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PROPOSTA DE MAPEAMENTO DE FRAGILIDADE AMBIENTAL POR MEIO DE

LÓGICA FUZZY NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, SP

Lazaro Rodrigo de Marins 1, Bruno Pereira Toniolo 2, Acácio Luis Almagro Baptista 3,
Darllan Collins da Cunha e Silva 4, Antonio Cesar Germano Martins 5
1
Matemático, UNESP Sorocaba, lazarodrigo@gmail.com
2
Tecnólogo em Construção Civil, UNESP Sorocaba, bruperton.cad@gmail.com
3
Tecnólogo em Projetos Mecânicos, UNESP Sorocaba
4
Professor na UNESP Registro
5
Professor, Processamento Digital de Imagens, UNESP Sorocaba
RESUMO

Este trabalho objetivou determinar a fragilidade a processos erosivos na Bacia Hidrográfica do


rio Jundiai Mirim (BHJM) por meio de Sistema de Inferência Fuzzy (SIF). As variáveis de
declividade, pedologia e pluviosidade compuseram o Mapa de Fragilidade Potencial (MFP). O
MPF associado às variáveis de uso do solo e proximidade de Áreas de Preservação Permanente
(APPs) compuseram o Mapa de Fragilidade Emergente (MFE). Os resultados apontam a
predominância de um risco moderado para ambas fragilidades na bacia, mostrando que o
método é coerente em representar a condição ambiental da BHJM, servindo como subsídio na
elaboração de modelos de gestão.
Palavras-chave: Lógica Fuzzy, Geoprocessamento, Processamento Digital de Imagem,
Vulnerabilidade Ambiental.

1 - INTRODUÇÃO

De acordo com Sporl (2007) a fragilidade ambiental é a categorização de um território


frente a uma degradação ambiental, geralmente erosão, que desestabilize o equilíbrio dinâmico
existente no ambiente, ocorrendo dois tipos de fragilidade: potencial que considera somente os
aspectos físicos, predominando o intemperismo físico-químico como agentes de alteração
ecossistêmica; e emergente que leva em consideração a interferência antropogênica, alterando
a paisagem da terra e consumindo os recursos naturais. Além do mapeamento da fragilidade
ambiental ser essencial para o planejamento territorial, orientando o uso mais apropriado de
cada ambiente e mitigando os impactos ambientais negativos, Queiroz Júnior et al. (2015) falam
que as bacias hidrográficas são a melhor forma de se representar esta vulnerabilidade, pois
possuem alta complexidade ambiental, cujos corpos hídricos mostram a qualidade da água –
esta sensível às padrões de ocupação do solo. Embora a espacialização da fragilidade ambiental
seja feita geralmente a partir de métodos baseados em lógica booleana como a Análise
Hierárquica de Processos (AHP), segundo Samizava et al. (2008), usar a lógica Fuzzy torna as
variáveis imprecisas, localizadas no meio físico, mais próximas da realidade, uma vez que lida
de forma inexata as classes, sem a definição de limites determinados. Alguns autores
propuseram a aplicação da lógica fuzzy à determinação da fragilidade ambiental, como por

1
exemplo: DONHA et al. (2006) usando variáveis de declividade, tipos de solo, distância a partir
de nascentes, distância a partir de represa e uso do solo; e Messias & Ferreira (2017) calculou
os planos de informação (PIs) por meio do teste Kolmogorov-Smirnov no Parque Nacional da
Serra da Canastra.

Nesse sentido, o presente trabalho teve por objetivo fazer o mapeamento das áreas com
fragilidade ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Jundiaí-Mirim (BHJM) através do Sistema
de Inferência Fuzzy (SIF) com auxílio de Sistema de Informações Geográficas (SIG) para
identificar os maiores ou menores valores de fragilidades potencial e emergente.

2 –METODOLOGIA

A BHJM está situada no estado de São Paulo entre as latitudes 23º 00’ e 23º30’ Sul e
longitudes 46º 30’ e 47º 15’ Oeste, cuja a área é de 11.750 hectares, sendo 55% pertencentes
ao município de Jundiaí, 36,6% ao município de Jarinu e 8,4% ao município de Campo Limpo
Paulista. Possuindo 18 sub-bacias hidrográficas, é uma região com forte degradação ambiental,
com loteamentos, áreas densamente urbanas e mineração.

Para o MFP os planos de informação (PI) usados foram: i) declividade – obtida a partir do
modelo digital de elevação (MDE) Alos Palsar de resolução espacial de 12,5 metros; ii)
pluviosidade – obtida das isoietas com média anual da série histórica de 1977 a 2006, na escala
1:5.000.000 da Agência Nacional das Águas (ANA), interpoladas pela ponderação do inverso
da distância (IDW) e iii) pedologia, baseada no fator K de erodibilidade do solo (Rossi, 2017).
Já, no MFE, foram usados os PIs: i) MFP; ii) fator CP da Equação Universal da Perda de Solo
(EUPS), baseado no mapa de uso do solo do ano de 2013 adaptado de Fengler (2013) com 11
classes (hidrografia, mata, pastagem, chácara, reflorestamento, campo, agricultura, área urbana,
mineração, solo exposto e outros usos) e iii) proximidade de APPs – obtidas do Sistema
Nacional de Cadastro Rural (Sicar) baseado na ferramenta Distância Euclidiana do ArcGIS.
Também foi criada uma grade vetorial com 20x20m para o limite da BHJM e as quadrículas
dessa malha foram numeradas em ordem crescente (atributo “FID”). As variáveis foram
convertidas em formato matricial (raster) e cruzadas com essa grade vetorial a partir da
ferramenta Zonal Statistics do programa ArcGIS 10.5, obtendo-se um raster para cada variável
com resolução espacial de 20 metros e valor médio. Então cada raster foi novamente vetorizado
com o valor da variável atrelado ao campo “FID”, concatenando-se todos os dados dos PIs
numa única tabela.

A avaliação dos graus de pertinência e o banco de regras foram baseados na média


aritmética das informações respondidas em questionário por três especialistas. Os termos
linguísticos foram classificados de acordo com à fragilidade aos processos erosivos: “muito
baixa” (MB), “baixa” (B), “moderada” (M), “alta” (A) e “muito alta” (MA). Foi usado o
software Matlab versão R2015a. As Tabelas 1 e 2 mostram as variáveis linguísticas, termos

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linguísticos e informações estatísticas de cada variável utilizadas no SIF. Para construção dos
Mapas de Fragilidade Potencial e Emergencial foram utilizados dois SIFs, ambos pelo Método
de Mandani e defuzificação por centroide, sendo o primeiro SIF com 30 regras e o segundo
com 100 regras, conforme a Figura 1. Após o processamento do SIF, obteve-se as imagens em
tons de cinza dos Mapas de Fragilidade Potencial e Emergente do Solo. Posteriormente foram
extraídos os valores dos pixels das imagens e indexados numa tabela com o “FID” para ser
importada no ArcGIS e relacionada com a grade vetorial 20x20m para a confecção do MFP e
do MFE.
Figura 1 – Sistema de Inferência Fuzzy aplicado ao trabalho.

Fonte: Autores (2019).

Tabela 1: Variáveis, termos linguísticos e dados estatísticos utilizados no primeiro SIF

Variáveis Desvio
Termos linguísticos Min. Média Max.
linguísticas padrão
MB=[0 5] ,B=[3 13] ,M=[8 28] ,
Declividade 0,00 16,94 95,13 10,68
A=[20 60], MA=[45 150]
B=[0 0.0398], A=[0.0272 0.061],
Pedologia 0,0000 0,0311 0,0697 0,0225
MA=[0.0511 0.07]
Pluviosidade MB=[0 110], B=[75 150] 112,12 118,58 122,28 8,95
Fonte: Autores (2019).

Tabela 2: Variáveis, termos lingüísticos e dados estatísticos utilizados no segundo SIF

Variáveis Desvio
Termos linguísticos Min. Média Max.
linguísticas padrão
Vulnerabilidade MB=[0 0.25] ,B=[0 0.5] ,M=[0.25
0,40 2,80 4,60 0,95
Potencial 0.75], A=[0.5 1] ,MA=[0.75 1]
B=[0 0.2039], M=[0.0984 0.5422],
Uso do Solo A=[0.4324 0.8365], 0,00 0,15 1,00 0,27
MA=[0.7348 1.5]
MA=[0 31.91], A=[21.38 64.15],
Proximidade
M=[53.61 96.39], B=[85.85 128.6], 0,00 100,75 464,01 89,82
APPs
MB=[118,1 470]
Fonte: Autores (2019).

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

Analisando a Figura 2, as regiões de fragilidade potencial atingiram 21,61 km² (risco MB);
37,08 km² (risco B); 16,33km² (risco M); 41,78 km² (risco A) e 0,64 km² (risco MA). Já as
áreas de fragilidade emergente atingiram 21,62 km² (risco MB); 35,54 km² (risco B); 0,93 km²
(risco M); 9,32 km² (risco A) e 50,03 km² (risco MA). Ainda na Figura 2, no MFE é bem visível
que as áreas próximas do rio e com ocupação antrópica, cujo fator CP varia de 0,75 a 1, são de
risco muito alto, as áreas com agricultura e pastagem são de risco entre baixo e moderado e as
regiões com cobertura vegetal possuem de risco muito baixo a baixo.

Figura 2 – Mapas de Fragilidade Potencial e Emergente da BHJM.

Fonte: Autores (2019).

No MFP, nota-se que as áreas próximas aos rios possuem fragilidade entre muito baixa e
baixa, ocorrendo o efeito contrário no MFE, a considerar os corpos hídricos como recursos
naturais que devem ser preservados independentemente de nas áreas de várzea o risco aos
processos erosivos ser mínimo.

A sub-bacia hidrográfica do Horto é a que possui a menor fragilidade potencial média, com
2,20 pontos, caracterizada por ter predominância de latossolo vermelho-amarelo (fator K médio
de 0,018) e um relevo suavemente ondulado (declividade de 3 a 8%), enquanto a sub-bacia da
Represa Nova é a mais fragilizada, com um risco médio de 3,71 pontos, classificada com uma
vulnerabilidade alta devido à sua topografia ser predominantemente do tipo forte ondulado
(inclinação de 20 a 45%) e uma pedologia do tipo argissolo vermelho-amarelo (fator K médio
de 0,069).

Referente à fragilidade emergente média, a sub-bacia mais segura é a Escada de Dissipação


com predominância de áreas de horticultura e reflorestamento e uma malha de drenagem com
aproximadamente 21 km de extensão, enquanto as mais vulneráveis são ao Córrego Albino e

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Parque Centenário – ambas com expressiva área urbanizada e comprimentos de 6,4 e 5,7 km
de rede de drenagem, respectivamente.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mapeamento por inferência fuzzy mostrou-se dependente da percepção do especialista


quando da elaboração do banco de regras e nos graus de pertinência. Isso influencia na
defuzificação, mostrando grande variabilidade. Por esse motivo, recomenda-se o uso de
ferramentas que comparem a concordância de valores entres os métodos difuso e booleano,
como o Índice Kappa.
A modelagem de fragilidade ambiental agrega contribuições na produção de mapas
cartográficos e agiliza a tomada de decisões referentes às políticas públicas e planejamento
ambiental.
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DONHA, A. G. SOUZA, L. C. de P. SUGAMOSTO, M. L. Determinação da fragilidade


ambiental utilizando técnicas de suporte à decisão e SIG. Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental. v.10, n.1, p.175-181, 2006.

FENGLER, F. H. Qualidade ambiental dos fragmentos florestais na bacia hidrográfica do


rio Jundiaí-Mirim. 2013. 110f. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical)
- Instituto Agronômico de Campinas-IAC, Campinas.
MESSIAS, C. G., FERREIRA, M. C. Aplicação do método de classificação Fuzzy para o
mapeamento da fragilidade do terreno em relação à ocorrência de ravinas no Parque
Nacional da Serra da Canastra. Revista Espaço Geográfico em Análise – Ra’EGA. Curitiba,
v.39, P. 11-127, abr./2017.
QUEIROZ JUNIOR VS, CABRAL JBP, DA ROCHA IR, BARCELOS AA.N. Uso de
geotecnologias na caracterização da fragilidade ambiental da Bacia da UHE Foz do Rio
Claro (GO). GeoFocus, 2015:nº 15, p. 193-212.

SAMIZAVA, T. M.; KAIDA, R. H.; IMAI, N. N.; NUNES, J. O. R. SIG aplicado à escolha
de áreas potenciais para instalação de aterros sanitários no município de Presidente
Prudente– SP. Revista Brasileira de Cartografia, v. 60, n. 1, p. 43-55, 2008.

SPÖRL C. Metodologia para elaboração de modelos de fragilidade ambiental utilizando


redes neurais. 185 f. 2007. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em
Geografia. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.

ROSSI, M. Mapa pedológico do Estado de São Paulo: revisado e ampliado. São Paulo:
Instituto Florestal, v. 1, p. 118, 2017.

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