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FUNDAMENTOS DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS

(FUNDAMENTOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO)


PROF. FRANCISCO SATIRO
Amanda Della Togna Torres

AULA 12/08

Atividade: contrato por meio do qual um se obriga a entregar a revisão de uma escritura
de debêntures de 1800 páginas no prazo de 01 mês e em contrapartida deve receber 100
mil reais, a serem pagos no dia 12/09. Em seguida, duas cessões consecutivas desse
crédito.

Crédito condicional: ele só existe se antes houver o cumprimento da obrigação


precedente (o segundo cessionário não recebe se o serviço não for prestado, ou seja, se as
1800 páginas não forem entregues). O crédito existe, porém está suspenso, pois depende
de uma condição precedente (problema de eficácia).

Quem cedeu era efetivamente titular do crédito? Quando chegou no primeiro cessionário,
o crédito poderia ter sido compensado, por exemplo. O devedor deve ser notificado a cada
cessão.

Se formalmente havia algum problema no contrato de prestação de serviços ou nos


contratos de cessão, o credor fica sem receber.

Não há nada que impeça a cessão de crédito pelas vias normais do Direito Civil. Porém,
quanto mais o crédito “anda”, mais inseguro ele fica.

Em atividade empresária, crédito é tudo. É diferente de consumo, pois, na atividade


empresária, o crédito faz girar o dinheiro e esse giro gera o lucro, que, por sua vez, é o
objetivo da atividade empresária. Endividamento não é opção em atividade empresária, é
a regra.

Nota promissória é promessa incondicional de se pagar determinado valor. Se tivesse


que transferir para mais 20 pessoas, a única dificuldade seria seguir a cadeia de endossos
– no final, paga-se para quem estiver com o título.

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Título de crédito: é um instrumento que possibilita a circulação de crédito com segurança
e garantia. Facilita enormemente a circulação de riquezas. Não é preciso de notificação,
cláusula contratual, garantia etc.

AULA 15/08

A obrigação de pagamento fica vinculada a como a prestação foi feita. A cessão de uma
obrigação de um contrato no Direito Civil vai ser feita via um contrato, acrescentando um
contrato na relação, o qual estará sujeito a todos os requisitos de validade de um contrato
comum. A lógica da cessão de crédito é a mesma desde o Direito Romano.

Na Idade Média, verificou-se a estabilização comercial de algumas cidades, como Veneza


e Gênova. Começa, então, a surgir um novo tipo de riqueza: aquela decorrente do
comércio (ouro, moeda, em detrimento da propriedade de terras). Os comerciantes
precisavam de câmbio, precisavam trocar moeda. Quando alguém queria trocar dinheiro
de um para outro, ia até o profissional local, depositava suas moedas lá e esse profissional
fazia uma carta que mandava o correspondente de outra cidade pagar um determinado
valor ao portador da carta – era a chamada “carta de câmbio”.

Com o passar do tempo, a carta passou a poder circular para qualquer um.

A grande inovação desse instrumento foi permitir que um direito de crédito fosse
materializado num título, circulando com ele. Reconhecimento de que o direito estava
contido no papel.

Há cerca de 60 anos, começamos a verificar um período de desmaterialização dos títulos


de crédito. Passa-se, então, a se questionar como eles viveriam numa era de
desmaterialização sendo que seu principal mérito e característica sempre foi a
materialização.

Para transferir o título de crédito, basta endossá-lo; só a assinatura também é suficiente.


O direito acompanha o papel, então, enquanto a pessoa estiver com o papel, ela será
portadora do título. Ainda, destaca-se que qualquer papel pode virar um título de crédito,
desde que nele se verifiquem os requisitos necessários.

A transferência por endosso tem dupla vantagem: o endossante (quem transfere), ao


mesmo tempo que transfere o título, também o garante subsidiariamente caso o devedor

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não o pague. Só não haverá essa garantia se o endossante escrever expressamente no título
que o endosso é sem garantia; do contrário, o endosso sempre terá essa garantia.

Exemplo do Professor: o Credor 3 pode cobrar do Devedor, mas também pode cobrar do
Credor 1 e do Credor 2. O risco da operação, porém, não é aumentado. Ainda, cada um
que endossa fica à disposição para pagar o título caso o devedor não o pague.

1. PRINCÍPIOS:
a. Princípio da autonomia das obrigações: cada um que se obriga num título,
obriga-se autonomamente, independentemente de outras relações do título (“assinou o
título, responde”).

No âmbito dos títulos de crédito, quanto mais o título circula, maior a chance de o credor
receber. Na cessão de crédito, por outro lado, quanto mais o crédito circula, mais difícil
é para o credor receber, pois a cadeia toda deve estar regular para isso.

b. Princípio da cartularidade: para exercer o direito, é necessário o título (papel,


documento). O devedor só paga se receber o documento.

O direito não está no título: ele está referido nele, mas existe independentemente dele. Se
perder o documento, há a possibilidade de o recompor, porém, isso deve ser feito
judicialmente.

c. Princípio da literalidade: vale o que está escrito no título ou o que está na lei. O
credor só pode exigir e o devedor só pode ser exigido na exata medida do que está escrito
no título ou definido na lei.

AULA 19/08

Atividade: Elaborar letra de câmbio e responder as perguntas com base na Lei Uniforme
de Genebra sobre Letras de Câmbio e Notas Promissórias.

Pro soluto: a entrega do título é o pagamento.

Pro solvendo: a dívida só é paga quando o título é pago.

A letra de câmbio não é promessa de pagamento como a nota promissória, mas sim uma
ordem de pagamento. Trata-se de relação triangular, na qual se têm sacador, sacado e

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beneficiário. Sacador é quem emite a letra contra o sacado, ordenando que este efetue o
pagamento para o beneficiário.

Protesto por falta de aceite: certificado de que o título não foi aceito. Quem tem que pagar
é o sacador, à vista, imediatamente.

AULA 22/08

Letra de câmbio é um título pouco utilizado hoje, porém, é a origem da estrutura que é
usada, a ordem de pagamento.

Há duas grandes estruturas:

a. Ordem de pagamento: quem sacou manda pagar para um terceiro, ou seja, p


sacador manda o sacado realizar o pagamento para um beneficiário. Relação de
três pés. Letra de câmbio.
b. Promessa de pagamento: é o emitente que promete pagar para o beneficiário. A
mais tradicional é a nota promissória

Para se ter uma nota promissória ou uma letra de câmbio, basta colocar no papel todos os
requisitos necessários a cada uma delas.

O Professor destaca que o artigo 887 do Código Civil traz uma definição errada do que é
o título de crédito: o direito não está contido no título, mas apenas mencionado/referido
nele, circulando com ele.

“Art. 887. O título de crédito, documento necessário para o exercício


(cartularidade) do direito literal (literalidade) e autônomo (autonomia) nele
contido, somente produz efeito quando preenche os requisitos da lei”.

A relação cambiária decorre do negócio jurídico, que é chamado negócio fundamental,


negócio original ou, ainda, causa.

Quando não se não coloca o nome do endossatário, temos um endosso em branco. Se o


nome é colocado, fala-se em endosso em preto.

No endosso, “você pode escolher qualquer um que está atrás de você e eles, por sua vez,
podem cobrar em regresso de quem está atrás deles”.

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Caso em que há um problema no negócio fundamental: a defesa baseada no negócio feita
pelas partes envolvidas no negócio sempre pode ser oposta, porque é uma relação pessoal
das partes e não uma relação de títulos de crédito. Entre as partes originais, isso é muito
simples. Se o título já foi endossado, porém, a situação é diferente: se o título está com
um terceiro de boa-fé, tem que pagar e depois pode cobrar da contraparte no negócio
fundamental.

Em regra, os títulos são abstratos (abstração). Pela abstração, a causa ou negócio


fundamental não circula com o título. Se o título for causal, a causa circula junto e pode
sempre ser oposta. Se for abstrato, morre na relação original. Logo, abstração e
causalidade só importam se o título circula. Duplicatas, por exemplo, são sempre causais.
Ainda, quando o título circula, se quem o recebeu era terceiro de boa-fé que não tinha
como ter acesso à causa, não há como se dizer que era causal.

Todo título, em princípio, é à ordem. Pode-se estabelecer que será emitido não à ordem.

Aval é garantia cambiária, garante pessoalmente o pagamento do título; basta assinar o


título, mas o mais correto é escrever por aval de. É diferente da fiança, que é garantia
acessória.

O endossante é garantidor subsidiário.

O meio de provar que o título foi cobrado, mas não foi pago é o protesto. Com o protesto,
pode-se cobrar daqueles anteriores na cadeia. Se o avalista não se manifestar, ele é
avalista do devedor principal, podendo ser cobrado mesmo antes deste, pois está na
mesma posição que ele.

Por fim, o Professor fez menção aos seguintes títulos de crédito:

i. Cheque nominal cruzado: dois traços de um lado do cheque ao outro.


ii. Duplicata mercantil e duplicata de prestação de serviços. Duplicata da nota
fiscal que permite cobrar, como título de crédito, o valor da venda.

AULA 29/08

CHEQUE

Cheque é ordem de pagamento e não promessa de pagamento. Para o Professor, o cheque


estabelece a lógica dos títulos de crédito.

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Na letra de câmbio, o sacador mandava o sacado pagar para o beneficiário; o sacado
decide se quer ou não pagar o título. O cheque tem a mesma estrutura, com a diferença
de que o sacado é sempre um banco, que não tem a opção de não pagar. O Banco pagará
com recursos do próprio sacador (dinheiro que ele tem em conta corrente). É uma ordem
de pagamento à vista.

O cheque tem uma forma obrigatória, de modo que todo cheque terá sempre a mesma
“cara”. Trata-se de modelo padronizado, por isso é possível a existência da máquina de
preencher cheques.

O cheque nominal é aquele no qual o nome do beneficiário está escrito no próprio


cheque.

Análise do caso de seminário:

O Banco não tem obrigação nenhuma de pagar com fundos próprios, ele paga com
dinheiro do próprio sacador.

Cheque nominal, em que se dizia quem emitiu o cheque, o Banco e o nome do beneficiário
(Mercado São Jorge).

a. O cheque pode ser transferido pela simples entrega?

O cheque deveria ter sido endossado para ser transferido a alguém. Se o cheque é nominal,
ele deve ser pago para o beneficiário - qualquer um pode levar o cheque no banco, desde
que deposite na conta dele. O Banco, portanto, só poderia aceitar o depósito na conta do
beneficiário.

O cheque pode ser transferido pela simples entrega se não for endossado, mas não pode
ser apresentado ao Banco para pagamento a outrem que não o próprio beneficiário.

b. A simples entrega pode ser considerada endosso?

O título cartularizado pode circular sem endosso, mas, quando isso é feito, não se tem os
benefícios do endosso: obrigação, ter a sequência de quem recebeu o título etc.

Endosso traslativo: transfere o direito. Pode ser em preto (digo quem é o endossatário
ou beneficiário) ou em branco (não digo quem é o endossatário).

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Exemplo de quando Collor proibiu títulos ao portador (aqueles em que não se identifica
quem é o credor). Se alguém preencher um cheque sem preencher quem é o beneficiário,
trata-se de cheque ao portador, de modo que qualquer um que apareça no caixa pode
depositá-lo. Fica impossível o rastreamento. A proibição segue até hoje. Ou seja, para se
receber um direito ou crédito que está no título, será sempre necessária a indicação do
credor. Isso não significa que o título não possa circular ao portador: o cheque pode ser
ao portador, mas, para ser depositado, o portador deve completá-lo, identificando-se.
Título incompleto apresentado para pagamento não poderá ser pago.

Antes do depósito, o Posto deveria regularizar a titularidade do título. Ele deveria


completar o endosso para que o cheque tivesse seu nome.

Isso tende a mudar, pois estamos em um momento de descartularização.

c. O posto deveria observar a data prevista para apresentação do cheque?

O que originou o título foi a compra no mercado, na qual Fabiano era o comprador e o
Mercado, o vendedor. O mercado dá a mercadoria e o comprador paga em 5 meses.

O cheque é uma ordem de pagamento à vista. Assim, emitido o cheque, assim que ele
chegar no Banco, deve ser pago. Não significa que as partes não poder acordar diferente,
porém, isso é do contrato e não do título. O cheque feito com data posterior é tecnicamente
chamado pós-datado, mas, na prática, é chamado de pré-datado.

Se o título circulou, ele é abstrato, pois a causa não circula com ele: em outras palavras,
quem receber não tem nenhuma responsabilidade.

Ainda que o posto pegue o cheque e tenha uma data posterior à que ele o recebeu, ele não
precisa observá-la. O Mercado deveria ter estabelecido um contrato com ele.

30 (mesma praça) ou 60 (praças diferentes) dias para apresentação. Após isso, está
prescrito e não é mais objeto para execução.

Fabiano tem direito a indenização, pois o Mercado descumpriu sua obrigação, que não
era uma prestação cambiária, mas sim extra-cambiária (não era prestação de título de
crédito, e sim contratual).

AULA 09/09

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DUPLICATA

Atividade: Com base no julgado (REsp 821.102), qual o negócio foi reconhecido como
sendo justificador da cobrança do crédito retratado na duplicata e da procedência da
ação? Qual a importância do negócio jurídico para a emissão e a cobrança de uma
duplicata? Com base na lei, o que precisa se fazer presente para que uma duplicata
mantenha a qualidade de título de crédito dotado de força cambiária?

Base legal das duplicatas:

i. CC/02, art. 889, §3º;


ii. Lei 5.474/68;
iii. Lei 13.775/18 (duplicata virtual); e
iv. Lei 9.492/97 (arts. 21 e 22).

Ainda, tem-se a aplicação subsidiária da Lei Uniforme de Genebra.

O julgado traz a questão da circulação da duplicata em mercado: ela é importante pois


financia a atividade empresarial.

Desconto de duplicata: antecipação de recebíveis.

Compra e venda a prazo ou prestação de serviços.

NF Fatura: a partir dela, faz-se a duplicata, a qual, por sua vez, retrata a fatura. A NF
Fatura é documento que tem finalidade contábil e fiscal (indicação de ICMS ou ISS).

A duplicata indica o número da fatura. Dentro da duplicata, tem-se: (i) o nome do


emitente, (ii) a indicação do devedor (sacado, quem recebe/compra a mercadoria, tomador
de serviço), e (iii) a indicação da fatura (correlação entre duplicata e fatura).

Ação monitória: reconhece que, por algum motivo, o título já perdeu a força executiva,
o que pode ter se dado devido a protesto. No momento em que recebe, pode assinar e
devolvê-la (título devolvido com aceite) – nessa circunstância, o protesto se torna
obrigatório também contra o devedor principal.

Falta de aceite (protesto por indicação): se não houve recusa, o protesto é facultativo
em relação ao devedor principal, mas obrigatório em relação ao coobrigado.

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A Lei de Protesto (Lei 9.492/97) não é exclusiva para a duplicata. Atenção especial para
os arts. 21 e 22 da referida Lei:

“Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.

§1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento
da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.

§2º Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento,
vedada a recusa da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto na lei
cambial.

§3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e
não proceder à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na
segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a
conter os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da
duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na Lei que
regula a emissão e circulação das duplicatas.

§4º Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e


cheques, os sacados nas letras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo
apresentante ou credor como responsáveis pelo cumprimento da obrigação, não
poderão deixar de figurar no termo de lavratura e registro de protesto.

§5º - Não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra
o sacado não aceitante.”

“Art. 22. O registro do protesto e seu instrumento deverão conter:

I - data e número de protocolização;

II - nome do apresentante e endereço;

III - reprodução ou transcrição do documento ou das indicações feitas pelo


apresentante e declarações nele inseridas;

IV - certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas;

V - indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas;

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VI - a aquiescência do portador ao aceite por honra;

VII - nome, número do documento de identificação do devedor e endereço;

VIII - data e assinatura do Tabelião de Protesto, de seus substitutos ou de Escrevente


autorizado.

Parágrafo único. Quando o Tabelião de Protesto conservar em seus arquivos


gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou
documento de dívida, dispensa-se, no registro e no instrumento, a sua transcrição
literal, bem como das demais declarações nele inseridas.”

Ideia de que o devedor tem que formalizar, por escrito, a sua recusa. A duplicata é
considerada de aceite obrigatório, ou seja, se não há manifestação do devedor, presume-
se aceita a duplicata.

i. Aceite ordinário: aquele em que se formaliza o aceite direto.


ii. Aceite presumido: devedor não se manifesta contra a origem, nem contra a
duplicata em si, muitas vezes até mantendo o título consigo.

Estou obrigado a emitir duplicata sempre que prestar serviço ou vender mercadoria? Não,
ela é de cunho facultativo. A fatura, porém, é obrigatória, pois tem toda uma outra eficácia
para questões contábeis e de recolhimento tributário.

A duplicata, tendo uma característica formal, tem certos requisitos exigidos pela Lei nº
5.474/68, quais sejam: (i) indicação do número da fatura; (ii) data certa do vencimento da
obrigação; (iii) indicação do número de parcelas, se existente.

Se houver parcelas, a fatura indicará o valor total do negócio e o número de parcelas.


Nesses casos, pode haver mais de uma duplicata para uma mesma fatura em razão
do parcelamento, mas nunca o inverso será verdadeiro, ou seja, nunca haverá mais de
uma fatura para uma só duplicata.

Se eu recebo uma duplicata para um produto e recebo produto diverso, devo manifestar a
recusa ao aceite de modo formalizado.

A duplicata pode servir como garantia: posso fazer o desconto da duplicata com caução.

De acordo com a Lei nº 5.474/68:

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Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento.

§1º - Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado,


conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por
simples indicações do portador, na falta de devolução do título.

§2º - O fato de não ter sido exercida a faculdade de protestar o título, por falta de
aceite ou de devolução, não elide a possibilidade de protesto por falta de pagamento.

§3º - O protesto será tirado na praça de pagamento constante do título.

§4º - O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro
do prazo da 30 (trinta) dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito
de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas.

Há ainda a questão da duplicata virtual, motivada pela desmaterialização dos títulos de


créditos – não há mais cártula. A ideia do protesto por indicação é uma das primeiras
“saídas pela tangente”. Ideia da certificação eletrônica, que começa a ser reconhecida para
efeitos de emissão e assinatura digital com chave pública e chave privada. Aceite é
formalizado por meio da chave pública, mas se tiver avalista/endossatários, o mesmo
movimento deve ser feito.

Duplicata fria ou simulada: é a duplicata que foi emitida a partir de um negócio que não
existiu (ou não existiu naqueles termos específicos) com o fim de simular um crédito.
Trata-se de crime previsto no art. 172 do Código Penal.

Ressalta-se, por fim, que o boleto não é a fatura nem a duplicata. Ele vai ser utilizado
como prova da relação jurídica. Se for necessário o protesto por indicação, o boleto é um
documento que vai servir como prova e ajudar o cartório a identificar o devedor.

AULA 12/09/2019

CONTRATOS EMPRESARIAIS

Bibliografia complementar: “O Contrato”, de Enzo Roppo, e “Fundamentos e princípios


de contratos empresariais” (FGV).

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1. CONCEPÇÃO DE “CONTRATO” PARA O DIREITO EMPRESARIAL

Toda a construção do conceito pelo Direito Civil não pode ser ignorada. Todavia, já se
começa a entender que o contrato não necessariamente é apenas bilateral – ele pode ser
plurilateral. A ideia do contrato plurilateral não corresponde apenas a uma pluralidade de
partes: diz respeito também a um feixe de obrigações múltiplo – não se trata de uma
situação isolada. Esse conceito de contrato plurilateral se torna muito importante para o
Direito Empresarial, na medida em que explica por que muitos doutrinadores entendem
a sociedade como um contrato e, além disso, no direito concorrencial, tem-se reconhecido
cada vez mais a figura dos contratos associativos, os quais podem ter essa característica
plúrima. Assim, se houver várias partes e uma confluência de prestações entre elas, trata-
se de contrato plurilateral.

Em seu surgimento, os contratos empresariais tinham as seguintes características:

a. Organização de interesses privados das partes;


b. Criadores, modificadores e extintores de obrigações; e
c. Instrumentos neutros para a economia.

Isso vai mudando com o tempo, na medida em que temos uma despersonalização das
relações. No início, tudo era feito no interesse egoístico da parte, o homem era o centro
de tudo.

Mudança na concepção clássica que se baseava na vontade. Os contratos de adesão, por


exemplo, fazem com que os contratos modernos se distanciem daquela concepção. Aqui,
muitos chegaram a defender a “morte do contrato”.

Economistas começam a fazer análises econômicas sobre o contrato. Um pouco desse


olhar ajudou na transformação da visão de contrato, que hoje é também uma visão
econômica.

O Direito do Consumidor acaba surgindo com uma necessidade de regras próprias para
explicar essas relações massificadas.

Ruptura da concepção baseada na vontade, passando para uma concepção baseada na


declaração – objetivação do contrato. Dá-se prevalência ao interesse do destinatário –
não interessa a vontade quista, mas sim a declarada. É a tutela da expectativa gerada no
destinatário.

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Hoje, o contrato vai deixando de ser um instrumento para circular riquezas e vai se
tornando um instrumento para criar riquezas.

A teoria geral dos contratos passa a ser regida pelo Código Civil de 2002, com uma
incorporação dessa tendência mais moderna – o Direito Civil começou a regular relações
empresariais. Algumas regras de interpretação do Código Comercial não foram
incorporadas pelo Código Civil.

Como aplicar as regras paritárias do Código Civil para situações em que há abuso de
poder e outras formas de desigualdade presentes nas relações empresariais? Os
doutrinadores começam a questionar a defender a necessidade de segregar o Direito do
Consumidor e o Direito Empresarial como disciplinas autônomas.

O contrato passou a ser entendido por alguns como instrumento que diminui os custos de
transação. Uma outra teoria passou a defender que o contrato é naturalmente incompleto:
por mais informadas que as partes estejam, sempre haverá algo que não foi previsto e
disciplinado e, ainda, sempre haverá circunstâncias externas que criam interferências no
que foi inicialmente negociado – tem-se aqui uma discussão sobre até que ponto o juiz
deveria/conseguiria completar de forma adequada um contrato.

O contrato, ainda, pode ser entendido como um instrumento de alocação de riscos.

Com isso, o contrato ganha uma concepção mais moderna, defendida por Enzo Roppo
como “veste jurídico-formal das operações econômicas”: reconhece-se que o contrato
é um instrumento natural da economia, que ajuda a circular e criar riquezas, mas que
também organiza a atividade empresarial, sendo inerente a ela.

É preciso reconhecer que o contrato está informado pela CF, no art. 170. Direito
Empresarial e contrato empresarial ficam reconhecidos como categoria autônoma por
uma base constitucional que determinam princípios e vetores para sua interpretação.

AULA 16/09/2019

Atividade:

1. Presume-se que a partes estavam em condições de igualdade no momento da


contratação e, portanto, deveriam, naquele momento, ter avaliado e alocado os ricos da
contratação.

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2. Como sociedade empresária, caberia à Tradicional negociar, no momento da
contratação, as condições necessárias para mitigar os riscos do negócio.
3. Exceção do contrato não cumprido (art. 476, CC).

I. REGRAS DE INTERPRETAÇÃO:

i. Autonomia privada ampla;


ii. Escopo de lucro;
iii. Função econômica do negócio jurídico;
iv. “Pacta sunt servanda”;
v. Agentes semelhantes;
vi. Boa-fé objetiva;
vii. Usos e costumes; e
viii. Alocação de riscos.

Pacta sunt servanda vs. rebus sic stantibus (acontecimentos que mudem as circunstâncias
objetivas da época da contratação podem ensejar a revisão do contrato). Nos contratos
empresariais, pouco se aplica a última; apenas se aplicará se o prejuízo incorrido não
poderia ter sido previsto pois não era inerente à atividade.

Para a eventual revisão de contratos empresariais, a alteração ensejadora deve ter sido de
circunstâncias objetivas que não poderiam ter sido previstas.

II. CONCLUSÃO:

1. Alteração das circunstâncias objetivas;


2. Risco normal do negócio; e
3. Quebra da finalidade do contrato.

AULA 19/09/2019

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS EMPRESARIAIS

1. TRATO SUCESSIVO E CONTRATOS INSTANTÂNEOS

A professora Paula Forgioni faz uma reflexão de que contratos necessitam de trato
sucessivo para que as trocas econômicas se tornem mais seguras, mais “alongadas” no
tempo.

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Assim, os instantâneos tenderiam a ser completos, enquanto os de trato sucessivo, por sua
vez, seriam incompletos.

2. CONTRATOS COMPLETOS E INCOMPLETOS

A incompletude é muito discutida hoje devido à tendência do Judiciário de tentar


completar as lacunas. Os empresarialistas discutem que, se o Judiciário começa a
interferir demais nesses contratos e em sua estrutura, ele os distorce, pois não conhece as
peculiaridades daquele contrato, o que pode acabar deturpando a racionalidade e a
funcionalidade de tais contratos.

Há um reconhecimento de que, a princípio, os contratos tendem a ser sempre incompletos.

A professora Paula, porém, chega a questionar se é possível existir de fato um contrato


completo. Nem sempre é possível prever todas as circunstâncias que podem ocorrer e
trazê-las para o contrato.

Exemplo do contrato de compra e venda nas vending machines, que seria um contrato
instantâneo e, portanto, completo. Mas e se você comprou um refrigerante e ele veio sem
gás? Com quem você reclamaria – com o dono da máquina, dono do estabelecimento,
PROCON? Será que esse contrato instantâneo que parece completo de fato está completo
e cobre todas as circunstâncias que podem afetá-lo?

Questiona-se, assim, se os contratos não seriam naturalmente incompletos.

3. CONTRATOS COMPLEXOS E CONTRATOS SIMPLES

A ideia é de que o contrato complexo sempre será incompleto, porque ele geralmente já
se insere num espaço que acaba demonstrando uma dificuldade maior de disciplinamento
contratual devido à própria complexidade da relação e do contexto no qual o contrato se
insere, bem como à necessidade de um conhecimento técnico mais aprofundado para que
ele possa ser lido, escrito, informado e interpretado. Essas relações complexas acabam
gerando mais incompletudes (riscos, variantes de mercado etc.).

Além disso, temos uma abertura para um contrato denominado “contrato quadro” ou
“contrato guarda-chuva”, no qual as partes estabelecem toda a regra contratual da

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relação sob um “guarda-chuva”: é como se houvesse condições gerais para aquela relação
(clausulado geral). Estabelece-se um clausulado geral com “micro-contratações” abaixo
dele, as quais podem vir por meio de ordens de serviço, por exemplo – é um contrato que
vai ganhando volume com o tempo. Fidelização de fornecedores.

4. CONTRATOS DE ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL

Dentro desses contratos, temos os contratos de colaboração e, apesar de estarem aqui


reunidos muitos contratos já antigos, essa classificação ainda é validada por muitos
doutrinadores.

a. Contratos de Colaboração

Contratos de colaboração são todos os contratos estruturados entre uma pessoa detentora
de serviço ou produto que faz uso de um terceiro para chegar até o consumidor e ao
mercado. O terceiro age por conta e ordem e em benefício do primeiro, muitas vezes sob
o mando dele; além disso, acaba fazendo uso da marca do fabricante ou do idealizador e
conquista o mercado para tal fabricante ou idealizador.

Exemplo da concessionária de veículos, que tem um contrato com a montadora. Ainda,


exemplo de Mc Donald’s, Burger King, Starbucks, os quais têm contrato de franquia com
o franqueador.

b. Contratos de Associação

Além dos contratos de colaboração, surge também a ideia dos contratos associativos, que
são contratos nos quais os interesses são confluentes, muito similar a uma sociedade.
Entre esses contratos, temos os contratos de joint venture, os de consórcio (união de
esforços para consecução de objeto comum, com compartilhamento dos riscos e do
investimento, além de garantia da completude de expertises), e os de aliança (referida na
Lei de Inovação).

5. TEORIA DO TIPO

Correlação com o tipo penal (só é crime aquilo que a lei disser que é). Assim, contrato
típico seria aquele previsto em lei.

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Dentro dessa ideia, surgiu uma subdivisão para dizer que existem contratos que são
“atípicos por insuficiência legislativa” (existiria previsão em lei, mas esta não seria
suficientemente precisa ao dizer suas características para que se possa afirmar que ele é
típico).

Os contratos que não têm previsão legal são considerados atípicos, o que hoje se mostra
a maior tendência no Direito Comercial em meio à economia de compartilhamento e os
consequentes novos negócios e tecnologias. Dentro dessa ideia, insere-se ainda a seguinte
divisão:

a. Contrato atípico puro; e


b. Contrato atípico misto: combinação de vários contratos, sejam eles típicos ou atípicos, de
modo a criar um todo no qual não se consegue identificar de qual contrato se trata. Aqui,
há uma dificuldade muito grande no que diz respeito à interpretação.

AULA 23/09/2019

INTERPRETAÇÃO E PRINCÍPIOS

I. REGRAS DE INTERPRETAÇÃO

Tanto o CC como o CDC trazem regras de interpretação dos contratos e princípios


contratuais, aos quais deverá o aplicador do Direito sempre se socorrer para solução de
controvérsias ou para interpretação das obrigações e dos deveres contratuais assumidos
de parte a parte, atentando-se, sempre, para a natureza da relação contratual, se civil ou
consumerista.

O CCOM possuía regras específicas de interpretação contratual que não foram acolhidas
pelo CC/02, mas nem por isso devem ser desprezadas, podendo a elas se socorrer o
aplicador do Direito como usos e costumes.

Miguel Reale, como um dos coordenadores do CC/02, destacou os valores essenciais que
nortearam os princípios contratuais presentes no novo sistema, quais sejam:

a. Eticidade: lealdade, probidade, sempre em busca da justiça contratual;


b. Socialidade: nele, os valores sociais e coletivos devem prevalecer sempre sobre
os valores individuais (“sentido social”);
c. Operabilidade: forma em que esses valores serão aplicados. Sistema aberto.
Cláusulas gerais.

17
II. INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS EMPRESARIAIS – PAULA FORGIONI
a. Mercado, causa e função econômica: prática, usos e costumes da praça; motivos
juridicamente relevantes, função econômica.
b. Racionalidade jurídica: segurança, certeza e previsibilidade. Racionalidade
jurídica reconhece como legítimo o proveito econômico, o lucro, mas leva em
consideração os princípios jurídicos orientadores das condutas. Também se conecta com
a função econômica de cada espécie contratual. Evitar o oportunismo e prevalecer a boa-
fé.
c. Interpretação em favor do devedor e do aderente.
d. Interpretação segundo a intenção das partes – regra clássica.
e. Boa-fé e mútua confiança.
f. Livre iniciativa x legalidade x liberdade de contratar.
g. Livre concorrência x disputa pela oportunidade de troca.

III. PRINCÍPIOS

Os princípios, apesar de serem comuns ao CC/02, são vistos sob uma ótica diferenciada
no Direito Comercial.

Enunciados das Jornadas de Direito Comercial (números 23, 25 e 29) estabelecem a


possibilidade de se buscar nos usos e costumes parâmetros para interpretação dos
contratos.

Enunciado 23: “Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer


parâmetros objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou resolução do
pacto contratual.”

Enunciado 25: “A revisão do contrato por onerosidade excessiva fundada no Código


Civil deve levar em conta a natureza do objeto do contrato. Nas relações empresariais,
deve-se presumir a sofisticação dos contratantes e observar a alocação de riscos por eles
acordada.”

Enunciado 29: “Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do
contrato e a boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade com as
especificidades dos contratos empresariais.”

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Com a evolução da teoria contratual, a doutrina hoje é pacífica em afirmar que os
princípios que governam o direito contratual são (itens iv, v e vi são os contemporâneos,
e flexibilizaram os anteriores):

i. Autonomia privada;
ii. Força obrigatória dos contrato;
iii. Relatividade subjetiva dos efeitos;
iv. Função social;
v. Boa-fé objetiva; e
vi. Equilíbrio contratual.

O princípio da função social impõe dois tipos de deveres: (i) realizar a função econômica
como forma de circular riquezas, instalando o bem-estar social; e (ii) obrigação de não
fazer, não prejudicando os interesses contratuais, de terceiros ou da coletividade, quando
da regulação de seus interesses. Assim, o contrato tem que cumprir a função que a
sociedade e a economia dele esperam, não podendo se aceitar que um contrato não cumpra
sua função econômica – trata-se de forma de identificar simulação contratual.

AULA 26/09/2019

COMPRA E VENDA MERCANTIL

I. NATUREZA JURÍDICA

A compra e venda está no centro dos negócios, assegurando a circulação das mercadorias
e dos bens. A compra feita com finalidade de revenda é ato de comércio por excelência.
Para os particulares, a compra e venda é ato do cotidiano, para consumo final. Ambos são
ontologicamente iguais, mesmo sabendo que a finalidade é diversa e que os regimes
jurídicos aplicáveis também o são.

Natureza jurídica de contratos mercantis:

a. Representam operação econômica.


b. Realizados em massa;
c. Realizados para revenda do bem adquirido ou para transformação (insumo
direto); e
d. Praticados em série.

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O que diferencia a compra e venda mercantil é que ela é sempre feita no ambiente
econômico, representando operação econômica e envolvendo um agente empresário. Para
alguns doutrinadores, seria uma operação realizada para revenda do bem adquirido ou
para sua transformação (insumo direto).

II. LEI APLICÁVEL

Hoje, sujeita-se à disciplina constante do Código Civil.

A compra e venda, seja firmada pelas formas tradicionais, seja pela telemática, deverá
apresentar todos os mesmos elementos de existência e requisitos de validade, cabendo ao
aplicador do Direito, ao intérprete, atestar se de fato estamos diante de um negócio
jurídico, de uma compra e venda, para, finalmente, investigar se estão presentes todos os
elementos para sua existência e todos os requisitos para sua validade.

III. ELEMENTOS DA COMPRA E VENDA

Segundo os ensinamentos de Junqueira de Azevedo, em sua célebre obra Negócio


Jurídico: existência, validade e eficácia; ainda, os elementos essenciais se dividem em
intrínsecos (forma, objeto e circunstâncias negociais) e extrínsecos ou pressupostos
(agente, lugar e tempo do negócio).

O Código Civil elege, em seu art. 104, para a validade do negócio jurídico, os seguintes
elementos: (i) agente capaz, (ii) objeto lícito, possível, determinado ou determinável e
(iii) forma prescrita ou não defesa em lei. Tal dispositivo diferencia-se do art. 82 do CC/16
por inserir, quanto ao objeto, as qualidades “possível, determinado ou determinável”.

Ainda dentro dos elementos essenciais, Antonio Junqueira de Azevedo salienta que
existem os elementos categoriais, aqueles particulares a cada contrato em espécie, que
caracterizam a essência de cada tipo contratual e, assim, são inderrogáveis.

No tocante à compra e venda, os elementos categoriais são o consenso, o preço e a coisa.

Não há consenso na doutrina quanto à classificação do consentimento como elemento


essencial categorial. Alguns doutrinadores entendem que consenso não seria elemento

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essencial da compra e venda pois seria natural de todo contrato. Para os outros, tem
característica obrigacional e não real.

Em contrapartida, a doutrina é unânime ao classificar o preço e a coisa como elementos


essenciais, os quais deverão ser determinados ou determináveis, podendo, inclusive, a
determinação ocorrer em momento futuro.

Os elementos categoriais podem se juntar a elementos essenciais, gerando uma


qualificação específica da compra e venda. Os elementos acidentais são, por exemplo,
compra e venda a um determinado termo ou sujeita a condição ou encargo.

IV. COISA OU BEM

A coisa abrange os bens corpóreos e incorpóreos, títulos de crédito, ações, créditos, coisas
futuras, direitos etc. Destaque-se que quando envolver um bem corpóreo ou um direito,
utiliza-se, comumente, o termo “cessão”. Vale lembrar, ainda, que a universalidade
também pode ser alienável, sendo exemplo o estabelecimento empresarial que, por ser
considerado universalidade de fato, pode ser vendido, passando o contrato à denominação
de trespasse.

Paulo Luiz Netto Lôbo esclarece que, a princípio, a coisa deve ser própria, mas a venda
de coisa alheia não impede a conclusão do negócio, tendo em vista o caráter obrigacional
da compra e venda para o Direto Civil brasileiro. Ele elucida, ainda, que ela pode ser
específica (quando há determinação exata do bem) ou genérica (quando se alude a
quantidade ou gêneros de coisas), mas, em qualquer dessas hipóteses, tem que se ter
sempre presente o caráter de determinação (determinado ou determinável), requisito
exigido por lei e a partir do Código Civil de 2002.

V. COMPRA E VENDA MERCANTIL DE IMÓVEL

A compra e venda tida por mercantil, na atualidade, é aquela que tem por objeto bens
inseridos na economia e não apenas no comércio. Historicamente, a mercantilidade da
compra e venda vinculava-se à natureza do bem que dela fosse objeto, devendo ser,
necessariamente, um bem móvel ou semovente, pois só esses se prestavam ao comércio,
não se concebendo compra e venda mercantil de bens imóveis.

21
Hodiernamente, tal concepção foi superada, e a compra e venda mercantil não se presta
apenas a bens móveis e a semoventes, podendo, sim, ter por objeto um bem imóvel,
bastando que este se insira na atividade empresarial, destinando-se à revenda ou à locação,
por exemplo, ou quando circulam representados por títulos.

Muito se discutiu que a compra e venda mercantil só o seria se tivesse como objeto bens
móveis, ou seja, bens relacionados à mercancia, os quais teriam a qualidade de
mercadoria. Isso foi evoluindo, reconhecendo-se que o semovente também poderia ser
reconhecido como objeto e, mais recente, também os bens imóveis, desde que se
reconheça na relação a inserção do imóvel dentro de um trato econômico. Os bens
imateriais que podem se inserir nessa relação podem ser marca, patente, software.

Alguns bens, ainda, não podem ser alienados e, por isso, não podem estar sujeitos à
compra e venda mercantil. Os bens inalienáveis ou que não possam ser apropriados pelo
homem não se inserem entre as coisas transferíveis por compra e venda – Arnoldo Wald
indica como inalienáveis o direito aos alimentos, usufruto, direito à sucessão de pessoa
viva, coisas inalienáveis em decorrência de contrato ou de testamento. Fran Martins, por
sua vez, analisando a compra e venda mercantil, cita, como exemplo, as coisas legalmente
inalienáveis, os bens fora do comércio e aqueles insuscetíveis de apropriação (como o ar);
revela, por fim, que a coisa deve possuir um valor intrínseco ou estimativo capaz de gerar
a contraprestação do preço.

VI. PREÇO

O outro elemento em torno do qual há consenso na doutrina é o preço. Orlando Gomes


ensina que o preço representa o elemento natural da compra e venda (sine pretio nulla
venditio). Para que a compra e venda não se confunda com a troca ou permuta, essencial
é o preço, que consiste na contraprestação devida pelo comprador em face da
transferência da propriedade da coisa, uma contrapartida em moeda, em dinheiro. Se a
contraprestação for uma outra coisa, teremos uma permuta ao invés de uma compra e
venda.

Maria Helena Diniz ressalta que também não se pode ser dado em contraprestação
serviço, pois, nesse caso, também não se trataria de compra e venda, mas de contrato
inominado. O preço, portanto, tem que ser pago em dinheiro. Paulo Luiz Netto Lôbo não

22
concorda com essa afirmação, pois, para ele, a expressão “preço em dinheiro” deve ser
entendida como pagamento do preço em moeda corrente nacional, excetuada a compra e
venda internacional, cujo preço pode ser expresso em moeda corrente estrangeira.

Nas hipóteses de o preço ser composto de uma parte em dinheiro e outra em bem ou em
serviço, não é causa para desnaturar o contrato de compra e venda, desde que a parte em
dinheiro seja maior. Se não houver como aferir tal valoração, o contrato será misto.

Maria Helena Diniz indica, ainda, que o preço pode ser pago mediante valor fiduciário
correspondente ou por meio de título de crédito. Silvio de Salvo Venosa, sobre esse
aspecto, elucida que a venda será pro soluto quando a entrega de títulos de crédito
representar pagamento definitivo, quando os títulos se desgarram do contrato de compra
e venda, impedindo a rescisão. Em contrapartida, se recebidos pro solvendo, em caso d
não liquidação da cártula, poderá ser rescindida a compra e venda.

Fran Martins indica que o preço deve, em princípio, ser livremente fixado pelas partes,
como reflexo da regra de que se considera perfeito e acabado o contrato de compra e
venda quando as partes acordam no preço e na coisa. Ocorre que é cada vez mais
frequente a intervenção do Estado na determinação do preço, seja para evitar exploração
de ordem econômica e explorações motivadas pela escassez ou raridade de produtos de
largo consumo, ou, ainda, em razão da essencialidade do consumo de determinados
produtos, como os de primeira necessidade ou de utilidade pública, os quais,
consequentemente, passam a ter seus preços tarifados.

VII. ATRIBUIÇÃO DE RISCOS E RESPONSABILIDADES

Em regra, na prática comercial, as despesas e os riscos com o transporte e a entrega do


bem correm por conta do vendedor. Depois de recebido o bem, os riscos transferem-se ao
comprador. Exemplo: incoterms – FOB (free on board – a responsabilidade do vendedor
cessa na colocação do produto na amurada do navio); ex-works (o comprador faz a
retirada do bem no posto-fábrica e, dali para a frente, toda a responsabilidade é do
comprador – menor responsabilidade e risco para o vendedor) etc.

Venda ad corpus: a princípio, não há nada a reclamar. Compra o bem do jeito que está –
“porteira fechada”.

23
Venda ad mensuram: vendida uma determinada metragem, se faltar, pode exigir
complemento da área (actio ex empto); sendo impossível o complemento, resolver o
contrato (actio redhibitoria) ou abatimento do preço (actio aestimatoria).

O vendedor fica responsável por:

i. Entregar o bem no lugar e no momento convencionados;


ii. Qualidade e quantidade (exceto se convencionada álea);
iii. Evicção (perda da posse ou propriedade); e
iv. Vício oculto.

VIII. MODALIDADES

A compra e venda ganha denominações específicas, sem que reste comprometida a


natureza jurídica de compra e venda e sem perder de vista os requisitos e os elementos
que lhe são próprios.

Quando o bem é imaterial, por exemplo, na maioria das vezes a compra e venda ganha o
nome de cessão – cessão de patente, cessão de software etc. Têm-se, nesses casos, a
transferência de titularidade, a qual, a depender do objeto da cessão, terá sua eficácia
sujeita a algumas especificidades – em caso de software, por exemplo, o contrato deve
registrado junto ao INPI. Ressalta-se que a licença no contexto dos bens imateriais, por
outro lado, está relacionada à locação, e não à compra e venda.

i. Compra e venda telemática, eletrônica e automatizada (EDI);


ii. Trespasse do estabelecimento;
iii. Cessão de bens incorpóreos (marca, sistema de computador etc.);
iv. Fornecimento de bens – compra e venda complexa e contrato de
assinatura;
v. Opção;
vi. Contratos a termo e futuros;
vii. Vendas em consignação.

IX. VAREJO E ATACADO

a. Varejo: realizadas entre o empresário e seu público.

24
b. Atacado: mercadorias são compradas em quantidade, por preço inferior ao valo
unitário. Geralmente, são firmadas entre empresários (compra para revenda).

X. VENDA EM CONSIGNAÇÃO

Consignatário recebe a mercadoria para vender em um determinado tempo. Se não


vender, devolve.

Se vender, restam configuradas duas vendas: (i) a do consignante ao consignatário e (ii)


a do consignatário ao comprador. Só se transfere a propriedade para o consignante se
houver a revenda.

Consignatário pode ficar livre para fixar o preço, mas o consignante pode determinar o
preço máximo de revenda.

XI. VENDA SOB AMOSTRA

Não se confunde com a compra e venda submetida a condição ou a contento: trata-se de


venda de um bem que deve corresponder à amostra apresentada, respeitando mesmas
especificações. A compra e venda está perfeita e acabada quando aceita a amostra. O não-
atendimento das especificações é descumprimento contratual por parte do vendedor.

XII. VENDA SOB DOCUMENTOS

Venda mediante conhecimento de depósito ou conhecimento de transporte – títulos de


crédito impróprios, causais, que consubstanciam promessa de dar mercadoria. A entrega
do documento transfere a propriedade da mercadoria depositada ou transportada.

XIII. FORNECIMENTO

Compra e venda complexa: compra e venda sucessiva no tempo, como se houvesse


desmembramento em compras e vendas parciais. Mitiga risco no fornecimento, seja
quanto ao preço, seja quanto à carência do bem. Comum para suprimentos e agronegócio.

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Compra e venda que na sua execução se desdobra em prestações continuadas ou
periódicas de coisas. Não se confunde com a compra e venda a prazo e em parcelas.
Exemplo: fornecimento de energia e catering (fornecimento de refeições pré-
confeccionadas.

Pode o contrato de fornecimento incorporar serviços ou vir acompanhado de outras


prestações.

XIV. OPÇÃO DE COMPRA

Direito potestativo conferido a uma das partes de interferir na esfera jurídica do outro,
contra pagamento de preço, transferindo, quando do exercício, a propriedade do bem
objeto da opção.

Parte se compromete a adquirir determinado bem, em determinado prazo ou data


estabelecida, pelo preço fixado (preço do exercício).

XV. CONTRATOS A TERMO E FUTUROS

a. A termo: a liquidação física (entrega do bem) e financeira (pagamento do preço)


ocorrem em um determinado termo aprazado.
b. Contratos futuros: conferem a ambas as partes posições recíprocas de compra e
venda sobre o ativo em data e por preço previamente fixados – fixa-se, de partida, o preço
do ativo negociado, que terá vencimento futuro.

São contratos de mercado, geralmente negociados e executados em Bolsas.

AULA 26/09/2019

COMPRA E VENDA EM BOLSA

Bolsa é um ambiente de negócios. A vantagem é que na Bolsa compradores e vendedores


se encontram para comprar e vender. O Mercado Livre, por exemplo, não é uma Bolsa,
porque a Bolsa tem uma peculiaridade, que é a característica da formação de preço - o
preço é um dos “produtos” que a Bolsa vende.

26
Em regra, é melhor comprar ações na Bolsa do que diretamente de um terceiro que as
detêm. Todas as operações realizadas em Bolsa são realizadas entre instituições
autorizadas (corretoras). Para uma operação de Bolsa, comprador e vendedor serão
sempre corretoras.

Um dos requisitos para uma ideal formação de preço é a informação. Todos os


participantes do mercado devem ter suficiente informação para tomar uma decisão. Para
que isso aconteça, todos devem saber quem quer comprar e quem quer vender: dessa
necessidade deriva a organização por meio das corretoras.

Em Bolsa, todos devem fazer suas ofertas públicas, seja para vender ou para comprar.
Assim, todas as ofertas de compra ou de venda são vistas por todos os participantes do
mercado para ter a certeza de que o melhor preço de compra está se encontrando com o
melhor preço de venda. A formação de preço, portanto, leva em conta não só os negócios
fechados, mas também o que se pretende pagar.

Day trade: operação dentro do dia. Exemplo do professor: às 11h, uma pessoa compra
1.000 ações no começo do dia por R$100,00 cada; às 14h do mesmo dia, ela vende as
1.000 ações por R$105,00 cada e, no final do dia, quando a Bolsa liquida todos esses
valores, a pessoa ganha R$ 5.000,00, dos quais são descontados apenas os impostos
devidos. Todavia, nesse mesmo exemplo, se o valor da ação caísse para R$ 94 ao invés
de subir, teria que pagar R$ 6.000,00.

A chance de fazer negócios com a mesma contraparte (corretora) é muito pequena.


Todavia, é possível falar que se trata de compensação? O Código Civil exige que se trate
de obrigação líquida e certa envolvendo as mesmas partes. Em princípio, na Bolsa não
temos as mesmas partes, mas se desenvolveu um sistema para contornar isso: sempre que
existir Bolsa, vai existir uma entidade cuja função é fazer liquidação e compensação
(clearing) - exemplo da CBLC. A clearing quebra o negócio em dois, passando a ser o
comprador para o vendedor e o vendedor para o comprador. Assim, o que era uma só
relação jurídica se transforma em duas.

Toda operação em Bolsa será garantida pela clearing – trata-se de garantia institucional.
A clearing exige garantias da corretora e do cliente para que estes operem, garantias estas
que devem ser rapidamente liquidáveis. Desse modo, negócios realizados em Bolsa muito
dificilmente não serão liquidados.

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Lei nº 10.214/10 (Lei do Sistema Brasileiro de Pagamentos): explica como funcionam os
mecanismos dos agentes de compensação.

O sistema é eficiente, garante segurança na aquisição do ativo, mas nem sempre quem
está operando quer de fato comprar. Em Bolsa, não necessariamente quem quer comprar
quer o bem que está comprando – a lógica para o vendedor é a mesma. Enquanto o ativo
estiver variando, a Bolsa está operando bem.

MERCADO FUTURO

Em Bolsa, também é possível fazer operações no mercado futuro. As operações do


mercado futuro são:

i. Contrato a termo: realiza o negócio em um dia para que ele seja liquidado no
futuro. Mesmo que o preço tenha aumentado no dia de liquidação, será pago o
valor do dia em que o negócio foi acordado, assim, a depender do valor no dia da
liquidação, vai perder ou ganhar. Neutraliza-se a chance de ganhar ou perder,
protegendo-se contra riscos (hedge). Só faz sentido o contrato a termo se existe
dúvida em relação ao valor futuro. Exemplo da venda de café: vende em dezembro
para liquidar apenas em julho; em dezembro, acorda-se pelo preço de R$100, o
qual deverá ser respeitado mesmo que em julho o preço suba para R$105 ou caia
para R$ 98. Exemplo das apostas em relação ao jogo do Palmeiras: a segunda
aposta seria um hedge, pois reduziria o risco em relação à primeira.
ii. Contratos futuros strictu senso;
iii. Opções; e
iv. Swaps – não é contrato de Bolsa.

Mercados futuros são basicamente para assumir riscos, seja para especular, seja para se
proteger.

AULA 03/10/2019

CONTRATOS DE FACTORING

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Contrato em que um comerciante cede a outro os créditos, na totalidade ou em parte, de
suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo o montante desses créditos,
mediante o pagamento de uma remuneração.

Fomento mercantil: aquisição de créditos faturados por uma sociedade empresária, por
uma empresa especializada (factoring), sem que haja qualquer direito de regresso contra
o mesmo.

Pressuposto: venda a prazo.

Factoring: assume os riscos da cobrança e, eventualmente, da insolvência do devedor. O


eventual inadimplemento do credor não afeta o prestador de serviços (sociedade
empresária), mas sim a factoring.

“A operação de factoring (traduzida como fomento comercial) caracteriza-se, em sua


essência, pela venda de um direito de crédito, feita diretamente pelo detentor do crédito
(o sacador) a uma instituição compradora, que fornece os recursos ao sacador, mediante
um deságio sobre o valor face deste direito de crédito que pode ser, por exemplo, uma
duplicata ou um cheque”. (Rizzardo)

A factoring não coleta nem capta recursos monetários. Além disso, ela não realiza
intermediação financeira e não integra o SFN.

É muito parecido com o contrato de desconto bancário, que é um contrato por meio do
qual o banco adianta um crédito ainda não vencido ao seu cliente/correntista, deduzindo
juros, comissões e despesas a título de remuneração. Ele se caracteriza pela transferência
da propriedade do título cambial com vencimento futuro, através do endosso, que
determina a transferência do crédito cambiário descontado. Todos os créditos podem ser
objeto de desconto, desde que estejam incorporados em títulos de crédito.

I. FACTORING E DESCONTO BANCÁRIO – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

Direito de regresso: no factoring, não há responsabilidade regressiva contra o credor


inicial do título, ou seja, o faturizado (sacador), ao ceder seus créditos, não responde pela
solvência do devedor.

Tipo de instituição.

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Remuneração: factoring e desconto bancário cobram remuneração para transformar o
crédito a prazo em crédito À vista. A diferença é o nome da remuneração (taxa, no
desconto, e fator, no factoring).

Ambos os institutos procuram satisfazer a necessidade de crédito da empresa cliente.

LEASING OU ARRENDAMENTO MERCANTIL

É o negócio jurídico por meio do qual o arrendatário utiliza determinado bem de


propriedade do arrendador, pagando-lhe uma quantia pelo prazo previsto no contrato,
havendo possibilidade de aquisição do bem ao final do término do prazo ou devolução do
bem.

O arrendador DEVE ser pessoa jurídica. Além disso, as operações de leasing somente
podem ser realizadas por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o objeto
principal de sua atividade ou que centralizem essas operações em um departamento
especializado com escrituração própria – art. 2º, §2º, Lei 6099/74.

Contrato misto: conjuga a locação e a compra e venda, permitindo que o arrendatário


utilize o bem de propriedade do arrendador, mediante o pagamento de uma quantia
estipulada entre as partes (locação), tendo o arrendatário, ao final do contrato, a faculdade
de optar ou pela renovação da locação ou pela aquisição mediante o pagamento do preli
residual ou pela devolução do bem ao arrendador.

Há controle e fiscalização do BACEN e as empresas arrendadoras se sujeitam ao SFN –


Resoluções 2.309/96 e 2.706/96 BACEN.

I. Espécies

a. Leasing financeiro (tradicional): o arrendador adquire um bem de terceiro


(produtor ou importador) e o entrega para uso do arrendatário, por prazo
determinado, recebendo o pagamento de contraprestações periódicas.

b. Manutenção: responsabilidade do arrendatário.

c. Devolução antecipada do bem: não isenta o arrendatário do pagamento das


prestações faltantes.

30
d. VRG (Valor Residual Garantido): valor mínimo garantido ao arrendador quando
o arrendatário opta por não adquirir o bem ao término do prazo contratual.

e. Valor residual: preço estipulado contratualmente para o exercício da opção de


compra pelo arrendatário. Pago apenas quando há o exercício da opção de compra.

II. LEASING FINANCEIRO – VRG

É uma garantia do arrendador que receberá, ao final do contrato, a quantia investida na


aquisição do bem, o reembolso dos custos financeiros dispendidos e terá lucro na
operação.

VRG: garantia contratual; dever do arrendatário.

Opção de compra (como a do contrato de locação): Evento incerto; direito do


arrendatário.

Súmula 293/STJ: “A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não


descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”. O valor pode ser diluído nas
parcelas mensais da locação.

Súmula 564/STJ: “No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil


financeiro, quando a soma da importância antecipada a título de valor residual garantido
(VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente,
o arrendatário terá o direito de receber a respectiva diferença, cabendo, porém, se
estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados”.

VRGA + VVB > VRGC → Arrendatário receberá a diferença → O arrendador receberá no máximo o VRGC

VVB: valor de venda do bem

VRGA: valor pago antecipadamente

VRGC: VRG contratual

III. CONTRATO DE LEASING – ESPÉCIES

31
a. Leasing Operacional (renting): o arrendador é proprietário do bem, havendo
necessidade de prestação de assistência técnica/manutenção do bem. Devolução
antecipada do bem isenta o arrendatário do pagamento das prestações faltantes.
Não há VRG.

b. Lease Back: o proprietário vende seu bem ao arrendador, arrendando-o na


sequência – deixa de ser proprietário e passa a ser arrendatário do bem. Forma
muito utilizada por empresas para captação de recursos financeiro – o arrendatário
recebe o valor da venda do bem, permanece em sua posse e mantém a opção de
readquiri-lo de volta.

c. Leasing imobiliário: é modalidade de leasing pela qual o arrendador, a pedido do


arrendatário, compra um terreno e nele constrói um imóvel, alugando-o para o
arrendatário com a opção de compra ao final.

IV. ESPECIFICAÇÕES DO CONTRATO DE LEASING – ART. 7º, RESOLUÇÃO


2309/96 BACEN

“Art. 7º - Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por


instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especificações
abaixo relacionadas:

I - a descrição dos bens que constituem o objeto do contrato, com todas as


características que permitam sua perfeita identificação;

II - o prazo de arrendamento;

III - o valor das contraprestações ou a fórmula de cálculo das contraprestações,


bem como o critério para seu reajuste;

IV - a forma de pagamento das contraprestações por períodos determinados, não


superiores a 1 (um) semestre, salvo no caso de operações que beneficiem atividades
rurais, quando o pagamento pode ser fixado por períodos não superiores a 1 (um)
ano;

V - as condições para o exercício por parte da arrendatária do direito de optar


pela renovação do contrato, pela devolução dos bens ou pela aquisição dos bens
arrendados;

32
VI - a concessão à arrendatária de opção de compra dos bens arrendados, devendo
ser estabelecido o preço para seu exercício ou critério utilizável na sua fixação;

VII - as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência


técnica, manutenção e serviços inerentes à operacionalidade dos bens arrendados,
admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil financeiro:

a) a previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido em qualquer


momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do valor
residual garantido o exercício da opção de compra;

b) o reajuste do preço estabelecido para a opção de compra e o valor residual


garantido;

VIII - as condições para eventual substituição dos bens arrendados, inclusive na


ocorrência de sinistro, por outros da mesma natureza, que melhor atendam às
conveniências da arrendatária, devendo a substituição ser formalizada por
intermédio de aditivo contratual;

IX - as demais responsabilidades que vierem a ser convencionadas, em decorrência


de:

a) uso indevido ou impróprio dos bens arrendados;

b) seguro previsto para cobertura de risco dos bens arrendados;

c) danos causados a terceiros pelo uso dos bens;

d) ônus advindos de vícios dos bens arrendados;

X - a faculdade de a arrendadora vistoriar os bens objeto de arrendamento e de


exigir da arrendatária a adoção de providências indispensáveis à preservação da
integridade dos referidos bens;
XI - as obrigações da arrendatária, nas hipóteses de:

a) inadimplemento, limitada a multa de mora a 2% (dois por cento) do valor em

atraso;

b) destruição, perecimento ou desaparecimento dos bens arrendados;

33
XII - a faculdade de a arrendatária transferir a terceiros no País, desde que haja
anuência expressa da entidade arrendadora, os seus direitos e obrigações
decorrentes do contrato, com ou sem co-responsabilidade solidária.”

V. LEASING E VARIAÇÃO CAMBIAL

Em janeiro de 1999, consumidores que tinham contratos de leasing com reajuste das
prestações baseado na variação cambial (dólar norte-americano) foram surpreendidos
com a repentina desvalorização do real.

As prestações sofreram um reajuste de aproximadamente 80%, resultando em


“onerosidade excessiva”.

Art. 9º, Resolução 3175, BACEN: “É facultada a pactuarão de cláusula de variação


cambial nos contratos de arrendamento mercantil de bens cuja aquisição tenha sido
efetuada com recursos provenientes de empréstimos contraídos direta ou indiretamente
no exterior”.

STJ: a diferença entre a soma das prestações devidas a partir de janeiro de 1999 com base
na variação cambial e de acordo com a variação do INPC, deve ser dividida entre o
consumidor (arrendatário) e o arrendador. Entendeu-se, então, que não seria “razoável
que estando autorizada a arrendadora a contratar pela variação cambial e assim acordando
o mutuário, tenha de arcar com o ônus integral, já que igualmente vítima da drástica
desvalorização do Real. Que há onerosidade excessiva, sem dúvida, porém não
propriamente da cláusula em si, que é legal, mas das circunstâncias que advieram a partir
de certo momento, quando em curso a relação obrigacional”.

AULA 07/10/2019

DERIVATIVOS
(CONTINUAÇÃO)

Quando chega no vencimento, o comprador não precisa pagar o preço e o vendedor não
precisa entregar a mercadoria, basta que eles realizem a liquidação por diferença. As
partes já saem com o lucro e com o prejuízo. No mercado futuro em que se negocia soja,
por exemplo, ninguém quer soja de fato, mas sim a variação do preço da soja.

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Nesses contratos de derivativos, o ativo que está sendo negociado é apenas uma referência
de preço.

Short é quem aposta que o preço vai cair e long é quem aposta que vai subir.

Art. 816, CC.

AULA 17/10/2019

AULA 21/10/2019

CONTRATOS DE COLABORAÇÃO

Os contratos de colaboração objetivam estabiliza relações negociais, garantir presença em


mercados distantes, racionalizar a circulação de bens e serviços por interposta pessoa. É
uma classificação contratual relacionada a contratos de organização para colocação de
produtos ou serviços de uma empresa no mercado.

O terceiro age em benefício do fabricante/produtor. Conquista de mercado em prol de


uma outra empresa; uso da marca dessa outra empresa. O que diferencia um contrato do
outro dentro dessa grande classificação é o nível de subordinação do terceiro em relação
ao produtor.

Caracterizam-se pelo fato de uma pessoa, física ou jurídica, disponibilizar-se a criar e


consolidar um mercado em benefício de um terceiro, em nome próprio ou deste terceiro,
por conta própria ou deste terceiro, em um grau de dependência e de subordinação maior
ou menor. Apenas um dos contratantes ajuda a ampliar ou aumentar o mercado explorado
pelo outro (este é o traço principal).

Dividem-se em duas modalidade:

a. Colaboração por intermediação: um dos empresários compra o produto em


condições especiais para revendê-lo, ganhando, assim, no sobre-preço. Inserem-
se nesta modalidade a distribuição e a concessão.
b. Colaboração por aproximação: um empresário busca interessados em adquirir
produto do outro, aproximando-os, sendo remunerado por comissão. Incluem-se
nesta modalidade a comissão, a agência, a representação comercial e o mandato.

A doutrina entende como contratos de colaboração todos aqueles que se apresentam como
facilitadores para a ampliação do mercado, entre os quais se listam os seguintes contratos:
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i. Distribuição;
ii. Agência;
iii. Comissão;
iv. Representação comercial
v. Mandato;
vi. Concessão; e
vii. Franquia.

Há ainda quem inclua a licença de marca e o agenciamento de publicidade.

I. ASPECTOS RELEVANTES E CONTROVERTIDOS

Concorrência cinza: forma de burlar a exclusividade, que é muito comum nesses


contratos, podendo ser por produto ou por zona. Cinza porque não se consegue identificar
que é o terceiro quem está por trás.

Ingresso do fornecedor/representante no mercado diretamente.

Fusão/incorporação por outra empresa do ramo. Isso afeta o universo de terceiros


contratados, pois pode haver quebra da exclusividade.

Descontinuidade do produto e o fornecimento dos materiais de consumo.

Descontinuidade do contrato de colaboração e seu impacto no mercado (consumidor e


estrutura organizacional do colaborador).

Descontinuidade do produto e o fornecimento dos materiais de consumo.

Indenização pelo mercado conquistado/ampliado. O terceiro/intermediário está agindo


em nome do fabricante ou produtor, está conquistando mercado para ele. Se a relação se
rompe, de quem é o mercado conquistado?

Exclusividade que pode ser devida por ambas as partes ou por apenas uma delas.

Prazo de vigência e de denúncia – compensação dos investimentos feitos pelo


colaborador. Prazos diferentes em cada regulamentação para terminar sem justa causa.

Aparelhamento ou não do colaborador. Alguns contratos exigem aparelhamento, ou seja,


para atuar, o terceiro precisa ter estoque de produtos, estabelecimento envelopado,
equipamentos do fabricante. Em geral, tem-se contratos de comodato para isso.

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Quota de aquisição e estoque. Quanto mais vende o produto, mais barato é o preço de
aquisição para revenda.

Remuneração por sobrepreço ou por comissão (% do negócio).

Licença de uso de marca.

II. DISTRIBUIÇÃO POR INTERMEDIAÇÃO

Distribuição: acordo de vontades pelo qual uma parte negocia, em seu nome, bens de
outra pessoa, tendo a coisa a ser negociada à sua disposição. Legalmente, na distribuição,
a coisa está na posse do distribuidor, enquanto na prática a coisa é adquirida pelo
distribuidor para ser revendida.

Muitos doutrinadores equivalem as figuras da distribuição com concessão e com agência,


porém, há distinção, ainda que pequena.

Na distribuição, o fornecedor (distribuído) tem menos poder de ingerência sobre o


distribuidor (atividades, forma de apresentar e organizar seu negócio, campanhas
publicitárias, controle de qualidade) e o distribuidor não tem obrigação de prestar
assistência técnica e pós-venda ao consumidor. O distribuidor age por conta própria e em
nome próprio, remunerando-se no sobre-preço.

Por ser contrato atípico, depende de instrumento escrito para regrar e determinar as
obrigações devidas de parte a parte.

A falta de disciplina contratual adequada aos interesses do distribuidor gera riscos e


insegurança, pela falta de uma teoria geral de contratos de colaboração.

O distribuidor, se permitido contratualmente, pode estabelecer subdistribuidores, criando


uma rede própria de distribuição.

O distribuidor adquire o produto do fornecedor para revendê-lo, remunerando-se no


sobre-preço.

Enunciado 31 da 1ª Jornada de Direito Empresarial: “O contrato de distribuição previsto


no art. 710 do Código Civil é uma modalidade de agência em que o agente atua como
mediador ou mandatário do proponente e faz jus à remuneração devida por este,
correspondente aos negócios concluídos em sua zona. No contrato de distribuição

37
autêntico, o distribuidor comercializa diretamente o produto recebido do fabricante ou
fornecedor, e seu lucro resulta das vendas que faz por sua conta e risco.”

III. CONTRATO DE AGÊNCIA

Conceitos: art. 710, CC.

Agenciamento: acordo de vontades pelo qual uma pessoa se obriga (agente), em caráter
não eventual mediante retribuição, a realizar em caráter não eventual e sem subordinação
hierárquica, certos negócios em determinadas zonas, em favor e por conta de outrem.

Agência x distribuição: Existem muitos doutrinadores que entendem que as duas figuras
permanecem convivendo e que a lei de representação passa a ser aplicada de forma
supletiva à agência por força do art. 721 do CC. Traçam a distinção quanto à exigência
de cadastro para representante e de a representação se destinar apenas a atividades
mercantis, enquanto que a agência não sofreria tal limitação.

Distribuição por aproximação: acordo de vontades pelo qual uma pessoa negocia, em
seu nome, bens de outra pessoa.

A pessoa tem a coisa a ser negociada à sua disposição. Legalmente, na distribuição, a


coisa está na posse do distribuidor, enquanto, na prática, a coisa e adquirida pelo
distribuidor para ser revendida.

São obrigações do agente:

a. Angariar negócios mercantis;


b. Seguir as instruções da comercialização dos produtos;
c. Prestar contas periodicamente;
d. Dar exclusividade ao proponente em determinadas regiões, salvo disposição em
contrário; e
e. Repassar os fundos de suas atividades.

A exclusividade é presumida, exceto se expressamente disposto o contrário.

São obrigações do proponente:

a. Pagar a devida remuneração;

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b. Dar exclusividade ao agente em determinada região, salvo disposição em
contrário;
c. Se não se efetivar o negócio por culpa do proponente, a remuneração será devida
ao agente (art. 716, CC);
d. Arcar com as despesas decorrentes do agenciamento e da distribuição (Art. 713,
CC).

Extinção:

a. Prazo determinado – advento do termo final.


b. Prazo indeterminado – denúncia em 90 dias (art. 720, CC), desde que
transcorrido prazo comercial compatível com a natureza e o vulto de investimento.

IV. CONTRATOS DE REPRESENTAÇÃO

O contrato de representação, na verdade, corresponde ao contrato de agência como


conhecido mundialmente. Quando da reforma do CC/02, houve a inclusão da disciplina
do contrato de agência, à semelhança do direito estrangeiro. Assim sendo, melhor teria
sido se o legislador expressamente tivesse revogado a lei de representação.

Conceito: uma das partes obriga-se a obter pedidos de compra dos produtos fabricados
ou comercializados pela outra, desta forma, não firma contratos em nome do
representado, apenas encaminha os pedidos obtidos, recebendo comissão quando da
liquidação/pagamento.

Contrato típico: regulamentado pela Lei nº 4.886/64, alterada pela Lei nº 8.420/92.

Natureza: contrato interempresarial, podendo o representante ser empresário ou sociedade


(inclusive microempresa e EPP).

Subordinação: dependência empresarial comum aos contratos de colaboração. Se a


subordinação for além, de forma a enquadrar a relação nos requisitos do art. 3º da CLT,
então não haverá contrato de representação, mas relação empregatícia de vendedor. Os
pedidos encaminhados pelo representante não obrigam o representado, que pode deles
declinar.

Atividade empresarial regulamentada: o representante deve obter registro no Conselho


Regional dos Representantes Comerciais para o exercício regular da representação. O

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exercício sem registro importa em sanções administrativas e não prejudica o direito ao
recebimento das comissões.

Forma escrita obrigatória.

Contrato deve conter as seguintes cláusulas (cláusulas obrigatórias):

a. Condições e requisitos gerais de representação;


b. Indicação dos produtos;
c. Indicação da zona de atuação;
d. Exclusividade quanto ao produto e quanto à zona de atuação (a exclusividade por
zona é presumida no silêncio, art. 31);
e. Prazo para o representado recusar pedido;
f. Valor, condições e prazo para pagamento das comissões do representante;
g. Indenização do representante em caso de término sem culpa dele.

Prazo: determinado apenas no primeiro contrato. A renovação é, obrigatoriamente, por


prazo indeterminado. Se for firmado novo contrato após 6 meses do término do primeiro,
o segundo deverá ser por prazo indeterminado.

Comissão: para que seja devida, é necessária aceitação do pedido pelo representado e
pagamento do preço. O direito será mantido se rescindida a venda por culpa do
representado ou em caso de vício ou evicção. A condição de pagamento pelo comprador
pode ser afastada contratualmente.

Cláusula del credere – vedada.

Indenização: se o término contratual se motiva por culpa do representante, a lei não fixa
indenização, razão pela qual o representado deve pleitear indenização com base na
responsabilidade civil. Se não houve culpa do representante, então a lei fixa patamares de
indenização a fim de compensar o mercado conquistado ou ampliado. A lei fixou patamar
mínimo, podendo ser aumentado pelas partes. A lei não atrela a indenização à perda da
clientela e do mercado, de forma que ela só será válida se o representado continuar
explorando o mercado.

Contrato por prazo determinado – indenização corresponde à média mensal de comissão


multiplicada pela metade dos meses da vigência total.

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Contrato por prazo indeterminado – denúncia com 30 dias, ou pagamento de indenização
equivalente à média dos últimos 3 meses. Se houver rescisão, 1/12 do total das comissões
recebidas, com correção.

AULA 24/10/2019

CORRETAGEM

Conceito: Uma pessoa, sem qualquer relação de dependência, se obriga mediante


remuneração a obter para a segunda um ou mais negócios,, de acordo com as instruções
recebidas (art. 722, CC).

Trata-se de contrato típico, previsto nos arts. 722 a 729 do CC.

A figura mais comum é a corretagem imobiliária, mas existem outras, inclusive


corretagem na bolsa de valores.

Se a corretagem for contratada em benefício de uma incorporadora para divulgação de


todos os empreendimentos em uma determinada cidade ou bairro, ganhará qualidade de
colaboração.

Obrigação de resultado, eis que o pagamento da comissão se dará se a aproximação


resultar na efetivação do negócio – controvérsia.

Autonomia eis que não é empregado do comitente. Poderá instituir um sub-corretor.

Basta a aproximação ou deve haver um resultado útil? O que seria resultado útil? Se as
partes conversaram mas não efetivaram negócio nenhum, não há resultado útil.

Obrigações do comitente: pagar a comissão ao corretor quando houver resultado útil.

Obrigações do corretor:

a. Agenciar os negócios de que foi incumbido de intermediar;


b. Informar ao comitente todos os desdobramentos das negociações (art. 723, CC);
c. Informar ao comitente todos os riscos que possam interferir no resultado do
negócio (art. 723, CC);
d. Prestação de serviços não é da natureza do contrato, consistindo na combinação
de dois tipos contratuais.

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Extinção do contrato:

a. Conclusão do negócio;
b. Decurso do prazo (prazo determinado);
c. Morte de qualquer das partes;
d. Qualquer das partes poderá denunciá-lo sem justo motivo (prazo indeterminado).
Caso tenha sido celebrado após a denúncia, com pessoas apresentadas pelo
corretor, a comissão será devida.

1ª Jornada de Direito Empresarial, Enunciado 36: “O pagamento da comissão, no


contrato de corretagem celebrado entre empresários, pode ser condicionado à
celebração do negócio previsto no contrato ou à mediação útil ao cliente, conforme os
entendimentos prévios entre as partes. Na ausência de ajuste ou previsão contratual, o
cabimento da comissão deve ser analisado no caso concreto, à luz da boa-fé objetiva e
da vedação ao enriquecimento sem causa, sendo devida se o negócio não vier a se
concretizar por fato atribuível exclusivamente a uma das partes.”

AULA 04/11/2019

CONTRATO DE FRANQUIA

Alternativa ao empresário que quer expandir seus negócios sem investir muitos recursos:
autorização para terceiros explorarem o negócio.

I. HISTÓRICO

Século XIX: Singer Sewing Machine Company procurou ampliar sua rede de distribuição
sem utilizar capital próprio.

No Brasil, sua utilização começou com as escolas de inglês Yázigi (1954), FISK (1962)
e CCAA (1969), que transferiam o material didático e metodologia.

II. CARACTERÍSTICAS
a. Cessão dos direitos de uso: marca, kow-how, produto.
b. Cessão dos direitos de distribuição: produto ou serviço desenvolvido pelo
franqueador.
c. Ausência de vínculo empregatício: franqueador e franqueado são PJs diferentes.
d. Franqueado possui independência econômica e jurídica: age em nome próprio.

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e. Franqueador fornece os elementos para organização da empresa do franqueado:
dá treinamento, oferece prestação de assistência técnica; auxilia na publicidade da marca
etc.
f. Pagamento de remuneração periódica.

III. VANTAGENS

Expansão dos negócios com a utilização do capital de terceiros, o qual fica responsável
pelos custos de produção ou distribuição do produto ou serviço.

Franqueador não gasta e ainda recebe remuneração pela concessão do direito de uso da
marca ou distribuição do produto.

Franqueado não precisa criar nada de novo: o modelo já vem pronto e ele utiliza a
reputação do franqueador.

IV. CLASSIFICAÇÃO
a. Contrato complexo: envolve várias operações (cessão de uso de marca,
distribuição de produtos ou serviços, transferência de know-how, compra e venda,
prestação de serviços).
b. Consensual.
c. Bilateral: as partes se obrigam mutuamente.
d. Formal: exige forma escrita e duas testemunhas (Art. 6º).
e. Oneroso: pagamento de prestação.
f. Comutativo: equilíbrio entre prestação e contraprestação.
g. Execução continuada: prestação periódica.
h. Intuitu personae.

V. CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA

Documento preparatório e informativo essencial.

Dever de transparência do Franqueador: evita que o franqueado incorra em erro ou


assuma riscos desconhecidos.

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Deve ser entregue ao candidato com no mínimo 10 dias de antecedência da assinatura do
contrato ou pré-contrato de franquia – pena: anulabilidade do contrato e devolução de
valores pagos.

Art. 3º Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de


franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma
circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo
obrigatoriamente as seguintes informações:

I - histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do


franqueador e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como os
respectivos nomes de fantasia e endereços;

II - balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos aos


dois últimos exercícios;

III - indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envolvidos o


franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, patentes e direitos
autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionando
especificamente o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a
impossibilitar o funcionamento da franquia;

IV - descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das atividades


que serão desempenhadas pelo franqueado;

V - perfil do franqueado ideal no que se refere a experiência anterior, nível de


escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou preferencialmente;

VI - requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na


administração do negócio;

VII - especificações quanto ao:

a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implantação e


entrada em operação da franquia;

b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução; e

c) valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas


condições de pagamento;

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VIII - informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos
pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as
respectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se
destinam, indicando, especificamente, o seguinte:

a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca ou em troca dos serviços


efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado (royalties);

b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial;

c) taxa de publicidade ou semelhante;

d) seguro mínimo; e

e) outros valores devidos ao franqueador ou a terceiros que a ele sejam ligados;

IX - relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfranqueadores


da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses, com nome,
endereço e telefone;

X - em relação ao território, deve ser especificado o seguinte:

a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre determinado


território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz; e

b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu


território ou realizar exportações;

XI - informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de adquirir


quaisquer bens, serviços ou insumos necessários à implantação, operação ou
administração de sua franquia, apenas de fornecedores indicados e aprovados pelo
franqueador, oferecendo ao franqueado relação completa desses fornecedores;

XII - indicação do que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador, no


que se refere a:

a) supervisão de rede;

b) serviços de orientação e outros prestados ao franqueado;

c) treinamento do franqueado, especificando duração, conteúdo e custos;

d) treinamento dos funcionários do franqueado;

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e) manuais de franquia;

f) auxílio na análise e escolha do ponto onde será instalada a franquia; e

g) layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado;

XIII - situação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial - (INPI) das


marcas ou patentes cujo uso estará sendo autorizado pelo franqueador;

XIV - situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em relação


a:

a) know how ou segredo de indústria a que venha a ter acesso em função da franquia;
e

b) implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador;

XV - modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-padrão de


franquia adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive dos respectivos
anexos e prazo de validade.

Sobre o franqueador: histórico, forma societária e razão social, balanços e


demonstrações financeiras dos dois últimos exercícios, indicação de pendências judiciais,
obrigações frente ao franqueado.

Sobre o negócio: descrição detalhada da franquia e das atividades que deverão ser
desempenhadas, total do investimento necessário, informações sobre as taxas periódicas
devidas, situação perante o INPI, relação de franqueados e ex-franqueados, modelo do
contrato.

Sobre o franqueado: perfil do franqueado ideal e requisitos quanto ao envolvimento


direto do franqueado na operação e na administração do negócio.

Território: especificar se há garantia ao franqueado de exclusividade ou preferência


sobre determinado território de atuação e possibilidade de o franqueado realizar vendas
ou prestar serviços fora de seu território ou realizar exportações.

Exclusividade de fornecedores: eventual obrigação do franqueado de adquirir bens,


serviços ou insumos relacionados á franquia apenas de fornecedores indicados e
aprovados pelo franqueador, oferecendo ao franqueado relação completa desses
fornecedores.

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Situação pós-contratual do franqueado: utilização do know-how ou segredo de
indústria, implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador.

VI. PREVISÕES CONTRATUAIS

Management: administração do negócio, com práticas de controle de custos, gestão de


pessoas e estoques.

Engineering: relacionam-se à organização do espaço.

Marketing: publicidade e forma pela qual o produto ou serviço é colocado à disposição


do consumidor.

Exclusividade: via de mão dupla.

Franqueador pode exigir que franqueado apenas comercialize sua marca de produtos
ou serviços.

Franqueado pode exigir exclusividade territorial, com o impedimento de se celebrar


novo contrato de franquia dentro de determinado perímetro (raio de atuação).

VII. PONTOS RELEVANTES

Master Franqueado: “administrador” da franquia; é franqueado do franqueador e


franqueador de terceiros subfranqueados.

Registro (art. 211 da Lei nº 9.279/96): o INPI fará o registro dos contratos que impliquem
em transferência de tecnologia e contratos de franquia para produzirem efeitos em relação
a terceiros e perante o Fisco, com a dedução dos royalties pagos pelo uso da marca, bem
perante o BACEN, para a remessa de recursos ao exterior.

VIII. CONTROVÉRSIAS

Aplicação do CDC entre o franqueador e o franqueado?

Contrato interempresarial – Resp 1.336.492/SP

Responsabilização do franqueador perante o consumidor final?

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Franquia de produtos: cadeia de fornecimento – Resp 1.426.578/SP

Franquia de serviços: caso a caso.

Cláusula de barreira (não concorrência após o término do contrato)?

Delimitação de tempo e espaço – Resp 1.203.109/MG

Não utilização do know-how após o término do contrato de franquia?

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