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O qe Exatamente É

“Racismo”?
Llewellyn H. Rockwell, Jr.
Tradução: Fernando Chiocca
G
ostaria de analisar duas palavras que o
estado e seus parasitas empregaram com
muito sucesso obtendo aumentos no poder do
governo. Uma é racismo. A outra é igualdade.
O que exatamente é “racismo”? Quase nunca
ouvimos uma definição. Duvido que alguém
realmente saiba o que é. Se não acredita, per-
gunte a si mesmo por que, se racismo é algo
realmente claro e determinado, há esta inces-
sante discordância sobre quais pensamentos e
comportamentos são “racistas” e quais não são?
Se pressionada, uma pessoa comum prova-
velmente definiria racismo nos termos que Mur-
ray N. Rothbard definiu antissemitismo, envol-
vendo ódio e/ou a intenção de usar violência,
seja conduzida pelo estado ou de outra forma,
contra o grupo desprezado:

Me parece que existem apenas duas


definições defensáveis e sustentáveis
de antissemitismo: uma, se concentrando
no estado mental subjetivo da pessoa,
∼ 16 de abril de 2017. Discussão em AncapChannel. □
e a outra, “objetivamente”, nas ações
que ela desempenha ou as medidas que
ela defende. Para a primeira, a melhor
definição de antissemitismo é simples
e conclusiva: uma pessoa que odeia to-
dos os judeus. . . . Como, a menos que
sejamos um amigo íntimo, ou seu psi-
quiatra, podemos saber o que está den-
tro do coração da pessoa? Então, talvez,
o foco deveria ser, não no subjetivo es-
tado mental ou emocional da pessoa,
mas em uma proposição que possa ser
checada pelos observadores que não
a conhecem pessoalmente. Neste caso,
deveríamos focar no objetivo, ao in-
vés do subjetivo, que são as ações e
opiniões da pessoa. Bem, neste caso, a
única definição racional de um antis-
semita seria alguém que defende que
desvantagens políticas, legais, econô-
micas e sociais sejam impostas aos ju-
deus (ou, claro, tenha participado des-
sas imposições).
Então, o que parece ser razoável é: (1) al-
guém é racista se ele odeia um grupo racial
específico, mas (2) já que não conseguimos ler
a mente das pessoas, e já que acusar alguém de
odiar todo um grupo de pessoas é uma acusa-
ção muito grave, ao invés de tentar ler a mente
do suspeito devemos ver se ele defende que des-
vantagens sejam impostas contra o grupo em
questão.
De volta a Rothbard:

Mas dessa forma não estou fazendo


a definição de antissemitismo perder o
sentido? Claro que não. Na definição
subjetiva, pela própria natureza da si-
tuação, eu não conheço nenhuma pes-
soa assim, e duvido que Smear Bund
conheça. Na definição objetiva, onde
observadores podem obter mais conhe-
cimento, e deixando de lado os evi-
dentes antissemitas do passado, temos
nos EUA moderno antissemitas autên-
ticos: grupos como o movimento Ch-
ristian Identity, ou a Aryan Resistance,
ou o autor do romance Turner’s Dia-
ries. Mas estes são grupos marginais,
você diria, sem importância q que não
valha a pena se preocupar? Sim, com-
panheiro, e este é exatamente o ponto.

Por outro lado, talvez um “racista” seja al-


guém que acredite que grupos diferentes ten-
dem a ter características comuns, mesmo con-
cordando com o ponto axiomático de que cada
indivíduo é único. Mas seja estrutura familiar,
uma inclinação ao alcoolismo, uma reputação
de trabalhador dedicado, ou uma variedade de
outras qualidades, Thomas Sowell reuniu uma
vasta quantidade de estudos que mostram que
essas características não estão nem perto de
serem distribuídas igualmente nas populações.
Os chineses, por exemplo, ficaram conheci-
dos em países pelo mundo todo por trabalharem
muito duro, geralmente sob condições particu-
larmente difíceis. (Na verdade esta é uma das
razões porque os sindicatos trabalhistas ameri-
canos desprezaram os trabalhadores chineses
no século XIX.) Na metade do século XX, a mi-
noria chinesa dominou os mais importantes
setores da economia malaia mesmo sendo ofici-
almente discriminados na constituição malaia,
e tinham o dobro do rendimento do malaio mé-
dio. Eles eram donos da grande maioria dos
moinhos de arroz na Tailândia e nas Filipinas.
Eles conduziam mais de 70% do comércio de va-
rejo na Tailândia, Indonésia, Camboja, Filipinas
e Malásia.
Podemos contar uma história semelhante
sobre os armênios em várias partes do mundo,
assim como os judeus e os indianos ocidentais.
Americanos-japoneses, uma vez discriminados
severamente a ponto de serem confinados em
campos durante a Segunda Guerra Mundial,
chegaram a se igualar com os brancos em ren-
dimentos no ano de 1959, e ultrapassaram em
1/3 o rendimento dos brancos uma década de-
pois.
Da mesma forma os alemães, cuja reputa-
ção e feitos em artesanatos, ciência e tecnologia
foram evidentes não apenas na Alemanha, mas
também entre alemães nos EUA, Brasil, Austrá-
lia, Tchecoslováquia e Chile. Eles tiveram mais
fazendas prósperas que os fazendeiros irlande-
ses na Irlanda do século XVIII, que fazendeiros
brasileiros no Brasil, fazendeiros russos na Rús-
sia e fazendeiros chilenos no Chile.
Judeus têm rendimentos maiores que his-
pânicos nos EUA; isto, nos dizem solenemente,
é resultado da “discriminação”. Sério? Como
Sowell aponta, então como explicamos por que
judeus têm rendimento superiores que hispâni-
cos em países hispânicos?
De acordo com as regras ilógicas em vigor
na sociedade Americana, Sowell, sendo negro,
tem permissão de discutir estes fenômenos, en-
quanto o resto de nós é demonizado, tem a car-
reira destruída e a reputação arruinada se men-
cionamos qualquer um destes indícios proibi-
dos.
Portanto, para não levantar suspeitas de “ra-
cismo”, deve-se evitar riscos pelo menos fin-
gindo acreditar nas seguintes proposições:
– disparidades de rendimentos entre grupos
são totalmente ou em grande parte explicáveis
pela “discriminação”;
– se uma minoria é “subrepresentada” em
uma profissão específica, a causa tem que ser
“racismo”;
– se estudantes de alguma minoria são des-
proporcionalmente castigados na escola, a causa
tem que ser “racismo”, mesmo se os próprios
professores envolvidos pertençam a mesma mi-
noria;
– se resultados de testes – tanto nas esco-
las como no setor privado – são diferentes por
grupos raciais, é evidência que os testes são cul-
turalmente tendenciosos, mesmo que as ques-
tões com as maiores disparidades sejam as com
menos conteúdo cultural.
Não é preciso dizer que nenhuma dessas
declarações é defensável, mas é preciso acre-
ditar em todas elas. Céticos, logicamente, são
“racistas”.
As seguintes opiniões ou proposições foram
todas declaradas “racistas” em um momento ou
outro,or uma fonte ou outra:
– ação afirmativa é indesejável;
– leis antidiscriminação são uma violação
dos direitos de propriedade privada e da liber-
dade de contrato;
– Brown vs. Board of Education foi baseado
em falhas de raciocínio;
– a extensão do racismo na sociedade ame-
ricana é exagerada.
Alguém poderia desenvolver estas declara-
ções sob as mais variadas bases. Porém, já que
de acordo com websites esquerdistas bem po-
pulares como Daily Kos, ThinkProgress e Me-
dia Matters, é “racista” acreditar em qualquer
uma delas, não importa quais sejam seus argu-
mentos. Você é um “racista”. Proteste o quanto
quiser, mas quanto mais tentar, mais os comissá-
rios te difamam e ridicularizam. Você pode fazer
parecer que tenha razões logicamente consis-
tentes e moralmente impecáveis para justificar
suas opiniões, mas tudo isso não passa de cor-
tina de fumaça para o “racismo”, no que tange
aos comissários. A única maneira de satisfaze-
los é abandonando suas opiniões (e mesmo assim
eles ainda irão por em dúvida sua sinceridade),
mesmo que você não tenha vergonha delas.
Então, acusações de “racismo” quase sem-
pre envolvem tentativas de leitura de mentes –
e.g., aquela pessoa alega ser contra leis antidis-
criminação por causa de algum tipo de princípio,
mas sabemos que é porque ele é um racista.
er libertários, que deveriam ter uma maior
noção das coisas, embarcando no trem do con-
trole de pensamento, ou fingindo que todo esse
tema é sobre a liberdade de ser um imbecil, é
extremamente tacanho e lastimável. O estado
usa a fraude do “racismo” como justificação
para mais crescimento do seu poder sobre a
educação, o emprego, a distribuição de riqueza
e muitas outras coisas. Enquanto isso, ele silen-
cia os críticos da violência estatal com a palavra
mágica e nunca definida “racismo”, uma acusa-
ção que o crítico tem que passar o resto da sua
vida tentando contestar, apenas para descobrir
que os vigaristas raciais não irão retirar a mal-
dição até que ele se humilhe completamente e
repudie toda sua filosofia.
Se ele tentar se defender alegando que ele
tem grandes amigos que pertencem aquele grupo,
ele é acusado de ódio, ele será ainda mais ridi-
cularizado. A seguir Rothbard novamente:

Eu também gostaria de florear um


ponto: Por toda a minha vida ouvi anti-
antissemitas ridicularizarem gentios
que, ao se defenderem de acusações de
antissemitismo, protestaram dizendo
que “alguns dos meus melhores amigos
são judeus”. Esta frase é sempre ridi-
cularizada, como se uma simples ridi-
cularização fosse uma refutação de um
argumento. Mas me parece que a ridi-
cularização é normalmente usada aqui
precisamente porque o argumento é
conclusivo. Se alguns dos melhores ami-
gos do Senhor X são realmente judeus,
é absurdo e autocontraditório acusa-
lo de ser antissemita. E isso deveria se
encerrar ai.
É difícil discordar de Rothbard nessa. Se al-
guém foi acusado de não gostar de carne, mas
pudermos demonstrar que ele gosta muito de
hambúrgueres e bolo de carne, isto iria virtual-
mente destruir a acusação, não?
Não conheço ninguém que odeie grupos in-
teiros de pessoas , e as que o fazem são uma
minoria tão minúscula que suas organizações
são formadas por partes iguais de lunáticos e
informantes do FBI. Do mesmo modo, não co-
nheço ninguém que defenda o uso de violência
oficial contra grupos específicos.
Deveríamos querer tratar as pessoas com
justiça e respeito. Qualquer pessoa decente sente
que deveria ser assim. Mas como e quando a
“igualdade” entrou no jogo, excetuando-se o
trivial e óbvio sentido libertário que devemos
todos igualmente abster-se de agredir um ao
outro?
O que o estado mais gosta é declarar guerra,
contra as drogas, ou o terrorismo, ou a pobreza,
ou a “desigualdade”. O estado ama a “igualdade”
como um princípio organizacional, porque ela
nunca pode ser alcançada. E no curso de se ten-
tar, o estado adquire cada vez mais poder sobre
cada vez mais práticas e instituições. Qualquer
um que questione a premissa da igualdade é
açoitado para fora da sociedade “civilizada” –
uma bela fraude ela é, e sem dúvida não é um
lugar para libertários.
Se é a igualdade material que queremos, ela
iria desaparecer no momento que fosse alcan-
çada, assim que as pessoas retomassem seus
padrões de gastos normais e os bens e serviços
oferecidos por algumas pessoas fossem mais
valorizados do que os oferecidos por outras.
Se é “igualdade de oportunidades”, então tería-
mos que abolir a família, como tantos planos
socialistas seriamente contemplaram, já que as
condições domésticas possuem um grande peso
no sucesso dos filhos.
É claro que nos opomos a desigualdade que
resulta de privilégios estatais especiais gozados
por certas pessoas e grupos. Mas a verdadeira
questão aqui não é a desigualdade per se, mas
justiça e propriedade privada.
Até mesmo o velho ditado sobre igualdade
na visão de Deus não está certo. Erik von Ku-
ehnelt-Leddihn, o tradicional católico e liberal
clássico, notou que Judas, que traiu Cristo, não
era de nenhuma forma “igual” ao amado discí-
pulo, e que as origens da “igualdade” estavam
na ânsia de Lúcifer ser igual a Cristo. Ele acres-
centou:

O igualitarismo, na melhor das hi-


póteses, não passa de hipocrisia; se é
aceitada e acreditada de coração, sua
ameaça é maior. Deste modo, todas as
desigualdades reais parecem sem ex-
ceção serem injustas, imorais e intole-
ráveis. Ódio, infelicidade, tensão, uma
inadaptação geral é o resultado. A si-
tuação é ainda pior quando esforços
brutais são feitos para estabelecer a
igualdade através de um processo de
nivelamentos artificiais (“engenharia
social”) que só pode ser feito através
da força, restrições, ou terror, e o resul-
tado é a perda completa da liberdade.

Portanto, se queremos ser livres, temos que


evitar o estado, seus métodos, e sua linguagem.

∼ Discussão em AncapChannel. Artigo original de LewRockwell.


Texto retirado de RothbardBrasil. □

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