Você está na página 1de 10

Tópico Especial

Board Brasileiro de Ortodontia e


Ortopedia Facial: certificando excelência
Roberto M. A. Lima Filho*, Carlos Jorge Vogel**, Estélio Zen***,
Ana Maria Bolognese****, José Nelson Mucha*****, Telma Martins de Araújo******

Resumo

O Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO) é uma entidade de Certificação Na-
cional de padrão de excelência clínica no exercício da especialidade. O artigo, ora apresentado, traz
o histórico da criação do BBO, sua estrutura e as fases que compõem a avaliação para obtenção da
Certificação. Apresenta, ainda, o relato do primeiro exame aplicado no Brasil. O objetivo é mul-
tiplicar o conhecimento, entre os profissionais da área, sobre a importância da Certificação BBO
como garantia do mais alto grau de qualidade no tratamento ortodôntico.

Palavras-chave: Exame. Certificação. Ortodontia.

O avanço das ciências médicas, no início do Em maio de 1916, foi fundado o pioneiro Ameri-
século XX, influenciou positivamente a prática can Board for Ophthalmic Examination.
das especialidades. Embora tais avanços tenham A partir daí, o novo conceito se estendeu
proporcionado melhora na qualidade do serviço, às demais especialidades. Na Odontologia, a
não existia um sistema para assegurar ao pacien- Ortodontia foi a primeira especialidade a im-
te que o profissional que se anunciava como es- plantar o Board, em julho de 1929, durante o
pecialista era realmente qualificado. Assim, em 28º Congresso da American Society of Orth-
1908, Derrick T. Vail, presidente da American odontia, nos EUA, tendo sido fundado o Amer-
Academy of Ophthalmology and Otolaryngol- ican Board of Orthodontics (ABO)2. Em 1950,
ogy, propôs o conceito de Board para essa espe- o Conselho de Educação em Odontologia da
cialidade na área da saúde1. Em sua essência, o American Dental Association (ADA) reconhe-
Board avalia o conhecimento e a competência ceu o ABO como o órgão oficial de Certifica-
clínica dos profissionais, em sua especialidade. ção de Excelência em Ortodontia3.

Como citar este artigo: Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de proprie-
Mucha JN, Araújo TM. Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial: dade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e
certificando excelência. Dental Press J Orthod. 2011 July-Aug;16(4):148-57. companhias descritos nesse artigo.

* Pós-graduado em Ortodontia pela University of Illinois at Chicago. Doutor e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Diplomado pelo American Board of
Orthodontics. Ex-presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO). Presidente do Colégio de Diplomados do BBO.
** Master of Science pela University of Illinois (EUA). Doutor em Ortodontia pela USP. Membro da Angle Society of Orthodontics. Ex-Presidente do
Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
*** Pós-graduado em Ortodontia pela UFRJ. Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Ex-Presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
**** Doutora e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Especialista em Radiologia pela UFRJ. Professora Titular de Ortodontia da UFRJ. Ex-Presidente do Board
Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
***** Doutor e Mestre em Odontologia pela UFRJ. Especialista em Radiologia pela UFRJ. Professor Titular de Ortodontia da UFF. Ex-Presidente do Board
Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).
****** Doutora e Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Professora Titular e Coordenadora do Centro de Ortodontia Prof. José Édimo Soares Martins-UFBA.
Especialista em Radiologia pela UFRJ. Ex-Presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).

Dental Press J Orthod 148 2011 July-Aug;16(4):148-57


Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, Mucha JN, Araújo TM

No Brasil, a ideia da criação do Board também foram Roberto Mario Amaral Lima Filho, Carlos
nasceu da necessidade de estimular a obtenção de Jorge Vogel, Estélio Zen, Ana Maria Bolognese,
padrões de excelência clínica no exercício da Orto- José Nelson Mucha e Telma Martins de Araújo,
dontia. Em 1998, por iniciativa da Associação Bra- que também compuseram a primeira Diretoria. À
sileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR), semelhança do que ocorreu nos Estados Unidos,
tendo como presidente Eros Petrelli, foi criada uma o BBO teve caráter pioneiro na área da saúde no
Comissão Especial formada por Kurt Faltin Jr., Ro- Brasil, modelo exemplar para iniciativas nas demais
berto Mario Amaral Lima Filho e Airton O. Arru- especialidades das áreas odontológica e médica.
da. Em 1999, no 2º Congresso da ABOR, o projeto Vale registrar a dinâmica da Diretoria do BBO,
para a implantação do Board Brasileiro foi discutido composta por oito membros, assim designados:
e avaliado em reunião ordinária pelo Conselho Su- Diretor Presidente; Diretor Presidente Eleito; Di-
perior da ABOR, sendo aprovado em sua essência e retor Secretário; Diretor Tesoureiro; 1º Diretor; 2º
com apoio da totalidade de seus membros. Diretor; 3º Diretor e 4º Diretor. O prazo de gestão
Em maio de 2000, integrantes da Comissão Es- dos membros da Diretoria é de um ano. Após esse
pecial da ABOR participaram da reunião do ABO período, o Diretor Presidente deixa o cargo, pas-
em Chicago, EUA, para conhecer o funcionamento sando a integrar o rol de ex-presidentes. O Diretor
do Board Americano. O evento foi dirigido a países Presidente Eleito passa, então, a assumir o cargo
interessados na implantação de um sistema de Cer- de Diretor Presidente e, sequencialmente, os de-
tificação. Mediante a disponibilidade de elementos mais membros assumem o cargo imediatamente
essenciais para o funcionamento de um Board, ofe- superior, ficando vago o cargo de 4º Diretor, para
recido pelos Diretores do ABO, a Comissão reali- o qual, na mesma data, é eleito um novo membro
zou contatos que possibilitaram a aprendizagem de pela Assembleia Geral. Esse modelo possibilita o
mecanismos fundamentais para a estruturação do conhecimento de toda a estrutura de funciona-
Board Brasileiro, recebendo todo apoio e promessa mento da instituição, capacitando e motivando os
de ajuda efetiva. O material proveniente desse en- ocupantes nos variados graus e funções.
contro foi apresentado em reunião extraordinária Os candidatos à obtenção do título de “Diplo-
da ABOR, no Congresso Orto Rio Premium, em mado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Or-
julho de 2000, no Rio de Janeiro. topedia Facial” são avaliados nas áreas de diagnós-
A indicação dos membros para fundar o Bo- tico, planejamento de tratamento e conhecimen-
ard Brasileiro incluiu os seguintes nomes: Rober- to de aspectos da terapia ortodôntica. O exame
to Mario Amaral Lima Filho, Carlos Jorge Vogel, propicia a eles a oportunidade única para reverem
Francisco Damico, Estélio Zen, Anna Letícia Lima, suas práticas, refletirem sobre a importância do
Ana Maria Bolognese, José Nelson Mucha e Telma cuidado com uma documentação de qualidade,
Martins de Araújo. A legitimidade para exercer os do controle mecânico na condução do tratamento
cargos foi obtida em exames realizados no 101º e do empenho na fase de finalização.
Congresso da American Association of Orthodon- Para garantir a permanente capacitação profis-
tics (AAO), na cidade de Toronto, Canadá, no dia sional e reciclar suas habilidades clínicas e conheci-
7 de maio de 2001. Naquela ocasião, os membros mento científico, o diplomado pelo BBO deverá se
desse grupo foram examinados pelos Drs. Jack submeter a revalidações periódicas do seu Certifi-
Dale e Eldon Bills, ex-presidentes do ABO. cado de Excelência.
O Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Outro aspecto relevante se refere à ética
Facial (BBO) foi fundado no dia 2 de setembro profissional. Os profissionais que se dispõem à
de 2002, em São Paulo. Os membros fundadores Certificação o fazem movidos por ideal e amor

Dental Press J Orthod 149 2011 July-Aug;16(4):148-57


Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial: certificando excelência

à profissão. A conquista de uma Certificação, seja Exame


qual for, implica em determinação e mérito. Nes- O Exame de Certificação do BBO consta de
se sentido, é importante ressaltar que o certifica- duas fases: a fase I consiste na avaliação do diag-
do emitido pelo Board não representa um grau nóstico e planejamento de casos apresentados pelo
profissional ou acadêmico. Trata-se de um ates- BBO; a fase II, na apresentação de dez casos tra-
tado de excelência, portanto, não confere privilé- tados pelo candidato4. Os casos apresentados na
gio para a prática da Ortodontia. O ortodontista fase II devem seguir os seguintes critérios: 1) Má
americano George Ewans foi quem melhor tra- oclusão Classe II ou III de Angle, tratada sem extra-
duziu o sentimento dos profissionais que buscam ção e com controle de crescimento; 2) Má oclusão
o certificado, quando disse: “O título conferido Classe I de Angle, tratada com extrações de dentes
pelo Board não o fará melhor do que os outros, permanentes; 3) Má oclusão Classe II de Angle, tra-
mas com certeza o fará melhor que antes”. tada com extrações de dentes permanentes; 4) Má
oclusão com discrepância anteroposterior acentu-
Símbolos ada: Classe III de Angle com ANB menor ou igual
A logomarca do BBO foi desenvolvida com a –2 graus; Classe II de Angle com ANB igual ou
uma tipografia clássica, conferindo à marca um maior que 5 graus; 5) Má oclusão com problema
aspecto tradicional, compatível com um órgão de transverso, apresentando pelo menos um quadrante
Certificação de excelência profissional. A figura em cruzamento; 6) Má oclusão com sobremordida
que acompanha a tipografia mostra suavidade e acentuada; 7 a 10) Escolha livre.
representa o conceito da correção não traumática:
uma planta jovem sendo orientada em seu cresci- Documentação
mento. Em analogia, essa imagem se refere tanto Uma documentação de boa qualidade é essen-
ao objeto da profissão (correções ortodônticas) cial para o diagnóstico preciso, que, por sua vez, é a
como à prática profissional em si e às diretrizes “chave” para o sucesso do tratamento ortodôntico. A
educacionais relacionadas à área. As cores utili- identificação deve ser realizada por meio de letras
zadas remetem às da bandeira do Brasil. O selo e cores. A – Início do tratamento (preto); A1, A2 –
tem o formato tradicional de carimbo, mantendo a Intermediário (azul); B – Final do tratamento (ver-
marca como figura principal. Essa marca também melho) e C – Pós-tratamento (verde). Vale ressaltar
está estampada no Pin, a que todos os Diplomados que a documentação final do tratamento (B) pode
fazem jus, pela obtenção do título (Fig. 1). ser obtida até um ano após a remoção do aparelho.

BBO
Board Brasileiro
de Ortodontia
e Ortopedia Facial

A B C

Figura 1 - Símbolos do BBO: A) Logomarca; B) Selo e C) Pin.

Dental Press J Orthod 150 2011 July-Aug;16(4):148-57


Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, Mucha JN, Araújo TM

Para possibilitar uma avaliação uniforme e tar à eliminação de bolhas ou pequenas irregu-
equilibrada, é necessário que a documentação laridades. A alteração da anatomia dos dentes é
seja padronizada. Os casos apresentados devem considerada falsificação, o que ocasionará a re-
incluir modelos, radiografias e fotografias. Os provação automática do caso. Os modelos de-
requisitos para o recorte dos modelos e para a vem ser polidos de modo que os detalhes ana-
avaliação cefalométrica (traçados, medidas an- tômicos sejam preservados (Fig. 3). No preparo
gulares e lineares e sobreposições) seguem as dos modelos, naqueles casos em que não houver
normas internacionais de apresentação de casos possibilidade de manter as alturas e/ou ângulos
e estão disponíveis no site do BBO. recomendados, devem ser consideradas a sime-
tria, a proporção e a estética.
Modelos
As moldagens devem copiar fielmente as ar- Radiografias
cadas dentárias e a região do vestíbulo, de forma As radiografias panorâmicas, periapicais e
a se obter reprodução precisa da má oclusão. Os complementares devem ser de boa qualidade.
modelos devem ser recortados em máxima inter- Os filmes devem estar orientados corretamente,
cuspidação, conforme orientação da Figura 25. com os lados direito e esquerdo identificados. Ra-
O ajuste ou escultura na porção anatômica diografias panorâmicas sem definição satisfatória
(dentes e vestíbulo) dos modelos deve se limi- na região dos incisivos, superiores e inferiores,

Figura 2 - Modelos iniciais de má oclusão Classe II, corretamente recortados5.

Dental Press J Orthod 151 2011 July-Aug;16(4):148-57


Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial: certificando excelência

Figura 3 - Modelos polidos, com os detalhes preservados e reprodução precisa da má oclusão.

A B

Figura 4 - Radiografias panorâmica (A) e periapicais dos incisivos superiores e inferiores (B).

devem ser complementadas com radiografias pe- Para preservar o sigilo durante o exame, os nomes
riapicais dessas áreas (Fig. 4). do serviço radiográfico e do candidato devem ser co-
As radiografias cefalométricas de perfil devem bertos nas radiografias por uma tarja preta. O nome
ser devidamente padronizadas e as estruturas ósseas do paciente e a data do exame devem ser visíveis.
e o perfil tegumentar bem nítidos. Nos casos de assi- Os traçados cefalométricos devem ser realiza-
metria facial evidente, além de radiografias de perfil, dos pelo candidato, manualmente e com precisão,
deverão ser apresentadas radiografias cefalométricas sobre um papel de acetato com caneta ou lápis de
posteroanteriores, devidamente analisadas (Fig. 5). 0,5mm de diâmetro, contendo apenas os detalhes

Dental Press J Orthod 152 2011 July-Aug;16(4):148-57


Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, Mucha JN, Araújo TM

A B

Figura 5 - Radiografias cefalométricas de perfil (A) e posteroanterior (B).

para avaliar alterações gerais ocorridas com o


crescimento e/ou tratamento; e parciais, maxilar
SNA
SNB e mandibular, para identificação de modificações
ANB
dentárias nas arcadas superior e inferior em seus
Facial Convex.
FMA Eixo Y
respectivos ossos de suporte. A sobreposição to-
tal pode ser realizada por dois métodos (Fig. 7):
1NA ang
Ls-S a) Plano do esfenoide e lâmina crivosa do etmoi-
SN-GoGn 1:1 1NA mm de, com registro no ponto médio entre as gran-
1NB mm
1NB ang
1 -APog Li-S des asas esfenoidais; b) Sela-Násio, com registro
IMPA no ponto Sela. As sobreposições parciais devem
ser realizadas da seguinte forma (Fig. 8): Maxila,
Figura 6 - Traçado cefalométrico com linhas utilizadas e sinalização
maior aproximação das estruturas ósseas maxila-
dos locais para colocação das medidas. res, com registro na curvatura palatina; Mandí-
bula, melhor sobreposição no limite inferior da
cortical do corpo mandibular, com registro na
cortical interna da sínfise.
anatômicos de interesse para as análises clínicas As três sobreposições devem ser traçadas manu-
e sobreposições cefalométricas (Fig. 6). Traçados almente pelo candidato, com caneta ou lápis. Nos
gerados por computador não são aceitos. Gabari- casos de tratamento com traçado intermediário, as
tos para traçar o contorno dos dentes podem ser sobreposições devem seguir a seguinte orientação:
usados. Os pontos cefalométricos devem ser cui- A–A1 (inicial – intermediário), A1–B (intermedi-
dadosamente identificados para garantir a confia- ário – final) e A–B (inicial – final). Os casos com
bilidade nas linhas de referência obtidas. pós-tratamento deverão apresentar A–B–C (inicial
O candidato deve estar familiarizado com to- – final – pós-tratamento). As sobreposições devem
dos os aspectos das radiografias cefalométricas, ser colocadas em envelopes separados, sobre papel
traçados e medidas, incluindo seus respectivos branco, sem serem afixadas. Nos casos tratados com
significados. Serão necessárias, no mínimo, três cirurgia ortognática, deve ser incluído traçado in-
sobreposições de traçados: total, ou craniofacial, termediário pré-cirúrgico.

Dental Press J Orthod 153 2011 July-Aug;16(4):148-57


Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial: certificando excelência

A B

Figura 7 - Sobreposições totais: A) Plano do esfenoide e lâmina crivosa do etmoide, com registro no ponto médio entre as grandes asas esfenoidais;
B) Linha Sela-Násio, com registro no ponto Sela.

A B

Figura 8 - Sobreposições parciais: A) Maxila – maior aproximação das estruturas ósseas maxilares, com registro na curvatura palatina. B) Mandíbula –
melhor sobreposição no limite inferior da cortical do corpo mandibular, com registro na cortical interna da sínfise.

Fotografias qualidade, para revelar os contornos faciais, sem som-


Os pacientes devem ser documentados, em cada bras; as orelhas devem estar expostas, visando a orien-
fase, com os seguintes registros faciais: a) frontal; tação facial; os olhos abertos e direcionados para a
b) perfil do lado direito; e c) sempre que possível, frente; óculos e outros acessórios devem ser retirados.
uma fotografia frontal em sorriso. Essas fotografias Além das fotografias faciais, cada caso deve ser
devem estar orientadas com o plano horizontal de documentado com pelo menos três registros intra-
Frankfurt e a linha bipupilar paralelos ao solo, tendo bucais: uma vista frontal, uma vista lateral direita e
sido obtidas com os lábios em repouso, retratando a uma vista lateral esquerda, com os dentes em má-
real situação do relacionamento labial do paciente. xima intercuspidação habitual. Essas fotografias de-
É importante ressaltar que o fundo deve ser neu- vem ser orientadas pelo plano oclusal. Imagens op-
tro (de preferência, branco); a iluminação de boa cionais podem ser incluídas, como vistas oclusais das

Dental Press J Orthod 154 2011 July-Aug;16(4):148-57


Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, Mucha JN, Araújo TM

arcadas dentárias superior e inferior. As fotografias ção e revelar com precisão os tecidos moles e duros.
devem estar o mais próximo possível da proporção As fotografias podem ser impressas em cores, visan-
1:1 com os dentes do paciente. Se imagens de espe- do enquadramento mais adequado possível, utilizan-
lho forem utilizadas, a impressão deve ser invertida do-se a orientação “paisagem”, e impressas em papel
verticalmente. É importante ressaltar, ainda, alguns de qualidade fotográfica. Os candidatos devem ter
aspectos: dentição limpa, livre de biofilme bacte- em mente que toda a documentação apresenta valor
riano, sangramento ou saliva; utilizar afastadores de legal inerente, não podendo ser alterada. Para más
lábios; a iluminação deve mostrar os contornos ana- oclusões com desarmonias esqueléticas acentuadas,
tômicos, com completo controle da sombra; padro- com indicação de tratamento ortodôntico associado
nização das cores; evitar interferências visuais (afas- à cirurgia ortognática, a documentação pré-operató-
tadores de lábios, rótulos e dedos). ria imediata será necessária. A Figura 9 mostra um
Se as imagens das fotografias faciais e intrabucais exemplo de diagramação contendo três fotografias
forem geradas no computador, devem ter alta resolu- faciais e cinco intrabucais.

A B C

Paciente B
Idade
Data

D E

F G H

Figura 9 - Distribuição das fotografias: A, B, C) faciais (perfil do lado direito, frontal e frontal em sorriso, respectivamente); D, E, F, G, H) intrabucais
(oclusal superior, oclusal inferior, lateral direita, frontal e lateral esquerda, respectivamente).

Dental Press J Orthod 155 2011 July-Aug;16(4):148-57


Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial: certificando excelência

Primeiro exame a qualidade se mantinha. Que bom seria que o


O BBO realizou seu primeiro exame no pe- padrão de excelência apresentado naquela sala
ríodo de 19 a 21 de março de 2004, na cidade de exame existisse em todo o mundo.
de São Paulo. Interessante salientar que, naquele O exame foi dividido em duas partes: a) exa-
mesmo ano, o Board americano completava 75 me escrito sobre casos apresentados pelo BBO e
anos de existência. O exame contou com a pre- b) apresentação de casos pelos candidatos:
sença especial de Jack Dale, renomado ortodon- a) Exame escrito: os candidatos, provenien-
tista canadense, ex-presidente do ABO e Profes- tes de oito estados brasileiros, tiveram
sor Emérito na University of Toronto. No mês de quatro horas para analisar dois casos apre-
maio do mesmo ano, durante o 104º Congresso sentados pelo BBO. Para isso, puderam
da AAO, em Orlando, Jack Dale recebeu home- efetuar traçados cefalométricos e utilizar
nagem por serviços prestados ao Board america- quaisquer procedimentos que fossem ne-
no. Na ocasião, manifestou-se sobre o trabalho cessários. Permaneci sentado na sala de
da Diretoria do BBO, traduzindo o empenho e o exame durante quatro horas, até o término
esforço que marcaram o início da trajetória dessa do mesmo, e observei homens e mulheres
missão6. Numa referência especial, pronunciou trabalhando arduamente em suas tarefas.
o seguinte relato, aqui traduzido, que retrata sua Quanto mais observava, mais aumentava
visão sobre a seriedade do Board no Brasil: minha admiração e respeito.
“As sequoias gigantes da Califórnia, mesmo b) Apresentação de casos: os dez casos de
magníficas, não crescem sozinhas, pois necessi- cada candidato incluíam seis com más
tam umas das outras. Juntas, elas se fortalecem oclusões específicas e quatro de livre esco-
pelo entrelaçamento de suas raízes, suportando, lha. Os casos foram colocados na sala para
então, umas às outras. Sem essa ajuda mútua, não serem examinados por dois dias. No final
poderiam se tornar robustas e magníficas. Com do exame, foi realizada uma mesa redonda
esse suporte, podemos permanecer fortes e efeti- com todos os candidatos. A discussão foi
vos em nosso serviço à sociedade. Manter nosso muito valiosa e construtiva para o BBO.
padrão de tratamento é parte vital de nossa força. O lema do Brasil é “Ordem e Progresso”. O
Foi uma honra e privilégio ser convidado BBO conseguiu expressá-lo, fielmente, por meio
como consultor para o exame no Brasil. Achei a da perfeição. Ele certamente fez “progresso” e o
organização do exame, pelos diretores do BBO, fez passo a passo, com “ordem”.”
de altíssima qualidade. Problemas foram encon-
trados, o que era esperado. Tenho certeza de que CONSIDERAÇÕES FINAIS
esses problemas serão administrados e resolvi- A tomada de consciência da relevância do
dos no futuro, pois sei da integridade, dedicação, profissional qualificado deve ser implementada
competência e preocupação dos diretores do e expandida, a exemplo do que ocorre nos EUA,
BBO. O American Board of Orthodontics tam- onde esse procedimento tem sido constante
bém teve que resolver problemas durante seus para as diferentes especialidades. BBO significa
75 anos de existência. Certamente, no futuro, qualificação e treinamento adequado para a re-
esses problemas continuarão sendo desafios. alização de um tratamento bem-sucedido. Essa
No Brasil, a documentação foi padronizada credencial atesta a competência do profissional,
e apresentava altíssima qualidade. Se eu exami- garantindo ao paciente um tratamento seguro e
nasse qualquer um dos casos clínicos, constata- eficaz, e deve ser utilizada como estímulo para
ria que, de um lado ao outro da sala de exame, que outros profissionais busquem a Excelência

Dental Press J Orthod 156 2011 July-Aug;16(4):148-57


Lima Filho RMA, Vogel CJ, Zen E, Bolognese AM, Mucha JN, Araújo TM

em Ortodontia e Ortopedia Facial. trabalho, para que a semente, lançada nas pala-
Como foi dito por Jack Dale, o lema da ban- vras do professor canadense, germine e dê bons
deira brasileira foi posto em prática pelo BBO. frutos, com mais especialistas buscando o cer-
Segundo o eminente profissional, atingiu-se o tificado de excelência pelo Board Brasileiro de
nível de excelência na organização da estrutu- Ortodontia e Ortopedia Facial. É importante
ra do exame, ressaltando o Brasil como modelo ressaltar que constantes atualizações são reali-
dentre os principiantes que se propõem a par- zadas no sistema de Certificação do BBO. Por-
ticipar do World Board of Orthodontics (14 tanto, os ortodontistas interessados em prestar
países possuem Board em Ortodontia). Resta o Exame de Certificação devem consultar regu-
aos profissionais brasileiros acreditarem nesse larmente o site do BBO (www.bbo.org.br).

Brazilian Board of Orthodontics and Facial Orthopedics: Certifying excellence

Abstract

The Brazilian Board of Orthodontics and Facial Orthopedics (BBO) is the institution that certifies the standards of clini-
cal excellence in the practice of this specialty. This article describes the history of BBO’s creation and the examination
structure and phases to obtain the BBO Certification. It also presents a detailed report of the first exam applied in
Brazil. Its purpose is to expand the knowledge, among professionals in the area, about the importance of BBO Certi-
fication as assurance of the highest level of quality in orthodontic treatments.

Keywords: Examination. Certification. Orthodontics.

Referências

1. Little DM. The founding of the specialty boards.


Anesthesiology. 1981;55:317-21.
2. Cangialosi TJ, Riolo ML, Owens S Jr, Dykhouse VJ, Moffitt
AH, Grubb JE, et al. The American Board of Orthodontics
and specialty certification: the first 50 years. Am J Orthod
Dentofacial Orthop. 2004;126(1):3-6.
3. The American Board of Orthodontics. [Cited 2010 Jan 11].
Available from: www.americanboardortho.com.
4. Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. [Acesso Enviado em: 13/06/2011
Revisado e aceito: 03/07/2011
2010 Jan 11]. Available from: www.bbo.org.br.
5. Habib F, Fleischmann LA, Gama SLC, Araújo TM. Obtenção
de modelos ortodônticos. Rev Dental Press Ortod Orthop Endereço para correspondência
Facial. 2007;12(3):146-56. Roberto M. A. Lima Filho
6. Dale J. Brazilian Board of Orthodontics and Dentofacial Avenida Alberto Andaló 4.025
Orthopedics holds first examination. Am J Orthod CEP: 15.015-000 - São José do Rio Preto/SP
Dentofacial Orthop. 2004;126:134. E-mail: rlima@me.com

Dental Press J Orthod 157 2011 July-Aug;16(4):148-57

Você também pode gostar