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Resumo
O Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO) é uma entidade de Certificação Na-
cional de padrão de excelência clínica no exercício da especialidade. O artigo, ora apresentado, traz
o histórico da criação do BBO, sua estrutura e as fases que compõem a avaliação para obtenção da
Certificação. Apresenta, ainda, o relato do primeiro exame aplicado no Brasil. O objetivo é mul-
tiplicar o conhecimento, entre os profissionais da área, sobre a importância da Certificação BBO
como garantia do mais alto grau de qualidade no tratamento ortodôntico.
O avanço das ciências médicas, no início do Em maio de 1916, foi fundado o pioneiro Ameri-
século XX, influenciou positivamente a prática can Board for Ophthalmic Examination.
das especialidades. Embora tais avanços tenham A partir daí, o novo conceito se estendeu
proporcionado melhora na qualidade do serviço, às demais especialidades. Na Odontologia, a
não existia um sistema para assegurar ao pacien- Ortodontia foi a primeira especialidade a im-
te que o profissional que se anunciava como es- plantar o Board, em julho de 1929, durante o
pecialista era realmente qualificado. Assim, em 28º Congresso da American Society of Orth-
1908, Derrick T. Vail, presidente da American odontia, nos EUA, tendo sido fundado o Amer-
Academy of Ophthalmology and Otolaryngol- ican Board of Orthodontics (ABO)2. Em 1950,
ogy, propôs o conceito de Board para essa espe- o Conselho de Educação em Odontologia da
cialidade na área da saúde1. Em sua essência, o American Dental Association (ADA) reconhe-
Board avalia o conhecimento e a competência ceu o ABO como o órgão oficial de Certifica-
clínica dos profissionais, em sua especialidade. ção de Excelência em Ortodontia3.
Como citar este artigo: Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de proprie-
Mucha JN, Araújo TM. Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial: dade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e
certificando excelência. Dental Press J Orthod. 2011 July-Aug;16(4):148-57. companhias descritos nesse artigo.
* Pós-graduado em Ortodontia pela University of Illinois at Chicago. Doutor e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Diplomado pelo American Board of
Orthodontics. Ex-presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO). Presidente do Colégio de Diplomados do BBO.
** Master of Science pela University of Illinois (EUA). Doutor em Ortodontia pela USP. Membro da Angle Society of Orthodontics. Ex-Presidente do
Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
*** Pós-graduado em Ortodontia pela UFRJ. Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Ex-Presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
**** Doutora e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Especialista em Radiologia pela UFRJ. Professora Titular de Ortodontia da UFRJ. Ex-Presidente do Board
Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
***** Doutor e Mestre em Odontologia pela UFRJ. Especialista em Radiologia pela UFRJ. Professor Titular de Ortodontia da UFF. Ex-Presidente do Board
Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
****** Doutora e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Professora Titular e Coordenadora do Centro de Ortodontia Prof. José Édimo Soares Martins-UFBA.
Especialista em Radiologia pela UFRJ. Ex-Presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
No Brasil, a ideia da criação do Board também foram Roberto Mario Amaral Lima Filho, Carlos
nasceu da necessidade de estimular a obtenção de Jorge Vogel, Estélio Zen, Ana Maria Bolognese,
padrões de excelência clínica no exercício da Orto- José Nelson Mucha e Telma Martins de Araújo,
dontia. Em 1998, por iniciativa da Associação Bra- que também compuseram a primeira Diretoria. À
sileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR), semelhança do que ocorreu nos Estados Unidos,
tendo como presidente Eros Petrelli, foi criada uma o BBO teve caráter pioneiro na área da saúde no
Comissão Especial formada por Kurt Faltin Jr., Ro- Brasil, modelo exemplar para iniciativas nas demais
berto Mario Amaral Lima Filho e Airton O. Arru- especialidades das áreas odontológica e médica.
da. Em 1999, no 2º Congresso da ABOR, o projeto Vale registrar a dinâmica da Diretoria do BBO,
para a implantação do Board Brasileiro foi discutido composta por oito membros, assim designados:
e avaliado em reunião ordinária pelo Conselho Su- Diretor Presidente; Diretor Presidente Eleito; Di-
perior da ABOR, sendo aprovado em sua essência e retor Secretário; Diretor Tesoureiro; 1º Diretor; 2º
com apoio da totalidade de seus membros. Diretor; 3º Diretor e 4º Diretor. O prazo de gestão
Em maio de 2000, integrantes da Comissão Es- dos membros da Diretoria é de um ano. Após esse
pecial da ABOR participaram da reunião do ABO período, o Diretor Presidente deixa o cargo, pas-
em Chicago, EUA, para conhecer o funcionamento sando a integrar o rol de ex-presidentes. O Diretor
do Board Americano. O evento foi dirigido a países Presidente Eleito passa, então, a assumir o cargo
interessados na implantação de um sistema de Cer- de Diretor Presidente e, sequencialmente, os de-
tificação. Mediante a disponibilidade de elementos mais membros assumem o cargo imediatamente
essenciais para o funcionamento de um Board, ofe- superior, ficando vago o cargo de 4º Diretor, para
recido pelos Diretores do ABO, a Comissão reali- o qual, na mesma data, é eleito um novo membro
zou contatos que possibilitaram a aprendizagem de pela Assembleia Geral. Esse modelo possibilita o
mecanismos fundamentais para a estruturação do conhecimento de toda a estrutura de funciona-
Board Brasileiro, recebendo todo apoio e promessa mento da instituição, capacitando e motivando os
de ajuda efetiva. O material proveniente desse en- ocupantes nos variados graus e funções.
contro foi apresentado em reunião extraordinária Os candidatos à obtenção do título de “Diplo-
da ABOR, no Congresso Orto Rio Premium, em mado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Or-
julho de 2000, no Rio de Janeiro. topedia Facial” são avaliados nas áreas de diagnós-
A indicação dos membros para fundar o Bo- tico, planejamento de tratamento e conhecimen-
ard Brasileiro incluiu os seguintes nomes: Rober- to de aspectos da terapia ortodôntica. O exame
to Mario Amaral Lima Filho, Carlos Jorge Vogel, propicia a eles a oportunidade única para reverem
Francisco Damico, Estélio Zen, Anna Letícia Lima, suas práticas, refletirem sobre a importância do
Ana Maria Bolognese, José Nelson Mucha e Telma cuidado com uma documentação de qualidade,
Martins de Araújo. A legitimidade para exercer os do controle mecânico na condução do tratamento
cargos foi obtida em exames realizados no 101º e do empenho na fase de finalização.
Congresso da American Association of Orthodon- Para garantir a permanente capacitação profis-
tics (AAO), na cidade de Toronto, Canadá, no dia sional e reciclar suas habilidades clínicas e conheci-
7 de maio de 2001. Naquela ocasião, os membros mento científico, o diplomado pelo BBO deverá se
desse grupo foram examinados pelos Drs. Jack submeter a revalidações periódicas do seu Certifi-
Dale e Eldon Bills, ex-presidentes do ABO. cado de Excelência.
O Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Outro aspecto relevante se refere à ética
Facial (BBO) foi fundado no dia 2 de setembro profissional. Os profissionais que se dispõem à
de 2002, em São Paulo. Os membros fundadores Certificação o fazem movidos por ideal e amor
BBO
Board Brasileiro
de Ortodontia
e Ortopedia Facial
A B C
Para possibilitar uma avaliação uniforme e tar à eliminação de bolhas ou pequenas irregu-
equilibrada, é necessário que a documentação laridades. A alteração da anatomia dos dentes é
seja padronizada. Os casos apresentados devem considerada falsificação, o que ocasionará a re-
incluir modelos, radiografias e fotografias. Os provação automática do caso. Os modelos de-
requisitos para o recorte dos modelos e para a vem ser polidos de modo que os detalhes ana-
avaliação cefalométrica (traçados, medidas an- tômicos sejam preservados (Fig. 3). No preparo
gulares e lineares e sobreposições) seguem as dos modelos, naqueles casos em que não houver
normas internacionais de apresentação de casos possibilidade de manter as alturas e/ou ângulos
e estão disponíveis no site do BBO. recomendados, devem ser consideradas a sime-
tria, a proporção e a estética.
Modelos
As moldagens devem copiar fielmente as ar- Radiografias
cadas dentárias e a região do vestíbulo, de forma As radiografias panorâmicas, periapicais e
a se obter reprodução precisa da má oclusão. Os complementares devem ser de boa qualidade.
modelos devem ser recortados em máxima inter- Os filmes devem estar orientados corretamente,
cuspidação, conforme orientação da Figura 25. com os lados direito e esquerdo identificados. Ra-
O ajuste ou escultura na porção anatômica diografias panorâmicas sem definição satisfatória
(dentes e vestíbulo) dos modelos deve se limi- na região dos incisivos, superiores e inferiores,
A B
Figura 4 - Radiografias panorâmica (A) e periapicais dos incisivos superiores e inferiores (B).
devem ser complementadas com radiografias pe- Para preservar o sigilo durante o exame, os nomes
riapicais dessas áreas (Fig. 4). do serviço radiográfico e do candidato devem ser co-
As radiografias cefalométricas de perfil devem bertos nas radiografias por uma tarja preta. O nome
ser devidamente padronizadas e as estruturas ósseas do paciente e a data do exame devem ser visíveis.
e o perfil tegumentar bem nítidos. Nos casos de assi- Os traçados cefalométricos devem ser realiza-
metria facial evidente, além de radiografias de perfil, dos pelo candidato, manualmente e com precisão,
deverão ser apresentadas radiografias cefalométricas sobre um papel de acetato com caneta ou lápis de
posteroanteriores, devidamente analisadas (Fig. 5). 0,5mm de diâmetro, contendo apenas os detalhes
A B
A B
Figura 7 - Sobreposições totais: A) Plano do esfenoide e lâmina crivosa do etmoide, com registro no ponto médio entre as grandes asas esfenoidais;
B) Linha Sela-Násio, com registro no ponto Sela.
A B
Figura 8 - Sobreposições parciais: A) Maxila – maior aproximação das estruturas ósseas maxilares, com registro na curvatura palatina. B) Mandíbula –
melhor sobreposição no limite inferior da cortical do corpo mandibular, com registro na cortical interna da sínfise.
arcadas dentárias superior e inferior. As fotografias ção e revelar com precisão os tecidos moles e duros.
devem estar o mais próximo possível da proporção As fotografias podem ser impressas em cores, visan-
1:1 com os dentes do paciente. Se imagens de espe- do enquadramento mais adequado possível, utilizan-
lho forem utilizadas, a impressão deve ser invertida do-se a orientação “paisagem”, e impressas em papel
verticalmente. É importante ressaltar, ainda, alguns de qualidade fotográfica. Os candidatos devem ter
aspectos: dentição limpa, livre de biofilme bacte- em mente que toda a documentação apresenta valor
riano, sangramento ou saliva; utilizar afastadores de legal inerente, não podendo ser alterada. Para más
lábios; a iluminação deve mostrar os contornos ana- oclusões com desarmonias esqueléticas acentuadas,
tômicos, com completo controle da sombra; padro- com indicação de tratamento ortodôntico associado
nização das cores; evitar interferências visuais (afas- à cirurgia ortognática, a documentação pré-operató-
tadores de lábios, rótulos e dedos). ria imediata será necessária. A Figura 9 mostra um
Se as imagens das fotografias faciais e intrabucais exemplo de diagramação contendo três fotografias
forem geradas no computador, devem ter alta resolu- faciais e cinco intrabucais.
A B C
Paciente B
Idade
Data
D E
F G H
Figura 9 - Distribuição das fotografias: A, B, C) faciais (perfil do lado direito, frontal e frontal em sorriso, respectivamente); D, E, F, G, H) intrabucais
(oclusal superior, oclusal inferior, lateral direita, frontal e lateral esquerda, respectivamente).
em Ortodontia e Ortopedia Facial. trabalho, para que a semente, lançada nas pala-
Como foi dito por Jack Dale, o lema da ban- vras do professor canadense, germine e dê bons
deira brasileira foi posto em prática pelo BBO. frutos, com mais especialistas buscando o cer-
Segundo o eminente profissional, atingiu-se o tificado de excelência pelo Board Brasileiro de
nível de excelência na organização da estrutu- Ortodontia e Ortopedia Facial. É importante
ra do exame, ressaltando o Brasil como modelo ressaltar que constantes atualizações são reali-
dentre os principiantes que se propõem a par- zadas no sistema de Certificação do BBO. Por-
ticipar do World Board of Orthodontics (14 tanto, os ortodontistas interessados em prestar
países possuem Board em Ortodontia). Resta o Exame de Certificação devem consultar regu-
aos profissionais brasileiros acreditarem nesse larmente o site do BBO (www.bbo.org.br).
Abstract
The Brazilian Board of Orthodontics and Facial Orthopedics (BBO) is the institution that certifies the standards of clini-
cal excellence in the practice of this specialty. This article describes the history of BBO’s creation and the examination
structure and phases to obtain the BBO Certification. It also presents a detailed report of the first exam applied in
Brazil. Its purpose is to expand the knowledge, among professionals in the area, about the importance of BBO Certi-
fication as assurance of the highest level of quality in orthodontic treatments.
Referências