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Nome: Stefanny da Silva Siqueira Matrícula: 20152104241

Disciplina: Brasil IV

"Segundo ele (Marcondes), o programa semanal ('Falando aos Trabalhadores


Brasileiros') constituía uma experiência destinada a divulgar pelo processo mais
rápido e amplo as medidas governamentais em matéria de legislação social. Em
função das grandes distâncias do território nacional e das dificuldades de
comunicação, o rádio fora o meio considerado mais conveniente para a realização
desta obra de esclarecimento dos trabalhadores de norte a sul do país." (p. 230 e
231)

Mesmo após 1937, a imagem de Getúlio Vargas como liderança de um país, ainda
era questionada. Havia então uma necessidade de se criar, de forma contundente e
nacional, a imagem forte de um verdadeiro líder, e é a partir deste momento, em 1938,
que começa a ser elaborada a propaganda política desenvolvida pelo DIP. Utilizando
como canal central e que teria a maior repercussão, o rádio, na figura do ministro do
Trabalho, Marcondes, semanalmente era apresentado o programa "Falando aos
Trabalhadores Brasileiros", que tinha o objetivo de atingir não só a classe operária,
mas a todos os segmentos da sociedade, informando de forma didática as medidas
governamentais em matéria de legislação social.

"Como a história trabalhista de nosso país se dividia em dois tempos básicos – antes
e depois de 1930 –, todas as providências tomadas desde a revolução envolvendo a
resolução da questão social eram atribuídas diretamente a Vargas. Era dele que todas
as instruções emanavam, era ele o inspirador e o executor de toda a legislação
elaborada. Neste sentido, é interessante observar o lugar ocupado por Vargas e pelo
próprio Marcondes nessas mensagens radiofônicas. Vargas era sempre o sujeito da
ação: Vargas criou, determinou, estabeleceu, assinou, mandou executar ou cuidar
para que, etc. Já o ministro cumpria suas determinações, discutindo com ele todos os
projetos. Assim, nada se tinha feito ou se fazia nesta área sem o prévio e direto
conhecimento e aprovação de Vargas.
Mas há algo que vai além deste fato. Nada se fazia sem o saber de Vargas, porque
ele se adiantava aos próprios acontecimentos da realidade com sua antevisão do
curso da história." (p. 239)

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Vargas não era uma figura forte antes do Estado Novo, mesmo após ser uma das
lideranças na revolução de 30 e ocupar o lugar de chefe do governo provisório, até
mesmo após a sua eleição indireta para a presidência, não era reconhecido
nacionalmente como um grande líder.
É somente depois de instaurar o período conhecido como Estado Novo, com a criação
e a utilização massiva do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) como
instrumento de censura e propaganda, não apenas de seu governo, mas também dele
como indivíduo, que ele passa a ser conhecido como legítimo guia da nação. A
imagem de Vargas, foi então, apresentada de forma paternal e reforçada
constantemente no programa diário da rádio, na figura do Marcondes, e nas
festividades ao longo do ano, criando o mito Vargas. Mito esse que com a nova
Constituição de 1937, de inclinação fascista, retirava todos os direitos políticos,
abolindo os partidos e as organizações civis. Em 10 de novembro de 1937 fecha o
Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais,
enfraquecendo o poder Legislativo, fortalecendo, assim, o poder Executivo encarnado
na sua pessoa.
Diante de tal conjuntura nacional era necessário manter a ordem, visto que, as
medidas tomadas não teriam a aprovação popular e Vargas se antecipa a isso
outorgando diversos direitos trabalhistas.

"Já se fora o tempo em que o brasileiro sofrera o estigma de ser um mau trabalhador
[...] Em primeiro lugar, tratava-se de realçar a contribuição do trabalhador nacional,
em nítida oposição ao estrangeiro [...] Em segundo lugar, tratava-se de valorizar o
trabalho manual, o ato de 'trabalhar com as próprias mãos' como elemento
responsável pela mobilidade e ascensão social, tanto em termos econômicos, quanto
políticos. Ser trabalhador era ganhar o atributo da honestidade, que neutralizava em
termos de honra o estigma da pobreza. Pobre, mas trabalhador, isto é, um cidadão
digno dentro do novo Estado nacional." (p. 242)

Vargas adota uma política nacionalista desde cedo, com restrição de capital
estrangeiro, dando prestígio a produção, ao capital e ao trabalhador nacional em
detrimento do estrangeiro. Visando o desenvolvimento nacional e a quitação da dívida
externa, investem na mudança de perspectiva acerca do trabalhador manual, que
seria de extrema importância na conjuntura de guerra e de próprio controle da
população, consagra-o como digno do Estado Novo e do seu líder, uma pessoa digna

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não se revolta contra seu governante que é tão preocupado com seus governados e
seu governo.

"Os trabalhadores, portanto, viviam um momento político muito especial. De um lado,


eram forçados a trabalhar em condições em que não tinham vigência vários direitos
sociais já garantidos por lei, e de outro, eram conclamados a assumir um papel central
na 'batalha da produção' [...] O programa "Falando aos Trabalhadores Brasileiros"
atuou neste exato período de tempo – de 42 a 45 -[...] A eficiência desta propaganda
e controle não foi irrelevante, tendo em vista a popularidade de Vargas e de sua
imagem como 'pai dos pobres'." (p. 245)

Diante da conjuntura de guerra que o mundo se encontrava, a valorização do


trabalhador brasileiro por parte do governo era extremamente importante, visto que,
os soldados enfrentariam muitas dificuldades e a mobilização econômica era a base
da mobilização militar. Portanto, foi incentivado a chamada "batalha da produção"
onde diante da pressão dos industriais a repressão, suspensão de direitos, a
vigilância e a disciplina fizeram parte da necessidade do governo para ingressar no
conflito mundial. A propaganda do DIP atuou muito fortemente nesse período entre
42 e 45, mostrando a importância da campanha doutrinária intensiva.

"A legislação social brasileira, instrumento mediador por excelência das relações
entre governantes e governados, foi outorgada pela personalidade clarividente do
chefe do Estado ao seu povo. [...]
O presidente Vargas, por sua qualidade-chave - a clarividência - antecipava-se
voluntariamente às demandas sociais e outorgava a legislação. Este ato era o
resultado da compreensão de seu dever histórico e também das consequências
maléficas que poderia advir de seu mau entendimento. A outorga impede o uso da
força, necessária quando a conquista precisa ser empreendida. É a outorga que
remove o conflito e torna possível a construção de uma sociedade harmônica." (p.
247)

Vargas ficou conhecido como "pai dos pobres" por outorgar, sem conflitos, uma
legislação social. O que mostra seu compromisso enquanto governante da nação,
mas também seu entendimento de que chegaria a hora em que os trabalhadores
lutariam para conquistar melhores condições de trabalho e de vida, para evitar
confrontos e o uso da força, lhes é entregue inúmeros direitos trabalhistas.

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"A imagem a que se recorria nos discursos políticos do Estado Novo para a
caracterização do processo de construção da nação/Estado era a da formação de
uma grande família, em que o Presidente era o 'pai dos pobres', isto é, o pai do povo
trabalhador. Nesta posição, ao mesmo tempo poderosa e generosa, ele pedia/exigia
total obediência e mesmo sacrifícios como retribuição" (p. 251)

O governo do Estado Novo soube como levar a população sem gerar conflitos de
modo a desestabilizar a ordem e a segurança nacional. Vargas utilizou de todos os
artifícios políticos e não políticos para conseguir o que achava necessário e isso fica
mais evidente ao analisar as oscilações no modo de lidar com a população operária,
ora "doando" a legislação trabalhista, ora suspendendo diversos direitos trabalhistas
já outorgados a população, muitas vezes por pressão dos industriais. Essa oscilação
não é meramente acaso, para implementar medidas impopulares sem que ocorra
protestações é necessário ter o apoio da população, fazê-la entender que o momento
é complicado, mas que com a colaboração de todos, logo tudo voltará a normalidade
e para isso foi criado o mito Vargas, o homem que seria tanto o pai dos pobres, quanto
o guia da nação e o salvador da pátria, seria esse o homem capaz de levar o Brasil a
se desenvolver, pois era sensível as mazelas do povo. Como líder era o homem que
se antecipava ao futuro, com sua qualidade clarividente, o homem a ser seguido
incontestavelmente pela nova geração.

"Combinar uma análise cientificista moderna e sofisticada com um articulado discurso


de apelo popular não é tarefa desprezível.
Por fim, o grande 'segredo' está na lógica que articulava este discurso. Ele releu o
passado das lutas dos trabalhadores sem ao menos mencioná-lo, estruturando-se a
partir de uma ética do trabalho e da valorização da figura do trabalhador nacional. Era
a esta figura – novo modelo de cidadão que o discurso se destinava e era a ela que
os benefícios sociais eram oferecidos como uma dádiva." (p. 254)

Conseguir obter o apoio da população tendo outorgado inúmeras leis trabalhistas e


fazendo uso de toda a propaganda do DIP com os pronunciamentos na rádio, os
cartazes com seu rosto estampados em todos os lugares, as festas, etc. não é tarefa
difícil, são medidas populares que ele tomou justamente com receio de conflitos, mas
o que o governo de Vargas fez durante 1942 e 1945 retirando seus direitos sociais,
cedendo às pressões dos industriais pela conjuntura de guerra e mesmo assim

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continuar obtendo apoio dos trabalhadores (com exceção de alguns grupos que
denunciaram as más condições de trabalho) foi algo interessante e muito bem
planejado. A valorização do trabalhador gera um modelo de cidadão ético que era a
quem o discurso era destinado e recebia essa dádiva e retribuía com seu esforço e
trabalho.

GOMES, Angela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo. 3ª Edição. Rio de


Janeiro: IUPERJ, Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro; 1988.
Capítulo 6, A invenção do trabalhismo; p. 229-256

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