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U N I V E R S I DA D E
CANDIDO MENDES

CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA


PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010

MATERIAL DIDÁTICO

BASES SOCIOANTROPOLÓGICAS
DOS DESCENDENTES AFRICANOS E
POVOS INDÍGENAS

Impressão
e
Editoração

0800 283 8380


www.ucamprominas.com.br
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
UNIDADE 1 – ENTENDENDO A ANTROPOLOGIA .................................................. 5
1.1 Conceitos e ramificações................................................................................ 5
1.2 Dos primórdios da Antropologia ao século XIX ............................................ 8
UNIDADE 2 – FORMAÇÃO DO SUJEITO BRASILEIRO – AS NOSSAS RAÍZES . 11
2.1 A nossa formação étnico-racial .................................................................... 17
UNIDADE 3 – MIGRAÇÕES - FOCO NO BRASIL ................................................... 24
3.1 Movimentos migratórios e a xenofobia ....................................................... 26
3.2 Imigrantes....................................................................................................... 28
3.3 Migrantes brasileiros ..................................................................................... 36
UNIDADE 4 – ETNIA, RAÇA E MULTICULTURALISMO ........................................ 38
4.1 Classificação de cor e raça do IBGE ............................................................ 38
4.2 Etnia e raça ..................................................................................................... 41
4.3 Multiculturalismo: definições e surgimento ................................................ 43
4.4 Currículo, etnia e diversidade cultural ......................................................... 47
UNIDADE 5 – QUILOMBOLAS ................................................................................ 51
5.1 As comunidade quilombolas ........................................................................ 51
5.2 Como identificar uma pessoa de origem quilombola ................................. 52
5.3 Identificando a terra e localizando comunidades quilombolas ................. 52
5.4 As dificuldades encontradas pelos municípios para cadastrar famílias
quilombolas.......................................................................................................... 53
5.5 O Programa Brasil Quilombola (PBQ).......................................................... 53
UNIDADE 6 – POPULAÇÕES INDÍGENAS ............................................................. 57
6.1 A realidade, os direitos dos povos indígenas no Brasil e as Terras
Indígenas (TIs) ..................................................................................................... 57
6.2 Proteção social – direito dos povos indígenas ........................................... 60
6.3 O Cadastramento das famílias indígenas .................................................... 60
UNIDADE 7 – REVISITANDO A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES AFRICANAS .......... 64
7.1 A religião na África ........................................................................................ 64
7.2 As religiões afro-brasileiras.......................................................................... 67
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 71
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INTRODUÇÃO

Não faz muito tempo que a Antropologia encontrou seu espaço e lugar nas
ciências. Já passou como parte da história natural e até mesmo física do homem e,
por conseguinte, do seu processo evolutivo.

Como diz Buzzi (1988), na antropologia se expõe os conhecimentos de


filosofia a respeito do ser humano e assim ela, a filosofia, mostra o conhecimento
que o homem faz do ser, tanto que ela traduz uma antropologia.

Estudar o homem como ser biológico, social e cultural são os principais


objetivos da Antropologia e em cada uma dessas dimensões encontramos os mais
variados desdobramentos, portanto, podemos dizer que o conhecimento
antropológico geralmente é organizado em áreas que indicam uma escolha prévia
de certos aspectos a serem privilegiados como:

 a “Antropologia Física ou Biológica” (aspectos genéticos e biológicos do


homem);

 a “Antropologia Social” (organização social e política, parentesco, instituições


sociais);

 a “Antropologia Cultural” (sistemas simbólicos, religião, comportamento); e,

 a “Arqueologia” (condições de existência dos grupos humanos


desaparecidos).

Além disso, podemos utilizar termos como Antropologia, Etnologia e


Etnografia para distinguir diferentes níveis de análise ou tradições acadêmicas.

Claude Lévi-Strauss (1970, p. 377) explica que:

 a etnografia corresponde aos primeiros estágios da pesquisa – observação e


descrição, trabalho de campo;

 a etnologia, com relação à etnografia, seria um primeiro passo em direção à


síntese;

 a antropologia, uma segunda e última etapa da síntese, tomando por base as


conclusões da etnografia e da etnologia.
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Apoiando-nos nesses breves conceitos, centraremos nossos estudos neste


módulo, justamente nas bases antropológicas dos descendentes africanos e povos
indígenas, povos estes que somados aos europeus dão a ‘forma’ à nossa
população.

Duas observações se fazem necessárias:

Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa


ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença
para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para
que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos
científicos.

Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das
ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se
tratando, portanto, de uma redação original.

Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se


muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos.
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UNIDADE 1 – ENTENDENDO A ANTROPOLOGIA

Ao prefaciar o livro “Aprender Antropologia” de François Laplantine (2003),


Queiroz nos mostra que uma das maneiras mais proveitosas de se dar a conhecer
uma área do conhecimento é traçar-lhe a história, mostrando como foi variado o seu
colorido através dos tempos, como deitou ramificações novas que alteraram seu
tema de base ampliando-o. Fazemos dessas nossas palavras e para início de
conversa seguiremos esse viés, o da história, mesmo que sejamos breves.

1.1 Conceitos e ramificações

Etimologicamente, Antropologia vem de antrhopos – homem ou pessoa; e


logos – razão ou pensamento. Por essa decomposição podemos inferir que
Antropologia é a ciência que estuda ou se preocupa com o ser humano e suas
relações. Não é, pois, uma ciência exata e se liga emaranhadamente a outras
ciências sociais, tendo, portanto, um campo de atuação muito vasto.

No entendimento de Batalha (2005), a definição mais simples e completa de


Antropologia é a de Haviland, que a define como

o estudo da humanidade em toda a parte e através do tempo, feito com a


intenção de produzir conhecimento fiável sobre as populações humanas e o
seu comportamento, tendo em conta o que as torna simultaneamente iguais
e diferentes.

Para Salzano (2009), no seu sentido estrito, o termo Antropologia refere-se


ao estudo da história natural da espécie humana, isto é, da Antropologia Física ou
Biológica. Já no seu sentido lato, a palavra tem um âmbito mais abrangente, que
inclui a Antropologia Cultural ou Social, a Arqueologia e a Linguística, além da
Antropologia Biológica. Este é o chamado enfoque dos quatro campos,
particularmente adotado nos Estados Unidos da América (Spencer, 1997 apud
SALZANO, 2009).

Tradicionalmente, a Antropologia no Brasil tem seguido um rumo diverso, os


Departamentos de Antropologia, concentrando primariamente cultores da
Antropologia Cultural, com grupos geralmente menores de arqueólogos. A
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participação de linguistas e antropólogos biológicos nessas unidades é praticamente


nula.

Santos (2008) explica que para podermos analisar as sociedades globais


como super-sistemas, teremos de ter em conta que existem, dentro delas,
subsistemas próprios e seus respectivos grupos elementares (parentesco, sexo,
idade) que interagem entre si e com o resto da sociedade, em forma de cadeia,
direta ou indiretamente, criando a sua própria unidade e originalidade social.

Ao procurar saber quando, como e onde surgiram as populações humanas e


como e porque variam entre si física e culturalmente, a Antropologia acabou por se
especializar em áreas científicas, fazendo uma divisão principal entre:

 Antropologia física – estuda o homem sob o seu aspecto puramente biológico;


ou seja, estuda as características físicas do homem (fisionomia, cor da pele,
estatura, fisiologia, entre outras) tanto no espaço como no tempo, para
identificar e distinguir os grupos étnicos (raças, povos). Procura compreender
a relação entre o meio geográfico e os aspectos físicos do homem e como
esses aspectos podem influenciar a sua cultura;

 Antropologia social e cultural – tem relações estreitas com a etnologia e com


a sociologia (COLLEYN, 2005, p. 48).

No início do século XX, a distinção entre Antropologia social e Antropologia


cultural constituía uma diferenciação epistemológica que, ao longo dos últimos anos,
tem vindo a perder fundamento.

Vejamos outras ramificações:

 Antropologia Linguística – procura entender a vida do homem, seus


pensamentos e sentimentos, através do estudo da literatura escrita e da
tradição oral (provérbios, cantigas, adivinhas, canções, entre outras);

 Antropologia Pré-histórica – estuda o homem a partir dos vestígios materiais e


outros testemunhos da sua atividade passada, com o objetivo de
compreender a cultura de sociedades já desaparecidas;

 Antropologia Psicológica – estuda os comportamentos conscientes de cada


indivíduo para compreender o homem no geral.
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Ainda falando sobre a Antropologia Social e Cultural, temos que ela estuda o
modo de vida (forma de trabalhar, hábitos, costumes, crenças, língua, religião) de
um conjunto de indivíduos que fazem parte de um determinado grupo ou sociedade
e analisa a forma como esses indivíduos se relacionam com indivíduos de outros ou
sociedades.

Apesar de interligados, a Antropologia Social pode ser distinguida da


Antropologia Cultural. Antropologia Social estuda um grupo ou uma sociedade como
um conjunto, na sua totalidade, enquanto a Antropologia Cultural estuda o
comportamento individual das pessoas de uma determinada comunidade. Analisa a
forma como cada indivíduo vive numa sociedade.

A Antropologia Cultural estuda a cultura das sociedades humanas: língua,


religião, normas de conduta, crenças, artefatos (ferramentas, utensílios, obras
artísticas), hábitos, forma de pensar, de agir, de manifestar sentimentos, entre
outros. Analisa todos os aspectos que fazem parte da cultura do Homem

Enfim, essa ciência caracteriza-se, assim, como um repositório de saberes


que emerge de diversas disciplinas acadêmicas. Este comportamento de mudança
observou-se, também, com outras ciências sociais, nomeadamente a Sociologia.
Inicialmente, convencionou-se que a Sociologia estudava as sociedades industriais e
a Etnologia estudava as sociedades ditas “primitivas”, apoiando-se nos dados que
lhe eram fornecidos pela Etnografia, no seu trabalho “de campo”.

Ao recorrer à observação participante (métodos menos diretos), as duas


disciplinas cruzam-se inevitavelmente. As semelhanças entre essas Ciências são
mais evidentes do que as suas diferenças, embora elas existam ao nível dos:
métodos e técnicas utilizados, percursos históricos, objetos científicos específicos,
escolas de pensamento diferenciadas e sociedade e cultura de origem dos próprios
antropólogos.

Ao partilhar com outras Ciências Humanas as formas e modos de


organização social do ser humano, a Antropologia está também elencada ao campo
científico histórico, dada a sua necessidade de compreender como funciona uma
sociedade no presente e as relações sincrônicas entre os seus respectivos
elementos. Desta forma, utiliza os fatos históricos identificáveis que ao serem
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analisados pelo arqueólogo, em determinado solo geográfico, corroboram a ciência


antropológica (SANTOS, 2008).

1.2 Dos primórdios da Antropologia ao século XIX

Desde Sócrates, o conhecimento de si mesmo é a mais alta meta da


indagação filosófica “conhece-te a ti mesmo”.

Embora o termo antropologia como “ciência do homem” esteja em uso desde


o século XVI, somente depois do Iluminismo desenvolveu-se uma antropologia
filosófica e teológica no sentido restrito.

O Homem era compreendido a partir da cosmovisão.

Os filósofos foram aprimorando seus entendimentos e em Aristóteles (384-


322 a.C.) encontramos o homem como um ser social que, pela razão e pela
linguagem, é capaz de orientar-se, na convivência com os outros, em princípios
éticos para manter justiça e ordem no Estado. Sua busca é pela felicidade.

A partir do Humanismo e Renascimento, o homem passa a ser visto como


um ser que participa tanto do mundo espiritual como do material, enquanto corpo e
mente formam uma unidade única.

Ocorre a afirmação do valor e da dignidade da pessoa humana. E mais:


acontece livre indagação da natureza física pelo homem, sem os limites impostos
pela autoridade, não mais se fundamentando a dignidade humana na “imagem e
semelhança de Deus”, mas derivando sua especificidade da própria natureza
humana.

No século XIX e começo do século XX, a pesquisa antropológica voltou-se


para o estudo das condições físicas, mudando o objeto.

Vejamos:

 não mais interessava a questão da autorreflexão sobre a essência humana,


mas a pesquisa da constituição corpórea, suas condições naturais e sua
formação histórico natural;

 as atitudes passam a ser antifilosófica e antirreligiosa;

 separação entre antropologia física e antropologia filosófica-teológica;


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 concentrava-se na pesquisa da Physis humana.

No século XX é instituída a antropologia como disciplina científica. Enquanto


a antropologia física busca as origens e a natureza biológica do homem na
perspectiva da ciência empírica, a antropologia filosófica e teológica buscam o
consenso – deve-se buscar o diálogo com as antropologias do momento para
estabelecer uma relação entre elas.

Assim, no século XX nasce uma antropologia da relação transformadora da


filosofia para com as outras ciências.

Max Scheler (1874-1928) nos oferece grandes contribuições, sendo seu


grande mérito mostrar que a antropologia transcende os limites do método científico:

 a questão da antropologia extrapola as ciências singulares e, por isso, migrou


para a filosofia e a teologia;

 antropologia biológica seria o homem = animal; e na antropologia filosófica:


homem ≠ animal;

 os animais estão vinculados ao seu ambiente enquanto o homem é aberto ao


mundo;

 com inteligência o homem compensa suas carências biológicas;

 sua conduta é marcada profundamente por tradições e instituições culturais e


menos por instintos herdados;

 o homem é o único vivente que indaga sobre sua própria natureza, que se
torna um problema para si mesmo;

 somente ele é consciente de si (ZILLES, 2011; REALE, 2003).

Como diz Salzano (2009), a Antropologia, em seus primórdios, foi


basicamente interdisciplinar e integradora. Com o acúmulo de novas informações,
de caráter diverso, tem havido uma tendência cada vez maior para a especialização
em determinada subárea, de todo modo, ela vem adquirindo importância cada vez
maior no mundo moderno, onde o isolamento cultural é quase impossível e onde os
contatos são inevitáveis e se multiplicam, levando muitas vezes a situações
conflitantes.
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A antropologia empenha-se na solução dessas situações, procurando


minimizar os desequilíbrios e tensões culturais e tentando fazer com que as culturas
atingidas sejam menos molestadas e seus valores e padrões respeitados. Aplica
conhecimentos antropológicos, físicos e culturais na busca de soluções para os
modernos problemas sociais, políticos e econômicos, dos grupos simples e das
sociedades civilizadas.

Guarde...

A finalidade da antropologia é o fornecimento do maior número possível de


estudos sobre grupos humanos, uma vez que cada um deles é o produto de uma
experiência cultural particular.
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UNIDADE 2 – FORMAÇÃO DO SUJEITO BRASILEIRO – AS


NOSSAS RAÍZES

Esta unidade tem o objetivo de adentrar especificamente no âmbito da


discussão sobre a formação do sujeito brasileiro, traçando uma genealogia do
assunto com o ponto de partida da constituição de nossa sociedade brasileira
embasado na obra de BUARQUE DE HOLANDA (1995) e também abarcando outras
leituras da sociologia clássica.

Pensar nesta constituição de sociedade é importante, tendo em vista que


somos um país de extremas desigualdades e multiculturalidades, a dança do
hibridismo existe com muita força em nossa forma de ser, pensar e agir no dia a dia,
deste modo, faz-se necessário compreender, mesmo que brevemente, um pouco
desta formação de sociedade.

A nossa sociedade está calcada sobre bases rígidas, se bem que,


ultimamente vivemos em paisagens de instabilidades quando vemos o levante de
vários grupos tidos como minoritários perante os modelos vigentes e dominantes de
nossa sociedade indo para as ruas, fazendo barulho, reivindicando e fazendo os
seus direitos, porém, ainda há uma massa densa, um concreto duro, datado de anos
de construção e endurecido pela ação do tempo e do sol forte que brilha e ilumina a
pele negra de uma significativa parcela que forma este Brasil da multiculturalidade,
das multiracialidade que nos significa e difere de tantos países mundo afora.

Partindo do ponto de que Buarque de Holanda (1995) está embasado na


exploração dos conceitos polares, seu livro Raízes do Brasil, é construído sobre uma
admirável metodologia dos contrários, que alarga e aprofunda a velha dicotomia da
reflexão latino-americana. O autor aproveita o critério tipológico da dialética
weberiana, mas ele modifica-o, na medida dinâmica, ressaltando, principalmente, a
sua interação no processo histórico.

Mas nem por isso há uma concordância a respeito dos elementos de


dualidade, o que fundamentaria uma dialética do conflito, porém cremos ser mais
uma dialética ideológica, do que propriamente material, não que não haja esta
segunda, até porque o que caracteriza nossa desigualdade é justamente a
espoliação material da qual sofremos até hoje enquanto Estado precarizado,
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principalmente por resquícios da colonização e cultura dual que cristalizou a


estrutura de benefícios e regalias desta colonização.

O que podemos perceber, no entanto, são os equívocos de uma elite


perdida entre a cordialidade e modernidade, tendo em vista a ascensão mais
perceptível do brasileiro fazendo com que a questão de classe seja mais transitável,
talvez menos no campo material, porém maior no discurso disseminado de
mobilidade social. Onde o sujeito seja ele proveniente de qualquer classe
“pertencente” pode apropriar-se do discurso da elite para também dominar dentro do
seu ciclo de “iguais”, tornando essa prática de usurpação de linguagem e bordões
condenada e criticada pela elite, que infere como vulgaridade a assimilação
“indevida” de determinado linguajar, bem como o alcance econômico que hoje, em
pleno século XXI, o brasileiro tem podido alcançar com o começo, porém, incipiente
da diluição de concentração da renda.

É importante lembrarmos que este uso de linguajar nem sempre é


apropriado para fins pacíficos numa alienação massificada, mas com o intuito de
reivindicação e gozação da vulgaridade que a elite comete com seus excessos por
parte daqueles sujeitos que não obtêm o mesmo privilégio, e desejam poder
alcançar este status.

Buarque de Holanda (1995) mostra a sociedade brasileira como sendo


marcada pelo apreço e diferença, na qual o apreço pela diferença se enraíza em
como ser uma pessoa de classe, enfatizando apenas uma ponta dos extremos, que
soa melhor com a colônia dos trópicos onde, desde o começo a hierarquia lusa, se
fez firmar pela divisão social. Desta forma então, a cordialidade de Buarque de
Holanda veio num amálgama como uma marca a abrandar essa dialética de conflito
material, onde o trabalhador é passível de cooptação pelo chefe, ou qualquer papel
hierárquico que estenda seu cordialismo tendencioso no intuito da eterna
submissão. Numa relação de provir onde o trabalhador servirá sempre aos
propósitos da ostentação do patrão. Ora consciente dessa submissão ou
completamente alienado através da cooptação.

Esta submissão está casada com o imaginário social como mecanismo da


aceitação e esta vem por meio do catolicismo, com sua moral cristã. O catolicismo
veio como instrumento de unidade territorial que os lusos ibéricos lançaram sobre o
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recente achado Brasil e que tão significativamente “amarrou” a unidade brasileira de


norte a sul.

Entretanto, ocorre uma divergência na modernidade, a configuração por uma


não existência da moral religiosa na esquematização de práticas modernas. Embora,
o Brasil já preza por uma sociedade fundamentada por essa moral religiosa, pois na
falta da estrutura legalizada no sentido de um novo Estado regimentado por redes
físicas, como ocorreu com a Família Real Portuguesa, existia uma estrutura que se
perpetuou na colônia pela figura do sacerdote / Padre.

Na América, como continente de novos ricos, ou numa nomenclatura


condizente com a modernidade brasileira, os “emergentes”, existe uma cooptação
do nosso imaginário social pelo atrativo norte americano, pelo sonho americano.
Pela incrível propensão da imitação do que é externo a nós, neste caso dos nossos
primos ricos do norte e por incrível que pareça a qual damos mais valor do que a
nossa própria cultura, e esta imitação e endeusamento é tanto existente pela nossa
elite, quanto pelos marginalizados alienados.

Aliás, é através desta valorização exacerbada que deixamos de lado de


valorizar nossos antepassados, nossa raiz imigrante e africana, ora, como explicar
que sejamos mais propensos a valorizar uma cultura que nem é a nossa de origem,
mas sim que nos foi imputada por um mecanismo ideológico capitalista?

Parece-nos que a força deste modelo cultural, desse consumo cultural nos
coloca em uma situação de alienação dentro do nosso país pelas nossas raízes,
bem como também nos põe em total sentimento antifraterno com nossas raízes
latino-americanas. Não é raro ouvirmos de nossos vizinhos argentinos, chilenos,
bolivianos, paraguaios, entre outros, que somos uma sociedade que se acha
diferente, individualista pelo fato de nunca falarmos/nos considerarmos como latino-
americanos. Somos brasileiros, mas ora, ser brasileiro é ser latino-americano não?

Nosso habitus marginalizado ainda tende a submeter-se ao norte. Este


talvez seja a explicação do porque na troca de “favores” internacionais somos quem
oferece mais e em detrimento ao que nos é oferecido, ou seja, somos submissos
numa colonização ideológica, por habitus coletivo que muitos ainda não percebem
de tão forte que é essa construção ideológica que é histórica.
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Caracterizamo-nos como uma sociedade exógena da modernidade e as


promessas ficaram ou ainda são prometidas enquanto a vulgaridade ficou para nos
indignarmos com os exageros da nossa elite. A nossa cordialidade de povo tropical
se transforma em violência, pois com o avanço da democracia a cordialidade tende
a diminuir aguçando os conflitos entre classes. E a aproximação entre as
extremidades pobreza e riqueza tem por vezes se estreitado, mesmo que de uma
forma fictícia.

No Brasil, a configuração de povo e burguesia advém da nossa colonização,


é só pensarmos no quesito da economia que fomos e que ainda continuamos sendo
uma empresa de colonos brancos acionada pelo braço de raças estranhas,
dominadas, mas ainda não fundidas na sociedade moderna, no caso somos hoje
sujeitos pseudo inseridos numa modernidade nacional na qual tudo indica que ainda
ocorre uma diminuição de um cordialismo para as relações mais individuais inclusive
um “depender por si mesmo”.

É uma forma de revoltar-se com suas mazelas, o que sinaliza essa


cordialidade no aspecto do revoltar-se, mas num viés de violência cordial, de
apontamento de causas, de corpo a corpo, crime cordial que ocorre muitas das
vezes pela necessidade da elite em se gabar ostentando o luxo perante a quem não
têm o que por na mesa, comida para seus filhos (as), tornando-se o crime do pobre
uma conotação ordinária, moderna e banal.

O pobre, em sua grande maioria negra no Brasil, nem mesmo compreende


os motivos de ser tão marginalizado, o motivo de tanto ódio contra a cor negra.
Logo, que talvez este nem mesmo entenda do porque o crime, ou a criminalização
de uma cor, de uma marginalidade que de tão incoerente chega a ser alienante, sem
explicação que a única saída fica entre a resignação de continuar a ser a base
explorada e injustiçada desta pirâmide social, este é o ônus de viver num país de
tamanha desigualdade social.

Se pensarmos bem, veremos que não é devido à chegada da família


Imperial e independência do Brasil, ou seja, por meio deste marco histórico, que as
relações de hierarquia e lógica cultural se diluíram, pelo contrário, não apenas
perpetuou-se no tempo como por vez tornou-se implícita sob a camuflagem da
camaradagem de forma a iludir o povo através de uma cordialidade muito mais
apropriada pela elite numa modernidade favorável a perpetuação da elite brasileira.
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A tônica da cordialidade acabou se constituindo de forma dúbia, pois ao


mesmo tempo em que Buarque de Holanda (1995) pautado na dialética Weberiana
afirma essa característica como sendo própria de nós habitantes dos trópicos, em
detrimento a racionalidade do povo anglo-saxão, não podemos esquecer-nos das
inúmeras batalhas que nós pessoas “cordiais” estivemos envolvidos e massacrando
milhares de vidas latinas, bem como dentro do próprio Brasil, através dos confrontos
internos, batalhas nas quais o pobre negro, os índios, ativistas e militantes diversos
tiveram suas vidas ceifadas pela intolerância fomentada por uma elite racista,
homofóbica, burguesa e totalmente indiferente com as diferenças, pois, estas só
servem para sustentá-los no poder enquanto massa de manobra e mão de obra para
as ainda suspensas famílias elitistas deste país. Não são poucas as famílias nem
mesmo são invisíveis como se creem muitos desavisados em nosso país.

Eles estão aí, espreitando os movimentos da massa, com seus canais de


televisão antidemocráticos, monopolizantes da vida midiática brasileira, estão no
comando dos bancos, no comando das grandes empresas, no comando de grandes
tradições como as militares e até mesmo educacionais.

Este aspecto, traço dúbio, incoerente de nós brasileiros é apontado por


Buarque de Holanda (1995), que, aliás, nunca inferiu o termo cordialidade como
sendo algo próprio de bondoso, e gentil, longe disso, o termo foi cunhado por ele
mais no sentido de denotar uma qualidade de esperteza e malícia do brasileiro no
jogo de corpo a corpo dos trópicos, e neste sentido não é absurdo pensar batalhas e
lutas onde no jogo de interesse político e de “soberania” o Brasil sim mostrou sua
verdadeira face de gigante hierárquico.

A preocupação, ou complexidade que hoje a elite brasileira sente em relação


à mutualidade e permeabilidade que se configura no Brasil, é a distinção de
posições e classe como uma ameaça a “legitimidade” de quem sempre se pautou
pelo direito de ordenar. Pois à medida que a modernidade vai diluindo a dialética
cristalizada de elite x povo, ela possibilita a insurgência de problemáticas,
incômodos e fissuras que até então ficavam exposta apenas no âmbito das
dualidades de luta histórica sendo que há outros aspectos que gritam por espaço na
sociedade como da luta pela conquista de direitos devassados da hibridização do
sujeito.
16

Hoje não se reivindica apenas direito de classe, mas sim vários outros
direitos que fazem parte de um mundo híbrido do sujeito, ou seja, se busca sanar as
especificidades de lutas como de homossexuais, das mulheres, negros (as), entre
outras.

Um ponto que julgamos importante pontuar também nesta análise é a


maneira como o sujeito negro(a) se constituiu em nosso país, como um sujeito
dotado de desqualificações como vagabundo, indolente, preguiçoso, entre outros.
Ora, este é um discurso que favorece uma dominação de um sujeito sobre o outro,
então, a utilização deste tipo de discurso desfavorável ajuda a manter as coisas no
lugar, ou seja, as raças em seu devido local sociais.

O indivíduo de uma família abastarda, mantida através de uma esfera


política e cultural (Imperial, branca, patriarcal, burguesa e monogâmica) que veio
enraizado no Brasil desde o momento em que fomos “descobertos”, configurou-se
como o sujeito nobre de pertença por excelência.

E, sendo o negro arrancado de sua pátria mãe para servir a esta ordem, ele
não necessariamente teria como hipótese elaborada por um discurso dominante um
habitus constituído desde a sua origem para poder “vencer na vida”. Neste caso, ele
estaria então a mercê de uma cultura externa que lhe foi compulsoriamente imposta,
enterrando este sujeito negro num habitus1 de total submissão que o branco impôs a
este através, principalmente, do cristianismo que muitas das vezes veio de encontro
a crença tribal que muitos possuíam em sua terra natal, neste caso, não se trata de
uma submissão herdada de geração para geração, mas sim de uma guinada de uma
vida de liberdade e tradição local, para a submissão de trabalho compulsório, uma
guinada forçada, um habitus forçado.

A constituição do Brasil ocorreu e ainda ocorre sob o crivo de uma


subcidadania no que diz respeito a um patamar de espoliação que o país acabou se
constituindo, e nesta situação é fácil a proliferação cultural da inveja, e ostentação

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Os condicionamentos associados a uma classe particular de condições de existência produzem
habitus, sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a
funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, como princípios geradores e organizadores de
práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor a
intenção consciente de fins e o domínio expresso das operações necessárias para alcançá-los,
objetivamente “reguladas” e “regulares” sem em nada ser o produto da obediência a algumas regras
e, sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser o produto da ação organizadora de um
maestro (BOURDIEU, 2009, p. 87).
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de sujeito para sujeito no intuito de esmagar. E quem é a ralé que acaba sendo a
camada enfocada dessa humilhação? O pobre branco e negro, e sua condição
híbrida de ser sujeito. A falta de condição de vida que marca nossa sociedade é
responsável pela baixa alta estima desses sujeitos, tanto materialmente quanto
simbolicamente.

É importante salientar que no Brasil, o racismo se afirma pela negação, é


negando a cor da pele, a cultura negra, as raízes que ajudaram a constituir a
sociedade brasileira.

As práticas discriminatórias ocorrem de modo a imputar ao outro, no caso ao


negro, as características de um sujeito de baixa moral, de vagabundo, ocioso,
características vistas pela nossa sociedade como sendo algo ruim, esta
característica no nosso país diz muito do homem brasileiro, que é marcado por
essas duas características, dois tipos de sujeitos: o aventureiro e o trabalhador.

Neste sentido, embora saibamos que existe muito do suor e sangue negro
na constituição de nossas cidades, de nossas construções arquiteturais, é ele quem
é colocado no limbo da valorização humana na nossa sociedade.

Como aponta Buarque de Holanda (1995, p. 44):

Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o
indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que
sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis,
irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem – tudo, enfim, quanto se
relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo.

2.1 A nossa formação étnico-racial

Como bem apontou DaMatta (1986, p. 37), lembrando a fala de Antonil no


século VXIII, “O Brasil é um inferno para os negros, um purgatório para os brancos e
um paraíso para os mulatos”. Para as teorias racistas europeias, o grande problema
que ocorria em território brasileiro, e isto era visto com bastante horror para eles era
o processo de miscigenação que aqui se dava.

Para eles, existia um escalonamento entre raças e obviamente que a raça


branca se situava no patamar mais alto, no topo da hierarquia social vigente, a
ordem valorativa máxima. Este pensamento de ordem hierárquico racial pode ser
18

percebido na obra do antropólogo quando este cita as ideias do Conde de Gobineau


que viveu na cidade do Rio de Janeiro e pensou de modo racista e hierárquico a
divisão das raças em três critérios.

De acordo com DaMatta (1986, p. 38-39):

Gobineu, entretanto, não realiza um exercício simplista, no sentido de dizer


que a “raça” branca era superior em tudo. Há muita inteligência nos
preconceitos e nos autoritarismos. Muito ao contrário, ao comparar, por
exemplo, brancos e amarelos no que diz respeito às suas “propensões
animais”, ele situa os primeiros abaixo dos segundos. Quem não se salva,
porém, como infelizmente acontece até hoje na nossa sociedade, são os
negros, sempre e em tudo situados abaixo de brancos e amarelos.

O conde, segundo o antropólogo, via nossa miscigenação como algo


totalmente revoltante, e, escrevia para sua terra natal contando os horrores que era
a mistura no Brasil.

O grande problema visto pelo conde, e que talvez não era tão diferente de
outros olhares estrangeiros no Brasil, era a mistura entre diferentes raças, pois, se
as orgias e misturas insanas como ele percebia ficasse entre a mesma raça, daí não
haveria nenhum problema.

Logo, DaMatta (1995, p. 39) diz que:

Gobineau, como se vê, foi o pai, ou melhor, o verdadeiro genitor de um dos


valores mais caros ao preconceito racial de qualquer sociedade
hierarquizada. Referimos-nos ao fato de que ele não se colocou contra a
hierarquia que governava, conforme supunha a diversidade humana no que
diz respeito aos seus traços biológicos, mas foi terminantemente contrário
ao contato social íntimo entre elas. E é precisamente isso, conforme sabe
(mas não expressa) todo racista, que implica a ideia de miscigenação, já
que ela importa contato (e contato íntimo, posto que sexual) entre pessoas
que, na teoria racista, são vistas e classificadas como pertencendo a
espécies diferentes. Daí a palavra “mulato”, que vem de mulo, o animal
ambíguo e híbrido por excelência; aquele que é incapaz de reproduzir-se
enquanto tal, pois é o resultado de um cruzamento entre tipos genéticos
altamente diferenciados.

Deste modo, se pensarmos que o Brasil é um país marcado por esta intensa
miscigenação, provavelmente fomos o grande celeiro de observações e interesses
estrangeiros pelo exótico país que se constituía.
19

E mais, compreender o significado das palavras como mulato, é um modo de


vermos como o racismo se encarna nas palavras, termos usados no modo de
tratamento do negro e pessoas oriundas de relações mestiças em nosso país.

Dentre os vários teóricos do racismo, apontado por DaMatta (1995), temos


Buckle, Couty e Agassiz. Esses e mais tantos outros tinham em suas observações
que era pavorosa a miscigenação. Acreditavam que do resultado da miscigenação,
não poderia sair nada de bom, nada de positivo ou de melhor, em outras palavras,
que a concepção de um sujeito por diferentes raças só poderia desdobrar em
fracasso.

A constituição do racismo brasileiro, ocorreu de modo muito diferente de


outros tipos de racismos pelo mundo afora, e, sobre esta comparação extremamente
importante, DaMatta (1995, p. 40-41) diz o seguinte:

Noto, primeiramente, que Antonil não fala de branco, negro e mulato numa
equação biológica. Ao contrário, com eles constrói uma associação social
ou normal, pois que relaciona o branco com o purgatório, o negro com o
inferno e o mulato com o paraíso. Creio ser a primeira vez que se
estabelece um triângulo para o entendimento da sociedade brasileira e isso,
sustento, é significativo e importante. Significativo porque eu mesmo tenho
repetido seguidamente que o Brasil não é um país dual onde se opera
somente com uma lógica do dentro ou fora; do certo ou errado; do homem
ou mulher; do casado ou separado; de Deus ou Diabo; do preto ou branco.
Ao contrário, no caso de nossa sociedade, a dificuldade parece ser
justamente a de aplicar esse dualismo de caráter exclusivo; ou seja, uma
oposição que determina a inclusão de um termo e a automática exclusão do
outro, como é comum no racismo americano ou sul-africano, que nós
brasileiros consideramos brutal porque no nosso caso tudo se passa
conforme Antonil maravilhosamente intuiu. Isto é, entre o preto e o branco
(que nos sistemas anglo-saxão e sul-africano são termos exclusivos), nós
termos um conjunto infinito e variado de categorias intermediárias em que o
mulato representa uma cristalização perfeita.

De acordo com DaMatta (1995), o nosso preconceito é muito mais refinado,


pois é algo que ultrapassa a binaridade branco-negro, que é no caso a binaridade
existente em países como os Estados Unidos, país que possui as marcas de um
período de apartheid muito latente em sua população. Aliás, tais traços não são
apenas roteiro de filmes e sim realidade que se percebe quem observa a realidade
norte-americana.

É comum encontrarmos nos Estados Unidos da América, casos do tipo:


poucos negros cursando uma universidade; estes morando em bairros afastados do
20

grande centro, local onde moram os brancos. Ou seja, a segregação ainda


permanece de alguma forma existindo mesmo em um país que se considera modelo
de economia, civilidade e modernidade.

O preconceito no Brasil é algo muito mais sofisticado, pois existem discursos


velados sobre as raças encobertos pelo manto das relações de intimidade,
sociabilidade, aquelas piadas que se faz e que se naturaliza, que se vê nos
programas de comédia ou novelas e que pouco paramos para pensar no real
significado daquelas piadas carregadas de um histórico racista.

Em nome do parentesco se exclui, em nome da amizade se exclui tudo


utilizando piadas racistas, mas que por se tratar de um amigo, de um parente, pela
intimidade que se cria, então é preciso que se aceite, pois, caso contrário, torna-se
careta ou radical demais o repúdio a tal brincadeira.

Ora, o racismo se alimenta é justamente por essa veia cômica que existe
nas relações sociais, sobretudo as brasileiras que incorpora bordões, frases e
piadas de modo muito passivo. Aliás, fazemos uso desses discursos sem maiores
embaraços ou preocupações.

De acordo com Antonil dito por Buarque de Holanda (1995):

em sociedades protestantes como os Estados Unidos, tudo que é


intermediário é fadado ao extermínio. O intermediário representa tudo que
deve ser excluído da sociedade, só aí, percebemos como a miscigenação é
vista como um verdadeiro horror pelos primeiros europeus que aqui
estiveram. E, até hoje ainda é visto, pois, não podemos negar que a relação
de distinção social e de raça ainda é o grande motivo de comparação por
estrangeiros.

O motivo de esta sociedade protestante olhar de forma horrorizada para uma


sociedade em que a miscigenação acontece é descrita por Buarque de Holanda
(1995, p. 43-44):

Dentro de uma sociedade que tentou eliminar a tradição imemorial das leis
implícitas, aquelas que podiam ser aplicadas ou não, que podiam ser
lembradas ou não, o mulato, o intermediário, representava a negação viva
de tudo aquilo que a lei estabelecia positivamente. Ele mostrava o pecado e
o perigo da intimidade entre camadas sociais que deveriam permanecer
diferenciadas, mesmo que fossem teoricamente consideradas iguais. Além
21

disso, ele indicava a presença objetiva de uma relação entre camadas que
não podiam comunicar-se sexual ou afetivamente.

Se nos Estados Unidos o negativo é o que está entre as pessoas, no Brasil,


o “racismo a brasileira” como aponta DaMatta (1986, p. 46), segue um modelo de
hierarquia de raças para brancos, negros e índios. Como aponta o autor: O fato
contundente de nossa história é que somos um país feito por portugueses brancos e
aristocráticos, uma sociedade hierarquizada e que foi formada dentro de um quadro
rígido de valores discriminatórios. Os portugueses já tinham uma legislação
discriminatória contra judeus, mouros e negros, muito antes de terem chegado ao
Brasil; e quando aqui chegaram, apenas ampliaram essas formas de preconceito.

No Brasil, a escravidão tomou uma roupagem econômica e racial que se fez


desde a época do país colônia e que hoje não é difícil você leitor, perceber onde se
encontra a negritude em nosso país, não está na senzala, mas está nos campos de
obras das construções, estão na periferia, nas favelas, estão nas empregadas
domésticas, nos muitos usuários de drogas que superpovoam as grandes cidades e
são cada vez mais o chamariz para as reportagens midiáticas e sensacionalistas
com o cunho higienista, bem como estão nas prisões, superpovoando os sistemas
carcerários.

Ora, não parece que há aí algo de errado? Como assim, lugares de negros,
quem os colocou lá? Quem senão uma sociedade racista que enxerga o negro como
carne barata, como uma mão de obra natural para servidão. Não é a toa que a
música/letra de Elza Soares exemplifica muito bem a nossa sociedade brasileira.

Carne Negra2

A carne mais barata do mercado é a carne negra


A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio


E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego

2
Disponível em: http://letras.mus.br/elza-soares/281242/
22

E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra


A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história


Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado

Mas mesmo assim


Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra


A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra

Neste sentido, como forma de camuflar a “vergonha” de sermos um país


hierarquizado por racialmente, é mais fácil dizer que somos um país democrático
onde a mistura de raças que nos faz este país democrático, é o grande legado da
“união” das três raças.

DaMatta (1986) nos coloca uma problemática social, pois, ele diz de um
paradoxo em que vivemos já que: Como podemos apostar, credibilizando com
nossas ações cotidianas de preconceito e racismos uma sociedade de
desigualdades sociais e raciais e ao mesmo tempo querermos ser vistos como um
país que agrega a todos? Ora, que tipo de democracia é esta? Certamente não é um
23

país que respeita a miscigenação da qual nossas raças se constituíram e muito


menos respeita os aspectos étnicos e raciais de nossa sociedade. Como ele diz:

É claro que podemos ter uma democracia racial no Brasil. Mas ela,
conforme sabemos, terá que estar fundada primeiro numa positividade
jurídica que assegure a todos os brasileiros o direito básico de toda a
igualdade: o direito de ser igual perante a lei! Enquanto isso não for
descoberto, ficaremos sempre usando a nossa mulataria e os nossos
mestiços como modo de falar de um processo social marcado pela
desigualdade. Como se tudo pudesse ser transcrito no plano do biológico e
do racial.

Na nossa ideologia nacional, temos um mito de três raças formadoras. Não


se pode negar o mito. Mas o que se pode indicar é que o mito é precisamente isso:
uma forma sutil de esconder uma sociedade que ainda não se sabe, hierarquizada e
dividida entre múltiplas possibilidades de classificação. Assim, o “racismo à
brasileira”, paradoxalmente, torna a injustiça algo tolerável, e a diferença, uma
questão de tempo e amor. Eis, numa cápsula, o segredo da fábula das três raças.

Racismo e desinformação caminham sempre de mãos dadas e não há lugar


social em que este dueto maléfico não apresente sua faceta cruel e discriminatória.
24

UNIDADE 3 – MIGRAÇÕES - FOCO NO BRASIL

Além de DaMatta (1995), Freitas (2014) também ressalta que dificilmente


existe uma nação com tão complexa e variada composição étnica de sua população.
Tentaremos, neste momento, ser um pouco mais suaves nas discussões acerca da
formação populacional brasileira que advém de basicamente cinco distintas fontes
migratórias, são elas:

a) Os nativos, que se encontravam no território antes da chegada dos


portugueses. Esses povos eram descendentes de homens que chegaram às
Américas através do Estreito de Bering.

b) Os portugueses, que vieram para o Brasil a fim de explorar as riquezas da


colônia.

c) Os negros africanos, que foram trazidos pelos europeus para trabalhar nos
engenhos na produção do açúcar a partir do século XVI.

d) A intensa imigração europeia no Brasil, sobretudo no sul do país.

e) A entrada de imigrantes oriundos de várias origens, especialmente vindos da


Ásia e Oriente Médio.

Com base nessas considerações, a população brasileira ficou com a


seguinte composição étnica:

a) Brancos: a grande maioria da população branca tem origem europeia (ou são
descendentes desses). No período colonial vieram para o Brasil: espanhóis,
holandeses, franceses, além de italianos e eslavos. A região sul abriga
grande parte dos brancos da população brasileira, pois esses imigrantes
ocuparam tal área.

b) Negros: essa etnia foi forçada a migrar para o Brasil, uma vez que vieram
como escravos para atuar primeiramente na produção do açúcar e mais tarde
na cultura do café. O Brasil é um dos países que mais utilizou a mão de obra
escrava no mundo. Hoje, os negros se concentram principalmente em áreas
nas quais a exploração foi mais intensa, como é o caso das regiões nordeste
e sudeste.
25

c) Indígenas: grupo étnico que habitava o território brasileiro antes da chegada


dos portugueses. Nesse período, os índios somavam cinco milhões de
pessoas. Os índios foram quase disseminados, restaram somente 350 mil
índios, atualmente existem 170 mil na região Norte e no Centro-Oeste 100
mil.

d) Pardos: etnia formada a partir da junção de três origens: brancos, negros e


indígenas, formando três grupos de miscigenação.

e) Mulatos: correspondem à união entre brancos e negros, esse grupo


representa 24% da população e ocorre com maior predominância no
Nordeste e Sudeste.

f) Caboclos: representa a descendência entre brancos e indígenas. No país


respondem por 16% da população nacional. Esse grupo se encontra nas
áreas mais longínquas do país.

g) Cafuzos: esse grupo é oriundo da união entre negros e índios, essa etnia é
restrita e corresponde a 3% da população. É encontrado com maior
frequência na Amazônia, Centro-Oeste e Nordeste.

É verdade, tudo isso aprendemos em História do Brasil lá na educação


básica. É o básico que precisamos saber para mais adiante entendermos as
relações étnico-raciais e suas implicações.

O Brasil pode ser apontado como um exemplo de que o conceito de raça é


uma construção social, e que o entendimento de raça pode variar em diferentes
sociedades.

Desde os séculos XIX e XX, a cultura brasileira vem promovendo uma


integração e miscigenação racial. No entanto, como já vimos nas falas de DaMatta,
as relações raciais no Brasil não têm sido harmônicas, especialmente em relação ao
papel de desvantagem dos negros brasileiros e indígenas, grupos fortemente
explorados no período colonial do país, que tendem a ocupar posições menos
prestigiadas na sociedade brasileira moderna, além das questões de choque cultural
e dificuldade de preservação étnico-racial no país (ZALUAR, 2004).
26

3.1 Movimentos migratórios e a xenofobia

Migrações internacionais são movimentos de saída e chegada de pessoas


entre países que podem ser subdivididas em emigração (refere-se a pessoas que
saem do país) e imigração (refere-se a pessoas que entram no país).

Os impulsos migratórios são, geralmente, motivados por questões


econômicas: de um lado, ligados a fatores de repulsão de emigrantes (crises
econômicas, guerras, conflitos em geral, fome, entre outros); e, de outro, a fatores
de atração (oportunidades de emprego, sonhos de enriquecimento rápido, melhoria
na qualidade de vida, entre outros) (SILVA, 2009).

Evidentemente que o processo migratório na atualidade forma um elo com a


globalização por vários motivos, dentre eles a eficácia dos meios de transporte, as
desigualdades sociais e econômicas entre os países e muitos outros. Igualmente
como algumas consequências são positivas, temos outras negativas como é o caso
da xenofobia (palavra derivada do grego xénos – estrangeiro e phóbos – medo)
(ALMEIDA, 2013).

As migrações geram vários encontros de povos de diferentes culturas, raças,


credos e religiões. No geral, é algo positivo. O Brasil, por exemplo, é um país rico em
diversidade cultural e étnica. Entretanto, quando os nativos passam a não aceitar os
imigrantes há um grave problema social.

A história recente da humanidade nos dá vários exemplos de como a


xenofobia é algo grave. No Holocausto, ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial,
na Alemanha, os nazistas exterminaram aproximadamente 6 milhões de judeus. Isso
porque acreditavam que os judeus eram uma raça inferior e manchavam o nome da
Alemanha de Hitler, e, logo, deveriam ser exterminados.

Ainda na atualidade, até barreiras físicas alguns países adotaram como


medidas para conter a imigração.

A xenofobia ocorre frequentemente nos países mais ricos e desenvolvidos,


principalmente na Europa. Os nativos acreditam que os imigrantes são responsáveis
pelo desemprego, criminalidade e todos os problemas sociais do país. Na Europa,
alguns grupos xenófobos são conhecidos entre nós, como os Skinheads, na
Inglaterra, e os Neonazistas, na Alemanha. Outros grupos não são tão conhecidos
27

assim, como os Bloc Identitaire (França), CasaPound (Itália) e English Defence


League (Reino Unido) (ALMEIDA, 2013).

A xenofobia pode ocorrer também dentro de um mesmo país, como


acontece no Brasil e nos Estados Unidos, por terem dimensões territoriais enormes.
Nos Estados Unidos há uma discriminação histórica contra negros, considerados
como “lixos” e inferiores aos brancos.

No caso do Brasil, tem-se o exemplo das discriminações sofridas pelos


nordestinos no sudeste brasileiro. Geralmente, são atribuídos estereótipos de forma
pejorativa, tais como “cabeça chata”, “baianos”, “paraíbas”, entre outros. Essas
pessoas preconceituosas são, no mínimo, desinformadas a respeito da constituição
do território, da história e da economia brasileira.

A xenofobia, portanto, trata-se de um racismo, um preconceito cultural, uma


discriminação racial, econômica e social ao estrangeiro. O encontro de diversos
povos, religiões, sotaques, classes econômicas e sociais, no geral, é positivo.
Contribuem para a riqueza cultural e econômica de uma nação (ALMEIDA, 2013).

O grande desafio entre os países ricos e pobres, mais do que construir


muros e elaborar leis que impeçam a entrada de migrantes, talvez seja a construção
de um mundo mais justo e igualitário no século XXI, pois, como dizia o geógrafo
Milton Santos (1978), apenas o acontecer próprio a um lugar não é indiferente ao
acontecer próprio a um outro lugar, exatamente pelo fato de que qualquer que seja o
acontecer é um produto do movimento da sociedade total.

Meados do século XIX e início do século XX, como veremos adiante, foram
os períodos que mais tivemos chegada de europeus ao Brasil. Nessa época, a
Europa passava por uma explosão demográfica (devido ao desenvolvimento de
técnicas médico-sanitárias e o consequente aumento da natalidade) que, aliada à
crise na produção agrícola e à fome (motivadas por sucessivas guerras),
impulsionaram a saída de muitos europeus em direção a países do continente
americano, movidos pelos sonhos do acesso à terra e do enriquecimento rápido.

Foi justamente com esses e outros tantos sonhos que, entre 1884 e 1933,
quase 4 milhões de imigrantes desembarcaram no Brasil (alemães, espanhóis,
portugueses, italianos, japoneses, turcos, sírios, entre outros), com destaque para os
italianos, que somavam algo em torno de 1,5 milhão de pessoas (SILVA, 2009).
28

Embora pareça fugir um pouco aos propósitos de base da apostila, vamos


falar dos principais grupos de imigrantes que por aqui aportaram ao longo de nossa
história.

3.2 Imigrantes

O sítio na internet do Museu da Imigração do Estado de São Paulo nos


conta de forma clara, rápida e plausível a história da imigração de cidadãos de
diversos países. Abaixo estão algumas destas histórias:

Movimentos migratórios para o Brasil

a) Japão

O processo de modernização do Japão iniciou-se a partir da Restauração


Meiji, em 1868, e se estendeu até as primeiras décadas do século XX. Durante esse
processo, muitos trabalhadores foram enviados para diferentes partes do mundo,
como Ásia e Oceania, e, mais tarde, para as Américas, por uma política adotada
pelo governo japonês, a fim de minimizar a pressão populacional no território. O
deslocamento, a princípio interno e posteriormente para outros países, se deu
principalmente devido à questão do acesso à terra, visto que, grande parte da
população nesse período era composta por trabalhadores rurais. O desenvolvimento
acelerado das grandes cidades provocou disparidades entre os novos núcleos
urbanos e as cidades do interior que conservavam os modos de vida tradicional.

A imigração dos japoneses para o Brasil foi amparada desde o início por
ambos os países, recebendo orientações e ajuda dos representantes do governo
japonês para que a fixação desses imigrantes fosse bem-sucedida.
29

Por meio dessa política de incentivo, em 1908, o primeiro grupo de


japoneses partiu do porto de Kobe e chegou ao Brasil, a bordo do navio ‘Kasato
Maru’. Posteriormente, os navios sairiam também dos portos de Yokohama e
Nagasaki.

O fluxo imigratório de japoneses ganhou relevo em 1930, após a imigração


de italianos e espanhóis reduzir significativamente. A maior parte era proveniente do
sul, nordeste e noroeste do Japão, regiões interioranas e tradicionalmente agrícolas.
A província de Okinawa contribuiu com o maior grupo de imigrantes, seguida de
Kumamoto, Fukuoka, Hokkaido, Fukushima, Kagoshima, Kochi, entre outras. Nesse
mesmo período, os japoneses se dirigiram ao interior do estado de São Paulo para
trabalhar na lavoura de café, destacando-se como o grupo de imigrantes que
permaneceu por maior período nas atividades rurais e na produção dos
hortifrutigranjeiros. Entre 1908 e 1975, estima-se que tenham entrado no Brasil
cerca de 250 mil japoneses. Na cidade de São Paulo, esses imigrantes fixaram-se, a
princípio, no bairro da Liberdade e, posteriormente, na Aclimação, Saúde, Ipiranga,
Jabaquara e Vila Carrão.

b) Alemanha

A unificação dos Estados Alemães, que incluía a Alsácia-Lorena,


Luxemburgo, Suíça, Áustria, Hungria, Romênia, Polônia, Rússia e suas Províncias
Bálticas, ocorreu em 1891. Somente a partir dessa data, a Alemanha passou a ser
uma nação como conhecemos hoje. Todos os imigrantes oriundos desses estados,
isto é, todos que falavam a língua alemã, eram chamados de “alemães” pelos
brasileiros. Os imigrantes de língua alemã chegaram ao Brasil na primeira metade
do século XIX. A primeira colônia agrícola foi fundada na Bahia por volta de 1818 e
recebeu o nome de Leopoldina, em homenagem à imperatriz brasileira, que era de
origem austríaca. Em 1819, cem famílias de suíços foram instaladas em Nova
Friburgo, no Rio de Janeiro. Em 1824, foi fundada a colônia de São Leopoldo, no Rio
Grande do Sul.

Ao longo de mais de um século, saindo dos portos de Bremen e Hamburgo,


entraram no Brasil cerca de 250 mil imigrantes num fluxo anual pequeno, mas
contínuo, que teve seu momento de maior intensidade em 1920, por conta da crise
30

econômica relacionada ao fim da Primeira Guerra Mundial. Embora não tenha sido
tão expressiva quanto a italiana, espanhola e portuguesa, a imigração alemã
influenciou a composição étnica do país, nos hábitos e costumes.

Os imigrantes de língua alemã fixaram residência nas regiões Sudeste e Sul


do país, principalmente nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Assim, São Paulo figura entre os estados com maior número de imigrantes
alemães, em virtude das ofertas de trabalho na produção e exportação de café e
pelo crescimento da indústria decorrente dessa atividade. Na cidade, a principal
colônia de imigrantes alemães foi fundada em 1829, no bairro de Santo Amaro.

No Sul do país, a presença da população oriunda dos Estados Alemães foi


intensa, nas primeiras décadas do século XX. Em algumas cidades da região, a
língua alemã era mais falada que a portuguesa. Além disso, foram fundadas
inúmeras colônias nos estados do Paraná, Santa Catariana e Rio Grande do Sul
pelos alemães e seus descendentes.

c) Árabe

Conflitos políticos e sociais decorrentes das dominações dos Impérios


Turco-Otomano e Britânico e crises econômicas levaram milhares de pessoas a
saírem de países do Oriente Médio a partir do fim do século XIX. O contexto
imigratório favorável do Brasil naquele momento propiciou a vinda dessa importante
leva populacional.

A maioria era proveniente da Síria, Palestina e Líbano, sendo os libaneses o


grupo mais expressivo em terras brasileiras. Embora de países diferentes,
compartilhavam traços de uma mesma cultura, como hábitos alimentares, tradições
e a língua árabe.

Uma característica importante da história dessa imigração é que,


contrariando as expectativas dos governos, brasileiro e paulista, de que a vinda de
trabalhadores estrangeiros suprisse a falta de mão de obra na agricultura, os árabes
dedicaram-se principalmente ao comércio. Negociantes de objetos domésticos e
tecidos a café e outros produtos agrícolas, desenvolviam suas atividades como
caixeiros ou como proprietários de lojas de importantes centros urbanos. Na capital
31

paulista, concentraram-se na região da rua 25 de Março, nos bairros do Brás, Pari e


Belenzinho.

d) China

A imigração chinesa no Brasil data do século XIX, quando fazendeiros e


produtores agrícolas, em busca de mão de obra, optaram pela contratação de
trabalhadores desse país. Os habitantes da região de Cantão, Sul da China, foram
os primeiros a chegar e a dedicar-se basicamente às atividades agrícolas, ao plantio
de chá, à mineração e à construção civil.

É importante ressaltar que a chegada dos chineses provocou diversas


discussões. Nesse sentido, dois temas se tornaram centrais: a denúncia dos
abolicionistas sobre a continuidade do regime de escravidão, tendo em vista que o
interesse dos proprietários de terras pela mão de obra chinesa era pagar o valor
mais baixo possível pelo serviço, sujeitando-os condições análogas as dos
africanos.

O outro ponto relevante diz respeito às fortes diferenças culturais entre os


dois países, que ia ao encontro do projeto político brasileiro de europeizar a
população.

Nos últimos anos, um grande número de imigrantes chineses chegou ao


Brasil, onde se dedicam principalmente ao comércio. Atualmente, o número de
chineses e descendentes no Brasil é estimado em cerca de 200 mil, sendo que a
maioria está localizada no estado de São Paulo.

e) Espanha

A difícil situação que a Espanha vivia no fim do século XIX, por conta de sua
economia agrária ser insuficiente para suprir as demandas internas, gerou
desemprego e fome. O Brasil, vivendo um momento de pujança e com políticas de
fomento populacional foi, então, o destino de milhares de famílias espanholas. Esse
movimento é considerado a terceira maior leva que imigrou para o Brasil, depois dos
italianos e portugueses, entre a segunda metade do século XIX até o início dos anos
1970.
32

Espanhóis das províncias da Galícia, Catalunha, Valência, Navarra e das


cidades de Sevilha, Cadiz, Córdoba, Almeria, Granada e Málaga formam o principal
grupo de imigrantes que se dirigiram ao Brasil. Partiam dos portos espanhóis de
Vigo, La Coruña, Barcelona, Valência, Sevilha, Cadiz, Malaga e Gibraltar. Há
também muitos registros de espanhóis que partiram do porto de Leixões, na cidade
do Porto, em Portugal.

Concentraram-se principalmente no estado de São Paulo, atraídos pelas


oportunidades de trabalho nas lavouras de café. Mais de 750 mil espanhóis
entraram no Brasil a partir do fim do século XIX até os anos 1960. A primeira e mais
numerosa leva de imigrantes espanhóis, até os anos 1930, dirigiu-se principalmente
para o campo, mas os que vieram depois da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e
da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) encontraram nas cidades e nas indústrias
as maiores oportunidades para refazer sua vida. O envolvimento, vale frisar, de
espanhóis em movimentos operários é bastante significativo: foram participantes
ativos nas greves de 1917, em São Paulo.

Na capital paulista, os espanhóis fixaram-se principalmente nos bairros da


Mooca, Ipiranga, Cambuci e Brás. Municípios como São Bernardo, São Caetano e
Santos também possuem importantes núcleos de imigrantes dessa nacionalidade.

f) Itália

Durante mais de um século, os italianos desembarcaram no Brasil e


formaram a maior colônia de imigrantes no país. Diversos fatores impulsionaram
esse deslocamento, como a grave crise política das décadas de 1860 e 1870, que
levou a conflitos armados e culminou na unificação das então províncias
independentes, dando origem ao que conhecemos hoje como Itália. Outro fator é de
ordem econômica, tendo como principais motivos os conflitos armados supracitados
e a crise agrária, que levou milhares de famílias a abandonar suas pequenas
propriedades rurais em direção às cidades. A conjuntura desse período levou o
governo a implementar políticas de fomento à emigração, que encontraram no
contexto imigratório favorável do Brasil um importante ponto de convergência.

Vêneto, Lombardia, Campania, Basilicata, Calábria, Sicília, Abruzzo, Molise,


Lazio e Umbria são as principais regiões de origem das populações que escolheram
33

o Brasil como destino. O maior e mais importante porto marítimo da Itália, de onde
partiam os navios com os emigrados, entre 1876 a 1901, foi o porto de Gênova.
Entre 1901 e 1905, o porto de Nápoles passou a transportar a maioria dos
emigrantes, e, a partir de 1905, os portos de Palermo e Messina partilham com os
demais o grande fenômeno emigratório.

É importante destacar que esse processo migratório iniciou-se concomitante


à unificação da Itália, em 1871, razão pela qual uma identidade nacional desses
imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil.

Os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram os


principais destinos dos italianos. No período de 1880 a 1970, grande parte ingressou
no país pelo estado de São Paulo, atraídos pela possibilidade de trabalho nas
fazendas de café. Nas cidades paulistas, trabalharam também em outras atividades,
principalmente como operários da construção e da indústria têxtil. Na capital, bairros
como Bixiga, Brás e Mooca são tradicionalmente relacionados à colônia italiana.

g) Portugal

As relações entre Brasil e Portugal tiveram início no período colonial, e o


diálogo cultural entre os dois países se tornou determinante para a formação
histórica e social de ambos. Entre o fim do século XIX e o início do XX, a imigração
lusitana tomou força, milhares de homens, mulheres e crianças chegaram ao Brasil
devido às dificuldades econômicas no país de origem e atraídos pelas afinidades
linguísticas.

No início, a maioria dos imigrantes portugueses que migrou para o Brasil era
da província do Minho, na região norte de Portugal. Posteriormente, o país recebeu
imigrantes de outras províncias, como Trás dos Montes, Douro, Beira Alta, Beira
Litoral, dos distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real, Vizeu, Bragança,
Leiria, Aveiro e Coimbra.

Em geral, partiam dos portos da cidade de Lisboa, de Leixões, no distrito do


Porto e de Funchal, na Ilha da Madeira.

Embora muitos imigrantes portugueses tenham sido encaminhados para o


trabalho nas lavouras de café e para a agricultura em geral, a imigração portuguesa
34

teve uma característica predominantemente urbana, com maior concentração


principalmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador,
desempenhando um importante papel nos pequenos e grandes comércios, assim
como na indústria. Alguns portugueses vieram diretamente para a cidade e outros
após passarem pela lavoura, migravam à procura de melhores perspectivas de
ganho, novas oportunidades abertas pelo intenso florescimento da capital paulista.

h) Coreia

A imigração coreana é considerada recente pela historiografia, sobretudo,


em relação à europeia. Teve início com a chegada ao Brasil de pequenos grupos de
coreanos entre 1923 e 1926, fugidos da repressão japonesa sobre a Coreia ou na
qualidade de japoneses naturalizados. Durante os anos 1950, período em que
ocorreu a Guerra da Coreia, grupos que haviam sido presos no conflito também
chegaram ao país. A corrente migratória coreana se intensificou no Brasil no fim da
década de 1960, início dos anos 1970, quando o ministro da saúde da Coreia
começou a traçar a política de emigração e a embaixada coreana iniciou as
negociações para formalizar a imigração no Brasil. Foi estabelecido então um
acordo de aquisição de terras e colonização agrícola para os coreanos que
chegavam ao país.

Cerca de 90% dos imigrantes coreanos que vivem em São Paulo, direta ou
indiretamente, desenvolvem atividade econômica ligada ao comércio de confecção
de roupas, especialmente no setor atacadista dos bairros do Bom Retiro e Brás. A
maioria reside nos bairros da Liberdade, Aclimação e Higienópolis.

i) Lituânia

O primeiro registro da entrada de imigrantes lituanos no Brasil é do fim do


século XIX, no Rio Grande do Sul. Depois disso, entre os anos de 1920 e 1939, uma
grande leva migrou para o país, vinda de territórios ocupados pela Polônia ou de
outras regiões da Europa, em busca de trabalho no campo e na indústria. É difícil
saber exatamente o número de imigrantes lituanos que entraram no país, pois era
comum entrarem com passaporte russo, já que a Lituânia fez parte do Império
35

Czarista. Por outro lado, muitos lituanos que portavam visto para o Brasil eram
procedentes de diferentes regiões da Rússia, Estônia e da Letônia.

A maioria dos imigrantes lituanos foi encaminhada para as fazendas de café


e cana no estado de São Paulo, onde as condições de trabalho eram precárias.
Diante dessas condições, muitos imigrantes fugiram das fazendas procurando
melhores oportunidades junto às indústrias da capital paulista. Em São Paulo,
concentravam-se nos bairros industriais, como Bom Retiro, Vila Anastácio e Mooca.
Hoje, a segunda maior colônia lituana do mundo localiza-se no bairro da Vila Zelina,
zona leste da capital paulista.

j) Rússia

Os primeiros grupos de imigrantes russos começaram a chegar ao Brasil no


início da década de 1870. Eram, em sua maioria, camponeses que decidiram
emigrar por motivos econômicos, políticos ou, até mesmo, religiosos.

Os imigrantes russos, incluindo ucranianos e bielo-russos, foram


direcionados principalmente para os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, além da região Sudeste.

No fim do século XIX e início do XX, esses imigrantes ajudaram a compor a


mão de obra nos centros industriais, em regiões de construção de ferrovias e
principalmente na lavoura. Na cidade de São Paulo, as comunidades russa e
ucraniana estão presentes de forma significativa nos bairros da Vila Alpina, Vila
Prudente, Vila Zelina, Pedreira, Ipiranga e Moema, além de São Caetano do Sul e
Osasco, na grande São Paulo.

k) Colombianos, Bolivianos e Haitianos

Oriundos desses países vizinhos afetados por fatores ambientais,


econômicos, humanitários e sociopolíticos, a entrada desses imigrantes ilegais no
país vem aumentando conforme alguns regimes políticos; tornam-se mais instáveis,
principalmente no Caribe e na América do Sul. Por esse aspecto, no Brasil, observa-
se grande contingente populacional oriundo de países como Haiti, Bolívia e
Colômbia, que mesclam diferentes fatores e geram emigrações cada vez mais
difíceis de serem impedidas em cada um dos âmbitos nacionais.
36

Segundo Oliveira e Moreira (2013), essa condição de imigração ilegal


acarretou a criação de toda uma rede facilitadora de entrada no Brasil, o que ainda é
agravada pelos índices positivos de estabilidade política e econômica do país, que
somados a uma natureza geográfica que reduz a possibilidade de tragédias naturais,
faz com que o país seja chamariz para seus vizinhos.

3.3 Migrantes brasileiros

A migração de brasileiros de outros estados, sobretudo do nordeste do país


para São Paulo foi contemporânea à entrada de imigrantes europeus. Há registros
de entrada desses migrantes na Hospedaria de Imigrantes do Brás já em 1888.
Tratava-se de um grupo de cearenses enviado para uma fazenda de café no interior
do Estado de São Paulo.

Vejamos a ilustração a seguir:

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/geografia/pratica-pedagogica/gente-chega-gente-sai-
488822.shtml

Desde o fim do século XIX até os anos 1930, o movimento de trabalhadores


das regiões Norte e Nordeste para o Sul era feito por navios conhecidos como
vapores Ita. Dos portos de Cabedelo (PB), Recife (PE), Salvador (BA), Natal (RN) e
37

Maceió (AL), milhares de nordestinos embarcavam rumo aos portos do Rio de


Janeiro e Santos. Havia ainda aqueles que tinham como ponto de partida, estações
ferroviárias de outras cidades, como Montes Claros e Pirapora, em Minas Gerais,
com destino à estação Roosevelt, em São Paulo. Muitos trabalhadores também se
deslocavam em caminhões conhecidos como ‘pau de arara’.

A inserção dos trabalhadores nacionais em São Paulo não foi mais fácil que
a dos imigrantes oriundos de outros países, embora falassem a mesma língua e
compartilhassem aspectos da cultura da sua nova terra, como a religião, por
exemplo. Esses trabalhadores vindos de regiões como Pernambuco, Bahia, Ceará,
Piauí, Paraíba, Alagoas, Maranhão, Sergipe, entre outras, foram recebidos como
estrangeiros, numa realidade que procurava negar seus laços com o próprio país.
Igualmente aos milhares de imigrantes que vieram para a região sul, também foram
utilizados como mão de obra na cafeicultura nas fazendas no interior do Estado e
também auxiliaram no desenvolvimento econômico da cidade de São Paulo.
38

UNIDADE 4 – ETNIA, RAÇA E MULTICULTURALISMO

4.1 Classificação de cor e raça do IBGE

Antes de discutirmos a questão do multiculturalismo e promover algumas


relações entre currículo e diversidade cultural, vamos apresentar a classificação do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006) que acontece de acordo
com cor ou raça e encontra-se dividido nas seguintes categorias: brancos, pardos,
pretos, amarelos e indígenas. Os negros correspondem ao somatório das
populações pardas e pretas. O IBGE verifica a composição brasileira através de um
Censo realizado a cada 10 anos. A composição por cor ou raça é verificada pela
autodeclaração.

a) Brancos

Os brancos autodeclarados compõem cerca de 45,9% da mesma, somando


cerca de 93 milhões de indivíduos. Estão espalhados por todo o território brasileiro,
embora a maior concentração esteja no Sul e Sudeste do Brasil. Consideram-se
brancos os descendentes diretos ou predominantes de europeus e de outros povos
de cor branca.

Uma pesquisa realizada com mais de 32 milhões de brasileiros, dos quais


quase vinte milhões se declaram brancos, perguntou a origem étnica dos
participantes de cor ou raça branca. A maioria apontou origem brasileira (45,53%).
15,72% apontou origem italiana, 14,50% portuguesa, 6,42% espanhola, 5,51%
alemã e 12,32% outras origens, que incluem africana, indígena, judaica e árabe.

Os números condizem fortemente com o passado imigratório no Brasil como


vimos anteriormente.

É notório, porém, que quase metade dos brancos pesquisados declararam


ser de origem brasileira. É explicável pelo fato de a imigração portuguesa no Brasil
ser bastante antiga, remontando mais de quinhentos anos, fato que muitos
brasileiros brancos desconhecem tais origens por já terem suas famílias enraizadas
no Brasil há séculos, assim como, por exemplo, muitos estadunidenses se declaram
americanos, mas sendo de origem inglesa.
39

Deve ser salientado que as classificações raciais no Brasil são fluídas e


influenciadas por diversos fatores. Existe uma histórica tendência ao
“branqueamento” na hora de ser classificado racialmente. Dessa forma, riqueza,
relações de família ou talentos pessoais podem fazer com que pessoas “de cor”
sejam classificadas como brancas.

Atualmente, a quantidade de brasileiros que se dizem brancos está em


rápido declínio.

b) Pardos

Estados de acordo com a percentagem de Pardos em 2009

Segundo a definição do IBGE, pardos são pessoas que se declaram mulata


(canção)s, caboclas, cafuzas, mamelucas ou mestiças de negro com pessoa de
outra raça. No censo de 2010, 43,1% da população nacional se autodeclarou como
sendo parda.

Ao contrário do que muitos pensam, o termo pardo não foi criado


censitariamente como uma categoria de cunho “étnico-racial” distinto ou como
sinônimo de miscigenado: o termo passou a ser utilizado no censo do ano de 1872,
com o intuito único de contabilizar de forma separada os negros (não importando se
puros ou miscigenados) ainda cativos, e os negros (não importando se puros ou
miscigenados) nascidos livres ou forros.
40

c) Negros

Estados de acordo com a percentagem de negros em 2009

Os negros autodeclarados compõem 6,3% da população brasileira, somando


cerca de 11 milhões de indivíduos. Estão espalhados por todo o território brasileiro,
embora a maior proporcionalidade esteja na Bahia e no Rio de Janeiro. Consideram-
se pretos todos os descendentes dos povos africanos trazidos para o Brasil e que
têm o fenótipo característico africano.

A escravidão no Brasil durou cerca de 350 anos e trouxe para o país cerca
de 4 milhões de africanos – 37% de todos os escravos trazidos às Américas.
Atualmente, com a crescente imigração de haitianos, a porcentagem de brasileiros
pretos e negros sobe rapidamente.

Pesquisas genéticas, já de alguns anos atrás, sugeriram que a grande


maioria dos brasileiros teria mais de 10% de marcadores genéticos africanos, mas
foram confessados que seus limites de confiança são amplos e foram feitos por
extrapolação: “Obviamente estas estimativas foram feitas por extrapolação de
resultados experimentais com amostras relativamente pequenas e,
consequentemente, têm limites de confiança bastante amplos” (PENA; BORTOLINI,
2004).
41

d) Povos indígenas

Os índios autodeclarados compõem 0,3% da população brasileira, somando


cerca de 519 mil indivíduos. Populações indígenas podem ser encontradas por todo
o território brasileiro, embora mais da metade esteja concentrada na Região
amazônica do Norte e Centro-Oeste. Consideram-se índios todos os descendentes
puros dos povos autóctones do Brasil e/ou que vivem no ambiente cultural
tradicional dos mesmos.

Recentes estudos genéticos comprovaram que muitos brasileiros possuem


ascendência de povos indígenas extintos há séculos. Os brasileiros que carregam
esta carga genética de forma majoritária são predominantes no norte do Brasil.
Quando os primeiros portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, a população
indígena girava em torno de 3 a 5 milhões de indivíduos.

No final do século XX, eram cerca de 300 mil. O desaparecimento da


população nativa brasileira se deve principalmente a quatro fatores: a dizimação
promovida pelos colonizadores, as doenças europeias que se espalharam como
epidemias, a miscigenação racial e, principalmente, a perda dos valores e da
identidade indígenas ao longo dos séculos.

e) Amarelos – de origem asiática.

4.2 Etnia e raça

Segundo Silva e Silva (2006), o conceito de etnia vem ganhando espaço


cada vez maior nas ciências sociais a partir das crescentes críticas ao conceito de
raça e, em alguns casos, ao conceito de tribo.

Apesar disso, é ainda considerado por muitos uma noção pouco definida. O
termo etnia surgiu no início do século XIX para designar as características culturais
próprias de um grupo, como a língua e os costumes. Foi criado por Vancher de
Lapouge, antropólogo que acreditava que a raça era o fator determinante na história.
Para ele, a raça era entendida como as características hereditárias comuns a um
grupo de indivíduos. Elaborou então o conceito de etnia para se referir às
características não abarcadas pela raça, definindo etnia como um agrupamento
42

humano baseado em laços culturais compartilhados, de modo a diferenciar esse


conceito do de raça (que estava associado a características físicas).

Já Max Weber (1994), por sua vez, fez uma distinção não apenas entre raça
e etnia, mas também entre etnia e Nação. Para ele, pertencer a uma raça era ter a
mesma origem (biológica ou cultural), ao passo que pertencer a uma etnia era
acreditar em uma origem cultural comum. A Nação também possuía tal crença, mas
acrescentava uma reivindicação de poder político.

A etnia é um objeto de estudo da Antropologia, e se caracterizou desde cedo


como tema principal da Etnologia, ciência que se propõe a estudar diferentes grupos
étnicos, constituindo-se em torno da própria noção de etnia. Durante o século XX,
essas duas disciplinas multiplicaram as conceituações sobre o termo. Autores como
Nadel e Meyers Fontes afirmam que uma etnia é um grupo cuja coesão vem de seus
membros acreditarem possuir um antepassado comum, além de compartilharem
uma mesma linguagem. Para essa definição, baseada em Weber, uma etnia seria
um conjunto de indivíduos que afirma ter traços culturais comuns, distinguindo-se,
assim, de outros grupos culturais (SILVA; SILVA, 2006).

Nesse sentido, não importa se o grupo realmente descende de uma mesma


comunidade original: o que importa é que os indivíduos compartilhem essa crença
em uma origem comum. Uma crença confirmada, a seu ver, pelos costumes
semelhantes.

Assim, uma etnia se sente parte de uma mesma comunidade que possui
religião, língua, costumes – logo, uma cultura – em comum. Notemos que nesse
conceito não importa somente o fato de as pessoas que compõem uma etnia
compartilharem os mesmos costumes, mas, sobretudo, o fato de elas acreditarem
fazer parte de um mesmo grupo. Nesse sentido, a etnia é uma construção artificial
do grupo, e sua existência depende de seus integrantes quererem e acreditarem
fazer parte dela (SILVA; SILVA, 2006).

Toda etnia se identifica como um grupo distinto, considerando-se diferente


de outros grupos, e baseia sua identidade em uma religião e rituais específicos.
Assim, os judeus e muçulmanos dentro das atuais Nações europeias são, cada um
por seu lado, etnias, por se identificarem como grupos distintos e reivindicarem
43

identidades próprias baseadas em religiões e costumes diferentes das sociedades


em que estão inseridos.

No caso dos muçulmanos, a construção artificial desse conceito é mais


nítida, pois quase sempre oriundos de migrações recentes para a Europa, seus
integrantes são originários de diferentes países e culturas distintas, mas ao se
instalarem em lugares como a França e a Inglaterra, em geral, se identificam como
uma mesma etnia, independentemente do país de origem. Tal situação pode ser
percebida, sobretudo, com relação aos descendentes dos primeiros imigrantes, e a
construção de uma identidade comum “árabe” ou “muçulmana” vem tanto do fato de
possuírem uma mesma religião quanto do fato de a sociedade os tratar em geral
como um grupo homogêneo.

Guarde...

Raça e etnia são dois conceitos relativos a âmbitos distintos.

Raça refere-se ao âmbito biológico; referindo-se a seres humanos, é um


termo que foi utilizado historicamente para identificar categorias humanas
socialmente definidas. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de
cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e genética.

Portanto, a cor da pele, amplamente utilizada como característica racial,


constitui apenas uma das características que compõem uma raça.

Etnia refere-se ao âmbito cultural; um grupo étnico é uma comunidade


humana definida por afinidades linguísticas, culturais e semelhanças genéticas.
Essas comunidades geralmente reclamam para si uma estrutura social, política e um
território (SANTOS et al., 2010).

4.3 Multiculturalismo: definições e surgimento

Segundo Chiappini (2001), podemos entender o multiculturalismo de várias


maneiras, com vários olhares. Ele pode ser visto como:

 um sintoma de transformações sociais básicas, ocorridas na segunda metade


do século XX, no mundo todo pós-segunda guerra mundial;
44

 uma ideologia, a do politicamente correto;

 uma aspiração, desejo coletivo de uma sociedade mais justa e igualitária no


respeito às diferenças.

Consequência de múltiplas misturas raciais e culturais provocadas pelo


incremento das migrações em escala planetária, pelo desenvolvimento dos estudos
antropológicos, do próprio direito e da linguística, além das outras ciências sociais e
humanas, o multiculturalismo é, antes de qualquer coisa, um questionamento de
fronteiras de todo o tipo, principalmente da monoculturalidade e, com esta, de um
conceito de nação nela baseado. Visto como militância, o multiculturalismo implica
em reivindicações e conquistas por parte das chamadas minorias. Reivindicações e
conquistas muito concretas: legais, políticas, sociais e econômicas.

Para a maior parte dos governos, grupos ou indivíduos que não conseguem
administrar a diferença e aceitá-la como constitutiva da nacionalidade, ela tem de
estar contida no espaço privado, em guetos, com maior ou menor repressão, porque
é considerada um risco à identidade e à unidade nacionais. Mas não há como negar
que, cada vez mais, as identidades são plurais e as nações sempre se compuseram
na diferença, mais ou menos escamoteada por uma homogeneização forçada, em
grande parte artificial (CHIAPPINI, 2001).

Contextualizando histórica e temporalmente, Moreira (2001) pondera que


vivemos já desde os anos 2000 em um mundo marcado pelas nefastas
consequências de um processo de globalização excludente, resultado não de uma
fatalidade econômica, mas de uma política consciente e proposital que busca liberar
os determinismos econômicos de todo controle e submeter governos e cidadãos às
forças assim liberadas.

Esse processo constitui, como afirma Bourdieu (2001, p. 90),

[...] a máscara justificadora de uma política que visa universalizar os


interesses e a tradição particulares das potências econômicas e
politicamente dominantes, sobretudo os Estados Unidos, e estender ao
conjunto do mundo o modelo econômico e cultural mais favorável a essas
potências, apresentando-o ao mesmo tempo como norma, um tem-que ser
e um fatalismo, destino universal, de modo a obter adesão ou, pelo menos
resignação universais.
45

Entre as consequências imediatamente visíveis da globalização podem-se


mencionar: o aumento das desigualdades econômicas entre os países e no interior
de cada um deles, o desemprego crescente, o desaparecimento progressivo de
universos autônomos de produção cultural pela imposição de valores comerciais,
assim como a destruição das instâncias coletivas capazes de fazer frente aos efeitos
do que Bourdieu (1998) denomina de máquina infernal.

Os atos terroristas nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001,


mostraram os conflitos que essa máquina pode causar e tornaram claro que, em
tempos de crise, o neoliberalismo parece não ter soluções a oferecer. Sem entrar
nos méritos da questão e noutras histórias de horror, o processo de globalização
nessa sua faceta cruel e negativa, além de provocarem desastrosos efeitos na
economia mundial e de intensificarem o arbítrio, a perseguição, o racismo e a
xenofobia, os acontecimentos de setembro levaram países do Primeiro Mundo a se
articularem para evitar novos atentados, garantir a segurança no mundo ocidental e
preservar os atuais arranjos sociais e econômicos.

Entretanto, represálias e outras medidas, mais ou menos violentas, que


venham a ser tomadas, serão muito pouco eficazes se, como bem afirmou Beck
(2001), não forem levadas em conta, com muito mais seriedade, a dignidade
humana, a identidade cultural e a diferença. Para este autor, há que se atentar para
as desigualdades econômicas e se distribuir os frutos da globalização com mais
justiça.

Há também que se reconhecer a pluralidade cultural que cada vez mais se


expressa no mundo de riscos globais em que vivemos, tanto nos setores
beneficiados pela globalização como nos que ela tem ajudado a marginalizar.

Nossas sociedades contemporâneas são inegavelmente multiculturais.


Nelas, as diferenças derivadas de dinâmicas sociais como classe social, gênero,
etnia, orientação sexual, cultura e religião, expressam-se nas distintas esferas
sociais.

O termo multiculturalismo, todavia, pode indicar diversas ênfases:

a) Atitude a ser desenvolvida em relação à pluralidade cultural.

b) Meta a ser alcançada em um determinado espaço social.


46

c) Estratégia política referente ao reconhecimento da pluralidade cultural.

d) Corpo teórico de conhecimentos que buscam entender a realidade cultural


contemporânea.

e) Caráter atual das sociedades ocidentais (CANEN; MOREIRA, 2001).

É essa última perspectiva, adotada por Kincheloe e Steinberg (1997), que


Moreira (2001) vê como mais apropriada para expressar os complexos fenômenos
culturais contemporâneos. Multiculturalismo representa, em última análise, uma
condição inescapável do mundo ocidental, à qual se pode responder de diferentes
formas, mas não se pode ignorar. Multiculturalismo refere-se à natureza dessa
resposta. Educação multicultural, consequentemente, refere-se à resposta que se
dá, a essa condição, em ambientes educacionais.

Segundo Canen (1998):

 pode-se promover a educação multicultural, para desenvolver sensibilidade


para a pluralidade de valores e universos culturais, decorrente do maior
intercâmbio cultural no interior de cada sociedade e entre diferentes
sociedades;

 pode-se também empregá-la para resgatar valores culturais ameaçados,


visando-se garantir a pluralidade cultural;

 pode-se, ainda, buscar reduzir os preconceitos e as discriminações;

 pode-se, com o auxílio da educação multicultural, destacar a responsabilidade


de todos no esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto.

Como acentuou Beck (2001, p. 4), não sem certo tom de cinismo, “ajudar os
que foram excluídos não é mais uma tarefa humanitária. É do próprio interesse do
Ocidente: a chave de sua segurança”.

Com o apoio da educação multicultural pode-se, por fim, propiciar a


contextualização e a compreensão do processo de construção das diferenças e das
desigualdades, enfatizando-se que elas não são naturais e que, portanto,
resistências são possíveis.

A educação multicultural pode também ser usada, em outro enfoque, para


integrar grupos que contestem valores e práticas dominantes, celebrar
47

manifestações culturais dominantes, garantir a homogeneidade e tentar apagar (ou


esmaecer) as diferenças, bem como evitar que a compreensão da constituição das
diferenças questione hierarquias estabelecidas.

A decisão relativa à resposta a ser dada demanda a explicitação do que está


sendo chamado de diferença.

Com base em McCarthy (1998), Moreira (2001) concebe diferença como o


conjunto de princípios organizadores de seleção, inclusão e exclusão que informam
o modo como mulheres e homens marginalizados são posicionados e constituídos
em teorias sociais dominantes, políticas sociais e agendas políticas. No âmbito da
diferença incluem-se, então, os atos que têm classificado e oprimido indivíduos e
grupos, desautorizando e silenciando suas vozes e histórias.

Diferença refere-se, portanto, mais à distribuição desigual de pessoas na


organização social, decorrente de aspectos que “centralmente” as distinguem, do
que à ideia de grupos e indivíduos distintos partilhando aspectos comuns a uma
única raça - a humana. Nessa perspectiva, a produção da diferença é um processo
social, não algo natural ou inevitável. A diferença pode e deve ser desafiada, em
movimento que vise promover a aceitação do imperativo transcultural proposto por
Santos (1997 apud MOREIRA, 2001): as pessoas têm direito a ser iguais sempre
que a diferença as tornar inferiores; contudo, têm também direito a ser diferentes
sempre que a igualdade colocar em risco suas identidades.

4.4 Currículo, etnia e diversidade cultural

Concordamos com Silva (2011), ao afirmar que dentre as formas através das
quais o racismo aflora em nossa sociedade, as instituições de ensino, sejam elas
escolas da educação básica e/ou instituições de ensino superior, são ambientes nos
quais manifestações de racismo e as várias discriminações, que fazem parte da
cultura da sociedade brasileira acontecem.

Logo, reconhecendo que as ideologias raciais colaboram para a manutenção


de situações de privilégio de um grupo sobre o outro, o Estado brasileiro institui, em
9 de janeiro de 2003, a Lei Federal nº 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB, nº 9.394/96), e torna obrigatório em
48

estabelecimentos de ensino público e privado, o ensino da história e cultura afro-


brasileira e africana, no âmbito de todo o currículo.

A lei convida o currículo para a discussão, direcionando-nos a pensá-lo


como importante ferramenta para o enfrentamento de questões étnico-raciais, na
busca de uma educação antirracista.

Essa lei será discutida em outro momento. Neste, temos a intenção de fazer
alguns comentários iniciais e pontuais sobre o currículo, etnia e diversidade cultural.

Currículo é uma palavra originada do latim Scurrere (correr, refere-se a


curso), o currículo é um curso a ser seguido,

nesta visão, contexto e construções sociais não constituem problema,


porquanto, por implicações etimológicas o poder de ‘definição da realidade’
é posto firmemente na mão daqueles que ‘esboçam’ e definem o curso
(GOODSON, 1995, p. 31).

Essa definição sobreviveu e se fortaleceu por muito tempo.

De acordo com Sacristán (2000, p. 36), a definição de currículo se apresenta


da seguinte forma:

um projeto seletivo de cultura, cultural, social, política e administrativamente


condicionado, que preenche a atividade escolar e que se torna realidade
dentro das condições da escola tal como se acha configurada.

Sacristán (2000, p. 173) diz ainda que o currículo é muitas coisas ao mesmo
tempo: ideias pedagógicas, estruturação de conteúdos de uma forma particular,
detalhamento dos mesmos, reflexo de aspirações educativas mais difíceis de moldar
em termos concretos, estímulo de habilidades nos alunos, entre outras.

O currículo é o centro da ação educativa, pois irá influenciar diretamente a


qualidade do ensino. Sua função inclui delimitar atividades, bem como os conteúdos
a serem desenvolvidos pela escola somando as experiências transmitidas pelos
discentes e docentes envolvidos. Tendo como bases, a sociedade, as políticas, a
escola, o professor e o aluno (FREITAS, 2011).
49

Na atualidade, estudiosos do currículo, sobretudo aqueles filiados às teorias


críticas e pós-críticas, são unânimes em afirmar que o currículo vai para além da
seleção de conhecimentos e informações retiradas do “estoque” da nossa cultura.
Isso significa que além da aplicação dos conteúdos, é importante considerar as
pessoas, suas histórias de vida, referências culturais, o contexto social no qual esse
currículo está inserido e transitando, entre outros.

O currículo que desconsidera a multiplicidade de referências identitárias, e


insiste em uma identidade hegemônica transforma-se em um “dos artefatos
educacionais dos mais iluministas, autoritários e excludentes” (MACEDO, 2008, p.
15) que, perpassado por relações ideologicamente organizadas, funciona para
manter e naturalizar relações sociais desiguais e hierarquizantes.

E é justamente esse formato estruturalista, metafísico e opressor de


currículo, que a lei 10.639/03 ajuda-nos a problematizar (SILVA, 2011).

Ela faz o currículo ser pensando na perspectiva da diversidade e, portanto,


da construção de processos identitários que, por sua vez, ocorrem na convivência e
negociação com o outro, com aquele que é diferente de nós. Incluir as questões
étnico-raciais no currículo é reconhecer a diferença, mais que isso, reconhecer que
somos nós quem fabricamos identidades e diferenças no contexto de relações
culturais e sociais.

Sendo a diversidade do ponto de vista cultural, como a construção histórica,


cultural e social das diferenças, essa construção ultrapassa as características
biológicas e leva a escola a se desafiar!

Em outras palavras, o desafio da escola e dos projetos educativos que


orientam nossa prática está no fato de que, para compreender a cultura de um grupo
ou de um indivíduo que dela faz parte, é necessário olhar a sociedade onde o grupo
ou o indivíduo estão e vivem.

É aqui que as diferenças ganham sentido e expressão como realidade e


definem o papel da alteridade nas relações entre os homens.

Nesse sentido, a dimensão cultural coloca-se como fator que não pode ser
desconsiderada ao tentarmos avançar na garantia da educação escolar como um
direito social e na compreensão da sua relação com o universo simbólico e com o
mundo do trabalho. Ao falar da diversidade étnica, cultural e escolar, estamos dando
50

visibilidade às diferenças dos sujeitos desse espaço, das vivências no processo


sociocultural. Levando em consideração que o processo educativo é complexo e
marcado por variáveis pedagógicas e sociais, esse processo não pode ser analisado
fora da interação dialógica entre escola e vida, considerando o conhecimento e a
cultura (SANTANA; SANTANA; MOREIRA, 2013).

Enfim, a escola deve assumir a diversidade e posicionar-se contra as


diversas formas de dominação, exclusão e discriminação. Como diz Gomes (2007,
p. 41), ela deve entender a educação como um direito social e o respeito à
diversidade no interior de um campo político.

Em se tratando da questão racial no currículo, as mudanças advindas da


obrigatoriedade do ensino de História da África e das culturas afro-brasileiras nos
currículos das escolas da educação básica só poderão ser consideradas como um
dos passos no processo de ruptura epistemológica e cultural na educação brasileira
se esses não forem confundidos com “novos conteúdos escolares a serem
inseridos” ou como mais uma disciplina. Trata-se, na realidade, de uma mudança
estrutural, conceitual, epistemológica e política (GOMES, 2012).
51

UNIDADE 5 – QUILOMBOLAS

5.1 As comunidade quilombolas


As comunidades quilombolas são grupos com identidade cultural própria e se
formaram por meio de um processo histórico que começou nos tempos da
escravidão no Brasil.

As comunidades quilombolas são grupos étnico-raciais, segundo critérios de


auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais
específicas e com ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão
histórica sofrida, conforme Decreto nº 4887/03. Essas comunidades possuem direito
de propriedade de suas terras consagrado desde a Constituição Federal de 1988
(MDS, 2014).

Um levantamento da Fundação Cultural Palmares (FCP) mapeou 3.524


comunidades quilombolas no Brasil. Há outras fontes, no entanto, que estimam
cerca de 5 mil comunidades. Partindo dessa perspectiva, foi criada a Agenda Social
Quilombola (ASQ). O objetivo é articular as ações no âmbito do Governo Federal,
por meio do Programa Brasil Quilombola3 (PBQ).

A ASQ atua em eixos relacionados ao acesso a terra, infraestrutura e


qualidade de vida, inclusão produtiva e desenvolvimento local e direitos de
cidadania. A gestão da ASQ é estruturada a partir do Comitê Gestor Interministerial
e tem caráter deliberativo e executivo composto por Ministérios e Secretarias
Especiais.

No âmbito do PBQ, no que se refere às políticas universais de segurança


alimentar e nutricional, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) estabeleceu
metas de atendimento aos quilombolas no Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e no Programa Cisternas. O objetivo é atender mais de 6 mil famílias.

O MDS também desenvolve projetos-piloto de Cozinhas Comunitárias em


comunidades quilombolas. O projeto irá beneficiar os estados da Bahia, Maranhão,
Minas Gerais, Pará e Pernambuco. Também nessas localidades estão sendo
realizadas capacitações do PAA para que as comunidades que receberem as
Cozinhas apresentem projetos ao programa.
3
Explicado ao final da unidade.
52

Apoia-se ainda a consolidação de Arranjos Produtivos Locais (APL) das


cadeias de produtos da sociobiodiversidade. Esses APLs são direcionados aos
estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Pará por possuírem maior
concentração de famílias quilombolas. Os produtos apoiados são piaçava, babaçu,
castanha, açaí, andiroba e frutos do cerrado.

Além das ações de segurança alimentar e nutricional, o MDS compôs o grupo


de órgãos federais que organizou os Seminários Integrados de Políticas para
Comunidades Quilombolas, nos cinco estados brasileiros com maior concentração
de quilombolas (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Pará). O objetivo foi
fortalecer a implementação do PBQ, com ênfase para o controle social (BRASIL,
2011).

5.2 Como identificar uma pessoa de origem quilombola

As famílias quilombolas têm o direito de serem corretamente identificadas no


Formulário Principal do Cadastro Único, por meio de campo específico e isso é muito
importante porque pela identificação se possibilita sua seleção para programas
sociais.

É considerada quilombola aquela pessoa que se autodetermina pertencente a


esse grupo, sendo um processo de reflexão da pessoa que pertence a um grupo
historicamente constituído e que reivindica sua identidade como membro do grupo.

Dentre as denominações dadas às áreas onde residem estes grupos, temos:


quilombo, terra de preto, mocambos, terra de santo e comunidades negras rurais.

O termo quilombola além de garantido pela Constituição Federal – CF/88, é


reconhecido pelos Decretos nº 4887/03 e 6040/07 e por tratados internacionais de
direitos humanos ratificados pelo Brasil.

5.3 Identificando a terra e localizando comunidades quilombolas

A estes grupos é garantido o direito à terra, o que significa garantir a


existência das comunidades e de sua cultura, uma vez que elas têm forte ligação
com seu território. A posse desse território é coletiva e isso quer dizer que qualquer
título de posse emitido por órgão competente é em nome da comunidade.
53

Compreende as seguintes etapas: identificação, reconhecimento, delimitação,


demarcação e titulação. O processo é longo e a responsabilidade de organizar e
fiscalizar os procedimentos para titulação do território quilombola está a cargo do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), órgão pertencente ao
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

A estimativa atual do MDS aponta a existência de aproximadamente 100 mil


famílias quilombolas vivendo em cerca de 3 mil comunidades distribuídas em todas
as regiões do Brasil.

O gestor municipal pode contribuir com o mapa brasileiro, constatando por


meio de visitas domiciliares, a existência de comunidades quilombolas no seu
município.

5.4 As dificuldades encontradas pelos municípios para cadastrar famílias


quilombolas

Dentre as dificuldades encontradas temos:

 desconhecimento a respeito do que são comunidades quilombolas;

 desconhecimento sobre a localização das comunidades quilombolas;

 dificuldade de acesso às comunidades devido a distância destas das sedes


dos municípios e às características geográficas da região;

 conflitos fundiários que podem interferir no contato com as comunidades;

 falta de documentação civil básica por parte das famílias quilombolas.

5.5 O Programa Brasil Quilombola (PBQ)

O Programa Brasil Quilombola (PBQ) reúne ações do Governo Federal para


as comunidades remanescentes de quilombos. A SEPPIR, para fins de aplicação do
PBQ, considera o levantamento da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da
Cultura, que mapeou 3.524 dessas comunidades – dentre as quais 1.342 são
certificadas pela Fundação.

Porque falamos tanto da questão do cadastro das comunidades quilombolas,


alguns devem estar se perguntando?
54

A resposta é simples: é por meio desse programa (PBQ) que as metas e


recursos envolvendo 23 ministérios e órgãos federais poderão ser atingidas. Elas
são:

 garantia do acesso à terra;

 ações de saúde e educação;

 construção de moradias, eletrificação;

 recuperação ambiental;

 incentivo ao desenvolvimento local;

 pleno atendimento das famílias quilombolas pelos programas sociais, como o


Bolsa Família; e,

 medidas de preservação e promoção das manifestações culturais


quilombolas.

O Programa já realizou as seguintes ações:

a) Regularização fundiária – desde 2005, 81 Relatórios Técnicos de


Identificação e Delimitação (RTDIs) foram publicados, totalizando uma área de 516
mil hectares e beneficiando 10.625 famílias quilombolas. No mesmo período outras
3.755 famílias foram beneficiadas por meio da publicação de 40 portarias de
reconhecimento, totalizando 216 mil hectares reconhecidos.

b) Certificação – entre 2004 e 2008, 1.342 comunidades foram certificadas


como remanescentes de quilombos pela Fundação Cultural Palmares.

c) Luz para Todos – o programa de eletrificação coordenado pelo Ministério


das Minas e Energia chegou à marca de 19.821 domicílios atendidos em áreas
quilombolas, investindo R$ 99 milhões no período entre 2004 e 2008.

d) Bolsa Família – o programa de renda mínima, sob a responsabilidade do


MDS, alcançou 19 mil famílias quilombolas ao final de 2008.

e) Desenvolvimento local – projetos de desenvolvimento local, fruto de


parcerias entre SEPPIR, Eletrobrás, Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Fundação
Universidade de Brasília e MDS destinaram R$ 13 milhões a projetos de
desenvolvimento econômico sustentável em comunidades quilombolas de oito
estados brasileiros.
55

f) Desenvolvimento agrário – através do Programa Territórios da Cidadania,


o Ministério do Desenvolvimento Agrário destinou em 2008 R$ 82 milhões para
ações específicas de desenvolvimento regional e garantia de direitos sociais em
comunidades quilombolas. Também em 2008, outros 12 projetos de
desenvolvimento agrário foram apoiados com R$ 1.9 milhão, beneficiando 59
comunidades em nove estados (http://www.seppir.gov.br/acoes/pbq).

Quanto às questões educacionais, sabemos e os quilombolas sabem melhor


que nós, que eles enquanto grupos excluídos que nunca tiveram seus valores
culturais e socioambientais ressaltados, encontram nos programas governamentais
um caminho para a promoção de sua cultura.

Na Primeira Conferência Estadual de Educação para as relações Étnico-


Raciais – debate gestão democrática e desafios de escolas para indígenas e
quilombolas (2013), Luiz Marcos de França Dias, professor da comunidade
quilombola de São Pedro, no Vale do Ribeira, salientou a importância da educação
familiar no contexto da educação quilombola, uma vez que considera ser
fundamental valorizar os saberes apreendidos com a família, em casa. “O aluno
precisa manter seu idioma, seu dialeto. Não se trata de esquecer física, química ou
inglês”, pontuou. “O ‘e’ que deve ser ensinado na escola quilombola não é o ‘e’ de
elefante, mas o ‘e’ de enxada, instrumento que seu pai utiliza todo dia para trabalhar
na roça”, finalizou.

A Educação Escolar Quilombola, além de contar com os aspectos


normativos que regem a educação brasileira, deverá incluir em seus currículos

a conceituação de quilombo; a articulação entre terra e território; os avanços


e os limites do direito dos quilombolas na legislação brasileira; a memória; a
oralidade; o trabalho e a cultura (BRASIL, 2011, p. 8).

O Parecer do CNE/CEB nº 7/2010 define a Educação Escolar Quilombola


como modalidade da educação escolar e institui que deve ser desenvolvida em [...]
unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia
56

própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação


específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base
nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. Na
estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e
valorizada sua diversidade cultural (BRASIL, 2011).
57

UNIDADE 6 – POPULAÇÕES INDÍGENAS

O termo “índio” foi usado como designação genérica para as populações que
habitavam a América quando os europeus chegaram. Foi um nome atribuído pelos
colonizadores e não existia nenhum povo com essa autodenominação habitando o
território que viria a se chamar Brasil. Hoje esses povos têm consciência de que
compartilham uma história comum e vêm se organizando e atuando de forma
conjunta, sem, contudo, deixarem de lado suas especificidades étnicas. Ser
Kaingang, Tikuna, Tapeba ou Makuxi tem significado concreto diferente, pois implica
participar de culturas distintas. Porém, significa também compartilhar uma condição
comum: a de povos indígenas (BRASIL, 2010, p. 8).

6.1 A realidade, os direitos dos povos indígenas no Brasil e as Terras


Indígenas (TIs)

Os povos indígenas têm direitos específicos garantidos pela CF/88 (Capítulo


VIII – Dos Índios, artigos 231 e 232) e legislações complementares. Elas
reconhecem que esses povos possuem organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições. Expressam-se em suas línguas maternas e processos próprios
de aprendizagem, bem como são reconhecidos seus direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam.

Além da legislação nacional, dentre outros instrumentos importantes para a


garantia dos direitos indígenas temos a Convenção nº 169/89 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT).

Para garantir tais direitos, vários órgãos executam ações junto aos povos
indígenas:

a) FUNAI – Fundação Nacional do Índio – responsável por coordenar a


política indigenista do Estado Brasileiro, desenvolvendo ações referentes à
demarcação de terras indígenas, promoção e proteção social e desenvolvimento
comunitário.

b) FUNASA – Fundação Nacional de Saúde – responsável pela saúde dos


povos indígenas.
58

c) MEC – Ministério da Educação e Cultura – coordenador da política de


educação escolar voltada aos povos indígenas, em regime de colaboração com os
estados e municípios.

d) MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome –


desenvolve ações visando à superação de situações de insegurança alimentar e
nutricional e vulnerabilidade social da população brasileira em geral e promove
ações específicas junto aos povos indígenas.

No Censo 2010, o IBGE aprimorou a investigação sobre a população


indígena no país, averiguando o pertencimento étnico e introduzindo critérios de
identificação internacionalmente reconhecidos, como a língua falada no domicílio e a
localização geográfica. Foram coletadas informações tanto da população residente
nas terras indígenas (fossem indígenas declarados ou não) quanto indígenas
declarados fora delas. Ao todo, foram registrados 896,9 mil indígenas, 36,2% em
área urbana e 63,8% na área rural. O total inclui os 817,9 mil indígenas declarados
no quesito cor ou raça do Censo 2010 (e que servem de base de comparações com
os Censos de 1991 e 2000) e também as 78,9 mil pessoas que residiam em terras
indígenas e se declararam de outra cor ou raça (principalmente pardos, 67,5%), mas
se consideravam “indígenas” de acordo com aspectos como tradições, costumes,
cultura e antepassados.

Também foram identificadas 505 terras indígenas, cujo processo de


identificação teve a parceria da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) no
aperfeiçoamento da cartografia.

Essas terras representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de


hectares), onde residiam 517,4 mil indígenas (57,7% do total). Apenas seis terras
tinham mais de 10 mil indígenas, 107 tinham entre mais de mil e 10 mil, 291 tinham
entre mais de cem e mil e em 83 residiam até cem indígenas. A terra com maior
população indígena é Yanomami, no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil
indígenas.

Foi observado equilíbrio entre os sexos para o total de indígenas (100,5


homens para cada 100 mulheres), com mais mulheres nas áreas urbanas e mais
homens nas rurais. Porém, percebe-se um declínio no predomínio masculino nas
59

áreas rurais entre 1991 e 2010, especialmente no Sudeste (de 117,5 para 106,9)
Norte (de 113,2 para 108,1) e Centro-Oeste (de 107,4 para 103,4).

O Censo 2010 investigou pela primeira vez o número de etnias indígenas


(comunidades definidas por afinidades linguísticas, culturais e sociais), encontrando
305 etnias, das quais a maior é a Tikúna, com 6,8% da população indígena.
Também foram identificadas 274 línguas indígenas. Dos indígenas com 5 anos ou
mais de idade 37,4% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português.

Mesmo com uma taxa de alfabetização mais alta que em 2000, a população
indígena ainda tem nível educacional mais baixo que o da população não indígena,
especialmente na área rural. Nas terras indígenas, nos grupos etários acima dos 50
anos, a taxa de analfabetismo é superior à de alfabetização.

Entre os indígenas, 6,2% não tinham nenhum tipo de registro de nascimento,


mas 67,8% eram registrados em cartório. Entre as crianças indígenas nas áreas
urbanas, as taxas são próximas às da população em geral, ambas acima dos 90%.

A análise de rendimentos comprovou a necessidade de se ter um olhar


diferenciado sobre os indígenas: 52,9% deles não tinham qualquer tipo de
rendimento, proporção ainda maior nas áreas rurais (65,7%); porém, vários fatores
dificultam a obtenção de informações sobre o rendimento dos trabalhadores
indígenas: muitos trabalhos são feitos coletivamente, lazer e trabalho não são
facilmente separáveis e a relação com a terra tem enorme significado, sem a noção
de propriedade privada.

Em 2010, 83,0% das pessoas indígenas de 10 anos ou mais de idade


recebiam até um salário mínimo ou não tinham rendimentos, sendo o maior
percentual encontrado na região Norte (92,6%), onde 25,7% ganhavam até um
salário mínimo e 66,9% eram sem rendimento. Em todo o país, 1,5% da população
indígena com 10 anos ou mais de idade ganhava mais de cinco salários mínimos,
percentual que caía para 0,2% nas terras indígenas.

Somente 12,6% dos domicílios eram do tipo “oca ou maloca”, enquanto que,
no restante, predominava o tipo “casa”. Mesmo nas terras indígenas, ocas e
malocas não eram muito comuns: em apenas 2,9% das terras, todos os domicílios
eram desse tipo e, em 58,7% das terras, elas não foram observadas (IBGE, 2012).
60

6.2 Proteção social – direito dos povos indígenas

Os povos indígenas devem ser atendidos por meio de políticas de proteção


social, mas de forma diferenciada. O maior desafio para o atendimento às famílias
indígenas é garantir os seus direitos por meio de ações que respeitam as diferenças
e especificidades culturais de cada povo.

Seus direitos são de natureza coletiva. Assim, qualquer decisão que tenha
impacto na comunidade deve ser tomada com a participação de todos, inclusive
lideranças tradicionais e comunitárias, homens, mulheres, jovens e crianças.

6.3 O Cadastramento das famílias indígenas

O Cadastro Único é uma ferramenta de identificação e caracterização das


famílias brasileiras de baixa renda que:

 tenham rendimento mensal de até meio salário mínimo por pessoa; ou,

 toda família receba até três salários mínimos.

Ele é usado para seleção de beneficiários e integração de programas sociais


do Governo Federal.

Constitui-se de uma base de dados, formulários, procedimentos e sistemas


eletrônicos, sendo que suas informações podem ser usadas pelos governos
municipais, estaduais e federal para obter um perfil socioeconômico das famílias
cadastradas.

A questão do cadastramento das famílias indígenas não é privilégio, mas sim,


o fato de muitas passarem por situações de insegurança alimentar e nutricional e
vulnerabilidade social que tem suas origens no passado colonial da sociedade
brasileira. Superar esse quadro exige participação direta do Estado Brasileiro, por
meio da colaboração entre Governo Federal, estaduais, municipais e sociedade civil
organizada.

Isso não quer dizer que todas as famílias devam ser cadastradas, somente
aquelas que possam pelas dificuldades faladas acima. Para tanto é preciso
conhecer a realidade desses povos, como estão organizados, divididos os grupos
familiares, quais suas atividades produtivas e como estão inseridos no mercado de
consumo.
61

Como possuem hábitos alimentares e formas de viver diferentes do restante


da população brasileira, é importante saber como vivem e quais seus projetos de
futuro antes do cadastramento de inclusão.

As situações em que devem ser cadastradas são:

1. Grupo em situação de insegurança alimentar e nutricional, ou seja, não ter a


alimentação diária garantida.

2. Apresentar altos índices de desnutrição e mortalidade infantil.

3. Apresentar altos índices de problemas de saúde entre jovens, adultos e


idosos.

4. Impossibilidade de desenvolver atividades autossustentáveis e/ou de


desenvolvimento comunitário local.

5. Adesão espontânea do povo indígena a programas sociais e avaliação


positiva do grupo quanto às condições para recebimento dos benefícios
sociais, como os de transferência de renda.

Pode-se concluir que o cadastramento é recomendável para famílias


indígenas que necessitam de políticas públicas para sua sobrevivência física e
cultural.

Conhecendo a quantidade, a localização e as necessidades socioeconômicas


dessas famílias, é possível contribuir para a elaboração de políticas públicas e
programas sociais específicos (BRASIL, 2010).
62

Vejamos os quadros do IBGE.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.


63

Reservas Indígenas

UF MUNICÍPIO RESERVA INDÍGENA


AC Mancio Lima Reserva Indígena Payanawa Barão Ipiranga
AP Oiapoque Reserva Indígena do Uaçá
GO Aruanã Reserva Indígena de Buridina
MG Bertópolis Reserva Indígena Maxakali
MG São João das Missões Reserva Indígena Xacriaba Barreiro Preto
MS Caarapó Reserva Indígena Te Ýikue
MS Dourados Reserva Indígena Dourados
MS Ponta Porã Reserva Indígena Kokuey
MT Água Boa Reserva Indígena Areões
MT Barra do Garça Reserva Indígena São Marcos
MT Paranatinga Reserva Indígena Bakairi
MT Peixoto de Azevedo Reserva Indígena do Xingu
MT Porto Espiridião Reserva Indígena Chiquitano
MT Bom Jesus do Tocantins Reserva Indígena Mãe Maria BR222Km25
PA Pau D`Arco Reserva Indígena Kayapó
PA São Félix do Xingu Reserva Indígena Kayapó Aldeia Moxkarakô
PA Tomé-Açu Reserva Indígena Tembé Mariquita
PR Diamante D`Oeste Reserva Indígena Itamara
PR Mangueirinha Reserva Indígena
RO Porto Velho Reserva Indígena Kaxarari Aldeia Pedreira
RS Planalto Reserva Indígena de Pinhalzinho
SC Ipuaçu Reserva Indígena Xapecó
SC José Boiteux Reserva Indígena Bugiu
SC José Boiteux Reserva Indígena Aldeia Toldo

Fonte: MEC – EducaCenso (2009).


64

UNIDADE 7 – REVISITANDO A HISTÓRIA DAS RELIGIÕES


AFRICANAS

7.1 A religião na África

De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005, p. 97), são três as


religiões que dominam a África moderna: o cristianismo que se encontra, sobretudo
no sul e ao longo dos litorais leste e oeste. O centro do islã fica na África setentrional
árabe, mas historicamente essa religião sempre teve penetração também ao sul do
Saara. Há, por fim, as religiões primais, ou tribais, ou tradicionais, as mais difundidas
antes da invasão cultural ocidental e árabe. Na África moderna, a estrutura
tradicional baseada na aldeia está desaparecendo e, juntamente com ela, o
fundamento das antigas religiões, que era a vida familiar e tribal.

Segundo os autores acima, as religiões africanas tradicionais são pouco


conhecidas, pois, não existem registros a respeito dos ritos e manifestações,
apenas, relatos de observações europeus que são tanto os colonizadores como
missionários. Logo, é um conhecimento que vem de fora, que está vendo através de
outra cultura como pano de fundo, no caso à europeia.

Mesmo com o passar do tempo, antropólogos e etnólogos passaram a fazer


os registros, porém, também da mesma maneira, a religião é conhecida por um olhar
de fora, estrangeiro.

De acordo com os autores, uma fonte de conhecimento sobre as religiões


africanas são os mitos que sobreviveram por meio da tradição oral, mas também se
deve considerar que o conteúdo das histórias contadas pode ter se alterado ao
longo das gerações. As religiões primais, assim como todas as outras, são
influenciadas por fatores externos, e muitas adotaram elementos do islã ou do
cristianismo. Uma característica das religiões africanas mais recentes são os
milhares de movimentos sincretistas que surgiram em torno das missões cristãs. Ao
agrupar as religiões africanas sob um só rótulo, deve-se ter em mente que seu
número equivale ao de povos existentes na África. Cada uma tem seu próprio nome
para Deus, seus próprios rituais de culto, suas idiossincrasias. Por outro lado, elas
apresentam também muitos traços em comum, pois os africanos não viveram uma
existência estática, isolada. Sua história fala de diversas migrações, dos contatos
65

que cruzaram as divisões tribais e da formação de grandes Estados. É necessário


notar ainda que a maioria dos africanos não urbanos são agricultores e criadores de
gado. Há apenas alguns grupos de caçadores-coletores.

O termo tribo, segundo os autores, é de suma importância para


entendimento da religião entre os povos africanos, isto pelo fato de que tribo ou clã é
a família do africano, logo, o respeito por este coletivo é mais importante do que pelo
indivíduo.

Os descendentes aprendem desde tenra idade a respeitar e honrar o espírito


do ancestral, e, com as observações feitas, as crianças aprendem os costumes e
seguem como uma nova geração para perpetuar as tradições da tribo – clã.

Como apontam os autores: o dever dos vivos é assegurar a preservação


dessa organização da sociedade, o que se consegue obedecendo cuidadosamente
a todas as regras e, acima de tudo, fazendo sacrifícios aos espíritos dos ancestrais
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005).

Nessas tribos africanas, o maior infortúnio que pode ocorrer com um


indivíduo pertencente ao grupo é o fato desta pessoa não poder gerar um
descendente, pois, a família também é composta por aqueles ainda não nascidos.
No caso, os descendentes.

O chefe tribal é uma pessoa mítica e responsável por várias decisões


importantes que devem ser tomadas à frente de seu grupo, assim, o chefe ou o rei é
um guardião, um líder da justiça, enfim, lhe cabem vários comandos e, como
apontam os autores: o motivo pelo qual o rei acumula todas essas diferentes
funções é que não há uma demarcação clara entre política, religião, lei e moral.
Cada uma dessas formas é parte do princípio – o costume – sobre o qual aquela
sociedade tribal está construída.

Nas religiões africanas, existe a crença num deus supremo, que, embora
haja muitos nomes para este deus, este é associado ao céu e a ele são convertidos
os rituais a fim de pedir pela fertilidade da terra. De modo geral, as pessoas não
recorrem a este deus, apenas em último caso, mas sim recorrem no seu cotidiano a
deuses e espíritos menores.

Assim, Gaarder, Hellern e Notaker (2005, p. 100) dizem que esses outros
deuses, forças e espíritos se encontram nas florestas, nas planícies e nas
66

montanhas, nos rios e nos lagos. São intimamente associados a fenômenos naturais
distintos: o raio e o trovão, as grandes cachoeiras, uma primavera quente, alguma
árvore enorme ou uma rocha com formato estranho. A religião ganda, praticada pelo
povo Baganda, de Uganda, tem um deus supremo chamado Katonda, porém o culto
mais importante se dirige a uma constelação de divindades menores. Uma delas é o
deus da água, Mukasa, o qual governa a fertilidade e a saúde. Há ainda o deus da
guerra, Kibuka, que no passado exigia sacrifícios humanos. Também é costumeiro
tratar os espíritos dos mortos com respeito; o culto aos antepassados é um dos
aspectos mais típicos da religião africana.

É importante dizer que os africanos em sua concepção de religião, não


possuem divisão entre corpo e alma, o que significa que não acreditam que a alma
sobreviva, segundo eles, os mortos são capazes de estar em vários lugares ao
mesmo tempo: no túmulo, no mundo dos mortos ou em fenômenos próximos ao
homem.

Segundo os autores: o culto aos antepassados é uma expressão que implica


interação entre os vivos e os mortos. Os vivos obtêm força e socorro de seus
ancestrais; ao mesmo tempo, os mortos dependem das oferendas de seus
descendentes: é por meio desses sacrifícios que adquirem sua força e potência. Se
não receberem oferendas, irão “morrer”, isto é, cessar completamente de existir
(GAARDER; HELLERN; NOTAKER, 2005, p.101).

Embora, fazer um sacrifício a um ancestral não seja uma tarefa difícil, muito
pelo contrário, trata-se de algo aparentemente simples como levar um prato de
comida, flores ao túmulo como oferendas, é o chefe da família que costuma fazer
oferendas a nível maior no sentido de oferenda coletiva como algo para o bem de
sua família.

Assim como é o chefe da família que faz as oferendas coletivas, é ele o


responsável também por fazer as homenagens aos chefes já falecidos, no caso, é
uma honra pra este homem de família poder fazer o ritual de homenagem aos
velhos chefes da tribo – família.

Apesar de haver a figura do chefe ou rei que inclui as funções de um


sacerdote no grupo em que ele está inserido, existem outros especialistas religiosos
como curandeiros, adivinhos, oráculos, profetas e magos fazedores de chuva.
67

7.2 As religiões afro-brasileiras

Além de um grupo de matriz cristã como o catolicismo e protestantismo,


existe no Brasil ainda um grupo que se destaca pela posição que ocupa da cultura
brasileira que é o grupo das religiões afro-brasileiras (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2005).

De acordo com os autores, os cultos afro-brasileiros são assim chamados


por causa da origem de seus principais portadores, os escravos traficados da África
para o Brasil, mas também porque até meados do século XX funcionavam
exclusivamente como ritos de preservação do estoque cultural dos diferentes grupos
étnicos negros que compunham a população dos antigos escravos e seus
descendentes. Até hoje essas religiões são reconhecidas pelas lideranças do
Movimento Negro como religiões negras, autênticas expressões culturais da
negritude, embora seja cada vez maior o número de brancos, e até mesmo de
descendentes de japoneses e coreanos, que estão aderindo ao candomblé e, mais
ainda, à umbanda.

Ainda segundo os autores, os negros escravos com o final da escravidão,


foram assentados nas cidades, nas quais eles puderam vivenciar uma “pseudo”
liberdade, ao menos suficiente para se organizarem em grupos e vivenciarem suas
crenças conjuntamente.

Como não é o intuito aqui aprofundar na discussão das várias religiões


negras, vamos nos deter a apenas duas, as mais conhecidas: Candomblé e a
Umbanda.

O Candomblé, não é uma religião que se aproxima do cristianismo, isto


devido a ela possuir diferenças que a afasta dos princípios básicos da primeira. O
candomblé não é uma religião ética, como o cristianismo. É uma religião mágica e
ritual. Nas religiões mágicas não há ideia de salvação de corrupção do pecado, não
há espaço para a negação deste mundo terreno em prol da busca necessária de um
“outro mundo”, de uma vida eterna no Além. No candomblé o que se busca é a
interferência concreta do sobrenatural “neste mundo” presente, mediante a
manipulação de forças sagradas, a invocação das potências divinas e os sacrifícios
oferecidos às diferentes divindades, os chamados orixás. O candomblé, portanto,
como todas as outras religiões afro-brasileiras, acredita na existência de uma
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pluralidade de deuses, com diferentes poderes e diferentes funções na vida humana,


além de diferentes exigências a seus adeptos. (GAARDER; HELLERN; NOTAKER,
2005, p. 312-313).

O mais interessante das religiões afro-brasileiras é o caráter não ético como


o existe no cristianismo, permite que seus deuses sejam totalmente desprovidos de
moralidade, isto permite que não haja um julgamento por parte dessas religiões de
cunho punitivo, censura ou mesmo de controle do sujeito. Logo, este talvez seja um
dos maiores atrativos destas religiões africanas brasileiras.

Os orixás não são divindades moralistas, que exigem e recompensam que é


bom, ou condenam e castigam quem faz o mal. Diferentemente das grandes
religiões mundiais surgidas da palavra e da ação extraordinária de grandes
personalidades proféticas, religiões moralizadoras cuja mensagem visa
regulamentar princípios éticos gerais e sanções morais bem definidas a conduta
cotidiana dos seguidores, e diferentemente sobretudo do cristianismo, com a sua
noção de pecado individual e seu ideal de uma vida santificada no arrependimento
sincero dos pecados, a ênfase do candomblé é ritual (GAARDER; HELLERN;
NOTAKER, 2005, p. 313).

Como no Candomblé, cada um é responsável pela ligação com seu deus


pessoal, não há uma relação de pecado até porque o pecado não é como em outras
religiões onde existe uma regra, norma de conduta da carne para servir para um
coletivo.

Neste sentido, a relação é de cada sujeito com seu orixá, o que estabelece
uma relação de pessoalidade na qual, o próprio indivíduo vai descobrindo o que é
pecado ou não, já que para cada orixá essa noção é relativa. O que para um é
pecado para outro já não é.

De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2005, p. 314), os orixás vieram


da África com os escravos. Só que, enquanto na África há registro de culto a cerca
de quatrocentos orixás, apenas uns vinte deles sobreviveram no Brasil. A cada orixá
cabe reger e controlar as forças da natureza assim como certos aspectos da vida
humana e social.
69

A pessoa que segue um orixá costuma se identificar e tentar ser o mais


próximo possível de sua representação, tanto em vestimenta quanto em
personalidade e traços.

A umbanda, segundo os autores, surgiu na década de 1920, no Rio de


Janeiro. E quando em seguida começou a aparecer aqui e ali, nas décadas de 30 e
40, desde logo se propagando no tecido urbano do Brasil, pelas cidades mais
desenvolvidas da região mais desenvolvida, o Sudeste, especialmente na cidade
mais visível do Brasil – o Rio de Janeiro, então Capital Federal –, a umbanda se
comportou como uma “religião universal”.

Um dado interessante a ser falado a respeito desta religião, é que ela


prefere pensar suas raízes como sendo “brasileiras” e não “africanas”. Ela é afro,
porém, um afro-brasileira.

Como ela é uma religião nascida no Brasil, ela se considera uma religião
brasileira por excelência e não é para menos já que ela se configura como uma
religião totalmente sincrética.

Nascida no Brasil, a umbanda pode ser chamada de religião brasileira


primeiro por esse fato. Mas a umbanda também pode ser dita “religião brasileira”
porque é a resultante de um encontro histórico único, que só se deu no Brasil: o
encontro cultural de diversas crenças e tradições religiosas africanas com as formas
populares de catolicismo, mais o sincretismo hindu-cristão trazido pelo espiritismo
kardecista de origem europeia. Eis aí a umbanda, um sincretismo religioso
originalmente brasileiro.

Conhecer um pouco da cultura religiosa africana nos ajuda a compreender


também muito das religiões africanas no Brasil e, como estas religiões são em
muitas das vezes, invisibilizadas sendo alvos de críticas e exclusão pelas pessoas
por desconhecimento, por achar que se trata de macumba, logo, se trata de uma
intolerância religiosa 4para com outro povo, outra cultura.

No Brasil, as religiões de matriz africanas não possuem apoio, e os que


praticam as religiões são vistos com desdém, com desconfiança e, logo, são
estereotipados e são atacados pelo fato de existir um mercado religioso, no qual,
4
Um debate interessante sobre a intolerância religiosa pode ser visto e ouvido no programa Sala
Debate do canal futura, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=9IQvxqvJzjM e
http://www.youtube.com/watch?v=vOjlM_qkUvk acesso em 12 out de 2014.
70

cada liderança tenta angariar novos fieis para suas igrejas e neste contexto, parece
valer os ataques infundados sobre as religiões brasileiras de matriz africana.

A disputa religiosa no Brasil vem por parte de grandes religiões


institucionalizadas no país, do cristianismo no começo e agora mais fortemente
ainda com os evangélicos.

Não é novidade que a expansão das religiões evangélicas no Brasil, de


forma inclusive desenfreada, ocupando todos os cantos vagos em bairros, periferias,
entre outros, muito devido a uma falta de planejamento do espaço público, uma falta
de investimento em parques, museus, e outros espaços públicos para
entretenimento, fazendo com que as igrejas evangélicas se espalhem
desenfreadamente e se transformem em entretenimentos muitas das vezes, únicos
espaços como encontro de fiéis, cooptados pelo discurso de salvação em detrimento
de qualquer outra relação de cuidado com o público existente naquele espaço.
Tampouco respeitando qualquer outra crença que venha a coexistir no mesmo
território.
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