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BELO HORIZONTE
2017
COMITE EXECUTIVO
COMITÊ OPERACIONAL
Sub-comitê de cultura
COMITÊ CIENTÍFICO
CORPO FUNCIONAL
Assessoria Jurídica: Gabriela Ferrari Veras; Mariana Soares Rocha Vieira; Anne Caroline
Schmidt Schaefer
Apoio Administrativo: Elis Virginia da Silva Santana; Gabriel Victor Martins Gomes;
Ronielly Chaves
Registro: Nildete Magrasse Gonçalves; Sérgio de Carvalho Gomes; Aline Ribeiro Mahé
COMITÊ AVALIADOR
A política de fundos e suas disparidades no financiamento da educação básica no Rio Grande do Sul
Nelton Carlos Conte, Silvio Cezar Arend, Everton Bisinella
Análise dos indicadores de desenvolvimento e pobreza multimensional no Baixo Amazonas nos anos
de 2000 e 2010
Augusto Weslley de Araújo, Ingrid Lorrane Miranda de Sousa, Abner Vilhena de Carvalho, Rhayza Alves Figueiredo
de Carvalho
Desenvolvimento humano em educação nos municípios brasileiros: uma nova proposta para
mensurar o IDHM-Educação
Gabriel Alves de Sampaio Morais, Diogo Brito Sobreira, Lorena Vieira Costa
Eficiência das unidades do CEFET/MG: uma avaliação por data envelopment analysis
Tiago Silveira Gontijo, Cristiana Fernandes De Muylder, Alexandre de Cássio Rodrigues
ENADE 2015: análise das variáveis que influenciam no desempenho dos alunos dos
Cursos de Ciências Econômicas
Everton Bisinella, Julcemar Bruno Zilli, Nelton Carlos Conte, Rodolfo Henrique Cerbaro
Impacto do PROUNI no desempenho acadêmico dos alunos concluintes beneficiados para o ano de
2014
Fransuellen Paulino Santos, Cristiana Tristão Rodrigues
A economia solidária como alternativa para o desenvolvimento social e econômico regional brasileiro
João Guilherme Magalhães-Timotio, Hamilton Pimentel Lopes Pires, Robson José Veloso, Jelson Luiz Dick
Economia Popular, Des/colonialidade do Poder e Economia Solidária: notas para um debate latino-
americano
Bruno Siqueira Fernandes, Sibelle Cornelio Diniz
Análise do financiamento do BNDES no setor agropecuário brasileiro para o período de 2012 a 2015
Fransuellen Paulino Santos, Luiza Amara Maciel, Aboubacari Mohamed Abdoulaye
Dinâmica da dívida pública do brasil com efeitos de choques adversos no período de 1999 a 2015
Yuri Godoi Pereira Elias, Franciso Carlos da Cunha Cassuce
Investigando a assimetria na transmissão dos preços dos combustíveis no estado de São Paulo
Roberta Rodrigues Salvini, Heloisa Lee Burnquist, Rafael Lopes Jacomini
O impacto da crise de 2015 no Polo Industrial de Manaus: o caso do polo Duas Rodas
Vanessa Fonseca Oliveira, Elane Conceição de Oliveira
O papel das empresas de reciclagem: uma abordagem no município de Santarém (PA) entre 2014–
2016
Carlos Henrique Pereira Souza, Elen Carina Duarte Ferreira, Elisa Araújo de Oliveira,
Hugo Leonardo Brito Monteiro, Maria Francisca de Miranda Adad
Análise da balança comercial do Brasil no período de 2014 a 2016: exportações e importações para
China
Leila de Fatima de Oliveira Monte, Edilene Ferreira de Sousa Correa, Francisca Driele Machado de Paula,
Logística do agronegócio da soja: uma ênfase no transporte e exportação de Santarém (PA) entre
2015-2017
Deyse Cristina Coelho da Silva, Elen Carina Duarte Ferreira, Elisa Araújo de Oliveira, Romário de Jesus Galúcio,
Márcio Júnior Benassuly Barros
Os determinantes do consumo alimentar domiciliar por estratos de renda no Brasil - POF 2008/2009
Diogo Ferraz, Fabíola Cristina Ribeiro de Oliveira, Herick Fernando Moralles, Daisy Aparecida do Nascimento
Rebelatto
População jovem em domicílio rural: considerações relacionadas aos percalços e factilidades que
envolvem esta seara
Rúbia Silene Alegre Ferreira, Antonio Geraldo Harb, Marklea da Cunha Ferst, Helen Rita Menezes Coutinho,
Alessandra Coelho de Castro
Eixo 8. A questão urbana e regional no processo de desenvolvimento
A alienação dos imóveis rurais da União no Distrito Federal sob a ótica da Lei nº 13.465/2017
Flávia Pedrosa Pereira
Avaliação da focalização de políticas públicas de saúde em Minas Gerais entre 2011 e 2014
Rafael Lara Mazoni Andrade
Economia do Insumo-Produto: uma análise de impacto dos investimentos anunciados para o Espírito
Santo entre 2011-2016
Marlon Porfírio Casotto, Celso Bissoli Sessa
Estudo de variáveis que impactam na formação dos preços de compra, venda e aluguéis residenciais
em João Monlevade-MG
Williane Cristina Ribeiro, Vanessa Rosa Silva, Paganini Barcellos de Oliveira
O Ciclo das commodities e crescimento regional desigual no Brasil: uma Aplicação de Equilíbrio Geral
Computável (EGC)
Celso Bissoli Sessa, Thiago Cavalcante Simonato, Edson Paulo Domingues
Os impactos da aplicação do CFEM sobre o desenvolvimento local medido através do IFDM: uma
análise para os municípios beneficiários dos estados de Minas Gerais, Pará e Sergipe
Lizandra Duarte da Silva, Rafaela Nascimento Santos, Samara Leite Santos, José Ricardo de Santana,
Fábio Rodrigues de Moura
Segurança alimentar e nutricional e espaço social alimentar: uma análise por medidas objetivas
Cícero Augusto Silveira Braga, Lorena Vieira Costa Lelis
Carga tributária e evasão fiscal no Brasil: uma análise empírica dos aspectos de longo prazo
Felippe Clemente, Viviani Silva Lírio, Fabiano Luiz Alves Barros
Ciclos Políticos orçamentários: proposta de um modelo teórico baseado em agentes Julyana Covre,
Leonardo Bornacki de Mattos, Fabiano Luiz Alves Barros
Previdência e finanças públicas: um debate sobre a reforma e seu impacto nos gastos do governo
Alex Eugênio Altrão de Morais, Filipe Marques Dias, Matheus Gomes do Carmo de Souza, Stela Rodrigues Lopes
Gomes, Warllen Júnio Gonzaga
Índice de desenvolvimento das famílias chefiadas por mulheres (IDFCM) no nordeste brasileiro
Felipe Miranda de Souza Almeida, Peter Felipe dos Santos, João Eustáquio de Lima
Sen e Schumpeter: qualidade de vida no processo de inovar - uma análise empírica de países
Alexandre Ricardo de Aragão Batista, Claílton Ataídes de Freitas, Jaqueline Moraes Assis Gouveia
Eixo 12. Economia e questões de gênero
Gênero, famílias e distribuição de renda no Brasil: sinergias e impasses
Nathalie Reis Itaboraí
Resumo: A proposta desse trabalho é, através da regressão quantílica, trazer a luz quais
variáveis possuem um maior impacto nos resultados dos estudantes, com base na avaliação
do PISA 2015, e como elas afetam diferentes faixas de resultados, possibilitando assim uma
extrapolação. Buscou-se também realizar um breve questionamento a respeito da eficiência
de possíveis replicações de modelos internacionais dentro do contexto brasileiro, utilizando
como comparativo o país com as melhores avaliações, Singapura. Os resultados fornecem
aos formuladores de políticas públicas o comportamento de um conjunto de variáveis nas
diferentes áreas e quantis, assim como a sua influência quantitativa sobre os resultados
alcançados, indicando quais seriam as variáveis a serem manipuladas que trariam
possivelmente um maior impacto na qualidade da educação.
Abstract: The proposal of this work is, through quantile regression, to show which variables
have a greater impact on students' results, based on the PISA 2015 evaluation, and how they
affect different results ranges, thus allowing an extrapolation. It was also sought to make a
brief question about the efficiency of possible replications of international models within the
Brazilian context, comparing to the country with the best evaluations, Singapore. The results
provide to the policymakers the behavior of a set of variables in different areas and quantiles,
as well as their quantitative influence on the results achieved, indicating which variables
would be manipulated that would possibly have a greater impact on the quality of education.
Keywords: Education, Brazil, PISA, Evaluation.
(MACHADO et al., 2008). Entretanto, encontra-se a frente um desafio ainda maior a ser
satisfatório em relação à qualidade de seu ensino. Para alterar esse cenário será preciso que
a educação seja colocada como prioridade para governantes e para sociedade como um todo,
destinando assim os recursos suficientes para que políticas públicas de qualidade sejam
realizadas.
Contudo, não basta apenas dinheiro, é necessário que se tenha um plano nacional de
educação bem estruturado com políticas públicas de qualidade, visando o maior retorno
trabalho busca auferir qual foi a influência de um conjunto de variáveis sobre os resultados
Estudantes (PISA1).
Por que o PISA? Existem diversos exames que avaliam a qualidade da educação de
um país, o Ideb2 por exemplo, contudo de abrangência internacional e que tem por iniciativa
uma avaliação comparada, a avaliação do PISA é a maior e mais importante. Esse exame é
existindo uma coordenação nacional em cada país onde os testes são realizados, no caso
1
Sigla referente ao seu significa em inglês – Programme for International Student Assesment.
2
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
brasileiro essa é uma responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Essa avaliação teve inicio no ano 2000 e é realizada a cada 3 anos para uma parcela
amostral de estudantes que estejam na faixa dos 15 anos, idade próxima ao final do ciclo
informações pessoais dos alunos, dos professores e das escolas, com o intuito de possibilitar
resultados alcançados.
Assim, por intermédio das regressões quantílicas, esse artigo buscou encontrar a
análise da influência do mesmo conjunto de variáveis para o país melhor avaliado no PISA
singapurense, descrito nos trabalhos de Tee (2003), Sclafani e Lim (2008), Ng e Chan (2008)
e Mok (2003), poderia gerar resultados próximos aos alcançados em Singapura, hipótese
essa que foi rejeitada através dos resultados, devido a diferença com que cada variável
influencia os resultados, indicando que caso uma compilação do modelo fosse adotada,
Além dessa introdução o trabalho possui mais três seções. O modelo quantílico é
3
Uma cidade estado de aproximadamente 700 km² no sudeste da Ásia, que durante os últimos 50 anos tem
como prioridade o investimento na educação de qualidade, resultando nos melhores resultados nas avaliações
internacionais, gerando um grande ganho de capital humano, o que possibilitou o país a entrar na categoria de
desenvolvido (OCDE, 2016b).
alcançados são demonstrados, separados por áreas do conhecimento. E por fim, são
apresentadas as conclusões.
2. Métodos
dados da pesquisa.
2.1.Regressões Quantílicas
A metodologia a ser utilizada nesse estudo será a de regressões quantílicas, que foi
inserido na literatura através do trabalho de Koener e Basset (1978) e desde então ganhou
quantis. Obtendo uma regressão para cada quantil, possibilitando assim auferir o impacto de
nas três áreas avaliadas, matemática, leitura e ciências. Os quantis foram definidos da
seguinte maneira, a faixa das 10% piores notas (q10), a faixa dos 25% piores resultados
(q25), o quantil mediano (q50), o grupo das 25% melhores notas (q75) e a faixa das 10%
O modelo segue os seguintes passos, seja 𝑌𝑖 uma variável aleatória real, (i = 1, ... , n)
problema simples de programação linear. Sendo 𝜃-ésimo quantil para 0 < 𝜃 < 1, tem que:
𝑄𝜃 (𝑦𝑖 : 𝑋𝑖 ) = 𝑋𝑖′ 𝛽𝜃 , 𝜃 𝜖 (0,1) (2)
A equação da regressão quantílica 𝜃 fica definida em (3), como:
(3)
1
𝑚𝑖𝑛𝜃 [ ∑ 𝜃|𝑦𝑖 − 𝑥𝑖′ 𝛽𝜃 | + ∑ (1 − 𝜃)|𝑦𝑖 − 𝑥𝑖′ 𝛽𝜃 |]
𝑛 ′
𝑖=𝑦𝑖 ≥𝑥𝑖 𝛽 𝑖=𝑦𝑖 ≥𝑥𝑖′ 𝛽
Manipulando (3), tem-se:
𝑛
1 (4)
𝑚𝑖𝑛𝜃 ∑ 𝜌𝜃 (𝑢𝜃𝑖 )
𝑛
𝑖=1
Sendo que 𝜌𝜃 (. ) é definido como:
explicativas foram geradas a partir de 125 questões do questionário aplicado junto aos
estudantes.
através das respostas dadas nos questionários. A primeira delas foi condições domiciliares
facilitam o estudo, a segunda variável foi relacionado a riqueza (RIQ), que buscou servir
como uma proxy das características econômicas dos estudantes e a terceira variável foi a
quantidade de livros em casa (QTLi), que teve o papel de uma proxy de leitura, indicando o
pessoal e a motivação advinda dos pais (MotPa e MotPe), a primeira buscou avaliar o quanto
os estudantes consideravam-se motivados e a segunda o quanto eles consideravam que seus
pais os motivavam. O estudante trabalhar e gostar de trabalhar em grupo também foi avaliado
através da variável trabalho em grupo (TRG), buscando assim a real existência de alguma
influência desse tipo de atividade com os resultados do exame. A quarta e última variável
analisada nesse contexto foi a ansiedade (ANS), que possibilitou avaliar se estudantes mais
O terceiro grupo avaliado foi um experimento para testar e avaliar o quanto as novas
essa influência sobre os resultados do exame. Para que esses objetivos fossem alcançados e
levando em conta os questionamentos feitos no exame, foram geradas oito variáveis. Que
são: disponibilidade de TICs em casa e na escola (TICCa e TICEs), utilização das TICs
(UtTIC), utilização das TICs com fins acadêmicos tanto na escola quanto em casa (TICCaFE
(ImpInt).
conhecida pela sigla inglesa ISCED4) e por fim, tem-se a variável dummy repetência
4
International Standard Classification of Education.
onde a amostra inicial de estudantes brasileiros foi de 22143 e de singapurenses foi de 6115.
Foram utilizadas as notas dos estudantes nas três áreas avaliadas pelo exame, matemática,
leitura e ciências e também um total de 125 perguntas do questionário que levou a geração
de 18 variáveis explicativas.
O primeiro passo realizado no tratamento dos dados foi a filtragem dos questionários,
excluindo aqueles que não tivessem sido preenchidos corretamente, esse procedimento levou
da amostra utilizada após a filtragem foi 3755 para o Brasil e 3758 para Singapura. Após
essa etapa, iniciou-se a geração das variáveis que foram utilizadas no modelo.
3. Resultados e Discussões
Através da regressão quantílica foi possível avaliar mais profundamente quais foram
Para facilitar a interpretação dos resultados, esta seção foi dividida em quatro partes,
as três primeiras apresentam os resultados de cada uma das áreas avaliadas pelo PISA 2015
e a quarta faz uma discussão dos resultados mais importantes. Destaca-se que as tabelas e as
3.1.Matemática
A nota média dos estudantes brasileiros no PISA 2015 em matemática foi de 377
pontos, abaixo da média de 490 dos países pertencentes a OCDE e muito abaixo quando
dados dos estudantes brasileiros. Por meio da análise dos sinais encontrados é possível
observar que as condições domiciliares para o estudo; riqueza, quantidade de livros que
possui na residência, motivação pessoal e escolaridade tanto da mãe quanto do pai, afetam
positivamente as notas de quase todos5 os quantis da regressão, ou seja, os indivíduos com
melhores condições domiciliares, com maior poder aquisitivo, com maior quantidade de
livros, com maior motivação pessoal e que possuem pais com uma instrução mais elevada
à repetência e ansiedade possuem sinais negativos, indicando que caso o aluno tenho
reprovado e/ou seja mais ansioso, suas notas provavelmente serão menores do que as dos
demais.
relacionadas à repetência, riqueza, escolaridade da mãe e ansiedade estão entre que possuem
mostra com maior poder explicativo nos quantis superiores q75 e q90.
estudantes não foram totalmente satisfatórios para essa disciplina, visto que metade das
variáveis obteve resultados não significativos, como a motivação advinda dos pais e trabalho
em grupo. Restando a variável ansiedade que indicou que estudantes mais ansiosos tendem
a ter um rendimento menor em torno de 4 pontos para todos os quantis, e a motivação pessoal
que demonstrou que estudantes que se consideram mais motivados possuem notas por volta
maior a disponibilidade menor as notas, assim como as variáveis de utilização das TICs com
5
Exceto a variável escolaridade do pai no quantil q10 que não representa significância.
fins escolares, tanto em casa quanto na escola, que também demonstraram sinais não
esperados, ambas obtiveram sinais negativos, indicando que quanto maior o acesso, piores
são as notas.
A importância da internet dada pelos alunos, apresentou sinal positivo nos dois
primeiros quantis, indicando que dentre aqueles estudantes com notas menores os que davam
maior importância para internet tinham melhores resultados, nessa categoria provavelmente
internet uma maneira de complementar o estudo. Contudo, para os quantis q50, q75 e q90
essa variável não foi significativa. As outras duas variáveis foram utilização e domínio de
TICs, as quais apresentaram sinais positivos, indicando que aqueles estudantes que a
utilizam com maior frequência e possuem maior domínio apresentaram notas melhores aos
Nota-se que as principais variáveis que afetam as notas são aquelas referentes à repetência,
menor impacto.
médio acima de três pontos sobre as notas em todos os quantis analisados para ambos os
países. São elas repetência, ansiedade, quantidade de livros em casa e escolaridade da mãe.
Contudo, o poder de influência dessas variáveis é bem diferente entre os países como se pode
observar na figura 3.1. Por exemplo, no Brasil, enquanto quantidade de livros no quantil
mediano influencia em torno de 3,8 pontos, em Singapura esse valor é de 11,6 pontos.
Para as demais variáveis encontram-se diferenças quanto a sua importância, no Brasil
variáveis que fazem esse papel são condições domiciliares de estudo e escolaridade do pai,
demonstrando assim como o perfil socioeconômico e cultural de cada país pode definir as
variável repetência, a qual os coeficientes apresentaram maiores valores, ela era uma dummy
que indicava se em algum momento de sua trajetória acadêmica o aluno repetiu alguma série
escolar. Essa variável apresentou sinal negativo indicando que caso o estudante já tivesse
repetido sua nota em média sofria um impacto negativo de 50 pontos para os estudantes
A variável quantidade de livros em casa indica que aqueles estudantes que indicaram
ter mais livros em casa, em média possuem um rendimento maior em torno de 5,8 pontos
para os brasileiros, sendo que o impacto chega a 6,46 no quantil superior (q90). Para os
singapurenses esse impacto é ainda maior, por volta de 10 pontos, contudo diferentemente
do Brasil, o impacto de um número maior de livros em casa é superior nos quantis nos quais
A outra variável compatível com os dois países é de caráter mais psicológico, que
seria a ansiedade, estudantes que indicaram ser mais ansiosos apresentaram resultados
inferiores dentro de seus quantis. Na média os estudantes do Brasil apresentaram uma queda
variável mais importante, perdendo apenas para a repetência, aqueles estudantes que são
filhos de mães com um grau de instrução mais elevado apresentaram de modo geral um
ganho por volta de 5,3 pontos. Em Singapura essa variável também foi significativa, sendo
o ganho médio dos alunos em torno de 3,4 pontos, diferentemente do Brasil, os
singapurenses são mais influenciados pela escolaridade dos pais, que afetam em torno de 6
3.2.Leitura
A nota média dos estudantes brasileiros nessa prova foi de 407 pontos, resultado que
se mantem estável desde o primeiro exame PISA, que foi realizado em 2000. Esse resultado
é também abaixo da média dos países da OCDE e bem abaixo do resultado de Singapura,
demonstrados na tabela 3.3, onde pode se verificar os valores dos coeficientes alcançados
com maior impacto foi o de repetência, seguido de riqueza e quantidade de livros em casa.
estatisticamente não significantes sofreu uma grande redução, variáveis como motivação dos
pais e condições domiciliares de estudo que foram irrelevantes nos resultados de matemática,
resultados de leitura, indicando assim que estudantes com condições melhores socialmente
possuem resultados melhores dentro de seus quantis. O grupo de variáveis que buscou
ser mais motivados pelos seus pais e aqueles que se diziam mais motivados pessoalmente
apresentaram respectivamente em média pontuação 1,7 e 2,7 maior do que aqueles que não
apresentaram maiores quanto maior era o quantil analisado. Estudantes que gostavam e
tinham mais disposição a trabalhar em grupo apresentaram resultados superiores em torno
escola novamente não foi significativa, enquanto a variável que analisa a importância da
internet para o aluno foi significante principalmente para os quantis inferiores. No quantil
com as 10% piores notas, aqueles estudantes que apresentaram dar essa maior importância
obtiveram 3,1 pontos a mais, contudo, quanto maior a nota dos alunos menor a relevância
dessa variável, se tornando não significativa para o quantil com as 10% melhores notas.
Outra variável que se mostrou importante foi a de interesse por TICs, porém, novamente
com o sinal contrário ao esperado, gerando assim uma possível ambiguidade, seriam os
estudantes com maiores dificuldades que buscariam mais as TICs? Ou os estudantes que tem
maior interesse por TICs tem menor incentivo a estudar e por essa razão obtêm notas
inferiores? Questões que podem ser alvo de estudos mais aprofundados e fogem do escopo
deste trabalho.
Singapura, obtendo assim quais as variáveis que mais afetam os resultados de leitura dos
o estudo e a escolaridade do pai, ambas com sinal positivo, indicando que quanto maiores
os níveis dessas variáveis melhores foram os resultados dos estudantes em todos os quantis.
Três variáveis merecem uma atenção especial em relação às outras quando fazemos
a análise comparativa, a primeira delas é a riqueza, que apresenta grande influência nos
modelos brasileiros enquanto que nos resultados de Singapura ela se apresenta como
coadjuvante, se a análise é feita por quantis observa-se um comportamento oposto ao caso
brasileiro, quanto maiores os níveis de nota menor a importância da riqueza nos resultados
pouca influência, em média os estudantes com pais melhores instruídos tiveram uma nota
com as menores notas apresentaram coeficientes não significativos e nos outros teve
ansiedade teve impacto médio de -3,61 pontos, chegando a -4,49 pontos no quantil com as
A figura 3.2 ilustra como foi a distribuição dos coeficientes dessas variáveis através
dos cinco quantis, podendo-se observar através do comportamento das retas, as diferenças
3.3.Ciências
A nota média dos estudantes brasileiros em ciências ao longo do tempo obteve uma
leve melhora, acompanhando o crescimento da nota média dos países da OCDE. No PISA
2015 o país obteve o resultado médio de 401 pontos (OCDE, 2016a). Semelhante aos outros
resultados, esse também ficou abaixo da média obtida pelos países membros da OCDE (493)
A tabela 3.5 demonstra quais as variáveis que mais influenciaram os resultados dos
outras para os estudantes brasileiros, foram elas: repetência e ansiedade, que apresentaram
sinais negativos, riqueza, quantidade de livros em casa e escolaridade da mãe, com sinais
positivos.
O fato de o aluno ter ou não sido reprovado se destacou novamente como a variável
que mais influência no rendimento do estudante, em média seu impacto foi de 52,5 pontos
negativos para aqueles que já reprovaram. A outra variável que apresentou resultados
negativos foi a ansiedade, que demonstrou um resultado bem próximo entre os diferentes
semelhante sobre os estudantes, em média a influência dessas variáveis sobre os quantis foi
com o quantil avaliado, se observou que essa variável foi aumentando sua influência de
acordo com o crescimento das notas, sendo os valores mais altos alcançados nos 3 quantis
trabalha em grupo. Por fim, a motivação dos pais se mostrou estatisticamente não
significativa para os quantis q10, q25 e q50 da amostra, apresentando resultados positivos
para os dois superiores, indicando que dentre os estudantes que já possuem um bom
rendimento para os padrões brasileiros se destacam ainda mais aqueles que possuem um
No quadro de variáveis, que foram especialmente testadas para avaliar o impacto das
TICs nos resultados, três das oito variáveis apresentaram diversos resultados
importância da internet e domínio da TIC. Outras quatro variáveis demonstraram sinais não
esperados pela pesquisa, foram elas: disponibilidade de TICs em casa, interesse pelas novas
tecnologias e utilização de TICs para fins escolares tanto em casa quanto na escola. Restando
apenas a variável utilização da TIC com o sinal esperado, indicando que aqueles estudantes
que mais utilizam essas tecnologias alcançam em média um resultado próximo a 1 ponto a
de variáveis que mais influenciam nos resultados são os mesmos dos encontrados para as
outras disciplinas, são eles: condições domiciliares de estudo, quantidade de livros em casa,
pessoal não foi estatisticamente significativo na maioria dos quantis para os estudantes
impacto significante e crescente de acordo com que as notas dos quantis foi se elevando.
Fechando a análise desse grupo, a ansiedade novamente demonstrou ser a variável que mais
No contexto das variáveis que inseriam o impacto das TICs no ensino, pode-se
variáveis. Dentre elas a de interesse pelas TICs, que demonstrou sinal negativo (ao contrário
do que a pesquisa esperava) com um impacto médio de 4,8 pontos, alcançando seu pico no
quantil mediano em 5,11 pontos negativos para o caso singapurense. Comparativamente com
singapurenses, quem tem maior domínio sobre essas tecnologias atingiu melhores
resultados, sendo seu impacto mais de duas vezes superior para o quantil q90 quando
comparado com o quantil q10. Para o caso brasileiro não é possível fazer esta comparação
visto que para os dois primeiros quantis os resultados não foram estatisticamente
3.4.Discussões
quais variáveis são mais influentes para as três disciplinas, que foram elas repetência,
Somado a isso, tem-se que o sinal encontrado para essas variáveis é o mesmo entre os
quantis, alterando-se apenas o impacto que cada uma gera nos resultados.
resultados, esse trabalho teve o intuito de encontrar como cada uma influencia os diferentes
quantis, ou seja, analisar por exemplo o quanto realmente influencia a motivação pessoal
para aqueles estudantes que estão com as piores notas e como ela se dá para aqueles com as
melhores pontuações considerando cada disciplina. É possível observar através da figura 3.4
como as principais variáveis se comportam nos diferentes quantis para cada uma das
Esse conjunto de resultados descrito acima deve ser considerado animador, pois com
geram influência significativa nos resultados acadêmicos e qual o seu impacto para os
Outro ponto a ser discutido através dos resultados foi a existência de diferenças entre
foi colocado com o objetivo de levantar discussões em torno de quão eficaz é a replicação
de programas de ensino bem sucedidos em outros países no contexto brasileiro, visto que o
Brasil possui muitas especificidades, como dimensões continentais e culturas diversas, que
Através dos resultados alcançados é possível indicar que uma possível replicação do
educação do país. Por exemplo, duas variáveis que tem alto poder de influência sobre os
singapurenses são condições domiciliares de estudo e escolaridade dos pais, portanto, suas
políticas educacionais são voltadas a melhorar essas duas variáveis. Caso fosse replicado no
Brasil, essa política teria resultados bem abaixo dos de Singapura, pois a influência dessas
comunicação para fins escolares. Para se avaliar a importância dessas tecnologias no ensino
foi incorporada a regressão um conjunto de variáveis que buscou analisar esse efeito. Em
relação a utilização das TICs observou-se que aqueles estudantes que fazem mais uso dessa
tecnologia possuem resultados melhores, o que se esperava, pois com um maior acesso a
desses meios para fins escolares, os resultados foram opostos ao anterior. Concluindo-se
assim que aqueles estudantes que possuem maiores dificuldades escolares buscam mais essas
demonstrando assim que esses estudantes que por algum motivo reprovaram alguma série
devem receber uma atenção diferenciada, pois provavelmente podem ter dificuldades na
outros motivos que não se limitam a educação. É de grande importância para a sociedade e
para a melhoria da qualidade da educação, que os governantes gerem condições para que as
escolas sejam capazes de disponibilizar mais aulas de reforço escolar e que elas sejam
A variável quantidade de livros em casa demonstrou que aqueles que possuem maior
acesso a livros alcançam melhores resultados, indicando assim que tomadores de políticas
somente isso pode ser realizado, é necessário ir além, preocupar-se com a disponibilidade e
acesso dos livros a população, através da criação e manutenção de bibliotecas públicas, com
uma infraestrutura e acervo de qualidade e criar medidas que possam deixar os livros mais
possíveis.
parte dos resultados, principalmente nos quantis mais elevados. Esse resultado indica que
deve existir uma preocupação na escola não apenas com questões ligadas as disciplinas, seria
fortalecida em sala de aula, questões relacionadas ao estresse e ansiedade são assuntos cada
vez mais comuns no âmbito escolar, sendo uma realidade a qual governantes não podem
Esse artigo buscou trazer análises mais detalhadas sobre quais variáveis
influenciaram os resultados dos estudantes brasileiros no exame do PISA 2015 e qual o seu
comportamento nos diferentes quantis de notas, fazendo uma análise comparativa com os
variáveis especificas e semelhantes que tiveram grande influência nos diversos quantis e nas
diferentes disciplinas, que são: riqueza, quantidade de livros em casa, ansiedade, motivação
pessoal, escolaridade da mãe e repetência. Sendo possível através dos resultados visualizar
qual o impacto de cada variável para cada quantil especifico. Possibilitando que políticos,
esforços e recursos em variáveis especificas que tragam o melhor custo benefício para a
maior qualidade.
diferentes. Concluindo assim que uma possível replicação do modelo de ensino de Singapura
no Brasil poderia levar a resultados abaixo do esperado e isso se aplica também a modelos
de outros países, visto que as especificidades do país devem ser respeitadas, exigindo que
Por fim, os resultados encontrados para medir o impacto das TICs nos resultados do
exame apresentaram pouca influência na análise quantitativa do impacto, visto que dentre as
Todavia, através da análise dos sinais alcançados foi possível observar a influência positiva
das novas tecnologias sobre os resultados alcançados e foi possível auferir que os estudantes
com maiores dificuldades na escola são também os que mais buscam essas ferramentas como
A temática de inclusão de TICs é recente e precisa ser analisada com mais detalhes
e profundidade, para que se entenda exatamente qual o seu efeito e papel sobre esse novo
modelo educacional que desponta, sendo um bom tema para trabalhos futuros.
5. Referências
1 2 3 4 5 11.36 11.58
10.87
8.67
7.91
-49.78 6.5
-52.12 -54.04 -54.68 -52.75
-52.96 5.71
4.16 3.84
-72.6 -68.56 3.09
-77.23 -73.44
1 2 3 4 5
-2.73 2.95
2.25
-3.28
-3.77 -3.65
-3.93
-4.48 -4.5 -4.39
-4.49
-4.64
1 2 3 4 5
Figura 3.1 - Distribuição dos coeficientes das variáveis: repetência, quantidade de livros em
casa, ansiedade e escolaridade da mãe, nos quantis q10, q25, q50, q75 e q90 para o Brasil e
Singapura, 2015
Figura 3.2 - Distribuição dos coeficientes nos quantis q10, q25, q50, q75 e q90, das variáveis:
escolaridade do pai, riqueza e ansiedade, para o Brasil e Singapura, 2015
Fonte: Elaboração própria com os resultados da pesquisa.
Disponibilidade de TIC em Dominio sobre as TICs
casa 3.28
3.05 3.07
Brasil Singapura
1.76 1.67
1.51 1.47 1.58
4.16
3.64
3.14 3.04
2.24 2.25 1.99
1.57 1.6 1.7
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
-4.48
-4.79 -4.94 -4.82
-5.11
1 2 3 4 5
-2.11
Figura 3.3 - Distribuição dos coeficientes nos quantis q10, q25, q50, q75 e q90, das principais
variáveis do conjunto de TICs, para o Brasil e Singapura, 2015
Fonte: Elaboração própria com os resultados da pesquisa.
Repetência Quantidade de
Matemática
Leitura
livros em casa
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q10 q25 q50 q75 q90 q10 q25 q50 q75 q90
Figura 3.4 - Distribuição dos coeficientes nos quantis q10, q25, q50, q75 e q90, das principais
variáveis dos modelos brasileiros e singapurenses, 2015
A INFLUÊNCIA DOS INVESTIMENTOS EM EDUCAÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO HUMANO E REDUÇÃO DAS
DESIGUALDADES SOCIOECONÔMICAS
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo analisar se a educação pode contribuir para a
promoção do desenvolvimento humano dos municípios nas diferentes regiões brasileiras.
Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
o Brasil é apontado como um dos países que realizou relevantes investimentos financeiros
em educação nos últimos anos. Trabalhos recorrentes apontam a relação do investimento em
educação com a redução das desigualdades no país e, consequentemente, o desenvolvimento
das sociedades. Trata-se de um tema atraente que provoca a busca de respostas ao tratar a
educação como possibilidade para que haja desenvolvimento socioeconômico, político e
cultural de uma sociedade. Baseado nisso, a hipótese central desta pesquisa se propõe
investigar se há uma relação diretamente proporcional entre os investimentos em educação
e o Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) no País. Para atingir os
objetivos, foram utilizados os métodos de pesquisa bibliográfica e de pesquisa quantitativa,
o estudo lança mãos de dados publicados pela OCDE e pelo Atlas do Desenvolvimento
Humano dos Estados do Brasil referentes aos anos 2000 e 2010 e demonstra que existe uma
tendência de a educação influenciar significativamente na qualidade de vida do brasileiro.
The present study had as objective to analyze if the education can contribute to the promotion
of the human development of the municipalities in the different Brazilian regions. According
to data from the Organization for Economic Co-operation and Development (OECD), Brazil
is one of the countries that has made significant financial investments in education in recent
years. Recurrent works point to the relationship of investment in education with the
reduction of inequalities in the country and, consequently, the development of societies. It is
an attractive topic that raises the search for answers in treating education as a possibility for
the socioeconomic, political and cultural development of a society. Based on this, the central
hypothesis of the research is to investigate whether there is a directly proportional
relationship between the investments in education and the Human Development Index of the
Municipalities (HDI) in the Country. In order to reach the objectives, the methods of
bibliographical research and The study draws on data published by the OECD and the
Human Development Atlas of the Brazilian States for the years 2000 and 2010 and shows
that there is a tendency for education to significantly influence the Brazilian quality of life.
1. INTRODUÇÃO
OCDE –, o país avançou nos últimos anos no que diz respeito aos investimentos financeiros
em educação, no entanto, apesar disso, ainda há muito a fazer. O Brasil possui regiões e
Assim, para que um país seja inserido no rol dos países desenvolvidos da economia
global, são necessários bons índices de crescimento econômico, avanço tecnológico e justiça
social, que, por sua vez, dependem dos investimentos em capital humano. Sendo assim, os
países tratados como emergentes, como, por exemplo, o Brasil, apresentam suas economias
nacionais em ampla expansão de seus mercados nos últimos anos, sobretudo, a partir da
década de 2000. O Brasil está inserido nesse grupo que avança na conquista de parcela no
riqueza.
educação técnica com vistas ao desenvolvimento econômico, também uma pedagogia que
seja pensada enquanto um processo contínuo e coletivo, voltada para a formação do carácter,
para a realização da cidadania, para com o respeito às diferenças étnicas e aos saberes
visando à pluralidade das ideias, à consciência de classe, à ética e à emancipação das forças
autoritárias e intolerantes.
Bem como, aberta à reflexão e à autocrítica, que busca criar condições equânimes de
acesso e oportunidades, ou seja, uma formação para além do capital, sendo uma construção
social qualitativa e abrangente, ao envolver todas as esferas da vida, que, porém, necessite
social em nível mais amplo, não obstante, uma reforma educacional se torna limitada pela
Então, na busca para manter o desenvolvimento do sistema, ocorre uma alteração nas
distintas posições dos agentes envolvidos em situação de conflito nos vários espaços sociais.
hierarquicamente competitivo, haja vista que as bagagens e condições culturais dos mesmos
não são simétricas, configurando em habitus diferentes, ou seja, ao longo do processo de
capital acumulado, pode-se perceber que possibilitar o acesso à educação não se configura
Desta maneira, a escola é apenas uma parte do sistema global de internalização dos
valores, que secundariza, sem abandonar, suas formas, mas, que, da mesma maneira, procura
mudar as condições objetivas de reprodução como para uma automudança dos indivíduos,
De acordo com Lemos (2005), sem educação uma nação não se desenvolve,
expressivo da sua população em situação de exclusão social. É assim que o autor define o
Brasil, com uma população que padece com as desigualdades, sobretudo, aqueles
País.
1
Consultar: BOURDIEU, Pierre. A Distinção: Crítica Social do Julgamento: São Paulo: Edusp, 2007.
brasileiras. Espera-se dar, assim, uma contribuição para a discussão acerca da realização de
brasileira.
A educação pode ser considerada como uma das premissas para retirar um
desenvolvidas economicamente.
2. METODOLOGIA
2.1. Dados
das variações percentuais do IDHM/Educação e sua influência do IDHM geral dos estados
usando como base os censos dos anos 2000 e 2010. Foram analisadas as 26 unidades
de acordo com o IDHM/Educação dos censos, sendo os dados comparativamente entre 2000
e 2010.
Num primeiro momento, foi analisada a evolução dos investimentos em educação no
Brasil nos últimos anos, comparando com os investimentos médios dos países membros da
OCDE.
brasileiros, incluindo seus três componentes, IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM
Renda. Além de contar um pouco da história dos municípios em três importantes dimensões
prioridades e o monitoramento dos avanços e recuos dos diversos segmentos sociais ao longo
da história.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Unidas – ONU – na elaboração dos objetivos do Milênio: eliminar a fome, fornecer educação
básica para todos, melhorar a saúde das pessoas, gerar igualdade entre os sexos, oferecer
condição de vida das pessoas dentro de cada país. Para tal finalidade são usualmente
exemplo, é uma das mais elevadas do mundo, como revela o Relatório de Desenvolvimento
Humano das Nações Unidas de 2010. Essa desigualdade ocorre tanto em nível regional
quanto em relação a outras categorias, como: gênero, meio urbano, meio rural e as atividades
econômicas.
A sociedade brasileira está entre as mais desiguais do mundo e, de acordo com dados
de uma ligeira queda nos últimos anos, o país mantém a tradição de ser um país onde as
e estabilização em quase toda a década de 80, o índice voltou a piorar, atingindo seu pico
(0,62) em 1989, com o fracasso do Plano Cruzado. Com o Plano Real em 1994, a
alternativa para sua redução seria através do crescimento econômico, portanto, grande parte
dos economistas remetem a uma relação causal negativa entre desigualdade e crescimento
no Brasil que apontam para a afirmação de que a distribuição de renda e redução das
principal variável explicativa para a disposição da renda per capita do brasileiro (VIEIRA
et al., 2007). Nos estudos são acrescidos outros elementos para as explicações tradicionais
pauta recorrente até os dias atuais na agenda de pesquisa, e que todas as aclarações devem
ser levadas em conta, para poder auferir os fatores categóricos da desigualdade de renda
a diferença entre as rendas dos mais pobres e dos mais ricos é utilizada como medida o
Coeficiente de Gini. Numericamente, o índice de Gini varia de "0 a 1", onde o zero
corresponde à completa igualdade de renda, ou seja, todos têm a mesma renda e 1 que
corresponde à total desigualdade, isto é, uma só pessoa detém toda riqueza, e as demais nada
dispõem.
mesmo. Apesar disso, os índices apresentados colocam o país entre as nações mais desiguais
Os países pobres apresentam como característica uma população com famílias que
têm de optar por colocar suas crianças na escola ou lançá-las precocemente no mercado de
trabalho a fim de contribuir com o sustento da casa. Tradicionalmente são países que pouco
uma vez que, os efeitos da educação são sentidos somente a médio e longo prazo. Assim,
acumularem: por sua vez, a educação é um fator de crescimento lento, mas é também
de enriquecimento cultural. Mas isso, por si só, não cria as condições para que a
importante são os lucros obtidos, os níveis de renda, os bens materiais, não havendo
O paradigma dominante, contudo, não permite repensar o futuro. Por isso, impõe-se
direito de desejar e por que merece a pena lutar. A utopia é uma chamada
de atenção para o que não existe como (contra) parte integrante, mas
Para o autor, uma sociedade estagnada, sem esperança, sem perspectivas, é uma
sociedade que perdeu o sentido da utopia, muitas vezes, sem esperança. A educação sem a
dimensão utópica pode desandar para um ceticismo superficial, com todas as consequências
uma nova epistemologia e uma nova psicologia. Isso significa que a nova epistemologia
pode abrir-se para novas possibilidades. Desta maneira, pode rasgar o horizonte de
possibilidades e criar alternativas. Para o autor, é necessário que estejamos atentos para um
novo paradigma que, apesar de inacabado, lentamente emerge: “o paradigma de um
cientifica que ocorre, não pode ser apenas um paradigma científico, isto é, tratar de um
conhecimento prudente. Tem de ser também um paradigma social, que traz implicações,
A ciência pós-moderna procura reabilitar o senso comum por reconhecer nessa forma
crítica de uma dimensão significativa existencial possibilita aos indivíduos uma nova
Freire propõe uma educação libertadora que visa superar a visão fatalista da realidade
como permanente e imutável, passando-se à percepção de que ela é construída pelos homens
desígnios das pessoas para que elas possam ser aquilo que almejam ser e viver.
que podem gerar, o enfoque de desenvolvimento humano busca olhar diretamente para as
oportunidades e capacidades das. A renda não é tratada como um fim, mas como meio para
Organização das Nações Unidas (ONU), através do Programa das Nações Unidas para o
Humano (IDH), que consiste na média que aborda três aspectos socioeconômicos –
expectativa de vida ao nascer, educação e renda per capita. O IDH mede o grau de
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), órgão da ONU, apresenta um relatório
anual de IDH. Este toma como base dados econômicos e sociais para o seu cálculo. O IDH
IDH - (geralmente países pobres), os 25% acima dos de menor IDH - desenvolvimento
desenvolvimento alto estão os 25% abaixo dos países de melhor IDH (geralmente países em
rápido processo de crescimento econômico - emergentes), por fim estão os países com
desenvolvimento muito alto os 25% de melhor IDH (geralmente países ricos e bem
desenvolvidos).
Global, bem como o cálculo do IDH da maioria dos países. Além dele, são divulgados
Em 2014 o Brasil ocupava a 75ª colocação entre os 188 países ranqueados com um
IDH de 0,755. Com os bons resultados econômicos e sociais dos últimos anos, aliado ao
De acordo com o RDH 2010, o Brasil ocupava a 73ª colocação no ranking do (IDH).
O índice de 0,699, de acordo com o órgão, situava o País entre as nações de alto
aproxima do IDH registrado para toda a América Latina e o Caribe, de 0,704. O índice varia
comparação com outros países da América Latina, o país ficou em 11º lugar, e em quinto
lugar na América do Sul, atrás do Chile (0,783), da Argentina (0,775), do Uruguai (0,765) e
Peru (0,723). Entre os países do Bric, o Brasil ficou atrás apenas da Rússia (que ficou em
65º lugar, com 0,719) e à frente da China (89º, com 0,663) e Índia (119º, com 0,519).
privações nas áreas de saúde, educação e padrão de vida. O Brasil ficou com 0,039, o mesmo
índice da Turquia. Segundo o relatório divulgado em 2017, o País tinha 8,5% dos brasileiros
vivendo nesse tipo de pobreza. Além disso, segundo PNUD, 13,1% dos brasileiros estão em
risco de entrar nessa condição. O País registrou ainda 20,2% dos habitantes com pelo menos
uma grave privação em educação. No caso da saúde, esse índice foi de 5,2%, e, do padrão
de vida, de 2,8%.
3.4. Investimento em Educação – percentual do PIB
Em 2010, o Brasil investiu 10,4% a mais que a média dos países da OCDE do percentual do
utilizada pela OCDE que corresponde no Brasil ao ensino fundamental, ao ensino médio e à
educação básica correspondia a 68,3% da média da OCDE, em 2005 esse percentual cresce
para 85,3% e em 2010 chega a 110,4%, revelando que a prioridade da política educacional
período 2000-2010 no Brasil e a média dos países da OCDE, revelando que a relação
continua com certo grau de estabilidade – em 2000, o País indicava despesas que
54,7%.
2
despesas do Brasil foi da ordem de 63,7%, enquanto a média dos países da OCDE cresceu
16,4% . Em 2000, o País apresentava uma despesa que correspondia a 64,2% da média da
OCDE; em 2005 essa relação chega a 75% e em 2010, corresponde a 90,3% da média.
relação entre gasto público no setor como percentual do Produto Interno Bruto (PIB). Os
dados apresentados no Gráfico 4 mostram a situação do Brasil comparada com a média dos
países da OCDE e revela que no período 2000-2010, o percentual de gasto público como
percentual do PIB cresce 11,0% nos países da OCDE e 66,1% no Brasil, e que se em 2000,
o gasto do País representava 67,3% da média da OCDE, em 2005 esse percentual passa para
do gasto público total apresentado no Gráfico 5. No caso do Brasil, esse gasto cresce 72,9%,
enquanto a média apresentada pelos países da OCDE cresce apenas 3,5%. Se observarmos a
evolução do País no período, vê-se que em 2000 o gasto público correspondia a 83,4% da
média da OCDE, em 2005, ele é 10,8% superior e em 2010, chega a ser superior 39,3%.
sua vez, esclarece o papel que a União tem desempenhado nesse crescimento, o que tem
este crescimento:
* Orçamento da administração direta e indireta. Inclui Fies e Salário-Educação. Valores constantes pelo IPCA
médio 2013. Fonte: SIAFI/STN - Base de Dados da Consultoria de Orçamento/CD, PRODASEN e SIAFI - valores
empenhados. Elaboração: MEC/SE/SPO
A análise dos indicadores financeiros mostra que o Brasil avançou muito em relação
longo do período 2000-2013, entretanto, os investimentos estão muito abaixo dos valores
Brasileiros e Distrito Federal entre os anos de 2000 e 2010, e permite demonstrar que as
Nota-se que quatorze dos quinze estados do Norte e Nordeste ocupam as primeiras quinze
Pará
Espírito Santo
Amapá
Santa Catarina
Maranhão
Sergipe
Tocantins
Minas Gerais
Amazonas
Acre
Goiás
Mato Grosso do Sul
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul
Brasil
Piauí
Bahia
Ceará
Pernambuco
Paraná
Alagoas
São Paulo
Paraíba
Rondônia
Roraima
Distrito Federal
IDHM Educação (2000) IDHM Educação (2010) Variação
estados do Norte e Nordeste do Brasil, variações estas influenciadas fortemente pelo IDHM
Amapá
Espírito Santo
Santa Catarina
Amazonas
Maranhão
Sergipe
Minas Gerais
Piauí
Tocantins
Paraíba
Acre
Pernambuco
Paraná
Rio de Janeiro
Bahia
Alagoas
Ceará
São Paulo
Rondônia
Mato Grosso
Roraima
Distrito Federal
e 8 apresentam também a disparidade entre os valores dos índices das regiões Sul e Sudeste
4. CONCLUSÕES
IDHM Educação e IDHM geral nas unidades federativas do País, conclui-se que as variáveis
desenvolvidas, entretanto os índices destas regiões continuam aquém das regiões mais
Os resultados das discussões deste artigo corroboram com a ideia de que a educação
o país ainda carece de uma educação de qualidade, reflexiva e crítica para uma visão de
A interpretação dos dados da OCDE e dos índices do IDHM demonstrou que houve
que a expansão escolar na forma mais reprodutivista, nas bases de um velho sistema e sem
uma política realmente engajada com vistas à transformação profunda das desigualdades
estruturais, acabando por oferecer instrução básica questionável para as camadas pobres.
ausência de escolarização são deficiências que precisam ser superadas de forma simultânea.
Sendo assim, as políticas educacionais devem estar associadas a uma política social de longo
construção de um sistema educacional que abrange todas as camadas, com ensino de boa
qualidade.
um modelo sólido, entretanto sugere-se que em estudos futuros sejam incluídas outras
variáveis, com vistas a um melhor entendimento dos fatores que explicam a extensão da
5. REFERÊNCIAS
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as ciências revisitado. São Paulo: Cortez, 2004.
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2007.
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http://www.br.undp.org. Acessado em: 12/03/2017.
A POLÍTICA DE FUNDOS E SUAS DISPARIDADES NO FINANCIAMENTO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA NO RIO GRANDE DO SUL
Este artigo traz uma análise dos desequilíbrios fiscais na estrutura federativa
Grande do Sul.
estruturas e funcionamento dos sistemas de ensino. Como destaca Cruz (2009), estudar as
oferta dos serviços educacionais; significa analisar as formas como estão sendo
(no âmbito de cada estado), centralizando parte significativa dos recursos do governo
serviços públicos nas diferentes regiões e redes de ensino, denunciando o que Prado (2006,
p. 16) define como disparidades sociais, ou seja, “a possibilidade de que cidadãos iguais,
de equalização no acesso a serviços públicos por parte da população, este estudo pretende
do atual sistema, verificando como os recursos do fundo estão sendo redistribuídos entre os
principalmente nos de pequeno porte, que possuem uma base tributária frágil, trouxe
socioeconômicas, pois os municípios que ganham recursos com o fundo são os que estão
2 Metodologia de pesquisa
finanças dos municípios do estado do Rio Grande do Sul, utilizou-se, como técnica de
provenientes dos fundos, bem como o saldo obtido por cada nível de governo em relação
ao Fundef (período estudado 2005 e 2006) e do Fundeb (2007 até 2014), com as
Sul.
do Estado do Rio Grande do Sul (Fee dados) foram utilizados os dados do Produto Interno
Bruto dos municípios e do número de matrículas, estas segregadas por nível de ensino (pré-
educação básica no território do estado do Rio Grande do Sul foi utilizado o software
– Dirur.
demanda social de uma população, dentro de um determinado local (em alguma escala
governo e para o controle da sociedade no uso dos recursos públicos. Concordamos com a
proposição de Verhine (2003, p. 41) que “[...] analisar o impacto de uma determinada
política pública ou programa social é buscar discuti-la em seus múltiplos aspectos,
no número de matrículas.
Fundo o número de matrículas. No ano de 2006, último ano do Fundef, o conjunto dos
municípios recebeu 48,3% dos recursos distribuídos pelo Fundo, sendo que sua
participação nas matrículas era de 48,4%, ou seja, mantinha-se uma equivalência entre a
participações nas receitas e nas matrículas. Já no primeiro ano do novo Fundo, ainda no
período de transição, os municípios reduzem sua participação nas receitas para 46,4%,
sendo que a participação nas matrículas era de 47,1%, como mostra o gráfico 1.
Gráfico 1: Participação do estado e dos municípios do Rio Grande do Sul no número de matrículas e
no retorno do Fundeb no ano de 2014.
municípios nos recursos do Fundo era de 43,8% e nas matrículas de 44,9%, ou seja, uma
período, que foi de R$ 4,3 bilhões, representa uma perda para o conjunto de municípios de
R$ 43 milhões.
número de matrículas nos últimos períodos de análise, o que ocorre preferencialmente nos
municipal nas matrículas da educação é que se rompeu o equilíbrio entre alunos atendidos
um número de matrícula na educação básica igual àquela apresentada pelos estados, sua
receita líquida de impostos é bem inferior àquela obtida pelos estados (cerca de três
não passou de competente estratégia para transferir aos municípios responsabilidades até
então da União e dos estados e manter, ao custo mais baixo que for tolerável para as
crianças pobres – e só para elas – uma escola pobre. “O velho lema que os cínicos
competente, tão pouco no ensino fundamental (...)”. (ARELARO e GIL, 2006, p.83).
fatores de ponderação parte do fator base = 1,0 (atribuído ao segmento séries inicial do
ensino fundamental urbano), de forma que, para os demais segmentos, a fixação dos
fatores deve observar o espaço de variação entre 0,7 (menor fator) e 1,30 (maior fator),
conforme art. 10, §§ 1º e 2º, da Lei nº11.494/2007. Com esse critério, a aplicação desses
fatores de ponderação resultará em valores por aluno/ano específicos para cada segmento
da educação básica, de tal sorte que o menor valor corresponderá a 70% do valor base e o
Esta diferenciação traz vantagem para o estado que concentra quase que a
totalidade dos alunos do ensino médio público e traz desvantagens para os municípios que
que tem custo mais elevado para sua execução que os do ensino fundamental e médio
(CRUZ 2009). Neste aspecto, como salienta Bremamaeker (2011), o Fundeb foi
desfavorável para os municípios, que antes recebiam recursos estaduais para manutenção
médio.
dos municípios contribui para o Fundo com R$ 788,3 milhões, obtendo um retorno de R$
contribuíram com R$ 1,6 bilhões para o fundo e tiveram um retorno de R$ 1,9 bilhões, ou
seja, ganho de R$ 309,5 milhões. Em 2014, a contribuição foi de R$ 2,6 bilhões e o retorno
Porém, uma análise dos valores redistribuídos intrarredes revela que, em 2006, o
favor dos municípios não significa que todos os municípios tenham ganhado recursos com
os Fundos. Uma análise federativa horizontal mostra que no ano de 2006, dos 496
municípios do estado, 330 apresentaram perda de recursos com o Fundo, o que representa
66,5% dos municípios, e 196 tiveram ganho, o que equivale a 33,5% dos municípios, ou
seja, 1/3 dos municípios do estado concentraram os ganhos de recursos do Fundo oriundos
das perdas do estado e das perdas dos demais municípios. O saldo entre ganhos e perdas
com o Fundo apresentava uma média de -1,68% da receita disponível dos municípios, com
uma mediana de -2,09% e um desvio padrão de 6,24%, o que mostra que os ganhos com o
Fundef registrados pelos municípios, em detrimento do governo estadual, não ocorre de
No ano de 2009, com o Fundeb, a perda média percentual dos municípios cresce,
passando para -2,20% da receita disponível, sendo que dos 497 municípios do estado, 309
apresentaram perdas com o Fundo e 186 apresentaram ganhos. Em 2014, último ano de
análise deste estudo, a perda média entre os municípios é de -1,68%, com perda máxima de
-16,32% e o maior ganho de 21,34%. Dos 497 municípios do estado 299 apresentaram
perda de recursos com o Fundo, equivalente 60,2%, e 198 obtiveram ganho, o que
representa 39,8%. O mapa 1 mostra a localização dos municípios que tiveram perda e dos
que apresentaram ganho de recursos com o Fundeb no ano de 2014 no território do Estado
Mapa1: localização dos municípios do Estado do Rio Grande do Sul com perdas e
ganhos de receitas com o Fundeb no ano de 2014
estado e municípios no estado do Rio Grande do Sul promoveu uma concentração espacial
localizados nas regiões Central, Leste e Sul do Estado, e os que apresentam perda (cor
Para uma análise temporal do ganho/perda dos municípios com o Fundef e Fundeb
elaboramos um indicador de desempenho com o fundo, sendo atribuído 1 ponto para cada
exercício contábil (ano civil) em que o município obteve ganho com o Fundo e 0 ponto
quando teve perda de recursos. Como o período de análise deste estudo é de 10 anos, 2005
a 2014, cada município poderia obter uma pontuação máxima de 10 pontos e mínima de 0
ponto.
Dos 497 municípios do estado, 237 obtiveram pontuação zerada, o que equivale a
47,7% dos municípios, ou seja, apresentaram perdas com o Fundef e Fundeb em todos os
inferior este número sob para 303 municípios, o que equivale a 61% dos municípios do
Mapa 2: localização dos municípios do Estado do Rio Grande do Sul com a pontuação
obtida no indicador de ganho e perdas com Fundef e Fundeb no período de 2005 a 2014.
Fundos mantém esta condição em todos os períodos da série, o mesmo ocorre com os
municípios que são ganhadores de recurso, o que mostra a existência de uma situação
Cruz (2009), de que o fundo, por promover a redistribuição de recursos no âmbito de cada
Grande não ocorreu aporte do governo federal, não conseguiu promover uma equidade de
recursos.
Quando analisada a perda e ganho de recursos com o Fundeb por regiões dos
recursos. A região que obteve maior pontuação é a região do COREDE Vale do Rio dos
Sinos, atingindo 100% dos pontos possíveis. Também se destacam as regiões dos Coredes
com pontuação de 80%. O mapa 3 apresenta a localização dos Coredes que apresentaram
ganho e dos que apresentaram perda de recursos com o Fundef e o Fundeb no período de
2005 - 2014.
1
O ótimo de Pareto, ou Paretto efficiency, é utilizado em estudos econômicos para avaliar a eficiência de
determinada alocação de recursos, é o marco para medir resultados. Reflete a posição na qual, para fazer uma
pessoa melhorar a sua situação, necessariamente alguém será prejudicado ou terá a sua satisfação reduzida.
Ou seja, em uma distribuição que não seja ótima é possível incrementar a satisfação de alguém sem reduzir a
de outra pessoa.
Mapa 3: Localização dos Coredes com resultado no indicador de perdas e ganhos com o
Fundef e Fundeb, período 2005-2014.
Entre as regiões com menor pontuação as regiões Norte e Nordeste com 5% e 7,9%,
apresenta a localização dos Coredes que apresentaram ganho e dos que apresentaram perda
Miranda e Cosio (2008), que a distribuição regional, em nível de país, dos recursos da
educação tem sido, na prática, menos distributiva que aquela associada aos fundos de
que esse caráter menos redistributivo associado aos gastos com educação tende a agravar o
problema regional, já que na economia moderna a educação tem sio reconhecida como
propriedades rurais no caso do segundo. Por sua vez o número de matrículas tem relação
direta com o fator demográfico, ou seja, os municípios e regiões com maior população, que
tributos por meio das receitas tributárias próprias e das transferências devolutivas, no caso
as geradas principalmente pelo ICMS e IPVA, gerando uma maior disparidade horizontal
afirma que as disparidades regionais são guiadas por um efeito “bola de neve”, que resulta
2002) analisa a concentração espacial por meio dos fatores ou “forças centrípetas e
Fundeb, implica numa perda de foco de longo prazo na redução das desigualdades
regionais, bem como na correção de externalidades positivas geradas nos gastos com
educação. Percebe-se que três dos vinte e oito Coredes (Metropolitano Delta do Jacuí, Vale
do Rio dos Sinos Sul e Serra) concentram 48,8% dos recursos distribuídos pelo Fundeb no
ano de 2014, sendo que os mesmos tem uma participação de 29,3% das transferências
distributivas.
próximo ao das transferências devolutivas, que, nas quatro regiões com maior participação
nos recursos do Fundo, somam 49,9% das receitas próprias que totalizam 50,1%.
distributivas (participação de 1,4% nos recursos com o Fundeb e 4,32% nas transferências
1,0% nos recursos com o Fundeb e 2,6% nas transferências distributivas) e de 56%
(participação de 1,0% nos recursos com o Fundeb e 1,56% nas transferências devolutivas).
2
As transferências devolutivas são as que apresentam o maior poder concentrador de rendas municipais no
Brasil, como mostram os estudos de Alencar e Gobetti (2008) e Arretche (2012).
A despeito de seu caráter contraditório enquanto política equitativa e de favorecer a
infraestrutura, etc.
“racional” não apenas econômica, mas também social ou política apenas reforça os ciclos
Estudos recentes do IPEA sobre a distribuição das receitas públicas nos municípios
Estado no país demonstra, como numa imagem refletida num espelho, essa desigualdade
(Mendes, 2015 e Monteiro Neto, 2013), numa relação que pode ser mais que mera
correlação, mas de causa e efeito. Na realidade, existe uma relação circular (ciclo vicioso)
na ação pública no país. O Estado está mais presente onde está mais concentrada a
presente a maior parcela da população e da produção nacional. Como, em geral, existe uma
algumas regiões, a ação estatal apenas reforça e reitera esta estrutura de desigualdade
(Sociais, econômicas, etc.), por meio da distribuição do gasto público (receita) e dos
regional) da produção e da renda, nesse caso, em tese, o Estado, em especial, deveria atuar
de uma lógica econômica, mas na forma como o sistema federativo não dá conta de, dada
por sua vez, é causa e efeito da concentração de população nestas áreas ou localidades,
localidades, no interior desta região com pequenas populações e escassas bases produtivas,
em geral, não favorecem a base tributária compatível com a provisão de determinados bens
básica viria a afetar a distribuição regional dos recursos, porém sem garantir a equalização
entre as mesmas. Embora o Fundef/Fundeb garanta um gasto mínimo por aluno, ele não é
capaz de fazer com que o gasto por aluno nas regiões menos desenvolvidas cresça de
forma a alcançar o montante despendido pelas regiões mais desenvolvidas, tendo em vista
que essas regiões encontram-se em um patamar de gasto por aluno acima das demais em
estado do Rio Grande do Sul, posto que regiões mais pobres sejam aquelas com maior
carência educacional e, portanto, maior demanda por esse serviço, cujos recursos estão
5 Conclusão
estrutura do sistema tributário, o que para muitos autores gerou uma minirreforma
tributária, na qual 20% do produto das receitas oriundas das transferências distributivas são
destinados para formação do fundo, sendo que a distribuição dos recursos se dá com a
com maior população, sendo também os que concentram a maior arrecadação tributária
Sul), analisando seus impactos intraestado. Esses resultados apresentam uma série de
encontradas sugerem que a estrutura de financiamento da educação por meio dos Fundos
contábeis apresenta alguns problemas, que devem ser contemplados no debate sobre o
novo modelo de financiamento da educação básica, uma vez que o Fundeb encerra sua
das receitas dos Fundos contábeis de financiamento da educação para os municípios têm
contribuído para redução das disparidades. A receita do Fundo guarda relação direta com o
indicadores econômicos, contribuindo para uma relação circular (ciclo vicioso) na ação
pública, na qual o Estado está mais presente em poucos centros urbanos ou mesmo em
algumas regiões, a ação estatal apenas reforça e reitera esta estrutura de desigualdade
histórica. Os resultados corroboram a literatura que vem indicando que o Estado favorece e
econômicas, etc.), por meio da distribuição do gasto público (receita) e dos investimentos
no país.
REFERÊNCIAS
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LIMA, J.R.; VITAL, D. Brasília: INEP, 2006.
victorbarcelos@msn.com
evandro.teixeira@ufv.br
RESUMO
para a plenitude de um país ou uma região. Assim, o presente trabalho analisa o efeito da
repetência escolar sobre os crimes violentos contra pessoa nos municípios do estado de
Minas Gerais. Para tal, utilizou-se um modelo com dados em painel com o estimador
GMM-SYS, com o objetivo de fazer uma análise dinâmica da influência da educação sobre
ABSTRACT
Criminality is a problem that Brazilians face daily. In the field of economic development,
fear of crime is an obstacle to economic and social development of the countries. This
paper seeks to analyze effects of classroom failure on crime against person in the cities of
Minas Gerais, in order to add a new perspective to the academic debate on crime. It was
used a model with panel data and a GMM -SYS estimator, once it can analyze the impact
way. The results report that whether failure rates increases, the consequence is an increase
in crimes against person. Lastly, it is expected to show how important public policies
focused on the reduction of failure and truancy, as these factors affect individual’s
A criminalidade é uma mazela social que afeta, de forma direta ou indireta, a vida
homicídios no ano de 2012, segundo dados da World Health Organization [WHO] (2013),
incorrendo em uma média mundial de 6,2 vítimas por 100 mil habitantes. Além disso,
(2013), o que equivale à população de cidades como Seul, na Coréia do Sul e Jacarta, na
Indonésia.
No Brasil, a situação é ainda mais alarmante. O país teve cerca de 53.646 vítimas
aproximadamente 13% das ocorrências mundiais. Sendo o segundo estado mais populoso,
Minas Gerais é responsável por cerca de 7,4% dos casos de homicídios brasileiros. Apesar
de não estar entre os estados mais violentos do país, Minas Gerais apresentou no ano em
questão, uma taxa de 20,7 homicídios por 100 mil habitantes, em torno de três vezes maior
tendência de queda. Este é um dos motivos por qual diversas áreas das Ciências tentam
encontrar explicações para esse fenômeno, visando traçar estratégias para minimizá-lo.
criminosa se os ganhos auferidos por essa ação, somados aos riscos de ser apreendido e
punido por tal, forem maiores do que a renda que este poderia auferir através do seu
Para entender como a educação verterá efeitos sobre a criminalidade – debate que
capital humano. Segundo Schultz (1961) e Becker (1964), toda habilidade, intrínseca ou
principais componentes.
Dessa forma, concatenando as duas análises, entende-se que quanto mais elevado
for o grau escolaridade de um indivíduo, maior será sua renda auferida, o que, por
conseguinte, diminuirá sua propensão a ingressar no mundo do crime, uma vez que tende a
estudar, uma vez que desencadeia frustrações emocionais e psicológicas para tal. Por
conseguinte espera-se que a cada repetência, o aluno torna-se mais propenso a evadir a
escola, corroborando com o trabalho de Ribeiro (1991), no qual o autor verifica que alunos
repetentes estão mais sujeitos a novas reprovações. Por sua vez, haverá interrupção dos
estudos, o que surtirá em um custo de oportunidades menor para o trabalho formal,
criminalidade futura nos municípios de Minas Gerais no período entre 2006 a 2010?
O presente trabalho almeja contribuir para a literatura através fazendo uma análise
da influência da educação sobre a criminalidade nos municípios mineiros, o que não foi
feito até então. Verificou-se que nas áreas com maior deterioração da educação – indicada
por uma alta distorção série-idade – há maior criminalidade, no período seguinte. Por tal
criminalidade.
demonstração dos resultados encontrados, bem como a discussão sobre estes e, por último,
criminalidade futura nos municípios do estado de Minas Gerais, será utilizado um modelo
com dados empilhados em painel. Tal escolha deve-se ao benefício de poder analisar a
evolução temporal das variáveis de todas as unidades (municípios) de cross-section. Por tal
TRIVEDI, 2005)
O estimador utilizado será por GMM-SYS, proposto por Arellano e Bond (1991), para
etapas, sendo mais eficiente do que em uma só, conforme evidenciado por Windmeijer
(2005).
= + ′ + = 1, . . . , = 1, . . . , ,
no qual é a variável dependente, ′ é uma matriz K X 1 de variáveis independentes,
= + + + +
+ + + = 1, 2, … 391
= 2006, … 2010
em que:
geral
A variável explicada a ser utilizada neste trabalho será a taxa de crimes contra
pessoa por 100.000 habitantes (crime). Esta é definida pela razão entre o número de
estão menos sujeitos a este tipo de viés, conforme evidenciado por Santos e Kassouf
(2008).
∆ = ∆ + ∆ ′ + ∆
pela literatura em Araújo Júnior e Fajnzylber (2001), Fajnzylber e Araújo Júnior (2001),
Gutierrez et al. (2004) e Kume (2004). Este fenômeno é constatado basicamente devido a
futura, incluiu-se no modelo a taxa de distorção-série idade (distor) fornecida pelo Instituto
proporção de alunos matriculados com idade superior à faixa etária recomendada para cada
ano base da escolarização. No presente trabalho, optou-se por incluir a taxa de defasagem
Segundo estudo de Araujo Junior e Fajnzylber (2000), quanto maior o percentual de jovens
com idades dentro desse intervalo em uma região, maiores são a incidência de roubos e
Segundo Santos e Kassouf (2008), os crimes contra a pessoa são mais bem
crime é mais adequada para explicar crimes contra o patrimônio. Apesar de o presente
trabalho pautar-se por analisar crimes contra a pessoa, serão inseridas no modelo variáveis
que representam ambas as teorias, para verificar quais são determinantes para explicar a
mercado formal de trabalho impacta nas decisões concernentes a pratica de delitos. Para
(mercado), também calculado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
itens: geração de emprego formal, absorção da mão de obra local, geração de renda formal,
de Minas Gerais, inseriu-se o gasto per capita com segurança pública (segpc), obtida no
portal Datagerais. Espera-se que o efeito dessa variável seja negativo perante a variável
explicativa em questão. A teoria econômica diverge sob o efeito destas variáveis sobre a
incidência de crimes, haja vista que as variáveis deterrence1 podem ter efeitos nulos na
Gerais sob a ótica das teorias da desorganização social, foi inserida no modelo a densidade
populacional (dens), calculada pela razão entre as pessoas residentes no município e sua
área total (km²). Conforme explica Kelly (2000), a densidade influi de duas formas sobre o
crime: tanto propiciando uma maior oferta de potenciais vítimas, quanto diminuindo a
probabilidade de apreensão. Por tais razões, espera-se uma relação positiva entre esta
variável e a criminalidade.
Foi inserida no modelo uma taxa que informa o percentual da população com
acesso a abastecimento de água por rede geral (infraest). O propósito dessa inclusão é
urbana. Conforme evidenciado por Beato (1998), pode-se supor que onde a companhia de
abastecimento de água não atua, é pouco provável que haverá ação da polícia e do sistema
judiciário. Por tais condições, estes locais tornam-se propícios à ação criminosa. Assim,
espera-se que haja a referida variável tenha impacto positivo sobre a criminalidade.
Por fim, optou-se por utilizar a variável esforço orçamentário com educação (efedu)
por Blundell e Bond (1998). Os autores ressaltam que variáveis defasadas em apenas um
período são consideradas instrumentos fracos. Sendo assim, espera-se controlar a possível
1
A literatura econômica descreve os efeitos deterrence como pressões e intimidações da sociedade que
exerçam influência sobre o comportamento dos criminosos, no sentido de inibir ou coibir suas práticas
ilícitas.
Serão utilizados erros padrão robustos para a correção da heterocedasticidade do
modelo. Após a estimação, faz-se necessária a execução de testes para validação dos
municípios de Minas Gerais. Será analisado o período entre 2006 e 2010. A escolha do
usualmente são estimados com efeitos fixos, tendo em vista a heterogeneidade das
para que haja efeitos não observáveis na maioria dos modelos. Por tais razões, optou-se por
variáveis utilizadas (no presente caso, educação e renda) e do efeito inercial que acometem
Utilizou-se como variáveis instrumentais o gasto per capita com segurança pública
Teste de Sargan, foi possível constatar a validade destes instrumentos, com a aceitação da
hipótese nula. Além disso, aplicando o teste de correlação serial para as primeiras
outras três variáveis, sendo estas, gasto per capita com segurança pública, aquecimento do
setor formal e densidade populacional mostraram-se não significativas para o modelo
construído, logo, para a determinação dos crimes contra a pessoa nos municípios do estado
de Minas Gerais.
crimet-1 *
0,347
(0,067)
ns
segpc -0,015
(0,322)
ns
dens -0,003
(0,006)
infraest *
-2,662
(0,488)
ns
mercado 2,309
(10,472)
distort-1 0,058**
(0,026)
constante 215,933∗
(40,933)
Notas: Foram feitas as estimações em dois estágios, utilizando correções para heterodasticidade; erros-padrão
significativo, respectivamente; painel desbalanceado com 811 observações; variável instrumental usada:
efedut-3 .
trabalho. O indivíduo defasado - conforme a idade base para cada nível de ensino - estará
mais propenso a evadir a escola, e dedicar-se à prática de delitos. Um atributo que reforça
essa linha é apresentado por Leon e Menezes-Filho (2003), no qual os autores reforçam
que a evasão condicionada à repetência é maior para meninos, principalmente, para aqueles
que são mais velhos. Em adição, regiões com elevada frequência de adolescentes entre 15 a
19 anos tem influência maior sobre a incidência de crimes, segundo Cerqueira e Lobão
Logo, entende-se que, para jovens que já estão imersos em um ambiente instável, a evasão
alegando que a reprovação causa danos devastadores para a autoestima dos estudantes,
revelados por Neri (2009), sob o qual o autor conclui que 40,3% das evasões escolares são
preocupante. O fato de a escola ter se tornado uma atividade enfadonha para os estudantes
evidencia-se que estes jovens que estão fora da escola estarão vulneráveis a se envolver
autores, o ganho em anos de estudos, refletido pela renda, tenderia a compensar a perda de
desempenho causada pela progressão. Apesar de não mensurar o retorno para o ensino
médio, é possível estimar o retorno da conclusão do ensino médio uma vez que, conforme
Por outro lado, o resultado acerca da variável que denota o gasto com segurança
uma vez que a ausência de investimentos de infraestrutura básica para a população reflete
provavelmente serão carentes também do sistema judicial e policial. Tal fator contribuirá
novamente proliferação de crimes, uma vez que o fator de repressão, ocasionado pela
5- Conclusões
internacionais.
O presente trabalho, além de enaltecer a importância desses fatores, visa trazer uma
influência da educação na tomada de decisão de ingresso no mundo do crime. Para tal, foi
aumento dos índices de criminalidade. Municípios com maior defasagem escolar tendem a
apresentar maior taxa de crimes violentos. Por tais motivos, enxerga-se que as políticas
públicas de educação deverão ser orientadas para diversificar às práticas de ensino e o
Pais e Filhos de Chicago e o Projeto de Saúde Infantil das Ilhas Maurício são exemplos de
casos que obtiveram êxito em reduzir a taxa de criminalidade nas regiões onde foram
baixa razão criança-professor, que permite uma atenção pessoal à criança; estrutura
curricular que fornece uma rotina de ensino estruturada; visitação nas casas dos estudantes
para gerar um maior envolvimento dos pais na educação dos seus filhos.
sua importância no sentido de favorecer a acumulação de capital humano, e por sua vez,
aumentar o custo de oportunidade frente ao crime. Por outro lado, a educação influi para
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WINDMEIJER, Frank. A finite sample correction for the variance of linear efficient two-
Este trabalho investiga se o analfabetismo isolado em domicílios brasileiros gera uma barreira
ao conhecimento sobre o Cadastro Único do Governo Federal para indivíduos analfabetos.
Desta forma, a proposta do estudo é checar se o fenômeno de analfabetismo isolado é capaz de
reforçar as indesejadas exclusões indevidas de políticas públicas. Com informações sobre o
Cadastro Único e os Programas Sociais do Governo Federal contidas na PNAD 2014, a
aplicação da estratégia empírica do método de Propensity Score Matching combinada ao
algoritmo de Imbens (2015) encontrou evidências de que indivíduos analfabetos isolados têm,
em média, uma menor probabilidade de conhecer o Cadastro Único do que indivíduos
analfabetos não isolados. Os coeficientes encontrados para o Brasil, com e sem distinção de
gênero, foram, em média, de -12,20 a -16,76 pontos percentuais na probabilidade de conhecer
o Cadastro Único. Destacamos que o maior efeito foi encontrado para o gênero feminino. Estes
resultados são robustos ao teste de análise de sensibilidade dos Limites de Rosenbaum.
Abstract
This paper investigates whether the isolated illiteracy situation in Brazilian households
generates a barrier to knowledge about the Cadastro Único for illiterate individuals. Thus, the
purpose of the study is to verify if the phenomenon of isolated illiteracy is capable of reinforcing
the undesired undue exclusion of public policies in Brazil. With information on the Cadastro
Único and the Social Programs of the Federal Government contained in the PNAD 2014, the
empirical strategy of the combined Propensity Score Matching method of the Imbens (2015)
algorithm has found evidence that isolated illiterate individuals are on average less likely to
know the Cadastro Único than non-isolated illiterate individuals. The coefficients found for
Brazil, with and without distinction of genus, were, on average, from -12,20 to -16,76
percentage points. We emphasize that the greatest effect was found for the female gender. These
results are robust to the sensitivity test of the Rosenbaum Limits.
1
Esta pesquisa contou com o Auxílio Financeiro a Projeto Educacional ou de Pesquisa (Auxpe) 3166 do Pró-
Integração (edital 55/2013) da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) e do Programa
Primeiros Projetos (ARD/PPP 2014) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
2
Doutoranda em Economia Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. E-mail: fe.dachi@gmail.com
3
Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Organizações e Mercados da Universidade Federal de
Pelotas. E-mail: felipe.garcia.rs@gmail.com
4
Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal do Rio
Grande. E-mail: tgibran@hotmail.com
1. Introdução
que se está propondo checar neste estudo é se o fenômeno de analfabetismo isolado é capaz de
reforçar as indesejadas exclusões indevidas de políticas públicas via o mecanismo utilizado para
a seleção das pessoas. Este fato se daria em função da menor informação, ou mesmo do acesso
a ela, visto que residir em um domicílio com apenas indivíduos analfabetos pode impor uma
O conceito de analfabetismo isolado foi apresentado, pela primeira vez, junto com a
teoria de externalidades da alfabetização por Basu e Foster (1998). Segundo eles, indivíduos
autores surgiram os termos Analfabeto Não Isolado (ANI) e Analfabeto Isolado (AI) 5. O
primeiro refere-se às pessoas analfabetas que residem em um domicílio com pelo menos uma
pessoas alfabetizadas.
De acordo com o 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos de 2013
da UNESCO, realizado para 150 países, ainda havia 774 milhões de adultos analfabetos no mundo.
Entre os anos de 2005 a 2011 o Brasil estava entre os 10 países com a maior população de
adultos analfabetos. Esta informação é corroborada pelos dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, visto que a taxa de analfabetismo das pessoas de 15
anos ou mais de idade foi 8,3%, o que representa aproximadamente 13,2 milhões de pessoas.
5
Os termos analfabetos isolados (AI) e analfabetos não isolados (ANI) são uma livre tradução dos termos
Proximate Literate e Isolated iliterate (BASU e FOSTER ,1998) feita por Ribeiro e Souza (2013).
Já no que tange os dados de analfabetismo isolado para o Brasil, o trabalho de Ribeiro e Souza
(2013) indica, com base nos dados da PNAD 2009, que do número do total de analfabetos em
seja, aquelas pessoas elegíveis que não têm acesso aos serviços públicos e de proteção social.
socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda pelo Governo Federal, e empregado
considerado de baixa renda aqueles indivíduos que possuem renda familiar per capita mensal
de até ½ salário mínimo ou que possua renda familiar mensal de até três salários mínimos 6.
2. Discussão
alfabetização podem exceder os ganhos privados e gerar externalidades positivas para pessoas
analfabetas que residem em domicílios com pelo menos uma pessoa alfabetizada, uma vez que
a presença de uma pessoa capaz de desempenhar atividades de leitura e escrita proporciona que
a alfabetização seja vista como um bem público para os membros analfabetos no domicílio
Estudo como de Basu, Narayan e Ravallion (2001) avaliou, com base na equação
Expenditure Survey (HIES) captados entre os anos de 1995 e 1996. Os autores constataram que
6
Definição dada pelo Art. 4o do Decreto nº 6.135, de 26 de junho de 2007. Sendo a renda familiar mensal: a soma
dos rendimentos brutos auferidos por todos os membros da família moradores de um mesmo domicílio.
os rendimentos dos homens analfabetos são em média 15% maiores se eles fazem parte de um
domicílio com pelo menos um dos membros alfabetizados. Para as mulheres, os autores
encontraram que uma trabalhadora analfabeta não isolada ganha cerca do dobro do salário de
uma analfabeta que vive em domicílio onde todos os outros membros também são analfabetos.
obtidos através da equação minceriana com base nos dados da Enquête Sénégalaise Auprès des
Ménages (ESAM) para o ano de 1994. Os autores comprovaram que há efeitos positivos da
Segundo eles, os trabalhadores analfabetos, que vivem em uma família com pelo menos uma
pessoa alfabetizada, recebem salários mais altos do que trabalhadores analfabetos que
pertencem a uma família em que todos os membros são analfabetos. E além disso, os resultados
No campo da saúde infantil, Gibson (2001) utilizou como indicador de saúde a estatura
crianças, além de ser um reflexo dos hábitos e cuidados dos adultos para com as crianças. Desta
sobre cuidados relacionados a saúde das crianças. Empregando o método de mínimos quadrados
ordinários a partir de dados do Papua New Guinea Household Survey (PNGHS) para o ano de
1996, os autores, encontraram resultados que revelam um aumento significativo na altura média
das crianças que tem convívio com adultos alfabetizados em comparação com crianças que não
do risco de crianças de zonas rurais na Índia sofrerem de má nutrição infantil utilizando dados
sobre a redução do risco de má nutrição infantil. Nos domicílios em que a mãe era alfabetizada
foram encontrados melhores índices nutricionais entre as crianças do que quando as mães não
eram alfabetizadas. No entanto, quando o membro alfabetizado do domicílio era o pai o efeito
estimações via modelo logit com base nos dados levantados pelo Demographic Health Survey
(DHS) para os anos de 2005 e 2006. O estudo investigou a hipótese de que a adoção de métodos
contraceptivos entre mulheres analfabetas com parceiros alfabetizados é maior do que com
com seu parceiro analfabeto, porém, segundo os autores, o efeito é restrito a alguns grupos
Para o Brasil, Ribeiro et al. (2016) utilizaram regressões de Poisson para avaliar a
relação ao tabagismo de analfabetos. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra
população que são difíceis de atingir e incluir em programas sociais devido à sua localização
analfabetismo, e originando a criação de grandes barreiras para o acesso aos seus direitos
Para a redução das indesejadas exclusões indevidas, segundo Kerstenetzky (2009), uma
das estratégias dos programas de renda garantida é o instrumento de focalização. Para a autora
benefícios do Programa Bolsa Família (PBF), como a falta de acesso a informação, dado que
muitas dessas pessoas têm baixo ou nenhum grau de instrução, muitas vezes, faz com que elas
nem saibam que tem direito ao benefício. O emprego de ferramentas de focalização é visto
como um instrumento capaz de ampliar os impactos sobre a população mais pobre fazendo uma
melhor distribuição dos recursos disponíveis, e assim tornando o programa mais efetivo
focalização do Programa Bolsa Família e qual seu impacto sobre a desigualdade de renda e dos
focalização entre os estados, o que gerou heterogeneidade nos impactos gerados pelo programa.
eficiência nos processos de seleção dos beneficiários. Outro fator que influencia é a magnitude
da pobreza em cada estado, assim, estados com populações mais pobres tem maior facilidade
Domicílios (PNAD) de 1999 até 2009. Para o estudo sobre a desigualdade foi utilizada a
com os resultados, o benefício do Bolsa Família é responsável por 16% da queda global da
desigualdade durante os anos analisados, uma vez que a renda do programa representa menos
que 0,8% da renda total das famílias. Os autores afirmam que o principal motivo da renda
transferida pelo Bolsa Família contribuir de modo tão determinante para a redução da
pertencem a cada centésimo da distribuição de renda, desta forma, sendo um programa bem
focalizado aquele que tem maior parcela de beneficiários nos centésimos mais pobres da
7
Os dados utilizados pelos autores foram: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Brasil (2008), Encuesta
de Hogares, Panamá (2008), Encuesta de Caracterización Socioeconómica Nacional (Casen), Chile (2003) e
Encuesta Nacional de Ingresos y Gastos de los Hogares (ENIGH) México (2004).
prova de meios (proxy means test) que mostra a probabilidade das famílias cadastradas serem
políticas públicas do país8, os autores encontraram resultados que mostram que o PBF estava
em melhor situação de focalização que os outros programas no ano de 20039. Para as curvas de
incidência obtidas, no PBF cerca de 75% dos beneficiários pertencem aos 40% mais pobres, e
para os outros programas, menos de 40% dos beneficiários estavam entre os 40% mais pobres.
de renda na América Latina, Soares, Ribas e Osório (2010) comprovaram que há erros de
direcionamento nos programas. Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) de 2004 para o Brasil e na Encuesta Nacional de Ingresos y Gastos de los Hogares
(ENIGH) de 2004 para o México, o Programa Bolsa Família apresentou um erro de exclusão
deixava de atingir 59% dos pobres, o mexicano excluía 70% dos pobres. Por outro lado, o erro
Oportunidades, 36% faziam parte dos não elegíveis, já para o Bolsa Família esse percentual era
de 49% dos beneficiários. Para os autores, os resultados distintos entre os dois programas são
3. Metodologia
Os dados utilizados para a estimação são da PNAD do ano de 2014, disponibilizada pelo
8
Os outros programas e políticas públicas utilizados pelos autores foram: abono salarial, Fundo de Garantida de
Tempo de Serviço (FGTS), seguro-desemprego, outras indenizações trabalhistas, auxílio alimentação e transporte,
auxílio natalidade, maternidade e pensões e aposentadorias públicas.
9
Como os autores usaram dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2003, avaliaram a focalização
das políticas que deram origem ao PBF: Renda Mínima, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Bolsa
Escola, Agente Jovem, Auxílio-Gás e Auxílio Energia Elétrica.
dos indivíduos nos domicílios foi construída com base na pergunta “sabe ler e escrever” que
alfabetização dos indivíduos com 10 ou mais anos de idade, quando a resposta era “sim’ o
indivíduo era caracterizado como alfabetizado, e quando a resposta era “não”, o indivíduo era
considerado analfabeto.
anos e zero para os demais indivíduos dentro do domicílio. E assim, através da variável de
alfabetização, foi possível identificar aqueles domicílios em que para todos os moradores a
variável alfabetização é igual a zero e, assim, especificar cada indivíduo desse domicílio como
analfabeto isolado (AI). Para aqueles domicílios em que pelo menos um morador com 10 ou
mais anos de idade foi identificado como alfabetizado, os indivíduos analfabetos foram
Inclusão Produtiva que possibilitou a identificação dos indivíduos que conhecem o Cadastro
Único de Programas Sociais do Governo Federal através da pergunta: “Algum morador já ouviu
Seja 𝑌1𝑡 o resultado de interesse para o indivíduo i se ele participa do tratamento e 𝑌0𝑡 o
resultado de interesse para o indivíduo i se ele não é submetido ao tratamento. Desta forma,
para obter o impacto da intervenção para o indivíduo i seria necessário apenas estimar a
Propensity Score Matching visa agrupar essas características observáveis das unidades em um
único escore que possibilite o pareamento entre tratados e não tratados, lidando assim com o
tratamento.
equação:
𝑒𝑥𝑝(ℎ(𝑥)′𝛾̂
𝑚𝑙 (𝑊, 𝑋))
ê(𝑥|𝑊, 𝑋) = (2)
1 + 𝑒𝑥𝑝(ℎ(𝑥)′𝛾̂
𝑚𝑙 (𝑊, 𝑋))
A escolha das variáveis que vão formar a função ℎ(𝑥) é realizada por meio do algoritmo
de seleção proposto por Imbens (2015), o qual seleciona uma série de variáveis lineares e
quadráticas, e ainda a interação entre as variáveis lineares, via teste de razão de máxima
permitir a inclusão tanto de variáveis lineares como a interação entre elas, e realiza a escolha
das mesmas via teste de razão de máxima verossimilhança e não por arbítrio do pesquisador.
Segundo Rosenbaum e Rubin (1983), com o propensity score já estimado o impacto do
Onde, o primeiro termo da igualdade é estimado com base nos indivíduos analfabetos
isolados e o segundo termo através do resultado médio do grupo de controle de analfabetos não
isolados pareados.
Para que as estimações sejam viáveis, a validade do método depende de duas hipóteses:
(1) independência condicional ou de seleção nas observáveis, a qual assume que condicional ao
baseada apenas em características observáveis dos indivíduos, admite-se que todas as variáveis
que afetam o tratamento e o resultado são observadas na análise, dada por 𝑌𝑖 ⊥ 𝑊𝑖 |ê(𝑋𝑖 ); (2)
hipótese de suporte comum que implica que para cada valor de x exista observações de tratados
do PSM, já que infere que todas as características que afetam o tratamento e o resultado são
observadas no modelo. No entanto, a presença de fatores não observados pode interferir nos
resultados. Ainda assim, a estimativa do propensity score não é suficiente para estimar o ATT,
de modo que é uma variável continua e a probabilidade de encontrarmos dois indivíduos com
o mesmo valor de propensity score é praticamente zero (BECKER; ICHINO, 2002). Para lidar
com esse problema vários métodos foram propostos na literatura como o Nearest Neighbor
do ATT foram realizadas por meio do método de bootstrap com 50 replicações, com o propósito
Para que fosse possível avaliar o impacto do analfabetismo isolado para aqueles
Único foi respeitado nas estimações. Acredita-se que ao construir uma amostra com indivíduos
que de fato atendem ao critério de renda para participação do Cadastro Único, e que desta forma
seriam potencias beneficiários das políticas públicas que compõem o programa, seria
observáveis, e mesmo as não observáveis. Porém também foram realizadas estimações para o
nível de renda de até 1 salário mínimo domiciliar per capita como forma de robustez, no
apêndice E, uma vez que ainda há uma parcela de indivíduos que são incluídos nas políticas
2010; SOARES; RIBAS; OSÓRIO, 2010; SOARES et al., 2010; SOUZA et al., 2013).
(2001), DiPrete e Gangl (2004) e Becker e Caliendo (2007) para analisar se a inferência sobre
os efeitos do tratamento pode ser alterada por fatores não observados. O método identifica dois
10
O salário mínimo em 2014 era R$ 724,00, logo a renda analisada nesse estudo compreende a faixa de renda
domiciliar per capita de R$ 362,00, ou seja, ½ salário mínimo.
𝜏𝑖 = ê(𝑊 = 1|𝑋𝑖 = 𝑥) = 𝐹(𝛽𝑋𝑖 + 𝛾𝜇𝑖 ) (4)
isolado. Evidentemente, se não houver nenhum viés de variável omitida, 𝜇𝑖 será zero e a
probabilidade de ser tratado será determinada apenas pelo vetor de características observadas
𝑋𝑖 . Assumindo que F(∙) é uma função com distribuição logística, a probabilidade de que o
𝜏𝑖 (5)
( ) = 𝑒𝑥𝑝(𝛽𝑋𝑖 + 𝛾𝜇𝑖 )
1 − 𝜏𝑖
𝜏𝑖
1 − 𝜏𝑖 𝜏𝑖 (1 − 𝜏𝑗 ) 𝑒𝑥𝑝(𝛽𝑋𝑗 + 𝛾𝜇𝑗 )
𝜏𝑗 = 𝜏 (1 − 𝜏 ) = 𝑒𝑥𝑝(𝛽𝑋 + 𝛾𝜇 ) = 𝑒𝑥𝑝𝛾[(𝜇𝑖 − 𝜇𝑗 )] (6)
𝑗 𝑖 𝑖 𝑖
1 − 𝜏𝑗
efeito de 𝜇 é captado por γ que será diferente de zero. Não havendo diferenças relacionadas as
características não observadas, nenhum viés é encontrado (γ=0) e a razão de chances dos
o quanto que o efeito médio do tratamento é modificado por alterações nos valores de 𝛾 e de
efeito do tratamento, uma vez que a variável de resultado é binária. A estatística testa a hipótese
AAKVIK, 2001).
4. Resultados
Os resultados para o modelo logit que calculou a probabilidade de cada indivíduo ser
analfabeto isolado com renda domiciliar per capita de até ½ salário mínimo para o ano de 2014
foram utilizados como base para o pareamento entre os grupos. Cada indivíduo tratado
(analfabeto isolado) foi pareado com um indivíduo do grupo de controle (analfabeto não
comparação de indivíduos que diferem apenas do fato de ser analfabeto isolado ou não, mas
Apêndice C, exibe os gráficos com a sobreposição do propensity score dos grupos de tratados
e controles após pareamento para todos os métodos de pareamento. Em geral, os dois grupos
após o pareamento. Feitas as estimativas do propensity score pelo modelo logit e verificado o
12,71 pontos percentuais com pareamento por raios, a -13,44 pontos percentuais através do
diferença entre o acesso a informação do programa de analfabetos isolados e não isolados varia,
em média, de -12,20 pontos percentuais no método de pareamento por raios, a -16,76 pontos
E por fim, ainda na tabela 1, encontramos resultados que indicam que o acesso a
sobre os tratados varia, em média, de -12,21 pontos percentuais para o método dos três vizinhos
mais próximos, a -13,82 pontos percentuais para o método de pareamento por Kernel.
Tabela 1 - Estimativa do efeito de tratamento médio sobre os tratados: probabilidade de conhecer o Cadastro Único
para indivíduos com nível de renda domiciliar per capita até ½ salário mínimo, Brasil 2014
Método de Erro-padrão
AI ANI ATT
pareamento (Bootstrap)
AI
Vizinho mais
0,5154 0,6498 -0,1344** 0,0286887
próximo
Kernel Matching 0,5154 0,6463 -0,1308** 0,0265029
Raius Matching 0,5154 0,6425 -0,1271** 0,0328615
AI (Sexo Feminino)
Vizinho mais
0,5108 0,6784 -0,1676** 0,0565698
próximo
Kernel Matching 0,5108 0,6332 -0,1224** 0,040984
Raius Matching 0,5108 0,6328 -0,1220* 0,0520075
AI (Sexo Masculino)
Vizinho mais
0,5276 0,6497 -0,1221* 0,0539451
próximo
Kernel Matching 0,5276 0,6618 -0,1342** 0,040695
Raius Matching 0,5276 0,6658 -0,1382** 0,0417947
Fonte: Elaboração própria com dados da PNAD 2014. Nota: P-valor obtido pelo erro-padrão estimado por
bootstrap com 50 repetições; **Significativo a 1% e * Significativo a 5%.
em razão da estratégia de análise ser diferente, e além do tema de políticas públicas também
não ter sido abordado nessa linha de pesquisa. Neste trabalho, estimamos o efeito da ausência
dessa externalidade no acesso a informação sobre políticas públicas, e no restante dos trabalhos
tratamento. O teste determina dois limites que podem ser interpretados da seguinte maneira: a
dos resultados é feita ao elevar a variação do Γ até o momento em que o nível de significância
estatística de 1%, devido a influência de variáveis omitidas para as estimações com e sem
significância de 10%. Isso ocorre quando para a estatística Q_mh- de Mantel-Haenszel, tendo
como hipótese nula a subestimação do efeito do tratamento, o fator Γ assume valores entre 1,4
e 1,8 para alguns métodos de pareamento, mas acaba voltando a ter significância. Esta
probabilidade está associada a uma possível subestimação do modelo no que tange ao efeito do
tratamento, mas acreditamos que isso não prejudica a análise uma vez que foram alterações
leves e, ainda assim, na maioria dos valores foi possível rejeitar a hipótese nula. Em geral, para
respeito do efeito do tratamento são válidas ao não ser observada influência de fatores não
observáveis.
5. Conclusões
que realmente demandam desses benefícios, com base na focalização de políticas públicas
justificadas pelo grau de exclusão de indivíduos dada a menor informação, ou mesmo a falta de
acesso a ela, visto que residir em um domicílio com apenas indivíduos analfabetos pode impor
que a ausência de retorno social domiciliar da alfabetização, dado o fato de não residir com
existência do Cadastro Único. Visto que os mesmos seriam potencias beneficiários, por se
evidência de que a menor informação, ou mesmo a falta de acesso a ela, que a situação de
analfabetismo isolado pode impor, afeta esses indivíduos criando um obstáculo para o
social do governo.
Este artigo adiciona mais uma evidência sobre os retornos da alfabetização que
RAVALLION, 2001; SARR, 2004; GIBSON, 2001; BORROAH, 2009; HUSAIN; DUTTA,
acesso a informação, uma vez que a falta de um indivíduo alfabetizado restringe o acesso às
atividades que requerem o uso de leitura e escrita no domicílio. Fica a sugestão para pesquisas
futuras a análise da influência relacionada a posição dos membros nos domicílios para
níveis mais abrangentes de contato dos indivíduos, e não só em âmbito familiar conforme
sugerido por Gibson (2001) e Borroah (2009). Além também, de aumentar as discussões sobre
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2.5
3
3
2
Kdensity _pscore
Kdensity _pscore
2
1.5
Kdensity _pscore
1
1
1
.5
0
0
0
0 .2 .4 .6 .8 1 0 .2 .4 .6 .8 1
0 .2 .4 .6 .8 1 Propensity score Propensity score
Propensity score Treated Untreated Treated Untreated
Treated Untreated
3
3
3
Kdensity _pscore
Kdensity _pscore
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2
2
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0
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Propensity score Propensity score Propensity score
3
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Kdensity _pscore
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2
2
1
1
1
0
0
0
0 .2 .4 .6 .8 1 0 .2 .4 .6 .8 1 0 .2 .4 .6 .8 1
Propensity score Propensity score Propensity score
RESUMO
resultados demonstraram que os indicadores IDHM e IPM podem ser considerados como
ABSTRACT
This study aims to identify the differences between the indicators of human development
and multidimensional poverty from a ranking for the municipalities of the Lower Amazon
and to analyze the evolution of the estimated IPM in comparison to the IDHM developed
1
Bacharelando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Email:
augustooficial018@gmail.com
2
Bacharelanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Email:
ingridlorrane12@hotmail.com
3
Professor Mestre do Programa de Ciências Econômicas e Desenvolvimento Regional. Universidade Federal
do Oeste do Pará (UFOPA). Email: abnervilhena@hotmail.com
4
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências da Sociedade (PPGCS) da Universidade Federal do
Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: rhayza. carvalho@gmail.com
by the Atlas of Human Development in the years 2000-2010 . The results showed that the
IDHM and IPM indicators can be considered as complementary to the Lower Amazon
Meso-region and the highlight in the ranking of poverty and development was the
municipality of Santarém.
1. INTRODUÇÃO
principalmente, por ter uma relação inversa com o desenvolvimento socioeconômico. Cabe
ressaltar que a pobreza possui múltiplas definições, contudo todas abrangem algum
A abordagem da pobreza não trata apenas do que um indivíduo pode adquirir com
uma unidade de renda, de forma a delimitar um ponto divisor que o classifique como pobre
indivíduo/município, como: educação, saúde e condições de vida, entre outras, que são
aspectos relevantes e determinantes do bem-estar e que não podem ser adquiridos pela
UNIDIMENSIONAL À MULTIDIMENSIONAL
qual incorpora tanto elementos de ordem material quanto cultural e social, dependendo dos
(CODES, 2008).
relacionados à alimentação, moradia, educação, saúde, vestuário, entre outros, que são
avaliados a preços de mercado e a renda necessária para custeá-lo é calculada, sendo assim,
caso possua condições inferiores a esses padrões o indivíduo é considerado pobre
(ROMÃO, 1993).
das pessoas. Cabe ressaltar que para o atendimento dessas necessidades é estabelecido um
valor monetário, sendo que quando se trata especificamente das necessidades nutricionais
esse valor passa a ser denominado de linha de indigência ou pobreza extrema e quando
usados para especificar a população em dois subgrupos, conforme a sua renda. Dessa
forma um indivíduo pode ser considerado pobre ou não-pobre sempre que se utilizar a
linha de pobreza, assim é visto como pobre se a renda for abaixo do necessário para
quando se utilizar a linha de indigência sendo que caso não seja atendida inclusive as suas
Por outro lado, a pobreza no aspecto relativo evidencia uma comparação situacional
dos indivíduos com seus semelhantes em relação à posição que ocupa na sociedade, desse
vigente em determinada sociedade, de tal modo que os pobres são os que estão situados na
ambas as definições. Todavia, como a perspectiva de pobreza relativa muda de acordo com
com isso dependendo da sociedade a linha de indigência não tem grande importância
de renda, que ocasionava no baixo nível de renda de grande parte da população mundial e,
monetária era o principal critério de identificação da pobreza, e, portanto, esta era vista
tais como: a das necessidades básicas e a das capacitações. A primeira abordagem afirma
que as necessidades básicas não estão restritas a alimentação, assim, inclui necessidades
humanas como habitação, educação, saneamento. Portanto, essa abordagem abrange outros
aspectos da vida cotidiana dos indivíduos, haja vista que estes não apenas se alimentam,
mas se relacionam e trabalham, tendo, deste modo, uma vida social (ROCHA, 2000).
conforme a liberdade que estes possuem de ser e/ou fazer aquilo que decidem baseadas no
(SEN, 2010).
REVISÃO DA LITERATURA
na Região Norte do Brasil nos anos de 2000 e 2010, a partir da construção de um índice
Região Norte” (IPHM-RN), seguindo o critério de que esta região é uma das mais
demonstraram que a pobreza humana no Norte reduziu em todos os Estados, sendo que
Roraima obteve o maior índice de pobreza da região norte em 2010, e o Pará ficou com a
No estudo de Silva, Sousa e Araújo (2017) tendo como finalidade identificar novas
comunicação e informação, e saúde, para que haja melhor distribuição desses recursos
entre os estados da região, na busca de uma melhor condição de vida e inserção social,
O artigo de Silva (2016) tendo como escopo propor e fazer uma análise de um
índice de pobreza multidimensional para os Estados brasileiros. Neste sentido, utiliza como
regiões Norte e Nordeste apresentaram maiores índices para todas as dimensões indicando
Desenvolvimento do Milênio que vão desde redução da pobreza de renda até promoção da
multidimensional que pode ser utilizado para acompanhar esses objetivos do milênio, bem
Pobreza Multidimensional são aqueles localizados nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.
indicadores: linha de pobreza, IDHM e IPM para verificar quais dimensões têm
contribuído de forma mais expressiva para a variação em cada um dos índices na Região
Metropolitana de Belém (RMB), utilizando as bases de dados do Atlas do
uma única medida sintética que possa de maneira isolada, representar os anseios que
pobreza total, elucidou que ocorreu uma diminuição da pobreza mais severa, e que houve
Neste sentido, com base na revisão de literatura, percebeu-se que vários trabalhos
a elaboração deste estudo, o qual busca discutir a pobreza com enfoque multidimensional
(BRASIL, 2012).
da década de 1960 devido à intervenção dos governos militares, onde foram realizados
municípios, tais como: Alenquer, Almeirim, Belterra, Curuá, Faro, Juruti, Mojuí dos
Campos, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Prainha, Santarém e Terra Santa, como mostra
a figura 1 abaixo.
Fonte: SDT/MDA
5
O município de Mojuí dos campos foi integrado à região do Baixo Amazonas no ano de 2012, e por isto não
foi incorporado nas análises do estudo.
Em 2014 a área aproximada da mesorregião do Baixo Amazonas era em torno de
315,86 mil km², o que corresponde a 25% da área total do Estado do Pará, e sua população
turismo, sendo que este último tem como base principal o turismo ecológico, uma vez que
a mesorregião possui muitos atrativos naturais, como praias e belas paisagens (BRASIL,
2012).
A metodologia deste trabalho visa permitir uma análise comparativa dos resultados
Desenvolvimento Humano nos anos de 2000 e 2010, sendo utilizado como proxies para
com o IDHM.
Nesse contexto, o IPM6 é um indicador que mede a dimensão da pobreza, tendo por
Sendo estas variáveis recodificadas de forma que pudessem se tornar binárias (0,1) para
está privado ou não em determinado tipo de dimensão. Definiu-se assim o valor 1 para
situação de privação e 0 para não privação. Neste sentido foi atribuída para cada pessoa a
contagem de carências que sofre em cada um dos indicadores. Sendo que a contagem
Desta maneira, com o mesmo peso para cada uma das dimensões (1/3), a contagem
máxima em cada dimensão passa a ser de 33,33%. Cada indicador é ponderado dividindo a
educação contêm dois indicadores. Dessa forma cada indicador tem um valor de
(1/3)/2*100 (16,7%).
pobres, deve-se fazer o somatório das carências de cada um para obter posteriormente a
carência total correspondente ao valor C. Com o intuito de diferenciar pobres e não pobres
terceira parte dos indicadores ponderados. Neste sentido, temos que o valor mínimo ou de
corte para a identificação dos indivíduos pobres é de que haja privação em, pelo menos,
classificação:
7
A variável k é o ponto de corte da pobreza e reflete a soma de indicadores ponderados no qual o indivíduo
deve ser privado para ser considerado multidimensionalmente pobre.
1) Se C for > 20% e < 33,3% os indivíduos são considerados pobres multidimensionais;
multidimensional;
conforme a contagem de carências dos indivíduos, estes estão sendo classificados quanto a
sua condição de pobreza multidimensional. O valor do IPM reflete a média das contagens
IPM
INDICADOR PONDERAÇÕES
Educação
Ensino Fundamental Incompleto (1/3)/2=16,7
Crianças em idade escolar que não frequentam a escola (6 a 14 anos) (1/3)/2=16,7
Saúde
Água Potável (1/3)/2=16,7
Total de filhos nascidos mortos (natimortos) (1/3)/2=16,7
Condições de Vida
Eletricidade (1/3)/4=11,11
Esgotamento Sanitário (1/3)/4=11,11
Destino do Lixo (1/3)/4=11,11
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
IDHM e IPM .
possuem um maior IDHM são: Santarém, Almeirim e Oriximiná com 0.555, 0.526 e 0.517
Prainha, Curuá e Juruti com os índices de 0.361, 0.383 e 0.389 nessa devida ordem. Em
média quando integramos os municípios a uma região temos que o índice de
desenvolvimento total no ano de 2000 é de 0.45 e houve uma variação de 32.84% passando
elevou-se para 0.77 tendo uma taxa de variação de 9.59 %. O IDHME (Educação), obteve
de Santarém foram longevidade com o índice de 0.755, seguida por renda 0.571 e
todos os municípios da MBA. O município de Santarém que estava com 0.555 aumentou
para 0.691 obtendo uma variação de 24,5% e praticamente passou para a categoria de alto
desenvolvimento.
contudo, para educação o nível era de desenvolvimento muito baixo, 0.397. No entanto,
em 2010, a educação variou 63,22%, elevando-se, assim, para 0.648, integrando o médio
apresentou maior valor de IDHM e possui alto desenvolvimento, 0.733, passando para
0.809 em 2010. Entretanto, o subíndice educação, que estava com 0.3 em 2000 e 0.497 em
são mais adequados para avaliar o desempenho dos municípios brasileiros e o índice de
estão sendo atendidas, a partir das dimensões saúde, educação e condições de vida,
proporção de pobres e não pobres, mas entender os fenômenos socioeconômicos que foram
implementados nos municípios e a partir disso verificar se esta implantação foi adequada
Neste contexto, percebe-se que os municípios da MBA que possuíram uma maior
pobreza multidimensional no ano de 2000 foram: Curuá, Juruti e Prainha com 26.05;
respeito ao IDHM, percebe-se que essas cidades possuem um nível muito baixo de
desenvolvimento tendo em vista que todos os seus índices obtiveram o valor de 0.383,
0.389 e 0.361.
(42.00), apresentando indícios de risco de pobreza, contudo possuindo evidências para que
multidimensional foram: Santarém (56.97), Terra Santa (55.41) e Almerim (54.66) sendo
estes considerados fora das condições de privações, ou seja, possuem a partir do somatório
dos subíndices das dimensões um número adequado de atendimento das condições básicas,
ponto de vista do IPM, enquanto que em 2010, Santarém se encontra na primeira posição
multidimensional no ano de 2000, contudo no decorrer dos dez anos desceu oito posições
quando relacionado ao IPM, esse fator pode ser explicado tendo em vista que no ano 2000
este município possuía altos nos indicadores de educação, saúde e condições de vida,
houve um acréscimo desses níveis, contudo não na mesma proporção dos outros
primeira posição.
IDHM, no ano de 2000, ficando na décima segunda posição, entretanto, com base no IPM
ocupou o décimo lugar. Em 2010, esse município ficou em última posição em ambos os
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve por objetivo identificar as diferenças entre os indicadores IDHM e
vistos conjuntamente permitem uma visão mais ampla e precisa de seus resultados. Assim,
para essa mesorregião não existe uma diferença expressiva entre ambos os indicadores
Nesse contexto, em 2010, o IDHM elevou-se para 0.60, o que o torna de médio
multidimensional foram: Santarém (56.97), Terra Santa (55.41) e Almerim (54.66) sendo
estes considerados fora das condições de privações, ou seja, possuem a partir do somatório
dos subíndices das dimensões um número adequado de atendimento das condições básicas,
para o subíndice de longevidade, baixo desenvolvimento para a renda e muito baixo para a
educação. Enquanto que em 2010 a educação obteve uma melhora de 63,22% e integrando
quando relacionado ao IPM, esse fator pode ser explicado tendo em vista que no ano 2000
este município possuía elevados indicadores de educação, saúde e condições de vida, tendo
uma taxa de variação positiva no período, mas não tão expressivo como os outros
6. REFERÊNCIAS
Resumo:
O capital humano é considerado um dos principais fatores para o desenvolvimento humano
e econômico. Nesse sentido, diversos países buscam, por meio de uma série de
indicadores, averiguar continuamente a realidade educacional de seus habitantes. No
Brasil, por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal-Educação (IDHM-
Educação) e o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal-Educação (IFDM-Educação)
são dois dos principais indicadores utilizados para esse propósito. O presente estudo tem
como objetivo propor um novo índice capaz explicar o desenvolvimento humano em
educação para os municípios brasileiros por meio da técnica de análise fatorial e incluindo
importantes dimensões educacionais que não são consideradas nos índices supracitados. Os
resultados permitiram fazer análises mais acuradas das especificidades da rede de ensino
dos municípios. O desenvolvimento humano em educação dos municípios brasileiros
medido pelo índice aqui proposto apresenta resultados gerais semelhantes ao IDHM e
IFDM, entretanto concluiu-se que esses dois indicadores superestimam a realidade do
sistema educacional do Brasil ao desconsiderar importantes indicadores educacionais.
Palavras-Chaves: IDHM, Educação, Análise Fatorial
Abstract:
Human capital is considered one of the main factors for human and economic
development. In this sense, several countries seek, through a series of indicators, to
continuously investigate the educational reality of their inhabitants. In Brazil, for example,
the Municipal Human Development Index-Education (IDHM-Education) and the
Municipal Development Firjan Index-Education (IFDM-Educational) are two of the main
indicators used for this purpose. The present study aims to propose a new index capable of
explaining human development in education for the Brazilian municipalities through the
technique of factor analysis and including important educational dimensions that are not
considered in the aforementioned indices. The results allowed to make more accurate
analyzes of the specificities of the teaching system of the municipalities. The human
development in education of the Brazilian municipalities measured by the index proposed
here presents in general similar results to the IDHM-Education and IFDM-Education,
however, it was concluded that these two indicators overestimate the reality of the
Brazilian educational system by disregarding important educational indicators
Key-Words: IDHM, Education, Factor Analysis
fundamental para expandir as habilidades das pessoas para que elas possam decidir sobre
seu futuro. Assim, a educação constrói confiança, confere dignidade e amplia os horizontes
e as perspectivas de vida.
educação. Para Schultz (1973), a investigação desse item revela partes suplementares
gerados para a sua população. A educação é vista não somente como um determinante do
positivas para a sociedade, pois estimula maior consciência do indivíduo, seja de caráter
e importante para elevação do bem-estar social, é importante avaliar a medida com que os
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apresenta desde 1990 em seu
fornecer uma medida do nível de desenvolvimento dos países. Quando foi introduzido,
representou uma proposta inovadora de mensuração do progresso socioeconômico de um
país em detrimento das usuais medidas baseadas em esferas puramente econômicas, como
O IDH reúne três dos requisitos mais importantes para a expansão das liberdades
das pessoas (em consonância com a visão do desenvolvimento como liberdade de Sen
(2000)): Saúde, que é vista como a oportunidade de se levar uma vida longa e saudável;
do desenvolvimento social.
Com essa concepção, a adaptação do IDH para níveis subnacionais tem sido
um contexto nacional. Portanto, os países são encorajados pelo PNUD a desenharem IDHs
para calcular o IDH Municipal (IDHM) para todos os municípios brasileiros a partir das
Estatística (IBGE) – 1991, 2000 e 2010. Mais tarde, as mesmas instituições foram
construir um novo IDHM Educação utilizando variáveis que melhor representem o sistema
sistema educacional.
EDUCAÇÃO
variáveis, por meio da extração de fatores independentes, de tal forma que estes fatores
1
O IFDM – Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal – é um estudo do Sistema FIRJAN que
acompanha anualmente o desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros em três áreas de
atuação: Emprego & Renda, Educação e Saúde. Criado em 2008, ele é feito, exclusivamente, com base em
estatísticas públicas oficiais, disponibilizadas pelos ministérios do Trabalho, Educação e Saúde.
geralmente realizada através do método de componentes principais, que faz com que o
primeiro fator contenha o maior percentual de explicação da variância total das variáveis
da amostra. O segundo fator, por sua vez, contenha o segundo maior percentual, e assim
por diante. Outros métodos podem ser usados para realizar a análise fatorial, a saber:
em que representa o i-ésimo escore da variável padronizada, com média zero e variância
unitária (i = 1, 2, ... m); indica os fatores comuns não correlacionados, com média zero e
variação especifica de não explicada pela combinação linear das cargas fatoriais com os
total de é explicada pela solução fatorial. As comunalidades das variáveis que não têm
explicação suficiente no modelo são aquelas menores que 0,5. Por fim, o critério utilizado
para definir o número de fatores foi o de considerar apenas aqueles que possuem raiz
Após o cálculo das cargas fatoriais e a identificação dos fatores comuns, torna-se
De acordo com Ferreira Júnior et al. (2004), o escore para cada observação (município), é,
2
Para mais informações, ver Johnson, R. A.; Wichern, D. W. Applied multivariate statistical analysis.
Prentice Hall, 1992.
do escore fatorial correspondente, sendo a expressão geral para estimação do j-ésimo fator,
, dada por:
coeficiente abaixo de 0,5 exige medidas de correção nos dados amostrais através da
Por sua vez, o Teste de Esfericidade de Bartlett serve para testar a hipótese nula de
teste é uma medida parecida com o KMO, sendo este utilizado para cada variável. A
interpretação pode ser feita com base nos mesmos valores do KMO. Um valor baixo de
MSA indica que a variável não se apresenta adequada na análise fatorial e pode ser
excluída.
brasileiro foi feita através dos escores fatoriais, ou seja, dos valores dos fatores para cada
uma das 5565 observações (municípios) por meio da equação (3). Assim, na obtenção do
Índice Bruto de Desenvolvimento Educacional (IBDE) para que se possa fazer um rank
dos municípios, realizou-se o cálculo da média dos fatores, ponderadas pela variância,
total (dada pelo valor da raiz característica) exprime a importância relativa de cada fator.
De acordo com Melo (2007), o IBDE pode ser expresso da seguinte forma:
variância explicada por cada fator (raiz característica) e; são os escores fatoriais.
em que o maior valor adquire o valor cem e o menor zero, ou seja, a variação do índice
(PEROBELLI et al.,1999).
onde é o valor da observação (q) do índice bruto para o município (c); é o menor
valor do índice bruto dentre todos as municípios; e é o maior valor do índice bruto
foram considerados com grau de desenvolvimento muito alto (MA), aqueles municípios
que apresentaram resultados com valores iguais ou maiores que 0,800; alto (A), aqueles
com valores entre 0,700 e 0,799; médio (M), aqueles com valores entre 0,600 e 0,699;
baixo (B), aqueles municípios com valores entre 0,500 e 0,599 e por fim, muito baixo
O ajustamento dos dados originais à análise fatorial foi realizado por meio do Teste
Mayer-Olkin – KMO (Tabela 2). Com base nas medidas amostrais de adequabilidade das
frequentavam o ensino fundamental apresentou baixo valor (0,374). Esse valor sugere que
a variável pode ser excluída do modelo, no entanto, optou-se pela permanência desta, em
esse o valor do KMO é inferior a 0,5. Nesse sentido, o valor calculado de 0,75 sugere que
significância. Com base nesses critérios, pode-se afirmar que o conjunto de dados
característica maior que uma unidade. Após a rotação com o método Varimax, conclui-se
considerados. Ademais, todos os fatores apresentaram cargas fatoriais maiores que 0,50 em
correlacionadas com este fator, exceto para a variável que representa a proporção da
população adulta sem instrução ou ensino fundamental incompleto, cujo sinal foi negativo
para este fator, indicando que quanto maior for esta população, mais deficitário será este
O Fator 2 indica que 22,92% da variabilidade total dos dados são explicados por
esse fator. Como esperado, os sinais negativos das cargas fatoriais das taxas de abandono e
negativamente com este fator, indicando que aumentos nas taxas de evasão escolar e na
defasagem do aluno em relação à idade do aluno e a série que este deveria estar cursando,
deprecia o indicador. Nesse sentido, o fator 2 pode ser denominado como INDICADOR
profissionais sejam portadores de diploma para exercício do cargo. Fica evidente que este
Por fim, o Fator 4 explica 6,73% da variabilidade total dos dados, onde as variáveis
que compõem este fator estão positivamente correlacionadas com ele. Observando as
municípios entre os IDHMs-Educação são diferentes, pois nem todas as variáveis estavam
Educação Revisitado, percebe-se que há um movimento dos municípios das classes mais
que com a nova proposta de indicador, essa proporção não passa de 1% dos municípios
(segundo a medida corrente, 349 municípios foram classificados com alto grau contra
apenas 34 que seriam assim considerados, com a nova proposta). Um dado comum entre os
essa proporção é de 36,14% dos municípios, enquanto que com a nova metodologia essa
acumulado, essa proporção chega próximo de 80% dos municípios brasileiros. Esse dado
Educação Revisitado segundo as mesmas classes e classificação feita pelo Sistema Firjan3.
3
O índice varia de 0 (mínimo) a 1 ponto (máximo) para classificar o nível de cada localidade em quatro
categorias: baixo (de 0 a 0,4), regular (0,4 a 0,6), moderado (de 0,6 a 0,8) e alto (0,8 a 1) desenvolvimento.
Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade.
Nota-se a priori que a discrepância do desenvolvimento educacional é ainda maior.
Enquanto que no IFDM-Educação apenas um município era classificado com baixo grau
(11,81%) compõem essa categoria atualmente, contra 4262 (cerca de 77%) municípios
moderada não chegavam a 12% do total, essa proporção chega a 80% dos municípios
analisados foram classificados nessa categoria. Esse dado mostra o quão superestimado são
56%, passa a ser representada agora por apenas 20,75%. Da mesma forma, observa-se uma
movimentação ou um deslocamento dos municípios das classes superiores para as classes
mapa abrangendo todo o Brasil (Figuras 1 e 2). É possível notar claramente pela Figura 1,
Educação Revisitado) se encontram nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, enquanto que
outras regiões, exceto o estado de São Paulo, que destaca-se por possuir uma quantidade
municípios com alto grau de desenvolvimento situam-se nas regiões Sul, Sudeste e Centro-
Nordeste do Brasil.
Paulo mais uma vez destaca-se por apresentar uma cobertura superior de municípios com
brasileiros.
Figura 1 – Mapas do IDHM-Educação e do IDHM-Educação Revisitado, Brasil, 2010
A priori destaca-se que os dez municípios mais bem classificados fazem parte das
regiões Sul e Sudeste, mais especificamente nos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo
e Espírito Santo, dentre os quais há três capitais – Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e Vitória
(ES) –; algumas cidades de grande e médio porte, como Santos, Jundiaí, Marília e Araraquara,
todos no estado de São Paulo, e Balneário Camboriú no estado de Santa Catarina. As outras
cidades são de pequeno porte populacional situadas no estado de São Paulo. Em relação aos
municípios que ocupam as dez últimas posições no ranking, estes fazem parte da região Norte
todos os municípios mais bem classificados. O mesmo não ocorre para os municípios que
ocupam as últimas posições. Chama-se atenção o município de Itamari (BA), que tem quase
Jundiaí (SP) essa proporção não alcança 4% dos estudantes. Em relação ao ensino médio, é
também no estado da Bahia, no município de Santa Luzia, onde apenas cerca de metade de
seus estudantes são aprovados nesse nível educacional. Esse dado mostra a enorme
municípios mais bem classificados são maiores que suas taxas de abandono do ensino
fundamental (alguns auferem taxa menor que 1%), e que no geral, as taxas de abandono do
ensino fundamental e médio desses municípios são menores do que essas mesmas taxas para
os municípios das últimas posições no ranking, com exceção para o município de Chaves
(BA), onde a taxa de abandono do ensino médio é de apenas 4,1% dos estudantes. As
menores taxas de abandono do ensino médio são registradas pelos municípios de Marília
de docentes com ensino superior em todos os níveis educacionais (anos iniciais e finais do
possuem em sua rede de ensino professores mais bem qualificados, chegando a 100% de
docentes com ensino superior nos anos finais do fundamental, como é o caso do município de
Águas de São Pedro (SP), e cerca de 99% no ensino médio no município de São Caetano do
Sul (SP). Este último apresentou a melhor classificação do IDHM-Educação Revisitado, com
valor igual a 0,7616. Entretanto, percebe-se que houve uma melhora expressiva da
como nos municípios de Maraã (AM), Bagre (PA), Chaves (PA) e Biritinga (BA) com 95,5%,
93,3%, 83,3% e 82,4% de docentes com ensino superior. Uiramutã no estado de Roraima
aparece como o município que possui as menores proporções de docentes com ensino
superior em todos os níveis educacionais, com apenas 1,2% de docentes qualificados nos anos
iniciais e 2,9% nos anos finais do fundamental, e 12,3% no ensino médio. Esse dado mostra
mostra necessária.
Tabela 7 – Fatos estilizados dos 10 melhores e piores municípios segundo a classificação do IDHM-Educação Revisitado
Doc. Doc.
(%) da
IDHM- Tx. Tx. Tx. Tx. Sup. Sup. Doc. Tx. Tx. Freq. Ed. Freq. Freq. Freq. pop. (%) Pop (%) pop.
Distor.
Município Educaçã Aprov. Aprov. Aband Aband Anos Anos Sup. Ens. Distor. Inf. Fund Méd. Sup Baixa Fund Méd
oRevisit. Fund Med Fund Med Iniciais Finais Méd I-S Fund. I-S Méd
Inst.
Fund. Fund.
10 melhores classificados
São Caetano do Sul - SP 0.7616 91.9 81.8 0.3 3.3 89.9 98.8 98.9 9.2 16.9 69.2 84 68.4 9.4 26.1 13 29.4
Florianópolis - SC 0.7577 93.1 80.6 1.2 7.2 85.6 92.7 91.3 15.8 21.2 59.5 83.8 55.9 12.2 22 12.6 33.7
Vitória - ES 0.7527 89.9 77.6 1.6 6.4 86.1 94.8 89.9 16.1 25.3 66.4 83.4 63.5 11.1 23.2 12.6 32.2
Santos - SP 0.737 93.7 84.2 0.7 1.8 80.1 95.3 96.1 9.4 15.7 61.9 85.3 65.6 6.5 26.2 14 31.8
Águas de São Pedro - SP 0.732 91.1 96.1 0 1.9 50 100 93.8 12.4 18.9 67.4 93.8 67.3 6.2 27.2 11.2 31.3
Balneário Camboriú - SC 0.7297 90.4 83.2 0.2 7.7 80 89.1 88.6 12.7 16.6 59.8 83.1 52.2 9.4 26.1 16.7 31.4
Araraquara - SP 0.7209 95.8 82.8 0.4 3.6 91.2 96.6 95.3 6.8 13.2 62.7 87.8 70.3 6.9 35.4 16.1 30.8
Curitiba - PR 0.7206 89.3 81.4 1.8 4.7 93 95.8 96.3 10.3 20 50.3 80.1 58.8 9.4 28.4 15.2 30
Jundiaí - SP 0.7203 97.7 88.9 0.4 3.1 83.6 97.6 98.1 3 10.1 52 78.2 66.3 8.1 36 15.7 27.5
Marília - SP 0.7195 97 92.1 0.3 1.7 87.9 98.8 98.5 4.6 8.9 60.6 84.9 70.4 6 36.8 15.2 30.8
10 piores classificados
Maraã - AM 0.3571 62 78.7 24.2 19.1 18.5 55.4 95.5 56.6 75 38 63.6 12.5 2.3 74.2 11.1 12.1
Biritinga - BA 0.3524 54.3 85.4 20.7 11.4 34.4 35.5 82.4 62.5 58.2 31.6 73 22.8 0.8 80.7 6.2 11.7
Nova Itarana - BA 0.352 75.9 83 14.9 16.6 2.6 32.3 44.4 51.2 65.6 31.3 64.8 28.5 0.6 84.2 4.6 9.4
Uiramutã - RR 0.3466 82.3 78.8 5.7 16.2 1.2 2.9 12.3 44.2 54.8 17.5 39.5 21.3 1.4 84 7.5 6.7
Pedro Alexandre - BA 0.3447 61.5 61.3 8.6 24.5 8.1 14.3 43.8 49.7 71.9 35.5 68.8 20.7 0.9 84.2 7.1 6.6
Bagre - PA 0.3446 70.6 76.1 15.7 13.6 8.9 8.4 93.3 61.1 83.3 19.6 70.8 17.1 2.2 83.8 6.5 8.6
Santa Luzia - BA 0.3426 67.5 50.3 14.3 35.4 3.2 40 42.1 51.4 70 28.7 77.8 24.9 1.4 80.5 6.7 11.3
Itamari - BA 0.336 51.5 66.6 34.1 24.6 2.6 11.9 58.3 62.8 59.6 47 70.2 26.9 4 72.8 9.3 14.4
Pilão Arcado - BA 0.3253 67.7 79.6 14.7 14.3 8.9 18.4 17.6 66.1 67.7 35.1 66.2 13.9 1.1 85 5.2 8.3
Chaves - PA 0.3235 74.4 69.4 16.1 4.1 8.1 45.4 83.3 60.3 82.3 19.7 62.8 8.4 0.3 90 6.5 2
Fonte: Elaboração própria com base nos resultados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na Teoria do Capital Humano, esta pesquisa propõe uma ampliação das
adicionando outras que representem de forma mais acurada o desempenho dos estudantes e a
qualidade docente. Esta proposta surge a partir da constatação de pontos importantes a serem
levados em consideração para que se produza um real retrato da situação educacional dos
municípios brasileiros. Se dados como o IDHM são levados em consideração para indicar o
imprescindível que ele reflita a realidade e sintetize âmbitos importantes, como a qualidade
Diante disso, este trabalhou apresenta, calcula e discute uma proposta de adequação ao
tenham condições de comparar os resultados aqui alcançados com outras propostas, este
estudos mais detalhados sobre o tema. Portanto, sugere-se para trabalhos futuros a
incorporação de novas variáveis que possam mensurar não apenas a dimensão de acesso ao
conhecimento, mas também que possam representar a realidade das outras dimensões do
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EFEITOS DO INVESTIMENTO DIRETO EM EDUCAÇÃO SOBRE A
PRODUTIVIDADE DO TRABALHADOR BRASILEIRO - 2002-2014: ANÁLISE
BASEADA EM MODELOS MULTINÍVEL
Email: godoiyuri@gmail.com
Email: jelima@ufv.br
EFEITOS DO INVESTIMENTO DIRETO EM EDUCAÇÃO SOBRE A
de modelos multinível para as estimações, este modelo considera variáveis explicativas com
níveis distintos, o que torna as estimações mais robustas, para este trabalho trabalhou-se com
variância.
Abstract: This papaer investigates the relationship between direct investment in education
decomposed in its various levels (basic education and higher education) and Brazilian
worker productivity for the period 2002-2014, using a measure of human capital based on
microeconomic data. A contribution of this article is the use of multilevel models for the
estimations, this model considers explanatory variables with different levels, which makes
the estimations more robust, for this work was worked with macroeconomic variables (direct
investment in education) and microeconomic variables (data Individuals). The results show
that direct investment in education in the period from 2002 to 2014 has a significant share
1.Introdução:
educacional, grande parte destas mediadas foram orientadas por organismos unilaterais
como o Banco Mundial (BM), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
(OCDE). Estudos como os de Lima (2003), Sguissardi (2000), Leher (1998), Coragio (2003),
reforma educacional brasileira ocorrida nos anos de 1990, e identificaram que nesta década
Em seu estudo Helena Altmann (2002), estudou as propostas do Banco Mundial para
medidas orientadas pelo organismo internacional eram: maior ênfase na educação básica, a
resposta do governo brasileiro a maior ênfase a educação básica, foi criado o Fundo de
formado por vários impostos, e o seu objetivo era melhorar a remuneração dos professores
educação básica.
como resposta do governo uma maior responsabilização das instituições escolares pelo
uma maior racionalização dos gastos, entre eles, incentivos a captação de recursos via
centralização dos sistemas de avaliação teve como objetivo fixar padrões de desempenho e
induzir aos resultados esperados pelas escolas e alunos, foram implantados os seguintes
Nacional do Ensino Médio (ENEM), em 1998; Exame Nacional dos Cursos (ENC), em
1995.
modificação sobre as legislações escolares o controle passa a não ser mais exercido por
exemplo sobre o currículo mínimo, mais nos resultados adquiridos nos processos de
avaliação.
Lula, observou-se pouca variação do investimento público sobre a educação, de acordo com
dados do Banco Central o investimento global do estado brasileiro com educação para a
década de 2000 teve um acréscimo de apenas 1,2% do PIB em uma década. Analisando o
investimento para o ensino superior para o período entre 1989 e 2006 os investimentos da
médio (PL 6840/2013) que pode interferir sobre a formação do capital humano brasileiro,
pois exerce mudanças significativas nos currículos, como por exemplo escolha de áreas
especificas de estudo e integralização do ensino. Outra media que vem sendo discutida que
Constitucional (PEC 55/2016) no qual visa um congelamento dos gastos primários á nível
Visto todas estas mudanças que ocorreram e vem ocorrendo no sistema educacional
brasileiro é necessário se fazer uma análise de como o investimento sobre a educação irá
importância fazer uma análise de como investir recursos escassos de forma mais eficiente
possível.
Estudos como o de Topel (1999), Krueger e Lindahl (2001) e Langel e Topel (2006),
problema ocorre ao fato de que a educação não influencia somente as condições de vida dos
que a adquirem diretamente (efeitos privados da educação), mas também podem gerar
pelo ponto de vista privado a educação gera aumentos salariais via aumentos de
de vida, gerando assim um impacto sobre a pobreza no futuro. Acredita-se também que as
externalidades geradas pela educação podem gerar efeitos ainda mais significativos do que
Este artigo tem como objetivo analisar a relação entre o investimento público e a
a equação Minceriana.
2.Metodologia
nos últimos anos, em estudos de análise qualitativa. Diaz (2007) comenta que o crescimento
da utilização desta metodologia é devido a uma maior necessidade das ciências sociais em
aprofundar tanto a sua abordagem teórica como a metodologia utilizada, visando assim
suas características.
Almeida (2012) define que no modelo clássico de regressão linear é aceito como
pressuposto que os coeficientes das variáveis explicativas são fixos, pressupondo que haja
estabilidade nas relações estimadas por eles. O problema é que em muitos fenômenos
estudados isto pode gerar uma limitação, pois se admite que os coeficientes são fixos quando
padrão nos modelos estimados diretamente pelo método dos Mínimos Quadrados Ordinários
(MQO).
possuem como característica assumir que variável dependente é afetada por variáveis
indivíduo está inserido (agregado). Outra característica do modelo é que cada nível pode
Queirós e César (2000) afirmam que nestas condições os modelos multinível oferecerem três
vantagens de estudo: (i) a metodologia permite estimativas mais robustas para os parâmetros
do modelo, devido ao controle das características do grupo mais numeroso sobre inferências
realizadas para a amostra total; (ii) permite avaliar os efeitos sobre as variáveis de diferentes
indivíduos e os respectivos grupos; (iii) permite a separação dos componentes das variâncias
de acordo com o nível de cada variável explicativa, o que torna as estimativas do erro padrão
mais rigorosas nos modelos multínivel do que nos modelos estimados por OLS. Ferrão et
alii (2002) comentam que a separação das variáveis explicativas em níveis distintos permite
1
A presente formalização é baseada no livro: Economia Espacial Aplicada; Almeida (2012).
Seja o modelo no primeiro nível:
explicativas no segundo nível, o modelo geral no primeiro nível assume a seguinte forma:
𝑦𝑖𝑗 = 𝜇00 + ∑𝑝ℎ=1 𝜇ℎ0 𝑋ℎ𝑖𝑗 + ∑𝑞𝑘=1 𝜇0𝑘 𝑅𝑘𝑗 + ∑𝑞𝑘=1 ∑𝑝ℎ=1 𝜇ℎ𝑘 𝑅𝑘𝑗 𝑋ℎ𝑖𝑗 + 𝑣0𝑗 +
(6)
∑𝑝ℎ=1 𝑣ℎ𝑗 𝑋ℎ𝑖𝑗 + 𝜀𝑖𝑗
Nota-se que se obtêm os efeitos de cada 𝑋 e 𝑅, bem como os efeitos das variáveis de
podem ser estimados via matriz de variância-covariância, mas se todos os coeficientes forem
fixos diretamente.
A principal fonte de dados utilizada para a análise empírica deste artigo é a Pesquisa
PNAD tem como objetivo, investigar anualmente características gerais da população como
construídas a partir das variáveis encontradas na PNAD 2002-2014, sendo que algumas delas
2
O ano de 2010 não foi efetuado a PNAD, logo não está inclusa no modelo.
3
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
4
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
foram diretamente incluídas para a estimação, e outras foram obtidas por meio de criação de
variáveis dummies ou utilização de proxies, a variável experiência foi criada a partir de uma
proxy definida por formula5. Como a variável dependente é derivada do salário, foi utilizado
um deflator6.
Como os dados da PNAD não são contínuos foi necessário a criação de um pseudo-
painel, foi utilizado para a criação dos coortes as seguintes variáveis: raça, educação pública,
sindicato e sexo, após a criação dos coortes o modelo ficou com 192 observações finais.
3. Modelo e Resultados
Este modelo é utilizado devido sua característica de existir correlação entre efeitos
das variáveis omitidas que variam entre os indivíduos e permanecem constantes ao longo do
tempo. Para isto, supõe que o intercepto varia de um indivíduo para o outro, mais se mantem
5
A variável experiência é definida como: E = (idade) – (anos de estudo) – 6.
6
Ver Corseuil e Foguel (2002).
constante ao longo do tempo, em contraponto que os parâmetros são constantes para todos
onde 𝛼𝑖 representa interceptos a serem estimados para cada indivíduo. Como os parâmetros
comportamentais entre os indivíduos serão captadas pelo intercepto, desde modo, 𝛼𝑖 pode
O modelo Hierárquico Nulo7, é o modelo multinível mais simples existente, ele não
variabilidade nos dados entre os termos de resíduo individual e de grupo. Temos que a
normalmente distribuído com média zero e variância constato 𝜎². O intercepto de cada
observação individual é afetado por um efeito fixo de grupo, que pode ser definido por um
7
Para maiores informações consultar Raudenbush e Bryk (2002) e Queirós e César (2000).
O modelo completo é definido substituindo (9) em (10):
𝜏00
𝜌= (12)
(𝜏00 + 𝜎 2 )
educação). Ou seja, o modelo revelou que o peso dos fatores de investimento total
individuais, é significativo, isto nos indica que a estimação por modelos hierárquicos é
apropriada.
explicativas no nível 1)
dos indivíduos, mas apenas o termo de intercepto varia entre os anos de investimento, ou
8
A participação das variâncias é calculada a partir do coeficiente de correlação que é definido por: 𝑟 =
2
𝜎𝑣0
𝜎𝑣0 +𝜎ℰ2
2
𝛽𝑛𝑗 = 𝛾𝑛0 , 𝑛 > 0 (15)
ln_𝑠𝑎𝑙𝑖 = 𝛾00 + 𝛾10 𝑒𝑠𝑐 + 𝛾20 𝑠𝑖𝑛𝑑 + 𝛾30 𝑒𝑛𝑠_𝑝𝑢𝑏 + 𝛾40 𝑛𝑒𝑔𝑟𝑜 + 𝛾50 𝑠𝑒𝑥𝑜
(16)
+ 𝛾60 𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎 + 𝛾70 𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎2 + 𝑢0𝑗 + 𝑟𝑖𝑗
equação nível um é dada por (13), e os termos de inclinação são dados por (15). Já o termo
ln_𝑠𝑎𝑙𝑖 = 𝛾00 + 𝛾01 𝑖𝑛𝑣_𝑡𝑜𝑡 + 𝛾02 𝑖𝑛𝑣_𝑏𝑎𝑠 + 𝛾03 𝑖𝑛𝑣_𝑖𝑛𝑓 + 𝛾04 𝑖𝑛𝑣_𝑓𝑢𝑛1
A inclusão das variáveis explicativas de nível dois9 não afetou a variância entre os
9
Comparando com o Modelo 4: Incluindo as Características dos indivíduos.
653,23%. A inclusão das variáveis de nível dois pouco afetou os coeficientes de significância
significativa o modelo.
independentes está de acordo com o abordado pela literatura, a variável ensino público é a
única que apresentou resultados contraditórios, este resultado possivelmente ocorreu devido
a introdução de coortes na amostra, o que gerou um viés nesta variável. Os indivíduos que
possuem maior salário (produtividade) são os que possuem maior escolaridade, são
sindicalizados, são homens e possuem mais anos de experiência. Por outro lado, os
indivíduos que possuem menor salário são negros, mulheres, sendo destes, ser do sexo
A relação entre a renda individual e maior escolaridade pode ser explicada pela teoria
do Capital Humano de Mincer (1974) como já foi abordado neste trabalho. Portanto quanto
maior a escolaridade do indivíduo maiores são as probabilidades de ser mais produtivo o que
tem como consequência um maior salário, além disto a literatura vem demonstrando que um
recorrente em trabalhos desta espécie, Menezes e Rodrigues (2009) demonstram esta relação
sindicalizado se deve ao maior poder de negociação que os mesmos possuem, pois como a
10
Ver livro Handbook of regional and urban economics, Moretti, E. (2004).
impacto nos empregadores como por exemplo a organização de greves trabalhistas, assim
no Brasil, exames como o Enem demonstram que os estudantes da rede pública possuem
resultados inferiores aos da rede privada, isto indica que mesmo com o aumento do
necessário uma gestão mais eficiente destes recursos voltados para educação, para assim ter
Os resultados de raça e sexo estão de acordo com o abordado pela literatura, estudos
como o de Soares (2000) demonstram está relação, pessoas negras e (ou) do sexo feminino
qualificações sendo brancos e (ou) homens. Estes resultados demonstram que o investimento
em educação deve ser muito além de se melhorar a qualidade do ensino via investimento
grupos descriminados.
Indivíduos com mais anos de experiência tendem a ter salários mais elevados, cabe
11
Refere-se a educação até o 2º grau completo.
envelhecimento das pessoas a produtividade tende a cair mesmo com mais anos de
Analisando as variáveis de nível dois, pode-se observar que somente três foram
resultado pode ter ocorrido devido ao baixo grau de escolaridade da população brasileira,
educação gera um retorno salarial elevado, isto demonstra que o aumento do investimento
em educação nos últimos anos tem sido efetivo na melhora da qualidade de vida12 das
elevado nos últimos anos, foi implantado critérios de avaliação mais rigorosos como já foi
cerca de 34,91% da variância total no modelo hierárquico nulo sem nenhum controle por
4.Conclusão
A principal conclusão que se pode obter deste estudo é verificar que o aumento do
investimento direto em educação nas últimas décadas no Brasil vem surtindo efeitos
12
Referindo-se a maior renda da população.
positivos para a população, ou seja, mesmo com todas as ineficiências conhecidas no país,
ainda assim existe um retorno positivo, pode-se verificar via Teoria do Capital Humano,
modelos hierárquicos, a introdução de variáveis com níveis mais agregados demonstrou uma
parcela significativa da variância total do modelo, o que torna a metodologia viável para este
tipo de análise. O interessante de se utilizar esta espécie de modelo é observar como medidas
consegue mensurar.
observar que os grupos descriminados (mulheres e/ou negros) ainda possuem salários
inferiores ao de indivíduos que possuem características semelhantes e não são destes grupos,
logo é necessário além dos investimentos diretos, políticas de inclusão social, assim é
Este artigo faz uma análise mais simplória sobre a teoria do capital humano, a partir
da metodologia usada pode-se utilizar equações mais complexas com análises mais amplas,
por exemplo, a introdução de variáveis que controlem o aumento real do salário mínimo que
o Brasil teve nos últimos anos, a partir do momento que os modelos multíniveis se
demonstram válidos para este tipo de análise, que é o objetivo deste trabalho, assim para
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EFICIÊNCIA DAS UNIDADES DO CEFET/MG:
UMA AVALIAÇÃO POR DATA ENVELOPMENT ANALYSIS
ABSTRACT: The professional, scientific and technological education it is a relevant public policy in
Brazil, since it aims to prepare students to work in sectors that need some specialized labor. In this
context, this article evaluated the efficiency of nine units of the Federal Center for Technological
Education of Minas Gerais (CEFET/MG) in 2015. According to the afore mentionated purpose the Data
Envelopment Analysis (DEA) models were used. As the model inputs were considered: the student’s
average number per class and the indicator of teacher training adequation. In the other hand, the choiced
output was: an index called by ID-CEFET/MG, which added the approval rate and the average student’s
grade in the ENEM exam. It was found that only two CEFET/MG units were globally efficient; that
shows on average, that the ID_CEFET/MG could be increased by up to 15.0%, without increasing the
inputs, and those inefficient units, for the most part, operated below the optimal scale. The results
obtained are quite useful since it is possible to identify realistic benchmarks and performance targets for
inefficient CEFET/MG units. In addition, the method used can be applied by another one institutions in
order to improve their applied resources management in vocational, scientific and technological
education.
Constituição Federal brasileira prevê que a educação é um direito de todos e dever do Estado
política de Estado de grande relevância para o país (PACHECO, 2008), já que tem como
finalidade, sobretudo, preparar alunos com conhecimentos diferenciados para atuar em setores
de ponta da economia, onde sobram vagas por falta de mão de obra qualificada (TCU, 2013).
Tecnológica foi o propósito dos estudos desenvolvidos por Ramos e Ferreira (2007), Almeida
e Almeida Filho (2014) e Furtado e Campos (2015). Em comum, estas investigações mediram
eficiência, dificulta a identificação de benchmarks realistas (COOK; TONE; ZHU, 2014). Por
isso, este trabalho adota uma perspectiva diferente, pois tem por objetivo avaliar a eficiência
das unidades de uma mesma instituição: o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (CEFET/MG). Para isso, são utilizados modelos de Análise Envoltória de Dados (Data
Envelopment Analysis – DEA), a técnica mais empregada em pesquisas sobre eficiência em
Além desta introdução, este artigo contém mais quatro sessões. A segunda discute a
técnica DEA. Na terceira são detalhados os métodos de pesquisa. Na seção quatro discutem-se
transformar um vetor de inputs x n xn1 ,..., xnp p em um vetor de outputs
y n yn1 ,..., ynp q . Assim, define-se o conjunto de possibilidades de produção, que é
Embora não seja observável, a técnica DEA, por meio de programação linear,
calcula a estimativa , dada pela Equação (1), ao definir o menor subconjunto do espaço
p x q xn , yn
que contém os dados e que satisfaça às propriedades de livre descarte de
inputs e outputs, convexidade do conjunto de possibilidades de produção e retornos de escala,
que podem constantes (RCE) ou variáveis (RVE) (BOGETOFT; OTTO, 2010):
^
pq
N N
x, y n N : x n xn , y n y n (1)
n 1 n 1
onde:
N
N RCE N
n livre
(2)
n1
N
N RVE N n 1 (3)
n1
Os modelos DEA podem ser orientados a inputs, quando o propósito é reduzir os
inputs, mantendo-se constante os outputs, ou orientados a outputs, quando se almeja aumentar
os outputs, mantidos fixos os inputs. Em se tratando de modelos orientados a outputs, os quais
^
serão utilizados neste trabalho, o escore de eficiência da DMU 0, 0 0 1 , é dado por:
^
0 max
,1 ,...,N
N
x0i n xni , i
n1
N (4)
y0 j n ynj , i
n1
N
escala é a eficiência técnica global, enquanto que aquele obtido sob a pressuposição de
retornos variáveis de escala é a eficiência técnica pura. A razão entre essas medidas fornece a
output, e orientação a outputs. Nela são representadas as fronteiras eficientes calculadas pela
DEA sob os pressupostos de retornos constantes de escala (RCE), à qual pertence a DMU C, e
contém uma parte com retornos não decrescentes de escala (de A a C) e outra com retornos
não crescentes de escala (de C a E). Tem-se que a DMU P não pertence àquelas fronteiras,
portanto, é ineficiente. Para sê-lo, P deve perseguir o alvo Pv ou Pc, dependendo do tipo de
é a distância PPc. Por outro lado, sob a pressuposição de retornos variáveis de escala, a
ineficiência técnica pura de P é a distância PPv. A diferença entre essas ineficiências técnicas,
Se a eficiência de escala for igual a um, então a DMU estará operando com retornos
constantes de escala, mas se for menor que um, poderá ocorrer retornos crescentes ou
decrescentes de escala (BANKER; CHARNES; COOPER, 1984). Ou seja, a eficiência de
escala não identifica o tipo de retorno de escala que uma DMU está operando. Para fazê-lo,
para todas as soluções ótimas da Equação (4), descrita anteriormente, devem-se verificar
condições a seguir (BANKER et al., 2004):
N
Os retornos de escala serão crescentes se, e somente se
n 1
n 1 ;
n 1 ;
n1
N
Os retornos de escala serão constantes se, e somente se,
n 1
n 1 .
3 MÉTODOS
Esta pesquisa é uma avaliação ex post, do tipo cross section, com abordagem
descritiva e que emprega método quantitativo de análise. São considerados os dados mais
recentes do CEFET/MG, referentes ao ano de 2015, os quais foram coletados no sítio do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Foram admitidas como DMUs as nove unidades do CEFET/MG, localizadas nos
profissional técnica de nível médio, nas modalidades integrada, com concomitância externa
e/ou subsequente. Em 2015, 1.108 alunos estavam matriculados no 3º ano do Ensino Médio
daquelas unidades, sendo que 1.060, equivalente a 95,7% do total, realizaram o Exame
Definidas as DMUs, passou-se à escolha dos inputs e outputs, que é uma etapa
fundamental em DEA, pois os escores de eficiência são diretamente influenciados por essas
eficiência em educação não há um consenso quais sobre inputs e outputs devam ser adotados.
Isso é ilustrado no Quadro 1, que mostra os inputs e outputs utilizados em trabalhos que
Científica Tecnológica:
estão associados aos gastos por aluno e à quantidade e qualidade do corpo docente enquanto
ENEM, são extraídos do Relatório de Análise dos Indicadores de Gestão das Instituições
de Contas da União (TCU). Porém, como esse documento disponibiliza somente dados
agregados por instituição, não é possível realizar o detalhamento por unidade de cada
instituição, que é o propósito deste trabalho. Por isso, a partir de dados disponibilizados pelo
INEP (2017a, 2017b), referentes ao 3º ano do Ensino Médio de cada unidade do CEFET/MG,
justificativas que demonstram o alinhamento das variáveis escolhidas aos trabalhos anteriores.
Inputs
Indicador Justificativa
Quanto maior o número de alunos por turma,
1. Número médio de alunos por turma menores deverão ser as necessidades de professores
(turma) e salas de aulas e, portanto, menor deverá ser o
gasto por aluno.
Quanto maior o número de horas-aulas por dia,
2. Número médio de horas-aulas por dia maior deverá ser quantidade de professores e,
(aulas) consequentemente, maior deverá ser o gasto por
aluno.
É uma proxy da qualidade do corpo docente, pois
verifica a adequação entre a formação acadêmica do
3. Indicador de adequação da formação
docente e a(s) disciplina(s) que ele leciona. Carmo
docente (adequação)
et al. (2015) mostram que a adequação do corpo
docente influencia positivamente o desempenho dos
alunos no ENEM.
Outputs
Indicador Justificativa
1. Taxa de aprovação de Reflete o fluxo escolar; é o produto do
alunos (aprovação) processo educacional (INEP, 2017b)
2. Nota média dos alunos no É uma proxy da qualidade da educação
ENEM (ENEM) ofertada pelas escolas (INEP, 2017a)
Quadro 2: Inputs e outputs pré-selecionados
Fonte: Elaborado pelos autores
1
Disponível em: < goo.gl/LeUbb1>. Acesso em: jun. 2017.
Sendo assim, inicialmente, para cada uma das nove DMUs foram considerados três
Há que frisar que Banker et al. (2004) recomendam que o número de DMUs seja igual
a, no mínimo, três vezes o número de inputs e outputs, pois o grande número de inputs e
(COOK; TONE; ZHU, 2014). Como no caso em questão havia nove DMUs e cinco variáveis
(três inputs e dois outputs) e não era possível aumentar o número de DMUs, já que a
alternativa foi reduzir o número de variáveis. Assim, optou-se por diminuir o número de
Para definir quais variáveis deveriam ser excluídas levou-se em consideração que “[...]
para cada par de variáveis insumos e para cada par de variáveis produtos [deve-se excluir]
uma delas quando tiverem alta correlação (por exemplo, acima de 0,8)” (FERREIRA;
Análise de Componentes Principais (ACP), que tem por objetivo explicar a estrutura de
inputs. A variância total, dada pela soma dos autovetores da matriz de covariância, é 3,000. A
primeira componente principal (CP1), a que contém as informações mais relevantes dos dados
A CP1, dada pela Equação (5), pode ser entendida como sendo um vetor de pesos dos
alunos por turma (turma) e o indicador de adequação da formação docente (adequação) são as
duas variáveis mais importantes (MINGOTI, 2004) da CP1. Por isso, estas variáveis foram
valor é menor que 0,8, não foi possível excluir nenhum deles, com base no critério de
correlação entre as variáveis. Apurou-se, ainda, valor p igual a 0,133, o que revela, ao nível de
5% de significância, que a correlação entre os outputs não é significativa. Desse modo, assim
como feito em relação aos inputs, empregou-se a técnica Análise de Componentes Principais
para selecionar o output mais relevante. No entanto, na primeira componente principal, que
que impediu a exclusão de uma das variáveis pré-selecionadas, já que tinham a mesma
importância.
que varia de zero a dez e é similar ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB),
o qual foi utilizado como output em recentes trabalhos que avaliaram a eficiência de sistemas
Conforme mostrado na Equação (6), o ID_CEFET/MG, dado pelo produto entre a taxa de
aprovação e a nota média dos alunos no ENEM, assim como o IDEB, incorpora dois
dimensões, pois se uma unidade do CEFET/MG retiver seus alunos para obter melhores
sistema. Por outro lado, se uma unidade do CEFET/MG apressar a aprovação do aluno sem
Na análise dos dados adotaram-se modelos DEA orientados a outputs. Logo, foram
orientação a inputs o objetivo seria reduzi-los, mantendo-se o nível atual de output. Isso não
autonomia para organizar e distribuir as turmas e alunos sob sua responsabilidade (DE
DIRETRIZES, 1996), embora haja uma proposta de limitar o número de alunos do Ensino
Médio por sala em 35 (FEDERAL, 2011). Além disso, o Plano Nacional de Educação em
vigor estabelece como meta que todos docentes do Ensino Médio tenham formação superior
Para avaliar a eficiência das unidades do CEFET/MG foi utilizado o software Sistema
Integrado de Apoio à Decisão (SIAD), proposto por Meza et al. (2005). Os resultados obtidos
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 5 mostra os escores de eficiência, o tipo de retorno de escala, o alvo para o ID-
CEFET/MG localizadas em Belo Horizonte e Curvelo. Segundo aquele critério, o nível médio
de ineficiência foi 0,15 (1-0,85), valor que é inferior ao apurado por Almeida e Almeida Filho
incrementar o ID_CEFET/MG em até 15,0%, sem aumentar o número de alunos por turma e o
A ineficiência técnica global pode ser causada pela ineficiência técnica pura e/ou pela
eficiência técnica pura, cuja média foi 0,92. Logo, pode-se afirmar que, em média, a
ineficiência técnica global, avaliada em 15,0%, se deve mais à ineficiência técnica pura,
cotada em 8,00% (1 – 0,92) do que à ineficiência de escala, cuja média foi 7,00% (1 – 0,93).
Constata-se também que além das unidades do CEFET/MG localizadas em Belo Horizonte e
Horizonte e Curvelo apresentaram retornos constantes de escala (→), o que indica que estas
unidades, que são benckmark para si mesmas, operaram em escala ótima. Quanto às demais,
seis unidades do CEFET/MG apresentaram retornos crescentes de escala (↑) e uma (Timóteo)
teve retorno decrescente de escala (↓), o que significa que, respectivamente, operaram abaixo
conclusões de Ramos e Ferreira (2007), que constataram que os CEFETs do Brasil, entre
2003 e 2005, em geral, operaram sob retornos decrescentes de escala. É possível que essa
distinção seja consequência da diferença das variáveis empregadas nos estudos e da expansão
classificadas como ineficientes. No entanto, além do que fizeram Furtado e Campos (2015),
são expostos os alvos a serem perseguidos para que estas unidades se tornem eficientes. Deve-
se observar, os alvos revelam o custo da ineficiência, pois indicam os outputs que deveriam
Cabe destacar que embora a DEA possibilite calcular os escores de eficiência das
DMUs, essa técnica, isoladamente, não identifica os fatores que influenciam a eficiência
(COOK; TONE; ZHU, 2014). Assim, para completar a análise, apurou-se a correlação dos
escores de eficiência técnica global com variáveis não discricionárias, as quais, ao menos no
curto prazo, não podem ser controladas pelos gestores: o nível socioeconômico dos
2 Osprocedimentos para apurar os valores destas variáveis podem ser consultados nas notas técnicas
disponibilizadas pelo INEP em < http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais>. Acesso em jun. 2017.
Tabela 6 – Correlação entre os escores de eficiência técnica global e as variáveis não discrionárias
significância, que não há correlação significativa entre os escores de eficiência técnica global
dos docentes ou indicador de complexidade da gestão da escola. Por um lado, tais resultados
ampliam os obtidos por Furtado e Campos (2015), que mostraram que, em 2012, a relação de
ingressos por aluno matriculado e o índice de retenção escolar não impactaram na eficiência
dos institutos federais de educação profissional, científica e tecnológica. Por outro, contraria
as conclusões de Almeida e Almeida Filho (2014), que apuraram que, em 2011, as escolas da
rede federal mais eficientes possuíam alunos com melhores contextos socioeconômicos do
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
isso, foram utilizados modelos DEA, considerando-se como inputs o número médio de alunos
por turma e o indicador de adequação docente, ambos referentes ao 3º ano do Ensino Médio, e
como output um índice, o ID_CEFET/MG, que agrega a taxa de aprovação e a nota média dos
alunos no ENEM.
Concluiu-se que apenas as unidades do CEFET/MG localizadas em Belo Horizonte e
incrementado em até 15,0%, sem aumentar os inputs; que as unidades ineficientes, em sua
maioria, operaram abaixo da escala ótima, e que os escores de eficiência não foram
Os resultados desta pesquisa podem contribuir para aumentar a eficiência das unidades
realistas. Além disso, o método empregado pode ser utilizado por outras instituições para
Tecnológica. Por fim, sugere-se que em trabalhos futuros sejam aprimoradas as variáveis do
modelo DEA, incluindo-se, por exemplo, a taxa de empregabilidade dos concluintes dos
cursos ofertados por aquelas instituições, já estas visam, especialmente, preparar os alunos
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MUNICÍPIOS BRASILEIROS
1
Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: rodriguesalessandra19@hotmail.com.
2
Pós-Dra. Economia Aplicada pela ESALQ/USP e Professora Associada do Departamento de Economia da
URCA. E-mail: pinheiroeliane@hotmail.com.
Introdução
Desde 1970, o Brasil tem passado por uma descentralização da educação, mas
infantil e o ensino fundamental, bem como alocassem obrigatoriamente 25% de suas receitas
Anísio Teixeira (INEP, 2013a), que revelaram que 46,4% dos 50.042.448 alunos matriculados
sociedade e que não sejam ofertados pelo setor privado, em razão da inviabilidade econômica.
Assim, o Estado deve aplicar seus recursos procurando reduzir as disparidades entre os
setores da sociedade (SILVA et al., 2012). Seguindo esse pensamento, Boueri et al. (2015)
afirmaram que o acréscimo dos patamares dos serviços públicos disponibilizados pelo Estado
públicos.
Entretanto, o Índice FIRJAN de Gestão Fiscal (IFGF) para 2013, divulgado pela
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2015a), mostrou que os
ano de 2013 em comparação com o ano anterior. Esse fato repercutiu negativamente sob o
IFGF Investimento, que passou de 0,6277 (boa gestão) para 0,4319 (gestão crítica) no período
supracitado.
corroborada por Barros (2011) ao afirmar que a educação é o principal fator responsável por
Nesse contexto, a análise dos dados fornecidos pela síntese dos indicadores da PNAD
do IBGE (2013a) permite constatar que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam
resultados melhores do que os obtidos em nível nacional para a taxa de analfabetismo das
pessoas de 10 anos ou mais de idade e para a média dos anos de estudo para esse mesmo
grupo de idade, sendo que esses valores, em termos nacionais, foram respectivamente, 7,7% e
7,7 anos. Do lado extremo desse cenário, encontram-se as regiões Nordeste e Norte, que
Diante dessas considerações, fica evidente que o capital humano deve ser considerado
Nesse sentido, Machado (2008) afirmou que o financiamento de uma educação de qualidade
de estudos que abordem essa temática no âmbito de contribuir para a melhoria na qualidade
Dessa maneira, o presente trabalho busca avaliar a eficiência dos gastos públicos
Metodologia
Método analítico
A abordagem DEA utiliza uma amostra de dados observados para distintas unidades
produtoras, denominadas de DMU’s. No caso deste estudo, a DMU adotada foi o município
brasileiro em análise.
Os modelos DEA podem ser orientados a insumo ou a produto, sendo que, nos
para alcançar a fronteira de produção eficiente. Já no segundo caso, se aceita que os insumos
eficiente (FERREIRA; GOMES, 2009). Este artigo adotou a orientação produto, visto que se
verificou que esse tipo de orientação é bastante utilizado nos trabalhos que versam sobre a
eficiência dos gastos com educação, tanto na literatura internacional, como são os casos de
Aristovnik (2012), Agasisti (2014) e Rodríguez et al. (2014), quanto na literatura nacional, em
que se destacam os estudos de Faria et al.(2008), Aguiar Neto (2010) e Firmino (2013).
concernente ao modelo DEA, que passou a ser conhecido na literatura como CCR, devido as
iniciais de seus autores (Charnes, Cooper e Rhodes), ou CRS (Constant Returns to Scale).
Segundo Coelli et al. (1998), esse modelo pode ser representado por:
modelo CCR para possibilitar retornos variáveis a escala. Surgia-se, assim, o modelo BCC ou
CRV (Variable Returns to Scale), que, conforme Coelli et al. (1998), pode ser expresso por:
determinação das medidas de eficiência, para remover esses outliers, que provavelmente
Para remover essas unidades discrepantes, aplicou-se o teste sugerido por Sousa et
al.(2005). Esse teste foi elaborado a partir do método de Jackstrap, que contempla a junção de
de leverages, que mede a influência de cada DMU sobre as demais, sendo que deverão ser
excluídas as DMUs que apresentarem maior influência para não comprometer as estimações
do DEA.
Com base nos estudos de Aguiar Neto (2010), Lopes et al.(2010) e Dantas et
al.(2015), os produtos adotados neste trabalho foram: o número de professores por aluno
matriculado na rede de ensino municipal, o número de salas de aula por aluno matriculado na
ensino municipal. Já o insumo adotado, foi o gasto público por aluno matriculado na educação
Em relação à fonte dos dados, tem-se que o gasto municipal com educação básica foi
extraído das Finanças do Brasil (FINBRA) e o número de aluno matriculado por município do
Censo Escolar divulgado, respectivamente, pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN, 2013)
e pelo INEP (2013b). Os produtos, por sua vez, foram obtidos do Censo Escolar3, fornecidos
pelo INEP (2013b). Ademais, é essencial esclarecer que não foram considerados dados
referentes ao Ensino Médio, já que esse serviço fica a cargo do governo estadual.
No que diz respeito à escolha do ano do estudo, tem-se que além de se tratarem de
dados atuais, a relevância de considerar o ano de 2013 é comprovada por meio da análise dos
(IFDM) – educação. Conforme supracitado, este primeiro indicador revelou que esse ano
3
A utilização dos microdados do Censo Escolar exige uma decodificação dos mesmos. Para atender essa
exigência, o presente estudo utilizou o software SPSS 21.
registrou o pior valor do IFGF – investimentos desde 2006 – ano de início do estudo –; tanto
que 52,8% dos municípios brasileiros não investiram pelo menos 8% de sua Receita Corrente
Líquida, obtendo um conceito classificado como gestão critica (FIRJAN, 2015a). O segundo
indicador, por sua vez, apontou um avanço positivo em comparação ao ano anterior, mas
também mostrou que apenas 35,5% dos municípios obtiveram alto desenvolvimento (valores
Por último, é imprescindível citar que, para classificar os resultados conforme o PIB
per capita e as classes populacionais, foram utilizados, respectivamente, os PIB per capita
municipais para 2013 e as estimativas da população residente nos municípios brasileiros com
data de referência em 1º de julho de 2013 fornecidos pelo IBGE (2013b; 2013c). A divisão
dos municípios por quartis de PIB per capita seguiu o proposto por Zoghbi et al.(2011). Já a
análise dos resultados por classes de tamanho da população dos municípios, seguiram os
Resultados e discussão
sugerido por Sousa et al.(2005), descrito na metodologia, para identificar e remover essas
unidades discrepantes. Nesse aspecto, constatou-se que o ponto de corte é 0,000312. Isso
significa dizer que os municípios com valores maiores que tal ponto de corte devem ser
desconsiderados. Os resultados revelam que, dos 4.630 municípios brasileiros com dados
disponíveis para todas as variáveis, 384 deles se enquadram nesta situação, ou seja, obtiveram
4
Santa Gertrudes – SP, Potiraguá – BA, São Carlos – SC, Crateús – CE, Milhã – CE, Tamboril – CE, Cantagalo
– PR, Umirim – CE, São Vicente Ferrer – MA, Brejo Alegre – SP, Amontada – CE, Tarumã – SP, Morada Nova
– CE, Cedro de São João – SE, Sebastião Laranjeiras – BA, Caucaia – CE, Planalto Alegre – SC, Capitão de
Campos – PI, Cascavel – CE, Ipueiras – CE, Águas de Santa Bárbara – SP, Aquiraz – CE, Tomazina – PR,
Ingazeira – PE, Presidente Médici – MA, Santa Helena – PR, Pacatuba – CE, Paraíso do Sul – RS, Santanópolis
– BA, Colinas do Tocantins – TO, Turiaçu – MA, Coronel Sapucaia – MS, Boa Vista do Gurupi – MA, Jaboatão
dos Guararapes – PE, São Domingos – SC, Sítio do Mato – BA, Alvarenga – MG, Acaraú – CE.
valores que superaram esse ponto de corte, sendo removidos da análise. O Quadro 1A do
considerados no estudo por unidade federativa e por região brasileira. Ademais, também é
municípios brasileiros considerados nos modelos, sob a orientação produto, estão sendo
ilustradas no Gráfico 1. Esses resultados revelam que, no modelo com retornos constantes de
escala, 3.515 municípios apresentam escore de eficiência técnica abaixo de 0,25 (76,55% dos
municípios), sendo que Eunápolis – BA, Simões Filho – BA, e Cláudio – MG registram os
menores escores (iguais à zero5). Paralelamente, é interessante citar que, conforme FIRJAN
(2015b), esses municípios também registraram uma gestão crítica no que diz respeito ao IFGF
– investimento, em 2013; mais precisamente, obtiveram valores para esse índice iguais a
eficiência tão baixos confirma, segundo Silva et al.(2012), as deficiências presentes na gestão
5
As saídas do DEAP com os resultados do modelo exibiram escores iguais à zero para esses municípios. Mas, é
importante ressaltar que os resultados mostrados por esse programa consideram apenas três casas decimas após a
vírgula.
Gráfico 1 - Distribuição das frequências relativas dos municípios brasileiros, conforme
intervalos de medidas de eficiência técnica e de eficiência de escala dos gastos públicos
municipais em educação básica, em 2013.
80
76.55
55.75
54.29
60
33.54
30.05
40
21.86
12.61
10.67
20
1.37
1.31
0.83
0.68
0.28
0.15
0.07
0
E < 0,25 0,25 ≤ E <0,50 0,50 ≤ E <0,75 0,75 ≤ E <1,0 E = 1,0
CRS* VRS** Eficiência de escala
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa. Nota: * Retornos Constantes à Escala (CRS);
**Retornos Variáveis à Escala (VRS).
Por outro lado, apenas três municípios (Juti – MS, Paraú – RN, e Pescaria Brava – SC)
em Juti está em conformidade com os apresentados por Ferreira e Motta (2014), que
afirmaram que esse município se encontra em um grupo com bons resultados na gestão
financeira dos recursos educacionais. O município de Paraú, por sua vez, conseguiu atingir a
máxima eficiência utilizando apenas R$1.982,04 por aluno matriculado. Essa comparação é
mais expressiva para o município de Pescaria Brava, que contabilizou um gasto por aluno
estudo.
eficiência não está relacionada com elevados gastos públicos. Essa constatação torna-se ainda
mais evidente ao analisar os municípios brasileiros com os maiores gastos por aluno dentre os
considerados nesse estudo. Assim, embora União da Serra - RS, Douradoquara - MG,
Alvorada de Minas - MG, Uru - SP e Nova Pádua - RS tenham registrado gastos por aluno de,
respectivamente, R$59.415,47, R$33.641,25, R$26.570,05, R$24.654,66, e R$22.135,27, seus
encontra na classe de eficiência técnica entre 0,25 e 0,50, uma vez que, dos 4.592 municípios
brasileiros avaliados, 2.560 deles fazem parte dessa classe. Constata-se também, nesse
modelo, que 13 municípios conseguiram ser totalmente eficientes, ou seja, dez a mais do que
no modelo CRS estão na fronteira de retornos variáveis à escala, porém não se localizam na
fronteira de retornos constantes, que se referem aos municípios de Cajapió – MA, Gentio do
Ouro – BA, Chalé – MG, Itaverava – MG, Pocrane – MG, Maratá – RS, Relvado – RS, Santa
Tereza – RS, Alto Bela Vista – SC, e São José do Cerrito – SC. Assim, tais municípios não
têm problemas quanto ao uso excessivo de insumos, mas registram problemas concernentes à
escala utilizada de forma inadequada. Por outro lado, 1.380 municípios brasileiros (30,05%)
obtiveram escores inferiores a 0,25 no modelo com retornos variáveis à escala, sendo que
Goiandira – GO apresentou o menor escore (0,061). A esse respeito, é importante citar que tal
brasileiros estudados (4.554 municípios) têm ineficiência de escala, uma vez que obtiveram
escore de eficiência de escala inferior à unidade. Ademais, verifica-se que maior parte dos
escala, sendo que o valor unitário dos três primeiros municípios é explicado devido terem sido
6
Juti – MS, Paraú - RN, Pescaria Brava – SC, Pirapemas – MA, Estrela de Alagoas – AL, Maribondo – AL, Pão
de Açúcar – AL, Paulo Jacinto – AL, Santana do Mundaú – AL, Viçosa – AL, Conceição do Jacuípe – BA,
Elísio Medrado – BA, Filadélfia – BA, Ibicaraí – BA, Iguaí – BA, Irará – BA, Itapetinga – BA, Nordestina –
BA, Nova Soure – BA, São Félix – BA, Saubara – BA, Ubaitaba – BA, Central do Maranhão – MA, Centro do
Guilherme – MA, Fernando Falcão – MA, Itinga do Maranhão – MA, Lago do Junco – MA, Milagres do
Maranhão – MA, Olinda Nova do Maranhão – MA, Presidente Sarney – MA, Santa Luzia do Paruá – MA, São
João do Soter – MA, São Raimundo do Doca Bezerra – MA, Canhotinho – PE, Rodolfo Fernandes – RN,
Amajari – RR, Maripá de Minas – MG, e Nova Iguaçu - RJ.
plenamente eficientes nos modelos CRS e VRS, enquanto os escores de eficiência de escala
unitários dos 35 últimos municípios resultam do fato de terem registrado escores de eficiência
dos escores de eficiência padronizado dos gastos públicos municipais em educação básica nos
gastos públicos municipais em educação básica. Essa mesma interpretação pode ser replicada
também registra a maior média dos escores (0,568) em relação aos valores verificados na
correspondem a uma média de 80,6% e 65,8%. Esses resultados sinalizam que o principal
constatou que o Brasil registrava uma ineficiência de 14% para a educação. Ao comparar
esses resultados com os obtidos na literatura internacional, fica ainda mais evidente que a
conforme os quartis de PIB per capita. Essa estruturação foi inspirada na distribuição dos
municípios em quatro grupos iguais7, conforme seu PIB per capita, realizada por Zoghbi et al.
(2011). O primeiro quartil registrou um PIB per capita médio de R$5.585,40. O segundo
obteve uma média de R$ 9.652,78. No terceiro, a média foi de R$ 16.985,89. Por último, no
O Gráfico 2 exibe os escores médios de eficiência técnica com CRS, VRS e eficiência
de escala para os quatro quartis. Como é possível observar, o primeiro quartil atingiu as
médias mais elevadas dos escores entre todos os quartis, correspondendo a 0,276, 0,409 e
7
Considerou-se 1.148 municípios em cada quartil.
0,676, respectivamente, para os modelos CRS, VRS e eficiência de escala. Um exemplo de
baixo PIB per capita é Pescaria Brava – SC, mais precisamente esse município contabilizou
Cajapió - MA também conseguiram alcançar a plena eficiência com baixos PIB per capita,
uma vez que esses municípios tiveram um PIB per capita de, respectivamente R$ 4.119,85,
D’Abreu (2013), que concluíram que os municípios mais eficientes registram baixos PIB per
capita.
Gráfico 2 – Distribuição dos escores de eficiência técnica com retornos constantes à escala
(CRS) e com retornos variáveis à escala (VRS) e de eficiência de escala dos gastos públicos
municipais em educação básica, por PIB per capita, em 2013.
0.676
0.8
0.597
0.7
0.52
0.478
0.6
0.409
0.5
0.337
0.318
0.304
0.276
0.4
0.201
0.153
0.148
0.3
0.2
0.1
0
1º quartil 2º quartil 3º quartil 4º quartil
Por outro lado, como se percebe pelo Gráfico 2, as médias dos escores para os
pressupostos com retornos constantes de escala e com retornos variáveis de escala indicam
que os piores resultados encontram-se no terceiro e quarto quartis, uma vez que o terceiro
registrou uma média de 0,153 e 0,304, respectivamente, para os modelos CRS e VRS,
enquanto o quarto obteve uma média de 0,148 e 0,318, respectivamente, para os modelos
CRS e VRS. Quanto à eficiência de escala, a pior média foi registrada no quarto quartil
(0,478). Esses resultados desfavoráveis para esses grupos sinalizam, segundo Savian e
Bezerra (2013), que não necessariamente municípios com elevados PIB per capita conseguem
PIB per capita dentre os analisados no estudo foram ineficientes nos modelos CRS e VRS.
Mais exatamente, Ilha Comprida – SP, Porto Real – RJ, e Louveira – SP contabilizaram um
PIB per capita de, respectivamente, R$ 242.646,02, R$ 255.658,30, e R$ 278.145, 26, porém
não conseguiram alcançar escores superiores a 0,25 nos modelos CRS e VRS.
Outra inferência importante é que, como esperado, existe uma relação direta entre a
média dos gastos/aluno e o crescimento médio do PIB per capita. Assim, o quartil mais pobre
registrou a menor média para o gasto/aluno (R$2.962,53), ao passo que o quartil mais rico
exibiu um gasto médio por aluno matriculado bem superior, correspondendo exatamente a
R$5.449,83.
A outra forma escolhida para agregar os escores médios de eficiência dos gastos em
educação básica dos municípios brasileiros foi por classes de tamanho da população.
Seguindo os valores de corte proposto pelo IBGE (2010), dividiram-se os 4.592 municípios
Tabela 2 – Grupos de tamanho da população e total de municípios por grupo para o Brasil
CRS, o segundo grupo obteve a média mais elevada (0,207). Paralelamente, parcela
concentrava-se nesse grupo populacional. Assim, dos nove municípios eficientes, 66,67% tem
modelo VRS, observa-se que os municípios pertencentes ao primeiro grupo obtiveram a maior
média (0,366), seguindo pelo segundo grupo com uma média de 0,349. Ademais, é importante
destacar que os municípios de Paraú – RN, Juti – MS e Pescaria Brava – SC, que registraram
escores iguais à unidade nos modelos CRS e VRS, contabilizaram, respectivamente, uma
observados nos estudos de Miranda (2006) e Rocha et al. (2013) que apontaram que os
melhores resultados são obtidos por municípios com maiores tamanhos populacionais. No
entanto, ao avaliar a eficiência dos gastos em educação básica para os municípios cearenses,
Aguiar Neto (2010) mostrou que os grandes municípios apresentam os piores resultados,
0.590
0.598
0.545
0.534
0.800
0.495
0.366
0.349
0.327
0.600
0.254
0.225
0.207
0.196
0.180
0.140
0.123
0.400
0.200
0.000
Até 5.000 De 5.001 a 20.000 De 20.001 a De 100.001 a Mais de 500.000
100.000 500.000
revelam que o quinto grupo registrou a maior média para os valores dos escores (0,534). Ou
seja, a ineficiência dos municípios pertencentes a esse grupo ocorre principalmente ao uso
Considerações Finais
A análise dos resultados permitiu constatar que apenas três municípios (Juti - MS,
Paraú - RN e Pescaria Brava - SC) não apresentaram problemas quanto ao uso inadequado de
Outra inferência importante é que não necessariamente existe uma relação direta entre
eficiência e aumento dos gastos por aluno, tamanho populacional ou PIB per capita. Diante
dessas constatações, fica evidente que é fundamental os gestores públicos reverem o emprego
dos seus recursos, com o intuito de traçar estratégias que possibilitem o aperfeiçoamento dos
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Everton Bisinella1
Julcemar Bruno Zilli2
Nelton Carlos Conte3
Rodolfo Henrique Cerbaro4
RESUMO
A educação está na pauta das discussões mundiais como sendo a chave para o
desenvolvimento econômico e social dos países. Órgãos internacionais como OCDE,
CEPAL, UNESCO são unânimes quanto a sua importância. Como forma de avaliar o
ensino superior no Brasil, o INEP aplica a cada triênio o ENADE. Essa pesquisa tem como
objetivo analisar as variáveis que compõem o CPC e a variável de Formação Geral (FG)
para verificar quais delas influenciaram no desempenho dos alunos de Ciências
Econômicas no ENADE de 2015. Através do banco de dados disponibilizado no site do
INEP com o desempenho das IES foram obtidos os dados que supriram o modelo
econométrico de regressão linear múltipla utilizado na análise. Os resultados mostram que
algumas variáveis não foram significativas para o desempenho dos alunos enquanto outras
demonstraram resultados diferentes do esperado.
ABSTRACT
Education is a topic worldwide discussed as being a key for economic and social
development of countries. International institutions, such as OCDE, CEPAL, UNESCO,
are unanimous about its importance. As a way of evaluating higher learning in Brazil,
INEP applies each triennium the ENADE. This research has as a goal analysing the
variables which comprise the CPC and the General Formation (FG) variable to verify
which ones influenced the performance of the students of Economic Sciences at the 2015
ENADE. Through data obtained from INEP’s website with performances of IES, a multiple
regression econometric model was used in order to analyse the data. The results show that
some variables didn’t influence the results, while others comprised results different than
those expected.
1 Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e acadêmico do curso de
Ciências Econômicas da mesma Universidade. E-mail: evertonbisinella@gmail.com.
2 Doutor em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP). Professor da
Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: jbzilli@upf.br.
3 Mestre e Doutor em Desenvolvimento Regional – UNISC. Prof. Adjunto III da Faculdade de Ciências
Econômicas Administrativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: conte@upf.br.
4 Bacharel em Administração de Empresas e Ciências Contábeis pela Universidade de Passo Fundo (UPF),
especialista em Gestão Pública pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Mestrando em
Administração de Empresas pela Universidade de Passo Fundo (UPF). E-mail: 103893@upf.br.
1 Introdução
A preocupação mundial com o nível e qualidade da educação da população e suas
como a Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
unânime entre elas que a melhora nos níveis de educação e qualidade da mesma são
produtiva e criativa bem maior em comparação a outro que não a possui. E o benefício
trazido não se restringe ao mundo do trabalho, ele transcende o mesmo e tem papel
todo e seus reflexos para o desenvolvimento do país, são muitos os fatores que influenciam
no desempenho dos alunos, que vão desde a formação familiar, passando pelo ambiente e
contexto social do estudante, sua formação escolar e sua capacidade cognitiva. A teoria da
produção educacional elucida essa questão (HANUSHEK, 1979). Há, portanto, uma
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) aplica todo ano a prova do Exame Nacional de
Superior, segregando por grupo de cursos a cada avaliação anual. O ciclo avaliativo do
ENADE foi definido pelo artigo 33 da Portaria nº 40, de 12 de Dezembro de 2007 e cada
curso é avaliado a cada três anos. A prova serve como uma importante avaliação feita sobre
a qualidade do ensino superior no país que combinado com uma série de outras análises o
INEP calcula o Conceito Preliminar de curso (CPC), que serve de parâmetro para as
por diversas outras notas, as quais avaliam aspectos do curso e que podem ser considerados
ENADE?
desempenho dos alunos dos cursos de Ciências Econômicas no ENADE de 2015. Para
variável explicada a nota do ENADE e como variáveis explicativas as notas que compõem
2 Referencial teórico
Nações Unidas (PNUD 2017) a Agenda 2030, a qual é composta por um plano de ação
para atingir seus 17 Objetivos e suas 169 metas rumo ao desenvolvimento sustentável.
Nesse encontro foi reconhecido que para atingir esses objetivos a educação é o ponto de
das Nações Unidas (ONU, 2017), é dito que “a educação é a chave que permitirá que sejam
sociedades mais pacíficas. Wilkinson e Pickett (2010) acrescentam que países com alto
saúde. Segundo um estudo divulgado no mesmo relatório da ONU citado acima, utilizando
dados de 114 países entre 1985 e 2005, um ano a mais de educação está associado a uma
De acordo com o relatório da OCDE (2015) sobre o Brasil, nas últimas duas
em 6 anos e no tempo médio dedicado à educação, que passou de 6 para 9 anos. Porém,
observa-se no gráfico abaixo que o índice de GINI tem um valor de aproximadamente 0,5,
5 O coeficiente de GINI mede o grau de concentração de renda de determinado grupo. Seu valor é medido
de 0 a 1, sendo 0 para grupos que recebem a mesma renda e 1 para grupos onde um só membro concentra
todos os ganhos.
Desde os anos 90 a importância da educação vêm sendo discutida de forma mais
o assunto que ocorreram no período, como a conferência mundial de educação para todos,
específicos para o ensino superior, como a Conferência Mundial sobre Ensino Superior –
1998/2009 – e Declaração de Bolonha, 1999 (LIMA, 2013). Alguns pontos destacados por
Lima (2013) referentes à declaração mundial sobre a educação de 1998 merecem ser
a educação superior no país (LIMA, 2013). Para avaliar a atividade educacional superior
assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos
“Provão”, aplicado de 1996 até 2003 (BITTENCOURT et. al, 2008). O artigo 5º da Lei
criação do Indicador de Diferença de Desempenho (IDD), pois através desse indicador foi
características, o que antes não era possível, visto que não havia um método de avaliação
dos alunos quando ingressavam no curso de graduação (BITTENCOURT et. al, 2008).
lida com problemas de coleta e análise de dados não experimentais, ou seja, dados “que
tomada em um determinado ponto no tempo”. Nesse caso, a amostra consiste dos dados
Τ=a 0+ a1 F +a 2 R+a 3 I +a 4 A+ e
habilidades individuais. Para a atual pesquisa, os indicadores divulgados pelo INEP (2017)
referente ao ENADE e CPC de 2015 servem como indicadores que avaliam os insumos do
respectivos sistemas de ensino, tendo como produto final a nota do ENADE. Portanto, as
no ENADE.
Υ i=α +β1 . X+ U
Onde alpha (α) é o intercepto da função e beta (β) o parâmetro que representa a
inclinação da reta, que serão estimados com base nos valores de X, o qual representa uma
variável. O termo de erro (U) capta todos os fatores que podem influenciar no valor da
variável explicada (Y) porém que não são levados em conta pelo modelo econométrico.
3 Metodologia
descobrir a associação entre variáveis (GIL, 2002), que nesse caso trata-se de analisar quais
para a análise está disponível no site do INEP(2017) e pode ser utilizado para diversos
propósitos científicos. Segundo Diehl e Tatim (2004, p. 59) a pesquisa documental “vale-se
de materiais que ainda não receberam tratamento analítico, ou que ainda podem ser
pesquisa caracteriza-se como quantitativa por utilizar técnicas estatísticas para tratar as
informações e qualitativa pois descreve sobre a interação entre variáveis (DIEHL e TATIM,
2004).
A coleta de dados foi feita no site do INEP (2017) com o download das planilhas do
(ENADE) de 2015 disponíveis para consulta pública. Foi realizado um filtro em ambas as
planilhas para ocultar os cursos que não fossem de Ciências Econômicas. Após esse filtro,
foi criada uma terceira planilha para servir como banco de dados para a pesquisa e copiado
criação de uma terceira “aba” para conter os dados das variáveis que fossem utilizadas no
modelo. Foi realizado novamente um filtro na coluna do “código do curso” nas “abas” com
o conteúdo do CPC e do ENADE para que os dados fossem organizados na mesma ordem.
Após esse procedimento, o conteúdo que fizesse parte do modelo foi copiado para a
terceira “aba”.
Depois desses procedimentos de organização dos dados, 11 cursos tiveram que ser
retirados do modelo. Dos 191 cursos de Ciências Econômicas avaliados em 2015, 7 cursos
não fizeram parte da análise pois não haviam sido reconhecidos pelo Ministério da
Educação até 31/12/2015 e outros 4 por terem ficado sem conceito (SC) na nota do
ENADE. Portanto, a amostra dos cursos de Economia do país utilizada para a pesquisa é de
padronizada calculada pelo INEP. As únicas duas exceções são as variáveis “Sul” 6 e “pp”,
por serem variáveis Dummy elaboradas pelos autores. As variáveis ENADE, IDD, ND,
NM, NR, NO, NF, NOP, CP e ENEM, fazem parte do cálculo que compõe a nota do
Conceito Preliminar de Curso, enquanto a variável FG faz parte do cálculo que compõe a
variável: As que compõem a nota do CPC espera-se que sejam positivas pois todas elas
podem ser consideradas insumos da educação, logo, espera-se que quanto melhor a nota da
número de Concluintes Participantes (CP) a qual espera-se que seja negativa pois quanto
menos alunos participam da prova mais fácil é de conseguir um desempenho melhor para a
6 Foi escolhido utilizar a região Sul em função dos autores serem provenientes da Universidade de Passo
Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.
somente 25% da prova do ENADE é composta de questões de Formação Geral, enquanto
as outras 75% das questões são feitas sobre conteúdos específicos (CE) da profissão do
economista (BRASIL, 2017). A dummy “pp” espera-se que tenha resultado positivo no
desempenho dos alunos na nota do ENADE pois conforme Miranda e Silva (2016) os
alunos das IES públicas de Ciências Contábeis tiveram melhor desempenho no ENADE de
desempenho dos alunos de Engenharia no ENADE de 2011. Por fim, a dummy “Sul” foi
criada para verificar qual a influência da localização geográfica das IES para o
desempenho no exame.
Υ enade=α+β1.IDD+β 2.ND+β3 .NM +β4 .NR+β5.NO+β 6.NF+β7 .NOP+β8 .FG+β9 .CP+β10.PP+β11 .ENEM+β12.SUL+U
Eviews para encontrar as estimativas dos parâmetros utilizando o método dos Mínimos
Quadrados Ordinários (MQO) e o teste t para avaliar a significância dos coeficientes com
Econômicas do país, sendo 51,57% dos cursos de Instituições de Ensino públicas e 48,33%
coeficiente estimado.
quanto menor for a avaliação desse indicador, melhor seria o desempenho dos alunos no
ENADE. Esse resultado pode ser influenciado pela forma como os dados desse indicador
são obtidos que é através de questionário socioeconômico aplicado aos alunos, o qual
apresenta alternativas subjetivas para resposta. O outro coeficiente com sinal distinto do
esperado foi a dummy PP, a qual ficou com sinal negativo e é interpretada que se o curso de
Economia for de uma IES privada, a nota do ENADE tende a ser melhor. Esse resultado é
ter desempenho superior em comparação aos alunos de IE públicas. Porém, esse resultado
não se aplica em todos os casos quando análises mais específicas são feitas. Dessa forma,
pode-se inferir que no Brasil nos cursos de graduação de Ciências Econômicas há uma
Engenharias.
A variável de Formação Geral (FG) também teve seu sinal divergente do esperado.
No caso dos cursos de economia, o currículo de formação geral tem bastante influência no
desempenho dos alunos no ENADE, mesmo tendo somente 25% das questões relativas a
essas disciplinas. Porém, para interpretar esse resultado deve-se levar em conta a
também nas disciplinas do currículo específico, visto que com uma base cultural ampla e
esperado (IDD) teve o sinal esperado e sua interpretação é de que quanto maior for o valor
de 0,3174 informa que a cada acréscimo de um ponto na nota do ENADE, a nota no IDD
esperado e seu resultado demonstra que quanto mais professores com titulação de Doutor
O resultado da variável ENEM infere que quanto maior o número de alunos que
afirmar, portanto, que estudantes que ingressam através do Exame Nacional do Ensino
(variável CP) no ENADE a tendência é de que a nota do exame seja menor. Isso demonstra
que quando o conjunto de alunos participantes for pequeno, a possibilidade dos professores
e gestores dos cursos de reuni-los e realizar uma espécie de revisão das disciplinas, o que
será o desempenho dos alunos de Ciências Econômicas no ENADE.”, pois nem todos os
do curso de Ciências Econômicas. A hipótese H2, a qual infere que a localização geográfica
das IES pode influenciar no desempenho dos alunos no ENADE pode ser rejeitada ao nível
de 5% de confiança, pois após sua estimativa o resultado do teste t ficou dentro da área de
5 Considerações Finais
linear de regressão múltipla foi usado e hipóteses estabelecidas, que levaram a algumas
espera é que haja percepção de que a pesquisa específica a determinados cursos é útil em
prol de suprir informação de maior qualidade para que existam melhoras frente a forma
com que se avalia a qualidade de informação no Brasil. Testes como o ENADE são de
muita utilidade, porém há uma dificuldade de generalização dos resultados pois há muitas
trabalhar com os fatores que modificam a performance é relevante tanto para os cursos,
como para o governo e, também, para os alunos, uma vez que o objetivo de todos os
envolvidos é que se tenha um conhecimento mais adequado e se possa ter talentos cada vez
Referências
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Resumo
O objetivo do presente estudo é avaliar o impacto do ProUni sobre o desempenho acadêmico
dos alunos concluintes com bolsa integral, avaliados no Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes de 2014. A estratégia empírica baseia-se no método de propensity score matching
e nos microdados do ENADE 2014, por meio da qual foi possível mensurar os efeitos médios
de tratamento sobre tratados e observar que os beneficiários concluintes do programa
apresentam um desempenho acadêmico mais elevado, em comparação aos não bolsistas das
escolas privadas com características semelhantes. O resultado é válido quando se analisa
todos os cursos conjuntamente e quando se considera apenas os cinco cursos com maior
número de bolsistas, sendo eles, arquitetura e urbanismo, engenharia civil, educação física,
pedagogia e engenharia de produção.
Palavras-chave: Desempenho acadêmico. ProUni. ENADE.
Abstract
The objective of the present study is to evaluate the impact of ProUni on the academic
performance of the final scholarship students, evaluated the National Student Performance
Test of 2014. The empirical strategy is based on the method of propensity score matching
and in the microdata of the ENADE 2014, through which it was possible to measure the
average treatment effects on treaties and to note that the final beneficiaries participating in
the program have a higher academic performance compared to non-Fellows in private
schools with similar characteristics. The result is valid when analyzing all the courses
together and when considering only the five courses with the largest number of scholars, that
are architecture and urbanism, civil engineering, physical education, pedagogy and
production engineering.
Keywords: Academic achievement. ProUni. ENADE.
1 INTRODUÇÃO
uma melhoria da qualidade. De acordo com o site Todos Pela Educação, no Ensino Médio o
percentual de alunos que concluíram essa etapa até os 19 anos, subiu para 69,0% em 2014,
enquanto o ano anterior era de 63,7% (BRASIL, 2016a). Desta forma, houve um avanço no
sentido de que mais alunos cumprem essa trajetória escolar na idade correta.
Assim como na educação básica, há uma grande preocupação com o acesso dos
jovens, principalmente os de baixa renda, ao ensino superior. Para Amaral e Oliveira (2011),
e que planeja progredir nos estudos, mas que por escassez de oferta não encontra condições
Educação (PNE), aprovado em 2001 a meta de que 30% dos jovens de 18 a 24 anos
estivessem cursando o ensino superior no Brasil, até o final de 2010. Porém, o mesmo não
foi alcançado, a Síntese dos Indicadores Sociais de 2009 revelou que apenas 13,7% da
acesso do ensino superior é o Programa Universidade para Todos (ProUni), criado pela Lei
bolsas de estudos (integrais ou parciais) em instituições privadas, para os estudantes que não
àquelas instituições que aderirem ao programa. Para participar o aluno deve satisfazer alguns
requisitos como, por exemplo, para concorrer às bolsas integrais o candidato deve ter uma
renda familiar bruta mensal de até um salário mínimo e meio por pessoa, além de obter boa
heterogeneidade existente. Além disso, esta ampliação segundo os autores, não foi
acompanhada com aumentos na qualidade. Porém, Lira (2010) encontrou em sua pesquisa
para a Faculdade de Santo Agostinho que alunos contemplados pela bolsa do ProUni
do ProUni sobre a permanência dos alunos no ensino superior, separando os alunos entre
qualidade dos alunos não piorou após a introdução do programa, e mesmo sendo modesto,
o efeito da bolsa integral é maior que o da bolsa parcial sobre a redução da probabilidade de
evasão (BRASIL, 2009b). Também, o estudo de Bertolin e Fioreze (2016), através das
do ProUni é melhor – que tem nível socioeconômico e cultural menor – em relação aos
Nesse contexto, os estudos comprovam que há uma relação positiva entre os alunos
um incentivo ao investimento que é realizado pelo governo no ensino superior através deste
programa. Contudo, se faz necessário uma renovação de estudos acerca de toda e qualquer
importância, na visão de Belloni et al. (2001), pois é uma forma de aperfeiçoar a gestão do
Estado. Portanto, a partir do exposto este artigo propõe analisar se alunos bolsistas
Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) de 2014 superior aos que não
manter o benefício é exigido um bom rendimento (BRASIL, 2013a). Cabe destaque que, no
ano de 2016, foi realizada uma pesquisa sobre o tema de autoria de Dutra (2016) e que serviu
Para tal fim, serão considerados indivíduos com bolsa integral e utiliza-se os
superior” (BRASIL, 2013b, p. 7). Este estudo, pretende colaborar nos estudos de avaliação
de políticas públicas voltadas para melhorias ao acesso do sistema de ensino superior através
bolsistas).
comparação dos alunos, pois existem outros itens que podem impactar nesta análise, sendo
necessário isolar a influência de tais pontos por meio de variáveis que possam explicá-los.
Assim, a avaliação será realizada através do Propensity Score Matching (PSM), que encontra
no banco de dados os indivíduos que não participam do ProUni mais próximos possíveis
daqueles que participam, permitindo que seja calculado o Efeito Médio do Programa sobre
os Tratados (ATT).
2 METODOLOGIA
De acordo com o estudo de Peixoto et al. (2012) o impacto do ProUni até poderia ser
medido através de diferenças observadas entre a nota obtida pelo estudante com bolsa
integral e a nota auferida por ele na situação em que não houvesse participado, porém nesses
dois momentos não seria possível observar o sujeito, e este é um dos grandes problemas das
participação no programa. Uma solução de acordo com Rosenbaum e Rubin (1983) é medir
a diferença entre grupos de indivíduos que foram selecionados aleatoriamente para participar
ou não do programa.
ProUni com bolsa integral, definido como tratamento e 𝐷𝑖 = 0, caso tenha feito o ENADE,
representa o resultado do i-ésimo indivíduo tratado, no caso deste estudo é dado pela nota
geral no ENADE 2014 dos alunos que recebem bolsa integral. Enquanto 𝑌𝑖(0) é a nota geral
no ENADE 2014 do i-ésimo indivíduo de controle, ou seja, aquele que por algum motivo
programa são diferentes uns dos outros em vários quesitos. Uma forma de corrigir esse
problema é a utilização do método de Propensity Score Matching, ou pareamento por escore
comparados àqueles que não recebem o auxílio. Dessa forma, é necessária a construção de
tratamento e isto gera comparações diretas dos resultados dos grupos de tratamento
covariância) são muitas vezes limitados, visto que só podem ser utilizados em um número
resumo escalar das informações das covariáveis e não possui essa limitação
observacionais, para reduzir as diferenças entre grupos de tratados e não tratados. Esta
diferença entre resultados médios dos grupos de tratamento e controle. Este método pode ser
executado através de uma única variável de controle, o escore de propensão, que é definido
como a probabilidade condicional de participação no programa de um indivíduo i a um vetor
observáveis dos grupos de tratamento e controle. De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983)
o efeito médio do programa sobre os beneficiados (ATT), equação (2), pode ser reescrita
como:
programa pode ser tendenciosa. Conforme explica Becker e Ichino (2002), o viés de fatores
aleatória, caso contrário serão apenas reduzidos. Assim, o controle é o mais próximo possível
Existem diferentes métodos de matching que podem ser usados para atribuir
resultados, mas o estudo de Becker e Ichino (2002) explica que a consideração conjunta das
técnicas pode oferecer um método para avaliar se as estimativas são robustas. Desse modo,
no presente trabalho, utiliza-se três técnicas visando uma estimativa robusta do possível
efeito dos tratamentos. Através das definições destes autores, as técnicas de correspondência
i) Vizinho mais próximo (NN): consiste em parear cada indivíduo tratado com o
controle que possua o escore de propensão mais próximo. Um problema com o NN é que a
diferença no Propensity Score para um participante e o seu vizinho mais próximo não
participante da política ainda pode ser muito alta afetando a qualidade dos controles.
ii) Kernel: todos os indivíduos tratados são pareados por uma média ponderada dos
e que em média, os indivíduos tratados e controles dentro de cada bloco, possuem os mesmos
escores de propensão. Dessa forma o ATT é a média ponderada de resultados de cada bloco,
ingressaram pelo sistema de bolsas integrais do programa (ATT) será estimado a partir da
que ingressaram sem bolsa, selecionados por suas características observáveis a partir da
Desta forma, como o objetivo é comparar os alunos da rede privada, que recebem
bolsa integral com os que não recebem nenhum tipo de bolsa, mas que tenham características
retirados da amostra, pois caso contrário os resultados do método aplicado não seriam
legítimos. Conforme Dutra (2016) explica, ao adicionar alunos que recebem outro tipo de
bolsa e são analisados como não bolsistas do ProUni tem-se um cálculo errado do efeito,
pois o desempenho deste aluno poderá ser influenciado pela bolsa que ele recebe.
ENADE 2014, por serem os mais atuais. Os cursos são definidos pelo MEC e a periodicidade
Civil, Eng. Elétrica, Eng. de Computação, Eng. de Controle e Automação, Eng. Mecânica,
Eng. Química, Eng. de Alimentos, Eng. de Produção, Eng. Ambiental, Eng. Florestal,
De acordo com Dutra (2016), utilizando apenas os concluintes pode-se separar aqueles
alunos que ao longo do curso possuíram baixo desempenho e foram excluídos do programa,
de forma que só chegaram ao final os alunos que obtiveram aprovação nas matérias
anteriores.
O modelo Probit, pelo qual o PS é calculado, deve incluir variáveis preditoras que
Desta forma, o cálculo do ATT é realizado entre estudantes que são de fato comparáveis de
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
maior quantidade de alunos que participam do programa (para obter um modelo robusto),
afinal, existe a possibilidade de uma variação deste impacto entre os cursos. Ambas as seções
balanceamento.
do ProUni e os não bolsistas. Ademais, pode-se verificar que na média as notas não são tão
elevadas, considerando que a pontuação do ENADE varia de 0 a 100, isso pode ser um
indicio da questão da qualidade de ensino em geral apontada por França e Gonçalves (2009).
Dutra (2016) aponta que antes do matching mesmo existindo uma diferença entre os
grupos, não é possível atribuir este fato ao programa. Destarte, somente é possível imputar
que está desigualdade entre as médias se deve ao programa após a realização do matching.
Por mais que as médias apresentadas na Tabela 1 tenham sido diferentes, o efeito do
programa é dado apenas pelos resultados encontrados através dos três métodos: Nearest-
Isto posto, para realizar está análise, as variáveis foram selecionadas com o intuito
recebem a bolsa e dos que não recebem. Com isso, verifica a contribuição delas para a
programa. Mesmo os indivíduos já tratados, uma probabilidade é atribuída, pois nem mesmo
Assim, tem-se na Tabela 2 a estimação do modelo Probit cuja variável dependente é uma
adequadas na definição do grupo de controle. Desta forma, ao analisar os sinais obtidos para
as variáveis que indicam se o indivíduo estudou todo o ensino médio na escola pública ou
de participação do ProUni, o mesmo ocorre para os alunos com idade até os 20 anos. Com
relação a raça, um aluno branco possui uma relação negativa com a probabilidade de
observa-se na Tabela 2, que há uma relação inversa entre os pais com ensino superior e a
chance de participar do programa. Desta forma, o aluno com pai ou mãe com nível superior
tem uma menor probabilidade de ser bolsista do ProUni. Isto aliado as variáveis de renda é
completamente compreensível, afinal, um indivíduo que os pais possuem ensino superior,
no geral, são os que possuem renda familiar mais elevada e, consequentemente, não irão se
enquadrar nos pré-requisitos do ProUni, portanto está chance se reduz. Nesse sentido,
Gaudio (2014) demonstrou que entre os bolsistas e os que não recebem o benefício, poucos
por três tipos de Matching, os resultados estão apresentados na Tabela 3, onde verifica-se
que todos os impactos são positivos e significativos. Portanto, no ano de 2014 o ProUni
apresentou efeito médio em elevar o desempenho dos alunos concluintes com bolsa integral
(NN), indica que o aumento é de 9,984 pontos em comparação com alunos não-bolsistas
modelo, já no método de Kernel esse impacto foi de 9,639 pontos, e, por fim, no método
dos alunos concluintes que possuem bolsa, o que corrobora com o Relatório da Auditoria de
2009 (BRASIL, 2009b) realizado pelo TCU que afirma que, em média, os bolsistas do
ProUni apresentaram maior desempenho que os não bolsistas. Explicam que esse resultado
é bom, pois afasta a ideia de que a concessão das bolsas iria rebaixar o nível de ensino quando
houve a implantação do ProUni. Assim também, o estudo de Gaudio (2014) encontrou que
o desempenho dos alunos bolsista é igual ou superior à nota geral obtida pelos não bolsistas,
Optou-se também por realizar uma análise individual, para verificar o impacto do
ProUni separadamente. Neste sentindo, foram escolhidos cinco cursos que participaram do
ENADE 2014, sendo eles arquitetura e urbanismo, engenharia civil, educação física,
pedagogia e engenharia de produção, pois estes dentre os demais eram os que possuíam a
maior quantidade de alunos beneficiários do programa, com isso os resultados obtidos serão
mais consistentes.
também a hipótese de que o modelo deve ser balanceado, ou seja, as observações com o
independentemente de serem tratadas ou não. Com isso, o uso de uma especificação menos
parcimoniosa é para que se obtenha uma melhor qualidade do pareamento entre os tratados
significativas, além de apresentarem sinais esperados. Caso o estudante tenha cursado todo
o ensino médio em escola pública ou pelo menos a maior parte, a possibilidade de participar
do programa aumenta para todos os cursos separadamente. Percebe-se, ainda pela Tabela 4,
que quanto maior o rendimento familiar total do aluno, menor a probabilidade de participar
o programa tem beneficiado uma parcela dos estudantes considerados de baixa renda. Como
explicado na seção anterior, este resultado é plausível, afinal, um dos requisitos para o aluno
conseguir uma bolsa integral é que tenha renda mensal familiar de até 1 salário mínimo e ½
por pessoa, assim se o rendimento aumentar, a chance de ser aluno pelo ProUni reduz.
participar do ProUni, resultado este que foi estatisticamente significativo para os cursos de
que os demais.
Ademais, para esses cursos, com exceção do curso de educação física, quanto mais
com idade entre 30 e 40 anos possuem menor chance de serem bolsistas do ProUni, este
efeito foi estatisticamente significativo. Enquanto isso, se o indivíduo não trabalha, a chance
examinados.
Esses resultados corroboram com o estudo de Dutra (2016), que ao analisar os cursos
probabilidade de participação no ProUni no ano de 2013 são a idade (quanto mais velho), se
o estudante recebe incentivo dos pais e se tem alguém na família com ensino superior, sendo
bolsa, em todos os cursos selecionados. Através do método de Kernel, um aluno com bolsa
com o aluno não participante para o curso de arquitetura e urbanismo. Para o curso de
engenharia civil em 8,630, para o curso de educação física em 12,649, para o curso de
Dessa forma, no geral, verifica-se neste estudo que o ProUni possui impacto positivo
no desempenho acadêmico dos alunos bolsistas concluintes que realizaram o ENADE 2014.
Resultado que corrobora Lira (2010), que afirma que o ATT é positivo e estatisticamente
significativo, portanto, os alunos que recebem bolsa do ProUni têm desempenho superior
4 CONCLUSÕES
A partir dos microdados do ENADE 2014, este estudo avaliou o impacto de participar
do ProUni sobre o desempenho acadêmico dos alunos concluintes com bolsa integral. Os
verificação por curso (arquitetura e urbanismo, engenharia civil, educação física, pedagogia
desempenho dos bolsistas concluintes através dos três métodos de pareamento (NN, Kernel
e Estratificado).
todos os formatos de análise são: ensino médio em escola pública, maior parte do ensino
médio em escola pública, e ser negro. Este aumento na chance de participação do ProUni
superior público para os negros ainda é falho e, assim, uma oportunidade seria o acesso a
rede privada financiada pelo governo. Ademais, um resultado importante é que os indivíduos
com menor renda são os com maior chance de participação no ProUni, visto que este é uma
das metas do programa, portanto, verifica-se que o programa tem atingido a população de
concluintes. Mas, apesar do efeito favorável encontrado neste estudo, é necessário que as
ensino, não apenas aumentando o acesso, como também a qualidade da educação básica,
pois ao verificar as médias de desempenho de todos os alunos (Tabela 1), nota-se que não
são tão elevadas, considerando que a pontuação do ENADE varia de 0 a 100. Os resultados
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O impacto de fatores evitáveis na natimortalidade brasileira: uma análise a partir de
Resumo
O objetivo deste estudo foi estimar quantitativamente o impacto dos fatores evitáveis na
ocorrências de óbito fetal. Para alcançar este propósito, foram analisados os microdados da
TOBIT. O presente trabalho traz uma análise do número de natimortos relacionado com as
características da mãe, da família e do domicílio. Foi constatado que existem fatores não
controláveis pela mãe que influenciam na probabilidade de um bebê nascer morto ou não,
Assim, o poder público deve atuar com mais afinco na promoção igualitária dos serviços
que tange a preservação das cidades, bem como gerir políticas que orientem a família no
1
Mestrando em Econometria Aplicada e Previsão pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da
Universidade de Lisboa (MEAP/ISEG-UL). flavioterto@gmail.com.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de
Pernambuco (PPGCC/UFPE). rubiana.cristovao@gmail.com.
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de
Pernambuco (PPGCC/UFPE). jaianne.albuquerque@gmail.com
4
Professor do Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal de Pernambuco.
massuero@ig.com.br
período gestacional, ampliando o acesso ao serviço de pré-natal e conscientizando a
Abstract
The aim of this study was to quantitatively estimate the impact of preventable factors on
stillbirth in order to suggest possible public policies to reduce fetal death occurrences. To
achieve this purpose, the microdata of the Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios
(PNAD) of 2014, available through the database of the Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), were analyzed using the TOBIT methodology. This paper presents an
analysis of the number of stillbirths related to the characteristics of the mother, family and
domicile. It was found that there are non-controllable factors factors by the mother that
influence the probability of a baby being born dead or not, generating an inequality of
opportunity and, consequently, a break on equity. Thus, public authorities should work
promote programs to raise public awareness about the preservation of cities, as well as
manage policies that orient the family in the gestational period, increasing the access to the
prenatal service and making the population aware of the importance of a medical
monitoring.
1 INTRODUÇÃO
saúde e à qualidade de vida das pessoas, principalmente, das mulheres (ANDRADE et al.,
2009). Especificamente no Brasil, a expectativa de vida ao nascer, nos anos 80, era de 62,5
anos e chegou, em 2015, a 75,5 anos (IBGE, 2017), graças a uma série de políticas
doenças crônicas não transmissíveis, dentre outros. Dessa forma, era esperado que esse
natimortalidade.
Embora sejam observadas, no Brasil, reduções a partir dos anos 2000 nas taxas de
mortalidade materna e de crianças mortas até cinco anos da ordem de 3% e 4,5% ao ano,
apesar de o Brasil ter programas de combate a doenças, tais como sífilis e HIV - Human
Immunodeficiency Virus.
média foi de 8,6 natimortos para cada mil nascimentos (BLENCOWE, 2016; DE BERNIS,
2016). Muitos têm enxergado o número de natimortos como uma fatalidade e quase sempre
como um quadro médico, mas o número de óbitos fetais reflete também as condições de
em diversos países. A maioria dos trabalhos no campo da medicina concorda que diversas
doenças causadas pelo ambiente podem levar um feto a óbito. Contudo, poucos trabalhos
qualquer governo.
adoção de medidas preventivas como o acompanhamento neonatal, sem falar que políticas
sociais e econômicas com o objetivo de reduzir o risco de doenças e outros agravos é um
direito de todos e dever do Estado garantido pela Constituição Federal de 1988. Diante
desse contexto, torna-se indispensável a compreensão do gestor público sobre quais fatores
diminuição das ocorrências de óbito fetal. Para modelar esse problema, o trabalho está
(ROEMER, 1996) que discutem sobre oportunidade de acesso a bens públicos e sobre o
Assim, este estudo utilizará as características da mãe para explicar fatores que
natimortalidade é provocada pela falta de acesso da mãe a serviços básicos e/ou falta de
O presente trabalho está dividido em mais quatro seções. A próxima seção aborda
da pesquisa e a discussão acerca dos mesmos. E, por fim, na quinta seção, tem-se as
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Natimortos
separação, o feto não respira e nem apresenta batimentos cardíacos, pulsações do cordão
umbilical, movimentos dos músculos de contração voluntária ou qualquer outro sinal vital
(BRASIL, 2009).
populacional, visto que ela reflete tanto as condições de saúde da mulher (ANDRADE et
al., 2009) quanto dos fatores externos a ela, muitas vezes evitáveis, que influenciam a
resultado, foi utilizado um modelo logístico que revelou a idade materna como única
variável significativa.
Por sua vez, Andrade et al. (2009) desenvolveram uma pesquisa semelhante em
uma maternidade escola e encontraram uma elevada taxa de natimortalidade, tendo, como
cooperação social de acordo com a Teoria da Justiça (RAWLS, 1971). A referida teoria
visto que a justiça como equidade serve de base para um acordo político entre cidadãos
livres e iguais que, quando fundamentado por políticas públicas e sociais, sustentam os
1992).
algo indesejado e que deve ser combatida por meio de políticas e incentivos públicos
(COUTINHO, 2009; ROCHA, 2002). Sob a ótica de que uma sociedade justa está
inatas dos indivíduos, aquelas não alteráveis, tais como etnia e gênero; e o esforço exercido
por cada pessoa. As características inatas, apesar de terem impacto na desigualdade, não
são controladas pelo indivíduo. Já o esforço depende exclusivamente dele. Dessa forma, a
desigualdade é provocada por componentes que fogem à decisão individual e que são
estão fora do controle do ser humano e, por isso, o indivíduo não pode ser
responsabilizado. A única desigualdade que pode ser considerada justa é aquela decorrente
pessoais ou as de sua moradia. Já a sua busca por um pré-natal no início da gravidez pode
ser considerada como uma questão referente ao esforço, visto que, segundo Ferraz et al.
(2015), há diversos problemas que podem ser identificados por meio de um bom pré-natal,
como a sífilis, por exemplo, que é uma doença que pode causar a morte do feto, mas que é
perfeitamente tratável.
sobre a probabilidade do seu bebê nascer morto (FERRAZ et al., 2015). Sendo assim,
desigualdades oriundas de fatores sobre os quais os indivíduos não têm controle são
injustas (RAWLS, 1971; ROEMER, 1998) e devem ser compensadas pela sociedade
(PERAGINE, 2004). Nesse caso, igualdade significa que duas mães situadas em uma
mesma posição relativa em duas distribuições distintas devem ter a mesma probabilidade
de terem seus bebês nascidos vivos. Dessa forma, qualquer fator não controlável pelo
indivíduo que provoque a morte de um bebê, fará com que esse natimorto entre na
A relação entre política de equidade e saúde deve ser vista como uma estratégia
para reduzir ou eliminar as diferenças de nível e qualidade do sistema de saúde que sejam
oriundas de fatores evitáveis e que são considerados injustos (WHITEHEAD, 1991) para
que toda a população tenha acesso ao mesmo nível e qualidade de saúde. Alguns autores,
inclusive, definem essa desigualdade injusta e evitável como iniquidade e, sendo assim,
LEON; WALT; GILSON, 2001; NUNES et al., 2001; STEPKE, 2001; WHITEHEAD,
redução das desigualdades e iniquidades na saúde, sendo este um requisito para que uma
política pública detenha o caráter social (VIANA; FAUSTO; LIMA, 2003). Diversos
al. (2012), sobre o tema natimortos, mostram que o desenvolvimento de políticas públicas
3 METODOLOGIA
PNAD de 2014, foram entrevistadas cerca de 394.819 mil pessoas nas 27 unidades
federativas do Brasil.
Quadro 01.
uma proxy para a informação não existente sobre seu nível de instrução pré-materna. As
apropriada; a mãe possuir filtro de água em casa; a renda per capita da casa e se a mãe
A PNAD não é realizada apenas com mulheres e, considerando que nem todas
tiveram bebês nascidos mortos, a maioria dos valores observados da variável dependente
(número de filhos nascidos mortos) é zero, ou seja, uma informação não interessante para
análise. Apesar disso, foram utilizadas 4.828 observações positivas e importantes para a
análise. Nesse caso, ocorre o que se chama na literatura de variável dependente censurada,
Para modelar esse tipo de dado, Tobin (1958) sugere a utilização de um modelo
Ou seja, os erros são normalmente distribuídos com média zero e variância 𝜎 2 . Este
𝑦 = 𝛽0 + 𝑥𝛽 + 𝑢, 𝑢|𝑥~𝑁(0, 𝜎 2 ) (1)
(2002), a variável latente satisfaz as hipóteses do modelo linear clássico. Em particular, ela
tem distribuição normal, homocedástica, com uma média condicional linear, isto é, y será
igual a y* quando y*>0 e y=0 quando y*≤0. Sendo assim, a densidade de y|x será igual a
𝑥𝛽 𝑥𝛽 𝑥𝛽
= 𝑃(𝑢|𝜎 < − ) = 𝛷 (− ) = 1 − 𝛷 (− ) (2)
𝜎 𝜎 𝜎
𝜇
Percebe-se que, se tem distribuição normal padrão independente de x e, portanto,
𝜎
variável latente, mas o que se deseja é explicar y. Portanto, para encontrar o valor esperado
𝑥𝑖 𝛽
𝐸 (𝑦|𝑥) = 𝑃(𝑦 > 0|𝑥). 𝐸 (𝑦|𝑦 > 0, 𝑥) = 𝛷 ( ) . 𝐸(𝑦|𝑦 > 0, 𝑥) (5)
𝜎
𝑥𝛽
Onde, a 𝐸(𝑦|𝑦 > 0, 𝑥) = 𝑥𝛽 + 𝜎𝜆( 𝜎 ).
A equação (5) mostra que o valor esperado de y condicional a y>0 é igual a xβ mais
𝑥𝛽
um termo estritamente positivo, que é σ vezes a razão inversa de Mills avaliada em .
𝜎
Essa equação também mostra porque o uso de MQO somente para observações nas quais
y>0 nem sempre estimará um β consistente. Portanto, os efeitos parciais serão calculados
𝛿𝐸(𝑦>0 ,𝑥) 𝑥𝛽
= 𝛽𝑗 + 𝛽𝑗 . 𝑑𝜆/𝑑𝑐( 𝜎 ) (6)
𝛿𝑥𝑖
com a probabilidade de que y>0. Outra característica importante dos modelos TOBIT é que
Dessa forma, a heterocedasticidade será tratada por estimação dos erros-padrões via
bootstrap.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
observar pelo p-valor que as variáveis são estatisticamente significativas. A variável que
estatísticas de sua não significância, por este motivo foi retirada do modelo final.
existência de poucas observações para domicílios situados na zona rural, por isto esta
variável foi retirada do modelo empírico.
a literatura. Como exemplo, basta verificar os sinais dos regressores. A variável idade,
como esperado, foi significativa, corroborando com a literatura, visto que quanto mais
idade a mãe tem, maior a probabilidade de ter um filho nascido morto, sendo esse um caso
diferenciação causada quando a mãe não pertence ao grupo base. As únicas variáveis em
que parte delas são controladas pelo indivíduo, como número de anos de estudos e saber ler
pode ser explicado pela literatura médica, que defende que um bom pré-natal reduz a
Há evidências estatísticas para acreditar que a renda per capita também tenha efeito
na probabilidade de um feto vir a óbito. Esta variável deve estar muito correlacionada à
exemplo.
esgoto, destino correto do lixo e se a residência possui filtro de água. Esta última, apesar de
não ter relação direta com o poder público, tem sua relevância causada pela ausência de
ser um grande problema para diversos países. Segundo dados do Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento - SNIS (BRASIL, 2017), nos anos de 2013 e 2014, apenas
de esgoto aumentou para 50,3%, mas, apesar desse aumento, continua não sendo um valor
Diante disso, a falta de tratamento de esgoto pode provocar diversas doenças, tais
como febre tifóide e paratifóide, shigelose, cólera, hepatite A, giardíase, dentre outras.
manejo incorreto do lixo que também provoca doenças, tais como filariose, tularemia,
peste e leptospirose (BRASIL, 2010) e que podem vir a prejudicar a vida tanto da mãe
quanto a do bebê. Os efeitos marginais na média dos dados referentes a esta pesquisa são
Delta-method
dy/dx Std. Err. z P>|z| [95% Conf. Interval]
Da mesma forma, os efeitos parciais médios (APE) são apresentados na Figura 04.
apesar da necessidade de uma boa orientação, depende da mãe. No que tange à parte não
saneamento precário.
5 CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo estimar quantitativamente o impacto dos fatores
óbito fetal. Para tanto, teve amparo na Teoria da Justiça (RALWS, 1971) e Teoria da
Justiça Distributiva (ROEMER, 1996), que discutem sobre oportunidade de acesso a bens
controláveis pela mãe que influenciam na probabilidade de um bebê nascer morto ou não,
social.
Diante disso, o poder público deve atuar na promoção igualitária dos serviços de
ampliando o acesso à educação e à informação, a fim de mostrar que tanto o Estado quanto
impostos sobre filtro de águas e gerir políticas que orientem a família no período
2010 a 2015 (IBGE, 2017) é um assunto que deve ser tratado com seriedade por parte dos
público de saúde, por parte dos governantes, contribui para a precariedade na prestação de
diariamente no Brasil, gerando, com isso, o não alcance da justiça e da equidade no setor
de saúde do País.
tais como: local de residência, no caso retirado do trabalho devido à falta de informação
outras drogas durante a gestação, dentre outras. Outro ponto interessante seria buscar
cidades vizinhas dada a sua distância. Ou seja, fazer uma análise a partir de modelos
econométricos espaciais.
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RETORNO DA EDUCAÇÃO PARA OS ESTADOS E MACRORREGIÕES
BRASILEIRAS, NO PERÍODO DE 2001 A 2015
Email: godoiyuri@gmail.com
Email: jelima@ufv.br
RETORNO DA EDUCAÇÃO PARA OS ESTADOS E MACRORREGIÕES
BRASILEIRAS, NO PERÍODO DE 2001 A 2015
Resumo: Este artigo analisa a Taxa Interna de Retorno da Educação para todos os estados e
elevada taxa de retorno, além disto dado as dimensões continentais do país, existe
states and macroregions using the methodology proposed by Mincer (1974), from the
construction of a pseudopainel. It is observed that education in Brazil still has a high rate of
return, besides this given the continental dimensions of the country, there is heterogeneity in
regional que o país possui, não somente o grau de desenvolvimento é baixo, como possui
recursos. Uma das ferramentas que é utilizada para se analisar de forma mais precisa a
utilização destes recursos é o cálculo da Taxa Interna de Retorno (TIR) da educação para os
Galrão (2001) estimam o retorno da educação no campo e nas cidades, os autores encontram
uma taxa de retorno rural de 11% e urbana de 18%. Ueda e Hoffman (2002) utilizam a
mais preciso para corrigir os vieses de estimação, os mesmos encontram retornos de 9,8%.
Outros autores como Sachsida, Loureiro e Mendonça (2004) utilizando a equação de Mincer
utilizada.
Castro (1970) analisa questões como o perfil dos salários, os custos da educação e a TIR
educação era uma forma aconselhada de gerar crescimento econômico, devido o retorno da
Estudos como o de Topel (2000), Krueger e Lindahl (2000) e Langel e Topel (2006),
autores argumentam que estes efeitos são tão significativos quanto o impacto
um fator gerador de desenvolvimento pode ser utilizada como uma ferramenta para amenizar
este problema. Huitrón (2002), argumenta que para uma sociedade possuir uma economia
Estudos como o de Moura (2007) e Barbosa Filho e Pessôa (2008), demonstram que o
investimento em educação realizado nas últimas décadas não foi suficiente para suprir a
significativo nas décadas de 1970 e 1980, seria observado valores menores da TIR
atualmente.
Este artigo tem como objetivo, calcular Taxa Interna de Retorno da educação no Brasil,
em seus diferentes níveis educacionais para cada unidade federativa e macrorregião, e com
2
A metodologia utilizada pelos autores é o cálculo direto da TIR, que iguala o valor presente dos custos de um ano a
mais de educação ao valor presente dos benefícios deste ano adicional de estudo
isto identificar a evolução do investimento em educação de forma mais desagregada no país.
O artigo será organizado da seguinte forma: a primeira seção é esta introdução; na seção 2
Mincer (1970) definiu para que a renda permanente não se altere, supondo que o ensino
𝑊 ∑𝑁+𝑆+1
𝑖=𝑆+1 (1+𝑅)
−𝑖 𝑊 (1)
1= = (1 + 𝑅)−𝑆 ,
𝑤 ∑𝑁+1
𝑖=1 (1+𝑅)
−𝑖 𝑤
ln 𝑊 = ln 𝑤 + 𝛽𝑆, (2)
seguinte forma:
ln 𝑊 = ln 𝑤 + 𝛿𝑋 + 𝛽𝑆 + 𝛾1 𝐸 + 𝛾2 𝐸 2 , (3)
geralmente medida pelo tempo que o trabalhador está no mercado de trabalho3, X é um vetor
o ganho de renda no logaritmo do salário para cada ano a mais de educação do trabalhador4.
3
O cálculo é definido como: 𝐸𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 − 6 − 𝑎𝑛𝑜𝑠𝑑𝑒𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜.
4
Para uma análise mais profunda sobre as especificações da equação de Mincer, ver Heckman et alii (2006)
Um dos problemas identificados e relatados pela literatura no uso de equações
devido ao fato de que o salário é influenciado não só por características observáveis como
por exemplo anos de educação, mas também por variáveis não observáveis como habilidades
se sobre certas condições à taxa interna de retorno (TIR) da equação. Sob condições mais
gerais temos que esta relação entre o 𝛽 e a TIR da educação não é tão simples. A TIR da
educação pode ser descrita como a taxa de desconto que iguala os benefícios com os custos
de experiência. O ganho salarial de estudar mais um ano será de: 𝑊(𝑆, 𝐸) − 𝑊(𝑆 − 1, 𝐸 +
1). Os ganhos que ocorrem ao longo da vida produtiva do indivíduo, devem ser comparados
mensalidade escolar é indicado incluir o gasto do setor público por aluno, incluindo os
𝑁
𝑤(𝑆, 𝐸) − 𝑤(𝑆 − 1, 𝐸 + 1)
𝑤(𝑆 − 1,0) + 𝐶(𝑆) = ∑ (4)
(1 + 𝑅)𝐸+1
𝐸=0
adicional na escola não reduzir a vida útil do trabalhador, se o salário não se modificar com
a experiência e se o único custo de oportunidade for o tempo. Se todas estas condições forem
respeitadas a equação (4) será igual a equação (1). (Barbosa Filho e Pessôa, 2010).
2.2 VARIÁVEIS INSTRUMENTAIS NA EDUCAÇÃO:
medida na educação, o que gera estimativas subestimadas obtidas por Mínimos Quadrados
seguinte regressão:
ln 𝑊 = ln 𝑤 + 𝛽𝑆,
sera:
educação, e que seus retornos serão maiores do que dos não habilidosos, isto acarretará em
permanecer mais tempo na escola, ou seja, apresentarão maior nível de escolaridade. Logo,
os indivíduos com que possuem maior habilidade não serão uma amostra aleatória da
população, por consequência uma parte do retorno medida de estudar um ano a mais, 𝛽, será
um retorno que indica maior habilidade inata dos indivíduos mais escolarizados.
O fenômeno de auto seleção será mais intenso quanto maior a meritocracia na sociedade,
logo se houver um acesso mais amplo de oportunidades para todos os indivíduos ao sistema
educacional, o processo citado acima deve ocorrer. Ferreira e Veloso (2003) fazem uma
análise para a sociedade brasileira e identificam uma forte correlação entre escolaridade dos
pais e dos filhos, o que pode gerar distorções na sociedade, como filhos de ricos com pouca
habilidade estudarem mais que filho de pobre habilidosos, assim o viés de seleção deve ser
menos acentuado.
A literatura nas últimas décadas vem efetuando estudos significativos sobre a utilização
de Variáveis Instrumentais (VI) que fossem capazes de corrigir o problema de viés de auto
Griliches (1977), Angrist e Krueger (1991), Bound et alii (1995), Bound e Jaeger (1996),
estimado por MQO possui um viés em cerca de 10%; quando se compara estimativas
efetuadas sobre irmãos existe algum viés de habilidade positivo, porém inferior as
população com fatores observáveis, como por exemplo qualidade da escola e educação dos
pais; estimativas efetuadas com VI baseadas em intervenções sobre o sistema escolar que
geram uma mudança nas condições de oferta da educação tendem a ser 20% superiores às
de MQO.
Uma das hipóteses de se utilizar VI é que o retorno da educação deveria ser menor do
que o retorno estimado por MQO. No entanto, vários estudos analisam variações na
quantidade de educação entre as pessoas, fruto de choques exógenos nos custos da educação,
pode-se ter como exemplo, políticas públicas que definem uma obrigatoriedade de anos de
escolaridade. Card (2001) obteve estimativas contrárias a hipótese citada, isto pode ter
ocorrido devido que o problema de viés de seleção possa ser ainda maior em localidades
onde os grupos são afetados por políticas que alterem a forma exógena da oferta de educação,
portanto a decisão de estudar seja mais forte na localidade que na economia como um todo.
3.METODOLOGIA
Este viés ocorre devido a omissão de uma variável relevante no modelo, que possa
representar a habilidade ou talento do indivíduo, a omissão desta variável pode ser dar por
diversos fatores. Na literatura sobre o tema ainda não existe um consenso quanto ao modo
de mensuração desta variável. Heckman et alii. (2000) e Tobias (2003) constroem medidas
usam o QI como uma proxy da variável de habilidade, outro método comumente utilizado é
o de variáveis instrumentais. Card (2001) tem como principal crítica deste método, que a
que a mesma não se altera ao longo do tempo. Uma maneira adequada de corrigir o problema
de “viés de habilidade” se dá com a utilização de dados em painel, porém o Brasil não possui
uma pesquisa que faça o acompanhamento contínuo dos indivíduos, o que torna inviável a
Deaton (1985), destaca como ponto positivo a utilização de dados em pseudopainel sua
capacidade de avaliar tanto fatores agregados dos dados como fatores microeconômicos. Isso
se deve ao fato que esta metodologia abrange características de dados de seção cruzada como
de dados longitudinais. Além disso, o ciclo de vida pode ser observado utilizando este tipo
estudo.
estas são definidos a partir de uma ou mais características ou fenômenos que são comuns
aos indivíduos que dela farão parte. Comumente utiliza-se o período de nascimento, sexo e
raça como características homogêneas de coortes, o que diferencia uma coorte da outra.
Existem críticas quanto à possibilidade de erros de medida pela utilização de médias das
variáveis em cada coorte e em cada ano, sendo que o tamanho da coorte não é o mesmo para
Porém, como sugere Deaton (1985), se o tamanho da amostra por coorte em cada ano for
suficientemente grande, pelo teorema do limite central, os erros desse tipo não são relevantes
gera estimadores consistentes desde que alguns pressupostos sejam atendidos. Segundo
Moffit (1993), modelos lineares com efeitos fixos são adequados para estimação com dados
5
Ver: Uceli (2014).
quanto maior o número de coortes formadas (tendendo assimptóticamente a infinito),
iii. Para que o modelo seja identificado é necessário que as médias das variáveis em cada
1997);
iv. Quanto maior o número de indivíduos em cada coorte, em cada período, menor o
risco de erros de medida das médias das variáveis, que decorrem do fato de que, a
passam a ser considerados como unidades de avaliação das coortes (c) para cada período
analisado (t). Assim o modelo, de dados em pseudopainel com efeitos fixos por coorte e por
𝑖(𝑡) (7)
̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅̅
ln 𝑊 𝑖(𝑡) = ̅̅̅̅̅̅̅
𝑖(𝑡)
ln 𝑤 𝑖(𝑡) + 𝛿 ̅𝑋̅̅̅ + 𝛽𝑆̅̅̅̅𝑖(𝑡) + 𝛾1̅𝐸̅̅̅𝑖(𝑡) + 𝛾2 ̅̅̅̅̅
𝐸²
onde, 𝑖(𝑡) indica que as médias são calculadas sobre os indivíduos de cada coorte.
que o termo de erro da coorte não seja constante ao longo do tempo, o que pode causar viés
nos estimadores devido a correlação entre o termo de erro e o parâmetro de efeito fixo.
4.BASE DE DADOS
A fonte de dados utilizada para análise empírica deste artigo é a Pesquisa Nacional
estudo, como por exemplo migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, segurança alimentar,
amostra foi utilizado o deflator de Corseuil e Foguel (2002), utilizando como ano base 2015.
5.RESULTADOS
educação. A equação para o retorno da educação foi estimada com base na proposta original
de Mincer (1974).
6
No ano de 2010 não foi efetuada a pesquisa.
Tabela 1
Taxa de retorno da educação para cada nível nas macrorregiões brasileiras
Regiões/Nível de Ensino Básico Fundamental Médio Superior
Sul 0,1966852* 0,2351228* 0,2464713* 0,1020460*
Paraná 0,1713143* 0,2185400* 0,2442019* 0,0458180*
Rio Grande do Sul 0,2028590* 0,2493843* 0,2435914* 0,1378873*
Santa Catarina 0,1941857* 0,2240970* 0,2538383* 0,0914350*
Para região Sul verifica-se taxas de retorno que variam entre 24,63% e 10,20%, sendo
Rio Grande do Sul é o que possui as taxas mais elevadas, o nível educacional que possui o
maior retorno neste estado é o fundamental com uma taxa de 24,94%, o que é bastante
elevada. Outro aspecto relevante a ser observado é a taxa de retorno do ensino superior no
possui a maior taxa de retorno do ensino superior (16,09%) e o Rio de Janeiro a maior taxa
de retorno do ensino básico (29,11%), dentre todas as regiões e estados analisados. Minas
A região Nordeste possui taxas que variam entre 23,34% a 11,76%, que são do ensino
básico e superior respectivamente. Em sua grande maioria os retornos dos estados são
bastante elevados. Maranhão e Pernambuco são os estados que possuem as maiores taxas de
retorno da região, todas as suas taxas são superiores a 15%. O estado de Alagoas é o que
As taxas da região Centro Oeste variam entre 24,11% a 9,21% que são do ensino
médio e superior respectivamente. Destaca-se o Distrito Federal com uma taxa de retorno do
ensino básico de 28,02%. A Região como um todo é a que apresenta menor variabilidade
A última região analisada é a Norte, suas taxas de retorno variam entre 22,81%
(ensino médio) a 10,33% (ensino superior). O Pará é o estado que possui os retornos da
educação mais elevados, todos acima de 14%. Tocantins (6,94%), Roraima (8,84%) e Acre
(7,22%) possuem as menores taxas de retorno do ensino superior nesta região, todas
inferiores a 10,87% que é o retorno deste nível para o Brasil como um todo.
Analisando as taxas de retorno do Brasil, que variam entre 23,31% (ensino médio) a
10,88% (ensino superior), observa-se que o retorno da educação no Brasil ainda é bastante
todas as regiões e estados, uma justificativa para este resultado é que somente uma pequena
parcela da população atinge níveis superiores mais elevados, logo a maior demanda de
públicas que possam ampliar o acesso universal a educação, assim nas próximas décadas
deve-se observar uma queda nas taxas de retorno dos níveis intermediários de educação e
6.CONCLUSÃO
Com base nos resultados, foi observado que as taxas de retorno da educação no Brasil
ainda são bastante elevadas, analisando de forma regional pode-se observar que todas regiões
O Brasil recentemente aprovou o teto de gastos para os próximos vinte anos fiscais,
suma importância que os recursos sejam utilizados da maneira mais eficiente possível, com
a análise regional pode-se identificar quais as necessidades educacionais que cada estado e
região necessita, podendo assim otimizar os gastos em níveis educacionais que os mesmos
Um ponto que foi observado neste trabalho é a menor taxa de retorno do ensino
superior em relação aos demais níveis educacionais estudados, é necessário que o estado
implemente políticas públicas que garantam um maior acesso a níveis educacionais mais
considerar os demais retornos sociais da educação. Uma vez que fatores como criminalidade
Para estudos futuros além da análise regional aqui abordada, é necessário a utilização
de metodologias mais complexas, como por exemplo a utilizada por Barbosa Filho e Pessôa
(2008), pois a TIR derivado da equação minceriana pode gerar estimativas superestimadas.
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ABSTRACT
The analysis of the system of Second Slavery in the Americas starts from a comparative of
classic slavery and assumes the existence of a First Slavery with colonial aspects and to
delimit the time line that goes from the colonization of the Americas until the total abolition
in 1888 whereas Makes comparative between the modalities of slavery existing in the world
since antiquity. The aspect of evolution and adaptability of slave labor within the periods and
influence of the First Industrial Revolution and rising capitalism. With a view to evaluating
the characteristics of each type of slavery, a bibliographical survey was carried out to analyze
and compare how the slavery process took place in each of the historical moments discussed
here with a focus on the Second Slavery aspect of the century XVIII and the impacts that this
would bring to the 21st century in the socio-economic formation within the countries Brazil,
Cuba and the United States. The survey was made on the work Slavery and historical
capitalism in the nineteenth century Rafael Marquese and Ricardo Salles and analyzed with
other sources. In this way, it was possible to conceive and compare the characteristics of each
mode of slave labor throughout history and to draw the central characteristics of Second
Slavery and its social impacts to the present. The analysis reveals that the second slave system
would play a fundamental role in the formation of work analogous to slavery in the 21st
1
Acadêmico do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Amazonas –
fabiocristouea@hotmail.com.
2
Doutora em Desenvolvimento Regional – UNISC. Docente do Curso de Ciências Econômicas da Universidade
Federal do Amazonas – michelearacaty@ufam.edu.br.
century due to the process of racial segregation that is much more evident within its
characteristics and how this affects even today the central geographical points of this article.
INTRODUÇÃO
A discussão acerca da escravidão parece coisa do passado, mas por mais absurdo que
possa parecer nossa sociedade e os meios de produção ainda protagonizam esta forma de
violência. Em países específicos como Brasil, Estados Unidos e Cuba o tema tem chamado a
atenção de estudiosos que partiram de uma análise do século XIX definida como “segunda
escravidão” com características distintas ao processo escravocrata ocorrido nos séculos
anteriores.
Nosso estudo tem como ponto de partida o livro Escravidão e Capitalismo Histórico no
século XIX: Cuba, Brasil e Estados Unidos, organizado pelos autores Rafael Marquese e
Ricardo Salles que trouxeram à tona o Termo Segunda Escravidão com foco nesses três
importantes países.
Para analisarmos a escravidão no século XXI e Seus Reflexos sobre a Sociedade e os
Meios de Produção partiremos da escravidão clássica, passaremos para a “segunda
escravidão” e por fim, analisaremos o processo de escravidão no século XXI. Tais pontos
constituirão o embasamento teórico para a discussão:
“Deve‐ se acrescentar, também, que qualquer noção de Desigualdade não pode ser
senão circunstancial em parte porque estão sempre sujeitos a um incessante devir
histórico os próprios critérios diante dos quais a Desigualdade poderia ser
pressentida ou avaliada. As noções que afetam o mundo das hierarquias sociais e
políticas transfiguram‐ se, entrelaçam‐ se e desentrelaçam‐ se de acordo com os
processos históricos e sociais. [...]” (Barros, 2013).
Na atualidade o trabalho escravo ainda é evidente, porém marcado por uma legislação,
dessa forma é possível analisar os trabalhos análogos à escravidão do final do século XIX,
principalmente dentro do contexto de segunda escravidão da Revolução Industrial do mesmo
período. Assim partindo desse ponto, a escravidão tradicional difere desse conceito de
trabalho no que compete à análise da estrutura em que o trabalho se desenvolveu no período e
ainda se dá na atualidade, com formas de trabalhos análogas aquelas da segunda escravidão
do século XIX.
Para Barros (2013), a desigualdade ocorre através de três premissas básicas do
homem, que são a riqueza, o poder e o prestígio. Por muito tempo a riqueza do homem branco
dono de grandes áreas do setor agrário dentro das três colônias analisadas se dava através da
quantidade de cativos que este detinha em sua posse e isso não mudou com o advento de
diversos movimentos abolicionistas que já eram evidentes no final do século XVIII e início do
século XIX. Mesmo com a pressão da então hegemonia do Terceiro Ciclo Sistêmico de
Acumulação caracterizado por Arrigui (2013) em sua literatura O Longo Século XX, este
autor mostra como os ingleses forçaram o mundo a abolir seus escravos, porém o capitalismo
emergente dentro do período em questão forçou a evolução da pratica escravista
principalmente no novo mundo.
A américa vinha com forte crescimento agrário e isso não mudaria até o final do
século XIX, o movimento abolicionista de meados do período não surtiram efeito nos Estados
Unidos, Brasil e Cuba, o que Barros nos mostra que a desigualdade fomentada pelo Poder,
Riqueza e Prestigio causaram dentro das Plantai-os.
Ainda segundo o autor (2013), na antiguidade o prestígio de um homem não se dava
através deste tipo de controle do trabalho humano era desentrelaçam do seu poder e riqueza,
da mesma forma grandes civilizações já separavam essas óticas de domínio e poder, na era
das grandes navegações e domínio do novo mundo esse conceito sofre nova reformulação e o
prestigio, riqueza e poder passam a ser contados com o número de cativos que este possui.
Esse sistema escravo foi abalado por crises dentro do sistema, assim como insureição e
processos abolicionistas, independência e movimentos que pediam o fim do trabalho escravos
que tiveram inicio em 1791 à 1848, onde esses movimentos se intensificaram.
A primeira escravidão tinha um carater colonial com fundamentos legais e socio-
ecoômicas com origens na Europa e do mediterrâneo que tinha participação direta de duas
correntes de formação dessa mão-de-obra cativa: O tráfico oceânico, isto é, a travessia de
escravos de um continente para o outro via atlânitico através de navios negreiros. Plantation
(nome que se da as plantações em grandes latifundios nas americas com mão-de-obra escrava
nas américas) escravsta, isto é, as plantações para onde se destinava os escravos provenientes
do tráfico negreiro. Um sistema alimentava o outro, quanto maior fosse a demanda por esse
força de trabalho nas plantatios maior era o fluxo do trafico via atlântico para as américas.
A primeira escravidão foi muito bem sucedida, porém com grandes pontos de
desequilibrio e desse modo acabou por se tornar auto destrutiva, por exemplo, nas colonias
que mais cresceram seguindo esse modelo haviam pelo menos dez vezes mais escravos do
que pessoas livres e dessa formas, os sistemas colonias viviam em conflito por conta das
hostilizades dos impérios que faziam parte do enredo histórico e as brigas internas nas
colonias por parte dos comerciantes locais e funcionarios coloniais em divergencia por conta
de parter maiores dos lucros para enriquecimento pessoal. Fora o fato das colônias virarem
alvo de especulação financeira que fizeram parte do cenário desenrolado na época que
predominou.
O que levaria um declinio maior foi o processo de revoltas e rebeliões dentro das
colonias por independencia, o que colocaria um fim ao processo de primeira escravidão e
iniciando o processo da segunda escravidão como veremos a seguir.
O vale do Rio paraiba do sul no Brasil teve destaque onde viriam estabelecer as zonas
de plantações e exploração da escravidão no periodo em que a segunda escravidão esteve
vigente no territorio.
Cuba
Em Cuba o rumo foi outro, apesar de 27% da população ter sido originalmente
formada pelo tráfico negreiro através das Plantations de açucar cubanos e de tabaco, os dados
da segunda escravidão só começam a ser levantados na epoca da recente revolução cubana,
onde Fidel castro vai informar em um congresso do partido comunista de Cuba e converteria a
escravidão em leitmotiv a sua anaalise da revolução e transformou a discussão em tabu dentro
da ilha agora comunista, não há muitos dados a serem revelados segundo Marquese (2016)
sobre o real tamanho da segunda escravidão dentro daquele espaço geográfico.
O interior do Matanzas em Cuba iniciou a ponte que levaria a ocupação da população
escrava naquele país, e fora incentivado pelas Plantations de açucar no territorio cubando o
que levaria a um aumento significativo no fluxo de entrada de mão-de-obra negra proveniente
do continete africano naquela localidade.
Os questionamentos e teses levantados sobre o trabalho escravo na ilha de Cuba e a
influência que essa modalidade de força de mão-de-obra teriam sobre a formação da
etmologia do povo cubano possui poucos dados e que Marquese (2016) considera textos
apenas de uma perspectiva de fora do que documentos que são advindos de dentro da ilha. A
metodologia e análise fixam em textos apenas de um pequeno número de especialistas no
assunto que vieram a escrever, principalmente por conta da ditaduta Machadista e logo em
seguida a Revolução Cubana, com esta segunda buscaria trazer um aspecto de igualdade, mas
o arquipelogo sofreria desde 1960 e exerce uma influencia consideravel em historiadores para
além os de origem latina.
O sistema de plantations cubanos é considerado um subsistema de exploração do
trabalho e extrái em Marx as caracteriticas na formação econômico-social capitalista e
arrastou Cuba para um desemvlvimento mais retardado dentro das américas, pois logo após a
falha do sistema da segunda escravidão passaria por governos totalitarios e de repressão até
chegar a ditadura machadista o que foi diretamente responsável pelo atraso social que a ilha
deteve, ligado a isso uma revolução socialista de 1960 que trouxe o embargo econômico por
parte dos Estados Unidos como retaliação ao modelo que se instalará no país.
Marquese (2016) traz um termo no qual explica muito bem a real formação da
população cubana, aqui ele vai chamar de “burguesia escravista” que estás ligado ao modelo
de produção escravista açucareiro da ilha no período da segunda escravidão e constituiu um
subsistema na formação socioeconômico de caráter capitalista e seria impulsionado pelas
demandas do velho continente pelo principal produto de exportação cubano da época, o
açuçar. Moreno (op. Cit.) mostra em sua obra que o cresimento econômico do século XVIII
da indústria açucareira tomaria forças e a demanda por escravos cresceria e o fluxo do trafico
negreiro só viria a alimentar ainda mais o sistema.
O processo abolicionista cubano tem início entre 1870 à 1886 e estão ligados a
desintegração e a falta de sustentação do sistema muito influenciado pelos movimentos
abolicionistas do período e sem falar na influência que a Revolução Haitiana e Guerra Civil
nos Estados Unidos influenciariam o processo dentro de Cuba e em 1880 a abolição formal
dos escravos foi consolidada dentro do território.
“Toda escravidão pode ser escravidão, mas nem todas as escravidões são iguais,
econômica ou culturalmente”. (Sidney Mintz apud Marquese, 2016). Essa frase faz
consonância com o que vem sido abordado nesse artigo, apesar de ocorrer num mesmo
período de tempo nas américas, o sistema denominado segunda escravidão apresentou
caracteristicas únicas para cada colônia nos territorios aqui delineados e Cuba ganha
características notáveis, apesar dos poucos documentos que abordam o tema terem se perdido
após a Revolução de 1860.
Estados Unidos
Do sistema norte americano por outro lado há uma abundância de dados sobre a
formação da segunda escravidão dentro do território principalmente ao que conserne na sua
concepção até a guerra civil entre o Norte e o Sul. Ao passo que a escravidão a sudoeste norte
americano já vinha em grande declínio devido à queda pela demanda por tabaco, desse modo
é claro notar que os mercados de produtos agrícolas no sul demandaram ainda mais mão-de-
obra escrava e a população cativa no Sul sofreu um aumento substancial. “Quando a
Revolução Haitiana eclodiu, em 1791, muitas pessoas instruídas na Europa e na América
acreditavam que o velho modelo de escravidão havia acabado”. ( Marquese, 2016, p. 262). De
fato os custo para se obter o açucar e outros bens primário podiam aumentar gradualmente se
não houvesse essa exploração escrava, dessa forma muitos apoiaram a ideia de abolir o trafico
via atlântico para que a escravidão acabasse, mas o efeito demoraria a ocorrer e o que o
mundo viu foi o aumento sem igual do trafico naquele espaço de tempo.
O vale do Mississipe foi o local de maior chegada da mão-de-obra escrava na américa
do norte e de lá proliferou-se pelo sul dos Estados Unidos e só viria a ter um final com a
Guerra Civil e a abolição em 1863 envolvendo o Norte - Pró abolição, e o Sul – Favorável ao
sistema escravista da região.
Essa nova escravidão formada ainda dentro das plantations norte americanas traria
consequencias grandes para uma segregação racial dentro dos Estados Unidos que iriam
atravessar cerca de dois séculos, mesmo com o pós abolicionismo conquistado na guerra civil,
a situação do negro norte-americano seria tragica e a forma de trabalho evoluiria.
CONCLUSÃO
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28.
EIXO 2
Processos produtivos
alternativos e geração de
renda
A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO ALTERNATIVA PARA O
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO REGIONAL BRASILEIRO
RESUMO
Teve-se como objetivo identificar se a economia solidária pode representar uma alternativa
para o desenvolvimento regional brasileiro. Para tanto, buscou-se em Polanyi a compreensão
sobre encrustação, desencrustação, e a importância da reincrustação da economia e dos laços
sociais. Em Celso Furtado o entendimento sobre a formação econômica do Brasil, e de como
dentro do próprio território nacional existe uma relação centro-periferia (utilizando o conceito
dePrebish), onde a reprodução do capital sob a ótica da economia de mercado favoreceu
principalmente as regiões sul e sudeste e desfavoreceu regiões como a norte e nordeste,
gerando um quadro de pobreza e desigualdade, ou seja, exclusão econômica e social.E, a partir
disso, compreende-se que a economia solidária, conforme exposto por Paul Singer, Luiz
Inácio Gaiger e NoelleLechat, por se basear em princípios como o da autogestão, da
cooperação e solidariedade, da valorização dos laços sociais, e, principalmente, da não
separação do trabalhador da propriedade dos meios de produção, apresenta-se capaz de
realizar a reincrustação proposta por Polanyi, mesmo que no âmbito local ou regional, assim,
mostra-se como uma alternativa para minimizar os efeitos do desenvolvimento desigual
brasileiro e, consequentemente, para reduzir os efeitos nocivos de uma relação centro-periferia
no território nacional.
Had as objective to identify if the solidary economy may represent an alternative to regional
development. We sought in Polanyi understanding about embedded, disembedded, and the
importance of reembedded of economy and of social ties. In Celso Furtado the understanding
about the formation of Brazil and as within their own national territory there is a relationship
center-periphery (concept of Prebish), where the reproduction of capital from the perspective
of the market economy favored primarily the south and southeast regions and disfavored
regions such as the north and northeast, generating a framework of poverty and inequality,
excluding economic and social. It is understood that the solidary economy, as stated by Paul
Singer, Luiz InácioGaiger and Noelle Western Le Cheval Blanc, for it is based on principles
such as the self, of cooperation and solidarity, the appreciation of the social bonds, the non-
separation of the worker from ownership of the means of production, it is capable of
performing the reembedded proposed by Polanyi, even if at a local or regional level, shows
itself as an alternative to minimize the effects of uneven development in Brazil and
consequently to reduce the harmful effects of a relationship center-periphery within the
national territory.
INTRODUÇÃO
outra possível economia, fez-se necessário recorrer à Polanyi (2013), que em seu livro “A
forma bastante desigual, tem-se como referência basilar o economista Celso Furtado e suas
modos econômicos possuem nos dias atuais. Conforme afirma o autor, na sociedade moderna,
com o avanço e consequente predominância da economia de mercado, em sua forma mais
laços sociais), da economia, ficou cada vez mais evidente, e é motivo de preocupação.
eram os aspectos sociais que ditavam o modo econômico, e atualmente, ocorre exatamente o
inverso.
um encastramento entre os laços econômicos e o subjetivismo dos laços sociais, fato que
proporcionava a existência de uma maior pluralidade nas relações econômicas. Com o avançar
pode ser caracterizado pela dissociação entre as relações econômicas e sociais, fato que
contribuiu para a construção de uma falsa noção de que o desenvolvimento era sinônimo de
crescimento econômico, ignorando quase que totalmente o subjetivismo dos laços sociais. Já
por aspectos sociais, só assim, o autor acredita que seja possível um desenvolvimento mais
precisamente pelo crescimento econômico, e tal fato, não nasceu nos dias atuais, Celso
Furtado já havia alertado para uma formação econômica que levou a um desenvolvimento
regional desigual, e do quão importante era compreender as dinâmicas sociais para que o
percebe que as regiões norte e nordeste, esta última principalmente, apresentaram atrasos
gritantes. Já as regiões sul e sudeste, tiveram uma “atenção” especial do Estado, fato que
economista argentino Raul Prébisch, que influenciou Furtado em seu pensamento, percebe-se
que as regiões sul e sudestes podem ser consideradas como centros, e as regiões norte e
estruturalismo e pelo pensamento cepalino1, correntes que defendem que o planejamento deve
reconduzir o sistema à situação de pleno emprego e preservar tal, e deve coordenar os esforços
que ocorreu da seguinte forma: na Europa do século XVIII, houve um advento de um núcleo
desenvolvimento nas demais regiões, após certo grau de desenvolvimento na Europa, houve
pode ser estendida, de certo modo, a compreensão da formação de regiões centrais e regiões
publicado originalmente em 1959. Tal obra apresenta uma evolução histórica das regiões
brasileiras.
brasileiro, utilizam-se os seguintes autores: Furtado (1959, 1965 e 1973); Mantega (1989);
Bielschowsky (1996); Couto (2007) e Tavares (2013). Onde a partir destes, é possível
1
Referente às teorias defendidas pelos economistas ligados a Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe – Cepal.
determinadas regiões em detrimento de outras, o que possibilitou que se formasse uma relação
Raul Prebisch, precursor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe e que
entre regiões.
que os proporciona um maior valor agregado etc.) adicionam mais valor econômico em
Tal concepção de Celso Furtado vai de encontro a uma proposição de Polanyi, que
destaca que para que as sociedades convirjam para outro desenvolvimento, mais democrático,
faz-se necessário que os modelos econômicos sejam ditados por aspectos sociais, portanto, só
brasileiro, no qual expõe uma situação de fortes desigualdades entre as regiões, principalmente
sociedades modernas capitalistas, e desenvolve uma visão mais detalhada sobre qual seria um
possível primeiro passo, para que se tenha outro modelo de desenvolvimento (que seja mais
democrático), e a partir daí surge sua ideia de reincustração dos aspectos sociais na economia.
evidente a necessidade de outros modos econômicos, para que o Brasil alcance um progresso
que não seja apenas o crescimento econômico, mas sim um desenvolvimento social, que este
dite o ritmo do econômico, que seja mais democrático, e que possa ser capaz de suavizar ou
mesmo findar com as grandes desigualdades regionais que levaram à formação de uma relação
economia solidária.
METODOLOGIA
desenvolvimento capitalista moderno sobre a perspectiva de Polany, que traz uma visão mais
globalizante do processo, para que se compreenda como se deu esse tipo de desenvolvimento
no Brasil e, e como tal processo aconteceu de forma bastante desigual, fato que perdura até os
dias atuais. Para tanto, utilizou-se como plataforma teórica os estudos de Raul Prebisch e
Celso Furtado, tendo como objetivo apresentar a existência de uma relação centro-periferia
dentro do próprio território brasileiro, apontando a partir dos estudos de Furtado em que o
açucareira, começou a apresenta-se como uma região periférica quando contrastada com as
regiões sul e sudeste, no qual estas, no contexto brasileiro, podem ser consideradas como
mais democrático e igualitário, alternativas que podem ir desde a intervenção estatal na forma
produção. Como se apresenta a economia solidária, que será destacada na próxima seção, a
partir de suas as origens e conceitos, e como esta ganhou maior relevância no contexto
mundial e no Brasil,
RESULTADOS E DISCUSSÕES
relações sociais intersubjetivas, pois pressupõe a existência de uma solidariedade, que vá além
da sua forma primária (familiar), e que possui uma dinâmica que possibilita a maior
democracia e um maior senso de comércio justo, mas que principalmente, proporciona a não
reincrustação das dinâmicas sociais nas econômicas, como Polanyi compreende ser a forma
mais adequada para um outro desenvolvimento. Mas para um entendimento que permita o
alcance de forma plena do objetivo deste estudo, faz-se necessário abordar as origens e os
organizado por Cattani et al (2009), principalmente o capítulo escrito por Jean-Louis Laville e
Luiz Inácio Gaiger. Onde se apresenta o que é a economia solidária e como tal se mostra de
forma bastante plural e ampla, mas sempre girando em torno da solidariedade, contrastando
solidária, sua origem e conceitos. Desta forma, verifica-se que o surgimento da mesma
liberais na França e Inglaterra (francesa e industrial respectivamente), que não foram capazes
de atender de forma plena toda uma gama de pessoas e classes sociais,o que ocasionou
extrema desigualdade.
Fatos estes, que levaram essa parte da população excluída a uma busca de
alternativas, primeiro para sua própria subsistência, mas depois, para que se tenha um
2004 e 2008), Cattani et al (2009), Gaiger (1999), Lechat (2002) e Laville (2004), como um
Fato que fortalece os laços sociais, e faz com que estes passem a determinar a economia
se deu a partir da não capacidade, ou não vontade, do modo capitalista de produção em atender
a partir do final do século XX, quando na década de 1970, houve um desmantelamento das
bem-estar social, com o avanço da ideologia neoliberal, que provocou problemas semelhantes
liberais.
que podem ser organizadas sob a forma de cooperativas, associações, redes, entre outras, e
segue como princípios norteadores como o da autogestão, da democracia, da igualdade, da
solidariedade entre estranhos), do comércio justo, a não separação entre trabalho e propriedade
verificou-se que uma parte da população não tivera acesso ao progresso provindo de tais, tal
fato, ocasionou como consequência, uma exclusão social e econômica. Dentro deste quadro de
capitalista, não se apresentavam como viável num primeiro momento. Com o intuito de
trabalho e geração de renda, foi neste momento que se viu nas cooperativas uma oportunidade
viável e que poderia ser capaz de transformar uma realidade social, emancipando indivíduos
elaboração de modelos sociais que viriam a inspirar o cooperativismo, apesar de não tratarem
de forma objetiva a respeito do assunto, autores aqueles, vale lembrar, que foram chamados
Ainda segundo Lechat (2002), o Charles Fourier sonhava com uma sociedade que
fosse constituída com base em fazendas coletivas e agroindustriais, que operariam tendo como
produção), tinha como ideal que a sociedade se desenvolvesse com base em pequenos
produtores que seriam financiados por intermédio de um banco de trocas e que não utilizasse
da classe trabalhadora, e defende que a sociedade deveria ser organizada via colônias
dos meios de produção, a partir desse ideal, ele cria duas cooperativas, uma nos Estados
Unidos em 1825 e outra na Inglaterra em 1839. Lechat ainda faz referência à cooperativa mais
famosa em que se tem registro, a Sociedade dos Pioneiros de Rochdale, fundada em 1844, em
Manchester na Inglaterra, na forma de uma cooperativa de consumo que segui sete princípios.
comunidade.
sua essência, um caráter social e economicamente inclusivo, que tanto inspiram a economia
solidária, como outro modo alternativo ao capitalista, e que é norteada pelos princípios de
propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual, pois tais, são
capazes de reunir numa única classe os trabalhadores e proprietários de capital, que agora são
o mesmo indivíduo, não há uma separação como ocorre no modo capitalista. Fatos estes, que
outros benefícios.
Ainda segundo Paul Singer (2002, 2004 e 2008), a economia solidária, tendo como
capitalista, da qual a relação entre capital e trabalho muda drasticamente quando se compara
Solidária tal separação não existe, nega-se a separação entre a posse dos meios de produção e
o trabalho, sendo esta, inclusive, condição para que o empreendimento seja considerado como
de economia solidária (ressalta-se que no plano teórico, já que é bastante comum que
onde inclusive, pode-se considerar que há lucro, pois suas receitas não são distribuídas a partir
da proporção de cotas de capital, e todo excedente, que também são chamados de sobras, tem
a sua destinação decidida em conjunto, e que geralmente são revestidas para investimentos
(em educação, cultura, saúde, entre outros) ou são aplicadas em fundos indivisíveis para
produção que junto com outros modos de produção (como o capitalista, a produção estatal, a
produção privada sem fins lucrativos, entre outros), é parte da formação social do capitalismo,
isso porque este representa não só o maior dos modos, mas molda toda superestrutura social,
legal e institucional. Isso, não desqualifica de modo algum, a ES como modo alternativo ao
convencional, e que cresce em função de crises sociais ocasionados pelo modo de produção
vigente, como se pode verificar pelo seu grande crescimento a partir dos anos 1980, quando
atividades econômicas que possuem uma lógica distinta ao modo de produção capitalista (o
convencional), pois esta é focada na propriedade privada dos meios de produção, e esta é
separada dos trabalhadores, e o capital age no sentido a proporcionar maior acumulação, que
pode ser alcançada por meio da competição, e que por fim, age em prol de objetivos
Pode-se conceituar Economia Solidária, com base em (Laville, 2004; Singer, 2002,
2004 e 2008), como: um modo de produção alternativo ao modo capitalista, que tem como
principal influência e base operacional, o cooperativismo, e representa uma resposta às
trabalho informal e o pequeno e médio empreendedorismo (na forma das Pequenas e Médias
propícia um ambiente favorável para o fortalecimento dos laços sociais, que são bastante
solidária são organizados a partir dos seguintes princípios: autogestão, democracia, equidade,
das relações humanas. Tais serão detalhados a seguir: a) autogestão: uma forma de gestão
oportunistas.
As formas como os empreendimentos de economia solidária se organizam, possui
humanas.
sobrevivência dos trabalhadores/associados, mas também devem possuir uma visão de médio e
longo prazo, e nesta, deve-se buscar por meio da valorização das relações humanas, o
desenvolvimento humano que sirva de base para uma maior responsabilidade social.
Assim, como no mundo, a economia solidária ganhou bastante força a partir dos
país.
Por fim, é importante destacar o que seria o desenvolvimento para Celso Furtado:
comoum conjunto de atividades econômicas que se operacionalizam com uma ótica distinta à
renda justa, bem como a valorização dos laços sociais via solidariedade e reciprocidade.
Assim, a ES possibilita não somente maior valor econômico agregado, mas também
proporciona a construção de valores sociais dos sujeitos, estes não exploram uns aos outros,
vida.
verificar se o objetivo proposto neste estudo: verificar se a economia solidária pode ser uma
com base nos estudos sobre o desenvolvimento desigual ou não linear no Brasil, dos autores:
(Furtado, 1959, 1965 e 1973; Mantega, 1989; Bielschowsky, 1996; Couto, 2007; Tavares,
território nacional, onde as regiões sul e sudeste podem ser consideradas como centros, e as
estas últimas regiões (as periferias), fato que gera um quadro agudo de desigualdade, pobreza,
nacional, e que perdura até os dias atuais. Sabendo disso, a economia solidária apresenta-se
como uma alternativa viável para o desenvolvimento socioeconômico desta região periférica.
trabalho e na renda, para que se possa alcançar uma vida mais digna para os sujeitos.
forma bastante estruturada a uma série de vulnerabilidades sociais e econômicas, sendo assim,
pobreza e a desigualdade ainda perduram de forma aguda, como o norte e nordeste do país.
REFERÊNCIAS
discussão situa-se, primeiro, no debate sobre a economia popular enquanto terreno para uma
Outra Economia a partir das contribuições de Aníbal Quijano e de Jose Luis Coraggio. A
partir do tratamento da categoria economia popular, serão feitos apontamentos a partir das
Abstract: this paper seeks to bring some contributions from Latin American authors to the
debate of the decoloniality in the scope of the solidarity economy. The discussion starts with
the debate about the popular economy as a terrain for “Other Economy”, based on the
contributions of Anibal Quijano and Jose Luis Coraggio. From the discussion of the popular
economy category, we present some notes , based on the contributions of the decoloniality
of power and solidarity economy, in order to strengthen the marginal pole, as a path to an
alternative economy.
no debate sobre a economia popular enquanto terreno para esta Outra Economia a partir das
indispensável para qualquer tipo de pesquisa”. Tendo isso em mente, buscou-se levantar o
conhecimento disponível acerca da economia popular, da economia solidária e da
de que forma elas servem de contribuição para a proposta de pesquisa aqui apresentada.
Nos anos 1970, começou a ser colocada em xeque a associação das economias latino-
americanas a estruturas duais, formadas por um setor moderno e outro setor tradicional,
começam a surgir novas conceituações para aquilo que não viria a desaparecer, mas sim se
conceituações buscam salientar o papel dinâmico e heterogêneo desse setor, seu papel
A leitura de Milton Santos (2008) irá começar e orientar esse debate a partir da
conceituação dos circuitos econômicos nas cidades dos países subdesenvolvidos (Diniz,
2016, p. 49). Essa visão enfatiza que nas cidades dos países periféricos, nesse caso, na
América Latina, existem dois circuitos (ou sistemas) econômicos: o circuito superior e o
fora da sua região nascente e tem como foco a acumulação de capital. O circuito inferior,
por sua vez, é sustentando por atividades de pequena escala ou sem escala, intensivo em
capital e com alto grau de projeção e articulação com a cidade e a região que se insere. É no
unidades domésticas, etc. Essa análise, portanto, vai na contramão do entendimento do setor
tradicional como algo que se desaparecerá no tempo. Dada a organicidade e articulação entre
os dois circuitos, a leitura expõe o caráter dinâmico e estrutural do circuito inferior nas
importantes para a economia popular como Luis Razeto e Jose Luis Coraggio. A economia
popular não recebe o nome popular simplesmente pelo caráter dos seus integrantes, mas sim
pela sua dimensão solidária, suas qualidades de relação e sua escala de organização que
permite um contato mais direto e pessoal, não necessariamente passando pela estrutura de
Luis Razeto (1993), em seu trabalho sobre a economia chilena, classifica a economia
assistência pública ou privada para pessoas em extrema pobreza, etc.); 2) atividades ilegais
organizações econômicas populares (OEP’s). Para Razeto, as OEP’s seriam o polo mais
estruturas de mercado.
mais pobres e marginalizados; II) são associativas de pequeno porte, em que os membros se
reconhecem em sua individualidade; III) procuram organizar seus recursos, planejar suas
rotinas e fazer decisões para conquistar metas bem definidas; IV) revelam um conteúdo
busca resolver os problemas sociais e econômicos pela ação direta; VI) criam relações e
e autogestão; VIII) não são limitadas a uma atividade, além de combinar suas atividades
autoritárias, etc.), e contribuir para uma mudança social na direção de uma sociedade mais
forma horizontal, através de redes que permitem pensar objetivos de maior dimensão, além
seu bojo. O questionamento das formas homogeneizadoras de mercado, a busca por uma
sociedade mais justa e pela resolução dos problemas sociais e da marginalidade colocam a
economia popular como forma avançada de combate aos problemas típicos das economias
assim chamado por ele, poderia se tornar um caminho para a economia alternativa a do
Programa Economia do Trabalho (PET), do qual Luis Razeto faz parte, ele chega a algumas
conclusões. Primeiro, o autor afirma existir um setor que não é composto por atividades
relações familiares, bem como a organização da atividade produtiva na própria casa e na rua
são traços comuns. Terceiro, a força de trabalho não é completamente comercializada por
Quijano irá mostrar, em consonância com Santos e Razeto, que, nas economias
urbanas latino-americanas, de fato poderia se destacar um setor onde “não atuam plenamente
227). A investigação acerca das OEP’s trouxe à tona modos de organização econômica
229) estaria nas relações de produção que se caracterizam pela relação direta do trabalho,
não controlado por uma estrutura de mercado de força de trabalho, e relações de trabalho
participação direta. A combinação dessas duas relações não se dá fora do mercado, mas sim
convivência com as relações de capital, e, para o autor, fazem parte da “estrutura global do
reciprocidade e de comunidade, o autor ainda acredita que isto é pouco para admitir que se
trata de uma economia alternativa a do capital. Essa posição tem relação com algumas
limitações encontradas no polo marginal (economia popular) pelo autor, como por exemplo
de apoio institucional e financeiro por outras entidades, o que dificulta a autonomia do setor;
iii) reforço dos papeis historicamente impostos às mulheres pelo sistema patriarcal de
opressão (O autor cita que, no Chile, 65% dos membros das OEP’s são do gênero feminino.
E no Peru, os restaurantes populares - considerados parte das OEP’s - agrupam 100 mil
ao mesmo tempo, diversos limites gerados principalmente pelo seu caráter heterogêneo,
capitalismo nessa nova fase e a maneira com que isto impacta a vida social. Nisso está
Esse novo período histórico que se origina com a orientação de um novo padrão
global de poder é marcado, segundo Quijano (2012, p. 50), por três termos: neoliberalismo,
coloca esse processo a nível mundial e contribui para a desarticulação dos trabalhadores e
das instituições de caráter social na atualidade. Por fim, a pós-modernidade, para Quijano, é
moderna.
muito bem observados por Quijano nessa nova fase e, portanto, merecem um tratamento
teórico mais profundo. Sendo assim, algumas contribuições são feitas pelo próprio autor
segundo Quijano (2012, p. 46), pode ser definido como um “complexo de práticas sociais
existência social, com seu próprio e específico horizonte histórico de sentido” radicalmente
economia social, etc., se orienta para a construção de uma alternativa na periferia do capital
marginal) a constituição de uma economia alternativa faz com que seja necessário a crítica
A (nova) resistência, isto é, a resistência que deve emergir nessa nova fase, deve,
implicada percibe, con intensidad creciente, que lo que está en juego ahora no
(novas) práticas sociais. Quijano (2012, p, 53) irá dar algumas contribuições nesse sentido e
b) Os grupos e as identidades, a partir do primeiro ponto, devem ser produtos das suas
reciprocidade;
alternativa a partir da economia popular. Isto é, para que a prática popular seja em si mesma
capitalismo.
a inclusão e a emancipação social. Sendo assim, falar de Outra Economia a partir do popular
contribuir com essa possibilidade, iremos buscar as contribuições da economia solidária para
mercado puras e nem sociedades de mercado completas. O mercado, portanto, não assume
papel de instituição central na organização das relações da sociedade com sua base natural.
por três setores: i) a economia empresarial de capital, setor voltado para a acumulação e
reprodução do capital de forma privada; ii) a economia popular, como dito, formada por
economia pública, que busca atender as necessidades sistemáticas, muitas vezes agindo de
certas práticas típicas da economia capitalista. Nesse sentido, a economia popular não
solidário existente nas três esferas e que consiste nos possíveis embriões da transição da
economia do capital para a economia do trabalho. Coraggio (2013, p. 18, tradução nossa)
diz que:
O que Coraggio nos proporciona, então, é uma nova compreensão do que antes era
tratado como apenas algo marginal. A economia antes informal se torna agora setor crucial
maneira a economia solidária pode contribuir para a economia popular se constituir enquanto
alternativa.
Para Singer (2002, p. 09) a sociedade, para ser igualitária, necessita que a economia
fosse solidária, isto é, não fosse competitiva. Isso significa que todos os participantes do
processo de produção e da atividade econômica como um todo tivessem que cooperar entre
chave dessa proposta é a associação entre iguais em vez do contrato entre desiguais”
individual” (Singer, 2002, p. 10). Tendo em mente a economia popular, base para a transição
para uma Outra Economia, a economia do trabalho, a solidariedade consiste como caminho
“A aplicação desses princípios une todos os que produzem numa única classe
solidária da renda”
O Estado Solidário (Singer, 2004, p. 12) seria o estado que interveria de maneira a
impedir a divisão natural do capitalismo entre ricos e pobres e que cria as distinções de poder
perdedores” a partir de instrumentos de que já dispõe, como, por exemplo, “os impostos
“criar um novo ser humano a partir de um meio social em que a cooperação e solidariedade
não apenas serão possíveis entre todos os seus membros, mas serão formas racionais de
popular deve continuar buscando outra forma de organização da produção que sujeitem as
formas de mercado as normas e controles da organização social que lhes convém (Singer,
2004, p. 12)
(Singer, p. 11) e propõe um “uso bem distinto das forças produtivas assim alcançadas”
trabalho.
A economia solidária se alia, portanto, a um “rosário de novas forças que lutam por
uma “outra economia” (Singer, 2004, p. 21). Utilizando-se das contribuições desta na
economia popular é possível trazer, também, toda uma crítica à globalização neoliberal, ao
uso desmedido do meio ambiente, a violação dos direitos humanos. Além disso, segundo
construção de uma economia solidária e pode contribuir claramente para a crítica feminista
A partir da pesquisa bibliográfica foi possível perceber como o tratamento, sob novos
(Cattani et al, 2009, p. 150). Nesse sentido, foi percebido por Coraggio (2012b) a
“Outra Economia”.
Solidária em Singer, e também em Coraggio, foi possível perceber algumas resoluções aos
desses campos que circundam a economia popular para o seu desenvolvimento enquanto
alternativa.
dos grupos e suas identidades a partir de decisões livres e autônomas; iii) organização do
produção e gestão coletivas diretas que respeitem suas existências sociais; vi) crítica a
produção de uma maneira distinta daquela proporcionada pelo capital. Dito isto, a economia
popular tem, em seu bojo, a capacidade de incorporar toda a crítica necessária e também a
Referências bibliográficas
popular y sus caminhos em América Latina, Lima, Azul Editores. p. 109-192, 1998.
SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. 1. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2002. 127p.
EMPREENDEDORISMO SOCIAL : BAANKO CHALLENGE NA CIDADE DE
MONTES CLAROS.
RESUMO
O Empreendedorismo Social é constituído como um negócio que gera lucro, porém também
provoca impacto na sociedade. O objetivo desse artigo é destacar os resultados da ação da
Baanko(instituição que prioriza o desenvolvimento de negócios de impacto social)
denominada como “Baanko Challenge”, que ocorreu na cidade de Montes Claros, Minas
Gerais, entre 18/03 e 04/04/2017. Esse programa, durante três semanas, capacita
empreendedores que visam atuar com negócios de impacto social. Montes Claros foi a
primeira cidade do interior a ser sede dessa ação e registrou o maior número de inscritos e de
projetos em comparação com outras edições. A análise do objeto da pesquisa foi baseada em
entrevista com os organizadores e pesquisa com os participantes visando identificar de que
forma as atividades do programa (palestras, cursos ou workshops) auxiliaram na capacitação
dos empreendedores. Os resultados mostraram que foi um evento dinâmico voltado para o
desenvolvimento do perfil empreendedor dos participantes e que segundo esses teve grande
relevância na capacitação e formação de network. O artigo conta com introdução e mais
quatro seções: 1)Discussão sobre desenvolvimento econômico; 2)Caracterização de
empreendimento social e negócios de impacto social; 3)Metodologia; 4) Resultados obtidos e
por fim, são apresentadas as considerações finais.
Introdução
Para o embasamento teórico foi utilizado referências bibliográficas que englobam a teoria
schumpeteriana sobre desenvolvimento econômico. Para a realização da análise, foi realizada
uma pesquisa de campo e secundária, sendo essa primeira por meio de entrevista. Após a
coleta das informações, foi analisado como se deu a realização da Baanko Challenge na
cidade de Montes Claros.
1
Prof.ª Drª Departamento de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Endereço
para contato: saraunimontes@gmail.com
2
Acadêmica do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.
Endereço para contato: annapaulaspaiva@gmail.com
O artigo é dividido em quatros seções. A primeira seção baseia-se na teoria de
desenvolvimento econômico, relatando seu conceito, e como destaque para os estudos de
Schumpeter. A segunda seção trata-se da caracterização de empreendimento social e negócios
de impacto social. A terceira seção aborda a metodologia utilizada para a realização da análise
e apresenta a descrição do objeto de estudo. Por fim, são apresentadas as considerações finais
acerca dos resultados obtidos.
Não existe um consenso sobre o conceito de desenvolvimento econômico. Existe uma linha
de economistas que declaram o desenvolvimento igual ao crescimento, onde para eles, um
país se torna subdesenvolvido porque não faz uso completo de fatores de produção que
possui, e devido a essa razão tem baixo crescimento quando comparado aos países
desenvolvidos (SOUZA, 1997).
Com base em Souza (1997), outra linha de economistas pressupõe que para que ocorra o
desenvolvimento também é necessário que tenha o crescimento, contudo, não é apenas o
único requisito. O crescimento econômico está associado à questão quantitativa, ao passo que
o desenvolvimento engloba a questão qualitativa. Em outras palavras, para o autor (1997,
p.21) o desenvolvimento “caracteriza-se pela transformação de uma economia arcaica em
uma economia moderna, eficiente, juntamente com a melhoria do nível de vida do conjunto
da população”.
Nessa teoria, o banqueiro substitui o capitalista, sendo um agente decisivo para o processo de
desenvolvimento, pois através da concessão do crédito, torna possível a realização das novas
combinações (SCHUMPETER, 1982).
De acordo com Souza (1997), é a ação do empresário inovador que gera a dinâmica
econômica, pois é esse agente que expande o mercado e cria novos bens.
Após uma síntese da teoria que esboça o tema e sua problematização, a próxima seção
apresentará as caracterizações de empreendimento social, também tendo em vista os negócios
de impacto social.
Consoante à organização Endeavor (2015), os empreendedores são indivíduos que não se dão
por satisfeitos do cenário da realidade em certos âmbitos e realizam a diferença seja no Brasil
ou no mundo. Quando um empreendedor resolve problemas que cercam a sociedade em geral,
acabam por impulsionar o desenvolvimento.
Este estudo tem como foco o empreendedorismo social, que de acordo com a Endeavor
(2015), centraliza suas inovações para motivar as pessoas a trabalharem por causas que gerem
impactos na sociedade.
A Artemisia é uma organização sem fins lucrativos, e é a precursora dos negócios de impacto
social no país. Esta tem o objetivo de promover o desenvolvimento dos empreendedores
mediante negócios que resultem em melhoria de oportunidade para a sociedade menos
favorecida (ARTEMISIA, 2017).
Ainda para esta organização, os negócios de impacto social possuem o aspecto de:
Os negócios de impacto social visam mudar a condição de vida de pessoas que vivem à
margem da sociedade. Essas mudanças são feitas por intermédio da criação de renda
partilhada, tornando essa parte da sociedade autossufiente na questão financeira (SEBRAE,
2016).
De acordo com a Artemisia (2017) negócios de impacto social pode ser estabelecido como:
“empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da
população de baixa renda”.
Com base na Sebrae (2016) as principais características dos negócios de impacto social são
representadas por:
Os bens ou serviços oferecidos pelos negócios sociais alcançam a parcela da sociedade que
não possui condições melhores de vida, e é mediante esses negócios que a pobreza e a
desigualdade são minimizadas (BRASIL, 2012).
O negócio de impacto social procura solucionar dificuldades dos âmbitos social e ambiental.
Nesta solução é levada em conta a questão da disponibilidade econômica por meio de
exemplos de negócio e estratégias (SEBRAE, 2016).
O objeto de estudo desta pesquisa é a baanko challenge que é um evento voltado para a
capacitação de empreendedores pela construção de projetos de negócios de impacto social e
são usados os ODS como mecanismos de elaboração dos negócios.
3.2 A Baanko
Conforme um dos organizadores da Baanko Challenge em Montes Claros, a Baanko foi criada
a partir de um projeto da Fundação Estudar, chamado de Laboratório, no qual tem a finalidade
de estimular no jovem o seu perfil de empreendedor que busca mudar a sociedade de alguma
forma. Dentro desse projeto, existe o processo Salto, onde os participantes são levados a
realizar seu sonho. O fundador da Baanko participou do Salto, e a partir desse processo, criou
a Baanko.
A baanko foi lançada no ano de 2014, operando na América Latina, e é uma instituição focada
em negócios de impacto social que usa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
da ONU como instrumento para determinação dos negócios. Com base na Baanko (2017) “a
crença é em promover o aumento do impacto, do desenvolvimento de novas oportunidades de
mercado e de investimento para as empresas que geram impactos sociais positivos”.
De acordo com a ONU, os ODS possuem 17 objetivos que podem ser listados: erradicação da
pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar; educação de qualidade;
igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e acessível; trabalho decente e
crescimento econômico; indústria, inovação e infraestrutura; redução das desigualdades;
cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsáveis; ação contra a
mudança global do clima; vida na água; vida terrestre; paz, justiça e instituições eficazes; e
parcerias e meios de implementação.
A Baanko apresenta vários produtos que são: Meetup de empreendedorismo social Brasil, que
tem o intuito de promover o desenvolvimento do empreendedor; Baanko Challenge, que
desenvolve projetos de negócio; Magnuss, que é o pós challenge, onde os negócios realizados
no challenge serão investidos; Impactlab, que é voltado para a consultoria e resoluções de
impacto; Impactpool, que desenvolve o perfil de investidor; e HeforShe, que é um movimento
de solidariedade de gênero.
Para o presente trabalho, o objeto a ser estudado é a Baanko Challenge, que foi o evento
realizado na cidade de Montes Claros.
3
O evento aconteceu no período de 18 de março a 08 de abril deste ano.
Ainda para o organizador da Baanko Challenge em Montes Claros, este modelo de evento tem
o aspecto todo colaborativo, podendo ser realizado sem recurso financeiro. Porém para que o
evento tenha uma qualidade aceitável era necessária uma quantia mínima de dez mil reais. Em
relação à característica colaborativa, os lugares para a capacitação dos projetos e pessoas são
cedidos, os palestrantes doam seu tempo, e tem a busca por parcerias.
Com base no organizador da Baanko Challenge em Montes Claros o público alvo era o
público jovem, universitário, mas não excluiriam outros interessados. Por isso, optou-se por
locais como a praça de alimentação de um shopping, dentro de um cinema, no Museu
Regional da Unimontes, da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), da Associação dos
Municípios da Área Mineira da Sudene (AMAMS), da Federação das Indústrias do Estado de
Minas Gerais (FIEMG) e SENAC.
Conforme o padrão da Baanko, o evento challenge deve ter três semanas de duração, sendo
um evento por dia, totalizando, seis eventos por semana. Contudo, para Montes Claros, foi
decidido que seriam quatro eventos, sendo três na semana e um geralmente, no sábado de
manhã. Mantendo as três semanas de programa. Cada evento ocorreu em os locais distintos,
contando inclusive com a Associação Comercial e Industrial (ACI) e tendo como co-
organizadora uma instituição de ensino privada, a Faculdade Santo Agostinho. Para analisar
cada projeto foram organizadas quatro bancas avaliadoras, sendo que os integrantes se
repetiam para que cada profissional convidado pudesse contribuir com o projeto.
A divulgação do evento foi feita via páginas em redes sociais, jornais e entrevistas. As
inscrições para o evento eram gratuitas e feitas online através de formulário. No encerramento
das inscrições, havia 429 inscritos e 79 projetos. Primeiro foi selecionado os projetos, uma
vez que os projetos estavam ligados às pessoas, e quando um projeto era selecionado, com ele
um grupo de pessoas também era selecionado, logo, inicialmente, dos 79 foram escolhidos 30
projetos. Em relação aos inscritos, de 429 pessoas foram selecionados 170. Todas as
inscrições pelo formulário gerava uma planilha, que possuía uma série de respostas, e os
organizadores definiram quais de respostas tinham preferência em receber. Pelo padrão da
Baanko, deveriam ser quatro pessoas por projeto.
Para chegar aos 17 projetos, os 30 projetos deveriam ser avaliados por uma banca avaliadora,
onde cada projeto tem de representar um objetivo de desenvolvimento sustentável da ONU.
Após a seleção de pessoas e projetos, ocorreu a capacitação dos líderes do projeto. Uma das
atividades foi capacitar os líderes para que pudesse fazer ‘pitch’, que é uma apresentação
rápida de seu negócio, pois a cada banca essa era uma exigência que deveria ser cumprida
pelos empreendedores.
O dia de abertura do evento foi marcado pela apresentação dos projetos, onde os líderes
tinham o tempo de três minutos no palco. Em seguida teve um momento de interação em que
os participantes, que não tinham um projeto, podiam escolher até três que tinha se identificado
para fazer parte. Desses três projetos, o participante teve quatro minutos para ouvir novamente
a ideia proposta e ao fim deve escolher o grupo de preferência. A intenção da equipe
organizadora era de oito pessoas por projeto, todavia o número de pessoas por projeto foi
divergente.
A capacitação dos empreendedores contou com palestras com diversos temas, entre eles: ‘o
que são negócios de impacto social’, sobre ‘como identificar oportunidades de negócio’,
‘propriedade intelectual’. Também contou com curso de canvas, de liderança, de validação e
marketing.
No dia de encerramento do evento deveria ser feita a apresentação dos projetos de negócio de
impacto social, sendo que o objetivo da organização não era precisamente que ao fim
chegassem com grandes projetos de negócio, mas desenvolver a capacidade de
empreendimento das pessoas. Apenas quinze equipes se apresentaram para a banca
avaliadora, e as outras duas desistiram.
A conclusão dos organizadores sobre o programa foi que superou as expectativas. Assim,
dados os resultados positivos desse programa, os organizadores da Baanko Challenge em
Montes Claros, já estão com outras atividades para serem organizadas na região, como o
modelo Magnus, que é o processo de investimento para os projetos feitos no challenge.
Isso corrobora o que os participantes que foram entrevistados para esse estudo destacaram
quando perguntados sobre as “dificuldades para que os negócios sejam lançados de fato no
mercado”. Dos 15 projetos finalistas, 8 responderam que a “dificuldade de obter
financiamento/investimentos” é ‘extremamente relevante’ para seus negócios. Assim, essa
iniciativa da Baanko de promover uma outra ação voltada para essa questão atenderá ao
anseio da maioria dos entrevistados. Outras dificuldades também são apontadas como: a
“dificuldade de obter recursos humanos para lançar o projeto”, citado por 3 dos entrevistados
e o mesmo montante destacou “dificuldades com fornecedores/matéria prima/escala”, ou seja,
questões relativas ao produto e sua elaboração.
Os entrevistados apontaram diferentes impactos sociais dos projetos finalistas. Eles atuam
com atividades variadas em relação ao impacto social que pode atender a agricultura familiar,
minimizar danos ao meio ambiente, reduzir desperdício de energia, ou ainda minimizar
situações de risco social e pobreza. Destaca-se que há inventos inclusive com potencial para
ser patenteado como uma nova forma de construir residências com rapidez e baixo custo,
cimento que não agride o meio ambiente, bem como, tintas que reutilizam óleo que seria
despejado na natureza, entre outros.
Considerações finais
O presente artigo tem como objetivo descrever como foi realizado o evento da Baanko
Challenge em Montes Claros apresentando seus resultados. Para tal estudo, utilizou-se na
metodologia pesquisas de campo e secundária, sendo a primeira através de entrevista e a
segunda por sites oficiais.
A partir do que foi estudado, chegou-se à conclusão de que a Baanko Challenge foi um evento
que apresentou êxito, uma vez que foi o maior em sua primeira edição em relação às demais
cidades que também já sediaram o evento no quesito de volume de inscritos e projetos. O
evento tinha como objetivo promover o desenvolvimento dos empreendedores, que ao final
quinze grupos apresentaram no encerramento, e os dois restantes desistiu ao longo do
processo. Cabe destacar que Montes Claros foi a primeira cidade do interior a receber este
evento de empreendedorismo social.
Percebe-se que a Baanko Challenge foi um evento voltado em prol do desenvolvimento dos
empreendedores, através da capacitação desse perfil e dos projetos por intermédio de cursos,
palestra e workshops durantes três semanas. Este estudo procurou destacar a relevância desse
tipo de iniciativa para auxiliar o desenvolvimento local e a consolidação do ecossistema de
inovação local.
Algumas questões ficaram de fora do escopo desse trabalho, e que merecem destaques em
projetos posteriores, como a análise dos critérios de avaliação dos participantes e projetos.
Além disso, pesquisas futuras podem complementar este estudo mediante entrevistas com os
empreendedores de cada projeto desenvolvido durante o evento, buscando identificar o perfil
dos participantes e os impactos econômicos gerados na cidade.
Referências bibliográficas
FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. 10. ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2000.
ONU. Organização das Nações Unidas. Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o
desenvolvimento sustentável. Disponível em: <
https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 26 jun. 2017.
SEBRAE. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. O que são negócios
de impacto social. 29 de set. 2016. Disponível em: <
https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/o-que-sao-negocios-de-impacto-
social,1f4d9e5d32055410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em: 29 jun. 2017.
SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento econômico. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1997.
Terceiro Setor entre a política pública e a experiência de mudança social
Resumo:
O trabalho busca analisar de que forma se dão as relações entre o terceiro setor e o setor
sociais para um público específico. Para isso, utiliza-se da experiência do Instituto Miguel
Fernandes Torres, em Ouro Branco (MG) para analisar a relação proposta. Foi realizada
entendimento do que é o chamado terceiro setor e quais são os seus papéis na sociedade
estatal a serviço do capital, observa-se que à medida que este o terceiro setor se populariza,
forma que se torna necessário em certos casos, considerando sempre a forma com que o
1
Introdução
2007). Fernandes (2002) sugere que o terceiro setor vai além da esfera do mercado e do
Toro (2000, apud BARBOSA, 2006) apresenta as seguintes funções como sendo as
terceiro setor podem ser organizadas, devendo os interesses particulares dos gestores da
1
Ao classifica-los como bens e serviços públicos, o autor dá a eles uma dupla qualificação: a) não podem
gerar lucros e os benefícios auferidos por sua circulação não podem gerar patrimônio particular; b) devem
ser de consumo coletivo.
2
Principais Fontes deRecursos Doações, contribuições, subvenções e prestação de
Financeiros serviços.
Lucro Meio para atingir objetivos institucionais e não um
fim.
Patrimônio e resultados Não há participação ou distribuição entre os
provedores.
Aspectos fiscais e tributários Normalmente são imunes ou isentas.
Fonte: Adaptado de Olak (1999).
qual estão inseridas é fundamental para a sua existência e para manter a sua funcionalidade
2
A categoria stakeholder descreve uma pessoa ou grupo que fez algum investimento ou tem interesses de
investimento em alguma organização (empresas, negócios ou até entidades do terceiro setor).
3
econômico devendo, portanto, ser superado o Estado de Bem-Estar Social. Neste sentido, o
terceiro setor seria, em conjunto com o setor privado, um dos responsáveis por gerar
soluções para os problemas que o próprio Estado causaria dada a sua “natural”
Unidos da América, a partir da criação de um non profit sector (setor não lucrativo),
composto por instituições que pregavam a livre iniciativa e ideais filantrópicos, sendo
Fria gerou um estímulo pela investigação sobre o funcionamento delas, o que acabou por
surgiram novos termos tais como o de “público não estatal”, dentre outros (BRESSER-
(2005), uma forma fundamental de inovação, uma vez que ele é um espaço de
4
tradicionales. La expresión “tercer sector” puede considerarse
también adecuada en la medida en que sugiere una tercera forma de
propiedad entre la privada y la estatal, pero se limita a lo no estatal
en cuanto a producción, no incluyendo lo no estatal en cuanto a
control (BRESSER-PEREIRA e GRAU, 2005, p. 26).
Landim (1999 apud MONTAÑO, 2007) argumenta que o termo “terceiro setor”
não é um termo neutro inclusive pelo fato de der nascido nos Estados Unidos, como já
naturalizadas, uma vez que fazem parte de uma cultura política e cívica que se baseia no
individualismo liberal. Além disso, o termo carrega uma procedência e funcionalidade com
os interesses de uma classe específica. Deve ser ressaltado ainda que o termo foi “(...)
cunhado por intelectuais orgânicos do capital, e isso sinaliza clara ligação com os
2007, p. 53).
sobre o tema, aponta que o termo possui ao menos uma debilidade teórica (trata-se de
“terceiro” ou de “primeiro” setor?), outra associada à definição dos atores (quais entidades
compõem o terceiro setor?), e ainda outra relativa ao caráter do setor – todas elas
público e privado, sumariamente identificados como Estado e mercado (que por sua vez
são concepções com inspiração liberal). Ora, se o terceiro setor é refletido na identidade de
ações produzidas pela sociedade civil, e as instituições (Estado, mercado, etc.) são
quem são os atores do terceiro setor. Montaño (2007) demonstra que alguns autores
5
incluem no terceiro setor apenas organizações formais, enquanto outros excluem fundações
políticos e entidades religiosas. Percebe-se ainda, que são ignorados movimentos de luta
classista como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, movimentos
indígenas, greves de fábricas, entre outros, mesmo todas elas sendo atividades não estatais
Isso se refere a outro aspecto débil do termo, uma vez o setor inclui uma gama de
parecem ser mais uma mescla de sujeitos que se identificam em objetivos, estratégias e
Montaño (2007) ainda discute se o caráter usado para definir o setor deve ser o de
artigo estuda o caso de uma dessas entidades, o Instituto Miguel Fernandes Torres (IMFT),
denominado “Projeto Vem Ser”, nasceu com o intuito de fornecer uma formação
complementar aos (às) estudantes da própria cidade com educação integral e com
Metodologia
Segundo Silveira e Córdova (2009), esse tipo de investigação “preocupa-se... com aspectos
6
da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação
da dinâmica das relações sociais”. Assim, o pesquisador opera com um “(...) universo de
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
Ainda que possa ser criticada por um suposto empirismo, pelo envolvimento
“emocional” do pesquisador com o seu “objeto” e por uma subjetividade (como se essa não
existisse em qualquer campo de ação humana), a pesquisa qualitativa tem como propósito
social ou humano, a partir das relações que nele foram ou são tecidas pelos que o
conceitos e práticas, uma vez que a partir de uma conversa informal o entrevistador
introduz o tema e o entrevistado tem total liberdade para discorrer sobre o tema,
explorando mais amplamente uma questão (BONI; QUARESMA, 2005). Essa é uma
ferramenta importante, uma vez que permite captar dados e elementos subjetivos que “(...)
Resultados e Discussão
7
No Brasil, ações de cunho filantrópico datam da colonização portuguesa,
estendendo-se até hoje de maneiras distintas. Algumas de suas origens são as igrejas e
contudo, surgiram nos anos 1960 e só ganharam notoriedade política a partir de meados da
década de 19704. Elas surgiram com caráter assistencialista, mas não apenas. Havia
também um recorte político por parte das primeiras organizações da sociedade civil,
de parceria intersetorial que, por sua vez, tende a esconder os limites entre os três setores
(FALCONER, 1999). Sua formação não é homogênea e, como mostra Fernandes (2002),
podem ser diferenciados quatro principais segmentos do terceiro setor, a saber: a) formas
filantropia empresarial.
3
De acordo com Meirelles (1978, p. 32), “Entende-se como entidade paraestatal toda pessoa jurídica de
direito privado, (...), para a realização de atividades, obras ou serviços de interesse coletivo, sob normas e
controles do Estado. (...) não é o estatal nem é o particular; é o meio termo entre o público e privado”.
4
Iniciam-se, principalmente, como movimento de mulheres, indígenas, da negritude, enfim, com um caráter
político de inclusão democrática.
5
A palavra empoderamento é um neologismo criado a partir da expressão inglesa empowerment, a qual
originalmente significa "descentralização de poderes", em referência a ampliação da participação de
trabalhadores nas decisões empresariais pela ampliação da autonomia decisória e das responsabilidades
desses sujeitos, sem tutela. A partir da década de 1990 foi incorporada ao discurso dos movimentos sociais
e à conceituação nas ciências sociais e humana em português (KLEBA; WENDAUSEN, 2009).
8
Ainda segundo Fernandes (2002), esses agentes se relacionaram durante os anos
O desenvolvimento do terceiro setor no Brasil pode ser observado por meio dos
dados disponibilizados na Tabela 1. Em 2010, segundo o IBGE (2012), existiam 290,7 mil
fundações privadas e associações sem fins lucrativos, representando mais da metade das
556,8 mil entidades sem fins lucrativos declaradas no país. O que se percebe é que o
consideravelmente desde a década de 1970 e tendo seu ritmo reduzido sensivelmente (mais
associações sem fins lucrativos no país eram entidades religiosas (28,5%), associações
social) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6% do total). Tais entidades estavam
distribuídas em todo o país, estando a maioria delas localizadas na região Sudeste (44,2%)
9
e Nordeste (22,9%). Em seguida encontravam-se as instaladas nas regiões Sul (21,5%),
Tendo em vista que o objeto do presente artigo, o IMFT, se declara como sendo
uma ONG, uma das formas assumidas no contexto brasileiro pelas entidades do terceiro
terceiro setor. Para Landim (2002), o significado da expressão é o de uma categoria que foi
apesar de ter – bem como o conceito de terceiro setor – denominação, origem e transito
geral, o que se percebe é que dentro de suas áreas temáticas de atuação6, preocupam-se
desde o início com tentar alcançar setores específicos da sociedade que apenas as políticas
6
No âmbito da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais - Abong, as ONGs são
caracterizadas como entidades atuantes nas áreas de agricultura, arte e cultura, assistência social,
comunicação, comércio, crianças e adolescentes, DST/AIDS, discriminação racial, discriminação racial,
economia solidária, educação, esporte, fortalecimento de outras ONGs/ Movimentos populares, justiça
e promoção de direitos, meio ambiente, organização e participação popular, orçamento público, questão
indígena, questões agrárias, questões urbanas, relações de consumo, relações de gênero, saúde e
segurança alimentar (conforme http://www.abong.org.br/quem_somos.php).
10
O marco legal que delimita o campo da atuação das ONGs entrou em vigor com o
Código Civil (Lei Nº 10.406/2002, alterado pela Lei nº 11.127/2005) que introduziu
estas entidades, estabelecido legalmente pela Constituição Federal, no artigo 150 (inciso
“instituições beneficentes”, uma vez que seu patrimônio, rendas e serviços são destinados
justamente para cumprir atribuições que seriam do Estado. Além disso, para garantir
não distribuição de lucros (elas podem obter receita, mas desde que voltadas à sua
(BARBOSA, 2002).
Concordando com a conceituação feita por Bava (1994) sobre o caráter das ONGs
privados de seus direitos, pode-se definir tais entidades como sendo aquelas que tem por
objetivos “(...) fortalecer atores sociais emergentes, (...) auxiliar na sua organização,
Miguel Fernandes Torres, objeto da presente análise. O Instituto foi criado em 2002 como
“Projeto Vem Ser”, e foi iniciado após a fundadora observar uma carência de práticas
11
Raimundo Batista, em Ouro Branco, Minas Gerais, onde eram oferecidas atividades
a responsável pelas ideias e pela ação foi orientada a registrar o “Projeto” como uma
projeto de forma mais efetiva. Até então, o “Projeto” funcionava com apenas duas
funcionárias (que são também fundadoras) que, por sua vez, tinham que garantir o
atividades. Como contou T., “eu comecei a fazer a parte de supervisão, de oficina e a parte
de fora aqui também, a administrativa. Ai eu tinha que sair pras escolas, correr atrás de
7
Projeto desenvolvido pela Secretaria de Estado de Esportes de Minas Gerais entre 1997 e 2000, e que
consistia no incentivo à participação de jovens de 12 a 18 anos na prática dos esportes (futebol de campo,
futsal, voleibol feminino etc.). Não foram obtidas maiores informações sobre o Projeto até o momento, mas
a pesquisa em diversas páginas da Internet de pessoas ligadas ao mesmo dão conta que ele tinha como
metas atender jovens “(...) em educação social e esportiva, em ensino profissionalizante, em assistência
médica e suplementação alimentar, além de orientação psicopedagógica, aulas de inglês, dança de rua, com
prevenção das drogas, violência e marginalidade” (ver
https://fadesc.wordpress.com/2013/11/05/movimento-ii-2013-20-anos-de-trabalho-nas-comunidades-do-
sul-de-minas/).
12
Além do problema com o quadro de funcionários (as), o Projeto enfrentava
problemas como falta de materiais mínimos para trabalharem. Ainda como conta T:
Conselho Fiscal da Associação do Projeto Vem Ser de Ouro Branco. Esse estatuto, logo
em seu primeiro artigo, já apresentava o Projeto como uma “sociedade civil, sem fins
cedia funcionários (as) para atuarem no Projeto. Logo após, o quadro de colaboradores (as)
13
passou a contar também com voluntários. Além disso, cadastrou o Projeto no Conselho
registro de utilidade pública e ganhar título municipal como tal. Dada a necessidade de
formalização legal da entidade, esta passa a se chamar Instituto Miguel Fernandes Torres.
Reafirmando seu compromisso com a sociedade, o Plano de Ação 2015 da entidade traz
que o Instituto “tem como finalidade a assistência e promoção social em âmbito municipal
oferecendo. Para isso, hoje oferecem apoio pedagógico e atividades esportivas, além de
crianças e adolescentes.
Além deste público, atende também as mães e familiares destes e pessoas indicadas
Referência em Assistência Social - CREAS com oficina de corte e costura. Estas oficinas e
atividades propostas, são definidas através de Plano de Ação traçado anualmente, como
pode ser visto no Anexo I. Conta, ainda, com trinta e cinco funcionários (as), sendo vinte e
nove contratados (as), três cedidas pela prefeitura da cidade e três voluntários (as).
14
Além disso, conta com a assessoria da Pro-Bem Assessoria e Gestão Criança8 para
educação, o que permitirá isenção fiscal. Está, ainda, inserida no Plano Municipal de
Ouro Branco o Instituto arrecada a maior parte da sua renda. Além deste, em 2015 contou
obtém receitas das vendas dos produtos produzidos artesanais nas oficinas oferecidas.
subjetivas, entendendo que bem como as contradições eminentes do capital e suas crises
grupos não irão, por si, transformar a sociedade. Neste sentido, é importante entender que
“(...) a classe hegemônica também está em luta, para manipular (inclusive o mundo da
20). É nesse sentido as fundadoras foram questionadas sobre o papel do “segundo setor” na
dinâmica e organização da entidade, uma vez que este teve significativa importância na
construção da mesma.
Uma vez que o Instituto iniciou sem ter condições mínimas, foi através das
parceiras que possibilitou a criação e continuidade das atividades. Estas parcerias foram
8
Organização sem fins lucrativos que oferece assessoria técnica e capacitação nas áreas administrativa,
financeira, contábil, jurídica, de comunicação e tecnologia à Instituições do terceiro setor com foco no
atendimento à criança e ao adolescente (consultar http://www.probem.org.br/).
15
ajudas é muito claro na fala das fundadoras; assim, para T. “(...) sem essa ajuda é
impossível, não tem como. Porque a prefeitura dá uma ajuda, mas não é suficiente. Então
a gente acaba tendo que correr atrás de outros projetos, de outras empresas, pra gente
gente não tiver o apoio financeiro, o que pesa mais pra nós, é a parte de funcionários por
conta dos encargos sociais, que teria que cortar”. T. aduz, ainda, a importância da
manutenção do projeto como uma resposta positiva para a sociedade local em relação às
não mais precisarem se submeter não só do mercado como do Estado. S., em um primeiro
16
momento, coloca isso como o Projeto ideal: “(...) nosso ideal é ser altamente sustentável.
Porque uma das maiores dificuldades nossa é o recurso financeiro, mesmo. O ideal seria a
gente se manter por conta própria. Assim, o que vier é lucro” (depoimento verbal gravado
Questionada quanto ao mesmo, T., responde sem hesitar que o estado ideal da
Conclusão
conceitual e ideológica em torno dele, uma vez que sua existência aponta falhas que o
O que pode ser apontado é que se trata de um termo amplo e que abarca uma série
de entidades e pode ser utilizado, para aglomerar diversos tipos de iniciativas (como
e considerar apenas seu caráter que foge do mercado e/ou estado. A problemática é que o
fato desta separação – primeiro, segundo e terceiro setor – gera falta de rigor teórico,
importante atentar-se a restrições que as ONGs possuem e a melhor forma de fazer isso é
fazendo um recorte destas para dentro do terceiro setor. Afinal o que se percebe é
justamente que elas são um “pedaço” do terceiro setor: estão dentro, mas possuem
17
características, meios e até alguns fins que podem se distanciar do conceito mais amplo.
De modo distinto do terceiro setor, o que pode ser observado é que as ONGs
particulares.
linhas gerais, o “receituário” do que é entendido como tal organização. Entidade nova,
precisa de se alinhar tanto ao chamado primeiro setor, quanto ao segundo para manter sua
meio da produção de artigos artesanais. Dada sua idade e o modo como começou a atuar, a
entidade ainda caminha em meio aos trâmites legais e burocráticos, buscando compreende-
prestados.
Deve ser ressaltado, também, o papel que o Instituto atribui aos apoios que recebe.
Fica apontado que, se por um lado o dinheiro advindo da prefeitura é fonte de renda de
certamente, certa, aquela que vem das empresas e indústrias, nem tanto. Entretanto, parece
ser mais bem recebida a segunda à primeira, uma vez que sentem maior autonomia gerindo
implícita neste entendimento, uma vez que enxergam com clareza que esse dinheiro é
vindo para que a empresa maior doadora possa fazê-lo com incentivos e isenções fiscais.
Além disso, apontam que outro motivo para tais doações acontecem uma vez que as
empresas podem utilizar esta como uma ação de marketing, como uma empresa que apoia
18
Referências
19
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GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, D. T. (Orgs.). Métodos de pesquisa. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
20
EIXO 3
Sistema financeiro,
crédito e
desenvolvimento
A PARTICIPAÇÃO DO SISTEMA BANCÁRIO NO FINANCIAMENTO
PRODUTIVO BRASILEIRO DE 2010 A 2015.
Gabriela Araújo
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal de Ouro Preto
gabriela.arajo04@gmail.com
Resumo
Este artigo objetiva verificar se o processo de abertura financeira contribuiu para ampliar
as possibilidades de financiamento do setor produtivo do Brasil. E compreender a dinâmica
do financiamento de longo prazo e a participação do sistema bancário público e privado
(nacional e estrangeiro) neste processo. De maneira mais específica, analisará o efeito do
desenvolvimento do setor financeiro e da concessão de crédito sobre a estrutura de capital
de grandes empresas brasileiras selecionadas. Ele incorpora os determinantes do padrão de
alavancagem de uma empresa, que incluem o tamanho da empresa, estrutura de ativos,
rentabilidade, crescimento, risco de negócio, idade da empresa e crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) na forma de controle de variáveis. A partir dos dados, é possível
inferir sobre a não alteração no padrão de financiamento das empresas brasileiras e na
relação direta das mesmas com a oferta de crédito em cada estado.
Palavras-chave: Abertura financeira. Sistema Bancário. Grandes Empresas.
Abstract
This article aims to verify if the process of financial opening contributed to expand the
financing possibilities of the productive sector in Brazil. And understand the dynamics of
long-term financing and the participation of the public and private banking system
(national and foreign) in this process. More specifically, it will analyze the effect of the
development of the financial sector and the granting of credit on the capital structure of
selected Brazilian companies. It incorporates the determinants of a firm's leverage pattern,
which include firm size, asset structure, profitability, growth, business risk, company age,
and GDP growth in the form of variable control. From the data, it is possible to infer about
the non-change in the pattern of financing of Brazilian companies and the direct relation of
the same with the supply of credit in each state.
Key words: Financial opening. Banking system. Big companies.
Introdução
Os estudos envolvendo os determinantes da estrutura de capital das empresas é um
tema ainda complexo, mas que podem evidenciar informações interessantes sobre as
características e configuração da estrutura de financiamento das empresas em cada país e,
ainda, como agentes financeiros costumam atuar no financiamento do desenvolvimento.
Este artigo propõe verificar que o ambiente no qual as empresas estão inseridas e
realizam negociações tem influência direta na sua estrutura de capital, evidenciando o
papel dos bancos no financiamento produtivo brasileiro. Destarte, tomando por base o
período posterior ao processo de abertura financeira ocorrida em meados da década de
1990, busca-se analisar de que forma a segmentação bancária brasileira – caracterizada
pela presença de grandes bancos públicos e privados (nacionais e estrangeiros) – tem
contribuído ou restringido a oferta de recursos para o financiamento produtivo brasileiro
nos últimos vinte anos.
O recorte teórico considerado remete à década de 1990 até 2015, em um contexto
de forte desregulamentação comercial e financeira no Brasil. Assim, para incrementar esta
análise esta proposta objetiva verificar se o processo de abertura financeira1 (em especial, a
desnacionalização do sistema bancário) contribuiu para ampliar as possibilidades de
financiamento do setor produtivo do Brasil. E, assim, compreender melhor a participação
do sistema bancário público e privado (nacional e estrangeiro) neste processo, em uma
dimensão regionalizada.
Sendo assim, será analisado o efeito do desenvolvimento do setor financeiro e da
oferta de crédito sobre a estrutura de capital de algumas empresas brasileiras. Esta estrutura
de capital incorpora os determinantes do padrão de alavancagem de uma empresa, que
incluem o seu tamanho, estrutura de ativos, rentabilidade, crescimento, risco de negócio,
idade da empresa e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na forma de controle de
variáveis.
Apesar de se entender que a estrutura de financiamento de longo prazo das
empresas é bastante ampla, passando pelo mercado de capitais, empréstimos externos,
autofinanciamento, e outras fontes, para efeito desta pesquisa, será considerado com
destaque a participação do setor bancário neste processo, dada a maior disponibilidade e
acessibilidade dos dados gratuitamente.
A estrutura de financiamento brasileira é regionalmente concentrada e favorece os
grandes grupos econômicos nacionais. A abertura dos mercados – um dos pressupostos
utilizados para justificar os processos de abertura deflagrados nos anos 1990 - não
conseguiu mitigar esta questão. A hipótese proposta por este trabalho é de que a
segmentação bancária, mais especificamente, a presença de grandes bancos públicos, de
certa forma, ajuda a suavizar os impactos desta concentração. A pesquisa contribui para o
melhor entendimento da forma como os fatores institucionais, especificamente no que
envolve o setor bancário, a nível regional, sejam levados em conta para explicar a estrutura
de financiamento e, consequentemente a dependência das grandes empresas do Brasil,
quanto aos instrumentos oficiais de crédito.
1
“O processo de abertura financeira pode ser caracterizado pela facilidade na conversão da conta
financeira do balanço de pagamentos e da conversão monetária (da moeda nacional frente à(s) moeda (s) de
referência internacional), e também pela facilitação da desnacionalização do sistema bancário” (CARNEIRO,
2002)
Excel-Econômico pelo Bilbao Vizcaya; v) compra do Banco do Estado de Pernambuco
pelo ABN Amro Bank, que tornou o Banco Real em novembro de 1998, o maior banco
estrangeiro no Brasil.
Uma das características mais fortes da consolidação bancária brasileira foi a reação
dos bancos privados nacionais, que também participaram ativamente dos processos de
fusões e aquisições bancárias. Dando destaque às principais atividades: i) compra do
BANERJ, BEMGE, BANESTADO, Banco Fiat e BBA pelo Itaú; ii) compra do BCN
Credireal, Boa vista, Banco Ford, Mercantil de São Paulo e BBB Banco pelo Bradesco; iii)
compra do Nacional, Bandeirantes e Fininvest pelo Unibanco. Desta forma, os bancos
privados nacionais conseguiram manter sua hegemonia no setor bancário brasileiro com
grande participação do total geral de bancos no Brasil (DE PAULA E MARQUES, 2006).
Verifica-se que instituições maiores incorporam instituições menores que atuam no
mesmo mercado, e então tem início o processo de internacionalização de instituições
bancárias e desnacionalização dos sistemas financeiros de países em desenvolvimento
(CAMARGO, 2009). As motivações para a internacionalização de um banco podem ser
muitas, mas as que mais se destacam são a) social: com a finalidade de preencher falhas do
mercado em relação às ofertas de crédito; b) política: para prover empregos, subsídios e
benefícios ao desenvolvimento do país e c) intermediária: que une as duas primeiras
opções e justifica que tal processo é necessário para que a nação usufrua de melhorias
sociais de desenvolvimento. (SANTOS, 2011)
A desregulamentação financeira aprofunda a entrada de empresas estrangeiras que
passam a se destacar no setor produtivo dos países que participaram deste processo. O
balanço de pagamentos desses países passa a operar em baixa, uma vez que boa parte dos
recursos utilizados por estas empresas são de origem estrangeira. O balanço negativo dos
países em processo de desregulamentação financeira, intensifica a pressão do FMI para que
se avance no processo de abertura aos bancos estrangeiros, alegando que a modernização
dos sistemas bancários domésticos era necessária e só aconteceria se passassem por esta
etapa de abertura. O Brasil e outros países emergentes aderiram a esta visão e
paulatinamente as limitações e barreiras antes impostas, foram sendo afrouxadas e
extinguidas (CAMARGO, 2009).
Os bancos brasileiros obtiveram um excelente resultado de rentabilidade no período
entre 1981 e 1987, não somente por causa da inflação alta, mas também devido às linhas
básicas de política econômica, criadas para enfrentar a crise causada pelo estrangulamento
cambial. Para isso, o governo federal manteve uma elevada taxa de juros, que fez com que
seus títulos ficassem mais atrativos (CAMARGO, 2009). Uma política bem planejada e
organizada foi fundamental para o bom desempenho dos bancos brasileiros, outra medida
neste sentido foi a diversificação patrimonial a fim de se manter seguro quando chegasse o
momento de diminuição dos ganhos inflacionários.
Ainda de acordo com Camargo (2009), foram feitos investimentos em participações
em empresas do setor produtivo, na informatização das agências e na abertura de novas
agências. Decisões que aumentaram a renda dos serviços bancários por meio da
diminuição das despesas. Tais medidas juntamente com a antecipação dos bancos frente à
inflação e fim das operações de overnight2, foram de extrema importância para que a
economia brasileira estivesse preparada para lidar com os reflexos do Plano Real, em 1994.
2
Operações de troca de dinheiro por um dia, para resgate no primeiro dia útil seguinte, restritas às
instituições financeiras (Over/Overnight – IGF Intelect – Disponível em:
http://www.igf.com.br/aprende/glossario/glo_Resp.aspx?id=2212)
No período posterior ao Plano Real, foram tomadas medidas com o intuito de
reestruturar e fortalecer o sistema financeiro nacional, as quais eram essenciais com a
estabilização da economia, em especial “a perda de importante fonte de receita advinda das
transferências inflacionárias, o floating” (PUGA, 1999). O Banco Central teve de socorrer
as instituições em caráter emergencial, usando recursos da reserva monetária e arrecadação
do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). No período de inflação elevada, os bancos
buscam compensar as perdas dos ganhos com o floating, por meio da cobrança de serviços
que eram gratuitos e da elevação das tarifas bancárias.
O efetivo processo de desnacionalização bancária do Brasil se qualifica como um
conjunto de medidas impostas a fim de que se evitasse uma crise bancária sistêmica, se
caracteriza, portanto, no controle da propriedade do sistema financeiro. Desta maneira, em
1995 o governo implementou o Proer, Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional e em 1996, o Proes, Programa de Incentivo
à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária. O Proer funcionava como
uma forma de financiamento para que instituições financeiramente saudáveis pudessem
absorver aquelas que se encontravam em dificuldades, contando com a ajuda do Estado
para bancar os débitos irrecuperáveis e no caso da não adaptação aos ajustes, bancar
também o movimento de encerramento desses bancos. Após sua implementação notou-se
uma significativa diminuição do número de instituições financeiras privadas, uma vez que
o programa era destinado apenas a esta categoria (CAMARGO, 2009).
Diversas aquisições bancárias ocorreram em decorrência do Proer, entre elas a
compra do Banco Nacional pelo Unibanco em 1995 e a compra do Banco Bamerindus pelo
HSBC em 1997. A insolvência de bancos privados nacionais de grande porte foi resolvida
por meio de sua venda a bancos estrangeiros pela primeira vez no Brasil.
Já o Proes, foi criado com a finalidade de reduzir a participação do Estado na
atividade bancária e resolver o problema do déficit público. Foram oferecidas quatro
opções aos governos estaduais com cobertura de 100% dos gastos para o saneamento de
seus bancos estaduais: a) privatização; b) transferência do controle ao Governo Federal
(que resultaria em futura privatização); c) transformação do banco em agência de
desenvolvimento ou d) liquidação. Os resultados foram diversos, de acordo com os dados
de De Paula e Marques (2006), em julho de 1998 verificou-se que dos 35 bancos estaduais
que existiam em 1996, 10 foram extintos, 6 foram privatizados, 7 federalizados e
posteriormente privatizados, 5 foram reestruturados com recursos do Proes e 3 não
participaram do programa.
Como resultado da implementação dos dois programas, as primeiras
transformações que marcaram o sistema bancário foram notadas, e a principal delas foi o
aumento da concentração do setor. Segundo Arienti (2007), entre 1993 e 2006, o resultado
deste processo foi a eliminação de 67 bancos. É notável que os programas marcaram uma
estruturação diversificada do sistema bancário nacional, possibilitando a adoção de
medidas atrativas, com foco nos grandes estrangeiros, e ainda a diminuição do número de
instituições bancárias públicas no Brasil; ou seja, o governo atingiu seu objetivo com o
Proer e Proes.
Sendo assim, seguindo a característica de outros países da América Latina, o
processo de consolidação bancária brasileiro foi num primeiro momento, conduzido pelo
governo. Porém, num segundo momento passou a ser conduzido pelo mercado, e adquiriu
uma característica bem específica. Os bancos estrangeiros participaram ativamente dos
processos de fusões e aquisições juntamente com os bancos privados nacionais, mas
posteriormente sofreram uma retração deixando o comando deste processo para os bancos
privados nacionais (DE PAULA E MARQUES, 2006).
Dos processos de fusão e compra, o de maior impacto na concentração bancária foi
a compra do grupo BCN pelo Bradesco, que superou a privatização do Banespa. E ainda, o
banco Itaú foi o que adquiriu maior número de instituições privatizadas. Dentre as
instituições adquiridas por grupos estrangeiros, apenas 35% dos ativos pertenciam a
instituições estaduais privatizadas, ou seja, a maior parte das transferências de controle
para o capital estrangeiro teve sua origem entre os capitais privados nacionais, que
perderam uma parcela de sua participação no sistema (CAMARGO, 2009).
Pode-se concluir que o processo de reestruturação brasileiro resultou em uma redução
do número de bancos públicos estaduais e privados nacionais, bem como em um
significativo aumento dos bancos de controle estrangeiro, em um primeiro momento. A
desnacionalização bancária brasileira foi mais uma opção de política governamental,
associada com a própria estratégia de diversificação de mercado dos próprios bancos, do
que uma resposta à escassez de recursos dos bancos nacionais.
3
Essa segunda onda de privatizações foi incentivada pela instituição do Plano Nacional de Desestatização, no
Governo Collor, no qual foram estatizadas 33 empresas estatais atuantes em setores estratégicos, em especial,
petroquímica, siderúrgica, fertilizantes, entre outros.
contribuiu para o aprofundamento financeiro, que além de conceder proporcionalmente
menos crédito, ainda desenvolveu pouco a captação doméstica (Carneiro, 2002).
Pode-se dizer então que a vulnerabilidade e o baixo aprofundamento financeiro
foram as razões básicas para que ocorresse a substituição monetária no Brasil. E seus
principais instrumentos foram: permissão para contratos futuros de câmbio da Bolsa de
Mercadorias & Futuros (BM&F); autorização para que algumas empresas pudessem
realizar depósitos em moeda estrangeira em instituições bancárias domésticas; e o mais
importante deles: indexação da dívida pública, que toma proporções enormes em um
pequeno período de tempo (Carneiro, 2002).
Em 1995, foi aprovada a Exposição de Motivos 311, que determinava que passaria
a ser do interesse do país a entrada e/ou o aumento da participação de instituições
estrangeiras no sistema financeiro brasileiro. Fatores como a escassez de capital nacional,
eficiência operacional4 e capacidade financeira superior dos bancos estrangeiros são pontos
chave que justificam tal medida. Puga (1999) diz que a partir de então, os pedidos de
entrada no Brasil foram analisados tendo como base os critérios de capacidade financeira e
solidez da instituição estrangeira, além dos “interesses e prioridades nacionais”. Nestes
interesses e prioridades se incluem as necessidades de solucionar problemas de bancos
nacionais em dificuldade, fortalecer o sistema financeiro nacional e corroborar a política de
abertura externa do sistema financeiro. O interesse dos bancos em ingressar no Brasil foi
tão grande, que o Banco Central passou a exigir o pagamento de um “pedágio” a título de
auxílio na recuperação dos recursos públicos utilizados para o saneamento do sistema
financeiro nacional (PUGA, 1999).
Após a deliberação da Exposição de Motivos 311, a primeira instituição estrangeira
a ingressar no país foi o banco holandês Rabobank Nederlands, que já possuía um
escritório de representação no Brasil. Ainda em 1995, o uruguaio Banco Comercial S.A.,
foi também autorizado a atuar no Brasil. O movimento de entrada teve continuação em
1996 com a entrada de 5 instituições, 1997 com 13 instituições e ainda outras em 1998.
Entre os principais, merece destaque o HSBC (Hongkong Shangai Banking Corporation),
que adquiriu o controle do Bamerindus em 1997 por meio de recursos do Proer, e manteve-
se até 1998 como o maior banco estrangeiro no sistema financeiro brasileiro, tanto em
ativos como em extensão da rede bancária. Em janeiro de 1998, a Caixa Geral de
Depósitos, de Portugal comprou 79,3% do capital votante do Banco Bandeirantes e ainda
neste ano, o espanhol Bilbao Vizcaya adquiriu gradativamente 100% do capital votante do
Excel-Econômico (PUGA, 1999).
Puga (1999) ressalta ainda que nem só de aquisições se deu a abertura financeira,
houve também ampliação dos bancos já presentes no sistema financeiro brasileiro.
Destacam-se as aquisições do Banco Geral do Comércio e do Noroeste em 1997 pelo
espanhol Santander, e ainda neste ano, a transferência do controle acionário do Boavista
para o Banco InterAtlântico, controlado pelo banco português Espírito Santo, o Grupo
Monteiro Aranha e o banco francês Crédit Agricole. Já em 1998, o controle do banco
América do Sul passou para o Sudameris e o Conselho Monetário Nacional aprovou a
venda de todas as ações do Banco Real para o holandês ABN Amro Bank. Depois desta
4
Eficiência Operacional é a capacidade de otimizar os recursos operacionais para girar os negócios,
é tudo que trabalha para melhorar a eficiência. A Eficiência Operacional se tornou sinônimo de sobrevivência
e passou a ser o principal foco dos investimentos das instituições financeiras, tanto para aumentar receitas
quanto para reduzir custos e despesas. (Eficiência Operacional no setor financeiro – Stefanini – Disponível
em: https://stefanini.com/br/2013/10/eficiencia-operacional-setor-financeiro/).
aquisição, a instituição ABN passou a ser o maior banco estrangeiro no Brasil, ocupando a
posição do HSBC em termos de ativos e agências.
Em se tratando das aquisições do HSBC e do Caixa Geral de Depósitos pelos
bancos Bamerindus e Bandeirantes, respectivamente, não foi cobrado “pedágio” por parte
do Banco Central, uma vez que as instituições estavam com sérias dificuldades financeiras.
Já o holandês ABN, em julho de 1998, acordou em pagar R$80 milhões ao Banco Central
para adquirir 40% do capital votante do Banco Real e em novembro do mesmo ano pagou
mais R$120 milhões para aumentar para 100% a sua participação no mesmo (PUGA,
1999).
Ainda segundo Puga (1999), houve também aumento da participação estrangeira no
cenário das instituições não bancárias, como por exemplo, o Deutsche Bank que foi
autorizado a instalar uma corretora de valores e o Lloyds Bank que adquiriu a financeira
Losango. Em contrapartida a este sucesso das instituições estrangeiras, alguns importantes
bancos tiveram dificuldade em se estabelecer no Brasil. Um exemplo é o francês Crédit
Lyonais, que vendeu o controle do BFB para o Itaú em 1996.
Os efeitos do ingresso dos bancos estrangeiros foram debatidos entre executivos de
importantes bancos nacionais e estrangeiros que operam no Brasil, e de acordo com o
relato de Puga (1999), grande parte deles avaliou como positivo o aumento da presença
estrangeira no sistema financeiro brasileiro, tanto no que tange à qualidade dos serviços,
quanto na redução dos spread5s e aumento da eficiência operacional.
Há uma outra parte que defende que a redução dos spreads está mais relacionada à
diminuição do risco da atividade bancária, que depende da queda da taxa de juros básica da
economia e dos níveis de inadimplência, do que ao aumento da concorrência associada à
chegada de bancos estrangeiros. Puga (1999) reitera que é consensual a opinião de que os
bancos estrangeiros chegaram com tecnologias e processos mais eficientes e sofisticados
que os bancos brasileiros. E ainda, que o alongamento dos prazos das operações de crédito
por meio de recursos externos foi considerado pouco provável, uma vez que tal
alongamento depende da redução do patamar de juros e da consolidação da estabilidade
econômica.
O mesmo autor destaca as principais críticas que alguns banqueiros brasileiros
fizeram à abertura do sistema financeiro, estas vieram após a compra do Bamerindus pelo
HSBC e após a prática de agressiva estratégia de aquisições do Santander. Aponta-se que o
Real ficaria mais vulnerável, uma vez que os bancos poderiam lucrar apostando contra a
moeda nacional, mas o autor argumenta que não é a nacionalidade dos bancos que ameaça
o Real, uma vez que todas as instituições, independente da nacionalidade, tendem a
aproveitar qualquer oportunidade de ganho, mesmo que isto comprometa a condução das
políticas monetária e cambial. Discute-se ainda, que a alocação da poupança seria tomada
no exterior, mas o autor pondera que assim como os bancos privados nacionais, os bancos
estrangeiros se concentravam nas operações de crédito de curto prazo, atuando em
operações de longo prazo apenas como repassadoras de recursos do governo,
especialmente do BNDES.
5
Spreads bancários: Diferença entre taxas de juros de aplicação e de captação, compreendendo o
lucro e o risco relativos às operações de crédito. O spread varia de acordo com a qualidade de crédito do
emissor, o prazo, as condições de mercado, o volume e a liquidez da emissão ou empréstimo. (Glossário
Banco Central do Brasil – Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/glossario.asp?Definicao=238&idioma=P&idpai=GLOSSARIO)
Segundo o Relatório de Evolução do SFN do Banco Central em 1998, a presença
de bancos estrangeiros no Brasil foi benéfica ao sistema financeiro nacional, pois os
serviços prestados por eles são de qualidade elevada e a ajuda que a entrada de capital
externo seja com novas instituições ou reforçando as já existentes demonstrou, era o que o
país precisava para preencher uma lacuna de complemento da oferta interna necessária ao
desenvolvimento. Além disso, a abertura da economia brasileira representa uma maior
integração do Brasil na economia mundial, redução do chamado “risco Brasil” 6 e maior
globalização do setor financeiro, uma vez que a presença do sócio estrangeiro cria
condições mais favoráveis ao processo de captação de recursos no exterior. Além do
reforço financeiro para o país, a entrada de capital externo no setor bancário resulta
também em ganhos decorrentes da introdução de novas tecnologias e inovação de produtos
e serviços. Em decorrência da maior eficiência operacional e capacidade financeira dos
bancos estrangeiros, seu ingresso gera maior concorrência ao sistema, refletindo em preços
dos serviços e custos dos recursos mais competitivos diante da sociedade.
O cenário que se vive entre a crise cambial de 1998-1999 e a transição para o
mandato do Presidente Lula (2003-2004) foi de crise econômica. Grandes empresas
nacionais enfrentavam dificuldades em obter financiamento público e as novas, pequenas e
médias empresas também obtiveram dificuldade em obter crédito no sistema financeiro
(ARAÚJO E CINTRA, 2011).
Como cita Araújo e Cintra (2011), em 2001, a Medida Provisória 2.196 instituiu o
Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais, que capitalizou as
instituições financeiras públicas federais e buscava adequar a regulamentação bancária
pública à privada. O objetivo desta medida era “refletir padrões internacionais
estabelecidos pelo Acordo de Basileia I” e tornar os bancos públicos federais “mais fortes,
mais competitivos e mais transparentes”. Recomendava-se que os bancos públicos federais
fossem impostos à mesma disciplina que estavam submetidos os bancos privados, e ao
mesmo tempo, a lógica empresarial privada foi colocada no mesmo nível da dita “missão
institucional” de cada banco. Os bancos estrangeiros passaram por um processo de
expansão acompanhado por uma retração do segmento privado nacional, e em maior
proporção, do segmento público, em grande maioria, da Caixa Econômica Federal.
Segundo Araújo e Cintra (2011), a participação dos bancos públicos no total de
ativos do sistema recuou de 18% em 1994 para 5% em 2008. Em contrapartida a esta
queda, continuou relevante o papel das instituições públicas no setor bancário, em razão da
presença do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que correspondiam a 23,2%
do total de ativos em 2008. Este aumento da participação das instituições financeiras
estrangeiras no mercado doméstico ocorreu, sobretudo, em função da redução da
participação dos bancos públicos estaduais que foram privatizados e/ou extintos nos
processos anteriormente citados (ARAÚJO E CINTRA, 2011).
No entanto, as alterações na estrutura bancária não dependeram somente das
autoridades econômicas, uma vez que era também estratégia dos bancos internacionais,
fortalecer suas posições globais e consequentemente, diversificar suas fontes de receitas
(ARAÚJO E CINTRA, 2011).
6
O risco país é um índice denominado Emerging Markets Bond Index Plus (EMBI+) que tenta determinar o
grau de instabilidade econômica de cada país e medir o grau de "perigo" que um país representa para o
investidor estrangeiro. Desta forma, se tornou decisivo para o futuro imediato dos países emergentes
(CARVALHO, 2011).
Os autores Araújo e Cintra (2011) destacam as ações reativas dos bancos nacionais,
onde foram modificadas suas estratégias, aderindo a novas tecnologias, inovando em
produtos e explorando novos mercados. No fim de setembro de 2002, os três maiores
bancos privados nacionais: Bradesco, Itaú e Unibanco investiram na sua
internacionalização e passaram a ter mais de 20% de seus ativos totais no mercado
internacional. Esta expansão externa tem como objetivo ampliar fontes de captação, ofertar
instrumentos para as empresas exportadoras e diversificar o espectro de investimento dos
seus principais clientes no exterior.
Verifica-se ainda, que a entrada de grandes bancos estrangeiros como ABN – Amro
Bank, HSBC e Santander, fez com os bancos privados nacionais tivessem que defender sua
liderança e poder de mercado. Sendo assim, as grandes instituições privadas nacionais,
sobretudo Bradesco e Itaú, investiram na compra de bancos estrangeiros que haviam
entrado no período anterior. O Bradesco comprou o JP Morgan Asset Management, o
Bilbao-Vizcaya Argentina, o Ford Leasing, o Deutsch DTVM e o American Express. O Itaú
comprou o BBA – Creditanstalt S/A, o Banco Fiat e o Bank Boston. Eles ainda adquiriram
grande parte dos bancos estaduais e federais privatizados. Em suma, o cenário
concorrencial, estimulou a busca pelo poder de mercado, com impactos diretos no nível de
concentração do setor, que aumentou de 64,4% em 1995 para 75,3% em 2008 entre os dez
maiores bancos. Esta grande concentração permitiu práticas de oligopólio para formação
de preços e tarifas, o que limitou a redução dos custos dos serviços - tarifas e spread
bancário (ARAÚJO E CINTRA, 2011).
Araújo e Cintra (2011) afirmam que a oferta de crédito apresentou tendência
ascendente a partir de 2003, mas este processo interrompido pela crise financeira de 2008.
Apesar de neste período os estoques de crédito dos bancos privados terem crescido a taxas
mais altas que as dos bancos públicos, do ponto de vista setorial, as instituições federais
tiveram papel importante para sustentar o ciclo de expansão econômica que viveram os
setores industrial, rural e residencial. Os bancos públicos brasileiros responderam por 45%
do crédito ao setor industrial em 2009 (ARAUJO E CINTRA, 2011).
Tendo-se noção da importância dos bancos públicos no crédito ao setor industrial, é
possível verificar que o Banco do Brasil (BB) e o BNDES detêm, desde 2006, mais de
80% do financiamento industrial das agências de fomento federal. A partir do lançamento
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em 2007, o BNDES cedeu maior
espaço para o BB, uma vez que passou a se dedicar mais à infraestrutura. Já em 2008-
2009, seus saldos de empréstimo e financiamento para indústria cresceram mais de 53%,
refletindo sua atuação anticíclica após a eclosão da crise financeira internacional no
sistema financeiro nacional.
Conforme destacam os autores que trabalham com a abordagem keynesiana
(ARAUJO e CINTRA, 2011; CROCCO et al, 2011; FREITAS e PAULA, 2010; AMADO,
2006 e 1998), o sistema bancário não atua somente como intermediário financeiro, tendo
importante papel na alocação de recursos, mas também a função de preferência pela
liquidez afeta a disposição em conceder crédito para determinada região, tendo efeito em
manter ou ampliar desigualdades regionais. Em se tratando do Brasil, existe um processo
crescente de concentração de crédito nas regiões mais ricas do país. Muito disso se deve a
uma estratégia do Banco Central do Brasil de promover uma redução no número de bancos
estaduais, que eram importantes fontes de captação de depósitos e aplicação de recursos
nas suas regiões e ao processo de reestruturação que o BB passou fazendo com que o
mesmo atuasse segundo critérios de bancos privados.
O Banco do Brasil possui elevada preferência pela liquidez nas regiões mais
pobres, que se assemelha muito à dos bancos privados. Ainda durante a crise financeira de
2008 - quando ele proveu liquidez em um período de reversão das expectativas e aumento
da aversão ao risco - esta atuação tendeu a aumentar a desigualdade na distribuição do
crédito. Claramente, se apreende que uma vez que as atividades econômicas se concentram
nas regiões mais desenvolvidas também será nestas regiões que se dará a ação anticíclica
(ARAÚJO E CINTRA, 2011).
Em se tratando do ponto de vista setorial, as instituições federais sustentaram o
ciclo de expansão econômica dos setores industrial, rural e residencial e logo depois, foram
os mesmos bancos públicos federais que implementaram a ação anticíclica pós crise
financeira internacional (ARAÚJO E CINTRA, 2011).
Esse comportamento anticíclico do crédito ofertado pelas instituições públicas foi
desenvolvido em outros trabalhos, e como cita Araújo e Cintra (2011), foram encontradas
evidências de que os empréstimos realizados por bancos públicos são 84% menos pró
cíclicos do que os dos bancos privados e que não há diferenças significativas no
comportamento de bancos privados nacionais e estrangeiros. Ou seja, os bancos públicos
contraem menos os empréstimos durante os períodos recessivos, garantindo a oferta de
crédito no momento em que os bancos privados ampliam a preferência pela liquidez, e
aumentam menos durante os períodos expansivos. Com isso, estabilizam o volume de
crédito, desempenhando um papel contra cíclico. São diversas as contribuições dos bancos
públicos como instrumento de política financeira, entre eles: fonte de competição, redução
dos spreads, taxas de juros médias e aumento dos prazos das operações de crédito, e ainda
promovendo a estabilidade do sistema e apoio à liquidez de instituições mais frágeis.
7
Para uma discussão mais detalhada sobre o assunto, ver: “Regional Monetary Policy”. Rodríguez-Fuentes,
C. J., Abingdon: Routledge, 2006.
1970 permaneceu concentrado no setor público, vinculado principalmente ao BNDE e
outros bancos de desenvolvimento e ao capital externo (ROMERO E ÁVILA, 2010).
A tabela 2 evidencia a forte concentração de crédito bancário em estados do
Sudeste, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e ainda no Distrito
Federal, em todos os anos observados. Uma possível razão para este fato é de que muitos
bancos regionais foram comprados por conglomerados bancários maiores sediados na
região. Como o controle destes bancos estava no Sudeste, as operações de crédito também
foram deslocadas para lá, fazendo com que houvesse excessiva concentração de crédito
nesta região. O mais marcante é definitivamente o estado de São Paulo, que ampliou
largamente sua vantagem em relação aos outros estados, tanto em termos de sede de
conglomerados bancários, quanto na participação do crédito concedido no país. A
concentração no Distrito Federal é facilmente justificada pela presença das sedes dos
grandes bancos públicos brasileiros.
Estado 1995 2000 2005 2010 2015 Estado 1995 2000 2005 2010 2015
AC 0 0 0,1 0,1 0,1 PB 0,3 0,5 0,4 0,4 0,5
AL 0,4 0,4 0,3 0,3 0,4 PE 2,9 1,6 1,2 1,7 1,5
AM 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 PI 0,2 0,4 0,3 0,3 0,4
AP 0 0 0,1 0,1 0,1 PR 9 4,7 5 5,5 4,7
BA 3,6 2,9 1,9 2,1 2,1 RJ 11,1 11,2 7,5 7 6,8
CE 1,8 1 1 1 1,2 RN 0,3 0,5 0,4 0,4 0,5
DF 55,7 8,9 4,9 7,1 5,1 RO 0,1 0,1 0,2 0,2 0,3
ES 0,7 0,9 0,8 1 1 RR 0 0 0,1 0,1 0,1
GO 2,2 1,4 1,9 1,7 2,2 RS 5,4 5,2 6,1 5,4 5,1
MA 0,4 0,6 0,5 0,5 0,6 SC 1,7 1,8 2,2 2,3 2,4
MG 6 5,1 6,4 6,1 6 SE 0,2 0,4 0,2 0,3 0,4
MS 1,1 0,7 0,9 0,7 0,9 SP 44,6 49,6 55,3 53,4 55,1
MT 1,3 1 1,3 1,1 1,3 TO 0,2 0,2 0,2 0,2 0,3
PA 0,6 0,6 0,6 0,7 0,8
Tabela 2 - Participação dos estados brasileiros no crédito total concedido 1995 – 2015 (em %)
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do ESTBAN
8
Maiores detalhes acerca desta metodologia, ver “Econometria Básica” (Gujarati, Damodar, 5ª
edição, 2011).
fortemente correlacionada ao grau de alavancagem das empresas é a rentabilidade (RENT),
que consiste na mensuração do retorno sobre o investimento que foi feito no longo prazo
(0,8821). Estes índices sugerem que a ideia de que a interação entre o grau de alavancagem
das empresas, e as variáveis que o compõe, são instrumentos válidos para medir a interação
da oferta de crédito estadual e o financiamento ao desenvolvimento de grandes empresas
no Brasil.
Podem ser listadas como categorias fortemente relacionadas, as variáveis idade e
rentabilidade (0,7810), o que nos leva a crer que quanto mais tempo de mercado a empresa
tiver, maior sua capacidade de obter e mensurar seu retorno no longo prazo, uma vez que
em mais tempo, mais investimentos puderam ser feitos e maiores seus resultados. O
mesmo é possível inferir da relação risco-rentabilidade (0,7746), tendo em mente que a
variável RISC foi calculada com base no quociente do lucro operacional e total do ativo,
quanto maior o risco, uma maior parte do ativo corresponderá ao retorno dos investimentos
feitos, ou seja, maior a rentabilidade da empresa. Analogamente, verifica-se forte relação
entre idade e risco (0,7497). Quanto mais tempo de mercado, mais investimentos de longo
prazo já maturados, maior a parcela de lucro presente no ativo de cada empresa.
Já a Análise Fatorial de Correspondências Múltiplas, é um procedimento
exploratório e descritivo de estatística multivariada que identifica a relação que existe entre
duas ou mais variáveis, podendo ser percebida pela visualização dos pontos no gráfico, que
facilita a interpretação dos dados. Tal técnica é direcionada com basicamente dois
propósitos: sendo o primeiro deles, verificar a associação entre elas, uma vez que a
representação dessas categorias se dá pelos pontos em um plano de dimensões reduzidas.
Atributos com distribuições semelhantes serão vistos como pontos próximos no plano e
atributos com distribuições diferentes, serão vistos como pontos distantes no plano. O
segundo propósito desta técnica é tornar possível um tratamento categórico, com a
intenção de revelar mais precisamente as relações e associações entre as variáveis.
O método ACM foi escolhido em contrapartida a algum método econométrico, por
trabalharmos com indicadores que são tratados como categorias. O propósito é cruzar as
informações das categorias de alavancagem e endividamento com as informações regionais
de desenvolvimento e crédito. Além de possuirmos uma amostra restrita, e desta maneira
termos perdas do grau de liberdade da amostra. Previamente à ACM, queremos analisar o
grau de correlação linear das variáveis, a fim de verificar se há uma forte relação entre elas
e assim, abrir caminhos para uma interpretação mais sofisticada.
Para análise foram feitas as seguintes considerações: os valores referentes a cada
variável foram categorizados a partir do arredondamento simples dos valores, como segue
na tabela 3. Nas variáveis DEBT (alavancagem), ES (estrutura do ativo), RENT
(rentabilidade) e CRESC (crescimento) valeram as categorias 0 e 1, criando então as
categorias DEBT_0, DEBT_1, ES_0, ES_1, RENT_0, RENT_1, CRESC_0 e CRESC_1.
Para a variável IDD (idade) foram consideradas três categorias, sendo elas 0, 1 e 2 que
categorizam as empresas como: IDD_0: empresas jovens, IDD_1: empresas em
consolidação, IDD_2: empresas maduras.
A nível estadual, as variáveis foram categorizadas da maneira que segue: LDFR de
-6 a 5, identificando estados por ordem crescente de desenvolvimento financeiro. Já a
variável CRC foi categorizada em três definições: CRC_0: para estados que recebem pouca
oferta de crédito, CRC_1: estados com oferta moderada de crédito e CRC_2: oferta
abundante de crédito.
O primeiro critério usado para a interpretação dos resultados da ACM é definir o
número de dimensões que devem ser consideradas. Para isso foi calculada a média dos
autovalores (̅ ) e considerados todos os autovalores superiores a essa média. Foram
consideradas duas dimensões, que explicam 77,69% da variância da nuvem de categorias.
A partir do tratamento dos dados foram elaboradas tabelas contendo informações
diferenciadas sobre a amostra. A primeira tabela (Tabela 3) remete às coordenadas de cada
categoria em cada dimensão (Dim.). Essas coordenadas são as mesmas representadas nos
gráficos de dispersão analisados posteriormente. A tabela serve para explanar informações
mais precisas sobre a localização espacial das categorias no plano de representação
(através de pontos no plano). Sendo assim, poderemos verificar que categorias com maior
semelhança (em termos de distribuição – que apresentam valores próximos no que se
refere às Dimensões 1 e 2), têm coordenadas próximas no gráfico, onde é possível detectar
visualmente os pontos que apresentam maior correspondência.
1
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A metodologia escolhida para análise dos dados coletados cumpre seu objetivo
neste capítulo, uma vez que permite que a hipótese discutida de que a relação entre a oferta
de crédito e consequentemente, o desenvolvimento de determinado estado têm relação
positiva e direta com a presença de grandes empresas neste estado. As diversas variáveis
que se obtém ao trabalharmos com a amostra definida nos permitem inferir sobre seu
padrão de financiamento e confirmar a hipótese de que mesmo após as muitas mudanças
que sofreu o sistema financeiro, mais especificamente, o sistema bancário brasileiro, a
estrutura de financiamento das grandes empresas do país continua sendo dependente dos
grandes bancos públicos nacionais, levando a conclusão de que o Estado é o maior
financiador do desenvolvimento industrial no Brasil.
Conclusão
Ademais, por meio deste trabalho chega-se à conclusão de que mesmo depois de
passar por fortes alterações nos agentes bancários, o padrão de financiamento brasileiro se
manteve concentrado nas mãos dos grandes bancos públicos nacionais. Fato que evidencia
a dependência das empresas brasileiras, com relação a seu padrão de financiamento, além
de outros fatores, em se situarem em áreas com maior oferta de crédito, as quais
correspondem aos estados brasileiros com maior índice de desenvolvimento.
A relação demonstrada graficamente entre os índices regionais e a variável que
representa o grau de alavancagem das empresas permite concluir que há forte dependência
das mesmas pela oferta de crédito que os bancos públicos nacionais disponibilizam, ou que
seus investimentos são bancados por empréstimos intercompanhia, uma vez que não se
verifica utilização significativa de outra forma de financiamento.
Depois de verificados os resultados e feita a análise cabe pontuar que em função
das características encontradas como determinante dos dados - empresas que possuem
elevado grau de alavancagem, certa maturidade no mercado e que estão localizadas em
regiões com potencial desenvolvimento e grande oferta de crédito – devem ser analisadas
as dinâmicas econômicas e regionais por parte do governo brasileiro. As recentes
transformações que o ordenamento territorial do crédito e da indústria vêm sofrendo têm
forte implicações no futuro do país. Acredita-se que a potencialização destas tendências
podem tornar possível a diminuição das desigualdades regionais, e tal feito só será
amplamente possível com a articulação de políticas nacionais de desenvolvimento
regional.
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ANÁLISE DO FINANCIAMENTO DO BNDES NO SETOR AGROPECUÁRIO
BRASILEIRO PARA O PERÍODO DE 2012 A 2015
Fransuellen Paulino Santos – Universidade Federal de Viçosa – franspaulino@gmail.com
Luiza Amara Maciel Braga - Universidade Federal de Viçosa - luizaamara@gmail.com
Aboubacari Mohamed Abdoulaye - Universidade Federal de Viçosa-
abdeltoure2229@gmail.com
Resumo
O presente trabalho busca analisar como foi o comportamento da produtividade total dos
fatores (PTF) de algumas empresas do setor agropecuário brasileiro que receberam crédito
do BNDES, entre 2012 e 2015. Pretende-se, então, apurar se as empresas que receberam
mais crédito são aquelas com o melhor desempenho produtivo para o setor agropecuário.
Para isso utilizou-se a técnica Análise Envoltória de Dados (DEA), com o cálculo do
Índice de Malmquist, a partir de uma amostra de 14 empresas do setor. Constatou-se que,
na média, apenas quatro empresas apresentaram variações positivas de produtividade. O
valor financiado pelo BNDES, pode ter tido impacto positivo sobre o desempenho das
empresas do ponto de vista tecnológico, mas não foi suficiente para melhorar sua eficiência
técnica. Além disso, foi possível verificar que as empresas que receberam mais crédito não
foram, necessariamente, as que tiveram o melhor desempenho produtivo.
Palavras-chave: Produtividade Total de Fatores, Índice Malmquist, BNDES.
Abstract
This paper pretends to analyze the Total Factor Productivity (TFP) of some Brazilian
agricultural companies that received credit from the National Bank for Economic and
Social Development (BNDES), between 2012 and 2015. The intention is to determine if
the companies that received the most credit are those with the best productive performance
in the agricultural sector. For this purpose the Data Envelopment Analysis (DEA)
technique was used, with the calculation of the Malmquist Index, from a sample of 14
companies. It was found that, on average, only four companies showed positive changes in
productivity. The amount financed by the BNDES may have had a positive impact on the
performance of companies from the technological point of view, but was not sufficient to
improve their technical efficiency. In addition, it was possible to verify that the companies
that received the most credit were not those that had the best productive performance.
Key words: Total Factor Productivity, Malmquist Index, BNDES.
1 INTRODUÇÃO
empresas que compõe o setor tenham o melhor desempenho produtivo possível, e com essa
finalidade são direcionados a essas empresas uma série de incentivos, dentre os quais estão
Social (BNDES).
parte do governo brasileiro, dando, por exemplo, o incentivo através do crédito especial, no
(FILHO et al., 2000). O final deste mesmo ano, de acordo com Delgado (2001), é
um sistema de agroindústrias, uma parte dirigido para o mercado interno e outra parte
voltado para a exportação. O autor explica que, como existe uma assimetria de
inferior ao de outras consideradas eficientes, e isto implica em uma baixa remuneração dos
importância, esse segmento conta com forte apoio do BNDES, direcionado às pequenas e
grandes empresas. O crédito concedido pelo BNDES tem como principal objetivo o
da capacidade produtiva dessa indústria, o que pode ser atingido mediante a adoção de
crédito para a inovação foi destacada no estudo de Schumpeter (1934), onde o autor aponta
que os empresários somente teriam condições de inovar se tivessem acesso à credito para
tal finalidade. Ou seja, apenas desta forma os empresários teriam condições de optar pelo
setores da economia brasileira. Para que isso ocorra, apoia empreendedores de todos os
portes, para que possam expandir, modernizar e concretizar os novos negócios, além de
sempre visar a potencial geração de empregos, renda e inclusão social para o país
socioambiental.
O BNDES age através de políticas transversais, por meio de princípios e
instrumentos de ação, que traduzem alguns assuntos considerados prioritários para o Banco
disponibilizados pela instituição possuem alguns critérios. Assim, estes deverão ser
e (ii) para a produção ou aquisição de máquinas e equipamentos novos, que devem ser de
softwares, capital de giro, exportação de bens e serviços brasileiros, podendo até ocorre a
Dessa forma, o BNDES busca estimular uma área que tem papel expressivo na
colheita e a modernização de plantas produtivas. Grande parte dos clientes no setor são
cooperativas, que a partir do apoio do Banco crescem e com isso geram trabalho e renda
alguns autores como Hayami e Ruttan (1970), Gasques e Conceição (1997) e Pereira
(1999) demonstram que as quedas de eficiência do setor podem ser compensadas por
ganhos proporcionais na tecnologia, para que, desta forma, ocorram mudanças positivas na
disparidades regionais no que se refere à adoção das novas tecnologias. Neste sentido,
Pereira (1999) explica que, entre os anos de 1970 a 1996, a evolução tecnológica do setor
avançou mais nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do que em outras regiões do país.
de cada microrregião é explicada por variáveis distintas. Enquanto isso, Pereira Filho e
explicam que os resultados não permitem inferir a respeito dos determinantes deste
comportamento.
econômico utilizado pelo governo, beneficiando alguns setores, produtores e regiões, mas
brasileiras quanto ao grau de eficiência técnica de sua agropecuária sendo assim, uma
setor. Desta forma, se são conhecidos os fatores que contribuem para tornar-se uma região
eficiente, pode-se definir as necessidades das áreas específicas para, então, solucionar os
agropecuária brasileira.
fornecido pelo BNDES. Com a intenção de suprir essa lacuna, este estudo tem como
objetivo fazer uma análise geral da produtividade total dos fatores (PTF), entre 2012 e
2015, das principais empresas agropecuárias brasileiras. Foram selecionadas empresas que
receberam crédito do BNDES, entre 2004 e 2015, e que também estavam no ranking
2 METODOLOGIA
Índice de Malmquist, que é uma técnica não paramétrica, cujos pioneiros foram Charnes et
al. (1978), tendo como base os princípios derivados do modelo de Farrell (1957). Esta
observados e os valores ótimos de suas saídas (output) e entradas (input). Desta forma, as
demais.
quando, dado um montante fixo de insumos, pretende-se obter uma maior quantidade de
produtos. O modelo adotado neste trabalho tem orientação insumo, o que é justificado pelo
fato das variáveis de insumo serem as primeiras variáveis de decisão passíveis de mudança
pelos empresários (COELLI et al, 2003).
proporção, o que não ocorre na hipótese de retornos variáveis, que admite que um aumento
de insumo gere um aumento ou até uma diminuição da produção. Este trabalho utilizou o
modelo VRS, considerando que as empresas são heterogêneas e que nem sempre as
necessário utilizar uma abordagem que permita verificar a dinâmica das DMUs. Tem-se
destaque o Índice de Malmquist que é uma extensão dos modelos clássicos que permite
comparativo para a análise do consumo em razão de funções distância. Com o passar dos
anos foi sendo aperfeiçoado por inúmeros trabalhos, dentre os quais Caves et al. (1982) e
Thrall (2000). Tal índice representa o crescimento da produtividade total dos fatores (PTF)
construída de dois pontos de produção para períodos distintos de uma mesma unidade
(SANT’ANNA et al., 2002). Cooper et al. (2007) explica que a PTF reflete a contribuição
tem-se que 𝑑𝑖(𝑥, 𝑦) ≥ 1. Enquanto isso, que no caso em que 𝑑𝑖(𝑥, 𝑦) = 1, admite-se que x
De acordo com os trabalhos de Färe et al. (1995) e Caves et al. (1982), o IM pode
ser calculado com o auxílio da média geométrica de dois índices. Portanto, o IM contém a
primeira parte que utiliza a fronteira do período t, enquanto a segunda usa a fronteira do
período t+1. Desta forma, pode representar 𝐼𝑀𝑖 sob orientação insumo da seguinte forma:
1⁄
𝑑𝑡(𝑥 𝑡+1, 𝑦𝑡+1) 𝑑𝑡+1
𝑖 (𝑥 𝑡+1, 𝑦𝑡+1)
2
𝐼𝑀𝑖 (𝑥𝑡+1 , 𝑦𝑡+1 , 𝑥𝑡 , 𝑦𝑡 ) = [ 𝑖 𝑡 ] (1)
𝑑𝑖 (𝑥𝑡, 𝑦𝑡) 𝑑𝑖𝑡+1(𝑥𝑡, 𝑦𝑡)
Recorrendo a equação (1) pode-se inferir que quando 𝐼𝑀𝑖 > 1 houve uma melhora
na produtividade da 𝐷𝑀𝑈𝑖 ao longo do tempo; 𝐼𝑀𝑖 < 1 indica que houve uma piora da
produtividade da 𝐷𝑀𝑈𝑖 ao longo do tempo; e, por fim, se 𝐼𝑀𝑖 = 1 quer dizer que a
Através de uma forma decomposta para o índice, Pereira (1999) e Marques e Silva
evolução:
1⁄
𝑑𝑡+1(𝑥 ,𝑦 ) 𝑑𝑡(𝑥 ,𝑦 ) 𝑑 𝑡(𝑥 , 𝑦 ) 2
𝑖 𝑡+1 𝑡+1 𝑖 𝑡+1 𝑡+1 𝑖 𝑡 𝑡 (2)
𝐼𝑀𝑖 (𝑥𝑡+1 , 𝑦𝑡+1 , 𝑥𝑡 , 𝑦𝑡 ) = ⌈ ⌉
𝑑𝑡(𝑥𝑡, 𝑦𝑡) 𝑑𝑡+1(𝑥𝑡+1, 𝑦𝑡+1) 𝑑𝑡+1(𝑥𝑡 , 𝑦𝑡 )
𝑖 𝑖 𝑖
causa de uma contração da fronteira de produção. Ou seja, a razão fora dos colchetes na
pela Revista Exame para diversos setores da economia. Cabe destacar que essa escolha
que todas dispõem de capital aberto, ou seja, do ponto de vista econômico e financeiro elas
são semelhantes entre si, o que dá consistência às informações durante o período analisado,
confiabilidade aos dados. Além das informações levantadas através dos relatórios, também
financeiras realizadas entre 2004 e 2015, com o intuito de captar o tempo de maturação dos
investimentos de longo prazo, conforme descrito por Prates et al. (2000).
foram corrigidos para valores de 2015, pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
dos Fatores (PTF), utilizou-se o Índice de Malmquist. Esse índice, que representa a
variação na produtividade total dos fatores, pode ser decomposto em outros dois índices,
ocorreram devido a uma melhor alocação dos recursos, que resultou numa melhora da
tecnologia (VT) e da Produtividade total dos fatores (PTF), para o período do estudo
(Minerva, Marfrig e Copersucar) foram eficientes (VET≥1), ao longo dos anos, indicando
que as unidades de produção da amostra têm dificuldades para alocar seus recursos
financeiros da melhor forma possível. No entanto, apesar da maior parte das empresas
estarem abaixo da fronteira de produção, elas estão muito próximas dela, uma vez que as
médias dos seus scores de eficiência estão acima de 0,8, indicando proximidade da
fronteira de produção.
fronteira, indicando que aumentaram sua capacidade de produção, que para este modelo se
um bom desempenho no fator de mudança tecnológica, conforme foi explicado por Brito e
Silva (2012). Contudo, o bom desempenho tecnológico só foi suficiente para superar a
ineficiência técnica das empresas Cooperalfa e Camil, que foram as únicas que tiveram
variação negativa na VET superada pela variação positiva na VT e, por isso, tiveram
variações positivas da PTF (Minerva e Marfrig), mas essas duas corporações tiveram
desempenho positivo nos dois fatores que compõe a PTF. Percebe-se, então, que nem
sempre o bom desempenho de um dos fatores que compõe a PTF é suficiente para superar
uma variação negativa no outro fator, sendo necessário que as empresas busquem por
variações positivas em ambos, pois só assim é possível garantir uma variação positiva da
produtividade.
A Tabela 2, por sua vez, apresenta o comportamento médio das empresas por ano,
o que permite a análise anual do desempenho das empresas em relação à PTF e aos seus
componentes.
índice de mudança na tecnologia no ano de 2015 foi de 1,046, implicando que o progresso
tecnológico cresceu em média 4,6%. Observa-se, também, que na média estas empresas
consequentemente, a produtividade total de fatores foi maior em 2015. Isso corrobora com
o estudo de Costantin et al. (2007), que apontaram que a inovação e/ou progresso
que ocorreram na economia brasileira de 1970 a 1999. Isto, demonstra que, apesar dos
anos que se sucederam, este fator continua sendo de grande importância para o setor,
grupos de empresas, aquele cujo desempenho geral foi positivo (∆PTF > 1) e para aquele
Nota-se que, para ambos os grupos, o índice de mudança tecnológica, que denota
empresas que tiveram um desempenho negativo na produtividade total dos fatores possuem
apenas problemas de eficiência técnica. Esse resultado evidencia que as empresas tiveram
ganhos tecnológicos durante o período, contudo a maior parte delas não soube combinar da
Sendo assim, fica evidente que as empresas tiveram um bom desempenho do ponto
de vista tecnológico, mas que não foram eficientes na alocação dos fatores de produção. A
variação tecnológica positiva não foi suficiente para superar o mal desempenho da
eficiência técnica nesses anos, para a maior parte das empresas, e por isso, apenas quatro
reais em financiamentos concedidos pelo BNDES. A maior parte deste crédito tinha como
crédito teriam o melhor desempenho. Com o intuito de avaliar essa hipótese, a Tabela 4
ter tido efeito positivo sobre o desempenho tecnológico das empresas analisadas, já que
apenas uma não teve variação positiva no índice de mudança tecnológica. No entanto, não
é possível afirmar que a empresa que recebeu maior incentivo foi a que apresentou melhor
fornecido pelo banco parece ter tido impacto positivo para o deslocamento da fronteira de
produtividade total dos fatores. A variação da eficiência técnica negativa da maior parte
das empresas anula a variação tecnológica positiva gerando, por sua vez, variações
negativas na produtividade total dos fatores. Isso indica que, o impacto positivo do
dessas empresas. No entanto, como Fornazier e Vieira Filho (2012) salientam, é justamente
por existir distinções de eficiência técnica no setor agropecuário que se faz importante a
etapa de levantamento das limitações de desenvolvimento desse setor, para que assim
Nesse sentido, seria importante a realização de uma análise a fim de que se tome
caso contrário, a manutenção destas ineficiências pode anular os efeitos positivos das
mudanças tecnológicas, que são o objetivo central das concessões de crédito. Dessa forma,
produtividade da empresa.
4 CONCLUSÃO
apenas no PIB como também possui substancial participação na balança comercial do país.
Por ser um setor de destaque é fortemente financiado pelo governo, dentre os quais estão as
políticas de apoio concedidas pelo BNDES, cujo os investimentos entre 2004 e 2015, para
escala e orientação insumo. Além disso, realizou-se também uma análise para averiguar
qual foi o impacto do financiamento concedido pelo BNDES ao setor, sendo esta uma
BNDES.
Em síntese, através da análise dos índices percebe-se que apenas três empresas, das
14 analisadas, possuem uma variação da eficiência técnica positiva, com destaque para a
Marfrig. Quanto aos ganhos na variação tecnológica, todas obtiveram uma variação
total de fatores, nota-se que somente quatro empresas demonstram ganhos, sendo elas a
para os anos de 2012 a 2015, contudo nem sempre ele é capaz de compensar a ineficiência
das empresas. Por conta disso, muitas vezes o investimento realizado com os recursos do
BNDES gera deslocamento da fronteira de produção da empresa, mas não gera aumento de
produtividade. Seria, então, interessante que o Banco acompanhasse também a forma como
essas empresas alocam seus recursos, afim de se obter a máxima eficiência técnica que ao
ser combinada com a variação tecnológica positiva gerará variação também positiva na
PTF.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Adriano P.; FILHO, José L. A.; SCALCO, Paulo R.. Mudanças Recentes na
Estrutura de Produção Agropecuária do Nordeste. Revista Econômica do Nordeste, v. 44,
p. 489–506, 2013.
Email: godoiyuri@gmail.com
Email: fcccassuce@yahoo.com.br
DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA DO BRASIL COM EFEITOS DE
Resumo: Este trabalho analisa a dinâmica da Dívida Liquida do Setor Público (DLSP), que
possui efeitos sobre o processo de crescimento dos preços da economia, sobre a captação de
meses. O modelo demonstra que uma variação da taxa de juros, do câmbio, da taxa de
Abstract: This paper analyzes Net Debt of the Public Setor, which has effects on the process
investments and, consequently, the growth of economic activity in Brazil. For the analysis
will be stipulated an autoregressive vector (VAR), in order to predict the Public Debt / GDP
dynamics for a period of 36 months. The model shows that a variation of the interest rate,
the exchange rate, the GDP growth rate and the price index affect the dynamics of the DLSP.
dívida.
em 1999, adotou-se uma política fiscal que possui um papel de evitar que a relação
Nos últimos anos o Brasil vem apresentando uma tendência de queda na razão
dívida pública/PIB. De acordo com dados do Banco Central em 2002 o Brasil possuía
uma razão dívida/PIB no patamar de 62,9% enquanto que em agosto de 2015 esta razão
se encontra em 33,7%.
taxa básica de juros, em outubro de 2014 a taxa Selic era o principal indexador da dívida
representando 73,7% dos títulos vinculados a Dívida Liquida do Setor Público (DLSP).
Dada está forte relação entre a DLSP e a taxa básica de juros, percebe-se que uma
alteração nesta taxa de juros, influencia a DLSP e afeta por diferentes canais a economia
que um choque positivo na taxa Selic de 0,5 p.p, após 12 meses espera-se que tal choque
resulte numa redução de 18,1% sobre o IPCA e numa valorização cambial de 3,1% do
Freitas (2011) demonstra os efeitos que a alteração na taxa básica de juros possui
capacidade produtiva, criando o seguinte ciclo vicioso: “a baixa oferta provoca mais
inflação, que faz os juros subirem mais, que inibe novos investimentos, o que, ao final,
leva a taxas de investimento mais baixas” (FREITAS, 2011, pag. 01). Outra
consequência observada pelo autor foi que o aumento da taxa de juros gera um aumento
do custo da dívida, com um maior gasto voltado para o custeio da dívida o governo reduz
acabaria por induzir o governo a elevar a carga tributária, com o intuito de conter a
expansão da dívida pública. Como resultado, seria observada uma queda nos
arrecadação tributária. Ironicamente, culminaria com uma queda maior nos gastos
dos gastos) seria a expansão da taxa de juros. Esse fenômeno impactaria ainda mais nos
(2010) define o modelo brasileiro como possuindo gasto público elevado e crescente,
pública/PIB.
II. METODOLOGIA
variáveis, taxa de câmbio real, índice de preços, taxa Selic e taxa de crescimento do PIB
𝐷𝑡 = 𝛽0 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽1𝑝 𝐷𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽2𝑝 𝐽𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽3𝑝 𝐶𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽4𝑝 𝜋𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽5𝑝 𝑇𝐶𝑡−𝑝 + 𝜀1𝑡
𝐽𝑡 = 𝛽1 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽2𝑝 𝐽𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽1𝑝 𝐷𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽3𝑝 𝐶𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽4𝑝 𝜋𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽5𝑝 𝑇𝐶𝑡−𝑝 + 𝜀2𝑡
𝐶𝑡 = 𝛽2 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽3𝑝 𝐶𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽1𝑝 𝐷𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽2𝑝 𝐽𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽4𝑝 𝜋𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽5𝑝 𝑇𝐶𝑡−𝑝 + 𝜀3𝑡
𝜋𝑡 = 𝛽4 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽4𝑝 𝜋𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽2𝑝 𝐽𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽3𝑝 𝐶𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽1𝑝 𝐷𝑡−𝑝 + ∑𝑛𝑝=1 𝛽5𝑝 𝑇𝐶𝑡−𝑝 + 𝜀4𝑡
𝑛 𝑛 𝑛 𝑛 𝑛
{𝑇𝐶𝑡 = 𝛽5 + ∑𝑝=1 𝛽5𝑝 𝑇𝐶𝑡−𝑝 + ∑𝑝=1 𝛽1𝑝 𝐷𝑡−𝑝 + ∑𝑝=1 𝛽2𝑝 𝐽𝑡−𝑝 + ∑𝑝=1 𝛽3𝑝 𝐶𝑡−𝑝 + ∑𝑝=1 𝛽4𝑝 𝜋𝑡−𝑝 + 𝜀5𝑡
(1)
são os parâmetros a serem estimados; 𝐷𝑡−𝑝 , 𝐽𝑡−𝑝 , 𝐶𝑡−𝑝 , 𝜋𝑡−𝑝 e 𝑇𝐶𝑡−𝑝 são as
quantidades dos parâmetros defasados em p períodos; 𝜀1𝑡 , 𝜀2𝑡 , 𝜀3𝑡 , 𝜀4𝑡 e 𝜀5𝑡 são os
variações dos parâmetros. Espera-se que uma depreciação da taxa de câmbio (R$/ US$)
eleva as exportações líquidas, assim causando uma elevação do PIB. O Aumento da taxa
dívida pública.
séries estacionárias. Ou seja, séries que possuem média e variância constantes ao longo
(VOGELVANG, 2005).
para verificar a existência de autocorrelação dos resíduos do modelo. Este teste trabalha
Os dados utilizados são, dívida pública (Dívida - total - gov. federal e Banco Central-
líquida - % PIB), taxa de câmbio (Taxa de câmbio comercial para compra: real (R$)
/dólar americano (US$) - fim período), preços (Inflação - IPCA - (% a.m.)), taxa de
juros (Taxa de juros - Over / Selic - (% a.m.)), Índice de Preços do Brasil (IPC -geral -
índice (dez. 2005 = 100)) e Índice de Preços Estados Unidos (Estados Unidos-IPC -
observações.
Com a exceção das séries referentes à taxa de câmbio e da dívida, todas as outras
variáveis apresentaram séries estacionárias em nível. As duas series citadas acima foram
que serão inseridas no modelo. Para isto, foi utilizado os testes de Akaike (AIC),
se tem como objetivo para realização das previsões, se optou por estimar os modelos
(duas).
1
Segundo Schmidt e Lima (2004), ao citarem Rahbek e Mosconi (1999), mesmo se existissem N
séries não-estacionárias de mesma ordem e M séries estacionárias, se M<N, os resultados dos testes de co-
integração não se alterariam. Como no modelo estudado M>N os testes de co-integração não são validos.
A análise do VAR será focada nos resultados apresentados da decomposição de
variância das variáveis sob análise (Tabela 1), e de suas funções de impulso-resposta
variáveis: juros, taxa de câmbio, inflação e taxa crescimento do PIB. A taxa de juros
Pode-se observar que a partir do quinto mês a taxa de câmbio possui um impacto
seja, houve um aumento da relação real/dólar o que aumentou o valor em reais da dívida
com a da taxa de câmbio para os períodos seguintes. Este fenômeno pode ser explicado
impulso reposta da inflação (Figura 1) sobre a dívida pública revela que os impactos
decorrentes de choques tendem a se reduzir à medida que o tempo passa, com a mesma
0,2
0,15
0,1
0,05
Choques
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
-0,05
-0,1
D(INFLACAO)
-0,15
-0,2
Períodos
onde, se observou uma forte queda. Posteriormente, houve uma forte elevação até o
vigésimo período. Sendo esta não suficiente para fazer um choque positivo sobre a dívida
pública. Isto indica que ao longo do tempo a inflação provoca a queda da dívida do setor
público.
0,1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
-0,1
CHoques
-0,2
-0,3
D(INFLACAO)
-0,4
-0,5
-0,6
Períodos
Análises semelhantes podem ser efetuadas para as variáveis taxa de câmbio (Figura
3) e juros (Figura 5). Todas apresentando comportamento similares das suas funções
impulso-resposta sobre a dívida pública, a taxa de juros possui uma tendência tendo o
seu efeito dissipado a partir do trigésimo quarto mês e a taxa de câmbio a partir do
D(CAMBIO)
0,05
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
-0,05
-0,1
-0,15
Períodos
0,9
0,8
0,7
0,6
Choques
0,5
0,4 D(CAMBIO)
0,3
0,2
0,1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
Períodos
FONTE: ELABORADO COM DADOS DO TRABALHO
mesma possui uma tendência de elevação a partir terceiro mês até o vigésimo primeiro
mês, ou seja, neste período a taxa de câmbio promoveu uma elevação da razão dívida
0,2
0,15
0,1
Choques
D(JUROS)
0,05
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
-0,05
-0,1
-0,15
Períodos
FONTE: ELABORADO COM DADOS DO TRABALHO
pode-se observar uma forte elevação da dívida a partir do decimo primeiro período até o
decimo sexto período, posteriormente há uma tendência de estabilização. Os choques
0,5
0,45
0,4
0,35
0,3
0,25
D(JUROS)
Choques
0,2
0,15
0,1
0,05
0
-0,05 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
Períodos
FONTE: ELABORADO COM DADOS DO TRABALHO
Como pode ser visto na Figura 7 a taxa de crescimento do PIB é a variável com menor
uma queda da dívida pública, sua função de impulso resposta possui uma redução dos
0,15
D(CRESCIMENTO)
0,1
0,05
Choques
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
-0,05
-0,1
-0,15
-0,2
Períodos
FONTE: ELABORADO COM DADOS DO TRABALHO
A Função de Impulso Resposta Acumulada (Figura 8) da taxa de crescimento
demonstra uma grande variação ao longo dos períodos, mais apresenta valores negativos
dívida pública.
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334353637
-0,05
-0,1
D(CRESCIMENTO)
Choques
-0,15
-0,2
-0,25
-0,3
-0,35
Períodos
FONTE: ELABORADO COM DADOS DO TRABALHO
Ao fazer uma análise para todas Funções de Impulso Reposta Acumulada, pode-se
de elevação da dívida pública, sendo as variáveis taxa de câmbio e taxa de juros as que
dívida pública já eram conhecidos e foram utilizados para testar o poder de previsão do
modelo.
Os valores preditos e observados para a dívida pública e erro de previsão do modelo
modelo foi calculado a partir da diferença dos valores observados da dívida pública pela
apresentou o menor erro de previsão com somente 0.1184% e o maior erro apresentado
foi para o mês de março de 2015 com o valor de 8.0413% nos meses seguintes houve
satisfatórios2.
22,5
22
Previsão da dívida pública
21,5
21
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Períodos
FONTE: ELABORADO COM DADOS DO TRABALHO
2
Wanke et al. (2006) demonstra o método para estimar os erros de previsão Mean Absolute Deviation.
O valor calculado foi 3.61626. Valores inferiores a 4 indicam um modelo que possui previsões
satisfatórias.
De acordo com o modelo apresentado, há uma tendência de estabilização da dívida
pública no patamar de 22,5% do PIB. No final de dezembro de 2017 (período 32) a dívida
O modelo apresenta bom poder de previsão (pelo menos para os seus cinco primeiros
períodos), o que demonstra que a determinação da dinâmica da dívida pública por meio
da análise da taxa de juros real, taxa de câmbio real, da taxa de inflação e da taxa de
sendo a taxa de câmbio e a taxa de juros as principais variáveis que afetam a dívida.
IV. CONCLUSÃO
seguintes variáveis econômicas: taxa de juros real, câmbio real, inflação e taxa de
crescimento do PIB. Foi demonstrado que as mesmas possuem alta relevância para
câmbio são as que mais afetam a dívida. Ao analisar o endividamento brasileiro a taxa
dívida ao longo dos próximos anos. A dívida pública fecharia o ano de 2017 no patamar
por volta de 22,7% do PIB, o último dado divulgado do valor da Dívida Pública (Federal
e do Banco Central) divulgado foi de setembro de 2015 e a mesma se encontrava no
utilização de indexadores a títulos prefixados possui uma melhor relação com o montante
afetam, o governo pode adotar políticas mais críveis, que influenciam diretamente a
V. REFERÊNCIAS
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elevada: observações sobre o caso brasileiro. Revista de Economia Política, v. 9, n. 4,
p. 70-87, 1989.
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2014.
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SCHMIDT, Cristiane Alkmin Junqueira; LIMA, Marcos AM. A demanda por energia
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WANKE, Peter; JULIANELLI, Leonardo. Previsão de vendas: processos
organizacionais & métodos quantitativos e qualitativos. São Paulo: Atlas, 2006.
Anexo:
www.unimontes.br
impacto social, político e econômico. Este artigo analisa os enquadramentos dados pelo
Jornal Nacional a três temas de relevância pública e que tocam nas relações entre Estado e
pelas agências de classificação de risco. Foram analisadas matérias destes temas durante
seis meses – três antes do afastamento de Dilma Rousseff e três após a posse definitiva de
Michel Temer. Concluiu-se que o telejornal exibiu o ponto de vista do mercado financeiro,
evitando dar voz a outras visões e apoiando e cobrando ações como corte de gastos,
diminuição do Estado e aplicação das reformas como medidas cruciais para superar a crise
e retomar o desenvolvimento.
comunicativa, é ainda mais acentuada, embora seja importante ressaltar que o público não
pode ser uma tarefa elucidativa uma vez que estes discursos, ainda mais em países de
muita centralidade e alcance da mídia de massa, como é o caso do Brasil, têm grande
nos padrões de comportamento e até nas decisões tomadas por agentes públicos. No
uma compreensão do mundo como agregado de fatos prontos e acabados, cuja existência,
dos fatos se dá, segundo Genro Filho, apenas na superficialidade da realidade, sem
relevantes como a política econômica. Porém, a relação entre mídia, Estado e mercado
financeiro envolve uma série de disputas, complexidades e interesses. Primeiro que
sobreviver e lucrar, precisando, portanto, de anúncios e apoios de quem quer que seja,
inclusive do governo e de grandes empresas privadas. Além disso, a grande mídia tem
diariamente disponível em suas mãos um poder comunicativo que lhe proporciona uma
decisões. Naturalmente que as produções midiáticas não refletem essas questões de modo
nítido e puro tal como apresentado. Elas, assim como os próprios veículos e seus
Metodologia
crise, foram empregadas técnicas de análise de conteúdo e análise de discurso, com estudos
períodos distintos: outubro de 2015, dezembro de 2015 e fevereiro de 2016 (três meses
alternados, com distância de dois a seis meses com relação ao afastamento inicial de Dilma
Rousseff; que será chamado de período 1); novembro de 2016, janeiro de 2017 e março de
2017 (três meses alternados, com distância de dois a seis meses com relação à posse
definitiva de Michel Temer; que será chamado de período 2). A escolha destes períodos se
justifica pelos seguintes motivos a) três meses de telejornal é um tempo nem muito amplo
que pudesse tornar muito extenso e inviável o trabalho e nem muito curto que não pudesse
Após assistir a todas as matérias que tratavam da temática, suas informações foram
organizadas em tabelas e a análise foi feita dividindo-se em três temáticas recorrentes nos
Corte de gastos
O Jornal Nacional deu significativo espaço à principal medida que foi tomada ou
proposta por ambos os governos para mitigar a crítica situação do orçamento: a redução de
gastos públicos. Confira abaixo as matérias sobre o tema nos períodos considerados:
19/02/2016 Governo anuncia corte de quase R$ 23,5 bilhões no Reportagem factual 2’46’’
orçamento
Período 2
3 Optamos por escolher o título que apresenta as matérias no portal do Jornal Nacional na internet, pois de
fato resume o conteúdo e também representa uma forma de enquadramento da notícia.
4 Nota: relato sintético de um fato, podendo ser uma nota simples (com apenas leitura pelo apresentador)
ou nota coberta (com leitura seguida de narração com imagens em off); Reportagem: forma mais
completa de apresentar uma notícia na TV, com imagens, repórteres e entrevistado. Podem ser factuais
(acontecimentos do dia-a-dia) ou features (assuntos de interesse permanente, não necessariamente
daquele dia); Notícia: relato de um fato de forma mais completa que a nota, combinando apresentação ao
vivo e narração em off com imagens e ausência de repórter.
07/11/2016 Temer volta a falar sobre a PEC que limita os gastos públicos Reportagem factual 0’46’’
28/11/2016 Senado vota na terça-feira (29) a PEC do teto dos gastos Reportagem factual 2’41’’
públicos
29/11/2016 Protesto contra PEC dos gastos tem quebra-quebra e carro Reportagem factual 0’42’’
queimado
30/11/2016 Projeto que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos Nota simples 0’19’’
é aprovado pelo Senado
22/03/2017 Rombo no orçamento aumenta e governo anuncia Reportagem factual 1’49’’
contingenciamento
30/03/2017 Economistas elogiam decisão do governo de priorizar corte de Reportagem feature 3’07’’
gastos
por Nelson Barbosa, “um defensor de uma intervenção maior do Estado na economia”,
como diz a própria chamada do JN. Segundo os textos do telejornal, Levy havia sido
escolhido para “trazer confiança à política econômica” e era “bem aceito por empresários,
investidores”. Mas teve algumas perdas dentro do próprio governo. Já Nelson Barbosa,
segundo o Jornal Nacional, “tem um perfil que é quase o oposto do seu antecessor”.
forma relativamente neutra, o JN traz uma última reportagem neste mesmo dia com apenas
afastamento de Joaquim Levy coloca em dúvida o esforço do Brasil para controlar o déficit
fiscal”, a Reuters disse que “a troca de ministros pode ser interpretada como um retorno
das políticas apontadas por críticos como a causa da recessão” e “analistas internacionais
haviam posições diferentes dessas – não só com relação específica a esta troca de ministro
mas à opção geral dos governos pela austeridade como tentativa de solucionar suas crises
econômicas. Ressaltemos, por exemplo, a visão do sociólogo alemão Wolfgang Streeck.
Ao tratar de uma das três crises5 do capitalismo atual, a das finanças públicas, Streeck
ressalta que as medidas que os Estados europeus vêm tomando para responder a esta crise
e para recuperar a “confiança” dos mercados, impondo “a si próprios e aos seus cidadãos
duas medidas de austeridade” (STREECK, 2013, p.34), não têm ajudado a resolver a crise
bancária e nem a recessão da economia real, ao contrário: a austeridade não só não está
aparente posição do Jornal Nacional contra o então governo da presidente Dilma e a favor
de uma ainda maior redução dos gastos públicos. Tratava-se da publicação do documento
“Ponte para o futuro”, em que o PMDB, partido que até então estava na base do governo,
defendeu “caminhos diferentes dos adotados pelo governo pra tirar o país da crise”. Em
ambos os dias, o Jornal dá amplo destaque aos principais pontos do documento, incluindo
o fim das despesas constitucionais obrigatórias com saúde e educação, a criação de idade
privatização “do que for necessário para reduzir o tamanho do estado”. O mais elucidativo
superar a crise”, só é dado espaço para o lado dos elogios ao documento, expressos pelo
economista Mansueto Almeida (“eu acho que é o momento correto para esse debate
acontecer”), pela Confederação Nacional da Indústria (“um excelente ponto de partida para
5 Para Wolfgang Streeck, o capitalismo atual amarga uma crise tripla: bancária (porque muitos bancos
concederam demasiados créditos públicos e privado, inclusive uns bancos a outros, conduzindo a riscos de
falências e a muito crédito “malparado”), orçamental (ou das finanças públicas, que resulta dos resultados
negativos dos orçamentos públicos ao longo dos anos desde 1970 e correspondente endividamento dos
Estado) e da ‘economia real’ (manifesta em elevada taxa de desemprego e na estagnação da economia, muito
em virtude da dificuldade de obtenção de crédito nos bancos e da redução das despesas do Estado ou
aumento de impostos).
a construção de uma agenda capaz de restaurar a confiança do país”) e por representantes
positivo”) e da Fiesp (“todos os pontos que foram abordados são corretos, são bons, são
e parlamentares, não tiveram espaço. Para se ter uma ideia, Roberto Requião, senador do
próprio PMDB, divulgou em seu portal na internet uma carta criticando duramente o
exigidas pelo setor financeiro, ‘o mercado’, e que ainda não foram satisfeitas no governo
do PT”, e completa: “parece que os bancos viraram os únicos eleitores no Brasil e todos
as propostas apresentadas, as quais, segundo ele, empurraria o país ainda mais para a
(FREITAS, 2015). E conclui dizendo que a CUT iria combater nas ruas as propostas que
Jornal Nacional à Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos para
os próximos 20 anos. Embora fosse um tema de absoluta relevância social, com impactos
contrárias, não recebeu tanta atenção do JN. Em novembro de 2016, por exemplo, quando
somente introduziu o tema e passou à fala ao presidente. No dia 28/11, uma reportagem
maior, de 2 minutos e 42 segundos, tratou basicamente das articulações feitas pelo Palácio
do Planalto junto aos senadores para conduzir à aprovação da PEC. No dia seguinte, uma
nota coberta de 49 segundos fala rapidamente da manifestação contrária à PEC que reuniu
cerca de 10 mil manifestantes em Brasília, mas com foco nos atos violentos: “um carro de
botar fogo em um carro estacionado no local. Oito pessoas foram presas”. Por fim, a
aprovação em primeiro turno da Proposta no Senado no dia 30/11 mereceu apenas uma
presidente Temer e, por fim, uma nota coberta de apenas 19 segundos sobre as
situação financeira pessoal das famílias: “Quem já teve dívidas sabe que se a gente perde o
controle das contas, o orçamento em casa fica bagunçado”. Gastar mais que arrecada,
ressalta o jornal, fez o Brasil “perder o grau de investimento” e ter que “tomar dinheiro
emprestado”. E para justificar esse posicionamento dado como consensual, o JN mais uma
vez utiliza ‘especialistas’ de um só lado: Luiz Figueiredo, da Mauá Capital, que destacou
que a limitação de gastos “é uma maneira do país resolver o problema sem avançar na
sociedade”; José Márcio Camargo, professor da PUC/RJ, que ressaltou ser um passo
6 Neste caso, avançamos para uma data ausente do período recortado em virtude da importância deste fato
para a conclusão da análise sobre os enquadramentos dados à Proposta.
importante mas que “o próximo passo fundamental é a reforma da Previdência”; e Juan
Jensen, professor do Insper, para o qual “um país com um governo em que receita e
despesa estão equilibradas permite juros mais baixos, maior confiança na capacidade de
honrar compromissos, honrar contratos e a economia anda de uma forma mais leve e de
uma forma mais produtiva”. Em seguida, reportagem com introdução e fala do presidente
recessão”.
públicos por 20 anos carrega críticas severas, resumidas por outro veículo de comunicação,
Outros dois temas de grande relevância pública que estavam em debate nos
Michel Temer. Ademais, são temas que também dialogam com os relacionamentos entre
18/02/2016 Previdência já tem déficit gigantesco e futuro preocupa Reportagem feature 6’33’’
Período 2
21/11/2016 Integrantes do ‘Conselhão’ pedem pressa na retomada do Reportagem factual 3’47’’
crescimento
04/01/2017 Idosos enfrentam o desafio de se manter no mercado de Reportagem feature 8’19’’
trabalho
26/01/2017 Previdência Social tem rombo de quase R$ 150 bilhões em Reportagem feature 2’29’’
2016
15/03/2017 Brasil tem dia de protestos contra reformas trabalhista e da Reportagem factual 3’27’’
Previdência
21/03/2017 Temer anuncia mudanças no projeto de Reforma da Reportagem factual 1’14’’
Previdência
23/03/2017 Terceirização estimula economia, diz relator de projeto Reportagem feature 2’31’’
aprovado na Câmara
28/03/2017 Governo dá prazo para estados mudarem regimes de Reportagem feature 1’56’’
previdência
31/03/2017 Em todo o país, manifestantes protestam contra reformas do Reportagem factual 0’59’’
governo
31/03/2017 Temer sanciona lei que permite terceirização em todas as Notícia 0’34’’
atividades
em que havia colocado a reforma como uma das necessidades e prioridades para “o país
voltar a crescer”, mostrando, portanto, que neste ponto o governo não cumpriu suas
promessas, provavelmente, segundo apuração do JN, “por causa das reações das centrais
sindicais e do PT”.
uma lei regulamentando a contratação deles” e faz questão de reforçar que o projeto
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que afirma que o projeto é
benéfico ao trabalhador; e o professor da USP, José Pastore, para o qual as empresas vão
entrar em novos negócios e assim criar mais empregos. Novamente chama a atenção a
debate. Como a do Coordenador Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, que denunciou, em
publicação na internet, que o projeto é um ‘libera geral’ “que irá precarizar as relações de
Uma semana depois, no dia 31/03/2017, a aprovação do projeto não foi tratada com
a atenção e a amplitude que a matéria enseja. Uma nota de 34 segundos lida pelo
manifestações ocorridas em todo o país contra esta lei e contra a reforma da previdência,
que também já estava em discussão no governo. Dessa vez, o foco não recai sobre as
invasões e depredações, mas interessante notar que em alguns pontos a narrativa diminui as
manifestações ao, por exemplo, afirmar que foram promovidas por “sindicatos e
paralisação de metrô e agências bancárias, inclusive com mesclagem entre imagens das
depredações de espaços públicos e confrontos com a Polícia Militar. E a matéria fecha com
A propósito, sobre esta reforma, vale destacar uma série de reportagens feitas pelo
Jornal Nacional em janeiro de 2017 sobre as dificuldades enfrentadas pelos idosos, cujas
para receber bem quem está envelhecendo”. Essas duas primeiras reportagens, mais
neutras e com proposições consensuais parecem ter sido pensadas para permitir ao
04/01/2017, que após mostrar o exemplo de idosos que por diferentes razões trabalham
mesmo depois de aposentados, conclui: “É pouco dinheiro para quem recebe, mas é muito
para quem paga. O Brasil tem quase 55 milhões de trabalhadores formais que colocam
a cada ano menos jovens contribuem e mais idosos retiram por mais tempo”. E então,
como de praxe, faz-se uma dobradinha com algum ‘especialista’ para terceirizar a opinião
Para fechar, o JN vai ao Japão, mostrar o exemplo de dois senhores de mais de 75 anos que
trabalham em um estacionamento de bicicleta: “para eles, quem trabalha é jovem. Idoso se
diverte”. Esses exemplos de idosos trabalhando duro como se fosse algo fácil e comum
também são repetidos na reportagem da série no dia seguinte, que traz também um
para qualquer visão contrária ou proposta alternativa. Gráficos mostram como o rombo
veio aumentando a cada ano e como em 2014, 2015 e 2016, a receita ficou estável e os
gastos da Previdência dispararam. A matéria reforça também que “tem mais gente se
aposentando e menos gente contribuindo”, e a previsão era de que faltasse ainda mais
dinheiro para fechar essa conta em 2017, “número que, segundo o governo, reforça cada
vez mais a necessidade de uma reforma da Previdência”. E segue a matéria com palavras
Porém, essa afirmação categórica feita pelo telejornal de que há um rombo não é
(ANFIP), por exemplo, divulga anualmente uma Análise da Seguridade Social em que
mostra que há superávits sucessivos a cada ano, demonstrando a força do sistema mesmo
diante de momentos de crise. “Os governantes sabem do superávit, mas insistem em usar o
2017), dizem Paulo Paim, senador pelo PT, e Vilson Romero, presidente da Anfip, em texto
defender o sistema de seguridade social sem o condená-lo à morte, como acabar com a
Seguridade Social”, criar programa de recuperação fiscal para cobrança de dívidas com a
Previdência, “melhorar a fiscalização do setor” e “rever alíquotas de contribuição para a
Brasil destaca que o governo ignora e não cobra cerca de R$ 426 bilhões que não são
repassados por empresas. Na lista das que mais devem à Previdência, há grandes e ativas
Tabela 3 – Matérias do Jornal Nacional sobre o tema notas do Brasil pelas agências de classificação de
risco
Data Título Formato Duração
Período 1
15/10/2015 Agência de avaliação de risco Fitch rebaixa a nota de Reportagem factual 3’00’’
crédito do Brasil
15/10/2015 Nota de crédito rebaixada pela Fitch gera troca de Reportagem factual 1’58’’
acusações em Brasília
09/12/2015 Agência Moody´s anuncia que colocou nota do Brasil em Notícia 0’41’’
revisão
16/12/2015 Mais uma agência avaliação de risco tira o selo de bom Reportagem factual 3’17’’
pagador do Brasil
16/12/2015 Rebaixamento da nota do Brasil não é surpresa para os Reportagem feature 2’59’’
economistas
16/12/2015 Rebaixamento da nota do Brasil também repercute no Reportagem factual 2’30’’
Congresso
17/02/2016 Standard and Poor's rebaixa de novo nota de crédito do Nota simples 0’31’’
Brasil
24/02/2016 Brasil é oficialmente retirado do grupo de países seguros Reportagem factual 2’12’’
para investir
24/02/2016 Novo rebaixamento da nota do Brasil tem impactos na vida Reportagem feature 2’02’’
de brasileiros
24/02/2016 Queda da nota do Brasil leva oposição a criticar o governo Reportagem factual 2’08’’
Período 2
15/03/2017 Moody´s muda expectativa de nota do Brasil de Negativo Reportagem factual 1’19’’
para estável
No dia 15/10/2015, foi pauta no jornal, com matéria de 3 minutos, a decisão da
agência Fitch de rebaixar a nota de BBB para BBB-, colocando o país “a um passo de
perder esse selo de bom paga e entrar no chamado grau especulativo”. As notas dessas
agências, segundo o lead da matéria faz questão de explicar, “são uma referência para os
empresa”. A matéria dá destaque ainda aos motivos que a agência considerou para rebaixar
selo de bom pagador de mais uma agência poderia ter consequências graves”.
dedicadas ao rebaixamento da nota do Brasil para “grau especulativo” pela agência Fitch
novamente lança mão de ‘seus economistas’ para dizer que o rebaixamento não chegou a
ser uma surpresa e que muitos investidores já estavam saindo do mercado brasileiro. E
afirma: “todo país que ainda não tem, sonha com o grau de investimento. Ele traz dinheiro,
Marcos Lisboa, diz a matéria, enfim: “reformas na previdência, tributária e trabalhista, tem
Em fevereiro de 2016, novos anúncios das agências são repercutidas. No dia 24,
para investir” pela agência Moody’s. O repórter falou da situação de dentro da própria
agência, em Nova York, inclusive ouvindo a economista responsável pela coleta dos dados
sobre o Brasil. Com imagens de arquivo e arte gráfica, um histórico mostrou as variações
nas notas dadas pelas agências ao Brasil, destacando a piora entre 2014 e 2016. E conclui:
“a Moody’s afirma que o governo precisa recuperar as rédeas, se o Brasil quiser voltar a ser
bem visto no centro financeiro mundial”. E logo em seguida, matéria demonstra em que
essa “saída do Brasil do clube dos bons pagadores” impacta na vida “de todos os
nossa vida real, no nosso dia a dia”, com menos investimento das empresas, aumento dos
custo de vida. No período 2, já no governo Temer, há apenas uma notícia do tema, quando
a Moddy’s aumentou a nota do Brasil de negativa para estável e declarou “que a economia
brasileira apresenta sinais de recuperação e que a inflação está em queda” e citou “as
Num geral, portanto, essas notas dessas classificações de risco são dadas nos
enquadramentos do Jornal Nacional como algo objetivo com sérios impactos na vida dos
brasileiros. Não são trazidas opiniões que não as do mercado financeiro, a não ser a de
como grandes responsáveis pela decisão de empresas em investir ou não naquele país. Algo
Silvio Caccia Brava, por exemplo, critica a lógica dessas principais agências de risco, que
fazem parte do mercado financeiro e constroem suas notas com vistas a forçar governos a
implementar medidas de austeridade, mas cometem erros graves e muitas vezes dão
norte-americano em 2008 e 2009, por exemplo, as agências não tinham previsto nada, mas
Não obstante esta situação, as agências cresceram ainda mais e hoje suas operações e
opiniões podem ser desastrosas para países e empresas. De toda forma, as classificações
não são tão neutras e objetivas como o JN faz parecer. Ao contrário, ressalta Bava (2012),
recheada de armadilhas e perigos”, tendo em vista que a maioria dos critérios utilizados
não são mensuráveis e quantificáveis, como estabilidade política, ‘boa gestão’ da economia
das notas que atribuíram historicamente à Petrobrás. A maior empresa estatal brasileira e
argumentos das agências, ao ressaltar que apesar de ser mais rentável e ter o caixa e a
liquidez corrente superiores a outras petroleiras, a Petrobrás tem uma nota bem inferior:
variações de BBB, para a Petrobrás, contra variações de AA, para a Chevron, por exemplo.
“Pelo exposto fica difícil entender os critérios utilizados pelas agências na classificação das
empresas, tendo em vista a distância dos ratings da Petrobras em relação aos da Chevron”
também trata dos interesses obscuros das agências de classificação de risco e suas ligações
igualitários.
Conclusões
à política e economia nacionais pode até indicar diferentes tipos de conclusões, mas nas
reportagens dos períodos e temas aqui analisados não restou dúvida: o ponto de vista do
opções em quase todos os momentos foi por apenas este lado, com especialistas, opiniões e
telejornal tratou os dois governos de formas distintas: no governo Dilma Rousseff destacou
Não que a Globo não possa ter seu posicionamento – afinal é uma empresa privada
– mas é preciso que isso seja claro, sob pena de iludir a população em torno de uma
A análise ampliada dos três temas escolhidos permitiu, ainda, uma observação geral
governos – não tinha espaço para ser outra senão cortar gastos e empreender as reformas
trabalhista e da previdência, sob pena de se aprofundar a crise, perder ainda mais os graus
empresas.
Referências Bibliográficas
Resumo
Choques financeiros interferem na canalização de recursos para os gastos de consumo e
investimento dos agentes econômicos. A literatura econômica, particularmente aquela de
tradição Keynesiana, enfatiza a relação entre fricções no mercado financeiro e a
volatilidade dos ciclos de econômicos, ressaltando os impactos do acelerador financeiro e
das flutuações na predisposição ao risco dos agentes econômicos. Este artigo investiga a
relação entre fragilidade financeira e os ciclos econômicos no Brasil. Utilizando dados
mensais da economia brasileira no período de 1996 e 2015, o trabalho empregou análise
fatorial para construir um indicador de fragilidade do sistema financeiro e estimou um
modelo de vetores auto-regressivos para avaliar o comportamento deste indicador ao longo
dos ciclos econômicos. Os resultados obtidos indicam que a própria dinâmica da atividade
econômica pode agravar a fragilidade financeira da economia brasileira.
Palavras-chave: Ciclos Econômicos; Instabilidade Financeira; Fragilidade
Abstract
Financial shocks affect the efficiency with which the financial system channels resources
to fund consumption expenditures and fixed capital investment. The literature, particularly
that of Keynesian tradition, emphasizes the link between financial frictions and business
cycles volatility by focusing on the impacts of the financial accelerator and of the changes
in the economic agents' preferences towards risk. This paper investigates the relationship
between financial fragility and business cycles in Brazil. Using monthly data between 1996
and 2015, this article applied factor analysis to derive a financial system fragility indicator
and estimated a vector auto-regression model to evaluate this indicator performance
through the business cycles. The results indicated that the dynamics of the economic
activity may worsen the Brazilian economy's financial fragility.
Keywords: Business cycles; financial instability; fragility
*
Faculdade de Economia, Universidade Federal da Bahia, e-mail: diegont2@yahoo.com.br
†
Faculdade de Economia, Universidade Federal da Bahia, e-mail: gtiryaki@ufba.br
1
1. INTRODUÇÃO
recursos financeiros para o investimento produtivo e para o consumo das famílias (ver
Levine, 2005; Čihák et al, 2013). No entanto, sistemas financeiros mais eficientes não
proporcionada pela maior eficiência operacional das instituições financeiras (ver, por
exemplo, Denizer et al, 2002; Silva, 2002; Dabla-Norris e Srivisal, 2013). No entanto, essa
relação torna-se ambígua quando se analisa a evolução individual de uma economia, visto
confunde com fragilidade financeira, que é resultante de choques que interferem nos fluxos
(1996), dentre outros autores, atribuem aos mercados de crédito o papel de propagar e
“acelerador financeiro”.
2
economia, experimentam uma redução no seu grau de aversão ao risco, adotando posturas
Minsky (1986), a mudança de perfil de risco dos agentes econômicos ao longo dos ciclos
efeitos das flutuações na atividade econômica em países com maior robustez do mercado
internacional. Aghion et al (2005), por sua vez, também indicam que imperfeições no
Srivisal (2013) mostram que países com maior robustez do setor financeiro e alta abertura
comercial e financeira estão menos sujeitos aos impactos nos termos de troca e choques de
sobre como a volatilidade dos preços dos ativos e dos spreads bancários afetam os
nível de incerteza.
analisar com dados temporais com frequência mensal ou trimestral. O presente trabalho
tem por objetivo analisar a relação entre fragilidade financeira e o desempenho do PIB, do
Além desta introdução, o artigo é composto por mais três seções. A segunda seção
terceira seção, por sua vez, apresenta os resultados obtidos, enquanto a última seção é
2. DADOS E METODOLOGIA
BCB (2016), IBGE (2016) e Tesouro Nacional (2016). A primeira parte desta seção
descreve a análise de fatores utilizada para a derivação deste índice. A segunda parte da
4
as outras duas representando proxies para robustez do mercado de crédito (BCB, 2016):
de agenciamento (ver, dentre outros, Bernanke, Gertler e Gilchrist, 1996; Mishkin, 1997,
1998, 2000; Popov, 2011). Desse modo, supõe-se que em períodos de maior instabilidade
5
financeira, o spread aumente devido a maior dificuldade em avaliar quais são os projetos
informação.
risco com financiamentos e das expectativas de perda das instituições financeiras com as
Seria também interessante incorporar taxas de juros de longo prazo, já que elas
1
Inicialmente, tentou-se incluir, na estimativa do indicador de fragilidade financeira, uma proxy para bolhas
no mercado de capitais. No entanto, como essa variável apresentou baixa correlação com as outras seis
variáveis escolhidas para compor o índice, não foi possível mantê-la na análise fatorial. Optou-se, então, por
incluí-la separadamente na análise econométrica, conforme indicado na próxima seção.
2
Existem outras taxas de juros disponíveis para avaliar o spread, como taxas de juros especificas para
pessoas física e jurídica. Entretanto, as duas variáveis escolhidas para representar o prêmio de risco são as
únicas taxas de juros disponíveis para o horizonte temporal desta pesquisa.
6
investimentos de longo prazo são financiados por taxas de juros de longo prazo subsidiadas
as taxas de juros de curto e de longo prazo apresentam alta correlação, o uso de taxas de
Tiryaki, 2017). A Tabela 2 indica que apenas um fator foi retido, com todas as variáveis
3
Tiryaki (2017) sugere que as variáveis a serem incluídas no índice tenham uma correlação de, no mínimo,
0,30 com as demais variáveis, sendo que o ideal é verificar correlações acima de 0,50.
4
Tiryaki (2017) e Hair et al (2006) indicam que o grau de comunalidade deve exceder 0,40.
7
F1 Comunalidade Unicidade
PRIVY -0,671 0,450 0,550
CREDPRIVTOT -0,761 0,580 0,420
M1PIB -0,858 0,737 0,263
PROVTOT 0,823 0,678 0,322
TBFSELIC 0,876 0,768 0,232
SPREADTCP 0,970 0,940 0,060
Fator Variância Cumulativo Diferença Proporção Cumulativo
F1 4,152 4,152 --- 1,000 1,000
Total 4,152 4,152 1,000
Modelo Independência Saturação
Discrepância 0,176 7,006 0,000
Parâmetros 12 6 21
Graus de liberdade 9 15 ---
KMO 0,802
Goodness-of-fit Summary
Modelo Independência Saturado
Parâmetros 12 6 21
Graus de liberdade 9 15 ---
Relação de parsimônia 0,600 1,000 ---
Ajuste de Índices Incrementais:
Bollen Relative (RFI) 0,958
Bentler-Bonnet Normed
0,975
(NFI)
Fonte: Elaboração própria, 2017.
indicando que as variáveis são apropriadas para a análise de fatores5. Já os testes de ajuste
O produto agregado real foi obtido a partir da série mensal de PIB nominal
acumulado dos últimos doze meses do BCB (2016), deflacionando-a pelo índice nacional
de preços ao consumidor amplo (IPCA). A escolha pelo IPCA foi feita em virtude da
5
O KMO varia entre zero e a unidade, com valores acima de 0,7 considerados satisfatórios.
6
Essa conclusão foi ratificada pela realização de testes de raiz unitária convencionalmente utilizados pela
literatura. Estes resultados podem ser obtidos mediante solicitação aos autores.
9
-1
-2
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
Desse modo, o seguinte procedimento foi adotado para derivar as series mensais: coletou-
se que essas frações são constantes nos meses de cada respectivo trimestre; e utilizou-se a
série de PIB real mensal para calcular as séries mensais de consumo e investimento.
Obtidos os valores reais mensais para o PIB, consumo e investimento, utilizou-se o filtro
IPCA: representa o logaritmo do índice de preços obtido a partir do IPCA (BCB, 2016).
o PIB (BCB, 2016). De acordo com Karras (2006), o impacto da abertura econômica
sobre os ciclos de negócios é incerto: enquanto uma menor abertura expõe menos a
economia a choques externos, uma maior abertura permite que uma economia exporte
CAMBIO: é uma medida da instabilidade cambial, obtida pelo desvio padrão da taxa
nominal expressa em US$/R$ (BCB, 2016). Abstraindo os regimes de câmbio fixo, que
são mais suscetíveis a ataques especulativos, taxas de câmbio mais estáveis facilitam o
filtro HP, indicando-se pelo sufixo CYC. A Tabela 3 detalha as estatísticas descritivas,
7
Esta variável está disponível para o período de janeiro de 1998 a junho de 2015. A inclusão desta variável
em um segundo momento da análise econométrica servirá como teste de robustez para os resultados
encontrados com a amostra completa.
8
O resíduo é obtido pela diferença entre a variação no logaritmo da produção em dois períodos consecutivos
e o produto de (1 - α) pela variação no logaritmo do emprego. Este trabalho segue Backus e outros (1992) e
Karras e Song (1996), ao estabelecer 𝛼 = 0,36.
11
Desv. No.
Média Mediana Máx. Mín. Pad. Assimetria Curtose Obs.
HPPIB -2,84E-09 0,003 0,024 -0,037 0,013 -0,867 3,311 234
HPINVEST -3,97E-10 0,011 0,149 -0,261 0,084 -0,470 2,656 234
HPCONS -4,62E-09 -0,002 0,049 -0,042 0,019 0,161 2,947 234
F1CYC -2,53E-13 0,006 0,598 -0,673 0,201 -0,300 4,177 234
IPCACYC 4,75E-14 0,000 0,003 -0,006 0,001 -0,727 6,696 234
GOVPIBCYC 5,69E-15 -0,001 0,010 -0,007 0,003 0,561 3,605 210
SOLOWCYC -1,31E-16 -0,002 0,084 -0,094 0,036 0,004 2,697 234
BOVESPACYC 7,55E-14 -0,009 15,541 -25,594 3,069 -3,834 41,350 234
ABERTURACYC 6,05E-14 -0,003 0,067 -0,056 0,019 0,426 5,163 234
CAMBIOCYC 6,29E-15 -0,007 0,256 -0,046 0,031 4,382 31,389 234
Fonte: Elaboração própria, 2017.
ABERTURACYC
BOVESPACYC
CAMBIOCYC
GOVPIBCYC
SOLOWCYC
HPINVEST
IPCACYC
HPCONS
F1CYC
HPPIB
HPPIB 1,000
HPINVEST 0,307 1,000
HPCONS 0,450 -0,177 1,000
F1CYC -0,340 -0,188 -0,334 1,000
IPCACYC 0,157 0,087 0,131 -0,278 1,000
GOVPIBCYC -0,036 -0,027 -0,107 0,028 -0,378 1,000
SOLOWCYC -0,045 -0,085 -0,130 0,099 0,042 -0,017 1,000
BOVESPACYC 0,012 -0,027 0,019 -0,196 0,212 0,049 -0,042 1,000
ABERTURACYC 0,166 -0,058 -0,048 0,007 -0,122 -0,281 -0,046 -0,053 1,000
CAMBIOCYC 0,030 -0,140 0,082 0,155 -0,228 0,016 -0,035 -0,046 0,312 1,000
Fonte: Elaboração própria, 2017.
três suposições:
(i) 𝐸(𝜀𝑡 ) = 0, 𝐸(𝜀𝑡 𝜀𝑡′ ) = ∑ 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑜 𝑡, onde ∑ = (𝜎𝑖𝑗 , 𝑖, 𝑗 = 1,2, … 𝑚) é uma matriz m
(iii) 𝑥𝑡−1 , 𝑥𝑡−2 , … , 𝑥𝑡−𝑝 , 𝑤𝑡 , t = 1,2, ..., T não são colineares perfeitos.
móvel infinita: 𝑥𝑡 = ∑∞ ∞
𝑖=0 𝐴𝑖 𝜀𝑡 + ∑𝑖=0 𝐺𝑖 𝑤𝑡−𝑖 , 𝑡 = 1,2, … , 𝑇, onde 𝐴𝑖 é a matriz de
Ainda segundo Pesaran e Shin (1998), a função de resposta a impulso mede o efeito
variáveis em um sistema dinâmico. Portanto, a função impulso resposta pode ser descrita
(𝛿1 , … , 𝛿𝑚 ).
assumindo que 𝐺𝐼𝑥 (𝑛, 𝛿, Ω𝑡−1 ) = 𝐴𝑛 𝛿, o qual é independente de Ω𝑡−1 . A função impulso
apresentam resultados mais rigorosos para avaliar os choques exógenos, pois independem
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
com uma amostra entre janeiro de 1998 a junho de 2015, em virtude da indisponibilidade
Figura 39. Por limitação de espaço, são apresentados os resultados de choques em F1CYC
9
Utiliza-se 95% como nível de significância para a análise das FIR generalizadas para todos os resultados
deste trabalho.
14
fazem com que a fragilidade financeira se eleve: o impacto de um choque no HPPIB sobre
F1CYC ocorre particularmente entre o 10º e 18º mês após o impulso, enquanto que o
resultado com as ideias novo-keynesianas do acelerador financeiro, que defendem que uma
comportamento das firmas. Por outro lado, choques em F1CYC reduzem HPCONS,
indicando que choques que elevam a fragilidade financeira levam à redução no consumo.
associada a aumentos das taxas de juros, o que reduz os gastos com bens duráveis.
HPPIB é significativa entre o 12º e o 18º mês subsequente ao choque, ao passo que a
resposta a inovações em HPCONS iniciam no 2º mês e persistem até o 12º mês. Assim
como nos resultados obtidos com a amostra maior, inovações em F1CYC afetam apenas
4. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGHION, P.; ANGELETOS, M.; BANERJEE, A.; MANOVA, K. Volatility and growth:
em 25 jul. 2016.
BACKUS, D.; KEHOE, P.; KYDLAND, F. International real business cycles. Journal of
DENIZER, C.A.; IYIGUN, M.F.; OWEN, A. Finance and Macroeconomic Volatility. The
Paper. n. 20038).
Multivariate Data Analysis. 6ª edição. New Jersey: Pearson Prentice Hall. 2006.
KARRAS, G. Trade openness, economic size, and macroeconomic volatility: Theory and
LEVINE, R. Finance and Growth: Theory and Evidence. In: AGHION, P. ; DURLAUF, S.
REBELO, S. T. Real Business Cycle Models: Past, Present and Future. Scandinavian
PARÁ.
João Pereira dos SANTOS Me. Ciências Econômicas pela UFPA Email: joao223santos@yahoo.com.br
Gisalda Carvalho FILGUEIRAS D. Sc. Ciências Agrárias pela UFRA e Professora Adjunta l da UFPA.
Email: gisaldaf@yahoo.com.br
Alessandra Cordovil da LUZ Ma. Ciências Econômicas pela UFPA e Professora do CESUPA. Email:
alessandra_cl@hotmail.com
Magno Rodrigues Pedreira LAPA Me. Ciências Econômicas pela UFPA e Professor Substituto do IFPA.
Email: magnolapa@yahoo.com.br
RESUMO
Este estudo teve como objetivo principal averiguar a preferência pela liquidez tanto pelo
público como pelos bancos no estado do Pará, tendo como base teórica os autores
pelo Pará se deu por ser uma das maiores e mais importantes economia entre os estados da
região Norte. Como base metodológica da análise fatorial, foi possível visualizar a
dicotomia entre centro versus periferia, que implica em um maior ou menor investimento
produtivo e, portanto, desenvolvimento econômico e, com isso, indicar ações que possam
mais igualitário entre as microrregiões do Pará, mesmo que para isso haja investimento
governamental.
This study had as its main objective to determine the preference for liquidity both by the
public and by banks in the State of Pará, on the basis of the theoretical, that discuss the
Specifically, this relationship and the preference for development in the southern part of
Pará, 22 in 2004 and 2009. The choice by the Pará was for being one of the largest and
most important economy among the States of the northern region. As a methodological
basis of factor analysis, it was possible to show the Center versus periphery, dichotomy
between that implies a more or less productive investment and, therefore, economic
development and thereby indicate actions that can diminish the difference in investment
options for a more equitable regional development between the micro-regions of Pará,
1. INTRODUÇÃO
O estado do Pará é reconhecido por sua vasta extensão territorial, são mais
1.247.000 km² distribuídos em 143 municípios com uma população de pouco mais de sete
milhões (IBGE, 2010) e se caracteriza por apresentar uma concentração muito grande nos
municípios centrais como a capital Belém e sua região metropolitana, Santarém e Marabá,
de tal forma que os municípios mais afastados dessas regiões sofrem com a falta de
serviços básicos.
territorialmente distantes dos municípios centrais e com difícil acesso o que torna maior a
insuficientes ou precários.
Amado (1998) e Dow (1992) defendem que existe uma relação direta entre os
relação à moeda e os ativos financeiros, de tal modo que as finanças possuem um papel
Nesse aspecto, este artigo busca identificar as relações entre o acesso bancário
e a distribuição de renda nas microrregiões do estado do Pará, nos anos de 2004 e 2009,
Para tanto, este artigo está divido em quatro seções, além desta introdução, em
seguida discute-se o referencial teórico, onde são descritas os fundamentos da escola pós-
keynesiana que dão suporte a essa análise; a terceira seção descreve-se a metodologia, que
abrange desde a área de estudo, o modelo de análise fatorial e as variáveis utilizadas nessa
análise. Na quarta, traz-se a análise dos resultados e, por último, na ultima e quinta seção
2. METODOLOGIA
estado do Pará, possui 143 municípios que estão divididos em 22 microrregiões, objeto de
torno de 45% - dos municípios paraenses, não possuem ao menos uma agência bancária,
tornando inviável o estudo da relação entre os meios de pagamentos, bancos e o
Microrregiões Municípios
Pará, Tracuateua
Antônio do Tauá
Conceição do Araguaia Conceição do Araguaia, Floresta do Araguaia, Santa Maria
Vista
Trairão
Ulianópolis
Santarém
São Felix do Xingu Bannach, Cumaru do Norte, Ourilândia do Norte, São Felix
do Xingu, Tucumã
Repartimento, Tucuruí
do pressuposto que toda variável padronizada (de média zero e variância igual a um)
pode ser explicada por uma constante , multiplicada por um fator, F, também com média
zero e variância igual a um. Porém, como a variável possui características que não são
comuns a nenhuma das outras variáveis, o fator não consegue explicá-la de forma
de correlações, o ideal é que haja um número substancial de correlações maiores que 0,30,
além disso existem alguns critérios para verificação dessa adequação, os principais são:
parciais entre pares de variáveis, eliminando o efeito das demais, devem ser pequenas
se o modelo for adequado (BARROSO; ARTES, 2003). Assim valores de KMO entre
0,80 e 1,0 representam uma excelente adequação; valores entre 0,70 e 0,80 uma ótima
adequação; valores entre 0,60 e 0,70 uma boa adequação; valores entre 0,50 e 0,60 uma
análise fatorial.
O teste Bartlett testa a hipótese nula da matriz de correlações ser uma matriz
identidade, se essa hipótese não for rejeitada significa que as variáveis não estão
de correlação anti-imagem e o ideal é que seus valores sejam maiores que 0,50.
Para estimação do modelo, o método mais utilizado é o das componentes
principais, que leva em conta a variância total dos dados. A vantagem deste método é que
et al, 2005).
Para a escolha dos fatores, vários são os métodos disponíveis, porém o mais
comum e utilizado neste trabalho é o critério da raiz latente. O raciocínio para o critério da
raiz latente é que qualquer fator individual deve explicar a variância de pelo menos uma
variável, de modo que somente os fatores com raiz latente ou autovalor maiores que 1 são
tal procedimento busca encontrar soluções que expliquem o mesmo grau de variância total,
mas que gerem resultados melhores em relação a sua interpretação. Neste artigo, utilizou-
de uma variável possuir altas cargas fatoriais para diferentes fatores, permitindo que uma
com a preferência pela liquidez dos agentes. A preferência pela liquidez tende a se
mantidos pelos agentes (PMPP/DV). Em nível regional, para analisar esses fatores, tem-se
ainda que considerar os vazamentos reais e financeiros que retiram liquidez da economia,
com o sistema financeiro, mas guarda relação também com o problema das desigualdades
menores. O índice de distribuição dos depósitos em relação à renda (IDR) pode ser
Onde:
= PIB da microrregião
= PIB do Brasil
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
uma relação instável com o multiplicador bancário regional, pois a redução da preferência
para liquidez do público não se traduziu no aumento de empréstimos para compra de bens
primários. Por outro lado, a razão depósito à vista/operações de crédito merece uma
atenção especial, pois apresentou redução entre os anos de 2004 e 2009, quando os Bancos
privados pelos Bancos Regionais provocaram um aumento da base monetária que foi
suficiente para aumentar os meios de pagamentos e o Produto Interno Bruto - PIB de todas
pelo lado da demanda de bens de capital e pelo lado da oferta de crédito pelos Bancos
Nacionais.
da população entre os anos de 2004 e 2009, com exceção, como já foi dito, da
Microrregiões do estado do Pará. Além disso, não se verificou uma relação padrão entre
população e o índice de depósito relativo. Entre as dez Microrregiões com maior
população, Belém foi a única que apresentou o índice de depósito relativo compatível com
décima oitava população e o segundo índice de depósito relativo, mais perde apenas para
Belém. Por outro lado, Parauapebas, Marabá e Castanhal apresentaram elevados índices de
depósitos relativos em relação às suas populações e este resultado pode ser explicado pela
manteve constante em 70% das microrregiões, com exceção de Almeirim, Belém, Cametá,
Furo de Breves, Óbidos, Redenção, Santarém e São Félix do Xingu sendo que Belém, foi a
recursos das outras regiões, ratificando a sua condição de região central dentro do Estado.
2004
da análise fatorial para o ano de 2004 é adequada, além disso, o valor do teste KMO foi de
0,719, representando uma ótima adequação dos dados a técnica; o teste de Barlett mostrou-
variáveis.
Observou-se que a variação total dos dados é explicada por nove fatores,
porém, apenas dois possuem autovalores superiores a um, e, portanto, pelo critério da raiz
latente apenas esse dois fatores serão considerados na análise. Os dois fatores considerados
modelo. Neste caso, todas as variáveis apresentaram cumunalidades superiores a 0,5, sendo
Fatores
Variável Cumunalidades
1 2
Assim, no primeiro fator que explica 60,851% da variância dos dados, estão
relativo à renda, este fator foi denominado como desenvolvimento econômico. Neste
fator, todas as variáveis apresentam sinal positivo, o que significa que elas influenciam
O segundo fator, que explica 22,328% da variância dos dados, estão agrupadas
fator foi denominado como meios de pagamento. Neste fator, esperava-se um sinal
negativo para todas as variáveis, pois existe uma relação inversa entre essas variáveis e os
crédito apresentaram sinal negativo, a variável taxa de reservas se apresentou com o sinal
regiões.
Belém é uma microrregião que merece destaque, por ser a microrregião que
contempla a capital do Estado e sua região metropolitana são consideradas uma possível
pagamentos escore fatorial negativo, o que pode ser explicado pela elevada preferência
pela liquidez dos bancos através da taxa de reservas apresentada em 2004, sendo a maior
entre todas as microrregiões e pelo baixo volume de depósito por habitante - índice de
depósito relativo à população (0,50) – e pelo baixo volume de depósito em relação à renda
- índice de depósito relativo à renda (0,50) -, muito inferiores à média brasileira. Isto pode
as regiões centrais do País. Pode ser também que o influxo monetário recebido por Belém
outras regiões centrais brasileiras que possuem mercado financeiro mais dinâmico.
positivo, apresentaram baixo desenvolvimento econômico, o que pode ser explicado pelo
influxo financeiro que ocorre nessas microrregiões fazendo com que os recursos
disponibilizados vazem para outras regiões sem gerar emprego e renda na região.
2009
Assim como em 2004, a técnica da análise fatorial mostrou-se adequada aos dados
de 2009, o teste KMO apresentou valor igual a 0,72, ou seja, ótima adequação dos dados, o
teste de Barlett foi estatisticamente significativo e, portanto a matriz de correlação não foi
uma matriz identidade e a medida de adequação da amostra (MSA) foi superior a 0,5 para
todas as variáveis.
Observou-se que a variação total dos dados é explicada por nove fatores, porém,
apenas dois apresentaram autovalores maiores que um, de tal forma que esses dois fatores
foram responsáveis por 87,640% da variação dos dados. Os primeiros resultados das cargas
Fatores
Variável Cumunalidades
1 2
variáveis taxa de reservas, PLP e Depósitos à vista/Operações de crédito. Neste ano, houve
uma reversão dos resultados apresentados em 2004, pois apenas a variável taxa de reservas
apresentou sinal negativo como esperado, isso porque houve uma considerável redução na
desenvolvimento econômico.
liquidez dos Bancos, comparativamente a 2004, encontra-se próximo a zero, mas, ainda é
negativo. Uma característica dessa microrregião que pode explicar tal fato é o índice de
depósitos relativos a renda muito baixo, ou seja, essa microrregião apresenta um o volume
possuem o índice depósito relativo à renda muito baixo, bem inferior a média brasileira,
desenvolvimento econômico negativo, são elas: São Felix do Xingu, Tomé Açu, Conceição
ambos os fatores.
Gráfico 2: Escores fatoriais por microrregião, 2009
4. CONCLUSÕES
estado Pará que se encontram mais dinâmicas em termos econômicos, visualizados através
econômico, para os dois anos (2004 e 2009), tais como: população, PIB, número de
empregos, estabelecimento com mais de 10 empregados, IDP e IDR (escreve por extenso).
REFERÊNCIA
DOW, S. C. The regional Composition of the Bank Multipler Process. In DOW, S.C. (ed.),
Money and the Economic Process. Aldershot: Elgar, 1982.
DOW, S. C. The Treatment of Money in Regional Economics. In DOW, S.C. (ed.), Money
and the Economic Process. Aldershot: Elgar, 1987.
DOW, S.C.”The regional financial sector: a scottish case study. Regional Studies, v.26,
n.7. p.619-631, 1992.
FÁVERO, L. P. et al. Análise da Dados: modelagem multivariada para a tomada de
decisões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
HAIR JR., J. F. et al.. Análise multivariada de dados. 5. ed. Porto Alegre: Bookman,
2005.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a consonância existente entre o ativismo
dos acionistas, a teoria de agência e governança corporativa no mercado de ações. Para isso
foi necessário conhecer as respectivas teorias, seu surgimento e aplicabilidade, conceitos e
definições de governança corporativa. A fim de atingir o objetivo preconizado recorreram-
se metodologicamente às pesquisas bibliográficas através de artigos, monografias,
dissertações, teses, sítios do IBGC, onde se obteve o seu Estatuto e Código de Melhor
Pratica de Governança Corporativa e o sitio de BM&BOVESPA. O ativismo dos
investidores é sempre necessário para uma boa prática de governança corporativa e
aplicabilidade dos seus princípios. Neste contexto, pode se observar, como preconizado
que existe uma relação intrínseca entre ativismo dos acionistas, a teoria de agencia e
governança corporativa.
ABSTRACT
The present work aims to analyze the consonance between stockholder activism, agency
theory and corporate governance in the stock market. For this, it was necessary to know the
respective theories, their emergence and applicability, concepts and definitions of
corporate governance. In order to achieve this goal, bibliographical research was used
methodologically through articles, monographs, dissertations, theses, IBGC sites, where it
obtained its Statute and Code of Best Corporate Governance Practice and the BM &
BOVESPA website. Investor activism is always necessary for good corporate governance
practice and enforceability of its principles. In this context, it can be observed, as it is
recommended that there is an intrinsic relationship between shareholder activism, agency
theory and corporate governance.
1
Professor Adjunto na Universidade Regional do Cariri – URCA, e-mail: mota.joao@urca.br
2
Professor Adjunto na Universidade Regional do Cariri – URCA, e-mail: ramalucas@hotmail.com.
3
Professor Adjunto na Universidade Regional do Cariri – URCA, e-mail: anaelisahd@yahoo.com.br
1 - INTRODUÇÃO
Além dos clientes, fornecedores etc., existem, dentre diversos atores do mercado
de capitais, a participação de grandes investidores, no qual podemos destacar os
investidores institucionais, no caso brasileiro, destaca-se o fundo de pensão, que são
acionistas de um grande número de empresas e que perceberam a importância de estimular
as empresas de capital aberto a adotarem práticas de governança corporativa. “Exercendo o
poder subjacente à sua posição de grandes acionistas, os fundos de pensão passam a
reivindicar modificações na forma de atuação das empresas nas quais investem
movimento, esse conhecido como ativismo.” (PUNSUVO et al, 2007, p. 64).
É preciso salientar que o objetivo do presente trabalho não é debater sobre fundo
de pensão. Entretanto, o fundo de pensão aqui surge como representante de grandes
investidores institucionais, que atuam de uma maneira muito forte no ativismo dos
investidores institucionais. Pois, “os investidores institucionais, representam o grupo que
contempla o maior volume de recursos de capital no mundo. Eles afirmam que, um dos
principais elementos para entendimento do estágio atual da governança corporativa, passa
pelo entendimento desse grupo.” (PUNSUVO et al. 2007 apud MONKS E MINOW, 2004,
p. 65).
Para dirimir outros aspectos maléficos para as empresas, garantir que os recursos
sejam empregados de forma eficiente e eficaz na missão, nos objetivos e nas metas da
organização, os quais devem estar de acordo com os interesses dos acionistas e
proprietários na maximização dos resultados econômicos da organização, a governança
corporativa surge para viabilizar estes aspectos de forma a dar resposta também a diversos
problemas referentes ao relacionamento entre acionistas e as empresas, bem como o
monitoramento e controle da direção.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Para isso, devem ser propostas medidas que possam incluir práticas de
monitoramento, controle e ampla divulgação de informações, que são medidas e práticas
que se convencionou chamar de Governança Corporativa.
Mas, para programar tais medidas, como monitoramento das atividades dos
executivos, implementação de incentivos na busca de melhor alinhamento dos interesses,
isto incorre em custos que o principal deve assumir em busca de unidade de interesses, os
teóricos Jensen e Meckling (1976), conforme a citação do Punsuvo (2006, p. 18) chamou
de custos de agência ou custos de monitoramento.
(...) defende que essa remuneração variável deve estar vinculada aos resultados
da organização, com metas de curto e longo prazo estabelecidas. O objetivo é
que a remuneração seja um instrumento de alinhamento dos interesses dos
gestores com os da organização.
No entanto, durante os anos 30, após os efeitos mais severos da crise, novas
grandes corporações foram surgindo nos Estados Unidos, diferenciando-se, desta forma, da
maior parte de empresas que haviam prosperado nas décadas anteriores, nas mãos de
famílias ou de indivíduos que se tornaram mundialmente conhecidos, como Du Pont,
Morgan, Rockfeller, entre outros. No que se refere a cultura empresarial, há uma grande
mudança, deixa-se de ter no momento empresas cuja propriedade e poder de decisão
administrativa nas mãos de um ou alguns indivíduos ou famílias, freqüentemente ocupando
os mais importantes cargos de gestão e passa a ter a estrutura de propriedade dispersa, com
ações negociadas no mercado de capitais (bolsa de valores), em função de que, ao longo
dos anos, o país continuaria a se firmar nas relações de força internacionais, em que o
capitalismo demonstrava sinais de avanços rumo à complexidade. (CVM, 2013, p.148).
Paulatinamente, esse tipo de empresa, com estrutura de propriedade dispersa, passou-se a
pulverizar em outros países, em que, a partir daquele momento, um conjunto de vários
sócios – ou acionistas – passou a ter interferência direta nas decisões administrativas das
empresas, o que de certo modo, se tornava impraticável, passando frequentemente a ser
privilégio de controladores majoritários que muitas vezes ocupavam a função de Presidente
do Conselho de Administração e o cargo de principal executivo ou optavam pela
contratação de gestores profissionais para essa função. Isso gerou conflitos de várias
ordens.
De acordo com a CVM (2013, apud IBGC, 2006, p. 59) “as discussões de várias
ordens sobre o assunto envolvendo acadêmicos, investidores e legisladores, originando
teorias e marcos regulatórios, avolumaram-se nos anos 90, após os graves escândalos
contábeis na década anterior com diferentes empresas”. Em 1992 foi publicado na
Inglaterra o Relatório Cadbury, considerado o primeiro código de boas práticas de
governança corporativa (CVM, 2013 p.149) No mesmo ano, 1992, foi divulgado o
primeiro código de governança elaborado por uma empresa, a General Motors (GM) nos
Estados Unidos. Como resultado de uma pesquisa realizada por um Fundo de Pensão
denominada Calpers (California Public Employees Retirement System) nos Estados
Unidos, constatou-se que mais da metade das 300 maiores companhias daquele país já
tinham seus manuais de recomendação de governança corporativa.
De acordo com a CVM (2013, p.150. apud IBGC, 2006, p. 59) no Brasil, as
discussões sobre governança corporativa começaram em 1995, a partir da criação de um
instituto privado voltado especificamente para a temática. Inicialmente denominado de
Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA), com sua denominação
alterada em 1999 para Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), inspirado
no Institute of Director (IoD), do Reino Unido. Aos poucos, O IBGC tornou-se
reconhecido nacional e internacionalmente, assumindo a liderança nos debates sobre
questões de governança no país e na América Latina.
4
Implantados em dezembro de 2000 pela antiga Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), o novo
mercado e os níveis diferenciados de governança corporativa – Nível 1 e Nível 2 – são segmentos especiais
de listagem desenvolvidos com o objetivo de proporcionar um ambiente de negociação que estimulasse, ao
mesmo tempo, o interesse dos investidores e a valorização de companhias.
propriedade dispersa, como também podem ser introduzidas nas empresas familiares e
organizações de natureza diversas.
Assim sendo, deve a diretoria executiva informar aos acionistas e as demais partes
interessadas de suas atividades administrativas e econômico-financeiras, buscar a equidade
de direitos para grupos minoritários, bem como às demais partes interessadas como
clientes, fornecedores, entre outros e que os diretores e conselheiros devem zelar pela
perenidade das organizações.
O foco atenção deve estar identificado com recursos para garantir que as decisões
estratégicas sejam tomadas com eficiência.
De acordo com Monks e Minow (2004 apud Punsuvo et al, 2007, p.65) “os
investidores institucionais representam o grupo que contempla o maior volume de recursos
de capital no mundo. Eles afirmam que um dos principais elementos para o entendimento
do estágio atual da governança corporativa passa pelo entendimento desse grupo.”
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
4 – REFERÊNCIAS
mail: crtheophilo@uol.com.br
para a construção de uma boa sociedade, mais igualitária e sustentável. Uma das formas mais
inclusivo, e findar com o chamado fenômeno da exclusão financeira. Para tanto, faz-se
Dimensão Acesso para Regiões Brasileiras – IIFDA. Em relação aos resultados verificados,
apenas os estados do sul e sudeste apresentam-se com grau elevado de inclusão financeira,
Inclusão.
1. Introdução
O sistema financeiro não é apreciado por algumas pessoas, mas ele é uma realidade e
faz parte do dia-a-dia das sociedades de todo o mundo, tendo papel importante no
pagamentos, instrumentos para depósito, entre outros diversos produtos e serviços, que por
obstáculo a ser superado para que contribua com a geração de resultados socioeconômicos
de modo que este seja democratizado, humanizado, apresentando-se de forma mais sustentável
e inclusiva. A própria Organização das Nações Unidas – ONU incorpora isto em sua agenda
número oito, que diz respeito à promoção do crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, onde a expansão do acesso aos serviços financeiros para todos é um dos pontos-
chave. (Leyshon e Thrift, 1995; Sinclair, 2001; Shiller, 2013; Crocco et al, 2013; PNUD,
2016).
tendo como objetivo apresenta-lo de forma mais democrática, humanizada e inclusiva, se torna
torna-lo inclusivo, é permitir que seja acessível e adequado para todos. Ainda, faz-se
financeira na dimensão acesso, para todas as regiões oficiais brasileiras (Norte, Nordeste,
Centro-Oeste, Sudeste e Sul). O estudo inova por buscar apresentar um indicador ainda não
existente nas bases de dados atuais, logo, pode ser utilizado como instrumento de auxílio para
elaboração de estratégias e para tomada de decisões de forma mais eficiente e eficaz, visando
sempre democratizar e tornar o sistema financeiro mais inclusivo para que este possa gerar
que o Banco Central do Brasil – BC, publica relatórios sobre a inclusão financeira no Brasil e
apresenta nestes um indicador, que, porém, não possui série temporal anual contínua, sendo
verificado de cinco em cinco anos, além de evidenciar apenas o âmbito nacional. Outra base
de dados é apresentada em âmbito internacional, o Global Financial Index (Global Findex),
que também se limita ao âmbito das nações, mas não incorpora algumas especificidades das
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a série temporal se estende de 2010 até
(2014), e possui três etapas, sendo a primeira a normalização das variáveis para valores entre 0
por fim, para o cálculo do indicador composto (indicador proposto no estudo), utiliza-se o
método do deslocamento ideal, que consiste no emprego da distância euclidiana inversa, afim
exclusão financeira. Destaca-se o estudo feito por Crocco et al (2013), investigando no âmbito
das regiões oficias brasileiras, o fenômeno da exclusão, utilizando de proxies para aferir os
desigualdade e pobreza. O estudo feito por Reis e Ventura (2015), verificou a relação entre o
estados do nordeste brasileiro, identificando que os estados com maior grau de inclusão
socioeconômico.
sendo estes: geográfico, acesso, por condicionantes, por preço, por marketing e por
autoexclusão. Os autores Sinclair (2001), Gloukovieff (2006) e Sarma (2010), verificam que a
que evita que determinados grupos participem da economia de forma mais ativa, fato que
Portanto, para este estudo, tem-se motivação semelhante aos dos autores citados acima,
problema relacionado à falta de dados na forma de indicadores, que sejam constantes (séries
anais), para avaliar o grau de inclusão financeira, neste caso de forma especifica para regiões
2. Abordagem metodológica
Tem-se como foco de análise as regiões oficiais brasileiras, segundo o IBGE (2016)
são: Norte (Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e Tocantins); Nordeste
(Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia); Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo); Sul (Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul); Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e
Distrito Federal).
Em relação aos dados: são secundários, tem-se como fonte de coleta os sites do Banco
meio dos relatórios de tecnologia bancária e relatório social das instituições. A série temporal
para Regiões Brasileiras (IIFDA-RegiõesBr). Ressalta-se que para o tratamento dos dados
utiliza-se os softwares Microsoft Excel 2013, ainda, que o “acesso” no indicador proposto é
não engloba, portanto, o acesso móvel como o realizado via mobile e internet banking, sendo
VARIÁVEIS DESCRIÇÃO
país.
funcionamento no país.
funcionamento no país.
Fonte: Banco Central do Brasil – BC e Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN, 2016.
Ainda, em relação às variáveis, fora coletado de forma específica para região oficial do
Yorulmaz (2013), e Ambarkhane, Singh e Venkataramani (2014), o primeiro propôs uma nova
dos autores acima, através do método do deslocamento ideal, segue-se três passos: o primeiro
o indicador proposto, no presente estudo serão duas dimensões, que consideram o acesso
demográfico e geográfico, logo, utiliza-se dos dados brutos para um primeiro cálculo afim de
colocar cada variável exposta no quadro 1, por 100.000 habitantes em idade ativa (dimensão
demográfico) e por 10.000 Km2 (dimensão geográfica). Após esta primeira transformação,
deve-se normaliza-las para evitar problemas como a alta dispersão entre elas. Existe na
estatística diversas formas para a satisfação deste, destaca-se conforme exposto por Scandar
Neto (2006), a padronização pelo escore z, na qual se substitui cada valor pela distância
pela transformação dos valores entre zero e um, conhecida internacionalmente e de ampla
utilização, também adotada para o cálculo dos três índices de dimensão que compõem o Índice
𝑋𝑖−𝑚
𝐷𝑖 = (1)
𝑀−𝑚
Onde: Di: valor normalizado da variável; Xi: valor atual da variável; M: valor máximo da
Ressalta-se que, conforme exposto por Sarma (2010), definir qual deve ser o valor
apresenta como uma tarefa complexa, sendo mais indicado utilizar-se dos valores mínimos e
dimensão que comporão o indicador proposto, o próximo passo apresenta-se como agregação
das variáveis, processo este que pode ser realizado de várias formas, as principais podem ser
consideradas como a média ponderada ou a média aritmética simples, isto porque tem como
vantagem a não perda de componentes dos dados, evidenciando de forma mais eficiente a
realidade dos mesmos. Neste estudo, preferiu-se utilizar a média aritmética simples.
Ideal
normalizada inversa a partir do ponto ideal. Ainda, segundo Nathan, Mishra e Reddy (2008),
seguir:
Proximidade: significa que quanto maior for o indicador, menor é a distância a partir
Sinalização: indica o caminho ótimo para que se chegue ao valor mais elevado.
projeções. Ainda, que a melhoria no índice mais baixo em qualquer dimensão, reflete a
Onde: D1: Indicador de Dimensão; D2: Indicador de Dimensão; Dn: Indicador de Dimensão;
observado até a posição do ponto ideal (1,1) pela raiz da quantidade de dimensões para a
superior.
indicador composto).
Segundo Sarma (2010), pode-se interpretar os resultados dos indicadores por três
0.0 ≤ IFI < 0.3 = Inclusão Financeira de Grau Baixo. Apresenta o Fenômeno da
Exclusão Financeira.
Shiller (2013), que defende que as finanças e seu sistema são poderosos instrumentos que
podem ser utilizados em prol da construção de uma boa sociedade, igualitária e sustentável,
regiões em análise, aquela que se apresenta com grau elevado de inclusão financeira, possui
um sistema financeiro mais democrático, ressalta-se que deve ser considerando um valor
verificado acima de 0.7 como democrático, um valor verificado entre 0.5 até 0.7 como sistema
democratização.
para elaboração ou reforma de políticas públicas e ou estratégias que visam possibilitar que
todos desfrutem dos benefícios das finanças, e que haja uma relação positiva entre as partes.
indicador de dimensão de acesso demográfico, ou seja, indicador por cem mil pessoas em
idade ativa, a segunda refere-se ao indicador de dimensão de acesso geográfico, ou seja, por
dez mil quilômetros quadrados, em relação à área de cada uma das regiões. Na terceira parte,
indicador de dimensão referente ao acesso demográfico, ou seja, por cem mil pessoas em
0.46
0.44 0.44 0.44 0.44 0.44
0.42 0.42 0.42 0.41 0.41 0.41
0.35 0.36
0.34
0.32 0.32 0.31
acesso demográfico (ou seja, indicador por cem pessoas em idade ativa), verifica-se de acordo
com a interpretação proposta por Sarma (2010) e incorporando os conceitos de Shiller (2013),
durante toda série temporal de 2010 até 2015, apenas a região sul apresentou-se com grau
elevado de inclusão financeira, mas ainda pode ser considerada como um sistema
semidemocrático por não auferir valores acima de 0.7. Já as regiões centro-oeste, sudeste e
norte, apresentaram-se com grau médio de inclusão financeira, logo, podem ser definidas
como sistemas pouco democráticos, ressalta-se que tais regiões são bastantes desiguais em
relação ao tamanho da população em idade ativa. Por fim, apenas a região nordeste, verificou
com grau baixo de inclusão financeira, apresentando-se como um sistema não democrático ou
com baixíssimo grau de democratização, logo, entende-se que a região apresenta o fenômeno
da exclusão financeira.
Ainda em relação aos resultados evidenciados no gráfico 1, ressalta-se novamente que
são referentes apenas ao acesso demográfico, portanto, os resultados efetivos sobre a inclusão
financeira, devem ser verificados no indicador composto que será apresentado a seguir.
indicador de dimensão referente ao acesso geográfico, ou seja, por dez mil quilômetros
acesso geográfico (ou seja, indicador por dez mil quilômetros quadrados), verifica-se de
acordo com a interpretação proposta por Sarma (2010) e incorporando os conceitos de Shiller
(2013), que durante toda série temporal de 2010 até 2015, apenas as regiões sudeste e sul
apresentam-se com elevado grau de inclusão financeira, ainda, pode-se considerar que a região
sudeste apresenta-se com sistema democrático por auferir valores acimas de 0.7 durante toda
série, já a região sul, por auferir valores acima de 0.5 porém abaixo de 0.7, apresenta-se com
inferiores à 0.3, logo, identifica-se baixo grau de inclusão financeira, com sistemas não
democráticos, porém, vale ressaltar que tanto a região norte quanto a nordeste, possuem
um indicador composto por as duas dimensões apresentadas neste estudo, conforme será
observado a seguir, para que se verifique de forma mais eficiente o grau de inclusão financeira
Portanto, faz-se necessário um indicador composto, como proposto no estudo, para que
se verifique de forma eficiente e eficaz o grau de inclusão financeira, bem como se os sistemas
a seguir.
Brasileiras – IIFDA.RegiõesBr.
IIFDA.RegiõesBr
Fonte: Elaboração Própria.
média dos indicadores no âmbito nacional, apenas as regiões sul e sudeste apresentaram
valores acima, ainda, verifica-se de acordo com a interpretação proposta por Sarma (2010) e
incorporando os conceitos de Shiller (2013), durante toda série temporal de 2010 até 2015, que
apenas aquelas duas regiões apresentam-se com elevado grau de inclusão financeira, porém,
pode-se considerar que possuem sistema semidemocrático, devido aos valores que foram
superiores à 0.5 porém inferiores à 0.7. Em relação às outras regiões, centro-oeste, nordeste e
norte, todas ficaram abaixo da média nacional, e verifica-se que apresentam baixo grau de
inclusão financeira, por apresentarem valores abaixo de 0.3, podendo considera-las sob efeito
do fenômeno da exclusão financeira, ou de sistema não democráticos, fato que pode gerar
4. Considerações finais
Entende-se que a democratização do sistema financeiro, fazendo deste mais inclusivo e
Os resultados, apontam que as regiões sul e sudeste verificam elevado grau de inclusão
maior aperfeiçoamento para o alcance de uma situação mais favorável. Em relação às regiões
centro-oeste, norte e nordeste, verifica-se baixo grau de inclusão financeira, assim, pode-se
considerar que o fenômeno da exclusão financeira está presente nestas regiões, requerendo
Por fim, o estudo possui algumas limitações, como o fato do indicador não abranger a
como sugestão para novas pesquisas, tem-se a superação da limitação exposta anteriormente, e
desenvolvimento.
Victor Medeiros1
fatores determinantes, por sua vez, serão identificados a partir da análise de componentes
possibilidade para que grande parte dos países da amostra melhorem em termos de alocação
saúde, educação e treinamento da mão de obra são fatores importantes para que os países em
1
Mestrando em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG. vmedeiros@cedeplar.ufmg.br.
2
Mestrando em Economia pela USP/FEA-RP. lucasgodoi@usp.br.
3
Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Economia, Brasil.
ABSTRACT: The objective of this paper is to provide more evidence on the main
analysis for the year 2013. The justification for the choice of emerging countries is the
competitive gap between them and the rest of the world. In order to reach the objectives of
the work, the methodology of Data Envelopment Analysis (DEA) was used, in order to
generate the efficiency measures of the countries and then an econometric model that seeks
identified from the principal component analysis. The results obtained through the DEA
methodology indicate that it is possible for most of the sample countries to improve in terms
of efficient allocation of resources, given the low average level of efficiency. The
econometric model indicated that business factors such as innovative capacity and
sophistication of the business environment, structural aspects such as market size, access to
technological products, quality of demand, and systemic factors such as supply and quality
of infrastructure, health, education and training are important factors for developing
1. INTRODUÇÃO
com o crescimento econômico de longo prazo. Um país pode ser considerado competitivo
de vida de seus cidadãos, além da produção de suas firmas (IDM, 2012). De acordo com a
vertente teórica é composta por uma diversidade de estudos que identificaram como
crescimento”.
capital humano (Lucas, 1998), inovações (Romer, 1990; Aghion & Howitt, 1992),
(Grosmman & Helpman, 1991). De maneira similar, Ferraz et al (1996) elaboraram uma
Dados (DEA), buscando identificar o nível de competividade dos países e, ou, seus fatores
Camioto (2015), Ülengin et al (2011) e Charles e Zegarra (2014)). Nestes casos, tratou-se a
aloca seus recursos de maneira eficiente, relativamente aos demais. Dentre os principais
resultados obtidos, destaca-se que fatores como educação, geografia, desigualdade de renda,
boas instituições e provisão de bens públicos podem ser fatores importantes para que os
competitivos.
desenvolvimento, em uma análise comparativa e econométrica para o ano de 2013, visto que
não foram encontrados estudos que unam esses dois aspectos. A justificativa4 da escolha dos
mundo, observada, por exemplo, no Global Competitviness Index (GCI), de forma que a
melhoria dos aspectos que tornem os países mais competitivos poderia agir como fator
a gerar as medidas de eficiência dos países, partindo de uma função de produção agregada,
ao processo de crescimento econômico dos mesmos. Os fatores determinantes, por sua vez,
4
Além de características semelhantes entre os países analisados, tais como menores níveis de renda per capita
em relação aos países desenvolvidos, pauta de exportações composta, majoritariamente, por produtos com
menor teor tecnológico e piores indicadores de desenvolvimento humano.
O trabalho será elaborado em mais quatro seções, além desta introdução. A segunda
trata do referencial teórico. A terceira aborda os métodos utilizados no artigo. A quarta seção
2. METODOLOGIA
eficiência dos fatores de produção nos países em desenvolvimento, para o ano de 2013. Em
seguida, será utilizado um modelo tobit que avaliará quais são os principais determinantes
índices que captem a importância das mesmas, através da análise de componentes principais.
ou seja, dentro de um determinado grupo amostral. Tais medidas são alcançadas através do
uso de programação linear e, cada unidade produtiva é tratada como uma decision making
unit (DMU).
para cada uma das n DMUs. A partir desses dados, são construídas as matrizes de insumo
de decisão. Desta forma, o que essa metodologia propõe é obter medidas de eficiência através
insumos. Como os valores das variáveis de produto e insumo podem diferir substancialmente
entre as DMUs, os pesos atribuídos para o alcance das medidas de eficiência também
países que representem o grau de competitividade dos mesmos em relação aos demais, visto
que tais medidas demonstrarão a melhor alocação dos insumos possível, dado o nível de
produção nacional (orientação input). Desta forma, serão utilizadas as variáveis de insumo
da existência de outliers pode ser a não robustez das medidas de eficiência, tornando os
resultados do modelo pouco confiáveis. Com o intuito de contornar o descrito problema, será
utilizada a técnica Jackstrap proposta por Sousa e Stosic (2003), que determina quais DMUs
podem ser consideradas outliers a partir do cálculo de sua medida de leverage (ou grau de
influência). De acordo com Ervilha (2014), o leverage seria o desvio-padrão das medidas de
5
Ver mais detalhes em Charnes et al (1994) e Cooper et al (2000).
ésima DMU. Para o procedimento da técnica neste trabalho, toma-se como critério de
definição de DMUs outliers aquelas que obterão valor de leverage superior a 0,026
será estimado um modelo Tobit. A escolha desse modelo decorre do fato de que as medidas
de eficiência calculadas por meio da Análise Envoltória de Dados consistem em uma amostra
censurada, visto que estão limitadas no intervalo entre 0 e 1. Neste caso, ao se proceder com
2011).
descrever Y como a variável dependente, I como uma constante que representa o valor
mínimo assumido por Y e S o valor máximo da variável Y, observa-se que Y será observado
pontos inferior (I) e superior (S). A partir das notações descritas no parágrafo anterior e,
da seguinte maneira:
𝑌∗ = 𝑍′𝛽 + 𝜀𝑖
𝑌 = 𝐼, 𝑠𝑒 𝑠𝑒 𝑌∗ ≤ 𝐼
6
Aspectos mais detalhados sobre a técnica jackstrap podem ser vistos em Sousa e Stosic (2003).
𝑌 = 𝑆, 𝑠𝑒 𝑌∗ ≥ 𝑆
Cabe ressaltar, no entanto, que o estimador Tobit será consistente apenas na presença
método Bootstrap, que se utiliza de determinada amostra várias vezes para obter as
de estimativas robustas.
regressão com dados censurados, tem-se que muitas destas possuem a mesma informação.
Para contornar tal problema, optou-se pela utilização da Análise de Componentes Principais,
todas as variáveis originais, de maneira que são independentes entre si e estimados com o
propósito de conter, na ordem em que são estimados, o máximo de informação contida nos
dados originais. Portanto, o PCA é associado à ideia de redução da massa de dados com
matriz das variáveis originais após uma normalização, tem-se que o primeiro componente
7
Ver no Quadro 1A.
̂ . Já o segundo
Assim, a solução x∗1 é o valor associado ao maior autovalor de Ω
componente é x∗ Z, sendo que x∗ é o vetor que soluciona a expressão abaixo:
2 2
̂ x2 s. t. x′ x2 = 1 e x∗′ x2 = 0
max x′ Ω
2 2 1
x2
K variáveis originais. Desta forma, será reduzida a dimensão das variáveis dependentes do
cada variável dita original para a formação dos componentes e, por consequência, qual o
impacto de cada variável sobre a competitividade. Este mecanismo será feito por meio de
8
World Development Indicators, disponível em http://data.worldbank.org/data-catalog/world-development-
indicators.
9
Ver em http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2014/01/pdf/text.pdf.
descritas nos Quadros 2A, 3A e 4A. Maiores detalhes sobre as mesmas podem ser
Por fim, as variáveis Infra, Macro, Social, Train, Labor, Compet e Inter captam
(2011), Paula e Silva (2015), Rocha, Rebelatto e Camioto (2015) e Charles e Zegarra (2014).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
10
Esta variável, Compet, trata do grau de intervenção do governo no mercado de bens e serviços, do nível de
competição interno e externo, efetividade de políticas antimonopólio e outros aspectos que influenciam na
eficiência do mercado de produtos. Considera, por exemplo, o total de impostos sobre lucros, trabalho e outros,
além de tarifas sobre o comércio, tempo necessário para iniciar um negócio, dentre outros.
A primeira análise técnica deste trabalho foi a de verificar a existência de outliers na
amostra através da técnica Jackstrap. Cinco países (DMUs), à saber, China, Brasil, Índia,
África do Sul e Suriname, obtiveram valor de leverage superior a 0,02. No entanto, devido
a relevância11 desses países na economia mundial, principalmente no que se refere aos quatro
componentes dos BRICS, optou-se por aplicar a metodologia DEA em dois cenários:
A partir da aplicação do modelo DEA com retornos variáveis à escala, foi possível
uma função de produção agregada que tem como insumos capital e trabalho, e como produto
tipo de retorno à escala. Observa-se que não houve diferenças substanciais entre o modelo
que incluiu Brasil, China, Índia, Suriname e África do Sul e aquele que não incluiu,
indicando que a inclusão desses países no modelo pode não prejudicar a análise. As médias
de eficiência foram similares, assim como a distribuição dos países em relação aos retornos
de escala.
Este resultado indica que há possibilidade para que grande parte das nações em
característica retorno decrescente (Tabela 1A). Dentro desse grupo, no caso do modelo (1),
se destacam os cinco países que compõem os BRICS, além de México, Argentina, Chile e
11
Em termos de comércio internacional, taxas de crescimento do PIB nas últimas décadas, participação em
fluxos de investimentos internacionais etc.
países europeus como Turquia e Croácia, os quais detém nível de renda e, ou, capital per
mundial. Os resultados do modelo (2) são similares, exceto pela não inclusão de Brasil,
países poderiam optar por diminuir o volume produzido ou adotar tecnologia mais avançada.
A primeira opção é inviável, visto que acarretaria em queda da renda nacional e do emprego.
Desta forma, a opção mais adequada para esse grupo de países seria a modernização da
produção, por meio do aumento dos investimentos em capital físico e na formação de mão
de obra qualificada.
Por outro lado, o grupo de países que possuem retornos crescentes à escala é
composto, majoritariamente, por nações que possuem níveis de renda e capital por
trabalhador inferiores à média amostral. Os resultados descritos até aqui parecem indicar que
nos países onde há escassez de fatores de produção, a exemplo da maioria dos países
africanos, a expansão de capital e trabalho seria importante para que as nações sejam mais
eficientes e competitivas. Por sua vez, naqueles países em que os níveis de trabalho e capital
são relativamente altos, a modernização da economia seria mais indicada para produção
eficiente e competitiva.
Na análise por regiões, pode-se observar (Tabela 2A) que houveram diferenças
ambos os modelos. O nível médio de eficiência em torno de 70% indica que há possibilidade
para que países melhorem em termos de alocação de seus recursos. Os países europeus foram
os que apresentaram, na média, melhores resultados, com média de eficiência igual a 79,2%
e 79,7%, nos modelos (1) e (2), respectivamente. Ainda que em situação pior, os países latino
que há possibilidade para que a grande maioria dos países em desenvolvimento analisados
avaliação em sua relação com a melhoria das medidas de eficiência. Desta forma, a subseção
seguinte busca estimar, através de um modelo de dados censurados, o impacto das diversas
variáveis.
da análise de componentes principais, dado o limiar que foi imposto sobre manter na análise
dados. Portanto, foram mantidos apenas quatro dos componentes principais, como
censurados, tobit, sendo as medidas de eficiência geradas pela metodologia DEA como
se ainda que o modelo de dados censurados será estimado sob o método Bootstrap, que é
um padrão assintótico dos erros, o que tende a subestimar a verdadeira variância. Desta
forma, o modelo será estimado por meio do método Bootstrap, utilizando estimações Tobit
desse ponto, foi o de recuperar os pesos usados para a formação dos componentes, de forma
mesmas foram normalizadas e, então, o modelo foi estimado por Mínimos Quadrados
são nada mais que combinações lineares das variáveis originais do modelo, tem-se que o R²
de fato deve ser 1 e, por consequência, não há erro padrão para os coeficientes.
primeiro componente (PC1) − o qual gerou efeito positivo sobre a competitividade dos países
em desenvolvimento (ver Tabela 5A) −, todas as variáveis, exceto a variável que representa
impacto positivo. Os maiores pesos são dados às variáveis como ambiente de negócios,
12
Foram analisadas aquelas variáveis que obtiveram sinais equivalentes em relação a variável dependente
competitividade (ou seja, se positivo em PC1 e negativo em PC2, ou se negativo em PC1 e positivo em PC2,
Em relação ao segundo componente, o mesmo apresenta efeito negativo sobre a
formação desta nova variável, tornando a relação das mesmas com a competitividade
positiva. Tal fenômeno é observado para as variáveis Busin, Techn, Msize, Infra, Social e
Train. Desta forma, tais variáveis apresentam impacto positivo sobre a competitividade de
mesmo ocorre para as variáveis Inov, Train e Demand, com a diferença que estas se
importância dos fatores empresariais caracterizada pelo substancial peso das variáveis Busin
trazido por um ambiente de negócios sofisticado− ou seja, caracterizado por grande número
e pela capacidade inovativa das firmas, ou seja, pela qualidade das instituições de pesquisa
resultados corroboram com a análise teórica realizada por Romer (1990) e Aghion & Howitt
(1992).
ou seja, as variáveis Techn, MSize, Infra, Social, Inter e Train), ou aquelas que foram importantes na
determinação de apenas um componente (variáveis Busin, Inov e Demand)
comprador− e acesso a produtos de alta tecnologia. O presente resultado em discussão
corrobora com a análise teórica feita por Romer (1986), além de Ferraz et al (1996), entre
outros.
Ademais, no PC2, a variável MSize teve peso substancial, indicando que economias
de escala, geradas por grandes mercados nacionais e de exportação, são fatores importantes
resultado evidencia as análises teóricas feitas por autores como Grosmman e Helpman
(1991), que indicam a importância da abertura comercial para o processo de crescimento via
maior competitividade, além da análise DEA feita na subseção anterior, que indicou a
importância dos retornos à escala para a produção eficiente nos países em desenvolvimento.
dos componentes principais foram Infra, Social e Train. Desta forma, atenta-se para o
e, também, a nível superior, e treinamento da mão de obra. Estes resultados corroboram com
as análises teóricas feitas, por exemplo, por Lucas (1998) e Barro (1990), que enfatizam a
A variável Inter foi a única que apresentou coeficiente positivo no PC2 e negativo no
PC1. Isto significa, por conseguinte, que a mesma impacta negativamente a eficiência de um
Este último resultado parece indicar que a atração de investimento direto estrangeiro
aqui, que a entrada da IDE é um fator que impacta, estritamente, de forma negativa a
competitividade, visto que esta variável pode fazer parte de indicadores como Techn (acesso
à tecnologia avançada), que se relacionaram positivamente com a eficiência. Ressalta-se
sobre a competitividade das nações analisadas. Algumas das possíveis explicações são,
dentre outras: i) empresas locais ficam dependentes das tecnologias trazidas pelas
pesquisa e desenvolvimento; iii) possível aumento das importações gerado pela demanda
das multinacionais, e; iv) concorrência criada pelo IDE pode provocar o encerramento de
empresas locais mais débeis que provoca a diminuição da concorrência (Zhang (2001);
principal. Nesta perspectiva, abster-se-á de realizar uma análise mais profunda de seus
possíveis efeitos para a eficiência. Este é o caso das variáveis Inst, Financ, Macro,
Competition e Labor.
capacidade inovativa das firmas para o alcance de um ambiente mais competitivo nos países
em desenvolvimento. Tais resultados corroboram com a análise teórica feita por Ferraz et al
(1996), além de coincidir com as argumentações feitas por teóricos do crescimento endógeno
se assemelham àqueles obtidos por Rocha, Rebelatto e Camioto (2015), Paula e Silva (2015)
13
Maiores detalhes sobre os impactos negativo e positivos do IDE podem ser obtidos em OECD (2002) e
Moura (2009).
e Charles e Zegarra (2014), indicando que qualidade das instituições, além de fatores
5 CONCLUSÕES
utiliza seus insumos capital e trabalho de maneira a gerar o maior produto possível, em
grande parte dos países da amostra melhorem em termos de alocação eficiente de recursos,
visto o baixo nível médio de eficiência. A opção por expandir a utilização dos insumos ou
modernizar a produção dependerá dos tipos de retorno à escala. No caso de países que detêm
níveis de renda mais elevados do que a média, como exemplo os países que compõem os
BRICS, seria mais indicado modernizar a produção. Por outro lado, em países com nível de
renda e capital relativamente baixos, a exemplo da maioria dos países africanos, a expansão
de trabalho e capital seria importante para que essas nações produzam de maneira
competitiva.
como tamanho dos mercados interno e externo, acesso a produtos tecnológicos, qualidade
educação básica e superior, e treinamento da mão de obra são fatores importantes para que
Por fim, a variável Inter foi a única que apresentou sinal negativo. Este resultado
investimentos estrangeiros, dentre outras, podem ser fatores importantes para que as nações
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APÊNDICE
0,7075
constante -
(0,0196)***
Observações 92 92
Nº de obs. censuradas à esquerda 0 -
Nº de obs. censuradas à direita 15 -
Pseudo-R² 0,6592 -
R² - 0,2575
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa. Nota: (***) significativo a 1%; (**) significativo
a 5%; (*) significativo a 10%; erros-padrão bootstraping entre parênteses, exceto para o modelo “Sistêmico”,
no qual não se utilizou o método bootstrap.
Competition
Demand
Financ
Macro
Social
Labor
MSize
Techn
Busin
Iinfra
Train
Inter
Inov
Ins
Busin
1,00
Inov
0,85 1,00
Inst
0,66 0,70 1,00
Financ
0,81 0,70 0,66 1,00
Techn
0,69 0,65 0,57 0,60 1,00
Demand
0,87 0,73 0,63 0,68 0,60 1,00
MSize
0,51 0,47 0,04 0,37 0,36 0,42 1,00
Infra
0,75 0,71 0,66 0,63 0,85 0,70 0,43 1,00
Macro
0,34 0,33 0,45 0,31 0,37 0,37 0,20 0,47 1,00
Competition 0,61
0,59 0,77 0,71 0,53 0,61 0,02 0,55 0,33 1,00
Inter
-0,22 -0,19 -0,08 -0,18 -0,21 -0,17 -0,31 -0,25 -0,09 0,02 1,00
Social
0,54 0,46 0,37 0,35 0,67 0,51 0,40 0,71 0,24 0,26 -0,30 1,00
Train
0,67 0,61 0,45 0,47 0,86 0,62 0,46 0,82 0,32 0,33 -0,28 0,82 1,00
Labor
0,33 0,43 0,56 0,41 0,26 0,36 -0,16 0,25 0,37 0,59 0,03 0,06 0,17 1,00
Fonte: Elaboração própria.
(CEUNIH), tiago.gontijo@izabelahendrix.edu.br
Resumo
O objetivo deste artigo é comparar o método mais adequado de previsão de demanda para
o consumo de energia elétrica industrial no Brasil. Para isso, foi utilizada a série histórica
(ARMA). Através de comparações, concluiu-se que, o método ARMA foi o mais adequado
no ponto de vista da análise do erro médio. A respeito da análise do erro médio, considera-
se o modelo eficaz, aquele que apresenta o menor valor. Diante do exposto, este estudo se
Abstract
The purpose of this article is to compare the most appropriate method of forecasting
demand for the consumption of industrial electric energy in Brazil. For that, the historical
series of energy demand was used from April 2007 to January 2017. Four methods of
exponential smoothing and autoregressive smoothing were used. Moving average (ARMA).
Through comparisons, it was concluded that the ARMA method was the most adequate
from the point of view of mean error analysis. Regarding the analysis of the average error,
it is considered the effective model, the one with the lowest value. In view of the above, this
1. Introdução
Pesquisa Energética (EPE) aponta que o Brasil é o sétimo maior consumidor mundial de
energia elétrica, destaca ainda que os municípios que mais consomem energia são aqueles
demanda, com objetivo de planejar a expansão de energia, além de propor aplicações nos
da Produção (PCP), as previsões são um dos principais dados de entrada para as decisões
o melhor emprego dos recursos de produção, assegurando, a execução do que foi previsto.
Sendo assim, o objetivo deste artigo é avaliar quatro diferentes métodos de previsão de
demanda de séries temporais: (A) Média Móvel, (B) Média Móvel Ponderada, (C)
série.
Este artigo está organizado em quatro sessões, além dessa introdução. A próxima apresenta
conclusões.
2. Metodologia
Todo sistema de produção tem como objetivo atender a demanda. Demanda é a quantidade
demanda que determina o momento da oferta, se a indústria tiver uma clara noção da
demanda futura, poderá ajustar seu sistema de produção em tempo hábil, de modo a
informações que visa gerar estimativas futura. É importante que as organizações saibam
utilizar as ferramentas disponíveis para conseguir antecipar a demanda futura com precisão
De acordo com Lustosa et al. (2008), os métodos de previsão de demanda são classificados
técnicas estatísticas.
projeção, dentre eles, a média móvel simples, média móvel ponderada, suavização
três componentes:
i. Tendência: É a orientação geral, para cima ou para baixo, dos dados históricos;
ii. Ciclicidade: Padrões de variação dos dados de uma série que se repetem a cada
iii. Aleatoriedade: São os “erros” ou variações da série histórica de dados que não são
A previsão de demanda a partir do conceito de média móvel tem por finalidade identificar
o valor previsto para a demanda do próximo período. Sendo assim, o calculo é igual à
média aritmética dos últimos ”n” períodos. Matematicamente, a previsão de demanda por
() (1)
fundamental para a previsão, sendo que, quanto maior “n”, menor é a variação da previsão.
que ilustra o modelo de média móvel ponderada e determinado pela Equação (2).
() (2)
Onde:
Di = demanda do período i.
O modelo de previsão de demanda pela média móvel ponderada é uma variação da média
móvel simples, a diferença é que neste modelo considera um peso maior para o último
período de demanda, um peso ligeiramente menor para o penúltimo período e assim por
diante até o último período utilizado para a estimativa. Isso quer dizer que os valores da
demanda dos períodos mais próximos, são considerados mais importantes, na definição da
estimativa que os períodos mais distantes. Normalmente, se utiliza a soma dos pesos igual
a um, para que não seja necessário dividir o resultado pela soma dos pesos (PEINADO;
GRAEML, 2007).
média móvel ponderada, com a diferença de que são utilizados todos os valores históricos,
período como sendo a previsão para o período atual. É dado um peso α a esse erro.
suavização requer somente três tipos de dados, a previsão do último período, a demanda
( ) ( ) (3)
Onde:
D = demanda do período;
α = constante de suavização,
autoregressivo (AR) e de média móvel. Afirma ainda que o processo ARMA forma uma
Morettin e Toloi (2006) afirmam que os modelos ARMA é a solução adequada para séries
temporais com um número não muito grande de parâmetros. O modelo ARMA é dado pela
Equação 4.
(4)
Onde:
Os erros de previsão são os desvios entre a demanda real observada e a previsão. Serve de
parâmetros para a escolha do modelo mais apropriado do conjunto de dados, este critério
sugere que o melhor modelo é o que apresenta o menor erro de previsão (LUSTOSA et al
2008).
(5)
Onde:
Dt = Valor Real
Pt = Valor previsto
ii. Valor Relativo à Demanda Real: este aspecto tem como função a comparação entre
Esses aspectos são considerados em muitos métodos de avaliação de previsão e, para este
artigo que tem por objetivo a comparação dos métodos da previsão de demanda, será
O erro médio (EM) é a média do erro de previsão para o período que se deseja analisar, é
()
(6)
Onde:
Dt = É o valor observado no período t;
Nesta seção foram apontados alguns dos principais métodos quantitativos de previsão de
séries temporais.
Para este estudo foi utilizado os dados de consumo de energia elétrica brasileira no setor
análise dos resultados foi necessário plotar os dados no gráfico e identificar os erros
Para se trabalhar com os modelos de previsão citados anteriormente foi necessário verificar
se os dados são estacionários ou não. Modelos estacionários são aqueles que assumem que
comportamento temporal pode ser analisado graficamente, buscando padrões (a) e (b) ou
(7)
()
negativo. Através da análise do erro médio é definido qual modelo é o mais aderente para a
série temporal estudada, ressalta-se que quanto menor for o erro, mais adequado é o
3. Resultados e discussão
Brasil entre 2007 e 2017. A assimetria foi negativa, apontando uma distribuição
distribuição, está menor que 3 (valor normal), indicando uma distribuição com
Estatísticas Energia
Média 14.708
Mediana 14.876
Desvio Padrão 784,830
Variância 615.958,530
Curtose 0,265
Assimetria -0,795
Amplitude 3.722
Fonte: Resultado da pesquisa (2017)
industrial no Brasil, com base nos modelos de média móvel, ponderada, suavização
de energia elétrica tem natureza complexa, devido a fatores exógenos, ou seja, é comum
horizontes de observações.
O Gráfico 3 que se encontra no Anexo, demonstra o comportamento sazonal da série
temporal do consumo de energia elétrica, bem como uma rotina computacional escrita em
climáticos, sociais, políticos entre outros, afetam diretamente a demanda energética, sendo
valores observados na série estão associados a fatores que afetam a demanda energética.
este fenômeno provoca níveis críticos nos reservatórios das usinas hidrelétricas, afetando o
Nota-se que o modelo de média móvel simples, seguido pelo de media móvel ponderada,
demonstra que o consumo de energia elétrica industrial terá um pequeno pico na série se
uma tendência de crescimento inicial, mantendo uma regularidade linear nos demais
futuros. O supracitado gráfico pode ser uma boa proxy para a aceleração ou não da
economia brasileira no ano de 2017. Percebe-se que todos os modelos projetam uma
O consumo de eletricidade apresenta uma redução para o ano de 2009, sendo o setor
redução no setor industrial nos próximos anos, devido à manutenção nos segmentos eletro
Pode-se observar que o método ARMA se alinha a pesquisas recentes, pois o mesmo
aponta uma redução futura no consumo industrial de energia elétrica em igualdade com o
no qual obteve o resultado de -23,61%, e com isso pode-se afirmar que a série é
estacionária. Uma série temporal é estacionária, quando esta desenvolve no tempo ao redor
de uma média constante, suas propriedades estatísticas não mudam com o tempo,
definido o valor do erro médio dos modelos de previsão de demanda de séries temporais:
média móvel, média móvel ponderada, suavização exponencial e por fim o método
ARMA.
A Tabela 2 mostra o resultado referente ao erro médio absoluto dos modelos citados
anteriormente. Nota-se que o modelo de média móvel simples apresenta o maior valor do
sazonal. Por ser um produto de grande relevância e não possuir demanda estável, a média
móvel deixa de ser a melhor alternativa, valendo tal premissa também para a média móvel
ponderada, apesar de possuir o segundo menor valor do erro. Desta maneira, considera-se o
modelo ARMA mais adequado para a previsão de demanda energética industrial no Brasil
dentre os estudados, uma vez que o modelo apresentou o menor valor do erro médio,
tornando o modelo aderente para o tipo de série estudada. De acordo com Agência
escolha das distribuidoras, entretanto, o resultado das previsões está sujeito à validação
As séries temporais aqui apresentadas foram utilizadas para validação dos modelos de
análise do erro médio absoluto foi utilizada para mensurar qual o modelo é o mais aderente
para a série estudada, considerando que, quanto menor o valor do erro, mais eficaz é o
modelo.
4. Conclusão
Este artigo teve como objetivo comparar o método mais adequado de previsão de demanda
para o consumo de energia elétrica industrial no Brasil. Observou que o produto estudado
tem comportamento sazonal e através da análise do erro médio dos métodos quantitativos,
na análise de erros, o método ARMA apresentou melhor desempenho. Isso quer dizer que
o modelo obteve o menor valor do erro causado pela aleatoriedade e flutuação das series
temporais.
Por mais acurada que seja a técnica de previsão utilizada, sempre existirão erros. Fatores
imprevisíveis como crise econômica, impacto climático, sociais, políticos, entre outros,
podem fazer com que as previsões fiquem além do esperado. Por isso, deve-se estar atento
econométricos da classe SAR, uma vez que o Anexo apresenta uma constatação empírica
Referencias Bibliográficas
BIAGIO, Luiz A.; BATOCCHIO, Antônio. Plano de Negócios: Estratégia para Micro e
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HUBACK, Vanessa B. S.; CASTRO, Nivalde J.;DANTAS Guilherme A.; SILVA, Patrícia
P.; ROSENTAL, Rubens; MAGALHÃES Maria A. Mudanças climáticas e os impactos
sobre o setor de energia elétrica. Congresso Brasileiro de Planejamento Energético,
Gramado, RS, Brasil, 2016.
Resumo: teve-se como objetivo analisar a relação entre o desempenho econômico, desempenho
esportivo, despesas com futebol, valor da marca e a eficiência na gestão dos principais clubes de
futebol brasileiros. Coletou-se dados através dos relatórios da Pluri Consultoria e BDO. Utilizou-se
uma abordagem quantitativa, através da estatística descritiva e da técnica de regressão de dados em
painel. Para este, utilizou-se o software Stata 12. Os resultados apontam um cenário de queda no
desempenho esportivo, um aumento de despesas com o futebol superior ao aumento das receitas
gerais, uma diminuição no nível de eficiência esportiva, além de um aumento do valor da marca dos
clubes. A partir da regressão de dados em painel, constatou-se que variáveis valor da marca e
despesa com futebol explicam positivamente a variação do desempenho econômico dos clubes.
Abstract:the objective was to analyze the relationship between economic performance, sports
performance, soccer expenditures, brand value and efficiency in the management of the main
Brazilian soccer clubs. Data were collected through the reports of Pluri Consultoria and BDO. A
quantitative approach was used, through descriptive statistics and the panel data regression
technique. Stata 12 was used for this purpose. The results point to a scenario of a decline in sports
performance, an increase in soccer spending that is higher than the increase in overall revenues, a
decrease in the level of sports efficiency, as well as an increase in value Of the club brand. From the
panel data regression, it was found that variables brand value and soccer expenditure explain
positively the variation of the clubs' economic performance.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Gestão dos clubes de futebol brasileiro
Para Carvalho (1995) a palavra "gestão" além de ser considerada um sinônimo de administração,
tem seu entendimento associado a uma determinada ação intencional direcionada a executar
objetivos que podem ser de curto, médio e longo prazo. O foco da gestão deve ser baseado na
eficiência das ações adotadas pelo gestor com intuito de propiciar um resultado que atenda as
expectativas dos envolvidos no processo. Para Leoncini e Silva (2005, p. 18), no futebol tem-se
naturalmente o desafio de administrar um trade-off de desempenho, sendo este: desempenho
esportivo (vitórias) vs. desempenho financeiro (lucros/equilíbrio).
A gestão no futebol é algo complexo que não significa apenas a gestão administrativa e financeira
dos clubes de futebol, mas também abrange a gestão das federações e das atividades ligadas aos
clubes, como a organização das ligas (Santos, 2002). Acrescenta-se à gestão no futebol o fato de
que esse esporte está se tornando cada vez mais científico, tecnológico, planejado e mercadológico,
envolvendo toda uma ampla estrutura que precisa cuidar da construção do time e dos jogadores, do
conhecimento de táticas e estratégias de jogo, do estudo dos adversários, de análises estatísticas e da
adequada gestão financeira (Santos, 2002).
Com isso, o objetivo central da gestão esportiva, conforme Santos (2011), é maximizar os lucros e
conseguir manter um desempenho satisfatório das equipes e atletas. Esse lucro, ainda segundo o
autor, é determinado pelo desempenho em campo, receitas e despesas com futebol. Desse modo, os
clubes precisam de desempenho econômico satisfatório para cumprir com suas obrigações
financeiras, principalmente com os salários dos seus profissionais. No entanto, poucos são os clubes
brasileiros que conseguem, segundo Santos (2011), finalizar cada período contábil com resultados
financeiros positivos, ancorados em uma gestão eficiente e profissional.
Santos (2002) enfatiza que, a despeito da evolução na administração dos clubes brasileiros, a
gestão desses deixa a desejar quando se comparada principalmente a outros países como o Japão e
Estados Unidos no ramo de entretenimento, do qual o futebol faz parte. Para uma gestão eficiente
no futebol, Santos (2002) esclarece que os clubes devem ser encarados como uma organização
complexa, composta por profissionais especialistas em cada posição, de forma que a gestão das
transações no futebol seja realizada da maneira mais profissional possível.
Outro fator relevante na gestão dos clubes é buscar a distinção entre razão e emoção. Segundo
Aidar (2006), a maioria dos clubes brasileiros tem uma administração baseada na emoção e não na
razão orientada para eficiência econômica. Aidar (2006) esclarece ainda que, para uma maior
eficiência na gestão dos clubes deve-se trabalhar com orçamentos da mesma maneira que se
trabalha em uma empresa, assim, não se deve gastar mais do que se ganha.
Para Rezende, Dalmácio e Pereira (2010) o negócio do futebol representa uma parcela
economicamente significativa dentro do segmento esportivo. Entretanto, os aspectos econômicos
dos clubes a tempos atrás não eram tão explorados. Não havia uma preocupação com a gestão dos
clubes, que, de nenhuma forma, era profissional, como nos países da Europa. Conforme Dantas
(2013) a questão de mensuração de desempenho dos clubes de futebol do Brasil só foi possível
quando a Lei 10.672/03 tornou obrigatória a publicação das demonstrações contábeis. A partir
disso, podem-se estabelecer relações entre o desempenho financeiro e o desempenho esportivo.
2.2 Despesas com futebol/investimentos com futebol
De acordo com Melo Neto (1985) a atividade do futebol pode ser o negócio mais lucrativo dentro
um clube, possuindo grande participação no total das receitas, não obstante, também é o que
compõe a maior parcela das suas despesas. Os clubes de futebol, pensados economicamente, como
mostra Leoncini (2001), podem ser definidos como uma organização que utiliza de diversos fatores
(ex: talentos de jogadores), comprados no mercado de recursos, a fim de produzir saídas (ex: jogos
de futebol) e que são vendidos no mercado de produtos. Apresentam investimentos relevantes na
economia, contribuindo para aumento do interesse da mídia, patrocinadores, marcas de produtos
esportivos, dentre outros (Soares, 2007). Dantas (2013) afirma que as despesas do futebol são
compostas por salários, amortização de investimentos em atletas, construção de estádios,
manutenção da estrutura e instalações.
No Brasil, os clubes ainda não avançaram no que diz respeito ao profissionalismo na gestão dos
clubes, ficando assim inviável equilibrar as despesas com as receitas. Além disso, Silva e Campos
Filho (2006) esclarecem que, o fato de vender jogadores, na tentativa de reorganizar e quitar dívidas
gera um problema que é o fato de priorizarem a formação da equipe para o presente visando gerar
mais caixa para investimentos futuros necessários. Uma tarefa básica, como a venda de um
ingresso, é executada com dificuldade pelos clubes nacionais. São ingressos com baixo preço, se
comparados a outros times europeus, no entanto, caros se comparados à estrutura, os serviços e os
produtos oferecidos aos torcedores dentro dos estádios.
Leoncini e Silva (2005) reforçam o argumento de que os dirigentes dos clubes de futebol
preocupam-se muito com a montagem do elenco, realizando investimentos (contratações) e gerando
despesas (salários) exorbitantes, não levando em consideração a geração de receitas que esse pode
agregar. Segundo Brunoro apud Valente e Serafim (2006), a causa para grande parte da crise
financeira dos clubes de futebol seria a má administração, ou seja, geração de despesas maiores que
as receitas.
Segundo a Pluri Consultoria (2014), os gastos com a folha de pagamento acima do suportável é a
principal causa dos prejuízos recorrentes e do alto endividamento dos clubes, visto que as despesas
com futebol estão 36% acima do que os clubes realmente poderiam honrar. No ano de 2013 as
despesas com futebol cresceram 21%, representando 77% das receitas anuais, contra 67,4% no ano
de 2012. No período de 2009 a 2013 as despesas com futebol corresponderam a 69% das despesas
totais dos clubes de futebol.
Brandão (2012) acrescenta ainda que o endividamento dos clubes brasileiros está relacionado à
aspectos que transcendem à má administração, como também falta de transparência, à precária
prestação de contas, à postergação das dívidas com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS), o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Receita Federal e outros impostos
devidos à União, através da Timemania. Além de que, na maioria dos clubes, de acordo com autor
supracitado, não há uma clara separação entre o departamento de futebol e o clube social, o que
pode levar a contrair dívidas não prioritárias.
Pereira et al. (2004) assevera que dívidas fiscais e previdenciárias, o adiamento das obrigações
trabalhistas e na remuneração dos jogadores, colocam os clubes em situação deficitária, indicando
assim a necessidadede aprimoramento da qualidade da gestão do futebol.
3. ABORDAGEM METODOLÓGICA
O presente estudo parte de uma abordagem quantitativa, com tipo de pesquisa descritiva que, de
acordo com Silva e Menezes (2000), tem por objetivo relatar as particularidades de determinada
população ou fenômeno ou estabelecimento de associações entre variáveis. Quanto aos métodos de
pesquisa, adotou-se a pesquisa bibliográfica e documental com a utilização de dados secundários.
Os dados que compõem o presente estudo foram coletados através dos relatórios disponibilizados
pela Pluri Consultoria e dos relatórios da BDO. A série temporal selecionada para análise se estende
do ano de 2009 até o ano de 2013. Os dados foram de mensuração anual, compatíveis com os
fechamentos contábeis.
A amostra foi composta por 23 clubes de futebol nacional, a qual delimitou-se aos clubes que
disputaram as séries A, B e C do Campeonato Brasileiro dentre os anos de 2009 a 2013. Trata-se de
amostra intencional, seguindo os indicadores disponibilizados nos relatórios da Pluri Consultoria
contemplando os seguintes clubes: Atlético Mineiro, Atlético Paranaense, Avaí, Bahia, Botafogo,
Corinthians, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo, Goiás, Grêmio, Internacional,
Náutico, Palmeiras, Ponte Preta, Portuguesa, Santos, São Paulo, Sport, Vasco e Vitória.A tabela 1
apresenta os nomes e a definição das variáveis utilizadas no presente estudo:
A fim de identificar as variáveis que explicam o desempenho econômico dos clubes de futebol,
realizaram-se análises por meio de técnicas de regressão com dados em painel, que segundo Duarte,
Lamounier e Takamatsu (2007) combina característica de séries temporais com dados de corte
transversal e são amplamente utilizadas em estudos econométricos e nas ciências sociais aplicadas.
Para tal, utilizou-se o software STATA 12.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 2 apresenta os resultados da estatística descritiva geral das variáveis da pesquisa,
contemplando os anos de 2009 a 2013.
No que diz respeito à variável Ranking Pluri de Conquistas (RPC), percebeu-se que houve um
aumento significativo do desvio padrão, sobretudo nos anos de 2011 e 2012, sugerindo que o
desempenho esportivo dos clubes variou consideravelmente nesses anos. Observou-se uma queda
de 7,96% no desempenho esportivo dos clubes da amostra ao longo dos anos o que denota que os
clubes da amostra estão perdendo melhores posições nos diversos campeonatos no decorrer dos
anos.
Ao comparar o ano de 2009 e 2013, tem-se que a despesa com futebol aumentou
consideravelmente, em torno de 79,88%. Verificou-se expressivo crescimento em 2012 e em 2013,
anos nos quais os clubes gastaram mais com despesa geral do que todos os outros anos da pesquisa.
Verifica-se então um cenário de crescimento das despesas com as atividades de futebol dos clubes.
A exemplo da despesa com futebol, a variável receita geral também mostrou aumento da média no
decorrer dos anos. Contudo, no período em análise, enquanto as receitas cresceram 72,15%, as
despesas apresentaram um crescimento de 79,88%, o que demonstra a necessidade de busca de
recursos externos (empréstimos e rolagem das dívidas) por parte dos clubes de futebol.
Já para a variável índice de eficiência PLURI de futebol (IEPG), destaca-se uma queda de 51,55%
na eficiência dos clubes, demonstrado na média geral, com o passar dos anos. Tal fato aconteceu a
despeito do aumento de receita e despesa de futebol desproporcional às receitas e também pela
redução no desempenho esportivo ao longo dos anos.
Verificou-se também que os clubes apresentaram aumento no valor da marca no período de 2009 e
2013. Tal aumento de valor de 49% pode ser percebido na elevação da média da variável dentro dos
referidos anos, o que significa que o mercado passou a valorizar os clubes de futebol.
De uma forma geral, no período de 2009 a 2013, verificou-se um cenário de queda no desempenho
esportivo dos clubes, aumento de despesas do futebol maior do que o aumento das receitas gerais,
diminuição no nível de eficiência esportiva e um aumento no valor da marca dos clubes.
A fim de testar o objetivo geral da proposta de pesquisa, procedeu-se uma regressão de dados. Para
este estudo, foi realizada uma regressão de dados em painel estático balanceada. Assim, foram
realizados testes de especificação do modelo de regressão MQO Empilhado, os quais consideram
que não há nenhuma variável omitida correlacionada com as variáveis incluídas objetivando
verificar o quão ajustado é o modelo para, posteriormente, escolher o melhor modelo de regressão
de dados em painel a ser considerado. O alto valor do R² evidenciado na análise, demonstrou que o
modelo possui grande capacidade de explicar a variação do desempenho econômico dos clubes de
futebol. A regressão mostrou, também, que apenas as variáveis valor da marca e despesa de futebol
foram significativas, conforme especificado na tabela 3 a seguir:
Segundo Corrar et al. (2009, p. 12) “a multicolinearidade ocorre quando duas ou mais variáveis
independentes do modelo explicando o mesmo fato contêm informações similares”. Pelos
resultados da estatística VIF, os resultados apresentados na tabela 4 demonstram que, a despeito do
modelo apresentar um elevado valor de R², não apresentou multicolinearidade.
De acordo com os resultados da tabela 5, pode-se auferir que os pressupostos da regressão não são
completamente adequados, visto que, apesar dos dados serem normais e não apresentarem
autocorrelação, apresentam-se heterocedásticos. A fim de corrigir a heterocedasticidade do modelo,
adotou-se o modelo de regressão robusto haja vista que o mesmo possibilita obter estimadores mais
eficientes que os de MQO, transformando-os em Mínimos Quadrados Generalizados (MQG), sendo
um modelo homocedásticos.
Para rodar o modelo de regressão robusta em dados em painel, antes, foram feitos os testes LM de
Breusch-Pagan, Hausman e Chow para definir quais dos três modelos (Efeitos fixos - EF, Efeitos
Aleatórios - EA ou pool - MQG) seria o mais adequado para os dados em questão. Optou-se por
fazer testes computacionais, descritos na tabela 6, a seguir.
Os resultados dos testes apontaram o modelo de Efeitos Aleatórios (EA) como o que melhor se
ajusta aos dados. Assim, foram processadas regressões robustas de dados em painel estático,
balanceado, utilizando o modelo de Efeitos Aleatórios (EA), conforme descrito na tabela 7, a seguir.
Os resultados encontrados neste trabalho corroboram ao estudo de Dantas (2013), no qual concluiu
que houve forte correlação entre as Receitas e a Despesa com futebol nos três anos estudados (2010
a 2012). Tais resultados também estão em consonância com aqueles encontrados por Pereira et al.
(2004), segundo o qual nos anos de 2001 e 2002 foi encontrada uma relação positiva entre as
receitas e as despesas (despesas gerais). Não obstante, nos estudos de Pereira et al. (2004) e
Samagaio, Couto & Caiado (2009) tiveram como resultado um poder de explicação significativo
entre as receitas e o desempenho esportivo, contradizendo ao que foi estabelecido na análise de
regressão robusta em que a relação com o RPC não foi significativa.
A variável Valor da Marca, de acordo com os resultados apresentados no modelo regressivo,
explica de forma significativa a variação da Receita Geral ou desempenho econômico dos clubes de
futebol, ou seja, tem-se que à medida com que o Valor da Marca do clube de futebol cresce, é
também perceptível o aumento do valor da Receita Geral.
A relação positiva entre o Valor de Marca e a Receita Geral ou desempenho econômico dos clubes
de futebol vai ao encontro dos resultados apresentados por Nascimento et al. (2014, p. 12), segundo
os quais “foi notada ainda uma relação robusta entre eficiência financeira e valor da marca dos
clubes de futebol, o que permite concluir que a avaliação do valor total das marcas reflete a
expectativa de performance financeira das agremiações”.
A variável IEPG mostrou-se não significativa com a variável dependente, a Receita Geral ou
desempenho econômico dos clubes de futebol. Em outras palavras, pode-se auferir que, dentro do
horizonte de pesquisa deste artigo, a Receita Geral não pode ser explicada pela eficiência de gestão
do clube, ou seja, dentro da relação entre desempenho esportivo e custos do futebol. Tal resultado
parece refutar o estudo de Nascimento et al. (2014, p.13) no qual “foram encontradas evidências
empíricas de uma relação positiva e significante (coeficiente de Pearson de 0,572 significante a
0,05) entre os resultados da eficiência esportiva e financeira”. Era de se esperar que o desempenho
econômico fosse explicado, em parte, pelo desempenho esportivo e pela eficiência na gestão do
futebol.
Em suma, os resultados aqui encontrados demonstram que os clubes de futebol brasileiro vêm
obtendo aumentos consideráveis de receitas a despeito de não angariar conquistas, afinal, tanto as
variáveis Ranking Pluri de Conquistas quanto a IEPG, na qual leva em consideração desempenho
dentro de campo e também financeiro, não se mostraram significativas. Por outro lado, percebe-se
que grande parte do ganho de receitas adveio da valorização da marca que ocorreu, de forma
pujante, no decorrer do período estudado.
5. CONCLUSÃO
O presente estudo teve como objetivo verificar se há relação entre o desempenho econômico,
medido pelas receitas gerais dos clubes com o desempenho esportivo e outras variáveis, tais como
valor da marca, eficiência na gestão, conquistas e despesas futebolísticas dos maiores clubes
brasileiros, buscando evidências da relação direta existente entre as duas perspectivas.
A análise descritiva dos dados evidenciou, de uma forma geral, no período de 2009 a 2013,
verificou-se um cenário de queda no desempenho esportivo dos clubes, aumento de despesas do
futebol maior do que o aumento das receitas gerais, diminuição no nível de eficiência esportiva e
um aumento no valor da marca dos clubes.
A análise de regressão de dados em painel evidenciou que somente as variáveis valor da marca e
despesa com futebol explicam positivamente a variação da Receita Geral ou desempenho
econômico. Por conseguinte, conclui-se que a avaliação do valor da marca e as despesas oriundas
do futebol dos clubes refletem a expectativa de geração de receitas. Reitera-se que os resultados
encontrados se assemelham com aqueles encontram em outros estudos supracitados.
Como sugestões para pesquisas futuras, recomenda-se aumentar o período da amostra, incluir outras
variáveis e usar outras formas de análise e mensuração dos dados para verificar quais aspectos
influenciam o desempenho econômico dos clubes brasileiros de futebol, uma vez que representam
parcela significativa na economia brasileira.
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INVESTIGANDO A ASSIMETRIA NA TRANSMISSÃO DOS PREÇOS DOS
Resumo - Este trabalho busca apurar a existência de assimetria na transmissão dos preços
dos combustíveis do atacado para o varejo no Estado de São Paulo. Desde a introdução dos
veículos flex-fuel no mercado brasileiro em 2003, o consumidor pode optar por abastecer
com a gasolina comum ou com o etanol hidratado, sendo a sua escolha influenciada pelas
estudo para entender o comportamento desses preços. Para tal, médias mensais dos preços
combustíveis a assimetria positiva, de modo que no curto prazo aumentos nos preços no
atacado elevam com maior intensidade os preços ao consumidor. Tal assimetria pode
proceder de uma combinação entre as reações dos consumidores às futuras oscilações nos
Abstract - This work aims to determine the existence of asymmetry in the transmission of
fuel prices in the wholesale to retail in the State of São Paulo. Since the introduction of
flex-fuel vehicles in the Brazilian market in 2003, the consumer can choose to fill up with
1
Mestra em Economia Aplicada pela Esalq-USP; salvini.roberta@gmail.com
2
Professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq-USP; hlburnqu@usp.br
3
Doutor em Economia Aplicada pela Esalq-USP; rafalljacomini@gmail.com
regular gasoline or hydrated ethanol, and your choice is influenced by variations in the
relative prices of these fuels, which highlights the importance of a study to understand the
behavior of these prices. To this end, monthly average of prices of regular gasoline and
hydrated ethanol in the levels of distribution and resale, for the State of São Paulo, from
2002 to 2015 were considered in conducting empirical analysis, which includes the
estimation of Error Correction Models. The results indicate the presence of asymmetry in
transmission of price of both fuels of wholesale for retail, however it is manifested in the
short term only. Moreover, it appears in the fuel market the positive asymmetry, so that in
the short term increases in wholesale prices rise more strongly consumer prices. Such
1 INTRODUÇÃO
análise é voltada para o Estado de São Paulo, que representa uma parcela significativa do
mercado, com gradativa liberalização dos preços desses combustíveis. Para viabilizar essa
transição, era preciso garantir maior competição entre os agentes ligados à distribuição e
pela Contribuição por Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) e a liberação dos preços
opção aos consumidores de abastecerem seus veículos com a gasolina e/ou o etanol
hidratado, conforme o preço relativo dessas alternativas no mercado. Antes de 2003, ano
cliente poderia responder a uma elevação nos preços desses combustíveis era pela redução
do uso de seus veículos. Na medida em que não adotava outras formas de transporte,
esperava-se que o consumidor preservasse seus padrões de compra do produto, mesmo que
gasolina comum e o etanol hidratado pelos consumidores, que fazem sua escolha com base
diferença que estes apresentam com relação ao seu poder calorífico, o consumo de etanol
hidratado torna-se economicamente vantajoso quando o preço deste for de até 70% do
preço da gasolina. No entanto, o motorista pode fugir a essa regra de preços, e abastecer
com o combustível de sua preferência, mesmo que esse seja o de maior preço (ANP, 2014).
depois de decréscimos nos preços nos elos anteriores da cadeia, é comum para a maioria
grupo não se beneficia de uma redução de preços (na posição de compradores), tampouco
de aumento (no caso de vendedores), que aconteceriam mais cedo e/ou seriam de
magnitude maior sob condições de simetria. Mais do que isso, pode provocar perdas de
2004). Uma das causas relacionadas com maior frequência a tais perdas consiste no poder
mercado de combustíveis foram condenados ao longo do referido ano. Esses cartéis foram
Bauru, no Estado de São Paulo. Por fim, as multas aplicadas a postos, associações,
sindicatos e pessoas físicas nestes casos somaram R$150 milhões. O relatório também
aproximadamente R$5,00 para cada carro popular com tanque de 40 litros abastecido, em
tomem ciência do fundamento real que define o movimento ascendente dos preços. A
presente pesquisa busca identificar uma possível assimetria na transmissão dos preços das
distribuidoras para os postos de combustíveis, tendo como objeto produtos como a gasolina
comum e o etanol hidratado, no Estado de São Paulo. Para este fim, faz-se uso de Modelos
referentes a esse tema no país. Efetua-se uma análise com preços a nível estadual, para não
incorrer no erro de agregação das diferenças dos mercados regionais brasileiros, que pode
abordagem pouco usada por trabalhos anteriores para o Brasil, através da qual se torna
possível um exame mais detalhado das assimetrias de curto prazo e de longo prazo. A
biocombustíveis. Ainda, acredita-se que uma análise dessa natureza dê suporte para a
Para uma melhor compreensão da análise a ser realizada neste trabalho, torna-se
4
Do inglês “Error Correction Model”.
preço no varejo ( ) responde com maior intensidade a um aumento no preço de atacado
entanto, se a resposta de for mais intensa dada uma redução em , do que em caso de
Segundo Meyer e von Cramon-Taubadel (2004), outros dois critérios podem ser
do volume das transações envolvidas. Uma combinação desses dois tipos de assimetria na
positivos e negativos nos preços de atacado. Logo, os preços de atacado e de varejo irão se
distanciar com o passar do tempo, não podendo, assim, guardar uma relação de equilíbrio
impacto diferenciado das variações negativas sobre o preço deste produto em outra
elas, a de maior apelo consiste no poder de mercado exercido por postos de combustíveis
SILVA et al., 2010; SANTOS, 2012; entre outros). Tal ocorrência usualmente implicaria
os preços ao consumidor. Todavia, outras causas devem ser analisadas, para evitar
preço do combustível tem um custo para o consumidor, representado pelo tempo gasto em
pesquisa e pelas despesas envolvidas. Esse custo de pesquisa gera um poder de mercado
realizar a pesquisa quando tem a percepção de que as perdas envolvidas com um aumento
dos preços superam os custos de procurar por um combustível mais barato. Conscientes
disso, os varejistas podem postergar o processo de assimilação das variações negativas nos
do combustível irá subir, ele procura se antecipar a esse movimento ascendente dos preços,
esgotamento dos estoques dos postos de combustíveis, fazendo com que os varejistas
levem um tempo menor para adquirir novamente o produto das distribuidoras, assimilando
com maior rapidez as variações positivas nos preços de atacado. Contudo, quando
percebem que haverá um decréscimo nos preços, os agentes retornam ao nível de consumo
regular. Assim, os estoques perduram por mais tempo, e os varejistas dispõe de um período
maior para voltar a adquirir o combustível das distribuidoras com o preço mais baixo.
3 METODOLOGIA
palavras, que é integrada de ordem 1 (denotada por I(1)), quando precisa ser diferenciada
estacionárias estarem conectadas por uma combinação, de modo que elas sigam um
longo prazo. Nesta situação, diferenciar as séries para torná-las estacionárias não será um
Se as variáveis de interesse são I(1), elas podem formar uma combinação linear que
em nível:
(1)
A partir de então, testes são realizados para verificar se os resíduos em (1), , são
estacionários. Sendo este o caso, diz-se que as séries em questão são cointegradas, e a
expressão (1) representa uma estimativa da relação de equilíbrio de longo prazo entre elas.
varejo. Antes, é preciso estimar o termo de correção de erro, que corresponde aos resíduos
defasados da estimativa de (1). Ele representa os desvios da relação de longo prazo entre as
variáveis consideradas, e sua inclusão no Modelo de Correção de Erros permite que não
equilíbrio de longo prazo que podem ter permanecido ao longo de períodos anteriores.
(2)
em estudo são integradas de primeira ordem - I(1), e podem ser estimados por
ajustamento assimétrico, pode ser expresso como segue (MEYER; VON CRAMON-
(3)
se , e zero se .
devem ser testadas. Por meio de um teste F, avalia-se a hipótese nula relacionada aos
Se esta hipótese for rejeitada, confirma-se a assimetria de curto prazo. Outra hipótese é a
novembro de 2002 a abril de 2015. Esses dados são coletados e divulgados pela
ANP. Para efetuar as estimações, foram empregados os softwares EViews 6.0 e Stata 11.0.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
foram empregados três tipos de testes de raiz unitária. O teste Dickey-Fuller Generalised
Least Squares (DF-GLS), proposto por Elliott et al. (1996), e o teste Phillips-Perron (PP),
estruturado em Phillips e Perron (1988) adotam como hipótese nula a presença de uma raiz
testes sugerem que ambas as séries são não estacionárias em nível. Apenas os testes PP e
entanto, todas as versões do teste DF-GLS indicam a presença de uma raiz unitária nas
de uma relação de equilíbrio de longo prazo entre os preços nos níveis de atacado e varejo.
Inicialmente, um modelo de vetores autorregressivos (VAR) foi estimado a partir das duas
verossimilhança modificado (LR), erro de predição final (FPE), Akaike (AIC), Schwarz
(SC) e Hannan-Quinn (HQ) foram usados para a definição do número ótimo de defasagens.
Como não houve unanimidade entre os critérios quanto à ordem ideal de defasagem, foi
do Apêndice). Logo, as variáveis são cointegradas, e sua relação pode ser mensurada
respectivamente.
Isto posto, a Tabela 1 mostra as estimativas do Modelo de Correção de Erros
Portanto, no longo prazo, um choque nos preços nas distribuidoras tem um impacto
mostram-se condizentes com o esperado, e são em sua maioria significativos. Tanto o teste
positivas nos preços do etanol hidratado no atacado (γ₀⁺ = 1,016) é maior do que quando a
variação é negativa (γ₀⁻ = 0,859). Após dois meses, o repasse acumulado de choques
negativos ( = 0,792). Essa diferença é confirmada pelo teste de simetria, que atesta a
Os coeficientes dos termos de correção de erro, por sua vez, apresentam o sinal
negativo esperado. Isso porque quando os preços estão acima (abaixo) do equilíbrio,
equilíbrio de longo prazo seriam reparados mais rapidamente (θ⁺ = -0,166) do que os
iguais não pode ser rejeitada, tem-se simetria na transmissão de preços no longo prazo.
etanol hidratado no atacado para o varejo no Estado de São Paulo no curto prazo, sendo a
assimetria positiva, ou seja, no curto prazo os preços no varejo reagem com maior
intensidade ao aumento nos preços no atacado do que a uma diminuição nesta variável de
Evidências semelhantes foram encontradas por Santos (2012), que verificou que
Assim como para o etanol hidratado, testes de raiz unitária foram realizados (DF-
GLS, Phillips-Perron e KPSS) para verificar a ordem de integração das séries de preços da
nível. A única exceção é o teste KPSS com constante e tendência, onde não há a rejeição
da hipótese nula de que as séries (tanto do atacado como do varejo) são estacionárias.
mesmas. Portanto, depreende-se que as séries em estudo são integradas de ordem um.
séries de preços da gasolina comum no atacado e no varejo são cointegradas. Não havendo
indicada pelo critério de informação de Schwarz, que equivale a duas defasagens no VAR,
varejo a choques ocorridos nos preços no atacado, são apresentados na Tabela 2. O número
preço médio de atacado ocasiona uma elevação (decréscimo) de R$ 1,24 no preço médio
(γ₀⁺ = 1,177) é maior do que em caso de variação negativa (γ₀⁻ = 0,606). Depois de um
mês, observa-se que o repasse acumulado de choques positivos nos preços do atacado
positivos do equilíbrio de longo prazo seriam restaurados mais rapidamente (θ⁺ = -0,129)
do que os desvios negativos (θ⁻ = -0,012). Contudo, a hipótese nula de igualdade entre os
respectivamente.
estágio de distribuição da gasolina comum no Estado de São Paulo. Além disso, foi
constatada assimetria positiva, de modo que no curto prazo, os preços da gasolina comum
Sendo assim, as evidências apresentadas neste trabalho dão embasamento para que
5 CONCLUSÃO
ajustes de preços. Com essa finalidade, Modelos de Correção de Erros foram estimados a
partir de séries de preços mensais da gasolina comum e do etanol hidratado, nos níveis de
bastante similares. Com base nos coeficientes estimados do Modelo de Correção de Erros,
constatou-se que o repasse de variações positivas nos preços dos combustíveis no atacado é
superior ao de variações negativas no curto prazo. Com relação aos testes de simetria
Embora a abordagem empregada não permita identificar o que estaria causando este
sugeridas. Assim, a justificativa que parece se adequar melhor aos resultados obtidos é a de
que os consumidores, ao se anteciparem às elevações no preço de um combustível,
aumentam seu nível de consumo, expandindo a demanda pelo produto, o que precipita o
esgotamento dos estoques dos postos. Desse modo, ocorre redução no intervalo de tempo
para que os varejistas voltem a adquirir o combustível das distribuidoras, o que acelera o
reajuste ascendente dos preços da mercadoria na bomba. Por vezes, essa expansão da
dos preços nas distribuidoras. Contudo, quando há a perspectiva de redução nos preços,
retoma-se o nível de consumo habitual, estendendo a duração dos estoques dos postos de
mercado que os varejistas da região poderiam exercer. Assim sendo, em caso de elevação
nos preços dos combustíveis no atacado, os varejistas logo repassariam esse aumento para
o consumidor final. Todavia, se ocorresse redução nos preços de venda pelo atacado, a
transmissão desta para os preços de revenda poderia ser distribuída ao longo de alguns
meses, o que garantiria aos postos de combustíveis uma margem de lucro maior no curto
prazo. Além disso, tem-se o elevado custo de pesquisas quanto a preços pelo consumidor.
Assim, os varejistas poderiam estar repassando as variações nos preços do atacado para os
preços de revenda de maneira assimétrica no curto prazo, considerando que neste intervalo
de tempo o consumidor não é levado a efetuar uma pesquisa, o que não aconteceria, caso a
mais acertada, no entanto, exige uma análise com séries de preços mais desagregadas e o
uso de outras variáveis, como o grau de exposição dos preços praticados pelos varejistas
entre a gasolina e o etanol hidratado, de acordo com a relação de preços entre os dois
produtos – parece não se constituir, ainda, em uma alternativa totalmente eficiente para
etanol hidratado, a substituição de determinado combustível por outro não evita que o
Portanto, mesmo sem poder afirmar qual circunstância realmente estaria originando
comerciais anticompetitivas.
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Preço no varejo
Nota: Entre parênteses o número de defasagens incluídas (para o DF-GLS), ou o tamanho da janela escolhida
de significância, respectivamente.
Tabela 4 – Resultados dos testes de cointegração de Johansen para o mercado de etanol
hidratado
Nula Alternativa
Teste do traço
constante e constante e
nenhum constante nenhum constante
tendência tendência
Preço no atacado
Preço no varejo
Nota: Entre parênteses o número de defasagens incluídas (para o DF-GLS), ou o tamanho da janela escolhida
de significância, respectivamente.
Tabela 6 – Resultados dos testes de cointegração de Johansen para o mercado de gasolina
comum
Nula Alternativa
Teste do traço
RESUMO
O artigo analisa o impacto da crise brasileira de 2015 sobre o Polo Industrial de Manaus
(PIM). Para isto, realizou-se uma análise de impacto baseada no modelo de insumo-produto.
Essa análise referiu-se ao impacto de uma queda no faturamento real do Polo Duas Rodas
do PIM, em 20015, sobre o valor bruto da produção (VBP) e o valor adicionado bruto (VAB)
do Estado do Amazonas. Após o ajuste realizado na Tabela de Recursos e Usos do Estado
do Amazonas (TRU/AM-2006), elaborou-se: (a) a matriz de impacto de coeficientes fixos
diretos, (b) a matriz de demanda por atividades e (c) o vetor de composição da demanda final
por atividade relativamente ao componente exportação de bens e serviços para o resto do
país. E, com o uso da Matriz Insumo-Produto do Estado do Amazonas (MIP/AM-2006),
elaborou-se a matriz de impacto total da economia do Amazoans por setores de atividades
econômicas. Os resultados apontam que houve, em 2015, um recuo de 55,6% no faturamento
real do Polo Duas Rodas,em relação ao ano anterior; além do que a análise impacto mostrou
que tanto o VBP quanto o VAB do Estado do Amazonas recuaram -6,76% e -5,09%,
respectivamente.
ABSTRACT
This article studies the impact of the 2015 Brazil crisis on the Manaus Industrial Park (PIM).
To this end, impact assessment was conducted using the input-output model. The study
focused on the impact of the decrease in actual revenue in the two-wheel sector for 2015 on
the Gross Value of Production (GVP) and the Gross Value Added (GVA) of the state of
Amazonas. Once the State of Amazonas Supply and Uses Table (TRU/AM-2006) was
adjusted, it was possible to design: (a) a direct impact fixed coefficient matrix; (b) a demand
matrix per activity; (c) a final demand vector composition by activity for goods and services
exports to the rest of the country. Based on the State of Amazonas Input-Output Matrix
(MIP/AM-2006), the overall economic impact matrix was designed for each economic
activity sector in Amazonas. Results show a 55.6% decrease in the two-wheel sector actual
revenue for 2015 in comparison with the previous year and the impact assessment also shows
that both GVP and GVA were negatively affected in the State of Amazonas at the rate of -
6.76% and -5.09% respectively.
1
Projeto de inciação científica em andamento. Programa de Iniciação Científica, Escola Supeior de Ciências
Sociais, Universidade do Estado do Amazonas (PAIC 2016-2017 – ESO/UEA). Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
2
Graduanda em ciências econômicas e bolsista do PAIC 2016-2017 – ESO/UEA. Email: vfo.ecn@uea.edu.br.
3
Professora Adjunta, Universidade do Estado do Amazonas. Email: ecoliveira_eco@hotmail.com.
INTRODUÇÃO
ela tivesse sido uma tragédia gratuita e desnecessária para muitos economistas – como relata
Paul Krugman em seu livro "A crise de 2008 e a economia da depressão” – as economias
mundiais foram balanceadas e os países tiveram que reaver seus remédios econômicos
convencionais.
rapidamente dos efeitos mais graves da depressão sobre a atividade econômica. Tais países
Segundo Gremaud (2014) e Giambiagi (2011), a década de 1930, assim como as décadas
subsequentes, compõem o período em que houve forte avanço do setor industrial no Brasil
uma industrialização fechada que responde a desequilíbrios externos e é realizada por etapas
ou fases.
metade da década de 1950, que surgiu a Zona Franca de Manaus (ZFM) como um dos vários
Tanto é que, segundo Mahar (1978), a “Operação Amazônia”, cuja pedra angular foi a Lei
nº. 5.173/1966, seria orientada para estabelecer “polos de desenvolvimento” e grupos de populações
Kubitschek, ela foi alterada após dez anos pelo Decreto-Lei nº 288/67 e regulamentada pelo
Decreto nº 61.244/67. A ZFM é disciplinada como uma área de livre comércio de importação
o desenvolvimento regional. Mas, para Benchimol (1977), o grande argumento para sua
produtos. O fato é que hoje a ZFM tem no Polo Industrial de Manaus (PIM) o principal vetor
que o Produto Interno Bruto (PIB) do Amazonas alcance a 6º posição no ranking nacional.
4
Redução de até 88% no II sobre insumos; corte de 75% no IRPJ; isenção de IPI, da contribuição para o PIS-
Pasep e da Cofins; restituição total ou parcial do ICMS; conceções na compra/aluguel de terreno local.
Mas nem tudo são flores. A extrema concentração produtiva em determinados setores de
demonstrado a fragilidade desse modelo frente as crises externas e internas recentes, como
No que se refere à crise de 2008, Chang (2013) explica que, embora o estímulo fiscal
e monetário de uma escala sem precedente tenha evitado que o desastre financeiro de 2008
continua a ser a segunda maior crise econômica da história, depois da Grande Depressão. Já
Krugman (2009) assevera que a crise de 2008 não se assemelha a nada que tenhamos visto
antes. Porém, para ele, ela se parece com qualquer outra que já presenciamos em diferentes
épocas, só que, agora, é como se todas estivessem acontencendo de uma vez, ao mesmo
tempo: estouro da bolha de imóveis; ondas de corridas bancárias; armadilha de liquidez nos
EUA; e, mais recentemente, ruptura dos fluxos de capital internacionais e sucessão de crises
2010, segundo Matos (2016), a economia brasileira experimentou uma fase de elevado
taxa média de crescimento do PIB alcançado 4,5% a.a; entrando em recessão no segundo
Estudos do BID e do FMI enfatizam fatores externos como os mais relevantes para a
enfrentadas pela economia mundial, está longe de ser óbvio que fatores externos sejam os
5
Ferreira (2003).
fatores determinantes para o mau desempenho da economia do país, pois esta desacelerou
mais expressivamente que a de outros países e esse processo se acentuou em 2015, conclui
Matos.
janeiro do corrente ano, a produção da indústria nacional decresceu 5,2%, no acumulado dos
últimos doze meses. Enquanto a indústria do PIM decresceu 8%, com especial atenção para
comportamento foi a diminuiçao da demanda por bens de consumo impulsionada pela queda
do rendimento médio real. Este gera efeitos negativos na indústria de transformação, pois
a importância dos produtos produzidos no PIM, o desempenho recente do polo duas rodas e
dessa análise consiste nos fluxos de produtos de cada setor industrial produtor para cada um
dos setores consumidores, sendo tal informação representada por uma tabela de relações
2009). Esses os fluxos intersetoriais são determinados por fatores tecnológicos e econômicos
X = AX + Y
onde X é um vetor (nx1) com o valor da produção total por setor; Y é um vetor (nx1) com
os valores da demanda final setorial e A é uma matriz (nxn) com os coeficientes técnicos
de produção. Nesse modelo, o vetor de demanda final é geralmente tratado como exógeno
X = BY
B = (I − A)−1
onde B é uma matriz (nxn) contendo a matriz inversa de Leontief. De acordo com Guilhoto
(2009) e Haddad (1976), cada elemento da matriz inversa de Leontief deve ser interpretado
como sendo a produção final total do setor que é necessária para produzir uma unidade de
Na primeira etapa, foi realizado um ajuste nas atividades da Tabela de Recursos e Usos do
dimensão inicial N110 x N56. Com o ajuste, a tabela passou a ter uma dimensão N110 x N49.
(MIP/AM-2006) (anexo I), com dimensão N49 x N49 (SUFRAMA, 2016b) para se poder
realizar a análise de impacto. Outro motivo do ajuste foi porque havia diversas atividades
Numa segunda etapa, foi elaborado uma matriz (m x n) de coeficiente fixos diretos
alguma variável que é gerada por unidade de produção da respectiva atividade (HADDAD,
1989; MILLER & BLAIR, 2009; GUILHOTO, 2009). Para essa pesquisa, os elementos
dessa matriz são os coeficientes de VBP (valor bruto da produção) e VA (valor adicionado),
que foram obtidos dividindo-se, para cada setor, o valor utilizado destas variáveis na
𝐕𝐢
𝐯𝐢 =
𝐗𝐢
6
Minério de ferro; produtos do fumo; artefatos couros e calçados; álcool; defensivos agrícolas; automóveis,
caminhonetas e utilitários; caminhões e ônibus.
Na terceira etapa, elaborou-se um vetor (m x 1) caracterizado nessa pesquisa como
um vetor de demanda final exógeno ao modelo. Esse vetor faz alusão a um cenário do
impacto do desempenho econômico do polo duas rodas, durante a crise nacional de 2015,
sobre a economia amazonense. Os dados foram de faturamento total do polo duas rodas,
numa série temporal de 2006 a 20167, fornecidos pela Coordenação de Estudos Econômicos
Todos os anos foram corrigidos pelo IPA-DI/FGV, para o ano base de 2006, com o fim de
se obter o faturamento real e a taxa de crescimento real desse setor ao longo do tempo.
Como parâmetro para construção desse vetor, utilizou-se o componente da demanda final
“exportações de bens eserviços para o resto do Brasil” (anexo III), por refletir o modelo ZFM
indústria de transformação nas exportações para o resto do Brasil. Por fim, diluiu-se o
diversas atividades.
Análise de impacto
X = (I − A)−1 𝑌
Amazonas, ano de referência 2006). A partir dela, mensurou-se o impacto que mudanças
ocorridas no desempenho econômico do Polo Duas Rodas durante a crise nacional de 2015
7
Para o ano de 2016, o faturamento era até o mês de outubro daquele ano.
8
A matriz de demanda final por atividade foi elaborada com o auxílio da TRU-AM/2006, multiplicando-se a
matriz marketshare (N49 x N110) pela matriz de demanda final (N110 X N7).
puderam causar na economia amazonense, especificamente no VBP e no VA da economia
coeficientes fixos diretos, o que resultou na matriz de impacto total da economia, e esse
resultado foi multiplicado pelo vetor de demanda final, no que se refere ao componente da
RESULTADOS E DISCUSSÃO
transformação participou com a aproximadamente 70% desse total, conforme (IBGE, 2017a)
(Gráfico 1).
indústria nacional. Alguns produtos produzidos no PIM estão entre os 100 (cem) maiores
entre os estados produtores, no ano de 2014, conforme o IBGE (2017b) (Quadro 1).
Produção e vendas dos principais produtos
industriais em termos de vendas - 2014
Produto
Posição no país entre os Posição do
100 maiores produtos PIM entre os
vendidos estados
Refrigerantes 11º 9º
Telefones celulares 15º 2º
Extração de petróleo e gás 26º 4º
Televisores 28º 1º
Concreto usinado 35º 7º
Preparações em xarope para elaboração de bebidas, para 39º 1º
fins industriais
do país. De acordo com o IBGE (2017c), a produção física industrial amazonense apresentou
um recuo de 8% em janeiro de 2017, indicador acumulado nos últimos doze meses, sendo
Variação
percentual
-5,2 -8,0 -10,4 -6,2 -45,6 -25,4
acumulada em 12
meses
Tabela 1: Produção Física Industrial do Brasil e do PIM
Fonte: IBGE – PIM/PF, janeiro/2017
Em relação ao polo duas rodas, pode-se infirir ainda que ele já vem demonstrando
sinais de desaquecimento ao longo tempo. A partir do faturamento desse setor ajustados pelo
IPA-DI/FGV, ano base 2006, o Gráfico 2 mostra que o setor teve um mal desempenho em
2009 frente à crise de 2008, retornando a cair em 2012 até a instauração da crise de 2015,
Gráfico 2: Taxa de crescimento real do faturamento do Polo Duas Rodas, ano base 2006.
Fonte: SUFRAMA.
Resultado da pesquisa: elaboração própria.
impactos diretos. Sua elaboração se deu a partir da razão entre o VBP e o VAB de cada
atividade econômica estadual pelo próprio valor da produção da respectiva atividade. Cada
elemento dessa matriz indica a quantidade de produção ou de valor adicionado por unidade
De posse dessa matriz de coeficiente de impacto direto partiu-se para uma segunda
impactos sobre diversas variáveis da economia. Esses coeficientes mostram os efeitos diretos
composição dos insumos requeridos por uma indústria particular para desenvolver sua
produção. Então, cada elemento dela é interpretado como sendo a produção total do setor i
que é necessária para produzir uma unidade de demanda final do setor j. E, assim
da indústria de transformação do PIM nos seus mais diversos setores dentro do sistema
transportes (polo duas rodas) necessária para produzir uma unidade de demanda final do
valor bruto da produção e ao valor adicionado. Cada elemento dessa nova matriz expressa o
impacto total direto e indireto no valor bruto da produção e no valor adicionado de cada
impacto propriamente dita. Essa análise de impacto partiu de uma retração ocorrida no
faturamento do polo duas rodas no ano de 2015, em virtude da crise econômica e política
porque as vendas para o resto do país diminuíram, especialmente porque a produção de motos
do Amazonas supre toda a demanda nacional. Logo, foram estimados os impactos dessa
valor adicionado bruto do Estado do Amazonas. Para isto, multiplicou-se a matriz impacto
total da economia pelo vetor exógeno de demanda final, resultante do vetor de composição
dos componentes da demanda final por atividade (que foi elaborado pelo componente da
demanda final exportações de bens e serviços para o resto do Brasil presente na TRU/AM-
2006). Assim, tem-se a estimação do impacto total e relativo sobre as variáveis VBP e VAB.
do Estado. Por ele, é possível diagnosticar que houve um decrescimento tanto no valor bruto
TRU/AM-2006.
5,01%, ao passo que o valor bruto da produção total encolheu 6,765%, em face da crise de
2015.
A queda observada pela análise de impacto no modelo insumo-produto, somente indica uma
realidade da indústria local - alta dependência do mercado nacional em face de uma industrialização
por substituição de importações. Tanto é que o Gráfico 3 mostra a composição da demanda final de
outros equipamentos de transportes (motos), para o ano de 2006. Por ele é possível perceber que 96%
renda nacional – seja em virtude de crises externas, como a de 2008, seja em virtude de crises
de motos, celulares e outros. O impacto da crise de 2015 sobre o PIM reduziu a demanda
por motos, especialmente porque a demanda por bens não essenciais no país obteve uma
queda em virtude da queda do rendimento médio real, aliado à restrição do crédito e a alta
do dólar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do PIM. Este setor é um dos responsáveis pela posição amazonense de 6° maior PIB do
representa o primeiro lugar nessa categoria, indicando que o Estado supre a demanda
porque a produção regional fluta em relação à renda do país. Tal impacto é imediato e
fortemente sentido na economia regional e pode ser explicado pela grande participação da
A medida que todo país sente as variações negativas da crise, o PIM sente muito mais, pois
encolhe.
uma redução significativa para um Estado que depende da indústria de transformação para
desenvolvimento.
Mundial do Comércio (OMC) tenha questionado o Brasil por causa dos incentivos fiscais da
ZFM, o órgão considerou relevante os incentivos para a Amazônia, considerando apenas ilegais
os incentivos dados a setores da indústria brasileira. E isto implica um bom caminho para o
enfrentamento da crise em face dos prováveis investimentos que podem ser capitaneados para a
região.
uma área territorial de 1.559 mil km2, o que corresponde a 18,45% da área total brasileira, 40,76%
da área da região Norte e 30,87% da área territorial da região Amazônica. Esta participação da
área territorial da Amazônia é importante, pois o Amazonas tem desmatado apenas 2,37% de sua
florestas nativas. Fatores que podem explicar esse desmatamento relativamente pequeno incluem-
se o isolamento do Amazonas e as distâncias que o separam do resto do País, pois as únicas vias
de penetração são a BR-174, ao norte do Estado, e BR-319, ao sul, bem como a calha dos rios
Amazonas e Madeira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHANG, Ha-Joon. 23 coisas que não nos contatram sobre o capitalismo. São Paulo:
Cultrix, 2013.
MIP/AM-2006
Fonte: MIP/AM-2006
ANEXO II
Matriz de coeficientes fixos diretos para o valor adicionado bruto do estado do Amazonas, ano de refereência 2006.
RESUMO
Pretende-se neste artigo abordar aspectos que circundam o entendimento acerca da primeira
Revolução Industrial na Inglaterra e seus desdobramentos de cunho econômico, político e social,
bem como a visão de economistas a respeito dos acontecimentos deste período. Nota-se que em
meados do século XVIII a Inglaterra vivenciou mudanças de caráter primordialmente
econômicos que viriam a afetar os mais diversos aspectos da história em um momento conhecido
como a Revolução Industrial. Neste período, inovações tecnológicas no âmbito industrial e
agrícola na Inglaterra. A inserção de máquinas no processo produtivo gera progressivos ganhos
de produtividade, tornando seu bem final altamente competitivo nos mais diversos mercados.
Entretanto, a inserção da política de cercamentos, bem como o surgimento do capitalismo
industrial influem diretamente no êxodo urbano, e consequente inchaço populacional nas
grandes cidades. A inserção da maquinofatura traz alternância com amplitudes tangíveis a
aspectos sociais, especificamente no escopo psicológico do trabalhador, que perde sua
autoridade, conhecimento e arbitrariedade dentro do processo produtivo, tornando-se
estritamente vinculado a um capitalista que o insere em uma linha de produção, deturpando seu
conhecimento e o vinculando a uma única e repetitiva tarefa em péssimas condições de trabalho,
sem direitos e a uma remuneração baixíssima. Portanto, entende-se que a Revolução Industrial
representa uma ruptura total com diversos pontos produtivos e econômicos, tornando-se
primordial para o estabelecimento do capitalismo industrial e para impactos profundos na relação
entre o trabalhador e o capital e, desta forma, de evidente importância no debate do capitalismo
industrial e história econômica geral.
ABSTRACT:
This article aims to address aspects that surround the understanding of the first Industrial
Revolution in England and its economic, political and social developments, as well as the
economists' view of the events of this period.It is noted that in the middle of the eighteenth
century England experienced primarily economic changes of character that would affect the
most diverse aspects of history at a time known as the Industrial Revolution. In this period,
technological innovations in the industrial and agricultural scope in England. The insertion of
machines in the productive process generates progressive gains of productivity, making it´s
final good highly competitive in the most diverse markets. However, the insertion of the
enclosure policy as well as the emergence of industrial capitalism directly influence the urban
exodus, and consequent population swelling in the big cities. The insertion of "maquinofatura"
brings alternation with amplitudes tangible to social aspects, specifically in the psychological
scope of the worker, who loses his authority, knowledge and arbitrariness within the productive
process, becoming strictly linked to a capitalist who inserts him into a production line,
Distorting his knowledge and linking him to a single and repetitive task in bad working
conditions, without rights and very low remuneration. Therefore, it is understood that the
Industrial Revolution represents a total rupture with diverse productive and economic points,
1
Bacharel em Ciências Econômica/ UFAM. E- mail: eduardo-cezar@hotmail.com
2
Doutora em Desenvolvimento Regional/ UNISC. Docente do Curso de Ciências Econômica – UFAM. E-mail:
michelearacaty@ufam.edu.br
being essential for the establishment of industrial capitalism and for deep impacts on the relation
between the worker and the capital and, therefore, of evident importance in the debate of
industrial capitalism and general economic history.
Keywords: Industrial Revolution. Innovation. sociocultural transformations
INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial caracteriza-se como um conjunto de mudanças de caráter
produtivo e econômico ocorridas na Europa, principalmente na Inglaterra, entre os séculos
XVIII e XIX, especificamente entre a década de 1760 a um período entre 1820 e 1840. O ponto
mais relevante dentre as diversas mudanças no período supracitado é a substituição do trabalho
de caráter artesanal por um trabalho assalariado e com o auxílio de máquinas e equipamentos.
A produção econômica europeia em um período anterior a Revolução Industrial está
veementemente vinculada ao setor agrário. o acúmulo de capital representava uma forma de
detenção do poder por parte da classe burguesa. Desta forma, com o intuito de acumular
riquezas por meio da produção nas indústrias, as consequentes inovações técnicas passam a
gerar uma grande demanda por trabalhadores que se deslocam em direção aos grandes centros
urbanos, onde passaria a se concentrar a produção nas grandes indústrias.
Desse modo, com a utilização de novas técnicas na produção como a divisão do trabalho
e novas tecnologias como máquinas movidas a vapor, os ganhos de produtividade e a
capacidade produtiva da Inglaterra cresceram exponencialmente em um curto período de tempo.
METODOLOGIA
Quando aos aspectos metodológicos, considerados como um instrumento necessário ao
pesquisador uma vez que compreende a análise da pesquisa e a busca do conhecimento. Para
tanto, esta pesquisa foi de caráter bibliográfico e documental com características descritivas e
exploratórias.
Em relação aos procedimentos utilizamos o método histórico, o qual reconstrói o
passado, sistematicamente, verificando evidências e delineando conclusões. Exibindo os
acontecimentos históricos, políticos e econômicos provenientes da Revolução Industrial inglesa
no século XVIII. Para tanto, utilizou-se de autores clássicos e contemporâneos que analisaram
a Revolução Industrial sobre o olhar social, econômico e político.
1.1. Contextualização Histórica
Segundo HOBSBAWM, (1977) no período anterior ao surgimento do capitalismo
industrial - por volta do ano de 1740 - o mundo era maioritariamente rural. Os portos
representavam o maior meio de escoação de pessoas e produtos para outras regiões do mundo,
que possuía vastos territórios desconhecidos e poucas possibilidades de deslocamentos.
Portanto, dentre as mudanças ocasionadas pela Revolução Industrial; a principal delas se
caracteriza pela alteração drástica das relações entre o homem e o trabalho.
Para SAES, SAES, (2013, p. 147), a Revolução Industrial transforma o homem, que
anteriormente era um agricultor, com o auxílio de energias humana e animal, que tinha parcela
total de seu subsídio advindo do campo, para um homem manipulador de máquinas movidas
por energia inanimada, localizado em grandes centros urbanos e em condições de vida
totalmente diferentes.
Na concepção de Dobb, (1987, p. 148), as cidades possuíam modos de produção
predominantemente artesanais ou manufatureiros, com destinação de venda em mercados locais
ou coloniais. No âmbito artesanal, na maioria dos casos, todas as etapas do processo de
produção eram realizadas por uma única pessoa. Desta forma, o artesão era conhecedor de todas
as etapas da confecção do produto, além de ser o detentor das ferramentas para a produção e ter
acesso ás matérias primas necessárias.
Na manufatura, um grupo de trabalhadores é reunido dentro de um espaço comum,
geralmente uma oficina. Sabe-se que apesar do processo produtivo ser estritamente manual,
cada um dos artesãos ficaria responsável por uma específica etapa dentro do processo produtivo,
caracterizando a divisão técnica do trabalho.
Naquele novo cenário, caracterizado pela produção industrial, novas técnicas produtivas
eram inseridas em alguns ramos da manufatura, notadamente em período inicial no setor têxtil.
Nota-se que duas mudanças foram primordiais neste momento: a introdução das máquinas e a
inserção da energia inanimada, por meio da energia hidráulica e a vapor, em detrimento da
energia humana e animal anteriormente utilizadas em primazia. Conceitualmente, trata-se do
surgimento da grande indústria como local para a nova forma de produção capitalista. Neste
contexto, a máquina passa a representar a posição central, por isso entende-se amplitude do
impacto da inovação tecnológica neste período. (SAES; SAES, 2013, p. 151-154).
No escopo das inovações tecnológicas durante a Revolução Industrial caracterizam-se
principalmente a inserção de máquinas no processo produtivo tanto no âmbito industrial, com
maior relevância produtiva, como no viés agrícola. Dentre as diversas inserções tecnológicas
na industrial surge a Spinning-Jenny, responsável pela tecelagem de fios em maior quantidade
e metragem, assim como a Water Frame, responsável por auxiliar o processo de produção de
tecidos, e por ser movida a energia hidráulica diminuía consideravelmente seus custos de
produção.
Figura 1: Spinning-jenny Figura 2: Water frame
Por meio do Tratado de União de 1707, que foi responsável pelo estabelecimento da
Grã-Bretanha, incorporando o Reino da Inglaterra e Escócia, a Inglaterra passa a ter uma maior
estabilidade política dentro deste período. Ainda neste momento, o governo inglês passa a
estreitar suas relações com suas colônias na América do Norte, garantindo assim, uma maior
obtenção de matérias primas advindas desta região, bem como aumento da exportação de
mercadorias manufaturadas, obedecendo ao princípio de comprar barato e vender caro.
(COLLYER, 2015).
Neste mesmo momento, guerras contra a França possibilitam a expansão da economia
inglesa em territórios franceses, gerando maior domínio do comércio inglês no cenário
europeu, além da expansão do mercado marítimo na Índia e Canadá no decorrer do
século XVII. (COLLYER, 2015).
Aspectos Sociais
A partir do século XVIII, com o advento das indústrias, desenvolvimento e inserção de
máquinas no processo produtivo, além da substituição da energia animal por energia inanimada,
as novas técnicas de divisão do trabalho, além da excessiva busca por altos índices de
produtividade e lucro por parte do capitalista se perfazem como as principais mudanças no
âmbito produtivo deste período. Com isso, o capitalista passa a exercer um papel cada vez mais
impositivo dentro do processo de produção industrial. (SAES, SAES, 2013, p. 148-149).
A Revolução Industrial está estritamente relacionada à desestruturação do antigo estilo
de vida tradicional dos trabalhadores ingleses. Naquele momento, o operário detinha apenas
seu salário como meio de subsistência, sendo este seu único vínculo com seu patrão;
diferentemente do trabalhador pré-industrial, que geralmente tinha algum acesso a meios de
produção, o que lhe garantia alguma renda adicional; a relação antes mantida com seu superior,
apesar da subordinação imposta a ele, era ainda assim mais complexa e próxima do que neste
momento. (SAES, SAES, 2013, p. 148-149).
Nesse contexto, existia uma rígida disciplina imposta ao trabalhador, a imposição de um
trabalho repetitivo, monótono, retirando qualquer autonomia do trabalhador, e que, além disso,
não agregava conhecimento técnico algum devido à técnica de divisão do trabalho também
imposta pelo capitalista. (SAES, SAES, 2013, p. 200-201).
O fato de estas grandes fábricas se situarem em grandes cidades também ocasionavam
uma abrupta mudança no modo de vida do trabalhador, por razões como as precárias condições
de habitação e a decomposição de laços. (SAES, SAES, 2013, p. 198-199).
Aspectos Econômicos
Para Hobsbawm, (1977, p. 47). Com a concentração de uma maior possibilidade de
acumulação de capital centrada nos grandes centros urbanos, onde as indústrias se localizavam
em sua maior parte, assim como mudanças em questões de divisão de terras, como a lei dos
cercamentos3, diretamente responsável pela retirada de terras antes utilizadas pela população
agrícola, e que, a partir desta nova determinação, passaria a pertencer ao governo inglês, a
população residente em áreas rurais estava, em sua maioria, sem possibilidade de exploração
de terra, e assim, sem nenhuma fonte de renda.
Devido a estes fatores, bem como progressivo aumento da demanda por trabalhadores
por parte das industrias, grande parte da população rural deslocava-se para as grandes
cidades inglesas, em busca de trabalho no setor secundário e melhores condições de
vida. (HOBSBAWM, 1977, p. 52).
3
Fenômeno de divisão de terras no setor agrário inglês iniciado no século XVII.
aumentar o contingente de trabalhadores, a remuneração média dos trabalhadores diminuía,
tendo em vista que, com a elevada quantidade de trabalhadores, o capitalista dizia não ter
possibilidade de melhoras na remuneração.
Desta forma, a economia inglesa se desenvolvia exponencialmente, tendo em vista que,
com a possibilidade da transformação da matéria prima em produto final por meio da utilização
de suas desenvolvidas industrias, a economia inglesa era capaz de adquirir matérias primas, por
meio de um processo de importação destes insumos com valor irrisório, transformação destes
bens em produto pronto para comercialização, e pôr fim a venda destes bens com um valor final
de mercado alto, adotando a iniciativa de comprar barato e vender caro.
4
Expressão símbolo do capitalismo, cujo significado determina que a economia deve funcionar livremente, ou
seja, sem interferências estatais.
5
Expressão cuja ideia consiste que cada pessoa deve agir de acordo com seu próprio interesse, de forma a
maximizar a economia e seu bem-estar.
ou grupo teria interesse em criar e manter”, por exemplo: as estradas, porém os custos deveriam
recair, por meio de uma cobrança de tarifas ou pedágios, somente aos beneficiários desta obra.
Consequentemente, qualquer outra obra governamental, na opinião de Smith, seria mais
prejudicial do que benéfica. (FUSFELD, 2003, p. 42).
Segundo o sistema da liberdade natural, ao soberano cabem apenas três deveres; três
deveres, por certo, de grande relevância, mas simples e inteligíveis ao entendimento
comum: primeiro, o dever de proteger a sociedade contra a violência e a invasão de
outros países independentes; segundo, o dever de proteger, na medida do possível,
cada membro da sociedade contra a injustiça e a opressão de qualquer membro da
mesma, ou seja, o dever de implantar uma administração judicial exata; e terceiro, o
dever de criar e manter certas obras e instituições públicas que jamais algum indivíduo
ou um pequeno contingente de indivíduos poderão ter interesse em criar e manter, já
que o lucro jamais poderia compensar o gasto de um indivíduo ou de um pequeno
contingente de indivíduos, embora muitas vezes ele possa até compensar em maior
grau o gasto de uma grande sociedade (SMITH, 1996, p. 170).
6
Termo criado por Karl Marx que consiste na diferença entre o valor final de uma mercadoria e a soma dos valores
de todos os meios de produção e remuneração do trabalhador nela empregados. Esta diferença representaria a base
de lucro do sistema capitalista.
determinada região. Em sua primeira obra, Teoria do Desenvolvimento Econômico, 1912, o
autor analisa a função do empreendedor como um ser inovador e de fundamental importância
no progresso e na criação do avanço econômico, devido a sua inerente função indutiva.
(FUSFELD, 2003, p. 223).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Revolução Industrial na Inglaterra caracterizou uma mudança jamais vista em
diversas áreas, abrangendo também a ciência econômica, pois representou a ruptura com um
modo de produção artesanal e de baixa escala para a inserção do capitalismo industrial, que
preconiza o elevado contingente de trabalhadores em uma fábrica produzindo bens em larga
escala em com tecnologias e técnicas produtivas a fim de otimizar a produtividade. Esta
revolução de máquinas afetou direta e indiretamente a política, mas principalmente e economia
e a sociedade inglesa em um primeiro momento, e em última instância todo o mundo.
No âmbito político, a Revolução Industrial inglesa representou principalmente uma
maior estabilidade política para o país. Além deste fato, outros aspectos secundários trouxeram
relevância direta para a consolidação econômica inglesa, como o Ato de Navegação que
representou o domínio inglês das rotas de escoamento marítimo de produtos, assim como o
Tratado de União que anexou a Escócia ao reino da Grã-Bretanha, trazendo maior estabilidade
política e estreitando relações com suas colônias, possibilitando assim o alcance de outros
mercados externos para exportar e extrair mão de obra e matéria prima.
Ao se estabelecer a produção em larga escala somada às técnicas de divisão do trabalho,
incorpora-se o capitalismo industrial, rompendo com o antigo modo de produção manufatureiro
em que a todo o processo produtivo era executado por um único artesão em sua oficina,
tornando-o assim o conhecedor de todo o processo produtivo e o desvinculando de qualquer
subordinação. No capitalismo industrial, ao ser inserido em uma escala produtiva, o operário
era afastado do bem produzido, dos meios de produção, matéria-prima e ainda passava a não
obter o conhecimento do processo técnico de fabricação, vinculando-o a uma única e repetitiva
tarefa de alimentar as máquinas, fator causador diversas revoltas no escopo trabalhista.
Em termos econômicos, as inovações tecnológicas proporcionaram expressivos ganhos
em produtividade, além de melhorias na qualidade de seus bens e menores custos produtivos,
fatores culminantes para tornar o tecido inglês altamente competitivo no mercado externo. Com
o domínio das rotas de escoamento marítimas, a Inglaterra detinha todos os fatores necessários
para se estabelecer como potência econômica mundial, como o fez. Os avanços tecnológicos
na produção de tecido, como a lançadeiras capazes de aumentar a largura dos tecidos, as
inovações no campo, como as máquinas de debulhar que colhiam em grande escala a lã, e até
mesmo tecnologias inseridas no transporte como as ferrovias caracterizaram estas inovações.
O estudo sobre a Revolução Industrial nos induz a entender o pensamento econômico
naquele período, assim como a concepção de desenvolvimento ou de técnicas para alcançá-lo
nos dias atuais e o entendimento de que forma tais formas se assemelham as utilizadas naquele
período. Os economistas clássicos e contemporâneos, ainda que pertencentes a escolas
econômicas distintas, são extremamente necessários para o entendimento dos acontecimentos
de caráter econômico na Inglaterra durante este período de elevado desenvolvimento
econômico por meio da inserção de inovações técnico-produtivas e tecnológicas.
Adam Smith é um economista clássico que possui grande contribuição para o
pensamento econômico, além disso é possível observar alguns ideais deste autor sendo
aplicados ou dissociados durante este período. Smith preconizava que uma produção
organizada de modo a cada trabalhador se tornar responsável por uma fatia do processo
produtivo elevava em grandes proporções a produtividade daquela empresa em sua denominada
técnica de divisão do trabalho. Smith ainda possui relevância ao preconizar que para o
desenvolvimento de uma economia, cada pessoa deveria seguir o seu próprio interesse, de
forma que a aquecer o mercado e estimular a produção, findando no desenvolvimento
econômico.
Karl Marx avaliava a Revolução Industrial sob a ótica social, analisando principalmente
as condições trabalhistas daquele período. Marx criticava a busca pelo lucro da forma como era
feita, ao deturpar o conhecimento do trabalhador, vinculá-lo a uma máquina ou um processo
produtivo repetitivo, além de erradicar sua possibilidade de ascensão social. A mais-valia
absoluta e relativa é utilizada como argumento de Marx para evidenciar a exploração do
operário, onde a mais-valia absoluta representava o aumento da carga horária gerando aumento
no nível de produção, e a mais-valia relativa preconizava as inovações técnicas que gerava uma
produção em menor tempo, tornando o trabalho do operário cada vez mais desvalorizado.
Joseph Schumpeter também contribui para o pensamento econômico, assim como para
o entendimento dos fatos ocorridos durante a Revolução Industrial com sua teoria de
desenvolvimento econômico. Para Schumpeter, o desenvolvimento econômico poderia ser
alcançado de forma mais eficaz por meio das inovações tecnológicas, que garantiriam um
aumento na produção e tornariam o bem em questão fortemente competitivo no mercado
externo. Portanto, nota-se a semelhança dos pensamentos de Schumpeter com o ocorrido na
Inglaterra no período supracitado, onde o setor têxtil inglês, por meio de suas inovações, gerou
um produto altamente demandado no mercado internacional, alavancando a economia inglesa.
Walt Whitman Rostow também possui sua parcela de contribuição para o pensamento
econômico contemporâneo, assim como possui pensamentos que se relacionam com os
ocorridos durante a Revolução Industrial inglesa. Rostow preconiza que o desenvolvimento
econômico pode ser alcançado por países em desenvolvimento com a utilização de alguns
passos. As etapas do processo de Rostow caracterizam-se por um de incentivo a indústria
interna de um país, e por meio de um processo denominado “alavancagem” atinge-se o
desenvolvimento econômico ao estimular a inovação tecnológica e a produção interna com o
intuito de criar uma indústria doméstica forte e um produto competitivo.
Portanto, as formas de se observar os acontecimentos histórico-econômicos na
amplitude da Revolução Industrial são os mais diversos. Desta forma, torna-se necessário
entendimento acerca dos desdobramentos de cunho político, econômico e social, assim como
entender a influência do pensamento econômico para este acontecimento, bem como a
influência das inovações tecnológicas nos aspectos microeconômicos na Inglaterra durante o
período da Revolução Industrial. Desse modo, é possível compreender a importância deste
momento histórico para a inserção e estabelecimento do modo de produção capitalista até o
presente momento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLLYER, Francisco Renato Silva. Revolução Industrial: aspectos políticos e sociais da maior
revolução da idade moderna. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n.4242, 11 de fev. 2015.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/31268>. Acesso em: 17 out. 2016.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções 1789-1848. 16° Edição. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1977.
SAES, Flávio Azevedo Marques de; SAES, Alexandre Macchione– História Econômica Geral.
1° Edição – São Paulo: Saraiva, 2013.
SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
EIXO 5
A economia e a questão
ambiental
A DELONGA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
SUSTENTÁVEL
Alex Eugênio Altrão de Morais1
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
Resumo: O objetivo desta pesquisa é denotar a que passo anda o desenvolvimento sustentável
brasileiro com parecer no bem-estar das futuras gerações. Ano após ano, a questão sustentável
passou a se enquadrar nas pautas mundiais dos governos, cabendo cada qual sua devida atuação
de prevenção. Desta forma, esse notório conceito vem sendo discutido a ponto de garantir que
as nações entendam que o desordenado crescimento pode gerar consequências danosas ao meio
em que vivem bem como, explorar a irreversibilidade possível na persistência do
antropocentrismo. Logo, através da presente análise bibliográfica, compreende-se a preocupação
com o futuro incerto resultante do exacerbado descontrole da expansão urbana e ilimitadas
necessidades humanas. Portanto, foram elencados os tratados globais de preservação, assim
como os processos e interesses particulares a respeito da economia brasileira. Notando-se
certamente a influência global da nação perante as questões de sustentabilidade econômica.
Abstract: The goal of this research is to show how is going the Brazilian Sustainable
Development taking into account the future generation’s welfare. Year by year the sustainable
debate surrounds government’s global guidelines and belongs to each one their own prevention
acting. Thus, this concept is being discussed to ensure nations understand that the increase
disorder can cause harmful consequences in their lives as well as explore possible
irreversibility in persistence of anthropocentrism. Therefore, through this present
bibliography analysis perceive the worry about uncertain future resulting from
uncontrolled high of urban expansion and unlimited human necessities. So, were listed
the global preservation treaties even as the process and particular interests about
Brazilian economy noticing nation global influence towards sustainable economic
issues.
1
Graduado em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário Municipal de Franca (2013-2016).
Atualmente mestrando do Programa de Pós Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal
de Ouro Preto – (PPEA-UFOP), alex.altrao50@gmail.com.
Introdução
A ideia de que o ser humano é o senhor da natureza, e para com ela tudo
do mundo, sendo que o fator de desenvolvimento sustentável, com o passar dos anos,
fenômeno foi e está sendo observada nos dias de hoje; analisada de todas as formas
ambiente, o que se refletiria certamente nos poderes políticos. Desta forma, a economia
brasileira não se distancia de tornar-se forte exemplo para as demais neste aspecto de
ainda longe de ser uma economia socialmente responsável com o meio ambiente.
sustentabilidade ambiental com um olhar para o bem-estar das gerações futuras, bem
internacionalmente, pois a análise da Organização das Nações Unidas prevê que a união
décadas nas culturas humanas. Este conceito tão longe de ser definido com clareza era
teve origem com Lester Brown por volta da década de 1980 no WWI - “Worldwatch
fazer parte de todo os conceitos sustentáveis no mundo, capaz de incentivar a busca pelo
complexo o qual tende a explicar a integração dos agentes econômicos, tais como:
família, empresa, governo, mundo, com seus princípios de análise dos pensamentos
seguimentos. Para os economistas de fato, o meio ambiente integra qualquer que seja a
situação econômica, por outro lado, os segundos denotam que a economia representa
torna-se importante no início do século XXI, o qual é capaz de compreender uma visão
economia.
Assim, a união dos estudos econômicos com os ecológicos passou a
integrar uma área multidisciplinar da economia para garantir o fim do conflito entre
Segundo Penteado (2010), a eco economia parte de uma revisão total dos
valores vigentes nacionalistas, não apenas econômicos, mas humanos. Denotando assim
que o ser humano faz parte de um grupo de espécie mortal e que estes precisam
entender o mais rápido possível que dependem de uma série de elos com a natureza,
alto dos discursos sociais das economias em geral. O que, por volta do século XVIII e
XIX não era o assunto primordial nos encontros dos grandes chefes, a partir do XX
A natureza se converteu num problema ético; tão degradada está por ações
humanas que nossa relação com ela transformou-se em questão decisiva, que
2008, p. 22).
vilão para a vida futura, e a única garantia que este episódio pode propiciar à vida não
organização aponta índices e dados apurados durante certo período de tempo que
a crescer desenfreadamente.
pode levar todas as gerações futuras a pagarem por consequências graves com a
natureza.
encontro da história dos líderes mundiais para discutir questões ambientais. Até esta
princípio, este primeiro encontro deu base à conscientização dos danos causados pela
intensa exploração humana em todas as áreas da nação. Uma significativa
recomendação ao mundo seria que, até então, muitas pessoas tratam os recursos naturais
como inesgotáveis, ou seja, são precipitadas em pensar que a maioria desses recursos
foi o primeiro documento oficial internacional emitido em conjunto por todos os países
Desenvolvimento; sendo o segundo encontro oficial das nações para discussão do tema.
finalidade de propor metas e mudanças para a nova fase de preservação e cuidados com
Brundtland, que em 1987 concretizou o relatório mencionado para trazer o conceito real
necessidade de inovar a relação ser humano e meio ambiente. Ao mesmo tempo não
faça consciente.
sustentável, o qual segundo alguns autores deve-se atentar a dois pontos importantes:
junto a todas as economias mundiais foi o ponto chave para estabelecimento de normas
nações.
O relatório Nosso Futuro Comum elencou certas medidas que devem ser
prazo;
cidades menores;
futuras.
Em âmbito internacional, as metas propostas pelo relatório Nosso Futuro
Comum são:
financiamento);
estabelece que, apesar de haver um cuidado com as ações próprias, deve também
produção de alimentos.
É importante ressaltar que medidas temporárias não estabelecem uma
2.1.3 Rio 92
Rio de Janeiro, em 1992, com a presença de cerca de 180 chefes de estado e governo
das nações do planeta. Conhecida como Cúpula da Terra, a reunião pode ser
[...] (MILHORANCE,2012).
considerado o problema da sustentabilidade como crônico. Foi neste ano que o mundo
últimos anos do século XX e pelo século XXI adentro. [...], segundo suas
(BARBIERI,1997, p.13).
extenso com mais de 800 laudas comportando uma divisão de quatro seções. Na
terceira seção apresenta grupos sociais que são de essencial importância para o
desenvolvimento e na quarta e última seção são levantados meios para a realização dos
Este novo encontro foi necessário para garantir que as metas tratadas em 1992 estariam
caminho fiel de qualquer desenvolvimento. Nos dias de hoje pode parecer que sim, mas
no decorrer dos séculos as gerações que habitarão a Terra irão sofrer as consequências
desenvolvimento sustentável.
1972, Relatório Brundtland – 1987, Rio 92 – 1992 e Rio +20 – 2012) sejam realmente
cumpridos, e/ou que países que, até o presente momento não integraram nenhuma
Nações Unidas Sobre Mudança do Clima conhecida como COP 21 - 21ª sessão anual da
Conferência das Partes, o que de fato denotou o mais importante documento de todos os
ideias das nações do mundo, posto que esse processo de prevenção do meio ambiente
Vale ainda destacar que, embora seja um acordo coletivo, cabe a cada
preservação do meio em que estão dispostas. Não é interessante para esse acordo que
uma nação dependa exclusivamente de outra para agir, mais sim que os ideais partam
2
Acordo de Paris (2015) – Disponível em: <https://nacoesunidas.org/acordodeparis/>. Acesso em: 17 jun.
2017.
o ponto essencial para todas as economias desenvolvidas ou em desenvolvimento do
mundo.
impor em suas leis a toda a sociedade, para que juntos (população e governo),
(plástico, papel, papelão, metais, vidros) ajuda a não poluir o meio ambiente e a
providência das coletas seletivas por parte do governo gera renda para empresas e
trabalhadores;
Já para as residências, o reuso das águas para lavar o quintal ou outras atitudes
(gerada pelo Sol), eólica (gerada pela força do vento) é bons exemplos;
apropriados para que empresas especializadas possam dar um destino correto a este
material;
fauna e flora da região, podendo utilizar o replantio de árvores para facilitar a extração e
maioria das pessoal ainda não está disponível e preparada para esse tipo de
expressa há anos na revolução industrial a qual, sem dúvidas, as economias não tiveram
garantir um desenvolvimento econômico sustentável. Esta atitude deu início a uma nova
abordagem do governo, o qual propôs, a partir das metas desenvolvidas nas reuniões
segundo com a área verde mais extensa. Também, o primeiro com o maior volume de
3
Dados fornecidos pela Agência Central de Inteligência – CIA. Disponível em: <
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2147rank.html>. Acesso em: 17
jun. 2017.
água doce do planeta; sem contar que sua economia encontrou-se em nona4 colocação
FMI.
setor este que desde sempre foi o fator de receitas do país, e que se tornou o principal
setor financeiro da economia devido sua grande extensão em terras promissoras para
estes seguimentos.
outras usadas ao redor do globo, o país pode transformar-se em ótimo candidato para
renováveis. Estas atitudes, mesmo que ainda em pequena escala e pouco divulgada ao
mundo, garante uma satisfação pelas pessoas que se atentam às questões ecológicas.
Segundo Mello & Toni (2013), vale ainda notar o arcabouço legal e
empresarial.
a estes recursos e, em especial, as afrontas que a visão de curto prazo poderá acarretar
4
Dados fornecidos pelo Fundo Monetário Internacional – FMI. Disponível em: <
http://www.imf.org/external/datamapper/NGDP_RPCH@WEO/OEMDC/ADVEC/WEOWORLD/BRA>.
Acessado em: 17 jun. 2017.
O que realmente inclui uma premissa sustentável no modelo de
desenvolvimentista da humanidade.
Considerações Finais
sustentável para a economia emergente brasileira que visa uma cautela com gerações
futuras, passou a ser tópico no governo após inúmeras reuniões mundiais sobre o tema.
Apesar do grande passo dado pelo país nos últimos anos na questão que
sendo montadas a cada dia que se passa e a conscientização pela preservação levada a
conhecimento de todos.
estas atitudes levassem a economia brasileira a um ponto mais alto do globo e seria
desenvolvimento respeitoso.
voltada para a conscientização dos alunos e de seus pais, propondo pequenas atitudes
pessoais, pois estatisticamente se cada indivíduo fizer sua parte, mesmo que sozinho,
Brasil está aos pés de muitas outras economias; possivelmente com o propósito de
sustentabilidade, mas não podemos descartar o fato de que muitas ações já foram
tomadas até hoje. Espera-se que, nos próximos anos, os governos que adentrarem ao
poder, deixem seu legado ao meio ambiente, afinal, o que fazemos hoje com a natureza,
Referências
PENTEADO, Hugo. Ecoeconomia: uma nova abordagem. 2. ed. São Paulo: Lazuli
Editora, 2008. 238 p.
ANÁLISE CRÍTICA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO EM RELAÇÃO AOS IMPACTOS
AMBIENTAIS
RESUMO
Desde o surgimento das primeiras cidades (6.000 anos atrás), as sociedades têm
consumido num ritmo voraz os recursos e a energia da natureza. É verdade que nos albores
da civilização os povos eram prisioneiros do consumo. Porém, pós-Revolução Industrial
(séculos 18 e 19) tornaram-se escravos da ação de consumir. Dado o avanço tecnológico e
o amplo domínio das técnicas modernas, esses movimentos, vistos de forma macro,
desembocaram facilmente numa problemática ambiental ora em curso avançado, posto que
à medida que as economias globais se expandem fisicamente, atingindo, pois, elevados
níveis de crescimento econômico, inexoravelmente surgem problemas relacionados à
degradação ecológica, notadamente o esgotamento de recursos naturais e energéticos,
indispensáveis ao bom funcionamento da atividade econômica e humana.
Fora isso, a humanidade – cada vez mais sequiosa de consumir – o que implica em
aumentar a produção econômica material, tem desenvolvido o hábito de não mais se
identificar como parte substancial da natureza. Percebe-se assim, com relativa facilidade,
que os imprescindíveis serviços ecossistêmicos – base e suporte da economia – bem como
o conjunto da biodiversidade não tem sido levado em consideração no cabedal teórico
proposto pelos ensinamentos neoclássicos; quando muito são vistos como externalidades.
Talvez isso explique, en passant, a considerável dificuldade por parte dos economistas
convencionais em aceitar de bom grado o fato de o sistema econômico ser, na verdade, um
subsistema da biosfera, e mais ainda, de a natureza ser a limitante do crescimento
econômico.
(*) Economista e ativista ambiental. Mestre em Integração da América Latina (USP). Especialista em Política
Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP)
prof.marcuseduardo@bol.com.br
INTRODUÇÃO
“Alguma coisa não funciona bem na Terra, e o que não funciona é o homo sapiens”.
(Pascal Picq, paleoantropólogo do Collège de France)
(*). Para entendimento, convém especificar quais são as fronteiras em que a ação humana tem se irrompido.
De acordo com o estudo intitulado Planetary Boundaries, coordenado por Johan Rockstrom, Diretor
Executivo do Stockholm Resilience Centre (localizado na Suécia), são nove as fronteiras ecológicas que
estão no centro das atenções, tipificadas como “espaço operacional seguro para a humanidade”, a saber:
mudanças climáticas, camada de ozônio, uso do solo, uso de água doce, diversidade biológica, acidificação
dos oceanos, ciclo do nitrogênio e do fósforo, materiais particulados (aerossóis) e poluição química. Três
dessas fronteiras - mudanças climáticas, diversidade biológica e ciclo do nitrogênio e do fósforo - segundo as
evidências até aqui disponíveis, já apresentam sinais de terem sido ultrapassadas, agravando mais ainda o já
aquecido planeta Terra. Se estavámos acostumados apenas – e somente - a esbarrar nas fronteiras ecológicas
planetárias, essas três em destaque já foram acintosamente ultrapassadas.
1. A mania do crescimento econômico compulsivo num mundo ecologicamente
limitado
Olhando com acurada atenção para a economia global é razoável supor que o
sistema econômico com o qual temos convivido nos últimos tempos – especialmente no
último século - nos habituou a pensar a vida econômica e suas relações comerciais
pendendo quase que exclusivamente para o lado dos fatores (produção e consumo) que
delimitam o fortalecimento do modus operandi que mantém “vivo” um dos principais
dogmas da economia - senão, o principal - o crescimento econômico.
Na relação com os fundamentos ecológicos, o inextricável problema da economia
de crescimento expansivo – espécie de paradigma máximo de prosperidade que o mundo
ocidental adotou com certa facilidade – não mede as consequências sobre a natureza,
especialmente a devastação ambiental; tampouco se preocupa com a distribuição equânime
do produto.
A preocupação mais relevante, do lado da gestão econômica, está localizada
unicamente no ato de atingir elevadas taxas de crescimento com o propósito quase que
milagroso de curar todos os males sociais. Para tanto, todos os esforços têm sido
comumentemente direcionados para o alcance da expansão da atividade industrial,
alavancando assim a economia pela produção material com o intuito de consolidar
posteriormente uma sociedade de consumo.
Para o convencionalismo econômico, o que vale e o que conta é tão somente
aumentar de forma alucinada o ritmo com que o crescimento tem conseguido transformar
os recursos da natureza em mercadorias, transformando por consequência a natureza em
preços, em fonte de lucro. Assim, paulatinamente a economia do crescimento tem se
convertido, grosso modo, num sistema que impõe considerável peso sobre o Sistema Terra,
esbarrando sobremaneira sobre o Sistema Vida.
É importante esclarecer que todo esse trâmite transcorre sem ao menos que o
establishment considere a constante dilapidação do sistema ecológico; razão maior que
converte o crescimento econômico propriamente dito numa inequívoca situação de
economia destrutiva. Dessa constatação, este ensaio começa por lembrar que talvez o
desafio maior que espera a humanidade no decorrer dos próximos dias – face a gravidade
com que a situação de crise ambiental assim se apresenta - é justamente o de promover a
imediata recuperação ecológica do planeta Terra, devastado e espoliado em consideráveis
partes pela expansão desrregrada da atividade econômica global que segue,
pormenorizadamente, o curso da cultura consumista vigente nas sociedades
industrializadas.
Colocando essa questão num terreno mais sólido, é oportuno afirmar que a
economia global tem sido organizada em todo seu conjunto com a intenção de estimular
com frequência a busca do crescimento econômico de forma exponencial, sempre à custa
de devastar os recursos finitos e não renováveis da natureza. Por isso essa propalada
cultura consumista, importa reforçar tal premissa, encontra-se balizada numa ação
econômica que, de igual modo, deprime os recursos da natureza, consolidando a obsessão
em torno do crescimento econômico compulsivo, apontado – vale reiterar - como o
caminho mais fácil para se alcançar bem-estar e progresso sociais e humanos.
Decorre daí uma série de efeitos nocivos que afetam sobremaneira o equilíbrio do
meio ambiente, colocando no limiar da insegurança a sobrevivência da própria
humanidade. No geral, questões em torno da crise ambiental, especificamente relacionadas
ao desajuste climático e a depleção dos principais serviços ecossistêmicos, estão
intimamente vinculadas às ações econômicas e humanas, posto que todas as atividades
humanas têm um substrato físico e energético, portanto, um viés ecológico, ainda que o
pensamento econômico tradicional refute acintosamente essa assertiva.
A noção dominante na economia global permite, outrossim, que se perpetue um
sistema econômico de crescimento contínuo diante de um sistema ecológico finito,
estimulando assim o principal dogma da ciência econômica a pretensamente ofertar a todos
uma vida boa, a partir da possibilidade de acúmulo material. Essa intenção em si – vida
boa para todos a partir de mais crescimento econômico - é benevolente, no entanto, não é
factível por três cruciais motivos que exercem inegável pressão sobre o sistema ecológico:
1) a Terra é finita e não irá crescer em termos físicos; 2) muito dos recursos naturais e dos
serviços ecossistêmicos que sustentam e provisionam a atividade econômica global não se
renovam, e; 3) no momento, há um excesso populacional com mais de 7,2 bilhões de
pessoas (dados de 2017) que, mesmo consumindo bens e serviços de forma não equânime,
pressionam o meio ambiente, esgotando o capital natural.
Todavia, é certo que, enquanto a ciência econômica continuar a seu modo
ignorando que, sem a natureza não há economia, e, não obstante, estabelecendo a produção
econômica como paradigma mor de prosperidade e sucesso humanos, a humanidade estará
fadada a conviver cada vez mais com um meio ambiente degradado. Desnecessário afirmar
que isso compromete a própria manutenção do Sistema Vida.
2. Sem a natureza não há economia
O arcabouço neoclássico parece não se dar conta de que sem a natureza e seus
principais serviços nada pode ser produzido economicamente; daí a noção corrente
encontrada nos ensinamentos da economia ecológica, a saber: sem a natureza não há
economia.
Colocado em outros termos, a escola neoclássica, em linhas gerais, ignora que a
economia funciona por dentro da biosfera, desprezando assim a importância dos
fundamentos ecológicos como determinantes (e limitantes) da produção econômica.
Grosso modo, a natureza, o meio ambiente, os ecossistemas, a ecologia, a ecosfera e a
biodiversidade, por exemplo, continuam sendo temas tratados com considerável descaso
pelo establishment da economia moderna, e quando muito são vistos como externalidades.
A par da anuência dessa posição por parte da economia convencional, não se pode
perder de vista, à luz de elucidativa explicação, que a atividade econômica de produção
nada mais é que um apêndice da biosfera, consumindo energia; logo, dependendo
intrinsecamente de fontes originárias da natureza. Isso posto, cabe aduzir que a economia
se encontra devidamente subordinada à ecologia. Por sua vez, a ecologia está subordinada
à biologia e à termodinâmica (calor, energia, potência), sendo essa última subordinada à
física e ao conjunto de suas leis. Portanto, esforços enveredados para se alcançar o
crescimento econômico, entendendo tal conceito como a expansão da produção de bens e
serviços, relacionado a mudanças quantitativas na estrutura da economia, passam
indubitavelmente por esses termos termodinâmicos.
É certo afirmar então que, apenas pelo fato de a atividade econômica “consumir”
energia já é motivo o suficiente para vinculá-la explicitamente a uma dependência em
relação às leis da física. Dessa perspectiva, tem-se que, quanto mais intensivo for o
crescimento econômico, tanto mais intensivo será o uso de energia. Ilustrando esse ponto,
vale dizer que energia é um conceito básico da física que obedece a duas leis fundamentais
da termodinâmica. A primeira é a lei da conservação, cujo pressuposto básico diz que a
energia não pode ser criada nem destruída, apenas pode ser transformada. A segunda é a lei
da entropia que diz que a energia sempre se dispersa, passando de um estado de maior
concentração para um de menor concentração.
É importante notar que a economia não pode contrariar a lei da entropia, o que
equivale a dizer, em termos técnicos, que não se pode usar a mesma energia de forma
ininterrupta. Por exemplo: uma vez usado o carvão, a energia ali contida se dispersa, não
havendo volta (reuso). Sendo assim, não se pode queimar o mesmo carvão por variadas
vezes, ou queimar o mesmo combustível quantas vezes o intento humano desejar.
(1) A Condição Humana, Trad. R. Raposo, 2° ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1983, p.147
Em linhas gerais, o tratamento que dispensarmos à Casa da Vida (Gaia, nos dizeres
dos gregos) definirá nossos dias vindouros, bem como a situação ecológica que iremos
deixar às próximas gerações. Nesse pormenor, bem disse o antropólogo norte-americano
Gregory Bateson (1904-1980): “os grandes problemas do mundo são resultados da
diferença entre a maneira como a natureza funciona e a maneira como o homem pensa”. (2)
Seguindo esse pressuposto, parece não haver dúvidas quanto ao tipo ideal de economia
que a humanidade deve adotar, determinando na mesma medida a condição ecológica
em que conviveremos. De igual maneira, o tipo de crescimento econômico que as
sociedades modernas assimilarem conduzirá na mesma dosagem o estilo de vida que as
populações poderão desfrutar no futuro.
Desde já, é imprescindível refutar o atual modelo de economia destrutiva, posto que
a natureza tem se apresentado frágil demais para assimilar o condicionamento do
crescimento verificado nos últimos tempos. Recentes estudos mostram que a extração
global de recursos da natureza para alimentar a produção econômica global aumentou oito
vezes ao longo do século 20. Atualmente, a extração de recursos naturais alcança o
montante de 70 bilhões de toneladas anuais, o que equivale a uma média de dez toneladas
per capita.
Informações extraídas do Relatório elaborado pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma), apontam que “os países mais ricos consomem em média
dez vezes mais recursos que os mais pobres e duas vezes mais que a média mundial. Se a
tendência se mantiver, em 2050 o planeta precisará de 180 bilhões de toneladas de
matérias-primas anualmente”. (3)
É destacado ainda pelo Pnuma nesse mesmo Relatório que “o drástico aumento do
uso de combustíveis fósseis, metais e outros materiais aprofundará as mudanças climáticas,
aumentará a contaminação atmosférica, reduzirá a biodiversidade e finalmente levará ao
esgotamento dos recursos naturais”.
Essa condição de desequilíbrio ambiental deixa evidente, pari passu, que o
acelerado modo de produção econômica dos últimos tempos, datado com mais precisão
desde a metade do século 20, tem sido, de longe, o contributo mais significativo da
depleção imposta ao meio ambiente.
(2) Mind of Nature – A necessary unit. E.P. Dutton – New York, 1979, p.93
(3) Relatório Anual do Pnuma 2014
Não por acaso, a partir desse período citado, o salto do PIB mundial saiu de US$ 6
trilhões (1950) para US$ 43 trilhões (2000). Apenas no ano de 2000 a atividade humana
expandiu-se mais do que em cem anos (1800 a 1900) de história econômica. Com um PIB
global de mais de US$ 75 trilhões (dados de 2016), contando com 7,2 bilhões de habitantes
no planeta, o que se produz mundialmente em termos de bens e serviços representa, em
nossa moeda, R$ 7 mil por mês para cada família de quatro pessoas.
O funcionamento dos principais fundamentos da economia colocados a serviço do
crescimento vertiginoso da atividade industrial segue se reafirmando cada vez mais
pautado na necessidade de expandir tanto quanto possível a produção física das economias,
pouco se importando com o grau de elevada depredação ambiental.
(4) The Trajectory of the Anthropocene: The great aceleration, in The Anthropocene Review, Jan, 16, 2015.
(5) BROWN, L. (org.). State of the World 1996. A Worldwatch Institute Report on Progress Toward a
Sustainable Society. New York, Norton and Company.
A cada minuto, 50 toneladas de solo fértil são levados pelo vento;
A cada minuto, 10 mil toneladas de dióxido de carbono são lançadas na
atmosfera;
A cada hora, 685 hectares de terra produtiva, equivalente a 1.370
campos de futebol se transformam em deserto;
A cada dia, 250 mil toneladas de ácido sulfúrico (chuva ácida) caem no
Hemisfério Norte, onde se concentram os países ricos;
Desde 1960, o crescimento populacional e o desmatamento reduziram a
quantidade de hectares de florestas per capita pela metade, aumentando
as pressões sobre os remanescentes.
Mesmo diante dessa fotografia que expressa ainda que infimamente o caos
ambiental, o pensamento econômico tradicional continua trabalhando em torno da fixa
ideia de obter crescimento econômico exponencial, pouco se importando com a
consequente desfiguração da natureza; tampouco com a transformação dessa em mera
fonte de lucro, como já asseveremos. Dessa maneira, o crescimento contrasta com a noção
de sustentabilidade.
8. Crescimento antieconômico
Numa antiga edição (maio-junho de 1968) do Journal of Political Economy, em
artigo intitulado On Economics as a Life Science, Herman Daly, a voz mais elevada da
economia ecológica contemporânea, destacou o fato de a economia humana ser um
subconjunto de um sistema biótico maior. O argumento usado por Daly, no referenciado
artigo, mostrava que a capacidade de carga do planeta, a poluição, a degradação do solo, a
extinção de espécies, a perda de ecossistemas inteiros e a mudança climática já esbarravam
nos limites ecológicos, o que convertia a pretensão do dinamismo econômico numa nociva
condição de crescimento antieconômico – uma outra forma de mostrar que o crescimento é
ruim.
Para Daly, o crescimento antieconômico ocorre quando as relações da natureza,
especialmente relativas ao fornecimento de matéria e energia, se convertem num intensivo
processo de enxugamento da natureza, empobrecendo, por conseguinte, o tecido biológico
da Terra. De nossa parte, corroborando com esse argumento, é oportuno reiterar que o
pensamento econômico tradicional se mostra vazio diante da evidência pontualmente
destacada por Clóvis Cavalcanti, ao enfatizar que “não existe sociedade (e economia) sem
sistema ecológico, mas pode haver, sem muito esforço, meio ambiente sem sociedade (e
economia)”(6)
No entanto, o direcionamento da lógica neoclássica deixa de reconhecer que o
sistema econômico se relaciona de forma dependente com o sistema ecológico. A
economia tradicional, nessa visão, age em sentido contrário à dependência ecológica, ou
seja, do ponto de vista teórico se sobrepuja ao meio ambiente e, sem restrições, subjuga os
recursos da natureza, reduzindo o sistema ecológico aos interesses do mercado econômico
quando recomenda políticas voltadas à promoção de mais crescimento.
Desse modo, a economia vista pelo fluxo circular da renda e do produto ignora
sobremaneira o que realmente se sucede em termos de movimentação dentro do sistema
econômico, quando entra materiais e energia e sai resíduos e poluição. Nesse ponto, cabe
chamar a atenção ao seguinte pressuposto: fluxos de entrada (materiais e energia) e de
saída (produtos e resíduos ejetados) precisam ser considerados em sua totalidade quando
relacionados à natureza, e não relegados ao esquecimento, como é ensinado ao observar-se
o fluxo referido, como se toda a atividade econômica simplesmente funcionasse suspensa
no ar, num completo estado de vacuidade.
Ademais, trata-se de um equívoco pensar a atividade econômica de forma isolada e
hermeticamente fechada, como se não houvesse qualquer interação entre os movimentos
econômicos (extração, produção, descarte) e a natureza. Cabe reiteradamente observar que
a economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente, e essa situação
jamais se inverterá.
9. O fim do crescimento?
A afirmação a seguir, proferida pelo jornalista e educador norte-americano Richard
Heinberg, serve de parâmetro para validar o pressuposto maior de que o crescimento, nos
moldes atuais, deve ser repensado:
O crescimento econômico que conhecemos é coisa do passado. O crescimento de
que estamos falando consiste na expansão do tamanho da economia como um todo
(com mais pessoas obtendo bens e serviços e mais dinheiro circulando) e nas
quantidades de energia e de bens materiais fluindo através dela. (7)
(6) Concepções da economia ecológica: suas relações com a economia dominante e a economia ambiental.
Estudos Avançados. Vol. 24, n° 68. São Paulo, 2010.
(7) The End of Growth: Adapting to Our New Economic Reality, New Society Publishers, p. 78, 2011.
Para Heinberg, essa questão se inscreve num plausível argumento: há de se decretar
“o fim do crescimento”, tal qual sugere o título de seu livro The End of Growth, publicado
em julho de 2011.
Dessa ponderação, algumas considerações se apresentam pertinentes. Vejamos que,
pelo menos desde os últimos duzentos anos, a partir do qual a economia passou a ser
organizada trocando músculos humanos e de tração animal por máquinas alimentadas pela
energia trazida dos combustíveis fósseis, a expansão industrial mundial, em meio a alguns
sobressaltos, se apresentou num crescimento vertiginoso. Durante a primeira Revolução
Industrial (RI), entre 1820 e 1870, o crescimento econômico mundial passou para 0,93%
ao ano. Já com a chamada segunda (RI), o crescimento do PIB mundial passou para 2,11%
ao ano, acompanhado de um crescimento populacional que subiu para 0,89% ao ano,
enquanto a renda per capita cresceu 1,31% ao ano no período de pouco mais de quatro
décadas, entre 1870 e 1913.
Especificamente no período compreendido entre 1950 e 1973, a taxa média de
crescimento anual do PIB foi de 4,90%, ao passo que a população mundial cresceu,
também em termos médios, 1,93% e a renda per capita a 2,97%.
Somente ao longo da segunda metade do século 20 o PIB mundial cresceu cerca de
sete vezes. Assim como todo e qualquer ser vivo que cresce naturalmente ao longo do
tempo, a atividade econômica também necessariamente tem de respeitar as leis biológicas,
e a partir de certo ponto precisa, para o bom funcionamento dos ecossistemas, inverter a
tendência ascendente. Pontualmente, essa discussão deve girar ao menos em torno de três
fatores principais que, para a tão desejada preservação ambiental, impedem a continuidade
ininterrupta da expansão econômico-produtiva, embora permaneçam ignorados pelo
convencionalismo econômico: 1) o esgotamento de recursos naturais, incluindo os
combustíveis fósseis - a energia que movimenta a atividade econômica mundial; 2) a
proliferação e o agravamento dos impactos ambientais causados essencialmente pela ação
humana ao extrair e usar de forma desmesurada a base material de recursos materiais e
energéticos da natureza; 3) as turbulências financeiras que, em épocas de agudas crises
econômicas, com considerável nível de endividamento público, por exemplo,
desequilibram duas pilastras axiais - os sistemas monetários e os canais de investimentos -
minando portanto o “oxigênio” (crédito) ofertado ao setor produtivo.
Nessa perspectiva, é necessário ter suficiente noção de que toda a base material da
economia está alicerçada na questão ambiental, posto que sempre será válido reiterar que o
meio ambiente, num primeiro plano, é o responsável direto por provisionar a atividade de
produção econômica. Logo, a consequência decorrente da expansão material, claramente
identificada no crescimento físico da economia, mensurada pelo produto interno bruto,
evidenciando a ultrapassagem da limitação ecológica, tende a potencializar o impacto na
natureza, refletindo de imediato na destruição de biomas, no consumo predatório de solos,
na constante contaminação das águas e no esgotamento dos ecossistemas; todas essas
consideradas condições indispensáveis à manutenção da vida.
Uma vez mais esse fato confirma que, estruturada na ideia do crescimento sem fim,
a economia vem praticando um atentado contra o mundo vivo. A degradação ecológica já
ruma para uma situação de catástrofe. Isso não é uma retórica, mas uma realidade
científica; razão pela qual, segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milênio - um dos mais
importantes estudos abrangendo os impactos ambientais dos últimos tempos - dos vinte e
quatro principais serviços ecossistêmicos existentes, simplesmente quinze deles já se
encontram em situação crítica, apresentando acentuado nível de depleção.
Portanto, é certo asseverar que o aumento da demanda humana por serviços e
recursos prestados pela natureza têm levado consideráveis modificações aos ecossistemas
naturais, impactando a fauna e a flora globais. Os dados numéricos a seguir, ainda que
timidamente, ajudam a ilustrar esse assunto. Vejamos que nos últimos cem anos as
atividades humanas multiplicaram a extinção de espécies numa velocidade simplesmente
assustadora e inaceitável. Decorre dessa mesma ação acentuada dilapidação de outros
serviços naturais, tais como os fatos de que: i) onze por cento das áreas naturais existentes
no mundo simplesmente poderão desaparecer por completo até 2030; ii) quase 40% dos
atuais terrenos agrícolas no mundo ainda correm o risco de serem transformados em
culturas intensivas; iii) sessenta por cento dos recifes de corais já não mais existirão até
2030 ou um pouco antes disso; e, por fim, iv) próximo ao ano 2048, segundo estudos
divulgados pela FAO-ONU, nenhum recurso alimentar poderá ser extraído dos oceanos,
que seguem cada vez mais acidificados.
Posto isso, cada vez mais se torna imprescindível conjecturar a favor de um novo
sistema de economia capaz de operar dentro do “orçamento dos recursos sustentáveis”,
como apropriadamente observou Heinberg. Em nosso entendimento, essa condição exige
que a extração de recursos do planeta seja prioritariamente realizada a taxas equilibradas,
praticando-se uma regeneração apropriada da natureza, caso contrário conheceremos
retumbante malogro.
Conquanto, a adaptação a um novo sistema econômico operando “fora” da
necessidade de mais crescimento e “dentro” de uma perspectiva de mais desenvolvimento,
portanto com um viés social, e não precisamente econômico, precisará necessariamente ter
em conta a assertiva lançada por Heinberg de que “a ausência de crescimento não implica
necessariamente numa falta de mudanças ou de progressos”.
O que precisa ficar claro é o seguinte: de modo algum a ausência de crescimento
significa paralisar a economia; tampouco significa renunciar a conquista da prosperidade.
É perfeitamente factível prosperar sem crescer, assim como também é possível obter
desenvolvimento sem precisar antes do crescimento, como demonstra o importante estudo
Prosperity Without Growth: Economics for a Finite Planet, publicado em 2009, assinado
pelo economista ecológico britânico Tim Jackson.
CONCLUSÃO
Baseado nas técnicas criadas pelo homem moderno, a inteligência humana tem
contribuído, sobremaneira, para que as ações econômicas, no curso da promoção do
aumento quantitativo de mercadorias à disposição do consumo humano, ignorem dois
pontos cruciais: a finitude da biosfera e os passivos ambientais decorrentes do rompimento
dos limites da natureza. Como tem sido prática corriqueira do mercado de consumo
pressionar e exigir a incidência de elevadas taxas de crescimento, a receita principal
(pressuposto basilar) da economia de mercado, dada a orientação teórica neoclássica,
continua dispensando pouca importância (na verdade um completo descaso) aos estragos
causados pelo expansionismo econômico à riqueza do mundo natural.
Confronta-se assim uma vez mais a necessidade de crescimento econômico versus a
capacidade de suporte da Terra. Em outras palavras, trata-se de discutir em detalhes a
oferta de recursos naturais (limitada e finita) para sustentar padrões de consumo e
produção material (ilimitados e expansivos).
Para conturbar um pouco mais esse candente confronto, o contingente populacional
não se retrai; ao contrário, segue aumentando, ainda que a taxa de natalidade em vários
países já esteja apresentando uma ligeira tendência de queda. No entanto, o confronto
acima mencionado persiste. Em geral, para o dominante pensamento neoclássico, a
economia não é vista como um sistema aberto que opera dentro da biosfera. Isso é
pernicioso, pois cada vez que a economia tradicional ignora as relações intrínsecas
existentes entre a atividade de produção econômica e os necessários recursos da natureza
para propiciar tal ato, tudo parece acontecer dentro de uma caixa isolada do mundo físico,
como se a produção material não apresentasse interação com as fontes de energia ou com
os recursos naturais.
Dito de outra maneira, é como se a atividade humana a serviço da economia
produtiva que extrai recursos naturais para a fabricação de mercadorias ocorresse sem
qualquer vínculo com a natureza. Concernente a isso, não se pode deixar encoberto o fato
de que a economia somente funciona porque depende da natureza; assim como o
crescimento econômico somente acontece porque a base da natureza disponibilizada ao
processo produtivo ampara os fatores condicionantes do crescimento.
De toda essa questão, o problema central é o seguinte: quanto mais crescimento
econômico for alcançado, inequivocamente menos meio ambiente preservado resultará,
tendo em vista que a biosfera é finita, não cresce - jamais irá crescer em termos de tamanho
físico - é fechada, com exceção do constante afluxo de energia solar, funcionando
regiamente sob as leis da termodinâmica. Nessa perspectiva, mais crescimento econômico
responde pela exaustão de recursos naturais e energéticos, minando os serviços
ecossistêmicos. Daí o estado atual da natureza encontrar-se tão desfigurada. É assim que a
economia destrutiva se impõe, lembrando que o discurso do crescimento econômico, em
momento algum, leva em conta a preocupação com a preservação ambiental. Tudo em
matéria de produção econômica parece ocorrer à revelia do equilíbrio ambiental.
Na perspectiva de que o crescimento econômico tem acelerado o ritmo de
degradação ecológica, torna-se irrefutável a noção central da limitação da capacidade que o
ecossistema terrestre tem de suportar a pressão advinda do crescimento físico das
economias globais. Quanto a isso, reforçando e, ao mesmo tempo, revalidando essa
contextualização, deve-se atentar que os limites biofísicos por si constrangem o sistema
econômico, especialmente quanto à volúpia do crescimento.
É perceptível, portanto, que qualquer ultrapassagem ocorrida sobre os limites do
ecossistema inexoravelmente leva ao meio ambiente acentuado grau de degradação; nesse
caso, maior será a entropia, comprometendo seriamente a capacidade das populações de
alcançarem condições de bem-estar social e humano. Se a entropia se eleva, é correto
afirmar que as condições de qualidade de vida diminuem. Quando são ultrapassados os
limites ecológicos à serviço do crescimento, de forma direta e objetiva a economia
destrutiva gestada mostra sua perversidade, evidenciando o lado soturno do crescimento
em relação a preservação do meio ambiente.
Do ponto de vista físico é conveniente afirmar que o processo econômico não cria
matéria e energia. Quanto mais matéria e energia são dissipadas, maior a entropia gerada
ao sistema da economia, e, consequentemente, menor a condição de equilíbrio ecológico.
A relevante questão ecológica interposta diante disso está justamente no impacto da
retirada de recursos naturais e energéticos com posterior devolução à natureza de resíduos
pós-produção, concebidos exclusivamente pela atividade de produção econômica. Logo, se
maior for a retirada de recursos, igualmente mais acentuada será a devolução de lixo
(resíduo) à natureza. A entropia aumenta. A situação ecológica se degrada um tanto mais.
Resta dizer, por fim, que o resíduo gerado deteriora o meio ambiente tanto
quimicamente, como é o caso específico do mercúrio ou da incidência de chuva ácida;
quanto nuclearmente, como o lixo radioativo, ou ainda fisicamente, quando se acumula
CO2 na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Posto isso, o crescimento
econômico, levado à cabo como condição suficiente para satisfazer as necessidades
humanas, como arduamente defende a economia neoclássica, deve ser urgentemente
repensado, até mesmo porque reside nisso um erro conceitual que tem deturpado a noção
dada ao crescimento em sua relação com o desenvolvimento da economia, tendo em vista
que as conquistas promovidas pelo expansionismo econômico não atendem em linhas
gerais aos desejos ilimitados das pessoas; tampouco promove bem-estar, contrariando o
senso comum que credita ao crescimento da economia razão e motivos suficientes para a
obtenção de prosperidade.
Seguindo esse raciocínio, o desenvolvimento humano, aqui previamente entendido
o termo desenvolvimento como a melhoria substancial da qualidade de vida da
coletividade, portanto com um viés qualitativo, dependerá mais da retração do processo
econômico, portanto da diminuição frenética do crescimento quantitativo de bens e
serviços.
O crescimento econômico sem fim, exponencial e ininterrupto, dada as condições
finitas e limitantes da Terra, é simplesmente irreal e impossível de ser alcançado e mantido
por longo tempo. É inconcebível obter crescimento ilimitado num sistema que
inequivocamente depende da existência de recursos naturais finitos. A conta não fecha. O
limite da economia é a natureza, e isso não é uma retórica, mas um fato irrevogável.
***
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
A microrregião de Tefé está localizada na parte central do estado do Amazonas composta pelos municípios
de Alvarães, Tefé e Uarini. Possuindo importante papel para os municípios próximos, no entanto, dados a
respeito do setor de transformação madeireira são insuficientes para demonstrar sua importância e criar
políticas públicas eficientes voltadas para o setor, levando em consideração as especificidades da região
central amazônica. O objetivo deste estudo foi caracterizar os empreendimentos de transformação
madeireira. Inventariando-os, levantando dados a respeito de emprego, produção e possíveis dificuldades
enfrentadas por esse setor. Para isto foi feito um levantamento bibliográfico sobre o tema. Buscou-se junto
ao Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas informações referentes
à regulação e localização dos empreendimentos nos municípios, visitas a campo para entrevistas e aplicação
de questionários semiestruturados e um monitoramento em oito movelarias da cidade de Tefé. Os
empreendimentos transformadores de madeira geram no total 92 empregos. A madeira utilizada pelos
empreendimentos em grande parte é não licenciada. O setor depende do consumidor final, a maioria dos
empreendimentos não tem capital de giro suficiente para se manter, graças a falta de regularização e a forte
pressão sofrida pelo setor que prejudicam a indústria local, tornando-a pouco competitiva.
ABSTRACT
The Tefé microregion is located in the central part of the state of Amazonas composed of the municipalities
of Alvarães, Tefé and Uarini. Having an important role for the nearby municipalities, however, data on the
timber processing sector are insufficient to demonstrate its importance and to create efficient public policies
aimed at the sector, taking into account the specificities of the central Amazon region. The objective of this
study was to characterize the timber transformation enterprises. Inventing them, raising data regarding
employment, production and possible difficulties faced by this sector. For this, a bibliographic survey was
done on the subject. Information about the regulation and location of enterprises in the municipalities, visits
to the field for interviews and application of semi-structured questionnaires and a monitoring of eight stores
in the city of Tefé were sought from the Institute of Agricultural and Forestry Sustainable Development of
Amazonas. The wood processing enterprises generate a total of 92 jobs. The wood used by the ventures is
largely unlicensed. The sector depends on the final consumer, most of the enterprises do not have sufficient
working capital to maintain, thanks to the lack of regularization and the strong pressure suffered by the
sector that harm the local industry, making it uncompetitive.
1
Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA, bolsista pesquisadora
vinculada ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, viviane.marcos@mamiraua.org.br.
2
Doutora em Sociologia pela UFMG, professora adjunta A da faculdade de Ciências Sociais da UFPA,
nelissa2013peralta@gmail.com.
INTRODUÇÃO
(SFB, 2013), o que representa cerca de 60% do seu território. Essas florestas desempenham um
importante papel social, econômico e ambiental (SFB, 2010). Desse total, a maior parte concentra-
(SFB, 2010, 36) e fornecendo mais de 75% da madeira usada nas indústrias de transformação,
O setor florestal madeireiro amazônico vem crescendo desde a década de 60, e tem um
mercado ascendente dentro e fora do país (BARROS; VERÍSSIMO, 2002). Essa exploração é feita
em grande parte na ilegalidade, sem nenhum licenciamento ambiental, exigência legal a que estão
sujeitos todos os empreendimentos ou atividades que empregam recursos naturais ou que possam
causar algum tipo de poluição ou degradação ao meio ambiente (SUFRAMA, 2003). Apesar de
enfrentar grandes desafios, o setor de transformação madeireira tem potencial para se desenvolver
nos próximos anos (VEDOVETO et al., 2010), pois a região é detentora de grande parte da matéria-
prima necessária para a produção, vinda das extensas áreas de florestas naturais com valor
comercial (VERÍSSIMO apud VEDOVETO et. al., 2010), no entanto é necessária que seja apoiada
a utilização da floresta de forma racional através de plano de manejo sustentável (SOBRAL, et. al.,
2002), que seria a administração da floresta para obtenção de benefícios econômicos, sociais e
m³ de madeira (PEREIRA et al., 2010). Para atuar no setor tais empreendimentos devem estar
devidamente legalizados para adquirirem a madeira manejada, oriunda de áreas de manejo florestal.
Entretanto, encontram dificuldades na legalização por conta da burocracia documental exigida pelo
Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM) para a emissão das licenças.
Estudos de larga escala a respeito desse setor na Amazônia foram realizados pelo IMAZON a partir
de 1990. Mas estudos e dados a respeito da produção dos municípios são escassos e superficiais,
parte da Mesorregião Central. Ela é composta pelos municípios de Alvarães, Tefé e Uarini.
Possuindo importante papel para os municípios próximos, pois é um provável polo escoador de
produtos regionais. No entanto, dados a respeito do setor de transformação madeireira ainda são
insuficientes para demonstrar sua importância e criar políticas públicas eficientes voltadas para o
A microrregião possivelmente tem demanda própria por madeira, absorvendo grande parte
empreendimentos são importantes para a região ao gerarem renda e empregos e qualquer alteração
Este trabalho se justifica pela necessidade de levantar mais informações sobre a indústria
transformadora de madeira na região central do Amazonas, considerando que esta tem um papel
produtiva madeireira regional. Para isso foi necessário inventariar os empreendimentos e levantar
dados a respeito de emprego, produção e possíveis dificuldades enfrentadas por esse setor.
Este artigo está dividido em duas sessões: a primeira trata da análise dos dados coletados
MATERIAIS E MÉTODOS
Área De Estudo
39.862,4 km² e é composta pelos municípios de Tefé, Alvarães e Uarini, localizada na parte central
do estado do Amazonas. Entre os municípios que compõe essa microrregião, Tefé é o que mais se
destaca por ser o mais desenvolvido, com área geográfica de 23.704 km², PIB de R$ 556.739 e
pelo setor de serviços (IBGE, 2012). O município de Uarini tem área territorial de 10.246,237 km²,
população próxima de 11.891 habitantes (IBGE, 2010), PIB de R$ 96.474, tendo como principais
extensão territorial de aproximadamente 5.911,768 km², com uma população de 14.088 habitantes,
PIB de R$ 81.845, sua economia é movimentada principalmente pelo setor de serviços (IBGE,
2012).
movelarias e seis estaleiros, local onde se constroem e reparam embarcações e seus derivados.
Uarini existem seis movelarias, nas quais foram aplicados questionários com seus respectivos
responsáveis. Na cidade de Alvarães existem cinco movelarias e entrevistaram-se três donos destes
estabelecimentos.
Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (IDAM), órgão responsável por dar apoio à
Após este levantamento foi elaborado um questionário semiestruturado, para obter dados de
quantidade de madeira adquirida, a produção e expectativas para o setor madeireiro regional. Com
dados, atribuiu-se uma numeração para cada movelaria visitada, para manter um controle
organizacional e para garantir sigilo aos nomes e endereços dos entrevistados. Os dados foram
consumo da madeira e a demanda dos empreendimentos mensalmente. Para isso foram realizadas
visitas mensais onde os moveleiros declaravam a sua última compra e a madeira que estava no
pátio dos estabelecimentos eram contadas e medidas. Esse monitoramento foi realizado em Tefé
pela cidade ter o maior número de empreendimentos transformadores de madeira, ser a principal
RESULTADOS E DISCUSSÃO
12 anos de funcionamento (n=32; ±8,74) e as pessoas que atuam no ramo têm em média 19 anos
moveleiros 12 anos (n= 3; ±2,52), o mais antigo com 15 anos e o mais recente com 10 anos de
profissão. Nas movelarias de Uarini a média de anos de funcionamento é de 10 anos (n= 6, ±6,39),
os responsáveis pelos estabelecimentos têm em média 19 anos (n=6; ±10,65) de atividade, o mais
antigo tem 40 anos e o mais novo tem 10 anos de profissão. Os responsáveis pelas movelarias de
Tefé possuem em média 19 anos de atividade (n=23; ±9,8), o mais antigo possui 37 anos e o mais
recente, quatro anos. Já os estabelecimentos têm média 12 anos (n=23; ±8,7) de funcionamento.
invertem, isso ocorre provavelmente pelos estabelecimentos terem sido herdados pelos moveleiros
que atuam no ramo e o setor nesse município ser fechado, com pouco ou nenhuma entrada de uma
46 temporários, empregando em média 1,44 (n=32; ±0,67) trabalhadores fixos e três (n=32; ±2,53)
temporários por estabelecimento (Tabela 1). Os empregados fixos aqui discriminados são aqueles
que mesmo não tendo carteira assinada trabalham há muito tempo no estabelecimento e/ou tem
algum tipo de parentesco com os donos. Nenhum dos empreendimentos entrevistados tem
empregados com carteira assinada e apesar da maioria dos empreendimentos terem funcionários
fixos, a informalidade na mão de obra pode ser um retrato também da informalidade do setor, que
Tabela 1. Média de anos de profissão, média do tempo de funcionamento dos empreendimentos e empregos gerados
Total
Cidade Profissão Empreendimento Total Fixos
Temporários
Alvarães 12 20 6 2
Tefé 19 12 34 25
Uarini 19 8 6 19
A remuneração dos empregados fixos é feita através da divisão dos pagamentos das
encomendas de trabalho, ou seja, todo trabalho feito no estabelecimento é dividido entre o dono do
(76%) através de comissão, que gira em torno de 30%, para cada produto em que houve a
participação do funcionário. As outras remunerações são feitas através de salário (3%), pagamento
semanal (3%) e salário mensal (3%), que têm valores determinados pelo empregador. O estaleiro,
situado no município de Tefé, é o empreendimento que mais contrata empregados temporários (10
no total), segundo o relato do responsável “é mais fácil trabalhar com empregados temporários,
tipos diferentes de máquinas, utilizadas para cortar madeira, dar forma e acabamento aos produtos.
As máquinas mais utilizadas são a bancada de serra, tupia, plainadeira ou desempenadeira, serra-
fita, furadeira e torno, que estão presentes em todas as movelarias entrevistadas. As máquinas têm
caracterização industrial e artesanal. As industriais são mais eficientes e dão maior qualidade de
acabamento ao produto (VEDOVETO et. al., 2010). É comum encontrar máquinas antigas que são
microrregião de Tefé, 27 dos empreendimentos (64%) trabalha na ilegalidade (Tabela 2). Situação
semelhante ao que ocorre no restante do estado onde 83% das empresas trabalham na informalidade
(VEDOVETO et. al., 2010). Segundo os entrevistados a burocracia para se licenciar, se manter
licenciado e a falta de apoio de órgãos e autoridades competentes para a legalização é uma das
dificuldades para continuar no ramo, o que poderá levar a redução do número de empreendimentos
no curto prazo.
Para quem já está legalizado, a concorrência das movelarias não licenciadas é “ruim” para
o ramo, pois as mesmas não pagam imposto, compram madeira não licenciada e prejudicam aqueles
que querem se manter no ramo de forma legalizada, por competirem de forma desleal e oferecendo
produtos com pouca qualidade. Segundo Vedoveto et. al. (2010) outro efeito da informalidade no
ramo é que dificulta acesso a crédito e a programas de incentivo governamental e também incentiva
parte é não licenciada (Figura 1), fornecida por serradores individuais de madeira serrada que não
possuem licença para extrair madeira. Apenas 6% dos entrevistados declaram não trabalhar com
serradores (um utiliza madeira manejada e um faz a própria extração). Dos empreendimentos
entrevistados, 19 deles compram madeira somente de serradores, outros nove alternam entre
própria, um alterna entre extração própria e serradores e apenas um utiliza somente madeira
manejada. Vale ressaltar que este último participa do Programa de regionalização do mobiliário
escolar (PROMOVE), programa que busca incentivar e estimulara produção de mobiliário escolar
que utiliza madeira manejada, valorizando a mão de obra local, o desenvolvimento socioeconômico
com uma frequência de 1,38 (n=26; ±0,70) vezes ao mês. Por uma questão metodológica, para esta
média foram consideradas apenas aqueles que compram uma vez ou mais no mês, os demais
relataram que compram madeira a cada dois meses ou menos. Compram em média 41,62 (n=31;
±23,73) pranchas ao mês, convertido em metro cúbico (pelo tamanho de prancha mais recorrente:
2,20m x 20 cm x 8cm) a média mensal é de 1,54m³ (n=31; ±94). Para este cálculo não foram
considerados os dados referentes ao estaleiro situado em Tefé, pois o mesmo compra madeira
somente quando tem encomendas e em uma quantidade alta, cerca de 100 pranchas ou 6m³ por
aquisição.
De acordo com os dados coletados foram identificadas nove espécies de madeira nativas,
macrophylla Benth), Itaubarana (Acosmium nitens (Vog.) Yakovlev) e Louro Amarelo (Licaria
O preço da madeira varia de acordo com o fornecedor, transporte e tamanho da prancha. Para
a medida mais recorrente de prancha (2,20m x 20 cm x 8cm) o valor médio da madeira não
prancha. O município que apresentou o maior valor por prancha é Alvarães com um valor de R$
20 por prancha, em seguida Uarini com um valor médio de R$ 18,64 (n=11; ±2,34) e Tefé com
valor médio de R$ 17, 32 (n=27; ±2,32). Aparentemente a espécie não tem influência no valor da
matéria-prima.
De acordo com as entrevistas a madeira vem tanto de áreas de terra firme quanto da várzea.
As madeiras manejadas vêm dos Planos de Manejo do Rio Tefé (Plano de Manejo da Associação
dos Extratores do Rio Tefé, plano de manejo florestal sustentável de menor impacto, nos Igarapés
do Teani e Boa Fé e nas margens direita e esquerda do Rio Tefé, assessorados pelo IDAM) e do
Agrícolas do Ingá, plano de manejo florestal sustentável de menor impacto em área de várzea,
Mamirauá). Já as madeiras não licenciadas vêm principalmente do Rio Solimões, Rio Tefé e Lago
Na cidade de Tefé a estrada da Emade (Estrada que liga a área urbana à área rural da cidade
de Tefé) é um dos locais de origem de madeira mais citados pelos entrevistados. Na cidade de
Uarini a Estrada Uarini-Copacá (Estrada que liga a área urbana à área rural da cidade de Uarini) é
Segundo o relato dos entrevistados, 63% afirmam que hoje a falta de madeira, tanto
manejada quanto não licenciada, é a maior dificuldade enfrentada pelo setor. Afirmam ainda que a
oferta de madeira diminuiu nos últimos cinco anos. As causas apontadas para essa redução são a
dura fiscalização em cima dos serradores - que são seus principais fornecedores – que resulta no
abandono da atividade. Além disso, outra causa seria a escassez de madeira em áreas próximas aos
sua falta de oferta frequente. Dificilmente há madeira disponível para compra, além do
descompasso entre o licenciamento de áreas manejadas para oferta e liberação da licença dos
empreendimentos para adquiri-la. Para se manter licenciado, de acordo com a Instrução Normativa
n° 21/2013 do IBAMA, os empreendimentos têm que comprar madeira manejada a cada 90 dias,
movimentando seus pátios no sistema DOF (Documento de Origem Florestal), para que estes não
fiquem impedidos de comprar matéria-prima. Segundo Vedoveto et. al. (2010), o grande problema
do desenvolvimento do setor na região Norte “não é a escassez de florestas para manejo, mas as
pela carpintaria referente principalmente, a portas, venezianas, janelas, portais e suas variantes),
oito (25%) produzem somente esquadrias, um (3%) produz móveis, esquadrias e artesanato, um
(3%) produz mobiliário escolar e um (3%), o estaleiro, faz reforma e construção de barcos (Figura
2). Segundo Magalhães (2011) e Marcos (2014; 2015), o município de Tefé aos poucos vem
mudando sua atividade principal, deixando de fabricar somente móveis, passando a fabricar
da microrregião.
Figura 2. Principais atividades dos empreendimentos
comercialização dos produtos fabricados, que é realizada em sua maioria (91% dos entrevistados)
do consumidor, levando a oferta a se ajustar a demanda (VARIAN, 2006). A venda dos produtos
sob encomenda é comum na região Norte, a comercialização dos produtos é realizada na própria
região (VEDOVETO, 2010) o que leva o ramo a se tornar pouco competitivo (SANTANA, 2002).
destinação residencial, os principais foram portas e portais, janelas e portais, sala de jantar
(composta de mesa e quatro ou seis cadeiras ) e cômoda. No entanto, as cadeiras, cadeiras escolares
e mesas são produzidas em série pela movelaria que participa do PROMOVE, logo esta apresentou
maiores quantidades de itens produzidos. A cadeira espreguiçadeira é outro item que é fabricado
em série, mas com uma frequência menor, pelo menos a cada dois meses (Tabela 4).
liderando a fabricação de esquadrias e de móveis (Tabela 4). O município de Uarini fabrica tanto
móveis quanto esquadrias. Alvarães tem sua maior participação na fabricação de esquadrias,
O valor médio dos produtos varia de acordo com a quantidade de madeira empregada para sua
fabricação. Os produtos mais caros são o barco, a mesa de sinuca e o armário (Tabela 5). Os
empreendimentos do município de Tefé sãos os que apresentam os maiores valores na maioria dos
produtos.
Tabela 5. Preço médio dos produtos fabricados na microrregião de Tefé por municípios
Segundo os entrevistados a venda dos produtos reduziu nos últimos cinco anos, 64% apontam
que a concorrência de outros produtos e de outras movelarias tem causado essa redução, além da
falta de dinheiro circulando nas cidades onde foram realizadas as entrevistas, por diversos fatores
A maior parte dos resíduos produzidos pelos empreendimentos é doado (84%) para olarias,
m³ de madeira, uma média de 1,16 m³ (n=103, ±0,39) mensais por estabelecimento. Esse consumo
oscila bastante, pois depende da oferta de matéria-prima e da demanda por produtos (Figura 2). No
estudo de Marcos (2014) tinha-se uma média 1,26 m³ de madeira mensal parecida com a atual,
porém com o número maior de visitas, o desvio padrão diminuiu o que ilustra os resultados diretos
do monitoramento.
Figura 2. Total de madeira consumida em m³
mesmos períodos de cada ano (Figura 3). Nos períodos de dezembro de 2013 a 2014 a aquisição
de matéria prima teve uma variação de -31%, nos períodos seguintes de janeiro e fevereiro de 2014
a 2015, as variações foram de respectivamente -51% e -35%, o que demonstra uma queda na
compra de madeira no período monitorado. Podendo ser reflexo do contexto político econômico
da cidade ou outros fatores externos que podem mudar com o decorrer do tempo.
Figura 3. Total de matéria-prima consumida nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro nos anos de 2013 a 2015.
O custo total com matéria-prima dos oito estabelecimentos, no período de novembro de 2013
(n=16, ±1558,78), esse custo tende a seguir a quantidade de madeira comprada, com oscilações no
A receita bruta total dos empreendimentos foi de R$ 212.308. Espera-se que a receita
meses a receita é menor que o custo, com especial atenção ao mês de janeiro de 2014 (Figura 5). É
redução nas encomendas, mas é também um período em que se tem uma quantidade maior de oferta
de madeira, demonstrando um possível planejamento por parte dos moveleiros para adquirir
matéria-prima.
Figura 5. Comparação entre receita bruta e volume de madeira adquirida
CONCLUSÃO
maioria está no ramo há bastante tempo, o que demonstra que este setor tem uma certa estabilidade,
mesmo com as dificuldades que surgem a cada ano. No entanto, mesmo o setor sendo estável, ele
ainda é em sua maior parte informal, visto que a maioria dos empreendimentos não trabalha de
forma licenciada e não tem nenhum empregado contratado com carteira assinada. Além disso,
dependem da madeira não licenciada para trabalhar, o que é mais uma amostra da falta de
regularização do setor.
Por conta disso, o setor poderá diminuir nos próximos anos, dependendo de uma maior
pressão dos órgãos competentes para que isso ocorra. No entanto, é necessário encontrar
mecanismos ainda mais eficientes para que o setor como um todo não saia prejudicado com as
consumidor final, a maioria dos empreendimentos não tem capital de giro suficiente para se manter,
por isso todos trabalham a partir das encomendas dos consumidores. Mesmo com a intenção de
obter crédito para capital de giro, a falta de regularização da atividade impede o acesso às linhas
somente móveis, ofertam uma extensa gama de produtos. O aumento da tecnologia e capacitação
tanto de produtos substitutos a madeira quanto entre os próprios empreendimentos e lojas de varejo,
afetam a indústria local, tornando-a pouco competitiva principalmente com os principais polos
Para isso precisam de assessoria técnica e apoio governamental que fomente a ampliação e
RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades, 2010. Disponível em:
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=13&search=amazonas. Acesso: 22 de
abril de 2015.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE Cidades – PIB dos Municípios,
2012. Disponível em:
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=13&search=amazonas. Acesso: 22 de
abril de 2015.
PEREIRA, Denys. et al. Fatos Florestais da Amazônia 2010. Belém: Imazon, 2010.
SNIF, Sistema Nacional de Informação Florestal. Cadeia Produtiva Florestal. Disponivel em:
www.florestal.gov.br. Acesso: 28 de abril de 2015.
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo descrever como se dá o conflito de interesses dentro de
uma Área de Preservação Ambiental, a APA Chapada do Araripe. De um lado aqueles que
buscam a utilização dos recursos naturais com objetivos econômicos, por outro lado os
ambientalistas, que lutam pela preservação do meio ambiente. O trabalho foi realizado
através de um estudo bibliográfico, de forma descritiva e qualitativa e obteve como
resultado que a APA Chapada do Araripe possui uma imensa riqueza natural, biótica e
abiótica, e tem como principais problemas: o conflito entre a preservação e a atividade
extrativa predatório dos recursos naturais e a grande extensão de terra, dificultando a
fiscalização e conservação.
ABSTRACT
This research aims to describe how the conflict of interest occurs within an Environmental
Preservation Area, the APA Chapada do Araripe. On the one hand, those who seek the use
of natural resources for economic purposes, on the other hand environmentalists, who fight
for the preservation of the environment. The work was carried out through a
bibliographical study, in a descriptive and qualitative way and obtained as a result that the
APA Chapada do Araripe has an immense natural, biotic and abiotic richness, and has as
main problems: the conflict between the preservation and the extractive activity Predation
of natural resources and the great extension of land, making inspection and conservation
difficult.
1
Professor Adjunto na Universidade Regional do Cariri – URCA, e-mail: mota.joao@urca.br
2
Professor Adjunto na Universidade Regional do Cariri – URCA, e-mail: ramalucas@hotmail.com.
3
Professora Adjunta na Universidade Regional do Cariri – URCA, e-mail: anaelisahd@yahoo.com.br
1. Introdução
Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, comum
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos
ou culturais ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o
bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a
diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (BRASIL, 2000, p. 9).
4 Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências.
5
União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais
As APAs têm como principais características (VIANA, 2005, p. 8):
• ser criadas nas esferas federal, estadual ou municipal;
• ser implantadas sem a necessidade de desapropriação;
• compreender paisagens naturais ou com qualquer tipo de alteração;
• abranger ecossistemas urbanos ou rurais;
• envolver tanto áreas públicas quanto propriedades privadas;
• estender-se por mais de um município ou bacia hidrográfica;
• englobar outras unidades de conservação mais restritivas; e
• permitir praticamente todas as atividades econômicas ou obras de infra-estrutura em
seu interior, desde que sob certas condições, e excetuadas suas zonas de vida
silvestre.
6
O soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) é uma ave da família dos piprídeos, sendo o único
pássaro de distribuição restrita ao Ceará. No ano 2000 esta espécie foi internacionalmente reconhecida
como Criticamente em Perigo de extinção global, existindo no mundo apenas outras 188 aves nesta condição.
(www.aquasis.org).
7
Ciência ou esporte que tem por objeto o estudo ou a exploração das cavidades naturais do solo (cavernas,
grutas). Cf.: www.dicio.com.br/espeleologia/.
8
área de propriedade pública que obedece uma série de regras para a preservação da biodiversidade. Foi a
primeira a ter sua concessão ambiental conquistada e foi demarcada em 1983.
9
O pequi (nome científico: Caryocar brasiliense) é um fruto típico do Cerrado, cuja nomenclatura
vem do Tupi e significa “pele espinhenta”. (www.cerratinga.org.br/pequi/)
10
O babaçu (nome cientifico: Attalea ssp.), também conhecido como baguaçu, coco-de-macaco e,
na língua tupi, uauaçu, é uma nobre palmeira nativa da região Norte e das áreas de Cerrado.
(http://www.cerratinga.org.br/babacu/#)
coibir o corte indevido de madeira e a queimada. (AUGUSTO & GÓES,
2007, p. 1)
Por outro, apesar da água ser de domínio público, por força da Constituição
Federal Brasileira e da Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei nº 9.433/199711,
11
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13
de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.
Assim, é perceptível o impacto ambiental com as atividades extrativistas no
entorno e na própria Chapada do Araripe, além de provocar a devastação vegetal e animal,
vem ampliando a escassez de água, pelo comprometimento de seus aquíferos.
Dessa forma o maior desafio é conciliar a obediência à legislação de proteção
ao meio ambiente e os interesses dos diversos grupos que atuam nesta área da APA
Chapada do Araripe.
Para aqueles que defendem o meio ambiente as APAs representam muito mais
do que um repositório de sistemas bióticos e abióticos, e que sua conservação vai além da
utilização sustentável dos recursos naturais. Para estes deve seguir uma gama de normas e
procedimentos institucionais aos quais estão estabelecidos nas legislações das esferas de
poder Federal, Estadual e municipais.
Obedecendo a legislação federal, iniciado pela orientação Constitucional do
art. 225 e pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, passa-se a analisar a normatividade da
legislação estadual.
No Estado do Ceará, o tratamento da gestão ambiental é fruto de um processo
de construção institucional desenvolvido ao longo dos últimos 25 anos, estruturado sobre
as seguintes organizações estaduais: a Superintendência Estadual de Meio Ambiente –
SEMACE, o Conselho Estadual de Meio Ambiente – COEMA, e o Conselho de Políticas e
Gestão do Meio Ambiente – CONPAM, criado em 2007. Pode-se considerar que também
faz parte do sistema estadual de gestão ambiental a Comissão Interinstitucional de
Educação Ambiental – CIEA. (MPCE, 2013, p.22) O sistema de licenciamento estadual foi
instituído através da Lei 11.411 de 28 de dezembro de 1987, tendo estado desde então a
cargo da Superintendência de Meio Ambiente do Ceará - SEMACE. (CEARÁ, 2013, p.11)
Caatinga
Decreto nº 27.747, de 28 de março de 2005 – Institui Grupo de Trabalho no âmbito da
administração estadual, com o objetivo de elaborar o Projeto de Conservação e Gestão
Sustentável do Bioma Caatinga em conformidade com o que estabelece o PDF-B, e da
outras providencias.
Licenciamento Ambiental
12
Programa para Resultados (PforR) é uma parceria, acordada em 2013, do Governo do Estado do Ceará com
o Banco Mundial.
Portaria SEMACE nº 201/99, de 13 de outubro de 1999 - Estabelece normas técnicas e
administrativas necessárias a regulamentação do sistema de licenciamento de atividades
utilizadoras de recursos ambientais no território do Estado do Ceara.
Política Florestal
Lei nº 12.488, de 13 de setembro 1995 - Dispõe sobre a Politica Florestal do Estado do
Ceara e da outras providencias.
Este fato fez com que o Ministério Público Federal interviesse recomendando a
suspensão de obras e licenças ambientais de forma irregular.
5. Referências Bibliográficas
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Prentice Hall, 2002.
COLOMBO, Silvana Raquel Brendler. O Princípio do poluidor-pagador. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, IX, n. 28, abr 2006. Disponível em:
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=932>. Acesso em fev 2015.
KLIAS, Paulo. Economia verde e mercantilização. 2012. Disponível em:
www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Economia-verde-e-mercantilizacao-do-Meio-
Ambiente/26817 – Acesso em: 26/11/14.
Resumo
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 1,5 milhão de pessoas
morram por falta de saneamento adequado, principalmente crianças menores de 5 anos de
idade. O objetivo deste artigo é avaliar o nível de eficiência do setor de saneamento básico
da região Sudeste, notadamente, a região brasileira que possui os melhores índices deste
setor vis-à-vis as demais regiões. Por meio de uma modelo Data Envelopment Analysis –
DEA que busca medir a eficiência do setor entre os anos de 2010 a 2012, tendo as doenças
causadas por falta de saneamento básico ou precariedade do mesmo, os inputs e os indices
de saneamento como outputs. Os resultados demonstraram que Rio de Janeiro e Minas
Gerais são Estados que possuem maior nível de eficiência, enquanto que São Paulo e
Espírito Santo mostram que operam sobre ineficiência.
Abstract
The World Health Organization (WHO) estimates that about 1.5 million people die from
lack of adequate sanitation, especially children under 5 years of age. The objective of this
article is to evaluate the efficiency level of the basic sanitation sector of the Southeast
region, notably the Brazilian region that has the best indices of this sector vis-à-vis the
other regions. By means of a Data Envelopment Analysis (DEA) model that seeks to
measure the efficiency of the sector between the years 2010 and 2012, with the diseases
caused by lack of basic sanitation or precariousness of the same, the inputs and the indices
of sanitation as outputs. The results showed that Rio de Janeiro and Minas Gerais are states
that have a higher level of efficiency, while São Paulo and Espírito Santo show that they
operate on inefficiency.
1. Introdução
1
Doutorando em economia aplicada na Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: fabiano.luiz@ufv.br;
2
Doutora em economia aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail:
julyana.covre@gmail.com;
3
Pós doutorando em economia na Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: felippe.clemente@ufv.br
O crescimento da população provoca diversos desafios para os gestores municipais,
números alarmantes, no tocante ao saneamento básico, dado que apenas 42,67% do esgoto
gerado são realmente tratados, isso significa que nem metade daquilo que é gerado é
Deste modo, o saneamento básico apresenta-se com um dos maiores desafios para a
serviços de água, esgotos, resíduos e drenagem, tem um custo estimado de R$ 508 bilhões.
Quanto à universalização, apenas, dos serviços de água e esgoto são estimados algo em
destes serviços, sendo acompanhado pela região Sul, em seguida pela região Centro-Oeste,
possui a pior distribuição geográfica deste serviço. A região Sudeste apresenta níveis mais
altos do que as demais regiões. Ressalta-se também que o Brasil possui baixos índices de
tratamento hospitalar são precários. Segundo Carmo e Távora Júnior (2004) o custo
de tratamento.
Outro ponto relevante diz respeito à relação causal entre os serviços de saneamento
e o desenvolvimento econômico. Segundo Heller (1998), países que possuem maior grau
são escassos, tendo em vista que o investimento na melhoria e tratamento de todo esgoto
gerado ainda são baixos, o que resulta em uma maior incidência de casos de verminoses,
Diante do exposto, este artigo tem por objetivo avaliar e analisar a eficiência do
setor de saneamento básico para a região Sudeste, pois a mesma apresenta níveis mais altos
Tabela 1, por exemplo, observa-se que a região Sudeste apresenta os melhores níveis de
atendimento de rede de água, quanto de coleta de esgoto. No que diz respeito ao índice de
números verificados apenas apontam para o caso urbano, sendo que a nível rural bem mais
precário.
Tabela 1 – Nível de esgotamento sanitário, por região geográfica e brasileira em
2013.
Fonte: Ociosidade das redes de esgotamento sanitário no Brasil (2015) Instituto Trata Brasil.
gerada pela rede. O Sudeste mais uma vez apresenta as melhores condições no tocante as
variáveis citadas. Sendo a região Norte a que apresenta os menores níveis destes
indicadores. No que diz respeito ao Brasil apenas 45% da população é atendida com o
esgotamento sanitário, ou seja, apresenta indicadores pequenos, dado sua dimensão. Além
deste fato, o total de ligações ativas no sistema chega a 24 milhões, porém este número é
insuficiente.
como sua ausência por região. A região Sudeste apresenta o melhor acesso da população
ao serviço com cerca de 85% da população contando com este serviço, a região Sul é a
segunda melhor região tendo a participação de 70% de sua população com serviços de
Fonte: Ociosidade das redes de esgotamento sanitário no Brasil (2015) Instituto Trata Brasil.
2.1 Saneamento e saúde
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 88% das mortes por
diarreia decorre da falta saneamento adequado, entre estas, a maior incidência de mortes é
de crianças. Calcula-se que 1,5 milhão de crianças morrem todo ano por falta de eficiência
número de internações, contudo as cidades que não apresentam melhoria no sistema são
responsáveis por cerca de 74% das internações (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2017) . O
custo estimado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), anual por internações é de R$ 140
milhões, para doenças como a diarreia, a febre tifoide, a febre paratifoide, a cólera, a
2011. O maior número de internações ocorre na região Sudeste com média de 579, além
disso, com doenças relacionadas à agua é 88.325, sendo São Paulo, o estado da região com
conta da água 225.000, sendo a Bahia que apresenta o maior de internações na região. A
região Norte tem no Pará o maior número de internações com 53.000 internações. No
No que diz respeito ao número total de internações o Nordeste é o estado que mais
3. Metodologia
A análise envoltória de dados (DEA) é uma técnica não paramétrica que se baseia
tratada como DMU (decision making unit), uma vez que desses modelos provém uma
medida para avaliar a eficiência relativa de unidades tomadoras de decisão (GOMES,
2009).
Na DEA, o termo análise envoltória deriva do fato de, nessa abordagem, a análise
ter como referência as DMUs, buscando detectar as DMUs eficientes e construir um plano
a análise paramétrica, como por exemplo, a fronteira estocástica, está no fato de a primeira
ser não paramétrica, estimando uma fronteira determinística, e a segunda ser paramétrica,
com base em função estocástica, tendo assim níveis de significância, erro padrão, etc.
eficiência decorre do fato de que ela requer que se conheçam as DMUs, ou se utilizem
diferentes DMUs nem sempre é possível. Assim, o enfoque não paramétrico, que utiliza a
Outra vantagem que pode ser considerada do DEA é com relação à estimação
operacionalização do modelo.
2013).
nos estudos sobre eficiência. Nesse sentido, Aigner et al. (1977) propuseram uma função
relação à função de produção poderiam ser devidos à ineficiência produtiva e aos efeitos
medida, o que poderia gerar endogeneidade4, caso fosse estimado a fronteira estocástica. A
para estimação da fronteira estocástica, o que poderia acarretar em viés nas estimativas.
Segundo Charnes et al. (1994), para estimar e analisar a eficiência relativa das
DMU’s, utiliza-se a definição de ótimo de pareto, segundo o qual nenhum produto pode ter
4
A endogeneidade pode ocorrer por três formas principais, as quais são: erros de medida; variável importante
que foi omitida e “controle ruins” (ANGRIST & PISCHKE, 2009).
sua produção aumentada sem que sejam aumentados as suas quantidades de insumos ou
unidades analisadas no estudo. Cabe destacar que Coeli (1995), coloca que há duas formas
(1994) propõe a técnica DEA para a análise das diferentes unidades. A função distância5 é
( ) , (1)
que é definido pelo conjunto de todos os vetores de insumos e produtos (x,y), tal que x
1) não-negativo de produtos.
vetores de produtos y, que pode ser produzido pelo vetor de insumos x, isto é,
5
Pode ser definida como orientação insumo ou orientação produto. A orientação insumo caracteriza a
tecnologia de produção pela minimização proporcional (contração) do vetor insumo, dado um vetor de
produto. Já a orientação produto caracteriza a tecnologia de produção pela maximização proporcional do
vetor produto, dado um vetor de insumo.
. (2)
A função distância com orientação produto, de acordo com Shephard (1970), pode
( ) ( ) ( ) (3)
( ) ( ( ) ( )) (4)
em que , na expressão (3), é um fator mínimo, pelo qual o produto pode ser contraído e,
(x,y) estará sobre a fronteira tecnológica; nesse sentido, a produção será tecnicamente
escala procura maximizar o aumento proporcional nos níveis de produto, mantendo fixa a
quantidade de insumos. De acordo com Charnes et al. (1994), pode ser representado
algebricamente por:
( )
sujeito a:
=0
=0
(5)
em que Yi é um vetor (m x 1) de quantidades de produto da i-ésima DMU; xi é um vetor (k
um vetor de folgas relativos aos insumos; e é um escalar que tem vetores iguais ou
maiores do que 1 e indica o escore de eficiência das DMUs, ou seja, um valor igual a 1
indica eficiência técnica da i-ésima DMU, em relação às demais, enquanto um valor maior
é resolvido n vezes – uma vez para cada DMU, e, como resultado, apresenta os valores de
e , sendo o escore de eficiência da DMU sob análise e fornece os peers (as DMUs
4. Resultados
informação sobre o saneamento básico (SNIS) e no site do Sistema de Saúde para todos
os estados do Sudeste entre os anos de 2010 a 2012. Todos os dados são a nível estadual,
De maneira geral, uma análise de eficiência técnica compara o número de casos das
doenças estudadas, dado as variáveis de saneamento básico da região, com o que poderia
ter sido registrado com os mesmos recursos. No caso em estudo, as variáveis empregadas
Tabela 4. Percebe-se uma relativa diferença nos valores das unidades6 que compõem a
valores máximos e mínimos também se destacam pelas suas grandes diferenças. Para o
caso da dengue, o número máximo de casos registrados foi 210.189 casos para o Estado de
Minas Gerais, enquanto o número mínimo de casos em um determinado ano foi registrado
no Estado de São Paulo. O mesmo ocorre para a esquistossomose, que teve o maior
registro de casos no Estado de Minas Gerais e o menor registro para São Paulo. Já para a
hepatite viral, o maior número de casos foi registrado no Estado de São Paulo e o menor
número no Estado de Espírito Santo. A leptospirose teve o maior registro em São Paulo e o
menor no Estado do Rio de Janeiro e a malária teve como máximo registrado em um ano,
6
Entende-se por unidade o ano que determinado estado registrou um número específico de casos de doenças
oriundas da falta de saneamento básico, dado a taxa de saneamento básico da região.
No geral, observa-se que todos os Estados analisados possuem alguma dificuldade
no controle das doenças relacionadas ao saneamento básico, o que indica, em uma primeira
Estados que compõe a amostra. Pela média dos escores de eficiência técnica, é possível
Minas Gerais possuem unidades que mais se aproximam da eficiência ao passo que São
Paulo é o estado que mais está próximo da ineficiência. O Estado do Espírito Santo
média de eficiência técnica, foi construído o indicador definido por Ferrier e Porter (1991),
que segue:
( ) (6)
Assim, é possível dizer que a diferença média de eficiência técnica nas regiões
estudadas requer uma utilização de recursos 104,5% maior que as unidades que estão
operando sobre a curva da fronteira de eficiência. Isso evidencia o quão distinto estão as
5. Conclusão
mais casos em cidades mineiras, sendo de menor ocorrência nas cidades paulistanas.
Contudo, a hepatite A teve maior número de casos no Estado de São Paulo, sendo o
Espírito Santo o com menor número de casos. Além disso, a eficiência apresentada na
região demonstrou que há ineficiência técnica, o que indica que o setor carece de
Dada à amostra, a média de eficiência foi menor que 50%, isso mais uma vez
demonstra o quanto setor permanece à margem do foco governamental, hava visto que o
setor, o qual resulta em uma despesa maior para o sistema de saúde. Desta maneira, o Rio
eficiência, enquanto que o Espírito Santo e São Paulo estão direcionados a ineficiência.
REFERÊNCIAS
FERRIER, G.D.; PORTER, P.K. The productive efficiency of US milk processing co-
operatives. Journal of Agricultural Economics, n.42, p.161-173, 1991.
Resumo
O artigo busca explorar o conceito teórico do decrescimento e suas implicações como uma
alternativa ao desenvolvimento. O conceito do decrescimento oferece um forte contraste ao
modelo de desenvolvimento convencional, o que poderíamos chamar de um desenvolvimento
capitalista industrial. Na discussão do conceito o artigo segue alguns eixos temáticos
sugeridos por D'Alisa et al em um livro enciclopédico recente: limites ao crescimento,
autonomia e repoliticização, capitalismo e transições e dinheiro e crédito. A discussão é
aumentada pelos conceitos da autora Anna Lowenhaupt Tsing que discute as possibildades de
sobrevivência após a modernização capitalista. Nas considerações finais o artigo sugere
algumas implicações dessa discussão para o planejamento urbano e regional.
Palavras chaves: decrescimento, alternativas ao desenvolvimento, sustentabilidade
1. Introdução
Uma sugestão que está sendo discutida na literatura mais heterodoxa e qual surgiu
com nova força uns anos atrás é a ideia do decrescimento. Essa ideia tem suas origens nas
críticas ao crescimento das décadas 1960 e 70 e hoje disfruta de grande popularidade dentro
dos movimentos ambientalistas, anti-consumeristas e anti-capitalistas.2 Mas o conceito não é
totalmente novo. Já aparecem noções dessa ideia – principalmente ligado à questão do limite
do crescimento econômico – nos trabalhos de clássicos como Adam Smith e John Stuart
Mills e mais recente nas obras de Karl Polanyi e Herman Daly.3
1Tollefson (2015)
2Veja DeMaria et al (2013) que argumentam que “degrowth” virou um movimento social
3Daly (1973)
Obviamente, esse artigo não vai poder oferecer uma respota final, mas mesmo assim
podemos pensar em outros possibilidades. Nesse contexto o artigo vai terminar discutindo um
texto da antropóloga norte-americana Anna Lowenhaupt Tsing que discute de uma
perspectiva etnográfica as interações de múltiplas espécies e como a ecologia é influenciada
pela interferência humana. Seu livro chama-se “The Mushroom at the End of the World – On
possibilities of Life in Capitalist Ruins” e o subtítulo já indica que a autora não
6See Boonstra/Josse (2013)
8Sekulova et al (2013)
necessariamente acredita que o capitalismo transforma-se antes de destruir nosso meio-
ambiente (tanto natural como social e polítco).
2. O conceito de decrescimento
Nessa seção o artigo quer rever a literatura existente sobre decrescimento, assim
descrevendo o conceito em si e também discutindo as controversas que ele traz. A referência
central que inspriou a divisão desse capítulo é o livro “Degrowth: Vocabulary for a New Era”
publicado recentemente por D'Alisa et al e qual oferece um conjunto de autores relevantes da
área.9
Começando com estes dois autores, o debate sobre decrescimento pode ser dividida
em duas fases. A primeira fase inicou-se nos anos 1970 e teve uma enfase nos limites bio-
físicos dos recursos e dos eco-sistemas. Aqui também se encaixa o famoso relatório “Limits
to Growth” que é muito citado na literatura sobre desenvolvimento sustentável.12 Mas com o
fim da crise do petróleo nos 80 os limites dos recursos pareciam muito longe de novo. Agora,
a segunda fase do debate começou já nos anos 90 na França e realmente ganhou força a partir
de 2002 com uma serie de publicações, uma conferência titulada “Défaire le développement”
(port. desfazer o desenvolvimento) e a fundação de um instituto em Lyon para decrescimento
sustentável. Essa segunda fase do debate é centrado ao redor da crítica da ideia hegemônica
9 D’Alias et al (2015)
Assim, a literatura sobre decrescimento abraça vários temas e questões que vão muito
além do crescimento económico. Porém, um dos tópicos mais discutidos é o limite de (e para)
o crescimento económico. Aqui, os defensores de decrescimento oferecem vários argumentos
contra o crescimento económico. Hernan Daly, por exemplo, diz que crescimento económico
na verdade não é económico porque as “doenças” que vem junto geralmente crescem mais
rápido que a riqueza. Essa doenças podem ser poluição, engarrafamentos, longas jornadas de
trabalho ou má saúde (tanto psicológico como físico).15 Nesses casos o PIB (produto interno
13D’Alisa et al (2015) oferecem um breve resumo das duas fases.
15Daly (1996)
bruto) ainda pode crescer, o que parece lógico pensando que a construção de uma prisão ou a
limpeza de um rio poluido de fato aumenta a produção e o consumo. Porém, outros
indicadores de bem-estar (por exemplo o “Genuine Progress Indicator”) mostram um
estagnação na maioria dos países desenvolvidos desde a década de 1970. Isso, provocou a
hipótese de que acima de um nível de renda específico, é a igualdade (de renda) e não mais
crescimento o que melhora o bem-estar.16
Outro argumento ligado ao limite de crescimento é que ele também é injusto. Esse
argumento baseia-se muito na teoria da dependência e a divisão entre centro e periferia.
Existe uma asimetria de poder (político, económico e militar) que possibilita uma troca
desigual de recurso ao favor do centro. Hoje em dia isso está ainda mais visível porque as
fronteiras de extração (“commodity frontiers”) encontram-se na maioria das vezes em países
extrativastas da periferia ou regiões indígenas. Assim, o lixo e a poluição ficam em regiões
marginalizadas enquanto a maior parte do lucro vai para o centro (que não nessecariamente é
outro país). Um requerimento integral de crescimento é o processo de “mercadorização”, ou
seja transformar bens, serviços ou até pessoas em mercadoria que pode ser trocada e vendida.
Esse processo erode as dimensões sociais porque muitas relações ou “serviços” – como
relações afetivas, dever público ou conservação da natureza – claramente não seguem a
lógica do lucro pessoal, mas no sistema de expansão económica estão tornando-se cada vez
mais em objetos de mercadoria. O problema é que motivações de lucro podem acabar com
um comportamento altruísta ou moral e portanto o bem-estar social é reduzido.17 Agora, o
fato de ser injusto e não económico poderia ser justamente a razão porque crescimento é visto
como uma coisa desejável, através dele as pessoas no poder beneficiam-se e os
marginalizados (que muitas vezes são quase invisíveis na sociedade) sofrem.
16Wilkinson/Pickett (2009)
17Hirsch (1976)
aumenta a demanda para esses bens, deixando eles mais caros e piorando o ciclo vicioso.18
Ligado à questão da justiça temos que mencionar também os trabalhos na área da economia
feminista. Crescimento económico é subsidiado e sustentado por trabalho invisível dentro das
casas feito praticamente só por mulheres. Esse trabalho tem caráter reprodutivo e está muito
vezes ligado ao cuidado (“care”) do próprio indivíduo ou de outros. Obviamente cuidado
físico e mental é central para o bem-estar humano, porém enormes quantidades de horas
desse trabalho não estão sendo pagas e muitas vezes nem reconhecidas pela sociedade
(machista). Nesse aspecto crescimento económico também discrimina injustamente entre os
gêneros. Picchio demonstra que esse trabalho não pago muito provavelmente excede o
trabalho formal pago.19
Retomando as ideias da literatura das 1970, podemos ver que crescimento económico
geralmente não é sustentável para o meio-ambiente. Vários limites de ecossistemas já foram
ultrapassados e no cenário “business as usual” mais limites serão excedidos. O debate sobre a
capacidade máxima de sustentar vida da terra (“carrying capacity”) está longe de ser
concluído, mas há pouca controvérsia de que existem limites fixos (água doce, terra
cultivável, etc.) da biosfera. Provavelmente existem possibilidades tecnológicas que poderiam
aumentar a eficiência da produção, mas hoje me dia a maioria dos cientistas estima que muito
mais que dez bilhões de pessoas não poderá ser sustentado por muito tempo.20 Além disso
podemos observar uma forte correlação entre o crescimento do PIB e a emissão de carbono, o
que contribui mais para o aquecimento global. O argumento que se ouve muito de defensores
do crescimento é que teoricamente é possível “descarbonizar” a economia com tecnologias
mais limpas e eficientes. Na prática parece quase impossível porque exigiria uma redução da
emissão de carbono muito maior da qual já aconteceu. De fato, é muito difícil destacar algum
país que realmente reduziu sua emissão. Há casos de países onde a intensidade de carbono
(“carbon intensity”) na produção cresceu menos que o PIB em si, mas muitas vezes é
explicado com a terceirização de indústrias sujas (principalmente de países centrais para a
periferia da economia gloabal).21
18Skidelsky/Skidelsky (2015)
19Picchio (2003)
21Lorek (2015)
A questão da eficiência de novas tecnologias deve ser revista muito criticamente
porque historicamente podemos ver que reduções absolutas de energia ou de material
provavelmente não serão atingidas por progresso tecnológico. Isso depende principalmente
do paradoxo de Jevon, também chamado de efeito chicote (“rebound effect”). Primeiro
observado durante a revolução industrial na Inglaterra, esse efeito descreve o caso quando a
quantidade de insumo de energia (ou material, neste caso carvão) por unidade de ferro
diminuiu por causa dos avanços tecnológicos (no caso, da máquina de vapor). Porém, ao
mesmo tempo o consumo total de energia aumentou e a mesma coisa aconteceu com várias
outras tecnologias. Dessas observações deriva a hipótese que avanços tecnológicos que
aumentam a eficiência com qual um recurso está sendo usado geralmente também aumentam
o consumo total desse recurso (em vez de reduzi-lo). Metodologicamente é bastante difícil
medir esse “efeito chicote” exatamente (porque existem vários efeitos indiretos), mas
historicamente permanece muito duvidoso se avanços em eficiência levam a poupanças reais.
Esse efeito chicote é essencial para um decrescimento porque está ligado ao consumo dos
recursos biofísicos – justamente o que deveria ser reduzido.22
23Aqui encaixa-se o debate do „peak oil“ ou seja a discussão de quando acaba o petróleo. Alias, de uma perspectiva
de decrescimento a questão não seria quando ele acaba se não como reduzir e eventualmente terminar com a
dependência da economia de petróleo. O fato de já ter exvaziado uma grande parte dos recursos não-renováveis
enfatiza que nossa civilização está chegando em limites bio-físicos que transformam o decrescimento – ao menos
destes recursos – em realidade.
24Por exemplo, o governo alemão decidiu recentemente transformar a matriz energética do país e passou um lei que
demanda a saída de energias fossis (incluindo energia nuclear) e que incentiva a criação de novas fontes de energia
renovável.
civilização solar (ou qualquer outra energia renovável) não será capaz de sustentar níveis de
consumo de energia aos quais nos acostumamos durante a era do petróleo e do carvão.25
Assim, uma transição para fontes de energias renováveis necessariamente implica um certo
decrescimento. Mas um decrescimento não intencionado poderia ter outras causas como
esgotamento de inovações tecnológicas ou limites na criação de demanda efetiva para o
capital acumulado.26
Dois aspectos que surgem muitas vezes nos textos sobre decrescimento são as
questões da autonomia e da politização da sociedade. Poderia parecer que decrescimento
fosse somente uma tentativa de adaptar-se aos limites discutidos acima, mas na verdade
apresenta-se como um objetivo em si na busca de mais autonomia (ou menos dependência).
Do mesmo jeito os “degrowers” argumentam em favor de uma autolimitação coletiva; não
para evitar ou melhorar os desastres potenciais e atuais, mas simplesmente porque é
concebido como uma vida de boa qualidade. Reduzir a dependência individual e coletiva
implica nesse contexto estabelecer (através de um processo político) limites de produção e
consumo para a sociedade.27 Assim, a autonomia poderia ser aumentada em diferentes
dimensões. Para Illich, por exemplo, a sociedade depende demais de grandes infraestruturas
tecnológicas e de burocracias centralizadas que destinam-se a elas. O uso de combustível
fóssil suporta sistemas tecnológicos muito complexos e esses em troca exigem profissionais
altamente especializados e grandes burocracias para funcionar. E essa organização corre um
grande risco de criar hierarquias desiguais e não democráticas. Ao contrário da autonomia
que exige ferramentas de “convívios” (“convivial”), as quais são compreensíveis e
gestionaveis para os usuários (como uma bicicleta, hortas urbanas ou projetos DIY). Por isso
os “degrowers” são bastante céticos em relação a projetos de alta tecnologia ou de
crescimento verde (“green growth”), os quais reduzem a autonomia dos usuários.28
27D’Alisa et al (2015)
28Illich (1973)
para dinheiro.29 Os degrowers defendem fortemente uma redução da carga horária e propõem
compartilhar empregos como uma estratégica nessa direção – o que também deveria aliviar o
problema do desemprego. Ainda outra dimensão da autonomia é a capacidade política de um
grupo ou uma sociedade de decidir coletivamente seu futuro livre de pressões externas. Isso
inclui também imperativos religioso (“a lei de deus”) ou económicos (“a lei do mercado”)
que em muitas circunstâncias incentivam decisões ideológicas.30 É importante destacar aqui
que esses limites, ou melhor autolimitações, são escolhas sociais e o processo até chegar
nessas decisões é um ato altamente político. Estabelecendo limites para a sociedade também
libera-nos da ideia de escolhas infinitas que o capitalismo promete, mas quase nunca cumpre
(criando mais frustação que qualquer outra coisa). Parece que somente um sistema com
escala reduzida consegue virar verdadeiramente igualitário e democrático porque podem ser
governados pelos próprios usuários.31
Uma das críticas centrais dos degrowers ao desenvolvimento sustentável é que ele cria
um consenso apolítico prometendo soluções técnicas para problemas ecológicos,
desenvolvimento perpétuo e cenários vantajosos para todos (“win-win situations”). Assim, o
conceito mainstream de desenvolvimento evita o dilema central da contemporaneidade –
modernização ou “ecologização”.32 Os defensores de decrescimento argumentam que é
preciso tomar partido (ou seja ser político) e estão fortemente a favor da ecologização. Agora,
ela não significa simplesmente um desenvolvimento mais verde – o que é a promessa do
desenvolvimento sustentável – mas significa imaginar e implantar visões alternativas de
desenvolvimento. Por isso, a política não deveria ser mera tecnocracia porque assim torna-se
apolítica. Do mesmo jeito os degrowers argumentam que a ciência e tecnologia não deveriam
ser (e segundo eles de fato não são) apolíticas. No caso de teorias ou tecnologias
concorrentes, por exemplo, é necessário tomar uma decisão coletiva e política para decidir a
melhor alternativa. O que poderia ajudar nesse processo são novos modelos de produção de
conhecimento mais democráticos, ou seja, uma ciência menos excludente e autoritária.33
29Gorz (1982)
30Castoriadis (1987)
31Scheider et al (2010)
32Latour (1998)
33D’Alisa et al (2010) propoem uma ciência “pós-normal” que implica “comunidades especialistas” em vez de
“comunidades de expecialistas”.
Essa questão está ligada a uma caraterística central das sociedades modernas (tanto
capitalista como socialista) nas quais a decisão de investir grande parte do excedente social é
altamente institucionalizada. Por isso não tem muito debate sobre o destino desse excedente –
ao contrário do que era considerado soberania política em civilizações mais velhas – e ele é
geralmente investido em nova ou mais produção, acelerando o crescimento ainda mais. Os
velhos gregos, por exemplo, decidiram através de um debate público (ao menos para quem
era considerado cidadão) de investir partes do excedente social em gasto “esbanjadores”
como a construção de templos ou festas como as olimpíadas porque eram expressões da vida
boa. Na modernidade, a pergunta sobre o que é uma vida boa foi apolitizado e reduzido ao
nível do indivíduo e ele ou ela tem direito a mobilizar todos os recursos possíveis para atingir
essa vida. Essa ideia, que o indivíduo é unicamente responsável para decidir o que constitui
uma vida desejável, deixa a esfera autenticamente política (a esfera coletiva) subordinada à
esfera individual. Esses processos de despolítização do debate público não limitam-se ao
desenvolvimento, são parte de uma tendência geral nas democracias liberais onde a política é
reduzida a soluções tecnocratas e onde raramente existe uma verdadeira luta política sobre
visões alternativas. E além disso, num contexto onde uma riqueza monetária e material é
considerada uma vida boa, ela está exigindo cada vez mais crescimento econômico – até todo
mundo compar um Ferrari e um iate – e, obviamente, não ia parar com esses bens.34
34D’Alisa et al (2015)
35Hobsbawm (2011)
liberal. Tanto o fascismo europeu depois da Grande Depressão como o comunismo na Rússia
um pouco antes são exemplos históricos nas quais a falta de crescimento desestabilizou o
sistema político e até o próprio capitalismo. Porque crescimento consegue evitar conflitos
distributivos, ele sustenta o capitalismo politicamente.36
Como poderíamos imaginar então uma transição a uma sociedade de convivência que
incentiva uma vida simples (ou seja com menos insumos materiais) e uma vida em
comunidade? Tanto na literatura como na prática já existem diversas ideias e projetos sobre
práticas e instituições quais poderiam facilitar tão transição. Uma delas são os movimentos
populares (“grassroots movement”) como eco-comunidades, cooperativas, hortas urbanas,
moedas locais ou bancos de tempo. Todos eles compartilham caraterísticas ligadas ao
decrescimento como, por exemplo, atividades voluntárias (em vez de trabalho pago) que
criam uma dinâmica de menos mercadorias e menos profissionalização (“de-
professionalization”). Essas práticas também enfatizam uma produção para o próprio uso em
vez de uma produção para troca e não exigem uma dinâmica de acumulação e expansão. Tais
práticas geralmente também são resultados de processos de “commoning” ou seja elas não só
36Harvey (2010)
37Blauwhof (2012)
38D’Alisa et al (2015)
baseiam-se em atividades e esforços coletivos, mas as relações e conexões que criam tem um
valor intrínseco para os participantes. Esses exemplos oferecem a um lado uma produção
menos dependente de material e combustíveis fósseis, e ao outro lado pode ser uma fonte de
inovação dos serviços públicos (em vez de privatizar).39
Outra área que promete muito potencial de decrescimento são as instituições de bem-
estar. Elas incluem, por exemplo, conceitos como garantia de trabalho, renda básica e
incondicional ou compartilhamento de emprego (“worksharing”). Um dos objetivos dessas
instituições é lidar com o desemprego, o qual necessariamente aumentará na transição por
causa da falta de crescimento. O estado poderia cria uma garantia de trabalho que daria um
emprego para todas pessoas adequadamente qualificadas e com vontade de trabalhar,
resolvendo a situação do desemprego involuntário e estrutural das sociedades capitalistas. Os
empregos garantidos deveriam ser estabelecidos principalmente nas áreas sociais (saúde,
educação, cuidado, etc.) ou ecológicas que muitas vezes recebem pouca atenção do mercado
porque não prometem muitos lucros. Desse jeito também poderia ajudar na transição das
existentes formas destrutivas de produção para um sistema de trabalho que mira a atingir
metas sociais ou ecológicas. E, comparado com a ideia da renda básica, não cria nenhum
estigma social porque exige trabalho em troca para a renda.40
Agora, isso não quer dizer que a ideia da renda básica seja sem méritos. Essa
instituição – tanto como a ideia de uma renda máxima – tem como foco a erradicação da
pobreza e da desigualdade.41 A maioria dos conceitos de renda básica sugere uma renda
incondicional e garantido pelo estado. Como no caso da garantia de trabalho os benefícios de
tais propostas vão muito além de aliviar a pobreza – situação permanente que até hoje nem
nos estados de bem-estar foi resolvida. Ela tiraria a insegurança económica das pessoas e
daria mais poder aos empregados para negociar condições decentes de trabalho, reduzindo
assim a exploração e aumentando a autonomia e liberdade. Outro efeito seria o
reconhecimento do valor de trabalhos não pagos e outras contribuições sociais, assumindo
que uma parte das pessoas utiliza a nova liberdade para atividades socialmente desejáveis na
comunidade. Os argumentos contra uma renda básica são geralmente a questão dos “free-
39Conill et al (2012)
41Aqui tem que considerar que o capital hoje em dia é certamente global e bastante flexível. Por isso, medidas como
a renda básica e ainda mais uma renda máxima só conseguiriam seu pleno potencial se fosse implementados ao nível
internacional.
rider” e a questão de financiamento. A primeira baseia-se numa imagem do ser humano
bastante pessimista (“ninguém mais será produtivo”) e a segunda parece depender muito mais
da vontade política do que de falta de dinheiro. Um jeito de financiar tal renda seria com uma
política complementar de renda máxima a qual poderia ser feita com uma taxa de imposto de
renda progressiva que chega a 100% em certo nível de renda. Uma renda máxima seria um
passo enorme em direção a menos desigualdade na sociedade e poderia reduzir assim a
corrosão e alienação social.42
45Jackson/Dyson (2013)
por motivações de lucro e crescimento e estaria onde realmente pertence: no controle público
e democrático.46
Mas o que acontece com as dívidas enormes que já existem hoje em dia? Temos
exemplos do Egito ou da Mesopotâmia onde o endividamento era usado pelas elites para
controlar a hierarquia social. Nessas sociedades antigas houve várias revoltas contra dívidas
injustas e também houve uma tradição de cancelamento institucionalizado de dívidas. No
presente não existem mais tantas formas de escravidão, mas a dívida ainda cumpre um papel
importante para o controle até de países inteiros. Aqui observe-se também o poder de
instituições financeiras internacionais como o FMI ou o banco mundial, as quais foram
estabelecidas justamente para promover o desenvolvimento na forma de crescimento.47 Esse
aumento vertiginoso de empréstimos e dívidas não corresponde a esfera da economia real
com limites de energia, de material e de reprodução (tanto humano como não-humano).
Crescimento é muitas vezes legitimado e considerado necessário por causa das dívidas,
quando na verdade nosso sistema financeiro global na busca de lucros (não raramente com a
ajuda dos governos) cria dívidas para sustentar uma taxa de crescimento não sustentável.
Nesse contexto, o conceito de auditorias de dívida com forte participação democrática dos
cidadãos seria uma estratégia para avaliar se uma dívida originou baixo circunstâncias
injustas (por exemplo no caso de abuso de poder ou pressão militar) e, portanto, é ilegítima.
Tais auditorias certamente seriam um avanço na direção de mais transparência e tal vez de até
mesmo mais responsabilidade no sistema financeiro.48
46Mellor (2010)
47Toussaint (2012)
48Ramos (2006)
aceitasse tais mudanças sem resistência. Como a clase dominante é muito bem organizada e
também controla o poder político, poderíamos perguntar-nos também quais seriam as as
possiblidade de sobreviência se o capitalismo continuar?
A autora Anna Lowenhaupt Tsing discute esse assunto de uma maneira muito criativa
no seu livro recentemente publicado “O cogumelo no fim do mundo”. 49 Nos seguintes
parágrafos vamos tentar sintetizar os pensamentos centrais desse livro e inserí-lo na discussão
anterior do descrescimento. O cogumelo do qual a autora fala é o Matsutake, uma espécie
japonesa que é rara, e por isso também cara, no mercado. Segundo a lenda, o Matsutake foi o
primeiro sinal de vida que ressuscitou na cinzas de Hiroshima depois da bomba atómica.
Ainda mais, o Matsutake expandiu seu habitat – por causa de interferências humanas na
natureza como Lowenhaupt Tsing argumenta – e surgiu em outros lugares fora do Japão. A
autora usa o Matsutake, as pessoas que o procuram por o valor económico e toda a cadeia
complexa de “commodity” dele derivada para refletir sobre o capitalismo, interação humana
com não humanos e a ecologia.
Lowenhaupt Tsing começa seu livro com uma forte crítica da filosofia ocidental (ao
menos o “mainstream”) a qual desde o iluminismo considera a natureza como uma coisa
passiva e mecánica que simplesmente forma um recurso para a intencionalidade moral do
homem. As tentativas de dominar e explorar a natureza que se baseam nessa filosofia
resultaram em tanta destruição e caos que a sobrevivência de vida na terra não é garantida.
Também deixou claro que existem emaranhamentos entre múltiplas espécies (o que ela
chama de “interspecies entanglement”) – uma ideia que há pouco era considerada material
para conto de fadas – que mostram que o homen não pode sobreviver sem outras espécies. As
ideia do homem ser o mestre sobre a natureza de fato o separou dela e ajudou na criação de
um ideal que é uma masculinidade, cristã e branca. Pior ainda, existe hoje em dia uma vasta
multidão de homens e mulheres no mundo inteiro que querem ser incluidos nesse status ideal,
assim reforçando as dinâmicas que destruem nossa base de vida.
Desde a segunda guerra mundial e a época pós-guerra ficaram claras duas coisas.
Primeiro, o caso de Hiroshima (e Nagasaki) estableceu a consciência de que nós temos a
capacidade de literalmente acabar com a vida em nosso planeta. E segundo, que a máquina
global de desenvolvimento (impulsionada pelas promesas de modernização) deixou
práticamente nenhum lugar intocado. Esse desenvolvimento nos levou a uma situação na qual
todos dependem do sistema capitalista mas quase ninguém tem o que é considerado um
trabalho regular. A autora sugere não simplesmente criticar o que (e quem) nos deixou nesse
mundo precário – algo que também pode e deve ser feito – mas sim aprender com o
Matsutake e explorar as ruinas de nosso lar coletivo. Deste jeito poderíamos descobrir
possiblidades de coexistência com transtornos ecológicas e sociais, o que não quer dizer que
não podemos rejeitar e criticar qualquer dano adicional ou futuro.
Essa ideia de progresso nos controla até nas próprias ruinas onde ela nos levou, como
mostra a história da corrida de madeira no Oregon nos Estados Unidos. No começo do século
19 surtou a demanda para madeira no litoral pacífico – as ferrovias prometendo progresso – e
as florestas virgens e os nativos (1ª natureza) de Oregon foram em grande parte desmatadas.
Essa transformação capitalista (na qual natureza vira mercadoria) deixou vastas áreas
degradadas (2ª natureza), mas ao mesmo tempo possibilitou a expansão do Matsutake nessa
região. Antes as florestas era densas demais para o cogumelo e só a interferência humana
abriu o espaço para essa espécie que floresce particularmente bem em conjunto com as novas
coníferas (neste caso o “lodgepole pine”) e podia crescer quando as espécies originais foram
desmatadas. Essa 3ª natureza com o Matsutake atraiu os catadores de cogumelo, mas
geralmente essa última natureza (que hoje em dia constitue grande parte do planeta) está
sendo ignorada (ou nem percebida com natureza) porque ela parece-se muito com a
precaridade.
Agora, o que seriam elementos de planejamento (urbano) que nos colocam numa
direção de decrescimento e como nos podemos preparar (através de planejamento) para um
mundo pós-crescimento? Em primeiro lugar é importante considerar a ideia de que a era de
crescimento que se inicou com a revolução industrial foi uma fase excepcional e não a regra.
Historicamente nunca houve um crescimento económico material antes do homem começar
usar os recursos não renováveis, como petróleo ou carvão junto com uma exploração exessiva
dos eco-sistemas e da própria terra. Além disso, há exemplos como os países da antiga União
Sovética que monstram claramente que um decrescimento não-controlado (ou seja, não
intencionalmente planejado) leva consigo uma série de novos problemas. Nesse contexto
parece muito mais razoável tentar planejar (ou ao menos guiar) os processos de
decrescimento em vez de deixar eles acontecerem descontroladamente. Tais políticas de
decrescimento (ou pós-crescimento) – algumas delas praticamente utópicas como quebrar o
poder dos bancos – não são independentes da política atual. Isto porque se não conseguirmos
estabelecer algumas pré-condições centrais, existe um risco real de chegar globalmente num
estado como Detroit ou inúmeras cidades no interior russo. Nessas paisagens de
decrescimento descontrolado os pobres e mais vuneráveis vivem precariamente em muitos
sentidos enquanto os poderosos e ricos estão protegidos e cada vez mais separados do resto
da sociedade nos condomínios fechados.51
O trabalho de Anne Lowenhaupt Tsing traz alguns aspectos importantes para essa
discussão do decrescimento e para nossa percepção da realidade (ou das cidades em
particular). O argumento central dela é que deveríamos despedir-nos das nossa convenções
(sobre tudo a ideia de progresso e avanço) e abrir nosso olhar para formas “precárias” de co-
existência emaranhadas. Pensando isso na cidade, traz uma multidão de novas perguntas e
possibilidades! Que, por exemplo, podemos aprender da vida e das histórias das vidas
marginais e excluidas da cidade que muitas vezes são tão pouco visíveis como a maior parte
do “fungi”, o “mycelium”, que está embaixo da terra. Se pudermos incluir essas histórias em
nosso conhecimento, certamente isto traria novas ideias e possibilidades de covivência e
sobrevivência.
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New York/London: Routeledge Taylor & Francis Group
Wilson, Edward (2003): The Future of Life, New York: Vintage Books – A division of
Random House Inc.
O FESTIVAL FOLCLÓRICO DE PARINTINS: CONSIDERAÇÕES
RELACIONADAS AOS ASPECTOS ECONOMICOS-AMBIENTAIS
DECORRENTES DO EVENTO
ABSTRACT
The folklore festival in Parintins has importance in the Amazonian cultural scene and
each year arouses greater interest on the part of Brazil and the world. The Festival ended
up being received as the main representative of local culture and tourism, bringing
various socioeconomic and cultural benefits. Benefits such as investment in
infrastructure due to the Festival, construction of a cultural identity of the citizen of
Parintinense and appreciation of the culture and artists of Parintins. However, despite so
many benefits, some environmental problems have arisen, which do not go unnoticed by
the population, problems and impacts that were described in this research. And impacts
and problems mainly as the large production of solid waste. This and other positive and
negative impacts will be addressed at work.
1
Formanda em Direito pela UNINORTE Laureate: liliam.leal24@gmail.com
2
Mestre em Direito Ambiental (UEA): luizcpcosta@hotmail.com
3
Mestre em Desenvolvimento Regional (UFAM): bialegre@ig.com.br
4
Mestre em Ciências Jurídicas, Professora da UEA: mcferst@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
A preparação para o Festival inicia-se pelo menos dois meses antes da sua
realização, geralmente entre março e maio. Há a gravação e lançamento dos cds e
dvds de cada boi-bumbá, há a realização dos ensaios nos currais dos bois, a confecção
das alegorias está a todo vapor, os ingressos já estão sendo comercializados; então,
pode-se dizer que Parintins já vive o clima de Festival, muito antes do seu início. Na
verdade, muitos já se consideram no próprio Festival, principalmente aqueles que
estão plenamente envolvidos em sua preparação.
Todo o processo que se inicia com os primeiros ensaios e construção de
alegorias, até o fim do espetáculo no bumbódromo gera impacto ambiental em
Parintins. Apresenta-se os impactos ambientais que mais lhes causam preocupação
ou os que mais lhes chamam a atenção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
3) discurso ambiental.
REFERÊNCIAS
Resumo: O artigo tem como objetivo compreender como ocorre o processo de reciclagem
1
Acadêmico do curso de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA.
Pesquisador do Projeto ANÁLISE DA DINÂMICA DE DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
DOMÉSTICOS EM SANTARÉM – PA (PIBEX). carloshenrique.dom@hotmail.com
2
Acadêmica do curso de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA.
Pesquisadora do Projeto ANÁLISE DA DINÂMICA DE DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
DOMÉSTICOS EM SANTARÉM – PA (PIBEX). elencarinaduarte@gmail.com
3
Acadêmica do curso de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA.
Pesquisadora do Projeto ANÁLISE DA DINÂMICA DE DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
DOMÉSTICOS EM SANTARÉM – PA (PIBEX). elisa.oliveira20@yahoo.com.br
4
Acadêmico do curso de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA.
Pesquisador do Projeto ANÁLISE DA DINÂMICA DE DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
DOMÉSTICOS EM SANTARÉM – PA (PIBEX). hugobryto@gmail.com
5
Economista, Mestre em Gestão do Meio Ambiente pelo Laboratório de Tecnologia e Gestão de Negócios da
Universidade Federal Fluminense - LATEC-UFF e Doutoranda do Programa de Pós-graduação em
Sociedade, Natureza e Desenvolvimento da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA. Coordenadora
do Projeto de Pesquisa ANÁLISE DA DINÂMICA DE DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
DOMÉSTICOS EM SANTARÉM – PA. cicitaadad@gmail.com
plástico e sem perspectivas imediatas para outros produtos. Percebe-se que muitos são os
entraves ainda existentes nas relações entre os atores que possuem responsabilidade
compartilhada pela reciclagem dos resíduos sólidos. Há uma crescente desarticulação nas
Introdução
número de iniciativas que visam dar uma destinação adequada aos resíduos, conforme
demonstra Steiner (2010, p.1) “A disposição no meio ambiente, de resíduos resultantes das
atividades humanas, pode originar sérios problemas ambientais [...] e um maior consumo
PNRS (Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010), que destaca, entre outras determinações, a
8º, como a criação dos Planos Municipais e Estaduais de Resíduos Sólidos; a implantação
geram.
mercado de resíduos sólidos por esses agentes no município de Santarém – PA, além de
COOPRESAN.
Ressalta-se a relevância desta pesquisa ao observar que muitos trabalhos têm como
com as empresas responsáveis por absorver a matéria prima reciclável e que possuem um
papel fundamental neste processo. As questões que nortearam o andamento desta pesquisa
foram as seguintes: Qual o interesse das empresas em assumir responsabilidades por parte
do ciclo de vida dos resíduos? Quais as vantagens e dificuldades que essas empresas
Metodologia
A pesquisa teve caráter descritivo, que como mostra Triviños (1987, apud
esse tipo de pesquisa “tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
pois para Fonseca (2002, p. 33 apud GERHARDT e SILVEIRA 2009), o estudo de caso
supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial
e característico”.
seguida pelo número de identificação (1 – 4). Apenas uma indústria local não participou da
coleta de dados em função de que, sendo procurada pelas pesquisadoras, não viabilizou o
contato para aplicação das entrevistas. Esta indústria produz mangueiras a partir do
plástico reciclável.
No que se refere ao conteúdo das entrevistas, foram destacadas questões sobre a
dificuldades na produção.
Resultados e Discussão
coleta seletiva”, portanto, toda a cadeia de eventos que envolve a eficiência na reciclagem
dos resíduos, tem sua trajetória efetivada no momento em que chega à empresa. Por outro
algumas regiões. No Distrito Federal, por exemplo, como demonstra Almeida e Zaneti
brasileiros, o fato de que muitas empresas fazem apenas uma etapa do processo que levará
à reciclagem. Estas são conhecidas como empresas intermediárias, que estão no meio da
relação existente entre cooperativas e indústrias de reciclagem. Muitas vezes, essas
local não supre as necessidades de demanda para a reciclagem dos resíduos. Cria-se,
portanto, um círculo vicioso, em que as indústrias recicladoras locais não produzem por
escassez no fornecimento de matéria prima por parte dos intermediários e estes escoam
para fora do mercado local a matéria prima que dispõem por não haver indústrias locais
que a absorvam.
Demajorovic et al (2014, p. 518) mostram que “as empresas conhecem muito pouco
a realidade dos catadores, limitando suas poucas interações nas cooperativas às ações
destacam a desarticulação que há entre esses dois entes, devido à falta de conhecimento e
interação entre eles, que prejudica a oportunidade de melhoria na gestão dos resíduos.
ditam as regras, definem tecnologias e são beneficiadas pelo sistema jurídico e legal,
serviços”. Percebe-se, neste momento, que os autores se referem a uma estrutura na qual as
al, 2014), e os empresários preferem comerciar com intermediários que realizam algum
processo de segregação e limpeza mais amplo, o que lhes soa mais lucrativo. Infelizmente,
cada vez mais estes atores tendem a pensar em benefício próprio, de maneira desarticulada
com os outros.
Como mostra Conceição (2003), dificuldades econômicas e falta de gestão podem
ser presentes nas realidades das cooperativas. Isso faz com que elas apenas separem e
períodos (de crise econômica), “as empresas optam pela compra de matérias-primas
2014):
A assimetria a que o autor se refere está presente na centralidade das ações realizadas
por estes entes. A cooperativa, na maior parte das vezes, é a que mais possui dificuldade
empresas pode criar um incentivo para o avanço da reciclagem no País”. Porém, cada um
entre os outros.
de ações educativas (...) são alguns dos elementos centrais para uma gestão integrada,
mercado de reciclagem há quatro anos. Trabalhar com a reciclagem foi uma necessidade
mais utilizado.
altos. Além disso, ele cita que o Governo não ajuda com incentivos fiscais às empresas que
trabalham com matérias primas recicladas. Ele relata ainda que, economicamente, não
consegue manter-se gerando somente produtos de matéria reciclável. Por este motivo
trabalha também com material virgem, que, para ele, oferece um grande diferencial no
aditivos e estrutura química diferenciada, havendo um mercado específico para cada um.
Vale ressaltar também que nesta empresa o proprietário faz a compra de pré-forma
de PET - matéria virgem, para produção de garrafas, uma vez que são enfardados pelos
catadores e enviados para outros estados, já que no município e na região não se recicla
PET‟s. Todo material reciclado é comprado por um preço mais baixo, em função de sua
Entre os principais tipos de plástico estão o PET; PE; em menor quantidade está o PP. A
proveniência deles está associada à COOPRESAN e a outros locais pela cidade onde são
qualidade dos resíduos comprados até a própria concorrência com outras empresas pela
empresas recicladoras e essa empresa distribuidora, fato que, segundo o proprietário, está
relacionado à pouca capacidade que estas empresas têm de absorver a demanda do material
incentivo local da prefeitura, falta de capital de giro que dê suporte para expansão da
fatores, está também a queda nos preços de alguns materiais, a exemplo do PET, e o
problema da logística de transporte na região, que torna inviável a busca por alguns
resíduos.
A destinação é feita para mercados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia.
que levou o proprietário a trabalhar com reciclagem foi a logística, pois o mesmo também
anos. Desta forma, utiliza a estratégia de transportar, no mesmo veículo, o resíduo plástico
proprietário ressalta que para dar melhor qualidade ao produto disponibilizado pelos
sua empresa em relação ao resíduo comprado da cooperativa, pois o mesmo relata que toda
Quanto ao mercado em que disponibiliza seu produto, boa parte dos resíduos hoje é
destinado a Anápolis - GO, uma vez que seu objetivo principal é gerar alguma receita no
retorno de seus caminhões para Goiânia quando vai reabastecer sua empresa de
mercado local. O empresário ainda cita que, outra grande dificuldade encontrada é o preço
de papelão. No entanto, o mesmo não possui estrutura para a dispersão do produto, sendo
Ele considera que „com a queda dos preços tudo está difícil, mas a reciclagem
continua sendo viável, pois todo investimento realizado na empresa é feito com o dinheiro
gerado a partir dos resíduos ali coletados. Porém, com a crise, as indústrias de maior porte
estão paradas e isso dificulta toda a distribuição do PET, por exemplo, para fora do estado
do Pará‟.
município. 70% (setenta por cento) do material coletado tem destinação para Curitiba, São
destinação para as empresas que fazem a transformação do plástico, sendo o mais utilizado
o PEAD.
aos concorrentes está no fato de que seu material é coletado separadamente do lixo
orgânico e também sem contato com o aterro da cidade. Todo material disponibilizado pela
apoio do poder público; a logística para a escoação do material, devido a estrada não
que concerne à pesquisa documental, pois há escassez de informações quanto à questão dos
conseguir entrevista com outra importante indústria na região, que faz a reciclagem e
Percebe-se que muitos são os entraves ainda existentes nas relações entre os atores
uma crescente desarticulação presente nas ações entre governo, cooperativa e empresas, a
qual se caracteriza por uma falta de apoio, incentivo e, até mesmo, fomento para estes dois
reciclagem. Os resíduos que saem da cooperativa não sofrem nenhum tipo de limpeza,
indústrias recicladoras locais não produzem pelo pouco fornecimento das intermediárias, e
essas enviam a matéria prima para outros estados pela falta de indústrias.
Algumas das empresas realizam ações sociais com a comunidade, o que é muito
mobilização que é exercida pela empresa E4. Observou-se que a empresa E3 atua mais
foram conhecidas, essas serão analisadas mais profundamente na próxima pesquisa, visto
RESUMO
O debate sobre a sustentabilidade trouxe a conscientização acerca das agressões ambientais
e alguns consumidores passaram a requerer produtos naturais cujo uso e exploração
provoque mínimos impactos, tornando-se um nicho de mercado para estes produtos. A
Amazônia desponta como estoque dessas novas fontes de matérias-primas, assim as
empresas passaram a buscar seus fornecedores nas comunidades rurais desta região.
Partindo deste cenário, o objetivo deste trabalho foi o de analisar a inserção das famílias
agricultoras de uma localidade denominada regionalmente de comunidade de Santo
Antônio do Abonari, na dinâmica produtiva do óleo de buriti para atendimento a empresas
do Pólo Industrial de Manaus e, as consequências sociais, econômicas e ambientais daí
decorrentes. Pôde-se perceber que o relacionamento da Associação com as empresas
compradoras de óleo de buriti, atuantes no mercado, foram extremamente desfavoráveis,
quanto à negociação com empresas compradoras e cumprimento de acordos comerciais.
Verificou-se que a inclusão de uma comunidade de agricultores familiares na economia
global precisa ser planejada. A forma como esses agricultores familiares relacionam-se
com o ambiente é a garantia da sustentabilidade de suas práticas produtivas e dessa forma,
é garantida a conservação de todos os elementos, materiais e culturais, envolvidos no
processo.
Palavras-Chave: Buriti; Extrativismo; Sustentabilidade.
ABSTRACT
The debate on sustainability has brought awareness about the environmental aggressions
and some consumers now require natural products whose use and exploitation causes
minimal impacts, making it a market niche for these products. The Amazon is emerging as
repository of these new sources of raw materials and the companies look the rural
communities as their suppliers. The objective of this study was to analyze the integration of
the farming families of a place called regionally Santo Antonio do Abonari community in
the productive dynamics of buriti oil for the corporate segment of the Industrial Pole of
Manaus, and the social, economic and environmental consequences thereof arising. The
Association's relationship with the buriti oil purchasing companies, active in the market
were extremely unfavorable not only in relation to compliance with the requirements for
standards of quality, quantity and deadlines. It was found that the inclusion of a
community of family farmers in the global economy needs to be planned. So how these
farmers are related to the environment ensures the sustainability of their production
practices and thus conservation is guaranteed of all the elements, materials and cultural
involved.
Key Words: Family Farming; Pluriactivity; Sustainability.
INTRODUÇÃO
internacionais e ao debate científico sobre o assunto. Drucker (1989) coloca que o século
humano. Esta tarefa gerou inúmeras modificações nas relações e processos industriais
resgatando valores como a inclusão de populações rurais e extrativistas como elos iniciais
mundial que fizeram emergir a questão ambiental. Segundo Sachs (2002) a partir deste
do chamado capital da natureza e dos perigos decorrentes das agressões ao meio ambiente,
perceberam que a utilização de produtos naturais e/ou orgânicos são melhores para sua
Com o aumento deste público novas indústrias e empresas surgiram com o intuito
nutracêuticos.
dos demais consumidores pela preferência por este tipo de produtos, disponibilizando-se a
pagar um preço superior por um produto que atenda a estes critérios. A APEX-Brasil
(2008) considera que o consumidor ecológico está disposto a pagar até 15% a mais por um
cosmético natural e cita ainda que o faturamento da empresa Natura foi o mais espetacular,
crescendo 600% nos últimos oito anos e que a empresa Boticário, em cinco anos,
química.
internacional de uso dos óleos vegetais e essenciais. Segundo a Abihpec (2008), existem
impostos acima dos R$ 100 milhões, representam 72,8% do faturamento total. Destaca,
ainda, que a Natura faturou R$ 2,5 bilhões, sendo 10% oriundos da linha Ekos que
sua composição, com o intuito não apenas de melhoria dos produtos, mas principalmente
preocupado com o uso excessivo de produtos químicos pela sociedade industrial, sendo
seguidas pelas grandes marcas que desenvolveram linhas especificas, a partir do sucesso
das primeiras. O GENAMAZ (2012) coloca que as principais empresas de médio e grande
porte que se especializaram na venda de cosméticos com base natural como a Yves Rocher
(francesa), The Body Shop (inglesa), Biotherm (francesa). Outras empresas de cosméticos
tais como a L’Oreal, Esther Laudel, Clinique mantiveram sua produção de cosméticos com
princípio ativo sintetizado, abrindo linhas específicas de produtos com base natural para
A demanda, por esse tipo de produto, cresceu à medida que o público em geral
percebeu a qualidade dos produtos e esta mudança provocou um movimento das indústrias
orgânicos está crescendo no mundo. Grandes players, como L’Oreal (França), L’Occitanne
(França), Lush (Reino Unido) e Aveda (USA), para citar alguns, estão dando passos
concretos nessa direção e lançando novos produtos. Cita ainda que a L’Oreal comprou a
The Body Shop inglesa e a Sanaflore francesa, ou seja, pequenas empresas especializadas
maioria dos casos não dispõem de capacitação para a oferta do produto final e por isso tem
uma posição desfavorável. Este cenário é confirmado pelo GENAMAZ (2012) ao relatar
populações tradicionais
cosmética é praticamente ilimitado, e que a cada dia novas espécies são registradas,
relação ao seu potencial e destaca que a sustentabilidade desta atividade vincula-se muito
regional.
de fitoterápicos e cosméticos.
das comunidades amazônicas como Santo Antonio do Abonari vendem seus produtos para
bruto e vendem o produto com uma qualidade superior a indústrias de médio e grande
uma vez que a atividade extrativa ao integrar-se a cadeias produtivas de grandes indústrias
entanto, esta realidade ainda é pouco estudada e baseia-se em discurso político, dos
industriários e do marketing utilizado por estas empresas. Miguel (2007) destaca que no
que se refere à Amazônia tem-se que analisar de que forma esta atividade contribui com o
desenvolvimento em bases sustentáveis. Tem-se que avaliar se estes modelos são capazes
não consegue atender a demanda crescente do mercado como aconteceu com o pau-rosa, a
estoque natural for suficiente. Ignorar isto seria negligenciar as evidências históricas
mais por um produto oriundo de bases sustentáveis, desde que esta seja garantida pela
conservação ambiental e o retorno social para os fornecedores de matéria prima, neste caso
os agricultores familiares.
1996). As indústrias precisaram adequar-se e passaram a ter seus ciclos produtivos ligados
tempo certo e uma zona climática específica para serem colhidas e, posteriormente
beneficiadas, logo as indústrias não podem interferir ou manipular este processo natural.
Para esse processo de mudança, a cultura empresarial deverá estar aberta a incluir
novos processos produtivos e valores internos. Para Miller (1998) deve-se estar
como fornecedor de matéria-prima para uma cadeia produtiva que atende a uma demanda
exigente em diferentes pontos do planeta. Leff (2011) ressalta que o saber local das
comunidades é onde se funde a consciência do seu meio, o saber sobre propriedades e as
inserção destas atividades não pode quebrar este relacionamento com o meio, esse
processo deve interagir com estas populações de forma a criar práticas que sejam
naturalmente adaptadas a suas rotinas, não deve ser imposto, mas incorporado ao dia a dia
destas comunidades.
produto endógeno, uma vez que é nativo da região amazônica, nasce de forma espontânea
em áreas alagadiças na floresta e em seu entorno. Os produtos extraídos desta planta são
deve ser considerada com cautela e políticas públicas devem ser aplicadas para garantir o
vez que quando esta atividade ocorre livremente tende ao esgotamento dos recursos.
Almeida at al. (2004) considera que espécies que costumam ser caçadas ou colhidas por
questão. Sachs (2002) coloca que uma boa combinação de recursos ambientais abundantes
industrial.
atratividade dos produtos, mas precisa lidar com empresas de grande porte, que atendem a
um público exigente e diferenciado. Ele é o elo inicial de uma cadeia produtiva e isso
modifica toda a sua experiência e vivência, ligando o mundo rural ao urbano, misturando
2. METODOLOGIA DA PESQUISA
três pilares básicos que são o social, o econômico e o ambiental. Portanto, em um estudo
sobre questões permeadas por essa temática, deve utilizar ferramentas que sejam capazes
de capturar observações sob estas três óticas nas fases distintas da pesquisa como
holístico dentro da realidade em que se insere. Yin (2010) coloca o estudo de caso como
de pesquisa foram livros, teses, dissertações, revistas indexadas, artigos científicos, entre
sentido, Minayo (2006) coloca que qualquer investigação social deveria contemplar o
aspecto qualitativo, uma vez que o objeto das ciências sociais, o sujeito do estudo é
3. RESULTADO E DISCUSSÕES
A Comunidade Santo Antônio do Abonari, em Presidente Figueiredo – AM, a
Abonari caracteriza-se como uma área de produção rural com tamanhos que variam de 25
Figueiredo. No entanto, este fruto tradicionalmente tinha como destino principal consumo
trabalhava com a venda do buriti, quando comercializava em média de 1.000 (mil) sacas de
em busca de uma localidade onde a produção de buriti fosse abundante para suprir sua
demanda por óleo de buriti e atender a clientes produtores de cosméticos. Durante visita à
para o fornecimento de polpa seca, um processo artesanal muito simples que rapidamente
foi assimilado pela comunidade. Nos anos de 2002 e 2003, o processo consistia na
colheita dos frutos, retirada da polpa e secagem ao sol em lonas. No terceiro ano em 2004,
o processo produtivo teve um incremento, passou-se a exigir que a polpa seca fosse
auxiliando em sua execução do mesmo. Em 2005, foi necessário montar uma estrutura que
R$ 82.000,00 (oitenta e dois mil reais) a fundo perdido, que foram utilizados para a compra
SmartWood.
substituída pela de óleo de buriti. Nesta fase, embora inicialmente, tenha havido um grande
a empresa C tenha acompanhado todo o processo, muitos aspectos foram ignorados. Este
conhecimento das dinâmicas industriais e não estavam preparados para o contato com o
diretor da empresa, levou uma química para analisar o óleo produzido, o que causou
surpresa aos comunitários. A mesma constatou uma acidez de 22% no produto, levando a
empresa à desistência da compra, uma vez que a acidez máxima aceita pela empresa seria
de 10%.
produtivo. Esta atitude causou espanto e indignação na comunidade que não aceitou este
quanto a prazo e qualidade. Devem também, estarem amparados por contratos justos de
públicos para recuperação de parte do trabalho aplicado e para garantir que recebimento do
valor prometido fosse pago pela empresa. O restante a ser recebido foi doado pela
Prefeitura Municipal para pagamento das despesas realizadas durante a produção. Após
mercado comprador, fornecendo inclusive aporte financeiro para o capital de giro inicial,
no montante de R$ 20.000,00.
soma foi de 663 quilogramas de óleo com uma acidez de 4,41%. Isso demonstra que a
acompanhamento está apta a produzir o óleo com a qualidade necessária. Toda a produção
foi vendida, o empréstimo de R$ 5.000,00 ao professor foi pago e o saldo líquido foi
os valores aferidos com a venda seriam suficientes para cobrir os custos de produção e a
quitação do empréstimo.
Na safra de 2012, o óleo de buriti foi vendido para uma empresa sediada no estado
do Pará, este foi enviado pelo porto de Manaus e o montante total auferido pela Associação
comunicação, os associados afirmam que a empresa agiu de má fé, pois quando recebeu a
Com isto, pode-se verificar mais uma vez as fragilidades da Associação frente a
em falta de recursos disponíveis para prosseguir com as atividades. Mais uma vez, as
otimização dos resultados financeiros, e fora dos padrões éticos, pois quebraram acordos
de cobrança por parte dos agricultores fornecedores para adiar pagamentos e a beneficiar-
se indevidamente da situação.
Figura 03: Sustentabilidade ambiental, econômica e social da produção de óleo de buriti pela Associação
ABORITI.
Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Para se avaliar a sustentabilidade de determinada atividade não basta
manter e reproduzir de forma contínua e equilibrada ao longo tempo, estes aspectos quanto
na Figura 03.
coleta dos associados, frente à quantidade de buritis da região é muito pequena, não
Santo Antônio de Abonari para fins comerciais foram observados entraves na produção,
associação dependente de terceiros que vivem fora da comunidade para negociar a sua
produção.
profissional mínima nestes casos não aconteceu como deveria, por falta de oferta de cursos
olhar superficial pode ser considerada como uma vocação regional, como fator de
os dias atuais. Ao contrário do que ocorria com a indústria de cosméticos, visto que esta se
um anseio ou necessidade desta população, mas veio para atender a uma necessidade de
natureza e com o discurso de melhoria de vida das populações que foi aplicado neste caso,
mas não se buscou entender a necessidade destas pessoas, não se pensou nos impactos que
teria sobre suas vidas ou de buscar-se por formas que pudessem oferecer um benefício
permanente e sustentável.
A introdução de uma comunidade rural na cadeia produtiva de uma grande e
todo, ou seja, com a indústria competitiva global e como esta indústria vai se relacionar
com a comunidade. Como estas vão formar um mesmo sistema, mesmo vivendo realidades
tão distintas. O caráter sistêmico da sustentabilidade é algo que quando percebido pelas
4. CONCLUSÕES
estas comunidades e para melhoria do processo produtivo como um todo pela redução de
empresas prospectoras.
indústrias globais em uma localidade distante dos grandes centros, com pouca
iniciais, de forma a criar um vinculo com a comunidade, uma relação de confiança que
precisa ser planejada por meio de um estudo profundo que envolva uma equipe
REFERÊNCIAS
Resumo
Este artigo objetiva definir o perfil do economista no mercado de trabalho
mineiro para o ano de 2010. Para tanto, descreve-se o comportamento dos economistas
raça ou cor, avanço educacional e faixa etária; e das variáveis referentes ao mercado de
trabalho dos mesmos, tais como: tipo de trabalho, rendimento mensal, tipo de ocupação
economistas do estado de Minas Gerais atuam nas áreas inerentes a sua formação
Abstract
This article aims to define the profile of the economist in the mining labor market
for the year 2010. For this, the behavior of the graduated economists is described
according to the characteristics that they reveal, namely, the situation at home, gender,
race or color, educational progress And age group; And labor market variables such as
labor type, monthly income, type of occupation and productive activity, according to data
from the 2010 Census. The results show that the economists of the state of Minas Gerais
1
Professora Adjunta, Departamento de Ciências Econômicas, Universidade Federal de São João del Rei
(UFSJ). E-mail: daniraposo@ufsj.edu.br.
2
Graduanda em Economia pela Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) e estagiária do
Corecon/MG. E-mail: karolina.balves@gmail.com.
3
Professora Adjunta, Departamento de Ciências Econômicas, Universidade Federal de São João del Rei
(UFSJ). E-mail: patyrosado@ufsj.edu.br
work in the inherent areas Vocational training as well as provided for by the legislation
1 Introdução
O presente estudo explora a inserção do economista no mercado de trabalho
mineiro a partir de dados do Censo de 2010. Neste trabalho analisa-se as interações entre
Minas Gerais. Ademais, o estudo de Menezes Filho (2012) sobre mão de obra qualificada
no Brasil, com dados do Censo Demográfico para os anos de 2001 e 2010, apontam para
a profissão de economia, dentre outras listadas pelo autor, uma ampliação da oferta em
relação a demanda, ou seja, a sociedade está precisando de mais profissionais nesta área
neste período. 4
comportamento e o modo a partir do qual a sociedade utiliza seus recursos, assim como
Censo do Ensino Superior (INEP5, 2016) mostram que o número de matrículas no nível
4
Para mais detalhes ver MENEZES FILHO (2012), Naércio Apagão de Mao de Obra Qualificada? As
Profissões e o Mercado de Trabalho Brasileiro entre 2000 e 2010. São Paulo, Centro de Pesquisas
Públicas do INSPER e USP. Disponível em: http://www.insper.edu.br/wp-content/uploads/2012/10/
Apag%C3%A3o-de-M%C3%A3o-de-Obra-Qualificada- Naercio-Menezes-Filho.docx.pdf. Acesso em
abril de 2106.
5
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documentos – INEP.
para o período entre 2010 e 2015, enquanto o número de concluintes no curso é de 6 mil
bacharéis inseridos no mercado de trabalho em média para o período entre 2010 e 2015.
Econômicas são 260, distribuídas em 120 unidades de ensino privadas e 140 publicas em
13 de Agosto de 1951, quando o presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei n°. 1411/51
Ademais, a escolha do estado como base deste artigo se deve ao fato de Minas
Gerais ser o estado com maior número de universidades federais instaladas, em seu
6
Para mais detalhes sobre o Conselho ver CORECON/MG, disponível em:
http://www.portaldoeconomista.org.br/legislacao/. Acesso em abril de 2016.
7
Para mais detalhes sobre a legislação ver CORECON/MG, disponível em:
http://www.portaldoeconomista.org.br/legislacao/. Acesso em abril de 2016.
com os cursos mais antigos do país8. De acordo com dados do Censo do Ensino Superior
(INEP, 2016), o estado comporta 346 instituições de ensino superior até o ano de 2012,
das universidades federais instaladas no estado, com exceção da UFLA, UNIFEI e UFTM
(ENADE, 2012).
de que o profissional de economia está atuando nas áreas típicas de sua profissão no
estado de Minas Gerais no ano de 2010. A escolha do ano deve-se a utilização dos
microdados do Censo Demográfico do IBGE (2016) disponíveis para o ano de 2010 tendo
artigo objetiva definir o perfil do economista no mercado de trabalho mineiro para o ano
de 2010.
mais quatro seções. A segunda seção apresenta uma breve identificação e definição dos
8
O estado acolhe 11 universidades federais: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade
Federal de Alfenas (UNIFAL), Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),
Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM),
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri –
Diamantina (UFVJM) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
para as ambivalências legais. No terceiro item descreve-se a metodologia base do estudo
junto à descrição dos dados e filtros utilizados. Por fim, tem-se a seção de análise e
2 Referencial Teórico
2.1 Fatores que determinam a demanda pelo profissional de economia
lado, que o mesmo está interessado nas características das empresas, confrontando o
interesse em alugar seus serviços à aquela que lhe proporcione melhores condições de
ou quando a satisfação é plena entre as partes. Além de todos esses interesses, há também
econômicos que fazem parte da construção para o equilíbrio do mercado de trabalho entre
demanda por trabalho das empresas, afetando, deste modo, o volume de contratação das
trabalhador. Esta possui grande valor tanto do lado da demanda, quanto da oferta por
trabalho, de acordo com o autor a demanda por trabalhadores não qualificados é mais
elástica do que as do mais qualificados. Já a demanda por qualificação tem como
principal objetivo a maximização dos fluxos de rendimentos ao longo da vida ou, pelo
esperada, para o caso de não realização do investimento. Assim, ainda segundo Borjas
Trabalho. Ehrenberg e Smith (2000) definem capital humano como: “a expressão que
ser ‘alugadas’ aos empregadores.” (p. 319). Assim, quanto maior o “estoque” de capital
humano de um trabalhador, maior a sua remuneração, que tem seu valor definido pelo
reduz o tamanho de sua estrutura física, compra ou venda equipamentos, com o objetivo
“Uma empresa que visa a maximização de lucros produz até que o preço do
produto seja igual ao custo marginal de produção. Essa condição de
maximização de lucros é a mesma que o das empresas que exigem a
contratação de trabalhadores até que os salários sejam iguais ao valor do
produto marginal. ” (p.106)
não oferecerem um número de vagas que exceda a sua capacidade de absorção de mão de
obra, para que não ocorra comprometimento de seus lucros. Assim, o curto prazo mostra
os ciclos da economia (expansão e recessão), já que ocorrem com maior rapidez. No longo
prazo, a empresa conta com todos os fatores variáveis. Assim, a empresa pode expandir,
conceito de Macedo (2003) e Santos et al. (2014). Para Macedo (2003), a demanda pelos
profissionais de Economia se explica, em parte por uma “lei” econômica, a chamada Lei
de Say, que diz que a oferta ou produção gera demanda por ela mesma. Já Santos et al.
pelo profissional, pois a mesma tende a não apresentar sazonalidade no curto prazo.
áreas específicas de atuação. De acordo com o artigo 1° das referidas normas determina
economista ou que, pelo menos, deveriam ser executadas especificamente por esses
2016).
CORECON/ MG , visto dados citados cabe aos economistas executar suas atividades por
privados ou mistos. O economista para o exercer a profissão, tem por obrigação efetuar o
registro e também o pagamento das anuidades ao Conselho, visto que, de acordo com o
3 Metodologia
Para atingir os objetivos deste estudo utilizam-se microdados do Censo
Demográfico do IBGE (2016) para o ano de 2010 a nível estadual (Minas Gerais) em
termos ocupacionais, a saber, economistas. Vale ressaltar que, todos os dados censitários
situação no domicílio, gênero, raça ou cor, avanço educacional e faixa etária. Por
de Minas, Zona da Mata, Norte de Minas, Campo das Vertentes, Oeste de Minas, Vale
ordem decrescente: 0,38%, 0,39%, 0,48%, 0,71%, 1,67%, 2,54%, 4,11%, 4,46%, 9,61%,
234.287 pessoas declararam ter formação de graduação em Economia como seu maior
nível educacional, logo, Minas Gerais conta com 7,13% do total nacional. (MACEDO,
essa distribuição por região. Os resultados mostram forte concentração nas zonas urbanas,
com porcentagens perto de 100% na grande maioria dos casos, sendo que no conjunto do
mineiras, 59,2% dos economistas são homens e as mulheres tem maior presença na região
82,04 % dos que responderam a essa questão. Os economistas que se declararam de cor
preta e indígenas não possuem presença superior a 10% em nenhuma das regiões,
Existe forte participação dos declarados de cor parda nas regiões do Norte de Minas,
economia tem interesse por uma formação que vá além da graduação. No âmbito da
percebidos nos economistas brasileiros, isso porque conforme dados do Censo de 2010
ocupações que exigem um mestrado “stricto sensu”, segue ainda mais restrito pela
exigência do Doutorado, nestes casos grande parte dos graduados optam por programas
exigências no processo seletivo (quando existe), bem como por serem mais direcionados
entre a faixa etária dos economistas em relação avanço educacional dos economistas
é expressiva na faixa etária mais jovem, a saber entre 25 a 35. Vale observar que entre 25
nessa mesma faixa a porcentagem é bem menor, 18,75%. Já entre os doutores observa-se
composta por 77,15% do total dos profissionais declarados cursando a titulação. Ambos
estadual e federal para este e demais itens desenvolvidos adiante neste trabalho.
para Minas Gerais e 52,13% para o Brasil, em seguida atuam com maior frequência 19,52
% como conta própria em Minas e 18,81% para o Brasil, seguidos pelos 14,29% de
empregados sem carteira de trabalho assinada. Ademais, cabe observar que a taxa de
para o ano de 2010 assemelha-se aos resultados do total do estado. Todavia cabe notar
que as mulheres apresentam maior presença como trabalhadoras com carteira de trabalho
assinada e funcionárias públicas em relação aos homens. Estes por sinal apresentam uma
proporção maior de inserção no mercado como conta própria. Tal resultado pode ser
explicado pelo aumento da presença feminina conquistado pelas mulheres ao longo das
âmbito do mercado de trabalho mineiro de 80% enquanto para os homens é de 79%. Além
desta presença marcante e em expansão das mulheres vale lembrar que as mesmas
permanecem exercendo no tempo que lhes resta nos seus lares as atividades domésticas.
Logo, a saída das mulheres para atividades remuneradas depende da segurança das
mesmas quanto a permanecia no mercado de trabalho, onde sua busca por posições menos
trabalho principal dos economistas segundo gênero mineiros e do total do Brasil para o
ano de 2010. Vale ressaltar, no entanto, que os dados do Censo demonstram que a maioria
dos recenseados declararam ter apenas um trabalho, portanto trabalha-se neste estudo com
rendimentos médios para os homens são mais elevados do que para as mulheres, em
aproximadamente 30%, para Minas e Brasil. Tanto em Minas quanto no Brasil a renda
média dos homens fica 15,44% acima da renda média total, enquanto a renda das
de ocupações de até quatro dígitos para um banco com 9 ocupações de apenas um digito
agrupamentos as classes de atividades de até cinco dígitos para seção com 1 digito
destaque das ocupações dos profissionais das ciências e artes de 27,15%, o qual apresenta
9,67% no total das ocupações e 35% de peso nesta grande família. Tal resultado mostra
corresponde a sua formação. A segunda maior porcentagem está entre profissionais que
atuam no setor público com 19,87%, seguida de Escriturários com 16,59%. Vale ressaltar
o desvio de ocupação dos profissionais formados em economia atuantes como técnicos
de nível médio com 10,60% do total das ocupações dos economistas mineiros.
Militares 0,21
Trabalhadores Em Serviços De Reparação E… 0,61
mais claro que entre as atividades onde atuam os economistas tem maior destaque para
que os economistas do estado de Minas Gerais atuam nas áreas inerentes a sua formação
5 Considerações Finais
O presente trabalho teve como proposta contribuir para a temática relacionada a
estado de Minas Gerais comporta 7,13% do total de economistas do país. Quanto aos
duração em relação aos cursos de mestrado e doutorado. Tal resultado dá-se em face
de trabalho, tal fato confirma-se pelo observado envelhecimento dos economistas apenas
pesquisas futuras vale observar a partir da publicação do censo de 2020 um avanço destes
em trabalhos que lhes propiciem maior segurança para sua permanência no mercado de
trabalho. Além disso, o valor do rendimento médio delas é aproximadamente 30% menor
que dos homens nas regiões citadas. Na análise das ocupações e atividades produtivas
observa-se que a maioria dos recenseados da nossa amostra estão ocupados em posições
presente estudo de que os economistas do estado de Minas Gerais atuam em áreas típicas
Referências Bibliográficas
BORJAS, G. Economia do Trabalho. 5 ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
CORECON/MG, Conselho Regional de Economia de Minas Gerais. Disponível em:
http://www.portaldoeconomista.org.br/. Acesso em Outubro de 2016.
EHRENBERG, R. G.; SMITH, R. S. A Moderna Economia do Trabalho. Makron Books,
São Paulo,5a edição,2000.
FERNANDEZ, Reynaldo, e NARITA (2001), Renata Del Tedesco. Instrução superior e
mercado de trabalho no Brasil. Economia Aplicada, v. 5, n. 1, pp. 7-32, 2001.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Rio de
Janeiro: IBGE, 2016.
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Inep
Data. Disponível em < http://portal.inep.gov.br/inepdata>. Acessado em Dezembro.
2016.
MACEDO, R. O Economista no Mercado de Trabalho Brasileiro – Implicações
Educacionais e para as Entidades de Classe. Revista de Conjuntura. Publicação do
Conselho Regional de Economia do Distrito Federal. ANO XIV • Nº 56 • maio/agosto de
2015.
SANTOS, M. A.; SOUZA, M. É. P.; CONCEIÇÃO, R. L. C.; PASSOS, H. D. B.;
SANTOS, C. E. R. Uma contextualização do mercado de trabalho do economista no
estado da Bahia em 2013. In: IV Semana do Economista & IV Encontro de Egressos de
Economia da UESC, 2014, Ilhéus - BA. IV Semana do Economista & IV Encontro de
Egressos de Economia da UESC, 2014. Disponível em: <
http://www.uesc.br/eventos/ivsemeconomista/anais/gt1-7.pdf> Acesso em Outubro de
2016.
Discriminação racial no mercado de trabalho brasileiro: uma análise econômica
mercado de trabalho brasileiro, bem como discute as desigualdades sofridas neste campo
se comparados à situação dos indivíduos não negros. Para que tal abordagem fosse feita,
foi elaborado um recorte histórico, econômico e social da trajetória dos indivíduos negros,
INTRODUÇÃO
A história da escravidão negra, tal como foi conduzida pelos brancos europeus no
esforço de colonização das Américas e da África, deixou rastros que ainda não foram
superados. Para Jaccoud et. al. (2009) a consolidação da ideologia racista durante a
“raciais”), firmadas agora em outro ambiente político e também jurídico, o que explica por
que no Brasil o preconceito é estrutural e muitas vezes velado, ou seja, não é reconhecido
Brasil dificulta a aplicação de políticas públicas em prol dos negros e das negras, políticas
essas que poderiam tentar reparar as consequências dos abusos físicos e psicológicos da
voltada para a inserção social do liberto e para a promoção de novos tipos de interação dele
A principal questão que tal perspectiva faz emergir é a seguinte: a discriminação racial
METODOLOGIA
O presente artigo é fruto de uma revisão bibliográfica. Foi feita uma breve
demarcar teoricamente que a adaptação dos negros e negras então libertos frente ao novo
regime de trabalho “livre” não foi um processo linear. A discussão sobre a inserção da
população negra no mercado de trabalho foi realizada tendo em vista a preocupação com o
RESULTADOS E DISCUSSÃO
escravos negros pela imigrante, o que inclusive já acontecia antes mesmo de 1888 (LARA,
1998). É possível afirmar que a transição do trabalho escravo para o livre esteve
fortemente associada à formulação da questão (ideológica ou valorativa) da incapacidade e
da inferioridade dos negros e negras em relação aos brancos. Segundo Lara (1998):
negros e negras libertos se confrontaram de fato com uma nova realidade de competição
com o imigrante europeu. A população negra ex-escrava foi, portanto, sendo isolada
caberia melhor dizer que a escravidão “deformou” a sociedade brasileira, ou seja, embutiu
Rolnik (2013) explica que uma conotação pejorativa foi impregnada no indivíduo
negro: seus gestos, suas danças e até sua religião foram considerados, por uma elite
emprego.
O que tais ênfases significam é que o Brasil, que entre o final do século XIX e o
racista, evitando qualquer “revisão ideológica” para produzir uma democracia racial, e
mantendo negros e negras e toda a sua cultura como sujeitos e práticas inferiores. Assim,
por sua vez, decorreu do fato de que apesar da realidade escravatura ter acabado, ela
carregava uma historicidade racista que não fora abolida junto com a escravidão
(MORAES, 2013).
impedidos de frequentar as escolas, não somente pela lei que não os abrangia, mas
socialmente, por meio do racismo: “(...) eles [os negros] eram vítimas de preconceito,
muitos pais de alunos brancos não queriam que seus filhos estudassem com alunos negros,
organizar ações integracionistas. Um exemplo foi a Frente Negra Brasileira - FNB, que a
inclusão social, criaram cursos de alfabetização para jovens e adultos e a escola primária
no mercado de trabalho é maior quanto maior for o seu nível educacional, deve ser
trabalhadores negros e negras, essa é uma condição que não parece se aplicar. Assim:
“(...)mesmo nos casos em que os não negros poderiam se encontrar em desvantagem, eles
são favorecidos mais a frente, com retorno à escolaridade. Já os negros estão sujeitos a
círculo vicioso e cumulativo, tal como observou Myrdal (1965). Isto é um “ponto chave”
trabalho.
da população negra nos últimos cinquenta anos, esses indivíduos ainda se encontram em
têm uma maior jornada de trabalho e que, apesar de trabalharem mais, ainda recebem
uma inserção regular no mercado de trabalho, ainda que o país esteja em fase de
prosperidade econômica. Ou seja, ainda que a economia brasileira esteja saudável, negros e
que trabalham em uma mesma empresa e na mesma função que os não-negros têm seu
promoção, os trabalhadores negros serão preteridos frente aos trabalhadores não negros.
trabalhadores, o DIEESE (2013a) constatou que, ainda que negros e não negros recebam
algum aumento salarial de acordo com a elevação do nível educacional, não negros
ser capaz de solucionar o problema do negro nos Estados Unidos, pode-se afirmar, a partir
de dados brasileiros que a educação não é eficaz sozinha. Ainda que negros e negras
tenham adquirido o direito ao acesso às escolas e universidades, ainda que estes indivíduos
tenham adquirido certo nível de escolaridade, o preconceito parece tornar-se ainda mais
precariedade do trabalho dos indivíduos negros estava na sua “incapacidade”, na sua falta
de formação escolar, o que justifica que esses indivíduos – agora escolarizados - ainda
negros?
maior a taxa de desemprego entre trabalhadoras negras - além disso, estas trabalhadoras
na indústria e no serviço doméstico, enquanto não negros são maioria no setor de serviços
(DIEESE, 2014a).
recebe cerca de 79,2% do total recebido por não negros e no setor de serviços esse
de 90% tanto entre a População em Idade Ativa (PIA) quanto entre a População
Economicamente Ativa (PEA), e, mais uma vez também são a maioria entre os
desempregados (94%) (DIEESE, 2014b).Pode-se perceber, ainda, que nesta região mais
Acerca dos salários, em 2012 o rendimento médio real dos negros na Região
decresceu em 0,1%, acentuando as discrepâncias salariais entre esses dois grupos. No que
diz respeito aos rendimentos das mulheres negras, elas percebiam um valor de 50,9% dos
No setor de serviços, negros abrangem uma fatia de 55,4% das ocupações contra
56,8% dos não negros. Na indústria a participação de não negros é 1% maior que a dos
negros é maior que a de não negros – 3,7% (DIEESE, 2014c) “(...)e é onde predominam
mulher negra. Entretanto, o estudo feito para a mesma região em 2013, com dados de
2012, mostrou uma sobre representação das negras no emprego doméstico – sendo as
mesmas, em sua maioria, mulheres de idade mais avançada e com baixo nível de
do salário percebido por homens não negros na Região Metropolitana de São Paulo
No setor privado, assalariados sem carteira assinada 9,2% são negros enquanto 8,7% são
não negros; entre os trabalhadores autônomos 16,0% são negros e 15,4% não negros; a
diferença é ainda mais forte no emprego doméstico, onde 9,7% são negros e 5,1% não
negros estão empregados em sua maioria naquelas ocupações que exigem menor ou
negros continuam a enfrentar obstáculos históricos, tanto no que diz respeito ao acesso às
a regulamentação ainda não permitiu que fosse possível a criação de um sindicato para essa
categoria afim de que sejam estabelecidos salários e relações de trabalho mais justas1.
PIA, em 2013, era cerca de 74%, e entre os ocupados e desempregados negros essa
Analisando a taxa média de desemprego, o estudo mostrou que entre 2004 e 2012
ponto percentual, mantendo ainda a maior porcentagem entre negros e negras, apesar do
negras:
1
Com a aprovação da Lei Complementar nº 150, de 01/06/2015, que regulamentou a Emenda Constitucional
n° 72, empregados domésticos passaram a gozar de direitos aos quais até então não tinham acesso, tal como
adicional noturno, intervalos para descanso e alimentação, depósito no Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço - FGTS, seguro-desemprego, salário família (ESOCIAL, 2015). Alguns desses direitos foram
estabelecidos para as demais categorias trabalhadores desde 1964 e ao longo dos últimos cinquenta anos
foram sendo mantidos e, como no caso do seguro-desemprego, até mesmo ampliados, o que dá uma
dimensão da segregação e da desigualdade no interior do mercado de trabalho brasileiro.
observou-se que as mulheres negras são mais atingidas pelo desemprego
(DIEESE, 2014d, p. 4).
2012 e 2013 negros percebiam cerca de 68,8% dos salários percebidos pelos não negros
(DIEESE, 2014d), observa-se ainda, que as mulheres negras percebiam os salários mais
baixos.
trabalhadores com carteira assinada em 0,3%, entretanto, negros continuam sendo maioria
nas ocupações não regulamentadas, com rendimentos menores e sem carteira assinada no
setor privado, representando uma fatia de 8,5% enquanto não negros são 7,4%, no trabalho
Quando são analisadas as funções que exigem maior nível de escolaridade, como
2013, o percentual de negros e não negros nessa área era de 6% e 9,1%, respectivamente
(DIEESE, 2014d):
mercado de trabalho foi de 56,1% para 55,88% de 2012 para 2013. A taxa de desemprego,
entre 2012 e 2013, decresceu tanto para negros quanto para não negros na região
metropolitana de Porto Alegre, para negros houve um decréscimo de quase dois pontos
percentuais, enquanto para os não negros essa queda foi de 0,5%, observando um
decréscimo mais intenso entre as mulheres negras, entretanto, este ainda é o grupo mais
ocorreu na construção (menos 5 mil ocupados, ou -21,7%), seguido por serviços (menos 3
3).
Quanto aos rendimentos, negros tiveram aumentos médios 0,2% maiores do que o
de não negros, entretanto, continuam percebendo menores salários. Além disso, mulheres
Em Fortaleza, a taxa de desemprego em 2013 dos negros ficou, pela primeira vez,
abaixo da dos não negros. Essa redução se deve tanto por uma maior oferta de vagas,
Observou-se ainda que a taxa de desemprego era maior para mulheres não negras
(9,8%) seguidas pelas negras (9,6%) (DIEESE, 2014f). Mais uma vez é possível notar que
grande parte do emprego doméstico é ocupado por mulheres negras, além de elas
formarem o segundo grupo com maior porcentagem no emprego sem carteira assinada
(DIEESE, 2014f).
negros abrangem maior participação – cerca de 6,1% a mais que negros (DIEESE, 2014f).
A redução da taxa de desemprego para a população negra se deve a uma maior
geração de empregos nos setores onde esses indivíduos estão em maior representação, por
exemplo, em 2013 8 mil novas vagas foram geradas na construção civil (DIEESE, 2014f).
Por outro lado, o inverso também é verdadeiro, como por exemplo, no setor público, onde
a população negra é minoria, cerca 6 mil novas vagas foram criadas em 2013 e, nessas,
negros e negras foram pouco contemplados (DIEESE, 2014f). Ainda segundo o estudo:
forma de inserção, mas a maior desigualdade está no setor de serviços, onde a proporção
de não negros é maior, negros percebem 70,8% do valor auferido por não negros, por hora
(DIEESE, 2014f).
desemprego entre negros e não negros se mantém ao longo dos anos (DIEESE, 2014g). Em
2012 e 2013 houve aumento dessa taxa para ambos os grupos, sendo a dos negros 7,2%
maior (DIEESE, 2014g).É necessário destacar ainda que de 2012 para 2013 a taxa de
desemprego para as mulheres negras subiu de 6,4% para 8,1%, e que mais uma vez a
2014g).
Quanto à distribuição por setor, em 2013, 56,0% dos ocupados negros estavam no
setor de serviços; na indústria são 13,6% contra 14,2% de não negros; o comércio e
reparação de veículos são responsáveis por 17,9% das ocupações dos trabalhadores negros
e 18,4% dos não negros; e, novamente, no setor de construção a ocupação representada por
negros é a maior dentre os outros setores, sendo 10,3% contra 7,0% de não negros
(DIEESE, 2014g).
corresponder 89,3% do rendimento dos não negros, apesar de ter sido observado um
aumento de 17,8% na renda dos negros e apenas 2,5% para não negros (DIEESE, 2014g).
Para o DIEESE:
Horizonte observou-se em 2013 que elas percebiam um valor de 67,8% do valor percebido
por homens não negros (DIEESE, 2014g). Apesar de ser o maior valor observado até
agora, dentre as outras Regiões, ainda assim há uma grande discrepância entre um salário e
outro.
Este levantamento sobre diversas Regiões Metropolitanas brasileiras permite uma
ocupados, em sua maioria, em empregos e em setores mais vulneráveis. Além disso, isso
também torna possível compreender por que políticas públicas voltadas para estes
que pode ser, portanto, entendida como uma dupla discriminação, de gênero e de raça.
Este é um fato preocupante, uma vez que este grupo representa 25% da população
total brasileira (IPEA, 2013).A mulher negra carrega, além da bagagem histórica da
escravidão, a bagagem do patriarcado. Assim, como afirma Sueli Carneiro (2015), para
hegemonia da brancura nessa desqualificação estética das mulheres negras, que tem
vicioso e cumulativo de Myrdal (1965).Ou seja, para as mulheres negras o racismo não só
dificulta a busca por melhoria na qualidade de vida, como o machismo cria uma barreira
lacunas sociais e econômicas geradas pelos anos de escravidão e pelo descaso que se
que as políticas públicas voltadas para a população negra não são “privilégio”, mas sim
medidas reparatórias:
CONCLUSÃO
Analisou-se a trajetória dos negros e negras trazidospara o Brasil que, após terem
desalojado para ser marginalizado e marginalizado para ser rejeitado. Toda uma sucessão
motriz da marginalização das negras e dos negros. A discriminação racial aqui discutida é
uma realidade na vida dessa parcela da população e mais ainda: contribui para dificultar a
A constante presença como população que tem elevada participação nas taxas de
não são frutos apenas de uma coincidência ou um “azar”; são consequência de um mercado
de trabalho marcado pelo racismo e pelo machismo e acabam sendo também causa da
trabalho não significam apenas números, são pessoas representadas por eles. Não se pode
fugir da realidade na qual estamos inseridos. O Brasil carrega cicatrizes de uma sociedade
social de negros e negras o que, por sua vez, alimenta a discriminação racial.
REFERÊNCIAS:
CARRIL, Lourdes. Quilombo, favela e periferia: a longa busca da cidadania. São Paulo:
Annablume, 2006.
JACCOUD, L. et. al. Igualdade racial. In: TABOZA, C.; FAGUNDES, J.; OKI, F. Entre o
racismo e a desigualdade: da constituição à promoção de uma política de igualdade racial
(1988-2008). Brasília: IPEA, 2009. Disponível em:
<http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/politicas_sociais/bps_17_vol03_igualdade
_racial.pdf>. Acesso em 26 de junho de 2017.
RESUMO
Localizada no norte do Estado de Minas Gerais, a microrregião de Salinas vem se
destacando na mesorregião da qual pertence, além do destaque também no Estado
mineiro como um todo, diante da expansão e melhoramento da agroindústria da
produção de cachaça artesanal nos últimos tempos. A expansão deste setor contribui de
forma direta e/ou indireta no desenvolvimento econômico local, que por sua vez, tende
a dinamizar mais o mercado de trabalho, o emprego e a renda na microrregião. Diante
disso, o presente trabalho tem como objetivo analisar as mudanças que ocorreram
durante o período de 2000 a 2010, no emprego, na ocupação e no rendimento das
pessoas ocupadas na microrregião de Salinas, abordando de maneira particular a
População Economicamente Ativa (PEA) participante da cadeia produtiva da cachaça a
fim de verificar a importância deste setor para a evolução do mercado de trabalho e da
atividade econômica da microrregião. A análise dos resultados indicou a grande
importância do setor da agroindústria da cachaça na evolução do mercado de trabalho
na microrregião de Salinas.
ABSTRACT
Localized in Minas Gerais‘north, the Salinas micro-region has been highlighting in the
mesoregion who belongs. Also it is featured in all the State of Minas Gerais because of
the cachaça agroindustry’s expansion and improvement in the lasts times. The cachaça
INTRODUÇÃO
microrregiões2, dentre elas a microrregião de Salinas (Alto Rio Pardo), que abrange
210.771 habitantes.
rurais vêm ganhando destaque e se tornando fontes de dinamismo para a região, é o que
de 2006, para este ano, a microrregião de Salinas teve uma participação de 64,25% no
Silva et al., (2006) afirmam que o setor alambiqueiro mineiro trata-se de uma atividade
2
Microrregiões: Bocaiúva, Grão Mogol, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas.
O Estado de Minas Gerais diante de sua histórica participação no cenário
microrregião, com foco no emprego e renda dos setores ligados à cadeia produtiva da
METODOLOGIA
2010 (vol. Minas Gerais), fornecidos em meio digital pelo IBGE.A população estudada
Neste estudo adotou-se o conceito de PEA limpa, com idade entre 10 e 90 anos, para os
para mostrar a importância desta agroindústria no emprego local e como tem sido as
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Minas Gerais, principalmente por ser um setor no qual a tributação incidente é elevada.
Os resultados desta agroindústria, desde seus primórdios até os dias atuais, fomentaram
SALINAS, 2015).
maior polo produtor de cachaça artesanal do Estado, contando em 2006 com 1.718
além da importância deste setor de atividade para a região em estudo, pois os dados
que traz o número de unidades produtivas formais, o valor da produção (em mil reais) e
em 2006.
mesorregião.
uma vez destaca-se Salinas, com a maior quantidade produzida. Salinas lidera com uma
produção de 5.847.000 litros. Estima-se que essa produção nos dias atuais tenha
aumentado substancialmente, pois, embora não se tenha dados oficiais do IBGE para a
população.
trabalho.
benefícios e direitos inerentes ao empregado, dado que são regidos por contratos. Em
mais precárias, dado que são atribuídos a eles rendimentos menores e trabalhos mais
Schultz (1961), Becker (1962) e Mincer (1974) apud Cirino e Lima (2011), ao
era de R$ 510,00, assim para se fazer comparações entre os valores de 2000 e 2010, os
valores daquele ano foram transformados em preços constantes de 2010, usando-se para
isso o INPC calculado pelo IBGE. Uma vez realçadas tais especificações, pode-se
100%
10,6
90%
28,7 32,4
80% 38,1
45,1 45
70%
60%
50%
89,4
40%
71,3 67,6
30% 61,9
54,9 55
20%
10%
0%
Informal Formal
de 2000 a 2010 para o total da microrregião de Salinas, porém grande parte dos
que, apesar desta redução na informalidade, ainda em 2010, 61,9% do total dos
etc.
seguimento da fabricação de aguardente de cana. Apesar de, em 2010 ainda haver uma
que, para este tópico especificamente, foi adotada a população economicamente ativa
observamos que o número de analfabetos ou sem instrução reduziu quase dez pontos
percentuais de 2000 para 2010, neste último ano atingindo 17,9% do total das pessoas,
isso demonstra que quase 18,0% dos indivíduos não sabem ler nem escrever, proporção
esta que ainda é alta, e supera a de indivíduos situados na classe com grau um pouco
do número de pessoas com nível superior completo, passando de 1,0% para 5,7%, além
indivíduos analfabetos durante o período, em 2010, havia ainda 37,4% das pessoas deste
ocupados deste setor tem um nível de instrução baixíssimo. Ainda em 2010, 45,7% dos
microrregião, com a maioria das pessoas situadas na classe de alfabetizadas com ensino
fundamental incompleto, 54,4% em 2010. Dos três cortes populacionais feitos, esta é
que apresenta menor porcentagem de indivíduos considerados analfabetos, cai de 22,0%
em 2000 para 13,7% em 2010. Destaca-se que, assim como nos resultados anteriores,
apesar de no geral ter uma população economicamente ativa com nível de instrução
baixo, houve um salto no número de indivíduos com ensino médio completo e /ou
superior completo. Nos anos 2000 não havia indivíduos nesta categoria, já em 2010
procuraram uma maior formação tanto no ensino básico, como no ensino superior.3
aumento o rendimento estava abaixo do salário mínimo de R$510,00, vigente nesse ano.
açúcar, foi encontrado o valor R$300,10 em 2010. Esse rendimento não apresentou
3
Uma possível explicação para esse comportamento deve-se ao fato de ter sido implantado no ano de
2005, no Instituto Federal do Norte de Minas – campus Salinas, antiga Escola Agrotécnica Federal de
Salinas, o curso superior de tecnólogo em produção de cachaça, que permitiu às pessoas um maior acesso
ao grau de formação mais elevado.
Apenas os trabalhadores empregados na fabricação da aguardente de cana
apresentaram uma situação melhor, em 2000 o rendimento médio destes era de $530,78
(em valores de 2010), ou seja, muito próximo ao valor do salário mínimo vigente em
da aguardente, ficando acima do salário mínimo vigente e confirmando mais uma vez,
através dos rendimentos, as melhores condições de trabalho dos indivíduos deste setor
com relação aos outros e sua importância para o dinamismo do mercado de trabalho da
microrregião como um todo, uma vez que o nível salarial mostra uma tendência de
agregação de valor por parte deste setor para a economia local dado que a produção de
CONCLUSÕES
na microrregião de Salinas, com foco no emprego e renda dos setores ligados à cadeia
produtiva da agroindústria da cachaça, no período entre 2000 e 2010 para os dados dos
dinamismo econômico.
um progresso, dado que houve uma redução da informalidade no setor. Porém, em 2010,
em todos os três cortes abordados, mais da metade dos indivíduos ainda trabalhavam na
informalidade. Cabe salientar que para o setor de fabricação da aguardente houve uma
mercado de trabalho no geral, esta redução foi de 9,4 pontos percentuais. Infere-se que
pessoas com Ensino Médio Completo, sendo que nos anos 2000 não haviam indivíduos
nesta categoria, já em 2010, essa proporção era de 14,4%. Por fim abordando o nível de
nível de rendimento, aquém do salário mínimo. Entretanto, fica evidente uma evolução
tendo em vista que houve um aumento dos ocupados com o Ensino de nível Médio no
período, além disso, a formalidade no subsetor vem crescendo. Por se tratar de uma
indústria, ainda que de pequeno porte, fabrica produtos com maior valor agregado, esse
Inserida em uma região com mercado de trabalho com baixo dinamismo, esta
pelo setor.
cadeia produtiva da cachaça bem como da microrregião de Salinas como todo. Pelo
a microrregião de Salinas, fator que foi reforçado na análise dos resultados. Porém, essa
atenção a este seguimento que constitui a base para a agroindústria da cachaça artesanal,
com possíveis aplicações de programas/ações que visam dinamizar este subsetor, para
agroindústria da cachaça. Políticas nesta instância são necessárias para que todo o setor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FERNANDES FILHO, J.F.; CAMPOS, F.R.; OLIVEIRA, I.M. de. A indústria rural e a
crise da agricultura mineira: o caso das Mesorregiões Norte de Minas e Jequitinhonha.
Uberlândia: 1999. 21p.
Resumo: Este artigo busca analisar o uso do instituto da terceirização pela mineradora Samarco na barragem
do Fundão, no subdistrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana (MG), tendo em vista os argumentos
do processo da reestruturação produtiva e da “flexibilização” das relações trabalhistas. Parte-se de uma
contextualização da definição e da prática da terceirização para a análise de como esta se tornou comum,
examinando como a terceirização foi adotada pela empresa Samarco e quais impactos sobre os trabalhadores
podem ser observados em relação a: representatividade sindical, precarização das condições de trabalho,
acidentes de trabalho, remuneração, entre outros aspectos.
Abstract: This article intents to analyze the usage of the outsourcing institute by Samarco at Fundão dam,
located in the sub district of Bento Rodrigues, city of Mariana (MG), in view of the productive restructuring
process and the flexibilization of labor relation’s argument. Beginning with a context matter from
outsourcing’s definition and practice to an extensive analysis by how this subject was adopted by the
Samarco Company, specially it’s effects over the company’s workers. The pivot points observed in this study
includes: Union representation, lack of working conditions, labor accidents, wages, among other aspects.
INTRODUÇÃO
do transbordamento da Barragem de Santarém foi uma lama que atingiu 663 km de rios e
1
Graduado em Ciências Econômicas (UFPR) e pós-graduado em Especialização em Direito à Cidade
e Gestão Urbana (UP). E-mail: raulmaciel@hotmail.com.br.
resultou na destruição de 1.469 hectares de vegetação, incluindo Áreas de Preservação
Permanente (IBAMA, 2015b). Das 80 espécies nativas da bacia do Rio Doce, 11 são
Rodrigues, dentre os quais, duas crianças (PCMG, 2016; LOBATO, 2016), além de danos
pela Vale e pela BHP Billiton. A Samarco opera nos estados de Minas Gerais e Espírito
Santo e tem duas unidades industriais – a de Germano, em Ouro Preto (MG) e Mariana
(MG), e a de Ubu, em Anchieta (ES) –, as quais são ligadas por um mineroduto de 396km
2
Sendo os 13 empregados terceirizados da Samarco: Ailton Martins dos Santos, 55 anos, funcionário da
Integral Engenharia; Claudemir Elias dos Santos, 41 anos, funcionário da Integral Engenharia; Cláudio
Fiúza da Silva, 41 anos, funcionário da Integral Engenharia; Daniel Altamiro de Carvalho, 53 anos,
funcionário da Integral Engenharia; Edinaldo Oliveira de Assis, 40 anos, funcionário da Integral
Engenharia; Marcos Aurélio Pereira de Moura, 34 anos, funcionário da Produquímica; Marcos Roberto
Xavier, 32 anos, funcionário da Vix Logística; Mateus Márcio Fernandes, 29 anos, funcionário da
Manserv Montagem e Manutenção; Pedro Paulino Lopes, 56 anos, funcionário da Manserv Montagem e
Manutenção; Samuel Vieira Albino, 34 anos, funcionário da Geocontrole BR Sondagens; Sileno
Narkievicius de Lima, 46 anos, funcionário da Integral Engenharia; Vando Maurilio dos Santos, 37 anos,
funcionário da Integral Engenharia; Waldemir Aparecido Leandro, 48 anos, funcionário da Geocontrole
BR Sondagens. Um empregado da própria Samarco: Edmirson José Pessoa, 48 anos. Os cinco moradores
de Bento Rodrigues: Antônio Prisco de Souza, 74 anos; Emanuelle Vitória Fernandes Izabel, 5 anos;
Maria das Graças Celestino da Silva, 64 anos; Maria Eliza Lucas, 60 anos; Thiago Damasceno Santos, 7
anos (PCMG, 2016; LOBATO, 2016). Priscila Monteiro, 28 anos à época, estava grávida e acabou
sofrendo aborto após ser atingida e arrastada pela lama, e tenta, desde então, incluir seu filho entre as
vítimas do rompimento da barragem (SENRA, 2016).
2014) e no momento do rompimento havia no local muitos trabalhadores que não haviam
(DRUCK; FRANCO, 2008), pretendemos neste artigo analisar o seu uso pela mineradora
A TERCEIRIZAÇÃO NA MINERAÇÃO
(DRUCK; FRANCO, 2008). A partir desse período, ganham força os discursos pela
diminuição do Estado, pela flexibilização dos fluxos do capital e das mercadorias e pela
flexibilização das relações trabalhistas – tendo como objetivo a redução dos custos com
trabalhadores que, geralmente, realizam atividades de maior risco e estão mais sujeitos a
transporte e outros. Nesse processo, de acordo com Godeiro (2007 apud VITTI, 2014), as
que muitos trabalhadores da companhia passassem a prestar serviços por meio das
terceirizadas – como exemplo dos resultados dessas políticas, o autor menciona que
número de trabalhadores da empresa caiu em 1990 de mais de 4 mil para cerca de 1700 3,
empresa, a terceirização é utilizada como uma das estratégias na busca pela redução dos
3
Atualmente, a Vale tem 139,7 mil empregados (VALE, 2017), mas sem informar por meio do seu
Relatório de Sustentabilidade quantos são empregados próprios e quantos são terceirizados.
custos relativos e para sustentação dos níveis de lucratividade e de redistribuição aos
riscos ambientais e também para a população do entorno do local afetado pela barragem
construção de barragens – não seria possível sem a capacidade de articulação das grandes
2016, p. 10).
A SAMARCO E A TERCEIRIZAÇÃO
(2005, p. 97) aponta que “a empresa vem empreendendo esforço para oferecer a esse
Não há, entretanto, maiores descrições sobre os esforços empreendidos para que
terceirizadas são inferiores aos das empresas para as quais elas prestam serviços, uma vez
portanto, não haver exigência legal para que os valores sejam equivalentes. A exigência de
cada uma com o seu sindicato, com atuações competitivas entre si” (DRUCK; FRANCO,
2008, p. 90), ou seja, a fragmentação sindical tem como consequência a fragmentação das
representação sindical, além de fazer com que o sindicalismo se volte para as greves por
empresa e não por categoria (ALVES, 2009; BORGES; DRUCK, 1993). O aumento do
Indústria da Extração de Ferros e Metais Básicos de Mariana) e que, portanto, não são
4
Não há informações disponíveis sobre a taxa de sindicalização dos funcionários terceirizados da
Samarco. Quanto aos funcionários próprios da mineradora, os relatórios anuais de sustentabilidade mais
recentes também não têm essa informação, sendo dos anos de 2005, 2006 e 2007 os únicos números
disponíveis e que indicam uma taxa baixa de sindicalização, próxima a um terço dos empregados da
mineradora. Em 2005, eram filiados a algum sindicato 35,25% dos empregados da unidade de Germano
e 31,01% dos da unidade de Ubu; em 2006, 16,60% de Germano e 14,90% de Ubu; e em 2007, os
números eram, respectivamente, 23,20% e 32,60%. (SAMARCO, 2005, 2006, 2007).
deles era com o STTROP (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de
distintas das do trabalho em uma mina. Essa divergência desconsidera os altos índices de
buscando reduzir a faixa etária média do seu quadro de empregados e contratar pessoal
com maior índice de escolaridade, tornando os cargos gerenciais cada vez menos
mapear com precisão a distribuição dos funcionários da empresa, mas, de acordo com
Poemas (2015, pp. 38-39), no setor extrativo mineral “os postos de trabalho mais
qualificados são ainda geralmente ocupados por mão de obra originária dos grandes
centros urbanos”, restando à mão de obra local os postos de trabalho com menores
exigências de qualificação e menor remuneração, os quais são em geral firmados por meio
mineração é muito forte, seja para a arrecadação municipal ou para o comércio local, dessa
o que tem como objetivo a redução de custos e acaba por reduzir a margem de manobra da
aproximadamente 20% do total; ii) não foram mencionadas na relação três empresas
cinco prestadoras de serviço que também não foram informadas pela mineradora (ECM,
Indumep, Arcadis Logo, Skava Minas e Golder); iv) a análise da SRTE/MG., portanto,
identificou divergências que indicam que a relação apresentada pela Samarco informou
Fundão e que outras prestadoras de serviço podem ter sido omitidas pela mineradora.
5
Cf. Coelho, Milanez e Pinto (2016, pp. 192-198): “É justamente nas áreas rurais que as empresas
terceirizadas das mineradoras contratam a parte de sua mão de obra com menores rendimentos. Por meio
de contratos de curto prazo, a população mais pobre de Mariana consegue empregos que oferecem
salários maiores do que a média da região, caracterizada por níveis de desemprego e subemprego
elevados. Este é um fato concreto que restringe a capacidade de mobilização crítica aos grandes projetos
mineradores na região e constrange sua população a aceitá-los. [...] Assim, o contexto de relação
comunitária da Samarco se mostra complexo e contraditório. Seu papel de ‘provedora’ para Mariana e
seu entorno se deve, em grande parte, pela forma como a presença da atividade mineradora inviabiliza a
diversificação de atividades econômicas e se calca na terceirização precarizada do trabalho. Em tal
contexto, ações de filantropia e de ‘responsabilidade social’ são vistas como benesses por parte da
população. Esta relação de dependência é ainda fortalecida por programas de ‘gestão de risco social’, que
se propõem a ganhar ‘corações e mentes’, bem como enfraquecer e desorganizar tentativas locais de
organização e contestação social. Assim, a busca pela chamada licença social para operar, presente no
discurso da Vale, da BHP Billiton e da Samarco, não se traduz em procedimentos operacionais mais
seguros ou maior transparência nas atividades da empresa, mas refere-se a mecanismos de proteção
quanto aos riscos e custos que a própria empresa enfrenta ante a crítica pública.”
6
Obra de alteamento da altura de uma barragem. Para maior compreensão, consultar SRTE/MG (2016).
Tabela 2 – Quantidade de empregados por empresa terceirizada na obra de alteamento da
Barragem do Fundão e quantidade de empregados sem treinamento
Empregados sem
Empresa terceirizada Empregados
treinamento
Canadá Locadora de Equipamentos Ltda 13 6
Diefra Engenharia e Consultoria Ltda 20 3
EBJ Assessoria e Gerenciamento Ambientais Ltda 2 2
Engelic Montagem e Manutenção Elétrica Ltda 34 18
Geraes Arquitetura e Engenharia Ltda 49 27
Integral Engenharia Ltda 432 11
JM Reflorestamento e Serviços Ltda 70 59
Fonte: SRTE/MG, 2016. Elaboração própria.
conforme Tabela 2 –, a obra havia começado antes mesmo de a empresa obter a licença
serviço”, “prorrogar a jornada normal de trabalho, além do limite legal de 2 (duas) horas
de 11 (onze) horas consecutivas para descanso entre duas jornadas de trabalho”, entre
nas atividades que representam sua atividade-fim, deixando as atividades-meio (tais como
nessas atividades, verificou-se que uma das empresas contratadas realizava operações
típicas da mineração, ainda que sem total atendimento aos treinamentos necessários para as
atividades e sem que seus funcionários pertençam à mesma categoria e ao mesmo sindicato
Saúde no Trabalho muitas vezes não são cumpridas pelas empresas terceirizadas e
(POEMAS, 2015). Dessa maneira, os trabalhadores terceirizados são expostos aos mesmos
diretamente pela mineradora, mas sem as mesmas condições e com menor remuneração.
CONCLUSÃO
que os funcionários próprios da Samarco, mas sem estarem cobertos pelos mesmos acordos
coletivos, pois não pertencem às mesmas categorias nem estão representados pelo mesmo
sindicato, e, como se pode observar após o rompimento da barragem, sem terem passado
provoca dano pontual na área atingida, mas altera os ciclos ecossistêmicos locais e a cadeia
alimentar – uma vez que afeta a disponibilidade dos recursos ambientais de sua base
terceirizados não são fatos acidentais ou pontuais, mas sim intencionais e contínuos e são
parte importante da redução dos custos com mão de obra – ainda que em detrimento da
BERTONI, Estêvão. Obras em barragem da Samarco foram iniciadas antes da licença sair.
Folha de São Paulo, São Paulo, 01 mar 2016. Disponível em
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1745066-obras-em-barragem-da-
samarco-foram-iniciadas-antes-de-licenca-sair.shtml>. Acesso em 08 abr. 2017.
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1, jan./mar., 1994, págs. 2-12.
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SARAIVA, Luiz Alex Silva; MERCÊS, Ronaldo Eurípedes das; MAGALHÃES, Yana
Torres de. A terceirização na gestão da manutenção em uma empresa mineradora de Minas
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SENRA, Ricardo. A mãe que sofreu aborto na lama e luta para incluir feto entre vítimas de
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VALE. Relatório de sustentabilidade 2016. Rio de Janeiro, 2017. 160 p. Disponível em:
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RESUMO ABSTRACT
A expansão da fronteira agrícola na microrregião The expansion of the agricultural frontier in the
sudoeste do Estado de Goiás possibilitou o southwest microregion of state of Goiás has enabled
reordenamento do espaço produtivo, com mudanças the reordering of the productive space, with abrupt
bruscas, num acelerado processo da modernização à changes, in an accelerated process of modernising
industrialização da agricultura. O objetivo do the industrialisation of agriculture. The objective of
presente trabalho é compreender a expansão this work is to understand the agro-industrial
agroindustrial na microrregião sudoeste goiano expansion in the southwest region according to the
segundo o entendimento dos conceitos de território, understanding of the concepts of territory, rural,
rural, espaço, e suas derivações e, consequentemente, space, and its derivatives and, consequently, as this
como essa expansão tem contribuído para o expansion has contributed to regional and local
desenvolvimento regional e local. Para tanto, utiliza- development. For this, the exploratory research of
se a pesquisa exploratória dos perfis the socio-economic profiles of the four largest
socioeconômicos dos quatro maiores municípios em municipalities in the northeast region of the
extensão territorial da microrregião sudoeste do southwest of Goiás state (miners, Caiapônia, Rio
Estado de Goiás (Mineiros, Caiapônia, Rio Verde e Verde and Jataí) is used. In this analysis, the
Jataí). Nesta análise foram ressaltadas as contradictions and social conflicts linked to the
contradições e os conflitos sociais ligados à posse da possession of the land and the problematic of the
terra e a problemática da ocupação agroindustrial e agro-industrial occupation and how it presents itself
como esta se apresenta de forma rápida e intensa rapidly and intensely generating serious
gerando graves impactos ambientais. Por fim, environmental impacts. Finally, it proposes to rescue
propõe-se resgatar o debate estrutural sobre o amplo the structural debate on the broad economic
processo de desenvolvimento econômico da development process of the Southwest region of
microrregião sudoeste do Estado de Goiás com Goiás state with some contributions to the state
algumas contribuições ao planejamento estadual. planning.
INTRODUÇÃO
TARTARUGA, 2004, apud MARIANI; ARRUDA, 2010, p. 2). “Este interesse reveste-se,
outras com base em suas configurações espaciais e nas ações empreendidas pelos seus
nativa tanto perto como distante das áreas fluviais.” (TSUJII et al, 2014). Em face disso
surgiu a ideia de fazer um levantamento dos aspectos socioeconômicos dos quatro maiores
nos quatro maiores municípios da microrregião sudoeste do Estado de Goiás, e como têem
o presente trabalho, que tem como objetivo geral compreender a expansão agroindustrial
regional e local.
METODOLOGIA
em princípio, deve-se ao fato de que a pesquisadora é natural da cidade de Jataí. Logo após
riqueza para o Estado e, consequentemente, para o país. Nesta pesquisa, de forma sucinta,
racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz, que pressupõe que só a razão é capaz de levar
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Brandão (2004) afirma que a questão territorial voltou ao foco com mais peso do que antes.
Para ele, agora parece que “tudo se tornou territorial”. Os agentes têm suas estratégias
concepção de espaço, que diz respeito ao ambiente propriamente dito, são as relações de
poder, bem como as manifestações culturais dos agentes que o habitam. Portanto, “ao se
produtivos locais que territorializam o lugar em que transcorre uma pluralidade de formas
são definidas como a síntese das relações sociais que dão corpo e conferem função ao
território. Elas são a “razão de ser” dos territórios, conferindo-lhes existência, seja material
ou imaterial.
Robert Sack (1986) apud Gil (2004, p. 7) afirma que a territorialidade é fruto das
uma expressão geográfica do exercício do poder em uma determinada área e esta área é o
território.
visto que estes compõem efetivamente as economias locais. Assim sendo, Bitoun;
vida social, considerando: a) o acesso aos recursos naturais e aos bens e serviços da
Segundo Gil (2004), essas contradições podem ser apresentadas de maneira sintética:
aqueles que têm acesso à terra e aos recursos que “urbanizaram” o campo e aqueles que
não têm.
Para Gil (2004), estas contradições engendram os conflitos sociais, presentes tanto
na cidade quanto no campo. Ambos, hoje, são opostos que se completam e se apresentam
sociais. A posse da terra está no centro dessa questão. Além dos conflitos, as contradições
Acrescenta-se a isso três premissas centrais que estimulam o debate sobre o rural e
formação da economia goiana que, grosso modo, pode ser dividido em três grandes fases: a
Estevam (1997, p.168) afirma que, nesta análise histórica, cabe destacar algumas
“fazenda sertaneja em Goiás era o lugar de morar, criar gado, plantar roça e sociabilizar-se, ou
seja, viver e produzir.” (id., 1997, p.50). Assim, na primeira metade do século XIX, “com a
campo, ruralizando a vida social na maior parte do território.” (id., 1997, p.28)
Além disso, Estevam (1997, p.2) chama a atenção para os dois lados que devem ser
“(...) de um lado, leva em conta que Goiás é resultado histórico particular do processo de
desenvolvimento capitalista brasileiro, que não se trata de um espaço isolado e sim de fração
parte’, que tem o espaço, o movimento e o ritmo de tempo próprios, balizados por progressos,
“se comparado ao montante nacional, Goiás em 1872 tinha 1,6% da população brasileira e, em
1890 apenas 1,5% da mesma. (...)” Para ele “no interior do território goiano, nos anos
Neste sentido, Silva (2002) relata que a economia goiana possuiu uma pequena
Assim, no período de 1940 a 1980, segundo Silva (2002), o estado ampliou sua
Nesse processo histórico, Estevam (1997) e Silva (2002) relatam que, outros fatores
impactos que esta causou na economia goiana. Dentre eles, destacam-se três:
“A primeira foi na segunda metade da década de 1950, no Governo JK, quando se criou o
Distrito Federal (DF), dentro do território goiano, dando início à construção de Brasília, a nova
capital federal; a segunda se refere à subdivisão do “antigo” Estado do Mato Grosso, em 1977,
ficando seu nome preservado na parte setentrional, recebendo a outra o nome de Mato Grosso
do Sul; por fim , em 1989, Goiás também foi subdividido, recebendo a parte norte o nome de
Tocantins, que passou a integrar a região Norte do país” (SILVA, 2002, p. 15).
“O crédito rural, que, no decênio anterior tivera importante atuação na modernização agrícola,
não manteve o aporte de recursos destinados ao Setor primário. Pelo contrario terminou o
período ofertando, em 1990, menos da metade do que havia destinado no ano de 1981 (redução
econômico por parte dos programas estaduais e federais. Como por exemplo, a Política de
setor industrial – que contribuía apenas com 7,3% da Renda Interna (década de 70),
América Latina durante a década de 80, período onde se observou um forte retrocesso da
(SILVA, 2002).
Silva (2002) afirma que a década seguinte (1990) foi marcada pela instabilidade
Assim também Silva (2002, p. 122) afirma que, “neste cenário, a economia goiana
“(...) produtivas da agricultura foram sendo substituídas por ‘novas forças’ do tipo industrial; o
espírito de inovação, o elevado capital técnico por trabalhador, a produção em massa e a alta
produtividade passaram a caracterizar grande parte das atividades produtivas na região. Goiás
marcado por crises econômicas e consolidação de São Paulo como centro industrial do
“Com a consolidação do parque industrial em São Paulo (segunda metade da década de 1950),
“A exploração agrícola moderna exigiu certo montante de capitais para o cultivo e, mesmo
com relação ao gado, a sua criação intensiva somente tornou-se economicamente viável para
quem obtivesse recursos: a maioria dos rebanhos passaram a ser criados em cercados e os
vaqueiros a receber pagamento em dinheiro. As relações de trabalho no campo tornaram-se
monetizadas e contratuais.”.
Diante disso, Silva (2002) afirma que Goiás aprofundou sua integração econômica
crescimento devido a políticas de expansão agrícola. Esse fato ocorreu por meio da
uso e cobertura das terras nesta região (CARMO et al., 2002; PRADO et al., 2009;
FOCKINK, 2007; PAIVA, 2011; RIBEIRO, 2005; RIBEIRO et al., 2008; LIMA et al.,
Lima et al. (2010), Santos et al. (2010), Paiva (2011), Carmo et al. (2002), Fockink
(2007), Ribeiro et al. (2008), Ribeiro (2005) e Pedroso et al. (2005) apud Tsujii et al.
(2014, p. 45) deixam claro que, a partir destes fatores, o Sudoeste Goiano torna-se um
expoente em produção de grãos do Estado de Goiás, e sua paisagem, marcada por cultivos
até então recentes na região e tradicionalmente por criação de gado, dá lugar ao arroz, ao
Conforme afirmam Silva et al. (2012, p. 02) apud Tsujii et al. (2014, p. 45), alguns
fatores que contribuíram para a efetivação da região enquanto produtora de grãos são: a) a
áreas do Cerrado traz consigo um custo social e ambiental muito grande”. (SILVA et al,
disponíveis.”. Em vista disso, denotou-se que aumentos nos níveis de renda, qualidade de
organizam sob uma base territorial, além de levarem em conta os distintos recursos do
território (como os recursos naturais e o capital social, por exemplo), se embasam nas
particulares permanentes estão instalados na área urbana e na área rural dos respectivos
municípios analisados.
50.000
Número de domicílios
40.000
30.000
Rural (número)
20.000 Urbano (número)
10.000
0
MINEIROS CAIAPÔNIA RIO VERDE JATAÍ
Municípios
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela
autora.
O Gráfico 1 demonstra que a ocupação territorial está em grande parte voltada para
a vida urbana e que os municípios de Rio Verde e Jataí são os que mais se destacam nesta
perspectiva includente.”.
MINEIROS
25.000
CAIAPÔNIA
20.000
RIO VERDE
15.000
10.000 JATAÍ
5.000
0
Admitidos Desligados Empregos
CAGED (Admitidos e desligados) e RAIS (Empregos)
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela
autora.
Gráfico 3 – Rendimento Médio (R$) em 2010.
1.300,00
1.250,00
Rendimento médio (R$)
1.200,00
1.150,00
1.100,00
1.050,00
1.000,00
950,00
MINEIROS CAIAPÔNIA RIO VERDE JATAÍ
Municípios
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela
autora.
Outro dado que chama a atenção é o rendimento médio nos municípios. Percebe-se
caso de Rio Verde, apesar do rendimento médio ser um pouco menor do que Mineiros, a
atração àquela cidade é ainda maior, pois a mesma conta com 53% da população em
Tabela 2 – Valor Adicionado Bruto a Preços Básicos e o percentual relativo dos municípios em 2010.
Atividades Mineiros Caiapônia Rio Verde Jataí
econômicas (R$ mil) % (R$ mil) % (R$ mil) % (R$ mil) %
Total 1.074.095 14 343.028 5 3.983.231 54 2.035.137 27
Agropecuária 323.596 20 203.455 12 593.343 36 522.810 32
Indústria 201.801 11 22.098 1 1.172.983 63 455.161 25
Serviços 548.698 14 117.475 3 2.216.905 56 1.057.166 27
Administração Pública 129.394 15 40.162 5 447.442 53 221.966 27
Impostos 99.339 13 12.705 2 467.256 59 209.276 26
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela
autora.
Borges, que possibilita traçar, para cada município, seu perfil econômico e setorial. O
Agropecuária
20% MINEIROS
32%
CAIAPÔNIA
12%
RIO VERDE
JATAÍ
36%
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela
autora.
Gráfico 5 – Indústria em valores relativos do ano de Gráfico 6 –Serviços em valores relativos do ano de
2010. 2010.
Serviços
Indústria
1% 14%
11% 3%
25% 27%
MINEIROS
MINEIROS
CAIAPÔNIA
CAIAPÔNIA
RIO VERDE
RIO VERDE
JATAÍ
JATAÍ
63% 56%
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro
Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado
pela autora. pela autora.
Percebe-se que o município de Rio Verde, em relação aos demais, apresenta uma
diferença considerável nos setores de serviços (56%) e da indústria (63%), sendo que este
município possui 54% do Total do Valor Adicionado Bruto, o que representa quase o
dobro de Jataí (27%), que é maior do que a soma (19%) dos municípios de Mineiros (14%)
a abrir espaços para outras atividades, buscando a coesão social, segundo o sociólogo
Émile Durkheim.
Apresentou-se o PIB per capita e o Coeficiente Gini por entender que ambos, ao
serem analisados, podem indicar a qualidade de vida da população, pois revelam o perfil da
Gráfico 5 – PIB per capita (R$) em 2010. Gráfico 6 – Coeficiente Gini em 2010.
26.000,00 0,58
25.000,00 0,57
PIB per capita (R$)
24.000,00 0,56
Coeficiente Gini
23.000,00 0,55
22.000,00 0,54
21.000,00
0,53
20.000,00
0,52
19.000,00
MINEIROS CAIAPÔNIA RIO VERDE JATAÍ 0,51
MINEIROS CAIAPÔNIA RIO VERDE JATAÍ
Municípios
Municípios
Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro Fonte: Dados extraídos do site do Instituto Mauro
Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela Borges (http://www.imb.go.gov.br/) e elaborado pela
autora. autora.
Observa-se que o município de Jataí possui um PIB per capita ligeiramente maior
do que o município de Rio Verde. Entretanto, o seu Coeficiente Gini demonstra uma
concentração de renda mais elevada. Ao que parece, o município de Rio Verde, que
apresenta o maior valor adicionado bruto entre os quatro municípios, é o que apresenta
Tabela 3 - Índice de Degradação (ID) e classificação das microrregiões do Estado de Goiás, em 2005.
Ordem Microrregião ID
01 Meia Ponte (GO) 3.2350
02 Vale do Rio dos Bois (GO) 2.5813
03 Sudoeste de Goiás 2.5363
04 Goiânia (GO) 2.3299
05 Anápolis (GO) 2.1451
Fonte: Tabela elaborada pela autora, a partir de dados extraídos do artigo de CUNHA; LIMA; MOURA
(2005), referentes à pesquisa realizada nos Estados de Goiás e Tocantins.
terceiro lugar do ranking das microrregiões com maior índice de degradação global do
mais degradadas, na sua maioria (94%), são pertencentes ao Estado de Goiás, ou seja, a
modernização da agricultura nas áreas do Cerrado trás consigo um custo social e ambiental
muito grande.
CONCLUSÕES
diversidade, deve estar alicerçado no equilíbrio das relações sociais, econômicas, políticas,
territorial, por si só, não são condições suficientes de garantia de desenvolvimento, já que o
crescimento econômico dos municípios analisados parece não ter sido compartilhado pela
população, uma vez que o coeficiente Gini dos que apresentaram melhores desempenhos
sustentável deve ser uma força em contraponto ao poder do capital, assumindo um caráter
regionais e locais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar o comportamento da balança comercial do
Brasil no período de 2014 a 2016 no que se refere às exportações e importações
realizadas para a China e mostrar se há ou não dependência do Brasil em relação às
compras desse país. A base teórica que enseja essa discussão está fundamentada nas
Teorias da Vantagem Comparativa, Dotação Relativa dos Fatores e Teoria do Comércio
Internacional. Quanto aos métodos de análises adotados para explicitar a problemática
proposta, partiremos de uma pesquisa de caráter quantitativo, permeada com a coleta de
dados secundários obtidos no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior – MDIC, a Secretária do Comercio Exterior – SECEX, Banco
Central – BC e referente a China foram extraídas do Conselho Empresarial Brasil-
China- CEBC. Os resultados obtidos mostram que a China tem considerável
participação na balança comercial brasileira, principalmente nas compras de produtos
agrícolas que pertencem ao agronegócio brasileiro, tal qual, a soja e o milho, por
exemplo.
1. INTRODUÇÃO
Ainda no contexto das trocas entre fatores de produção escassos e abundantes entre
diferentes países, o Teorema de Stolper-Samuelson (1941)2 diz que o comércio
internacional se beneficia do fator de produção abundante em detrimento do fator de
produção escasso de cada país. O diferencial entre o Teorema de Stolper-Samuelson e a
Teoria de Heckscher-Ohin é que o teorema avalia os efeitos do comércio na distribuição
funcional da renda, ou seja, em que medida a troca de mercadorias influencia a repartição
2
Stolper, Wolfang & Samuelson, Paul. Protection and real wages. In: Review of Economic Studies, 1941.
da renda entre o capital e o trabalho (KRUGMAN; OBSTFELD, 2009; CARVALHO,
2000).
Em termos de comércio internacional, o Teorema de Stolper-Samuelson argumenta
que “quando o preço relativo de um bem sobe, tal reflete um aumento na sua procura pelos
indivíduos, isto é, um aumento da escassez relativa desse bem. Este, por seu turno, reflete
um aumento na escassez dos fatores que entram na sua produção” (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2009, p.257). De fato, para produzir mais do bem, aproveitando a sua subida
de preço, os produtores terão de utilizar mais fatores elevando a sua procura e dispondo-se
a oferecer maior remuneração (CARVALHO, 2000). Assim sendo, quanto mais
intensivamente for um fator utilizado na produção do bem em causa, mais aumentará o seu
preço (remuneração) relativamente ao outro fator.
A nova Teoria do Comércio Internacional implementada por Paul Krugman que
retrata as imperfeições de mercados, retornos crescente de escala e a distribuição
geográfica da atividade econômica supera a análise neoclássica que reduzia o comércio
internacional as diferenças básicas entre os países. Paul Krugman desenvolve a sua teoria
partindo do conceito de “economia de escala” mediante a qual os maiores volumes de
produção com menores custos facilitam a oferta dos seus produtos no mercado
internacional, beneficiando os seus consumidores. Para isso, é necessário que os países se
planejem no sentido de se especializarem em produção de grande escala, custos reduzidos
e diversificação produtiva (SNÁCHEZ; ALDANA, 2008).
Para o caso do Brasil, é o que está faltando na pauta de exportação dos seus produtos
no comércio internacional, a diversidade e a agregação de valor aos seus produtos
agrícolas, principalmente aqueles que compõem o agronegócio brasileiro e que são
bastantes demandados pela China. A seguir discutir-se-á as relações comerciais entre
Brasil e China no comércio internacional de commodities.
As relações diplomáticas entre Brasil e China remontam aos anos 1950 quando então
aumentou o interesse dos chineses pela América Latina, em particular, o Brasil. Entretanto,
somente nos anos 1960, o Brasil começou a se aproximar da China “afirmando que
desacordos ideológicos não deveriam impedir que o país mantivesse relações com todos os
povos” (BECARD, 2011, p.32). Assim, a política de alargamento de parceiros comerciais e
de aumento do prestígio internacional do país fez que, durante a presidência de Jânio
Quadros (janeiro de 1961 a agosto de 1961), o Brasil aproximasse-se da China (BECARD,
2011).
Em agosto de 1961, por exemplo, o Vice-Presidente João Goulart visitou a China,
tornando-se o primeiro governante brasileiro a realizar uma visita oficial ao país. A partir
da instauração do regime militar brasileiro, em 1 de abril de 1964, o governo de Castello
Branco afastou-se da política externa praticada até então, a chamada política externa
independente, e decidiu juntar-se às potências ocidentais, sobretudo por meio do
alinhamento automático com os Estados Unidos. Romperam-se, de imediato, as relações
com a China, sob a influência de ideias discriminatórias e do repúdio às práticas
comunistas revolucionárias (BECARD, 2011).
Porém, no início da década de 1970, diferentes fatores permitiram uma
reaproximação entre Brasil e China, conforme observa Becard (2011):
Por um lado, a China diminuiu seu apoio aos movimentos revolucionários na
América Latina (considerados inaceitáveis pelo regime militar brasileiro) e
buscou desenvolver uma diplomacia estratégica de governo a governo –
prometendo respeitar o princípio de não intervenção em assuntos internos
(também adotado pela diplomacia brasileira). Interessava à China encerrar o
isolamento de Pequim no sistema internacional, aumentar sua legitimidade
internacional e angariar apoio e reconhecimento, inclusive perante atitudes
independentistas de Taiwan. Frente aos ganhos limitados obtidos até então, a
política externa chinesa também passou a ostentar atitudes menos ideológicas e
mais pragmáticas, voltando-se não apenas para a busca de segurança e
independência, mas principalmente do desenvolvimento nacional (BECARD,
2011, p. 33-34).
3. METODOLOGIA
$250.000.000.000
$200.000.000.000
$150.000.000.000
Exportação
$100.000.000.000
Importação
$50.000.000.000
$-00
2013 2014 2015
2016
No ano de 2016 foram feitas vendas externas para os três principais países de
destino no valor de aproximadamente 71,7 bilhões de dólares, onde a China foi o país que
mais comprou do Brasil, tendo participação de 18,97% do total, os Estados Unidos
somaram 12,5% e a Argentina 7,24%. As importações para esses países somaram mais de
56 bilhões de dólares, com participação da China de 17%, os Estados Unidos com 17,3% e
a Argentina com 6,6%.
Tabela 3 – Importações brasileiras - principais países de origem 2014-2016 (US$)
2016 Part. 2015 Part. 2014 Part.
Total Geral 137.552.002.856 171.449.050.909 229.154.462.583
PAÍSES
Estados
23.802.604.305,00 17,30% 26.471.345.593,00 15,44% 37.344.985.579,00 16,30%
Unidos
China 23.363.994.789,00 16,99% 30.719.405.022,00 17,92% 35.018.330.949,00 15,28%
Alemanha 9.130.741.915,00 6,64% 10.379.562.880,00 6,05% 13.837.992.732,00 6,04%
Argentina 9.084.493.810,00 6,60% 10.284.589.084,00 6,00% 14.142.927.904,00 6,17%
Total de Part. 65.381.834.819,00 47,53% 77.854.902.579,00 45,41% 100.344.237.164,00 43,79%
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
2016
Minério de Ferro
2015
2014
Soja
Diante desta análise, observa-se que em 2015, a soja continuou sendo o produto
mais exportado para a China somando mais de US$ 15 bilhões sendo responsável por
44,34% do total exportado, enquanto os minérios de ferro e seus concentrados com mais de
US$ 5 bilhões com 16,15% de participação do total exportado.
De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico
Exportaminas (2017), ocorreu em 2015 uma redução nas exportações de alguns um dos
principais produtos como o minério de ferro, que teve uma queda de US$ 5,99 bilhões,
seguindo a soja que reduziu para US$ 827,31 bilhões.
Tabela 5 - Exportação brasileira para China - principais produtos 2016 /2015
Descrição 2016 2015
Valor US$ FOB Part % Valor US$ FOB Part
%
Total geral 35,133,589,864 100 35,607,523,612 100
Nº Total dos principais produtos 34,661,741,029 98,66 34,076,896,821 95,7
exportados
1 Soja, mesmo triturada, exceto para 14,386,114,444 40,95 15,787,785,730 44,3
semeadura.
2 Minérios de ferro e seus concentrados 7,202,755,212 20,50 5,749,581,730 16,1
3 Óleos brutos de petróleo 3,908,156,336 11,12 4,138,635,289 11,62
Pasta quim. madeira de n /sulfato,
4 1,753,396,255 4,99 1,645,642,350 4,62
semi/branq
Pedaços e miudezas, comest. de
5 859,403,066 2,45 607,659,787 1,71
galos/galinhas, congelados
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC
US$ FOB (A) Var. Part. US$ FOB (B) Var. Part. Saldo (a-b) Corrente (a+b)
% % % %
2014 40,616,107,929 -11,75 18,04 37,344,985,579 0,11 16,30 3,271,122,350 77,961,093,508
Podemos observar na tabela 8 acima, que a exportação para a China tem aumentado
dos períodos de 2014 a 2016. Em 2014 as exportações foram mais de US$ 40 bilhões,
encerrando em 2016 com a sua participação com o percentual de 18,97%. correspondendo
um montante de mais de US$ 35 milhões. Esses dados demonstram o crescimento das
vendas do Brasil para China.
De acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China – CEBC (2017) a corrente
comercial do Brasil e China em 2015 totalizou US$ 66,3 bilhões indicando um saldo
comercial entre os dois países de US$ 4,8 bilhões, o corresponde a 49% se comparado a
2014. Em 2016 as exportações da China alcançaram US$ 35 bilhões enquanto nas
importações foram US$ 23 bilhões, resultando em um superávit favorável ao Brasil de US$
12 bilhões, demonstrando excelentes resultados para Balança Comercial Brasileira.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BECARD, Danielly Silva Ramos. O que esperar das Relações Brasil-China? Revista
Sociologia Política, 19 (2), 31-94. 2011.
CARVALHO, Maria Auxiliadora de. Economia Internacional. Saraiva, São Paulo. 2000.
NOBRE, Fábio Chaves; MONTE, Washington Sales do. Padrão de Comércio dos
Estados Brasileiros: uma aplicação do Modelo de Heckscher-Ohlin. (On-line). 2012.
Disponível em <http://periodicos.uern.br/index.php/coloquio/article/view/132/124>Acesso
em: 3 Julho2016).
RODRIGUES, Letícia Fernanda; OLIVEIRA, Mario Luiz de. Balança Comercial Brasil–
China Sob a Ótica Brasileira. Encontro Estudantil Regional de Relações Internacionais,
2015.
REIS, Daiane Souza; PONTILI, Maria Rosangela. Analise das relações comerciais entre
Brasil e China de 2003 e 2014. I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de
Negócios 2015. Disponível em: <http://cac-
php.unioeste.br/eventos/cingen/artigos_site/convertido/7_Economia_Internacional/Analise
_das_relacoes_comerciais_entre_Brasil_e_China_de_2003_a_2014> Acesso em: 20 de
maio de 2016.
Análise dos Determinantes da insegurança alimentar no Brasil para o ano de 2013
Resumo
No presente trabalho realiza-se uma análise dos determinantes da insegurança alimentar no
Brasil, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares (PNAD) realizada
em 2013. Utilizando um modelo logístico ordenado, comprovou-se a hipótese de que a
propensão à insegurança alimentar sofre efeito estatisticamente significativo do perfil
socioeconômico dos indivíduos. Conclui-se que as famílias estatisticamente mais
vulneráveis são chefiadas por mulheres, indivíduos não brancos, mais jovens, com menor
escolaridade ou renda per capta, e que habitam domicílios menores sem saneamento. A
localização na zona urbana, ou nos estados de Piauí e Maranhão, também aumenta a
propensão à insegurança alimentar.
Palavras Chaves: fome; insegurança alimentar; nutrição; políticas sociais.
Abstract
In the present paper an analysis of the determinants of food insecurity in Brazil is made,
based on data from the National Survey by Household Samples (PNAD) conducted in 2013.
Using an ordered logistic model, the hypothesis that the propensity for food insecurity
suffers a statistically significant effect of the socioeconomic profile of the individuals was
verified. It is concluded that the statistically most vulnerable families are headed by women,
non-whites, younger, less educated or per capita income, and who live in smaller households
without sanitation. The location in the urban area, or in the states of Piauí and Maranhão,
also increases the propensity for food insecurity.
Keywords: hunger; food insecurity; nutrition; social politics.
1
Engº Agrônomo, mestrando em Economia pelo Departamento de Economia da Universidade Federal de
Viçosa. adauto.junior@ufv.br.
2
Economista, mestrando em Economia pelo Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa.
aboubacari.abdoulaye@ufv.br.
3
Profª adjunta do Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa. cristiana.rodrigues@ufv.br.
1. Introdução
segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), não tem
necessária para que tenha uma vida ativa (FAO, 1996), o que compromete sua saúde, e,
existente até mesmo em nações desenvolvidas, como é o caso dos Estados Unidos, onde, em
2012, quase 15% da população estava em situação de insegurança alimentar, com 5,7% em
No Brasil não poderia ser diferente. O país tem à sua disposição uma quantidade
Ciudades de América Latina y el Caribe 2012”, publicado pelo Programa das Nações Unidas
coeficientes de Gini estavam acima de 0,56, indicando uma alta concentração de renda
(ONU, 2012).
Esses dados refletem um cenário de alto nível de exclusão social, a qual, segundo
da população brasileira sofria com insegurança alimentar, com 7,7% da população em estado
de insegurança alimentar grave (IBGE, 2006), dados que evidenciam a dimensão alarmante
ano de 2013. Utilizando dados da pesquisa suplementar realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística no ano de 2013, que aplicou como metodologia a Escala Brasileira
de insegurança alimentar em seus diferentes graus de severidade. Com base na discussão dos
políticas sociais.
2. Metodologia
2.1.Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
No contexto da relevância dos estudos sobre insegurança alimentar e políticas sociais
no Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares (PNAD) realizou no ano de 2013,
EBIA é definida, segundo a PNAD (2015), como uma escala psicométrica que mensura a
percepção das famílias em relação ao acesso aos alimentos, o que a torna um instrumento
associadas.
Ainda segundo a PNAD (2015), uma vantagem do uso das escalas psicométricas é
vivenciada e percebida pelas pessoas afetadas, captando não só a dificuldade de acesso aos
segundo Escamilla e Corrêa (2008), essas escalas podem ser adaptadas, através de
Considerando as vantagens características desse tipo de escala, a EBIA foi criada por
coordenado pela Dra. Ana Maria Segall Corrêa, entre os anos de 2003 e 2004. A escala
- USDA) em meados da década de 1990 (PNAD, 2015). Segundo a PNAD (2015), esse
não moradores com menos de 18 anos, e com base no número de respostas afirmativas à 14
questões- cada resposta afirmativa valendo um ponto- classifica-se o domicílio entre uma
1
Estudos realizados com financiamento do Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS
e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP. Para melhor detalhamento do processo
de adaptação e validação da EBIA, consultar Corrêa et al. (2003); Sampaio et al. (2006).
Quadro 1: Classificação do domicílio com ou sem moradores com menos de 18 anos entre
os graus de segurança alimentar com base na pontuação da EBIA.
Pontos de corte para domicílios
Classificação
Com menores de 18 anos Sem menores de 18 anos
Segurança alimentar 0 0
Insegurança alimentar leve 1-5 1-3
Insegurança alimentar moderada 6-9 4-5
Insegurança alimentar grave 10-14 6-8
Fonte: PNAD (2015).
pode-se estudar a ocorrência dos diferentes graus desse fenômeno à nível nacional, avaliando
variáveis pesquisadas. Por esse motivo o presente trabalho baseia-se na utilização dos dados
disponibilidade dos dados na base da PNAD. Desse modo, explora-se ao máximo possível
problema de pesquisa.
Logit Ordenado.
binomial. Assume-se que existe uma variável latente 𝑦 ∗ , que possui valor estimado por uma
regressão linear com relação às variáveis explicativas, e cujo valor determina a variável
𝑌 = 1 (𝑠𝑒𝑔𝑢𝑟𝑎𝑛ç𝑎 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟) 𝑠𝑒 𝑦 ∗ ≤ µ1
𝑌 = 2 (𝑖𝑛𝑠𝑒𝑔𝑢𝑟𝑎𝑛ç𝑎 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟 𝑙𝑒𝑣𝑒) 𝑠𝑒 µ1 ≤ 𝑦 ∗ ≤ µ2
𝑌 = 3 (𝑖𝑛𝑠𝑒𝑔𝑢𝑟𝑎𝑛ç𝑎 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟 𝑚𝑜𝑑𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎) 𝑠𝑒 µ2 ≤ 𝑦 ∗ ≤ µ3
𝑌 = 4 (𝑖𝑛𝑠𝑒𝑔𝑢𝑟𝑎𝑛ç𝑎 𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑟) 𝑠𝑒 µ3 ≤ 𝑦 ∗ (2).
pela equação (1) que a propensão à insegurança alimentar será proporcional ao valor de 𝛽,
𝑗
ou seja, um valor positivo de 𝛽 indica que a presença da característica 𝑥𝑖 (em caso de
5
A distribuição do termo de erro 𝜀𝑖 é dada por 𝐹(𝜀𝑖 )=1/(1-𝑒 −𝑍𝑖 ) , e 𝜀𝑖 apresenta média igual à zero e
variância igual à um.
variável dummie, por exemplo o gênero feminino ou a cor da pele não branca) ou que um
𝑗
aumento na variável 𝑥𝑖 (em caso de variável contínua, por exemplo a idade ou a renda per
𝑗
características dadas pelo seu vetor de variáveis explicativas 𝑥𝑖 , em cada grau de
insegurança alimentar (representado pelos valores de y que variam de 1 a 4). Esse processo
é utilizado na discussão dos resultados por meio da análise de cenários. Essa análise consiste
insegurança alimentar.
independente desta ser leve, moderada, ou grave, uma vez que a análise com decomposição
entre esses diferentes graus demandaria uma discussão bastante extensa para ser sintetizada
multinomial e ordenado da escala EBIA não pode ser ignorado na estimação, o que justifica
2.4.Cenários analisados
trabalho.
importante ressaltar que o efeito das variáveis que estão incluídas no modelo e que não são
alteradas entre cenários é controlado, pois utiliza-se, por convenção, o valor médio das
variáveis que não são analisadas. A análise em cenários permite, dessa forma, o isolamento
discussão.
dos estados de Roraima, Amapá e Mato Grosso do Sul, a dummy que indica se o domicílio
possui acesso à energia elétrica ou não, a dummy para ocupação como empregado
domicílio. A maioria das demais variáveis foi significativa à um nível de 0,1%, o que indica
alimentar. Outro resultado relevante é que a variável dummie Criacaopesca, que indica se o
estratégia das famílias em situação de insegurança alimentar para enfrentar esse problema.
para domicílios com pessoas de referência com diferentes idades, gêneros, e raças.
3,72%
3,24%
3,23%
2,96%
2,95%
2,56%
2,56%
2,34%
2,33%
2,02%
2,02%
1,85%
1,60%
15 ANOS 30 ANOS 45 ANOS 60 ANOS
da idade é negativo, evidenciando que quanto maior a idade da pessoa de referência, menor
resultado é coerente com a ideia de que indivíduos com maior idade possuem maior
possíveis. É importante ressaltar que o efeito das demais variáveis, como o tipo de emprego
e o nível de renda, são controlados, o que permite inferir que o efeito observado é oriundo
Hoffman (2008), em que as mulheres e os indivíduos não brancos estão associados à uma
raça. No entanto, a discrepância entre gêneros e raças diminui com o aumento da idade dos
compensa parte dos efeitos negativos dessas características sobre sua alimentação adequada.
14,12%
13,69%
12,82%
11,59%
10,27%
6,80%
6,58%
6,13%
5,50%
4,83%
3,14%
3,03%
2,81%
2,52%
2,20%
1,42%
1,37%
1,27%
1,13%
0,99%
100 400 800 1200 1600
relação negativa entre essa variável e a insegurança alimentar. No presente trabalho, tem-se
que um aumento da renda per capta de R$100,00 para R$400,00, mantidas constantes as
da transferência de renda como política de combate à esse problema social. O efeito da renda
é explicado, segundo Kepple (2014), pelo fato de que quanto menor a renda de um domicílio,
maior a proporção da renda total gasta em alimentos, o que torna os indivíduos mais sensíveis
aos aumentos nos preços dos alimentos e, consequentemente, aumenta o risco de insegurança
alimentar.
As categorias de emprego também apresentaram efeito sobre a ocorrência de
como empregado doméstico, embora contrarie o resultado obtido por Hoffmann (2008),
pode ser explicado considerando que essa ocupação geralmente envolve remuneração não
financeira, recebida de modo informal pelo trabalhador, como resultado da relação entre
explica-se pelo fato de que esse tipo de trabalhador possui mais independência na alocação
de sua mão de obra e de seus rendimentos, o que permite maior flexibilidade na tomada de
O efeito negativo da categoria sem carteira pode ser explicado pela instabilidade
característica dessa situação, em que o indivíduo não possui direitos trabalhistas, o que limita
pensionista, por sua vez, pode ser associado à divisão do orçamento familiar desses
indivíduos, mas essa justificativa demanda estudos detalhados a respeito das características
condições de saneamento.
Gráfico 3- probabilidade do enquadramento na situação de insegurança alimentar para
diferentes tamanhos de domicílio e condições de saneamento.
Com água canalizada e esgoto Sem água canalizada e esgoto
7,91%
5,45%
3,49%
2,37%
1,73%
1,17%
do domicílio, representado pela variável número de pessoas por cômodo, assim como o fato
análise (assim como nas outras), é controlado o efeito das demais variáveis do modelo, como
a renda per capta. Nesse caso, o efeito do tamanho relativo do domicílio pode estar associado
ao comportamento econômico dos indivíduos, uma vez que, para indivíduos com mesma
diferentes priorizações de necessidades básicas como a moradia, o que pode ser extrapolado
para a alimentação, explicando esse efeito. O efeito do acesso ao saneamento, por sua vez,
pode ser explicado pelo fato de que o serviço de saneamento básico geralmente está
segurança alimentar.
e da posse de bens de consumo não essenciais como automóveis, celulares, e etc.) pode
distorcer a percepção dos indivíduos com relação à real utilidade do consumo de cada bem,
2,54%
2,32%
2,23%
2,17%
2,11%
2,07%
2,02%
1,89%
1,84%
1,77%
1,72%
1,68%
1,64%
1,50%
1,36%
1,32%
1,23%
1,12%
1,08%
1,05%
1,02%
1,00%
0,97%
0,91%
0,88%
0,85%
0,83%
0,81%
0,79%
0,72%
0,66%
1 ANO 5 ANOS 10 ANOS 15 ANOS
Esse efeito da escolaridade pode ser atribuído à melhoria da capacidade de tomada de decisão
decorrente da capacitação, de forma que indivíduos com mesmas características, porém com
diferentes escolaridades, alocam sua renda de forma que as necessidades básicas são
do domicílio ser idosa também são fatores que diminuem a probabilidade de o domicílio
pessoa de referência idosa, a maior experiência na alocação de renda por parte desses
indivíduos resulta em um aumento na importância atribuída à alimentação adequada.
Autores como Ying e Yao (2006) e Leventhal (1997) corroboram essa ideia, com estudos
que demonstram que consumidores idosos apresentam algumas particularidades como, por
exemplo, ter atitudes de consumo mais maduras, priorizar a qualidade dos produtos
consumidos, e a preferência por alimentos mais saudáveis. Esses fatores permitem que, para
de políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Nesse caso, parte
da renda que seria utilizada na alimentação das crianças torna-se disponível para a
alimentar.
O fato do indivíduo morar na zona rural também teve efeito significativo de redução
por Hoffmann (2008). Esse efeito, intuitivamente esperado, é explicado pelo fato de que os
indivíduos que habitam a zona rural dispõem da possibilidade de explorar a terra para a
Essa característica torna subestimado o valor da variável renda informado pelos habitantes
da zona rural, pois enquanto que na zona urbana os indivíduos necessitam, obrigatoriamente,
utilizar a renda para adquirir alimentos, o valor monetário da produção consumida no próprio
empreendimento pelos habitantes da zona rural geralmente não é contabilizado como renda.
em que o domicílio está localizado. Pelo fato de cada estado apresentar um conjunto de leis
estaduais próprias, além de características territoriais semelhantes, espera-se encontrar
diferentes propensões à insegurança alimentar para indivíduos idênticos que habitam locais
federação.
9,58%
8,92%
5,63%
5,46%
5,31%
5,09%
5,01%
4,81%
4,66%
4,60%
4,51%
3,98%
3,89%
3,79%
3,70%
3,57%
3,49%
3,48%
3,35%
3,22%
3,16%
3,15%
2,80%
2,78%
2,77%
2,46%
1,66%
ES SP AP MS RO DF PE MT RJ SC MG PR GO RS AC AL RR RN PA CE SE PB AM TO BA PI MA
OBS: Os efeitos dos estados de Mato Grosso do Sul, Amapá, e Roraima, não foram significativos ao
nível de 10% de significância.
Fonte: Elaboração própria com base no modelo estimado.
Conforme observa-se no Gráfico 5, para indivíduos idênticos com relação às demais
insegurança alimentar são Espírito Santo e São Paulo, enquanto os estados com maior
probabilidade são Piauí e Maranhão. Esses resultados podem ser explicados por dois fatores,
subsistência em seus territórios, uma vez que o principal meio alternativo de acesso aos
alimentar.
Como foi verificado no gráfico 2, a renda é um dos fatores que apresenta maior
influência sobre esse fenômeno. No entanto, entende-se que esse efeito depende também do
índice de preços, pois o consumo é determinado pela renda real dos indivíduos. Porém, a
avaliação da hipótese de que a diferença entre o efeito dos estados deve-se à diferença de
preços não é possível neste trabalho, devido à ausência de índices de preço agregados à nível
de unidade da federação.
territoriais (estado em que o indivíduo reside, e localização em zona urbana ou zona rural).
Esses determinantes influenciam desde o poder aquisitivo dos indivíduos (caso dos
4. Considerações finais
outros produtos não essenciais. Observou-se também que o fato do indivíduo de referência
no domicílio ser uma mulher ou possuir pele de cor não branca, torna-o mais vulnerável à
insegurança alimentar. Por outro lado, a localização na zona rural, um aumento no tamanho
relativo do domicílio (em pessoas por cômodo), e o fato de possuir condições de saneamento
devem ser orientadas com maior atenção às famílias inerentemente mais vulneráveis a esse
problema, como as que são chefiadas por mulheres, indivíduos não brancos, mais jovens,
com menor escolaridade e menor renda per capta, e que habitam domicílios menores
localizados na zona urbana, sem saneamento básico. Também é importante analisar com
maior atenção a ocorrência de insegurança alimentar nos domicílios localizados nos estados
5. Referências bibliográficas
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6. Anexo
Tabela 1- Resultados da estimação do modelo econométrico logístico ordenado.
Ordered logistic regression Number of obs = 73894
Wald chi2(46) = 6733.70 Wald chi2(46) = 6733.70
Log pseudolikelihood = -16784924 Pseudo R2 = 0.2049
seg Coef. Robust Std. Err. z P>z [95% Conf. Interval]
RO .1343084 .0976177 1.38 0.169 -.0570187 .3256355
AM .7990758 .0772342 10.35 0.000 .6476996 .950452
RR .6266797 .1349048 4.65 0.000 .3622712 .8910883
PA .6626027 .0688522 9.62 0.000 .527655 .7975505
AP .1209696 .1699029 0.71 0.476 -.2120341 .4539732
TO .8295397 .0852317 9.73 0.000 .6624887 .9965907
MA 1.435.284 .077524 18.51 0.000 128.334 1.587.228
PI 1.357.087 .0846573 16.03 0.000 1.191.162 1.523.012
AC .4740614 .1290455 3.67 0.000 .2211368 .726986
CE .6954788 .0693968 10.02 0.000 .5594635 .8314941
RN .6477144 .0981034 6.60 0.000 .4554353 .8399935
PB .7547924 .0853284 8.85 0.000 .5875519 .9220329
PE .2561662 .0755656 3.39 0.001 .1080603 .404272
AL .4956789 .1016864 4.87 0.000 .2963772 .6949806
SE .7373331 .0875894 8.42 0.000 .5656609 .9090052
BA .8617925 .0640677 13.45 0.000 .7362222 .9873627
MG .3608641 .0634771 5.68 0.000 .2364512 .4852769
ES -.4013734 .1198366 -3.35 0.001 -.6362488 -.166498
RJ .317046 .0694927 4.56 0.000 .1808428 .4532492
PN .3846728 .0739876 5.20 0.000 .2396597 .5296859
SC .3560363 .1034319 3.44 0.001 .1533135 .5587591
RS .4468655 .0720594 6.20 0.000 .3056317 .5880993
MS .1261868 .1072948 1.18 0.240 -.0841072 .3364809
MT .2783833 .1006379 2.77 0.006 .0811366 .47563
GO .4210984 .0753283 5.59 0.000 .2734577 .5687391
DF .2537278 .103825 2.44 0.015 .0502345 .4572211
Idade -.0160747 .0013954 -11.52 0.000 -.0188097 -.0133398
estudo -.018945 .0037536 -5.05 0.000 -.026302 -.011588
rendPerCapta -.0020315 .0000706 -28.79 0.000 -.0021698 -.0018932
pesporcomodo 1.441.631 .0421532 34.20 0.000 1.359.012 1.524.249
aguacanalizada -.2127518 .0520194 -4.09 0.000 -.3147078 -.1107957
esgoto -.184885 .0300995 -6.14 0.000 -.2438789 -.125891
energia .0754883 .2031755 0.37 0.710 -.3227283 .4737049
funcionariopublicooumilitar .2239963 .0471893 4.75 0.000 .1315069 .3164857
semcarteira .28285 .0342398 8.26 0.000 .2157413 .3499587
empregadodomestico -.0439979 .0541399 -0.81 0.416 -.1501101 .0621144
empregador .2069506 .0900707 2.30 0.022 .0304152 .383486
contapropria .0918974 .0333277 2.76 0.006 .0265762 .1572185
aposentadoriaoupensao .3186513 .0520999 6.12 0.000 .2165374 .4207652
idoso -.2359903 .0659096 -3.58 0.000 -.3651708 -.1068098
criacaopesca .2803888 .0821531 3.41 0.001 .1193717 .441406
rural -.2087675 .040886 -5.11 0.000 -.2889026 -.1286325
FEM .2389869 .0318363 7.51 0.000 .1765888 .301385
nbranco .1475059 .029428 5.01 0.000 .0898281 .2051838
agricola -.0089093 .0426027 -0.21 0.834 -.0924091 .0745905
criança -.7404036 .4557537 -1.62 0.104 -1.633.664 .1528572
/cut1 1.126.858 .2250991 .6856716 1.568.044
/cut2 289.594 .2264813 2.452.045 3.339.835
/cut3 4.005.663 .2290443 3.556.744 4.454.581
Fonte: Elaboração própria.
Determinantes da utilização do crédito rural através do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar em 2014
Determinants of the use of rural credit through the National Family Farming
Strengthening Program in 2014
Abstract
This paper analyzes the determinants of the use of rural credit through the National Program
for Strengthening Family Farming (Pronaf) in the year 2014. Through data from the National
Survey by Household Samples (PNAD) of 2014, a descriptive statistical analysis was carried
out, and the probability of using rural credit through the program for different family farmers
profiles was simulated using a logistic econometric model. The results confirm the
hypothesis that the producer profile has a statistically significant effect on the probability of
using Pronaf. We identified positive effects due to increased schooling and ownership of the
land title; and negative effects of female gender and non-white skin color. The effects of the
different marketing channels were greater the greater the stability offered, the greater the
likelihood associated with the farmers selling to the government, and the smaller ones
associated with those selling directly to the consumer, or to intermediaries. It is concluded
that the effectiveness of PRONAF as a financing program demands, in addition to the credit
supply, comprehensive technical assistance and administrative capacity-building actions, as
well as specific interventions for more vulnerable groups, such as women and non-white
individuals.
Keywords: Pronaf; Investments; family farming.
1
Engº Agrônomo, mestrando em Economia pelo Departamento de Economia da Universidade Federal de
Viçosa. adauto.junior@ufv.br.
2
Profº adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa. francisco.cassuce@ufv.br.
1. Introdução
inserção nos mercados, fatores que impedem que os agricultores familiares valorizem os
pressuposto básico de que existe um potencial de geração de renda no meio rural, e nos
municípios aos quais se relaciona diretamente, que a sociedade não tem sido capaz de
valorizar. Esse pressupôs justifica-se em algumas considerações, como o fato de que nas
utilização do crédito rural por meio do programa. Mais especificamente, objetivou-se avaliar
o perfil do agricultor familiar brasileiro através da análise estatística descritiva dos dados da
2. Metodologia
2.1. Escolha e aplicação do modelo de regressão Logit
através de um modelo logístico. A opção pelo modelo logit orienta-se pela melhor adequação
dessa forma funcional ao problema de pesquisa. Segundo Gujarati e Porter (2011), por razões
normal, a primeira dando origem ao modelo Logit, e a segunda ao modelo Probit (Normit).
Ainda segundo os autores, na maioria das aplicações os modelos são bastante parecidos, não
existindo razões convincentes para a escolha entre um ou outro, sendo que na prática o
presente estudo não foi realizada de forma arbitrária. A comparação entre os testes de
ajustamento dos modelos Logit e Probit para os dados analisados corroborou essa ideia,
equação 1,
1
𝑃 = 𝐸(𝑌 = 1|𝑋 ) = (1)
𝑖 𝑖 𝑖 1+𝑒−(𝛽1+𝛽2𝐹+𝛽3𝐼+𝛽4𝑛𝐵+𝛽5𝐸+𝛽6𝑉𝐸𝑚𝑝+𝛽7𝑉𝐶𝑜𝑜𝑝+𝛽8𝑉𝐼𝑛𝑡+𝛽9𝑉𝐺𝑜𝑣+𝛽10𝑉𝑃𝑟𝑜𝑝+𝛽11𝑉𝑜𝑐 + 𝛽12𝑛𝑃𝑟𝑜𝑝)
β4, β5, β6, β7, β8, β9, β10, β11, e β12 são os parâmetros associados às suas respectivas variáveis;
variável dummie para cor de pele não branca; E é a variável contínua anos de escolaridade;
nProp é a dummie que indica que o indivíduo não é proprietário do empreendimento agrícola
no qual trabalha; VEmp é a dummie que indica uma empresa como principal comprador da
produção; VCoop é a dummie que indica que a venda para cooperativa é o principal canal
compradores; VGov é a dummie que indica a venda para o governo como principal canal de
indica que a venda para outra categoria de comprador é o principal canal de comercialização.
quando a característica não está presente. Como características base foram adotadas a cor da
pele branca, gênero masculino, condição de proprietário, e a venda direta para o consumidor
3
Como teste de ajustamento utilizou-se o valor da área sob a curva Roc para cada modelo estimado. Quanto
mais próximo de 1 esse valor, melhor o ajustamento do modelo. O valor para o modelo Logit (0,7386) foi um
pouco maior que o do Probit (0,7374), indicando um ajustamento ligeiramente melhor.
Considerando que as variáveis explicativas caracterizam o perfil do agricultor
pelos diversos canais de comercialização. Embora esses resultados sejam esperados, a sua
por dados referentes ao programa, a Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares (PNAD)
Inclusão Produtiva, na forma de uma pesquisa suplementar. Esses dados sobre inclusão
produtiva incluem perguntas sobre a área dos empreendimentos, a utilização de crédito rural,
se o crédito utilizado foi acessado por meio do PRONAF, se foi recebida assistência técnica
juntamente com o crédito, entre outras questões referentes a fomento produtivo recebido por
produtores rurais.
Quadro 1.
Quadro 1- Variáveis utilizadas no modelo.
Variável Dependente Variáveis explicativas
Utilização do crédito Idade
rural através do Consumo de parte da produção
PRONAF no ano de Gênero (masculino ou feminino)
2014. Cor da pele (branco ou não branco)
Escolaridade
Principal comprador da produção (venda direta para consumidor, para empresa,
cooperativa, intermediário, governo, para o proprietário da terra, ou para outro
comprador)
Condição em relação à propriedade (proprietário ou não proprietário)
Fonte: Elaboração própria.
Ressalta-se que outras variáveis explicativas foram testadas, como a área do
destas variáveis no modelo. Porém, devido à relevância das informações fornecidas por elas,
elas foram utilizadas para uma breve análise descritiva neste trabalho.
amostragem complexa, que abrange todo o território nacional. Esse tipo de amostragem
caracteriza-se pela não aleatoriedade na escolha das observações, e por esse motivo exige
de sua análise não sejam enviesados. Esse procedimento é conhecido como setagem, e foi
Pelo fato do PRONAF ter como público alvo os agricultores familiares (um perfil
acesso ao programa. Por esse motivo, foram excluídas da amostra utilizada no presente
trabalho as observações: que se enquadram nas situações censitárias urbana (cidade ou vila,
área urbanizada) ou urbana (área urbana isolada); aquelas referentes às pessoas que não são
pessoa de referência de seus domicílios; as referentes aos empreendimentos com área maior
que 480 hectares; e as referentes aos empreendimentos com renda mensal domiciliar maior
do que R$30000,00.
Deve-se ressaltar que, apesar de a preparação dos dados ser realizada com o objetivo
de delimitar a amostra para a população mais próxima o possível daquela definida como
público alvo pelos requisitos de acesso ao Pronaf, existem limitações decorrentes de aspectos
análises da significância e do ajustamento do modelo são realizadas por meio dos testes de
significância global do modelo, no qual avalia-se a hipótese nula de que os coeficientes são
todos iguais a zero, cuja rejeição significa a aceitação da hipótese alternativa de que a
CAMERON & TRIVEDI, 2010; FAVERO & BELFIORE, 2014). A análise do ajustamento
do modelo com a Curva ROC baseia-se na utilização da área sob a curva. Quanto mais
próximo de 1 for o valor da área, melhor a precisão do modelo em discriminar o evento de
interesse dos falsos alarmes (BRAGA, 2000; CAMERON & TRIVEDI, 2010; FAVERO &
caracterizam cada perfil de agricultor foram definidos com base nas variáveis cujos
três categorias, visando a melhor visualização dos efeitos das variáveis explicativas
utilizadas. Para cada categoria os resultados foram plotados em gráficos em que o eixo
do domicílio. A probabilidade para cada caso foi estimada tanto para homens quanto para
ser proprietária ou não do empreendimento agrícola. Por convenção, foi considerada a raça
interesse.
compradores da produção. Por convenção, foi considerada a cor da pele como não branca, a
condição de proprietário, e o consumo de parte da produção, como características idênticas
entre os indivíduos dessa categoria. Com base na análise estatística descritiva das variáveis
3. Resultados e discussão
3.1. Utilização do crédito e perfil dos agricultores: Uma análise descritiva
indivíduos por gênero e cor da pele. Os resultados, representativos das pessoas de referência
Quadro 2- Idade e escolaridade média, e percentual por gênero e por cor da pele dos
agricultores familiares do Brasil*.
Média Proporção
Homens 74,42%
Idade 49,47 anos
Mulheres 25,58%
Brancos 37,32%
Escolaridade 4,54 anos
Não Brancos 62,68%
Fonte: Elaboração própria com base em dados da PNAD (2014).
*Médias e percentuais estimados com uma amostra de 17473 observações, representando uma população de
10211088 pessoas.
Os resultados evidenciam que o perfil típico desses agricultores é caracterizado pela
idade relativamente avançada (49,47 anos) e a baixa escolaridade (4,54 anos de estudo). A
importante destacar que, apesar de o percentual de mulheres que são pessoa de referência
nos domicílios agrícolas familiares ser inferior ao percentual de homens, as mulheres têm
dos indivíduos. Esse dado realça a importância das políticas de fomento e das linhas de
4
O termo agricultores familiares é utilizado ao longo da discussão para designar a população representada pelo
recorte amostral utilizada no trabalho. Ressalta-se que o truncamento da amostra foi realizado conforme
descrito na metodologia, com o objetivo de atender ao máximo possível, os critérios estabelecidos em lei e nos
requisitos de acesso ao programa definindo essa categoria de produtores.
crédito específicas para mulheres rurais. O Quadro 4 apresenta os dados referentes ao acesso
ao crédito rural.
crescente das fontes de renda e da inserção profissional dos indivíduos pertencentes a uma
dificuldade, por parte desses agricultores, em explorar a atividade rural de forma que ela
ofereça rentabilidade competitiva com aquela proporcionada por trabalhos de natureza não
agrícola. Essa dificuldade está associada à uma série de fatores, cuja compreensão demanda
familiar, como o serviço de assistência técnica, visando a capacitação dos produtores para
pouco explorado pelos agricultores, o que pode estar associado a dificuldades de acesso aos
com relação aos mecanismos de financiamento, o que seria, no entanto, pouco provável.
com que o serviço de assistência técnica é oferecido aos agricultores familiares. O Quadro 6
através do Pronaf.
agricultores familiares é mais comum entre aqueles que utilizaram o crédito rural através do
Pronaf, pois 49,40% dos agricultores que acessaram o programa receberam algum tipo de
assistência técnica no último trabalho, enquanto que entre os agricultores que não utilizaram
o programa esse percentual diminui para 11,54%. Deve-se ressaltar, porém, que apenas
familiar.
elevado de pessoas com cor da pele não branca, e também à relevante participação das
mulheres como pessoas de referência nesse meio. Os dados evidenciam também que o
Pronaf é o principal instrumento de crédito rural utilizado por esses agricultores, o que é
compreensível devido às condições favoráveis à sua utilização, como a taxa de juros baixa e
é muito reduzida, e a renda mensal per capta média verificada na amostra foi de R$702,00,
competitivo no atual mercado agrícola. Essas características são suficientes para concluir
propriedades.
agricultores familiares.
ajustamento do modelo estimado. Por esse motivo, antes de proceder à discussão dos
resultados, é essencial avaliar o resultado dos testes utilizados. O teste de Wald para a
estatisticamente significativa. A área sob a Curva de Roc, por sua vez, apresentou valor
0,7386, o que evidencia, segundo Fávero & Belfiore (2014), que o modelo apresenta poder
propostas.
um público vulnerável, com baixa capacitação, e com grande propensão aos efeitos da
características desses indivíduos sobre a utilização do crédito rural através do Pronaf, foram
maior quanto maior o nível de escolaridade dos indivíduos. Esse efeito positivo da
escolaridade é visível também nos outros gráficos que serão apresentados posteriormente ao
longo da discussão, e é coerente com o esperado pela teoria. Entende-se que um maior nível
de escolaridade implica em maior qualificação dos indivíduos, o que se reflete na capacidade
maior disposição ou encontram maior facilidade para utilizar o crédito rural como um
Gráfico 1- Probabilidade da utilização do crédito rural por homens e mulheres com diferentes
escolaridades e cor da pele.
20% 17,37%
14,07%
15% 11,31% 10,62%
9,45% 8,47%
10% 5,57% 6,72% 6,3%
3,92% 4,98% 3,66%
5% 1,85%3,23% 2,25% 2,87%
0%
1 ano de estudo 5 anos de estudo 10 anos de estudo 15 anos de estudo
mesmo perfil profissional, os homens têm mais do que o dobro de probabilidade de utilizar
o Pronaf, diferença que chega a ser maior que 8 p. p. quando se considera indivíduos com
quatro componentes: a roça, que é a área de terra plantada, um lugar definido socialmente
como do homem onde as relações de poder são mais exercidas pelo masculino; a casa, local
e femininas; e o quintal, espaço também ambíguo com relação a divisão sexual do trabalho
(MELO, 2003). Ainda segundo Melo (2003), essa divisão de trabalho implica em uma
crédito rural através do Pronaf. O fato das mulheres que são pessoa de referência no
atividade agrícola familiar tem um efeito negativo direto sobre a segurança nas tomadas de
decisão. A insegurança decorrente desse processo diminui, por sua vez, a probabilidade da
realização de financiamentos.
mulheres, no entanto, como já foi discutido, o Gráfico 1 evidencia que existem fatores que
limitam a utilização desse instrumento pelas mulheres. Esse efeito negativo do gênero
rurais.
considerável na probabilidade de utilização do Pronaf, que decorre apenas da cor da pele dos
Vale lembrar que o modelo Logit utilizado para as estimações dessa análise de
cenários controla todos os efeitos decorrentes das variáveis incluídas. Portanto, os efeitos de
escolaridade, canal de comercialização, idade, gênero, consumo de parte da produção, e
brancos ou não brancos no gráfico 1. Além disso o efeito da renda per capta não foi
significativo, portanto também não pode ser utilizado para a explicação. Isso significa que
essas diferenças devem ser atribuídas à outros fatores, o que torna o resultado intrigante.
Assim como no caso da diferença entre gêneros, esse efeito negativo da cor da pele não
não proprietários.
0%
1 ano de estudo 5 anos de estudo 10 anos de estudo 15 anos de estudo
Mulher não proprietária Mulher proprietária Homem não proprietário Homem proprietário
teorias que abordam o efeito dos direitos de propriedade na tomada de decisão. Esse efeito
é explicado na abordagem da Nova Economia Institucional e da Teoria dos Direitos de
Propriedade, segundo Alston e Libecap (1996), como o resultado de uma maior segurança
investimentos privados. Entende-se, desta forma, que apesar do Pronaf poder ser acessado
mais uma força favorável à utilização do crédito rural para financiamentos agrícolas.
elaboração de políticas públicas. Em 2009, por exemplo, o governo federal criou o programa
Terra Legal Amazônia, uma política de regularização da posse de terras públicas ocupadas
regularização da posse leva segurança jurídica aos produtores rurais da Amazônia Legal, e
Portanto, pode-se considerar essa política como um exemplo da percepção, por parte dos
agentes públicos, dos efeitos da regularização da posse sobre a atividade rural, o que
diferentes perfis de remuneração, tendo efeito direto sobre a tomada de decisão. O Gráfico
agricultores que têm como principal comprador o governo. Esse resultado é coerente com o
Aquisição de Alimentos, entre outros. Esses mercados garantem uma maior estabilidade na
52,48 %
46,24 %
40,12 %
35,42 %
33,36 %
30,14 %
28,56 %
28,05 %
25,15 %
23,74 %
23,29 %
20,74 %
19,91 %
19,51 %
17,64 %
16,56 %
14,12 %
11,35 %
10,62 %
9,06 %
8,47 %
7,54 %
6,72 %
5,57 %
Aptidão ao Pronaf, mesmo documento exigido para o acesso ao crédito rural por meio do
induz a participação dos indivíduos em ambas. Esse resultado evidencia que as políticas de
regularização dos empreendimentos, o que é benéfico para esse público. No entanto, apenas
0,65% dos agricultores têm o governo como principal comprador, o que demonstra a
rural estão associadas aos agricultores familiares que tem como principal canal de
intermediários. Entende-se que a comercialização direta para o consumidor não oferece tanta
estabilidade quanto os demais canais. Por mais que o agricultor possua uma clientela
definida, não há nenhum contrato formal que defina as quantidades à serem entregues por
propriedade.
Com relação aos agricultores que tem como principal comprador os intermediários,
aquele que seria pago por outros compradores, o que permite aos intermediários a
ressaltar que essa estratégia é racional do ponto de vista dos agricultores, e juntamente com
a venda direta para o consumidor, constitui os canais de comercialização adotados por 66,2
% dos indivíduos.
limitada tanto pelo nível de capacitação dos indivíduos, quanto pela regularização da posse,
hipótese de que diferentes características dos agricultores familiares têm efeito sobre a
decisão de utilizar o crédito rural através do Pronaf, e devem ser consideradas nas políticas
4. Conclusões
Os resultados da análise econométrica comprovaram a hipótese de que a
demanda, além da oferta de crédito rural, ações mais abrangentes de assistência técnica e de
indivíduos não brancos (como os negros e os quilombolas). Por fim, entende-se que o
familiar no Brasil.
5. Referências bibliográficas
ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma agrária,
v. 28, n. 1, p. 2, 1998.
ALSTON, L. J.; LIBECAP, G. D. The determinants and impact of property rights: Land
titles on the Brazilian frontier. Journal of Law, Economics, and Organization, v. 12, n. 1,
p. 25-61, 1996.
BATALHA, M. O.; BUAINAIN, A. M.; SOUZA FILHO, H. M. de. Tecnologia de gestão e
agricultura familiar. BATALHA, M. O e FILHO, HM de S (org). Gestão Integrada da
Agricultura Familiar. São Carlos. EdUFSCar, 2005.
RESUMO
A soja é o principal produto responsável pelo crescimento do agronegócio no Brasil, que está
entre os setores mais participativos da economia. Entre diversos fatores, isto pode ser
exportação de produtos que fazem parte do complexo industrial. A presente pesquisa tem por
objetivo discutir algumas das políticas públicas voltadas para a logística de transporte do
desta atividade produtiva em Santarém. A metodologia utilizada para este trabalho foi
UFOPA. romariogalucio@gmail.co m
5 Doutor em Geografia pela Universidade de Brasília (UNB), Professor do Instituto de Ciências da Sociedade na
perceptível a recuperação da atividade produtiva quanto aos números de soja exportada nos
dois últimos trimestres de 2016, período de fraca colheita e grande corte no número de
empregos, para os dois primeiros trimestres de 2017. É necessário enfatizar que em sua
concentrando a exportação.
INTRODUÇÃO
A geopolítica é uma ciência que trata de como as ações políticas do Estado atuam em
geográficas. Para Becker (2005, p. 71) “A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de
pressões de todo tipo, intervenções no cenário internacional desde as mais brandas até guerras
e conquistas de territórios”.
Nesse sentido, ao fazer uma analogia com a questão da geopolítica da soja em solo
amazônico, temos que dentre as décadas de 60 e 80, a presença do Estado com políticas
A soja caracteriza-se por ser uma “leguminosa herbácea que possui alto valor proteico e
grande adaptalidade climática, tornando-se assim uma das oleaginosas mais consumidas e
cultivadas do mundo” (TEIXEIRA et al, 2012, p.3). O Brasil destaca-se como produtor,
processador mundial da soja em grão e exportador mundial de soja, farelo e óleo. Conforme
Brasil e está entre os setores mais participativos da economia. Entre diversos fatores, isto
pode ser explicado pela certa estabilidade que o comércio internacional apresenta em relação
à exportação de produtos que fazem parte do complexo industrial da soja. Apesar de hoje ser
uma commodity de muita relevância para o agronegócio no país, o início do seu cultivo data
do século passado.
Posteriormente, a soja se expandiu cada vez mais pelo território brasileiro. Inicialmente
introduzida no Rio Grande do Sul e Paraná, ela se estendeu para regiões como Centro-Oeste
na Amazônia. Dentre os estados, o Pará é um dos mais crescentes em área plantada no Brasil,
Teixeira et al (2012) afirmam que a partir de 1997 o agronegócio da soja torna-se mais
A presente pesquisa tem por objetivo discutir algumas das políticas públicas voltadas
METODOLOGIA
EMBRAPA. Além disso, foram feitas visitas de campo no período de abril de 2015 a maio de
Com base nesses dados, no caso da Amazônia, faz-se necessário observar que o
povos tradicionais que ali viviam. De acordo com Santos et al (2012, p. 6) “apesar do cultivo
da soja gerar renda, ela não é distribuída, visto que seu cultivo dá-se em áreas de grandes
extensões territoriais, cujos proprietários devem possuir elevado poder aquisitivo para
investimento em tecnologia”.
Quanto aos impactos ambientais causados pela expansão da soja, Nepstad et al (2008)
crescimento nos níveis de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, além do risco de
hídricos de algumas bacias próximas as áreas de cultivo e/ou pecuária, alterando o ciclo de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
trouxeram alguns dos principais empreendimentos para a região Oeste do Estado do Pará. À
exemplo da implantação da BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) que contribuiu
para uma nova rota de escoamento da produção, como alternativa com menos custos e
Dados do DNIT (2002) destacam que o avanço da pavimentação da rodovia BR-163 foi
motivado pela possibilidade de redução dos custos em transporte das cargas provenientes dos
oposto, propiciou o processo de apropriação ilegal de terras e afetou o modo de vida dos
povos tradicionais.
a implantação do asfalto nessa rodovia ainda não foi concluída, no período inverno amazônico
a própria população.
Trairão e Novo Progresso, que gerou uma fila de cerca de 4 mil caminhões, isso em
decorrência das fortes chuvas que a tornaram intrafegável. Muitos dos motoristas ficaram na
estrada por mais de duas semanas. As populações das localidades também foram prejudicadas
conhecida como Transamazônica, que liga a Amazônia à Região Nordeste, também apresenta
na Amazônia, fazendo com que as tensões nordestinas das condições climáticas e baixa
qualidade de vida fossem resolvidas através desta migração. Além disso, estas políticas
públicas ainda são reflexo de um pensamento de décadas anteriores que objetivava integrar e
desenvolver a Amazônia.
A viabilização das rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém é continuamente
Esta rodovia é também utilizada para escoamento da produção da soja. Isso porque
desde 2014 o porto no distrito de Miritituba, na cidade de Itaituba vem servindo como rota
alternativa para o Porto de Santarém, diminuindo assim a distância que os grãos levam para
chegar ao seu destino. Como a rodovia BR-230 também possui trechos de difícil acesso,
fatores:
Esses fatores têm por objetivo minimizar os custos com a logística do transporte uma
vez que se encontram deficitários em razão da má condição das estradas para o trajeto até o
transbordo, além de diminuir o trecho rodoviário de 1.100 km para Itaituba, com o intuito de
será escoada por meio hidroviário (barcaças) Tapajós-Amazonas até os portos autorizados
comboios por mês na Fase 1 e de 16 comboios por mês na Fase 2.” (RIMA, 2012, p. 26)
rodovias. Um outro modal utilizado para transporte é o hidroviário. Pereira (2011, p.2) afirma
que Santarém possui “[...] porto de intenso movimento, com ancoragem de grandes e médias
embarcações de grandes calados e uma orla com movimentação de mais de 1,3 mil
de Santarém teve um aumento neste quesito de US$ 308,445 em 2016 para US$ 392,006 no
ano seguinte. Assim sendo, o gráfico abaixo permite a percepção da demanda existentes nesse
complexo portuário.
Granel Líquido -
Combustíveis e Químicos
92% Granel Sólido Vegetal
Carga Geral
no ano de 2015, nesse caso, em sua grande parte milho e soja, refletindo assim na sua
De acordo com o quadro acima ao focarmos para o 1º trimestre dos três anos (2015,
2016 e 2017) destaca-se que o ano de 2015 apresentou o menor registro entre estes. Contudo
no ano seguinte ocorreu expansão dessa quantidade, havendo novamente uma redução no ano
de 2017.
representando 30% da exportação anual. Por outro lado percebe-se que o 1° trimestre de 2016
fechou o ano sendo o período de menor saída, com 429.973.000, o que significa apenas 16%
anterior.
Ainda sobre o ano de 2016, nota-se que o período do auge das exportações que
fecharam a maior quantidade levada ao exterior foi o 2° trimestre com 1.075.961.765 sendo
44% da exportação montante neste ano, vale destacar que é no decorrer desse trimestre que a
concentração do embarque nas plataformas não só de Santarém, assim como dos demais
trimestre que apresentou o menor número de exportação foi o 4° com 31.921.080 o que
relação ao mesmo período do ano passado no valor das exportações de 868.440.756 para
782.733.860, o que reflete numa variação negativa. Podemos associar essa queda devida aos
fortes impactos na BR-163, causado principalmente pelas fortes chuvas que atingiram o
estado nos primeiros nesses desse ano, o que dificulta não apenas o transporte da produção de
Associam-se assim os fenômenos naturais como uma das possíveis causas pelos
exportada nos dois últimos trimestres de 2016, período de fraca colheita e grande corte no
número de empregos, para os dois primeiros trimestres de 2017. Esse aumento na produção
Porto Graneleiro. Diante disso, a pesquisa buscou discutir e destacar as políticas públicas que
Entretanto, as políticas criadas pelo Estado não atendem devidamente a logística devido
a má condição das estradas para o trajeto até o transbordo, pelo fato de algumas obras mal
acabadas e uns trechos da rodovia BR 163 que liga ao Porto Graneleiro de Santarém ficarem
2016 e 2017, ressaltando que no 1° trimestre dos três anos (2015, 2016 e 2017) destaca-se que
Contudo no ano seguinte ocorreu expansão dessa quantidade, havendo novamente uma
redução no ano de 2017, porém com um valor a mais do que apresentado no ano de 2015. Ao
exportação anual. Por outro lado percebe-se que o 1° trimestre fechou o ano sendo o período
de menor saída, com 429.973.000, o que significa apenas 16% da totalidade, devido a
Revista Globo Rural. Com chuvas, carretas atolam na BR-163 e atrasam escoamento do MT.
Disponível em: <http:www.revistagloborural.com.br> Acesso em 18 jun 2017
SANTOS, Bárbara E.; CUNHA, Igor M. M.; TEXEIRA, Ademir. Expansão da fronteira
agrícola da soja no município de Santarém (PA) e suas transformações socioespaciais . In
XXI ENCONTRO DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. Uberlândia: UFU, 2012. Disponível em: <
http://www.lagea.ig.ufu.br/xx1enga/anais_enga_2012/eixos/1282_1.pdf>. Acesso em: 16
abril. 2015.
Franciele Tremea
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
fran_tremea@hotmail.com
Resumo: A produção nacional de frango de corte tem se destacado entre os demais setores
produtivos nas últimas décadas. O exponencial desempenho do setor possibilitou ao Brasil
assumir posição de destaque no ranking mundial, como o maior exportador e terceiro maior
produtor de carne de frango. Apesar de todos os estados brasileiros produzirem carne de
frango, a produção está concentrada na Região Sul do País, sendo o Paraná o principal
produtor e exportador de aves do País. Nesse cenário, o objetivo principal deste trabalho foi
analisar a especialização da produção de frango de corte, através do Quociente Locacional
(QL) e análise das exportações por meio do Market-Share (MS). Os principais resultados
obtidos apontam que o avanço da tecnologia na produção, melhoramento dos índices de
conversão alimentar, genética, entre outros, contribuíram para a evolução do setor, tanto em
termos de produção quanto em exportação. Neste sentido a região Sul é a mais desenvolvida
e especializada neste segmento. O sistema de contrato de integração facilitou o elo entre
produtores rurais e agroindústria, com o fornecimento da matéria-prima e assistência técnica,
e o produtor com a mão de obra e estrutura necessária.
Abstract: The national production of broiler chicken has been outstanding among the other
productive sectors in the last decades. The exponential performance of the sector enabled
Brazil to take a leading position in the world ranking, as the largest exporter and third largest
producer of chicken meat. Although all Brazilian states produce chicken meat, production is
concentrated in the Southern Region of the country, with Paraná being the main producer
and exporter of poultry in the country. In this scenario, the main objective of this work was
to analyze the specialization of chicken production Through the Quotient Locacional (QL)
and analysis of exports through Market-Share (MS). The main results obtained indicate that
the advances in technology in production, improvement of feed conversion, genetic indexes,
among others, contributed to the evolution of the sector, both in terms of production and
exports. In this sense, the South region is the most developed and specialized in this segment.
The integration contract system facilitated the link between rural producers and agribusiness,
with the supply of raw material and technical assistance, and the producer with the necessary
manpower and structure.
Keywords: Poultry industry. Technology evolution. Chicken meat production and export.
1 INTRODUÇÃO
para mais de 150 países, e em 2013 a participação do Brasil no comércio mundial de carne
de frango foi de 36,60% à 31,33% de participação dos Estados Unidos, segundo maior
MAPA, 2014).
possui parceria com a agroindústria facilitando o processo desde a engorda até a venda do
produção.
de pessoas de forma direta e indireta, correspondendo por 1,5% do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2013 e está presente em todos os estados do Brasil, sendo a Região Sul a que se
Este trabalho está dividido em quatro partes, sendo a primeira esta introdução.
métodos, dados e variáveis que foram utilizados para a realização deste trabalho. Na terceira
parte são apresentados os resultados e discussões, sendo abordados os seguintes assuntos: a
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
exportação nacional de carne de frango e por região brasileira. Foram escolhidas estas
produção total da pecuária no Brasil. Se o valor do quociente for maior do que 1 (um), isto
significa que a região foi, relativamente, mais importante no contexto nacional, em termos
O Market Share é uma expressão de origem inglesa, porém ela também é muito
usada no Brasil e seu significado pode ser quota de mercado, fatia de mercado ou porção do
%&'
𝑀𝑆 = (2)
%&
Onde:
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
formato de produção é similar ao dos EUA e de grande parte dos principais países produtores
do mundo. No Brasil, este sistema originou-se na região Sul com base na experiência das
genética, laboratórios e fábricas de ração buscam oferecer às aves saúde e conforto, além de
o autor alerta que na prática é difícil mensurar essa rentabilidade devido a variabilidade da
ração terá sido consumida para a produção de um quilo de frango, sendo a ração o item de
depende da eficiência de transformar ração em carne. Esta evolução só foi possível devido
elevados de produtividade.
Tabela 1 - Evolução Média dos Coeficientes de Produção de Carne de Frango de Corte
Conversão
Ano Peso Frango Vivo (g) Idade de Abate
Alimentar
1930 eram necessárias 15 semanas e 3,5 kg de ração para 1,55 kg de carne de frango, ao
longo dos anos estes dados foram se alterando devido aos avanços genéticos e de
produtividade e, em 2010, eram necessários apenas 41 dias e 1,76 kg de ração para 2,3 kg
Médio Diário (GMD) maior que 50g/dia, isto significa uma taxa de crescimento diário de no
mínimo 20% superior ao peso inicial de 40g. O ICA também evoluiu, diminuindo a
quantidade de alimento por unidade de ganho de peso, nos dias atuais sem maiores
dificuldades obtêm-se um quilograma de peso vivo com não mais de 1,9 kg de ração, isto se
legislações específicas para cada país, tem forçado a indústria animal a considerar novos
(DUARTE, 2011).
vários níveis como, por exemplo, o tipo de barracão, automatização dos equipamentos e
mudanças genéticas das aves. Até os anos 2000, os sistemas utilizados eram chamados
convencionais, onde se utilizava ventiladores para ventilação, maior mão de obra com baixos
Já a partir dos anos 2000, surgiram os sistemas de penumbra e Dark House 1 que
possui um ambiente controlado, com conforto para as aves, melhor produtividade, sistema
permite ganhos como melhor conversão alimentar dos animais, menor taxa de mortalidade
dos galpões.
para o período de 1996 a 2015, onde pode-se verificar o aumento desta produção ao longo
1
Instalação de criação em ambiente escuro. Leva em consideração questões de manejo e o desempenho frente
ao sistema tradicional. Evita ao máximo as influências das condições externas dentro do barracão. O produtor
que controla as condições dentro do barracão (NOBREGA, 2016).
Gráfico 1 - Produção de carne de frango - 1996 a 2015 (em mil ton)
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
brasileira para o período de 1996 a 2015 mais que triplicou. Em 2011, atingiu a marca de
13.050 milhões de toneladas de carne, tendo um pequeno recuo em 2012 e 2013, voltando a
produzida. Em 1996, a produção era mais centralizada na região Sul e, no passar dos anos,
consumida pelos brasileiros, seguida pela carne bovina e suína. Conforme dados do MAPA
(2015), o consumo de carne de frango representou 43,9% do total, seguida pela carne bovina
e suína com 37,4% e 14,10%, respectivamente, e as demais como peixes, carneiro entre
A carne de frango é uma das mais acessíveis para a população, sendo uma das
proteínas mais baratas existentes no mercado, custando em média de R$6,20 kg. Já a carne
através dos dados da ABPA (2016), que 68% da produção de carne de frango é consumida
internamente, sendo o restante exportado. O Brasil exporta sua produção de carne de frango
para todos os continentes, sendo o Oriente Médio o maior importador da carne brasileira
com 1.581.422 toneladas, seguido pela Ásia com 1.232.399 toneladas, África 497.537
frango.
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Gráfico 2, sendo possível verificar a expansão das exportações da carne de frango, tanto em
milhares de toneladas e, em 2015, foi de 4.304,1 milhares de toneladas, maior valor atingido
no período analisado. Em 2009, com o reflexo da gripe aviária, o volume das exportações
caiu, o que foi sentido pelas receitas que tiveram uma queda de 16,34% de 2008 para 2009.
REGIÕES BRASILEIRAS
quando ultrapassou os Estados Unidos, que é o segundo maior exportador de frango de corte
em vulnerabilidade, pois, numa situação de crise mundial poderá haver redução das
Através das políticas setoriais que elegem prioridades de governo e selecionam mecanismos
de apoio voltados para o sucesso dos setores, foi possível o incremento da produção e da
apresentar evolução consistente na exportação de carne de frango, liderada pelo Paraná, que
aumentou seu volume em quase 20%, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul a expansão
(expansão de 16%) teve efeito nulo sobre os resultados regionais, visto que as outras três
unidades federativas, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Mato Grosso, apresentaram
uma pequena exportação do Rio de Janeiro. Pois São Paulo apresentou ligeiro recuo (-
Região Sul era responsável por quase 100% das exportações para o mercado mundial, já em
2015 verifica-se que as demais regiões passaram a ter maior representatividade no mercado
mundial.
aumento nessas regiões se deve as empresas exportadoras estarem ali localizadas, como BRF
brasileira, em 2000 era responsável por 94,32% e em 2015 por 76,20%, nas regiões Norte e
Nordeste a participação foi quase nula, sendo 0,03% e 0,18% respectivamente. Com a
análise destes dados, pode-se verificar que além de ser a região mais especializada em
encontra-se a empresa Brasil Foods, seguida pela JBS e Aurora Alimentos. A maioria das
sedes dessas empresas estão localizadas na região Sul e Sudeste do país, o que facilita as
Brasil, representou 45,8% das exportações brasileiras do produto, já a JBS foi a segunda
principal exportadora de carne de frango no período, com 23,8% de participação nas vendas
BRASILEIRAS
Historicamente, o Sul do país é uma das regiões mais tradicionais para a criação
apoio aos produtores. Granjas dessa região, assim como as do Sudeste, dependem fortemente
trabalho mais atrativas. Por outro lado, a produção abundante de milho e farelo de soja nessa
região tem atraído integradoras, que buscam reduzir custos em um setor altamente
investimento em granjas cada vez mais automatizadas (DE ZEN et al., 2014).
Verifica-se na Figura 1, que nos anos de 2005, 2010 e 2015 a região que
apresentou maior especialização produtiva no setor avícola foi a Região Sul, possuindo um
Oeste e Sudeste possuem especialização mediana nos três períodos analisados. A região
e nos períodos de 2010 e 2015 passou a apresentar média especialização. A região Norte em
todos os períodos analisados apresentou baixa especialização produtiva, dado que o único
em 2015, sendo que a região Sul representou 57%, 58,33% e 59,45%, respectivamente,
(Figura 1), nos anos analisados, tiveram representações no valor bruto da produção de 10%
e 26% em 2005, 13% e 23% em 2010 e 15% e 19% no ano de 2015, respectivamente.
Verifica-se que neste período a representação da região Sudeste foi regredindo em torno de
3% para cada ano, já para a região Centro-Oeste aconteceu o inverso para cada ano analisado,
2016).
produção e em 2015 passou para 4%. A região Nordeste em 2005 e 2010 possuía menos de
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
o maior exportador mundial, exportando para todos os continentes, e terceiro maior produtor
do setor avícola. Nesse contexto, esta pesquisa teve como principal objetivo a análise da
(MS) foi utilizado para verificar a participação no mercado mundial da carne brasileira.
aumento da produção de carne de frango, estes avanços vão desde a estrutura do barracão,
equipamentos e genética dos pintainhos, o que facilitou o manejo, e também a evolução dos
segmentada por região, verificou-se que nos anos 2000 apenas a região Sul exportava sua
mundial. Já em 2015, assim como na produção as demais regiões passaram a ter pequenas
representações.
DE ZEN, S.; IGUMA, M. D.; ORTELAN, C. B.; DOS SANTOS, V. H. S.; FELLI, C. B.
Evolução da avicultura no Brasil. Informativo CEPEA, Análise trimestral, custos de
produção da avicultura. Ano 1, Ed. 1, Universidade de São Paulo, 2014.
Diogo Ferraz1
Fabíola Cristina Ribeiro de Oliveira2
Herick Fernando Moralles3
Daisy Aparecida do Nascimento Rebelatto4
Resumo: Em diversas partes do mundo, boa parte da fome e desnutrição foi superada nas
últimas décadas. Isto colocou um novo desafio para os formuladores de políticas públicas:
qual a qualidade nutricional e dietética das classes sociais mais pobres? A fim de contribuir
com esta questão, o objetivo deste artigo é analisar os determinantes do consumo alimentar
pobres e as demais classes sociais no Brasil, por meio dos dados da última Pesquisa de
cada domicílio que afetam a probabilidade de ele consumir algum tipo de alimento. Por meio
comparados com as classes média e alta. Por outro lado, foi possível observar maior
consumo de aves, ovos e carne bovina de segunda. Este resultado demonstra a importância
1
Economista. Doutorando em Engenharia de Produção na Universidade de São Paulo (EESC/USP). E-mail:
diogoferraz@usp.br
2
Economista. Doutora em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Coordenadora
do curso de Relações Internacionais da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). E-mail:
fbcoliveira@hotmail.com
3
Economista. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (EESC/USP). Professor da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). E-mail: herickmoralles@dep.ufscar.br
4
Engenheira Civil. Professora Associada do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de
São Paulo (EESC/USP). E-mail: daisy@sc.usp.br
Palavras-chave: Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF); Pobreza; Segurança alimentar.
Abstract: In many parts of the world, much of the hunger and malnutrition has been
overcome in the last decades. This posed a new challenge for policy makers: what is the
nutritional and dietary quality of the poorer social classes? In order to contribute to this issue,
the objective of this article is to analyze the determinants of household food consumption,
comparing the probability of consumption of some types of food between the poor and the
other social classes in Brazil, through the data of the last Research of Family Budgets (POF)
for 2008/2009. We evaluated the characteristics of each household that affect the probability
of consuming some type of food. By means of a logistic model, it was found that the poor
tend to be less likely to buy fruits, vegetables, tubers and roots in a given week compared to
the middle and upper classes. On the other hand, it was possible to observe higher
consumption of poultry, eggs and beef from the second. This result demonstrates the
importance of public policies that provide the best distribution of fresh foods with greater
nutritional value.
1. INTRODUÇÃO
população mundial vive com menos do que US$ 1,25 por dia. Há consenso de que esta
proporção deve (e pode) ser conduzida para perto de zero até 2030 (Banerjee et al., 2015).
O fato de não possuir um nível mínimo de renda afeta os hábitos alimentares, propiciando
insegurança alimentar. Isto porque as pessoas pobres invariavelmente gastam a maior parte
distribuição de renda. A relação entre pobreza e insegurança alimentar tem sido analisada
alimentos. Estes estudos têm mostrado que a renda é um dos principais fatores que
favorecem uma dieta mais saudável. Todo tipo de insegurança alimentar tende a cair a partir
do terceiro estrato da renda domiciliar per capita (R$40) (Hoffmann, 2014), embora o
consumo de alimentos pouco nutritivos aumente entre as classes sociais mais ricas.
políticas públicas têm se preocupado em analisar o tipo de alimento consumido por pessoas
de baixa renda e menor escolaridade. Sabe-se que produtos industrializados, com baixo valor
monetário e baixo valor dietético, têm preferência em relação aos alimentos saudáveis, como
frutas, legumes e hortaliças. Por outro lado, o consumo de produtos light/diet e orgânicos
Entretanto, ainda existem lacunas sobre aquilo que se conhece da vida econômica
dos extremamente pobres (Banejee e Duflo, 2007), em especial, sobre a relação entre a
pobreza e os hábitos alimentares e de consumo dessa camada social. A fim de contribuir com
pobres e as demais classes sociais no Brasil por meio dos dados da Pesquisa de Orçamentos
Brasil, a transição nutricional dá indícios de que a maior parte da população deixou de sofrer
com os problemas relativos à fome, mas enfrenta novos desafios. Dentre eles, destaca-se o
combate ao sobrepeso e à obesidade, o que torna este cenário mais complexo, evidenciando
a necessidade de analisar o consumo dos alimentos das camadas mais pobres no Brasil.
Para que esta transição nutricional fosse possível, destaca-se o programa Fome Zero,
(Hoffmann, 2008; Pizzani e Rego, 2013; Hoffmann, 2014). O Bolsa Família contribuiu para
o aumento da segurança alimentar e nutricional, pois 76% das transferências são gastas com
alimentos, garantindo uma melhor dieta para as famílias menos favorecidas (Rocha, 2009).
domiciliar per capita (RPC) (RPC até R$ 100), cai para 36,6% na segunda classe (mais de
R$ 100 a R$ 200) e continua diminuindo sistematicamente até atingir apenas 5,2% na classe
de RPC acima de R$ 4 mil (Hoffmann et al., 2007). O arroz e feijão possuem elasticidade
não deverá causar aumento na demanda por esses produtos (Hoffmann et al., 2007).
(Hoffmann, 2013), Hoffmann (2007, 2008, 2013, 2014) têm analisado os determinantes da
alimentar nos domicílios. Os dados da PNAD de 2004 mostraram que em 34,9% dos
domicílios ainda havia algum grau de insegurança alimentar (Hoffmann, 2008). Pela PNAD
número daqueles com insegurança moderada foi reduzido em 40,2% e o número daqueles
com insegurança grave diminuiu 12,4% (Hoffmann, 2013). Segundo o autor, além da renda,
esta melhora está associada com o maior número de domicílios com luz elétrica, água
canalizada e com esgoto, além da redução do número médio de pessoas por cômodo.
cerca de 3,4% (Hoffmann, 2013). A odds ratio de insegurança alimentar grave no estado de
São Paulo é igual a 3/4 daquela encontrada para o Nordeste. Quando se agregam as três
é maior o consumo de pão francês e no Centro-Oeste o arroz e leite fluido (Coelho et al.,
2009). No estado de São Paulo o consumo anual per capita de farinha de mandioca não atinge
1 kg, enquanto no Nordeste supera 15 kg e no Norte atinge 33,827kg (Hoffmann et al., 2007).
domicílios localizados na zona rural ou urbana. O consumo deste produto é mais de quatro
vezes maior na zona rural do que nas áreas urbanas (Hoffmann et al., 2007). Estima-se que
após controlado o efeito da renda (Hoffmann, 2008). Dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009 e de 2013 mostraram que o rural mais restrito tende
a ficar com domicílios relativamente mais pobres. A evolução pouco favorável da segurança
alimentar nos domicílios rurais de 2009 a 2013 pode ter decorrido do fato de o “rural” de
2013 ser uma área mais restrita cujos domicílios são relativamente pobres (Hoffmann, 2014).
Quando se analisa a probabilidade de ocorrer insegurança alimentar pelo setor de
Contudo, dados mais recentes (PNADs 2009 a 2013), mostraram um aumento na proporção
de lares com segurança alimentar e diminuição dos domicílios com insegurança moderada
ou grave. O autor chama atenção para o fato de que o crescimento da proporção com
segurança é mais intenso entre 2004 e 2009 e menos intenso entre 2009 e 2013 nos
A proporção de domicílios com insegurança alimentar grave é quase três vezes maior
entre aqueles cuja pessoa de referência é preta ou parda (10,00%), do que entre aqueles cuja
sem controles (Hoffmann, 2008). Note-se que, os negros e pardos têm maior probabilidade
probabilidade negativa para o consumo de carne bovina de primeira, banana, batata, tomate,
queijos e leite fluido, como mostram os dados da POF de 2002-2003, utilizando o efeito
Este resultado pode estar ligado à elasticidade renda de alguns produtos mais
“nobres” ou relativamente caros, que, por isso mesmo, só são consumidos em maior
bovina de primeira (0,520) é maior do que a carne bovina de segunda (0,110) (Hoffmann et
al., 2007). Contudo, os resultados de Hoffmann (2008) mostraram que as faixas de renda
mais pobres têm maior probabilidade de consumir leite em pó, alimento conhecido por ter
associado com a ausência de geladeira no domicílio. Para Coelho et al. (2009), a presença
renda podem aumentar a probabilidade de consumo por alimentos mais saudáveis, como os
A segurança alimentar tem feito parte da pauta política de diversos países no mundo.
Esta questão de grande relevância política tem atraído muito interesse em pesquisa, mas há
falta de consenso entre os estudos existentes sobre a ligação entre pobreza e segurança
alimentar (Mahadevan e Suardi, 2014; Mahadevan e Hoang, 2016). O primeiro passo para a
segurança alimentar é o acesso aos alimentos (Dimitri et al., 2015), embora já se saiba que
a fome não é causada pela inexistência de alimentos suficientes, mas pelo fato de as pessoas
não terem o direito de acesso (entitlement) aos alimentos (Sen, 1981; 2001). Existe segurança
alimentos suficientes (Hoffmann, 2013). Este artigo aborda a segurança alimentar (food
security) sob a ótica do acesso aos alimentos. Contudo, é possível encontrar outros estudos
que analisem a segurança dos alimentos (food safety), a fim de verificar sua qualidade.
renda não podem comprar alimentos saudáveis e pode ocorrer falta de varejões e feiras nos
bairros mais pobres pode comprometer o acesso a alimentos saudáveis. Na Índia, por
exemplo, as feiras livres têm como objetivo incentivar os consumidores de baixa renda
comerem quantidades maiores de frutas e legumes frescos. Este incentivo ocorre pela
disponibilização de cupons para compra deste tipo de alimento. Após receberem os cupons,
mulheres sem diploma de ensino médio tiveram maior probabilidade de consumir frutas e
legumes frescos com mais frequência, em comparação com aquelas com níveis mais altos
estabilidade com que esta renda está disponível. Quando a pessoa de referência não possui
emprego formal ou trabalha por conta própria, a probabilidade de haver segurança alimentar
renda podem ter contribuído para a melhora na segurança alimentar (Hoffmann, 2013).
Neste cenário, é importante analisar a escolha por alimentos dos mais pobres.
4. A DIMENSÃO DA POBREZA
são aspectos importantes para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes. Uma
família tipicamente pobre tende a possuir maior número de membros, pelo menos em relação
ao tamanho das famílias dos países desenvolvidos (Banerjee et al., 2015). A presença de
crianças nas famílias extremamente pobres é maior. Isto porque os pobres são muito jovens,
devido ao elevado número de pessoas com faixa etária menor, e ao baixo número de pessoas
que conseguem sobreviver até uma idade mais avançada (Banerjee e Duflo, 2012).
familiares, o que não significa que as crianças estejam fora da escola, mas sim que crianças
pobres frequentam apenas o ensino público (Banerjee e Duflo, 2012). Um dos maiores
Embora esta classe social procure oportunidades econômicas, o baixo nível educacional e a
nível de produtividade dos indivíduos. Os pobres precisam comer mais e melhor (mais grãos
e alimentos ricos em ferro e menos açúcar). Note-se que, apenas comer mais não seria
suficiente, pois ao primeiro ataque de alguma doença, o indivíduo ficaria fraco devido à
baixa qualidade nutritiva da dieta (Banerjee e Duflo, 2012; Banerjee et al., 2015).
Interessante observar que, pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia não
gastam toda renda para consumir mais calorias. Dentre 13 países analisados pelos
mencionados autores, o gasto com alimentos representou entre 56 a 78% do orçamento das
famílias que viviam na zona rural e 56 a 74% daquelas que viviam nos centros urbanos.
gasto com alimentos, cerca da metade vai para a compra de mais calorias e a outra metade
(Banerjee e Duflo, 2012). Na Índia, por exemplo, o gasto com alimentos passou de 70% em
1983 para 62% em 1999-2000, e a participação do milho no orçamento alimentar caiu para
alimentar que os pobres têm feito? Ao que tudo indica, os países em desenvolvimento, como
aspecto, mais uma vez se constata a importância de compreender as decisões acerca dos
6. ASPECTOS METODOLÓGICOS
consumo, dos gastos, dos rendimentos e parte da variação patrimonial das famílias
básicos, como a água encanada, a coleta de lixo, a eletricidade, o alto índice de mortalidade
infantil, dentre outros fenômenos (Sen, 1981; Sen, 1998; Hoffmann, 2008).
A literatura especializada costuma definir a pobreza com base na renda das famílias,
sendo que os pobres são aqueles com renda inferior ao mínimo necessário para aquisição das
pobres todas as pessoas (ou famílias), cujas rendas são iguais ou inferiores a um valor
correspondente aos custos de atendimento das suas necessidades básicas, e que muitas vezes
Essa delimitação não garante um consenso, pois para outros autores, como Banerjee
e Duflo (2012), os "extremamente pobres" são aqueles que vivem com menos de US$ 1 por
dia por pessoa, ajustado pela Paridade do Poder de compra de 1985 (PPP). As linhas de
pobreza sempre existiram, sendo que US$ 1 por dia foi escolhido devido à proximidade com
as linhas de pobreza usadas em estudos aplicados aos dados de muitos países pobres. Em
1993, a linha de pobreza foi atualizada para US $ 1,08 por pessoa ajustado pela PPP de 1993.
diversas razões, pode ser apontado como uma medida de bem-estar mais apropriada do que
a renda (Rodrigues, 2014). Desta forma, a autora definiu em seu trabalho uma medida para
captar o bem-estar por meio da estimação da linha de pobreza alimentar e linhas de pobreza
neste presente estudo optou-se por considerar como sendo pobres as famílias dos domicílios
que apresentarem renda domiciliar per capita inferior a R$ 331,39, seguindo a metodologia
de estratificação de renda aplicada aos dados da POF 2008-2009 usada por Oliveira (2014).
Outras duas estratificações foram adotadas, a classe média (com RDPC entre R$ 331,39 a
1.255,75) e a classe rica (ou alta, com RDPC superior a R$ 1.255,75) apenas para efeitos
comparativos. Por fim, destaca-se que, a data usada como referência para os valores
que, apesar de se fazer referência ao “consumo” de um alimento, o IBGE deixa claro que
5
Os alimentos foram classificados segundo alguns grupos definidos na POF: a) Cereais e leguminosas; b) Frutas; c) Legumes e verduras;
d) Tubérculos e raízes; e) Aves e ovos: serão usados apenas o consumo de frango e de ovos; f) Carnes: considerando-se apenas e
separadamente as carnes bovinas de 1ª e de 2ª; g) Panificados: serão analisados em conjunto os pães, bolos e biscoitos; h) Farinhas e
massas: em que serão discriminadas a aquisições de farinhas (trigo e milho) e macarrão; i) Bebidas, discriminando-se desse grupo, apenas
o consumo de refrigerantes; j) Leite e derivados; k) Açúcares (todos os tipos); l) Óleos e gorduras e; m) Alimentos preparados.
O método utilizado neste artigo está embasado em outros estudos sobre os
modelo de escolha discreta adotado foi o modelo de lógite, no qual a probabilidade (𝑃𝑖) de
que haja consumo de determinado tipo de alimento pela i-ésima família é função de um
eY i
1
P
i 1 Y
e 1 exp( Yi )
i
Ou, alternativamente,
Pi
Yi ln X 1i 2 X 2i ... kXki
1
1 Pi
A vantagem do modelo de lógite é que ele permite estimar como uma determinada
de a família apresentar despesa com algum alimento selecionado. A seleção das variáveis
explanatórias se baseou em estudos anteriores que utilizaram dados da POF 2008-2009 para
2014). As variáveis explanatórias utilizadas foram: a) Duas variáveis binárias para distinguir
os três estratos de renda: domicílios pobres (com RFPC de até 331,49), os domicílios de
classe média (com RFPC de R$ 331,49 a R$ 1.255,75) e os domicílios ricos (com RFPC
superior a 1.255,75), adotando como base o estrato mais pobre; b) Três variáveis binárias
para distinguir quatro faixas de idade do chefe de família: 26 a 40 anos, 41 a 60 anos e mais
de 60 anos de idade. A faixa de idade de até 25 anos foi escolhida como base; c) Cinco
variáveis binárias para distinguir seis níveis educacionais do chefe da família: analfabeto ou
estudo e 15 anos ou mais de estudo. O nível de 1 a 3 anos de estudo foi adotado como base;
d) Quatro variáveis binárias para distinguir as cinco grandes regiões: Norte, Sudeste, Sul e
Centro-Oeste. Adotou-se como base a região Nordeste, a mais pobre; e) Uma variável para
distinguir se o chefe familiar é mulher ou homem (base); f) Uma variável binária (urbano)
que assume valor 1 se o domicílio da pessoa está em área urbana e assume valor 0 se o
domicílio estiver em área rural; g ) Uma variável binária (metropolitano) que assume valor
e valor 0 em caso contrário; h) Três variáveis binárias para distinguir as quatro categorias de
cor da pele: preta, parda, amarela. A cor branca foi adotada como base; i) Sete variáveis
binárias para distinguir 8 estratos de número de pessoas na família, que foram definidos da
seguinte forma: família com uma pessoa (base), com 2 pessoas, com 3 pessoas, com 4
pessoas, com 5 pessoas, com 6 pessoas, com 7 pessoas e com 8 a 20 pessoas; j) Uma variável
binária para distinguir duas situações no que se refere ao número de crianças de 0 a 4 anos
na família: nenhuma e uma ou mais. Adotou-se como base a situação em que não há criança
de 0 a 4 anos na família; k) Uma variável binária para distinguir duas situações no que se
Uma variável binária para distinguir duas situações no que se refere ao número de crianças
anos na família: nenhum (base) e um ou mais; n) Uma variável binária para distinguir duas
um ou mais; o) Uma variável binária para distinguir 2 situações no que se refere ao número
de idosos com mais de 64 anos de idade na família: nenhum (base) e um ou mais. As
da POF de 2008-2009.
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
de uma família ter adquirido (ou realizado o dispêndio) de determinado tipo de alimento. Em
exceto a constante, são zero foi altamente significativo. Verifica-se que, dos 510 coeficientes
estimados, 392 são significativos (76,9% do total). Os sinais de tais coeficientes também
O consumo de alimentos segundo a renda familiar per capita, tomando como base o
estrato que contém as famílias pobres, segue alguns padrões interessantes, por exemplo, em
famílias de classe média frente aos mais pobres. Isto deve estar ligado ao fato desse subgrupo
A renda também tem efeito positivo e significativo (pr. <0.001) sobre a probabilidade
seja, rendas mais altas representam maiores chances de se efetuar a aquisição de tais gêneros
alimentícios. Oliveira (2014) mostrou que o consumo destes tipos de alimentos é mais
elevado entre os mais ricos, apesar destes não atingirem o consumo mínimo de frutas e
hortaliças recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que é de 400g por dia.
Sobre o consumo de aves (frango) e ovos, a probabilidade de aquisição é maior nos
domicílios de baixa renda, o que deve estar ligado ao fato de tais produtos apresentarem
relação aos mais pobres, se se tratar de carne bovina de 1ª qualidade, pois se for de qualidade
inferior, os domicílios ricos apresentam menor possibilidade de despesa domiciliar deste tipo
de bem inferior.
consomem menos itens deste tipo do que os pobres. Vale destacar que não houve
significância estatística para o item farinha no grupo de classe média. Itens que compõem os
renda. Estes coeficientes foram altamente significativos (pr. <0.001). Este é um resultado
interessante, pois classes de renda mais alta apresentaram maior probabilidade de consumo
de alimentos menos saudáveis. Contudo, deve-se considerar que este artigo não dissociou o
consumo dos vários tipos de óleos disponíveis ao consumidor (óleo de azeite, por exemplo).
Portanto, sugere-se que estudos futuros analisem mais detalhadamente este resultado.
coerentes com modelos estimados previamente por outros autores. Por exemplo, o consumo
número de membros na família e entre as pessoas com maior escolaridade. Por outro lado,
maior no Norte e menor nas demais regiões do país. Enquanto o consumo de refrigerantes
Cereais e
Variável explanatória Frutas Legumes e verduras Tubérculos e raízes Aves e ovos Carne bovina de 1ª Carne bovina de 2ª
leguminosas
Tamanho da família: 2 pessoas 0,3890 * 0,4463 * 0,6076 * 0,6682 * −0,5297 * 0,6474 * 0,4479 *
3 pessoas 0,5316 * 0,5899 * 0,8501 * 0,8492 * −0,7153 * 0,9305 * 0,5846 *
4 pessoas 0,6190 * 0,7356 * 1,0460 * 1,0671 * −0,9895 * 1,1433 * 0,8356 *
5 pessoas 0,7157 * 0,8170 * 1,0576 * 1,0806 * −1,1382 * 1,1972 * 0,7733 *
6 pessoas 0,8446 * 0,7194 * 1,1155 * 0,9223 * −1,2036 * 1,1818 * 1,0838 *
7 pessoas 0,7766 * 0,6256 * 1,1846 * 1,1516 * −1,1862 * 1,2050 * 0,7736 *
8 ou mais pessoas 0,9879 * 0,4751 * 1,1341 * 0,9408 * −1,415 * 1,3412 * 0,9714 *
Mulher −0,127 * −0,0100 ns
0,0475 ** 0,0409 ** −0,0209 ns
−0,0656 * −0,0659 *
Cor da pele: Preta 0,0258 ns
−0,1716 * −0,0889 * −0,1393 * 0,1261 * −0,2447 * −0,0581 ns
Parda 0,0246 ns
−0,0969 * −0,0346 *** −0,0731 * 0,0396 *** −0,0925 * 0,0019 ns
Amarela −0,0798 ns
−0,0400 ns
−0,0789 ns
−0,2216 *** 0,4399 * 0,3982 * −0,3559 **
Escolaridade: <1 −0,0521 ns
−0,2489 * −0,1556 * −0,2768 * 0,1217 * −0,0884 *** −0,0789 ***
4a7 −0,0983 * −0,0002 ns
0,0334 ns
0,1483 * −0,00783 ns
0,1558 * −0,0835 **
8 a 10 −0,1004 * 0,0576 ns
0,1045 * 0,2015 * −0,0205 ns
0,2841 * −0,1592 *
11 a 14 −0,3032 * 0,1931 * 0,0800 ** 0,2561 * 0,0683 ** 0,3474 * −0,2406 *
15 ou mais −0,2009 * 0,3702 * 0,1407 * 0,3271 * 0,0616 ns
0,3993 * −0,5211 *
Região: Norte 0,2352 * −0,2713 * 0,0220 ns
−0,3016 * −0,1784 * 0,4616 * 0,5428 *
Sudeste −0,8023 * −0,5489 * −0,2182 * −0,0763 * 0,6605 * −0,0636 ** 0,0771 *
Sul −0,5379 * −0,1918 * 0,0475 ns
0,2218 * 0,4409 * −0,0977 ** 0,3478 *
Centro−Oeste −0,6836 * −0,7171 * −0,3598 * −0,2235 * 0,9038 * −0,044 ns
0,0444 ns
Idoso de 64 anos ou mais: 1 ou mais 0,1061 * 0,1922 * 0,1651 * 0,1838 * −0,1352 * 0,0282 ns
0,0911 **
Tabela 1 – continuação
Alimentos
Variável explanatória Panificados Farinhas Macarrão Açúcares Refrigerantes Leite e derivados Óleos e gorduras
preparados
A qualidade dietética e nutricional dos indivíduos tem sido debatida no meio acadêmico.
Não obstante, conhecer os hábitos alimentares das famílias com menor faixa de renda possibilita
a formulação de políticas públicas, a fim de melhorar o tipo de calorias ingeridas. Este artigo
diferentes classes sociais no Brasil, por meio dos dados da POF 2008-2009.
Por meio de um modelo lógite, verificou-se que os pobres tendem comer menos frutas,
legumes, verduras, tubérculos e raízes quando comparados com as classes média e alta. Por
outro lado, foi possível observar maior consumo de aves, ovos e carne bovina de segunda. Este
refrigerantes, óleos, gorduras e alimentos processados pelas classes de renda mais alta. Isto traz
uma nova discussão para o debate nutricional no Brasil, a fim de compreender a decisão
alimentar não só dos pobres, mas também das classes sociais mais abastadas. Este pode ser um
importante apontamento que exija estudos futuros mais aprofundados, a fim de contribuir para
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p. 1-25, Jan 1998. ISSN 0013-0133.
RESUMO
O presente trabalho faz uma abordagem a respeito da população residente em domicílio
rural nas grandes regiões do país, no Estado do Amazonas e na Região Metropolitana de
Manaus (RMM). Faz as observações com base nos dados dos Censos de 1970 a 2010
(IBGE). Os resultados são incisivos em demonstrar que a população nestas áreas reduziu-
se substancialmente nos períodos estudados por pelo menos duas razões: primeira, em
função da redução da fecundidade e segunda por ausência de motivações que firmem esta
população nestas áreas, fator que se agrava dependendo de fatores locacionais e
geográficos.
1
Doutoranda em Economia pela Universidade Católica de Brasília (UCB) – rubia.alegre.melo@gmail.com
2
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) gharb@ig.com.br
3
Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná – mcferst@gmail.com
4
Doutorado em Educação pela Universidad de La Empresa (UDE)
5
Graduanda em Artes pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA)
1. INTRODUÇÃO
Qual a imagem que hoje ainda se faz a respeito do domicílio rural? O que
perguntas desta natureza? Em termos etários, essa questão pode apresentar dimensões
significativas?
rurais, tais como: suprimento das demandas da vida escolar desde as séries iniciais e sua
tantas outras formas de ocupação que rodeiam e fazem parte da vida das pessoas.
rural ou urbano, na medida em que se verifica, cada vez mais, desmistificação das
migrantes, que informam o que se passa nesse espaço da sociedade aos seus pares que
residem nas comunidades rurais, ou mesmo pelas informações veiculadas nos meios de
comunicação, que colocam em relevo os problemas enfrentados por quem reside nos
centros urbanos.
A realidade vivenciada pelas populações rurais tem demonstrado que por vezes, os
esforços e a boa vontade destas, findam por sucumbir diante das dificuldades e desafios
políticas públicas. Não obstante, exemplos de casos concretos tem demonstrado que em
uma época tão bem servida de evolução tecnológica, há possibilidades de se elevar o bem
população jovem residente em áreas rurais do Brasil. Verifica-se nestes que a relação ou o
aporte das políticas públicas tem sido determinante para expandir as melhorias diversas
que se fazem necessárias à vida das pessoais. Em seguida, ainda na revisão da literatura,
aponta o que se tem pontuado nos trabalhos de Von Thunen, enquanto um dos teóricos que
2. REVISÃO DA LITERATURA
uma categoria que requer atenção, não apenas porque se trata de uma categoria fluida, mas
desta natureza, que de alguma forma exercem influência significativa para a população
Assim, tem-se ampliado certo conceitos como rural, agricultura familiar, camponês,
problemáticas sociais rurais e propor mudanças, políticas, projetos, etc. Programas como o
Entretanto, hoje, no Brasil, o debate sobre tais categorias não pode se esquecer de
partir de 1960, momento em que as relações entre campo e cidade se tornaram mais
ganhou atenção como foco de interesse dos pesquisadores da questão agrária brasileira7.
econômicas optam por se estabelecer em determinados lugares, com o resultado de que em alguns
6
Stropasolas (2014)
7
Trindade (2015)
Para Mesquita (1978), uma correta e mais profunda compreensão do conteúdo
econômico da organização espacial da atividade agrária faz-se necessária para uma perspectiva
Embora o uso genérico do termo aglomeração econômica seja adequado num determinado
nível de abstração, deve-se ter em mente que este conceito diz respeito a situações muito distintas
no mundo real. Num extremo do espectro está a divisão Norte-Sul. No outro, a aglomeração surge
quando restaurantes, cinemas ou lojas que vendem produtos similares se agrupam dentro do mesmo
bairro, ou até na mesma rua. O que distingue os vários tipos de aglomeração é a escala espacial, ou
a unidade de referência espacial escolhida na condução da pesquisa, da mesma forma que existem
tipos diferentes de agregação de agentes econômicos. Embora existam muitas diferenças nos
lugares8.
urbana de alimentação é um dos pressupostos de se dar base à esta importante atividade. Assim, a
produção teoria da economia regional é abordada nesta seção, no sentido de demonstrar que em
países ricos como a Alemanha essa área foi inicialmente pensada a partir de uma perspectiva
relacionada às atividades produtivas da área rural, como as ideias vonthunianas, que debruçam-se
inaugural na história da teoria dos lugares centrais. Publicado pela primeira vez em 1826,
8
Thisse (2011).
O modelo de Von Thünen é um modelo clássico de localização em agricultura. O
exame da literatura existente sobre o enfoque locacional em estudos agrários mostra que,
embora concebido há um século e meio, é esse modelo até hoje empregado para a análise
dos padrões de uso agrário da terra e de intensidade da agricultura em torno das cidades. A
formulação desse modelo de localização das atividades agrárias surgiu a partir de duas
questões fundamentais enunciadas por Von Thünen no capítulo 2 de sua obra (1),
referentes aos padrões de cultivo que se formariam em torno das cidades e ao modo pelo
qual os sistemas agrários seriam afetados pela distância da cidade. Para resposta a essas
dos fatores responsáveis pela localização da produção agrícola para isolar a operação de
um só fator. No prefácio da edição de 1842 (2), Von Thünen considerou seu método de
análise o mais importante aspecto contido em toda a sua obra, (MESQUITA, 1978).
centro de mercado e uma região agrícola homogênea e isotrópica (que apresenta as mesma
propriedades independentemente da direção) que o circunda. Por meio desse pressuposto
HIGACHI, 2000).
Conforme sua teoria, idealiza um Estado sem contato com o exterior, cuja atividade
é apenas interna. Assim, em seus anéis, há a demonstração de que esse Estado se divide em
círculos concêntricos, tendo como principal consumidor, uma grande cidade, que absorve a
produção agrícola.
Os anéis9:
No primeiro, estão verduras, legumes e frutas;
No segundo, lenha (numa primeira subzona) e madeira de construção (na segunda
subzona);
No terceiro, um sistema de rodízio entre cereais e tubérculos, com adubação uma
vez por ano;
No quarto, um sistema de rodízio entre cereais e pastos com pousio;
No quinto, os mesmos produtos em um sistema de três campos – um com os
cultivos de inverno (trigo ou centeio), outro com os de primavera (cevada ou aveia)
e o terceiro em pousio; e,
No sexto anel, pecuária extensiva de corte e leiteira. Neste, também seriam
produzidos alguns manufaturados, como laticínios, óleos vegetais, fumo e linho
que, em razão do alto valor agregado por unidade de volume, suportariam
distâncias maiores.
estabelece.
9
In Cabral (2011) apud (Waibel, 1948)
Há apenas um mercado disponível, auto suficiente sem influência externa.
Todos os agricultores estão orientados para este mercado e para tanto
produzem bens para este fim.
O ambiente físico é uniforme (plano), não há desníveis.
Todos os pontos relacionados no modelo, apresentam distâncias e
acessibilidade iguais a esse mercado.
Desta forma, há o esforço coletivo dos agricultores para promoverem a
maximização dos lucros.
Von Thünen conferiu ao seu modelo acentuado conteúdo empírico, pois, preocupado em
as leis que governam o preço dos produtos agrícolas e as leis pelas quais as variações de
preço são traduzidas nos padrões de uso da terra e nos sistemas agrários, usou a sua
(MESQUITA, 1978).
Assim, para Cabral (2011), o gradiente de custo de transporte cria uma variação de
renda da terra, isto é, de produto líquido: quanto mais longe da cidade, menor esse
produto. Essa curva descendente afeta o uso da terra em duas dimensões: quanto ao
sistema de cultivo e quanto aos gêneros que são cultivados. Estes são, em larga medida,
da produção rural, mas que também são de relevante peso na análise de questões que
deles:
Figura 2: Principais teorias em economia regional. In: Monastério e Cavalcante (2011).
tem sido a dos avanços legislativos nesta seara, como por exemplo o da Lei da Agricultura
rurais. Assim, agricultor familiar é aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,
familiar respondia no Censo de 2006 por 30% das receitas dos estabelecimentos
porque apenas 3 milhões (69%) dos produtores familiares declararam ter obtido alguma
receita no seu estabelecimento durante o ano de 2006, ou seja, quase 1/3 da agricultura
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para dar resposta ao objetivo proposto no presente trabalho, fez-se uso dos dados do
presente abordagem intenciona verificar em que medida a população jovem tem sofrido
para o campo, que nesta seara jogam um papel importante, uma vez que as demandas
expulsão para esta população. Assim, faz-se uma apreciação na evolução das leis que de
certa forma, atuam como motivadores desta permanência ou não evasão populacional das
áreas rurais.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesta seção se faz a discussão dos resultados obtidos por meio dos dados, no
sentido de dar resposta ao objetivo proposto neste trabalho. Assim, no item a seguir
faixa etária considerada nesta investigação concentra uma população jovem em 04 grupos
etários.
que de 14,94% em 1970, reduz-se para 7,24% em 2010. No segundo grupo etário (5 a 9),
redução. Da mesma forma, nos dois últimos grupos (10 a 14 e 15 a 19), porém de forma
Assim, o menor volume de crianças residente nestas áreas pertence à região Sudeste,
maiores o que denota questões como: já podem ser incluídas de certa forma como força de
trabalho no desenvolver das atividades agrícolas; de certa forma nestas localidades existe
oferta que atende às necessidades escolares; ou por estarem ainda sob a tutela dos pais, o
que reduz a autonomia de uma migração para as áreas urbanas. As maiores proporções são
por meio de estradas com o restante do país. A principal estrada que liga o Estado aos
investimentos no setor, o que aliado às grandes distancias entre os municípios, findam por
volume superior a 10%, inclusive na idade entre 15 a 19 anos. Na RMM esse volume é
bem menor, com o maior percentual para a faixa etária entre 10 e 14 anos (10,39%). São
a proporção desta em domicílio rural era de 20,92%. Assim, por meio da tabela 8, em
termos etários, essa proporção sofre redução significativa no decorrer destes anos
avaliados. Consequência não apenas da queda da fecundidade, mas também do êxodo rural
que ainda é muito forte no Estado do Amazonas, em função de ter-se ainda necessidades
sérias a serem supridas nas áreas urbanas destes municípios, o que pode nos fazer refletir a
5. CONCLUSÃO
Por meio dos postulados da teoria de Von Thunen é possível se verificar que a
resposta para muitas das demandas populacionais da cidade, podem surgir das áreas rurais.
A produção rural em diversas áreas do Brasil tem sido a principal fonte de abastecimento
conhecimento, que será captado pelos agentes produtivos, segundo Viera Filho e Fishlow,
(2017). Em regiões mais desenvolvidas, tem-se uma maior eficiência no uso dos recursos
custos produtivos.
produção não se configura como uma problemática, uma vez que de fato, o ambiente físico
não é penalizado pela ausência de estradas que possibilitem o escoamento produzido pelas
famílias agricultoras. O mesmo não pode ser afirmado para a região Norte, sobretudo para
o Amazonas, que é o Estado mais isolado dos sete que formam a região.
Desta forma, ao se considerar que a população jovem que reside nas áreas rurais
pode ser a geração que pode dar continuidade às diversas e significativas contribuições que
conceber e implementar políticas públicas para as juventudes do campo, das florestas e das
águas que não impliquem classificações ou vieses políticos reproduzindo ou criando novas
categorias sociais por parte do Estado, que não deixam de ser resultantes também de
iniciativas da sociedade civil visando aglutinar forças e lutar por conquistas sociais e
juventude rural.
REFERENCIAS
nº 13.465/2017
Resumo
A União é proprietária de cerca de 40.000 (quarenta mil) hectares de terras públicas rurais
que se originou da MP 759/2016, em relação aos procedimentos para alienação dos imóveis
fomentar uma discussão sobre a relevância dos bens públicos pertencentes à União, as atuais
públicas rurais no Distrito Federal; e os valores definidos para sua alienação. Para isso
software Quantum Gis. Conclui-se que as maiores modificações introduzidas pela Lei nº
13.465/2017, no que diz respeito à alienação dos imóveis rurais da União, foram a definição
de regras para avaliação e a necessidade de edição futura de Portaria, que definirá os bens
dedicar especial atenção às definições que virão, tendo em vista a terra urbana e rural no
Brasil serem alvo de crescentes disputas que desafiam o cumprimento da função social.
fundiárias.
Pode-se afirmar que, com a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Cidade (Lei
refere ao uso e ocupação do solo, e isso se deve à própria configuração territorial originária
do período da sua criação. Corresponde a um quadrilátero com 5.783 Km², formado por
áreas anteriormente pertencentes ao estado de Goiás. Cerca da metade desse território foi
formou a capital federal no plano piloto e seu entorno, com cidades satélites, núcleos
legislação urbanística local, estão entre os principais problemas enfrentados pelas iniciativas
de ordenamento territorial no Distrito Federal, que tem variado de foco e características de
específicas.
outorgar a utilização, nos regimes e condições permitidos em lei, dos imóveis da União.
Federal, ocupam cerca de 40.000 (quarenta mil) hectares, ou 400(quatrocentos) Km², o que
Lei nº 13.465/2017, no que se refere aos procedimentos para alienação dos imóveis rurais
consiste em fomentar uma discussão sobre a relevância dos bens públicos pertencentes à
das terras públicas rurais no Distrito Federal; e os valores definidos para sua alienação.
políticas públicas, tendo em vista a possibilidade de afetar os usos e destinações atuais dos
imóveis em comento, muito dos quais voltados à produção agrícola e a criação de animais
imóveis rurais para a proteção ao meio ambiente, sobretudo aos recursos hídricos; e da
reserva de terras públicas para viabilizar iniciativas governamentais sem que seja necessário
investigação.
Assim, parte-se do pressuposto que as terras rurais da União são uma importante
reserva de terras para a consecução de políticas públicas no Distrito Federal, que muitos se
que visem sua alienação devem ser conduzidos de maneira a garantir suas características
terras.
uma reserva de imóveis públicos no Distrito Federal? Quanto esses imóveis geram de receita
esperar?
2. Métodos e procedimentos
uma pesquisa qualitativa baseia-se nas definições de Leedy (1993), segundo as quais é a
natureza dos dados que indica a metodologia. Além disto, a pesquisa qualitativa tende a uma
instrumento, visto que percebe a presença dos dados e interpreta seus significados.
relativas à alienação dos imóveis da União, com foco nos imóveis localizados nas áreas
(três) mapas temáticos, em escala definida para impressão em papel tamanho A4, utilizando
As glebas da União são representadas por polígonos, em camada sobre a base cartográfica
adotada pela SPU/DF. Utiliza-se a variável visual tonalidade e pontos, que encontram
(cinco) glebas que foram transferidas entre 2016 e 2017, identificando-se os valores das
transações (valores de mercado), e os valores para alienação de acordo com a Lei Nº 11.977,
de 7 de julho de 2009, que não mais se aplicam. Destacou-se cada gleba com uma
tonalidade. Na legenda, cada tonalidade aparece com a explicitação dos 2 (dois) valores,
para fins de comparação e análise. Nos 3 (três) mapas elaborados, utilizou-se o sistema de
projeção UTM (coordenadas planas), Datum horizontal SIRGAS 2000 e imagens de satélite
do Google Earth.
3. Revisão Bibliográfica
1
Entre os quais o Deputado Federal Izalci Lucas, do PSDB, Presidente da Comissão Mista sobre a Medida
Provisória 759/2016.
ponto de partida, juntamente com as leis nº 9.636/1998 e nº 13.240/2015 que, entre outros
pelo relator, o referido texto original da MP 759/2016 sofreu modificações. Nesse sentido,
procedeu-se a uma análise comparativa entre essa versão inicial e o texto oficial do Projeto
2 Foram apresentadas 732 (setecentas e trinta e duas) emendas por Deputados e Senadores. Destas, 122 (cento
e vinte e duas) foram acatadas pelo relator, o Senador Romero Jucá.
3
Altera as Leis nºs 8.629, de 25 de fevereiro de 1993; 13.001, de 20 de junho de 2014, 11.952, de 25 de junho
de 2009, 13.340, de 28 de setembro de 2016, 8.666, de 21 de junho de 1993, 6.015, de 31 de dezembro de
1973, 12.512, de 14 de outubro de 2011, 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), 11.977, de 7 de julho 2009, 9.514, de 20 de novembro de
1997, 11.124, de 16 de junho de 2005, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 10.257, de 10 de julho de 2001,
12.651, de 25 de maio de 2012, 13.240, de 30 de dezembro de 2015; 9.636, de 15 de maio de 1998, 8.036, de
11 de maio de 1990, 13.139, de 26 de junho de 2015, 11.483, de 31 de maio de 2007, e a 12.712, de 30 de
agosto de 2012; a Medida Provisória nº 2.220, de 4 de setembro de 2001; e os Decretos-Leis nºs 2.398, de 21
de dezembro de 1987, 1.876, de 15 de julho de 1981, 9.760, de 5 de setembro de 1946, e 3.365, de 21 de junho
de 1941; e revoga dispositivos da Lei Complementar nº 76, de 6 de julho de 1993, e da Lei nº 13.347, de 10
de outubro de 2016; e dá outras providências.
4
No dia 31 de agosto de 2016, através de processo iniciado em 2 de dezembro de 2015, o Senado aprovou,
por 61 votos favoráveis e 20 contrários, o impeachment de Dilma Rousseff. A presidente afastada foi
condenada sob a acusação de ter cometido crimes de responsabilidade fiscal – as chamadas "pedaladas fiscais"
no Plano Safra e os decretos que geraram gastos sem autorização do Congresso Nacional.
pelo grupo de trabalho culminaram com a outorga, pelo Presidente Michel Temer, da
dá outras providências.
análises desenvolvidas neste artigo. O primeiro5 inicia com uma caracterização dos bens
públicos pertencentes à União. Ressalta que a ocupação ou posse dessas áreas pode ser
os principais imóveis rurais (fazendas) da União no Distrito Federal geridos pela SPU/DF.
administradas por órgãos federais foram registradas. O segundo artigo em análise6, propôs
uma avaliação do uso das terras situadas na porção norte da APA do Rio Descoberto,
5
FORTES, Paulo de Tarso Ferro de Oliveira. Et al. Regularização fundiária em imóveis da União no Distrito
Federal. Parte 2: identificação de ocupantes. Disponível em:
http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2007/01.26.17.16/doc/5241-5248.pdf. Acesso em:
30/04/2017.
6 CHAVES, Aurélio Alves Amaral. Uso das terras da parte norte da Bacia do Rio Descoberto, Distrito Federal,
Gerou-se um mapa de adequabilidade do uso das terras, por meio do qual, com base em
agrícola das terras, foi possível identificar que a maior parte da área estudada está abaixo
do seu potencial agrícola, o que caracterizaria uma utilização sustentável dos recursos
naturais.
Nos artigos analisados foram utilizados dados cadastrais e dados temáticos para a
potencial agrícola numa área de preservação ambiental, ambos em áreas rurais do Distrito
Federal. A partir dos exemplos de mapas temáticos apresentados, pode-se inferir que,
quando as variáveis visuais são aplicadas seguindo critérios adequados, o mapa temático se
4. Resultados e discussão
Fazenda Contagem de São João, Fazenda Palma e Rodeador, gleba da Fazenda Brejo ou
7 Bens dominiais ou dominicais são aqueles que pertencem ao patrimônio público, mas não possuem uma
destinação específica. Podem ser cedidos a terceiros, a exemplo dos imóveis rurais da União no Distrito
Federal.
administrativas e cidades satélites do DF e entorno e o plano piloto, local de concentração
dos empregos. Tais características causam uma grande valorização imobiliária, não apenas
no plano piloto, mas também nos demais imóveis localizados no Distrito Federal, sejam
infraestrutura.
de parcelamento para fins rurais. O módulo rural, no DF, corresponde a 5 (cinco) ha, e a
No Mapa 01 pode ser observada a localização dos referidos imóveis, a maior parte
públicas, no entanto, pode ser destinada a usos com características rurais, tendo em vista a
Brasília. Através do Mapa percebe-se que a Fazenda Sálvia, a Fazenda Contagem de São
maiores dimensões e que, por isso, abrigam a maior parcela dos ocupantes regulares e
Os direitos de utilização dos bens imóveis da União podem ser destinados pela
8
Os principais instrumentos de destinação do patrimônio da União são: aforamento, alienação, autorização de
uso, cessão de uso gratuita, cessão de uso onerosa, cessão em condições especiais, cessão provisória,
concessão de direito real de uso – CDRU, concessão de uso especial para fins de moradia – CUEM, declaração
de interesse do serviço público, entrega, entrega provisória, guarda provisória, inscrição de ocupação,
permissão de uso, termo de autorização de uso sustentável – TAUS, e transferência (gratuita). Fonte:
http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao/patrimonioda-uniao/gestao-patrimonio-da-uniao. Acesso
em: 10/06/2017.
características do imóvel e do interesse público na utilização proposta. Não é objetivo do
presente trabalho abordar cada um desses instrumentos, tendo em vista que, para os imóveis
Mapa 01 – Localização das áreas rurais de propriedade da União no Distrito Federal. Fonte: Elaboração
própria, 2017.
instrumentos de destinação, tem-se que esta se encontra prevista na Lei nº 9.636, de 1998,
aproveitamento do terreno pelo ocupante. Não gera direito real sobre o imóvel e representa
deve observar uma série de critérios, como a necessidade do ocupante residir no imóvel.
Para que um ocupante, pessoa física ou jurídica, seja cadastrado na SPU/DF como
responsável por determinado imóvel rural de propriedade da União, deve ter autorizado o
imóvel no cadastro dos bens dominiais da União, para efeitos de administração e cobrança
que determina caber privativamente à SPU a fixação dos valores locativos e venais
inscrições de ocupações que ocorreram após 10 de junho de 2014. Assim, apenas para
aqueles que conseguem comprovar que já ocupavam o imóvel anteriormente a essa data
imóveis rurais da União, posteriormente a essa data necessitam fazê-lo de quem possui
imóvel, em m², pelo valor publicado da PVG atualizada, por 2% (dois por cento) 10. Nesse
sentido, a título de exemplo, uma gleba com 20.000m² (vinte mil metros quadrados), ou 2
ocupação para as áreas rurais da União no Distrito Federal, verifica-se que, de 2010 a 2017
9
O Decreto-Lei 2398/87. Dispõe sobre foros, laudêmios e taxas de ocupação relativas a imóveis de
propriedade da União, e dá outras providências.
10
Esta taxa de 2% (dois por cento) é definida pelo Decreto-lei Nº 2.398, de 21 de dezembro de 1987.
11
Valor obtido a partir da seguinte expressão: 20.000 (área) x 1,62 (valor da PVG) x 2% (índice definido em
Lei) = 648.
arrecadou-se R$ 11.032.369,81 (onze milhões, trinta e dois mil, trezentos e sessenta e nove
reais e oitenta e um centavos), conforme tabela abaixo. Os valores referentes ao ano de 2017
são parciais, tendo em vista que ainda não contemplam os pagamentos das taxas de
argumentos utilizados, durante a edição da MP que deu origem à nova lei, para justificar as
modificações efetuadas no que diz respeito as condições para alienação dos imóveis da
União.
Apesar dos 40 (quarenta) mil hectares de terras rurais da União no DF não serem
hectares12 são atualmente parcelados em glebas com dimensões variadas e podem contar
com ocupantes inscritos. No mapa 02 observa-se que, das 1849 (mil, oitocentos e quarenta
e nove) glebas pertencentes à União no DF, 1160 possuem ocupantes cadastrados, e 679
não. Esse é certamente um dos motivos da baixa arrecadação com taxas de ocupação.
12
A soma das áreas de todas as glebas da União cadastradas na SPU-DF totaliza 198947914, m², ou quase
20.000ha.
Ao se efetuar um rápido exercício, considerando-se os aproximados 20 (vinte) mil
hectares que são atualmente parcelados em glebas com dimensões variadas e podem contar
com ocupantes inscritos, percebe-se que a arrecadação anual deveria girar em torno de R$
6.480.000 (seis milhões, quatrocentos e oitenta mil reais)13, ou seja, um ano a arrecadação
pode significar alto grau de inadimplência e deficiências na gestão dos referidos bens, por
exemplo.
Mapa 02 – Identificação das glebas rurais da União com e sem ocupantes cadastrados na SPU-DF. Fonte:
Elaboração própria, 2017.
13
Cálculo: 200.000.000 (área) x 1,62 (valor da PVG) x 2% (índice definido em Lei) = 6.480.000.
instrumento a ser utilizado para os imóveis que ao longo do tempo perderam a capacidade
intervenções por parte do Governo Federal. É aplicável quando não houver interesse
público, econômico ou social em manter o domínio da União. Pode ser realizada mediante
a venda, permuta ou doação do domínio pleno e deve ser respeitada a Lei 8.666/93. Ressalta-
se a manutenção dessa definição dada pela Lei nº 9.636/1998 mesmo com a nova Lei nº
13.465/2017.
todas as modificações, foi a retirada do art. 40-A do texto original da MP 759/2016 que
alterava, reduzindo, os valores para alienação dos imóveis rurais de propriedade da União.
Da maneira como originalmente disposto, os valores para alienação dos imóveis, a depender
do tamanho das áreas, variavam entre 30% a 60% do valor mínimo da Planilha de Preços
Referenciais do INCRA. Cite-se como exemplo uma “venda” de gleba da União localizada
de preços referenciais do INCRA de 2016, que corresponde a R$ 1,34/m² (um real e trinta
e quatro centavos o metro quadrado), pela Lei nº 12.024/09, uma gleba como a descrita
poderia ser alienada por R$ 26.800,0014 (vinte e seis mil e oitocentos reais), um valor já
muito aquém do negociado atualmente no mercado, como pode ser observado no Mapa 03.
possível a União transferir a área ao particular por R$ 8.040,00 (oito mil e quarenta reais).
Reitera-se que essa possibilidade foi retirada do texto final, não mais existindo.
14
A possibilidade de alienação com base na Planilha de Preços Referenciais do INCRA, de acordo com o
definido no art. 18 da Lei no 12.024/09, voltou a ser possível com a retirada do art. 40-A da MP 759.
Apesar desta modificação manteve-se na Lei nº 13.465/2017, conforme previsto no
agosto de 2009. Ou seja, para imóveis rurais da União e do Incra situados no Distrito Federal
não há mais a possibilidade de alienação ou Concessão de Direito Real de Uso, por valor de
em Lei, todos os procedimentos relativos aos imóveis da União foram remetidos ao Título
As regras para alienação dos imóveis com inscrições de ocupação regulares foram
benfeitorias, de acordo com os critérios de avaliação previstos no art. 11-C da Lei nº 9.636,
Outro artigo da Lei nº 13.465/2017 que merece atenção especial é o que autoriza a
por ocupante de imóvel da União que esteja regularmente inscrito e adimplente com suas
obrigações com aquela Secretaria. Tal proposta deve ser instruída com os documentos
necessários, mas não constituirá nenhum direito ao ocupante perante a União. Ou seja,
mesmo que o ocupante regularmente inscrito manifeste sua intenção para aquisição do
imóvel, somente haverá essa possibilidade caso o imóvel conste na lista editada pelo
Ministro, caso seja efetuada avaliação mediante o disposto no art. 11-C da Lei 9636 e sejam
benfeitorias) e também dependerá das definições que virão com a edição da Portaria pelo
introduzidas pela Lei nº 13.465/2017, no que diz respeito à alienação dos imóveis rurais da
União, foram a definição de regras para avaliação e a necessidade de edição de Portaria pelo
Ministro do Planejamento, ou pessoa por ele delegada, definindo os bens que interessam
negociações que envolvem glebas da União localizadas no Distrito Federal. Com o objetivo
de efetuar comparação entre esses valores e aqueles definidos pela Planilha de Preços
constam nos processos administrativos de cada imóvel, na SPU/DF, foi possível identificar
os valores declarados das transações, para efeitos de comparação com os valores da planilha
do INCRA de 2016. Percebe-se que, em cinco glebas da Fazenda Contagem de São João,
mais altos que aqueles definidos pela planilha do INCRA, chegando a superá-los em mais
de 2000%.
Mapa 03 – Identificação de glebas de propriedade da União no Distrito Federal negociadas entre
particulares no ano de 2016, comparando os valores de mercado com os valores mínimos calculados com base
na Planilha de Preços Referenciais do INCRA. Fonte: elaboração própria.
acessíveis a poucos, diante dos altos valores praticados no mercado. Mesmo que os atuais
ocupantes possam optar por continuar a pagar regularmente as taxas de ocupação, mantendo
os imóveis sob o domínio da União, não é difícil perceber que haverá uma pressão de
urbanos, e das consequências como expulsão dos atuais ocupantes (principalmente quando
recursos naturais. O Distrito Federal tem passado por uma crise hídrica, que vem se
agravando ano a ano, e que parte dos imóveis rurais da União estão localizados nas
ocupados por pequenos produtores. Adotar mecanismos que estimulem a alienação desses
imóveis pode representar, ainda, a concentração de terras nas mãos de poucos e uma
5. Considerações Finais
pertencentes à União no Distrito Federal, mas apenas para aqueles imóveis que obedecem à
fração mínima do módulo rural. Não foram objeto de análise os imóveis que, apesar de
Fundiária Urbana (Reurb), dos tipos “E” e “S”. É uma discussão para outro artigo.
caracterização dos imóveis rurais da União no DF, identificando a regularidade ou não das
Pelo disposto, percebe-se que muitas das definições relativas à alienação dos imóveis
rurais da União no Distrito Federal foram remetidas para regulamentações posteriores à Lei
de alienações por valores equivalentes aos preços mínimos desta mesma planilha, em terras
Distrito Federal.
parte da SPU reforçam os argumentos dos que defendem a alienação dos referidos bens
que por um lado pode ser considerado como fonte de receitas e desoneração das obrigações
Cabe uma especial atenção as definições que virão, pois, como afirma Harvey
a presente discussão, tendo em vista que a terra urbana e rural no Brasil são alvo de
6. Referências Bibliográficas
CHAVES, Aurélio Alves Amaral. Uso das terras da parte norte da Bacia do Rio
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-87052010000300024.
http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2007/01.26.17.16/doc/5241-5248.pdf.
LEEDY, Paul D. Practical research: planning and design. 5 th ed. New York: Macmillan
ROLNIK, Raquel. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das
Acesso em 28/05/2017.
A ATUAÇÃO DA SUDENE NO MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS -
CONTEXTO HISTÓRICO E IMPLICAÇÕES.
1
Maria Valdeny Pereira de Souza
RESUMO
ABSTRAT
This article aims to discuss in a special way a model of intervention in the economy. To
that end, the creation and operation of SUDENE in the northern region of Minas Gerais,
which historically is considered one of the most vulnerable regions of the state and the
country, will be discussed, which in turn motivated the performance of this oversight in
this regional area. It is important to emphasize that the main focus of this work is to present
this discussion about the creation and the objective of SUDENE, highlighting its
performance in the north of Minas Gerais as a whole and in a special way this
municipality, that from the SUDENE performance, becomes The most developed
1
Acadêmica do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.
Endereço para contato: valdeny10@hotmail.com.
municipality in the regional context. Consequently it causes important changes in the local
scenario, especially in employment. This discussion is important to insert the reader into a
debate that is municipal, but it is also regional.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo também tem relevância acadêmica e social, pois ao buscar compreender
o comportamento do emprego no município de Montes Claros (MG), durante as últimas
décadas, será possível compreender as potencialidades e desafios deste município no
passado, no presente e possíveis desafios para o futuro.
Além desta introdução, este estudo apresenta um referencial teórico, com um breve
contexto histórico da criação da SUDENE e sua abrangência no norte de Minas Gerais. No
terceiro tópico apresenta a metodologia utilizada para elaboração do trabalho; logo após,
no quarto tópico, terá resultados e discussões a atuação da SUDENE no município e
mudanças ocorridas na cidade. E por último, no quinto tópico, terá as considerações finais
deste artigo.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A criação da SUDENE e sua atuação no norte de Minas Gerais
De acordo com Brasil (1983), a SUDENE foi criada pela lei nº 3.692, de 15 de Dezembro
de 1959. Em 1965 o Escritório da SUDENE foi instalado em Minas Gerais, com sede em
Montes Claros, para além de atender a região nordeste, atender a região norte mineira, que
em 1965, 42 municípios faziam parte da Área Mineira da SUDNE, todos em convergências
na cidade de Montes Claros, que por sua situação geográfica e vários outros fatores
determinantes tornou-se um pólo de desenvolvimento. Com o passar dos anos, mais
municípios mineiros passam a ser atendidos pela SUDENE, que atualmente alcançou o
número de 85 municípios mineiros.
2
Disponível em http://www.sudene.gov.br. Acesso em 05/06/2016.
Segundo Pereira (2007), anteriormente a criação da SUDENE, o governo brasileiro já se
preocupava com a seca que afetava o Nordeste. Quando a SUDENE foi criada, em 1959, já
havia aproximadamente quatro grandes instituições federais que visava os problemas dessa
região: o Departamento Nacional de Obras contra a Secas (DNICS), a Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF) e o
Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Entretanto, a SUDENE foi a forma mais organizada e
sistemática de intervenção do estado brasileiro no Nordeste. E um dos principais objetivos
dessa autarquia é “centralizar, orientar, disciplinar todas as ações do Governo Federal na
região.” (Pereira, 2007 p. 47).
Santos e Souto (2013), complementa que a criação da SUDENE, na década de 1950, só foi
possível a partir de um planejamento elaborado pelo economista Celso Furtado, onde ele
faz uma referência nas discussões sobre o desenvolvimento nacional. Furtado foi o
primeiro superintendente daquela instituição, onde tinha como objetivo promover e
coordenar o desenvolvimento da região Nordeste através da intervenção governamental.
Oliveira (2000), explica que o espaço de atuação da SUDENE foi definido como o
Nordeste e a Área Mineira do Polígono das Secas. Porém, o Norte de Minas só foi integrar
oficialmente na área de atuação da SUDENE em 1963.
Quando a SUDENE foi criada, acreditava-se que a chave para o desenvolvimento seria a
industrialização. Dessa forma, o setor secundário foi à principal preocupação dessa
autarquia, que utilizou o recurso de subsídios para atrair capital para a região,
principalmente na industrialização (LEITE, 2008).
Cardoso (2000) afirma que o Norte de Minas é uma Região particular dentro do Estado de
Minas Gerais, pois a mesma apresenta muitas características sociais, culturais e
econômicas semelhante à nordestina. Por apresentarem tais semelhanças em seus
indicadores, isso pode ter influenciado a inclusão da região mineira na área do programa da
SUDENE. Existem várias especulações sobre quais os motivos que levaram a incorporar
em tal área. Todavia, a visão oficialmente aceita pelos documentos da autarquia, a exemplo
de SUDENE, é que a área mineira apresenta aspectos físico-climáticos parecidos aos do
semi-árido nordestino e está incluído no Polígono das Secas.
Sobre isso, Albuquere apud Brasil (1983) argumenta que a inclusão do território
setentrional mineiro na área de abrangência da SUDENE, ultrapassa a visão ecológica do
Polígono das Secas e a compreensão que as fronteiras administrativas não possuem
barreiras ao desenvolvimento regional.
Para que se tenha ideia do que representou a SUDENE para o Norte de Minas,
basta observar algumas de suas ações nesta Região. Conforme informações do
escritório da SUDENE em Minas Gerais, até novembro de 1995 já haviam sido
aprovado 94 pleitos de Reinvestimento do Imposto de Renda, 380 pleitos de
Isenção do Imposto de Renda e 86 pleitos de Redução de Imposto de Renda. (...)
No que se refere aos incentivos financeiros, segundo a mesma fonte, foram
aprovados para o Norte de Minas 108 projetos industriais, 07 agroindustriais e
107 agropecuários num total de 222 projetos (Cardoso, 2000 p. 222).
3 METODOLOGIA
Este trabalho terá como objetivo fazer um levantamento histórico sobre a atuação da
SUDENE no município de Montes Claros e as implicações da sua atuação sobre algumas
variáveis econômicas e sociais.
Para alcançar este objetivo utiliza-se análise descritiva de dados, que de acordo com Gil
(1996) este método tem como objetivo principal a exposição das características de
determinada população, fenômeno ou a relação entre variáveis.
Irá ser realizado também, um a pesquisa documental. Marconi e Lakatos (2010) explicam
que a pesquisa documental tem como fonte de coleta de dados os documentos, que podem
ser escritos ou não, podendo ser feitas depois que o fato ocorre, ou até mesmo no momento
de ocorrência. Neste caso a coleta de dados, será feita em sites oficiais que disponibilizam
os dados necessários para analise, como por exemplo, os sites do instituto brasileiro de
geografia e estatística (IBGE), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e entre outros.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Atuação da SUDENE em Montes Claros
Antes da década de 1960 Montes Claros se caracterizou por uma economia primária, tendo
como destaque a pecuária de corte. A agricultura só começa ter significado comercial com
a produção de algodão e mamona, as demais lavouras era de subsistência (BRAGA, 2008).
A partir dos dados, expostos na tabela 2, nota-se que a atividade agropecuária, na década
de 1960, com mais de 66% dominava o ramo das atividades em Montes Claros.
Até em meados da década de 1970 a economia de Montes Claros era voltada para a
exploração agropecuária e no comércio, ficando em terceiro lugar a produção industrial.
Por meio das políticas governamentais de desenvolvimento socioeconômico aumenta as
relações capitalistas de produção, levando a implantação de várias indústrias de pequeno e
médio porte na área urbana. Com isso o município passa por diferentes modificações em
sua economia e em suas características sociais. O setor terciário torna-se a principal base
da economia, em segundo lugar o setor secundário e em terceiro o setor primário (LEITE,
2008).
De acordo com Cabral (1985) em 1973 a SUDENE havia aprovado apenas 517 projetos
agro-pecuários, na época investimentos de 3,1 bilhões de cruzeiros, enquanto 971 projetos
industriais, com inversões de 19,10 bilhões. Esse período havia um desanimo para os
agricultores, por causa da escassez de chuva.
De acordo com Cabral (1985), surgiram em Montes Claros algumas fábricas de tecido,
como por exemplo, a firma Costa e Cia instalada em 1914. Mas, não existia na cidade
energia elétrica, faltavam estradas e outros meios de comunicação, a que pode ter
contribuído para fracasso das indústrias têxteis (RODRIGUES, 2000).
Em 1944, a cidade foi ligada a Central Hidro-Elétrica de Santa Marta (na época
município de Grão Mogol). No ano de 1954, a cidade ganhava um novo impulso
através da instalação de um conjunto diesel, reforçado em 1955. No entanto, o
abastecimento só seria definitivamente resolvido após a criação da CEMIG que,
em 1965, com ajudados recursos da SUDENE, interliga Montes Claros com o
sistema Três Marias, garantindo energia confiável e em volume necessário a um
maior impulso industrial. (Oliveira, 2000 p. 34)
Para Gomes (2007), o advento de novas indústrias atraídas política de incentivos fiscais da
SUDENE, trouxe para Montes Claros grandes mudanças, como por exemplo:
De acordo com Carvalho (1983), Montes Claros era uma cidade sem nenhuma tradição
industrial e foi escolhida pela SUDENE para ser área industrial, provocando várias
alterações na estrutura urbana, econômica e social da cidade. Para Oliveira (2000), uma
característica importante pela qual o escritório da SUDENE se instalou em Montes Claros,
foi o tamanho do núcleo urbano do município. Fator importante para a instalação. “Tudo
indica ser sua localização geográfica o principal fator condicionante desta situação, pois
favorece ao intercâmbio comercial e a conexão do norte mineiro com as demais regiões do
País” (Braga, 2008 p.40).
Entre as cidades mineiras atendidas pela SUDENE, Montes Claros foi a que mais obteve
investimentos. Isso devido à localização geográfica, a posição como centro regional e do
fato de possuir boa infra-estrutura urbana. A partir dessas condições, os incentivos atrás da
SUDENE, motivaram diversas indústrias se instalassem em Montes Claros. (LEITE, 2008)
De acordo co Oliveira (2000), alguns fatores contribuíram para que Montes Claros tivesse
um percentual significativo de investimentos, como por exemplo, a maior densidade
populacional e melhores condições de infraestrutura. Outro fator importante é a distancia
do Norte de Minas a Belo Horizontes e aos demais centros, fazendo com que o Montes
Claros tivesse quase todos os serviços administrativos descentralizados de âmbito regional.
Com isso “a cidade se fortalecia como centro de serviços, administração e comércio.”
(Oliveira, 2000 p. 28).
3
Disponível em http://www.montesclaros.mg.gov.br/desenvolvimento%20economico/div_ind-
com/pdf/potencialidades.pdf. Acesso em 11/11/2016.
Gráfico 1: Emprego em Montes Claros no período de 1985 a 2015
100000
90000
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
0
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015
De acordo com os dados extraídos do RAIS (2017), em até 1985, o município tinha o total
de 1.812 de empresas ativas, distribuídas no setor de indústria, construção civil, comércio,
serviços e agropecuária. Já em 2015 a quantidade de empresas já alcançava o número de
9.152 ativas no mercado local.
Tabela 2: Emprego por setor econômico
Construção
Ano Indústria Civil Comércio Serviços Agropecuária
1985 6.110 436 4.999 10.809 1.241
1990 7.378 1.508 5.635 13.522 1.102
1995 9.391 2.515 6.420 14.308 2.255
2000 9.426 3.215 10.105 16.948 2.264
2005 7.671 1.445 9.458 16.512 744
2010 2.848 2.543 9.731 19.199 567
2015 12.335 5.065 23.244 47.528 1.769
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do RAIS
Com base na tabela 2, é perceptível que no último ano em questão, 2015, os setores que,
mas empregam são o setor de serviços e comércio, respectivamente. Ficando em terceiro
lugar o setor industrial, em quarto lugar a construção civil e em quinto a agricultura.
De acordo com Leite (2008), depois das instalações das indústrias em Montes Claros,
houve aumento da população urbana nesse município. Acredita-se que houve uma maior
atração de migrantes da zona rural e de cidades vizinhas, provocando aumento
significativo da população montes-clarense.
350.000
300.000
250.000
200.000
Rural
150.000 Urbana
100.000
50.000
0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Sobre isso Gomes (2007), complementa que esse inchamento da cidade trouxe como
resultado a formação de bairros de baixa densidade demográfica, a periferização, a
proliferação de assentamentos subnormais e um grande número de vazios urbanos. A partir
de 1970 o centro ficou cada vez mais centralizado em atividades terciárias (comércio e
serviços); as indústrias foram implantadas no Distrito Industrial recém-criado; e os novos
loteamentos formaram bairros predominantemente residenciais.
Tabela 4: Evolução a população de Montes Claros e dos municípios vizinhos4
MUNICÍPIO POPULAÇÃO
1960 1970 1980 1991 2000 2010
Bocaiúva 39.567 35.392 40.466 47.045 42.806 46.654
Capitão Enéas 11.234 9.934 11.731 13.113 14.206
Claro dos Poçõe 8.567 7.982 8.238 8.193 7.775
Coração de Jesus 31.523 30.140 30.098 32.688 25.729 26.033
Engenheiro Navarro 5.285 6.070 7.566 7.085 7.122
Francisco Sá 31.752 26.736 24.633 24.993 23.562 24.912
Glaucilândia 2.767 2.962
Guaraciama 4.469 4.718
Itacambira 8.245 8.719 6.807 4.558 4.988
Jequitaí 13.306 8.030 8.392 9.346 8.750 8.005
Juramento 6.480 7.797 6.883 6.389 3.901 4.113
Montes Claros 131.337 116.486 177.302 250.062 306.947 361.915
Mirabela 13.137 14.573 16.893 12.552 13.042
Olhos d’Água 4.284 5.267
São João da Lagoa 4.400 4.656
Fonte: Elaboração própria, com dados do IPEA (2017).
Como mostra a tabela 3, várias cidades vizinhas de Montes Claros, ficaram com população
praticamente estagnada ou diminuíram o volume populacional. Enquanto a população de
Montes Claros obteve crescimento positivo em todos os anos. Segundo Braga (2008), os
municípios próximos á Montes Claros, apresentaram esta diminuição no número da
população, porque não tinha demanda correspondente à mão de obra residente.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Montes Claros passou por diversas mudanças com a passar do tempo,
mudanças na qual foi intensificada a partir da instalação e atuação da SUDENE no
4
As 14 cidades escolhidas são localizadas em até 100 quilômetros de distância de Montes Claros. Algumas
cidades foram utilizadas também em trabalho feito por Braga (2008:59). Não foram apresentados dados em
algumas cidades, em determinados anos, por não ter base de dadas para estas cidades.
município. Houve crescimento principalmente, no número de população residente, e
mudanças no perfil da população, que antes de fazer parte da área da SUDENE,
predominava a população rural, e após a atuação desta autarquia, a população urbana
passar ser maior em sua quantidade. Mudanças também acontecem no emprego, que além
de aumentar a quantidades de empresas no município, passar a predominar os setores de
serviços e comercio, deixando de ser o setor agropecuário.
Cidade que tinha vários problemas estruturais, e após a instalação do escritório desta
Superintendência no município, passa a ser caracterizada como pólo socioeconômico
regional e tornando-se influência sobre desenvolvimento das regiões mais próximas.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Antonio Ferreira. O Sertão Norte Mineiro. Montes Claros Gráfica Polígono
1985
CARDOSO, José Maria Alves. A região norte de Minas Gerais: um estudo da dinâmica de
suas transformações espaciais. In: OLIVEIRA, Marcos Fábio Martins de; RODRIGUES,
Luciene (orgs). Formação social e econômica do norte de Minas. Montes Claros: Editora
UNIMONTES, 2000.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3 ª ed. São Paulo: Editora
Atlas, 1996.
rafaelmazoni13@gmail.com
Resumo
Inteligência geoespacial e geotecnologias podem ser usadas como uma maneira apropriada
de cotejar se os problemas sociais têm sido tratados e resolvidos. Neste trabalho, utiliza-se
apresentar esses dados para subsidiar o processo de tomada de decisão. Assim, utilizando-
continuum – o que pode ser visto como um problema, porque algumas políticas e projetos
Introdução
públicos e possibilita mais fiscalização e controle das ações estatais (SILVA, 2009). Como
do orçamento carregam consigo “escolhas trágicas, que estabelecem até mesmo quem vai
ganha um peso ainda maior. O acesso universal às políticas de saúde é preconizado pela
2011). Além disso, “as necessidades de saúde são amplas e mudam constantemente, mas
Diante dessa enorme importância que a pasta da saúde possui, o que inclui um
saúde acabam por ter enorme sensibilidade em face de escolhas de valores éticos e sociais
saúde, em alusão a o que disse o ministro Barroso, pode claramente decidir quem vive e
quem morre. Sabe-se que os gastos com saúde se concentram nas áreas onde a renda per
capita é mais alta. A despeito das tentativas de corrigir disparidade regionais via
planejamento, não há compensação entre as regiões mais ricas e mais pobres (MEDICI,
2011).
essa questão das escolhas do orçamento ganha ainda mais relevo quando se aplica a um
contexto de desigualdades, que é o caso do estado de Minas Gerais – uma área com
586.000 km2 (o que corresponde a 6,9% do território brasileiro), por onde se espalham
quase 20 milhões de habitantes em 853 municípios, dos quais a grande maioria se situa na
2011). Paulo Roberto Haddad afirma que “quase 94% dos municípios de Minas tem uma
renda per capita inferior à média nacional” (HADDAD, 2004, p. 25). Ainda, seu estudo
aponta para “uma concentração de municípios nas faixas dos valores que equivalem de 30
a 70% da média nacional” (HADDAD, 2004, p. 25). Devido a diversos fatores de ordem
Minas Gerais – têm finanças públicas deficitárias e, por isso, dependem de transferências
de outros entes. Logo, esses municípios geralmente não têm recursos para implementar
suas próprias políticas públicas, o que condiciona sua dependência das políticas
GERAIS, 2011a). Vale destacar que, desde a década de 1980, o território de Minas Gerais
Um estado que preconiza a visão de futuro de ser “o melhor estado para se viver”
(MINAS GERAIS, 2011a), no cerne das discussões acerca daquilo que se chama de
“Gestão para a cidadania”, precisa estar atento à execução orçamentária das suas políticas
de saúde. Isso se dá, sobretudo, no caso das regiões de Minas Gerais que apresentam
indicadores de qualidade de vida mais baixo, como é o caso das regiões Norte de Minas e
dos gastos com as políticas públicas de saúde encabeçadas pela Secretaria de Estado de
Saúde de Minas Gerais1 nos anos de 2011 a 2014 entre as regiões de planejamento do
Mundial afirmam que o Brasil gasta o esperado de acordo com a magnitude de sua renda
per capita (MEDICI, 2011): “não existem grandes discrepâncias entre o Brasil e outros
países quanto à magnitude do gasto em saúde, inclusive no que se refere ao gasto público,
os mesmos problemas persistem há anos. Paes de Barros e Carvalho (2003) afirmam que
1
Faz-se necessário destacar que apenas os gastos que constam no orçamento estadual serão avaliados, o que
não significa que não haja investimentos senão os realizados pelo governo do estado, posto que os
municípios recebam recursos do governo federal para a execução das ações do setor de saúde (MEDICI,
2011).
recursos: “A política social brasileira tem sistematicamente falhado em atingir os mais
duas lacunas: (i) do lado do geomarketing, busca-se preencher uma carência por aplicações
sentido de ser uma tentativa de aumentar o poder explicativo das teorias – sobretudo no
que atine ao geomarketing, a fim de empoderar, afirmar e alargar o escopo de pesquisa dos
a uma interpretação da realidade que possa fornecer diretrizes de ação aos profissionais do
campo da Geografia, da Gestão Pública e campos afins, Ciência Política, Direito Público,
inteligência geográfica possa ser uma ferramenta útil, pouco dispendiosa e tempestiva para
facilitar o processo de tomada de decisão, posto que seu uso adequado e com base em
princípios e teorias possa comunicar a realidade espacial de uma maneira sui generis.
desta avaliação da regionalização das políticas públicas de saúde em Minas Gerais. Depois
acerca das relações encontradas entre o orçamento, sua execução e seus impactos no
Metodologia
que os indivíduos mais pobres são sub-representados tanto no acesso às políticas quanto na
brasileira, como um todo, demanda maior focalização em indivíduos que dela dependem
substancialmente (BARROS; CARVALHO, 2003). Além disso, sabe-se que “Quanto mais
inclusivo for o alcance [...] dos serviços de saúde, maior será a probabilidade de que
mesmo os potencialmente pobres tenham uma chance maior de superar a penúria” (SEN,
2000, p. 113).
Em termos gerais, sabe-se que quanto menor o valor da esperança de vida ao nascer
em uma região, maior a demanda por incrementos qualitativos e quantitativos nas políticas
de saúde, conforme Belon e Barros (2011). Ainda, afirma-se que “o gasto público é um
elemento importante para a geração de bens e serviços sociais que se situam no rol das
viés de focalização dos gastos com saúde, porque os gastos do SUS acabam sendo mais
elevados nas áreas onde a renda per capita é mais alta, conforme Medici (2011).
dos gastos com as políticas públicas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais nos
anos de 2011 a 2014 – especificamente, de suas unidades orçamentárias FUNED
Integrado.
aqueles que possam ser localizados espacialmente, o que corresponde a um valor bastante
inferior ao total gasto com saúde no ínterim analisado – com base nas Leis Orçamentárias
Anuais (LOAs) de 2011 a 2014 (extraídos dos documentos relativos ao “Orçamento Fiscal
Investimentos”) e as demandas por serviços de saúde – que serão dadas aqui pela análise
Gerais. A esperança de vida ao nascer, fornecida pelo IBGE em seus censos, foi escolhida
Além do uso de um software livre, vale dizer que essa análise baseia-se somente em dados
Aos layers dos limites dos municípios foram adicionados, através da ferramenta
seguida, foram obtidos os shapes das Regiões de Planejamento (que não estavam
esperança de vida ao nascer de cada município de Minas Gerais e a média simples dos
Por fim, foram extraídos manualmente os dados acerca do orçamento para os anos
acerca de valores para cada município. Para esses casos, foram feitas divisões paritárias – o
que justifica, em alguns casos, o fato de duas Regiões possuírem o mesmo valor para um
certo ano.
população total de cada Região. Em seguida, os valores obtidos – gasto per capita com as
mostrando os gastos por Região para cada um dos anos, foi feita a distribuição dos valores
por classes segundo método estatístico descrito por Triola (2001, pp. 36-38): excetuando-
se os valores nulos, foram criadas seis classes de valores. Na sequência, comparam-se os
Resultados
resultados da avaliação da focalização dos gastos com saúde em Minas Gerais para os anos
nascer em Minas Gerais varia entre 68,37 e 78,15 anos, com média igual a 74,42 anos e
FIGURA 1- Esperança de vida ao nascer em 2010 para cada município de Minas Gerais
O mapa abaixo apresenta a esperança de vida ao nascer para cada município mineiro no
ano de 2010. A esperança de vida ao nascer será utilizada neste trabalho para apontar para
a demanda por serviços de saúde. Quanto menor o seu valor, maior a demanda por
Neste mapa, cada valor possui uma cor, numa escala entre vermelho e azul, tal que o
FIGURA 4 – Gasto per capita por região de planejamento em 2012 (em R$)
FIGURA 5 – Gasto per capita por região de planejamento em 2013 (em R$)
FIGURA 6 – Gasto per capita por região de planejamento em 2014 (em R$)
A análise desses últimos mapas aponta para uma constatação narrada na introdução
deste trabalho. Corroborando o que foi dito, percebe-se que as regiões Norte de Minas e
Outrossim, um estado que carrega a visão de futuro de ser “o melhor estado para se
viver” (MINAS GERAIS, 2011a) precisa estar de fato atento à execução orçamentária das
diversificação do foco dos gastos. Se em 2011 a região Central reunia 73,34% do valor,
sua participação passa a ser de 32,45% - uma redução de 39%. Outras regiões – como
Sabe-se, contudo, que esses dados acabam enviesados pela proporção de habitantes
que cada região possui. Por exemplo, a Região de Planejamento Central concentrava um
mas também concentrava pouco mais de 35% dos habitantes de Minas Gerais em 2010.
Tentando minimizar esse efeito, os quatro mapas abaixo apresentam – para cada ano entre
2011 e 2014 – o gasto per capita (considerando o dado de população de 2010 como uma
nulos nos quatro anos), enquanto outras apresentam grande aumento em um ano, seguido
de queda abrupta no período seguinte (como foi o caso da Região de Planejamento Norte,
que começa com poucos investimentos per capita, passa a ter a segunda colocação em
Discussões
– da questão da focalização das políticas públicas de saúde, este trabalho buscou apresentar
Choque de Gestão buscou trazer racionalidade ao planejamento. Para Aécio Neves, que
governou o estado durante boa parte do Choque de Gestão, essa reforma constitui-se de
2013, p. 3). Sem dúvidas, foram mudanças estruturais e culturais na Administração Pública
visa a tirar o gestor da tirania do curto prazo, o que ocorre para os investimentos e gastos
com saúde em Minas Gerais é a própria exacerbação dessa tirania. A análise feita mostra
que não há tendências que possam ser apontadas para os gastos e investimentos em
períodos posteriores:
uma carência por aplicações de inteligência geográfica ao setor público (COGNATIS, sem
data); e (ii) responder a uma demanda por incrementos inovadores de práticas que
Num estado que preconiza a visão de futuro de ser “o melhor estado para se viver”
(MINAS GERAIS, 2011a), a instabilidade dos recursos com saúde podem ser um
políticas de saúde, mostra uma focalização dos investimentos e gastos um tanto quanto
Conclusões
de direitos sociais relativos à cidadania, tal qual preconiza a Carta Cidadã de 1988. Esse
planejamento (NUNES, 2010). Essa tentativa de defesa fortalece o viés das teorias da
gestão pela gestão sufoca o debate de conteúdo no planejamento e o modelo não consegue
dar vazão às decisões, o modelo revela seus limites” (SANTOS, 2011, p. 312).
Além dessa lógica de curto prazo preponderante, afirma-se a incompletude de
municípios de menor IDH, mas não são estabelecidos quaisquer critérios. Em outros casos,
não há descrição completa dos municípios que receberão certos recursos e, de modo geral,
tratam ou citam as regiões e a regionalização, mas não há nem consenso acerca do termo.
descentralizar as políticas de saúde está na lei, está na agenda e está nos planos de governo.
questões de escala – que têm mais a ver com regiões polarizadas que regiões homogêneas.
Diante de tudo isso, espera-se que essa discussão interdisciplinar consiga apontar
para a centralidade das questões espaciais no que atine ao planejamento regional – o que
geográfica.
conceitos e teorias – pode ser uma ferramenta útil, pouco dispendiosa e tempestiva para
facilitar o processo de tomada de decisão e engendrar melhorias para condições de vida. A
Referências bibliográficas
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LUNA, S. V. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 2002. 108
p.
O território de Minas Gerais foi dividido em dez Regiões de Planejamento, definidas pela
Fundação João Pinheiro no ano de 1992 (SEPLAN, 1994). Como o próprio nome, essa
acompanhado de uma tabela que sintetiza dados sobre a quantidade de municípios, a área e
PIOS TES
PARANAÍBA
MUCURI
MINAS
ABSTRACT: The objective is to measure the economic impact of investments announced for
Espírito Santo in 2011-2016 from the MIP. An overview of the state economy to
contextualize the scenario in which investments will occur and will be exposed to the input-
output model will be presented. It can be seen that if all investments occur, the impact on the
state economy will be significant, with sectors presenting unlikely growth based on its
importance to the state. There is evidence that investments are overestimated because of the
reported volume and the uncertainty of the effectiveness of achievement in their entirety
within five years.
1
Bacharel em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: marlonmandino@yahoo.com.br
2
Doutorando em Economia no CEDEPLAR/UFMG e professor Adjunto do Departamento de Economia da
Universidade Federal do Espírito Sando (UFES). E-mail: celso.bissoli@gmail.com
1. Introdução
devido à duplicidade de seu caráter: ao mesmo tempo em que o investimento é um dos principais
crescimento de longo prazo de uma localidade (MAGALHÃES e TOSCANO, 2010). Nos últimos
anos, a economia do Espírito Santo vem se destacando no cenário nacional por apresentar um
crescimento acima da média nacional baseado principalmente nas commodities (minério de ferro, aço,
Estado é fruto dos desdobramentos dos investimentos nos Grandes Projetos (no período 1975-1990) e,
comércio internacional.
Segundo dados do Instituto Jones dos Santos Neves (2012), entre 2011 e 2016, a economia
capixaba deve receber investimentos superiores a R$ 100 bilhões, o maior volume já identificado para
o estado, distribuídos entre 1.373 projetos com valor médio de R$ 73,3 milhões. Em termos agregados,
o setor de energia é o que deve receber o maior volume de recursos (40,3%), seguido do setor de
indústria (32,5%) e pelo setor de comércio, serviço e lazer (7,3%). No que diz respeito à distribuição
regional dos investimentos, a região litoral sul e a região metropolitana receberão 45,5% e 25,2% dos
investimentos, respectivamente.
tendo em vista o grande volume de recursos que o estado pode vir a receber nos próximos anos, o
entre 2011 e 2016 trarão para a economia capixaba será feita a partir da Matriz de Insumo-Produto e
dos dados da pesquisa “Investimentos Anunciados para o Espírito Santo 2011-2016”, realizada pelo
Caso todos os investimentos aconteçam, o impacto na economia capixaba será significativo, com
setores apresentando crescimento pouco provável baseado na sua importância para o Estado, havendo
Para melhor entendimento, o artigo será dividido em três seções, além desta introdução e das
considerações finais. Na seção 2 será apresentada uma breve discussão sobre desenvolvimento
regional e um panorama da economia capixaba nas últimas décadas com a finalidade de apresentar o
cenário no qual os investimentos já citados vão ocorrer. Na seção 3 será apresentado o modelo de
insumo-produto, que servirá de base metodológica deste artigo para o estudo de impacto econômico.
E, finalmente, a seção 4 será composta pelo estudo de impacto econômico realizado através da matriz
de insumo-produto do Espírito Santo. Esta seção conterá, ainda, uma breve descrição dos resultados
acontece de forma desigual entre as regiões. Nas palavras de Perroux (1955, p. 146), “o crescimento
não aparece por toda a parte; manifesta-se em pólos de crescimento, com intensidades variáveis,
expande-se por diversos canais e tem efeitos terminais variáveis no conjunto da economia”. Na mesma
direção, Myrdal (1957) argumentou, baseado no princípio da causalidade cumulativa, que as regiões
tenderiam a seguir caminhos diferentes ao longo do tempo, pois os investimentos com maiores
esse processo se tornaria cumulativo, embora houvesse efeitos de espraiamento (DINIZ, 2001). A
concentração tenderia a ser permanente, pois os efeitos propulsores (ou de espraiamento) não seriam
capazes de reverter esse processo, a não ser em algumas poucas regiões (WILTGEN, 1991).
Hirschman (1958) também constatou que as regiões mais desenvolvidas atraíam mais investimentos
em relação às regiões mais atrasadas, reforçando a desigualdade entre elas, mas também reconhecia a
do Espírito Santo, um estado marcado historicamente por diferenças econômicas em seu espaço
geográfico. A caracterização dos 3 ciclos de desenvolvimento econômico3 pelos quais o estado passou
ilustra o cenário econômico no qual acontecerão os investimentos anunciados entre 2011 e 2016,
Até 1950, a economia capixaba foi caracterizada como agroexportadora baseada na cultura do
café, produzido em sua maior parte em pequenas propriedades e com mão–de-obra de predominância
familiar. O 1º ciclo de desenvolvimento do estado foi marcado justamente por essa característica, o
que representa, de certa forma, um prolongamento da economia cafeeira que predominou no Brasil até
o processo de industrialização capitaneado por São Paulo inicialmente e, mais tarde, estendido a outros
Este cenário só teve um ponto de ruptura estrutural a partir da década de 1950 com a crise de
superprodução e de preços do café que atingiu a cafeicultura nacional. A partir de uma política de
erradicação dos cafezais implantada pelo governo federal através do Grupo Executivo de
Racionalização da Cafeicultura (GERCA), o Espírito Santo foi beneficiado com recursos financeiros
industrialização. Outro resultado da política de erradicação dos cafezais foi a grave crise social que
teve como resultado um intenso processo de êxodo rural aliado a altas taxas de desemprego, afetando
A partir da década de 1960, o Espírito Santo passou por profundas alterações em sua estrutura
dependente da cultura do café passou a ter um perfil fortemente industrial, com setores de serviço e
al., 2012). A partir da segunda metade da década de 1970, o Espírito Santo já apresentava
novos investimentos, agora com um novo perfil e uma dinâmica completamente distintas da anterior
(ROCHA e MORANDI, 1991). A primeira fase do ciclo pode ser entendida como um processo de
transformações profundas, mas também que criou bases para a atração dos Grandes Projetos4.
Tubarão (CST), atualmente Arcellor Mittal Tubarão; e Samarco) que se instalaram no Espírito Santo,
para presidente, o que não acontecia desde 1960; privatizações; Consenso de Washington e Plano
implantação do Plano Real. Para Castro (2005), entre 1990 e 1994 o Brasil passou por uma mudança
em seu “modelo” de crescimento. Após 10 anos sem investimentos e em luta (sem sucesso) contra a
inflação, o processo de crescimento baseado no MSI chegou ao limite. A década de 90 foi marcada
Em meio a todo este cenário, verificou-se que o crescimento da economia capixaba (3,9%) se
manteve superior à média nacional (2,4%), conforme tabela 1. Os Grandes Projetos industriais
mais relevantes que promoveram o desempenho econômico capixaba neste período foram: o
crescimento das importações estaduais através das companhias importadoras (tradings), beneficiadas
petróleo e gás; a evolução dos arranjos produtivos importantes para a economia local, como o de
4 O termo Grandes Projetos refere-se aos investimentos realizados em plantas industriais produtoras de commodities no
estado entre meados de 1970 e início de 1980.
5 O FUNDAP é um financiamento para apoio a empresas com sede no Espírito Santo e que realizam operações de comércio
exterior tributadas com ICMS no Estado. Ressalta-se que devido à aprovação do PRS 72/2010 pelo Senado Federal em
24/04/2012 o mecanismo FUNDAP perdeu atratividade. O projeto unifica em 4% a alíquota do ICMS cobrada sobre produtos
importados em operações interestaduais. A nova regra passou a vigorar em janeiro de 2013 com a proposta de acabar com a
“guerra dos portos” nas operações interestaduais com produtos importados. Para maiores informações ver Felipe (2012).
desempenho do sistema GERES/BANDES (CAÇADOR, 2008). Para Mota (2002), o que
proporcionou este salto foi a utilização do FUNDAP aliada à abertura comercial do país, o que fez
com que na década de 1990 houvesse um salto nas importações capixabas e uma elevação no número
ferro), metalurgia, papel e celulose, extração de petróleo e gás, alimentos e bebidas, móveis, rochas
uma relativa diversificação nas atividades a partir da implantação dos Grandes Projetos na década de
6Para maiores esclarecimentos a respeito da importância do mecanismo FUNDAP para a economia capixaba na década de
1990 e seus desdobramentos, consultar Mota (2002).
Consoante com Caçador (2008), a economia capixaba continua dependente da produção de
construção civil passaram a ocupar lugar de destaque na produção capixaba. A construção civil tem
Toda a análise apresentada pode ser demonstrada no gráfico 1, que revela a composição setorial do
PIB do Espírito Santo entre 1990-2009, período no qual o crescimento do setor terciário e industrial
foi expressivo.
Leontief, e suas respectivas aplicações em economia com vistas a servir de base metodológica para o
(MIP) apresenta o fluxo de bens e serviços entre os setores da economia, sendo um quadro de dupla
entrada que registra, por um lado, os insumos utilizados pelas diversas atividades econômicas e, por
permitindo avaliar os impactos de variações na demanda final dos produtos (KURESKI, NUÑEZ e
RODRIGUES, 2007). Para Leontief (1964), o ponto central da análise de insumo produto é a ideia de
que há uma relação fundamental entre o volume de produto de uma indústria e a quantidade de insumo
No modelo são adotadas duas hipóteses, resumidas por Guilhoto (2011): a) homogeneidade,
não se considera diferenciação de produtos, havendo razão fixa de insumos (tecnologias fixas no
processo produtivo), com rendimento constante de escala (apenas uma tecnologia é empregada na
obtendo para cada um deles a demanda intermediária ∑ 𝑥 , a demanda final (𝑌 ) e o valor bruto da
insumos dos diversos setores (relações intra e interindustriais diretas) e da determinação dos
efeitos diretos e indiretos resultantes do aumento da demanda final (𝑌), tem-se a equação
básica do modelo:
𝟏 (1)
𝑿 = (𝑰 − 𝑨) 𝒀
Onde:
𝑿 = valor bruto da produção7;
(𝑰 − 𝑨) 𝟏 = matriz de Leontief;
𝒀 = demanda final.
Para avaliar os reais impactos sobre a economia determinados pela matriz insumo-produto é
determinada atividade sobre uma variável de renda, considerando apenas as atividades que
ii) multiplicador total (direto mais indireto): mede o impacto de um aumento unitário da
demanda final de uma determinada atividade sobre uma variável de renda, considerando
7
Valor bruto da produção representa toda a receita bruta gerada na economia, ou seja, compreende a totalidade
das transferências realizadas mais as vendas efetuadas mais as variações dos estoques.
3.2 Modelo MIP para o Espírito Santo
A matriz Insumo-Produto do Espírito Santo (MIPES) de 2003 procura analisar a relação inter-
papel e celulose, extração de petróleo e gás, alimentos e bebidas, móveis e rochas ornamentais,
destaque fica justamente para os setores que compõem o curso recente de desenvolvimento do estado.
Apesar de alguns deles não apresentarem o maior coeficiente total de impacto, em termos de
coeficientes locais os números são bem relevantes e importantes para a economia capixaba na medida
em que os coeficientes locais determinam os impactos ocorridos que permanecem dentro do estado.
Os coeficientes técnicos refletem o quanto cada setor necessita de produto de outro setor. A
partir do conhecimento deles é possível realizar previsões de produção bem como verificar o impacto
refletem a estrutura da economia e não apresentam mudanças significativas a curto e médio prazos, o
Com relação à economia capixaba recente, consoante gráfico 2, os setores mais importantes e
multiplicadores em destaque são: metalurgia básica; outros metalúrgicos; papel, celulose e gráfica;
construção civil; madeira, mobiliário e indústrias diversas; gás encanado; refino de petróleo; extração
como exposto anteriormente, são os setores que compõem o 3º ciclo de desenvolvimento capixaba.
2,5
1,5
0,5
0
15 RefinoPetr
6 OutMetalur
27 TransFerro
5 MetalurBas
20 MadMobDiv
18 CalcadCour
24 ConstCivil
17 Vestuario
2 ExtMineral
7 MaqEquip
3 PetrGas
4 ProdMnNMet
10 AutomOnib
14 QuiFarmVet
22 GasNatEnc
1 Agropec
16 IndTextil
21 Energia
31 InstFinanc
36 SerPriNMerc
13 BorracPlast
26 TransRodo
8 MatEletrico
11 PecasOutVe
32 ServPrestFam
35 AdmPublica
19 AlimBebFum
34 AlugImov
12 CelPapGraf
25 Comercio
29 TransAquav
30 Comunic
9 EquipEletron
23 AguaSan
28 TransAereo
33 ServPrestEmp
Local Inter-regional
Fonte: MIP
Nesta seção será realizado um estudo de impacto econômico através da matriz de insumo-
produto do Espírito Santo em relação aos investimentos previstos entre 2011 e 2016, com ênfase nos
setores de infraestrutura e da indústria, bem como serão apresentados os resultados obtidos. Também
será demonstrada a base de dados utilizada e uma breve descrição a respeito dos principais
longo de um período de cinco anos. Os investimentos podem ser tanto de origem pública quanto
privada, tendo como ponto de partida investimentos com valores maiores ou iguais a R$ 1 milhão. As
fontes primárias de dados são os levantamentos diretos realizados pelo Instituo Jones dos Santos
Neves. Os projetos de investimentos contidos nesta pesquisa são oriundos basicamente de anúncios de
termos agregados. Segundo dados do Instituto Jones dos Santos Neves (2012), entre 2011 e 2016, a
economia capixaba deve receber investimentos superiores a R$ 100 bilhões, o maior volume já
identificado para o estado, distribuídos entre 1.373 projetos com valor médio de R$ 73,3 milhões. Em
termos agregados, o setor de energia é o que deve receber o maior volume de recursos (40,3%),
seguido do setor de indústria (32,5%) e pelo setor de comércio, serviço e lazer (7,3%). No que diz
respeito à distribuição regional dos investimentos, a região litoral sul e a região metropolitana
Tabela 3 - Investimentos, segundo setores, por número de projetos e valor total, em milhões (2011-2016)
Setores Projetos % Investimentos % Valor Médio
Infraestrutura 347 25,3 53.214,3 52,8 153,4
Energia 82 6,0 40.577,3 40,3 494,8
Porto, aeroporto e armazenagem 67 4,9 6.544,5 6,5 97,7
Transporte 198 14,4 6.092,5 6,1 30,8
Indústria 82 6,0 32.724,8 32,5 399,1
Comercio, serviço e lazer 160 11,7 7.393,8 7,3 46,2
Outros serviços 784 57,1 7.358,5 7,3 9,4
Saneamento e Urbanismo 421 30,7 3.888,6 3,9 9,2
Educação 187 13,6 1.232,4 1,2 6,6
Meio ambiente 8 0,6 808,4 0,8 101,1
Saúde 105 7,6 851,0 0,8 8,1
Segurança Pública 63 4,6 578,1 0,6 9,2
Total 1.373 100 100.691,4 100 73,3
Fonte: IJSN (2012)
representando 90,9% do total dos investimentos. Nesta perspectiva, a principal atividade a receber
investimentos é a de extração de petróleo e gás natural, com aportes de R$ 26,8 bilhões. Esses
investimentos se destinam à prospecção, ao processamento e o ao desenvolvimento da produção da
bacia do Espírito Santo e da bacia de Campos, além dos projetos implantados em terra (IJSN, 2012). A
metalurgia ocupa o segundo lugar, com R$ 12,4 bilhões, destinados basicamente à implantação no
estado de uma nova planta siderúrgica (Companhia Siderúrgica UBU – CSU/Vale) no município de
R$ 11,4 bilhões do total, voltados para a instalação de novas plantas pelotizadoras (8ª usina da Vale e
de águas profundas destinado ao escoamento da produção (ISJN, 2012). Já o setor eletricidade, gás e
outras utilidades representa 10,6% dos investimentos. Basicamente, os projetos dessa área se
(IJSN, 2012). E, por fim, a atividade de fabricação de produtos químicos representa 7,6% ou R$ 7,7
bilhões do total, composta por três atividades com destaque para o complexo gás-químico
(PETROBRAS) previsto para ser instalado no município de Linhares, no norte do estado (IJSN, 2012).
estática desde 2003, sendo as oscilações oriundas apenas dos impactos diretos e indiretos dos
investimentos anunciados para o Espírito Santo 2011-2016. Ressalta-se, ainda, que para as simulações
a partir da MIPES os valores dos projetos acima descritos foram deflacionados pelo deflator implícito
da FBCF, para dezembro de 2003, que representa melhor a variação de preços desse componente da
demanda final. Cabe ressaltar, consoante tabela 4, que o setor “Outros” não faze parte das estimativas
em função deste setor não apresentar uma correspondência direta com os setores da MIPES. Do
de demanda nos setores da tabela 4, mas sim naqueles setores listados no vetor de absorção de
investimentos de cada setor que fornecem insumos que contribuem para a sua formação bruta de
capital fixo (FBCF). Como cada setor apresenta um comportamento diferenciado de alocação dos
recursos para investimentos, os choques para a simulação foram aplicados nos setores da matriz de
A tabela 6 apresenta o resultado dos impactos gerados, em termos de valor bruto da produção,
produção para medir os impactos gerados na economia capixaba pelos investimentos anunciados se
faz necessário atentar para o tamanho do investimento em relação à capacidade produtiva do setor.
Consoante os resultados apresentados pela tabela 6, o setor de equipamentos eletrônicos, por exemplo,
deverá aumentar 3.466.759,56%. Outros setores com o mesmo resultado são: peças e outros veículos
investimentos que serão recebidos pode ser explicado em função da pouca expressividade destes
setores na economia capixaba. Como a base produtiva desses setores é pequena na economia do
estado, depara-se com um problema estatístico de se trabalhar com números muito pequenos
relacionados à base produtiva do setor e números grandes com relação aos investimentos, ou seja, são
apresenta um crescimento de 6,58%, Metalurgia Básica 65,68%, Papel e Celulose 18,30%, Refino de
Petróleo 112,59%, Construção Civil 267,43% e Alimentos, bebidas e fumo 0,72%. São os setores que
compõem a base da economia do Espírito Santo associados aos setores já citados de Energia e Petróleo
e gás. Com relação ao impacto no resto do Brasil, o destaque de crescimento no valor bruto da
produção entre 2011-2016 fica nos setores: Gás Encanado (5,0%); Extração Mineral (3,5%);
Metalurgia Básica (8,5%) e Instituições Financeiras (3,6%). Dos setores que não devem receber
O resumo dos impactos é apresentado na tabela 7. Observa-se que 64,0% do impacto total
ocorrerá na economia do estado, enquanto que no resto do país o impacto total será de 36,0%. Além
oportunidades e que em um universo de 5 anos podem apresentar grandes alterações devido à sua
magnitude e também devido ao cenário internacional, uma vez que muitos deles são voltados ao
comércio exterior. É possível que o volume total esteja superestimado para uma economia do tamanho
da do Espírito Santo em função até mesmo do crescimento exorbitante que alguns setores podem ter
8
Além disso, cabe observar que as projeções de um modelo de insumo-produto já são sobrevalorizadas em razão
dos preços serem rígidos e, portanto, não captar efeitos de substituição entre os insumos.
Figura 1: Mapa dos Investimentos Previstos de 2011 a 2016
Embora alguns autores como Caçador e Grassi (2009) apontem para um processo de “diversificação
Comércio e Serviços e, também, no PIB estadual. Mesmo que a distribuição geográfica seja dos
setores, e não dos investimentos específicos, é possível perceber a concentração espacial dos impactos
econômicos.
portanto, com maior potencial desequilibrador. A distribuição geográfica (mapa 1) indica a forte
presentes muitas atividades industriais, inclusive siderúrgicas, em função de grandes empresas como
Vale e ArcelorMittal Tubarão. O município de Aracruz, apesar das atividades agrícolas, conta com a
presença da Fibria (antiga Aracruz Celulose). E no litoral sul destaca-se o município de Anchieta, que
possui projetos importantes na área de mineração e petróleo (Samarco e Petrobrás). Além dos
impactos serem muito localizados, é importante observar que essas atividades (mineração, siderurgia,
papel e celulose) possuem limitados encadeamentos a montante e a jusante (MORANDI et al., 2011),
inclusive porque a demanda por serviços complexos derivada dessas atividades (serviços às empresas,
que os municípios localizados no interior do estado, com economias baseadas na agricultura muitas
vezes familiar e pouco eficiente em termos de produtividade e de geração de renda, quase não serão
Embora o Plano de Desenvolvimento do Estado, denominado Espírito Santo 2025 (ES 2025)9,
progressivo (via redução de suas participações econômicas). Os municípios com melhor desempenho
econômico têm se mantido os mesmos nos últimos anos (Região Metropolitana da Grande Vitória,
Santo tem sido acompanhado por uma grande concentração das atividades produtivas em um número
5. Considerações Finais
Como resultados desse esforço de pesquisa ressalta-se que existe ainda uma tendência de
concentração dos investimentos nos setores produtores de commodities de exportação, ou seja, nos
próximos anos não há evidências de que ocorrerão mudanças no perfil da economia capixaba, apesar
dos investimentos representarem um montante de recursos importante para uma economia do tamanho
do Espírito Santo.
elevado, de certa forma improvável de acontecer. Em função dos resultados apresentados, reforça-se a
possibilidade dos investimentos anunciados para o Espírito Santo 2011-2016 estarem superestimados,
ficando como sugestão de pesquisa futura uma investigação mais precisa destas informações no
sentido de tornar as análises posteriores mais realistas. Um problema associado a este fato é o maior
detalhamento das informações que o governo ainda não tornou disponível, ficando esta indicação
No geral, para um horizonte de cinco anos, tem-se o volume considerável de recursos que
podem ser injetados na economia capixaba, promovendo o crescimento de vários setores. Entretanto,
Estado como metalurgia, petróleo e gás, mineração e energia, demonstrando que a economia estadual
ainda estará produzindo produtos de baixo conteúdo tecnológico e na maioria dos setores voltados ao
mercado externo.
Essa concentração das atividades produtivas em alguns municípios reproduz o padrão locacional da
resultados previstos dos investimentos no Espírito Santo parecem ir ao encontro das ideias de
polarização de Myrdal, uma vez que os efeitos propulsores (ou de espraiamento) provocados em
6. Referências Bibliográficas
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Estudo de variáveis que impactam na formação dos preços de compra,
paganini@decea.ufop.br
Resumo
Este trabalho objetiva descrever e apresentar algumas das variáveis determinantes para a
dados reais do ano de 2016 obtidos por meio de pesquisas em websites e visitas de campo
organizados em planilhas eletrônicas, a partir de critérios: (i) estruturais, por tipo de imóvel
bairros e suas vias de acesso; e (iii) geradores de informação, pelas diferentes fontes de
imóveis.
Abstract
This paper aims to describe and present some determinant variables to establish the
residential purchase, sale and rent real estate market prices, in João Monlevade-MG city.
The survey is based on real data for the year 2016 obtained through the websites and visits
in public and private places. Supply and demand data were collected and organized in
electronic spreadsheets, based on the following criteria: (i) structural, by property type
(apartment or house) and number of rooms; (ii) geographical location, through the division
by districts and their access roads; and (iii) information generators, from different search
sources; resulting in a market's descriptive statistical analysis. In order to justify the results
obtained in the statistical analysis, data on basic sanitation infrastructure and public
services (health, education, transport, commerce and security) were collected to verify if
there could be influence on the consumer’s choice. Factors such as violence and the
location considering the retail center were elements of greater impact in establishing
prices.
Keywords: João Monlevade-MG’s residential real estate market; real estate pricing.
1. Introdução
função de sua restrição orçamentária e do grau de utilidade que as cestas de mercado que
No mercado imobiliário existem inúmeros atributos de valor que podem compor estas
Autores como Alonso (1964) e Wingo (1961), consideram apenas questões de transporte e
espaço físico (m²) como fatores de influência nas escolhas, sendo que a maximização da
espaço físico é máximo. Já Dantas, Magalhaes e Vergolino (2007) consideram também que
as negociações no mercado imobiliário não ocorrem apenas por atributos reais e sua
localização, mas também pela avaliação de “reputação de preços” que recai sobre uma
região e sua vizinhança. Pascale e Alencar (2006) e Arraes e Souza Filho (2008) mostram
que além dos aspectos citados anteriormente, existem inúmeros outros fatores que
que converge com os estudos anteriores e mostra que os aspectos que influenciam o preço,
podem variar seu peso de uma região para outra. Já Carmo (2014) investiga uma pesquisa
Outro fator que pode impactar nos preços dos imóveis é a situação econômica do país.
para moradia são facilitadas e há uma tendência natural das pessoas em buscarem adquirir
terrenos, como ocorreu no Brasil em 2014 (CARMO, 2014). Por outro lado, o Portal G1
estudo, o Jornal A Noticia Online (2015) mostra que a situação econômica do país em
2015 prejudicou o mercado imobiliário da cidade, uma vez que era perceptivo o aumento
ofertantes estavam abertos à negociação dos preços. Além disso, o jornal destaca que nove
identificar variáveis que impactam diretamente na formação dos preços de compra, venda e
imóveis de cada bairro da cidade. É de se esperar que os resultados apresentados por esse
estudo sirvam de base para entender o perfil da oferta e demanda do mercado e abra portas
Tabela 1 - Anúncios de imóveis localizados em João Monlevade via websites no mês de setembro de 2016
Uma vez realizada essa primeira etapa coleta e análise dos dados, decidiu-se por realizar
outros três procedimentos de coleta de dados: (i) preços efetivamente pagos pelos
Para levantamento dos preços dos aluguéis na cidade nos meses de outubro e novembro de
de cômodos, entre outros dados sobre as preferências dos locadores quanto à escolha do
mas novamente sem sucesso, tendo como alegação que os dados somente poderiam ser
Os dados de todas as transações de vendas de imóveis no ano de 2016 foram obtidos por
meio da Prefeitura Municipal de João Monlevade. Foram coletados os preços pagos pelos
A escolha das variáveis que poderiam impactar nos preços foi definida em função de
Variáveis Fontes
incidência a partir do mapa da cidade, o qual é possível identificar o acesso de cada bairro
a partir dos bairros vizinhos. A ideia desse grafo era tentar estabelecer se havia alguma
influência dos preços causada pela proximidade entre cada um dos 55 bairros registrados
ano de 2010, era estimado em 24.372, e que em 2016 tinha uma população de 79.100, o
que representava uma taxa de ocupação de 3,24 hab./domicílio, em uma extensão territorial
de 99,65 km².
Em uma etapa final da pesquisa foi realizada uma análise estatística descritiva dos dados,
com auxílio de gráficos criados no Microsoft Excel 2016 e o Minitab 2017, resultando em
trata-se de uma pesquisa aplicada, pois a mesma tem um caráter prático, voltado para
solução de problemas reais. No quesito objetivo, a pesquisa tem características descritivas
atributos que expliquem a precificação dos imóveis, e por tornar explícito e criar hipóteses
obtidas por meio de dados reais com aspectos subjetivos do problema. Por fim quanto ao
método, a pesquisa tem mais proximidade com survey, por investigar quais são as variáveis
3. Resultados e Discussão
Em função do elevado volume de dados coletados, optou-se pela apresentação apenas dos
dados resumidos, como pode ser visto nas Tabelas de 3 a 12 localizadas nos apêndices
deste artigo, de tal forma a poder levantar as discussões sobre os resultados obtidos através
casas anunciadas para venda na cidade em setembro de 2016. Por fim, a Tabela 11 mostra
Tabela 12 mostra o quantitativo de ameaças, furtos, roubos e outros crimes que ocorreram
Os resultados desse estudo estão organizados em duas seções, a primeira para avaliar
Primeiramente ao observar 301 preços anunciados de aluguéis na cidade, por meio das
locação supera os já locados em 78.4%. Por outro lado, acredita-se que essa diferença não
Gráficos 1 e 2, que por sua vez estão organizados ordem em decrescente em função do
aluguel é maior do que a oferta casas, o que indica uma tendência de crescimento vertical
da cidade, com destaque para a região central da cidade, mais especificamente o bairro
Carneirinhos.
No que tange o preço médio anunciado e cobrado dos aluguéis na cidade, observa-se que
valores anunciado tanto para apartamentos quanto para casas. Por outro lado, há casos em
que o oposto acontece, como se observa no bairro Novo Horizonte, por exemplo. Para
avaliar o grau de dispersão dos dados em relação à média foram levantadas a variância e o
desvio padrão dos preços. Verifica-se uma alta variabilidade entre os preços médios por
bairros, tanto para apartamentos quanto para casas, como mostrado nos Gráficos 3 e 4 que
Apartamentos anunciados
2500
2000
1500
Data
1000
500
Casas anunciadas
2000
1500
Data
1000
500
0
Esse padrão também ocorre com os imóveis já locados, o que pode ser verificado nas
significativa dos preços entre os bairros, que é contatada através dos coeficientes de
variação de Person1, que indicam uma volatilidade de até 76%. Isso leva a conclusão que a
Foi levantada a possibilidade de agregação dos dados nos casos em que apenas se tinha
uma única informação de preço por bairro, porém, como se verificou diferença nos preços
entre os bairros (com informação superior a um único imóvel), a ideia foi descartada.
São apresentadas a seguir as análises de outras variáveis que foram investigadas, são elas:
públicas (educação); proximidade com cetros de saúde públicos; proximidade dos bairros
A cidade possui um plano nacional de saneamento básico (versão mais atualizada referente
ao ano de 2012), que mostra que o abastecimento municipal de água na cidade (DAE)
atende 96,7% da população. Deste total, uma pequena parcela de bairros é atendida de
forma gratuita pelo Sistema-Arcelor2, o que reduz os gastos financeiros dos moradores
dessas regiões, mas não é visto como um elemento que agregue valor aos imóveis, devido
Verificou-se que mais de 90% da população tem acesso a coleta de esgotos e que o
município conta com uma unidade de tratamento, localizada no bairro Cruzeiro Celeste. A
1
O cálculo dos coeficientes é dado pela razão entre os desvios padrões e suas respectivas médias,
multiplicado por 100. Os coeficientes calculados variam de 5,66% a 76,15%.
2
Abastecimento de água fornecido pela multinacional ArcelorMittal (http://brasil.arcelormittal.com.br/) em
bairros na proximidades da empresa.
coleta de lixo atende 94,1% da população, e a cidade possui um aterro sanitário que atende
também outros três municípios vizinhos. A empresa Cemig, responsável pela distribuição
de energia elétrica afirma que atende quase que por completo todos os imóveis da cidade,
assim como o transporte público atende todos os bairros. Portanto, baseado nos dados
iluminação, água e transporte público, não sejam elementos de influência significativa nos
portanto, uma avaliação baseada apenas na localização das instituições públicas. A Tabela
11 mostra que a cidade possui 15 escolas públicas municipais. É valido destacar que a
cidade conta com 3 campi de universidades de ensino superior, duas públicas e uma
privada, localizados no Loanda, Baú e Vila Tanque, e que as escolas estaduais de ensino
médio não estão incluídas entre as 15 citadas (não houve um retorno em tempo hábil da
importante em relação à educação diz respeito ao transporte dos alunos, que na cidade é
totalmente coberto de forma gratuita. Portanto, conclui-se que a localização dos centros de
No quesito atendimento de saúde pública, a cidade conta com 9 unidades de saúde, sendo 1
hospital/Pronto atendimento (privado, mas que atende pelo SUS – Sistema único de Saúde)
de preços dos aluguéis com a localização dos centros de saúde da cidade não foi possível
chegar a alguma conclusão clara sobre o assunto. Esse cenário está alinhado com os
trabalhos de Pascale e Alencar (2006) e Arraes e Souza Filho (2008), uma vez que o
primeiro atribui um peso de apenas 4% a este fator de influência nos preços, e o segundo
afirma que a proximidade de pontos de atendimento para a saúde atua como fator negativo
ao preço, devido à preocupação com tráfego de carros, poluição sonora e ambiental (lixo
criminalidade, verifica-se que ambas as variáveis podem ter sim uma parcela significativa
apresenta uma relação lógica entre o acesso de alguns bairros com o bairro central
(Carneirinhos).
Figura 1. Diagrama que mostra como é possível acessar os bairros a partir de Carneirinhos.
Observando a Figura 1 e as Tabelas 4 e 6 verifica-se que existe uma tendência natural dos
também que nesses locais as médias de preços dos aluguéis são mais altas. Provavelmente
essa condição seja confirmada devido à elevada procura por imóveis “bem localizados”,
que estão próximos a diferentes tipos de serviços de utilidade, tais como bancos, agências
dos correios, e o comércio varejista em geral, situação essa constatada também em outras
cidades como apresentado em Ferreira Neto (2002) e Arraes e Souza Filho (2008).
possível fazer uma avaliação considerando como exemplos os dois bairros mais violentos
da cidade, Carneirinhos e Cruzeiro Celeste. O preço médio do aluguel nestes dois bairros é
inversamente oposto, sendo que o Cruzeiro Celeste tem média baixa e Carneirinhos tem
média alta. No caso do Cruzeiro Celeste, é fácil perceber que por se tratar de um bairro
periférico da cidade e com índice de violência mais alto, torna a região mais sensível aos
preços dos aluguéis, o que está alinhado com as conclusões de Andrade e Rondon (2002).
Por outro lado, seria uma falha avaliar que a segurança pública não tem impacto no preço
dos aluguéis de João Monlevade, pelo fato do bairro Carneirinhos ser o mais violento ao
mesmo tempo apresentar uma média de preços alta. Esse cenário provavelmente ocorra
devido a uma espécie de trade-off 3, o qual as pessoas tenham preferência pelos benefícios
de se morar em uma região central (acesso fácil a diversos serviços) em detrimento das
elevadas taxa de violência, provavelmente ligadas em sua maioria a furtos e roubos nos
comércios.
válido destacar que se têm dois conjuntos de dados para serem confrontados, a partir das
Tabelas 7 e 8, que são: preços médios dos imóveis anunciados no mês de setembro de
2016; e o preço médio efetivamente tributado das vendas do ano de 2016. As Tabelas 7 e 8
não apresentam os dados dos bairros que somente tiveram dados de anúncios ou vendas
efetivas.
com o quantitativo de imóveis estimado pelo IBGE, verifica-se que apenas 3,02% do total
3
Trata-se de uma expressão em inglês, que pode ser entendida como uma relação perde-e-ganha, o qual para
se obter um benefício você abre mão de outras coisas.
de imóveis da cidade estão à venda. Já a relação considerando o quantitativo de vendas
efetivas em 2016 e o total de imóveis é de apenas 0,43% do total. Através das Tabelas 7 e
8 é possível perceber que a maioria dos preços médios anunciados de apartamentos e casas,
respectivamente, são mais altos do que a média de valores efetivamente pagos. Apenas em
três casos esse cenário não é confirmado. Neste contexto, três hipóteses foram levantadas:
de venda; (ii) os compradores não declaram exatamente o preço efetivamente pago; e (iii)
o fato da oferta de imóveis, verificada em um único mês, ser muito superior ao total de
vendas anual, mostra que aqueles que efetivamente vendem são aqueles que abrem mão de
seria necessário um novo estudo para entender melhor o perfil dos ofertantes e dos
compradores da cidade.
O fator proximidade com o centro comercial novamente pode ser considerado um requisito
desejado, que influencia nas escolhas dos compradores dos imóveis (casas e apartamentos)
em João Monlevade, o que acarreta um maior preço médio, e que pode ser verificado nas
Para investigar o perfil dos preços anunciados para venda de apartamentos e casas nos
diferenciações por cores nos Gráficos 5 e 6 são adotadas para construir as Figuras 2 e 3, o
qual as dez maiores médias de preços de apartamentos e casas anunciadas estão marcadas
quando se tratam de valores médios baixos (vermelhos), tanto apartamentos quanto casas
dispersão dos valores médios em relação ao centro comercial (Figura 3). Por outro lado,
para a definição do preço médio de casas na cidade, uma vez que existe uma maior
aqueles que estão situados próximos a região central da cidade. Esse perfil não é observado
Ao observar o Gráfico 5 e a Figura 2, fica claro que os apartamentos mais valorizados são
R$100.000,00
R$200.000,00
R$300.000,00
R$400.000,00
R$500.000,00
R$600.000,00
R$700.000,00
R$1.000.000,00
R$1.200.000,00
R$1.400.000,00
R$200.000,00
R$400.000,00
R$600.000,00
R$800.000,00
R$-
R$-
Nossa Senhora da Conceição
Aclimação
República
Nossa Senhora da Conceição
Castelo Aclimação
possível notar que as maiores médias de preços nem sempre coincidem com os bairros que
Celeste possui uma boa média de cômodos nos apartamentos, mas possui também um
baixo preço médio de seus anúncios. O mesmo ocorre no bairro Metalúrgico quando
saúde, não foram considerados itens que tem um grau de influência significativo em
relação aos preços de venda dos imóveis em João Monlevade. Por outro lado, foi
constatado que a índice o de criminalidade afeta tanto o valor dos aluguéis quanto o valor
4. Conclusões
Este estudo objetivou identificar algumas das variáveis que poderiam influenciar nos
dados gerais sobre o mercado, referente ao ano de 2016, o que permitiu criar hipóteses
geográfica dos bairros, a proximidade dos bairros com o centro comercial, e o índice de
criminalidade de cada bairro, sejam fatores capazes de impactar de forma significativa nos
preços médios dos anúncios e das vendas efetivas de imóveis para locação e compra da
cidade.
Para trabalhos futuros existe a expectativa que seja possível desenvolver ferramentas e/ou
aplicativos que possibilitem selecionar os melhores locais para se alugar e/ou comprar um
imóvel na cidade de João Monlevade, de acordo com o perfil dos clientes. Além disso,
Nossa Senhora da
Conceição 2000 141,4214 R$ 900,00 R$ 700,00 R$ 800,00 2
Nova Aclimação 16200 127,2792 R$ 880,00 R$ 700,00 R$ 790,00 3
Nova Esperança - - R$ 800,00 R$ 800,00 R$ 800,00 3
Novo Horizonte 144136,4 379,653 R$ 1.700,00 R$ 400,00 R$ 1.118,18 11
Paineiras 29086,2 170,5468 R$ 1.000,00 R$ 550,00 R$ 791,80 5
Palmares 10833,33 104,0833 R$ 700,00 R$ 500,00 R$ 616,67 3
República 86416,67 293,9671 R$ 1.300,00 R$ 550,00 R$ 708,33 6
Rosário 31428,57 177,28 R$ 1.200,00 R$ 650,00 R$ 850,00 8
Santa Bárbara 33681,82 183,5261 R$ 1.100,00 R$ 650,00 R$ 777,27 11
São Jorge - - R$ 1.300,00 R$ 1.300,00 R$ 1.300,00 1
Satélite - - R$ 450,00 R$ 450,00 R$ 450,00 1
Sion - - R$ 500,00 R$ 500,00 R$ 500,00 1
Vale do Sol 5289,744 72,73062 R$ 600,00 R$ 400,00 R$ 496,92 13
Vale da Serra 11250 106,066 R$ 850,00 R$ 700,00 R$ 775,00 2
Vera Cruz - - R$ 900,00 R$ 900,00 R$ 900,00 1
Vila Tanque - - 500 R$ 500,00 R$ 500,00 1
Tabela 4. Análises estatísticas dos dados aluguéis de apartamentos alugados
Nossa Senhora da
Conceição 23630 153,72 R$ 1.180,00 R$ 750,00 R$ 964,00 5
Nova Aclimação - - - - - -
Nova Esperança - - - - - -
Novo Horizonte 31250 176,7767 R$ 1.100,00 R$ 850,00 R$ 975,00 2
Paineiras - - R$ 700,00 R$ 700,00 R$ 700,00 1
Palmares - - - - - -
República 5000 70,71 R$ 1.000,00 R$ 900,00 R$ 950,00 2
Rosário 1531250 1237,44 R$ 2.500,00 R$ 750,00 R$ 1.625,00 2
Santa Bárbara - - - - - -
São Jorge - - R$ 1.300,00 R$ 1.300,00 R$ 1.300,00 1
Satélite - - - - - -
Sion - - - - - -
Vale do Sol 30833,33 175,5942 R$ 800,00 R$ 450,00 R$ 616,66 3
Vale da Serra - - - - - -
Vera Cruz - - - - - -
Vila Tanque - - - - - -
Tabela 5. Análises estatísticas dos dados aluguéis de casas anunciadas
Nossa Senhora da
Conceição 30833,33 175,5942 R$ 1.200,00 R$ 850,00 R$ 1.016,66 3
Novo Horizonte 3333,33 57,735 R$ 1.000,00 R$ 900,00 R$ 966,66 3
Palmares - - R$ 800,00 R$ 800,00 R$ 800,00 1
Petrópolis - - R$ 700,00 R$ 700,00 R$ 700,00 1
Pinheiros - - R$ 1.200,00 R$ 1.200,00 R$ 1.200,00 1
República 232023,8 481,6885 R$ 2.000,00 R$ 550,00 R$ 1.057,14 7
Rosário 111146,7 333,3867 R$ 1.500,00 R$ 600,00 R$ 873,33 6
Santa Bárbara 96666,67 310,9126 R$ 1.200,00 R$ 250,00 R$ 716,66 6
Santa Cruz - - R$ 250,00 R$ 250,00 R$ 250,00 1
São Geraldo - - R$ 650,00 R$ 650,00 R$ 650,00 1
Satélite 30000 173,2051 R$ 700,00 R$ 400,00 R$ 600,00 3
Sion 11250 106,066 R$ 600,00 R$ 450,00 R$ 525,00 2
Teresópolis 30711,07 175,2457 R$ 1.100,00 R$ 650,00 R$ 774,33 6
Vila Tanque 781250 883,8835 R$ 2.000,00 R$ 750,00 R$ 1.375,00 3
Tabela 6. Análises estatísticas dos dados aluguéis de casas alugadas
Nossa Senhora da
Conceição - - - - - -
Novo Horizonte 244993 494,9677 R$ 1.978,00 R$ 1.100,00 R$ 1.407,00 3
Palmares - - - - - -
Petrópolis - - - - - -
Pinheiros - - - - - -
República 85833,33 292,9733 R$ 1.850,00 R$ 1.300,00 R$ 1.516,66 3
Rosário 973333,3 986,5766 R$ 2.500,00 R$ 700,00 R$ 1.366,66 3
Santa Bárbara 245000 494,9747 R$ 1.800,00 R$ 1.100,00 R$ 1.450,00 2
Santa Cruz - - - - - -
São Geraldo - - - - - -
Satélite - - - - - -
Sion - - - - - -
Teresópolis - - - - - -
Vila Tanque 125000 353,5534 R$ 1.800,00 R$ 1.300,00 R$ 1.550,00 2
Tabela 7. Valor médio anunciado e tributado de apartamentos vendidos em 2016
ABSTRACT: The principles of uneven development are important for understanding the
Brazilian regional reality, which has peculiar contours by dependence on commodity exports.
Given the locational rigidity and the volatility of prices characteristic of this market, the
spatial distribution of the impacts of these activities assumes importance in the persistence of
regional inequalities. This work proceeds from the use of IMAGEM-B model (Integrated
Multi-Regional Applied General Equilibrium Model - Brazil) configured to capture the
impact that the increase in foreign demand for commodities had on Brazil's economic
performance, allowing to identify the main channels capable of stimulating economic growth.
Preliminary results indicate that the Brazilian economy showed significant responses to effect
price of exports (investment, regional employment, income and consumption), the quantum
effect in exports to other exporting regions (export and domestic import) and the aggregate
result of GDP. The observed trends reflect not only different levels of industrialization and
regional production structures, but also an economic concentration (sectoral and spatially
selective) held a regional division of production, which has not allowed apparently reduce
regional inequalities.
As disparidades regionais têm sido objeto de estudo em vários países, especialmente nos
subdesenvolvidos, nos quais os diferenciais de renda e crescimento são mais acentuados (WILTGEN,
1991). Nas últimas décadas vários estudos trouxeram grandes contribuições para o debate em torno do
desenvolvimento regional e uma das principais constatações foi a de que o processo de crescimento
regional do Brasil, um país marcado historicamente por significativas diferenças econômicas em seu
espaço geográfico, e que apresenta contornos mais peculiares pelo fato de haver uma significativa
dependência da economia em relação à exportação de commodities e a produção desses bens, por sua
vez, está distribuída de forma desigual no território. Em função da rigidez locacional e da volatilidade
distribuição espacial dos impactos dessas atividades assume grande importância no entendimento da
Gráfico 01 – Receita, Quantidade e Preço Médio das Exportações de Commodities (2005 a 2014)
700
600
500
400
300
200
100
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Os preços internacionais das commodities apresentaram grande evolução desde o ano 2005 e,
mesmo com a crise de 2008, esses preços ainda permanecem em níveis bem maiores aos registrados
até então. A relevância desse aumento de preços reside no forte estímulo que as regiões produtoras
têm para intensificar a exportação desses bens. A resposta aos altos preços internacionais pode ser
vista a partir da participação das commodities na pauta de exportação brasileira, que saltou de 57,96%
impactos que o aumento e a diminuição da demanda externa por commodities tiveram sobre o
crescimento econômico e seu impacto na concentração regional. O que se pretende discutir, portanto, é
se o recente ciclo de preços das commodities reforçou ou atenuou os padrões de crescimento regional
desigual no Brasil.
2. Metodologia
General Equilibrium Model - Brazil), que leva em consideração as características estruturais e inter-
Trata-se de um modelo multi-regional estático do tipo Johansen, com estrutura bottom-up para
os 27 estados, que segue a base teórica do modelo TERM (HORRIDGE et al, 2005), e top-down para
as 558 microrregiões brasileiras. Ao nível estadual, as regiões são endógenas e o comportamento dos
agentes é modelado. Ao nível nacional, os resultados são gerados através de agregações dos resultados
estadual de forma a manter coerência com a estrutura agregada em quatro setores do PIB municipal do
cada microrregião nos setores do modelo. Os dados utilizados são o PIB municipal/setorial do IBGE
4
A cesta de commodities segue a classificação da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (SECEX/MDIC). Os 23 produtos são: açúcar em bruto; açúcar
refinado; algodão; café em grão; carne bovina “in natura”; carne de frango “in natura”; carne suína “in natura”;
celulose; couro; farelo de soja; fumo em folhas; milho; óleo de soja em bruto; soja em grão; suco de laranja;
etanol; gasolina; óleos combustíveis; petróleo em bruto; alumínio; laminados planos; minério de ferro;
semimanufaturados de ferro/aço.
(quatro grandes setores), os dados setoriais/municipais de emprego da RAIS e o mapeamento de
estados, microrregiões e municípios do IBGE. Além disso, o modelo considera 27 estados, 110
modelo os 23 produtos que terão choques (commodities) e os dois bens de margens (Comercio,
associadas ao horizonte temporal hipotético das simulações, que se relaciona ao tempo necessário para
transmissão desse choque na estrutura de interação entre as regiões e verificar qual o impacto do
aumento das interações com o setor externo para a estrutura econômica das regiões.
partir do primeiro choque, a base de dados do modelo foi atualizada para o ano de 2011, constituindo
um novo cenário econômico. Neste novo cenário foi aplicado o segundo choque (2011-2014). Os
resultados obtidos apresentam as variações anuais em relação a uma trajetória tendencial (baseline),
representando apenas os efeitos adicionais decorrentes dos choques das commodities, não sendo
3. Resultados e Discussão
3.1. Efeito-Preço
vínculo entre a estrutura produtiva e as flutuações do investimento pode ser visualizado mais
claramente no caso de regiões cujas exportações dependem de poucas matérias-primas. É o caso do
Pará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Espírito Santo e Mato Grosso.
de forma que, em geral, os estados que apresentam significativo crescimento do investimento também
registram as maiores reduções. Este resultado evidencia o grau de especialização produtiva destas
apresentados indicam apenas a variação do investimento advinda dos choques das exportações de
Além disso, cabe observar que para quase todos os estados (exceto Amapá), o crescimento
anual do investimento no primeiro período é bem superior à redução observada no segundo. Mesmo
considerando que a base de comparação do segundo período é maior, essa diferença nas variações do
investimento indica que o movimento provocado pelas commodities não foi totalmente revertido. Estas
A volatilidade de preços típica dos ciclos de commodities tem implicações importantes sobre
as regiões com elevado grau de dependência desses produtos ao reduzir as taxas de investimento e do
crescimento em longo prazo. Isso porque, embora a contração do investimento tenha efeitos de curto
prazo sobre a demanda agregada e sobre o emprego, implica em menor crescimento do estoque de
capital, o que prejudica a capacidade da economia de gerar empregos. Além disso, essa contração tem
costumam operar em enclaves e o alto grau de concentração da propriedade faz com que o aumento da
produtividade se concentre em poucas empresas e sua disseminação para outros setores seja bastante
Além disso, a volatilidade de preços altera a rentabilidade relativa dos investimentos entre os
setores ou regiões, redefinido constantemente a orientação espacial desses investimentos. No caso dos
estados com elevada dependência em relação aos setores exportadores de commodities, pode-se ter
ideia do impacto que a alta de preços teve na tendência de se concentrar os investimentos justamente
nos setores já estabelecidos, reforçando o padrão de especialização dessas economias e, com isso,
dificultando a transformação da estrutura produtiva (CEPAL, 2014). Esse processo tende a ser
crescentes economias internas e externas, nos moldes das ideias apresentadas por Myrdal (1957).
O segundo componente pelo qual o crescimento dos preços das commodities é capaz de atingir
no primeiro período, são associados à expansão das exportações e ao o estímulo para se aumentar os
recursos no setor industrial). E a perda de empregos, no segundo período, está relacionada à elevação
fechamento que considera o emprego regional endógeno (respondendo a variações no salário real
regional) e emprego nacional fixo. Com isso, as regiões que ampliam a participação no emprego total
comportamento dos empregos resulta em soma zero. As variações regionais do emprego ocorrem
pelos diferenciais de salário real. É importante observar que o modelo de EGC permite captar os
efeitos indiretos do mercado de trabalho em outros setores e na atividade econômica em geral, e não só
no setor de commodities.
Mapa 03 – Variação Anual do Salário Real Mapa 04 – Variação Anual do Consumo das Famílias
alguns poucos estados, notadamente das regiões Sudeste e Centro-Oeste, ampliando algumas
disparidades regionais, inclusive porque esses efeitos migratórios em direção às regiões mais
dinâmicas tendem a ser seletivos, ao menos pelo fator idade e de renda. Esse resultado reforça a tese
defendida por Hirschman (1958) de que as regiões mais desenvolvidas atraem trabalho qualificado das
regiões mais atrasadas, reforçando a desigualdade entre elas. No segundo ciclo, essa tendência se
reverte, mas em menor intensidade. A especialização produtiva tende a gerar menor oferta de trabalho,
razão pela qual os estados com maior dependência dos setores exportadores apresentam as maiores
reduções no emprego (Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e alguns estados do Nordeste).
Em relação à renda (salário real), o impacto pode ser visto também no mapa 03. As regiões em
expansão requerem mais trabalho, o que aumenta a remuneração do trabalho e desloca recursos
produtivos das outras regiões da economia para as áreas em expansão. Seguindo a mesma tendência do
investimento, os estados com maior taxa de crescimento anual do investimento via commodities
também apresentaram a maior taxa de aumento do salário real. Apesar dos salários reais crescerem em
todo o Brasil, reflexo do aumento de atividade, isso ocorre especialmente no caso dos estados de Mato
baixo. Destaque para os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pará. O
único estado que apresenta pouca variação dos salários reais é Mato Grosso, provavelmente pela
existência de um modelo produtivo exportador agrícola que favorece a produção extensiva que não
Os efeitos das variações das commodities sobre o consumo podem ser vistos no mapa 04. É
importante observar que o consumo das famílias é, em muitos casos, considerado uma proxy para o
bem-estar. De forma geral, o comportamento desta variável é semelhante ao da renda (salário real).
programas sociais que estimulam o consumo, por exemplo), resultando em estímulo ao crescimento
sem fortes impactos no balanço de pagamentos e na dívida externa. Depois de 2008, quando os preços
dos produtos básicos registraram uma queda devido à crise financeira mundial, o país pôde expandir
seus gastos como medida de estímulo, justamente com base nas poupanças fiscais acumuladas,
demonstrando os benefícios de contar com a capacidade de aplicar políticas fiscais anticíclicas, que
Os maiores aumentos do consumo foram no Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Espírito
Santo e Mato Grosso (os mesmos estados que aumentaram muito o investimento). Em contrapartida,
no segundo ciclo de preços esses estados reduziram o consumo mais do que a média do Brasil.
3.2. Efeito-Quantum
importações para outros estados que também são exportadores de commodities (tabela 03). Esse efeito
beneficiam com a valorização dos preços das commodities. Como pode ser observado, o aumento na
demanda externa pelas commoditites proporciona um efeito positivo na economia e, portanto, aumenta
effects”) e os que agem em direção contrária (“backwash effects”), em conformidade com discussões
desenvolvidas por Myrdal (1957) e Hirschman (1958). Ou seja, são os ganhos obtidos pelas regiões
por meio do fornecimento de bens de consumo e/ou matérias-primas para as regiões em expansão. Se
tal expansão é forte o suficiente para cobrir os efeitos de polarização dos centros mais antigos, novos
centros econômicos surgem. Porém, de acordo com os padrões apresentados pelas diferentes regiões5 a
partir da análise conjunta das exportações e importações domésticas (mapas 05 e 06), as exportações
de commodities, em geral, são fracas geradoras de efeitos de transbordamento, não sendo capazes de
É importante observar, como o fazem Haddad e Perobelli (2002), que para os estados
Além disso, os fluxos interestaduais possuem importância relativamente maior para os estados menos
desenvolvidos.
A região Norte apresenta elevado grau de dependência em relação ao Sudeste no que se refere
dependência ocorre, principalmente, em relação ao estado de São Paulo. Em relação ao Nordeste, tem-
se que os estados dessa região dependem muito mais do restante da economia como fonte de aquisição
de bens do que o contrário. Assim como no caso da região Norte, a dependência em relação ao Sudeste
Os resultados para o Sudeste, que é a região mais integrada de todas, corroboram a ideia de
que os estados menores dependem em maior grau do resto da economia brasileira do que os estados
própria região ou importados do resto do mundo. Os próprios estados da região Sudeste são o principal
mercado de aquisição de produtos, havendo uma concentração de fluxos intra-regionais. São Paulo se
destaca como polarizador desse processo (PEROBELLI, 2004). Os resultados evidenciam o papel
concentrador dos fluxos de comércio, tanto pela concentração na região mais desenvolvida do país
como pela dependência das regiões menos desenvolvidas. É o que Haddad (2004) chama de
“armadilha espacial”, polarizada por São Paulo. Este centro de gravidade funciona, no curto prazo,
como ponto de convergência devido à melhor acessibilidade dos mercados, gerando os maiores
5 Esses padrões, em grande medida, corroboram as conclusões obtidas por Perobelli (2004).
A região Sul apresenta uma forte interação entre os seus estados, o que torna a região uma
importante fonte de aquisição de bens para estes estados. E a região Centro-Oeste, no que tange à
aquisição de bens, é mais dependente do resto da economia brasileira do que o contrário. A região
Sudeste é o principal mercado para a aquisição de bens dos estados do Centro-Oeste, enquanto os
Mapa 05 – Variação Anual das Exportações Domésticas Mapa 06 – Variação Anual das Importações Domésticas
Observa-se que, em geral, a estrutura produtiva do Brasil tem limitado os possíveis benefícios
certas regiões não está intimamente ligado ao desempenho nos mercados internacionais, mas sim à
articulação com as demais regiões e, mais especificadamente, dos estados em termos do mercado
Para alguns estados, as exportações crescem mais que as importações, no primeiro período,
indicando que o ciclo de preços das commodities tem estimulado a diminuição da dependência
regional. Isso é importante porque diminui o vazamento de poupança das regiões periféricas. Para
outros estados, as importações domésticas (que são mais sensíveis em relação à renda) crescem mais
rapidamente que as exportações regionais, razão pela qual quando as regiões aceleram seu crescimento
surgem desequilíbrios que freiam o impulso expansivo. Esse é o caso dos estados do Pará,
Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e de quase toda a região Centro-Oeste.
Dessa forma, os superávits de algumas regiões são utilizados para financiar as importações de outras
regiões, beneficiando estas últimas. Como as regiões mais dinâmicas não são autossuficientes, o
comércio funciona como meio de transmissão de crescimento, pois parte da riqueza gerada na região é
gasta em outra região complementar. As entradas de capitais podem financiar esses desequilíbrios,
porém, no longo prazo, o crescimento será sustentável apenas se houver uma mudança na estrutura
produtiva.
A partir dos dois efeitos apresentados, parte-se para a análise agregada do PIB das regiões, que
Em relação ao produto (PIB real), os resultados podem ser vistos na tabela 04 e no mapa 07.
Tabela 04 – Variação Anual do PIB (Simulação), do Crescimento Real e ICDC (2005-2011 e 2011-2014)
PIB (Simulação) Crescimento Real ICDC
Região Estados
2005-2011 2011-2014 2005-2011 2011-2013 2005-2011 2011-2013
Rondônia 0,000 0,030 7,50 -0,36 0,00 -8,37
Acre -0,120 0,090 5,53 0,46 -2,17 19,38
Amazonas 0,540 -0,210 4,66 1,69 11,59 -12,41
Norte Roraima 0,280 -0,050 7,48 2,44 3,74 -2,05
Pará 1,140 -0,610 7,60 5,69 15,00 -10,71
Amapá 0,150 -0,280 6,34 5,36 2,37 -5,22
Tocantins 0,490 0,000 5,12 1,26 9,56 0,00
Maranhão 0,340 0,060 7,04 4,13 4,83 1,45
Piauí 0,310 -0,140 7,75 2,24 4,00 -6,24
Ceará 0,190 -0,090 6,83 1,77 2,78 -5,09
Rio Grande do Norte 2,620 -0,830 6,24 6,55 41,99 -12,68
Nordeste Paraíba 0,540 -0,300 6,58 3,08 8,21 -9,75
Pernambuco 0,420 -0,260 6,70 3,77 6,27 -6,90
Alagoas 1,300 -0,780 5,38 4,73 24,18 -16,47
Sergipe 2,490 -0,840 4,87 3,62 51,08 -23,19
Bahia 0,940 -0,200 3,68 -0,20 25,53 100,00
Minas Gerais 1,360 -0,660 5,09 1,46 26,72 -45,27
Espírito Santo 3,330 -1,640 7,14 2,40 46,64 -68,36
Sudeste
Rio de Janeiro 0,960 -0,420 4,17 5,28 23,00 -7,95
São Paulo 0,490 -0,140 4,37 1,02 11,21 -13,68
Paraná 0,500 -0,060 3,06 5,14 16,36 -1,17
Sul Santa Catarina 0,170 -0,020 5,15 1,95 3,30 -1,03
Rio Grande do Sul 0,170 0,000 2,67 -0,53 6,36 0,00
Mato Grosso do Sul 1,020 -0,010 6,38 6,48 15,99 -0,15
Centro- Mato Grosso 1,820 0,340 2,82 4,15 64,46 8,20
Oeste Goiás 0,650 -0,010 6,24 5,48 10,42 -0,18
Distrito Federal -0,030 0,010 6,32 -4,56 -0,47 -0,22
BRASIL 0,710 -0,240 4,70 2,08 15,10 -11,54
Fonte: Sistema de Contas Nacionais (IBGE) e Simulações. Elaboração própria.
Legenda:
Crescimento acima da média nacional
Crescimento abaixo da média nacional
commoditites, praticamente todos os estados apresentam variação anual positiva do PIB real. É
importante observar que os resultados apresentados indicam apenas a variação do PIB real advinda dos
choques das exportações de commodities, em relação ao cenário registrado em 2005, ou seja, não
mostram o crescimento efetivamente apurado das regiões no período. O exercício proposto, ao isolar o
efeito das commoditites, permite identificar melhor a resposta das regiões ao comportamento do
comércio mundial desses bens. Em praticamente todos os estados, o PIB cresce mais que o emprego, o
que significa que esse impacto estimula a substituição do trabalho por capital.
internacional utilizada para sua exportação é a marítima. Este fato explica em grande medida o
impacto no PIB dos estados do Espírito Santo (3,33% a.a.), Rio Grande do Norte (2,62% a.a.) e
Sergipe (2,49% a.a.). Os resultados de Minas Gerais (1,36% a.a.) e do Pará (1,14% a.a.) se explicam,
em grande medida, pela estrutura produtiva com vínculos mais sensíveis à evolução da demanda por
commodities minerais. Mato Grosso tem impacto significativo (1,82% a.a.) pela produção de
commodities agrícolas como a soja e seus derivados. São Paulo cresce menos em termos relativos
(0,49% a.a.), mas, considerando o tamanho da economia paulista, tem-se significativa variação em
Grande parte dos estados do Nordeste apresenta pouco crescimento em razão das commodities
(Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco), assim como os estados do Sul do país. Além disso, o
Acre registra um impacto negativo desse boom no período (-0,12% a.a.), assim como o Distrito
Federal (-0,03% a.a.), cuja economia é representada em mais de 90% pelo setor de serviços, e, por fim,
Rondônia (0,00% a.a.), que não se beneficia como a ampliação das exportações de commodities,
a produção desses bens está distribuída de forma desigual no território e, a depender da integração
econômica dos estados e da intensidade dos fluxos comerciais, esses impactos podem se concentrar
espacialmente.
No segundo período (2011-2014), como houve queda nas exportações de várias commoditites,
os resultados negativos foram bastante generalizados, basicamente pelas mesmas razões que explicam
o impacto positivo durante o primeiro período. Isso mostra como muitos estados dependem fortemente
da exportação de commodities.
Os estados que apresentaram os maiores impactos positivos no primeiro período também são
os que apresentam maior perda com a queda das exportações de commoditites: Espírito Santo, devido
à forte concentração da estrutura produtiva, Rio Grande do Norte e Sergipe. Minas Gerais e Pará
respondem basicamente pela queda do minério. São Paulo é afetado negativamente e os estados do
Em termos dos impactos desiguais dos choques nas exportações de commoditites, é importante
observar que o impulso no crescimento do PIB real durante o primeiro período dura mais tempo e tem
maior intensidade (maiores taxas) quando comparado ao segundo período. Assim, tem-se que os
efeitos do primeiro são mais intensos que o do segundo, ou seja, a tendência de crescimento desigual
Por meio dos dados do PIB é possível identificar se há, exclusivamente pelo movimento das
ideia já amplamente difundida na literatura, a convergência ocorre quando regiões menos avançadas
crescem a taxas superiores às das regiões mais desenvolvidas, ocorrendo uma aproximação da média,
regiões menos avançadas crescem a taxas menores, resultando em afastamento da média, ampliando o
Na simulação, pode-se dizer que o efeito das commodities não é no sentido de convergência
para vários estados do Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste, pois eles crescem abaixo da média
nacional. A exceção mesmo ocorre nos estados produtores de commodities. Ou seja, esse ciclo de
expansão estimula a divergência entre os estados. No segundo ciclo, de queda, essa tendência é
parcialmente atenuada. Mas para vários estados do Nordeste, a redução é maior que a média, ou seja,
esses estados tendem a piorar suas posições relativas. Isso acontece também com quase todos os
estados do Sudeste, exceto São Paulo. Esse ciclo de commodities vai ao encontro das ideias de
polarização de Myrdal, uma vez que os efeitos propulsores (ou de espraiamento) provocados em
É interessante fazer essa mesma análise com os dados do PIB real total, que foi o crescimento
efetivamente ocorrido nos estados, e não apenas o advindo das commodities. A partir desses dados
observa-se que quase todos os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste crescem mais que a média
nacional, indicando convergência. Com isso, conclui-se que outros fatores econômicos suplantaram os
efeitos dos ciclos de commodities, indicando que as economias desses estados não são tão dependentes
assim desses ciclos. Ou seja, dada a estrutura de comércio interestadual, conclui-se que o crescimento
econômico das regiões talvez não esteja intimamente ligado a especializações produtivas e às
exportações de commodities. Mesmo assim, apesar do crescimento do PIB com crescimento mais
rápido das regiões mais pobres, a convergência ainda parece bastante lenta. No segundo período essa
propõe-se neste artigo o cálculo de um indicador referente ao crescimento regional dependente das
A tabela 04 também apesenta os valores do ICDC6 para cada estado nos dois períodos de
análise. O ICDC do país, no primeiro período, indica que 15,10% do crescimento real da economia
crescimento pode ser observado para vários estados do Nordeste (Sergipe e Rio Grande do Norte, em
6Apesar das simulações neste trabalho compreenderem o período 2005-2014, o ICDC é calculado para 2005-2011 e para
2011-2013, pois os dados do PIB regional só estão disponíveis até este ano.
Para o segundo período, o Brasil apresenta um ICDC de -11,54%, o que significa que as
efetivamente observadas, mas, nesse caso, no sentido inverso, ou seja, de puxar o crescimento real
para baixo. Os índices mais expressivos são os da Bahia, que registrou um PIB real negativo e um
ICDC equivalente a 100%, o que implica dizer que a totalidade7 da variação observada se deve aos
efeitos diretos e indiretos do comportamento das commoditites (o indicador é positivo em razão das
duas variações terem ocorrido na mesma direção, neste caso de diminuição). Além disso, Espírito
A reposta desigual de algumas regiões pode ser constatada pelo fato de que a razão de
seja, são estados que parecem se beneficiar mais dos choques positivos do que perder com a retração
do comércio internacional desses bens (Rio Grande do Norte, Sergipe e Mato Grosso). Nos casos do
Espirito Santo e de Minas Gerais a tendência é oposta, de forma que a participação da queda das
4. Conclusão
agregado do PIB. Essas informações revelam que, nos ciclos econômicos recentes, as regiões
brasileiras seguem a mesma configuração: crescendo quando cresce a economia nacional, em seu
conjunto, e desacelerando-se quando o país reduz seu crescimento. No entanto, isso ocorre com
regiões registrando taxas distintas, resultando em concentração econômica no Sudeste e num tímido
processo de desconcentração em outras poucas regiões. Para as regiões muito dependentes das
commodities, o principal efeito da volatilidade dos preços é a redução das taxas de investimento e do
crescimento em longo prazo. Essas constatações reforçam a tese defendida por Gruss (2014) de que o
que tem sido mais relevante para o crescimento econômico das regiões exportadoras de commodities
7Considerando os procedimentos numéricos para obtenção de soluções para os modelos de EGC, as magnitudes relativas e
os sinais encontrados são mais relevantes para as análises do que os valores exatos extraídos do modelo.
não é o nível dos preços reais desses produtos, mas sim sua taxa de crescimento. Ou seja, o problema
do crescimento econômico dessas regiões é sua dependência do crescimento permanente dos preços
das commodities, exigindo novos choques favoráveis nos preços para que a atividade econômica não
perca fonte de dinamismo, pois os efeitos multiplicadores a partir do comércio externo são
temporários.
espacialmente), que não tem permitido, aparentemente, reduzir as desigualdades regionais. Mantém-se
forte desigualdade intra e inter-regional e o processo de desconcentração espacial iniciado nas últimas
décadas tem sido restrito e parece perder fôlego para reverter o alto grau de desigualdade existente na
economia nacional (DINIZ, 2013). Embora possa existir uma tendência à convergência entre as
regiões, esta convergência é lenta e tende a se estabilizar num patamar de grande heterogeneidade
Centro-Sul do país e uma grande dependência do Norte e Nordeste em relação a esta região. Além
disso, o comportamento de certas regiões não está intimamente ligado ao desempenho nos mercados
internacionais, mas sim à articulação com as demais regiões, e mais especificadamente, dos estados
A questão colocada para muitos estados brasileiros está no baixo potencial de upgrading das
atividades primárias em direção ao maior valor adicionado dos produtos, sua baixa capacidade de
spillover e fraco encadeamento com outras atividades produtivas domésticas (CEPAL, 2014). São, em
geral, as mesmas ideias apontadas por Hirschman de que as commodities são fracas geradoras de
efeitos de transbordamento, não sendo capazes de conferir um impulso dinâmico significativo para o
exportações não constituem uma fonte relevante e permanente de impulso ao crescimento, pois à
A análise dos impactos exclusivos do ciclo das commodities permite concluir que esse
desigualdades regionais, a exemplo das ideias de base de exportação de North, mas agora num
contexto de maior inserção do país e das regiões na economia mundial e de maiores dificuldades dos
Estados em compensar os custos sociais de uma maior desigualdade regional (MACEDO e MORAIS,
2011). Em resumo, ainda permanece a discussão sobre os estímulos ao crescimento regional como
forma de diminuir as desigualdades ainda existentes e a forma como as regiões brasileiras estão
5. Referências
Resumo:
A indústria extrativa mineral vem apresentando uma expansão no cenário econômico do país.
Desta forma, a exploração de minérios nas localidades afetadas proporciona o recebimento de
uma compensação financeira, constituindo os royalties minerais. No Brasil, mais da metade
da arrecadação é destinada para os estados de Minas Gerais e Pará, tornando-se os principais
arrecadadores. Sendo assim, o trabalho objetivou investigar os possíveis efeitos gerados pelo
CFEM no desenvolvimento econômico dos municípios de Minas Gerais, Pará e Sergipe, a
partir dos indicadores de desenvolvimento municipal (IFDM). Para isso, foi adotado um
modelo econométrico de dados em painel com efeitos aleatório para os anos de 2005 a 2012.
Devido às proporções dos royalties recebidos por cada município serem consideravelmente
diferentes, foram construídos quatro Grupos para a análise, com base na CFEM per capita.
Como principais resultados, destaca -se que a CFEM apresenta efeito positivo sobre os
indicadores municipais de desenvolvimento, porém o efeito estimado é bastante baixo,
cabendo questionar o gerenciamento alocativo desses recursos.
Abstract:
The mineral extraction industry has been showing an expansion in the country's economic
scenario. In this way, the exploitation of ores in the affected localities provides the receipt of a
financial compensation, constituting the mineral royalties. In Brazil, more than half of the
collection is destined for the states of Minas Gerais and Pará, becoming the main collectors.
Therefore, the objective of this work was to investigate the possible effects generated by the
CFEM in the economic development of the municipalities of Minas Gerais, Pará and Sergipe,
using municipal development indicators (IFDM). For this, an econometric panel data model
1
Mestre em economia pelo Programa Acadêmico de Pós-Graduação em Economia – NUPEC/UFS. Faz parte do
grupo de pesquisadores do Laboratório de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional - LEADER.
Departamento de Economia (DEE/UFS).
2
Graduanda em Ciências econômicas pela Universidade Federal de Sergipe. Departamento de Economia
(DEE/UFS).
3
Professor associado da Universidade Federal de Sergipe (UFS), vinculado ao Departamento de Economia, ao
Programa de Pós-Graduação em Economia e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Propriedade
Intelectual. Doutor em Economia de Empresas pela Fundação Getulio Vargas – SP.
4
Professor associado da Universidade Federal de Sergipe (UFS), vinculado ao Departamento de Economia, e ao
Programa de Pós-Graduação em Economia. Faz parte da equipe de professores de pós-graduação do Laboratório
de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional - LEADER.
* Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze, CCSA II. CEP 49100-000. São Cristovão, Sergipe.
with random effects was adopted for the years 2005 to 2012. Because the proportions of the
royalties received by each municipality were considerably different, four Groups were
constructed for the analysis, based on the CFEM per head. As main results, it is highlighted
that the CFEM has a positive effect on the municipal development indicators, but the
estimated effect is quite low, and it is necessary to question the allocative management of
these resources.
1. INTRODUÇÃO
O setor de produção mineral tem se destacado cada vez mais no cenário econômico
brasileiro, fato esse, que é corroborado pela sua participação no Produto Interno Bruto – PIB
industrial do Brasil em 5% no ano de 2014, correspondendo a um total de US$ 40 bilhões. Já
no que tange a economia externa, a indústria extrativa mineral brasileira, exportou nesse
mesmo ano, US$ 34 bilhões (INSTITUTO BRASILEIRO DE MINEIRAÇÃO – IBRAM,
2015).
No segundo semestre do ano de 2015, apesar do cenário de crise no Brasil e da queda
internacional dos preços das commodities minerais, a indústria mineral apresentou um
crescimento geral de 6,3%, sendo esse, medido pelo Índice de Produção Mineral (IPM), em
comparação com o mesmo período no ano anterior. O setor mineral, foi a única atividade
industrial a apresentar crescimento positivo no agregado de janeiro a dezembro de 2015
(DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL – DNPM, 2015).
A importância que o setor mineral vem desempenhando sobre a economia brasileira,
demonstra a importância em se debater e planejar a forma como se dá e se destina a
Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM, sendo esta compensação, um
royalty pago aos municípios exploradores de minério, bem como aos Estados e União. Nesse
contexto, no ano de 2013, o Brasil bateu recorde em arrecadação deste, com um valor de R$
2,376 bilhões (IBRAM, 2015).
Os principais estados brasileiros arrecadadores CFEM, são Minas Gerais, seguido do
Pará, em que juntos, arrecadaram em 2016, 77,03% de todo CFEM brasileiro, sendo que
Minas Gerais, sozinha recebeu quase a metade desse royalty, com 47,75% o que correspondeu
a R$ 858.495.783,06, enquanto que o estado do Pará, arrecadou 526.443.296,28 (DNPM,
2017). O estado de Sergipe, embora não esteja entre os maiores arrecadadores de CFEM
brasileiro, ainda sim é um estado importante para a indústria extrativa mineral, sendo neste
estado instalado a única unidade produtora de potássio fertilizante no Brasil, além de estar em
andamento o projeto da instalação de uma unidade produtora de cimento no estado com
potencial gerador de empregos (DNPM,2015). Como esse aumento na receita é de caráter
temporário, visto que os royalties minerais, aqui intitulado por CFEM, são justamente uma
compensação pelo uso de um recurso natural não renovável, ou seja, finito, é de suma
importância saber se o mesmo está sendo aplicado, de maneira tal, que gere um
desenvolvimento do qual a geração futura possa se aproveitar.
Assim, o que se buscou foi detectar a relação entre o CFEM com os indicadores de
desenvolvimento municipal. Dessa maneira, o objetivo específico é examinar por meio do
modelo econométrico os tipos de impactos, seja positivo ou negativo, que os royalties
minerais causam nas áreas de educação, saúde e renda, sendo estes vistos por meio do Índice
Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) dos municípios selecionados. Para tal, utilizou-
se de 227 municípios dos estados de Minas Gerais e do Pará, no período de 2005 a 2012.
A pesquisa é de natureza explicativa, descritiva e quantitativa, no qual se mensura e
elucida os impactos que o CFEM exerce sobre o desenvolvimento local dos municípios
componentes dos estados de Minas Gerais, Pará e Sergipe. O modelo econométrico aplicado
foi o de dados em painel com efeitos aleatórios, tendo como variável dependente o IFDM
geral e suas subcategorias (educação, saúde e renda), ao tempo em que os CFEM per capita,
produto interno bruto per capita e população ocupada foram especificados como variáveis
independentes.
O artigo está estruturado em cinco seções incluindo a introdução. A segunda seção é
referente a revisão da literatura, onde se trata do debate dos efeitos da aplicação dos royalties
minerais e desenvolvimento sustentável. A terceira seção expõem a metodologia, descrevendo
o modelo empírico e a composição de suas variáveis. Na quarta seção exibe-se a análise e a
discussão dos resultados das estatísticas descritivas e da estimação do modelo econométrico.
E por fim, as considerações finais
A amostra que será utilizada na presente investigação toma como referência o estudo e
a base de dados de Fernandes (2013). São considerados 1071 municípios dos estados de
Minas Gerais, Pará e Sergipe, entre os anos de 2005 e 2012. Entretanto, para a composição da
amostra, o seguinte critério foi estabelecido:
1) O município deve ter sido beneficiário do CFEM em todos os 8 anos no
período de 2005 a 2012;
2) O município deve ter ao menos um orçamento disponível no Tesouro Nacional,
no período de 2005 a 2012.
Tomando por base o requisito acima, 227 municípios foram enquadrados, dentre os
1071 municípios que receberam CFEM. Esses 227 municípios, receberam em valores reais,
aproximadamente R$ 158 milhões (utilizando o deflator do IPCA, ano base 2012).
Conforme Bregman (2007), a amostra foi estratificada em quatro grupos de
dependência (diferentes níveis de dependência dos royalties), formados a partir do valor dos
seguintes indicadores: CFEM Per Capita e CFEM Receita Corrente. Cada município
apresenta um valor de referência de CFEM PC e CFEM RC para que sejam formados os
grupos, os quais serão representados pelas medianas nos anos.
No presente estudo, o CFEM per capita é descrito como entre o valor dos royalties
minerais (CFEM) recebidos pelo município (i), em determinado ano (t) e a estimativa da
população da localidade (i) no mesmo ano (t). A expressão dada a seguir:
𝐶𝐹𝐸𝑀𝑖,𝑡
𝐶𝐹𝐸𝑀 𝑃𝐶 𝑖, 𝑡 = (1)
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜𝑖,𝑡
𝐶𝐹𝐸𝑀 𝑖,𝑡
𝐶𝐹𝐸𝑀 𝑅𝐶 𝑖, 𝑡 = (2)
𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑖,𝑡
A Figura 2, demonstra que ao analisar os IFDM geral e seus segmentos a partir das
médias dos grupos por município, que nenhum dos grupos apresentou um IFDM geral alto de
desenvolvimento, mesmo assim cabe ressaltar que o grupo 4 foi o que apresentou melhor
desenvolvimento, que corrobora com a análise feita para o PIB per capita médio, sendo mais
um indicio de doença holandesa para esses municípios. Dentro dos segmentos do IFDM geral
o IFDM educação se destacou por apresentar superioridade entre todos os grupos, entretanto
para nenhum, seu índice chegou ao nível para ser considerado como de alto desenvolvimento,
sendo o grupo 4 o que mais uma vez apresentou melhor desempenho entre todos.
* O índice varia de 0 (mínimo) a 1 ponto (máximo) para classificar o nível de cada localidade em
quatro categorias: baixo (de 0 a 0,4), regular (0,4 a 0,6), moderado (de 0,6 a 0,8) e alto (0,8 a
1) desenvolvimento. Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade
(FIRJAN, 2017).
O IFDM emprego e renda, foi o segmento que se destacou por exibir a pior média
entre os grupos para os municipios analisados, como mostrou a Figura 2. Num comparativo
entre eles, novamente foi o grupo 4 que apresentou o melhor desempenho, entretanto, ainda
assim se situando no nível regular de desenvolvimento.
No Grupo 3, todos os indicadores, com a exceção mais uma vez do IFDM emprego e
renda, apresentaram uma relação positiva e significativa com a CFEM per capita (Tabela 5).
Ademais, os o tamanho dos coeficientes continua pequeno, de forma que o efeito dos
royalties, apesar de ser captado pelas estimativas como positivo, é inexpressivo dentro da
métrica dos indicadores.
O Grupo que apresenta menor grau dependência aos royalties minerais (per capita e
em relação à receita corrente) é o Grupo 4. As estimativas para este grupo, são apresentadas
na Tabela 6 e mostram uma uniformidade com relação às estimativas anteriores para o
coeficiente da CFEM per capita na equação do IFDM emprego e renda.
A tabela 6 ainda demonstra que, os royalties per capita apresentam um efeito positivo
e significativo sobre os demais indicadores; todavia, a baixa magnitude estimada dos
coeficientes da variável royalties neste modelo vai ao encontro do que foi observado
anteriormente para os demais grupos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho objetivou investigar os possíveis efeitos gerados pelo CFEM no
desenvolvimento econômico dos municípios de Minas Gerais, Pará e Sergipe, a partir dos
indicadores de desenvolvimento municipal (IFDM). Para isso foi adotado um modelo
econométrico de dados em painel com efeitos aleatório para os anos de 2005 a 2012. Devido
às proporções dos royalties recebidos por cada município serem consideravelmente diferentes,
foram construídos quatro Grupos para a análise, com base na CFEM per capita e no peso da
CFEM sobre a receita corrente dos municípios.
Observa-se que a CFEM apresenta em sua maioria efeito positivo sobre os indicadores
municipais de desenvolvimento (exceto para o IFDM emprego e renda), porém a magnitude
do efeito estimado é bastante baixo, cabendo questionar o gerenciamento alocativo desses
recursos. No entanto, este resultado já difere do encontrado por Fernandes (2013), que
demonstrou que o CFEM em nada impactava no IFDM. Cabe ressaltar, que os efeitos gerados
pelo CFEM, são advindos principalmente do IFDM educação.
Os resultados encontrados para o IFDM educação (apesar da baixa magnitude do
impacto) demonstram que esses municípios estão em consonância com a “Regra de
Hartwick”, na qual se apresenta que a única forma de se promover equidade entre as gerações
sobre o uso das rendas minerais, visto que esse recurso é não renovável, seria investindo em
bens de capital e capital humano, ou seja, em capital reprodutível, pois são esses que acabam
por permitir o crescimento sustentado. Portanto, a partir dos resultados encontrados para o
IFDM educação, essa regra aparenta estar sendo aplicada nos municípios analisados.
Apesar de o foco deste estudo não ter sido direcionado a verificar se estes recursos têm
levado os municípios a apresentarem a doença holandesa, também denominada de maldição
dos recursos naturais, os resultados encontrados demonstram que há indícios de que isso
possa estar ocorrendo, visto que o Grupo 4, no qual estão inseridos os municípios que detêm
menor dependência do CFEM foram os que apresentaram os melhores níveis no desempenho
de desenvolvimento.
Por fim, cabe ressaltar que IFDM emprego e renda, se apresentou divergente ao
demais em todos os resultados encontrado, impactando em sua maioria em efeitos negativo,
cabendo um estudo mais aprofundado sobre esse segmento, para os próximos estudos.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DNPM. Departamento Nacional de ProduÇÃO Mineral. Sumário Mineral. 35. ed. BrasÍlia:
Dnpm, 2015. 146 p. Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-
mineral-2015>. Acesso em: 02 maio 2017.
HARTWICK, John M. Intergeneration equity and the investing of rents from exhaustible
resources. The American Economic Review, v. 67, n. 5, p. 972-974, dez. 1977.
rafaelmazoni13@gmail.com
claudio.burian@fjp.mg.gov.br
Resumo
do Estado brasileiro nessa seara, este trabalho busca apresentar resultados de avaliações de
impacto de políticas de regularização fundiária – políticas públicas usadas para dar títulos
fundiária. Os resultados estudados mostram que essas políticas têm impacto positivo sobre
respostas aos problemas específicos de sua jurisdição. Por fim, discutem-se soluções para os
políticas públicas.
Introdução
vários problemas. No Brasil, como afirma Raymundo Faoro (2001), as cidades já surgem
Tudo isso soma-se a problemas nas finanças públicas municipais – o que acaba
baixa dinamicidade e as dificuldades em arrecadar tributos próprios faz com que as finanças
entes. Isso enrijece os orçamentos e reduz a margem de manobra dos gestores municipais, o
pública brasileira neste início do século XXI. No Brasil, na virada do século passado, já se
estimava que mais de 20% da população dos grandes centros urbanos viviam em áreas
informais (MARICATO, 1999). Ainda, essa irregularidade não se restringe às áreas mais
pobres – antes, espalha-se pelas cidades, desde os morros até os luxuosos condomínios
fechados.
Como uma tentativa de reverter esse quadro, a Constituição de 1988 traz em seu
Cidade regulamenta esse artigo e constitui um paradigma inovador no que diz respeito à base
Num estudo inédito no país, dados para o estado de Minas Gerais mostram que 36%
dos domicílios próprios do estado estão em situação irregular do ponto de vista fundiário
(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2016). De acordo com os dados da Pesquisa por Amostra
– áreas caracterizadas por ocupações ilegais e urbanização fora dos padrões vigentes ou
precariedade de serviços públicos tidos como essenciais (energia, coleta de lixo e redes de
água e esgoto) – as estatísticas são ainda mais alarmantes: mais de 38% dos domicílios
As razões para tal irregularidade são diversas, desde a indefinição da origem da terra,
fraudes em documentos, invasões, dentre outras. Embora esses problemas fundiários sejam
praticamente invisíveis aos olhos da maioria das pessoas, eles acionam uma grande cadeia
de efeitos negativos sobre os padrões de vida nas cidades (ÁVILA; FERREIRA, 2016).
regularização fundiária no Brasil, destacando o impacto que essas políticas públicas possuem
desenvolvimento regional.
correlatos;
deste trabalho assenta-se em quatro aspectos: sua importância, sua relevância, sua
para ampliar o olhar dos gestores sobre o atual da gestão pública – sobretudo a administração
econômico tanto almejados pelo Estado brasileiro demandam soluções eficientes para seus
de uma política urbana responsável – seria, ao mesmo tempo, solução para esses dois
problemas.
Quanto à sua relevância, pode-se afirmar que há uma lacuna na produção acadêmica.
trabalhos.
– especialmente no contexto em que serão feitas as revisões dos Planos Diretores dos
cooperação entre prefeituras e os outros níveis de governo. Por fim, sua vantagem relaciona-
se ao fato de ser realizada por um estudante que atua no âmbito do desenvolvimento local,
2- REFERENCIAL TEÓRICO
temas.
Alguns autores afirmam que a crise seria um aspecto intrínseco às cidades, posto que
elas sejam “o lugar onde há mais mobilidade e mais encontros” (SANTOS, 2006, p. 159).
No Brasil, as cidades já surgem como reflexo de conflitos. Como disse Faoro (2001),
que havia um poder, e que ele estaria pronto a intervir em caso de recalcitrâncias.
(MARICATO, 2003). A análise de dados dos censos demográficos realizados pelo IBGE
em que o crescimento populacional chega à casa dos 412%, como em Belo Horizonte em
seus anos iniciais, no período posterior à Primeira Guerra Mundial, entre 1900 e 1920; e que
passa dos 360% em São Paulo, entre 1890 e 1900. Como padrão, observa-se forte incremento
Todavia, a população que evade os campos em direção aos centros urbanos depara-
se com cidades problemáticas. Assim, o crescimento desenfreado das cidades gerou vários
problemas que se fazem presentes nessa crise das cidades brasileiras. No Brasil, dentre
Se não fosse o bastante, as ações do Estado em suas políticas urbanas acabaram agravando
pública brasileira neste início do século XXI. Sobre isso, Edésio Fernandes assinala que
“Hoje, cerca de 40% das cidades brasileiras com menos de 20 mil habitantes têm loteamentos
modelo. Não estamos falando de uma exceção, mas da regra” (FERNANDES, 2006, p. 16).
Nessa mesma vertente, estima-se que, no fim do século passado, no mínimo 20% da
população dos grandes centros urbanos brasileiros viviam em áreas informais (MARICATO,
1999). Concentradas, mas não restritas às áreas mais pobres, as irregularidades na titulação
das moradias nas áreas urbanas podem afetar toda a área de um município. Embora esses
problemas fundiários sejam praticamente invisíveis aos olhos da maioria das pessoas, eles
acionam “uma larga cadeia de efeitos negativos sobre a vida dos cidadãos, suas famílias e a
cidade como um todo” (ÁVILA; FERREIRA, 2016, p. 198). Além disso, do ponto de vista
investimentos, posto que a provisão pública de equipamentos urbanos tenha como condição
Outra face da irregularidade fundiária diz respeito àquilo que Maricato (2003, p. 158)
chama de “ocupação ilegal, pobre e predatória de áreas de proteção ambiental”. Para além
fundamentais de toda a sociedade – como o caso dos mananciais de água. Ainda, problemas
A legalização da posse deve ser entendida como uma das condições mínimas
necessárias para a resolução integral do problema social nos assentamentos
irregulares. A falta de titulação dos imóveis aprofunda o imenso fosso que separa
seus moradores dos direitos inerentes ao titular de um imóvel regularmente
inscrito no Cartório de Registro de Imóveis, como, por exemplo, o acesso às fontes
de financiamento habitacional, pleno exercício do direito sucessório, valorização
da propriedade (D’OTTAVIANO; SILVA, 2009, p. 210).
Toda essa problemática relativa às questões urbanas no Brasil gera fortes demandas
em relação ao setor público. Estes graves problemas que impactam fortemente o bem-estar
1
Conceito trazido pela Lei Federal 11.124/2005, considerado “como direito e vetor de inclusão social”.
dos cidadãos impõem ao Estado brasileiro a necessidade de implantar políticas que os
resolvam.
disciplina que lida com as escolhas políticas voltadas para uma mudança social construtiva
2016, p. 74). O urbanista Flávio Villaça (2010, p. 179) caracteriza-o como a “ação planejada
do Estado sobre o espaço urbano”. Souza (2010, p. 73) o resume como “estratégias de
desenvolvimento urbano, alimentadas por pesquisa social básica, tanto teórica quanto
empírica”. Para Deák (2010, p. 13), esse planejamento seria o “conjunto das ações de
ordenação espacial das atividades urbanas que, não podendo ser realizadas ou sequer
são a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Cidade – prevê condições para o uso de
vários instrumentos. De modo genérico, esses instrumentos podem ser divididos entre os
forma de tributos – como o IPTU progressivo no tempo e o solo criado –, até instrumentos
regularização fundiária. As próximas partes dessa seção versarão sobre a gênese e o conceito
diferentes entes.
A cartilha do Ministério das Cidades que trata sobre a Lei Federal nº 11.977/2009,
afirma que
Morar irregularmente significa estar em condição de insegurança permanente; por
esse motivo, além de um direito social, podemos dizer que a moradia regular é
condição para a realização integral de outros direitos constitucionais, como o
trabalho, o lazer, a educação e a saúde (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013, p.
12).
irregulares à cidade legal, garantindo o direito constitucional à moradia aos seus ocupantes
enfrentamento para a irregularidade dominial – ou, em outras palavras, busca dar segurança
importante nas ocupações de baixa renda, de forma a ampliar o direito à cidade, o exercício
legislativos” e no que tange “à proteção, à confiança das pessoas no pertinente aos atos,
procedimentos e condutas do Estado, nos mais diferentes aspectos de sua atuação” (COUTO
posse em face de despejos. A grande tolerância que o Estado brasileiro tem para com as
ocupações, não é uma garantia contra despejos – que podem ocorrer a qualquer instante para
Essa ideia defendida pelo Ministério das Cidades apresenta grande consonância às
ideais defendidas por Hernando De Soto (2001), Acemoglu e Robinson (2012), dentre
municípios sob a óptica das finanças públicas. Isso ocorreria porque a segurança ao direito
desenvolvimento econômico para provar que “Os direitos de propriedade são cruciais, uma
vez que somente quem os tiver assegurados vai se dispor a investir e aumentar a
produtividade” (ACEMOGLU; ROBINSON, 2012, p. 59). Enfim, sua tese é de que faltam
incentivos para investimentos, que viria a partir da segurança da propriedade provida pelo
Estado.
el capital muerto existe porque hemos olvidado […] que convertir un activo físico
en uno generador de capital, valerse de la casa para obtener dinero en préstamo y
financiar una empresa, por ejemplo, supone un proceso muy complejo. Este
proceso no se diferencia mucho del que Albert Einstein nos enseñó, mediante el
cual un solo ladrillo puede liberar una inmensa cantidad de energía mediante una
explosión atómica. Por analogía, el capital es el resultado de descubrir y
desencadenar la energía potencial de los millones de millones de ladrillos que los
pobres han acumulado en sus edificaciones (DE SOTO, 2001, p. 29).
Na mesma seara, Engerman e Sokoloff (2005, p. 21) afirmam que “Although the
prevalence of land ownership was markedly lower in the South [...] the overall picture is one
of a series of liberal land policies, leading up to the Homestead Act of 1862, providing broad
por conseguinte, à cidade. Isso pode ocorrer a partir da inclusão da área nas rotinas
Cidades afirma que, após a legalização, faz-se mister ao Poder Público prover serviços
básicos – água, esgoto, pavimentação, transporte, educação, dentre outros – sem que isso
seja meramente um “favor” ou moeda de troca de políticos (MINISTÉRIO DAS CIDADES,
noção de cidadania como a conjugação de direitos civis, direitos políticos e diretos sociais,
Seguindo o exemplo das proposições elencadas por Lefebvre (1999), Corrêa (2002),
Caldeira (2000), Maricato (1999; 2013), Jesus et al. (2010) e Brasil e Carneiro (2010), o
de baixa renda.
produtividade (GALLUP; GAVITIA; LORA, 2007). A explicação por trás disso seria a
facilidade trazida por investimentos públicos em infraestrutura urbana sobre a
Para além desses trabalhos já citados, vários estudos empíricos reforçam algumas
de regularização fundiária sobre indicadores de bem-estar social. Para isso, foi utilizado o
na renda domiciliar per capita dos domicílios beneficiados pelo programa. Esses achados
e da renda dos proprietários destes ativos. Além disso, a partir da segurança dos direitos de
Em artigo publicado pelo World Bank, Moura, Bueno e Leoni (2009) mostram que
fundiária e outro, vizinho a este, que não o recebeu –, os autores estimam que a posse do
Por seu turno Dantas (2013) mostra, em sua dissertação de mestrado, que a
de cidadania – nos termos descritos por Marshall (1967) e, depois, Carvalho (2011): a
ponto central para estimular a atividade econômica e o crescimento econômico – posto que
aqueles que não possuam tal segurança não estariam dispostos a investir e aumentar a
sociedade. Por seu turno, De Soto (2001) afirma são necessários mecanismos para destravar
Un paseo por las calles del Oriente Medio, de la antigua Unión Soviética o de
América Latina le mostrará muchas cosas: casas en las que vive la gente; parcelas
de tierra en labranza, siembra o cosecha; mercaderías que se compran y se venden.
En los países en desarrollo y en los que salen del comunismo los activos sirven
sobre todo para estos propósitos físicos inmediatos. En cambio, en Occidente, esos
mismos activos llevan además una vida paralela, como capital externo al mundo
físico. Pueden ser usados para aumentar la producción, atendiendo a los
intereses de otras partes como “garantía” de una hipoteca, por ejemplo, o
asegurando el suministro de otras formas de crédito, así como de servicios
públicos (DE SOTO, 2001, p. 29 – grifo nosso).
Isto ocorreria porque os proprietários poderiam utilizar tais imóveis como garantias
de empréstimos; que é a única garantia possível para as parcelas mais pobres da população,
Mazoni Andrade (2016) aferiu que a arrecadação de IPTU é impactada em R$ 7,01 per
pesquisado arrecadaram pouco mais de R$ 7 por habitante a mais que os demais municípios
bases de dados de pesquisas municipais, como a MUNIC, do IBGE. Por sua vez, a
de não ser um resultado estatisticamente significativo aumenta R$ 2,68 per capita (MAZONI
ANDRADE, 2016).
Conclusões
A pesquisa que gerou este trabalho propôs-se a uma discussão dos impactos das
2
Esse método seleciona, dentre os mais de 5.550 municípios brasileiros, aqueles que têm características
econômicas e demográficas semelhantes, ao ponto de sua única diferença ser o fato de ter recebido ações de
regularização fundiária ou não.
importância do tema – dada a crescente e efervescente busca por melhores respostas do
Estado brasileira frente aos desafios da gestão pública –, sua relevância – posta a lacuna
o impacto que essas políticas públicas possuem sobre a garantia de direitos e as finanças
públicas municipais.
Para tanto, propôs-se uma breve pesquisa bibliográfica sobre temas relacionados à
e a imperiosa necessidade de ação do poder público para saná-la. A partir disso, apresenta-
Por seu turno, Moura, Bueno e Leoni (2009) mostram que a segurança dos direitos de
sentido, Dantas (2013) mostra que a regularidade fundiária urbana possui impacto positivo
beneficiárias de baixa renda. Por fim, com base na obra de Acemoglu e Robinson (2012) e
De Soto (2001), Mazoni Andrade (2016) mostra a regularização fundiária pode impactar
para o seu sucesso e suas especificidades, no que diz respeito à luta pela permanência da
fundiária plena – que vai além do sentido jurídico e da entrega dos títulos de posse, mas
lança um olhar sobre variáveis ambientais e urbanísticas, promovendo sua adequação para,
entendimento dos traços marcantes da política urbana brasileira. Faz-se mister conhecer bem
sua formação e suas características – sejam elas positivas, pensadas como vocações, ou
Referências bibliográficas
DE SOTO, H. El misterio del capital. Finanzas & Desarrollo. Mar. 2001. pp. 28-33.
Disponível em: <https://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/spa/2001/03/pdf/desoto.pdf>
Acesso em 25 maio 2016.
GALLUP, J. L.; GAVIRIA, A.; LORA, E. Geografia é Destino? Lições da América Latina.
Trad. Fernando Santos. São Paulo: Ed. UNESP, 2007. 164 p.
JESUS, C. R.; SANTOS, I. R. T.; NOGUEIRA, M. L. M.; SOARES, R. S. A invisibilidade
do óbvio: política na praça pública. In: XVII Encontro Nacional de Estudos Populacionais.
Anais... 2010. Disponível em:
<http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2010/docs_pdf/tema_3/abep2010_2547.pdf>
Acesso em 25 abr. 2016.
LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do Saber: manual de metodologia da pesquisa
em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
Abstract: The debate about Food Security and Nutrition has become especially popular
since 2000, and was included in the economic and social development agenda. Thus, the
relationship of availability, access and food sufficiency of aspects such as nutrition and
obesity, for example. The paper use the data from Household Budget Survey 2008-2009
(POF/IBGE) and analyzes the relationship between the households characteristics (and the
environment inserted) and the food insecurity, proposing objective measures to it (income
spending with food, obesity and daily intake of calories). The estimation was made from 3
econometrics specifications using a logit model. The estimates show that the household
peculiarities were significant especially by the income analyze, highlighting the geographic
location observed by the macro regions. Furthermore, was not observed correlation between
the determined variables, confirming the multidimensional concept.
INTRODUÇÃO
para o desenvolvimento de uma nação. É o caso, por exemplo, dos Objetivos do Milênio
propostos pela ONU que exprimem como primeiro objetivo erradicar a extrema pobreza e a
fome, reduzindo pela metade a proporção de pessoas famintas (UN, 2000). Mais
objetivo central acabar com a fome no mundo e alcançar um estado de segurança alimentar,
Nesse aspecto, são notórios os avanços para a maioria dos países, especialmente
aqueles em desenvolvimento, como o Brasil. Em relatório que faz um balanço dos Objetivos
do Milênio, a ONU (2015) mostrou que a proporção de pessoas subnutridas nas regiões em
desenvolvimento caiu quase pela metade desde 1990, partindo de 23,3% entre 1990 e 1992,
para 12,9% entre os anos de 2014 e 2016. O Brasil, de forma similar, apresentou uma queda
Alimentar, sendo que entre aqueles considerados em Insegurança Alimentar (IA), grande
parte pertencia à classificação “leve”1 (IBGE, 2014). No mapa do Global Food Security
1
A partir da PNAD é possível encontrar três subclassificações da Insegurança Alimentar: leve,
moderada e grave.
2
Índice desenvolvido pela The Economist Intelligence Unit e analisa 28 indicadores para 113 países
de todo o mundo. Para ler mais sobre o índice, visitar <http://foodsecurityindex.eiu.com/Home/About>.
Apesar disso, à medida que a população altera seus padrões de vida e hábitos
do excesso de peso e obesidade, que são fatores de risco para uma série de doenças como
as bases para uma análise unificada e ao mesmo tempo multidimensional do tema, baseado
na análise objetiva. Este tipo de análise utiliza de medidas determinadas a nível individual,
calórico e nutricional, não partindo, portanto, da percepção pessoal (caso das medidas
subjetivas).
calórico diário inferior ao recomendado. Essa medida busca avaliar a dimensão quantitativa
alimentar. Além disso, famílias que gastam grande parte de suas rendas com alimentação
destinam mais que 70% ou mais da sua renda à alimentação. Por fim, para contemplar o
Esse recorte se justifica dado o quadro de “transição nutricional” em que o país vem
nutrientes e aumento do número de pessoas com sobrepeso (COUTINHO, et. al., 2008;
trabalho tem como objetivo avaliar o papel do ambiente domiciliar nesse processo. Para isso,
são observadas as variáveis relacionadas ao indivíduo (cor, sexo, e educação, por exemplo),
impacto será melhor observado quando combinado com outras características fundamentais,
base de dados e modelo teórico; o segundo discute e apresenta os resultados. Por fim,
primeira e essencialmente pela base de dados. Pode-se destacar, por um lado, a análise
alimentar vivenciada. Na literatura são comuns trabalhos3 que fazem a pesquisa por esta
ótica utilizando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Hoffman
(2008) sugere ser necessário superar a subjetividade (uma vez que a análise é feita da
Por outro lado, tem-se a análise objetiva que utiliza principalmente dos dados de
(POF). Por essa ótica, a questão da segurança alimentar pode ser medida a partir de nível de
dados, objetivos e coletados por meio de visitas a domicílios selecionados, torna-se possível
comércio, etc.).
entorno para o bem estar nutricional da população. De fato, o acesso a serviços públicos de
3
Pode-se aqui citar, por exemplo, Hoffman (2008); Segall-Corrêa e Marin-Leon (2009).
qualidade (e consequentemente do ambiente em que se inserem) é usualmente relacionado
é embasada pela teoria espaço social alimentar de Poulain e Proença (2003). Os autores
buscam discutir a alimentação a partir de uma concepção das ciências sociais, chamada de
Espaço Social Alimentar, que torna-se uma útil ferramenta para estudos da área da
alimentação, de maneira geral. Como exibido pela Figura 1, os autores propõem uma divisão
da teoria em algumas dimensões: a “ordem do comestível” diz respeito àquelas escolhas para
que garantem a ligação entre a produção até o consumo; o “espaço culinário”, é o espaço no
preparação das refeições, até a divisão sexual que perpassa este processo; “o espaço dos
modalidades, por exemplo; e por fim, a “temporalidade alimentar” permite visualizar ciclos
vulnerabilidade econômica pode ser determinante, uma vez que condiciona a alocação e
Alimentar, utilizam-se das medidas de consumo calórico, participação dos gastos com
individuais e variam principalmente de acordo com a idade dos indivíduos, sendo necessário
Zaidi (1994).
Esta escala, atribui valor igual a um para a pessoa de referência do domicílio, 0.5 para cada
(1)
Cada pessoa, dado seu sexo, idade, nível de atividade física, estado fisiológico,
manutenção da saúde e boa nutrição. A fim de simplificação, porém, indica-se que para a
Índice de Massa Corpórea (IMC). O cálculo do Índice é realizado de acordo com o indicado
pela OMS (WHO, 1995; WHO, s.d.), como mostra a Equação 2. Diferentemente da relação
(2)
Smith (2002), reproduzida por outros autores como Costa (2013), em que aqueles domicílios
que destinam mais de 70% da sua renda para gastos com alimentação estão em situação de
Em síntese, os valores limites para cada variável dependente que determina a situação
têm o objetivo de avaliar os fatores que se associam a cada tipo insegurança. Assim, têm-se
Yji=1 caso o i-ésimo domicílio seja considerado inseguro com respeito ao critério j
4
No caso da obesidade, especificamente, são utilizadas informações da pessoa de referência do
domicílio.
Yji=0 caso contrário.
garantindo a eficiência das estimações, dado que é estimado por Máxima Verossimilhança.
Equação 3, onde Yi é a variável dependente (que, neste caso são três) que, por sua vez, está
em função das características dos indivíduos, contidas no vetor I6, dos domicílios (D), e do
ambiente domiciliar (A), todos seguidos de seus respectivos parâmetros, mais o termo
constante.
Alimentar é dada por Pi (Equação 4), onde Z é o mesmo que a função da Equação (3), tem-
1 1
Pi ( 0 I 1 D 2 Ai )
(4)
1 e 1 e Z
evento (Equação 5) que, ao aplicar o logaritmo natural, encontra-se o log de chances (Li),
que é linear tanto nos parâmetros quanto nas variáveis dependentes, apresentado pela
Equação 6.
5
Para maiores especificações do modelo, consultar Greene (2012) ou Wooldrige (2006).
6
Apesar de o trabalho não focar nas características individuais como determinantes para a
insegurança alimentar, os resultados da PNAD e da PNDS mostram que a SAN está diretamente
relacionada à fatores como sexo, raça e renda, por exemplo (IBGE, 2014). Desta forma, omitir tais
variáveis poderia causar um viés no modelo, como apontam Angrist e Pischke, (2008).
Em modelos deste tipo a análise é facilitada se realizada a partir das razões de
chances, já que trata da explicação de uma variável que é qualitativa. Ela expressa a
probabilidade de ocorrência daquele evento de interesse acontecer. Dessa forma, neste caso,
anos de 2008 e 2009, última pesquisa disponível até então. Desta pesquisa, utilizam-se
alimentar. Foram extraídos dados de consumos alimentares por domicílio, bem como as
IBGE (2010a)8.
domicílios chefiados por pessoas menores de 15 anos, e as que não possuem informações
7
Os microdados da POF são disponibilizados a partir de 16 diferentes registros (IBGE,
2008).
8
Aqui, especificamente, utilizou-se a tabela “Energia, macronutrientes e fibra na
composição de alimentos por 100 gramas de parte comestível”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
brasileiros estava no intervalo normal de peso (46.3%) e apenas 2.31% dessas pessoas
parcela significativa das pessoas encontravam-se acima do peso, (36.7%) (situação de pré-
obesidade) e 14.63% eram classificadas como obesas. Neste último grupo, a maioria das
nutricional que passa a população brasileira, onde prevalecem as crescentes taxas de pessoas
acima do peso e obesas, especialmente entre os homens (COUTINHO et. al., 2008).
alimentação. O que se observa é que a correlação entre elas é quase inexistente, o que
cada medida isolada pode trazer. Como esperado, a ingestão insuficiente de calorias por
adulto do domicílio e a obesidade do chefe da família são negativamente correlacionadas,
ao passo que a vulnerabilidade não parece relacionar-se com o fato das famílias estarem
inseguras do ponto de vista calórico, nem mesmo com a situação de obesidade do chefe da
família.
superiores a 1 indicam que aquela variável possui um impacto positivo sobre a variável
dependente que representa a Insegurança Alimentar. Valores menores que 1, por outro lado,
de IA.
de LR com probabilidade menor que 0.000, mostrando, portanto, que todas as variáveis, em
e conseguem prever, pelo menos, 85%9 das observações corretamente (Tabela 5).
A primeira análise pode ser feita a partir das variáveis referentes à pessoa de
maiores chances de estarem em situação de IA, em qualquer uma das medidas, enquanto o
da casa, como de tarefas de cuidado da mesma. Dessa forma, geralmente essas mulheres
precisam assumir diferentes turnos e modalidades de trabalho, fazendo com que o domicílio
pessoa de referência do domicílio sugere melhor habilidade para alocação dos recursos, além
de maiores rendimentos médios. Dessa forma, a postura alimentar, bem como a proporção
da renda gasta com alimentos, tende a ser melhor vista em domicílios onde o (a) chefe é mais
bem instruído.
para explicar a Insegurança Alimenta pela ótica da renda. Por esta, observa-se que domicílios
chefiados por pessoas pretas e pardas têm maiores chances de gastarem mais de 70% de sua
renda com alimentação. Este resultado também é coerente se se observa o perfil destes
domicílios de forma geral, já que são aqueles com menor presença de eletrodomésticos e
acesso a serviços, por exemplo. Além disso, são os (as) negros (as) que recebem, em média,
9
Menor valor de ajustamento encontrado, para o consumo calórico. As demais estimativas
das medidas de ajuste, encontram-se na Tabela 5.
10
Essa é uma ampla e ambígua discussão encontrada principalmente na literatura da
Economia Feminista, a qual o trabalho não pretende avançar. Para mais informações, sugere-se
trabalhos de Delgado (2013), Teixeira (2008) e Villairel (2004), por exemplo.
Quanto à renda domiciliar per capita, essa apresentou-se “neutra” para determinação
da IA a partir das variáveis selecionadas, além de não ter sido significativa a variável
são melhores analisados quando posto pela variável dependente (como dado pela terceira
aproximam-se do que também observaram Costa et. al. (2014) e Salles-Costa (2008).
Partindo para a análise das características do domicílio em si, da mesma forma que
variáveis foram significativas para explicar o evento apenas a partir da análise da renda. O
que se observou é que a presença de possíveis fatores negativos para um ambiente adequado,
esperado.
forma robusta, que o fato de situar-se em região com poluição eleva a propensão de se
encontrar em situação de IA. Além disso, destaca-se a relação dos gastos com o ambiente
violento e presença de lixão, onde ambas mostraram-se relação positiva com a situação de
Insegurança Alimentar.
significativa de sua renda com a alimentação. Entretanto, são nestes domicílios que as
Ou seja, são mais vulneráveis analisando pela renda, mas menos vulneráveis em relação ao
tipo de consumo alimentar. Este resultado está coerente com o observado por Sampaio et.
al. (2006), que mostraram que produtores e moradores de áreas rurais percebiam a Segurança
nordeste são mais propensos a terem seus gastos majoritariamente destinados à alimentação,
estando, portanto, vulneráveis por esta ótica; a análise para as regiões sudeste e sul são
contrárias. Por outro lado, analisando pelas variáveis relacionadas à obesidade e ingestão
calóricas, há uma relação negativa entre essas regiões e IA. Este resultado se justifica dada
a heterogeneidade observada nas diferentes regiões do país, que podem sobressair em relação
a aspectos locais.
CONCLUSÕES
fenômeno, buscou-se avaliar três dimensões que podem ter características distintas e
definida como a situação na qual a família gasta parte substancial (70% ou mais) de sua
renda com alimentação. Com essas definições, objetivou-se avaliar os fatores associados a
cada caso com vistas a destacar possíveis aspectos comuns ou importantes disparidades
interno e externo e das características pessoais e das famílias brasileiras para a maior ou
inclusive, de questões que estão comumente ligadas ao campo, como é o caso da Insegurança
Alimentar.
moradores por cômodo e a moradia na zona rural, mostram-se em geral, as mais relevantes.
como estarem perto de áreas degradantes como o lixão ou esgoto, por exemplo. Uma vez
que a relação “acesso, disponibilidade e suficiência” – que são sugeridas por variáveis
sustentar melhor as relações existentes nos casos de insegurança alimentar. Além disso, urge
a necessidade para determinação objetiva que seja consistente e consiga abarcar as diferentes
variáveis que possam impactar a situação de IA, seja a nível macro ou microeconômico.
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WOOLDRIDGE, J. M. Introdução à Econometria: uma abordagem moderna. São Paulo:
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Apêndice
Tabela 1A - DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS DO MODELO11.
Densidade
Moradores Identifica a proporção de moradores por cômodos no domicílio.
Renda domiciliar
per capita. Indica a renda monetária per capta por domicílio.
11
Descrição de acordo com a Descrição dos Registros da POF 2008-2009.
Identifica se o domicílio está localizado em ou próximo a encosta ou área sujeita a
Encosta
deslizamento. Categorias: (0) Não (1) Sim.
Identifica se o domicílio está localizado em zona rural. Categorias: (0) Não (1)
Zona Rural
Sim.
Identifica se o domicílio está localizado na região Norte. Categorias: (0) Não (1)
Região Norte
Sim.
Identifica se o domicílio está localizado na região Sudeste. Categorias: (0) Não (1)
Região Sudeste
Sim.
Região Sul Identifica se o domicílio está localizado na região Sul. Categorias: (0) Não (1) Sim.
TRAJETÓRIA DA POLÍTICA URBANA E DESAFIOS AO
DESENVOLVIMENTO NO BRASIL
rafaelmazoni13@gmail.com
Universidade Fumec
germanacamposarq@gmail.com
claudio.burian@fjp.mg.gov.br
Resumo
planejamento urbano no Brasil entre 1889 e 2016. Para tanto, esse ínterim da história do
Brasil será dividido em seis períodos: (i) República Velha (1889-1930); (ii) Era Vargas
(1930-1945); (iii) Quarta República (1946-1964); (iv) Regime Militar (1964-1985); (v)
Introdução
reflexo de conflitos. Como disse Faoro (2001), as urbes surgiriam sob a égide do
pelourinho – e o instrumento de tortura lembraria a todos que havia um poder, e que ele
espaço deu-se na forma de um processo rápido, intenso e predatório (Brasil & Carneiro,
vida (Maricato, 2003). Isso amplificou problemas como poluição ambiental, carências
Diante desses problemas recorrentes e que são grandes desafios impostos à gestão
pública brasileira neste início do século XXI, exigem-se do Estado grandes intervenções.
Metodologia
Diante disso, este trabalho propõe-se a uma exploração bibliográfica para compreender
1930. Nessa época, o planejamento urbano no Brasil era voltado para o embelezamento e
para melhorias voltados para áreas nobres das cidades (Brasil & Carneiro, 2009;
Maricato, 2003).
varíola. Como afirmam Brasil e Carneiro (2009), essas ações mostravam-se alijadas de
(Bonduki, 1994).
cidades no Brasil à época ficou marcada, como observa-se no Rio de Janeiro, pela
construção dos chamados Parques Proletários, que seriam residência temporária aos
trabalhadores retirados das favelas da cidade (Gomes, 2009); e em Nova Lima, pelos
bonserás – residências pequenas, com apenas uma janela na frente, que se espalham no
2009). Dentre as ações relacionadas a esse último setor, além das iniciativas de provisão
Quando Vargas deixa o cargo de presidente, suas iniciativas no setor de habitação – que
interesses dos empresários. Para aqueles que não podiam acessar o mercado imobiliário,
1986).
marcante das iniciativas de planejamento urbano foi, conforme discute Cardoso (1999), a
promovida pelo regime militar no governo central. Ou seja, nesse cenário era impossível
1964. Isso se daria porque o modelo era considerado pelos burocratas do regime como
Fagnani (1997) afirma que houve limitado caráter redistributivo da política de habitação
nessa fase, somado a uma grande privatização – vista a importância dos representantes
dos interesses da indústria, da construção civil e do sistema financeiro na formulação e
A partir da década de 1970, algumas iniciativas podem ser lidas, como afirmam
Brasil e Carneiro (2009, p. 17), “como ensaios na direção de uma política urbana de
“esvaziados de poder efetivo, tais órgãos não lograram assumir o papel de coordenação
das políticas urbanas federais, pensado para eles” (Brasil & Carneiro, 2009, p. 17).
conhecido como “milagre econômico”, em consonância àquilo que dizem vários dos
pensadores do espaço urbano brasileiro, Brasil e Carneiro (2009, p. 17) destacam que “o
2008): “Os anos 1980 marcam-se pela crise fiscal do Estado e assistem ao esvaziamento
moradia popular fossem separados daqueles que eram voltados a estratos de maior renda.
O BNH seria, então, desmembrado, havendo estruturas específicas para gestão e
Depois disso, em novembro de 1986, o BNH foi extinto. Há, a partir disso, o que
(Fagnani, 1997, p. 222). Nesse mesmo período, observa-se o que Arretche (1996, apud
atuação e do papel da sociedade civil, a construir e definir agendas e marcos das políticas
sociais (Brasil & Carneiro, 2009, p. 20): “No âmbito mais geral, cabe sublinhar a
relações entre Estado e sociedade”. Nesse contexto, emendas populares poderiam ser
sua atuação, conseguiu o apoio de cento e trinta mil eleitores a mais que o necessário
daquela emenda relacionada à reforma urbana; os artigos 182 e 183. A avaliação que
Souza (2010) faz acerca do texto constitucional aponta para a diluição e as modificações
2010).
A despeito dos avanços trazidos pela Constituição de 1988 – sintetizados na
Fernando Collor foi marcado por grande embate entre os poderes Executivo e
Legislativo (Fagnani, 1997). Isso justifica a demora na aprovação dos textos de várias
leis complementares, incluindo aquela que viria a ser chamada, anos mais tarde, de
Além disso, no governo Collor, a área de habitação foi caracterizada por uma forte
Federal. Os recursos eram concedidos aos municípios de maneira pulverizada, com base
(Castro & Cardoso JR, 2005). Ainda, no segundo mandato de Cardoso foi, enfim,
(Maricato, 2003).
Atualidade (2003-2016)
de expertises, que aponta para uma expressiva inclusão da sociedade civil em sintonia
com as plataformas de reforma urbana” (Brasil & Carneiro, 2009, p. 27). Além disso,
durante o último mandato desse presidente foi promulgada a Lei Federal nº 11.977, de
2009, que institui o programa “Minha Casa, Minha Vida” (MCMV) e que lança bases
Brasil e Carneiro (2009, p. 26) avaliam que “podem-se sinalizar inflexões na atuação do
poder executivo federal a partir do governo Lula”. Para eles, o mandato de Lula
caracterizou-se por uma redefinição do papel do Estado, “mais atuante no campo das
públicos, com discussões acerca de uma possível reformulação – que mudaria, além do
Conclusões
governo.
Nesse sentido, a exploração trazida por esse trabalho pode apresentar grandes
Bibliografia
Felippe Clemente1
Viviani Silva Lírio2
Fabiano Luiz Alves Barros3
Resumo:
Por meio de séries temporais acerca da carga tributária e da evasão fiscal para o período
1947-1 a 2015-4, investigou-se empiricamente e a longo prazo as características da
evasão fiscal e da relação com a carga tributária no Brasil. Três questões até então
inexploradas são abordadas. Em primeiro lugar, utilizou-se o conceito de carga
tributária efetiva ao invés da carga tributária comumentemente calculada. Em segundo
lugar, explorou-se técnicas de cointegração para quantificar a elasticidade entre evasão
fiscal e a taxa média de imposto no Brasil. Em seguida, comentou-se sobre a complexa
interação dinâmica entre a carga fiscal e a evasão fiscal para averiguar se há evidências
de qualquer ''ciclo vicioso'' entre eles.
Abstract:
Through time series about the tax burden and tax evasion for the period 1947-1 to 2015-
4, he investigated empirically and long-term characteristics of tax evasion and the
relationship with the tax burden in Brazil. Three issues hitherto unexplored are
addressed. Firstly, it used the concept of effective taxes rather than commonly
calculated taxes. Second, it was explored cointegration techniques to quantify the
elasticity of tax evasion and the average tax rate in Brazil. Then commented to the
complex dynamic interaction between the tax burden and tax evasion to ascertain
whether there is evidence of any ''vicious cycle'' between them.
1
Pós doutorando em economia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail:
felippe.clemente@ufv.br;
2
Professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: vslirio@ufv.br;
3
Doutorando em economia aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail:
Fabiano.luiz@ufv.br;
1. Introdução
uma prática comum na maioria dos países, e em particular o Brasil onde a última
et al, 2014).
pouco tem-se investigado a cerca das características de longo prazo. Nesse trabalho,
explora-se as séries temporais carga tributária e evasão fiscal no Brasil desde 1947 até
importante não porque é um período suficientemente longo, mas também porque indica
longo prazo da carga tributária e da evasão fiscal para a Itália, focou-se na investigação
longo-prazo da evasão fiscal para e carga tributária e vice versa. Além disso, por meio
não existência de qualquer ciclo vicioso entre alíquotas de impostos e evasão fiscal.
uma breve revisão de literatura a cerca das causas de evasão. A seção 3 enfatiza as
evidências empíricas sobre a relação entre carga tributária e evasão fiscal no Brasil. A
trabalho.
aversão ao risco e das penalidades aos agentes sonegadores. A partir desse modelo,
valores para os parâmetros e para as aversões ao risco e evidenciaram que pode ser uma
escolha racional para o agente sonegar mais que ele aparenta fazer (Slemrod e Yitzhaki,
com a teoria.
entre elas. De acordo com Feld e Frey (2007), cumprimento fiscal é influenciado por
uma espécie de contrato fiscal psicológico que implica em direitos e obrigações para os
Contribuintes são mais honestos ao pagar impostos se eles obtêm serviços públicos de
qualidade. O relacionamento entre contribuintes e o fisco também é levado em conta
invés de subordinados dentro de uma escala hierárquica, eles cumprem suas obrigações
on Household Income and Wealth in Italy” e mostraram que a maior parte dos
entrevistados (46%) alegaram cometer algum tipo de sonegação devido às altas cargas
tributárias. Outras razões para o não cumprimento das obrigações fiscais foram: o uso
indevido das receitas pelo governo (45%), custo excessivo na fiscalização (25%) e a
Poucos trabalhos vão à direção de que aumentos dos impostos levam a quedas na
sonegação fiscal. Em particular, Yitzaki (1974) mostra que aumentos na carga tributária
montante evadido.
Por meio dessa breve literatura, percebe-se que os esforços dos pesquisadores
fiscal, bem como entender o impacto que elas geram entre elas.
produtivos. Mesmo após a criminalização da evasão fiscal nos anos 1980, o problema
alguns outros países. Para o Brasil, o autor evidencia uma sonegação fiscal de 40% do
Produto Interno Bruto (PIB). Para outros países, como Rússia, Chile e Estados Unidos,
Clemente et al (2014) analisa uma das relações entre a carga tributária e evasão
fiscal no Brasil e aponta problemas que uma variável pode causar na outra. A primeira
evidência dos autores é acerca do crescimento econômico do Brasil nos últimos dez
anos. O PIB brasileiro tem crescido há uma média de 2,5% ao ano, sendo que em 2013
atingiu um valor de R$ 4,840 trilhões. Esse alto crescimento econômico do Brasil fez
com que o país saltasse da 15ª para a 7ª maior economia do mundo, de acordo com o
vem o aumento da coleta de tributos, que em 2013 foi de 36,42% do PIB (R$ 1,139
relação aos países com maiores cargas tributárias (CTB4) no mundo. Em 2012, o
fica com 70,0% do total da arrecadação, enquanto os estados ficam com 24,4% e os
4
Definição de CTB para a Receita Federal: cálculo da Carga Tributária busca-se aferir o fluxo de
recursos financeiros direcionado da sociedade para o Estado que apresente características econômicas de
tributo, independente de sua denominação ou natureza jurídica. Em geral, consideram-se no cálculo da
CTB os pagamentos compulsórios realizados por pessoas físicas e/ou jurídicas, inclusive as de direito
público, para o Estado, excluindo-se aqueles que configurem sanção, penalidade ou outros acréscimos
legais.
o qual é proporcional ao nível de rendimento do contribuinte. As empresas, além de
pagar o imposto sobre a sua renda (IRPJ) também pagam diversos outros tributos como
etc. Além dos impostos, as empresas pagam diversas contribuições sociais como a
Federal, esses tributos somaram mais de R$ 440 milhões em receitas para o governo no
anterior.
Haja vista que a coleta de tributos tem como principal objetivo a manutenção e
ampliação do bem-estar social são esperadas que países com altas cargas tributárias (em
Latina, que também possuem cargas tributárias elevadas. De acordo com dados das
Organizações para as Nações Unidas (ONU), em 2014 o IDH brasileiro foi de 0,718.
Países como Argentina e México, que possuem cargas tributárias mais baixas que a do
Brasil (na ordem de 29% e 11% respectivamente), têm IDH mais elevado (0,797 e 0,77,
respectivamente).
em 2013 atingiu 10%, resultando em perdas de mais de R$ 415 bilhões aos cofres
públicos. Uma pesquisa realizada em 1982 junto à Delegacia da Receita Federal em
Brasília mostrou que, das 108 pessoas jurídicas fiscalizadas, 88,9% apresentaram
resultados de evasão, sendo para cada Cr$ 1,00 de imposto declarado, havia uma evasão
O que se pode concluir, a princípio, com essa literatura é que a alta carga
evadido por pessoas físicas e jurídicas, o que nos dá suporte para investigar relações
da evasão fiscal e, de forma geral, da economia informal. Ela torna-se então a chave
para entender os aspectos de longo prazo da sonegação fiscal. A partir daí, considerou-
(RFB) entre os anos de 1947 a 2015. O valor disponibilizado está em termos percentuais
utiliza a carga tributária efetiva e diz que as principais vantagens são: i) possibilidade de
ter dados trimestrais; e ii) representar a receita realmente arrecadada pelo governo.
Assim, nesse trabalho, utilizou-se para análise a carga tributária trimestral efetiva
citado.
5
A Carga Tributária Efetiva leva em conta o montante sonegado. Assim tem-se ,
onde é a Carga Tributária Efetiva.
6
A partir desse ponto, toda vez que se referir a carga tributária, deve-se entender carga tributária efetiva.
0,5
0,45
0,4
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
1965
1995
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1998
2001
2004
2007
2010
2013
Figura 1 – Evolução da Carga Tributária Efetiva no Brasil – 1947-2015
Fonte: Elaborado pelos autores com dados da RFB
sonegação fiscal utilizam de proxys para mensurar a evasão corrente. De acordo com
proxy para evasão é o cálculo da economia informal dividido pelo PIB do país. Para os
considerou a variável economia informal como percentual do PIB para cada país. Como
resultados, evidenciou que países com grandes economias informais são vistos como
países com altas sub-declarações de rendimentos e altas taxas de evasão. Pode-se assim
estender o valor da economia informal calculada como sendo a evasão fiscal de um país.
economia informal para o Brasil no período de 1947 a 2015, a saber: Barbosa Filho
0,16
0,14
0,12
0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
0
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
2010
2013
Figura 2 – Evolução da Evasão Fiscal Trimestral no Brasil (%PIB) – 1947-2015
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Barbosa Filho (2012), Schneider et al
(2010), Arvate et al (2009) e Schneider e Enste (2000)
impostos nas últimas décadas e alta volatilidade da base tributária. Isso sugere, a uma
A segunda questão, que ainda não está clara, é quão perversa é a interação entre
Aqui objetiva-se investigar essa interação entre evasão fiscal e carga tributária
∑ (1)
onde ∑ ∑
vetor de inovação. Sabe-se que se o coeficiente da matriz tem um grau reduzido (r <
o vetor de cointegração.
É possível observar que as séries desse estudo são caracterizadas por tendências
8
Pelo teste Dicker-Fuller Aumentado (ADF) constata-se que as séries, em nível, são não-estacionárias,
passando a ter raiz unitária, e portanto, serem estacionárias, quando efetuamos a primeira diferença.
9
Ver Johansen (1995).
Considerando VATE a evasão fiscal e τ a carga tributária, têm-se as seguintes
(2)
(3)
satisfatórias. O resíduo do modelo VEC estimado mostra que a hipótese nula de não
carga tributária (0,494) e da carga tributária para a evasão fiscal (1,858). Esses valores
indicam que há uma alta velocidade de ajuste quando ocorre um distúrbio nas relações
seus coeficientes não podem ser interpretados como elasticidades usuais, na medida em
que outras relações dinâmicas são ignoradas. As análises requerem que as dinâmicas de
análises impulso resposta, que levam em conta o sistema completo, pode proporcionar
que sinaliza que a evasão fiscal e/ou a carga tributária precisam ser modificadas:
(4)
O desequilíbrio implica que evasão fiscal deve ser reduzida e/ou carga tributária
deve ser aumentada. A equação (2) mostra um valor positivo e pequeno para o
equilíbrio se restabelece, mas de forma lenta. Por outro lado, o coeficiente de ajuste da
evasão fiscal é positivo e grande, indicando que, sob desequilíbrio (4), a evasão fiscal
tempo de reação de cada variável impulsionada pela variável que recebe o choque. Na
fiscal (lado esquerdo) e na carga tributária (lado direito). Similarmente, na parte inferior
fiscal e carga tributária causa-Granger cada uma: sonegação fiscal legitima altas cargas
tributárias e esse último empurra para cima a evasão. Segundo, ambas as carga tributária
e evasão fiscal exibem uma resposta persistente para cada outro impulso. A evasão
fiscal reage inicialmente de forma contrária as mudanças na carga tributária, mas, logo
após, passa a ter reações positivas (Figura 3b). A carga tributária, por sua vez, reage
positivamente aos choques iniciais da evasão fiscal, buscando restaurar um equilíbrio no
ausência de ciclo vicioso entre a evasão fiscal e carga tributária. Como as duas variáveis
afetam positivamente a cada uma (no longo prazo), há fortes evidências que elas
assim como choques na evasão fiscal geram, sobre ela própria, quedas iniciais e
positivas em torno de 6% após um ano e seis meses. A resposta da carga tributária para
um choque SD sobre a evasão fiscal é de 4% nos primeiros três trimestres, mas aumenta
relação de longo prazo entre evasão fiscal e carga tributária e é definido no modelo
VAR estimado. Sempre que a carga tributária aumenta (por exemplo, para financiar os
(evitando o aumento dos impostos), mostrado na equação (4), a qual indica o qual
rápido este desequilíbrio será removido. Na realidade, uma definição simples das
variáveis usadas neste estudo nos mostra às relações identificadas e quantificadas por
meio do modelo estatístico. Assim, a carga tributária τ, definida como a razão entre as
receitas com impostos (REC) e o Produto Interno Bruto (PIB), tem-se que ̂ define a
̂ (5)
Sempre que τ aumenta, a análise impulso resposta nos deixa claro que a parcela
aparente nos tributos”: dado o relacionamento de longo prazo entre evasão fiscal e carga
Note que ambas a carga tributária e a evasão fiscal são direcionadas pelas
elasticidades de longo prazo para convergirem para um alto equilíbrio. Isso significa
que tanto a carga tributária quanto a carga tributária efetiva movem-se no tempo, mas o
da variância da carga tributária, observa-se que ela não é imediatamente afetada pela
tributária mostram uma dominância da carga tributária em afetar o seu próprio padrão
tributária passa a explicar 36% das previsões da variância da evasão fiscal, enquanto
que a evasão fiscal passa a explicar apenas 1,19% das previsões da variância da carga
gestão pública.
sonegadores não agem de forma aleatória, mas sim seguem uma estratégia coerente. O
enganar as autoridades fiscais, pela política tributária: eles aprendem e estão dispostos a
5. Conclusão
tributária que inclui complexidade nos sistemas tributários e esforços para uma perfeita
década de 1940.
tributária brasileira no período de 1947 a 2015, bem como cálculo do montante evadido,
levando em consideração a economia informal no Brasil. Os principais resultados da
mais sonegação fiscal. Assim, cada variável, perigosamente, causa Granger na outra.
Além disso, os parâmetros de longo prazo estimados implicam em um lento ajuste para
Sempre que uma nova reforma ou uma nova ferramenta entra no sistema tributário e
confirma que não há um processo subjacente explicando a evasão fiscal no Brasil, que é
brasileira, não há evidências de ciclos viciosos com pressão tributária, uma vez que a
dinâmica de interação entre essas duas variáveis sempre convergem para um equilíbrio
de longo prazo.
6. Referências Bibliográficas
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2010.
RESUMO
O trabalho propõe um modelo teórico do oportunismo polı́tico-econômico à luz
da economia comportamental e simula um modelo computacional embasado em
agentes para analisar os fatores que influenciam o agente polı́tico na decisão
do comportamento oportunista. Assume-se a hipótese de que o oportunismo
polı́tico-econômico é condicionado pela expectativa do agente de que não será
punido e que a percepção do eleitor, acerca do oportunismo polı́tico-econômico,
influencia a decisão do polı́tico. Os resultados apontam que os eleitores conside-
ram mais importante os resultados do governo do que a atitude oportunista do
polı́tico. Por sua vez, salienta-se a baixa eficiência do Estado como incentivo dos
polı́ticos em praticar oportunismo polı́tico-econômico, sendo os benefı́cios de ser
oportunista maiores que os custos.
Palavras-chave: modelos baseados em agentes, ciclos polı́ticos orçamentários, lei de
improbidade administrativa.
ABSTRACT
The paper proposes a theoretical model of political and economic expediency in
the light of behavioral economics and simulates a computer model grounded in
agents to analyze the factors that influence the political agent in the decision
of opportunistic behavior. It is assumed the hypothesis that the political and
economic opportunism is conditioned by the agent’s expectation that will not
be punished and that the perception of voters, about the political and economic
opportunism, influence the decision of the political. The results show that voters
consider most important government results than the opportunistic attitude of
the politician. In turn, it highlights the low efficiency of the state as an incentive
for politicians to practice political and economic opportunism, and the benefits
of being opportunistic higher than the costs.
E-mail: fabiano.luiz@ufv.br.
1 Introdução
Frey (1997), Frey (1998), Frey e Jegen (2001) e Bénabou e Tirole (2007) ana-
lisam a ligação entre comportamento econômico e leis, normas sociais. O principal
conceito desenvolvido por Frey sobre motivação é que pessoas com baixas virtudes
cı́vicas2 são atraı́das para carreiras públicas, por não se sentirem coagidos pelas regras
constitucionais (punições).
1 Rogoff
(1990) desenvolve um modelo econômico em que os eleitores e polı́ticos são racionais e que
o eleitor escolhe o polı́tico ao avaliar sua competência na administração da produção de bens públicos.
Os polı́ticos, por sua vez, causariam distorções no orçamento público em anos eleitorais para gerar
mais bens públicos, como um sinalizador de sua competência.
2 As virtudes cı́vicas são os instrumentos da participação social e polı́tica, a saber: a justiça, a
coragem e a tolerância cı́vica, simplicidade, prudência, senso cı́vico e senso comunitário. Para mais
informações consultar Bignotto (2008).
Considerando a existência de ciclos polı́tico-orçamentários e as condições adver-
sas das regras fiscais como suas mitigadoras, este trabalho propõe um modelo teórico do
oportunismo polı́tico-econômico com a incorporacão das heurı́sticas da economia com-
portamental e simula um modelo computacional embasado em agentes para analisar
os fatores que influenciam o agente polı́tico na decisão do comportamento oportunista.
Assume-se a hipótese de que o oportunismo polı́tico-econômico seja condicionado pela
expectativa do agente de que não será punido. O presente trabalho avança ao propor
um modelo de oportunismo polı́tico-econômico adaptável para a realidade brasileira.
Os resultados poderão ser utilizados para avaliar as atuais leis sobre o tema e também
auxiliar na formulação de polı́ticas de mitigação do oportunismo polı́tico-econômico.
econômico
Pela Teoria dos Ciclos Polı́ticos o agente polı́tico é aquele que pode cometer a
ação oportunista4 . A construção do agente polı́tico considera o modelo racional opor-
tunista de Rogoff (1990), em que o polı́tico escolhe seu comportamento sem considerar
as ideologias do partido ao qual é vinculado5 . A população de polı́ticos é dada por
p ∈ {1, 2, 3, ..., P }. Em cada perı́odo t ∈ {1, 2, 3, ..., T } o polı́tico p pode escolher entre
agente não é homo economicus, sua racionalidade é limitada e sua visão dos custos e
benefı́cios é mı́ope, sendo uma ponderação da sua renda pecuniária, seu salário, (rp,t ),
da sua renda reputacional (mp,t ) e dt 6 , que é o valor pecuniário que o polı́tico pode
ganhar com o oportunismo, subordinado às motivacões intrı́nsecas (vp,t ) e extrı́nsecas,
(γt ). A probabilidade de agir de forma oportunista ap,t é condicionada aos efeitos de
3 A proposta do modelo teórico do oportunismo polı́tico-econômico foi construı́da pela reflexão
acerca dos trabalhos de Rogoff (1990) Frey (1997), Aidt et al. (2011) e Bénabou e Tirole (2007),
Benabou e Tirole (2011).
4 A ação oportunista é quando o polı́tico pratica oportunismo polı́tico-econômico.
5 A Teoria dos Ciclos Polı́ticos é dividida em dois grandes grupos: Modelos Clássicos, que consi-
deram expectativas adaptativas, e Modelos Racionais em que os agentes têm expectativas racionais.
Esses grupos são subdivididos em oportunistas e partidários: nos modelos oportunistas, os polı́ticos
não avaliam as ideologias do seu partido para tomar suas decisões; nos modelos partidários, os polı́ticos
avaliam as ideologias do seu partido para tomar suas decisões.
6 Por definição, o valor pecuniário que o polı́tico pode ganhar com o oportunismo é o valor médio,
vp,t ≤ γt (2)
contrátio ocorre o efeito crowding in, ap,t = 0 e o agente não comete o ato oportunista.
ct−1 ). A intensidade na qual o meio social afeta a motivação intrı́nseca é definida como
um choque aleatório (εi,t ), distribuı́do randomicamente entre [-1,1], com distribuição
pelo agente eleitor). O parâmetro β < 1 é a taxa de importância, desconto, que indica o
peso do oportunismo na reputação, e quanto mais próximo de um, maior a importância
que o polı́tico atribui à reputação de não ser oportunista. O termo βp E(ht ) mede a
yt = E(dt|dt−1) (6)
ct = E(gt|gt−1) (7)
Os custos monetários (gt ) são os valores das multas e restituições que o polı́tico
p pode pagar caso tenha a ação oportunista descoberta e seja julgado culpado. Dado
o processo administrativo do Estado para averiguar as acões do polı́tico, a ação do
polı́tico no perı́odo atual, t, não será julgada em t, de modo que o polı́tico não tem
certeza em t de qual será sua punição caso escolha ser oportunista. Novamente, pela
heurı́stica da disponibilidade, os custos monetários no perı́odo atual serão a expectativa
dos custos em t condicionados aos custos do perı́odo anterior t − 1.
ω t = δt + ξ t (8)
condt
δt = 1 − (9)
tram t tm
tempo médio de tramitação dos processos com penas pecuniárias e morais. E tramt é
o total de processos em tramitação no mesmo perı́odo.
ΣN
αp,t = n=1
φn,p (10)
Nt
O número total de eleitores (Nt ) no perı́odo atual é dado pelo número total de
eleitores no perı́odo anterior (popelet−1 ) mais o número de novos eleitores, dada a taxa
de crescimento anual da população eleitoral (τ ).
O eleitor pode ainda escolher não votar em nenhum polı́tico ao utilizar o voto
como um protesto polı́tico, em que descontente com todos os polı́ticos “disponı́veis”
escolhe não votar ou anular o seu voto. No caso de um polı́tico novo, toda a escolha
do eleitores em relação a este polı́tico é orientada para o futuro, de modo que o eleitor
forma expectativas em relação às promessas deste polı́tico. O modelo não pressupõe
escolha ótima, dado os vieses da escolha comportamental. O modelo teórico baseado
em agentes visa estudar as alterações no comportamento de cada agente, dado suas
interações ao longo do tempo. Deste modo, o agente polı́tico interage diretamente
com o eleitor e com o Estado, suas ações interferem na escolha do eleitor, enquanto a
eficiência do Estado e o apoio do eleitor influenciam sua escolha.
3 Metodologia
Foram realizadas simulações com três polı́ticos (A, B e C), disputando o apoio
dos eleitores. A escolha do número de polı́ticos considera as estatı́sticas das eleições de
2016 para prefeitos no Brasil, disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Foram
registradas 16.568 candidaturas para prefeitos em 5.570 municı́pios, uma média de 2.97
candidatos por munic´ıpio.
(2012). Como proxy do valor médio do ganho com o oportunismo, d, é utilizado o valor
médio dos ressarcimentos efetuados nos processos finalizados nos Tribunais Federais.
polı́tico é condenado à pagar multa de 3 vezes o valor do dano causado (Lei no 8.429/92,
art.12,I). Nas simulações o parâmetro mu é mutiplicado por d para gerar o valor da
multa, de modo que o custo monetário do oportunismo polı́tico-econômico é o valor
dos ressarcimentos (d) devidos mais o valor das multas.
4 Resultados
Nota-se que a alteração da taxa de importância dos polı́ticos não causou mu-
danças significativas no modelo, as mudanças foram em nı́vel, não estruturais. As
Figuras 1 e 2 mostram os benefı́cios e custos do oportunismo polı́tico-econômico. Os in-
centivos monetários de praticar o oportunismo são crescentes, mas com tendência mais
suave de crescimento. Por sua vez, o custo oscila em uma trajetória de crescimento, em
5 Conclusões
Referências
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Resumo:
As publicações da Lei de Responsabilidade Fiscal, da Lei da “Ficha Limpa” e da Lei de Acesso à
Informação, ocorridas no Brasil nos últimos anos, são exemplos de algumas iniciativas que visam
aprimorar a estrutura da governança pública. Paralelamente, tem-se ampliado o debate sobre a
continuidade ou extinção do instituto da reeleição de chefes do poder executivo, o qual foi instaurado
no país em 1997. Neste contexto, o objetivo deste artigo é analisar a relação entre a governança
pública e as reeleições municipais em Minas Gerais, em 2016. Fundamentada no modelo da
reputação, a primeira hipótese da pesquisa admite que a possibilidade de reeleição influencia os
prefeitos a adotarem boas práticas de governança pública. No sentido inverso, baseada na teoria das
expectativas racionais, a segunda hipótese considera que prefeitos que adotam boas práticas de
governança pública tendem a ser premiados pelo eleitorado com a reeleição. Os resultados dos
modelos de regressão multivariada revelam que a possibilidade de reeleição não influencia os
prefeitos a adotarem boas práticas de governança, porém prefeitos que adotam boas práticas de
governança tendem a ser reeleitos. A conclusão é que, aparentemente, as estruturas de governança
pública têm impedido que a reeleição siga uma lógica oportunista. Isso, somado à constatação de que
os eleitores, através do voto, selecionam os candidatos à reeleição que mais adotam boas práticas de
governança pública, reforça os argumentos dos defensores da continuidade do instituto da reeleição.
Palavras chave: Governança pública, Reeleições municipais, Modelo da Reputação, Teoria das
Expectativas Racionais.
Abstract
The publications of the Fiscal Responsibility Law, the "Ficha Limpa" Law and the Access to
Information Law, which have taken place in Brazil in recent years, are examples of some initiatives
aimed at improving the structure of public governance. At the same time, the debate on the continuity
or extinction of the institute for the reelection of heads of executive power, which was established in
the country in 1997, has been expanded. In this context, the objective of this article is to analyze the
relationship between public governance and reelections municipalities in Minas Gerais in 2016.
Based on the reputation model, the first research hypothesis admits that the reelection possibility
influences the mayors to adopt good practices of public governance. On the other hand, based on the
theory of rational expectations, the second hypothesis considers that mayors who adopt good practices
of public governance tend to be rewarded by the electorate with the reelection. The results of
multivariate regression models suggest that the reelection possibility does not influence mayors to
adopt good governance practices, but mayors who adopt good governance practices tend to be
reelected. The conclusion is that, apparently, public governance structures have prevented reelection
from following opportunistic logic. This, coupled with the finding that voters select reelection
candidates who adopt best practices of public governance, through the vote, reinforces the arguments
of the continuity of the reelection institute.
tema relevante por vários motivos. Primeiramente, segundo a Teoria da Agência (JENSEN;
medida em que o último, para maximizar seus próprios benefícios (reeleger-se), pode
contrariar os interesses do primeiro. Assim, para reduzir conflitos, alinhar ações e trazer mais
IFAC, 2014; TCU, 2014; OCDE, 2015). Nesse sentido, no Brasil, destacam-se a Lei de
Responsabilidade Fiscal, publicada em 2000, que tem por objeto aspectos éticos, morais e de
comportamento da liderança; a Lei da “Ficha Limpa”, publicada em 2010, que dispõe sobre as
condições, motivos e situações que tornam um candidato inelegível a cargo público; e a Lei de
Além disso, há que se frisar que a reeleição para chefes do poder executivo no Brasil é
um fenômeno relativamente recente, pois somente foi instituída em 1997. Logo, passados
cinco mandatos de prefeitos, governadores e presidentes após essa mudança, a literatura ainda
carece de compreensão dos reais efeitos da reeleição sobre o comportamento dos gestores
públicos e, por consequência, das práticas de governança de seus governos. Outra justificativa
para o estudo é que a opinião pública, na maioria das vezes, tem debatido sobre a
Neste contexto, o objetivo deste artigo é analisar a relação entre governança pública e
prefeitos a adotarem boas práticas de governança?; e ii) prefeitos que adotam boas práticas de
governança são premiados pelos eleitores com a reeleição? No primeiro caso a hipótese
literatura enfatiza, sobretudo, a relação entre gestão fiscal e reeleição (ARAÚJO JÚNIOR;
governança pública, um conceito mais abrangente que a gestão fiscal (CFA, 2017; TCU,
2014), tem sido ignorada devido à falta de um índice robusto capaz de mensurá-la
(CFA) lançou o Índice de Governança Municipal (IGM), o qual será utilizado neste artigo
como proxy da governança pública. Desse modo, esta pesquisa é inovadora, pois analisa o
pública e também o inverso, isto é, o efeito da adoção de boas práticas de governança pública
principal não dispor de todas as informações para avaliar o desempenho do agente (JENSEN;
não seja livre de contestações (SECCHI, 2009), pode ser entendido como sendo o sistema
governança pública que determina o equilíbrio de poder entre cidadãos e governantes com o
propósito de permitir que o bem comum prevaleça sobre os interesses pessoais (MATIAS-
Princípios da boa governança pública são apontados por entidades como a Australian
(compilance). Porém, para ser coerente com a fonte do conceito de governança pública
adotado neste trabalho, considera-se os princípios sugeridos pelo Banco Mundial, os quais são
OCDE publicam índices de governança, mas isto é feito somente para países. No tocante ao
Brasil, Oliveira e Pisa (2015) propõem um índice de governança pública fundamentado nos
legal e integridade e ética. Com isso, os autores conseguem mensurar a governança dos
estados, Distrito Federal e União, porém reconhecem que a aferição da governança municipal
por meio da Câmara de Gestão Pública, lançou o Índice de Governança Municipal (IGM),
uma métrica da governança pública dos municípios brasileiros, que varia de 0 a 1, sendo
melhor quanto maior. O IGM é calculado a partir da média aritmética simples de índices
relacionados às dimensões Qualidade da Gestão, Gastos e Finanças Públicas, e Desempenho,
no Quadro 2. Em particular, nota-se que essa dimensão agrega ao menos dois princípios da
relação ao porte populacional. Cabe ressaltar que, segundo Calderini (2011), a reeleição de
pública, adiante, com base no modelo da reputação e na teoria das expectativas racionais,
constitucional número 16, de 04 de junho de 1997. Com isso, os chefes do poder executivo
passaram a ter o direito de disputar a reeleição para a mesma função, para um único mandato,
e no exercício do cargo. Desde então, já foram realizadas cinco eleições para presidente da
2017, a Câmara dos Deputados instalou uma comissão especial para analisar uma proposta de
emenda à constituição que acaba com a reeleição para cargos do poder executivo.
utilizar a máquina pública para obter sucesso eleitoral (BRAMBOR; CENVIVA, 2012), ou
seja, a reeleição seguiria uma lógica oportunista, haja vista a suposição de irracionalidade dos
perante os eleitores. Isso porque quando o governante tem possibilidade de se manter no cargo
por mais um mandato, prevalece a percepção de que ele possui mais incentivos para se alinhar
pois isso facilitaria a consecução do objetivo de reeleger-se. Por outro lado, esse
comportamento não seria observado em governantes em segundo mandato, uma vez que a
limitação de apenas uma reeleição tenderia a diminuir a motivação deles em adotar boas
governança pública.
Por outro lado, os defensores da reeleição sustentam que um único mandato limita a
experiência acumulada pelo chefe do executivo. Especialmente, alegam que a reeleição pode
ser uma forma de aperfeiçoar a capacidade decisória dos eleitores, pois permite-lhes punir ou
2012). De acordo com a teoria das expectativas racionais (ROGOFF, 1990), o governante
somente consegue se reeleger se a sua competência (expressa por meio da adoção de boas
práticas de governança, por exemplo) estiver acima de um nível mínimo esperado pelos
H2: prefeitos que adotam boas práticas de governança pública tendem a ser premiados
Nas duas seções seguintes testam-se as hipóteses supracitadas. Com isso, pretende-se
contribuir para a compreensão da relação entre governança pública e reeleições para prefeitos,
uma temática atual, que embora seja de suma importância, ainda é pouco explorada pela
literatura.
Governança Municipal (IGM), referente a 2015, o único disponível, que foi coletado no sítio
reeleger, denominada, poss_reel, que assume o valor 1 caso o prefeito esteja em primeiro
mandato e 0, caso esteja em segundo mandato. Assim, de acordo com o modelo da reputação,
espera-se que sejam observadas melhores práticas de governança pública em governos de
variável força política, que é medida pelo percentual de votos que o prefeito obteve no pleito
anterior, ocorrido em 2012. Espera-se que quanto maior for a força política, maior será o
patrimônio eleitoral do governante e, portanto, menor deverá ser a preocupação dele com a
Partido dos Trabalhadores (PT). Todos os dados das variáveis políticas foram extraídos do
Além disso, o modelo engloba variáveis de controle socioeconômicas (PIB per capita)
governança pública. Os dados destas variáveis foram coletados no sítio do Instituto Brasileiro
A amostra contemplou 525 dos 853 municípios de Minas Gerais, para os quais se
dispunha de dados de todas as variáveis. Devido à falta de simetria e ao peso das caudas da
distribuição das variáveis independentes contínuas (força eleitoral, PIB per capita e
população), foi tomado o logaritmo delas, o que, como pode ser verificado no Apêndice,
solucionou o problema. Desta forma, estimou-se o modelo dado pela equação (1):
IGM i 0 1 poss _ reel i 2 ln força _ eleitoral i 3 PTi
(1)
4 ln PIB per capita i 5 ln pop i i
verificam problemas de autocorrelação dos resíduos, uma vez que a estatística d, de Durbin-
Watson, foi estimada em 2,113. O coeficiente R² ajustado, cotado em 0,501, indica que 50,1%
das variações do IGM podem ser explicadas pelas variáveis independentes. Outros testes
heterocedasticidade.
hipótese da pesquisa. Isso quer dizer que não há diferença entre a governança pública de
obtido por Cavalcante (2016), que concluiu que a expectativa de reeleição não afeta a gestão
fiscal dos municípios. Possivelmente, a evidência encontrada neste trabalho está relacionada
às estruturas de governança recentemente implantadas na Administração Pública,
prefeito, menor é a governança pública. Uma explicação para isso é quando o governante
possui um grande patrimônio eleitoral, o que pode favorecê-lo em uma eventual disputa de
recondução ao cargo, ele tem menos incentivos para adotar boas práticas de governança.
Verifica-se ainda que o alinhamento entre o partido do prefeito e o partido dos chefes do
poder executivo das esferas superiores não influencia a governança pública. Com relação às
REELEIÇÃO?
Nesta seção testa-se a segunda hipótese da pesquisa: prefeitos que adotam boas
práticas de governança tendem a ser premiados pelo eleitorado com a reeleição. Então, a
é representada por uma dummy, que assume o valor 0 quando o prefeito em primeiro mandato
à reeleição e venceu.
Para explicar a reeleição dos prefeitos, a principal variável é a governança pública, que
é representada pelo IGM. Considerando-se a teoria das expectativas racionais, espera-se que
prefeitos cujos governos adotem boas práticas de governança tenham maior probabilidade de
serem reeleitos.
por fazer uma estratificação. O motivo disso foi o impeachment da presidenta Dilma Rousseff,
acontecido em 31 de agosto de 2016, que pode ter impactado nos resultados das eleições
municipais ocorridas em outubro daquele ano. Desse modo, além da variável dummy PT,
adversário dela nas eleições de 2014. Logo, espera-se que, em consequência do impeachment,
Um ponto importante a se frisar que é embora Cavalcante (2016, p. 320) afirme que
“os recursos da campanha eleitoral para prefeito, sem dúvida, constituem um fator crucial para
a compreensão do sucesso dos candidatos”, o modelo proposto pelo autor não considera o
sítio do TSE, dos recursos empregados pelos candidatos a prefeitos nas eleições de 2016,
decidiu-se incluir no modelo a variável gasto. Tal iniciativa torna a pesquisa ainda mais
interessante porque a disputa eleitoral daquele ano foi a primeira em que a lei, além de fixar o
limite máximo de gastos nas campanhas eleitorais, permitiu apenas o financiamento por
pessoas físicas, vedando, portanto, as doações de empresas, permitidas até então (BRASIL,
2015). Diante disso, a variável gasto é a razão entre as despesas contratadas pelo candidato à
A amostra contemplou 248 dos 405 prefeitos de Minas Gerais que se candidataram à
reeleição em 2016. A exclusão dos demais se deu porque os candidatos tiveram candidatura
indeferida com base na Lei da “Ficha Limpa” ou porque algum dos dados das variáveis de
interesse não estava disponível. Como no modelo 1, devido à falta de simetria e ao peso das
caudas da distribuição das variáveis independentes contínuas (força eleitoral, PIB per capita,
população e gasto), foi tomado o logaritmo delas, o que resolveu o problema, conforme pode
ser verificado no Apêndice. Na estimação dos coeficientes do modelo (equação 2), adotou-se
a regressão logit, uma das mais indicadas quando a variável dependente é binária
(WOOLDRIGE, 2006).
estimado prevê corretamente 62,9% da classificação dos prefeitos em reeleito ou não. Outros
heterocedasticidade.
prefeitos, o que confirma a segunda hipótese da pesquisa. Objetivamente, o odds ratio dessa
probabilidade de o prefeito ser reeleito em cerca de seis vezes. Isso é um indício de que,
mesmo havendo assimetria de informações, os eleitores conseguem avaliar os candidatos,
reelegendo aqueles que mais adotam boas práticas de governança. Nesse sentido, é realçada a
Com relação às variáveis políticas, nota-se que a força eleitoral não altera a
probabilidade de reeleição dos prefeitos. Esse resultado contraria as conclusões obtidas por
Calvalcante (2016), que investigou o impacto da margem de vitória no pleito anterior sobre os
resultados das eleições para prefeitos em 2000, 2004, 2008 e 2012. A evidência encontrada
sucesso na eleição seguinte; o que importa são práticas de governança adotadas por ele. Além
disso, conforme esperado, nota-se que prefeitos filiados ao PT têm menor probabilidade de
administrativa. Contudo, divergindo das expectativas, ser filiado ao PMDB ou PSBD não
Tem-se ainda que o PIB per capita não influencia a probabilidade de reeleição dos
prefeitos, resultado que é condizente com conclusão de Silva e Braga (2013), que analisaram
quanto maior a população, menor é chance de reeleição dos prefeitos. Em outras palavras, em
pode ser explicado pelo fato de nestes a concorrência ser menor, pois, em geral, o número de
relação ao limite permitido pela legislação, maior é a probabilidade de reeleição dos prefeitos,
o que reafirma as conclusões de Speck e Cervi (2016) sobre a importância do dinheiro para o
pois podem ter concorrido à reeleição justamente os prefeitos cujos governos adotaram boas
governantes ao cargo. Desse modo, para verificar um possível efeito de viés de seleção, assim
como fizeram Mendes e Rocha (2004), recorreu-se ao modelo de dois estágios proposto por
Heckman (1979). A ideia deste modelo é estimar duas equações conjuntamente, sendo que a
Neste caso, supõe-se que ηi e εi tenham distribuição normal bivariada com média 0 e
variância 1, havendo correlação ρ entre os erros. Caso ρ seja maior que zero, então os mesmos
assim, um viés de seleção. Por outro lado, se ρ for igual a zero, não há viés de seleção, o que
de Minas Gerais que podiam se candidatar à reeleição em 2016. A exclusão dos demais se deu
porque os candidatos tiveram candidatura indeferida com base na Lei da “Ficha Limpa” ou
porque algum dos dados das variáveis de interesse não estava disponível. Como nos casos
anteriores, devido à falta de simetria e ao peso das caudas da distribuição das variáveis
independentes contínuas (força eleitoral, PIB per capita e população), foi tomado o logaritmo
está atrelado ao fato de estruturas de governança como a Lei da “Ficha Limpa” impedir que
agentes públicos que não adotem boas práticas de governança, sobretudo com relação ao
equações estimadas – ρ – não é significativa, ou seja, não há evidências para refutar a hipótese
de que ρ seja nula. Esse resultado confirma que as duas equações estimadas são
independentes, isto é, o que facilita (dificulta) a candidatura não facilita (dificulta) a reeleição.
Por sinal, enquanto somente a força eleitoral é determinante para explicar a candidatura
(Tabela 3), se fosse adotado o modelo de seleção, a reeleição seria determinada somente pelo
reeleições de prefeitos em Minas Gerais, pois não foi identificado viés de seleção. Logo,
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Minas Gerais, o que foi feito a partir de duas hipóteses: a possibilidade de reeleição influencia
A primeira hipótese foi refutada, o que indica que não foram encontradas evidências
de que exista diferença entre a governança em governos de prefeitos que podem se candidatar
à reeleição e naqueles cujos prefeitos não podem fazê-lo devido à restrição imposta pela
legislação em vigor. Isso pode ser um indício de que as recentes estruturas de governança
implementadas na Administração Pública brasileira possam estar sendo eficazes, pois, mesmo
governança similares aos prefeitos em primeiro mandato, os quais, de acordo com o modelo
Já a segunda hipótese foi confirmada, o que indica que prefeitos que adotam boas
práticas de governança tendem a ser reeleitos. Uma possível interpretação desse fato é que,
governante, punindo com a derrota nas urnas aqueles que não praticam boa governança. Isso,
notadamente a legislação, impedem que a reeleição siga uma lógica oportunista e, por outro,
os eleitores, através do voto, selecionam os candidatos à reeleição que mais adotam boas
para generalizar as conclusões aqui encontradas. Além disso, trabalhos futuros poderão
investigar se a adoção de práticas de boa governaça varia entre os mandatos de prefeitos que
foram reeleitos, o que contribuiria para melhor compreender o efeito da reputação. Isso requer
que sejam conhecidos os índices de governança municipal para vários anos. Como esses
estavam disponíveis somente para 2015, não foi possível tratar daquela problemática nesta
pesquisa.
REFERÊNCIAS
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1, 2016.
Tabela 6: Estatísticas descritivas das variáveis contínuas originais do modelo 2 (N2 = 248)
Variável Média Mediana Desvio-padrão Assimetria Curtose
IGM 0,477 0,473 0,064 0,259 -0,117
Força eleitoral 56,10 55,00 12,996 1,322 3,871
PIB per capita 9,881 7,794 7,762 4,802 39,334
População 28222,51 9527,50 75896,466 6,630 48,863
Gasto 0,449 0,411 0,272 1,123 3,242
Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados obtidos nos sítios do CFA, TSE e IBGE
Tabela 7: Estatísticas descritivas das variáveis contínuas originais do modelo 3 (N3 = 417)
Variável Média Mediana Desvio-padrão Assimetria Curtose
IGM 0,478 0,475 0,064 0,193 0,238
Força eleitoral 54,95 54,00 11,181 1,485 5,062
PIB per capita 10,589 7,936 10,803 6,775 70,609
População 26455,27 10517 64395,80 7,165 60,344
Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados obtidos nos sítios do CFA, TSE e IBGE
Tabela 10: Estatísticas descritivas das variáveis contínuas transformadas do modelo 3 (N3 = 424)
Variável Média Mediana Desvio-padrão Assimetria Curtose
ln (Força eleitoral) 3,988 3,983 0,193 0,140 2,835
ln (PIB per capita) 2,142 2,071 0,587 1,054 1,772
ln (População) 9,417 9,261 1,041 0,995 1,190
Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados obtidos nos sítios do TSE e IBGE
Tabela 12: Estatísticas descritivas das variáveis categóricas do modelo 2 (N2 = 248)
Reeleição
Frequência % Frequência acumulada % acumulada
Não reeleito 127 51,2 127 51,2
Reeleito 121 48,8 248 100
Partido
Não filiado ao PT 233 94,0 233 94,0
Filiado ao PT 15 6,0 248 100
Não filiado ao PMDB 191 77,0 191 77,0
Filiado ao PMDB 57 23,0 248 100
Não filiado ao PSDB 211 85,1 211 85,1
Filiado ao PSDB 37 14,9 248 100
Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados obtidos no sítio do TSE
Tabela 13: Estatísticas descritivas das variáveis categóricas do modelo 3 (N3 = 424)
Candidatura à reeleição
Frequência % Frequência acumulada % acumulada
Não candidatou 168 39,6 168 39,6
Candidatou 256 60,4 424 100
Fonte: Elaboração dos autores a partir de dados obtidos no sítio do TSE
Inflação e Volatilidade de Preços Relativos na Economia Brasileira Pós-Plano Real
RESUMO
O objetivo do presente trabalho foi investigar a relação entre inflação e a volatilidade
preços e a presença de rigidez nominal para a economia brasileira após a adoção do Plano
Real (Julho de 1994 a Maio de 2016). Para isto, calculou-se a volatilidade de preços
relativos para as 11 capitais consideradas pelo IPCA, e dividiu-se o período pós-Real até
2016 em três subperíodos de acordo com as especificidades macroeconômicas
identificadas. Os resultados das estimações sugeriram que existe uma relação positiva entre
a variação do nível de preços e a volatilidade de preços relativos da economia brasileira.
Ademais, as estimações mostraram que: i- a intensidade desta relação se reduziu
sistematicamente após o Plano Real; ii- a adoção do sistema de metas de inflação
contribuiu para a redução da volatilidade de preços relativos; e iii- não há evidência de
rigidez nominal para os três subperíodos, mas há evidência para o período todo.
ABSTRACT
The objective of the present study was to investigate the relationship between inflation and
price volatility and the presence of nominal rigidity for the Brazilian economy after the
adoption of the Real Plan (from July 1994 to May 2016). The relative price volatility
thereunto was calculated for the 11 capitals considered by the IPCA, and the post-Real
period until 2016 was divided into three periods according to the identified macroeconomic
specificities. The results of the estimations suggested that there is a positive relation
between the inflation and relative price volatility. In addition, the estimates showed that: i-
intensity of this relation was systematically reduced after the Plan Real; ii- the adoption of
the inflation targeting contributed to the reduction of relative price volatility; iii- there is no
evidence of nominal rigidities in the three sub periods, but there is in the all period.
1
Doutorando em Economia, CEDEPLAR/UFMG. E-mail: hclpereira@cedeplar.ufmg.br
2
Doutorando em Economia, CEDEPLAR/UFMG. E-mail: mcsouza@cedeplar.ufmg.br
1- Introdução
o controle efetivo da mesma é algo relativamente recente que remonta ao Plano Real. Tal
qual o processo inflacionário passa a ser descolado da dinâmica de ajuste entre oferta e
passada em seus preços para defender o respectivo nível de renda real. Paralelamente a esta
literatura (mas com uma estrutura analítica totalmente diferente), os modelos novo-
trabalho, sustenta-se que ambas as literaturas sugerem uma relação teórica positiva entre a
empírica da área.
preços de uma cesta de bens para 11 capitais brasileiras (Goiânia, Brasília, Belém,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto
para a economia brasileira considerando o IPCA como esta média através de metodologias
Não obstante, Balk (1983) ressalta que o nível de agregação do índice de inflação
utilizado pode alterar os resultados obtidos. Tendo isto em mente, o objetivo deste trabalho
foi estimar a relação entre inflação e a volatilidade preços, tal como a possibilidade de
rigidez nominal para a economia brasileira após a adoção do Plano Real (Julho de 1994 a
Maio de 2016) com periodicidade mensal. Para tanto, utilizou-se o IPCA ao seu nível mais
pelo mesmo, para, então, estimar tal relação por três metodologias de painéis
(FGLS), ii- Panel Corrected Standard Error (PCSE) e iii- Painel de Vetores
Argumenta-se que ao utilizar a taxa de inflação mensal nas estimações, supõe-se que
modo, que todos os setores reajustam os seus preços ao mesmo tempo. A história recente
reajustes de preços de tal modo que não houvesse transferência de renda entre os agentes.
literatura utilizando a taxa de inflação acumulada nos últimos 12 meses a partir de Julho de
1994, supondo que este intervalo seria suficiente para todos os setores reajustarem seus
pelas estimações nas seções quatro e cinco. Por fim, têm-se as considerações finais do
trabalho.
A relação entre inflação e volatilidade de preços pode ser explicada por duas
salários como determinantes das flutuações cíclicas do emprego e renda. Neste sentido, a
modo a otimizar a função de utilidade dos agentes. Uma dinâmica de preços bastante usada
nestes modelos é a de Calvo (1983). As firmas escolhem alterar seus preços com a
(1)
Considerando o custo marginal das empresas , o valor natural deste custo e a taxa de
∑ (2)
Quando todas as firmas reajustam seus preços, o parâmetro assume valor igual a
zero e, logo, desvios do preço são iguais aos do custo marginal e, portanto, os agentes
escolhem os preços de acordo com o custo marginal esperado. Neste caso, a volatilidade de
preços relativos é nula por que os preços relativos se encontrarão inalterados. Todavia, se
apenas uma parcela das firmas reajustar seus preços (o parâmetro é diferente de zero), os
preços aumentam à medida que o custo marginal esperado pelas firmas seja maior,
afetando a volatilidade. Nota-se, então, que existe uma relação positiva entre a inflação e a
Por outro lado, na teoria inercialista, a inflação é um fenômeno real pautado pelo
Nesta literatura, os trabalhos seminais são de Arida e Lara-Resende (1985) e Lopes (1985).
seus preços para defender a respectiva renda real. Isto significa a reprodução das taxas
reajuste fixo (alugueis e salários, por exemplo) é menor que a velocidade de ajustamento
dos setores com reajuste automático (Lopes, 1985). Ou seja, a estrutura de preços relativos
encontram no valor de pico enquanto outros estão no vale. Este diferencial de velocidade e
defasagem dos preços relativos provoca uma transferência de renda real entre os agentes
A inflação deve ser entendida em razão dos picos da renda, da periodicidade dos
reajustes, e pela defasagem dos preços relativos da economia. Por conseguinte, quanto
maior a pressão social dos agentes econômicos pela elevação dos picos de renda real e pela
redução da periodicidade do reajuste da renda nominal, maior será a taxa de variação dos
nível da renda real dos agentes e na determinação da volatilidade dos preços relativos; i- o
nível dos preços, menor a memória inflacionária do sistema econômico, o que realimenta a
real. Quanto maior a taxa de variação dos preços, os preços relativos se tornam mais
voláteis por que os agentes defendem a respectiva renda real através dos reajustes de seus
preços.
uma relação positiva entre a taxa de inflação com a variabilidade dos preços relativos,
como Parks (1978), Fischer(1981), Parsley (1996) e Choi (2010) para os Estados Unidos,
Balk (1983) para a Holanda, Hoomissen (1988) para Israel e Tommasi (1992) para a
Argentina. Alguns trabalhos tentaram estimar a relação entre a volatilidade dos preços
relativos com a taxa de inflação para a economia brasileira. Moura da Silva e Kadota
(1982) indicaram uma relação positiva entre a taxa de inflação e a volatilidade dos preços
relativos entre 1972 e 1980. Resende e Grandi (1992) testaram a causalidade de Granger
para estas duas variáveis para o período dos anos 1976-1985, não apresentando resultados
dos preços relativos estaria relacionada positivamente com a taxa de inflação da economia
indexação presente à época infringiu uma dinâmica própria à volatilidade dos preços
independente da taxa de inflação. Gomes (2007) estudou a relação entre o IPCA (e suas
causalidade de Granger e funções resposta impulso a partir do Plano Real em 1994 e 2006.
Nenhum dos trabalhos citados buscou uma análise desagregada dos indicadores de
preço em relação aos municípios base para a média do cálculo do IPCA. Argumentamos
que uma estrutura econométrica de dados em painel podem proporcionar resultados mais
3- A Metodologia Econométrica
que as estimações por MQO sejam inconsistentes e ineficientes, principalmente para dados
equação (3) pode ser estimada por Mínimos Quadrados Generalizados (MQG) caso a
matriz de covariância dos erros Ω seja conhecida. O MQG atua através da transformação
{ } (4)
A matriz de covariância é:
( { }) (5)
Mas como na prática a matriz de covariância não é conhecida, o FGLS utiliza uma
FGLS para painéis (TSCS). A transformação FGLS atua em duas etapas. Primeiro, corrige
(1967) assume que o termo de erro segue um AR (1) para corrigir a correlação serial.
(6)
variância dos erros pelo fato de que a equação (3) é estimada apenas com base em T
observações. Partindo desta crítica ao modelo FGLS, Beck e Katz (1995) sugerem o Panel
Corrected Standard Error (PCSE) como uma alternativa. Beck e Katz (1995) indicam que,
se os erros são esféricos, os erros padrão da estimação OLS estão corretos. Mas se os erros
são caracterizados por uma estrutura de dados longitudinais, a fórmula original está
heterocedásticos, Beck e Katz (1995) mostram que os elementos da matriz podem ser
covariância dos termos de erro (Canova e Cicarelli, 2013). No escopo do presente trabalho,
o PVAR foi estimado conforme Abrigo e Love (2016), com a seguinte estrutura de efeito
fixo:
(8)
estimador GMM é:
onde ̂ é uma matriz de pesos de ordem (LxL) não singular, sendo a matriz que aumenta a
(IPCA) acumulada nos últimos 12 meses. A periodicidade mensal dos dados respeita o
intervalo entre Julho de 1994 e Maio de 2016. Neste trabalho, utilizaremos a ideia que a
economia como um todo (Debelle e Lamont, 1997). A fórmula para o cálculo do rpv é
√ ∑ (10)
onde b é o número de itens considerados pelo cálculo do IPCA, wt,n,i é peso do item no
cálculo (fornecido pelo IBGE), é a inflação acumulada nos últimos 12 meses do setor
município n.
Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre) e os nove
descritivas para o IPCA e a volatilidade dos preços relativos da economia brasileira são
apresentadas no Apêndice I (Tabela 01). Observou-se que, entre Julho de 1994 e Maio de
2016, tanto a volatilidade de preços relativos quanto a taxa de inflação seguiram uma
municípios brasileiros entre Julho de 1994 e Maio de 2016. É possível perceber três
inflacionária da economia brasileira de tal modo que a inércia, ou a reprodução das taxas
agentes de alterar os respectivos preços relativos para defender a consequente renda real na
taxa de inflação.
com forte elevação no período da eleição de 2002 por conta do “efeito Lula” e a
Governo como reação à crise de 2008 provocou uma aceleração da taxa de inflação e da
iii- Janeiro de 2009-Maio de 2016: entre altos e baixos, a taxa de inflação acumulada
dos 12 meses se estabilizou em torno de uma média após a crise de 2008. Contudo, dois
relação entre o comportamento dos preços relativos à dinâmica da taxa de inflação, tal
regressor. Não obstante, utilizar a taxa de inflação acumulada dos últimos 12 meses possui
duas implicações: i - A magnitude da variação de preços será sempre positiva (Gráfico 01),
portanto, não faz sentido especificar o modelo em valores absolutos; ii- A defasagem da
(tanto no cálculo da volatilidade de preços como para inflação acumulda). Com isto, a
(11)
adicionando uma dummy no modelo a ser estimado. A não rigidez nominal (flexibilidade)
taxa de inflação aumentam a volatilidade, mas reduções na taxa de inflação não tem
redução do nível da inflação (IPCA) sob a volatilidade dos preços relativos na equação
conforme a metodologia empregada por Parks (1978): 0 para valores positivos e 1 para
4
Os testes de raiz unitária para painéis (ver Apêndice) indicaram que as variáveis IPCA e rpv são
estacionárias em nível, ou seja, ambas são I(0). Assim, as regressões foram estimadas com as variáveis em
nível. Os dados foram dessazonalizados via ARIMAX-13.
rigidez nominal. Jaramillo (1999) sugeriu incorporar esta dummy multiplicando-a pelo
(12)
A estimação do modelo de PVAR foi feita nos moldes da equação (11). Por fim,
econométricas para 4 períodos: i- Julho de 1994 à Maio de 2016, ii- Julho de 1994 à Julho
de 1999 (pós-Plano Real), iii- Agosto de 1999 à Dezembro de 2008 (adesão ao regime de
metas de inflação à crise de 2008), iv- Janeiro de 2009 à Maio de 2016. Os resultados são
apresentados a seguir.
As estimações da equação (11) são apresentadas no Apêndice III (Tabela 02). Tanto
o modelo FGLS quanto o PCSE sugerem uma relação positiva entre a taxa de inflação e a
relação entre volatilidade de preços e inflação não foi constante ao longo do tempo. No
aos outros (FGLS: 1,49 e PCSE: 1,67), enquanto que entre 1999-2008 foi o menor (FGLS:
0,69 e PCSE: 0,66), mas entre 2009-2016 voltou a se elevar (FGLS: 0,70 e PCSE: 0,97).
5
Cabe notar que, como a inflação acumulada nos últimos 12 meses é sempre positiva, a dummy foi
adicionada na situação em que o IPCA acumulado diminuiu - o que equivale a pensar que a taxa de inflação
mensal se reduziu. Considerando os 11 municípios, para cada período tem-se respectivamente os seguintes
episódios de redução do IPCA acumulado: i- Julho 1994 – Julho 1999 (366); ii- Agosto 1999- Dezembro
2008 (621); e iii- Janeiro 2009- Maio 2016 (464).
As estimações da equação (12) com a dummy , presente no
Apêndice III (Tabela 03) indicaram a mesma dinâmica para o coeficiente α: valor
relativamente mais alto entre 1994 e 1999 (FGLS: 1,52 e PCSE: 1,72), entre 1999 e 2008
se reduz para o valor mais baixo (FGLS: 0,74 e PCSE: 0,68), mas que aumenta entre 2009
Não existe uma convergência de resultados comuns em relação ao modelo (12) com
a dummy nas estimações por FGLS e PCSE. As estimações feitas por FGLS indicam
períodos entre 1994 e 1999 e entre 2009 e 2016, mas que é significante entre 1999 e 2008.
significativa para nenhum dos 3 períodos específicos, mas que é significativa para toda a
extensão temporal entre 1994 e 2016. Isto era esperado uma vez que a própria fórmula da
variância incorpora esta dimensão ao sugerir que quanto maior T, menor é a variância.
A análise anterior, baseada nos estimadores FGLS e PCSE, fornece bons insights a
possíveis choques nessas variáveis através da abordagem PVAR e pelo teste de causalidade
Auto Regressivo: MBIC, MAIC e MQIC. Foram utilizadas as respectivas defasagens nas
estimações para cada período: 1994-2016 (2), 1994m6-1999m7 (2), 1999m8-2008m12 (3)
horizonte temporal de 10 meses dos modelos PVAR estimados. Para o período inteiro entre
o Plano Real em 1994 e 2016 (primeiro quadrante da esquerda da Figura 01), um choque
do sistema (como esperado de acordo com a literatura), que se estabiliza na média a partir
IPCA até o terceiro mês, a partir do qual converge à média. Entretanto, ao separar este
períodos em questão. Não obstante, a intensidade do choque diferiu entre os mesmos. Após
o que reflete o êxito do Plano Real em controlar a inflação. Todavia, isto se modifica a
partir da adoção do regime de metas de inflação por que tal relação se tornou positiva,
IPCA na variância do erro de previsão da volatilidade de preços até o décimo mês, por
período analisado, é de: 38% (1994 a 2016), 60% (Junho de 1994 a Julho de 1999), 0,04%
inflação, temos 0,01% (1994 a 2016), 0,07% (Junho de 1994 a Julho de 1999), 0,31%
(Agosto de 1999 a Dezembro de 2008) e 0,13% (Janeiro de 2009 a Maio de 2016). Nota-
se, portanto, que a decomposição da variância do erro de previsão mudou ao longo dos
períodos analisados.
6- Considerações Finais
O cálculo do IPCA nacional pelo IBGE é uma média ponderada da evolução de uma
cesta de bens para 11 capitais brasileiras (Goiânia, Brasília, Belém, Fortaleza, Recife,
Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre). Diversos
volatilidade de preços entre o período imediato pós Plano Real em Agosto de 1994 à Maio
de 2016 para a economia brasileira. Este trabalho utilizou o IPCA de cada município no
utiliza o IPCA como uma média desta variável para os municípios brasileiros.
crescimento do nível de preços. Tendo em mente o êxito do Plano Real em fazê-lo e que a
contribuir com a literatura incorporando estes elementos por meio do IPCA acumulado nos
últimos doze meses a partir de Julho de 1994 (imediatamente após o Plano Real), supondo
que 12 meses é o suficiente para todos os setores da economia brasileira repassar a inflação
economia brasileira: i- o período imediato pós Plano Real e a adoção do regime de metas
de inflação (Junho de 1994 e Julho de 1999); ii- após adoção do regime de metas de
inflação e a crise de 2008 (Agosto de 1999 e Dezembro de 2008); e iii- no pós crise de
As estimações por FGLS e PCSE sugeriram uma relação positiva entre inflação e a
volatilidade de preços. Porém, esta relação não é constante ao longo do tempo já que o
coeficiente estimado por ambos os modelos (significante ao nível de 1%) foi mais elevado
no período imediato à implementação do Plano Real, atingindo o menor valor entre a
resultados obtidos devem ser analisados à luz das políticas macroeconômicas dos períodos
em questão. O elevado coeficiente obtido para a extensão temporal entre 1994 e 1999 é
resultado do processo de redução da taxa de variação do nível de preços por meio do Plano
Real, como pôde ser visto no Gráfico 01 e 02 e na Tabela 01. O coeficiente obtido entre
1999 e 2008 (menor dos estimados) é resultado da adoção do regime de metas de inflação.
Por fim, o período entre a crise de 2008 e 2016 é notoriamente marcado pela adoção de
significância estatística para o período entre 1994 e 2016, ou seja, não podemos rejeitar a
hipótese de rigidez nominal para esta extensão temporal. Porém, este período é
inflação à crise de 2008 pelo método FGLS foi estatisticamente não significante ao nível de
1%. Todavia, como Beck e Katz (1995) mostraram, o modelo FGLS subestima a variância
dos termos de erro, o que implica em um intervalo de confiança “menor” que o verdadeiro
e, logo, na possibilidade de cometer o erro tipo dois. Por sua vez, ao consertar isto, o
modelo PCSE sugeriu que todas as dummies dos três subperíodos são estatisticamente não
As funções resposta impulso obtidas pelo PVAR também indicaram uma relação
os dois períodos entre Agosto de 1999 e Dezembro de 2008 (sobretudo neste), e Janeiro de
2009 e Maio de 2016. Em suma, os resultados do PVAR estão de acordo com os resultados
dos modelos FGLS e PCSE de que a adoção do regime de metas de inflação proporcionou
Referências Bibliográficas
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TOMMASI, M. Inflation and Relative Prices Evidence from Argentina. Working Paper
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APÊNDICE I
Tabela 01- Estatísticas Descritivas
Rpv IPCA
Período ̅ ̅
Xmax Xmin Xmax Xmin
1994m7- 85,93 4,11 37,60 0,75
16,35 178,57 7,98 27,10
2016m5 SP-1995m12 SP-2010m8 BE-1995m6 SP-1998m12
Gráfico 01- Dinâmica do IPCA acumulado pelos últimos 12 meses entre Julho de 1994 e
Maio de 2016
Estabilização-
Plano Real
Meta de Efeito
Inflação Lula
Descongelamento
Crise de
de Preços Públicos
1999 Crise de
2008
Gráfico 02- Dinâmica da volatilidade dos preços relativos entre Julho de 1994 e Maio de
2016
Estabilização-Plano
Real
Meta de
Inflação
Crise de
1999 Crise de Descongelamento
2008 de Preços Públicos
Fonte: O vetor rpv fora calculado pelo autor com base nos dados do IPCA.
APÊNDICE III
1994-2016 1994m6-1999m7
1999m8-2008m12 2009m1-2016m5
Resumo:
Esta pesquisa visa desnudar as disputas entre as frações de classe dentro do bloco no
poder no Brasil ao longo do período em que o Partido dos Trabalhadores esteve à frente
do governo Federal. Analisando como esta disputa resultou na consolidação do modelo
político econômico lulista. Procuraremos relacionar a política econômica do governo, ao
longo dos últimos anos, com os movimentos das frações da classe dominante brasileira
e com a conjuntura internacional que tem influenciado diretamente estas políticas.
Assim, busca-se demonstrar que, a política nacional foi determinada, neste período, pela
disputa entre os setores financeiros e produtivistas da burguesia brasileira. Luta esta que
se realizou devido à contestação da hegemonia neoliberal no Brasil, sustentada pela
fração financeira e que passou a ser contrabalanceada por uma política
neodesenvolvimentista, que buscou no governo federal e na cooptação das classes
subalternas, romper com o domínio dos setores financeiros. Esta disputa teria
exacerbado as ambiguidades da política econômica do modelo lulista e levado o país a
uma crise política de grandes proporções, que culminariam na substituição do PT no
governo federal, na erosão do modelo lulista e, consequentemente, a sobreposição da
fração financeira no bloco no poder, reafirmando a hegemonia do neoliberalismo no
país.
Introdução:
econômica para o Brasil. Durante o período seguinte, o modelo neoliberal foi edificando
* Professor da Universidade Estadual do centro oeste (Unicentro), Doutorando em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Contudo, ao longo dos últimos anos, observou-se o acirramento da disputa, no seio da
que estaria em conflito com a corrente neoliberal. O que levanta a indagação sobre a
possível sua vitória nas urnas, a eleição do PT significou um novo período para a
sendo implementada no Brasil desde a década de 1990 e que faz parte das políticas
consolidada com o Plano Real de 1994 e mantida até 2002 pelos governos de Fernando
Henrique Cardoso, o Partido dos trabalhadores moldou seu projeto político à esta
1
BOITO JUNIOR, A. A hegemonia neoliberal no governo Lula. Crítica Marxista. Rio de Janeiro, v. 17, p. 9-
35, 2003. p. 3.
2
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; DINIZ, Eli. Empresariado industrial, democracia e poder político. Novos
estud. – CEBRAP. São Paulo, n. 84, 2009. p. 99.
3
BOITO JR., Armando. 2003. Ob. cit. p. 5.
neoliberais estão expressas em princípios que tornariam se objetivos declarados do
econômicas que não constavam nos governos anteriores e que estão relacionadas à nova
redução da taxa básica de juros, apesar dessa manter-se em níveis anacrônicos com a
primeiro mandato de Dilma Rousseff a partir de 2011, levando inclusive a uma redução
políticas neoliberais.
4
Idem, 2003, p. 1.
5
Idem, 2013, p. 174.
pública, que inibe a capacidade de investimento do Estado, e a abertura comercial, que
mina a indústria interna6.
governos anteriores e os governos do PT, entretanto as divergências não param por ai.
Essa orientação passaria a conviver também, num sentido antagônico, com políticas que
contradizem ou não fazem parte do modelo neoliberal, entre elas: o aumento real do
presentes.
Metodologia:
tanto em seus aspectos econômicos como nos aspectos sociais. Nesse sentido,
principalmente a fração financeira e a fração produtivista, como uma forma que a luta
e da política nacionais.
6
Ibidem, 2013, p. 174.
7
SINGER, André. 2012. Ob. cit. p. 162.
Em virtude das estruturas do Estado capitalista, em virtude da participação particular na
dominação política de várias classes e frações de classe, constata-se a relação entre esse
Estado e a organização política dessas classes ou frações em bloco no poder8.
governos do PT. Para tanto, buscamos relacionar estas disputas com busca pela
conceito Gramsciano, que estabelece o domínio de uma classe ou fração de classe tanto
e social, como inseridas no processo de cooptação das classes subalternas pelas disputas
político econômico implantado pelo Partido dos trabalhadores, aos projetos políticos
conjuntura internacional que possam ter exercido influência sobre esta luta.
Discussão e resultados:
8
POULANTZAS, Nicos. Ob. cit. 1977. p. 229.
9
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 33.
O modelo desenvolvido pelo PT como resultado das disputas entre as frações de
nacional, primeiro por vincular ao programa neoliberal, uma rede de proteção social
com intuito de reduzir os altos índices de miséria e pobreza enfrentados pelo país e uma
política de expansão da renda que apesar do ritmo ameno, se mostrou constante. Assim,
políticas antagônicas, uma vez que ele comporta a continuidade do núcleo do modelo
10
RESENDE, André Lara. Op. cit.
11
SINGER, André. Os sentidos do lulismo: reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Companhia
das Letras, 2012. p. 69.
12
BOITO JR., Armando. O lulismo é um tipo de bonapartismo? Uma crítica às teses de André Singer.
Critica Marxista. São Paulo, v. 37, p. 171-181, 2013. p. 175 e p. 178.
entre as disputas de classe no Bloco no poder da sociedade brasileira, as quais
poder no país.
Este conceito de bloco no poder, que não é utilizado expressamente por Marx ou
Engels, indica assim a unidade contraditória particular das classes ou frações de classes
politicamente dominantes, na sua relação com a forma particular do Estado capitalista.
[...] Neste sentido, o conceito de bloco no poder relaciona-se ao nível político, recobre
o campo das práticas políticas, na medida em que este campo concentra em si, e
reflete, a articulação do conjunto das instâncias e dos níveis de luta de classe de um
estágio determinado13.
brasileiro, arbitradas pelo governo, como em alguns momentos faz parecer a análise de
grande burguesia interna. Não são árbitros entre as classes fundamentais e nem são
eixo estrutural da política econômica do governo durante seus treze anos de mandato,
13
POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977. p. 229.
14
SINGER, André. 2012. Ob. cit. p. 169.
15
BOITO JR., Armando. 2013. Ob. cit. p. 178.
16
PACCOLA, Marco Antonio Bestetti. Política econômica e industrialização no Brasil. Novas edições
acadêmicas, Saarbrücken, 2016. p. 166.
O que ele estabelece, é a existência de um conjunto de frações dentro da classe
dominante, dentre as quais, uma deve ocupar a posição hegemônica. E que, apesar das
Ora, a noção de fusão não pode permitir pensar o fenômeno do bloco no poder. Este
constitui de fato não uma totalidade expressiva com elementos equivalentes, mas uma
unidade contraditória complexa com dominante. É aqui que o conceito de hegemonia
pode ser aplicado a uma classe ou fração no interior do bloco no poder. Essa classe ou
fração hegemônica constitui, com efeito, o elemento dominante da unidade contraditória
das classes ou frações politicamente “dominantes”, que fazem parte do bloco no
poder17.
continua sendo a burguesia financeira. Nesse contexto, não são os interesses da classe
significativos com o governo do PT. Quais seriam, então, as razões para que um
17
POULANTZAS, Nicos. Ob. cit. 1977. p. 232.
18
SINGER, André. 2012. Ob. cit. p. 173.
A razão destes ganhos precisa ser ponderada de maneira mais detalhada, mas
podemos apontar algumas interpretações divergentes; a que ela seria resultado das
concessões realizadas pelo governo durante o arbítrio entre as classes, realizado pelo
hipótese é preciso analisar sobre quais condições as concessões foram realizadas e qual
hegemônica.
Na verdade a grande burguesia interna, nas suas disputas com a fração burguesa
perfeitamente integrada ao grande capital financeiro internacional, converteu-se em
19
Ibidem. 2012. p. 172.
20
BOITO JR., Armando. 2003 Ob. cit. p. 22.
21
BRESSER-PEREIRA. Ob. cit. 2009. pp. 92 - 98.
22
Ibidem. 2009. p. 99.
força dirigente de uma ampla e heterogênea frente política que poderíamos denominar
neodesenvolvimentista23.
deste apoio, o governo foi capaz de sustentar uma política menos alinhada aos interesses
industrial e o agronegócio e ainda setores das classes subalternas ao seu projeto político.
eclodir uma crise política que se tornaria latente a partir da segunda eleição de Dilma
Dessa forma, o PT viu-se diante de um paradoxo ao qual não foi capaz de dar
resposta. As propostas do governo não foram capazes de reverter a cisão de sua base de
apoio nas classes dominantes. A crise política iniciada em 2013 levou o governo a
23
BOITO JR., Armando. 2013. Ob. cit. p. 178.
24
Braga, Ruy. A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. São Paulo:
Boitempo Editorial, 2012, p. 181.
25
SINGER, Andre. Cutucando onças com varas curtas: o ensaio desenvolvimentista no primeiro mandato
de Dilma Rousseff (2011-2014). Novos Estudos, n. 102, Julho 2015. p. 61.
década26, apontando para a ruptura do modelo e a reversão do quadro político nacional à
hegemonia neoliberal.
Como dito, a crise política não nos parece constituir a única causa de
modo a ruir as bases sobre as quais o PT estruturou sua política nos últimos anos,
não exclusivamente, mas em parte, de um duplo movimento realizado pelo Partido dos
26
Ibidem. p. 61.
27
BOITO JR, Armando. As bases políticas do neodesenvolvimentismo. Trabalho apresentado na edição
de 2012 do Fórum Econômico da FGV / São Paulo. disponível em: http://sistema.bibliotecas.fgv.br/ p.
11.
Trabalhadores ao longo das duas últimas décadas e que se concretizou em uma
nacional. Este movimento foi realizado ao longo de vários anos, e não corresponde a
mudanças restritas apenas à orientação política dos líderes do partido, mas sim a um
1998 e 2002.
Agora, é importante destacar uma ideia geral: ocorreu um processo político e social no
Brasil ao longo dos anos 90 que resultou na implantação de uma nova hegemonia
burguesa em nosso país, baseada no discurso e na prática do modelo capitalista
neoliberal dependente. Colocado o problema dessa forma, a “conversão” do PT ao credo
do livre mercado aparece como mais um episódio - ainda que sem dúvida um episódio
de importância maior - nesse processo de implantação e consolidação da nova
hegemonia burguesa29”
com forte apoio das camadas com mais altos rendimentos na sociedade. Enquanto que o
apoio ao partido nas camadas de baixa renda, nunca havia sido predominante. A partir
primeiro momento pela expansão do apoio dos setores populares ao partido, movimento
28
BOITO JR., Armando. 2003 Ob. cit. p. 2.
29
BOITO JR., Armando. 2003 Ob. cit. p. 4.
este que pode ser relacionado à expansão de programas sociais e ao aumento real do
estas parcelas da população. O que se viu a partir de 2003, portanto, foi a ampliação da
base de apoio ao partido, abrangendo setores que antes não se encontravam em seu
Este fluxo de duplo sentido ocorrido na base de apoio popular ao partido resulta
apoio do PT encontrava-se nos setores médios, enquanto que em 2006 esse apoio
dos aspectos que explicam a incapacidade do partido em levar adiante uma reorientação
da política econômica no Brasil. Assim como a dar uma efetiva resposta à crise política
gerada pelas disputas entre as frações financeira e produtivista no bloco no poder. Uma
representantes desta fração de classe - entre eles o próprio PMDB, principal partido
30
SINGER, André. 2012. Ob. cit. p. 88.
políticas foram responsáveis, portanto, pela adesão das classes populares ao modelo
diretamente sua base de apoio popular e, incapaz de atender aos interesses da fração
produtivista sem erodir as alianças que tornaram possível sua sustentação política, o
veremos a seguir.
Conclusões:
razões que levaram os setores antes comprometidos com o governo a romper com a
aplicação de uma política voltada para os setores produtivistas. Com a reversão deste
seriam dados pelas disputas no seio da classe dominante. A disputa entre estes frações
qual passaria a exigir de seus representantes no governo, uma maior observância para
política econômica e a focalizar nos interesses deste setor. O que culminou na crise
modelo. Isso porque, ao mesmo tempo em que tem seu capital vinculado ao setor
produtivo, esta fração possui capital investido no setor financeiro, de modo que, seus
31
SINGER, André. 2012. Ob. cit. p. 152.
32
Idem. 2015. Ob. cit. p. 65.
interesses estão ao mesmo tempo em contradição e sintonia com a fração financeira, já
fração da burguesia, que conserva capitais tanto no setor financeiro quanto no setor
este setor. Porém, dada a reversão da conjuntura externa, esta fração deixa de apoiar as
33
Ibidem. p. 65.
34
SAMPAIO JR, Plínio de Arruda. Desenvolvimentismo e neodesenvolvimentismo: tragédia e farsa. Serv.
Soc. Soc., São Paulo, n. 112, out./dez. 2012. p. 678.
Na prática, a terceira via torna‑se uma espécie de versão ultra light da estratégia de
ajuste da economia brasileira aos imperativos do capital financeiro. O diferencial do
neodesenvolvimentismo se resume ao esforço de atenuar os efeitos mais deletérios da
ordem global sobre o crescimento, o parque industrial nacional e a desigualdade
social35.
Referências bibliográficas:
BOITO JR., Armando. A hegemonia neoliberal no governo Lula. Crítica Marxista. Rio
de Janeiro, v. 17, p. 9-35, 2003.
35
Ibidem. p. 680.
PACCOLA, Marco Antonio Bestetti. Política econômica e industrialização no Brasil.
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O ESTADO CONTEMPORANEO EM DEBATE: APONTAMENTOS SOBRE AS
REFORMAS NEOLIBERAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NO MUNDO
GLOBALIZADO
RESUMO
ABSTRACT:
The objective of this paper is to understand from a brief historical rescue the main
transformations occurred in the State in front of the neoliberal context. To do so, we began
this discussion by pointing out the main historical elements that influenced the adoption of
neoliberal policies by the capitalist countries. Next, we present briefly the theoretical bases
that justify its ideas, as well as, we show the differences between the liberal framework and
its new drapery in order to understand how neoliberalism was constituted as a political
project. In the last part, notes are made on neoliberalism in Brazil.
1. Introdução
1
Estudante do programa de mestrado em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da
UNICAMP.
2
Estudante do programa de mestrado em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da
UNICAMP.
interesses individuais e do mercado sobre o Estado, tendo este um papel distinto das
mais efetiva, nos anos 1970, quando a “quarentena” dos neoliberais começou a romper-se
capitalismo para espalharem pelo mundo suas filiais a fim de movimentavam seus fundos
financeiros e potencializar seus lucros e seu poderio (MORAES, 2001). Deu-se então um
amplo processo de descentralização das políticas empreendidas pelo Estado, não apenas
nos países centrais, mas também nos países periféricos, a exemplo do Brasil.
globalizadas, que o Estado seria cooptado a operar uma ampla reforma administrativa.
Partindo desta realidade, o objetivo deste trabalho é entender por meio de um breve
históricos que influenciaram a adoção das políticas neoliberais por parte dos países
capitalistas. Logo após, apresentamos sumariamente as bases teóricas que justificam suas
ideias, bem como, evidenciamos as diferenças entre o arcabouço liberal e sua nova
projeto político. Na última parte, são feitos apontamentos sobre o neoliberalismo no Brasil.
2. Antecedentes Históricos
Todo o período de otimismo das décadas anteriores classificado por Mandel (1990) como
“os anos gloriosos do capitalismo”, que como vimos - em sua política econômica,
chefia aos EUA: saídos da Guerra não apenas como a principal potência econômica, mas
White, corresponderam a este ambiente favorável à emergência dos EUA enquanto motor
estabelecidas novas normas de comércio que seriam prescritas pelo FMI e pelo Banco
Mundial: órgãos que a partir de então seriam responsáveis por policiar o comércio, as
vários países, seu maior obstáculo. Vários fatores reforçaram este processo, entre os quais
é importante destacar os problemas encontrados pelos EUA para equilibrar sua balança de
pagamentos.
financeira a outros países, antes atenuados pelo amplo saldo da balança comercial, já não
era mais possível de ser realizado sem afetar negativamente as contas do EUA com o
exterior. Neste mesmo contexto, países como o Japão e a Alemanha já reconstruídos, com
3
A penetração de produtos importados no mercado americano foi marcadamente pronunciada nos setores de
automóveis, maquinaria e tecidos Moffit (1984, p.30).
Soviética e da China representaram na prática, os sintomas da instabilidade da potência
nas políticas locais na América Latina, Ásia e Oriente Médio (BLOCK, 1987).
Porém, o acontecimento mais relevante que colaborou para a referida crise e para
petróleo ocorrido inicialmente no final de 19734. Nesse período, como resultado das
decisões do cartel dos países produtores do petróleo, a OPEP - o preço do petróleo saltou
de US$ 3,5 por barril de petróleo bruto para expressivos US$ 11,65 por barril
(CARCANHOLO, 2002).
de então, no principal impulso das mudanças ocorridas nos países capitalistas. A falência
Estava dada a largada de um movimento cíclico que seria constituído por uma crise em
1974-1975, seguido de uma suave recuperação no período de 1976-1977, e por uma nova
crise, iniciada no ano de 1979 e que seria agravada pela subida da taxa de juros
4
O fim das paridades fixas e a enxurrada de petrodólares do primeiro choque (1973) impulsionou ainda uma
tendência de especulação com moedas, que minavam o poder do dólar americano e, paradoxalmente,
fortaleciam o marco e o iene. Estas tendências policêntricas que se desenhavam no sistema financeiro
internacional influenciaram o processo de contestação do papel de dominância do Estado norte-americano. O
próprio sistema bancário privado norte americano e suas empresas transacionais se movimentavam muitas
vezes à revelia do interesse nacional, favorecendo ainda mais à modernização e expansão europeia e
nipônica. Ver KILSZTAJN, Samuel (1989). O acordo de Bretton Woods e a evidência histórica: O sistema
financeiro internacional no pós-guerra. Revista de Economia Política, 9(4): 88-100, out/dez.
estadunidense5 - o que possibilitou que as propostas neoliberais ganhassem cada vez mais
espaço tanto no debate acadêmico quanto como política prática (CAMPOS, 2009).
(ANDERSON, 1995, p.9). Apesar de suas propostas serem promovidas com maior força
europeus e americanos que viam na construção do welfare state uma ameaça à liberdade
quinquenais dos anos 1930 empreendido pela URSS. Mais do que uma adaptação do antigo
Aron, Louis Baudin, B. Lavergne, Walter Eucken, Louis Rougier, Friedrich Hayek,
5
Como medida de reafirmação da hegemonia dos EUA e da sua moeda, o FED decidiu adotar uma política
restritiva sobre a expansão da massa monetária dos EUA. Tal reação, provocou níveis recordes das taxas de
juros e a alta da cotação moeda estadunidense. Em resposta, outros países industrializados também foram
obrigados a elevar suas taxas de juros para evitar quedas maiores das cotações de suas moedas. Certamente,
os países periféricos foram os mais afetados com a subida dos juros. Espremidos entre a súbita escassez do
meio de pagamento internacional e o elevado serviço da dívida externa já contratada estes países também
sofreriam com a queda do preço das commodities registrada no mesmo ano. Para uma análise mais detalhada
ver TAVARES, M. C. (1985). A retomada da hegemonia norte‑americana. Revista de Economia Política, 5
(2), abril‑junho. Republicado, em versão ampliada, em TAVARES, M. C. & FIORI, J. L., orgs. Poder e
Dinheiro. Petrópolis: Vozes, 1997.
Ludwing von Mises, Jacques Rueff, L. Marlio e W. Ropke ven Zeeland tinham como pauta
dos séculos XVII e XVIII. A primeira diferença se referia ao contexto histórico. Enquanto
o liberalismo clássico possuía um caráter mais progressista vinculado a luta travada pela
do “antigo liberalismo”, o ideário neoliberal, refletia seu caráter conservador na busca pelo
enfrentadas nas últimas décadas, que sua aceitação não foi uma mera alternativa
ideológica, mas uma pretensa aceitação de fatos. Em outras palavras, ao exaltar as virtudes
abstratas dos mercados, o neoliberalismo acabou por ocupar todos os espaços da sociedade,
(CARCANHOLO, 2002).
6
EZCURRA, Ana María. Qué es el neoliberalismo?: evolución y límites de un modelo excluyente. Lugar
Editorial –IDEAS, 1998.
A terceira distinção estava associada aos conceitos de liberdade e igualdade
pregados pelo liberalismo clássico. No liberalismo dos tempos de Smith e Ricardo, tais
nasciam livres e racionais. Desse modo, tanto a razão quanto a liberdade eram valores
“uma receita de política econômica, onde as esferas políticas e sociais são reflexos do
2002, p.28). Isto é, não estava mais subordinado aos ditames dos valores do liberalismo
clássico, mas de uma visão economicista voltada basicamente aos interesses do mercado.
interligados, ao menos no que se refere à esfera jurídica. Cada indivíduo era perfeitamente
livre para buscar seu próprio interesse, a seu próprio modo, desde que não violasse as leis
tornou um valor, ao passo que, pelo lado das relações econômicas, esta seja justificável
incentivo à "ascensão social" por esforço pessoal. Logo, para a corrente neoliberal, “a
desigualdade econômica não é justa ou injusta, já que o mercado não é algo voluntário,
Em última instância, também podemos definir esses dois tipos de pensamento pela
Estado mínimo, no qual a liberdade individual estaria garantida por uma relação não entre
governo e governados, mas por um pacto social estabelecido pelos indivíduos que prezasse
neoliberal, este mesmo Estado deveria ser mínimo no sentido de propiciar o livre
Em seu sentido teórico, podemos ver tudo isso apresentado por Hayek em “O
caminho da servidão”. Neste livro, ao estabelecer uma ligação direta entre o sistema de
econômico, por menor que seja, seria baseado na criação de um suposto bem comum ou
regulação do sistema por fora das bases decisórias individuais e do mercado. Tal afirmação
Alemanha nazista e na URSS. Seu alvo de crítica naquele momento era a agenda
socialdemocrata do Partido Trabalhista inglês que iria disputar as eleições gerais em 19457.
Para o autor, a socialdemocracia mesmo sendo portadora de boas intenções acabaria por
7
Ainda assim, sua posição não foi exclusivamente direcionada aos partidários da revolução e da economia
planificada, “mas a toda e qualquer medida política, econômica e social que indique a mais tímida simpatia
ou concessão para com as veleidades reformistas ou pretensões de fundar uma "terceira via" entre
capitalismo e comunismo” (MORAES, 2001, p.13).
Apesar dos anseios de Hayek e da vitória das tropas inglesas na Segunda Guerra Mundial,
Essa derrota não fez com que Hayek deixasse para trás seus ideais. Em 1947, o
herdeiro das ideias de Ludwig von Mises conduziu os trabalhos de uma "internacional dos
Colóquio Walter Lippmann, a sociedade de Mont Pèlerin atuaria como principal referência
dos ideólogos do livre mercado que surgiram durante o colapso do consenso keynesiano
(HOBSBAWN, 1995). Dentre eles, o mais destacado centro de difusão desta corrente de
cada vez mais espaço tanto na academia quanto na condução da política econômica de
político-econômico não apenas no âmbito mundial, mas também para a América Latina.
aumento dos salários e principalmente sobre o Estado, que a partir desta lógica, tinha que
arcar com o aumento nos gastos sociais (ANDERSON, 1995). Foi com este discurso, que o
programa neoliberal ganhou adeptos e conquistou líderes partidários alinhados com esses
(HOBSBAWN, 1995).
exaltando o papel do individualismo, impostos mais baixos sobre os rendimentos altos para
Nos Estados Unidos, a prioridade neoliberal era motivada pelas tensões decorrentes
da competição militar com a União Soviética. Sua estratégia era desestabilizar a economia
soviética e, por esta via, derrubar o regime comunista na Rússia. Por outro lado, em sua
política interna, Reagan também reduziu os impostos em favor dos ricos, elevou as taxas
de juros e aplastou a única greve séria de sua gestão. Contudo, não respeitou a disciplina
sem precedentes, envolvendo gastos militares enormes, que criaram um déficit público
1995).
8
Ver HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX : 1914-1991 /; tradução Marcos Santarrita ;
revisão técnica Maria Célia Paoli- — São Paulo : Companhia das Letras, 1995, Cap.8.
os antigos mecanismos de exploração e acumulação capitalista (CARCANHOLO, 1997, p.
2002).
termo “mundialização do capital9”. Muito mais do que a representação das atividades dos
expressão demonstraria que este novo fenômeno de tática global apesar de aparentemente
economias periféricas.
mecanismos para romper as amarras das relações sociais, leis e regulamentações impostas
9
Nas palavras de Chesnais (1996, p.34): “A mundialização é o resultado de dois movimentos conjuntos,
estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caraterizado como a mais longa fase de
acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às
políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais
e democráticas, que foram aplicados desde o início da década de 1980, sob o impulso de Thatcher e Reagan”.
Neste novo contexto, a tríade formada pela desregulamentação, privatização e a
globalização se colocou como a nova base estratégica deste novo Estado que, na sua
para regular o mercado, mas sim, para favorecê-lo a qualquer preço (CHESNAIS, 1996).
Desse modo, o que se prega é “a austeridade nos gastos sociais e a minimização das
(NETTO, 2001). Tal postura demonstraria em que medida a globalização foi perdendo seu
regime capitalista. Até porque, sob esta perspectiva, o Estado, deveria ter como principal
(CARCANHOLO, 1997).
10
Na América Latina, o discurso neoliberal começou a se afirmar na década de 1980. No ano de 1989, foi
realizada uma reunião entre membros dos organismos internacionais financeiros que ficou mundialmente
conhecida como Consenso de Washington. O consenso possuía um caráter tipicamente neoliberal e
objetivava fornecer subsídios aos países da América Latina e para isto, propôs aos países participantes a
adoção de um conjunto de medidas como redução da intervenção do Estado e abertura total e ilimitado dos
esgotamento do Modelo de Substituição de Importações e o fracasso dos planos de
externa, reduzir os desequilíbrios nos balanços de pagamentos e a inflação, uma vez que
tais debilidades influenciavam diretamente nos rumos do país (MIGLIOLI, 1982). Essas
condições deixavam claros os limites da política econômica até então adotada. Desse
modo, a década de 1980 assistiu, nos países da América Latina, a uma virada ideológica
mercados. Sobre o tema, ver BATISTA, Paulo Nogueira. O Consenso de Washington: A visão neoliberal dos
problemas Latino-Americanos. In: Caderno Dívida Externa. n. 6, PEDEX, São Paulo, 1994.
11
No Brasil, a virada das décadas de 1970/80 marcou o final do Segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND) e uma subsequente reviravolta no planejamento econômico brasileiro, haja vista o
cenário corrente de crise fiscal e financeira do Estado. Como vimos, uma grande parcela de responsabilidade
por esses problemas competiu ao novo choque externo representado pelo recrudescimento da inflação
mundial, sob a liderança do petróleo, o que deteriorou as relações de troca entre os países, inclusive no do
Brasil. Além disto, a elevação da taxa de juros internacional também cumpriu um papel negativo nesse
processo, seja pelo aumento dos serviços da dívida externa ou pelo estreitamento do raio de manobra da
política monetária doméstica (CARNEIRO, 2002).
famigerada classe burguesa. O desemprego conquistou taxas altíssimas e a tributação
propriedade. Isso acarretou uma alta concentração de renda no Brasil a partir da década de
expansão dos mercados além das fronteiras nacionais também para os países periféricos.
apontava a necessidade de abertura das economias também dos países periféricos a fim de
estabilidade, o que pôde ser constatado nas crises cambiais de finais dos anos 1990,
exigindo cada vez mais a obtenção de saldos positivos na conta de transações correntes,
trabalho no setor público, por meio de reformas administrativas que permitiram demissões
que levaram a redução de benefícios e direitos por parte dos trabalhadores com
superávits primários.
diminuiu sua participação nas atividades produtivas, cumprindo um dos objetivos buscados
e na dependência cada vez maior da economia brasileira aos ditames do capital financeiro
6. Considerações finais
A partir deste breve resgate histórico, é possível notar que a partir dos anos 1980 o
mundo capitalista vivenciou uma nova era histórica, em que o advento das políticas
neoliberais aliado aos efeitos da globalização atingiu proporções gigantescas, de forma a
debelar qualquer possibilidade de um Estado intervir na economia, a não ser nos moldes
conjugado aos interesses da classe trabalhadora em meio a falência dos anos gloriosos do
de restruturação do capitalismo.
Nesse sentido, concordamos com Perry Anderson (1995), ao afirmar que realizar
qualquer balanço ou análise atual sobre o neoliberalismo possui um caráter provisório, pois
contrário do que garantiam seus defensores, não se processou nos moldes prometidos,
década de 1980, com a eleição do Presidente Collor, responsável pelo processo de abertura
tripé ortodoxo: câmbio flutuante (ainda que só em seu segundo mandato), controle da
armadilhas externas.
Esse conjunto de argumentações nos permite concluir que o atual modelo de
desvinculou-se cada vez mais dos interesses sociais. Convive-se então com um verdadeiro
organizada e de Estado planejador tal qual fora caracterizado por Tavares (2014).
7. Referências Bibliográficas
Resumo:
após traçar este cenário, os esforços serão concentrados no entendimento das variantes
discussões, alguns defensores de que não é necessária, outros de que ela é urgente e
aqueles que sugerem reformar gradualmente. Por fim, é introduzido um debate a cerca da
Proposta de Emenda à Constituição (PEC 287) proposta pelo governo. Desse modo serão
examinados os sérios problemas que aprofundam e acirram o debate sobre esse cenário e
The article initially makes an analysis of a fiscal structure of the State, after
tracing this scenario, efforts will be concentrated on the understanding of the variants
linked to retirement in the field of social security. Within the subject matter several
discussions permanently, some advocates are not needed, others of which it is urgent and
those who suggest reform gradually. Finally, a debate is introduced on the proposed
Government's Amendment to the Constitution (PEC 287). This examines the serious
problems that deepen and intensify the debate on this scenario and causes a profound
Introdução
prevalecia nesse período um intenso debate sobre a necessidade de mudanças com relação
os principais meios de atuação do Estado para realização das reformas foram alguns
1988.
fiscal restritiva, que só pode ser efetiva depois da implantação do Plano Real. A Lei de
tomadas para permitir uma melhor gestão dos recursos públicos, evitando o descalabro
ser retomado. Isto vai de encontro com a ideia de que no momento se a decisão não for
pretende atualizar esse debate no cenário estrutural brasileiro, inserindo nesse espectro a
coerentes com o tema. Assim, inicia-se com uma análise do cenário econômico, denotando
pelo Ministério da Fazenda, para as contas públicas de acordo com alguns cenários
primário.
ajuste nas regras da Previdência Social. No entanto, vale destacar que esse reajuste não
deve ser realizado de tal modo, pois existe uma imprudência em alguns artigos que
fatalmente levariam para um descompasso retroativo para os direitos sociais conquistados
até o momento, bem como a uma noção de democracia frágil para a constituição vigente.
momentos mais críticos de sua história, as despesas públicas a cada ano sofrem
o que torna estas políticas um círculo vicioso. Porém, o ajuste fiscal de uma economia em
crise não deve ser realizado apenas por compensação de gastos através da tributação,
precisam ser analisados os dispêndios efetuados pelo governo para buscar mudanças que
argumentos utilizados para justificar as medidas de ajuste fiscal. A Dívida Pública Federal
líquida (DPFl), passou de 11% do PIB em 1993 para de 35% em 2002, com uma média de
bruta manteve-se em patamares elevados, e voltou a crescer no final de 2014. Como pode
ser observado no Gráfico 2, que apresenta a evolução da Dívida Bruta do Governo Geral
público se deu primeiro e de uma maneira mais acentuada na DBGG. Em 2014 o patamar
da DBGG passou de um pouco mais de 50% para 70% do PIB, e a dívida líquida passou de
elevação dos gastos primários do governo, com destaque a partir de 2013, que segundo
Barbosa Filho (2015) teria sido uma “expansão fiscal desbalanceada”, onde o governo teve
custo fiscal. Para Almeida Jr (2015), os principais responsáveis pelo aumento foram as
despesas com saúde, educação e previdência, que conjuntamente cresceram cerca de 6,86%
do PIB entre 1991 e 2014. Assim, a partir de 2014, às despesas totais ultrapassam as
receitas primárias, acarretando seguidos déficits primários, que representam a elevação da
principais despesas que se elevaram. Segundo Barbosa Filho (2015), entre 2002 e 2014 os
gastos que mais se elevaram foram com transferências de renda a indivíduos, como
demonstrado na Tabela 1. As transferências de renda iniciaram 2002 representando uma
despesas com previdência nesse agrupamento cresceram menor que os demais programas,
Petrobras.
cidadã da dívida pública, de 2012 a 2016, de todos os recursos pagos, em torno de 22%
foram destinados à Previdência Social, enquanto, cerca de 43%, ou seja, quase o dobro da
pública.
comprometidos com a piora no mercado de trabalho, o mal resultado das contas públicas,
reformas necessárias, que passam pelo reconhecimento desse cenário e ajustes estruturais,
a expectativa de gastos crescentes com a política desenvolvimentista podem gerar uma
necessárias para que esses ganhos sociais não sejam perdidos, e que não ocorra um
despesas com o crescimento do PIB; (ii) reduzir o custo de créditos da União junto aos
Longo Prazo (TJLP), o que reduz a diferença entre a captação e aplicação dos recursos
públicos; (iii) realizar uma reforma no PIS/COFINS, que aliada a uma simplificação das
regras, permite uma redução do custo tributário, a fim de aumentar a competitividade das
2 Reforma da previdência
Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) que trata dos servidores públicos
limita que o necessário a ser destinado aos aposentados deve equivaler-se à contribuição
6 O termo solidário se refere ao fato de que não contribuintes têm direito ao benefício.
7 Repartição refere-se que os contribuintes ativos que contribuem para o pagamento dos benefícios dos
inativos. Sendo que, o recolhimento é feito de forma tripartite, isto é, o trabalhador contribui
proporcionalmente ao salário e o empregador recolhe de acordo com a folha de pagamento. A terceira parte
ainda cabe ao governo federal, que é obrigado a cobrir eventuais casos de insuficiência financeira do sistema.
dos que estão trabalhando. Isto acontece para que não exista a necessidade de retirar
O ajuste das regras da previdência é uma das reformas mais urgentes para
controle dos gastos realizados pelo governo. A expectativa de vida dos brasileiros teve
expressivo aumento nos últimos anos, e tornou-se necessária uma revisão das leis de
alega uma necessidade de reforma, alguns estudiosos discordam dessa atitude. Wagner et.
al. (2017), afirma que segundo uma pesquisa realizada pela Associação Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP), os déficits não existem de fato,
setores, os quais deveriam ser contados em conjunto em qualquer análise, sendo eles:
saúde, assistência social e a previdência. E neste sistema, a única que possivelmente está
em déficit é a previdência, que de fato não fecha suas contas por extrema indisposição do
governo na cobrança dos devedores que são os grandes produtores e parceiros do poder
linha de pensamento. Para que uma reforma na previdência saísse de fato, o governo
nas regras da Previdência Social, evitando o estrangulamento ainda mais acentuado das
contas da instituição.
assim o número de adultos contribuindo para a previdência ao longo dos próximos anos
esse valor triplicará até 20509, passando a ter em torno de 66,5 milhões de pessoas acima
trabalham contra o montante a ser contribuído pelos ativos nos próximos anos.
em meados de 2030, período em que o total absoluto de idosos acima de 60 anos ultrapassa
mesmo da idade mínima, que é de 60 anos para mulheres e 65 para homens, e assim
acabam adiantando o período em que começam a receber o benefício. Outro fator que deve
ser analisado é o das pensões por morte, as quais são concedidas às viúvas, em casos que
Esses são os casos que devem ser examinados quando fala-se de previdência
instituição nem sempre garantem que a mesma tenha condição de liquidar suas pendências,
8 Censo Demográfico de 2010 <http://censo2010.ibge.gov.br/>, realizado de dez em dez anos, o Censo 2010
é o último estudo realizado no Brasil, com busca de mapear várias características populacionais da nação.
9 Projeção da variação crescente da população brasileira.
<http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>.
10 “Constituição Brasileira, promulgada em 1988, acabou absorvendo grande parte das reivindicações do
movimento de “Participação Popular na Constituinte”, institucionalizando várias formas de participação da
sociedade na vida do Estado, sendo que a nova Carta Magna ficou conhecida como a “Constituição Cidadã”
pelo fato de, entre outros avanços, ter incluído em seu âmbito mecanismos de participação no processo
decisório federal e local.” (VAZ, Flávio Tonelli; MUSSE, Juliano Sander; SANTOS Rodolfo Fonseca dos
(Coords.). 20 anos da Constituição Cidadã : avaliação e desafios da Seguridade Social. Brasília : ANFIP,
2008).
refletindo assim nas contas negativas ao decorrer dos anos, por conseguinte esta situação
paga pelos contribuintes ao INSS, que representa 31%12 do salário dos trabalhadores com
carteira assinada. Levando em conta que a população comece a contribuir com 20 anos de
crescimento real da renda ao longo da vida ativa destes de 2,2% a.a., os autores concluíram
que trabalhadores que aposentam por tempo de contribuição, que atualmente é de 30 anos
para mulheres e 35 para homens, deveriam pagar uma alíquota de 27,7% e 23,7%
respectivamente.
ainda segundo Giambiagi & Afonso (2009), devido à contribuição realizada por estas ser
feita em tempo menor e também pela expectativa de vida das mulheres ser maior que à dos
pagar uma alíquota maior, pois os valores vigentes em média não cobrem os benefícios
recebidos, sendo necessárias alíquotas entre 33,6% - 56,7% para homens e 52,7% - 70,7%
para mulheres.
outras despesas realizadas pela previdência como aposentadoria por invalidez, auxílio
doença e pensões por morte, sendo necessário um estudo que leve em consideração
também estes aspectos para uma abordagem correta sobre a alíquota paga pelos
trabalhadores atualmente.
11 O estudo considerou vários fatores, como gênero, tempo de contribuição, expectativa de vida, anos de
estudo etc.
12 Alíquota paga por trabalhadores que recebiam entre R$ 911,71 e R$ 1.519,50 em 2009, sendo 11% pago
pelo trabalhador (descontados na folha de pagamento) e 20% pagos pelo empregador.
É notório que, para um entendimento completo dos problemas com a
inativos/ativos através do conhecido bônus demográfico, Castelar (2016), estima que o país
crescerá a 1,5% nos próximos anos, cenário preocupante, pois esse crescimento pífio, pode
recebe. Para dimensionar o rombo, com a mudança demográfica esperada para 2050, o
número de ativos para cada inativo passará de 2,4 para 1,6 , o que levaria necessariamente
recebe atualmente. Observa-se que este cálculo não carece de discussões sobre
as contas públicas
13 Armadilha da Renda Média: A armadilha da renda média ocorre quando um país emergente entra em um
período de estagnação após ele ter completado a sua "decolagem" e ter superado a armadilha da pobreza e a
armadilha malthusiana. Tendo chegado ao nível da renda média, a trajetória do crescimento econômico
efetuada durante a decolagem deixa de ser sustentável.
14 O cálculo é realizado a partir da alíquota de 31% citada anteriormente no estudo de Giambiagi & Afonso
(2009).
PIB, passaria a ser de 2,37% em 2020 e 11,14% em 2060. Isso seria resultado de uma
receita constante em relação ao PIB e de uma despesa que cresceria em torno de 0,22 % a
mais que o PIB por ano, acumulando um crescimento de cerca de 9% do PIB até 2060.
uma economia de apenas R$ 1,70 bilhões em 2018, mas em um cenário de longo prazo
previdência social com e sem aprovação da PEC segundo ofício realizado pelo Ministério
da Fazenda.
Gráfico 5 - Previdência Social (RGPS e RPPS) com e sem a PEC ·287 /2016 (R$ bilhões)
Fonte: Ofício n°13 do Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles, encaminhado ao Presidente da CPI da
Aliado a essa reforma, o estado passou pela recente aprovação da PEC 55,
que limita as despesas do Estado, corrigidas pela inflação em até vinte anos, e procura
implementar mais algumas mudanças na estrutura fiscal do governo. Essas medidas visam
dívida/PIB. Elas sinalizam que o governo está procurando demonstrar que assumiu um
compromisso com a responsabilidade fiscal, e busca trazer tanto uma estabilidade quanto a
prazo, prevendo uma economia maior somente para o longo prazo, quando segundo os
reformas, num cenário positivo, o superávit primário seria alcançado somente em 2022.
Essa situação seria ainda pior caso essas reformas estiverem afrouxadas, ou caso elas não
indicadores como o salário mínimo, Taxa de Juros e Prêmio de Risco. Ambos mantém uma
15 A Instituição Fiscal Independente tem o objetivo de ampliar a transparência nas contas públicas. Criada
em 2016, ela atende basicamente quatro funções: I - divulgar suas estimativas de parâmetros e variáveis
relevantes; II - analisar a aderência do desempenho de indicadores fiscais e orçamentários; III - mensurar o
impacto de eventos fiscais relevantes, e IV - projetar a evolução de variáveis fiscais determinantes para o
equilíbrio de longo prazo do setor público.
afrouxamento das contas públicas permite, segundo a instituição, taxas de crescimento
no curto prazo a situação do Estado ainda precisa ser revista, dado que o impacto da
reforma na previdência aliado com o teto dos gastos, projeta uma previsão de superávit
somente por volta do ano de 2020. Assim, o debate sobre as finanças públicas, passa por
4 Considerações Finais
necessário realizar reduções nos dispêndios com vistas a potencializar o poder decisório e a
populacional, faixa etária da população e expectativa de vida ao nascer são fatores que
médio e longo prazo, pode-se destacar o aumento da expectativa de vida e com isso o
aumento da porcentagem de idosos em relação ao total da população, e ainda é relevante
despesas com as receitas do governo, como imposto pela PEC 55, do teto dos gastos, bem
redução da taxa de juros básica (Selic) da economia, na medida em que uma política fiscal
mais contracionista abre espaço para uma política monetária mais frouxa, possibilitando a
como saúde, educação, cultura, firmados na Constituição de 1988, não seria desejável.
Com isso a falta de contraditório permite a realização de reformas que podem precisar ser
Referências
_________; MOREIRA, Maurício Mesquita (Org.). A economia brasileira nos anos 90.
Rio de Janeiro: BNDES, 1999.
LIMA, Edilberto Carlos Pontes. Reforma Tributária no Brasil: Entre o ideal e o possível.
Brasilia: Ipea, 1999. Texto para discussão IPEA 666.
OLIVEIRA, Thiago. Ajuste Fiscal e Mercado de Trabalho. In: Revista Política Social e
Desenvolvimento, vol. 18, nº 3, p. 27-30, abril/2015.
WAGNER José Luis ; RAMBO Luciana Inês ; ANDRADE Valmir Floriano Vieira de.
Cartilha Crítica da Reforma da Previdência. Brasília (DF): Wagner Advogados e
Associados, 2017.
EIXO 10
Políticas públicas para o
desenvolvimento
A expansão do consumo e a dinâmica do bem-estar das famílias brasileiras:
uma análise de decomposição da desigualdade
Leonardo S. Oliveira*
Viviane C.C. Quintaes*
Luciana A. dos Santos*
Debora F. de Souza*
Resumo
Este artigo reúne análises que envolvem aspectos dinâmicos do bem-estar e da
desigualdade no Brasil nos períodos de 2002-2003 e 2008-2009 sob a ótica do consumo
per capita. Por meio dos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), são
avaliadas as evoluções das estruturas do consumo nos períodos citados, segundo a
localização das famílias nas Grandes Regiões brasileiras e nas áreas urbanas e rurais. O
estudo recorre a análises gráficas e de dominância assim como ao cálculo de funções
(abreviadas) que permitem mensurar e separar os efeitos do crescimento e da
redistribuição sobre bem-estar social. O papel da estrutura do consumo no crescimento e
na queda da desigualdade é avaliado segundo decomposições analíticas e contrafactuais.
Os principais resultados encontrados indicam que estes os bens duráveis contribuíram de
forma marcante para o crescimento do consumo, do bem-estar social, mas também
geraram desigualdades que quase impediram a queda do índice de Gini.
Palavras-chave: Índice de Gini, Padrão de Vida, Bem-estar geral, Índice de preços ao consumidor, Valor
de Shapley
Abstract
This paper analyzes the dynamic aspects of welfare and inequality in Brazil in 2002-2003
and 2008-2009 from per capita consumption point of view. Through the data of the
Household Budget Survey (POF), we assess the evolution of consumption structures in
those periods by regions and by urban and rural areas. We use graphic and dominance
analysis as well as (abbreviated) functions that measures and separate the effects of
growth and redistribution from each other in the welfare analyzes. The role of the
consumption structure on growth and inequality is evaluated by analytical and
counterfactual decompositions. The main results indicate that these durable goods
contributed to the growth of consumption and social welfare, but also created inequalities
that limited the fall of the Gini index.
Keywords: Gini Index, Living standards, General Welfare, Consumer price index, Shapley Value
JEL: C02, C43, D31, D69, I31
*Diretoria de Pesquisas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Leonardo.s.oliveira@ibge.gov.br, Luciana.santos@ibge.gov.br,
Viviane.Quintaes@ibge.gov.br, debora.Souza@ibge.gov.br
IBGE está isento de qualquer responsabilidade relacionada com as opiniões, informações, dados e conceitos expressos neste artigo
que são de responsabilidade exclusiva dos autores. Os autores gostariam de agradecer a Paulo Roberto Coutinho Pinto, Juliano
Junqueira e André Martins por sua colaboração e Marta Antunes, Nícia Brendolin e Isabel Martins por seus comentários.
Introdução
de um indicador apropriado, que capte o bem-estar das pessoas e das famílias, uma das
bem-estar e da desigualdade das famílias com ênfase em seus aspectos dinâmicos. Como
enfatizado em Ferreira (2010), grande atenção tem sido dada aos aspectos dinâmicos do
bem-estar, que mostram como as distintas taxas de crescimento do consumo (ou da renda)
dos mais pobres e dos mais ricos determinam os valores da desigualdade, da pobreza e do
O período analisado neste trabalho foi marcado por importantes aspectos no cenário
econômico interno e externo que são relevantes destacar. No Brasil, os anos compreendidos
entre 2002 e 2009 foi marcado por um acentuado crescimento econômico, com aumento real
em torno de 25% no PIB, incentivo fiscal para a produção e aquisição de bens duráveis,
como eletroeletrônicos e automóveis, queda da taxa de juros (44 p.p) e expansão da oferta
desses estudos foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Barros et al
(2007) apontam uma queda da desigualdade brasileira ocorrida entre 2001 e 2005,
Neri (2011) analisa a transição das classes sociais mais pobres para a classe média, a
chamada classe C, entre 2001 e 2009, que aumentou sua população em 29 milhões enquanto
da distribuição de renda familiar per capita brasileira, utilizando as POFs 2002-2003 e 2008-
2009. O autor encontra uma redução da desigualdade medida pelo índice de Gini de 0,59 em
mesmo da despesa. Um exemplo desses estudos é Campolina e Gaiger (2013) que realizaram
um estudo com base na evolução das despesas e mostraram que o aumento de participação,
entre 2003 e 2009, dos 70% mais pobres no valor total dos orçamentos monetários familiares
foi de somente 0,4 p.p. enquanto os 10% mais ricos preservaram sua participação. Outro
exemplo é Oliveira et al (2016) que analisaram o consumo ao invés das despesas. Os autores
gastos não esporádicos que, em geral, representam ganhos de bem-estar, calcularam o valor
dos serviços dos bens duráveis pelo custo de uso, imputaram o valor das despesas de
da POF.
padronização do cálculo de agregado de consumo nas duas edições da pesquisa (POF 2002-
2003 e POF 2008-2009). Essas edições da POF são as únicas que abrangem todo território
consumo a partir dos itens de despesa. Isto também nos permitiu estudar a evolução do
consumo e a dinâmica do bem-estar e da desigualdade entre as famílias brasileiras. A partir
componentes, aqui definidos como: i) alimentação; ii) bens duráveis; iii) habitação; iv)
Além dessa introdução, este trabalho conta com mais cinco seções. A primeira trata da
comportamento do consumo médio per capita e seus componentes. Na seção três, avalia-se
considerações finais.
1. Agregado de Consumo
trabalho, ele é um exercício complexo que requer uma discriminação detalhada e precisa
dentre as despesas que devem ser incluídas ou não, com o intuito de comparar os níveis de
essenciais aos orçamentos domésticos, assim como as percepções sobre as condições de vida
das famílias brasileiras. A partir dos milhares de registros da pesquisa é realizada uma
1 Decomposições analíticas: Rao (1969); Shorrocks (1982); Jenkins (1995);Lerman and Yitzhaki (1985); Soares (2006);
Hoffmann (2006). Decomposições contrafactuais:Shorrocks, 2012 Shapley (1953); Barros et al (2006); Duclos and Araar
(2006); Azevedo et al (2013).
identificação, compatibilização e classificação um a um dos itens para a construção dos
agregados de consumo.
Transporte; e) Outros Bens. Para definição de quais itens de despesa deveriam compor o
para a comparação do bem-estar entre as famílias e de aquisição que gere ganho de bem-
estar. A seguir, explicaremos brevemente3, as etapas dos tratamentos dos dados para cada
Todas as despesas do grupo alimentação foram incluídas no agregado. Como a POF utiliza
um período de referência curto (7 dias) para captar a aquisição de alimentos é comum que
algumas famílias não registrem despesas com alimentação, não significando que elas não
tenham consumido esses tipos de bens durante o período dos sete dias. As situações em que
1983).
Em relação ao grupo de bens duráveis, sua inclusão no agregado de consumo foi uma das
mas existe uma dificuldade em usá-lo porque a maioria dos preços de aquisição desses bens
2 Hentschel and Lanjow (1996), Lanjow and Lanjow (2001),Deaton and Zaidi (2002), ILO-ICLS-17 (2003), Haughton
and Khandker (2009), Lanjow (2009), Stiglitz, Sen and Fitoussi (2009).
3 Para mais detalhes da etapa de construção do agregado de consumo ver Oliveira et al (2016).
é elevada o que pode prejudicar a comparação entre as famílias que já possuíam tais bens e
apenas o valor dos serviços (calculado pelo custo de uso de cada bem durável) e não seu
valor de aquisição este problema é resolvido. Para mais detalhes do método deste cálculo,
As despesas do grupo educação, saúde e transporte tem alguns itens que podem ser
estar das famílias. De acordo com Oliveira et al (2016), Lanjow (2009) e Deaton e Zaidi
(2002), as despesas com educação deveriam ser incluídas em sua totalidade e as de saúde
apenas as que se referem aos planos de saúde e dentários. Já em relação aos dispêndios com
transporte, são excluidos os gastos com transporte de massa, como sugerido em Nordhaus e
Tobin (1972) e Sen, Stiglitz e Fitoussi, (2009), e inclui as outras despesas relacionadas a
O grupo outros bens agrega as despesas relacionadas com vestuário, cultura e lazer, serviços
pessoais, higiene e cuidados pessoais, hábitos de fumar e outras despesas diversas (festas,
necessário aplicar um deflator espacial, que corrija as diferenças de preços existentes entre
4 Oliveira et al (2016), Lanjow (2009) e Deaton e Zaidi (2002) sugerem a exclusão de muitos destes itens.
eles. Seguindo Oliveira et al (2016), os deflatores foram criados com apenas os itens em
índice de preços de Laspeyres. O índice de Laspeyres fixa uma cesta de consumo de uma
região de referência, neste caso a região metropolitana de São Paulo (RMSP), e compara os
preços de cada contexto geográfico analisado em relação a essa cesta. A versão adaptada do
índice de Laspeyres para os anos 2002-2003 e 2008-2009, foi baseada em Ferreira, Neri e
cálculo do índice de Laspeyres tradicional. Neste trabalho, aplicamos essa razão para as
despesas de comunicação, pois não temos na pesquisa valores relativos a quantidade para
esse grupo.
consumo que estão na faixa de renda do segundo ao quinto decil, selecionando as despesas
das categorias de gás, comunicação, água e esgoto, energia elétrica, habitação e alimentação.
Após a seleção dessas despesas, foi aplicado o índice de Laspeyres adaptado que é a relação
dessa mesma cesta de consumo nos demais contextos geográficos. Entretanto, a parcela
referente as despesas com comunicação têm um cálculo separado: a razão do total das
5 Regiões Metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e
Porto Alegre); e Distrito Federal; Área Urbana não-metropolitana e Área Rural de cada uma das cinco grandes regiões
brasileiras)
∑𝑖 𝑃𝑖𝑗 .𝑄̅𝑖𝐵
(1) 𝐿 = (1 − 𝑆 ) | +𝑆𝑉𝑐𝑜𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐çã𝑜,𝑗
𝑎𝑑𝑝𝑡,𝑗 𝐵 ∑ 𝑃 .𝑄̅ 𝐵𝑉
𝑖 𝑖𝐵 𝑖𝐵 𝑖≠𝑐𝑜𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐𝑎çã𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐çã𝑜,𝐵
Onde Pij = preço do produto ou serviços i no contexto geográfico j; 𝑄̅𝑖𝐵 = quantidade do produto ou serviço i no
contexto geográfico base (Região Metropolitana de São Paulo); P iB = preço do produto ou serviços i no
contexto geográfico base; SB = fração da despesa com comunicação na despesa total do contexto geográfico
base; Vj = total das despesas em "comunicação" do contexto geográfico j.
Após o cálculo do índice de Laspeyres adaptado para cada uma das cestas de consumo dos
respectivos anos da pesquisa, seria possível utilizar o deflator espacial gerado com 2008-
2009 para corrigir os preços nas duas edições da pesquisa, ou utilizar o deflator gerado com
serviços a preços de janeiro de 2003, enquanto a POF 2008-2009 está a preços de janeiro de
2009. Sendo assim, para poder comparar os dois agregados de consumo no tempo, precisa-
índice de preços ao consumidor amplo (IPCA), ajustando os preços de cada grupo de despesa
seguir será apresentada a análise do consumo per capita do Brasil nos períodos 2002-2003 e
2008-2009.
Nesta seção, analisa-se o crescimento do consumo no período entre as duas edições da POF
estudadas, bem como seus efeitos sobre o bem-estar. A evolução dos componentes do
geográficas analisadas entre os períodos 2002 e 2009. No Brasil cresceu 17%, passando de
R$544 para R$638. Em relação as áreas geográficas, houve crescimento em todas as grandes
regiões, sendo que as regiões Sul (22,5%) e Norte (22%) apresentaram maiores variações.
número muito acima do observado nas áreas urbanas, com aproximadamente 16%.
Tabela 2: Média per capita dos componentes do consumo segundo áreas geográficas
Avaliando os componentes do consumo, todas as categorias registraram aumento, porém ele
não se deu de forma homogênea. O componente dos bens duráveis subiu de 83,7% no
categoria bens duráveis foi registrado em todas as grandes regiões, tanto nas áreas urbanas
quanto nas rurais. As áreas rurais e a região Nordeste, foram as que tiveram maior
de consumo também nos grupos de saúde, educação e transporte (50,8%), outros bens
padrão de consumo não se alterou apesar do forte crescimento dos bens duráveis, passando
de 8,6% para 13,5% de participação, entre 2002 e 2009. O componente responsável pela
maior parte das despesas das unidades de consumo brasileiras permanece sendo a habitação,
participação dos bens duráveis, pois os demais componentes de consumo tiveram pequenas
reduções em suas participações. A alimentação foi o componente que sofreu a maior perda
Essa subseção analisa como a distribuição do Consumo per capita (CPC) evoluiu entre as
edições 2002-2003 e 2008-2009 da POF, seus impactos sobre a crescimento (médio), sobre
Figura 1: (a) Parada de Pen – truncada em 95% - Brasil e (b) Curva de incidência do crescimento
A partir da Parada de Pen, Figura 1-a, se observa que os valores do CPC de 2008-2009 estão
Figura 1-b, tem-se a taxa de crescimento do CPC de cada percentil e assim observa-se melhor
o CPC não cresceu no percentil mais elevado, a GIC tem uma parte negativa e não se pode
afirmar que o bem-estar de cada indivíduo/família aumentou. Para uma melhor avaliação do
bem-estar social, assume-se uma função que valoriza tanto incrementos no CPC quanto
Figura 2: (a) Curva de Loren Generalizada e (b) Decomposição parcial do crescimento médio por
componentes do consumo
A Figura 2-a, mostra que a Curva de Lorenz Generalizada (GLC) de 2008-2009 está sempre
acima da GLC de 2002-2003. Nesse caso, pode-se afirmar que: o bem-estar social é maior
progressivas.
Já através da Figura 2-b, descreve-se como os incrementos da GLC são decompostos pelos
população. Assim, tem-se que, para os primeiros 10% da população, um pouco mais de 40%
do crescimento do CPC é proveniente do item habitação e cerca de 27% do item outros bens.
participação para o aumento da GLC, cerca de 25%. Depois desse ponto (P60), o
componente bens duráveis passa a ser o que mais contribui para o aumento da GLC.
bens duráveis em relação aos demais. Sozinho, esse componente foi responsável por mais
Para mensurar o impacto do consumo sobre o bem-estar das famílias brasileiras, foram
adotadas funções (abreviadas) de bem estar social6, sensíveis tanto ao crescimento quanto a
CPC médio e a desigualdade. Essas funções abreviadas serão representadas neste artigo pelas
onde: ci = consumo do indivíduo i; cj= consumo do indivíduo j , N= total da população , I Gini(c)= índice de
Gini; IAtk(c)= índice de desigualdade de Atkinson; µ(c)= consumo per capita médio
desigualdade IGini(c) e IAtk(c) nas edições 2002-2003 e 2008-2009 da POF. Uma questão que
6 Assumimos que as funções de bem estar social são homogêneas de grau 1 (ou que haja uma transformação monótona
que a torne homogênea de grau 1).
7 Mais detalhes sobre estas funções de bem estar e estes índices de desigualdade podem ser encontrados em Sen e Foster
passando de 50,2 para 49,5 enquanto IAtk(c) diminui 0,5. Duas exceções são a região Sul e
as áreas rurais onde as variações são maiores. Dada a queda sutil da desigualdade e o
principal responsável pela evolução do bem estar social. As duas últimas linhas da Tabela 4
mostram que para o Brasil o crescimento explica 93% ou 95% do aumento do bem-estar
Vimos que os bens duráveis contribuem de forma relevante para o aumento do bem-estar
3. Decomposição da desigualdade
consumo para a desigualdade serão utilizadas quatro decomposições estáticas8, em que duas
onde para cada componente k (k= 1,...,5), são calculados, o seu peso no consumo total (Sk),
8 Asdecomposições analíticas são baseadas em Rao (1969), Lerman e Yitzhaki (1985), Shorrocks (1982), Jenkins
(1995), Soares (2006) e Hoffmann (2006) e as decomposições contrafactuais são baseadas no valor de Shapley (1953),
Shorrocks (1999;2012), Barros et al (2006); Duclos and Araar (2006) e Azevedo et al (2013).
9Shorrocks sugere que a contribuição relativa do componente k seja dada pela razão R =cov(CPC ,CPC)/var(CPC), onde
k K
CPCK é o consumo per capita do componente k, independente da medida de desigualdade utilizada. Repare que esta
expressão é equivalente a expressão utilizada na decomposição do CV. Jenkins (1995) e Ferreira et al (2006) utilizam o
mesmo princípio para decompor a entropia generalizada IGE(2)=[CV2/2].
a sua correlação com o CPC (ρk) e seu coeficiente de variação (CVk). Assim, para o CV, a
Por sua vez, o cálculo da decomposição analítica do Gini baseou-se em Rao (1969) e Lerman
e Yitzhaki (1985). Neste método, são calculados, para cada componente k, o seu peso no
consumo total (Sk), a sua correlação de Gini (rk), o seu índice Gini (IGini,k), assim como o seu
características dos seus componentes: seu peso, sua desigualdade e sua associação com o
cada passo, um dos componentes do consumo (k) é substituído pela sua média. A variação
contribuição estimada desse componente. Ao final dessa sequência inicial, tem-se cinco
contribuições estimadas, uma para cada componente. O exercício segue até cobrir todas as
Educação, saúde e transporte contribuiu com cerca de 23% a 25%. A alta contribuição do
consumo do próprio componente. De toda forma, esses dois componentes são os que mais
duráveis possui a menor contribuição (de 6% a 9%) em razão do seu menor peso sobre o
enquanto a dos Bens duráveis (11% a 15%) aumentou, indicando uma certa mudança na
evolução. Para tanto, cinco exercícios foram realizados, sendo que dois deles,
subseção anterior. Esses últimos três exercícios são realizados, basicamente, a partir das
ΔAzero,k) e das variações dos índices de desigualdade (ΔCV ou ΔIGini). Em seguida, são
são substituídos pelos componentes do consumo de 2008-2009, como sugerido por Barros
∑ 𝐴𝑡
do componente k são dadas, respectivamente, por 𝐴new,k = 𝑛𝑒𝑤,𝑘 , (onde t = 1, . . . , T) e
𝑇
decomposição dinâmica segue Hoffmann (2006) e Soares (2006). Esses autores calculam a
os valores positivos contribuem para a sua redução. Pode-se observar que para as
observada. O componente Outros Bens teve impacto relevante para a redução das
contribuiu, em termos absolutos, com 0,029 pontos para o aumento do Gini entre 2002-2009,
gerada pela evolução dos bens duráveis fosse eliminada o índice de Gini se reduziria 105%
bens foi o que mais contribuiu para a redução das desigualdades (101% e 105%).
4. Considerações Finais
Este artigo buscou avaliar como o impacto do crescimento do consumo e de sua composição
um aspecto dinâmico em sua análise. Para tal, foram construídos agregados de consumo com
A avaliação do consumo per capita do Brasil apontou aumento de 17% entre 2002 e 2009.
Além disso, também houve crescimento em todas as grandes regiões, e nas áreas urbanas e
bens duráveis foi o principal destaque, responsável por cerca de 40% desse crescimento,
analisados a partir das funções bem-estar social representadas pelas médias Sen e
consumo e não a sua redistribuição, dado que a redução das desigualdades foi modesta.
desigualdade gerada pela evolução dos Bens duráveis fosse eliminada, a queda da
exercícios estáticos quanto os dinâmicos mostraram que o crescimento desigual dos Bens
Duráveis limitou a queda da desigualdade e alterou a sua estrutura entre as duas edições da
POF.
Sendo assim, tem-se que o componente bens duráveis foi responsável tanto pelo aumento do
bem-estar das famílias brasileiras de forma marcante, quanto pela geração de novas
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I. Tabelas
Tabela 1: Deflatores temporais, segundo os grupos de despesa do agregado de consumo Tabela 3: Taxa de participação dos componentes do consumo, segundo áreas
e sua respectiva compatibilização com os grupos e subgrupos do IPCA geográficas
Abstract
The World Health Organization to highlight the constant increase of overweight and
obesity rates in the world, mainly in low-income countries. Among the factors that
interfere in childhood obesity, the composition and the home environment are
highlighted as important as the quality and amount of food eaten by the child, in
addition to the acquisition of healthy habits and the practice of physical activity. Thus,
this study has as main objective to evaluate the relationship between the size of families
and childhood obesity, from the data of Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF-
2008/2009). The model used was the Probit with endogenous regressors, since there are
no observed factors that affect the size of the family, being a parental decision, what
characterizes endogeneity. The results suggest a negative relationship between the size
of family and childhood obesity, indicating that a child more decreases the likelihood of
childhood obesity. In the face of growing concern about the expansion of this chronic
disease, this study aims to contribute to the elaboration of programs and public policies
that seek to combat, treatment and prevention of childhood obesity, taking into
consideration the family formation.
Keywords: family size, childhood obesity, Probit with endogenous regressors.
1 Introdução
altas taxas de obesidade em uma população, entre eles destacam-se: os custos médicos
acumulação de capital humano. Esse último item, em particular, diz respeito ao fato de
Antônio e Mendes (2010b), apesar de crianças obesas ainda não possuírem doenças ou
compreensão do estado nutricional infantil significa uma oportunidade ímpar para traçar
cabe mencionar que o crescimento físico das crianças é mundialmente aceito como
reflexo das condições de vida e saúde dos indivíduos (ANTÔNIO e MENDES, 2010a).
Assim, conhecer os fatores que podem ser responsáveis por uma maior incidência de
nos últimos anos, conforme ressalta a OMS (2016), particularmente entre os países de
baixa renda. Essa tendência é resultado das mudanças nos hábitos alimentares,
disponibilidade, acessibilidade e comercialização de alimentos, bem como do declínio
obesidade entre crianças de 5 a 9 anos passou de 4,1% em 1989 para 16,6% em 2008-
2009 entre meninos e de 2,4% para 11,8% entre meninas, no mesmo período (POF,
obesidade.
uma criança consome e seu nível de atividade física. Além disso, a família tem
compreensão do estado nutricional infantil, tanto na China quanto nos demais países em
desenvolvimento.
Com o intuito de contribuir para esse debate, este estudo tem o objetivo de
irmãos no estado de saúde das crianças, o que sugere que a estrutura familiar pode afetar
como educação e rendimentos; segundo, os resultados dessa análise são indicativos para
controle de fertilidade.
obesidade infantil.
segunda seção aborda o modelo econômico e uma revisão literária sobre a relação entre
considerações finais.
resultados posteriores na vida adulta dos mesmos. Becker e Lewis (1973) propõem a
modelo proposto, a qualidade das crianças é representada, entre outros fatores, pelo
investimento em capital humano definido basicamente por nível de escolaridade e
saúde. Dessa maneira, a qualidade dos filhos é incorporada à função de utilidade dos
De maneira similar, Becker (1981) supõe que a família possua apenas uma
qualidade dos filhos está agrupado às demais despesas, e esse problema pode ser
expresso por:
(1)
consumo dos demais bens privados; consiste no "preço da qualidade" dos filhos e ,
um vetor de preços dos demais bens consumidos pela família. Ao maximizar a função
de utilidade restritos à sua renda, o resultado obtido implica em uma relação positiva
tanto entre o preço da qualidade das crianças e a quantidade, quanto entre esse preço e a
rivalidade entre irmãos, onde os pais visam o investimento em seus filhos de forma
eficiente, podendo investir seus recursos de forma igual ou não entre eles.
, em geral, os pais optam por terem menos filhos visando uma qualidade melhor para
cada um deles. Ou seja, o custo de uma criança adicional aumenta a medida que se
familiares, onde famílias maiores dividem recursos como atenção dos pais, atenção
emocional e física, além dos recursos materiais que permitem o investimento maior em
qualidade dos filhos. Segundo essa abordagem, os pais dividem de forma igual o
Em suma, uma vez que as decisões familiares são afetadas pela função de
uma adequação do consumo dos bens familiares, podendo afetar o acesso à alimentos
com a qualidade de vida que os pais almejam para seus filhos, o que pode afetar
indivíduos (Marteleto, 2002; Lam e Marteleto, 2010; Bagger et al, 2013; Black et al,
tamanho da família sobre saúde das crianças, e encontram que uma criança adicional
eleva a altura média da família, sendo esse um indicador geral do estado de saúde.
fato de se morar apenas com a mãe ou com a mãe e o pai, e o efeito do número de
jardim de infância nos Estados Unidos. Seus resultados indicam que crianças que
moram com ambos os pais e com irmãos são menos propensas a serem obesas. Em
Escarce (2014) encontram resultados semelhantes, sendo que crianças sem irmãos
peso em menores de cinco anos e os fatores associados em áreas urbanas das cinco
importante fator, já que filhos únicos tiveram prevalência de excesso de peso 26% maior
que irmãos não únicos. Zöllner et al (2006), para a cidade de São Paulo, investigam os
sobrepeso.
determinante da saúde infantil, pouco tem sido avaliado em termos da saúde nutricional
escassas, principalmente entre estudos econômicos. Nesse sentido, esse artigo busca,
por meio de uma análise econômica, preencher algumas dessas lacunas. Primeiro, todas
aos hábitos alimentares de famílias mais e menos numerosas, que podem ser úteis à
vem se reduzindo.
3 Estratégia empírica e fonte dos dados
Este trabalho busca evidências quanto a uma possível relação causal entre o
filhos. No entanto, o ideal seria avaliar a situação de obesidade de uma mesma criança,
observação das duas situações, a estratégia empírica desenvolvida neste estudo busca
(2)
onde obesidade é uma variável dummy sendo igual a 1 se a criança é obesa e 0 caso
consiste no termo de erro aleatório. Todas essas variáveis são mensuradas ao nível de
crianças, i.
observáveis que ajudam a família a decidir quanto ao número de crianças podem ser
estimação da equação (2) por meio do Método dos Mínimos Quadrados Ordinários
(MQO). A correlação entre a variável de interesse e o termo de erro leva a dois efeitos
1
Medida usualmente utilizada na literatura; ver MARTELETO-2002, LAM E MARTELETO-2010,
LUNDBORG et al-2015
sobre a variável dependente, o efeito direto do tamanho da família e o efeito indireto do
seu valor. Nesse intento, procede-se à utilização de uma variável instrumental que
apenas determine a obesidade infantil por meio de seu efeito sobre o tamanho da
família. Formalmente, para que o instrumento seja válido, ele deve satisfazer às
seguintes propriedades:
variável instrumental
tamanho da família nos resultados sobre as crianças, esse trabalho utiliza como
demanda por filhos na medida que pelo menos uma das crianças não é planejada ou
(2)
(3)
(4)
Assim assume-se que não haja relação linear entre o instrumento (gemeos) e o
Massa Corpórea (IMC). Pra uma melhor análise infantil, a Organização Mundial de
criança é considerada obesa, de acordo com a referência para a idade, e 0 caso contrário.
Diante da natureza binária dessa variável, na equação (2), ajustou-se um modelo probit
para a relação entre a probabilidade de uma criança ser obesa em relação ao tamanho da
família, além das características da criança e dos pais. Dessa forma, dada a suposição de
que os erros de (2) e (3) são conjuntamente normalmente distribuídos, o modelo Probit
(5)
Diante de uma equação estrutural definida por uma variável dependente binária e
com uma variável de interesse considerada endógena, duas formas de estimação podem
ser apropriadas. Segundo Cameron e Trivedi (2009), a primeira delas é a estimação por
A segunda forma consiste em uma estimação do mesmo modelo, por meio de duas
Como a priori não se tem certeza quanto ao estimador mais consistente para a
estimação proposta nesse artigo, a estimação dos dois métodos foi realizada para fins de
robustez.
Estatística (IBGE). A POF constitui uma rica fonte de dados sobre a estrutura dos
condições de vida das famílias e população brasileira (IBGE, 2008). Já foram realizadas
primeiras foram realizadas para o município de Goiânia e Distrito Federal, além das
nove regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio
de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre), já as edições de 2002-2003 e 2008-2009
Nesse trabalho, foi utilizada a POF 2008-2009, realizada entre maio de 2008 a
pertencentes a família do tipo casal com filhos. Esse formato de família foi utilizado
pelo fato do número de filhos ser uma decisão conjunta dos pais, e também pelo
físicas, sendo que para isso, é necessário que os dois residam com os filhos. Compõe a
suas definições, cuja escolha baseou-se em estudos que atrelam o tamanho da família
idade e escolaridade dos pais afim de captar a influência das características dos pais na
diferenças quanto à obesidade infantil entre as áreas urbanas e rurais. Por fim, a variável
4 Resultados
descritivas
N 22414
Fonte: Elaboração própria com dados da POF 2008/2009
Observa-se que do total da amostra, 13% das crianças são consideradas obesas,
e possuem uma idade média de 5,26 anos. Sobre a variável de interesse tamanho da
família, que remete ao número de irmãos, tem-se uma média de 2,56 entre as famílias
consideradas. Do total de observações 51% são meninos e 40% são brancos. A maioria
sul com 10% apenas. Quanto a região censitária, 31% das crianças estão na zona rural.
A escolaridade média das mães é de 7,13 anos de estudos e dos pais de 6,39 anos. O
IMC médio dos pais é em torno de 25, índice considerado de sobrepeso para adultos.
famílias com um e dois filhos, com percentuais de 3,9% e 4,9% do total da amostra,
crianças de 10 anos.
infantil
modelo Probit com regressores endógenos foi estimado por máxima verossimilhança e
por duas etapas2, utilizando como instrumento para o tamanho da família a ocorrência
estimações.
2
Pelo teste de Wald, ambas a estimações, por máxima verossimilhança e por duas etapas, mostram
resultado significativos rejeitando a hipótese nula de que não há endogeneidade, justificando assim a
utilização da variável instrumental para tamanho da família
Idade do Pai 0.00 0.01*** 0.02*** 0.01***
(0.00) (0.00) (0.00) (0.00)
Logaritmo da Renda -0.01 -0.25*** -0.52*** -0.30***
(0.02) (0.04) (0.01) (0.08)
Gêmeos 0.93***
(0.07)
Constante -2.60*** -0.42 3.71*** -0.51
(0.13) (0.48) (0.09) (0.54)
mostrando menor precisão para essa estimação. Apesar de não serem diretamente
mais, diminui a razão de chances de obesidade em cerca de 10%. Porém, esse modelo
54%. Já a estimação por duas etapas, a razão de chances diminui em 66% se o tamanho
Para uma interpretação mais coerente dos resultados, são apresentados os efeitos
(2010) para dados dos Estados Unidos e por Zollner para o município de São Paulo.
confirmado pelos resultados encontrados que mostram que um ano a mais de idade e ser
está relacionada com a condição socioeconômica dos pais, onde a investigação dos
impactos e influências dessas fatores se torna relevante no estudo do peso corporal dos
filhos. Assim, quanto às características dos pais, um ano a mais de estudo da mãe
diminui a probabilidade de obesidade infantil (0,3 p.p.), e quanto maior o IMC dos pais,
relação a zona urbana em 0,31 p.p.. O que pode ser decorrente do estilo de vida das famílias
dessas regiões, com maior acesso a alimentos de qualidade e baixo consumo de produtos
industrializados, além de possuírem uma rotina que exige um esforço físico elevado.
5 Considerações Finais
de 2008/2009.
casal com filhos, totalizando 22.103 observações. Assim como comumente utilizado na
literatura sobre a estrutura familiar, o tamanho da família nesse artigo foi considerado
bem estar social e são essenciais para os resultados posteriores da criança. Os resultados
obtidos na estimação apontam que famílias menores têm maior probabilidade de terem
crianças obesas. Esse resultado pode estar associado ao fato de que o número de irmãos
pode afetar o tempo e a atenção dos pais, além de diluírem os recursos familiares. Em
indicando que um filho a mais na família diminui a probabilidade de se ter uma criança
obesa.
saúde infantil, particularmente sobre a obesidade. Se famílias menores são aquelas mais
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Brasileira Epidemiol, Abril-Junho, 2014. P. 285-296.
das famílias. Esses estudos partem de uma visão unidimensional, onde a vulnerabilidade é
determinada pela renda monetária, até uma visão multidimensional que determina a
vulnerabilidade não apenas como a falta de recursos monetários para o consumo de bens e
serviços no mercado, mas também como a privação de direitos sociais mais amplos
2015).
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) diversas pesquisas têm buscado construir
indicadores que sintetizem todas as dimensões relevantes para a qualidade de vida das
famílias. Nesse sentido, Najar, De Faria Baptista e De Andrade (2008), através dos dados do
mais vulneráveis eram aqueles formados por famílias chefiados por mulheres e famílias cujo
chefe de família tinha mais de 65 anos. Evidenciando também que as dimensões mais críticas
2009. O autor aponta que a vulnerabilidade como um todo se concentra fortemente nas áreas
rurais dos estados de Alagoas, Maranhão e Piauí e no interior dos estados do Ceará e de
Pernambuco. O autor ressalta que entre o período analisado a região Norte apresentou menor
o nível de desenvolvimento dos munícipios da Amazônia Legal nos anos de 2000 e 2010
Sousa, Santos e Sousa (2016) tiveram como base o trabalho de Barros, Carvalho e Franco
Família (IDF), que visa mensurar a qualidade das famílias e pode ser facilmente agregado
FRANCO, 2003).
Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo geral identificar os perfis de
por mulheres com os escores fatoriais (IDFCMFatorial) ponderados pelas variâncias dos fatores;
1
Os autores destacam que a definição de quais indicadores, dimensões e sistemas de pesos devam ser utilizados
não é uma decisão técnica, estatística e nem matemática, mas sim um reflexo das preferencias sociais
(BARROS; CARVALHO; FRANCO, 2003).
Desenvolvimento das Famílias chefiadas por mulheres (IDFCM) utilizando os dados da
PNAD 2015; iii) verificar a coerência do IDFCMFatorial com o IDFCM calculado; iv) propor
Nas últimas décadas tem crescido o número de famílias chefiadas por mulheres no
Brasil. Segundo Berquó (2001), isto é um fenômeno tipicamente urbano, onde a maioria é
encontra-se nas camadas pobres, visto que a própria condição de pobreza, e muitas vezes
Assim, conhecer a realidade das famílias de um país deve ser um dos objetivos dos
Além dessa breve introdução, esse artigo está distribuído em metodologia, onde são
2. Metodologia
Nesta seção apresenta-se, além da técnica multivariada de análise fatorial, o Índice
de Desenvolvimento das Famílias chefiadas por mulheres (IDFCM) tendo como base o Índice
proposto por Barros, Carvalho e Franco (2003). Esta técnica tem como principal objetivo a
explicação (HAIR et al., 2009). Assim, os fatores construídos pela análise fatorial
representam as dimensões do índice proposto, substituindo assim, em contraste com a
2.1. Índice de Desenvolvimento da Família para famílias chefiadas por mulheres (IDFCM)
relevantes para a pobreza em uma análise a nível de família. Tal índice permite a agregação
para qualquer grupo demográfico, como por exemplo famílias chefiadas por mulheres.
Assim como o IDF, o Índice proposto neste trabalho é constituído por 6 dimensões
(D), quais sejam, i) Ausência de Vulnerabilidade, ii) Acesso ao Conhecimento, iii) Acesso
Segundo Hair et al. (2009), o objetivo central da Análise Fatorial (AF) é encontrar
menor de fatores com perda mínima de informação. Assim, espera-se que as variáveis
(MINGOTI, 2005).
𝐹𝑗são os fatores comuns não relacionados entre si; e 𝑒𝑖 é um erro que representa a parcela
da variável i que não é explicada por um fator nem por outra variável do conjunto analisado.
Há dois enfoques diferentes para tal análise, a Análise Fatorial Explanatória (AFE) e
Análise Fatorial Confirmatória (AFC). A AFE, utilizada neste trabalho, tem como objetivo
uma relação de todas a variáveis com todos os fatores. Já na AFC, parte-se de um conjunto
se relacionam com quais fatores, que tem como objetivo confirmar se as variáveis formam
os fatores da forma em que modelo foi assumido. Então, enquanto na AFE a teoria e o
conhecimento empírico são utilizados para a interpretação dos resultados, na AFC elas são
utilizadas para formular o modelo que será testado com a aplicação da técnica (HAIR et al.,
dos Componentes Principais, utilizada no presente artigo, é o mais utilizado e tem como base
o uso das raízes características e vetores característicos relacionados com componentes para
Principais em que utiliza-se uma matriz de correlação modificada (matriz de correlação com
∆𝑝𝑥𝑝.
são considerados aceitáveis, indicando uma boa qualidade de ajustamento (HAIR et al.,
2009).
de rotação dos eixos relativos aos fatores comuns. Vale destacar que a quantidade de
i (𝐶𝑖) é a média aritmética dos indicadores utilizados para representar esse componente.
Seguindo o mesmo princípio do cálculo dos componentes, o valor da dimensão j (𝐷𝑖) é média
aritmética dos componentes utilizados para representa-los. Este cálculo pode ser visto na
equação (3).
relacionada com o fator j, isto é, a proporção de variância explicada pelo fator j, 𝐹𝑖𝑟 é o valor
3. Resultados
Os resultados alcançados na estimação do Índice de Desenvolvimento das Famílias
chefiadas por mulheres (IDFCM) na região nordeste para o ano de 2015 estão divididos em
três seções, a primeira onde são apresentados os resultados encontrados através da estimação
que utilizou da técnica de análise fatorial exploratória para definir o valor final do índice, a
segunda seção é destinada aos resultados encontrados para a estimação tradicional do índice
e por fim, encontra-se uma seção onde existe uma comparação dos resultados alcançados
3.1. Índice de Desenvolvimento das Famílias chefiadas por mulheres com os escores
fatoriais (IDFCMFatorial)
A análise fatorial explanatória definiu oito fatores que explicam 71,66% da variância
total para as famílias chefiadas por mulheres. A consistência interna das variáveis se
apresentou adequada, demonstrada pelo valor do alpha de Cronbach 0,83, acima do que se
positivo e 0 caso contrário. Através desse procedimento, as famílias que possuem um maior
somatório nas respostas são aquelas que apresentam maior desenvolvimento familiar, dentro
dos aspectos trabalhados nesse artigo que são demonstrados através dos fatores. Na Tabela
das crianças, além de duas características domiciliares, se ele é próprio e qual a densidade
características familiares, com uma ênfase na presença de crianças ou não, esse fator foi
como fogão, geladeira, televisão, rádio, computador e telefone, assim como indica se o
O fator 4 foi classificado como a renda do domicílio, pois ele capta o acesso ao
mercado de trabalho por partes dos integrantes das famílias assim como a renda que a família
dispõe com base em salários mínimos. O fator 5 indica em maior medida as características
outro tipo.
caracteriza pela presença ou não desse grupo na escola e pela presença adolescentes e jovens
E por fim, o fator 8 indica a presença de trabalho infantil na família e também se essa
família possui ao menos um trabalhador que está estável no mesmo emprego a mais de 6
Após a divisão dos fatores foi possível analisar que os indicadores relativos ao
componente mortalidade infantil do IDF proposto por Barros, Carvalho e Franco (2003),
foram distribuídos em fatores diversos, não possibilitando assim a análise específica desse
componente.
valores de máximo e mínimo são demonstrados na Tabela 2. É possível observar que todos
fator.
Os efeitos dos fatores são captados no IDFCMFatorial, com valor médio de 0,61,
variando de 0,34 a 0,74. Entre os fatores estimados, o fator que capta as características das
famílias foi o que apresentou melhor desempenho, indicando que altas taxas de fecundidade,
ou uma alta densidade habitacional não são os principais aspectos da vulnerabilidade das
famílias chefiadas por mulheres. Dentre as 14.490 famílias da amostra, apenas 10,6%
tiveram alguma mulher obtendo filho nos últimos 2 anos e 85% das famílias vivem em
Outro fator que apresentou bom resultado foi o de escolaridade das crianças,
adolescentes e jovens, com um valor médio do fator de 0,64. Esse resultado pode ser
O pior resultado encontrado, foi o fator 4, com média de 0,538. Esse fator indica a
renda das famílias, ou seja, o principal problema para o desenvolvimento das famílias
chefiadas por mulheres na região nordeste é a baixa renda. Dentre a amostra analisada, 9,8%
das famílias viviam com uma renda per capita inferior a linha da pobreza, porém o que é de
maior impacto é que 83% das famílias não possuem algum membro com renda superior a
dois salários mínimos, ficando evidente que esse é o principal fator de vulnerabilidade dessas
famílias.
O fator 2, referente a educação dos adultos, demonstrou o maior desvio padrão (0,20),
indicando a não homogeneidade da formação escolar dos adultos que compõem essas
possuíam algum adulto com ensino superior em 14% das vezes, com apenas o ensino médio
em 42%, com apenas o ensino fundamental completo em 13% e sem o ensino fundamental
O fator que apresentou menor desvio padrão foi o terceiro, que indica o acesso a bens
duráveis, isso se explica devido à composição desse índice ser de bens considerados
essenciais para qualquer família que possua o mínimo de renda, como energia elétrica,
geladeira, fogão, televisão e telefone. E também pelo componente possuir ou não imóvel
próprio também ter tido pouca variação, visto que 83% da amostra vive em imóvel próprio
ou cedido.
de Desenvolvimento das Famílias chefiadas por mulheres (IDFCM) tendo como base o Índice
proposto por Barros, Carvalho e Franco (2003). Na Tabela 3 são apresentados o valor IDFCM
padrão (0,34), indicando que existe um problema na questão da baixa educação formal e
esse alto desvio padrão também ocorreu no fator 2 do índice anterior, que também visou
Outra dimensão que também obteve um resultado comparativo bem ruim foi o acesso
ao trabalho (0,56). Esse resultado se mostra bem coerente com o resultado da dimensão
anterior, dado que o processo de se encontrar um emprego é ainda mais severo para os
ótimos resultados, acima de 0,9. Contudo uma observação deve ser feita, na dimensão 4, o
objeto de análise é a renda per capita acima da linha da extrema pobreza e pobreza, que são
valores bem baixos. Quando a comparação é realizada utilizando o salário mínimo como
parâmetro, fica evidente a baixa renda auferida por essas famílias, conforme demonstrado
Franco (2003) que teve como base a PNAD 2001, que foi de 0,64. Ou seja, comparando as
famílias chefiadas por mulheres no ano de 2015 com as famílias nordestinas em geral no ano
que o acesso a renda por meio do mercado formal é o principal problema desse tipo de
qualificação profissional dos adultos é uma dificuldade de parte dessas famílias, esse fator
fica em segundo plano, pois não é a maioria que tem essa dificuldade, visto o alto grau de
jovens e adultos, indicando que políticas públicas de incentivo a educação estão surtindo
efeito, um exemplo de política é o bolsa família, que tem como obrigatoriedade a criança
frequentar a escola.
IDFCM, indicando que este pode estar superestimando o desenvolvimento das famílias
metodologia. A análise fatorial tem certa vantagem em relação a maneira tradicional visto
que utiliza de artifícios matemáticos para distribuir as questões nos diferentes fatores e
também para calcular a carga fatorial de cada um deles. Contudo, alguns arranjos de fatores
podem ficar com perguntas que não se relacionam com o conjunto geral, não possibilitando
diferentes localidades em diferentes anos, visto que a composição das dimensões é fixa. O
lado negativo é a arbitrariedade com que se dividem os indicadores nas dimensões, como
por exemplo do estudo, a dimensão acesso a renda enquadrava apenas questões relacionadas
a pobreza e extrema pobreza, mas não as perguntas que tinham como base o salário mínimo.
4. Conclusões
Através da estimação do mesmo índice por dois métodos distintos observou-se que a
pode existir uma superestimação do desenvolvimento das famílias pelo cálculo do IDF
proposto por Barros, Carvalho e Franco (2003), os resultados para cada índice foram de 0,61
estar relacionados com as mesmas variáveis, acesso a renda advinda do mercado de trabalho
por parte das famílias chefiadas mulheres, assim como a heterogeneidade da formação
Através dos resultados, sugere-se a implantação de políticas públicas que visem dar
técnico profissionalizante e de educação de jovens e adultos (EJA’s) é uma medida que pode
subdesenvolvimento familiar.
Por fim, destaca-se o aspecto positivo observado nos dois índices calculados, que
analfabetismo infantil. Como sugestão de trabalhos posteriores, seria valido realizar uma
análise da qualidade da educação auferida por essas crianças que estão em números cada vez
5. Referencial Bibliográfico
BARROS, R. P. DE; CARVALHO, M. DE; FRANCO, S. O índice de desenvolvimento da
família (IDF). 2003.
CLARET, A.; MOARA, F. Índice de pobreza multidimensional: uma análise comparativa
da construção, gestão da informação e planejamento no México, Colômbia e Minas Gerais.
2014.
Victor Medeiros1
econômica. Para o alcance dos objetivos, utilizou-se a metodologia de dados em painel, mais
Abstract: The objective of this paper is to analyze the importance of the transportation,
telecommunications and energy sectors for the long-term economic growth of the Latin
American countries in terms of quality and quantity. The justification for the choice of Latin
1
Mestrando em economia pelo CEDEPLAR/UFMG e bolsista CAPES. vmedeiros@cedeplar.ufmg.br
2
Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Economia, Brasil.
3
Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa - Departamento de Economia, Brasil.
order to reach the objectives, the panel data methodology was used, more specifically fixed
effects models. The main results of the study shows that infrastructure is positively related
to income growth in Latin America, both quantitatively and qualitatively. The option to
expand supply or improve quality must take into account the sector involved in order to
1. INTRODUÇÃO
aeroportos, oferta de energia e serviços de comunicação que torna possível a instalação das
dos serviços. De acordo com Estache (2012), os investimentos médios em infraestrutura por
estariam entre 4% e 6% como proporção do Produto Interno Bruto (PIB). Nota-se, porém,
4
Devido aos custos fixos elevados, alto risco e longo período de maturação dos investimentos, dentre outros
fatores, o setor privado não seria capaz de prover os recursos necessários para expandir a infraestrutura nesses
países.
que essas inversões ficaram em torno de 2% na década de 2000, evidenciando a defasagem
(1989), pioneiro nesta abordagem, descreve que os gastos em infraestrutura são capazes de
crescimento de diversos países entre 1960-1997, buscando analisar o grau de defasagem dos
A partir desses estudos iniciais, uma série de novas investigações surgiram com o
Ainda que a base de dados, as variáveis e a metodologia empregada nos diferentes estudos
sobre o crescimento da renda (ver, por exemplo, Canning (1998) e Canning e Bennathan
(2002) para dados Americanos, Ferreira (1996), Ferreira e Malliagros (1998), Rigolon e
5
Maiores detalhes sobre a literatura na área podem ser obtidos em Ferreira e França (2004).
Com o objetivo de explicar as diferenças dos retornos da infraestrutura econômica
sobre o crescimento entre países, regiões e estados de federação, alguns estudos emergiram
com a utilização da metodologia de dados em painel (como exemplo, pode-se citar Canning
(1999), Easterly e Rebelo (1993), Pessoa, Gomes e Veloso (2004), Boopen (2006), Silva,
Jayme Jr. e Martins (2009) e Bertussi e Ellery Jr (2011)). As principais conclusões dos
descritos trabalhos corroboram com os resultados comuns da literatura na área, que são a
literatura especializada. Análise similar foi feita por Calderón e Serven (2010), no entanto,
com enfoque voltado para as diferenças entre regiões no mundo. Os principais resultados
melhoria da qualidade desses serviços gera mais elevada e eficiente produção e ganhos
deste estudo para essa literatura se dará na análise da importância dos setores de transportes,
comunicações e energia para o crescimento econômico de longo prazo dos países da América
6
Outros estudos, como Palei (2015) e Paula e Silva (2015), utilizaram índices de qualidade como proxies para
infraestrutura
Latina7, em termos qualitativo e quantitativo. Para alcançar os objetivos, toma-se como base
uma abordagem teórica que trata a infraestrutura como um insumo na função de produção e
2. METODOLOGIA
Como descrito em Gujarati (2006) e Wooldridge (2002), o uso desse método possui
entre as variáveis é linear. A forma genérica modelo que capta a heterogeneidade seria pode
7
A justifica da escolha dos países latino-americanos consiste na defasagem dos mesmos em relação aos
serviços de infraestrutura, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos, que tem agido com gargalos ao
processo de crescimento econômico dos mesmos.
8
Os países considerados na amostra são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador,
Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
período de tempo, sendo t=2006, ..., 2013, e; 𝑣𝑖𝑡 são os erros aleatórios. As variáveis
formação bruta de capital fixo como proporção do PIB do país i no ano t, que servirá como
proxy para o nível de capital físico; 𝑘ℎ𝑢𝑚𝑖𝑡 são as matrículas no ensino secundário9 do país
i no ano t, proxy para capital humano; 𝑃𝑜𝑝𝑖𝑡 é a taxa de crescimento populacional do país i
no ano t; 𝐼𝑛𝑓𝑟𝑎𝑖𝑡 será a infraestrutura (representada por uma proxy) do país i no período t.
consenso na literatura em questão sobre qual variável deve ser utilizada como proxy para
infraestrutura, serão utilizadas variáveis diversificadas (ver Tabela 3), buscando dar maior
as mesmas, pode-se citar Calderón e Serven (2010), Ismail e Mahyideen (2015), Palei (2015)
e Kamara (2007), dentre outros. Espera-se que a infraestrutura econômica e os capitais físico
Nome Variável
𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑖𝑡 (1) Transporte aéreo: passageiros transportados
Quantitativas 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑡 (2) Consumo de energia elétrica (kWh per capita)
𝑇𝑒𝑙𝑒𝑐𝑖𝑐 (3) Assinaturas de telefone fixo
Qualitativas 𝑄𝑖𝑛𝑓𝑟𝑎𝑖𝑡 (4) Índice de qualidade da infraestrutura
9
Neste caso, considera-se indivíduos com idade entre 11 e 18 anos.
𝑄𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑖𝑡 (5) Índice de qualidade de transportes
(5.a) Índice de qualidade das rodovias
(5.b) Índice de qualidade dos portos
(5.c) Índice de qualidade do setor aéreo
𝑄𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑡 (6) Índice de qualidade do fornecimento de eletricidade
𝑄𝑡𝑒𝑙𝑒𝑐𝑖𝑡 (7) Usuários de Internet (por 100 habitantes)
Fonte: Elaboração própria.
de efeitos fixos, tem-se 𝛽𝑘𝑖𝑡 = 𝛽𝑘, ∀ 𝑖, 𝑡, exceto para k = 1, ou seja, os parâmetros serão os
mesmos para todos os indivíduos, exceto o intercepto, que variará de individuo para
diferenças individuais são tidas como fixas, haverá correlação entre os resíduos e os X’s e,
de forma a retirar o viés. Com essas suposições, o estimador não inclui parcela ligada ao
estimador “entre”10, mas apenas as variações vinculadas àquelas variáveis que mudam no
invariantes no tempo.
(𝛽𝑖𝑡 = 𝛽 𝑒 𝑣𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝑢𝑖𝑡), ou especificamente, do termo erro de composição (𝛼𝑖), que será
Cabe notar, todavia, que as diferenças entre os modelos são marginais, o que
possibilita escolher o modelo com base nas características das variáveis e do problema de
10
A variação “entre” nada mais é do que uma soma de quadrados das diferenças entre as médias de cada
indivíduo e a média de toda a amostra, ou seja, capta as diferenças entre os indivíduos
pesquisa (GUJARATI, 2006). Desta forma, optou-se pela utilização do modelo de efeitos
fixos, visto que existem diferenças importantes entre os países, inalteráveis no tempo, por
de Wald modificado) e, caso seja verificada a presença desses quesitos, serão feitas as
Produto Interno Bruto per capita (PPP), formação bruta de capital fixo (% do PIB),
transportados, consumo de energia elétrica (kWh per capita) e assinaturas de telefone fixo
base de dados do Fórum Econômico Mundial13. A variável referente a qualidade dos serviços
de transporte foi obtida a partir do cálculo da média de qualidade das rodovias, portos e setor
aéreo. A variável matrículas no ensino secundário foi captada a partir do Institute for
Statistics, UNESCO14.
período igual ou posterior a 2006. Desta forma, a amostra abrangerá o período de tempo
11
No caso de existência de heterocedasticidade e autocorrelação, é indicado utilizar o método Bootstrap para
correção dos erros-padrão.
12
World Development Indicators, disponível em http://data.worldbank.org/data-catalog/world-development-
indicators.
13
O arquivo específico se denomina The Global Competitiveness Index Historical Dataset: 2005-2015, e está
disponível em http://reports.weforum.org/global-competitiveness-report-2015-2016/.
14
Disponível em http://data.uis.unesco.org/.
2006-2013. Considera -se, ainda, que as variáveis foram tomadas em termos logarítmicos
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
forma a dar maior suporte prático e analisar as principais demandas dos países latino-
o setor de transportes afeta positivamente o PIB per capita dos países da América Latina. O
de 0,12%, na média. Quanto ao setor energético, mostrado pelo modelo (2), seu
relacionamento com a renda foi positivo e significativo, indicando que, quando se expande
analisados. Por fim, o modelo (3) mostra que o impacto do setor de telecomunicações sobre
(2006-2013).
análises feitas por Aschauer (1989), Canning (1998), Canning e Bennathan (2002), Ferreira
(1996), Ferreira e Malliagros (1998), Rigolon e Piccinini (1997), Araújo Jr. (2006), dentre
outros. Os resultados mais gerais dos descritos trabalhos foram que há relação positiva entre
A análise seguinte foi estimar o PIB per capita dos países latino americanos em
Variável
Infraestrutura Transportes Rodoviário
explicativas/ Portos (5.b) Aéreo (5.c) Energia (6) Telec (7)
Geral (4) (5) (5.a)
Modelo
0,1289
Qinfra - - - - - -
(0,0638)**
-0,1609 0,1362 0,1922 0,1095 -
Qtransp - -
(0,1703) (0,0612)** (0,1207) (0,1004)
0,0929
Qenerg - - - - - -
(0,0929)
0,1300
Qtelec - - - - - -
(0,0269)***
0,3532 0,3885 0,3550 0,3173 0,3420 0,3547 0,2721
Kfis
(0,0779)*** (0,0975)*** (0,0703)*** (0,0596)*** (0,0708)*** (0,0893)*** (0,0718)***
0,5164 0,6114 0,5345 0,4821 0,5895 0,5256 0,1703
Khum
(0,1537)*** (0,1450)*** (0,2045)*** (0,1783)*** (0,1418)*** (0,2071)** (0,1821)
0,0996 0,1480 0,0923 0,1152 0,0830 -0,0107 0,1789
Pop
(0,2831) (0,3224) (0,2767) (0,2969) (0,2789) (0,3010) (0,1411)
0,7931 -0,3052 0,5350 1,3102 -0,2004 0,6976 5,6625
Constante
(2,3089) (2,1177) (3,0737) (2,5099) (2,0552) (3,0685) (2,6186)**
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa. Nota: (***) = significativo a 1%; (**)
reforça a principal conclusão dos trabalhos de Ismail e Mahyideen (2015), Calderón e Serven
(2010), Palei (2015) e, indiretamente, Paula e Silva (2015), os quais concluem que, quanto
desenvolvimento econômico.
setor de telecomunicações foi capaz de impactar significativamente a renda dos países latino
serviços, mais especificamente retratado pelo acesso da população aos serviços de internet,
modais aéreo, rodoviário e portuário, o único modal que apresentou significância estatística
foi o rodoviário. Este resultado indica que, no caso das rodovias, seria importante melhorar
a qualidade através, por exemplo, da pavimentação de estradas. Em muitos dos países latino
Por outro lado, o aperfeiçoamento desse mesmo modal acarretaria retornos substanciais em
investimentos de determinado país da amostra, maior tende a ser seu nível de renda. Sobre a
variável Khum, na maioria das especificações, esta foi significativa e, em todos os modelos,
seu impacto sobre o crescimento foi positivo, indicando que quanto maior o nível de capital
humano dos países, mais propícios os mesmos estarão a dar continuidade ao processo de
crescimento econômico. Por fim, a variável Pop foi não significativa em todas as
modelagens, indicando que o crescimento populacional não teve papel importante sobre o
Desta forma, pode-se argumentar que haveria a necessidade de expandir as rodovias, portos,
aeroportos, redes ferroviárias, dentre outros modais, visto que são fatores importantes para
o crescimento econômico dos países latino americanos. Ademais, como tais países possuem
grande escassez desse tipo (transportes em geral) de infraestrutura, é possível que, antes de
optar por políticas de melhoria da qualidade desses serviços, essas nações escolham políticas
qualitativa foi não significativa, a relação positiva entre oferta de energia e crescimento
parece indicar maior necessidade de expansão dos serviços. Portanto, seria importante
Por fim, o setor de telecomunicações foi o único que apresentou papel importante de
a evolução desse setor na América Latina, percebe-se que o mesmo recebeu vultuosos
recursos no fim da década de 1990 e nos anos 2000, muito em parte proporcionados pelas
aumento da oferta dos serviços e, por grande parte da literatura especializada, a privatização
15
No caso brasileiro, por exemplo, cerca de 60% de transportes de cargas é feito pelo modal rodoviário. Como
argumentado em Morgan Stanley (2010), o setor rodoviário é o setor com custos de frete mais elevados (exceto
o setor aéreo), o que contribui para o aumento dos custos das firmas brasileiras e o desestímulo ao seu
crescimento. Dessa forma, há um elevado custo de oportunidade do modal rodoviário em relação aos outros
modais de transportes, que poderiam gerar substanciais retornos ao se expandirem.
no setor de telecomunicações é vista como ação de êxito na maioria dos países latino
informação e comunicação não foi capaz de afetar significativamente a renda dos países
mesmos.
países. Ademais, observou-se que, nos setores em que há oferta considerável de serviços,
indicando que os retornos para o crescimento econômico nesse setor estariam vinculados ao
aperfeiçoamento tecnológico. Por outro lado, nos setores de energia e transporte, os quais
4. CONCLUSÕES
econômica sobre o crescimento dos países da América no período 2006-2013. Para isso,
foram obtidos dados a respeito da oferta e da qualidade dos setores de transportes, energia e
telecomunicações, de forma a dar melhor entendimento sobre a relação desses setores com
crescimento da renda por habitante na América Latina, tanto em termos quantitativos quanto
setor não teve papel significativo, a não ser para o setor rodoviário, o que indica que
energética observada nos países analisados e, aponta para o impacto positivo que a expansão
da oferta dos serviços de energia elétrica, e demais tipos, traria sobre o crescimento
econômico.
Por fim, o setor de telecomunicações foi o único que apresentou significância para o
Esta estimação indica que a oferta dos serviços de telecomunicações pode ter atingido um
nível adequado para os países latino americanos, no entanto, a melhoria da qualidade dos
mesmos teria papel importante sobre a expansão da renda per capita dos países da amostra.
De acordo com os principais resultados da pesquisa, seria interessante que os governos dos
os retornos gerados sobre a renda dos diversos países, contribuindo para que os mesmos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICE
Tabela 1A: Testes para heterocedasticidade (Wald) e autocorrelação (Wooldridge).
Teste/
(1) (2) (3) (4) (5) (5.a) (5.b) (5.c) (6) (7)
Modelo
Wooldridge 52,977*** 21,595*** 45,103*** 45,535*** 48796*** 39,936*** 50,837*** 48,625*** 46,228*** 18,419***
Wald 97,28*** 196,23*** 257,45*** 492,02*** 110,12*** 993,44*** 148,37*** 339,80*** 490,27*** 247,80***
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados da pesquisa. Nota: *** Significativo a 1%.
O IMPACTO DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA CRIMINALIDADE EM
A discussão acerca dos impactos da arma de fogo na violência e o modo como o Estado
trata a questão tem sido intensa no Brasil. Neste sentido, o presente trabalho propõe avaliar os
efeitos do Estatuto do Desarmamento, na criminalidade em Minas Gerais, no período de 2004 a
2014, por meio da metodologia de diferenças em diferenças. Como proxy para a intensidade
do efeito da lei, utilizou-se uma dummy de existência de postos de desarmamento, e para a
criminalidade, índices produzidos pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS). Os
resultados foram obtidos a partir da regressão com duas especificações: a primeira sem a
inclusão de nenhuma variável de controle, e a segunda com o controle de habitantes por policial
militar e número de policiais militares. A metodologia empregada, permitiu encontrar o efeito da
existência de postos de coletas de armas de fogo, após o Estatuto, nos municípios que o
possuem. Além disso, os coeficientes estimados da interação da dummies de ano com a de
presença de postos de desarmamento apontaram para intensidades diferenciadas do impacto da
lei ao longo do tempo.
Palavras-chave: Estatuto do desarmamento, homicídio, arma de fogo.
1. Introdução
Pesquisas1 realizadas nos anos noventa nos EUA, na Europa e na América Latina
apontaram que o crime e a violência são, dos problemas contemporâneos, motivo de grande
(FAJNZYLBER; LEDERMAN; LOAYZA, 2002). Além de interferir no valor dos imóveis, uma
vez que esses têm seu preço diminuído se estiverem localizados em lugares mais violentos, e,
dos países.
1
Pesquisas citadas em International Centre for the Prevention of Crime (1998), Blumstein (1995) e
Londoño e Guerrero (1999).
No Brasil, somente em 2001 as perdas devido a homicídios foi, medida monetariamente,
população cresceu 61% de 1980 a 2012, as mortes matadas por arma de fogo cresceram
387%, sendo superior a 460% quando considerados apenas os jovens e maior ainda quando
Destaca-se, ainda, que grande parte dos custos de cuidados para lesões agudas por armas
de fogo ou são pagos por financiamento público ou são absorvidos pelo governo e pela
sociedade em forma de financiamento assistencial não compensado e por taxas pagas mais
elevadas. Nos EUA, os cofres públicos são responsáveis por aproximadamente 80% dos
gastos com tratamento de traumas e lesões por causas violentas (CLANCY et al, 1994).
pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,3 milhões de pessoas morrem por ano em todo o
mundo por causa da violência, isso representa 2,5% da mortalidade global. Contudo, os governos
que puseram em prática medidas específicas de combate à violência no final do século viram suas
taxas decaírem. Como no Canadá, onde seus valores declinaram 28% entre 1980 e 1995, nos
Estados Unidos, 22% entre 1980 e 1997 e, no México, 39% entre 1990 e 1995. Enquanto no
Brasil, os dados aumentaram até 1997, e os de 1997 e 1998 parecem evidenciar apenas um
acesso a armas de fogo e facas como uma das sete melhores estratégias para prevenção e
crescimento abrupto da violência armada contra civis no interior do país trouxe novas
Saúde (2014) mostram que, a partir de 1980, houve um aumento significativo no total de
homicídios ocorrido em todo o Brasil: de 13.910 homicídios naquele ano, para 49.640 em 2002.
Nacional de Registro de Armas (Sinarm), que abrangia dados cadastrais, de produção, de venda
comercialização de armas de fogo e munição no Brasil, tornando o país mais criterioso em relação
semestre de 2004. No segundo semestre o impacto foi de 18,4%, o que significou evitar
Sapori, Sena e Silva (2012) observaram a dinâmica temporal dos homicídios para a
cidade de Belo Horizonte durante 20 anos. Os dados mostram que a capital mineira vivenciou
patamares relativamente baixos e estáveis, de 1990 a 1996 − com cerca de 300 homicídios por
ano. Os anos de 1997 a 2004 apresenta um crescimento consecutivo dos números absolutos de
mortes, alcançando o nível mais elevado de ocorrências em 2004, com mais de 1.200 mortes.
Por fim, há reversão de tendência de 2005 até 2009, com valores significativamente inferiores
aprovou a criação do Estatuto de Controle de Armas de Fogo, e a proposta segue para votação
em Plenário, se aprovado o novo estatuto revogara o estatuto vigente. Esta nova lei propõe,
dentre outros pontos, a diminuição de 25 para 18 anos a idade mínima para a posse de armas de
fogo, além de aumentar o número de armas e munições permitidas por cada cidadão.
É neste contexto que se insere a discussão proposta neste artigo, cujo objetivo é analisar a
estado de Minas Gerais de 2004 a 2014. Pretende-se com isso, elucidar o cenário sobre a
reforma das já existentes que tentem minimizar o efeito de armas de fogo sobre a violência.
A pergunta central dessa pesquisa é: A posse de armas de fogo pela população mineira
Estatuto funcionou como um choque exógeno à disponibilidade de armas nos municípios mineiros
e por isso houve queda nos principais índices de violência. Esperamos que o efeito do ED tenha
sido mais efetivo nos municípios onde foram implantados postos de desarmamento. A avaliação é
Metodologia
A fonte básica dos dados usados neste estudo foi indicadores publicados pela Fundação
João Pinheiro (FJP), desde 2004 e que são usados para formar o Índice Mineiro de
SEDS e a principal fonte de informação, utilizada na construção da base de dados do IMRS são
os registros administrativos.
Para essa pesquisa são usados alguns dos indicadores que formam o subíndice de
Variável Definição
Razão entre o número de ocorrências, registradas pelas
policias militar e civil, de crimes violentos (homicídio,
Taxa de crimes violentos
homicídio tentado, estupro, roubo e roubo à mão armada) e
a população do município; multiplicada por 100.000.
Além desses dados, serão utilizadas informações sobre o número de postos de coletas de
armas de fogo disponibilizadas pelo Ministério da Justiça. De 2004 até 2011, o recebimento de
armas e munições pela Campanha do Desarmamento era realizado apenas pela Polícia Federal.
Em 2008, as policias militares e civis, em acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Social e
Minas Gerais. A partir de 2011, outros órgãos da segurança pública passaram a receber as
armas, como o Corpo de Bombeiro Militar; Guarda Municipal; Polícia Civil; Polícia Militar;
Os postos de desarmamento por cem mil habitantes será a proxy para mensurar o possível
efeito, no estado, da política de buy back realizada em âmbito nacional. A intenção desses dados
de morte por agressão e homicídios por policial militar, no estado de MG, e a disposição dos
postos de coleta de armas nos municípios. Foram feitos dois mapas para cada variável, um antes
da lei do estatuto, no ano de 2002, e um depois, no ano de 2014. As divisões foram feitas por
quintil, sendo os municípios coloridos do tom mais claros, pertencentes aos quintis com menores
taxas. A linha representa a divisão microrregional segundo o IBGE e as marcas verdes são as
anos.
municípios de MG, e compara os resultados nos municípios com e sem postos de desarmamento,
como pode ser observado nas Figuras 1 e 2, antes e depois da implantação dos mesmos, como
uma simulação do que os resultados teriam sido caso não houvesse a implantação de tais postos,
distribuição dos atributos observáveis entre os tratados e controles; o viés de ausência de suporte
comum, ou seja, as amostras de tratados e controles podem não ter sobreposição da função de
densidade condicional das características observáveis; e o viés de seleção que decorre das
hipótese de identificação é sustentada no fato de que os dois grupos que estão sendo comparados
tendência temporal.
O grupo de tratamento serão aqueles municípios que possuíam postos de coleta de armas
em t=1 (2004 em diante). A hipótese é de que a presença dos postos de coleta de armas, torna
O método das diferenças em diferenças é usado para contornar o viés gerado pela
heterogeneidade não observada. Esse método assume que a heterogeneidade não observada
existe, mas que tais fatores tenham se mantido constantes ao longo do tempo. Logo, mesmo que
ainda existem diferenças não observáveis entre os grupos, se essas forem fixas no período
O DID observa resultados para dois grupos em dois períodos de tempo. Um dos grupos
tratamento durante ambos os períodos, pois nesses lugares não há unidades de coletas de armas
(grupo de controle). Pode-se escrever o modelo para um município genérico de qualquer um dos
grupos como:
efeitos fixos individuais (características dos municípios que não mudam ao longo do tempo) e d2 é
uma variável dummy para o segundo período de tempo (após a implantação dos postos). A
dummy dB captura possíveis diferenças entre os grupos de tratamento e controle antes dos
postos, ele assume valor unitário para o grupo de tratamento e zero, caso contrário. é o estimador
(WOOLDRIDGE, 2015).
Desse modo, o método das diferenças em diferenças permite que os impactos sejam
sobre o tratado. O impacto médio é dado pela diferença média dos resultados antes e depois do
armas. A intenção deste teste é avaliar a diferença da composição entre os grupos em termos de
Antes Depois
Sem postos Com postos Diff Sem postos Com postos Diff
Taxa de crimes 81,38 320,35 -238,96*** 101,12 336,48 -235,35***
violentos
Taxa de crimes
violentos contra o 40,42 260 -219,58*** 58,89 272,39 -213,5***
patrimônio
Taxa de crimes
violentos contra a 41,09 60,88 -19,79*** 42,46 64,03 -21,57***
pessoa
Taxa de ocorrência
de homicídios 9,57 13,29 -3,71*** 10,87 18,17 -7,29***
dolosos
Taxa de vítimas de
mortes por 0,61 33,11 -32,49*** 1,08 41,64 -40,56***
agressão
Homicídios 0,077 0,021 0,055*** 0,089 0,044 0,044***
dolosos por policial
militar
Habitantes por 972,41 442,95 529,46*** 977,88 478,85 499,03***
policial militar
13,37 480,34 -466,97*** 13,45 481,46 -468,01***
Número de
policiais militares
diminuíram 1,51 e 2,77% depois do Estatuto. Isso mostra um aumento maior da média dessas
taxas nos municípios sem postos do que nos municípios com postos, apesar de a diferença ainda
As taxas de crimes violentos contra a pessoa, mortes por agressão e homicídios dolosos,
também são diferentes entre os grupos, apesar de serem maiores depois da implantação dos
postos de recolhimento de armas, refletindo uma maior média para os tratados após a política.
Conclui-se, com isso, que os grupos de tratamento e controle são diferentes para todas as
como o Diferenças em Diferenças, que controla as características dos municípios, que pode afetar
escolha dos locais de implantação de postos. Esse resultado reforça a análise gráfica realizada
postos, o policiamento, representado pelas variáveis habitantes por policial militar e número de
controle, apresentada na primeira coluna para cada variável. Na segunda especificação são
incluídos controle de habitantes por policial militar e número de policiais militares, apresentado na
diferença entre a variação das taxas de criminalidade dos grupos de tratamento e controle, antes e
depois de 2004.
tratamento, que a diferença entre controle e tratados após a implantação dos postos foi uma
variação de -20,42 na taxa de crimes violentos. Ou seja, os municípios que possuem postos
tiveram uma variação de 20,42 crimes violentos por 100.00 habitantes a menos que os municípios
que não possuem postos. Antes de se inserir no modelo as variáveis de controle, essa variação
era de -21,19, portanto, parte deste efeito, apresentado na coluna 1 é causado pelo aumento do
policiamento nos municípios tratados, como pode ser como pode ser observado na Tabela 2.
agressão e homicídios dolosos por policial militar. Após controlado o efeito do policiamento, os
100 mil habitantes e 1,56 nas mortes por vítimas por agressão por 100 mil habitantes, comparado
A Tabela 5 apresenta a tendência temporal dos crimes violentos para os municípios com
postos ao longo do período analisado, tendo 2000 como ano base. A coluna 1 é o resultado das
negativa, devido a outros fatores que não o Estatuto, e que vão além do escopo deste trabalho.
De 2003 a 2005 a variação dessa taxa cresceu 32,2%. Os dados para 2006 e 2007 não foram
possível efeito do estatuto na taxa de crimes violentos, que alcança em 2010 uma variação de -
114,54 crimes violentos por 100 mil habitantes em relação a 2000, nos municípios com postos.
Esse efeito permanece alto até 2010, quando volta a crescer novamente, porém a taxa continua
Trajetória parecida ao dos crimes violentos, acontece para os crimes violentos contra o
patrimônio, que cai a partir de 2005, alcançando níveis cada vez menores até 2011. Pode- se
observar um aumento constante da variação entre 2003 a 2007. Em 2010, os municípios com
postos tiveram 86,1 crimes contra o patrimônio por 100 mil habitantes a menos que em 2000. A
partir de 2009, os municípios do estado que possuem postos passam a ter variações negativas
em relação a 2000 e a aos municípios sem postos. Neste ano, estes municípios tiveram 58,42
crimes violentos contra o patrimônio por 100 mil habitantes a menos que o restante do estado.
Essa variação negativa permanece até 2012, quando esta taxa varia -40,81 nos municípios com
postos.
recolhimento. O convênio que retoma a campanha foi assinado pela Secretaria de Estado de
desse acordo foi incentivar a população a entregar armas de fogo em delegacias da Polícia Civil
entre 2008 e 2010. Outras 90 armas foram entregues espontaneamente em 2011. Além das
armas recolhidas neste período no estado, 2.302 novas armas foram registradas e
Apesar de haver outros fatores na taxa de crimes violentos contra a pessoa, que fazem com
que essa taxa diminua até antes do estatuto, é nessa variável que mais se observa a possível
validade da política. Os crimes violentos contra a pessoa por 100 mil habitantes, são negativos e
apresenta uma variação desses crimes de -33.303 por 100 mil habitantes em relação aos
municípios que não possuem postos, comparados a 2000. Justamente ano, em que o estado
homicídios dolosos e mortes por agressão por 100 mil habitantes. A taxa de ocorrência de
homicídios dolosos varia, em 2008 e 2010, -5,15 e -5,19, respectivamente. Porém quando
Quanto a taxa de vítimas de mortes por agressão, o estatuto não parece ter efeitos
positivos. Os coeficientes apresentados mostram, para 2005 e 2006, variações de 4,42 e 4,52
mortes por agressão por 100 mil habitantes em relação aos municípios som postos e em relação
a 2000. Apenas em 2014, pode-se notar a queda dessa taxa, quando os municípios sem postos
tiveram 7,95 mortes por agressão a menos que os municípios que não possuem postos em
Quanto aos homicídios dolosos por policial militar, qualquer efeito de redução dessa razão,
3. Conclusão
Este artigo utilizou o método de diferenças em diferenças para estimar o impacto médio do
Estatuto do Desarmamento nos municípios de Minas Gerais. Foi usado como proxy para o ED, a
presença de postos de coleta de armas nos municípios para a aplicação do método de diferenças
as novas regras para registro de armas, são potencialmente elevados sobre criminalidade. Os
Os crimes violentos, e os crimes violentos contra a pessoa por 100 mil habitantes caíram
21,42 e 6,54, respectivamente, nos municípios com postos de coleta de armas, após controlado
Porém, é visível que essas medidas se tornam mais evidentes no estado, quando o governo,
efeito do policiamento. Quanto à taxa de vítimas de mortes por agressão, o estatuto só parece ter
efeito em 2014, quando os municípios sem postos apresentam 7,95 mortes por agressão por 100
mil habitantes a menos que os municípios que não possuem postos em relação a 2000, mesmo
após controlado o efeito do policiamento. Quanto aos homicídios dolosos por policial militar,
qualquer efeito de redução dessa razão, desaparece quando controlado o efeito do policiamento
Referências
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p. 114–127, setembro-novembro 2001.
SAPORI, L. F.; SENA, L. L.; SILVA, B. F. A. Mercado do Crack e violência urbana na cidade
de Belo Horizonte. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, vol. 5, nº 1,
p. 37-66, jan-mar 2012.
Resumo: A pobreza tem sido objeto de estudo nos últimos anos e as análises têm evoluído
de um contexto unidimensional, para uma análise multidimensional. O objetivo deste
trabalho é calcular uma medida multidimensional de pobreza aplicado as mulheres das
cinco grandes regiões do Brasil, nos anos de 2001 e 2011. A base de dados utilizada foi da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Utilizou-se o método Alkire
Foster (AF), composto de doze etapas, que permite não só a identificação de quantos são
os pobres, mas a intensidade da pobreza. Foram utilizados dezoito indicadores distribuídos
em quatro dimensões. Os resultados demonstram que o Nordeste foi a região que
apresentou a maior concentração da pobreza média (A) e da incidência ajustada (M0) em
2001. O contrário ocorreu na região Sudeste. Em 2011, a maior pobreza média (A) se
concentrou na região Norte e a menor, na região Sul. Esses resultados revelam a
importância de ações sociais e econômicas integradas que contribuam para a promoção do
desenvolvimento e focalizem a resolução das dificuldades encontradas pelas mulheres
dessas regiões.
Abstract: Poverty has been the object of study in recent years and the analyzes have
evolved from a one-dimensional context to a multidimensional analysis. The objective of
this study is to calculate a multidimensional measure of poverty applied to women in the
five major regions of Brazil, in the years 2001 and 2011. The database used was the
National Household Sample Survey (PNAD) (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios). Was used the method Alkire Foster (AF) composed of twelve steps, which
allows not only identification of those who are poor, but the intensity of poverty. Eighteen
indicators were distributed in four dimensions. The results show that the Northeast was the
region with the highest concentration of average poverty (A) and the adjusted incidence
(M0) in 2001. The opposite occurred in the Southeast region. In 2011, the highest average
poverty (A) was concentrated in the North and the lowest in the South. These results reveal
the importance of integrated social and economic actions that contribute to the promotion
of development and focus on solving the difficulties encountered by women Regions.
Key-Words: Multidimensional poverty; Large regions; Alkire-Foster method.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Endereço eletrônico: tais.ferreirax@gmail.com
2
Professora do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Endereço eletrônico: solmarin@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
O tema pobreza vem ganhando espaço nas ciências sociais, incluindo a ciência
mensuração, repercutindo na formulação das políticas que tem por objetivo sua redução.
Esta tem sido objeto de estudo nos últimos anos e as análises têm evoluído de um
ser pobre e também sobre quais são os critérios que definem uma pessoa ou uma família
ser classificada como pobre. A questão maior não está em apenas identificar o número de
pessoas privadas em várias dimensões de sua vida, mas em descobrir em quais indicadores
2015).
pobreza para as mulheres das cinco grandes regiões brasileiras, nos anos de 2001 e 2011,
Optou-se por selecionar apenas mulheres para compor a amostra, pois segundo
Todaro et al (2012) são as mulheres que realizam a educação básica das crianças e
disponibilizam mais renda para acesso dos filhos do que os pais. Elas são geralmente mais
pobres que os homens, sendo mais privadas, por exemplo, na educação e em todas as
formas de liberdade. Para Sen (1997), mesmo com as mulheres cada vez mais
participativas na vida econômica, ainda são elas que apresentam maior vulnerabilidade
juntamente com as crianças. Em uma pesquisa realizada em 1997, Sen concluiu que o
maior número de famílias que caem abaixo da linha de pobreza são chefiadas por
mulheres.
A hipótese central deste estudo é de que parte da população residente nas grandes
regiões brasileiras sofre privações importantes que não podem ser captadas por uma análise
O estudo está dividido em cinco partes, a começar por essa introdução. Na segunda
parte discute os resultados obtidos para as grandes regiões brasileiras e para finalizar, serão
2 METODOLOGIA
participação. Por afetar pessoas no mundo inteiro, a pobreza é multifacetada e, por isso,
‘quem é pobre’, sem deixar de considerar as várias dimensões que o indivíduo sofre
Além disso, o método é o único que consegue distinguir um grupo (ou indivíduo) de
pessoas pobres, que sofre apenas uma privação, de outro grupo que sofre mais de uma
(1) Escolha da unidade de análise. Pode ser um indivíduo ou família ou, ainda, uma
(2) Escolha das dimensões. É um dos passos mais importantes e menos aleatório do
que as pessoas assumem. David Grusky e Ravi Kanbur (2006 apud Alkire, 2008) sugerem
que a etapa da escolha das dimensões merece atenção, pois não há um consenso sobre qual
Para Alkire (2008), há cinco métodos que podem selecionar as dimensões que serão
que realmente as pessoas valorizam, que podem ser feitas com base em uma teoria; c) lista
dimensões além da renda, pois a erradicação da pobreza deve ser combatida desde o início
(3) Escolha dos indicadores. São escolhidos para cada uma das dimensões
consideradas.
(4) Definição da primeira linha de pobreza. Um corte de pobreza é definido para cada
um dos indicadores de forma que seja possível identificar o indivíduo como pobre ou não
pessoa com respeito a cada corte considerado; por exemplo, na dimensão saúde, quando os
pessoas são identificadas como privadas (P) ou não privadas (NP) para cada indicador. O
pessoa é privada (seu valor nesse indicador é menor do que o corte) e NP significa que a
número de indicadores em que uma pessoa deve ser privada para considerá-la como
multidimensionalmente pobre.
(8) Aplicação da linha k para obter o grupo de pessoas pobres e omitir os dados das
pessoas que não são consideradas multidimensionalmente pobre (os não pobres recebem
zero nos resultados das dimensões). O foco a partir desse passo é somente o perfil dos
multidimensional pobres é uma medida útil, mas não aumenta se os pobres se tornarem
mais carente, nem pode ser discriminada por indicador para analisar como a pobreza difere
(10) Cálculo do hiato de pobreza média A: proporção de privações que cada pessoa
pobre sofre sobre o total de indicadores somado ao mesmo cálculo das demais, dividido
decomposto para cada subgrupo da população, depois disso pode-se analisar a contribuição
resultando em Aj que multiplicado por H leva a M0j, a dimensão ajustada que mostra a
em 2010 no Relatório de Desenvolvimento Humano tem por base o método AF. O IPM
fundamenta-se na Abordagem das Capacitações proposta por Amartya Kumar Sen, e inclui
mais ampla, baseada em múltiplos aspectos, além disso, consegue captar quantas pessoas
regiões, grupos étnicos, entre outros, de forma a contribuir para políticas públicas úteis.
das grandes regiões brasileiras. Mas, porque as mulheres? A escolha das mulheres é devido
ao fato de que são elas que permanecem com os filhos quando as famílias se desfazem,
visto que as crianças são as que possuem a maior vulnerabilidade dentro das famílias
(Santos et al, 2010). Em caso de separação, 86% das mães ficam com os filhos (IBGE,
2015). Sen (1997) argumenta sobre o importante papel das mulheres no processo de
Segundo Todaro et al (2012), são as mulheres que realizam a educação básica das
crianças e disponibilizam mais renda para acesso dos filhos do que os pais. Elas são
geralmente mais pobres que os homens, sendo mais privadas, por exemplo, na educação e
em todas as formas de liberdade. Para Sen (1997), mesmo com as mulheres cada vez mais
participativas na vida econômica, ainda são elas que apresentam maior vulnerabilidade
juntamente com as crianças. Ainda segundo o autor, o maior número de famílias que caem
Para David Grusky e Ravi Kanbur (2006 apud Alkire, 2008) a escolha das
dimensões merece atenção; não há um consenso sobre qual dimensão utilizar e nem como
definir a importância de cada dimensão. Dimensões não são derivadas da ideia sobre o que
é ter vida boa, mas são valores ou motivos que são reconhecidos na própria experiência de
vida do indivíduo.
multidimensional, a análise deve ser contextual, para que assim gere informações
relevantes para a tomada de decisões e políticas públicas específicas para cada região ou
humano. Outra razão está relacionada com a necessidade de metodologias eficazes para
avaliar vantagens e desvantagens dentro de diferentes culturas. Uma terceira razão, é que
Ainda não existe uma formula única para a construção dos indicadores. Barros e
Silva (2006) lembram que existem diversas possibilidades para a construção dos
metodologia AF. Com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD),
próprio ambiente) divididas em dezoito indicadores e suas linhas de corte que definem se a
pessoa é ou não privada. Estas dimensões, indicadores e linhas de corte foram aplicadas a
coluna do Quadro 1, por exemplo: o indivíduo é considerado privado se não souber ler nem
escrever.
privada (P) ou não privada (NP) para cada um dos indicadores das quatro dimensões
indicador “tem geladeira”, a pessoa é considerada privada (P) se não tiver esse bem, e não
O passo seis consiste na soma das privações de cada indivíduo, ou seja, em quantos
indicadores cada pessoa é privada; cada variável tem peso igual dentro da sua dimensão
(RDH, 2010).
3
Dados secundários coletados via PNAD, porém, faltam informações, principalmente, referente a saúde.
escolhido como a 2ª linha de pobreza é k = 64; equivale a 1/3 do total de indicadores
pobre.
quantos indicadores as pessoas são pobres. Para este cálculo é necessário dividir o total da
amostra dos indivíduos com k=6 ou mais privações pelo total de indicadores a serem
considerados (18). Este resultado deve ser dividido pelo total de pessoas de cada região
da proporção de pobres (H) pela pobreza média (A); que resume em um único índice a
pobreza diminuirá conforme a política beneficie os pobres que sofrem uma pobreza mais
Segundo Gallo e Roche (2011, p. 11), “(...) es decir M0, se interpreta como
4
Alkire e Seth (2009) ressaltam a importância de estabelecer valores intermediários para k. Se o gestor
público ou o pesquisador adotar um posicionamento de que pobre é a pessoa que é privada em um ou mais
indicadores, tem-se que 100% da amostra estará sujeita a ser privada, um meio termo é indispensável.
Além disso, Gallo e Roche (2011) também afirmam que é possível interpretar o
valor de M0, que varia entre 0 e 1 (quanto mais próximo de 1 mais pobre e maior privação
nas dimensões) como porcentagem de uma possível situação de extrema pobreza que
Neste caso, optou-se por identificar os indicadores que possuem o maior número de
privações em cada dimensão e os indicadores onde as mulheres são mais privadas em cada
intensidade da pobreza ou pobreza média (A) e a incidência ajustada pela intensidade (M0).
multiplicação da proporção de pobres (H) pela pobreza média (A), M0=H x A (essa medida
permite a decomposição, por exemplo, por área rural e urbana, entre outras).
passos 7 a 11 do método AF descritos anteriormente, nos anos de 2001 e 2011, para cada
k=6.
Tabela 1 – Pobreza multidimensional das grandes regiões brasileiras para k=6 indicadores
em 2001
Incidência
Total de Proporção de Pobreza Média
Região N° de Pobres Ajustada
Mulheres Pobres (H) (A)
(M0 = H * A)
Norte 21176 3662 0,1729 0,4159 0,0719
Nordeste 63073 17839 0,2828 0,4555 0,1288
Centro-Oeste 20893 2191 0,1049 0,4101 0,0430
Sudeste 59590 3567 0,0599 0,4019 0,0241
Sul 30025 1926 0,0641 0,3964 0,0254
Fonte: Elaborada pelas autoras.
Quanto maior é o número de indicadores (k) considerados no cálculo da privação de
uma pessoa, menor é o número de mulheres pobres. Se for considerado que pobre é a
pessoa que sofrer privação em todos os indicadores das diferentes dimensões, tem-se que
nenhuma pessoa é pobre. Em 2001, a região Nordeste foi a que apresentou a maior
proporção de mulheres pobres (28%), e a região Sul foi quem concentrou a menor
apresenta a incidência ajustada (M0), seu valor máximo a ser considerado é um (onde toda
população é pobre) e o mínimo é zero (onde ninguém é pobre), sendo que a maior
incidência ajustada em 2001 foi da região Nordeste; este indicador apontou que as
Tabela 2 – Pobreza multidimensional das grandes regiões brasileiras para k=6 indicadores
em 2011
Incidência
Total de Proporção de Pobreza
Região N° de Pobres Ajustada
Mulheres Pobres (H) Média (A)
(M0 = H * A)
Norte 28839 4920 0,1706 0,4148 0,0708
Nordeste 54974 8119 0,1477 0,4030 0,0595
Centro-Oeste 19206 617 0,0321 0,3618 0,0116
Sudeste 53087 1156 0,0218 0,3648 0,0079
Sul 28822 478 0,0166 0,3648 0,0061
Fonte: Elaborada pelas autoras.
Em 2011, cerca de 17% das mulheres foram consideradas pobres, quando utilizado
k = 6 na região Norte, não apresenta variação se comparado com o ano de 2001. Portanto,
cerca de 83% da população feminina é considerada não privada (NP) em nenhum dos
concentração estava na região Norte. Observa-se que, de 2001 para 2011, as regiões
e em 2011 também.
No último passo do método AF, optou-se por identificar quais os indicadores que as
mulheres mais sofrem privação em cada dimensão por grande região do Brasil. A questão
está em verificar se ocorreu alguma alteração nos indicadores que apresentaram privação
mulheres mais sofreram privações no ano de 2001, ao considerar k=6, sendo possível
indicador posse de TV em cores que foi o item que as mulheres apresentaram maior
identificar não só as dimensões, mas também os indicadores que as mulheres mais sofrem
privações em 2011, por grande região. Na primeira dimensão, acesso a condições básicas
Para ambos os anos (2001 e 2011) os indicadores que as mulheres mais sofreram
5
As tabelas 8 e 9 foram formuladas ao considerar k = 6 em função da importância de se considerar valores
intermediários para evitar que extremos ocorram, como por exemplo, 100% da população vir a ser
considerada pobre (quando k = 1) ou 0% da população ser pobre quando k = 18.
condições básicas de sobrevivência que em 2001 o indicador de maior privação era a TV
em cores e em 2011 foi o destino do lixo domiciliar. Observa-se que em 2001, em todas as
regiões, mais de 99% das mulheres foram consideradas privadas no indicador posse de
acesso ou não a este bem) melhoraram, sendo que as regiões Sul e Centro-Oeste
consideradas pobres recebiam os menores salários. Este grupo de mulheres que recebem
comparada às demais regiões onde 60% das mulheres ganhavam menos de 1⁄2salário
mínimo. Em 2011, a única região que não apresentou melhorias em relação a faixa de
rendimento das mulheres (em relação ao ano de 2001) foi a Centro-Oeste. Para Sen (2010),
mesmo a renda monetária não sendo o único meio para se alcançar a redução da pobreza, é
de 75% das mulheres não recebiam cobertura deste serviço; já na região Sul, os índices
foram os melhores para este ano, aproximadamente 55% das mulheres ainda não estavam
recebendo este serviço. Este indicador é considerado essencial, pois o não recolhimento do
Nordeste possuíam quase 80% de suas mulheres privadas neste indicador, porém, em 2011,
o número de mulheres que apresentaram privação nestas mesmas regiões foi inferior a
20%, onde, é considerado privado o indivíduo que não possuir residência própria (já paga
dimensões/indicadores nos quais as mulheres mais são privadas, como também do quanto
3 CONCLUSÃO
foi possível identificar as maiores privações sofridas pelas mulheres das grandes regiões do
Brasil para os anos de 2001 e 2011. Ao adotar a análise multidimensional proposta para as
cinco grandes regiões do Brasil, constatou-se que: o Sul, tanto em 2001 quanto em 2011, foi
a região que teve a maior concentração de mulheres sem privação nenhuma. O inverso
ocorre para o Norte, onde, em ambos os anos essa região apresentou a maior concentração
contrapartida, a região Sudeste registrou a menor pobreza média (A) e por consequência a
menor incidência ajustada. Diferentemente de 2011, que a maior pobreza média (A) se
Nordeste como a que possuía as mulheres mais próximas da pobreza em 2001 (mas ainda
possui as mulheres mais próximas da pobreza. O Sul é a região que apresentou os melhores
resultados para ambos os anos (2001 e 2011), as mulheres residentes nessa região estão
quando considerado k = 6 (onde as mulheres são privadas em pelo menos seis indicadores),
2001.
apresentaram privações para cada dimensão foram os mesmos, com exceção da dimensão
Estes resultados podem e devem ser utilizados para identificar os locais e quais as
variáveis que mais precisam de atenção para determinado investimento, problemas sociais
conjuntura social em que se estrutura o país. Isso significa que é preciso ações sociais e
BRITES, M.; FERREIRA, T.; MOURA, A. C.; LANZA, T.; MARIN, S. R. Pobreza
Multidimensional nas grandes regiões brasileiras: uma aplicação do método Alkire
Foster (AF) (2012). I Seminário Jovens Pesquisadores 2013.
GALLO, Cesar R.; ROCHE, José M. Las dimensiones de la pobreza em Venezuela y sus
câmbios entre 1997 y 2010: propuesta de uma medida multidimensional. Banco
Central de Venezuela (BCV) 2011.
Abstract
The present study seeks to test the validity of the theoretical hypothesis of Duesenberry (1949)
on the ”demonstration effect”, that is, to measure the effect of income differences on consumption,
both globally and particularly in the Brazilian case. For these finds, the methodologies of Dynamic
Panels and Autoregressive Vectors were used. From the results obtained, it seems that for countries
with increasing incomes, in relation to the United States, there is a tendency to decrease the average
propensity to consume, and it is probable that part of this income does not spend with consumption
flow to capital goods. In sequence, analyzing quarterly data for the Brazilian economy we estimated
a vector model that supports the previous analysis. The results indicate that a positive shock, of
a standard deviation, in the variable income ratio leads to a decrease in the average propensity of
consumption. Then, we believe that public policies to encourage savings and investment spending
are useful to offset the ”demonstration effect”and to lead countries to better development paths
Keywords: Relative Income, Dynamic Panel, VAR.
Resumo
O presente estudo busca testar a validade da hipótese teórica de Duesenberry(1949) sobre o ”efeito
demonstração”, ou seja, mensurar o efeito das diferenças de renda sobre o consumo, tanto em escala
global quanto particularmente no caso Brasileiro. Para estes fins, foram utilizadas as metodologias
de Painéis Dinâmicos e Vetores Autoregressivos. A partir dos resultados obtidos, parece que para
rendas cada vez maiores dos paı́ses, em relação aos Estados Unidos, existe uma tendência a diminui-
ção da propensão média a consumir, sendo provável que parte desta renda não gasta com consumo
flua para bens de capital. Em sequência, analisando dados trimestrais para economia brasileira
foi estimado um modelo vetorial que da suporte a análise anterior. Os resultados apontam que
um choque positivo, de um desvio padrão, na variável razão de rendas leva a uma queda pequena,
porem significativa, da propensão média de consumo. Assim, acreditamos que politicas públicas de
incentivo a poupança e gastos com investimentos são úteis para compensar o ”efeito demonstração”e
conduzir os paı́ses a trajetórias de desenvolvimento melhores.
1
mcsouza@cedeplar.ufmg.br
1. Introdução
tência de possı́veis lags de ajustamento do consumo à renda. O autor encontrou, por meio de uma
análise de séries temporais de 50 anos, que a trajetória do consumo tende a ser mais estável que a
da renda. Outras teorias intertemporais também buscaram tratar os efeitos dinâmicos do consumo,
como: a teoria da renda permanente de Friedman (1957), em que o consumo é determinado pela
renda permanente dos agentes e não apenas pela sua renda corrente; a teoria do ciclo de vida de
Ando e Modigliani (1963) que leva em consideração o patrimônio adicionalmente ao fator da renda
permanente; e mais especificamente a teoria da renda relativa de Duesenberry (1949) que perma-
nece dentro do esquema keynesiano mas incorpora outros elementos explicativos do consumo, como
a diferença de renda entre duas nações.
Este trabalho tem como objetivo investigar as implicações do que foi levantado por Duesen-
berry(1949) para dados recentes entre paı́ses e especificamente no caso Brasileiro. Na próxima seção,
será feita uma breve revisão sobre a importância do consumo na definição de poupança/investimento,
bem como a exposição teórica da hipótese de renda relativa. Na terceira seção os métodos de aná-
lise econométrica serão abordados, em sequência os dados trabalhados serão indicados e por fim, a
quinta e sexta seção tratam os resultados e a conclusão respectivamente, encerrando o trabalho.
2. Revisão de Literatura
Autores como Nurkse(1953) e Lewis(1954) também compreendem o capital como um fator funda-
mental para o impulso do processo de desenvolvimento econômico, ressaltando que sua acumulação
estaria diretamente condicionada aos movimentos da poupança (a parte da renda não consumida).
Nurkse(1953) ressalta que altos padrões de consumo, em paı́ses com escassez de capital, podem
gerar dificuldades ao próprio processo de desenvolvimento econômico, já que uma constante ”ilu-
são”quanto à necessidade e frequência do consumo implicaria em redução dos recursos destinados a
acumulação produtiva por parte das classes de alto pode aquisitivo, levando a um direcionamento
De acordo com Bastos e d’Avila(2009), em harmonia com a visão Cepalina, é justamente por
meio destes hábitos comparativos de consumo que parte do excedente capitalista, em paı́ses subde-
senvolvidos, pode não fluir corretamente para poupança/investimento. Ou de forma mais agravante,
é devido ao consumo baseado, em certo grau, nos padrões das nações mais desenvolvidas (com renda
mais elevada), que parte dos recursos destinados a formação de capital acabam sendo esgotados em
consumo de bens supérfluos pelos grandes capitalistas (ou por uma minoria detentora da maior
parcela da renda nacional).
Prebisch(1949) trata com atenção especial essa relação entre o consumo de luxo, a diferença
de rendas e a acumulação de capital. O autor caracteriza o consumo de luxo dos grupos mino-
ritários como um gasto improdutivo dentro da economia. Este gasto seria uma manifestação de
inconformidade e pressa em aproximação do estilo de vida que paı́ses de técnica mais avançada
alcançaram progressivamente, graças ao aumento de produtividade e capitalização. Em resumo, o
gasto improdutivo reduziria a poupança, investimento e crescimento de longo prazo nas economias
latino-americanas, já que as formas imitativas de consumo dos grupos de altas rendas prejudicava
a economia e acentuava o desequil´ıbrio externo.
Duesenberry(1949) classifica este fenômeno como ”efeito demonstração”, no qual as funções con-
sumo de duas nações em diferentes estágios de desenvolvimento se relacionariam a partir do nı́vel
de renda real relativo. Segundo autor, este efeito contribuiria diretamente para explicar algumas
escolhas entre consumo e poupança das nações mais atrasadas, já que explicitamente existiria uma
maior facilidade das classes dominantes (principalmente) em adotar hábitos de consumo baseados
em paı́ses mais desenvolvidos do que investir em métodos de aperfeiçoamento da produção.
No entanto, a forma e a intensidade desse impacto, segundo Nurkse(1953), dependeria primor-
dialmente de dois fatores: a dimensão da diferença entre as rendas dos paı́ses e o grau de consci-
entização da nação atrasada em relação a essa diferença. Mas independentemente da intensidade
deste impacto, o autor conclui que em paı́ses subdesenvolvidos a utilização de potenciais fontes de
geração do capital tendem a ser limitadas devido ao efeito demonstração, que em resumo seria um
reflexo da insatisfação e da impaciência das nações mais atrasadas. Nurkse (1953) afirmar que:
Furtado (1972) avança na questão do consumo sobre o processo de desenvolvimento, mais espe-
cificamente, o autor destaca que seria inviável, na periferia, uma combinação entre desenvolvimento
econômico e consumo de luxo crescente, por parte de uma minoria detentora dos meios de produ-
ção. O autor, ainda, concorda que o consumo de luxo resulta de um aspecto psicológico da elite, a
qual busca um padrão externo, baseado em paı́ses adiantados. Por fim, a ruptura desse padrão de
consumo minoritária, socialmente danoso, só se faria possı́vel com mudanças diretas na estrutura
polı́tica e cultural da periferia.
as diferenças nas propensões médias a poupar entre paı́ses. Em resumo, num dado perı́odo um
paı́s deverá poupar uma parcela de sua renda condicionada a posição relativa na escala de rendas
observada. Assim, quanto maior a proporção da renda nacional em relação a renda externa, menor
a distância e o efeito sobre o consumo.2
Teoricamente, grandes avanços foram feitos por Duesenberry (1949), que fornece uma estrutura
mais sólida para análise da hipótese de rendas relativas. O autor argumenta que as funções de
preferências das nações seriam interligadas e as decisões relativas ao consumo condicionadas aos
nı́vel de gastos do grupo mais desenvolvido. Assim a fração poupada dependeria diretamente da
diferença relativa entre os nı́veis de rendas.
Σ c Σ
i
Ui = Ui (2)
αijcj
Sendo Ui a representação da função utilidade do paı́s i, ci os gastos com consumo do i-ésimo paı́s,
cj os gastos com consumo do j-ésimo paı́s e αij é importância que i-ésimo paı́s da ao consumo do
j-ésimo, relativamente 3 . Essa representação mostra claramente a ideia defendida por Duesenberry
(1949), de que a parcela poupada por uma nação depende inteiramente da relação e do grau de
consciência que esta tem em relação a seus vizinhos mais adiantados economicamente.
A hipótese da relatividade da renda também pode ser vista também sob o ponto de vista tem-
poral. Segundo Brown (1952), deve-se incorporar um componente de defasagem ou de memória
na função para capturar o efeito do consumo no perı́odo anterior. O que poderia ser representado
2
Esta relação também pode ser pensada de forma inversa: se a renda de comparação for colocada no numerador,com
β > 0, quanto maior a razão maior o efeito sobre o consumo.
3
Ressaltando que aqui o consumo é tratado pelo autor como uma função da renda
analiticamente da seguinte forma:
ct ct−1 yt
= α + β1 + β2 ∗ (3)
yt yt−1 yt
yt
O efeito demonstração é representado pelo termo β 2 yt∗ na equação acima, este sugere uma relação
entre o consumo de paı́ses subdesenvolvidos e as diferenças de renda externa. Com base no que foi
apresentado, Duesenberry (1949) destaca que a hipótese de renda relativa além de buscar explicações
mais consistentes para oscilações na proporção da renda consumida, confere um papel fundamental
entre o produto per capita das nações, menor o efeito ”imitativo”ou ”efeito demonstração”. Assim,
uma redistribuição da renda mais igualitária reduziria a parte do consumo agregado puxada pelos
grandes capitalistas.
Além disso, existe discordância da teoria discutida com a conhecida hipótese da renda abso-
luta. Na última, um decréscimo na desigualdade da renda tende a elevar o consumo agregado.
Segundo Duesenberry, essa implicação só seria verdadeira quando as preferências individuais fossem
independentes. Caso contrário, uma redução na desigualdade tenderá a reduzir o consumo agregado.
A partir do que foi exposto nesta seção, é possı́vel concluir que compreender a validade dessa
hipótese, bem como mensurar seu efeito (dentre uma amostra representativa de paı́ses) é relevante
para análises do impacto das oscilações de renda externa sobre o crescimento econômico de paı́ses
subdesenvolvidos. Sendo assim, o problema principal que este trabalho busca investigar é se: A
Vale destacar que o objetivo aqui não é afirmar qual teoria do ciclo de consumo é mais adequada,
ou qual seria a forma mais correta de modelar a dinâmica das rendas entre diferentes paı́ses. Busca-
se simplesmente testar se existe, recentemente, uma relação significativa entre a razão de rendas e
propensão média a consumir, utilizando um arcabouço teórico já conhecido, com intuito de reforçar
(ou não) o papel das polı́ticas públicas de investimento e incentivo a poupança na economia.
3. Metodologia
Uma série de condições deve ser imposta, de acordo com o procedimento padrão da estimação
Arellano-Bond: i- Os efeitos estocásticos especı́ficos de painel, vi , são não correlacionados com o
componente aleatório, si,t . ii- Os distúrbios si,t são não serialmente correlacionados; iii- As condições
iniciais yi,1 e xi,1 são não correlacionadas com o termo aleatório, de forma que os estimadores
Arellano-Bond são capazes de evitar o viés de painel dinâmico que emerge da correlação entre as
variáveis defasadas e o termo erro.
Em sequência, para eliminar os efeitos fixos individuais vi , toma-se a primeira diferença:
As variáveis defasadas, no entanto, ainda são endógenas, pois yi,t−1 em ∆yi,t e xi,t−1 em ∆xi,t são
correlacionados com si,t−1 em ∆si,t . Para solucionar esse problema, defasagens maiores são
usadas como instrumentos, dado que são ortogonais ao erro, resultando nas seguintes condições de
momento:
Difference-GMM. Contudo, Blundell e Bond (1998) alertam que devido à persistência das séries, as
variáveis em nı́vel são instrumentos fracos para a equação em diferença, resultando em viés e em
precisão precária em amostras finitas. Assim, para aumentar a eficiência do estimador, é imposta a
condição adicional nos valores iniciais de que as variáveis em diferença são não correlacionadas com
os efeitos fixos individuais. Dessa forma, mais instrumentos podem ser utilizados, aumentando o
poder do teste e melhorando sua eficiência, além de fornecer condições de momento adicionais para
a regressão em nı́vel:
ções de momento. Para verificar essas condições, testa-se sobreidentificação das condições de mo-
mento por meio das estatı́sticas de Sargan e de Hansen. A hipótese nula é a de que os instrumentos
são válidos, ou seja, não correlacionados com o termo erro e que os instrumentos excluı́dos (aque-
les utilizados para instrumentar as variáveis endógenas) foram corretamente excluı́dos da equação
estimada. A estatı́stica de Sargan é um caso especial da J de Hansen sob a suposição de homos-
cedasticidade. Além disso, é importante notar que esses testes têm baixo poder se o modelo inclui
uma ampla selecão de instrumentos relativamente ao número de indivı́duos. Logo, neste trabalho
voltamos a atenção para o teste de exogeneidade de grupos particulares de instrumentos, o teste
difference-Hansen. O teste é definido como a diferença entre a estatı́stica de Hansen com um número
menor de instrumentos, excluindo-se os instrumentos com validade suspeita, e a equação com todos
os instrumentos, inclusive aqueles com suspeita de serem instrumentos precários. A hipótese nula
3.2. VAR-VECM
Segundo Lutkepohl (2005), o modelo básico de vetores auto regressivos V AR(p) pode ser bas-
tante restritivo para representar de forma suficiente as principais caracter´ısticas dos dados. Em
particular, outros termos determinı́sticos, tais como uma tendência temporal linear ou dummies sa-
zonais podem ser necessários para representar os dados corretamente, bem como, variáveis exógenas
estocásticos podem ser fundamentais para o modelo. A forma geral do modelo VAR (p) com termos
determinı́sticos e variáveis exógenas é dada por:
Na primeira parte deste trabalho, serão utilizados dados anuais disponı́veis no World Bank entre
As principais variáveis que buscamos investigar a relação são: Propensão Média a Consumir e
Renda Relativa 4 . A seguir, o gráfico das séries 5 é apresentado:
4
Razão entre o produto doméstico per capita e o produto externo per capita adotado neste trabalho como renda
do EUA
5
O valor anual das variáveis é encontrado a partir da média dos cem paı́ses para cada ano, somente para esta
Figura 1: Séries Cross-Country
Figura 2: Dispersão
Após a análise descritiva, a estratégia inicial da estimação é a seguinte: como os dados traba-
lhados são anuais, os habitantes de um paı́s só observam a diferença de renda entre as nações um
perı́odo após a realização da mesma. Logo, o consumo ao longo de t não é definido pela diferença de
rendas no próprio perı́odo t, já que os dados são divulgados somente ao final da janela de tempo. Ou
seja, existe certo delay, que colocamos aqui como a relação defasada. Além de buscar compreender
melhor o fenômeno, esta estratégia também serve como instrumento para o próprio valor do perı́odo
corrente, evitando um possı́vel problema de simultaneidade na regressão já que ambas as variáveis
representação gráfica.
sofrem efeito do produto doméstico. O modelo estimado proposto segue:
4.0.2. VAR
Na segunda parte, serão analisados dados para Brasil e Estados Unidos, com periodicidade
trimestral obtidos a partir das seguintes bases de dados: OCDE, IpeaData e IBGE. . A variável
6
entre o produto brasileiro per capita e o produto externo per capita adotado neste trabalho como
renda do EUA.
Os lags ideais serão selecionados com base no teste de Akaike e o vetor Zt compõe as seguintes
variáveis: C BR
t que representa as proporção média de consumo para o Brasil; Dif Y BR/U
t
S que
representa a renda relativa ou razão de rendas entre Brasil e Estados Unidos ao longo do perı́odo
analisado; RBR a taxa de juros básica do Brasil (Selic) e U BR a taxa de desemprego média trimestral.
t t
Além disso, Dt é o vetor de variáveis exógenas no modelo vetorial, como possı́veis dummie de quebra
por exemplo. Vale destacar que neste estudo, o foco é sobre a relação de como as defasagens da
6
Todos os dados agregados trabalhados se encontram em dólares,dessazonalizados e ajustados pela PPP
diferença entre rendas afeta o consumo corrente do Brasil.
5. Resultados
Inicialmente, verificamos a presença de raiz unitária a partir de testes próprios para painéis
e só então partimos para estimação. Os testes utilizados são descritos a partir dos trabalhos de
Levin,Fin e Chu(2002), Harris e Tzavalis(1999) e Im, Pesaran e Shin(2003).A tabela abaixo mostra
os p-valores reportados pelos testes, onde a hipótese nula (H0 ) é que existe raiz unitária no painel:
Logo, a série ci,t pode ser tratada em nı́vel na estimação. Em sequência, os resultados encontra-
dos para as variáveis de interesse, a partir de estimações utilizando o software Stata 13, são:
é exposto por Roodman(2006), em busca de controlar possı́veis efeitos conjunturais globais para o
perı́odo analisado.
Os resultados indicam que tanto a defasagem da propensão média a consumir quanto a defasa-
gem da razão relativa entre rendas per capita são significantes para explicar a propensão média de
consumo corrente. Ou seja, conforme o esperado: quanto maior a propensão média a consumir no
perı́odo anterior, maior a propensão corrente. Por exemplo, um aumento de cerca de 1% na propen-
são média tende a aumentar 0, 57% na propensão do perı́odo seguinte. Além disso, quanto maior
a proporção da renda doméstica sobre a renda externa, menor a propensão corrente a consumir,
de forma que uma queda de 1% na renda brasileira (em proporção a renda americana) impacta-
ria em cerca de 0, 07% a propensão a consumir do perı́odo seguinte. No entanto, taxa de juros e
força de trabalho parecem não afetar de forma significativa a variável dependente. Por fim, o teste
difference-Hansen, que possui como hipótese nula a exogeneidade dos instrumentos, aponta para
validade do modelo e das variáveis utilizadas:
5.2. VAR
p-valores seguem:
7
A hipótese nula, neste caso, é de estacionariedade
Os resultados apontam que somente a propensão média a consumir apresenta comportamento
estacionário em nı́vel, indicando raiz unitária para as demais. No entanto a partir da análise gráfica,
suspeitamos da presença de tendência determinı́stica nas séries de desemprego e taxa e juros, bem
como possibilidade de quebra na série de razão entre as rendas. Removendo a tendência pelo filtro
Prosseguindo para variável de renda relativa, utilizamos o método de Zivot and Andrews (1992),
que propõem um teste com especificação próxima da utilizada em Perron (1989), onde o ponto de
quebra considerado na especificação dos modelos é determinado endogenamente, considerando a
hipótese da existência de apenas uma quebra estrutural. Com a utilização de regressões do teste
ADF, aumentadas pela especificação das dummies que permitem modelar as quebras nos termos
determinı́sticos. A hipótese nula é de que o processo segue um random walk com drift e sem quebra
contra a alternativa de estacionariedade com quebra. Os resultados identificam um ponto de quebra
significativo em (2009:02) com 99% de significância.
n´ıvel, RBR
t filtrada, UtBR filtrada e CBR
t em nı́vel. Além de incluir como variável exógena uma
dummy de quebra em nı́vel para Dif Yt BR/U S . Tal escolha foi feita em busca de funções impulso
resposta mais adequadas após a decomposição de Choleski. A função impulso resposta de interesse,
buscando investigar a resposta de CtBR a um choque em Dif Y tBR/US segue:
Figura 3: Impulso Resposta
A região sombrada representa o intervalo de confiança, o gráfico mostra que para um impulso
de um desvio padrão na variável de razão entre as rendas a propensão média de consumo no Brasil
tende a cair, conforme o esperado, por cerca de 5 perı́odos. Buscando verificar a robustez dos
resultados, alguns testes foram executados. O teste de Jarque-Bera tem como hipótese nula a
normalidade. Assim, se o p-valor for menor do que 5% , p < 0, 05, então rejeitamos a normalidade.
Já se p > 0, 05, aceita-se a normalidade. Já no teste de não autocorrelação de Hosking se os p-valores
forem for menores do que 5%, p < 0, 05, ent ao rejeitamos a hipótese nula de não autocorrelação
dos resı́duos, ou seja, se p > 0, 05, aceita-se a não autocorrelação. A hipótese de normalidade dos
resı́duos é desejável para construção dos intervalos de confiança mais ajustados aos dados, mas a
não normalidade não implica inviabilidade da análise. Porém, a hipótese de autocorrelação residual
já é um pouco mais problemática no que diz respeito as inferências de relação entre as variáveis.
Nos dados apresentados, não houve problema de autocorrelação serial, porém a não normalidade
dos resı́duos foi aceita em algumas equações.
6. Conclusões
O objetivo principal deste trabalho foi testar a existência de relação significativa entre a renda
relativa e propensão média a consumir. Inicialmente buscou-se investigar esta relação dentre di-
versos paı́ses, controlando os efeitos de variáveis como força de trabalho e taxa de juros que estão
diretamente relacionadas ao consumo médio das famı́lias. A partir dos resultados obtidos, parece
que para rendas cada vez maiores dos paı́ses, em relação aos Estados Unidos, existe uma tendência
a diminuição da propensão média a consumir, sendo provável que parte desta renda não gasta com
consumo flua para bens de capital. Vale ressaltar que o efeito do próprio consumo sobre a variação
de renda foi considerado na estimativa de impacto, já que tomamos o termo defasado como variável
explicativa, ressaltando a importância do hábito.
Em sequência, analisando dados trimestrais para economia brasileira foi estimado um modelo
vetorial que da suporte a análise anterior. Os resultados, após os devidos cuidados com problemas
de quebra e tendência, apontam que um choque positivo, de um desvio padrão, na variável razão
de rendas leva a uma queda da propensão média de consumo. Ou seja, uma aumento na diferença
proporcional entre rendas do Brasil para os Estados Unidos tende a reduzir a propensão média a
poupar de forma modesta por cerca de cinco trimestres e volta a cair novamente.
Logo, podemos concluir que aparentemente a hipótese levantada por Duesenberry(1949) sobre
o ”efeito demonstração”ainda apresenta alguma validade para dados recentes, tanto de forma geral
quanto no caso brasileiro, mas que os impactos da razão entre as rendas sobre a propensão média
a consumir seria pequeno.
Assim, quanto maior a distancia relativa das rendas, maior a queda na poupança e no investi-
mento. Logo, politicas de incentivo a poupança e gastos com investimentos são importantes para
cobrir o efeito demonstração. No caso Brasileiro, a situação parece um pouco mais branda do que no
geral, contudo as polı́ticas públicas governamentais também são fundamentais para ”compensar”as
perdas do efeito demonstração ao longo da última década.
7. Referências
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evidence and an application to employment equations. Review of Economic Studies,
v. 58, n. 2, p. 277-297, April 1991.
BLUNDELL, R.; BOND, S. Initial conditions and moment restrictions in dynamic panel
data models. Journal of Econometrics, v. 87, p. 115-143, 1998.
BRANDY, D.; FRIEDMAN, R. Savings and the income distribution. In Studies ind
Income and Wealth. vol.10. New York: N.B.E.R.,247-65. 1947.
HARRIS, R. D. F., and E. TZAVALIS. Inference for unit roots in dynamic panels where
the time dimension is fixed. Journal of Econometrics 91: 201-226. 1999.
IM, K. S., M. H. PESARAN, and Y. SHIN. Testing for unit roots in heterogeneous
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LEVIN, A., C.-F. LIN, and C.-S. J. CHU. Unit root tests in panel data: Asymptotic
and finite-sample properties. Journal of Econometrics 108: 1-24. 2002.
LEWIS, A. Desenvolvimento com Oferta Ilimitada de Mão de Obra. Em:
Agarwala,A.N.,Singh, S.P.338.91724. 2010.
RESUMO: Esse artigo apresenta uma análise sobre o impacto gerado na economia brasileira
pela nacionalização e comercialização de um determinado bem de capital para uso em pesquisas
científicas em nanociência e nanotecnologia. Tal impacto é calculado utilizando a Matriz de
Insumo-Produto Brasileira, considerando três cenários: (i) compra do equipamento importado;
(ii) compra do equipamento nacional, considerando montagem no Brasil a partir de
componentes importados e nacionais; e (iii) compra do equipamento nacional, considerando a
situação, fictícia no presente, em que todos os componentes do equipamento são produzidos no
Brasil. Demonstra-se que o impacto econômico da compra de equipamentos nacionais torna o
investimento em ciência superavitário, independentemente dos resultados científicos,
tecnológicos ou de inovação advindos das pesquisas a serem realizadas, e propõe-se a
nacionalização de bens de capital e insumos para pesquisa como modelo sustentável para
viabilizar economicamente o desenvolvimento científico e tecnológico nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Instrumentação Científica; Matriz de Insumo-Produto, Impacto
Econômico.
1
Doutorando em Economia no CEDEPLAR/UFMG e professor Adjunto do Departamento de Economia da
Universidade Federal do Espírito Sando (UFES). E-mail: celso.bissoli@gmail.com
2
Doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ e professora do Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional (CEDEPLAR) da UFMG. E-mail: msrapini@cedeplar.ufmg.br
3
Doutor em Física pela UFMG e professor Titular do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). E-mail: adojorio@gmail.com
4
Pesquisadora Tecnologista em Metrologia e Qualidade do INMETRO. E-mail: mdinizcosta@gmail.com
1. Introdução
requerem cada vez mais investimentos em infraestrutura tecnológica para aumentar a capacidade de se
equipamentos de alta tecnologia é fundamental para o avanço do conhecimento, embora a pesquisa para
o desenvolvimento de tais equipamentos seja pouco considerada pelo meio científico brasileiro.
longo dos últimos 80 anos (SHINN, 2001). Neste período, os instrumentos científicos foram
classificados desde meros aparatos para comprovação de teorias até elementos fundamentais para o
nascimento de novas disciplinas. Ao tratar deste assunto, Shinn (2001) destaca que foi primeiramente
no campo da astronomia que houve a percepção da instrumentação como dando estrutura a um campo
científico.
Além de dar estrutura a um campo científico, a instrumentação pode ampliar o rol de aplicações
organização do trabalho nas instituições. De um ponto de vista mais estratégico, a instrumentação pode
garantir o monopólio do conhecimento ao grupo que detém o acesso à tecnologia e, com isso,
para o desenvolvimento de instrumentos científicos, o papel desempenhado pelo Estado passa a ser
fundamental para criar as condições adequadas de estímulo à realização das atividades de pesquisa
científica. A literatura e as evidências empíricas reforçam a ideia de que elevados níveis de investimento
em ciência e tecnologia são essenciais para garantir o crescimento econômico no longo prazo.
de investimento e de indução da pesquisa em ciência no Brasil, apesar dos avanços, ainda contrastam
com os modelos de industrialização historicamente adotados pelo país, que basicamente foram
estudo de caso, que a estratégia de investimento governamental em estruturas para gerar instrumentação
de alta tecnologia pode gerar efeitos positivos sobre a economia brasileira, em oposição aos efeitos
instrumentação será feita a partir da Matriz de Insumo-Produto do Brasil. Uma das principais
contribuições deste trabalho reside na identificação das distribuições, intensidades e transmissões dos
A nanociência tem apresentado grande potencial para revolucionar a tecnologia de forma ampla,
e de consumo para o avanço da nanociência ainda estão em fase de desenvolvimento no mundo e têm
valores muito elevados devido ao alto grau tecnológico agregado, ficando obsoletos com alguns anos de
estado, não chegando ao Brasil, ou chegando em suas versões menos avançadas. Porém, apesar disso, o
Brasil possui significativa formação de recursos humanos nessa área, formação fundamentada no
com uma pesquisa realizada feita pela Sociedade Brasileira de Física (Tabela 1), a instrumentação
científica foi apontada como um dos principais gargalos a serem superados para que a Física brasileira
Computação de
Multiusuários
Larga Escala
Laboratórios
Registro de
Programa
Programa
Nacionais
Científica
Espacial
Patentes
Comunidades de
Nuclear
Outros
Respostas
Física
está fundamentada na importação destes bens de capital. Centros de microscopia eletrônica têm sido
bastante custosos. Ao se adicionar a isto os custos de manutenção, esta soma ainda cresce, tanto do ponto
de vista financeiro quanto econômico, influenciada por fatores como o tempo ocioso do equipamento e
De acordo com o Gráfico 1, entre os anos de 2000 e 2016, o setor de microscopia eletrônica foi
constantemente deficitário, com as importações superando as exportações. Mesmo com a redução das
importações a partir de 2013, o déficit da balança comercial referente a estes produtos indica a
dependência tecnológica do país em relação aos produtos estrangeiros, de forma que o fornecimento de
tais produtos para atender a demanda de produção em nanotecnologia depende basicamente do aumento
das importações.
Gráfico 1 – Importação e Exportação de Produtos de Microscopia Eletrônica5 (milhões U$) – 2000 a 2016
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
-10,0
-20,0
-30,0
-40,0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Saldo Comercial -2,13 -2,88 -3,68 -4,21 -3,81 -4,03 -15,08-15,27-16,05-17,77-18,04-27,71-32,88-34,52-23,42-16,06-12,69
Importação 2,13 2,90 3,78 4,21 3,81 4,04 15,09 15,28 16,06 17,78 18,04 28,08 33,21 34,53 23,49 16,09 12,72
Exportação 0,00 0,02 0,10 0,00 0,00 0,01 0,01 0,02 0,01 0,01 0,00 0,37 0,33 0,01 0,07 0,03 0,03
5
Os dados se referem aos códigos 9012.10.10 (Microscópios eletrônicos) e 9012.90.10 (Partes e acessórios de
microscópios eletrônicos), seguindo a Nomenclatura Comum do Mercosul.
Apesar de alguns avanços no desenvolvimento científico, o Brasil ainda se apresenta em
condição desfavorável quando em competição com países mais desenvolvidos, ampliando o espaço para
o questionamento dos atuais investimentos em nanociência no Brasil. Piketty (2014) defende que o
compromisso do progresso científico está atrelado à geração de bens intangíveis, razão pela qual estes
investimentos são historicamente frágeis, sofrendo cortes desestruturantes sempre que a economia
Raman (RAMAN, 1928; RODRIGUES & GALZERANI, 2012), que é um método poderoso de análise
para caracterização química de compostos, vastamente utilizado em campos como a física, a química, a
ciência dos materiais e, mais recentemente, nos campos da biologia e da medicina (SCHRADER, 2008).
Suas aplicações atuais vão desde a ciência básica, na determinação de propriedades da matéria
(JORIO et al., 2012; RIBEIRO‐SOARES et al., 2013), protocolos de referência para análise da
composição de biodiesel (MIRANDA et al., 2014) e métodos diagnósticos diferenciais para doenças
Os avanços da nanociência nos últimos anos provocam uma demanda por desenvolvimentos
há dois principais limitantes para sua aplicação em escala nanométrica. Um deles é o limite de difração,
que restringe a resolução óptica mínima a aproximadamente metade do comprimento de onda da luz
ocorrência do efeito Raman em relação aos outros efeitos da interação luz-matéria. Apesar de específico
– e por isso uma poderosa técnica de caracterização – o efeito Raman é pouco provável e de baixa
eficiência.
6
Um exemplo específico, mas não limitante, é a pesquisa sobre grafeno, uma folha de átomos de carbono com
propriedades eletrônicas, mecânicas e térmicas únicas, importante objeto da ciência de nanoestruturas, que promete
modificações drásticas nas áreas tecnológicas, da engenharia à medicina (GEIM e NOVOSELOV, 2007;
NOVOSELOV, 2012). A Comunidade Europeia lançou, em 2010, com aporte da ordem de um bilhão de euros,
um projeto intitulado “Graphene Flagship”, focado no desenvolvimento de tecnologias relacionadas ao grafeno.
No Brasil, o estado de Minas Gerais, através da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig),
investiu em 2016 cerca de 21,3 milhões de reais no projeto MGgrafeno, uma planta piloto para a produção de
grafeno a base de grafite mineral. O estado de São Paulo criou, em 2010, o centro MackGrafe, com um
investimento de R$ 26 milhões para o desenvolvimento de tecnologia a base de grafeno.
Em 2000 (STÖCKLE et al., 2000) foi relatado o primeiro experimento demonstrando o efeito
TERS (sigla em inglês para Tip-Enhanced Raman Spectroscopy, ou espectroscopia Raman auxiliada
por sonda), embora o desenvolvimento dos conceitos relacionados a técnica seja bem anterior
(NOVOTNY, 2007; YEO et al., 2009). O conceito teórico foi relatado em 1985 (WESSEL, 1985),
fundamentado em conceitos de campo próximo, introduzidos pela primeira vez em 1928 (SYNGE,
1928). Nos experimentos conduzidos, os autores incidiram uma fonte de laser monocromática,
usualmente utilizada em medidas do efeito Raman e, ao mesmo tempo, aproximaram da amostra uma
sonda metálica com ápice de dimensões nanométricas, similar às sondas utilizadas em técnicas já
conhecidas de microscopia de varredura por sonda (ou Scanning Probe Microscopy - SPM na sigla em
inglês). Os principais efeitos da aproximação da sonda são o aumento do sinal Raman devido à
ressonância plasmônica na sonda, e o aumento da resolução espacial por efeitos de campo próximo, que
é nesse caso limitada pela dimensão do ápice da ponta metálica. Dessa forma, a nova técnica passou a
2003), com eficiência para medir a resposta espectral relacionada a um único átomo (MACIEL et al.,
2008).
A técnica TERS, portanto, é uma combinação de duas técnicas anteriormente conhecidas, que
permite caracterizar amostras por meio da obtenção de informação química e estrutural, como resultado
dos últimos 15 anos, houve a difusão principalmente acadêmica da técnica TERS, e uma série de
conferências internacionais no tema se iniciou no ano de 2009, no National Physical Laboratory (NPL)
no Reino Unido.
dos fenômenos de ressonância plasmônica (CANÇADO et al., 2009) e a coerência espacial no regime
de campo próximo (BEAMS et al., 2014), ambas fundamentadas em conceitos fundamentais de simetria
(JORIO et al., 2017), cujo domínio tem possibilitado aperfeiçoamentos instrumentais, principalmente
introduziram soluções comerciais, ainda pouco difundidas no mercado mundial, em parte devido à baixa
reprodutibilidade e confiabilidade das medições. A falta de reprodutibilidade em medidas em tais
Trata-se de um consumível com alto valor agregado e, por ser o “core” da tecnologia, crucial na obtenção
Conforme apontou Von Hippel (1998), as fontes de inovação de produtos estão em diferentes
ambientes e podem ser desempenhadas por diferentes atores, sejam eles profissionais da indústria de
manufatura, fornecedores de componentes, ou mesmo usuários finais. E isto varia conforme o tipo de
inovação. Para inovações em instrumentação científica, os maiores inovadores são os usuários, e não os
fabricantes. Inovadores, sob esta perspectiva, são definidos como indivíduos ou firmas que
primeiramente desenvolvem uma inovação até um estado útil, segundo uma prova documentada, qual
com Rosenberg (1982) as novas técnicas de instrumentação, muitas vezes surgidas não
intencionalmente, e a difusão de suas aplicações em áreas diversas daquela em que foram originados,
são produtos da academia com forte impacto econômico. Tal impacto é muitas vezes subestimado e
raramente mensurado.
varredura de sonda. Contando com financiamento do CNPq, um dos coordenadores do LabNS foi
coordenador científico da Rede de Microscopia de Varredura por Sonda – Rede SPM Brasil, no período
produto deste projeto, um equipamento para realizar TERS foi construído no LabNS/UFMG. Com este
resultado, uma nova rede foi financiada pelo CNPq e também coordenada pelo coordenador do LabNS,
2016, projeto com financiamento recentemente renovado. Por meio deste projeto, o LabNS conduziu a
replicação do protótipo laboratorial do equipamento para TERS em duas outras instituições de pesquisa
Federal do Ceará – UFC, instituições pertencentes à rede e com recursos humanos capacitados para
conduzir e dar continuidade às pesquisas em TERS. As principais informações sobre o financiamento
de alta qualidade, por meio de diferentes métodos de fabricação, bem como à compreensão teórica do
efeito TERS. Este fato, aliado à extensa colaboração internacional com grupos de especialistas,
construiu autoridade científica e reputação do grupo, refletidos nas publicações científicas e pedidos de
patente por seus pesquisadores (CANO-MARQUEZ et al., 2015; VASCONCELOS et al., 2015; PI
Leontief, com vistas a servir de base metodológica para o estudo de impacto econômico realizado.
Elaborada a partir dos dados do Sistema de Contas Nacionais, a matriz de insumo-produto (MIP)
apresenta o fluxo de bens e serviços entre os setores da economia, sendo um quadro de dupla entrada
que registra, por um lado, os insumos utilizados pelas diversas atividades econômicas e, por outro, o
os impactos de variações na demanda final dos produtos (KURESKI, NUÑEZ e RODRIGUES, 2007).
O modelo de insumo-produto faz uso dos diversos fluxos entre as distintas atividades
econômicas, tendo como base as informações necessárias para descrever as relações entre si e com a
demanda final a formação bruta de capital fixo (𝐼), exportações (𝑋), variação de estoques (𝑉𝐸),
consumo do governo (𝐺) e consumo pessoal (𝐶𝐹), sua conta de renda e as importações (𝑀). Para
Leontief (1964), o ponto central da análise de insumo produto é a ideia segundo a qual há uma relação
fundamental entre o volume de produto de uma indústria e a quantidade de insumo que a mesma absorve.
Para o modelo são adotadas duas hipóteses, resumidas por Guilhoto (2011): a) homogeneidade, não se
considera diferenciação de produtos, havendo razão fixa de insumos (tecnologias fixas no processo
produtivo), com rendimento constante de escala (apenas uma tecnologia é empregada na produção de
obtendo para cada um deles a demanda intermediária ∑ 𝑥 , a demanda final (𝑌 ) e o valor bruto da
produção (𝑋 ). A diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário resulta no valor
adicionado, que é usado como a remuneração dos fatores de produção como salários, aluguéis, lucros e
diversos setores, ou pelas relações intra e interindustriais diretas, calculadas pela seguinte fórmula:
𝒙𝒊𝒋
𝒂𝒊𝒋 = (1)
𝑿𝒋
Onde:
𝒂𝒊𝒋 = coeficiente técnico;
𝒙𝒊𝒋 = consumo intermediário;
𝑿𝒋 = valor da produção.
Dessa forma, com o aumento da demanda final, ocorrem impactos diretos e indiretos de um
aumento unitário da produção da atividade 𝑗 sobre a produção 𝑖. Assim, o valor bruto da produção 𝑋 é
dado por:
𝑿 = 𝑨𝑿 + 𝒀 (5)
Onde:
𝑿 = vetor-coluna do valor bruto da produção;
𝑨 = matriz dos coeficientes técnicos;
𝒀 = vetor-coluna do valor da demanda final.
7
Esses coeficientes refletem a estrutura da economia e não apresentam mudanças significativas a curto e médio
prazos, o que os tornam importantes indicadores para previsões (LOPES e VASCONCELLOS, 2009).
Isolando-se 𝑌 na equação (4), obtém-se:
(𝑰 − 𝑨)𝑿 = 𝒀 (7)
Em que:
𝑰 = matriz identidade;
𝑨 = matriz dos coeficientes técnicos;
𝑿 = vetor-coluna do valor bruto da produção;
𝒀 = vetor-coluna do valor da demanda final.
Para a determinação dos efeitos diretos e indiretos resultantes do aumento de uma unidade monetária na
demanda final (𝑌), é necessário isolar o valor bruto da produção na equação (7), assim:
𝟏 (8)
𝑿 = (𝑰 − 𝑨) 𝒀
Onde:
𝑿 = valor bruto da produção;
(𝑰 − 𝑨) 𝟏 = matriz de Leontief;
𝒀 = demanda final.
Para avaliar os reais impactos sobre a economia determinados pela matriz insumo-produto é
econômica. Os dois multiplicadores principais são: (1) multiplicador direto: mede o impacto de um
aumento unitário da demanda final de uma determinada atividade sobre uma variável de renda,
considerando apenas as atividades que fornecem insumos diretamente a esta atividade; (2) multiplicador
total (direto mais indireto): mede o impacto de um aumento unitário da demanda final de uma
determinada atividade sobre uma variável de renda, considerando todas as atividades que fornecem
insumos, direta e indiretamente a essa atividade. Ao se aplicar um valor de choque pertinente à alteração
das demandas, observa-se o impacto causado pelos efeitos multiplicadores dos setores.
Para este trabalho foi utilizada a matriz Insumo-Produto do Brasil de 2013, que é dividida em
68 setores e 128 produtos. A matriz foi construída a partir de dados das Contas Nacionais segundo a
metodologia apresentada por Guilhoto e Sesso Filho (2005, 2010). No Gráfico 3 são apresentados os
Fonte: MIP
4. Estudo do Impacto Econômico e a Nacionalização
equipamentos TERS durante seus primeiros cinco anos. Para tanto, calculou-se qual seria o gasto ou
desembolso total da empresa para este montante de produção, segundo os elementos de despesa do
modelo parte da produção e entrega sob demanda, onde a receita de uma venda é utilizada para a
produção do equipamento seguinte. Para os cálculos da presente análise, já se considera os gastos com
Quadro 1 – Total de desembolsos por elemento de despesa para cinco anos de operação da spinoff
Elemento de Despesa Desembolso (R$)
Material de consumo em geral 16.800,00
Componentes internacionais para a montagem de 13 TERS 3.593.060,12
Impostos (despesas de internação) de componentes importados para a montagem de 13 TERS 1.827.347,47
Componentes nacionais para a montagem de 13 TERS 1.069.097,25
Salários de equipe própria 869.352,00
Viagens e Diárias 288.668,19
Serviços de terceiros/consultorias/testes 103.852.84
Obras e instalações 32.503.74
Softwares 39.036,00
Máquinas e equipamentos nacionais
Componentes nacionais TERS de desenvolvimento 82.239,25
Demais 69.716,21
Máquinas e equipamentos importados
Componentes importados TERS de desenvolvimento 276.389,24
Demais 24.071,51
Despesas operacionais e administrativas 529.365,08
TOTAL 8.685.142,32
Fonte: Elaboração própria.
4.2 Estimativas de Impacto e Análise de Cenários
direcionamento estratégico da spinoff. O Cenário 1, entretanto, não seria o foco deste estudo, nem
tampouco a missão da empresa, uma vez que o argumento proposto neste artigo é a nacionalização na
geração de instrumentação científica; sua hipótese é utilizada para comparação. O Cenário 2 é o mais
provável e o que reflete a realidade atual do projeto. Já o Cenário 3 é hipotético, uma vez que
determinados padrões de qualidade e confiabilidade ainda não podem ser garantidos atualmente pela
spinoff a partir somente de componentes nacionais. Entretanto, este último cenário é particularmente
relevante para a discussão de que a demanda a partir da operação da empresa poder fomentar o
Por meio da MIP foram calculados os choques nos setores pertinentes, provocados pela
alteração das demandas. O Quadro 2 apresenta o detalhamento dos impactos totais nos três cenários em
A Tabela 4 mostra o resumo dos resultados obtidos e contém a descrição dos cenários, do choque
importação dos equipamentos, sendo o choque aplicado ao setor “Administração pública, defesa e
seguridade social”. O impacto gerado seria de R$ 4,7 milhões na economia, o que representa um fator
ainda que pouco, a economia. No Cenário 2, o choque é aplicado em 17 setores da economia, com valor
de R$ 4,4 milhões, o que causaria um impacto de R$ 7,3 milhões. O fator multiplicador geral neste caso
8
Valor bruto da produção representa toda a receita bruta gerada na economia, ou seja, compreende a totalidade
das transferências realizadas mais as vendas efetuadas mais as variações dos estoques.
Neste caso, exclui-se o setor impactado pelos impostos de importação (“Administração pública, defesa
Destaca-se que nesta análise preliminar, para todos os cenários, consideraram-se apenas os
investimentos ou desembolsos a serem realizados para a produção dos equipamentos e não as receitas
advindas da atividade. Portanto, as projeções mostradas podem ser consideradas como um limite inferior
dos impactos totais9. Os setores impactados em cada um dos cenários podem ser observados no quadro
2. Cabe ressaltar que o crescimento dos diversos setores, apesar da ausência de investimento direto,
5. Considerações Finais
tardiamente e com base produtiva dominada, em setores-chave, por multinacionais, levou a um quadro
de baixa inovação para o tamanho da economia brasileira. A compra de equipamentos científicos de alta
tecnologia para a pesquisa acadêmica no Brasil é realizada, na maioria das vezes, por meio de
apoio à inovação não é apenas desejável, é condição sine qua non para o desenvolvimento rumo à
sociedade do conhecimento.
No caso analisado neste artigo, demonstrou-se que a criação de uma spinoff para a venda de 13
equipamentos para TERS, para o segmento de clientes do mercado acadêmico, causaria um impacto de
aproximadamente R$ 7,3 milhões (Cenário 2), mesmo com parte dos componentes importados. Em
comparação à importação total do equipamento, o Cenário 2 é mais favorável que o Cenário 1, ou seja,
produzir os equipamentos no país movimenta mais a economia que importá-los, mesmo que o valor dos
9
As projeções de um modelo de insumo-produto já são sobrevalorizadas em razão dos preços serem rígidos e,
portanto, não captar efeitos de substituição entre os insumos. Como se trata de um modelo de equações lineares
em um ambiente econômico com hipóteses de retornos constantes de escala e oferta ilimitada de insumos, os
cenários elaborados apresentam resultados proporcionais e similares em termos de estrutura, apenas com
modificações nos valores das variações projetadas.
Os resultados obtidos com a análise da aplicação da MIP ao estudo de caso da criação de spinoff
para a venda de equipamentos TERS indicam que o investimento em empresas de base tecnológica de
deveria ser foco de políticas públicas específicas no país. O argumento se fortalece quando se considera
agenda da inovação tecnológica de um país, como é o caso da Alemanha e dos Estados Unidos. Sob a
soberania e competitividade científica e industrial para um país. Neste trabalho, além de apontar a
entre setores diretamente envolvidos, para citar alguns. Apesar de não ser medido diretamente, esses
elementos reforçam uma função importante da universidade, pois é dela o papel essencial, e
engenheiros que serão absorvidos pelas firmas. O desempenho da spinoff, dentro do sentido de eficiência
schumpeteriana, passa a ser explicado, em primeiro lugar, pelos recursos que possui e, em segundo, pelo
conhecimento e capacitações que foram acumulados e que estão incorporados em seus ativos e em suas
avanço científico, talvez abrindo novas oportunidades a serem exploradas, principalmente por meio de
uma atividade de pesquisa continuada. Em segundo, por ter acesso aos laboratórios e equipamentos das
universidades, além de acesso a recursos humanos altamente qualificados, inclusive para identificação
de alunos para recrutamento futuro. As universidades, por outro lado, adquirem maior competência ao
conhecer os problemas reais, conhecendo a realidade empresarial e os problemas existentes e, assim,
obtendo novas informações para suas atividades de ensino, incorporando novas informações nos
processos de ensino e pesquisa, principalmente para a pós-graduação. Além disso, a interação com
empresas abre a possibilidade para geração de rendas adicionais para os pesquisadores universitários e
para os centros de pesquisa, permitindo, inclusive, a expansão das expectativas profissionais dos
pesquisadores individuais.
Esse estudo mostra que, com a nacionalização da produção de bens de consumo ou capital, é
voltado para a produção de bens de capital e consumo, e políticas públicas voltadas ao estímulo à criação
relacionada. Defende-se, ainda, que esta é uma transformação necessária no ambiente de inovação
brasileiro, caso queira-se adotar o conhecimento como base para o desenvolvimento científico e
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O SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE A
PARTIR DE ESTATÍSTICAS DE PATENTES
Resumo: O presente artigo tem por finalidade analisar o Sistema Nacional de Inovação do
Brasil a partir de estatísticas de patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial, no período entre 2000 e 2012. Especificamente, busca-se analisar a origem dos
depósitos (residente e não-residentes), as especificidades dos depósitos nacionais, bem como
o padrão de concentração regional e setorial da atividade de patenteamento nacional.
Evidencia-se o caráter desigual das regiões brasileiras, relacionando-se os aspectos
inovativos e econômicos das mesmas. Observa-se que, apesar das pequenas mudanças, as
regiões do território brasileiro com baixa intensidade de patenteamento, são compostas por
baixo fluxo de conhecimento advindo da atividade tecnológica universitária, bem como são
inexpressivas na geração de renda do país ao longo do período analisado. Percebe-se também
a falta de alinhamento entre o padrão tecnológico das patentes residentes e não-residentes,
constatando um aspecto inercial nacional frente ao dinamismo internacional.
1. Introdução
econômico, de maneira que a atividade tecnológica deve ser tratada pelos economistas como
e Rosenberg, 1993).
dentro das fronteiras geográficas dos países, considerando os diversos arranjos entre
O presente trabalho está dividido em duas seções além desta introdução e das considerações
Inovação, o qual será responsável pela sistematização dos dados e orientação da discussão
2. Sistemas de Inovação
tecnológica e econômica mundiais e como deve ser o processo de “catching up” dos demais;
além de como o sistema tecno-cientifico de um país, bem como suas políticas nacionais são
responsáveis pelo desenvolvimento econômico dos mesmos. São questões como essas, e
análise de diversos estudos econômicos que tem como cerne o termo Sistemas de Inovação
(Freeman, 1982; Nelson e Rosenberg, 1993; Nelson, 1992; Cook et. al, 1997; Malerba, 2003;
Lundvall, 2007), tendo como precursor o autor alemão Friedrich List, que difundiu na
passou a fazer parte daqueles que tentam explicar e compreender fenômenos relacionados à
tecnológica tanto a nível micro (firmas), quanto macroeconômico (países) (OECD, 1997).
nação, bem como às economias domésticas de cada uma delas (Nelson, 1992; Lundvall,
Lundvall (2007) define que o núcleo do SNI é constituído por firmas e organizações que
inovam, inclusive, a partir da interação entre as mesmas. Entretanto, outros dois atores são
universidades por serem o lugar de formação acadêmica dos profissionais que atuam nas
governos por serem os responsáveis pelas políticas públicas de seus países que fomentam as
diversos outros fatores influenciam a performance inovadora dos mesmos, como a rede de
de inovação com foco em outras esferas da economia que não a nível abrangente do estado
Dentro de um único país e até mesmo estado, existem regiões que se diferem
evoluções das regiões são resultantes de combinações políticas, sociais e econômicas locais,
que devem ser considerados nos estudos de SRI (Cooke et. al, 1997). Portanto, o conceito
SRI é caracterizado pela análise do uso, geração e difusão de inovações em determinada
O conceito de SSI, por sua vez, relaciona-se com uma visão multidimensional, integrada e
dinâmica dos distintos setores da economia. Este conceito é uma importante ferramenta na
nas estruturas, dinâmicas e fronteiras entre os setores, assim como no entendimento das
Nos estudos realizados por Albuquerque (1996, 1999a, 1999b, 2000) sobre o SNI brasileiro,
fica evidenciado a prematuridade deste sistema a partir de uma tipologia desenvolvida pelo
1
A partir dos principais resultados de um projeto denominado ESSY, Malerba (2003) analisou seis grandes
sistemas setoriais europeus e constatou que, mesmo apresentando diferentes fontes e características de
conhecimento, todos demonstraram grande interesse no desenvolvimento de atividades relacionadas à ciência,
as quais são responsáveis pela dinamização dos mesmos. Ele verificou também, que este processo de geração
de conhecimento e aprendizado está correlacionado com os agentes por meio da demanda dos consumidores,
universidades e produção de P&D; e que na maioria dos setores, quanto maior for a multidisciplinaridade da
base de conhecimento, mais heterogêneos são estes agentes. Sobre as instituições, Malerba (2003) averiguou
que, mesmo que algumas sejam específicas de cada setor, elas representam um papel significativo na atividade
inovativa e mudança tecnológica dos setores, ora corroborando seus avanços, ora seus retrocessos.
2
De acordo com esta tipologia, os sistemas nacionais podem ser classificados a partir de características
importantes sobre inovações tecnológicas em três categorias. A primeira categoria abrange os principais
sistemas de países desenvolvidos que são líderes mundiais na capacitação tecnológica como Estados Unidos,
Japão e Alemanha. A segunda é composta pelos países dinâmicos em tecnologia, mas sendo a difusão das
mesmas e não a sua geração a atividade principal de seus sistemas, como Dinamarca, Suécia e Holanda. A
terceira e última envolve sistemas de inovação ainda incompletos, aqueles que construíram mas não evoluíram
a mínima infraestrutura tecnológica.
estatísticas apresentam uma característica singular sobre inovação, a qual está evidenciada
limitado de atividade tecnológica. “Nem todas as invenções são patenteáveis, nem todas as
tais deficiências não invalidam as análises consistentes feitas a partir deste indicador.
e desenvolvimento, visto que a inovação fruto destas atividades estará legalmente protegida.
3
Tradução livre.
é feita uma análise do sistema nacional de inovação a partir de estatística de patentes
retiradas do site do INPI, que compõem a base de dados utilizada neste artigo.
podem ser classificadas de acordo com três modalidades: Patente de Invenção, Modelo de
internacionais, alguns estudos entendem por patentes como referindo-se apenas às patentes
dos dados, o presente trabalho analisa somente as patentes de invenção depositadas no INPI
no período entre 2000 e 2012. As Patentes de Invenção constituem 86% (274.728 depósitos)
aumentou 176%. Entretanto, não é pertinente deduzir imediatamente deste aumento uma
maior atividade tecnológica do país, pois as patentes são depositadas por agentes (pessoas
radicais e incrementais que estão na fronteira tecnológica internacional. Quanto maior for a
capacidade destes países desenvolverem atividades inovativas, maior será a tendência ao
patenteamento. Portanto, países inovadores que difundem suas tecnologias pelo mundo, são
incluindo o Brasil, são responsáveis por 77% dos depósitos totais, os demais 23% foram
depositados por 140 países. Isto demonstra que os poucos países que compõem a fronteira
Brasil. Somente os Estados Unidos realizaram mais depósitos internamente no Brasil do que
país, “as patentes de residentes podem ser consideradas como uma proxy das atividades
podem ser classificados quanto à natureza jurídica do primeiro depositante: pessoas físicas
e pessoas jurídicas. Observa-se, através do Gráfico 2, que o número de patentes depositadas
geralmente por dois motivos: abrangem menores conteúdos tecnológicos e são depositados
e jurídicas começou a diminuir a partir do ano 2010, sendo que, em 2012, as patentes de
diz respeito ao peso das universidades entre os principais depositantes nacionais. Dos 10
maneira frugal, características do SNI brasileiro. “Esse quadro reafirma a importância das
assim como reflete a debilidade tecnológica da indústria nacional” (Santos, 2017. p. 221).
Cabe agora uma análise da localização dos depósitos de patentes no território brasileiro, com
três intervalos temporais distintos: 2000 a 2003, 2004 a 2007, 2008 a 2012, a partir do
somatório de depósitos de patentes para cada uma dessas regiões. Esta figura apresenta uma
grande concentração de patentes no eixo Sul-Sudeste e uma grande extensão territorial com
É possível observar que 12 estados (Roraima, Amapá, Acre, Rondônia, Pará, Maranhão,
Piauí, Alagoas, Sergipe, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) persistiram com a
500 unidades em todos os três períodos apresentados. Os estados Rio Grande do Sul e Rio
de Janeiro, assim como os demais apresentados até agora, se mantiveram na mesma divisão
4
Vale dizer que nenhum estado brasileiro retrocedeu na quantidade de patentes depositadas, assim como não
apresentaram depósitos nulos.
desde o primeiro período até o último, sendo esta equivalente ao intervalo entre 1.001 e
2.000 depósitos. Todos estes 19 estados apresentados até agora, mesmo que em estágios
categoria para a segunda, permanecendo assim até o último período; assim como Paraná e
Santa Catarina passaram do terceiro para o quarto nível, também permanecendo neste
patamar até o último período. Já do segundo para o terceiro e último período, Rio Grande do
Norte e Paraíba passaram a integrar a segunda categoria e a Bahia a terceira; Minas Gerais
passou da quarta para a quinta categoria, e São Paulo do sexto para o sétimo e mais alto nível
aumento não foi suficiente para que houvesse um processo de desconcentração da atividade
tecnológica do país no período analisado, pois os estados das regiões Sul e Sudeste foram os
responsáveis pela maioria dos registros em todos os intervalos temporais, seguidos dos
estados do Nordeste.
Nessa perspectiva, é possível vislumbrar um conjunto maior de estados que passou a integrar
no núcleo formado pelas regiões Sul e Sudeste, sendo que as demais regiões apresentam um
maioria, por universidades federais, as quais são entes fundamentais no SNI. Logo, cabe
agora uma análise da distribuição territorial dos depósitos de patentes realizados pelas
universidades de acordo com os estados que elas pertencem, com a finalidade de identificar
a produção tecnológica universitária, bem como sua relação com o padrão de concentração
identificado na Figura 1.
ensino superior ao longo do Brasil foi a expansão territorial da pesquisa universitária, como
pode ser identificada a partir do aumento do número de estados (a partir das universidades)
claro que as universidades que compõem o ranking da Tabela 1 estão localizadas neste eixo,
(Figuras 1 e 2), com o fator tendencial da desigualdade entre as regiões no que se refere ao
aspecto econômico. Está representada no Gráfico 3 a relação entre a média da renda das
cinco regiões brasileiras, mensuradas a partir do produto interno bruto (PIB), e os depósitos
Observa-se que a região Sudeste se manteve distante das demais em todos os períodos; sendo
que, no último deles, ela se posicionou no ponto mais alto e à direita do gráfico. Esta região
é a encarregada pela maioria dos depósitos realizados internamente e pela maior geração de
renda no país. A região Sudeste produziu em média por período, aproximadamente 57% do
PIB, seguida da região Sul (17%), Nordeste (13%), Centro-Oeste (9%)e Norte (4%).
iniciais em direção à região Sudeste. No entanto, tal deslocamento foi deveras inferior ao
necessário para que se alcançasse esta região. Isto quer dizer que, mesmo que tais regiões
como no caso da região Norte), eles não foram suficientes para uma mudança estrutural
significativa de patamares.
Gráfico 3 – Renda versus depósitos de patentes nas regiões brasileiras
O efeito chamado Rainha Vermelha é ilustrado nesta situação. De acordo com Rapini et al.
(2017), tal efeito é uma alusão à uma passagem do livro Alice através do espelho, e foi
o processo de desenvolvimento das espécies necessário para que as mesmas sejam capazes
se este efeito para a África do Sul que, mesmo aumentando sua taxa de crescimento, tal
melhora não foi suficiente para que o país deixasse o seu grupo e evoluísse de patamar.
O mesmo pode ser dito em relação às regiões brasileiras, especialmente a região Sul que
tal crescimento foi concomitante ao promovido pela região Sudeste, a qual abriu um
distanciamento ainda maior das demais regiões ao longo do tempo. Portanto, assim como o
efeito da Rainha Vermelha anuncia, para as regiões brasileiras “saírem do lugar”, elas devem
De acordo com a IPC, as patentes são classificadas a partir de uma hierarquia seção, classe,
subclasse e grupo, de acordo com o estado da arte da tecnologia que nelas estão contidas. O
Rapini et al. (2017), a distribuição tecnológica setorial do Brasil nos anos 2000 a 2011 não
tecnológicos emergente. De certa forma, o Gráfico 4 corrobora esta análise, uma vez que ele
assim como também demonstra uma estagnação relativa setorial dos depósitos nacionais.
2017. p.253). No entanto, no que diz respeito à política industrial brasileira, o autor ressalta
o seu baixo dinamismo desde o século passado, e o fato de ser um produto híbrido resultante
dos interesses de grupos organizados e da burocracia do estado. Este é um dos motivos pelo
beneficiário da política industrial brasileira desde a década de 1950, assim como também
setores tecnológicos. Este fato também está ilustrado no Gráfico 4, o qual evidencia o setor
regiões com uma distribuição menos igualitária dos agentes que formam o sistema nacional
de inovação (Santos, 2017). O caso do Brasil entre os anos 2000 e 2012 demonstrou esta
relação, a qual foi evidenciada pela concentração da atividade tecnológica (inclusive dos
depósitos realizados pelas universidades) e da renda nos estados que compõem a região Sul
e Sudeste.
humanos e as mudanças institucionais, os quais são elementos essenciais para que tais
injustificado. Constatou-se que, apesar das pequenas mudanças, aquelas regiões do território
brasileiro com baixa intensidade de patentemanto, são compostas por baixo fluxo de
na geração de renda do país ao longo anos analisados. Pode-se dizer que em tias regiões há
respeito aos setores tecnológicos, tal como a disparidade com o padrão internacional.
Estes desfechos são resultantes da desarmonia entre os entes e políticas que compõem o
sistema nacional de inovação que foram, até então, incapazes de integrar os setores e as
desenvolvidas.
Referência Bibliográfica
RESUMO
realizada uma regressão linear múltipla em que o Global Innovation Index é variável
para o ano de 2013, com 60 países. São utilizados conceitos de Schumpeter para Inovação
valores.
1
Mestrando em Teoria Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Econômica da UNICAMP.
2
Doutor em Economia Aplicada (ESALQ/USP). Professor adjunto do Departamento de Economia e do
Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM).
3
Doutoranda em Teoria Econômica pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Econômica da UNICAMP.
1. INTRODUÇÃO
ponto de partida é que economicamente, para este problema, por suposição, acredita-se que
pessoas mais bem nutridas, estudadas e com melhor saúde tenham mais condições de criar
inovação. Uma nação de pessoas saudáveis, com condições dignas de sobrevivência, está
países com maior qualidade de vida de sua população não estão mais propensos a criar
inovação, tudo o mais constante e; como hipótese alternativa H1, que a qualidade de vida
implica que deva ser utilizado algum mecanismo para que se possa mensurá-los. Neste
trabalho, estas definições são obtidas por meio da literatura de Sen (2012) e Schumpeter
(1911/1988). Após sua obtenção, restará apenas substituí-las por proxies mensuráveis.
Feito isto, é realizada uma regressão linear múltipla em que o Global Innovation Index 4
longevidade, renda per capita, desigualdade de renda, Internet e o teste PISA (Programa
4
Índice de Inovação Global (tradução nossa)
pesquisa e desenvolvimento, também é introduzida no modelo. A regressão é feita por
mínimos quadrados ordinários para o ano de 2013, com uma amostra de 60 países.
Considerações Finais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
pois o que é bom para uma pessoa, pode não ser para outra. Esta seção procura esclarecer
(SCHUMPETER,1911/1988, p.47).
por métodos distintos e que podem causar alterações no modo de produção, é esta que leva
invenção, pois ainda que esta última possa se tornar inovação, caso não seja amplamente
Schumpeter não é muito claro no desvendar de como se produz uma inovação, mas
sentido daquele que tem o desejo de conquistar, que tem “[...] a alegria de criar, de fazer as
“domesticado”.
“abordagem das capacitações”, é “[...] um processo de expansão das liberdades reais que as
pessoas desfrutam.” (SEN, 2012, p.55). Caracteriza a expansão das liberdades como fins
capacidades elementares como, por exemplo, “[...] ter condições de evitar privações como
instrumentais, nas quais são várias, mas salienta as principais como liberdades políticas,
protetora. Em suma, por um lado, o autor defende que, para se alcançar o desenvolvimento
Em Sen (2003), boa saúde, longevidade e boa educação são proxies de qualidade de
vida. Estas podem, inclusive, ajudar na produtividade. Além disso, Sen (2012) exemplifica
Estas, conjugadas com direitos “[...] também contribuem muito eficazmente para o
Note-se que esta análise não é nova. A obra humana, a sua capacidade intelectual e
do que chama o “Sistema Nacional de Inovação”. Seu ponto de partida são os escritos de
(P&D). É preciso que estas funcionem adequadamente sua estrutura deve estar
Freeman (1995) compara o Japão e a antiga União Soviética ao analisar que esta
última direcionava mais recursos à P&D, em termos percentuais de PIB, que seu par
asiático. Porém, como a destinação dos recursos era em maior parte ao setor militar, obteve
sistema educacional, com fraco investimento em P&D. Isto acabou por levar a região a
uma infraestrutura industrial pobre. Porém seu trabalho fala pouca coisa de qualidade de
vida além da educação e dos benefícios de pesquisas voltadas aos fins civis.
inovar. É observado que existe escassez de indivíduos talentosos, bem como a migração
destes para países com melhores oportunidades seja de trabalho ou estudo. Dutta et
al.(2014), neste mesmo relatório, encontram que o fator humano é mais crítico para o
sucesso em inovação em países com mais alta renda que os de baixa. Veem que é mais
provável que cidadãos mais educados tenham mais sucesso em economias de alta renda ao
Schaaper (2014) analisa que nos países com as maiores quantidades de matrículas
no nível superior são também os países com maior número de pesquisadores. Encontra que
Pesquisa e Desenvolvimento são menos rentáveis em países com baixos níveis de capital
humano. Em resumo, conclui que os dados que analisou confirmam a ligação entre
desenvolvimento econômico.
Para obtenção de resultados que possibilitam análises, alguns autores, cuja temática
é similar, utilizaram métodos econométricos, como o proposto neste artigo. Por exemplo,
Gezer e Cardoso (2015) fazem uma análise da relação entre o nível de desenvolvimento
mínimos quadrados ordinários e de regressão logística. Para tanto, fazem uso do Índice de
econômico social.
Outro trabalho é o de Doh e Acs (2010) que explora o impacto do capital social
sobre inovação ao construir uma medida de capital social mais geral. Testam a hipótese
que capital social tem impacto positivo sobre inovação em nível nacional e encontram que
adotam como proxy de atividade de inovação o número de patentes nos Estados Unidos.
Desenvolvimento Humano das Nações Unidas como proxy. Seus resultados mostram que
3. METODOLOGIA
Os dados foram obtidos por meio do Banco Mundial (World Bank), PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e do The Global Innovation Index,
disponíveis de muitos anos anteriores. Sua metodologia é dinâmica e, por vezes, altera-se
anualmente.
Quadro 1: Código das variáveis com seus respectivos nomes originais e fontes
que ocasionou em dados faltantes. Esta foi uma limitação encontrada neste experimento. A
partir de mais de 200 países, a amostra se resumiu a 60. Os países podem ser vistos no
Quadro 2, anexo A. O ano de 2013 foi escolhido pelo fato de se ter a maior amostra
possível de países. Para o estudo aqui proposto, “inovação” e “qualidade de vida” são
Inovação Global (tradução nossa), produzido pela Johnson Cornell University e parceiros.
e outro de criatividade. Tais pilares são compostos por outros indicadores, totalizando 79.
Deve ser notado que não apenas incorporam patentes, mas outras coisas, incluindo
estabilidade política, etc.. Dada tal riqueza de informações, este é o índice utilizado como
porcentagem da população com Internet, a média do teste PISA5, a renda per capita, a
intitulação que uma pessoa tem de poder escolher, de pesquisar, e de evoluir. No mundo
contemporâneo, ter acesso à rede, provavelmente, é sinal de ter uma qualidade de vida
melhor do que quem não tem. A variável escolhida neste trabalho tem como unidade de
A escolha do teste PISA resultou de sua aparência ser melhor do que número de
5
PISA é sigla de Programme for International Student Assessment - Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes e é um conjunto de testes para leitura, matemática e ciência. A média do PISA será utilizada como
proxy de educação.
escola não significa que haja qualidade no ensino. Assim como estar alfabetizado não
Renda per capita, embora não seja tão fundamental em Sen (2003,2012) ainda
variável de salários, renda per capita é utilizada como proxy. Esta captura a riqueza média
de um país, isto é, rendas per capitas altas normalmente ocorrem em países desenvolvidos,
a exceção fica a cargo dos grandes produtores de petróleo, por exemplo. A renda per
Longevidade, conforme Sen (2012) é proxy de saúde, pois, quanto mais longevo for
uma pessoa, melhor é o seu estado de saúde e maior a sua qualidade de vida.
Supõe-se que sociedades, cujas rendas não sejam tão díspares, preocupam-se mais com o
neste artigo. Porém, é colocado no modelo, pois é uma das maneiras mais tradicionais de
tentar alcançar uma inovação. Esta variável foi construída por meio do cruzamento de
dados entre o PIB, em dólar, a preços correntes, obtidos no Banco Mundial, multiplicado
índice de inovação global, pois se pressupõe que indivíduos com mais qualidade de vida,
sejam mais capazes de produzir inovação que aqueles sem. A única variável que é esperada
impactar negativamente é a de desigualdade, pois esta é medida da forma que quanto maior
É utilizada a regressão linear múltipla, com dados em cross section, para o ano de
Amartya Sen, com o conceito schumpeteriano de inovação6. Essa relação é dada por:
log GIIi Const 1Inti 2 PISAi 3 PCi 4 Longi 5 log PDi 6 Desigi ui (1)
em que,
porcentagem da população do país i que possui acesso à Internet; PISAi é uma escala média
do teste PISA para leitura, matemática e ciência no país i; PC é a renda per capita no país
baseado em dados obtidos por meio de pesquisas com famílias e estimado com a utilização
Uma vez que se faz uso de um modelo de regressão por mínimos quadrados
6
Essse tipo de abordagen não é incomum. Por exemplo, Gezer e Cardoso (2015) analisam o desenvolvimento
econômico e social e o nível de atividade empreendedora no mundo, conforme discutido na Seção 1.
hipótese nula indicando algum problema na forma funcional. O teste ajuda a verificar,
então, problemas com variáveis omitidas e linearidade nos parâmetros. O problema é que
não informa uma solução. Contudo, alguns problemas podem ser resolvidos por meio da
erro. O erro populacional é independente das variáveis explicativas, tem média zero e
(normalmente distribuída).
melhores estimadores não viesados, apesar de serem menos eficientes. O maior problema
deste fenômeno é a dificuldade em obter estimativas dos coeficientes com erros padrão
de um problema de colinearidade.
Adicionalmente, para se verificar qual o modelo mais bem ajustado, foi realizado o
teste MWD de forma funcional. Este teste consiste em verificar se a forma funcional
correta é o modelo linear ou log-linear. Suas hipóteses, de acordo com Gujarati e Porter
(2011), são:
obtido pela diferença entre o valor estimado de Y menos o valor estimado de logY. Porém,
Akaike. Gujarati e Porter (2011) assinalam que, ao compararmos dois ou mais modelos, o
modelo com o valor mais baixo do critério de Akaike é o preferido.Por fim, uma vez que o
modelo tenha sido rodado e obtido coeficientes sem significâncias estatísticas, pode ser
realizado um teste de restrição de exclusão. O teste adotado para esta situação foi o F que
verifica, conforme Wooldridge (2010), se um grupo de variáveis não tem efeito sobre a
variável dependente. Ou seja, a hipótese nula é que um conjunto de variáveis não tem
efeito sobre a variável dependente, já que outro conjunto de variáveis foi controlado.
3.4 Hipótese de pesquisa
O presente estudo tem como hipótese nula de pesquisa H0 que está associada à relação de
que países com maior qualidade de vida de sua população não estão mais propensos a criar
inovação, tudo o mais constante e; como hipótese alternativa H1 de que a qualidade de vida
da população dos países cria ambiente para a inovação. Assim, os testes estatísticos jogam
contra H0, isto é, caso haja significância estatística no teste t (ou avaliação feita pelo seu p-
valor), implica dizer que os parâmetros da Equação (1) são diferentes de zero e que as
variáveis são relevantes para o modelo e, consequentemente, podem ser importantes para a
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Após várias simulações, um bom modelo ajustado foi o log-lin expresso pela
equação (1). Neste caso, pelo teste MWD, o coeficiente da variável Z mostrou um p-valor
de 0,0853, isto é, o modelo linear seria preferível a um nível de 10%. Além disso, passou
no teste RESET com p-valor de 0,22, ao contrário de outras tentativas que tiveram
problemas – log-log, por exemplo. Seu critério de Akaike foi de −110,3088. Uma vez que
alguns modelos, pelo critério de Akaike conjugado com o teste RESET, o Modelo (1)
mostrou-se o mais apto para o experimento e, a partir daí, houve a continuidade dos demais
procedimentos.
Modelo (1). Já, com p-valor igual a 0,111310, o teste de Breusch-Pagan para
heteroscedasticidade indicou que não se pode rejeitar a hipótese de homocedasticidade,
utilizar o teste-t, uma vez que variância heterocedástica afeta a eficiência dos estimadores.
não de tipo. Além disso, é uma característica da amostra e não da população. Fez-se, então,
busca analisar a correlação entre duas variáveis e, ao mesmo tempo, mantém constante o
Como esperado, dada a baixa correlação parcial, no teste de colinearidade, por meio
positivo de 2,20. Esta não possui muita explicação econômica, mas é aceitável que todo
país possua características naturais que sejam propensas ao ato de criar inovação.
2,20211***
Const Não há +
(0,347549)
0,00237*
Int + +
(0,00133995)
0,00113**
PISA + +
(0,000452055)
0,000003**
PC + +
(0,000001)
0,00891*
Long + +
(0,00522298)
0,00775NS
PD + +
(0,00687386)
−0,000501NS
Desig - -
(0,00184071)
n = 60 R² = 0.84
Fonte: Elaboração própria. Obs.: ***, **, * e NS indicam significância a 1%, 5%, 10% e
não significante, respectivamente.
significa dizer que a cada unidade percentual a mais desta variável (uma vez que é dada em
porcentagem populacional com acesso à Internet, de acordo com os dados originais), pode
Economicamente faz sentido que quanto mais acesso tem a população à Internet, mais
cada ponto a mais que um país tem como média no teste PISA, é verificado um incremento
0,000003. Isto significa que a cada dólar a mais na renda per capita, é verificado um
magnitude, ainda que pareça baixo à primeira vista, tem significância econômica. Um país
cuja renda estaria em 1000 dólares, teria um impacto de 0,3% na taxa do índice de
inovação, por exemplo. Este valor, dependendo do ponto de vista (em taxas cumulativas,
significa dizer que a cada ano a mais que um indivíduo vive, pode haver um incremento a
(Desig) não foram estatisticamente significantes nem a 15%. Embora seus sinais
processo de criar inovação. Isso é revelador, e pode estar apontando que variáveis inerentes
às capacidades humanas talvez sejam mais efetivas que investimentos diretos em inovação.
Ao se realizar o teste de F omissão de variável para estas duas variáveis, obteve-se p-valor
de 0,530168, indicando que não se rejeita, estatisticamente, que seus coeficientes sejam
pode-se constatar que a hipótese de pesquisa é confirmada, em sua maior parte, pois, os
coeficientes dos parâmetros no que se refere à qualidade de vida têm relações significantes
e positivas no processo de criar inovação, sob a utilização de proxies. Exceção é vista com
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
significância estatística aos parâmetros de longevidade, PISA, renda per capita, Internet e
Isto entra em conformidade com a análise histórica de Freeman no qual relata que o
sucesso dos sistemas nacionais de inovação não está relacionado apenas aos montantes
parâmetro, o que implica dizer que talvez essa questão não impacta diretamente na criação
direcionar recursos financeiros para pesquisas e desenvolvimento. Este achado pode causar
isso.
Para finalizar, é necessário ratificar que ao se ter um indivíduo bem instruído, com
inovação. É um desperdício que pessoas com grande potencial possam estar direcionando
seus esforços e energias para as necessidades básicas, para melhorar a vida, evitar a fome,
não apenas a sua própria vida, mas também a da sociedade, inclusive economicamente.
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(nitaborai@iesp.uerj.br)
Resumo
família e por sua capacidade de ganhos econômicos, duas dimensões que passaram por
originais das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios de 1976, 1986, 1996, 2006 e
sinergias entre dinâmicas nas relações familiares e de gênero que afetam a capacidade das
famílias de gerar renda e o número de pessoas com quem dividi-la, bem como impasses
como o desafio de avançar na estrutura de cuidados para permitir ampliar o trabalho feminino
Seja através dos estudos de economistas feministas (FERBER; NELSON, 2004), seja
estudos demonstram que o gênero importa para a economia, em aspectos os mais diversos
destaca que a interface entre economia, gênero e famílias permite visibilizar sinergias e
da distribuição de renda.
macroprocessos delas resultantes, estabelecendo pontes analíticas entre o que se passa nas
patrimonial” feita por Boushey (2017), que levanta importantes questões sobre as dinâmicas
das desigualdades sociais (de classe, raça e gênero) e a herança social. Ela lembra que visões
produtivas. Segundo Boushey, Piketty teria avançado ao mostrar que maior igualdade
ameaçados num contexto em que cresce a riqueza herdada (ao invés da renda do trabalho, o
que o leva ao termo “capitalismo patrimonial” para sugerir um retorno a antes do século
XX). Todavia, segundo a autora, são negligenciadas, por Piketty, as formas como o
de que mais frequentemente é o filho que herde os negócios das famílias ou receba maiores
na renda familiar; impactos dos tipos de arranjos familiares e da homogamia para o nível de
transferência de riqueza não apenas de forma direta mas também pela obtenção do “emprego
certo”).1
mulher, o papel da produção doméstica, tentado abrir a caixa preta das famílias, pressupostas
vida privada). Passadas mais de duas décadas desde a crítica de Marilyn Waring (If women
counted, lançado em 1988) ao viés de gênero nas contas públicas (SAUNDERS; DALZIEL,
2017), tornou-se mais reconhecida, ainda que não rotinizada, a contabilização do tempo de
entanto, importa não apenas visibilizar a contribuição dos trabalhos doméstico e de cuidados
para o PIB, mas também seu impacto e inter-relação com outros eventos econômicos,
inclusive o trabalho feminino. Muitos estudos investigaram a “child penalty” para as mães,
1
Boushey também destaca, com dados para os EUA, que os homens seguem muito mais presentes que as
mulheres nos postos de poder político e econômico, além de que as mulheres ricas o são por herança em
proporção maior do que os homens, dentre os quais é mais frequente o self-made man (se comparado à
proporção de self-made woman).
2
Calculando o valor do trabalho doméstico a partir do valor que seria pago caso este fosse contratado no
mercado, Melo, Considera e Sabbato chegam a seguinte conta: “[...] conclui-se que essas atividades valem
cerca de 11,2% do PIB brasileiro e que corresponderam no ano de 2006 a R$ 260,2 bilhões. Ou seja, o PIB
nacional aumentaria nesse valor caso a sociedade contabilizasse essas tarefas ligadas à reprodução da vida.
Além do mais, 82% desse trabalho ou, pelo ângulo monetário, daquele valor, cerca de R$ 213 bilhões foram
gerados pelas mulheres. É preciso esclarecer que chegou-se a esse montante por que a economia brasileira paga
baixíssimos salários, e o serviço doméstico remunerado é uma das atividades econômicas de piores salários na
economia, o que vai refletir-se nessa medição” (2007, p. 451-452).
calculada como a renda de trabalho que a mulher receberia se não escolhesse a maternidade.
problema das famílias pobres e passou a afetar as rotinas das camadas médias e superiores,
e entre famílias.
Metodologia
população, visto ser a maior instituição que não é de mercado na qual a renda é gerada em
pobreza usualmente consideram a renda das famílias ainda que existam outras dimensões
população economicamente ativa (PEA); mas, quando o que está em jogo é o nível de bem-
estar desfrutado pelas pessoas, a medida usual é domiciliar, uma vez que as famílias ou
3
Para uma análise da crise de cuidados no Brasil, ver Soares (2016).
4
Mais uma vez tem-se diversos fenômenos inter-relacionados, como a redução no tamanho das famílias,
mobilidade geográfica e altas taxas de emprego feminino, os quais favoreceram a redução das reservas de
cuidado representadas por esposas, mães e filhas, com base na “obrigações de status”, ou seja, atribuições de
gênero tradicionalmente relacionadas a tais papéis. Por outro lado, o exercício de cuidado pago segue
racializado, feminizado e desvalorizado, enquanto os arranjos públicos e gratuitos são negligenciados ou
insuficientes (GLENN, 2010).
grupos domésticos reúnem e distribuem recursos entre seus membros, o que permite a
observadas quando o que se considera é a renda pessoal ou a familiar, como ilustra a análise
de Hoffmann sobre o período 1979-1986, para o qual observa que a desigualdade entre
aumenta, indicando que esta diferença de mensuração reflete “mudanças na composição das
p. 41).
de renda, o que se passa dentro das famílias nem sempre é considerado. Embora a teoria
que opera a distribuição de renda nas famílias, a distribuição desigual de recursos nas
famílias vem sendo analisada pelos estudos de gênero e por outros autores, como Sen (1990).
políticas públicas, como as transferências de renda propugnadas pelo Banco Mundial (o que
inclui o Bolsa Família no Brasil), que priorizam as beneficiárias mulheres, e sobretudo mães,
têm implicações para outras esferas das desigualdades de gênero, como as relações de
5
Razão pela qual é reconhecido o impacto das transferências estatais para o empoderamento das mulheres.
exercida pelos maridos, é uma contribuição que pode ser levada consigo ao sair do
mudanças nos arranjos familiares afetam de variadas formas as desigualdades sociais, basta
dizer que a renda familiar per capita (rfpc) é diretamente proporcional ao número de ativos
oferecendo, por um lado, revisão bibliográfica das evidências encontradas sobre as relações
entre mudanças nas famílias, no lugar da mulher nelas e seu impacto nas desigualdades de
renda, e, por outro lado, resultados de análise de dados em curso. São analisados dados
desigualdade; e dados originais das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD
– IBGE) dos anos 1976, 1986, 1996, 2006 e 2012, para investigar variações por classe nas
considera a posição mais alta entre os cônjuges. Empregou-se agregação das categorias
6
O esquema ocupacional resultante é composto pelas classes descritas a seguir, doravante denominadas nos
gráficos apenas por seu número por razões de economia de espaço. Classe 1 - Trabalhadores rurais, Classe 2 -
Trabalhadores na indústria tradicional, nos serviços pessoais e domésticos, Classe 3 - Trabalhadores nos
serviços gerais e vendedores ambulantes, Classe 4 - Trabalhadores na indústria moderna, Classe 5 -
Empresários por conta-própria, Classe 6 - Ocupações não-manuais, técnicas, artísticas, de rotina e supervisão,
Espera-se, assim, problematizar limites e possibilidades nas análises de distribuição
de renda a partir da agenda de temas que emergem das mudanças nas relações de gênero, os
quais vem sendo exploradas na literatura internacional mas necessitam maiores estudos no
Brasil.
Resultados e Discussão
como as transformações nas relações familiares e de gênero contribuem para a dinâmica das
Já é bastante documentado que, desde os anos 1990 e mais intensamente nos anos
2000, observa-se redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil. Por outro lado,
captados pelo Índice de Theil desde os anos 1990 e visíveis pelo Coeficiente de Gini apenas
nos anos 2000. Esta variação na mensuração deve-se às próprias características dos índices,
visto que o Gini capta melhor mudanças no meio da distribuição e o Theil mais mudanças
nos extremos.
1976
1979
1983
1986
1989
1993
1997
2001
2004
2007
2011
2014
Proporção de domicílios extremamente
pobres
Proporção de domicílios pobres Coeficiente de Gini Índice de Theil
Fonte: Elaboração própria a partir de dados processados Ipeadata com base nas Pesquisas
Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE).
apropriada pelos cinco percentis mais baixos (50% mais pobre) e redução da desigualdade
entre extremos da distribuição. Não obstante, como se observa pelo gráfico 2,a parcela
apropriada por cada segmento segue muito desigual. Se tomarmos a velha metáfora da fatia
do bolo, o que se observa é que cabia aos 10% mais ricos metade do bolo, enquanto aos 10%
mais pobres farelos da ordem de menos de 5%. Esta distribuição é menos desigual em 2014,
visto que os mais ricos passaram a reter 40,89% da renda enquanto os mais pobres 1,16%
7
Nesta sequência de dados, o ano de 1986 representa uma inflexão na renda devido ao Plano Cruzado e o
congelamento dos preços. Dados não disponíveis para 1980, 1991, 2000 e 2010 (anos de censos, quando não
há Pnads) e 1994, ano em que excepcionalmente não foi realizada a Pnad.
Segundo nota do Ipeadata, a linha de extrema pobreza aqui considerada é uma estimativa do valor de uma cesta
de alimentos com o mínimo de calorias necessárias para suprir adequadamente uma pessoa, com base em
recomendações da FAO e da OMS. São estimados diferentes valores para 24 regiões do país. A linha de pobreza
é o dobro da linha de extrema pobreza. Já o Coeficiente de Gini e Índice de Theil medem o grau de desigualdade
na distribuição da renda domiciliar per capita entre os indivíduos. Seu valor pode variar teoricamente desde 0,
quando não há desigualdade (as rendas de todos os indivíduos têm o mesmo valor), até 1, quando a
desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros
indivíduos é nula).
(em 1976, os percentuais eram respectivamente 51,04 e 0,85). Considerando as rendas
médias de cada percentil, observa-se que desde a década de 2000 ocorreu melhora da renda
ao longo de todos os percentis, mas a renda do percentil mais rico cresce proporcionalmente
percentil mais alto recebia uma renda domiciliar per capita média de R$4.711,91 e o mais
baixo de apenas R$133,12, mas nota-se um grau de variação menor entre os nove percentis,
Gráfico 2 – Valor médio e participação na renda domiciliar per capita por décimo da
população, Brasil, 1976 a 20148
5.000,00 100%
4.500,00 90%
4.000,00 80%
3.500,00 70%
3.000,00 60%
2.500,00 50%
2.000,00 40%
1.500,00 30%
1.000,00 20%
500,00 10%
0,00 0%
1976
1979
1983
1986
1989
1993
1997
2001
2004
2007
2011
2014
1976
1979
1983
1986
1989
1993
1997
2001
2004
2007
2011
2014
10º 9º 8º 7º 6º 1º 2º 3º 4º 5º
5º 4º 3º 2º 1º 6º 7º 8º 9º 10º
Fonte: Elaboração própria a partir de dados processados pelo Ipeadata com base nas PNADs.
8
Segundo nota do Ipeadata, considerou-se a média da renda domiciliar per capita mensal dos indivíduos
pertencentes ao décimo da população, ordenada com renda crescente e dividida em dez grupos com o mesmo
número de pessoas. O 1º décimo corresponde aos 10% mais pobres da população. Considerou-se também a
proporção da renda total do país apropriada por cada percentil (o 10% são os 10% mais ricos) da distribuição
segundo a renda domiciliar per capita. A série foi calculada com valores reais aos preços vigentes na realização
da última edição da pesquisa (2014), atualizados conforme o deflator para rendimentos da Pnad apresentado
pelo Ipeadata.
real do salário mínimo reflete não apenas a dimensão da política salarial, mas também o
impacto do controle da inflação, que penaliza os mais pobres, na medida em que possui o
parte das análises enfatizam aspectos econômicos, quando se retoma o significado da renda
familiar per capita é preciso considerar outras transformações importantes que afetam a
de renda expressam também transformações nas relações familiares e de gênero que afetam
Brasil desde os anos 1970 refletindo novas dinâmicas nas relações familiares e de gênero e
duração, de 1950 a 2015 para o Brasil e a América Latina com dados do Cepalstat, nota-se
que nos anos 1970 fica evidente o processo de queda da fecundidade que afetará
quem dividi-la favorecem o quadro macro de redução das desigualdades sociais. Ademais,
Gráfico 3 - Taxa de atividade9 feminina (Brasil, 1976 a 2007) e taxa de fecundidade (Brasil
e América Latina, 1950 a 2015)
7,00
6,00
5,00
50,352,4
4,00
taxa de atividade feminina
48,147,247,5
filhos
39,239,6 3,00
35,636,9
32,9 2,00
28,8
1,00
0,00
1950_1955
1955_1960
1960_1965
1965_1970
1970_1975
1975_1980
1980_1985
1985_1990
1990_1995
1995_2000
2000_2005
2005_2010
2010_2015
Brasil América Latina
Fonte: Fundação Carlos Chagas. Série “Mulheres no mercado de trabalho: grandes números”
(disponível em: https://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie1.php?area=series) e Cepalstat.
mas ainda recebem pouca atenção no Brasil. Um aspecto que vem sendo destacado é que a
9
Definida pelo IBGE como a percentagem das pessoas economicamente ativas em relação às pessoas de 10 ou
mais anos de idade. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/conceitos.shtm>. É
preciso observar que em 1992 houve mudança na metodologia de mensuração da população economicamente
ativa, que passou a incluir produção para o consumo e construção próprios. Para mais detalhes, ver notas
metodológicas da FCC, disponível em: <https://www.fcc.org.br/bdmulheres/notas.php?area=notas>.
a desigualdade entre quem tem acesso e quem não tem às políticas de cuidado e a licenças
parentais remuneradas (um problema especialmente destacado nos EUA - WARNER, 2015),
evidenciando que o crescimento das desigualdades no mundo varia conforme fatores sociais,
econômicos e políticos dos diferentes países, sendo que em alguns casos, como a Suécia, o
crescimento do trabalho feminino apoia-se em políticas mais generosas que permitem uma
familiar. Hoffmann (1989) havia identificado entre 1979 e 1985 uma nítida tendência de
muito baixas”. Neste contexto houve maior polarização e mais desigualdade de renda entre
desigualdades nas décadas de 1990 e 2000 e constatam “uma correlação positiva e crescente
trabalho das esposas” (p. 3). Destacam que importa considerar como o trabalho feminino se
difunde entre os estratos sociais, pois “se o aumento da participação ocorresse apenas para
mulheres com rendas mais altas haveria uma tendência de aumento da desigualdade, mas se
ocorresse para mulheres com rendas medias ou baixas haveria uma tendência de diminuição
renda familiar depende dos diferenciais de salários por gênero (de quão baixos são os salários
das mulheres comparados aos dos homens), do percentual de mulheres que participa do
mercado de trabalho e do seu perfil, bem como do grau de associação entre os rendimentos
das mulheres e as outras fontes de renda dos domicílios (o trabalho dos homens, as
sentido, alertam que as diferenças entre trabalho feminino e masculino estão diminuindo,
mas as causas não são apenas melhorias na condição feminina, mas também pioras na
que agora não somente pela capacidade das mulheres de entrarem no mercado reservado aos
homens, mas também pela redução deste último e pela participação conjunta de homens e
mulheres nos empregos precários que hoje o mercado de trabalho oferece a ambos os sexos”
(p. 37). Os autores investigaram o percentual de domicílios que contam com renda do
domiciliar. Ambas as medidas tendem a aumentar com a renda familiar, mas reduzem seus
valores nos dois estratos mais altos. Parte da explicação é (ainda que a renda do trabalho seja
a principal fonte da população) o maior peso nos estratos mais altos de outras rendas (além
do trabalho) no domicílio. Por outro lado, “nos estratos inferiores os rendimentos das
mulheres correspondem a uma parcela maior dos rendimentos dos homens, conseqüência
dos baixos salários dos homens nesses estratos de renda. As maiores diferenças de
rendimentos do trabalho são verificadas nos domicílios dos estratos superiores de renda,
reflexo da elevada renda dos homens desses domicílios.” (HOFFMANN; LEONE, 2004, p.
46).
Empregando uma medida de classe familiar, foi possível observar que o crescimento
do trabalho feminino, e em especial das mulheres unidas, nas últimas décadas ocorreu em
todos os estratos sociais (gráfico 4). Não obstante, se antes de 1976 o engajamento feminino
no mercado de trabalho era mais comum nos dois extremos (aproximando-se sua
a uma reta cuja inclinação indica que o trabalho feminino é tanto maior quanto mais alta a
posição de classe). Deve-se, então, indagar o quanto este perfil de engajamento feminino no
famílias no Brasil.
Gráfico 4 - Percentual de mulheres unidas de 15 a 54 anos que trabalha por classe social,
Brasil, 1976, 1986, 1996, 2006 e 2012
100%
80%
60%
40%
20%
0%
Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4 Classe 5 Classe 6 Classe 7 Classe 8
Fonte: Elaboração própria, a partir de dados das PNADs de 1976, 1986, 1996, 2006 e 2012.
fortemente (mais de 70%) os casais em que as esposas não tinham renda, em 2012
predominam (entre 30 e 40% do total) aqueles em que a mulher tem até 40% da renda do
casal e crescem também os casais em que as mulheres detém entre 40 e 60% da renda do
casal (entre 20 e 30% dos casais). Os maiores percentuais de mulheres que detém a maior
parte da renda do casal (60% ou mais) são encontrados nos extremos, nas classes 1 e 8, onde
no orçamento familiar, ainda é pouco estudado não apenas as desigualdades entre mulheres,
mas também como esta dinâmica interage com outras transformações em curso, como a
contribuição da renda das mães para adiar a entrada de filhos no mercado de trabalho.
como a oferta de trabalho nas famílias pode ser usada para reequilibrar o orçamento
1983). Inversamente, pode-se pensar como o aumento na renda dos provedores adultos pode
ajudar a prolongar a escolarização das crianças, bem como ter recursos para melhor investir
nelas.
baixas) importante para reduzir desigualdades entre famílias no futuro. A saída da escola
precoce e a entrada no mercado de trabalho dos filhos possuem efeitos imediatos e futuros
no orçamento familiar. Se no contexto imediato a renda dos filhos pode ajudar a completar
o orçamento familiar, no médio e longo prazo sacrifica suas possibilidades de escolarizar-se
vista de sua contribuição para a renda familiar, mas também de seu impacto na razão de
dependência. Logo, é preciso considerar dinâmicas demográficas das famílias, como a taxa
2006, ainda que persistam diferenciais no número de filhos, que oscilam entre 2,8 filhos
(classe 1) e 1,1 (classe 8) em 2012 (os diferenciais eram de 6,6 a 2,5 filhos em 1976).
Gráfico 6 - Taxa de fecundidade por classe social, Brasil, 1976, 1986, 1996, 2006 e 2012
7 Classe 1
6 Classe 2
5 Classe 3
4 Classe 4
3 Classe 5
Classe 6
2
Classe 7
1
1976 1986 1996 2006 2012 Classe 8
Fonte: Elaboração própria, empregando a técnica de Brass, a partir de dados das PNADs de
1976, 1986, 1996, 2006 e 2012.
trabalho das mulheres. Ademais, do ponto de vista das desigualdades de classe, como
filhos dos estratos mais altos contarão com superinvestimentos capazes de maximizar suas
em 2012 se comparadas a 1976 (gráfico 7), estas seguem tendo um maior percentual de
crianças e idosos sob seu cuidado. Se os idosos em grande medida dispõe de renda de
escola, escola em tempo integral etc.) – tende a aumentar as desigualdades sociais não apenas
entre os adultos na PEA, pois gera-se uma competição desigual no mercado para os que têm
entre famílias, diante da tendência de melhores soluções de cuidado para os mais ricos (que
podem pagar por serviços de cuidado e assim ampliar seu leque de alternativas) e piores para
os mais pobres, afetando também a escolarização das crianças e suas oportunidades futuras.
famílias com maior inclinação à pobreza terem maior probabilidade de estar na PEA, esse
10
A razão de dependência é definida pelo peso da população considerada inativa (0 a 14 anos e 65 anos e mais
de idade) sobre a população potencialmente ativa (15 a 64 anos de idade).
efeito é anulado, e até revertido, se elas possuírem filhos pequenos” (p. 607), demonstrando
ainda mais porque a inserção feminina na PEA é mais difícil justamente entre as mais pobres.
Conclusões
homens somam-se cada vez mais também as desigualdades entre as mulheres. Se no passado
casamento entre pessoas com escolaridade e renda semelhantes), tornam-se mais complexas
envelhecimento da estrutura populacional, com menos crianças mas mais idosos e doentes
para cuidar) e no acesso a serviços de cuidado de dependentes é outra dimensão que afeta a
renda das famílias, de forma direta e indireta11. Outra fonte usual de desigualdade de renda
entre famílias diz respeito à diversificação dos arranjos familiares, emergindo arranjos
bastante díspares em suas possibilidades de obter e redistribuir renda, tais como os casais
11
Diante de tais variadas desigualdades, cresce hoje a convicção de que os custos com as crianças devem ser
vistos como investimentos, opinião presente em autores com perspectivas bem distintas como Esping-
Andersen e James Heckman, como aponta Thevenon (2009, p. 18). Os filhos possuem custos diretos estimados
em termos das despesas médias com alimentação, vestimento, alojamento, educação etc. Dentre os custos
indiretos, estão as perdas salariais da mãe devido à interrupção ou redução da atividade, com as consequentes
perdas de aquisição de capital humano relacionadas à experiência de trabalho, além do déficit de políticas de
conciliação.
estas últimas tradicionalmente apontadas como experimentando déficit de renda, devido a
várias causas cumulativas (apenas um provedor, em geral mulheres as quais ganham menos
Todas estas questões mostram o quanto o que se passa nas relações de gênero e
gênero e gerações, bem como fluxos de renda e serviços domésticos e de cuidado entre
homens e mulheres, crianças, adultos e idosos, deve-se enfatizar que a divisão dos trabalhos
(no mercado, doméstico e de cuidado) ocorre no nível micro das famílias (a partir da divisão
pelo Estado. Leis que regulam herança, licenças parentais, transferências de renda para
crianças ou idosos via políticas públicas são todas formas de definir relações de gênero e
geracionais do macro ao micro. Assim, outra dimensão (que gera desigualdades entre
famílias, gêneros e gerações), ainda pouco contabilizada, diz respeito ao impacto das
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PARTICIPAÇÃO DA MÃE NO MERCADO DE TRABALHO E O DIFERENCIAL
RESUMO
Atualmente, o número de crianças que crescem em famílias em que as mães são ativas no
mudança demográfica envolve alterações quanto ao tempo e cuidado materno dedicado aos
filhos, podendo afetar suas vidas atuais e prospecções futuras. Por isso, o objetivo desta
pesquisa é contribuir para o debate acerca dos efeitos relacionados à participação da mãe
resultados são estimados por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e a fim de isolar os
efeitos causais entre a decisão pelo mercado de trabalho das mães e a escolaridade dos
filhos, as estimações são obtidas por meio de variáveis instrumentais, nas quais as
resultados, destaca-se que o aumento das horas trabalhadas da mãe reduz a educação deles.
entre gêneros.
ABSTRACT
Currently, the number of children raised by working mothers is significantly higher than in
previous generations. This demographic change involves shifts regarding to duration and
type of childcare, which may affect children’s lives. Because of this, the objective of this
research is to contribute to the debate about the effects regarding mother’s labor force
participation and the schooling of their children, measured by hours worked.The results is
estimated by Ordinary Least Squares (OLS) and in order to isolate the causal effect
between the decision by the mothers' labor force and the schooling of their children, the
estimates are also performed using instrumental variables, in which local labor market
conditions are used as instruments. Among the results, it is noteworthy that the fact that the
mother’s worked hours decreases the children’s education. Regarding the educational
gender gap, mother’s workis not responsible for introducing educational differentials
1INTRODUÇÃO
A questão sobre igualdade de gênero na educação faz parte das seis metas para
melhorar os sistemas educacionais no mundo, assinadas por 164 países no ano 2000 no
Global UNESCO (2015), o progresso foi mais expressivo no ensino médio, nível em que
68% dos países conseguiram alcançar a paridade de gênero até 2015. Já no ensino
fundamental, apenas 48% dos países tiveram sucesso até esse mesmo ano. A diferença
probabilidade das meninas nunca se matricularem em relação aos meninos, 48% contra
37%. Porém, quando matriculadas, elas apresentaram maiores chances de concluírem sua
educação, pois apresentaram menor probabilidade de abandonar a escola (20% contra 26%
para os homens).
1
Segundo o Relatório de Monitoramento Global UNESCO (2015), esse é o objetivo 5 do Compromisso de
Educação para Todos (EPT): Paridade e igualdade de gênero, cuja meta é eliminar da educação primária e
secundária as diferenças de gênero até 2005 e chegar a igualdade educacional entre os sexos, em todos os
níveis educacionais, até 2015. O principal objetivo é garantir o acesso completo e equitativo das mulheres a
uma educação básica de qualidade.
No Brasil, não há paridade entre os sexos, e sim uma reversão do hiato em favor
das mulheres, ou seja, as mulheres possuem em média mais anos de estudo do que os
homens. Segundo o trabalho feito por Beltrão e Alves (2009), analisando os dados
desagregados por coorte de idade, percebe-se que a reversão do gap educacional por
gênero ocorreu primeiramente entre as pessoas com idades entre 10 a 14 anos, na década
Em uma análise para os anos mais recentes, observa-se na Figura 1 que as mulheres
continuam estudando mais que os homens. As médias de escolaridade vêm crescendo para
ambos os sexos, mas em todos os anos de análise as mulheres têm médias maiores que os
Figura 1– Média de anos de estudo da população brasileira por sexo e para os anos
de 2011 a 2014.
6,96
6,74 6,83
6,53 6,43
6,23 6,31
6,03
Fonte: Elaboração própria a partir de dados das PNADs de 2011 a 2014 (IBGE).
Uma das implicações da elevação da escolaridade das mulheres diz respeito à sua
representados Figura 2 que entre os anos de 2004 e 2014, houve um aumento de 7,169
segundo Souza e Rios-Neto (2008) nos grupos com idades entre 21 e 35 anos e com no
mínimo dois filhos, a taxa de participação laboral passou de11,3% no ano de 1970 para
39,81% em 2000. Além disso, 30% da população feminina empregada em 2006 era
representada por mulheres chefes do domicílio e, entre elas, 50,6% não eram casadas e
44.000
39.000
34.000
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010* 2011 2012 2013 2014
Fonte: Elaboração própria a partir de dados das PNADs de 2004 a 2014 (IBGE).
Obs.: *Nesse ano a PNAD não foi realizada, de modo que se utiliza uma média dos anos imediatamente
adjacentes.
Como resultado, tem-se observado uma redução no tempo da mãe em casa com os filhos, o
que pode levar a diferentes implicações sobre os domicílios. Verificar o impacto dessas
tendências é de suma importância dado que poderiam indicar efeitos benéficos do trabalho
das mães sobre seus filhos (tanto por meio da elevação da renda quanto do empoderamento
demográficas dentro do domicílio, que podem ser resultado dessa maior participação das
mulheres no mercado de trabalho. Um exemplo disso é o estudo deRuhm (2008) para os
Estado Unidos, que busca, por meio de três perspectivas, identificar o efeito de a mãe
semanais das mães se associam a uma redução das notas dos filhos e de problemas
alcoólicas.
Na literatura nacional, Vieira et al. (2015) analisa a relação entre a renda e a oferta
de trabalho dos pais nas decisões entre trabalho e estudo dos adolescentes. Esses autores
pais estão trabalhando tendem a dividir o seu tempo não somente com os estudos, mas com
outras atividades, como cuidar dos irmãos e da casa. A renda de ambos os pais apenas
Um dos meios utilizados por Aquino e Pazello (2011) para verificar o papel da
família sobre o desempenho escolar das crianças brasileiras foi a análise entre o trabalho
materno e a probabilidade de aprovação dos seus filhos. Foram utilizados dois períodos
diferentes, de 1986 a 1995 e de 2002 a 2006. Para ambos os períodos, o impacto da entrada
da mãe no mercado de trabalho na aprovação dos filhos, caso ela não tivesse entrado, foi
negativo. Para a amostra mais antiga esse impacto é menor do que para as gerações mais
Além disso, autores como González de San Román e de la Rica Goiricelaya (2012)
e Fan et al.(2015) identificaram que filhos de sexos diferentes com mães ativas no mercado
de trabalho, tendem a ter diferenças educacionais, sendo o fato em média mais benéfico
para as mulheres do que para os homens. Entretanto, outros autores divergem de opinião e
consideram que não há diferença entre os sexos (BAUM, 2004 e HAN et al.,2001).
oferta de trabalho das mães se relaciona com o diferencial no nível de escolaridade dos
adolescentes de sexo diferentes, o que será analisado pelos anos de estudos. Este trabalho,
além de contribuir para o debate existente nos estudos que investigam a relação entre a
vida laboral das mulheres e a educação dos filhos, poderá cooperar para formulação de
políticas públicas. Como exemplo dessas políticas, pode-se citar: políticas de licença
familiar, de igualdade entre os sexos, entre outras que possam promover o empoderamento
da mulher.
altamente associados, visto que o desenvolvimento pode sozinho levar a igualdade entre os
desenvolvimento de uma nação. Sendo assim, além das medidas anteriores, esse trabalho
seguinte equação:
𝑉𝑖′ 𝛽 + 𝑒𝑖 , i=1,n
ondee 𝑦𝑖 indica a média de anos de estudo do adolescente i, sendo que cada série concluída
ℎ𝑡𝑟𝑎𝑏𝑚ã𝑒𝑖 , refere-se às horas trabalhadas por semana pela mãe, variando de 0 a 98 horas.
nascimento do filho, estado civil da mãe, tamanho da família, renda familiar mensal e
dummies para as macrorregiões do Brasil. Além disso, tem-se a variável 𝑠𝑒𝑥𝑜𝑓𝑖𝑙ℎ𝑜𝑖 uma
dummy que recebe valor de um se o filho i é do sexo masculino, e zero caso contrário.
para o estudo está altamente relacionado com a idade da criança, e, com isso, a demanda
por estudo também está relacionada com a idade. Sendo assim, é necessário eliminar o fato
de que crianças com idades diferentes naturalmente terão anos de estudos diferentes, por
ainda não terem concluído o ensino básico, controlando por dummies para cada idade dos
adolescentes, que estão incluídas no vetor de variáveis 𝑉𝑖 . Por fim, 𝑒𝑖 é a variável referente
ao termo do erro.
Assim como realizado por Fan et al. (2015), Baum (2004) e Blau e Grossberg
(1990), neste trabalho, o efeito do trabalho da mãe sobre a escolaridade dos filhos de
diferentes sexos é captado pela interação entre horas trabalhadas da mãe e sexo do
filho (ℎ𝑡𝑟𝑎𝑏𝑚ã𝑒𝑖 ∗ 𝑠𝑒𝑥𝑜𝑓𝑖𝑙ℎ𝑜𝑖 ), como descrito na equação (1)2. Nesse caso, o efeito
marginal da mãe trabalhar sobre os anos de estudo dos meninos em relação às meninas é
dado pelo coeficiente 𝛼3. Caso ele seja negativo e estatisticamente significativo, então o
aumento de uma hora de trabalho da mãe é mais prejudicial (ou menos benéfico) para os
sexos.
anos de estudo dos adolescentes de diferentes sexos, é a correlação entre a variável que
viés é difícil de ser observada a priori, possivelmenteocorrerá de duas formas: para as mães
com produtividade alta em casa, principalmente em relação aos filhos, o viés será para
baixo, mas para as mães que são altamente capacitadas para o mercado de trabalham e que
ganham bem, esse viés terá direção contrária. Como os erros da estimação por variável
2
As variáveis de controle: estado civil da mãe, renda familiar e anos de estudo dos pais também estão
interagidas com a dummy de sexo do filho, buscando controlar as diferenças que essas variáveis estabelecem
entre os filhos de diferentes sexos.
3
Dessa forma, 𝜍 é o efeito marginal de a mãe trabalhar sobre a média de anos de estudo das meninas e 𝜍 + 𝛼
é o efeito marginal sobre os meninos.
O instrumento empregado é o mesmo utilizado por Anderson et al. (2003), Baum
quatorze potenciais instrumentos propostos por Baum (2003) para a variável endógena
endógenas são usadas também na regressão em interações com a variável dummy de sexo
interagidos com essa dummy. Para Hoynes (2000), essas condições são determinantes
Amostra de Domicílios (PNAD) do ano de 2014, agregados por estados brasileiros, através
decisão dos membros da família por trabalhar (inclusive das mulheres), é relacionada às
de trabalho local são importantes para explicar a oferta de trabalho tanto das mulheres
quanto das mães. De forma que, quanto menor a taxa de desemprego localhá indícios que
nesse local há uma maior facilidade de absorção da mão de obra.Em relação à população
ocupada no setor de serviços, segundo Bruschini e Lombardi (1996), é nesse setor que as
mulheres têm maior facilidade de inserção. Então quanto maior a população local ocupada
4
Para provar a validade dos instrumentos, deve ser utilizado o teste de sobreidentificação de Hansen (1982).
Não há um teste formal bem estabelecido para verificar a relevância dos instrumentos, mas alguns sinais
podem ser usados para diagnosticar se o instrumento é fraco, como a magnitude do teste F do primeiro
estágio e o teste o teste Cragg-Donald Wald. Todos esses testes foram feitos.
3 FONTE E TRATAMENTO DOS DADOS
Os dados utilizados nessa pesquisa são retirados da Pesquisa Nacional por Amostra
(IBGE) para o ano de 2014. São considerados na amostra todos os estados, totalizando 26 e
o Distrito Federal. A PNAD é uma pesquisa amostral “complexa”, pois incorpora níveis de
estágios) e ajustes de pesos amostrais. Isso implica que todas as análises estatísticas e
econométricas devem incluir as variáveis amostrais, sendo essas as variáveis que definem
18 anos de idade e que moram com a mãe5. Essa restrição é importante, pois o objetivo
mercado de trabalho, afeta a educação de seus filhos, e se esse efeito é assimétrico entre os
adolescentes de sexo diferentes. Se for considerado na amostra crianças que não moram
com a mãe, estas já estarão ausentes independente de estar trabalhando ou não, o que
poderia comprometer os resultados. Além disso, a amostra limitou-se às mães que tinham
entre 15 e 49 anos de idade quando tiveram seu primeiro filho, pois esse é o período de
idade fértil da mulher. No total, a amostra é formada por 31.747 adolescentes, sendo
Essa base de dados foi escolhida por conter informações relevantes acerca da
educação dos adolescentes, assim como características deles e dos seus familiares que
podem estar afetando a sua média de anos de estudo e o diferencial dessa média entre os
sexos. O ano de 2014 foi escolhido por ser, a época, o último ano com dados disponíveis.
5
São consideradas todas as mães na amostra, podendo ter somente um filho ou mais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nessa subseção analisa-se o efeito da intensidade trabalhada pela mãe, por meio das
horas trabalhadas por semana, em relação aos anos de estudo dos filhos e o diferencial
pessoas por estado empregadas no setor de serviços e suas interações com a variável
binária para sexo do filho. Tanto pelo teste F8 calculado, quanto pelo teste de Cragg-
Donald Wald 9, pode-se concluir que os instrumentos para verificação dos efeitos de
Esse viés pode aumentar quando os instrumentos são fracos, o que é conhecido por viés da
amostra finita. Mas isso pode deixar de ser um problema caso esteja em uma amostra
suficiente ampla para tornar grande o F da forma reduzida do primeiro estágio. O aumento
6
Equação 1: Breusch-Pagan = 299,94***. Equação 2: Pagan-Hall = 76,756***. Equação 3: Breusch-Pagan
= 272,85***. Equação 4: Pagan-Hall= 788,205***. Dessa forma, nas quatro equações rejeita-se a hipótese
nula de que os erros são homocedásticos a 1%.
7
Teste de Hansen (1982) para os instrumentos: taxa de desemprego por estado, proporção de pessoas por
estado empregadas no setor de serviços e a interação dessas variáveis com a dummy de sexo. Equação 2, para
os dois primeiros instrumentos: Hansen's J chi2(1) = 0,5539 (p-valor = 0,4567). Equação 4, para todos os
instrumentos: Hansen's J chi2(2) = 3,3337 (p = 0,1888) dessa forma aceita a hipótese nula de que os
instrumentos são válidos a 10%.
8
O teste F calculado para a equação de primeiro estágio da variável horas trabalhadas da mãe é de 2,67**, ou
seja, menor que 10. Enquanto que para a equação de segundo estágio da interação entre horas trabalhadas e
sexo do filho é de 21,65***.
9
Equação 2: Cragg-Donald Wald F= 4,798e valor calculado de Stock-Yogo a 10% igual a 19,93. Equação 4:
Cragg-Donald Wald F= 2,656 e valor calculado de Stock-Yogo a 10% igual a 7,56. Dessa forma aceita a
hipótese nula de que os instrumentos são fracos na equação 2 e 4 a 10% .
desse viés é diretamente proporcional ao aumento do número de instrumentos, e, por isso,
foi utilizado o mínimo de instrumentos possíveis para que eles fossem válidos.
fortes para a interação dessa variável com a de sexo do filho, na Tabela 1, foi estimada a
equação por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e depois por Método dos Momentos
diferença estatisticamente significativa entre os dois estimadores10. Para tal, foi usado o
teste Durbin-Wu-Hausman (DWH), que pode ser verificado na Tabela 2. Conclui-se que o
melhor modelo a ser utilizado é o de variável instrumental. Além disso, com a finalidade
de analisar os dois efeitos de a mãe trabalhar - sobre os anos de estudo dos adolescentes e
sobre o diferencial educacional de sexo - foram estimadas as duas primeiras equações sem
as variáveis interagidas com o sexo do filho e as duas últimas com essas variáveis
presentes.
Ordinários (MQO), quanto mais horas trabalhadas pela mãe maior é a educação dos filhos,
enquanto que no modelo por variável instrumental há uma redução nos anos de estudo
desses adolescentes. Essa mudança no sinal também ocorre em Fan et al. (2015), quando
10
As equações de primeiro estágio para cada uma das variáveis endógenas estão nos apêndices C, D e E.
Tabela 1- Efeito das horas trabalhadas da mãe, como medida de emprego, nos anos de
Variável Anos de estudo dos adolescentes para Anos de estudo dos adolescentes
(0,002) (0,031)
(0,170) (0,367)
(0,005) (0,018)
(0,007) (0,018)
(0,007) (0,017)
Tabela 2- Teste de endogeneidade para horas trabalhadas da mãe em relação aos anos de
horas trabalhadas pela genitora, menor é a média de anos de estudo dos seus filhos, ou seja,
a intensidade do trabalho da mãe prejudica a educação dos adolescentes. Uma hora a mais
de trabalho pela mãe reduz em média, 0,210 os anos de estudo dos filhos tudo o mais
do trabalho da mãe, fazem essa análise para os primeiros anos de vida das crianças e
Verifica-se também pela regressão 2 da Tabela 1, que a maior escolaridade dos pais
marginal da escolaridade da mãe nos anos de estudo dos adolescentes é de 0,144, enquanto
que do pai é 0,075, tudo mais constante. Além disso, o fato de os filhos serem brancos em
relação a outras raças também está associado a uma melhora na educação dos filhos, sendo
esse efeito de 0,224. Observa-se ainda que, filhos de mães solteiras têm em média 0,885
anos de estudo a mais que os filhos de pais casados, mas não foi estatisticamente
familiar, maior é a escolaridade dos filhos, o efeito marginal é de 0,077, tudo o mais
constante, o que está de acordo com os resultados encontrados por Datcher-Loury (1988).
No que concerne às regiões do Brasil, de acordo com a análise, o fato dos adolescentes
morarem nas regiões Nordeste e Norte está associado a uma menor escolaridade média e
na região Sul a uma maior quando comparado com a região Sudeste, sendo apenas não
encontrado que o aumento de uma hora trabalhada pela mãe diminui os anos de estudo das
meninas em 0,188 em média, mas o diferencial educacional entre os sexos, não foi
significativo, indicando que as horas trabalhadas da mãe não tem efeito diferente entre os
sexos dos filhos. Também não contribuem para introduzir diferenças educacionais entre os
sexos o estado civil da mãe, a renda familiar e os anos de estudo da mãe, já que esses
coeficientes também não foram significativos. Mais uma vez, o tempo de escolarização do
pai é responsável por aumentar os anos de estudo dos filhos, sendo mais favorável para os
meninos do que para as meninas. Para as meninas um ano a mais de escolaridade do pai
está associado a um aumento, em média, de 0,048 anos de estudo, enquanto que para os
meninos o aumento é de 0,085 anos em média, tudo o mais constante. Dessa forma,
quanto maior o nível educacional do pai, menor será o hiato educacional no Brasil.
Mesmo que as horas trabalhadas tenham um efeito negativo sobre a educação dos
filhos, esse efeito pode ser reduzido devido ao aumento da renda da família, proveniente do
emprego da mãe e pode influenciar de maneira distinta na educação dos filhos de sexos
diferentes, o que é conhecido como canal da renda. Para verificar se isso acontece, foram
estimadas as duas equações da Tabela 3. Não é verificado o canal da renda no modelo que
Tabela 1, a interação entre renda e sexo do adolescente não foi significativa, demonstrando
que o canal da renda não é responsável por introduzir diferenças educacionais entre os
observar a relação entre a mãe trabalhar e o efeito do aumento da renda proveniente disso
nos anos de estudo dos filhos. Verifica-se pelo modelo 2 que, a renda foi estatisticamente
significativa e seu efeito foi positivo nos anos de estudo dos adolescentes. No entanto, a
inclusão das variáveis referentes à renda da família fez com que o coeficiente das horas
trabalhadas se tornasse mais negativo (ou menos positivo), o que indica que o aumento das
horas trabalhadas tem um efeito positivo nos anos de estudo dos adolescentes pelo canal da
renda.
Tabela 3 - Canal da renda nos anos de estudo dos adolescentes - Brasil - 2014.
(0,07) (0,075)
(0,024)
R2 0,14 0,13
hora trabalhada pela mãe foi negativo de 0,2045 e controlando por essas variáveis foi de
0,21, ou seja, o aumento da renda decorrente do aumento das horas trabalhadas pela
genitora, contribui para reduzir o efeito de seu trabalho em 0,005 (Tabela 3). Esse canal da
renda também é observado por Baum (2003). O autor conclui que, para afirmar se houve
uma redução grande ou pequena nos anos de estudo devido a participação da mãe no
mercado de trabalho, irá depender de quanto foi o aumento da renda da família proveniente
dessa participação.
5 CONCLUSÕES
educacional entre os sexos. Esses efeitos foram avaliados de acordo com as horas semanais
trabalhadas da mãe.
trabalho da mãe e o termo do erro. Para tentar controlar essa endogeneidade, o modelo foi
trabalho.
Os resultados encontrados sugerem que quanto mais horas a genitora se abstém dos
cuidados dos filhos para trabalhar, mais comprometida torna-se a educação deles. Diversos
fatores podem contribuir para essa decorrência, como o possível cansaço da mãe, que pode
organização do tempo após o trabalho entre cuidados com o filho e com a casa.No que se
aumento das horas trabalhadas da mãe, não é responsável por introduzir diferenciais
educacionais entre os sexos, pois não afeta de maneira distinta os anos de estudo dos
Brasil. Outros controles poderiam ter sido usados, tais como a utilização de base de dados
que identificassem na ausência da mãe, o cuidado de outras pessoas, como irmãos,
professores e avós. No entanto, reitera-se que não foi possível estender a análise nesse
sentido devido aos dados disponíveis. Ainda que fosse possível controlar esses outros
fatores, seria difícil inferir se os outros cuidados aplicados foram de qualidade e, também,
trabalho, que ficam de sugestões para futuras pesquisas, é adicionar como controles a
resultados encontrados não indicam uma relação causal, mas sim que existem importantes
relações entre o fato da mãe trabalhar e a educação dos adolescentes. Ademais, essa não
causalidade também se deve ao fato de que, a mãe trabalhar é determinado pelas condições
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(0,002) (0,031)
(0,17) (0,367)
Rendimento fam. x
- - 0,009 0,015
Masculino
(0,005) (0,018)
(0,007) (0,018)
(0,007) (0,017)
Apêndice A, Continuação
(0,071) -0,075
(0,419) (0,501)
(0,024)
(0,026) (0,022)
(0,019) (0,015)
(0,064) (0,071)
(0,006) (0,007)
(0,071) (0,065)
Apêndice B, Continuação
(0,200) (0,2)
(0,167) (0,175)
(0,255) (0,255)
(0,099) (0,098)
(0,055) (0,056)
(2,234) (2,412)
(0,102) (0,104)
(0,102) (0,103)
(0,119) (0,122)
(0,108) (0,108)
(0,109) (0,11)
(0,132) (0,128)
R2 0,14 0,13