos e neutrófilos e ao rompimento do sarcolema, dificultando
o processo de regeneração e podendo ocasionar queda no desempenho físico. Conclui-se que o papel
metabólico da deficiência de magnésio no estresse oxidativo induzido pelo exercício deve ser mais pesquisado,
focalizando os seus efeitos na musculatura esquelética em indivíduos que praticam exercício regular e na
deficiência marginal de magnésio.
Termos de indexação: Deficiência de magnésio. Estresse oxidativo. Exercício. Magnésio.

ABSTRACT

This article contributes to updated information about the relationship between exercise, oxidative stress and
magnesium. There are few studies that discuss free radical production in this context. Magnesium deficiency
alters cellular and mitochondrial membrane fluidity and promotes disturbances on calcium homeostasis and
on the activity of antioxidant defenses. During exercise, lack of magnesium in muscle tissue turns them more
susceptible to macrophage and neutrophil infiltration and to sarcolema damage, impairing the regeneration
process and leading to decreased physical performance. In conclusion, the metabolic role of magnesium
deficiency on exercise-induced oxidative stress should be further researched, focusing on its effects on skeletal
muscle in individuals who practice regular physical exercise and in marginal magnesium deficiency.
Indexing terms: Magnesium deficiency. Oxidative stress. Exercise. Magnesium.

1
Universidade Federal do Maranhão, Curso de Nutrição, Departamento de Ciências Fisiológicas. São Luís, MA, Brasil.
2
Universidade de São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental.
Av. Professor Lineu Prestes, 580, 05508-900, Butantã, São Paulo, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: J.
TIRAPEGUI. E-mail: <tirapegu@usp.br>

Rev. Nutr., Campinas, 21(5):563-575, set./out., 2008 Revista de Nutrição


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INTRODUÇÃO tando um ou mais elétrons desemparelhados, que


são capazes de existir livremente, podendo reagir
Atualmente é reconhecido que os radicais com estruturas biológicas e outros componentes,
livres, além de serem um dos fatores que causam causando danos oxidativos e produzindo outras
lesões no exercício físico, também exercem efeitos espécies reativas de oxigênio (ERO)7.
positivos no sistema imunológico e em funções
Durante o exercício físico, tanto a atividade
metabólicas essenciais1. Se a ação de tais radicais
aeróbia quanto anaeróbia podem aumentar,
livres será benéfica ou deletéria para o organismo
respectivamente, 20 e 50 vezes o consumo ener-
vai depender da atividade dos antioxidantes, que
gético do tecido muscular. Especialmente no
são substâncias que suprimem tais radicais e seus
exercício aeróbio, o fluxo de oxigênio no músculo
efeitos danosos. O estresse oxidativo acontece
esquelético aumenta em cerca de 100 vezes e o
quando a ação dos radicais livres supera a ativi-
fluxo sangüíneo em 30 vezes. Na passagem do
dade dos antioxidantes2. Uma das principais conse-
estado de repouso para o exercício, nenhum outro
qüências do estresse oxidativo é a peroxidação
tecido, além do muscular, é capaz de sofrer ta-
lipídica, além de possíveis danos a proteínas e ao
manha mudança quanto ao consumo de oxigênio.
DNA (ácido desoxirribonucléico), alterando conse-
Assumindo que uma porcentagem fixa deste
qüentemente a função celular3.
oxigênio (1% a 2%) é reduzida a radical supe-
A atividade física aumenta tanto a produ- róxido (O2-), a musculatura exercitada é uma fonte
ção de radical livre como a utilização de antioxi- geradora em potencial de ERO8.
dantes. A alimentação é responsável pelo forneci-
No exercício físico, as espécies reativas de
mento dos antioxidantes. A deficiência dietética
oxigênio e as espécies reativas ao nitrogênio (ERN)
de antioxidantes e de outras substâncias essenciais
são as mais estudadas. As ERN podem ser forma-
pode causar estresse oxidativo 4. Dentre tais
das por reações com ERO ou podem aumentar a
substâncias está o magnésio, mineral que participa
produção das mesmas. Os radicais superóxido (O2-),
do metabolismo energético, da regulação dos
peróxido de hidrogênio (H2O2) e óxido nítrico (NO•)
transportadores de íons e da contração muscular5.
reagem rapidamente com apenas algumas molé-
A deficiência dietética de magnésio é culas, enquanto o hidroxil (OH•) reage rapi-
positivamente correlacionada ao aumento da damente com qualquer composto. Espécies como
peroxidação lipídica e à diminuição da atividade os radicais peroxil (RO2•), alcoxil (RO•), ácido hipo-
antioxidante6. Entretanto, até o momento, pouco cloroso (HOCl), dióxido de nitrogênio (NO-2) e
tem sido discutido a respeito do seu efeito sobre peroxinitrito (ONOO-) apresentam reatividade
o metabolismo oxidativo durante a atividade física. intermediária4.
O objetivo deste trabalho é contribuir com infor-
Até recentemente, acreditava-se que a
mações atualizadas a respeito da relação entre
síntese de radicais livres na atividade física tinha
exercício físico, estresse oxidativo e magnésio.
apenas efeitos deletérios para o organismo. Hoje,
é reconhecido que baixos níveis de radicais livres
Produção de radicais livres no exercício presentes na musculatura em repouso podem
físico sinalizar etapas da contração normal. As espécies
reativas de oxigênio e de nitrogênio modulam
A molécula de O2 (oxigênio) contém dois vários elementos da função celular, como captação
elétrons desemparelhados com spins paralelos. A de glicose, metabolismo mitocondrial, transcrição
redução univalente de oxigênio, um processo de gênica e catabolismo muscular. Tais metabólitos
significância biológica para a produção de energia, ainda têm complexos efeitos autócrinos/parácrinos
trata da redução de um elétron por vez. Tal pro- nos componentes celulares que regulam a con-
cesso leva à produção de radicais livres, apresen- tração9.

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A cadeia transportadora de elétrons mito- a atividade da NOS é mais proeminente nos


condrial é considerada a principal fonte de radicais exercícios anaeróbios. Uma alta produção de óxido
livres no exercício aeróbio. Vários dos centros de nítrico durante a contração dá início a uma cadeia
oxirredução existentes nos quatro complexos de reações produtoras de radicais livres, a partir
enzimáticos que compõem a cadeia respiratória da qual o óxido nítrico interage com o radical
podem ser oxidados por oxigênio molecular, superóxido para gerar peroxinitrito14.
resultando na formação de radical superóxido10. As ciclooxigenases (COX) catalisam as
Outro mecanismo considerado responsável etapas iniciais da conversão do ácido araquidônico
pela produção de radicais livres no exercício é o (AA) no intermediário prostaglandina H2, que, por
processo de isquemia-reperfusão. Em exercícios sua vez, é convertida em prostaglandinas e trom-
realizados em intensidade acima do VO2máx, o boxanas, dando início às respostas inflamatórias.
tecido muscular pode sofrer hipóxia, pela falta de A partir desta cascata de reações, as COX também
circulação sangüínea após repetidas contrações produzem espécies reativas de oxigênio2.
(isquemia). A reoxigenação destes tecidos logo
Outros processos relacionados com a pro-
depois do rápido aumento no fluxo sangüíneo
dução de radicais livres no exercício envolvem a
(reperfusão) pode levar à produção de radicais
oxidação de componentes da hemoglobina e da
livres11,12. Esta isquemia, seguida de reperfusão
mioglobina, as catecolaminas, a elevação da tem-
causada pelo exercício intenso, promove a conver-
peratura corporal e o ácido lático, que é capaz de
são de xantina desidrogenase (XD) em xantina
converter radical superóxido em hidroxila2.
oxidase (XO) e forma radical superóxido como
subproduto final da reação11.
Alterações no metabolismo muscular Os mecanismos de defesa antioxidantes
causadas por dano celular subseqüente ao estresse no exercício físico
oxidativo sinalizam uma resposta inflamatória, na
qual células fagocitárias - neutrófilos, princi- Um antioxidante pode ser definido como
palmente - se infiltram no tecido danificado3. Tais qualquer substância que, presente em baixas
neutrófilos produzem a enzima NAD(P)H oxidase, concentrações frente a um substrato oxidável,
que catalisa a produção de radical superóxido retarda ou previne a oxidação de tal substrato4.
usando NAD(P)H como doador de elétron. A Os antioxidantes protegem o organismo inibindo
NAD(P)H oxidase também participa de células não as reações ligadas à formação de radicais livres,
fagocíticas, produzindo radical superóxido como impedindo a perda da integridade celular e, ainda,
sinalizador intracelular13. Os neutrófilos produzem reparando as lesões causadas por tais compostos.
ainda mieloperoxidase (MPO), que catalisa a Diversas substâncias fisiológicas enzimáticas e não
conversão de peróxido de hidrogênio em ácido enzimáticas são reconhecidas como antioxidantes.
hipocloroso10. Os antioxidantes não enzimáticos consistem princi-
O óxido nítrico é sintetizado a partir da palmente de glutationa (GSH) e ceruloplasmina.
molécula de oxigênio e L-arginina pela enzima Os antioxidantes dietéticos exógenos (vitaminas
óxido nítrico sintase (NOS). A musculatura esque- C e E, β-caroteno, Cu, Se, Zn, ubiquinona e flavo-
lética expressa a isoforma neuronal da NOS nóides) interagem com os antioxidantes endóge-
(nNOS), localizada próximo ao sarcolema. A nos compondo uma rede celular antioxidante
isoforma endotelial (eNOS) está presente em integrada. Já os antioxidantes enzimáticos são
estruturas vasculares adjacentes9. A NOS tem representados por superóxido dismutase (SOD),
maior atividade nas fibras musculares do tipo IIb, glutationa peroxidase (GPx), glutationa redutase
glicolíticas, do que nas do tipo I, oxidativas. Assim, (GR) e catalase (CAT)7.

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A superóxido dismutase tem como função metabolismo energético. O óxido nítrico, em


catalisar a conversão do superóxido em peróxido particular, pode diminuir a capacidade contrátil
de hidrogênio, que é transformado em água por muscular por inibir a atividade da ATPase depen-
ação de catalases e peroxidases. Já a glutationa dente de cálcio do retículo sarcoplasmático e por
peroxidase é a enzima responsável pela redução induzir a hiperpolarização do potencial de mem-
de peróxido de hidrogênio em água. O resultado brana. A diminuição da atividade das ATPases
da reação enzimática é a oxidação da glutationa dificulta a ação das proteínas contráteis (actina e
em glutationa oxidada (GSSG). Já a GSSG é miosina), diminuindo, assim, o mecanismo de con-
reduzida a glutationa pela reação enzimática tração muscular2.
dependente de nicotinamida adenosina dinu- O dano muscular após o exercício físico
cleotídeo fosfato hidrogenado (NADPH) catalisada pode ser caracterizado pelo aumento das concen-
pela glutationa redutase. Tanto a glutationa pero- trações de diversas substâncias, tais como as
xidase como a glutationa redutase atuam no reativas ao ácido tiobarbitúrico (ThioBarbituric Acid
citossol e na mitocôndria. A catalase, assim como Reactive Substances - TBARS), malondialdeído
a glutationa peroxidase, decompõe peróxido de (MDA) ou, ainda, dienos conjugados. O aumento
hidrogênio, que é utilizado na oxidação de diver- das concentrações plasmáticas de proteínas, como
sos doadores de hidrogênio, tais como metanol e a creatina quinase (CK) e a lactato desidrogenase
etanol7. Do contrário, o peróxido de hidrogênio (LDH), é importante por refletir se houve ou não
se combina diretamente com o Fe, na forma iônica rabdomiólise e, conseqüentemente, saída destas
Fe2+, na chamada reação de Fenton. A atividade do músculo danificado 14. Outros indicadores
de superóxido dismutase, catalase e glutationa utilizados determinam a atividade de enzimas
peroxidase é maior em músculos com alta capa- antioxidantes, os produtos da oxidação de proteína
cidade oxidativa (fibras musculares do tipo I) em e de DNA. O procedimento mais adequado para
comparação a músculos com baixa capacidade avaliação do estresse oxidativo é fazer uso de mais
oxidativa (com predominância de fibras musculares de um método, devido à complexidade deste
do tipo IIb)1. fenômeno2.
Especialmente com o treinamento físico
Dano muscular e exercício físico regular, as células musculares se adaptam a um
eventual incremento na produção de radicais livres,
Logo após o exercício físico, o músculo com o aumento da ação dos mecanismos de prote-
apresenta um micro dano que tem início no nível ção citados anteriormente, reduzindo assim o
de miofibrilas. Caso não tenha um tempo mínimo surgimento de lesões. Enquanto a atividade física
para recuperação antes de uma subseqüente exaustiva aumenta o dano oxidativo, a atividade
sessão de exercício, o tecido muscular pode conti- física moderada pode reduzir a ação do estresse
nuar sendo danificado, o que pode, inclusive, levar oxidativo sobre os tecidos14.
à apoptose (morte celular programada)15. De fato, a literatura não tem sido consis-
No tecido muscular, sob influência de tente na demonstração do dano muscular como
maiores concentrações de radicais livres, o retículo resultado do estresse oxidativo induzido pelo
sarcoplasmático libera íons de cálcio em maior exercício. A variabilidade dos resultados encon-
quantidade no sarcoplasma, aumentando a sua trados depende do tipo de exercício (intensidade
concentração intracelular14. As concentrações de e duração), dos indivíduos estudados (treinado ou
ferro intracelular também aumentam, dando mais destreinado; humano ou animal), do seu estado
chance deste reagir com os radicais livres4. A nutricional e dos métodos de determinação de
presença de radicais livres no músculo inativa suas estresse oxidativo14. Sureda et al.16 observaram
enzimas, especificamente aquelas envolvidas no no sangue de ciclistas profissionais após percor-

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rerem 172km o aumento significativo na atividade O magnésio e o cálcio formam complexos


da catalase de eritrócitos e na atividade da estáveis com os fosfolípidios que fazem parte das
mieloperoxidase (MPO) em neutrófilos após o membranas celulares. Dependendo da concen-
exercício, bem como maior concentração de tração de ambos, eles podem agir sinergisti-
malondialdeído plasmático e eritrocitário. Houve camente ou antagonicamente. Assim, o magnésio
também hemólise induzida pelo exercício prolon- é denominado “bloqueador natural do canal de
gado. Conclui-se que concentrações maiores de cálcio”. Na depleção de magnésio, o cálcio
malondialdeído no eritrócito se deram em função intracelular eleva-se. Visto que o cálcio exerce
da alta produção de peróxido de hidrogênio a importante papel na contração tanto da muscula-
partir da oxidação do grupo heme. Já no plasma tura lisa como da esquelética, um quadro de
o incremento de MDA estaria relacionado ao depleção de magnésio pode resultar em cãimbras
musculares, hipertensão e vasoespasmos corona-
ácido hipocloroso proveniente da maior atividade
rianos e cerebrais5.
da mieloperoxidase. Em outro estudo, Uchiyama
et al.12 verificaram que a concentração de creatina Mais da metade dos 21 a 28g de magnésio
quinase no soro de ratos após uma sessão de encontrado no organismo fica armazenado nos
levantamento de peso foi maior após o exercício, ossos, sendo o restante distribuído entre a mus-
assim como as concentrações de superóxido culatura e os tecidos moles18. O magnésio é
dismutase, catalase e glutationa peroxidase nos distribuído em compartimentos de trocas rápidas
músculos sóleo e plantaris. Análises histológicas (coração, fígado, intestino, pele e outros tecidos
conectivos) e de trocas lentas (ossos e musculatura
do tecido muscular apontaram ainda a infiltração
esquelética). Nas situações nas quais a ingestão
de macrófagos no tecido. Esses resultados sugerem
é adequada, os estoques de magnésio parecem
que realmente houve dano muscular após o
ser mobilizados conforme demandas específicas
exercício provocado pelo estresse oxidativo.
dos sistemas corporais, ou seja, o magnésio transita
lentamente entre os compartimentos ósseos, mus-
Importância biológica do magnésio cular e eritrocitário e apresenta rápida aparição
no coração, no fígado, no intestino, na pele e em
O magnésio é um mineral importante em outros tecidos conectivos. Já nos casos de defi-
várias reações celulares, participando de quase ciência, os compartimentos de troca lenta suprem
os órgãos vitais, como coração e fígado19.
todas as ações anabólicas e catabólicas. Cerca
de 300 sistemas enzimáticos são dependentes da A aferição do magnésio sérico, plasmático
presença de magnésio. Algumas destas atividades ou eritrocitário é o indicador do estado nutricional
incluem a glicólise e o metabolismo protéico e mais utilizado. A excreção urinária de magnésio
lipídico17. O magnésio é importante tanto na gera- é usada para avaliar o estado nutricional em
ção de energia aeróbia quanto anaeróbia, magnésio, com um teste de sobrecarga, cujo
indiretamente, como complexo Mg-ATP, ou direta- método é considerado o mais confiável na de-
tecção da deficiência de magnésio20. Por consi-
mente, como um cofator enzimático5. Aliás, foi
derar os tecidos com maior concentração de
assinalado o efeito da deficiência de magnésio
magnésio no organismo, a determinação do
na redução da integridade e da função das mem-
conteúdo deste mineral no osso e no músculo
branas celulares, bem como na patogênese de
reflete eficazmente suas reservas corporais.
diversas doenças, tais como cardiovascular, Todavia, as técnicas de obtenção de amostras de
pré-eclâmpsia/eclâmpsia, derrame, hipertensão, tecido no músculo e no osso são altamente inva-
diabetes mellitus, asma brônquica, além de seu sivas e limitantes na pesquisa em humanos20. Os
possível envolvimento na enxaqueca, na osteopo- estudos de balanço também podem ser condu-
rose, no alcoolismo, e nos distúrbios do sistema zidos, ainda que consistam de técnicas mais
imunológico5. complexas e dispendiosas5.

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Recomendações dietéticas e fontes alcançaram as suas EAR para o magnésio (265mg


alimentares de magnésio Mg/dia). No Brasil, encontrou-se 279mg/d como
consumo médio de magnésio para homens e
A Recomendação Dietética (Recommended mulheres adultos25.
Dietary Allowances - RDA) para o magnésio é de
No caso de roedores, as suas necessidades
400 a 420 e 310 a 320mg diários para homens e
nutricionais estão estabelecidas. O oferecimento
mulheres adultas, respectivamente. Todavia, gran-
de 500mg Mg/kg ração é considerado o sufi-
de número de pessoas em países industrializados
ciente26, mesmo que em alguns trabalhos a ração
consome menos do que o recomendado, havendo
controle fornecida apresentasse o dobro deste
grande prevalência de deficiência dietética mar-
valor27. Na maior parte dos estudos com animais
ginal de magnésio, fato que vem sendo associado
o nível de deficiência de magnésio chega a
a diversas doenças crônicas21.
apenas 10% do recomendado, sendo então classi-
A polêmica a respeito das Ingestões ficada como grave. Este grau de deficiência não
Dietéticas de Referência (Dietary Reference reflete o que ocorre em humanos com ingestão
Intakes - DRI) para magnésio está no fato de os de magnésio abaixo do recomendado. Dessa
valores citados acima terem sido estabelecidos forma, buscou-se realizar ensaios biológicos com
praticamente a partir de um único estudo. Nesse animais submetidos à deficiência classificada
estudo22, para os homens, observou-se que a como marginal28,29, na qual a ingestão de magnésio
ingestão entre 204 e 595mg Mg/dia era suficiente não representasse menos que 40% das reco-
para manter o balanço entre 4 dos 9 homens mendações.
estudados. Os 5 homens restantes não alcançaram
Uma deficiência grave de magnésio está
balanço em magnésio. Dentre as 8 mulheres
associada a doenças ou fatores condicionantes,
estudadas, 3 delas mantiveram o balanço em
como distúrbios na absorção intestinal ou na
magnésio com a ingestão entre 213 e 304mg
homeostase, ou ainda a casos de perdas excessivas
Mg/dia.
de tecidos corporais, fluídos ou eletrólitos18. A
Na obtenção de mais dados a respeito das deficiência grave de magnésio leva à hiperexcita-
necessidades médias para o magnésio, Hunt & bilidade muscular e a convulsões. Todavia, a defi-
Johnson23 analisaram os dados relativos ao balanço ciência marginal de magnésio em animais não
de magnésio de 27 estudos, todos conduzidos em manifesta os sinais clássicos de sua deficiência
unidades metabólicas e rigorosamente contro- grave, mas sim em menor habilidade de lidar com
lados. Seus resultados mostraram que o balanço o estresse, em mais danos cardíacos e vasculares
do magnésio não é afetado pelo sexo ou pela e em mau funcionamento do organismo19.
faixa etária. Um balanço neutro para o magnésio
Casos de toxicidade em magnésio ocorrem
(ou seja, ingestão magnésio = excreção magnésio)
principalmente quando existe o consumo de
ocorre em pessoas sadias com uma ingestão de
suplementos farmacológicos. A UL estabelecida
165mgMg/dia. Considerando as Necessidades
para o magnésio é de 350mg/d, considerando
Estimadas (Estimated Average Requirement - EAR)
exclusivamente o consumo de suplementação
estabelecidas atualmente, este valor de necessi-
farmacológica. A forma de manifestação inicial
dade seria 40% a 45% menor para as mulheres
do consumo excessivo de magnésio por meio de
e cerca de 50% menor para os homens. Este
fontes não alimentares é a diarréia5,20.
achado está de acordo com a idéia de as DRI
estarem superestimadas. Moshfegh et al. 24 O magnésio é um mineral presente na
observaram, entre 2001 e 2002, que, nos Estados maioria dos alimentos, em concentrações muito
Unidos, 64% das pessoas com 51 a 70 anos não variadas; apresentando-se em altas concentrações

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nos vegetais escuros folhosos, bem como nas A realização da atividade física leva à
oleaginosas, nos cereais integrais e nas frutas redistribuição do magnésio no organismo. O tipo
secas30. O consumo total de magnésio varia com de exercício e o seu estado nutricional influenciam
o consumo energético, o que explica o consumo a natureza desta redistribuição. Os primeiros
maior em jovens e homens adultos e valores estudos a respeito do assunto afirmavam que os
menores em mulheres e em idosos5. exercícios de alta intensidade e de curta duração
Em decorrência do elevado consumo ener- aumentam a concentração plasmática de magné-
gético entre atletas, alguns trabalhos relatam o sio em 5% a 15%, retornando aos seus valores
consumo de magnésio igual ou acima das reco- iniciais 24 horas após os exercícios. Esta alteração
mendações dietéticas na maioria dos indivíduos era associada com redução no volume plas-
do sexo masculino31. Quanto às atletas, o consumo mático20. Em estudos do final da década passada
de magnésio é usualmente registrado menor que até hoje, a perda de massa muscular seria corres-
o recomendado. Além disso, independentemente pondente ao aumento do magnésio sérico logo
do sexo, atletas participantes de atividades com após o exercício. Em contraste, no exercício pro-
categorias divididas pelo peso corporal (judô, boxe) longado ocorre redução da concentração sérica.
ou com padrão estético rígido (balé, ginástica Estes parâmetros geralmente retornam aos valores
olímpica) tendem a consumir quantidades ina- iniciais, provavelmente devido ao movimento do
dequadas de magnésio, por volta de 50% da magnésio em direção a outros compartimentos e
recomendação17. devido ao aumento da excreção pelo suor e urina.
Os valores de consumo dietético de magné- Dessa forma, o magnésio é redistribuído no
sio encontrados em atletas variam muito, indo de exercício para os locais com maior necessidade
345mg Mg/d em praticantes de musculação30 a metabólica para a produção de energia ou na pre-
684mg Mg/d em ciclistas em fase pré-compe- venção do estresse oxidativo6.
titiva32.
O fluxo de magnésio ocorre durante e após
o exercício físico. O magnésio transfere-se do soro
Magnésio na atividade física em direção aos adipócitos e à musculatura esque-
lética ativa durante a atividade física (Figura 1A).
Os atletas, em particular, são um grupo O grau de passagem do magnésio extracelular
populacional com tendência a apresentar perdas para estes órgãos é modulado pelo nível de
elevadas de magnésio pela urina e pelo suor em produção de energia aeróbia. Logo após o exercício
períodos de treinamento intenso. Inclusive, por esta aeróbio, ocorre redistribuição do magnésio dos
razão, especula-se que as necessidades de atletas tecidos para a circulação (Figura 1B). O magnésio
sejam 10% a 20% maiores do que as recomen- é então mobilizado para o osso, para os tecidos
dações atuais para indivíduos sedentários de moles, para o músculo e para o adipócito, com a
mesmo sexo e faixa etária6. finalidade de restaurar as concentrações de
Vários trabalhos observaram se a suple- magnésio plasmático prévias ao exercício. O grau
mentação de magnésio poderia melhorar a função de dano muscular, que por sua vez é uma função
celular. Entretanto, constatou-se que suplemen- da intensidade e duração da atividade realizada,
tação de magnésio não apresenta efeitos bené- é um fator na liberação de magnésio do músculo
ficos no desempenho físico quando o seu estado esquelético. Apesar de mecanismos de reabsorção
nutricional relativo estiver adequado. Desta forma, tubular amenizarem as perdas de magnésio pela
a suplementação de magnésio não apresenta urina, a excreção de magnésio urinário após o
efeitos ergogênicos, apenas reverte o estado da exercício fica aumentada em relação à anterior
sua deficiência17. ao exercício6.

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dades da cadeia transportadora de elétrons


mitocondrial e da piruvato desidrogenase fosfa-
tase34. Estas ações influenciam especificamente
o exercício aeróbio, que depende da abundância
de mitocôndria no músculo19.

Deficiência de magnésio e estresse


oxidativo no exercício físico

Os mecanismos pelos quais a deficiência


de magnésio leva ao estresse oxidativo ainda não
estão completamente esclarecidos. Várias rotas
metabólicas podem estar envolvidas na exacer-
bação da produção de radicais livres por meio da
deficiência de magnésio.
É reconhecido que a deficiência de magné-
sio deixa as membranas celulares mais fluídas35.
Tal fluidez em grandes proporções é um ponto
chave nas alterações celulares que ocorrem na
deficiência de magnésio36. No caso de atletas, os
eritrócitos estão mais suscetíveis à hemólise, e a
instalação da deficiência de magnésio reduz mais
ainda a integridade celular, levando a um quadro
Figura 1. Fluxo de magnésio durante (1A) e após (1B) atividade de anemia. Tal anemia, mesmo que leve, vai pre-
física. As setas normais indicam o fluxo de magnésio.
judicar o desempenho físico37.
As setas pontilhadas mostram os fatores moduladores.
Adaptado de Nielsen & Lukaski6. Na deficiência de magnésio, é observada
maior atividade de canais de íon Ca2+ nas mem-
branas do retículo sarcoplasmático, aumentando
O magnésio participa da regulação da a saída do íon para o sarcoplasma, e, conseqüen-
contração muscular pelo seu efeito direto no temente, a sua concentração intracelular19. Além
filamento pesado (miosina), na proteína regula- disso, este excesso de cálcio intracelular leva ao
tória (troponina), nas ATPases, no retículo sarco- aumento no consumo de oxigênio e ATP e à hipe-
plasmático e em outros pontos de armazena- rexcitabilidade, que pode causar câimbras mus-
mento de cálcio19. O magnésio ainda atua no culares e fadiga6.
músculo inibindo a liberação de acetilcolina, o A enzima fosfolipase A2 libera ácido araqui-
neurotransmissor que dá início à contração mus- dônico a partir de fosfolipídios, sendo ativada pelo
cular. Dessa forma, a deficiência de magnésio no aumento das concentrações intracelulares de
tecido muscular origina contrações musculares cálcio. A ciclooxigenase reage com o ácido araqui-
incontroláveis33. dônico para gerar o radical hidroxila3. Lerma et al.38
Na mitocôndria, o conteúdo de magnésio observaram que na deficiência de magnésio a
corresponde a um terço do seu total na célula, proporção de ácido araquidônico na membrana
estando ligado ao ATP e como um componente de eritrócitos foi reduzida, por meio de meca-
de membranas e dos ácidos nucléicos. Os íons de nismos ainda não esclarecidos. Assim, o ácido
magnésio são cofatores necessários em subuni- araquidônico ficou mais disponível para a forma-

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ção de eicosanóides, colaborando para o aumento ou eosinófilos em tecidos com baixas concen-
na suscetibilidade a lesões. trações de magnésio aumentou a produção de
radicais O2"-, facilitando a ocorrência de lesões
Calviello et al.39 relataram que a defi-
teciduais. Como a deficiência de magnésio
ciência de magnésio foi acompanhada por dimi-
aumenta a produção de óxido nítrico46, e a ativi-
nuição nas defesas antioxidantes, no caso supe-
dade basal de neutrófilos47, ocorre maior produção
róxido dismutase, glutationa reduzida e vitamina
do peroxinitrito. Mak et al.48 verificaram que no
E hepáticas. Além disso, microssomas hepáticos
eritrócito de ratos deficientes em magnésio houve
de animais deficientes em magnésio mostraram-
perda significativa de glutationa reduzida em
se mais suscetíveis à peroxidação lipídica. Do
relação aos animais do grupo controle, devido à
mesmo modo, Freedman et al.40 também relata-
superprodução de óxido nítrico e à ativação de
ram que a deficiência de magnésio aumentou o neutrófilos. Recentemente, Scanlan et al.49 verifi-
dano oxidativo no coração de hamsters. caram, no intestino de ratos, que a deficiência de
Em animais submetidos à dieta deficiente magnésio não levou ao dano tecidual e não alterou
em magnésio a musculatura esquelética mostrou a concentração do RNAm para o NFκB, família de
alterações no retículo sarcoplasmático e na fatores de transcrição implicados na regulação da
mitocôndria. Houve maior produção41 de radicais resposta inflamatória. Entretanto, ocorreu exacer-
OH-. Liu et al.42 observaram, em galinhas defi- bação da infiltração de neutrófilos e da permeabi-
cientes em magnésio, maior produção de espécies lidade vascular.
reativas de oxigênio e de malondialdeído na A Figura 2 apresenta um esquema repre-
musculatura esquelética em comparação ao grupo sentativo do efeito da deficiência de magnésio
controle, em detrimento da produção de gluta- no exercício físico, considerando aspectos do
tiona. Na fração mitocondrial do músculo das aves metabolismo oxidativo, podendo, inclusive, levar
deficientes em magnésio houve maior atividade à apoptose. A deficiência de magnésio aumenta
de enzimas participantes da cadeia respiratória. a concentração intracelular de íon Ca2+, facilitando
Os autores especulam que, na deficiência de a produção de ácido úrico e radical hidroxila. Este
magnésio, a respiração celular acelera e a fosfori- último pode ser produzido na presença de ferro a
lação é reduzida. O magnésio pode modular, ainda partir da reação de Fenton. A hidroxila também
que parcialmente, a produção de espécies reativas pode reagir com o óxido nítrico que está em grande
de oxigênio. concentração e formar peroxinitrito. Com a infiltra-
O processo inflamatório costuma ser apon- ção de neutrófilos na célula afetada pela defi-
tado como uma importante fonte de estresse ciência de magnésio, a NAD(P)H oxidase mantém-
oxidativo. A ocorrência do dano tecidual leva à se ativa, produzindo superóxido. Estes eventos
maior concentração de interleucinas (IL), como levam a perturbações na estabilidade das mem-
IL-1, IL-6 e TNF-α na área afetada. Tais citocinas, branas, facilitando o dano tecidual. Na persistência
por sua vez, sinalizam, por meio de moléculas de deste quadro, a apoptose pode ocorrer. Pode haver,
adesão, a infiltração de células polimorfo- também, comprometimento da função muscular,
nucleares43. Todavia, a resposta inflamatória pode do mecanismo da contração e da atividade de
ser potencializada pelo estresse oxidativo induzido enzimas do metabolismo energético, prejudican-
pela deficiência de magnésio44. Weglicki et al.45 do, em conjunto com os outros fatores aqui cita-
observaram, em ratos Sprague-Dawley deficientes os, o desempenho físico. A resposta inflamatória
em magnésio, aumento significativo nas concen- é maior na deficiência de magnésio, sugerindo a
trações das citocinas derivadas de células polimor- existência de um ciclo vicioso entre este, inflama-
fonucleares IL-1, IL-6 e TNF-α em relação ao grupo ção e estresse oxidativo, que, no desempenho
controle. A presença de macrófagos, neutrófilos físico, traduz-se em lesões musculares mais sérias.

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Figura 2. Possíveis mecanismos pelos quais o estresse oxidativo induzido pela deficiência de magnésio prejudica o desempenho físico.
Nota: Este processo pode eventualmente levar a apoptose. Também é desencadeado um ciclo vicioso entre deficiência de magnésio, inflamação
e estresse oxidativo (setas pontilhadas). ↑: aumento, ↓: diminuição, NO: óxido nítrico, O2-: radical superóxido, ONOO-: peroxinitrito, OH-
radical hidroxil, COX: ciclooxigenase, PLA2: prostaglandina A2.

Apesar das evidências, o estresse oxidativo diminuíram após teste em bicicleta ergométrica,
induzido pela deficiência de magnésio pouco é sendo o magnésio capaz de exercer algum efeito
estudado no âmbito da atividade física. Monteiro indireto no estresse oxidativo induzido pelo exer-
et al.50 observaram, no sangue de portadores de cício. Recentemente, Amorim et al.53 encontra-
Síndrome de Down que fizeram treinamento ram, na musculatura de ratos submetidos a 40%
aeróbio por 16 semanas, maior atividade da supe- de deficiência de magnésio e ao exercício físico,
róxido dismutase no eritrócito e concentrações de menor atividade da superóxido dismutase e da
substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) glutationa peroxidase
plasmáticos menores em relação ao grupo contro-
le. As concentrações de magnésio eritrocitário CONSIDERAÇÕES FINAIS
permaneceram menores após o treinamento. Em
outro estudo, Laires et al.51 analisaram o sangue No contexto da atividade física, o conhe-
de corredores 3 minutos antes e após uma corrida cimento da relação entre magnésio e estresse
de 40 minutos. Não foram encontradas diferenças oxidativo é escasso e controverso. A deficiência
significativas entre parâmetros de estresse oxida- de magnésio aumenta a produção de radicais
tivo e da capacidade antioxidante. Já Leal et al.52 livres, levando a alterações nas membranas celu-
verificaram, em jogadores de futebol profissionais lares e a aumento na concentração de cálcio intra-
submetidos a 7 dias de suplementação de magné- celular. Este aumento dificulta a contração mus-
sio, que os valores de TBARS e de magnésio sérico cular e ativa enzimas importantes na produção

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EXERCÍCIO, ESTRESSE OXIDATIVO E MAGNÉSIO | 573

de eicosanóides. A ação conjunta desses mecanis- 5. Food and Nutrition Board, Institute of Medicine.
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vicioso entre este, inflamação e estresse oxidativo, 7. Valko M, Leibfritz D, Moncol J, Cronin NTD, Mazur
que, no desempenho físico, traduz-se em lesões M, Telser J. Free radicals and antioxidants in normal
musculares mais sérias. Apesar de o número de physiological functions and human disease. Int J
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de magnésio tem os mesmos efeitos sobre o meta- 9. Smith MA, Reid MB. Redox modulation of
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disso, ainda precisa ser melhor definida a função muscle. Resp Physiol Neurobiol. 2006; 151(2-3):
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Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de
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pesquisa outorgada.
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Ambos os autores participaram da concepção 13. Touyz RM, Schiffrin EL. Reactive oxygen species in
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