Você está na página 1de 12

Capítulo 42

Rinite Alérgica e Não-alérgica

João Ferreira de Mello Júnior


Olavo Mion
Fabiana Maia Nobre Rocha

RINITE ALÉRGICA Tabela 42.1. Diagnóstico Diferencial das Rinites

A rinite alérgica é uma inflamação da mucosa Rinite alérgica


nasal mediada por IgE que ocorre após uma exposi- Rinite infecciosa (viral ou bacteriana)
ção aos alérgenos. A rinite alérgica acomete 10% a
Rinite irritativa
25% da população mundial, entretanto é uma doença
subestimada pelos médicos e pacientes que não a Síndrome eosinofílica não-alérgica
reconhecem como uma doença e procuram apenas o Rinite medicamentosa (vasoconstritores tópicos nasais e
médico especialista quando ocorre alguma compli- cocaína)
cação (sinusite, otite entre outras). Embora a rinite
Rinite do idoso
alérgica não seja uma enfermidade grave, interfere
na vida social do paciente, afetando o aprendizado Rinite induzida por drogas (aspirina, betabloqueadores e outras)
escolar e a produtividade no trabalho. Rinite hormonal (ciclo menstrual, puberdade, gestação e
De acordo com seu quadro clínico, pode ser tireóide)
classificada em intermitente e persistente. A rinite Rinite gustativa
alérgica intermitente, antes conhecida como sazonal,
é aquela cujos sintomas duram menos de quatro dias Rinite idiopática

por semana ou menos de quatro semanas por ano, Rinite ocupacional


ao passo que na rinite persistente, antes conhecida
Rinite alimentar
como perene, os sintomas estão presentes por mais
de quatro dias por semana e por mais de quatro Rinite emocional
semanas ao ano. Quanto à intensidade dos seus Rinite por refluxo gastroesofágico
sintomas, podemos dividi-la em leve ou moderada
e grave. A rinite leve difere da moderada ou grave Pólipos

por não apresentar distúrbios no sono nem interferir Fatores mecânicos (desvio septal, hipertrofia adenoideana,
nas atividades diárias ou esportivas. corpo estranho, atresia coanal)

Infelizmente, ainda nos dias atuais, alguns pro- Tumores benignos e malignos
fissionais tratam a obstrução nasal, depois de des-
Granulomas nasais
cartadas causas obstrutivas cirúrgicas, como rinite
alérgica, não diagnosticando as diferentes rinites Disfunção ciliar
(Tabela 42.1). Conseqüentemente, conduzem os Fístula liquórica
casos clínicos de forma inadequada.

Voltarelli42.indd 935 30/9/2008 16:16:16


936 CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA

Diagnóstico Exame Físico


História Clínica Na inspeção, podemos encontrar um sulco ou uma
O diagnóstico da rinite alérgica é feito através prega transversa, acima da ponta nasal, que ocorre
de anamnese e exame físico, sendo confirmado devido o hábito de coçar o nariz com a palma da
mão, também conhecido como “saudação do alérgi-
através de testes específicos. Quando existe uma
co”. Outra alteração bastante freqüente são as linhas
discordância entre a história e o teste cutâneo, tes-
de Dennie-Morgan que são transversas, no limite da
tes adicionais incluindo testes de provocação nasal
pálpebra inferior, características das atopias.
podem ser indicados.
Na rinoscopia anterior, é comum o edema da mu-
A rinite alérgica geralmente se inicia na infância
cosa das conchas nasais, principalmente da concha
ou na adolescência. Tem como características prin-
inferior, com palidez. Pode ou não apresentar se-
cipais a presença de obstrução nasal, prurido nasal
creção hialina ou mucóide, e na oroscopia podemos
ou faríngeo, espirros “em salva”, rinorréia aquosa e
detectar a presença de folículos linfóides na parede
sintomas irritativos oculares ou otológicos associa-
posterior da faringe.
dos. Entretanto, esses sintomas também podem ser
encontrados nas rinites não-alérgicas. O exame físico otorrinolaringológico pode ser
complementado pela nasofibroscopia, para descartar
Podemos dividir os pacientes em dois grupos de doenças nasais associadas.
acordo com a sua sintomatologia predominante: os
obstruídos, ou blockers, cujo sintoma principal é a
obstrução nasal, e os secretores, ou sneezers e run- Exames Complementares
ners, que apresentam espirros e coriza. Na rinite alér- Testes Cutâneos
gica, o grupo predominante é o dos secretores, cujos O teste cutâneo da hipersensibilidade imediata
sintomas são mais intensos pela manhã em aproxi- continua sendo o padrão-ouro para demonstrar a
madamente 70% dos pacientes (Tabela 42.2). reação mediada pela IgE. Representa a maior ferra-
A anamnese detalhada é de fundamental impor- menta diagnóstica no campo da alergia, confirmando
tância, quando deverá ser questionado qual o sinto- o diagnóstico de alergia específica.
ma principal, o tempo de início, a sua freqüência, a Os testes cutâneos podem ser intracutâneos (in-
intensidade e a persistência ou a intermitência; o pe- tradérmico) ou epicutâneos (escarificação, punctura
ríodo do dia em que ocorre; antecedentes pessoais e e prick test). O teste de punctura é o mais utilizado
familiares de alergia; os hábitos; as condições de mo- devido ao menor índice de falso-positivo e à faci-
radia e ambiente profissional, pois alguns sintomas lidade de realização. Os testes intradérmicos, em-
pioram no trabalho e melhoram no fim de semana ou bora sejam mais sensíveis que o prick test, podem
no feriado; os fatores desencadeantes e agravantes; induzir algumas reações falso-positivas, além disso
o uso de medicações; a relação com alimentos; e o podem produzir mais reações sistêmicas e ainda são
impacto que provoca na qualidade de vida. mais dolorosos para o paciente.
O teste de punctura é realizado, geralmente, na
face anterior do antebraço por meio de agulhas ou
lancetas próprias. O antebraço é, inicialmente, limpo
Tabela 42.2. Características Clínicas das Rinites com álcool e, em seguida, são marcadas na pele, com
Secretores Obstruídos
caneta ou lápis dermatográfico, os pontos onde serão
colocadas as gotas com os extratos dos alérgenos,
• Espirros • Espirros esporádicos uma gota em cada ponto, a uma distância de 2 cm.
• Coriza hialina • Secreção catarral A seguir, realiza-se a punctura em cada ponto. Após
15 a 20 minutos, procede-se a leitura das reações.
• Rinorréia anterior e • Rinorréia posterior
posterior
Procura-se a formação de pápulas > 3 mm, quando
dizemos que o teste é positivo. É freqüente encon-
• Prurido nasal • Sem prurido trarmos reações exageradas na pele com formações
• Obstrução nasal variável • Obstrução nasal severa de pseudópodos, que são extensões anormais das
pápulas.
• Piora pela manhã • Piora à noite
Os testes não devem ser utilizados em pacientes
• Associada à conjuntivite
em crise de broncoespasmo, dermografismo, eczema
(freqüentemente)
cutâneo intenso, risco de reação anafilática e uso
Fonte: adaptada de Bousquet e cols. recente de algumas medicações.

Voltarelli42.indd 936 30/9/2008 16:16:21


CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA 937

Os resultados são confiáveis quando se utilizam clínicas. Recomenda-se a provocação nasal com
extratos de boa qualidade e padronizados. É ex- aspirina como substituto para provocação oral
tremamente importante o uso do controle positivo por intolerância à aspirina. O teste de provocação
(histamina), pois existem pacientes anérgicos; e o pode ser usado ainda para testar hiper-reatividade
controle negativo (com o diluente do extrato e sem inespecífica, utilizando-se agentes não específicos
nada) para excluir reação ao diluente ou dermogra- (histamina, metacolina, ar seco e frio).
fismo. O controle positivo também pode ser utilizado O teste é realizado através da aplicação de
como critério de avaliação de resultado, comparan- spray ou nebulização contendo moléculas de
do-se o tamanho das pápulas. alérgenos na cavidade nasal, desencadeando a
Em relação aos alérgenos inalantes, o teste cutâ- reação de hipersensibilidade mediada por IgE. A
neo positivo, associado à história clínica compatível, positividade é dada por diferentes métodos, porém
fecha o diagnóstico de rinite alérgica. São desneces- nenhum deles é totalmente aceito, pois os sintomas
sários testes in vitro. produzidos na provocação nasal podem ser muito
variados. A resposta nasal pode ser aferida através
de medidas objetivas e de um escore dos sintomas:
Dosagem Sérica da IgE Total número de espirros, volume da secreção nasal e
A dosagem sérica da IgE total não deve ser usada queda do pico do fluxo nasal. As medidas objetivas
como exame diagnóstico para rinite alérgica, pois mais utilizadas são a rinomanometria, a rinometria
apresenta baixa especificidade. Pode estar elevada acústica e o peak flow nasal.
em doenças alérgicas e parasitárias, assim como em
outras condições, incluindo fatores raciais.
Citologia Nasal
Pode-se obter a citologia nasal através do es-
Dosagem Sérica de IgE Específica fregaço da secreção nasal, do raspado e do lavado.
O RAST (radioallergosorbent test) é o método A biópsia, apesar de ser um método invasivo,
in vitro mais divulgado, utilizado nos casos em que continua sendo mais precisa para quantificar as
o teste cutâneo é contra-indicado. Apresenta menor células nasais.
risco e não é influenciado por drogas ou doenças
As principais funções do citológico nasal são
de pele, entretanto possui algumas desvantagens
diferenciar as rinites alérgicas, não-alérgicas e
em relação ao teste de punctura, como alto custo e
infecciosas; o seguimento do curso da rinite e seu
demora nos resultados. A relevância clínica desses
tratamento; diferenciar infecção viral e distinguir
testes tem sido bastante estudada, e sua eficiência
rinopatias inflamatórias.
(especificidade e sensibilidade) é constatada em 85%
dos casos com rinite alérgica, porém define apenas
se o paciente produz ou não IgE específica. Tratamento Clínico
Assim como os testes cutâneos, a qualidade dos O esquema geral de tratamento da rinite alérgica
extratos dos alérgenos também é importante, preci- baseia-se no controle da exposição aos antígenos e
sam ser padronizados, pois aumentam a acurácia e irritantes, chamado higiene ambiental. Quando esta
a eficiência desse teste. não é suficiente para controlar os sintomas, adicio-
namos a farmacoterapia. Existem dois grandes gru-
pos de medicamentos que podem ser utilizados: os
Provocação Nasal
anti-histamínicos e descongestionantes controlam os
A rinite alérgica relaciona-se com a resposta de- sintomas rapidamente. Os antiinflamatórios, algumas
sencadeada por IgE, porém nem sempre apresenta vezes chamados de preventivos (cromoglicato dissó-
uma hipersensibilidade imediata. Inicialmente ocor- dico, antileucotrienos e corticosteróides), demoram
re uma hiper-reatividade nasal que pode ser devida alguns dias para alcançarem efeito pleno. Quando
à exposição aos alérgenos, bem como aos agentes a associação de higiene ambiental e farmacoterapia
irritativos. não é suficiente para controlar os sintomas, ou existe
O teste da provocação nasal com alérgenos tem alguma contra-indicação ao seu uso, iniciamos as
sido pouco utilizado na prática clínica, exceto para vacinas com extratos alergênicos. A utilização de
realizar o diagnóstico de rinite ocupacional, quando soluções salinas para lavagem nasal, quer isotôni-
houver discrepância entre os achados clínicos e os cas, quer hipertônicas (3%), tem sido recomendada
testes cutâneos. Outras indicações são as pesquisas por diversos especialistas, inclusive nas rinites de

Voltarelli42.indd 937 30/9/2008 16:16:21


938 CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA

pacientes grávidas. Tais soluções podem controlar Farmacoterapia


alguns sintomas, com risco virtual de efeitos cola- Anti-histamínicos
terais relevantes.
Os anti-histamínicos estão entre os principais
medicamentos utilizados no controle dos sintomas
Higiene Ambiental como prurido, espirros e rinorréia; em geral, pos-
Evitar o contato do paciente alérgico com as suindo pequeno efeito sobre a congestão nasal. Por
substâncias que lhe desencadeiam os sintomas é o outro lado, recentes estudos mostram que a azelas-
primeiro passo e talvez o aspecto mais importante tina tem efeito sobre a obstrução nasal de pacientes
no tratamento. Alguns pacientes infelizmente não com rinite idiopática.
têm a melhora esperada, acarretando sua displicência O principal mecanismo de ação dessa classe de
na manutenção desses cuidados. Mesmo não sendo medicamentos age sobre os receptores H1 de hista-
suficiente para controlar os sintomas, pode haver mina, em que atuam como agonistas inversos. Isso
redução da intensidade dos sintomas, resultando em significa que induzem esses receptores a um estado
uma menor necessidade de utilização de medica- inativo, ao passo que a histamina faz o contrário.
mentos. A terapia não-medicamentosa envolve ainda Os antagonistas H 1 podem ser divididos em
a lavagem nasal com solução fisiológica, pois ela clássicos e não-clássicos. Os de primeira geração,
diminui o contato da mucosa nasal com o alérgeno, ou clássicos, por serem moléculas pequenas, fa-
reduzindo a intensidade da reação e, conseqüente- cilmente atravessam a barreira hematoencefálica,
mente, os sintomas. conferindo-lhes um efeito sedativo importante. Além
A alergia alimentar como causa de rinite alérgica disso, potencializam o efeito depressor do álcool no
é pouco freqüente. Quando ocorre, em geral teremos sistema nervoso central, de inibidores da monoamina
o surgimento de outras manifestações alérgicas sis- oxidase (IMAO), antidepressivos tricíclicos, anti-
têmicas, como problemas gastrintestinais, cutâneos parkinsonianos, barbitúricos e benzodiazepínicos.
e/ou pulmonares. Eles também interagem com contraceptivos orais,
progesterona, reserpina e diuréticos tiazídicos, bem
Os principais antígenos relacionados com a
como inibem a ação de anticoagulantes.
rinite alérgica são os inalados (Tabela 42.3). Além
de evitar o contato com os antígenos, os pacientes Os anti-histamínicos de primeira geração de-
devem ser orientados a evitar os irritantes nasais sencadeiam fadiga e sonolência em 10% a 25%
como cheiros fortes, fumaça de cigarro, perfumes e dos pacientes, e diminuem a capacidade de realizar
outros agentes da poluição. tarefas que exigem habilidade motora; tal relação é
dose-dependente. Alteram a coordenação motora o
equivalente a uma dose sangüínea de 0,05 mg/dL de
álcool. Nas crianças, alguns estudos revelam que sua
Tabela 42.3. Antígenos Inalatórios mais utilização pode prejudicar o aproveitamento escolar.
Freqüentemente Associados à Rinite Alérgica Possuem ainda efeitos anticolinérgicos.
Ácaros • Dermatophagoides pteronyssinus Os anti-histamínicos não-clássicos incluem ceti-
• Dermatophagoides farinae rizina, cetotifeno, desloratadina, ebastina, epinastina,
• Blomia tropicalis
• Euroglyphus maynei fexofenadina, loratadina e rupatadina (para uso sis-
têmico), e azelastina (para uso tópico nasal). Esses
Fungos • Alternaria alternata
anti-histamínicos de segunda geração são inibidores
• Cladosporium herbarum
• Aspergillus fumigatus da expressão de ICAM-1, uma das moléculas de
• Candida sp. adesão relacionadas com a atração de eosinófilos
Baratas • Blattella germanica
para a mucosa nasal. Alguns, como a azelastina, são
• Periplaneta americana capazes de reduzir a liberação de histamina, a produ-
ção de leucotrienos e a entrada de cálcio na célula.
Antígenos • Epitélio descamado de cão, gato, coelho,
animais cavalo, boi Embora esses anti-histamínicos não-clássicos sejam
• Proteínas da saliva e urina de gatos e bastante seguros e não causem sedação nas doses
roedores habituais (moléculas grandes e pouco lipofílicas),
Pólens • Phleum pratense podem levar a quadros de depressão do sistema ner-
• Lolium perenne voso central quando ocorre superdosagem. Alguns
• Dactylis glomerata deles como a fexofenadina são aprovados pela FDA
• Festuca pratensis
para uso por pilotos de aviação comercial. A terfena-

Voltarelli42.indd 938 30/9/2008 16:16:21


CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA 939

dina e o astemizol foram retirados do mercado, pois, Cromoglicato Dissódico


quando em altas concentrações sangüíneas, podiam O cromoglicato dissódico é capaz de estabilizar a
provocar cardiotoxicidade. Como são metabolizados membrana dos mastócitos, diminuindo sua degranu-
no fígado pelo sistema do citocromo P-450, sua lação. Além disto, inibe a entrada de cálcio na célula,
ingestão deveria ser evitada quando os pacientes assim como diminui sua disponibilidade intracelular,
faziam uso de alguns antifúngicos (cetoconazol) e e, por conseqüência, diminui a liberação de histami-
macrolídeos. na. Bloqueia algumas ações do PAF e diminui a rea-
tividade de receptores irritativos sensitivos aferentes.
Descongestionantes Clinicamente, controla espirros, rinorréia e prurido,
Os descongestionantes levam ao alívio da con- com pouca ação sobre a obstrução. Seu efeito pleno
gestão nasal. Podem ser administrados por via tópica surge em, aproximadamente, duas a quatro semanas,
ou sistêmica, e ambas apresentam efeitos sistêmicos. e seus principais efeitos colaterais são irritação local,
São divididos em dois grupos. As catecolaminas gosto amargo e espirros. Por apresentar baixíssimos
(pseudo-epinefrina e fenilefrina [efeito predomi- índices de efeitos colaterais, torna-se uma medicação
nantemente α1]) e os imidazólicos (nafazolina, oxi- segura para ser utilizada em crianças.
metazolina etc. [efeito predominante α2]). Os dois
grupos são efetivos, pois nos vasos de capacitância
Antileucotrienos
nasal existem receptores α1 e α2.
Os leucotrienos são provenientes do metabolismo
Os de aplicação tópica têm início de ação muito do ácido araquidônico pela ação da 5-lipooxigenase
rápido. Não devem ser utilizados por mais de cinco e um co-fator denominado FLAP. Estão relacionados
a sete dias sob pena de desenvolvimento de rinite
com a atração de eosinófilos para a mucosa nasal,
medicamentosa (efeito rebote). Além desse efeito,
com o aumento de produção de citocinas (IL-4 e 5) e
os seletivos α2 reduzem o fluxo sangüíneo da mu-
com a elevação da permeabilidade vascular. Os sin-
cosa para cerca de 30% a 40%, o que, em longo
tomas relacionados são obstrução nasal e coriza.
prazo, pode gerar destruição do epitélio e perfuração
septal. Os antileucotrienos podem ser divididos em dois
grupos, os inibidores de síntese (zileuton) e os anta-
Os sistêmicos são os únicos que podem ser
gonistas de receptores (montelucaste e zafirlucaste).
usados por período mais prolongado, pois não têm
O montelucast tem-se mostrado útil no controle da
efeito rebote. Seu início de ação é ao redor de 30
obstrução nasal e da coriza, principalmente em pa-
minutos, e seus efeitos colaterais mais comuns são
cientes com associação de sintomas de vias aéreas
nervosismo, tremores, cefaléia, insônia, aumento da
inferiores.
pressão sangüínea e retenção urinária em pacientes
com hipertrofia da próstata. São causa importante de
intoxicação em crianças. Corticosteróides
A medicação padrão-ouro para o tratamento
Anticolinérgicos da rinite alérgica é o corticosteróide tópico. Todas
O brometo de ipratrópio é um derivado quaterná- as células do nosso corpo possuem receptores em
rio da isopropil noratropina, porém não se encontra sua membrana plasmática para os corticosteróides.
mais disponível para aplicação tópica nasal. Seu Eles, ao se ligarem a esses receptores, encaminham-
mecanismo de ação corresponde à competição com se ao núcleo, de onde irão estimular áreas de DNA.
a acetilcolina pelos receptores muscarínicos, inibin- Dessa estimulação resulta a inibição da síntese de
do sua ação em receptores pós-ganglionares e em várias citocinas e interleucinas inflamatórias e mo-
células efetoras (mastócitos, basófilos, células do léculas de adesão. Além disso, existe a indução da
músculo liso etc.). É pouco absorvido pela mucosa síntese de citocinas antiinflamatórias. O resultado
nasal, além de apresentar pouca lipossolubilidade e é uma redução da liberação de mediadores prove-
não atravessar a membrana hematoencefálica, como nientes do ácido araquidônico, assim como redução
a atropina. Seu efeito é local apenas, e nas doses local do número de mastócitos e diminuição do
usuais reduz a rinorréia, com pequeno efeito sobre influxo de basófilos e eosinófilos.
obstrução. Os corticosteróides tópicos não são usados como
Seus principais efeitos colaterais (nas doses medicamentos sintomáticos, mais sim antiinflama-
usuais) são secura da mucosa nasal, epistaxe, irrita- tórios, e por isso mesmo de forma preventiva. Sua
ção local, cefaléia e irritação faríngea. ação plena demora alguns dias para ser alcançada,

Voltarelli42.indd 939 30/9/2008 16:16:21


940 CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA

sendo, então, capaz de controlar os sintomas tanto da elevação de anticorpos bloqueadores como a IgG4,
fase imediata quanto da tardia. Sua utilização dimi- o retorno ao padrão em que existe o predomínio da
nui os espirros, a rinorréia e o edema dos cornetos, alça Th1 em relação à Th2 é um ponto de extrema
conseqüentemente a obstrução nasal. relevância no seu mecanismo de ação.
Os corticosteróides podem ser administrados de Segundo a literatura disponível, a imunoterapia
forma sistêmica ou tópica. No caso da rinite alérgica, deve ser realizada por tempo prolongado. Quando
a via sistêmica é muito pouco utilizada, sendo reser- utilizamos o material e a técnica corretos, são poucos
vada para quadros muito graves, quando, então, são os casos de reações adversas. As contra-indicações
empregados por curto espaço de tempo. para a imunoterapia estão descritas na Tabela 42.4.
No nosso mercado existem vários corticoste-
róides tópicos, para uso nasal, disponíveis, como
o dipropionato de beclometasona, a budesonida, o Tabela 42.4. Indicações e Contra-indicações da
propionato de fluticasona, o furoato de mometasona Imunoterapia com Extratos Alergênicos em Rinite
e o acetonido de triancinolona. Alérgica
Os efeitos colaterais mais freqüentemente en- Indicações Contra-indicações
contrados com a utilização dos corticosteróides • Doença mediada por IgE • Imunodeficiência
anteriormente citados, nas doses recomendadas, são • Falha na higiene ambiental • Doenças auto-imunes graves
irritação, espirros, sensação de mucosa seca, sabor • Falha na farmacoterapia • Neoplasias malignas
desagradável e epistaxe. Embora sejam descritos, – Ausência de resposta • Distúrbio psicológico grave
satisfatória • Uso de betabloqueadores
o surgimento de perfuração septal e de candidíase – Efeitos indesejáveis • Asma grave não controlada
nasal é bastante raro. O gás empregado nas apre- – Não-aderência ao seu por farmacoterapia
sentações em aerossol pode acarretar uma irritação uso crônico • Doenças cardiovasculares que
• Utilização de extratos de contra-indiquem o uso de
local, o mesmo não ocorrendo com a apresentação boa qualidade epinefrina
aquosa, porém alguns doentes referem a sensação de • Crianças com menos de
gosto desagradável após sua aplicação. 5 anos
• Não-aderência ao tratamento
Todos os corticosteróides tópicos existentes para
aplicação nasal são absorvidos. Excetuando-se a
betametasona e a dexametasona, os outros não têm
efeitos sistêmicos relevantes, quando utilizados Enfoque Terapêutico Inicial
nas doses recomendadas. Logo que a medicação é Utilizando uma tabela de escores (Tabela 42.5)
aplicada nas fossas nasais, parte dela será absorvida, podemos classificar a rinite alérgica em quatro graus
porém, já na sua primeira passagem pelo fígado, será de gravidade.
quase que totalmente metabolizada em produtos Para cada um desses grupos, utilizamos um
inativos. enfoque terapêutico inicial diferente (Tabela 42.6).
Para todos os pacientes, fazemos uma orientação
Imunoterapia sobre como minimizar o contato com os antígenos
e irritantes inespecíficos. Utilizamos ainda um
Segundo a Organização Mundial de Saúde
anti-histamínico, se necessário associado a des-
(OMS), a imunoterapia com extratos alergênicos é
congestionante, por um período de sete a dez dias.
a única forma de tratamento da rinite alérgica capaz
Para os doentes do grupo 2 (escore de sete a 12),
de alterar a evolução natural da doença. Sua indica-
adicionamos cromoglicato dissódico (crianças) ou
ção está descrita na Tabela 42.4. Atualmente, existe
corticosteróides tópico (metade da dose) por um
a tendência de indicação no início da doença, pois,
período de um mês. Para os doentes do grupo 3
assim, evitaremos suas possíveis complicações.
(escore de 13 a 18), a dose do corticosteróide será
O objetivo de sua utilização é a redução da reati- plena, pelo mesmo período. Os pacientes do grupo
vidade específica aos antígenos, assim sendo, dimi- 4 (escore 19 a 24) recebem a mesma orientação tera-
nuindo a dose ou até mesmo retirando a medicação pêutica dos do grupo 3, porém associamos por cerca
utilizada para o controle dos sintomas. de uma semana um corticosteróide sistêmico. Os pa-
Sabemos que uma das características dos doentes cientes são reavaliados com um mês de tratamento.
alérgicos é a presença de linfócitos T auxiliares do Caso tenham melhorado, seu tratamento será como
tipo 2 (Th2). Dentre os vários efeitos da imunotera- o do grupo anterior, e caso contrário o do posterior.
pia, como a redução de receptores celulares para IgE, Quando existe indicação, os pacientes são encami-

Voltarelli42.indd 940 30/9/2008 16:16:22


CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA 941

Tabela 42.5. Escores de Sinais e Sintomas

Sintomas Sinais

Espirros – prurido Cornetos – coloração


0 – Ausente 0 – Róseo
1 – 1 a 4 por dia, prurido ocasional 1 – Avermelhado – rosa pálido
2 – 5 a 10 por dia, prurido esporádico por 30 minutos 2 – Vermelho – pálido
3 – 11 ou mais, interfere com sono e/ou concentração 3 – Anêmico – azulado

Coriza Edema
0 – Ausente 0 – Ausente
1 – Limpeza 1 a 4 vezes ao dia 1 – Hipertrofia de corneto inferior ou médio com pequeno
2 – Limpeza 5 a 10 vezes ao dia bloqueio nasal
3 – Limpeza constante 2 – Congestão comprometendo a respiração em uma ou ambas
as fossas nasais
3 – Congestão impedindo a respiração em uma ou ambas as
fossas nasais

Obstrução nasal Secreção


0 – Ausente 0 – Ausente
1 – Pequena e não atrapalha 1 – A mucosa parece úmida
2 – Respiração bucal na maior parte do dia 2 – Secreção visível em cornetos ou assoalho da fossa nasal
3 – Não respira pelo nariz, interfere com sono, olfato ou voz 3 – Profusa, drenando

Secreção retronasal Inflamação faríngea


0 – Ausente 0 – Normal
1 – Sensação de secreção na garganta 1 – Orofaringe discretamente vermelha
2 – Limpeza freqüente da garganta 2 – Orofaringe vermelha e folículos linfóides aparentes
3 – Tosse e incomoda para falar 3 – Muco visível na parede posterior da orofaringe

nhados para serem submetidos à imunoterapia com A anti-IgE é um anticorpo direcionado à fração
extratos alergênicos. Fc da IgE, que é a porção que se liga à célula e não
Caso não haja melhora da obstrução nasal, os ao antígeno. Portanto, liga-se a toda a IgE do pacien-
pacientes são avaliados para uma possível indicação te e não apenas àquela direcionada aos alérgenos. É
cirúrgica.

Futuro Tabela 42.6. Enfoque Terapêutico Inicial da Rinite


O futuro do tratamento da rinite alérgica não Alérgica (Vide texto)
deve ser diferente do esquema atualmente utilizado.
Escore
Isso significa que nada substituirá a orientação para
higiene ambiental adequada. O que mudará é a dis- 0a6 7 a 12 13 a 18 19 a 24
ponibilidade de um arsenal terapêutico mais amplo, Corticosteróide
com novas drogas. Dentre elas temos os antagonistas sistêmico***
de interleucinas como a anti-IL-4, anti-IL-5 e os
Corticosteróide Corticosteróide tópico
antagonistas de IgE. tópico na metade
A interleucina-4 está relacionada com a diferen- da dose Dose plena
ciação de linfócitos Th2, o estímulo da síntese de
Cromoglicato
IgE e a expressão de moléculas de adesão (VCAM- dissódico*
1) no endotélio dos vasos nasais. A anti-IL-4, apli-
cada com nebulizador, compete com os receptores Imunoterapia**

da IL-4, reduzindo os escores clínicos das doenças Anti-histamínico sistêmico ou tópico/descongestionante


alérgicas. sistêmico**
← 1 mês → Cirurgia**
A interleucina-5 atua na diferenciação, sobrevida,
ativação e quimiotaxia do eosinófilo. A anti-IL-5 é Higiene ambiental
um anticorpo direcionado a essa interleucina. Pode
* Crianças.
ser utilizada de forma tópica ou sistêmica, reduzindo ** Se necessário.
a inflamação eosinofílica. *** Por curto espaço de tempo.

Voltarelli42.indd 941 30/9/2008 16:16:22


942 CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA

utilizada por via subcutânea ou endovenosa, inibindo são mais tardias, e a relação familiar não é tão clara,
a liberação de mediadores pelos mastócitos e eosi- ou inexiste. Geralmente, nos casos de rinites não-in-
nófilos e reduzindo a produção de IgE. fecciosas e não-alérgicas, o prognóstico é bom, e o
tratamento clínico ou cirúrgico (quando necessário)
é eficaz.
RINITES NÃO-ALÉRGICAS
As rinites não-alérgicas são reações inflamatórias Tipos de Rinites
da mucosa nasal sem participação do mecanismo
alérgico, ou seja, não ocorre uma reação do tipo I de Rinite Infecciosa
Gell e Coombs mediada por IgE específica. A rinossinusite aguda viral é uma das doenças
nasais mais freqüentes, que afeta 5% a 15% da
As rinites não-alérgicas são diagnóstico de ex-
população urbana. Podemos classificá-la em aguda,
ceção em relação à rinite alérgica. Pacientes com
aguda recorrente, crônica e exacerbações agudas da
sintomas nasais inflamatórios crônicos, submetidos
doença crônica. Pode ter etiologia viral, bacteriana
aos exames diagnósticos conhecidos até o momento,
ou de outros agentes infecciosos. Os agentes virais
e que não mostraram reação positiva a um antígeno
mais freqüentes são Rhinovirus, vírus influenza e
específico causador dos sintomas, têm rinite não-
parainfluenza. Dentre as bactérias mais comuns, des-
alérgica. A Tabela 42.7 mostra os tipos mais comuns
tacam-se o Streptococcus pneumoniae (20% a 35%)
de rinites (classificadas segundo a presença de célu-
e o Haaemophilus influenzae (6% a 26%). Outras
las inflamatórias).
bactérias encontradas são Moraxella catarrhalis,
A Fig. 42.1 resume de maneira esquemática Staphlycoccus aureus e anaeróbios. Etiologias me-
as principais vias e mecanismos fisiopatológicas nos freqüentes podem ocorrer, como Pseudomonas
das principais rinites, dividindo-as em três gran- aeruginosa, Aspergillus, Mycobacterium tubercu-
des grupos: viral, alérgico e irritativo. losis, Klebsiella rhinoscleromatis, Mycobacterium
Os sintomas das rinites, tanto alérgicas quanto leprae e Treponema pallidum.
não-alérgicas, caracterizam-se por rinorréia, espir-
ros, prurido e obstrução nasal. Podem ocorrer ainda
hiposmia e roncos. Todas as rinites apresentam sin-
Rinite Eosinofílica Não-alérgica
tomas semelhantes, variando apenas a intensidade Trata-se de uma rinite persistente com eosinofilia
em cada subtipo. A história clínica deve ser minu- nasal. Consiste de uma síndrome heterogênea com
ciosa e os exames complementares devem ser feitos dois subgrupos principais: a rinite eosinofílica não-
corretamente para que o diagnóstico etiológico seja alérgica (RENA) e a intolerância à aspirina.
preciso e o tratamento, efetivo. Em relação à idade Caracteriza-se pela presença de eosinofilia nasal
de início, as rinites não-alérgicas e não-infecciosas com sintomas perenes de espirros e prurido, coriza,

Tabela 42.7. Classificação das Rinites segundo a Presença de Células Inflamatórias


Rinites com Células Inflamatórias Rinites sem Células Inflamatórias
Eosinófilos Neutrófilos Outras Irritantes Outras

Rinite alérgica Rinossinusite bacteriana Rinite viral Rinite idiopática Rinite atrófica

Síndrome eosinofílica Adenoidite Granulomatose de Rinite irritativa Gestacional


não-alérgica Wegener

Síndrome da eosinofilia Fibrose cística Sarcoidose Rinite do idoso Hormonal


crônica e sinusite

Sensibilidade ao ácido Granuloma de linha Rinite gustativa Fármacos


acetil salicílico média

Outras inflamações Rinite do frio (esquiador) Tumores


não-usuais

Sensibilidade a múltiplas Etc.


substâncias químicas

Voltarelli42.indd 942 30/9/2008 16:16:22


CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA 943

Infecção (viral e bacteriana)

Epitélio
IL-8
IL-8
ICAM-1 Neutrófilo
IL-8 IL-3
Hormonal
Medicamentosa
LTh1 TFN-α Defesa Outras
Lesão
IFN-γ IgM
IgG Obstrução
LTh0 LB Rinorréia Neuropeptídio
Plasmócito
Prurido

Irritantes
IgE
IL-4
LTh2 Mastócito Lesão

IL-4 IL-4

Alergia VCAM-1 Eosinófilo

IL-5

Fig. 42.1 – Principais grupos de rinites e seus mediadores. IL – interleucina; LTh – linfócito T-helper; IFN-γ – interferon-gama; ICAM e VCAM – moléculas de
adesão; TNF-α – fator de necrose tumoral alfa.

obstrução nasal, e às vezes diminuição da olfação. Rinite Irritativa


Existe associação a hiper-reatividade brônquica A rinite irritativa é um tipo de rinite não-alérgica
inespecífica em 50% dos casos, embora a asma não que ocorre após exposição a um ou mais agentes
seja comum. irritantes. Após um intenso contato de determinado
A RENA envolve três estágios distintos: migra- agente com a mucosa nasal, acontece uma irritação
ção de eosinófilos dos vasos para as secreções, re- direta celular e neural, gerando os sintomas de obs-
tenção de eosinófilos na mucosa (ativação de origem trução e prurido nasal, rinorréia ou ressecamento
desconhecida) e polipose nasal. nasal. Geralmente, os sintomas diminuem quando
A maioria dos casos de RENA tem boa resposta o paciente se afasta do agente irritante. Por muitas
aos corticosteróides tópicos. vezes, a lesão tecidual pode ser maior, necessitando
de tratamento específico com corticoterapia tópica,
e sintomático, com descongestionantes orais, após
Rinite Idiopática o diagnóstico específico.
A rinite idiopática é de etiologia desconhecida,
acomete geralmente o sexo feminino, entre 40 e
60 anos, ocorre devido a uma hiper-reatividade do Rinite Ocupacional
trato respiratório superior a substâncias ambientais A rinite ocupacional ocorre após exposição aos
inespecíficas, como mudanças de temperatura e agentes aéreos no ambiente de trabalho, e pode ser
umidade, exposição a odores fortes ou perfumes, alérgica ou não-alérgica. Muitos agentes ocupacio-
e fumaça de cigarro. No passado, era conhecida nais são irritantes. As causas mais comuns de rinite
como rinite vasomotora, porém posteriormente se ocupacional incluem grãos (padeiros e agricultores),
descobriu que o componente vasomotor não era fuligem de madeira, látex, animais de laboratório
patognomônico e nem o único mecanismo fisiopa- (ratos, porcos e outros) e produtos químicos, como
tológico desse tipo de rinite. ácidos, sais, colas e solventes etc.

Voltarelli42.indd 943 30/9/2008 16:16:22


944 CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA

A rinite ocupacional não-alérgica, geralmente, é Como última consideração, a incidência de tu-


devida à irritação direta de substâncias ambientais mores malignos aumenta na terceira idade. O exame
nocivas à mucosa nasal, com um quadro de obstru- minucioso da fossa nasal nessa faixa etária é impres-
ção e irritação nasal acompanhado de rinorréia. É cindível.
comum em locais de trabalho onde os irritantes
ambientais são abundantes, como em fábricas com
Rinite Hormonal
emissão de gases que provêm da combustão de
óleos, ou na formação de produtos químicos. Os hormônios estrógenos e fatores de crescimen-
to placentários atuam sobre o trofismo da mucosa
Em relação à alérgica, acomete geralmente
respiratória e a velocidade de transporte mucociliar
trabalhadores de locais onde existem proteínas de
nasal. O mecanismo de ação mais provável da rinite
plantas ou animais no local de trabalho. A rinite
hormonal é através dos receptores estrogênicos nas
do padeiro ocorre por alergia à farinha ou a áca-
terminações nervosas, glândulas da mucosa e sub-
ros de estocagem. Já em profissionais de saúde, a
alergia ao látex, geralmente dermatite, é cada vez mucosa do nariz. Os estrógenos ativam o sistema
mais comum. A prevenção é essencial, com uso de nervoso parassimpático, desencadeando obstrução
máscaras e luvas hipoalérgenas. nasal, espirros e rinorréia.
O ambiente deve ser protegido, com aspiradores, As rinites podem ocorrer durante o ciclo mens-
telas de proteção, filtros de ar, dependendo do agente trual, puberdade, gestação e desordens endócrinas
irritante. O funcionário deve usar máscara protetora específicas como o hipotireoidismo. A irregularidade
durante o período em que estiver no ambiente com hormonal pode ser responsável por atrofia da muco-
os gases. sa nasal na menopausa.
Algumas mulheres têm obstrução nasal durante
Rinite do Idoso a menstruação ou em uso de contraceptivos hormo-
A rinite do idoso ocorre após os 65 anos de idade, nais com doses altas de estrógenos. As mulheres no
devido a mudanças fisiológicas da vascularização e climatério que não realizam reposição hormonal
dos tecidos conectivos do nariz. Os sintomas mais tendem a apresentar atrofia da mucosa nasal, com
freqüentes são rinorréia anterior e posterior, princi- sensação de ressecamento e episódios de epistaxe
palmente ao ingerir alimentos quentes e ao deitar à mais freqüentemente.
noite. Pode ocorrer ainda obstrução nasal.
A rinite gestacional caracteriza-se pela congestão
A rinite por atrofia da mucosa nasal não é in- nasal no último trimestre da gravidez, sem outros
comum e pode levar à pequena perfuração septal sinais de causas alérgicas ou infecciosas das vias aé-
anterior, sem causa aparente. reas superiores, desaparecendo completamente duas
A rinite alérgica raramente acomete o idoso, semanas após o parto. Atinge cerca de 30% a 40%
pois a reatividade diminui com o tempo, tornando-o das gestantes, pior em multíparas, e pode acontecer
anérgico. Ao contrário, a reatividade nasal torna-se também no início da gestação.
exacerbada em alguns indivíduos. As gestantes devem evitar o consumo de medi-
O tratamento com anticolinérgicos tópicos con- camentos sem prescrição médica, devido ao risco de
trola a rinorréia de maneira satisfatória, porém não teratogênese (Tabela 42.8). Deve-se tomar cuidado
estão mais disponíveis, no Brasil, para aplicação com medicamentos novos, pois foram ainda pouco
tópica nasal. O uso de descongestionantes orais tam- estudados.
bém é efetivo em alguns casos, mas podem causar
efeitos colaterais em idosos, principalmente retenção
urinária em pacientes com hipertrofia prostática. Rinite no Esporte
Devem-se evitar os descongestionantes em pacientes A rinite do atleta é pouco freqüente, ocasionada
com cardiopatia grave e as drogas sedativas, pois devido a um efeito rebote que ocorre após o aumento
podem causar severos efeitos colaterais. da pulsação e diminuição da resistência nasal por
Muitas drogas comumente usadas por idosos, cerca de até 1 hora após o exercício, especialmente
como reserpina, guanetidina, fentolamina, me- em corredores de longa distância e ciclistas.
tildopa, prazosin, clorpromazina e inibidores da Os vasoconstritores efedrina e pseudo-efedrina
enzima conversora de angiotensina, podem causar oral e nasal, os corticosteróides e os esteróides tópicos
rinite, cujo sintoma costuma ser, normalmente, a (a não ser que o atleta tenha uma declaração médica
obstrução nasal. para sua utilização) são contra-indicados. Os anti-his-

Voltarelli42.indd 944 30/9/2008 16:16:23


CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA 945

Tabela 42.8. Tratamento da Rinite Gestacional causa uma complicação da obstrução nasal inicial
do paciente.
Inicial • Higiene ambiental e lavagem nasal
O tratamento deve ser a descontinuação do uso
Anticolinérgicos • Provou-se serem seguros, mas deve-se do vasoconstritor imediatamente, uso de descon-
usar após o terceiro trimestre de gestação gestionantes orais para alívio do paciente, e corti-
Cromoglicato • Deve-se usar após o terceiro trimestre de costeróide tópico nos casos mais leves. Nos casos
gestação graves, pode-se introduzir corticosteróide oral em
Corticosteróides • Sem registro de teratogenicidade doses baixas.
tópicos (sistêmico) As rinites por drogas têm a sua origem bem es-
• Não se recomenda o uso antes do terceiro
trimestre de gestação tabelecida. Os fármacos que mais freqüentemente
• Dose mais baixa possível e pelo menor causam sintomas nasais são a aspirina ou outro
tempo necessário antiinflamatório não-hormonal, metildopa, inibidor
• A budesonida é classificada como classe B
segundo a FDA* da ECA, antagonistas α-adrenérgicos, reserpina,
antidepressivos, contraceptivos orais, estrógenos e
Imunoterapia • Não aumentar a dose durante a gestação,
para evitar-se o risco de anafilaxia
colírios com betabloqueador.
• Para iniciar a imunoterapia, recomenda-se
esperar o término da gestação
Tratamento das Rinites Não-alérgicas
* Risco de medicamentos utilizados durante a gravidez gerarem
problemas ao feto segundo a FDA (Food and Drug Administration):
O tratamento das rinites não-alérgicas visa a
Classe A – ausência de risco; Classe B – sem evidência de risco; combater a causa, afastando-a do paciente, porém o
Classe C – o risco não pode ser afastado; Classe D – evidência de uso de algumas drogas e a lavagem nasal, já mencio-
risco; Classe E – contra-indicação.
nados, são necessários em algumas ocasiões.
Os anti-histamínicos são normalmente usados na
tamínicos de primeira geração, com efeito colinérgico rinite alérgica, porém nas rinites não-alérgicas eles
e sedativo, não são indicados. Em caso da opção pela também têm uma função importante. Inibem a ação
imunoterapia, devemos lembrar que esta pode causar da histamina no receptor da célula, ocasionando
desconforto na região da aplicação subcutânea. uma inibição da ação histamínica de origem não-
alérgica nos pacientes onde não existe a reação da
IgE específica. Sua ação principal será a diminuição
Rinite Gustativa de prurido, espirros e rinorréia.
A rinite gustativa é uma rinite incomum, com
Os descongestionantes orais produzem rápido alí-
grande incômodo para o paciente. Seus sintomas são
vio da obstrução em qualquer tipo de rinite inflama-
desencadeados quando o paciente ingere alimentos
tória, levando a uma maior adesão ao tratamento.
condimentados ou com diferença de temperatura,
geralmente quentes. A queixa principal é rinorréia Os corticosteróides tópicos atuam em todo o
aquosa durante as alimentações e, geralmente, aco- processo inflamatório da mucosa nasal, de etiolo-
mete indivíduos com rinite idiopática. gia alérgica ou não, e são considerados a classe de
O tratamento é semelhante ao da rinite do idoso, medicamentos mais efetiva nas rinites não-alérgicas
com anticolinérgicos tópicos diariamente ou antes em geral. Podem ser usados em adultos, e alguns
das refeições nos pacientes mais reativos. são liberados para uso em crianças. Sua absorção
sistêmica é mínima, existindo muito poucos efeitos
colaterais, que geralmente ocorrem em superdosa-
Rinite Medicamentosa e por Drogas gem ou mau uso por parte do paciente.
A rinite medicamentosa, decorrente do uso
crônico de descongestionantes tópicos, altera a
fisiologia nasal, diminuindo os batimentos ciliares BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
e causando um efeito rebote, levando a uma maior 1. Balbani AP, Duarte JG, de Mello JF, D’Antonio WE, Camara J,
congestão nasal. Essas drogas devem ser reservadas Butugan O. Toxicity of drugs used for treatment of rhinitis: A
para situações nas quais os descongestionantes orais reminder to the otorhinolaryngologist. Am J Rhinol, 14:77-82,
não podem ser usados, restringindo seu uso para no 2000.
2. Balbani APS, Mello Jr, JF, Marone SAM, Butugan O. Influên-
máximo duas vezes ao dia por poucos dias (menos cia Hormonal sobre a Fisiopatologia da Rinite. Rev Bras Alerg
de cinco a sete). Geralmente, o descongestionante Imunopatol, 23(4):151-157, 2000.

Voltarelli42.indd 945 30/9/2008 16:16:23


946 CAPÍTULO 42 RINITE ALÉRGICA E NÃO-ALÉRGICA

3. Bousquet PJ, Bousquet-Rouanet L, Co Minh HB et al. ARIA 5. Informe da Organização Mundial da Saúde. Imunoterapia com
(Allergic Rhinits and its Impact on Asthma). Classification of alérgenos: vacinas terapêuticas para doenças alérgicas. Rev
allergic rhinitis severity in clinical practice in France. Int Arch Bras Alerg Imunolpatol, 23:1-55, 2000.
Allergy Immunol, 143:163-169, 2007. 6. Mion O, Mello Jr JF, Gomes A, Miniti A. Rhinitis in the elderly
4. Ellegard EK. The etiology and management of pregnancy needs specific management. Rhinology. Abstracts of the Con-
rhinitis. Am J Respir Med, 2:469-75, 2003. gress of the European Rhinologic Society – International Sym-
posium on Infection and Allergy of the Nose, p. 100, 2002.

Voltarelli42.indd 946 30/9/2008 16:16:23

Você também pode gostar