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Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais

Disciplina: Teoria Antropológica


Professora: Elizabeth Pissolato
Aluna: Júlia Pessôa Varges

Marshall Sahlins, cultura e razão simbólica: a estrutura na história

Nos fragmentos propostos para esta seção, Sahlins (2003; 2003) critica o modo
como são pensadas, na Antropologia, as relações entre cultura e história por intermédio
de contrastes binários: passado e presente; estático e dinâmico, etc. Logo na Introdução
de “Ilhas de História” (2003, p.7), nas primeiríssimas linhas, o autor já rompe com esta
l[ógica de pensamento, afirmando que “a história é ordenada culturalmente de diferentes
modos nas diversas sociedades” e que “o contrário também é verdadeiro”.
Utilizando a noção de Geertz de evento, que seria uma atualização única de um
fenômeno geral, uma realização contingente do padrão cultural, Sahlins vai traçando a
relação entre cultura e história, postulando que os homens repensam seus esquemas
convencionais criativamente. Segundo ele (SAHLINS, 2003,p. 7), é justamente nesses
termos que a cultura é alterada historicamente na ação. Neste processo, a alteração de
alguns sentidos muda a relação de posição entre as categorias culturais, havendo assim
uma mudança sistêmica, isto é, na estrutura, que ele define como “as relações simbólicas
de ordem cultural” (SAHLINS, 2003, p.8). Para Sahlins, a própria noção de estrutura é
um objeto histórico, e o autor é enfático ao dizer que tal afirmação cancela mais um
binarismo que se tornou chave do pensamento antropológico: oposição clássica, segundo
ele, entre “estrutura” e “história” (SAHLINS, 2003, p.8).
Sahlins também busca desconstruir a visão de que questões históricas são tão
“exóticas” (2003, p.9) quanto parecem, afirmando que o mesmo tipo de mudança cultural,
“induzido por forças externas, mas orquestrado de modo nativo “vem ocorrendo há
milênios” (2003, p.9)”, o que vai de encontro à perspectiva evolucionista com que se
estuda a história. Ainda dentro desta perspectiva, ele afirma que “A história é construída
da mesma maneira geral tanto no interior de uma sociedade, quanto entre sociedades”
(2003, p.9).
A questão central da obra, como aponta o próprio autor, é “ a existência e interação
dual entre a ordem cultural enquanto constituída na sociedade e enquanto vivenciada
pelas pessoas”, a estrutura na convenção e na ação, enquanto virtualidade e realidade
(SAHLINS, 2003, p.9). Neste processo, interessa a Sahlins compreender a sociedade em
seus projetos práticos e em seus arranjos sociais, informados por significados de coisas e
de pessoas, submetendo as categorias culturais a riscos empíricos. Na medida em que o
simbólico é pragmático, o sistema é própria a síntese da reprodução e da variação, numa
perspectiva em que estrutura e história, como mencionamos, não se situam em polos
postos.
Pode-se dizer que, tanto em “Ilhas de História” quanto em “Cultura e Razão
Prática”, Sahlins questiona a visão estratificada e essencialista inerente a parte da
construção do pensamento antropológico. Desta forma, ao pensar sobre a cultura, o autor
afirma que (2003, p.9) se ela for, “como querem os antropólogos, uma ordem de
significação, mesmo assim os significados são colocados em risco na ação”. Assim, as
coisas não apenas teriam uma razão própria, independentemente do que as pessoas
possam fazer com elas, mas também são elas inevitavelmente desproporcionais aos
sentidos dos signos pelos quais essas coisas são apreendidas. Assim, afirma Sahlins, as
coisas são contextualmente mais particulares e potencialmente mais gerais que os signos
e o são por serem, os signos, classes de significados, não estando restritos como conceitos
a um referente particular. As coisas são relacionadas a seus signos enquanto problemas
empíricos para os tipos culturais. Desta forma, ele afirma categoricamente, quebrando
mais um binarismo clássico da antropologia, a oposição entre natureza e cultura, que

a cultura é uma aposta feita com a natureza durante a qual voluntária ou


involuntariamente – para parafrasear Marc Bloch – os nomes antigos, que
estão na boca de todos, adquirem novas conotações, muito distantes de
seus sentidos originais. Esse é um dos processos históricos que chamarei
de ‘a reavaliação funcional de categorias’ ( SAHLINS, 2003, p.9).

Ainda no que tange à relação entre história e cultura, Sahlins, em “Cultura e Razão
Prática”, faz “uma crítica antropológica da ideia de que as culturas humanaas são
formuladas a partir da atividade prática e do interesse utilitário” (2003, meio digital). Para
tal, ele confronta o que ao longo do livro ele chama de “teorias da práxis” ou “teorias da
utilidade”. Assim, o debate abarca, de um lado, as discussões entre o marxismo, sobretudo
no que ficou conhecido como materialismo histórico; e, de outro, os dois estruturalismos
antropológicos, o francês e o inglês.
Para o autor, tanto o marxismo quanto o estruturalismo são modelos teóricos
insuficientes por estabelecerem esferas determinantes para as relações sociais: as relações
de produção para o primeiro e as de parentesco para o estruturalismo inglês, ambas noções
consideradas como sendo de base para todas as outras relações. Sahlins, ao contrário,
pontua que os fatos econômicos estão imbricados por outros aspectos sociais. Do
confronto entre o marxismo e o estruturalismo francês, Sahlins retira o embrião, para uma
afirmação posterior, de que a produção econômica é determinada por uma esfera
simbólica, tomando a cultura por um sistema de significação que é estruturante, mesmo
num contexto em que, segundo ele aponta, “tudo no capitalismo conspira para esconder
a ordem simbólica do sistema” (SAHLINS, 2003, meio digital).

Como um corolário específico, nenhuma forma cultural pode ser


interpretada a partir de um grupo de “forças materiais”, como se o
cultural fosse a variável dependente de uma inevitável lógica prática
cultural, não simplesmente mediando a relação humana com o mundo
através de uma lógica social de significação, mas compreendendo através
daquele esquema os termos objetivo e subjetivo relevantes da relação
(SAHLINS, 2003, meio digital)

Por fim, na conclusão, Sahlins aponta que os aspectos materiais não são separados
dos sociais de maneira satisfatória; como se os primeiros se referissem à satisfação de
necessidades pela exploração da natureza e os últimos aos problemas da relação entre os
homens. Segundo ele, as noções de utilidade, valor e função são sempre relativas as um
esquema cultural. Neste sentido, aponta o autor, “não há outra lógica no sentido de uma
ordem significativa, a não ser aquela imposta pela cultura sobre o processo cultural”
(SAHLINS, 2003, meio digital).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SAHLINS, Marshall. 2003 [1976]. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed.
SAHLINS, Marshall. 2003 [1976]. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed

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Saoh l i n s , t a n t o o

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