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ISSN: 2359-2354
Vol. 2 | Nº. 1 | Ano 2015
Resenha de:
PIKETTY, Thomas. A economia da
desigualdade. Trad. de André Telles.
Rio de Janeiro : Intrínseca, 2015.
Por João Wanderley Geraldi
RESENHA
Site/Contato
www.capoeirahumanidadeseletras.com.br
capoeira.revista@gmail.com
Editores
Marcos Carvalho Lopes
marcosclopes@unilab.edu.br
Pedro Acosta-Leyva
leyva@unilab.edu.br
João Wanderley Geraldi
RESENHA
Na análise das redistribuições possíveis, o autor vai defender que “a redistribuição fiscal é
superior à direta”, isto é, aquela que interfere diretamente no valor dos salários e aquela que
resulta da tributação. Como se sabe “nem todos os impostos pagos pelas empresas produzem os
mesmos efeitos em termos de redistribuição efetiva: para que a incidência final de uma tributação
recaia de fato sobre o capital, é necessário que seu montante dependa do nível de capital utilizado
ou de renda transferida para o capital”(p.41). Em outras palavras, como os custos tributários são
repassados para o preço dos produtos, a carga tributária acaba sendo paga pelos consumidores de
forma linear, sejam eles assalariados ou não.
Embora o livro em muitas passagens seja de digestão difícil para não economistas, as
linhas gerais do raciocínio de Piketty podem ser acompanhadas por um leitor comum. Ao fechar
o livro o leitor saberá da complexidade da macroeconomia, mas também informado de que o
foço da desigualdade jamais será ultrapassado se políticas de redistribuição efetiva da renda não
forem assumidas. Dentre estas, o autor, como vimos acima, salienta o papel da educação pública
como uma forma eficiente de distribuição mais igualitária da riqueza.
Infelizmente dados do Brasil não são analisados (alguns sequer eram disponíveis). A
recente divulgação pela Receita Federal de dados de 2012 e 2013 apresenta um quadro
estarrecedor: 71.440 brasileiros, o que corresponde a apenas 0,3% daqueles que fazem declaração
de Imposto de Renda da Pessoa Física, concentrou 14% da renda total declarada, um valor de R$
298 bilhões de rendimentos, e um patrimônio no valor de R$ 1,2 trilhão (como se sabe, o
patrimônio sempre é declarado com valores históricos e muitas vezes irrisórios relativamente ao
verdadeiro valor no mercado). Considerando que nestes quase 300 bilhões de rendas, 200 bilhões
são de lucros e dividendos (isentos da mordida do leão, que para os ricos mia e não ruge: os
lucros e dividendos são taxados apenas na pessoa jurídica, a uma taxa muito inferior àquela paga
pelos salários e são “rendimentos isentos” de imposto desde Fernando Henrique Cardoso, em lei
que passou a vigorar em 1996). Neste contexto, uma redistribuição mais efetiva teria que tributar
diretamente os ganhos de capital (isto é, os lucros e dividendos).