Você está na página 1de 12

Violência Masculina

Nelito Boaventura Inosse Zinenda

Correio electronico: nelitozinenda@gmail.com

RESUMO

Introdução: A violência doméstica representa um grande problema social, criminal e de saúde. No entanto, pode
caracterizar-se, genericamente, como a adopção/perpetração de uma conduta violenta que pode envolver uma
multiplicidade de actos (o maltrato físico, psicológico, sexual), que tendem a reiterar-se no tempo e a escalar em
frequência e gravidade (Matos, 2004). A violência é agora considerada como algo eminentemente humano e, dadas
as fortes redefinições do papel social da mulher, já não se pode atribuir a exclusividade da perpetração ao homem,
nem da vitimação à mulher. De acordo com Archer (2000) concluiu, através da sua meta-análise, que as mulheres
são ligeiramente mais passíveis que os homens se serem perpetradoras de violência doméstica. Objectivo Geral:
Descrever a violência Masculina. Metodologia: Este estudo encerra uma abordagem qualitativa, do tipo
exploratório. Análise de Dados: Os dados serão introduzidos numa base de dados em Statistical Package for Social
Scienes (SPSS) versão 20.0, e o pacote informático MS Excel 2010 será usado para representar os dados em tabelas.
Resultados: Medo/Vergonha (19.5%), Resistência ao Pedido de Ajuda (9.8%), Sentimentos Negativos Expressos
(31.7%) Psicopatologia (9.8%), Acompanhamento Psiquiátrico (2.4%). Desfavorecida (12.2%), Favorecida
(12.2%). Conclusão: A perpetração de violência, em particular da violência doméstica, é um fenómeno amplamente
estudado, ainda que a visão prevalecente seja a de que é sinónimo de violência contra a mulher. A meta-análise de
Archer (2000) veio alterar o paradigma, virando a atenção para o facto da mulher, segundo o autor, ser ligeiramente
mais passível de perpetrar violência num relacionamento íntimo. A questão que aqui planou foi a de que se, de facto,
a violência e a sua perpetração são características eminentemente humanas, ou se se deveria continuar a perspectivar
o fenómeno à luz das questões de género

Palavras-chave: Violência Doméstica, Homens, Vítimas.


3

ABSTRAT

Introduction: Domestic violence is a major social, criminal and health problem. However, it can be broadly
characterized as the adoption / perpetration of violent conduct that may involve a multitude of acts (physical,
psychological, sexual abuse), which tend to reiterate in time and escalate in frequency and frequency. gravity
(Matos, 2004). Violence is now regarded as eminently human, and given the strong redefinitions of women's social
role, it is no longer possible to attribute the exclusivity of perpetration to men, nor of victimization to women.
According to Archer (2000), he concluded through his meta-analysis that women are slightly more likely than men
to be perpetrators of domestic violence. General Objective: To describe male violence. Methodology: This study
contains a qualitative, exploratory approach. Data Analysis: Data will be entered into a database in Statistical
Package for Social Scienes (SPSS) version 20.0, and the MS Excel 2010 software package will be used to represent
the data in tables. Results: Fear / Shame (19.5%), Resistance to Help Request (9.8%), Expressed Negative Feelings
(31.7%) Psychopathology (9.8%), Psychiatric Accompaniment (2.4%). Disadvantaged (12.2%), Favored (12.2%).
Conclusion: The perpetration of violence, particularly domestic violence, is a widely studied phenomenon, although
the prevailing view is that it is synonymous with violence against women. Archer's meta-analysis (2000) has
changed the paradigm, turning attention to the fact that women, according to the author, are slightly more likely to
perpetrate violence in an intimate relationship. The question that has been raised here is whether, in fact, violence
and its perpetration are eminently human characteristics, or whether the phenomenon should continue to be viewed
in the light of gender issues.

Keywords: Domestic Violence, Men, Victims.


4

INTRODUÇÃO

A violência doméstica representa um grande problema social, criminal e de saúde. No entanto,


pode caracterizar-se, genericamente, como a adopção/perpetração de uma conduta violenta que
pode envolver uma multiplicidade de actos (o maltrato físico, psicológico, sexual), que tendem a
reiterar-se no tempo e a escalar em frequência e gravidade (Matos, 2004).

A violência é agora considerada como algo eminentemente humano e, dadas as fortes


redefinições do papel social da mulher, já não se pode atribuir a exclusividade da perpetração ao
homem, nem da vitimação à mulher.

De acordo com Archer (2000) concluiu, através da sua meta-análise, que as mulheres são
ligeiramente mais passíveis que os homens se serem perpetradoras de violência doméstica.

Contudo, nos últimos anos, o perfil de vítima de violência domestica tem-se transformando,
evidenciando diferentes realidades, como por exemplo, o aumento dos casos em que o homem é
vítima de Violência domestica (Matos & Santos, 2014).

Todavia, o homem vítima de violência doméstica surge agora, não como uma remota
possibilidade, mas como uma realidade inegável.

Por vezes, homens vítimas de violência doméstica são relutantes em informar sobre a
violência ou mesmo em procurar ajuda.

Também existe o paradigma estabelecido que somente homens praticam violência doméstica,
jamais os figurando como vítimas.

No entanto, como em outras formas de violência contra homens, violência entre parceiros
íntimos geralmente é menos reconhecida na sociedade quando as vítimas são homens.

Em geral, a violência doméstica é um fenómeno que tem assumido, por todo o mundo,
Proporções bastante elevadas.

Deste modo, o trabalho tem como objectivo primordial de descrever a violência Masculina de
forma a contribuir com conhecimento sobre a sua vitimação.
5

MATERIAL E MÉTODOS

Tipo de estudo

Este estudo encerra uma abordagem qualitativa, do tipo exploratório.

População de Estudo

A pesquisa foi composta por todos homem vítima de violência doméstica.

Amostragem e Tamanho de amostra


Amostragem
Para a pesquisa foi utilizada uma amostagem probabilística por coveniencia.

Tamanho da amostra

O tamanho de amostra foi constituída por 20 homens vitimas de violência domestica.

Variáveis

Atendendo às características específicas deste estudo, não foram definidas hipóteses.

No entanto, forma estabelecidas algumas dimensões gerais em estudo:

 Características (Psicológicas e Comportamentais) do homem vítima de violência doméstica;


 Característicos (Psicológicas e comportamentais) da agressora;
 Característicos da Vitimação física e psicológica
 Pedido de Ajuda e Encaminhamento

Técnicas e Instrumentos de recolha de Dados

A recolha de dados foi feita com recurso a ficha de recolha em físico (papel), através do qual foi
feita a compilação dos dados sobre o assunto em questão.

Análise de Dados

Os dados foram introduzidos numa base de dados em Statistical Package for Social Scienes
(SPSS) versão 20.0 para Windows. Posteriormente o pacote informático MS Excel 2010 foi
usado para representar os dados em tabelas.
6

RESULTADOS

A análise de resultados está envolta no cerne de quatro dimensões gerais: Características da


Vítima.

No entanto, na dimensão, Características da Vítima, procura-se que constem todas as


informações que são dadas acerca da vítima, nomeadamente as características psicológicas e
comportamentais.

O quadro teórico que subjaz ao presente trabalho faz uma distinção entre a história de vida da
vítima que antecede e que procede a vitimação e, após a exploração do material, definiram-se
como categorias: A.1.Medo / Vergonha; A.2. Resistência ao Pedido de Ajuda; A.3. Sentimentos
Negativos Expressos; A.4. Psicopatologia e A.5. Situação Sócio Económica.

Tornou-se necessário criar, para a categoria A.4. Psicopatologia, uma subcategoria:

A.4.1. Acompanhamento Psiquiátrico e para a categoria A.5. Situação Socioeconómica, duas


ubcategorias: A.5.1.Desfavorecida e A.5.2. Favorecida. Abaixo encontram-se exemplos para
cada uma delas, bem como as percentagens referentes à contagem frequencial:

N %

Medo/Vergonha 19.5%

- “passa o dia todo fechado no quarto com medo dela”

- “dificilmente o faria porque sente muita vergonha”

Resistência ao Pedido de Ajuda 9.8%

- “não quer apresentar queixa”

- “quis permanecer anónimo”


7

Sentimentos Negativos Expressos


31.7%

-“o seu mundo caiu”

“estou desesperado”

Psicopatologia (9.8%)

“achava que o telefone estava sob escuta, pois faz barulhos estranhos”

Situação Socioeconómica

Desfavorecida 12.2%

- “paga todas as despesas”

Favorecida 12.2%)

- “perdeu o emprego”

Fonte: Autor

NB: A categoria com maior expressividade neste domínio da análise foi a de A.3. Sentimentos
Negativos Expressos, seguida da categoria A.1. Medo/Vergonha.
8

DISCUSSÃO

A violência doméstica, bem como a adopção de comportamentos violentos em geral, têm vindo a
ser historicamente atribuídos ao género masculino. Contudo, e conforme vêm mostrar os
resultados da presente investigação, a mulher é também detentora da capacidade de perpetrar
violência nas relações de intimidade.

O medo, a vergonha e muitos dos sentimentos do homem vítima de violência doméstica face à
sua condição, a par da resistência ao pedido de ajuda a terceiros, vêm descritos na literatura
como o mote do desconhecimento desta face do fenómeno.

O homem, preso às prescrições do patriarcado (Zuleta, 2006), receia ser desacreditado e


humilhado, silenciando assim a sua vitimação Ao contrário do que se possa pensar, e de acordo
com Hines, Dunning e Brown (2007), também o homem teme sofrer represálias por parte da sua
agressora caso esta venha a ter conhecimento de que este denunciou o crime.

O medo de sofrer ataques físicos violentos, de ser desacreditado, a vergonha de expor as suas
fragilidades, tal como acontece na violência doméstica perpetrada contra o género feminino,
constituem provavelmente alguns dos motivos pelos quais também os homens se mantêm
relações abusivas.

A resistência ao pedido de ajuda prender-se-á também, conforme referido por Sorensen e Taylor
(2005 cit. Dutton, 2007), à apreensão quanto ao julgamento dos Outros acerca da vitimação, pois
a violência é, de facto, mais passível de ser percepcionada como ilegal ou de ter consequências
nocivas para a integridade física e saúde mental da vítima, quando perpetrada pelo género
masculino.

Apesar do quadro teórico de referência não ser unânime relativamente à associação entre a
existência de psicopatologia e a perpetração de violência doméstica (Edelson et al, 1991 cit.
Costa & Duarte, 2000), a verdade é que, através da presente análise de conteúdo, uma
percentagem relativa das agressoras apresentava patologia. Dutton (1994 cit. Dutton, 2005), por
outro lado, afirma que a intimidade e a psicopatologia, mais do que a questão do género, geram
violência nos relacionamentos.
9

Podem ser relatados diversos factores que contribuem para o desenvolvimento do fenómeno do
ab uso conjugal, tais como a história de vida, depressão, características da personalidade (baixa
auto-estima, rigidez, imaturidade, dependência), consumo excessivo de álcool ou drogas,
dificuldades económicas (Costa & Duarte, 2000). Assim, podemos dizer que os resultados
coincidem com algumas das características das agressoras supracitadas.

O consumo de álcool e drogas, bem como a instabilidade emocional ou os comportamentos de


controlo para com o companheiro, parecem estar na base do ingresso na perpetração de violência
doméstica.

Seria interessante também estudar quais os padrões de vinculação destas agressoras, pois, tal
como descrito por (Zuleta, 2006), a violência doméstica pode ser conceptualizada como a
adopção de comportamentos de vinculação falhados, mas que a agressora percepciona e
aprendeu como funcionais.

Num estudo realizado por Toy e Stroufe (1987 cit. Zuleta, 2006) com crianças em interacção,
havia vitimação entre aquelas que tinham um estilo de vinculação ansioso ou evitante, enquanto
que em pares cujo padrão de vinculação era segura, nenhuma das crianças foi observada como
vítima ou agressora.

Ao contrário do que seria expectável, a violência utilizada por estas mulheres contra os seus
companheiros foi fundamentalmente física, apesar de também terem sido reportadas experiências
de vitimação psicológica numa percentagem considerável.

Em função do que vem descrito na literatura, seria de esperar que a violência fosse sobretudo
psicológica, fundamentalmente ao nível das ameaças concretas tais como: ameaça de falso
testemunho de violência doméstica e de retirar os filhos, caso a situação chegasse a ser
denunciada.

Estas ameaças são as mais frequentemente utilizadas, pois as mulheres, protegidas pelo
estereótipo dissimulado da sociedade patriarcal e do chamado “paradigma de género” (Dutton &
Nicholls, 2005), têm consciência de que dificilmente a regulação das responsabilidades parentais
seria entregue ao pai caso a situação chegasse à barra dos tribunais.
10

O falso testemunho de violência doméstica é também uma ameaça que estas agressoras,
presumivelmente, sabem ser perigosa.

Uma vez apresentada por elas uma queixa-crime de violência doméstica, mesmo que o
companheiro alegue que a violência é mútua ou que é ele a real vitima, o paradigma está a favor
da mulher.

Hines et al (2007) concluíram que os comportamentos de controlo mais frequentemente


reportados foram: utilização de ameaças e coacção como ameaças de morte ou suicídio, chamar a
polícia para que o companheiro fosse falsamente acusado pelo crime de violência doméstica, ou
abandonar a relação.

O segundo comportamento de controlo mais reportado foi o abuso emocional, que inclui:
injúrias, “jogos mentais”, humilhação, fazer com que a vítima se sentisse culpada ou que
pensasse estar “maluco” (Hines et al, 2007).

A intimidação foi também frequentemente citada, operacionalizada através de ameaças com


armas brancas e destruição de propriedade. Os resultados obtidos na presente investigação
confirmam os resultados a que chegaram os autores, principalmente ao nível dos
comportamentos de controlo, intimidação e ameaças.
11

CONCLUSÃO

A perpetração de violência, em particular da violência doméstica, é um fenómeno amplamente


estudado, ainda que a visão prevalecente seja a de que é sinónimo de violência contra a mulher.

A meta-análise de Archer (2000) veio alterar o paradigma, virando a atenção para o facto da
mulher, segundo o autor, ser ligeiramente mais passível de perpetrar violência num
relacionamento íntimo.

A questão que aqui planou foi a de que se, de facto, a violência e a sua perpetração são
características eminentemente humanas, ou se se deveria continuar a perspectivar o fenómeno à
luz das questões de género (Hines et al, 2007)

A presente investigação surgiu da necessidade de conhecer e caracterizar o homem vítima de


violência doméstica, não só para contribuir para uma melhor resposta à supra questão, mas
também para desviar o interesse teórico para esta face do fenómeno até tão recentemente
negligenciada. De facto, este estudo fornece dados que suportam o facto da violência se tratar de
um problema humano, não de género.
12

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço ao meu Deus, meu Senhor!

Aos meus irmãos, pelo apoio ,compressão e estímulos dispensados ao longo deste percurso.

Aos meus queridos pais, pelos seus valiosos contributos nas horas de maior aflixao.

Aos meus docentes ,pela colaboração e disponibilidade

Aos meus amigos e colegas de curso, pelo apoio dado directo ou indirectamente.
13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Câncio, Fernanda, “Mais 23% de queixas”, in Diário de Noticias, edição de 25 de Novembro, pp.
22 Costa, José Martins Barra da (2003), Sexo, Nexo e Crime. Lisboa: Edições Colibri 2004.

Cruz, Ana Maria da “Sobre o Plano Nacional contra a Violência Doméstica” 2002. Página
consultada a 15 de Janeiro de 2005. Disponível em: http://www.mulheresps20.
ipp/violência_domest_relatório.htm

Archer, J. Sex differences in aggression between heterosexual partners: A meta-analytic review.


Psychological Bulletin, 126, 651-680. doi: 10.1037//0033- 2909.126.5.657, 2000.

Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Estatísticas APAV: Relatório Anual 2012.
http://www.apav.pt/apav_v2/images/pdf/Estatisticas_APAV_Relatorio_Anual_2012.pdf

Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Estatísticas APAV: Relatório Anual


http://www.apav.pt/apav_v3/images/pdf/Estatisticas_APAV_Relatorio_Anual_2015.pdf

AuCoin, K. Family Violence in Canada: A Statistical Profile 2005.

Ottawa: Canadian Centre for Justice Statistics, Statistics Canada.


http://data.library.utoronto.ca/datapub/codebooks/cstdli/gss/gss18/85-224- xie2005000.pdf

Você também pode gostar