Você está na página 1de 140

Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais

PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

É o CRMV-MG participando do processo de atualização


técnica dos profissionais e levando informações da
melhor qualidade a todos os colegas.

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você

www.crmvmg.org.br
Editorial
Caros colegas,
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional de
Medicina Veterinária de Minas Gerais têm a satisfação
de encaminhar à comunidade veterinária e zootécnica
mineira um volume dos Cadernos Técnicos inteira-
mente destinados à Sanidade Avícola. Este primeiro
fascículo de 2015 consolida a parceria e o compromis-
so entre as duas instituições com relação à Educação
Continuada da comunidade dos médicos veteriná-
rios e zootecnistas de Minas Gerais. O presente nú-
mero aborda objetivamente os principais temas em
Sanidade Avícola, discorrendo sobre pontos relevan-
tes das principais doenças de notificação obrigatória.
A cadeia produtiva de aves industriais absorve a mão
de obra veterinária e zootecnista e, principalmente,
envolve as espécies Gallus gallus domesticus (frango
de corte e galinha) e Meleagris gallopavo (peru) em
Minas Gerais. Segundo o relatório da UBABEF de
2014, o estado cresceu no agronegócio avícola e repre-
senta a segunda maior produção nacional (12,37%)
de ovos de consumo (segunda posição em exporta-
ção), a quinta posição (7,56%) na produção de carne
Universidade Federal
de Minas Gerais de frango (quarta posição em exportação) e a terceira
Escola de Veterinária posição (17,64%) no abate de perus (quarta em ex-
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia portação). Deseja-se que este volume exerça uma con-
- FEPMVZ Editora
tribuição contínua como um manual de consulta na
Conselho Regional de
Medicina Veterinária do rotina profissional na área de sanidade avícola. Como
Estado de Minas Gerais colaboradores neste empreendimento, ficamos honra-
- CRMV-MG
www.vet.ufmg.br/editora
dos com a tarefa e orgulhosos do produto final.
Correspondência: Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins - CRMV-MG 4809
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
FEPMVZ Editora
Caixa Postal 567 Prof. Renato de Lima Santos - CRMV-MG 4577
30161-970 - Belo Horizonte - MG Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof. Antonio de Pinho Marques Junior - CRMV-MG 0918
E-mail: Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva - CRMV-MG 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editor convidado para esta edição:
Prof. Benito Soto Blanco
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
9.550 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
O Lutador

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da


UFMG)
N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.
N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1998-1999
v. ilustr. 23cm
N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia, FEP MVZ Editora, 1999¬Periodicidade irregular.
1. Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem
Animal, Tecnologia e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.
I. FEP MVZ Editora, ed.
Prefácio
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
- CRMV-MG 4809
Profa. Roselene Ecco - CRMV-MG 8324
A expansão da produção avícola no
país, na concepção contemporânea de
produtividade e qualidade, diretamen-
te ligada ao status sanitário dos plantéis,
demandou a preparação desta primeira
edição dos Cadernos Técnicos exclu-
siva em sanidade avícola. Embora ar-
tigos isolados tenham sido publicados
em edições anteriores, deliberou-se por
uma edição que reunisse em um único
volume os principais tópicos em doen-
ças previstas e não previstas na legisla-
ção sanitária brasileira e internacional.
A avicultura comercial e os profissionais
da área enfrentam novos desafios em
doenças novas e/ou reemergentes, ne-
cessitando de atualização regular da in-
formação. Preparou-se aqui uma edição
atualizada e com significativa revisão da
literatura, especialmente consultando
artigos científicos, as publicações e nor-
mas da Organização Mundial de Saúde
Animal (OIE) e capítulos de livros
mais relevantes. Os capítulos contêm
descrições da etiologia, epidemiologia,
transmissão, patogênese, sinais clíni-
cos, diagnóstico, controle e prevenção.
No diagnóstico imprime-se enfoque
nas metodologias previstas na legis-
lação (PNSA - Programa Nacional de
Sanidade Avícola), assim como as téc-
nicas mais usuais e modernas, incluindo
a descrição das lesões macroscópicas e
histológicas que permitem o diagnósti-
co diferencial, coleta e conservação das
amostras. Os colaboradores em cada
um dos capítulos são profissionais e
estudantes engajados no diagnóstico e
pesquisa das doenças descritas. O diag-
nóstico exato e precoce é fundamental
para redução dos prejuizos com morta-
lidade e prevenção de novos surtos, e o
advento dos métodos moleculares e so-
rológicos facilmente disponíveis, desa-
fiam os profissionais que atuam na área
com novos paradigmas, às vezes confli-
tantes. Logo, são incluídas algumas con-
siderações sobre as doenças causadas
por infecções que produzem estado de
portador ou latência, assim como infec-
ções decorrentes da circulação de estir-
pes vacinais atenuadas ou não, que exi-
gem diferenciação e interpretação dos
resultados. Ressalta-se a importância de
o profissional que atua na área da sani-
dade conhecer e interpretar todos os as-
pectos da doença, assim como os testes
que permitem o diagnóstico diferencial.
Recomenda-se ao profissional a con-
sulta regular às publicações preparadas
pela OIE (www.oie.int) e Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(www.agricultura.gov), para a sua atuali-
zação contínua. A avicultura é a pecuária
mais pujante no país e em grande parte
do mundo, e a que oferece mais oportu-
nidades de trabalho para o profissional.
As doenças abordadas nesta edição são
exóticas, pré-existentes, emergentes ou
reemergentes na avicultura, e sua leitura
poderá representar uma preparação adi-
cional para seu enfrentamento.
Sumário

1. Influenza Aviária.............................................................................................9
Nelson Rodrigo da Silva Martins, Maurício Resende, Priscilla Rochele Barrios, Sandra Yuliet Marin
A avicultura comercial brasileira é livre de influenza aviária, em
conformidade com as determinações da OIE (Organização Mundial de
Sanidade Animal) para o comércio internacional.

2. Doença de Newcastle....................................................................................33
Nelson Rodrigo da Silva Martins, Roselene Ecco
A avicultura comercial e de exportação brasileira atualmente mantêm-se livre
da doença de Newcastle, em conformidade com as recomendações de OIE
(Organização Mundial de Sanidade Anima).

3. Bronquite Infecciosa das Galinhas...............................................................49


Nelson Rodrigo da Silva Martins, José Sérgio de Resende, Josiane Tavares de Abreu, Maurício Resende
A bronquite infecciosa das galinhas é causada por um coronavirus aviário e
representa a principal doença respiratória, do sistema excretor e reprodutivo
de galinhas.

4. Doença de Marek..........................................................................................57
Nelson Rodrigo da Silva Martins, Sandra Yuliet Marin, Roselene Ecco, Ana Caroline Doyle Torres
A doença de Marek é a principal doença tumoral de linfócitos de galinhas
domésticas, com vacinação obrigatória, aplicada via subcutânea no 1º dia ou
no 18º dia de incubação.

5. Anemia Infecciosa das Galinhas...................................................................64


Sandra Yuliet Marin, Priscilla Rochele Barrios, Nelson Rodrigo da Silva Martins
A anemia infecciosa das galinhas provoca a destruição de linfócitos T e
na medula óssea provoca anemia, estando entre as principais causas de
imunodepressão na avicultura industrial.

6. Doença Infecciosa da Bursa.........................................................................71


Nelson Rodrigo da Silva Martins, Maurício Resende, Priscilla Rochele Barrios, Sandra Yuliet Marin
A doença infecciosa da bursa provoca a atrofia precoce da bolsa de Fabricio
(bolsa cloacal), o órgão responsável pela maturação de linfócitos B em aves.
7. Laringotraqueíte Infecciosa das Aves e Diagnóstico Diferencial de Outras
Doenças Respiratórias..............................................................................79
Roselene Ecco, Nelson Rodrigo da Silva Martins
A laringotraqueíte infecciosa é doença respiratória grave e de caráter agudo nos
primeiros episódios. Os plantéis persistentemente infectados mantêm infecção
crônica, de baixa expressão clínica, e com infecção vitalícia.

8. Micoplasmoses.............................................................................................96
Ana Caroline Doyle Torres, Hannah Luiza Gonsalves Coelho, Sarah Ferreira Cunha, Maurício Resende,
Roselene Ecco, Sandra Yuliet Marin, Carolina Fontes Prezotto, Nélson Rodrigo da Silva Martins
As micoplasmoses por Mycoplasma gallisepticum (doença crônica respiratória),
M. synoviae (sinovite infecciosa) e M. meleagridis (micoplasmose dos perus),
são de erradicação obrigatória em reprodutores da avicultura comercial.

9. Salmoneloses..............................................................................................108
Ana Caroline Doyle Torres, Sandra Yuliet Marin, José Sérgio de Resende, Nelson Rodrigo da Silva Martins
As salmoneloses por Salmonella Gallinarum-Pullorum, S. Enteritidis e S.
Typhimurium são de erradicação obrigatória para reprodutores da avicultura
comercial, pelos potenciais graves efeitos nos hospedeiros sensíveis.

10. Miopatia em Frangos De Corte................................................................117


Roselene Ecco, Juliana Fortes Vilarinho Braga
As miopatias em frangos de corte podem estar em crescente ocorrência na
avicultura de corte em razão do melhoramento genético e da nutrição, voltados
para maior ganho de massa muscular.

11. Colibacilose em Aves Comerciais.............................................................126


Juliana Fortes Vilarinho Braga, Roselene Ecco, Nelson Rodrigo da Silva Martins
As colibaciloses são causadas por variadas estirpes de Escherichia coli e
representam as principais infecções e doenças bacterianas de aves comerciais.
1. Influenza
aviária

bigstockphoto.com

Nelson Rodrigo da Silva Martins1 - CRMV-MG 4809


Maurício Resende2
Priscilla Rochele Barrios3 - CRMV-MG 7173
Sandra Yuliet Marin4
1
Professor associado, médico veterinário CRMV, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Professor titular aposentado, médico veterinário CRMV, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
3
Professora associada, médica veterinária CRMV, mestra e doutora, Departamento de Veterinária, UFLA
4
Pós-doutoranda, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG.

Introdução A influenza aviária


Organização Mundial
de Saúde Animal (OIE)
A influenza aviá- é uma enfermidade
exótica para a determina as doenças
ria é uma enfermidade
avicultura comercial de relevância interna-
exótica para a avicultu-
brasileira. Não ocorre cional (Tab. 1). O Brasil
ra comercial brasileira.
Não ocorre em nenhu- em nenhuma espécie está em conformidade
ma espécie da avicul- da avicultura industrial para o comércio inter-
tura industrial do país, do país, em nenhuma nacional, sendo o maior
em nenhuma forma de forma de apresentação exportador de carne de
apresentação ou de sub- ou de subtipo aves do planeta [65].
tipo viral, o que está em viral, o que está em Gripe aviária é o ter-
conformidade com as conformidade com mo popular para influen-
normas sanitárias in- as normas sanitárias za aviária (AI, de avian
ternacionais [4, 5]. A internacionais. influenza, em inglês), que
1. Influenza aviária 9
designa desde infecção tórias com maior proba-
As infecções em
subclínica até doença hi- bilidade de infecção são
aves, em outros
peraguda, causadas por monitoradas nos locais
animais domésticos
uma grande variedade de concentração na costa
e em humanos
de vírus influenza (AIV, são consideradas brasileira e no interior do
avian influenza virus). aberrantes, não país [Ilha do Parazinho
As aves domésticas naturais, situação (AP); Reentrâncias
em criações intensifi- que emerge com a Maranhenses (MA);
cadas, especialmente proximidade com os Coroa do Avião (PE);
galinhas e perus, e os reservatórios naturais. Mangue Seco (BA);
mamíferos, como suínos Pantanal (MT) e Parque
[16], felinos e humanos, Nacional Lagoa do Peixe
são muito sensíveis à infecção e doença. (RS)]. Os locais em que há amostregem
O risco de infecção ocorre com a pro- de aves domésticas (Fig. 1) estão indica-
ximidade das aves reservatório natural dos em verde no mapa.
a criatórios ou no ambiente natural, ou, AIV, assim como muitos outros ví-
ainda, com a proximidade de aves do- rus RNA, inclusive birnavírus, corona-
mésticas infectadas [1, 3, 15, 59, 60, 61]. vírus, flavivírus e retrovírus, comporta-
A infecção em aves e mamíferos, inclusi- -se como uma população heterogênea
ve humanos, é considerada aberrante ou de vírus, com pequenas diferenças ge-
não natural. A adaptação viral à espécie néticas (quasispecies) [18] em regiões
doméstica pode resultar em emergência hipervariáveis do genoma [15, 43, 46,
sanitária para múltiplas espécies, como 70]. Outro mecanismo de geração de
aconteceu em galinhas em Hong Kong, mudança genética, a recombinação (do
em 1997, dando origem às estirpes do tipo rearranjo), está ligado ao genoma
subtipo H5N1 [8, 60]. Entretanto, ga- segmentado de AIV, que permite a mis-
linhas e frangos de corte são criações tura de segmentos de diferentes origens
com alto índice técnico, com genética, durante coinfecção [15, 30, 44, 48, 62,
status sanitário, manejo, nutrição, aco- 73].
modações e ambiência determinados As infecções em aves, em outros
em manuais técnicos de criação e com animais domésticos e em humanos são
atenção à legislação sanitária (PNSA). consideradas aberrantes, não naturais,
Em contrapartida, as aves da fauna estão situação que emerge com a proximida-
sujeitas às condições naturais, com al- de dos reservatórios naturais [11, 15,
gumas espécies atuando como sentine- 35, 36, 44, 48, 73]. Essa condição ocor-
las das condições epidemiológicas para re mais facilmente no sudeste asiático
HPAIV. Por essa razão, espécies migra- [8, 62]. Historicamente, os episódios
10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
B R A S I L

AMÉRICA
DO SUL

Abrangência da vigilância 0 250 500 1.000 1.500


conduzida pelo Mapa entre
2004 e 2005 km

Figura 1. Amostragem de aves domésticas.


Fonte: MOTA, M.A.; LIMA, F.S.; OLIVEIRA, P.F.N. and GUIMARAES, M.P.. Ações de vigilância para influenza aviária desenvolvida no
Brasil, no período de 2004 e 2007. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. [online]. 2013, vol.65, n.5 [cited 2015-04-10], pp. 1265-1273 .

de influenza aviária em aves domésti- nos por H5N1 aviário nos mercados de
cas estiveram relacionados à criação em aves vivas de Hong Kong, com morta-
proximidade e/ou convívio com aves lidade humana e de aves [8, 60], as es-
reservatório natural. Em Hong Kong, a pécies reservatório natural têm também
venda de aves em mercados de aves vi- sofrido infecção letal. As novas estirpes
vas resultou em condições para o surgi- de HPAIV do subtipo H5N1 causam
mento das estirpes de HPAIV do subti- doença grave com alta mortalidade em
po H5N1, com impacto na avicultura e aves silvestres [1, 3, 59, 60, 62].
na saúde humana [60]. Os mercados de As ocorrências de AIV em huma-
aves vivas são proibidos no Brasil. nos estiveram historicamente associa-
As aves reservatório natural abri- das à adaptação primária de AIV em
gam infecções subclínicas de AIV, por suínos [15, 44, 48, 73]. Entretanto, os
estirpes que são, tipicamente, não pato- episódios de Hong Kong (1997) foram
gênicas. Entretanto, desde 1997, com a os primeiros relatos de transmissão di-
emergência da infecção de aves e huma- reta de ave para humano [8, 60]. As
1. Influenza aviária 11
estirpes derivadas de H5N1 de Hong [69, 70, 71, 72]. Até 14 de fevereiro
Kong, por apresentarem alto índice de de 2015, foram registrados 694 casos
letalidade humana, em torno de 60%, de influenza aviária em humanos, com
têm recebido atenção internacional 402 óbitos (57,9%), e os países com
pelo potencial em repetir em huma- maiores ocorrências foram Egito (203
nos, uma pandemia semelhante à de- casos e 72 óbitos), Indonésia (197 ca-
nominada “gripe espanhola”, de 1918 sos e 165 óbitos) e Vietnã (127 casos

Tabela 1. Doenças de notificação obrigatória para a


Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)
Nome Etiologia
Clamidiose aviária (Avian chlamydiosis) Chlamydophila psittaci
Bronquite (Avian infectious bronchitis) IBV, Gammacoronavirus, Coronaviridae
Laringotraqueíte infecciosa das aves (Avian infec-
GaHV-1; ILTV, Iltovirus, Alphaherpesvirinae
tious laryngotracheitis)
Micoplasmose aviária (Avian mycoplasmosis) Mycoplasma gallisepticum
Micoplasmose aviária (Avian mycoplasmosis) Mycoplasma synoviae
Hepatite viral dos patos (Duck virus hepatitis) DHBV, Avihepadnavirus, Hepadnaviridae
Cólera aviária (pasteurelose aviária) (Fowl cholera) Pasteurella multocida
Tifo aviário (Fowl typhoid) Salmonella enterica enterica Gallinarum
Alta patogenicidade: vírus influenza A sub-
Influenza aviária de alta e baixa patogenicidade em tipos H5 ou H7; qualquer combinação de
H1 a H16 e N1 a N9 com código genético
aves domésticas - Código de Saúde dos Animais para múltiplos aminoácidos básicos (3 a
Terrestres, capítulo 10.4 (Highly pathogenic avian 5) no sítio de clivagem da hemaglutinina;
influenza and low pathogenic avian influenza in ou índice intravenoso (IPIV) superior a 1,2
em aves SPF; baixa patogenicidade: todas
poultry - Chapter 10.4 - Terrestrial Animal Health
as combinações de subtipos sem o código
Code) acima e com IPIV maior que 1,2 em aves
experimentais
Doença infecciosa bursal ou doença de Gumboro
IBDV, Birnavirus, Birnaviridae
(Infectious bursal disease, Gumboro disease)
GaHV-2, Gallid Herpesvirus 2, Mardivirus,
Doença de Marek (Marek’s disease)
Alphaherpesvirinae
Paramyxovirus aviário 1, Avulavirus,
Doença de Newcastle (Newcastle’s disease)
Paramyxoviridae
Pulorose (Pullorum disease) (Salmonella pullorum) Salmonella enterica enterica Pullorum
Rinotraqueíte dos perus (Metapneumovirose aviá- AMPV, Avian Metapneumovirus,
ria) (Turkey rhinotracheitis) Paramyxoviridae
Fonte: www.oie.org.

12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


e 64 óbitos) (Fig. 2), com letalidade, Etiologia
respectivamente, de 35,4%, 83,7% e
A influenza aviária é causada por ví-
50,4%, variação em decorrência de
rus da família Orthomyxoviridae, gênero
diferenças na qualidade do atendi-
Influenzavirus A, denominados vírus da
mento hospitalar entre os países [9, influenza aviária (AIV, da sigla em inglês
69, 70, 71, 72]. avian influenza virus) [15, 44, 48, 73]. O
Estudos oficiais (Fig. 3) e acadê- vírus tem projeções superficiais formadas
micos [28] foram desenvolvidos para por glicoproteínas ancoradas no envelo-
a monitoração das aves reservatório pe lipídico, a hemaglutinina (H) e a neu-
natural. raminidase (N). Em aves há 16 subtipos

Figura 2. Casos humanos cumulativos e confirmados à


Organização Mundial de Saúde Animal entre 2003 e 2015.
2003-
PAÍS 2010 2011 2012 2013 2014 Total
2009
Azerbaijão 8 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 5
Bangladesh 1 0 0 0 2 0 3 0 1 1 0 0 7 1
Camboja 9 7 1 1 8 8 3 3 26 14 9 4 56 37
Canadá 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1
China 38 25 2 1 1 1 2 1 2 2 2 0 47 30
Djibouti 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0
Egito 90 27 29 13 39 15 11 5 4 3 30 9 203 72
Indonésia 162 134 9 7 12 10 9 9 3 3 2 2 197 165
iraque 3 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 2
República
Democrática 2 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 2
do Laos
Myanmar 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0
Nigéria 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1
Paquistão 3 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 1
Tailândia 25 17 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 25 17
Turquia 12 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 4
Vietiname 112 57 7 2 0 0 4 2 2 1 2 2 127 64
Total 468 282 48 24 62 34 32 20 39 25 45 17 694 402
*2003-2009 total figures. Breakdowns by year available on next table
Total number of cases incluides numbers of deadths
WHO reports only laboratory cases
All dates refer to onset of illness

1. Influenza aviária 13
Figura 3. Amostras de aves migratórias recolhidas
entre 2003-2004 por unidade da federação e analisadas pelo Lanagro.
Foram encontrados LPAIV H2, H3 e H4.
Ano Localidade Amostras testadas
2006 BA* 814 + 157
2006 RS* 74 + 75
2004 RS 3528
2004 PR 5220
2004 AP 8118
2004 MA 10800
2003 PE 2160
2003 AM 3654
2003 PE 1530
2003 AM 5364
2003 PE 738
2003 PE 738

de H e nove subtipos de N, que podem As estirpes de AIV pandêmicas na


estar arranjados em qualquer combi- Ásia, com episódios na Europa e África,
nação. Mais recentemente, foram des- são de alta patogenicidade e deriva-
critos os novos subtipos H17 e H18 e das da estirpe de Hong Kong de 1997
N10 e N11, em morcegos nas Américas (A/Chicken/Hong Kong/220/1997
Central e do Sul, subti- H5N1).
pos não encontrados em As estirpes que causam As estirpes de AIV
aves. O RNA de fita sim- doença em aves Gallus podem ser de baixa pa-
ples com 13.600 nucleo- gallus domesticus togenicidade (LPAIV,
tídeos está disposto em (frango de corte e sigla em inglês para low
oito segmentos, cada um galinha de postura) são pathogenicity avian in-
encapsidado pela nucle- geralmente dos subtipos fluenza virus) ou de alta
oproteína separadamen- H5 ou H7. patogenicidade (HPAIV,
te. Os oito segmentos high pathogenicity AIV).
constituem característi- A doença em aves Gallus gallus domes-
ca que permite a permuta (rearranjo) de ticus (frango de corte e galinha de pos-
segmentos em coinfecções. Os segmen- tura) e perus é geralmente causada por
tos de RNA codificam oito proteínas es- estirpes dos subtipos H5 ou H7 [1, 3,
truturais e três não estruturais (Fig. 4) 59, 62, 63].
[15, 44, 48, 73]. A hemaglutinina está subdividida
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
Figura 4.

A) Partículas sendo liberadas da célula infecta-


da. Notar que, no interior das partículas de
AIV, é possível a visualização de oito pontos
pretos, correspondentes a cada segmento
de RNA.

B) Maior magnificação de A.
Os oito segmentos de ribonucleoproteína são
visíveis (seta branca).

Micrografias eletrônicas de influenza vírus, de


Yoshi Kawaoka e Takeshi Noda, em Palese &
Shaw, Orthomyxoviridae, Fields Virology, 2007.

C) Eletroforese em gel de poliacrilamida de RNA


de vírus marcado com 32P- RNA, de estirpes
influenza dos tipos A, B e C purificados .
Canaleta A, influenza A/PR/8/34, canaleta B,
influenza B/Lee/40 e canaleta C influenza C/
JHB/1/66.

Ps: segmentos codificadores do complexo poli-


merase PB1, PB2 e PA.

HA: hemaglutinina; NP: nucleoproteína; NA:


neuraminidase; M: matriz; NS: não estrutural.
Fonte: Palese & Shaw, Orthomyxoviridae, Fields Virology,
2007.

1. Influenza aviária 15
em H1 e H2. A região H1 é mais externa no Programa Nacional de Sanidade
e adsorve receptores celulares. Na re- Avícola (PNSA), as normas para o en-
gião de H2, denominada glicoproteína frentamento de surtos e a manutenção
da fusão (F), que permite a entrada na do status de doença exótica no país [4,
célula, encontra-se o principal determi- 5]. Um plano de contingência, que in-
nante de patogenicidade em AIV [15, tegra os Ministérios da Agricultura,
44, 48, 73]. As diferenças principais que Meio Ambiente e Saúde, está em ação
determinam as estirpes serem LPAIV no Brasil, no qual há a monitoração
ou HPAIV associam-se à região de cli- de aves migratórias, com a pesquisa de
vagem enzimática de F. A ativação (re- quaisquer infecções por AIV, vírus das
conhecimento e clivagem) de F por en- encefalites equina e do oeste do Nilo. A
zimas (furinas) do complexo de Golgi vigilância ativa dos plantéis comerciais
ocorre intracelularmente nas estirpes baseia-se na amostragem regular de aves
HPAIV, característica determinante e no diagnóstico laboratorial de todos
de alta patogenicidade. As estirpes de os casos suspeitos. Em aves domésticas
LPAIV têm F ativada apenas fora da não comerciais e de subsistência, estir-
célula, por enzimas da família das tripsi- pes de baixa patogenicidade foram de-
nas, principalmente no sistema digestó- tectadas por métodos moleculares [28].
rio. A região de F que sofre a ação enzi- A notificação é obrigatória para quais-
mática tem uma sequência de múltiplos quer mortalidades acima de 10% na
aminoácidos básicos (arginina e/ou lisi- produção e acima de 1% no transporte
na) na região ativada. Essa característica e exige o diagnóstico etiológico [4, 5].
é determinante de patogenicidade, e sua O plano de contingência em huma-
demonstração e sequenciamento são nos mantém a monitoração de quadros
utilizados em diagnóstico [1, 3, 59, 62, de doença respiratória, especialmente
63]. viajantes vindos da Ásia e de áreas atin-
Em termos gerais, são consideradas gidas por H5N1 com sinais sugestivos.
características determinantes de patoge- A doença em humanos poderá surgir in-
nicidade para uma estirpe de AIV: (1) dependentemente das aves, trazida, por
possuir sequência de múltiplos ami- exemplo, nos aeroportos pelas viagens
noácidos básicos no sítio de clivagem intercontinentais [2].
da glicoproteína da fusão, (2) possuir
hemaglutinina H5 ou H7 e (3) causar Estratégias evolutivas de AIV
mortalidade de aves SPF inoculadas [1, Os vírus RNA consistem de uma
3, 59, 62, 63]. complexa distribuição de genomas mu-
O Brasil é livre de AIV na avicul- tantes, nunca de sequências idênticas.
tura industrial, e o Mapa determina, De acordo com o conceito de quasis-
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
pecies moleculares, polinucleotídeos As polimerases dos vírus RNA não
(RNA e DNA) devem manter regulari- dispõem de sistema de verificação de
dade na composição (fidelidade de có- erro [18, 44, 48, 73]. Em contraste, os
pia) ao mesmo tempo em que devem vírus DNA mais complexos (genoma
manter evolução (resultante de erro de mais longo), para a viabilidade evolu-
cópia - mutação) [19], dentro de limi- tiva, é necessário existir sistema de ve-
tes precisos, para que se mantenham as rificação e reparo mediado pelas po-
características da espécie, assim como
limerases mais complexas. A taxa de
um repertório de mutantes, em um me-
mutação calculada para os vírus RNA
canismo darwiniano de seleção natural
pode variar entre 10-3 a 10-5 substi-
de variações preexistentes (Fig. 5) [18,
19]. A “transição para erro catastrófico”, tuições por nucleotídeo copiado. Para
em que há violação do limiar máximo um vírus RNA com genoma entre 3 x
de erro, resulta em transição irreversível 103 e 32 x 103, a média de mutação
para a extinção [18]. No caso de AIV, de 0,1 a 1 base pode ser esperada por
como de outros vírus RNA, as muta- vírion, aproximadamente o que seria
ções do RNA permitem a diversidade esperado para AIV, com genoma de
necessária para a evolução. 13,6 x 103 [18].

Limite de Erro

Distribuição Sequências
da quasispecie randômicas

Aumento da Nenhuma
complexidade informação

1 0

Fidelidade de cópia

Figura 5. Representação esquemática de vírus e o eventual risco de erro catastrófico [18]. A fidelidade 1
(extrema esquerda) implica todas as moléculas genômicas idênticas (entropia de Shannon igual a zero;
uma presunção irreal para todas as formas de vida conhecidas). Com o declínio da fidelidade (para a
direita), a complexidade dos mutantes aumenta. Para cada sistema replicante, existe uma fidelidade de
cópia crítica, abaixo da qual a informação não é mantida. A fidelidade crítica é denominada “limiar de
erro”. A seta central demonstra a transição até a perda de informação, que pode ser visualizada como
a transição de sequências nucleotídicas genômicas virais para sequências randômicas sem sentido.
A coluna na zona de transição (central) é larga para representar diferentes valores de limiar de erro
para diferentes sistemas virais [18]. Fonte: Domingo, E. Virus Evolution. Introduction: Virus Origins and
Evolution. Editors: Knipe, David M.; Howley, Peter M. Fields Virology, 5ª Edição, 2007.

1. Influenza aviária 17
Epidemiologia Em países frios, o congelamento de in-
verno pode preservar vírus na água nos
As infecções benignas por estirpes
sítios de reprodução e, assim, infectar as
de LPAIV, formando um pool natural de
novas gerações [57]. Em termos gerais,
AIV, são mantidas nas aves reservatório
as aves reservatório natural migratórias
natural, tipicamente as aves migratórias
nas Américas (sentido norte-sul) fazem
aquáticas e de praia [15, 44, 48, 73].
escalas para descanso e alimentação nas
São muitas as espécies de aves aquáti-
áreas tropicais [44]. Considerando a
cas e de praia, da ordem Anseriformes
estrutura lipoproteica do envelope e a
(150 espécies): patos, marrecos, gan-
necessidade de sua integridade para a
sos, cisnes, etc., das famílias Anhimidae,
infecção, o AIV pode ser destruído por
Anseranatidae e Dendrocygnidae; da
insolação no ambiente natural (prin-
ordem Charadriiformes (350 espé-
cipalmente regiões tropicais). Nessas
cies), como o maçarico, chamadas limí-
regiões, ocorre também menor mul-
colas, da família Scolopacidae, com 20
tiplicação viral nas aves reservatório.
gêneros e mais de 100
Nas regiões tropicais (El
espécies, por exemplo,
Calidris alba, que passa Em países frios, o Salvador, Guatemala e
o inverno na América
congelamento de Panamá), para influen-
do Sul, e corre-praias; a
inverno pode preservar za humana, as variações
ordem tem seis subor-
vírus na água nos estacionais de ocorrên-
dens e 20 famílias; su-
sítios de reprodução e, cia estariam associadas
bordem Lari, gaivotas
assim, infectar as novas à umidade relativa do
e afins, com seis gêne-
gerações. ar, com maior ocorrên-
cia na estação das chu-
ros, por exemplo: gêne-
ro Larus (gaivotas), com 49 espécies, vas [55], em contraste
Procellariidae –, Diomedeidae – 14 com regiões subtropicais e temperadas
espécies, Hydrobatidae – 20 espécies, com a estacionalidade favorecida pelas
Pelecanoididae – quatro espécies; e da estações frias [44]. Entretanto, estudos
ordem Ciconiiformes (19 espécies), na África subsaariana indicaram que as
com uma família e seis gêneros. No aves migratórias (Anseriformes) entre
Brasil ocorre a migração de 74 espécies, Eurásia e África mantêm circulação da
principalmente norte-sul, vindas da infecção durante o ano em uma propor-
América do Norte, ou sul-norte, vindas ção de aves, com transmissão de uma
da Patagônia [10]. diversidade de AIV durante a invernada
As aves reservatório natural mantêm africana (África ocidental, interior do
todos os 16 diferentes subtipos de he- delta do rio Niger, delta do rio Senegal
maglutininas e nove de neuraminidases. e lago Chad [27]. As ocorrências mun-
18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
diais com diagnóstico laboratorial noti- de doença clínica e infecção subclínica
ficadas à OIE no primeiro semestre de por estirpes dos subtipos H5N1 (sub-
2015 (até fevereiro) estão apresentadas clínica), H5N2 e H5N8 (ambos com
na Fig. 6. Há uma preocupação recen- manifestação clínica), casos em razão
te com as ocorrências na América do de contato com aves reservatório na-
Norte pelas estirpes recombinantes dos tural, na rota migratória do Pacífico.
subtipos H5N1, H5N2 e H5N8 con- Nos Estados Unidos da América, as
tendo genes da Eurásia e da América do ocorrências foram registradas em aves
Norte [47]. Anseriformes, família Anatidae: Anas
As notificações de HPAIV H5N1 à platyrhynchos, Anas americana, Anas acu-
OIE atingiram 2.726 surtos no Vietnã, ta, Anas clypeata e Aix sponsa (patos);
1.141 na Tailândia, 1.084 no Egito, em Falconiformes, família Accipitridae:
1084 na Romênia, 548 em Bangladesh, Buteo jamaicensis (gavião) Falco pere-
261 na Indonésia, 230 no Nepal, 219 na grinus (falcão) e Haliaeetus leucocepha-
Turquia, 150 na Rússia e 127 na China, lus (águia-careca); e em Strigiformes,
incluindo 51 países até fevereiro de família Strigidae: Bubo virginianus, nos
2015 (Fig. 7) [45]. estados de Idaho, Oregon e Washington
Em 2014 e 2015, a América do [47].
Norte foi atingida por vários episódios No sudeste asiático, onde surgiu

Evento de doença
Sem informação

Figura 6. Influenza aviária de alta patogenicidade com confirmação laboratorial notificada até março de
2015. Notar a preocupante ocorrência de H5N1, H5N2 e H5N8 na América do Norte [47].

1. Influenza aviária 19
em 1997 a estirpe HPAIV A/Chicken/ natural com as espécies susceptíveis
Hong Kong/220/97, e nos países e criadas em condições de exposição e
regiões mais recentemente atingidos, comercializadas vivas e/ou com menor
Indonésia, Vietnã, Turquia, Egito e controle do comércio e da qualidade
Nigéria, há proximidade entre as cria- de produtos avícolas, o que permite as
ções domésticas e as aves reservatório transferências de infecções, inclusive

Vietnã 2725
Tailândia 1141
Egito 1084
Bangladesh 548
Romênia 273
Indonésia 261
Nepal 230
Turquia 219
Rússia 150
China (Rep Popular da) 127
Myanmar 115
Coreia (Rep.) 112
Índia 103
Nigéria 112
Paquistão 51
Ucrânia 42
Camboja 42
Japão 32
Arábia Saudita 29
Israel 23
Afeganistão 22
Kuweit 20
Laos 19
Butão 19
Sudão 18
Hong Kong (R. P. China) 17
Malásia 16
Polônia 10
PalesŽna (Territ. Auton.) 10
Hungria 9
Alemanha 8
Gana 6
Benin 6
Togo 4
Iran 4
República Tcheca 4
Côte d'Ivoire 4
Burkina Faso 4
Reino Unido 3
Coreia (Rep. Dem. Popular). 3
Iraque 3
Albânia 3
Níger 2
Azerbaijão 2
Suécia 1
Sérvia & Montenegro 1
Líbia 1
Cazaquistão 1
Jordânia 1
França 1
DjibouŽ 1
Dinamarca 1
Canadá 1
Bulgária 1
Camarões 1

0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Figura 7. Influenza aviária de alta patogenicidade com confirmação laboratorial notificada entre 2003
e fevereiro de 2015 [45].

20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


para humanos [8, 60]. Na história das Os suínos e felinos domésticos são
pandemias prévias, os suínos tiveram muito sensíveis às infecções por HPAIV
importância na geração de mutantes e e podem produzir carga de desafio viral
recombinantes de aves e humanos, con- mais intenso e mais adaptado aos huma-
dição comumente encontrada no sudes- nos [16, 18, 43, 46, 70]. Em aves, a trans-
te asiático [69, 70, 71, 72]. missão ocorre devido à proximidade e à
exposição da ave portadora, sintomática
Aves domésticas ou não, em relação à ave susceptível, por
Embora AI seja exótica no Brasil, aerossóis respiratórios inalados, ou com
os frangos de corte, a principal indús- a ingestão de alimento ou água contami-
tria avícola brasileira, têm risco zero ou nados [1, 3, 44, 59, 62, 63].
desprezível de infecção, tendo em vista A doença por estirpes de HPAIV
o uso de galpões fechados à prova de em galinhas e perus pode causar 100%
entrada de aves da fauna migratória e de de morbidade e mortalidade, de forma
vida livre. Entretanto, estirpes de LPAIV aguda ou superaguda, com hemorragias
foram detectadas na avicultura de sub- generalizadas, na pele, nos sistemas res-
sistência [28]. A instrução normativa piratório e digestório, e infecção do sis-
IN 59, que propunha a colocação de tema nervoso central. A morte ocorre
tela em galpões de postura comercial por falência múltipla de órgãos, princi-
como forma de assegurar biossegurida- palmente causada por “tempestade de
de, foi revogada com a IN 10 de 2013, linfocinas”. Algumas formas superagu-
que exige o teste regular das aves para das podem causar a morte com poucas
Salmonella. lesões detectáveis [1, 3, 59, 62, 63, 64].
Nas condições de criação nos países As aves reservatório natural podem
do sudeste asiático, da Ásia Central, do ser mais resistentes à manifestação clíni-
Oriente próximo e em alguns países da ca em infecções por HPAIV, e a proxi-
Europa e da África, as aves domésticas midade com aves domésticas, especial-
têm sido criadas próximo das aves re- mente galinhas e perus, pode permitir a
servatório, o que tem resultado no sur- ocorrência de surto (doença clínica).
gimento de estirpes variantes. Em aves
domésticas os AIV sofrem mutações Transmissão e doença
naturais que podem gerar estirpes de O AIV pode ser transmitido, por via
alto risco. Além disso, as aves domésti- direta, da ave infectada para a ave sen-
cas infectadas podem sofrer múltiplas sível por aerossóis respiratórios, por ex-
infecções, que permitem a geração de cretas e fezes e por quaisquer secreções
recombinantes de alta patogenicidade [1, 3, 15, 59, 62, 63, 64]. A proximidade
[15, 44, 48, 73]. favorece a transmissão, mas não é essen-
1. Influenza aviária 21
As definições de alta patogenici- acima, matar entre uma e cinco ga-
dade para vírus de influenza em aves linhas, e não for dos subtipos H5 ou
foram descritas [1, 3, 4, 5, 59, 62, 63, H7: cultivo em células em monoca-
64] e são resumidas em: mada com formação de efeito cito-
a) Qualquer vírus letal para seis, sete pático sem a adição de tripsina.
ou oito galinhas SPF de oito se- c) Para todos os isolados H5 ou H7 de
manas de idade, em até 10 dias baixa patogenicidade e outros sub-
de observação após a inoculação tipos com replicação em cultivos
intravenosa de 0,2mL de uma di- de células em monocamada sem a
luição 1:10 de líquido alantoide adição de tripsina: sequenciamento
hemaglutinante (HA+) e livre de genético para código ou sequencia-
bactérias, obtido de embriões SPF mento proteico dos aminoácidos no
inoculados. peptídeo de conexão da hemaglu-
b) O teste adicional é requerido se o tinina (sítio de clivagem da hema-
isolado replicadoem ovo (HA+), glutinina) semelhante às estirpes de
em inoculação como a descrita alta patogenicidade (HPAIV).

cial, pois o AIV pode ser transmitido via estirpes de baixa patogenicidade [15,
indireta, pela contaminação de equipa- 44, 48, 73]. Essa condição de equilíbrio
mentos, comedouros e bebedouros. O é modificada pela intervenção humana,
congelamento de lagos nos climas frios seja com a criação de aves e outros ani-
preserva o AIV para infecção das novas mais domésticos, seja com populações
gerações [44, 57]. humanas nas proximidades dos sítios de
Há grandes diferenças entre os riscos aves reservatório natural.
de infecção em aves re-
Há grande variação
servatório natural ou em
de manifestações Sinais clínicos
aves domésticas. As aves
reservatório natural são clínicas, dependentes do Há grande variação
aquáticas, principalmente patotipo de AIV. Outras de manifestações clí-
das ordens Anseriformes variáveis importantes nicas, dependentes do
e Charadriiformes (aves incluem espécie de patotipo de AIV. Outras
de praia; maçarico e hospedeiro, fatores variáveis importantes in-
afins; gaivotas e afins; ambientais, idade, sexo, cluem espécie de hospe-
fura-buchos e afins), e presença de infecção deiro, fatores ambientais,
mantêm infecção natural concomitante e estado idade, sexo, presença de
de caráter benigno e por imune. infecção concomitante e
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
estado imune [1,3, 59, 62]. As infecções caseoso, na traqueia, nos bronquíolos
por estirpes LPAIV podem não provo- e nos parabrônquios. Nos pulmões, a
car sinais clínicos perceptíveis, embora broncopneumonia fibrinopurulenta
possa haver redução da atividade, do é comumente infectada por bactérias
consumo de alimento e da produção em como Escherichia coli e Pasteurella mul-
galinhas e perus. tocida. Resultam em sinais clínicos, in-
As infecções por estirpes HPAIV cluindo asfixia, com dispneia, estertores
causam geralmente doença hiperaguda e espirros. No sistema disgestório, há
fatal de avanço rápido, em poucas horas, de hiperemia a hemorragia e eventual
com extrema prostração antes do óbito. diarreia. Em aves ratitas (Rheiformes –
Em grande parte dos episódios, não há ema e Struthioniformes – avestruz), as
observação de sinais clínicos precurso- infecções causam comumente conjun-
res [1, 3, 58, 59, 62]. tivite, sinusite, traqueíte hemorrágica,
aerossaculite e pneumonia intersticial
Lesões com deposição de massas caseosas, por
associação de infecção bacteriana [1, 3,
Estirpes de baixa a moderada 15, 59, 62, 63].
patogenicidade
Estirpes de alta patogenicidade
O sistema respiratório pode ser atin-
gido diretamente pela inalação de aeros- Em galinhas e perus, algumas estir-
sóis. As alterações podem inicialmente pes de HPAIV podem causar mortali-
concentrar-se nas pálpe- dade hiperaguda, sem a
bras, conjuntiva ocular Em galinhas e perus, formação de lesões signi-
(blefarite, conjuntivite) algumas estirpes ficativas. Outras estirpes
e nos seios paranasais de HPAIV podem podem provocar lesões
(sinusite), por infecção causar mortalidade edematosas, hemorrági-
de aerossóis ou poeira hiperaguda, sem a cas e necróticas na pele,
contaminada. As lesões formação de lesões nos sistemas respiratório
mais comuns são carac- significativas. Outras (pneumonia intersticial
terizadas por inflamação estirpes podem provocar com edema) e digestó-
catarral fibrinosa. As le- lesões edematosas, rio e em muitas vísceras.
sões muco ou fibrinopu- hemorrágicas e As hemorragias são mais
rulentas são comumente necróticas na pele, nos destacadas na pele, no
infectadas por bactérias. sistemas respiratório epicárdio, nos múscu-
No sistema respiratório, (pneumonia intersticial los peitorais, na mucosa
observa-se acumulação com edema) e digestório do proventrículo e na
de muco, de seroso a e em muitas vísceras. moela. As lesões ede-
1. Influenza aviária 23
matosas na cabeça e no talidade mais comuns
No Brasil, até o
pescoço incluem as faces
momento, não há razão devem ser as primeiras
aumentadas. As estirpes
para se suspeitar de AI suspeitas, incluindo en-
de H5N1 derivadas de
de alta patogenicidade venenamentos, doença
Hong Kong, 1997, têm
(HPAIV) pelas estirpes de Newcastle, pasteu-
causado necrose e he- H5N1 asiáticas, uma reloses, salmoneloses,
morragia nas placas de vez que essas estirpes coccidioses, e micotoxi-
Peyer (intestino delga- não chegaram ao coses. O médico veteri-
do), similares às descri- continente americano. nário deverá elencar para
tas na peste aviária do diagnóstico as doenças
início do século XX. A comuns na região, com
maioria das estirpes causa focos de ne- base em coleta de dados em anamnese e
crose no pâncreas, no baço, no coração histórico e observação clínico-patológi-
e menos comumente no fígado e rins ca. Poderá haver suspeita fundamentada
(com uratos). Há atrofia do timo e da apenas na eventualidade de ocorrência
bolsa cloacal. Os órgãos mais gravemen- de HPAIV nos países vizinhos, com
te atingidos são o cérebro, coração, pul- histórico de doença que se dissemina
mão, pâncreas e órgãos linfoides primá- com trajetória norte-sul, da América do
rios e secundários. No sistema nervoso Norte para a América do Sul, e o serviço
central, há gliose focal, necrose e reab- de vigilância (IMA, Instituto Mineiro
sorção neuronal, com eventual edema e de Agropecuária) deverá ser chamado
hemorragia. Em avestruzes, pode haver para a coleta de material e diagnóstico
também edema na cabeça e no pescoço oficial.
e grave enterite hemorrágica, com au- São causas de alta mortalidade por
mento rígido pancreático, aerossaculite, doença edematosa e hemorrágica os en-
aumento do baço e dos rins [1, 3, 15, 59, venenamentos por produtos contendo
62, 63]. dicumarol ou seus derivados (roden-
ticidas), os quais se caracterizam por
Diagnóstico quadros agudos ou hiperagudos de he-
No Brasil, até o momento, não há morragias, tipicamente nos olhos e na
razão para se suspeitar de AI de alta pa- cavidade oral, e podem ser confirmados
togenicidade (HPAIV) pelas estirpes por exame toxicológico (laboratorial).
H5N1 asiáticas, uma vez que essas es- Hemorragias por intoxicação aguda
tirpes não chegaram ao continente ame- com micotoxinas(s) podem ser suspeita,
ricano. O diagnóstico de AIV depende ao se constatar a inadequada conservação
de confirmação laboratorial. As doenças de grãos ou ração, com teor de umidade
hiperagudas e hemorrágicas de alta mor- superior à recomendada, baixa qualidade
24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
dos insumos e/ou presença de artrópo- americano, a suspeita deverá recair so-
dos (insetos e larvas granívoras). bre a doença de Newcastle, já relatada
Doença hemorrágica pode também no país.
suscitar suspeita de intoxicação por sul- As doenças bacterianas (pasteure-
fas ou derivados, com base em históri- lose, salmonelose) de alta mortalidade
co de terapia, ou falta d’água de bebida também exigem exame laboratorial,
durante a administração preventiva ou com necropsia local e coleta de órgãos
terapêutica, com mielodisplasia, ne- resfriados (não congelados) para isola-
fromegalia, deposição uratos renais e mento e caracterização bacteriana.
tubulares, hepatotoxicidade e degenera- A coccidiose pode ser facilmente
ção epitelial. Intoxicações não letais por diagnosticada pela visualização em mi-
sulfas podem permitir infecções opor- croscopia de oocistos nas fezes e/ou na
tunistas (granulomas bacterianos), por mucosa intestinal.
depressão do sistema imune, uma vez Eliminadas as possibilidades mais
que as sulfas são tóxicas mesmo em do- comuns e com suspeita fundamentada,
ses terapêuticas corretas. o diagnóstico de HPAIV é encaminha-
Ionóforos são antibióticos transpor- do por médico veterinário credenciado
tadores de íons potássio, sódio e cálcio e/ou fiscal agropecuário do IMA ou do
através da membrana celular e podem, Mapa, com a coleta e o envio de mate-
em doses tóxicas, causar paralisias, le- riais para laboratório.
targia, inapetência e hemorragias na O diagnóstico oficial é feito no
gordura coronária. Lanagro (Laboratório Nacional de
As aves galináceas são muito sensí- Referência do Mapa), em Campinas
veis às intoxicações por inseticidas or- (SP) e as recomendações legais estão
ganofosforados, que causam paralisias, publicadas [4, 5]. Para o diagnóstico de
ataxia, incoordenação, letargia, cianose, AIV, os órgãos e materiais, sua conser-
convulsão e morte. vação e condições de envio estão descri-
A doença de Newcastle nas formas tos nos manuais publicados pelo Mapa
velogênica (com até 100% de mortali- (www.agricultura.gov.br), no PNSA. O
dade) e mesogênica (com até 50% de diagnóstico molecular por análise dos
mortalidade) assemelha-se nos aspec- produtos de PCR (após transcrição re-
tos clínico-patológicos à infecção por versa) pode ser conseguido em secre-
HPAIV. Sempre será necessário o diag- ções ou tecidos das aves suspeitas, com
nóstico laboratorial diferencial entre a utilização de oligonucleotídeos gené-
essas formas e as demais doenças respi- ricos para influenza A em triagem e, a
ratórias. Entretanto, como HPAIV asiá- seguir, reações com oligonucleotídeos
ticos não atingiram ainda o continente específicos para os principais subtipos
1. Influenza aviária 25
(H5 ou H7), com o sequenciamento Os detalhes da coleta e da remessa
da região de clivagem da glicoproteína de material estão publicados no ma-
F, para a determinação da virulência. O nual do Mapa [4, 5]. Em casos com
gene que codifica a região de clivagem suspeita, recomenda-se a necropsia
glicoproteína da fusão tem código para e a coleta de tecidos na granja, com
múltiplos aminoácidos básicos arginina o objetivo de reduzir a disseminação
e/ou lisina. do agente [4, 5]. Os tecidos para iso-
A caracterização da virulência da lamento viral e PCR devem ser conge-
estirpe pode ser determinada por ino- lados para o envio, separados por tipo
culação intravenosa de frangas SPF, de de tecido em sacos plásticos fechados.
forma semelhante à caracterização de Os tecidos para histopatologia são
AMPV-1, com a demonstração, em oito conservados em uma parte de tecido
dias de observação, de sinais respirató- para 10 partes de formol tamponado
rios, depressão, diarreia, cianose de cris- (formol a 10% em salina tamponada-
ta ou barbela, edema da face e/ou cabe- -PBS). Para estirpes de HPAIV, todos
ça, sinais nervosos e os tecidos podem
morte em pelo menos conter o vírus e po-
Os detalhes da coleta e
75% das aves inocu- dem ser enviados
remessa de material estão
ladas. As aves inocu- publicados no manual do para detecção mo-
ladas que se tornam Mapa em: lecular do RNA de
moribundas podem http://www.oie.int/ AIV, preferencial-
ser sacrificadas, e a fileadmin/Home/ mente do sistema
elas pode ser dado es- esp/Animal_Health_ nervoso central,
core 3. Índice médio in_the_World/docs/ dos sistemas respi-
acima de 1,2 e até 3 pdf/PLANO_DE_ ratório e digestório,
indica alta patogenici- CONTINGÊNCIA_VERS_ removidos nessa
dade da estirpe viral, C3O_1.3_JULHO_2009. ordem, para PCR
e índice abaixo de 1,2 PDF e para histopatolo-
indica baixa patogeni- gia. Para estirpes
cidade [1, 3, 4, 5]. de LPAIV (casos de
Tendo em vista a probabilidade de baixo impacto clínico), é importante o
aves migratórias participarem do pro- envio do sistema respiratório e de suas
cesso de chegada da infecção, acredita-se portas de entrada (pálpebras, conjun-
que, primeiramente, haveria a mortalida- tiva ocular, laringe, traqueia, pulmão).
de de aves de praia e outras da fauna. Por Após a eutanásia e a necropsia de
essa razão, a vigilância ativa faz monitora- aves observadas vivas, devem ser reco-
mento programado dessas aves. lhidos sangue (e separado o soro), sua-
26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
be cloacal e de traqueia for Animal Health –
Para a OIE e a OMS, o
e fezes frescas. Aves OIE e World Trade
médico veterinário é o
encontradas mortas Organization – WTO,
principal ator no controle
devem também ser ne-
das emergências sanitárias para os países exporta-
cropsiadas, e recolhi- dores de produtos aví-
de aspecto zoonótico.
dos o baço, o cérebro, o colas como o Brasil).
coração, as fezes, o fíga- Para a OIE e a OMS
do, o humor aquoso, o intestino, o pro- (Organização Mundial de Saúde), o
ventrículo, o pulmão e a traqueia, os sa- médico veterinário é o principal ator no
cos aéreos e o suabe da orofaringe. Esses controle das emergências sanitárias de
tecidos devem ser recolhidos em sacos aspecto zoonótico, incluindo as contri-
plásticos novos, fechados e acomodados buições para o bem-estar físico, mental
em caixa isotérmica com gelo reciclável e social dos seres humanos, pelo conhe-
(imediatamente retirado de freezer -20). cimento e consequente aplicação da ci-
As amostras devem ser divididas em du- ência veterinária.
plicatas no laboratório [4, 5]. No país, nenhuma outra estratégia
é permitida, exceto a erradicação para
Prevenção e controle AIV de plantéis industriais. Em outros
No Brasil, a vigilância de HPAIV e países, como China, México e Rússia,
de outras viroses exóticas tem sido exe- adotou-se a vacinação de galinhas para
cutada, em ação conjunta, pelo Mapa, a proteção de plantéis avícolas. A vaci-
Ibama e Ministério da Saúde, em aves nação pode ser satisfatória na prevenção
migratórias. Nos plantéis avícolas indus- da doença, mas apenas contra estirpe
triais, o PNSA determina a monitoração homóloga, reduzindo a produção de ví-
e os procedimentos para a atuação na rus em aves desafiadas. Entretanto, pode
erradicação de foco, tanto em infecções significar a manutenção de população
subclínicas quanto em infecções suaves avícola com resistência à expressão de
por LPAIV ou em doença por HPAIV [4, doença clínica e portadora de vírus de
5]. A preparação da infraestrutura para a risco à saúde pública (humana).
contingência (algo que pode acontecer A legislação sanitária determina que
ou que não se sabe se poderá acontecer a mortalidade acima de 10% na granja
ou não) de influenza é e acima de 1% no trans-
condição essencial para A legislação sanitária porte exige a notificação
o enfrentamento do brasileira proíbe a e o diagnóstico labo-
AIV e exigida pelos or- utilização de vacina ratorial da(s) causa(s).
ganismos internacionais contra a influenza As normas determinam
(World Organization aviária em aves. também ênfase em bios-
1. Influenza aviária 27
seguridade, controle de trânsito e proi- influenza aviária e doença de Newcastle.
2009. Disponível em: http://www.oie.int/
bição do comércio de aves vivas [4, 5]. f i l ead m i n / Ho m e / e s p / A n i ma l _ Hea l t h _
in_the_World/doc s/pd f/PL A NO_DE_
Vacinação CONTINGÊNCIA_VER S_C3O_1.3_
JULHO_2009.PDF
A legislação sanitária brasileira
5. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária
proíbe a utilização de vacina contra e Abastecimento. Manual de Legislação.
a influenza aviária em aves [4, 5]. No Programas Nacionais de Saúde Animal
do Brasil. 2009. 441 pp. Disponível em:
entanto, para a contenção de foco, está http://w w w.agr icultura.gov.br/arq_edi-
previsto o uso de vacina na zona de tor/file/Aniamal/Manual%20de%20
Legisla%C3%A7%C3%A3o%20-%20
proteção e vigilância (raio de 10km do Sa%C3%BAde%20Animal%20-%20low.pdf
foco), caso seja necessário e mediante
6. Capua I, Marangon, S. The avian influenza
análise técnica do DSA/Mapa. O servi- epidemic in Italy, 1999-2000: A review. Avian
ço veterinário oficial leva em conside- Pathology 2000; 29:289-294.
ração [4, 5]:
7. Capua I, Mutinelli F, Pozza, D, Donatelli M,
• concentração de aves na área afetada; Puzelli IS, Cancellotti MF. The 1999–2000
• característica e composição da vacina avian influenza (H7N1) epidemic in Italy: vet-
erinary and human health implications. Acta
a ser utilizada; Tropica 2002; 83(1):7-11.
• registro, aquisição e procedimentos
8. Cauthern AN, Swayne, DE, Schultz-Cherry, S,
para estoque, distribuição e controle Perdue, ML, Suarez, DL. Continued circula-
do uso da vacina; tion in China of highly pathogenic avian influ-
• espécies e categorias de aves que serão enza viruses encoding the hemagglutinin gene
associated with the 1997 H5N1 outbreak in
submetidas à vacinação. poultry and humans. Journal of Virology 2000;
74(14): 6592-6599.
Referências 9. CDC - Centers for disease control and preven-
1. Alexander DJ, Brown IH. History of highly tion. 2009 H1N1 Flu: situation update [cited
pathogenic avian influenza. Revue Scientifique 2010b Jun 03]. Available from: http://www.
et Technique: International Office of cdc.gov/h1n1flu/update.htm.
Epizootics 2009;28(1): 19-38.
10. CEMAVE. Centro Nacional de Pesquisa
2. Anvisa. Simulado de influenza aviária envol- para Conservação das Aves Silvestres. LISTA
ve três estados [cited 2012 abr 06]. Notícias DAS ESPÉCIES DE AVES MIGRATÓRIAS
Anvisa, 27 jun 2007. Available from: http:// OCORRENTES NO BRASIL. ICMBio -
www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2007/ Instituto Chico Mendes de Conservação da
270607_1.htm#. Biodiversidade. http://www.icmbio.gov.br/
portal/quem-somos/o-instituto.html
3. Avian Influenza. Chapter 2. 3. 4. OIE (2008).
Manual of Diagnostic Tests and Vaccines for 11. Chen R, Holmes EC. Frequent inter-species
Terrestrial Animals. Disponível em: http:// transmission and geographic subdivision
www.oie.int/international-standard-setting/ in avian influenza viruses from wild birds.
terrestrial-manual/access-online/ Virology 2009; 383(1):156-161.

4. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e 12. Chen W, He B Li C, Zhang X, Wu W, Yin X.


Abastecimento. Plano de contingência para Real-time RT-PCR for H5N1 avian influ-

28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


enza A virus Detection. Journal of Medical use of Vaccination against Avian Influenza,
Microbiology 2007; 56, 603-607. Scientific Committee on Animal Health
and Animal Welfare, Adopted 27 June
13. Chen Y, Xu F, Gui X, Yang K, Wu X, Zheng Q. 2000 [cited 2010 Jun 4]. Available from:
A rapid test for the detection of influenza A h tt p : / / e c .e u ro p a .e u / f o o d / f s / s c / s c a h /
virus including pandemic influenza A/H1N1 out45-final_en.pdf.
2009. Journal of Virological Methods 2010;
167(1):100-102. 22. FAO - Food and Agriculture Organization.
Avian influenza vaccine producers and suppli-
14. Coiras MT, Pérez-Breña P, García ML, Casas I. ers for poultry; 2009 [cited 2012a April 06].
Simultaneous detection of influenza A, B, and Available from: ftp://ftp.fao.org/docrep/
C viruses, respiratory syncytial virus, and ad- fao/011/ai326e/ai326e00.pdf.
enoviruses in clinical samples by multiplex re-
verse transcription nested-PCR assay. Journal 23. FAO - Recommendations on the Prevention,
of Medicine Virology 2003; 69(1):132-44. Control and Eradication of Highly Pathogenic
Avian Influenza (HPAI) in Asia, September
15. Condit RC. Principles of virology. In: Knipe 2004 [cited 2012b April 06]. Available
DM, Howley PM. Fields virology. 5th ed. from: http://www.fao.org/docs/eims/
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; upload/165186/FAOrecommen dation-
2007. sonHPAI.pdf.

16. Dawood FS, Jain S, Finelli L, Shaw MW, 24. FAO -Food and Agriculture Organization.
Lindstrom S, Garten RJ, Gubareva LV, Xu X, Preparing for highly pathogenic avian influen-
Bridges, CB, Uyeki TM. Emergence of a novel za, 2007 [cited 2012c april 06]. Available from:
swine-origin influenza A (H1N1) virus in hu- ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/012/i0808e/
mans. New England Journal of Medicine 2009; i0808e.pdf.
360:2605-2615.
25. Fauquet C, Mayo MA, Maniloff J, Desselberger
17. De Jong JC, Rimmelzwaan GF, Fouchier RA, U, Ball LA, editors. Virus taxonomy: VIIIth
Osterhaus AD. Influenza virus: a master of Report of the International Committee on
metamorphosis. Journal of Infection 2000; Taxonomy of Viruses. London: Elsevier
40:218-228. Academic Press; 2004.FDA - US Food and Drug
Administration. Medical devices and flu emer-
18. Domingo, E. Virus Evolution. In: Knipe DM, gencies 2010 [cited 2012 April 06]. Available
Howley PM, Chapter 12. editors. Fields virol- from: http://www.fda.gov/MedicalDevices/
ogy. 5th ed. Philadelphia: Lippincott Williams Safety/EmergencySituations/ucm161496.
& Wilkins; 2007. htm.

19. Eigen M, McCaskill J, Schuster P. Molecular 26. Fouchier RAM, Bestebroer TM, Herfst S, van
quasi-species. Journal of Physical Chemistry der Kemp L, Rimmelzwaan GF, Osterhaus
1998; 92(24):6881-6891. ADME. Detection of Influenza A viruses
from different species by PCR amplification
20. EPA. U.S. Environmental Protection Agency. of conserved sequences in the matrix gene.
Registered antimicrobial products with label Journal of Clinical Microbiology 2000; 38 (1):
claims for avian (bird) flu disinfectants. 2007 4096-4101.
[cited 2012 Mar 13]. Available from: http://
www.epa.gov/pesticides/factsheets/avian_ 27. Gaidet, N., Dodman, T., Caron, A., Balança, G.,
flu_products.htm. Desvaux, S., Goutard, F., et al., Avian Influenza
Viruses in Water Birds, Africa. Emerging
21. European Commission, Health & Consumer Infectious Diseases 2007, 13(4), 626–629.
Protection Directorate-General, Directorate doi:10.3201/eid1304.061011.
C - Scientific Health Opinions, Unit C3 -
Management of scientific committees II, 28. Golono MA. Epidemiologia e caracterização
The Definition of Avian Influenza, The molecular de virus da influenza em aves resi-

1. Influenza aviária 29
dentes e migratórias no Brasil [tese]. São Paulo 37. Lee CW, Senne DA, Suarez DL. Effect of
(SP): Universidade de São Paulo; 2009. 102 p. vaccine use in the evolution of Mexican lin-
eage H5N2 avian influenza virus. Journal of
29. Hoelscher MA, Garg S, Bangari DS, Belser Virology 2004; 78(15):8372-81.
JA, Lu X, Stephenson I, et al. Development
of adenoviral-vector-based pandemic influ- 38. Lénès D, Deboosere N, Menard-Szczebara F,
enza vaccine against antigenically distinct hu- Jossent J, Alexandre V, Machinal C, Vialette M.
man H5N1 strains in mice. The Lancet 2006; Assessment of the removal and inactivation of
367(9509):475-481. influenza viruses H5N1 and H1N1 by drink-
ing water treatment. Water Research 2010;
30. Jackson S, Van Hoeven N, Chen LM, Maines 44:2473-2486.
TR, Cox NJ, Katz JM, Donis RO. Reassortment
between avian H5N1 and human H3N2 influ- 39. Marakova NV, Kaverin NV, Krauss S, Senne D,
enza viruses in ferrets: A public health risk as- Webster R.G. Transmission of Eurasian avian
sessment. Journal of Virology 2009; 83(16): H2 influenza virus to shore birds in North
8131-8140. America. Journal of General Virology 1999;
80: 3167-3171.
31. Jia N, Wangb S-X, Liud Y-X, Zhanga P-H, Zuoa
S-Q, Zhana L, et al. Increased sensitivity for 40. Marjuki H, Wernery U, Yen HL, Franks J, Seiler
detecting avian influenza-specific antibodies P, Walker D, et al. Isolation of highly pathogenic
by a modified hemagglutination inhibition avian influenza H5N1 virus from Saker falcons
assay using horse erythrocytes. Journal of (Falco cherrug) in the Middle East. Advances
Virological Methods 2008; 153:43-48. in Virology 2009; doi:10.1155/2009/294520.
32. Kendal AP, Goldfield M, Noble GR, Dowdle
WR. Identification and preliminary antigenic 41. Martins, N.R.S. Influenza aviária: uma revisão
analysis of swine influenza-like viruses isolated dos últimos dez anos. Revista Brasileira de
during an influenza outbreak at Fort Dix, New Ciência Avícola 2001; 3:97-140.
Jersey. Journal of Infectious Diseases 1997;
136 (suppl): 381-385. 42. Martins, N.R.S. An overview on avian
influenza. Rev. Bras. Ciência Avícola,
33. Klenk HD, Rott R, Orlich M, Blodorn J. Campinas, v.14, n.2, June 2012. Available
Activation of influenza A viruses by trypsin from <http://www.scielo.br/scielo.
treatment. Virology 1975; 68:426-439. php?script=sci_arttext&pid=S1516-635X2
012000200001&lng=en&nrm=iso>. access
34. Knossow M, Gaudier M, Douglas A, Barrère on 07 Feb. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/
B., Bizebard T., Barbey C., et al. Mechanism of S1516-635X2012000200001.
neutralization of influenza virus infectivity by
antibodies. Virology 2002; 302(2):294-298. 43. Messias EL, Cordeiro NF, Sampaio JJ, Bartko
JJ, Kirkpatrick B. 2001. Schizophrenia and
35. Krauss S, Obert CA, Franks J, Walker D, Jones
season of birth in a tropical region: relation to
K, Seiler P, et al. Influenza in migratory birds
rainfall. Schizophrenia Research 48:227-234.
and evidence of limited intercontinental virus
exchange. PLoS Pathogens 2007 3(11):e167.
Available from: http://www.plospathogens. 44. Murphy, B.R.; Webster, R.G. 1996.
org. Orthomyxoviruses. In: Fields Virology,
Editores B.N. Fields, D.M. Knipe, P.M.
36. Lam TY, Pybus OG, Hon CC, Leung FC. Howley et al., Lippincott – Raven Publishers,
Molecular epidemiology of H5N1 Avian Philadelphia, p. 1397-1445.
Influenza Virus: Correlations between anti-
genic drift, geographical migration and expan- 45. OIE - Office International des Epizooties.
sion of viral diversity. Proceedings of the 13th World Organization for Animal Health.
International Congress on Infectious Diseases; Outbreaks of highly pathogenic avian influen-
2008; Hong Kong: Beijing International za. Available from: http://www.oie.int/filea-
Convention Center; 2008. p. 58-59. dmin/Home/eng/Animal_Health_in_the_

30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


World/docs/pdf/-graph_avian_influenza/ 54. Secretaria de Estado da Saúde. Situação epi-
graphs_HPAI_11_03_2012.pdf demiológica da influenza pandêmica (H1N1)
2009, Influenza Aviária H5N1 e vigilância sen-
46. OIE - The World Organization for Animal tinela da influenza, estado de São Paulo, Brasil.
Health. Prevention and control of animal di- São Paulo (Brasil); 2011. Informe Técnico [ci-
seases worldwide, economic analysis – preven- ted 2012 March 23]. Available from: http://
tion versus outbreak costs. Asford: Agra CEAS www.cve.saude.sp.gov.br/htm/- resp/pdf/
Consulting; 2007. p. 238. IF11_INFLU300811.pdf.

47. OIE - Wahid Interface - Animal Health 55. Soebiyanto RP, Clara W, Jara J, Castillo L,
Information. 2015 http://www.oie. Sorto OR, et al. The Role of Temperature and
int/wahis_2/public/wahid.php/ Humidity on Seasonal Influenza in Tropical
Diseaseinformation/WI# Areas: Guatemala, El Salvador and Panama,
2008–2013. PLoS ONE 2014 9(6): e100659.
doi:10.1371/journal.pone.0100659.
48. Palese P, Shaw ML. Orthomyxoviridae: the
viruses and their replication. In: Knipe DM, 56. Spackman E, Senne DA, Myers TJ, Bulaga LL,
Howley PM, editors. Fields virology. 5th ed. Garber LP, Perdue ML, Lohman K, Daum LT,
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; Suarez DL. Development of a real-time reverse
2007. transcriptase PCR assay for type A influenza
virus and the avian H5 and H7 hemagglutinin
49. Permin A, Detmer A. Improvement of mana- subtypes. Journal of Clinical Microbiology
gement and biosecurity practices in smallhol- 2002; 40: 3256-3260, 2002.
der poultry producers 2007. FAO: Husbandry
Management Practices and Biosecurity [ci- 57. Stallknecht DE, Shane SM, Kearney MT,
ted 2009 April 21]. Available from: http:// Zwank PJ. Persistence of avian influenza viruses
www.fao.org/docs/eims/upload/228410/ in water. Avian Diseases 1990; 34(2):406-411.
biosecurity_en.pdf.
58. Starick E, Römer-Oberdörfer A, Werner O.
50. Pisareva M, Bechtereva T, Plyusnin A, Type- and subtype-specific RT-PCR assays
Dobretsova A, Kisselev O. PCR-amplification for avian influenza A viruses (AIV). Journal of
Veterinary Medicine 2000 b; 47: 295-301.
of influenza A virus specific sequences.
Archives of Virology 1992; 125: 313-318. 59. Suarez, D.L. Evolution of avian influenza vi-
ruses. Veterinary Microbiology, v. 74, no. 1-2,
51. Riner A, Chan-Tack KM, Murray JS. p.15-27, 2000.
Intravenous Ribavirin - Review of the FDA’s
Emergency Investigational New Drug 60. Subbarao K, Klimov A, Katz J, Regnery H, Lim
Database (1997-2008) and Literature Review. W, Hall H, et al. Characterization of an avian
Postgraduate Medicine 2009; 121: 139-146. influenza A (H5N1) virus isolated from a child
with a fatal respiratory illness. Science 1998;
52. Römer-Oberdörfer A, Veits J, Helferich 279 (5349): 393-396.
D, Mettenleiter TC. Level of protection of
chickens against highly pathogenic H5 avian 61. Swayne DE, Beck JR, Kinney N. Failure of a
influenza virus with Newcastle disease vi- recombinant fowlpox vaccine containing an
rus based live attenuated vector vaccine de- avian influenza hemagglutinin gene to pro-
pends on homology of H5 sequence between vide consistent protection against influenza in
vaccine and challenge virus. Vaccine 2008; chickens preimmunized with a fowl pox vac-
cine. Avian Diseases 2000a; 44:132-137.
26(19):2307-2313.
62. Swayne DE, Halvorson DA. Influenza. In:
53. Rutala WA, Weber DJ. The healthcare in- Saif et al, editor. Diseases of poultry. Ames:
fection control practices advisory com- Blackwell Publishing; 2008. p. 153-184.
mittee (HICPAC). Clifton: Guideline for
Disinfection and Sterilization in Healthcare 63. Swayne DE, Pantin-Jackwood M.
Facilities; 2008. Pathogenicity of avian influenza viruses in

1. Influenza aviária 31
poultry. Developmental Biology (Basel) 2006; [cited 2010 Fev 10]. Available from: http://
124:61-67. www.who.int/csr/disease/avian_influenza/
guidelinestopics/en/index.html.
64. Swayne DE. Understanding the complex
pathobiology of high pathogenicity avian in- 70. WHO. World Health Organization. Avian in-
fluenza viruses in birds. Avian Diseases 2007; fluenza: responding to the pandemic threat
51 (1 Suppl): 242-9. [cited 2010 Dec 10]. Available from: http://
www.searo.who.int.
65. UBABEF. União Brasileira de Avicultura.
Relatório anual 2014. São Paulo, 2014. 71. WHO. World Health Organization. Cumulative
Disponível em: < http://www.ubabef.com.br/ number of confirmed human cases of avian in-
files/publicacoes/8ca705e70f0cb110ae3aed6 fluenza A(H5N1) reported to WHO. Available
7d29c8842.pdf>. Acesso em 8 fev. 2015. from: http://www.who.int/influenza/hu-
man_animal_interface/EN_GIP_2015010
66. USC - University of South Carolina. 6CumulativeNumberH5N1cases_corrected.
Environmental health & safety.pandemic in- pdf ?ua=1.
fluenza cleaning & disinfection [cited 2011
April 10]. Available from: http://ehs.sc.edu/ 72. WHO. World Health Organization. Influenza
hazwaste/environmental.htm. at the human-animal interface (HAI) [cited
2010 fev 27]. Available from: http://www.
67. USGS. An Early detection system for highly who.int/csr/disease/en.
pathogenic H5N1 avian influenza in wild mi-
gratory birds U.S. interagency strategic plan 73. Wright PF, Neumann G, Kawaoka Y.
[cited 2006 Mar 3]. Available from: http:// Orthomyxoviruses. In: Knipe DM, Howley
alaska.usgs.gov/science/-biology/avian_in- PM, editors. Fields virology. 5th ed.
fluenza/pdfs/Final_Wild_Bird_Stategic_ Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins;
Plan_3-17a.pdf. 2007. chapter 48.

68. Veits J, Wiesner D, Fuchs W, Hoffmann B, 74. Writing Committee of the Second World
Granzow H, Starick E, et al. Newcastle dis- Health Organization Consultation on Clinical
ease virus expressing H5 hemagglutinin gene Aspects of human infection with avian in-
protects chickens against Newcastle dis- fluenza A (H5N1) Virus. In: Abdel-Ghafar
ease and avian influenza. Proceedings of the AN, Chotpitayasunondh T, ZGao Z, Hayden
National Academy of Sciences USA 2006; FG, Nguyen DH, de Jong MD, et al. Update
103(21):8197-8202, 2006. on avian Influenza A (H5N1) virus Infection
in Humans. The New England Journal of
69. WHO. Regional Office for South-East Asia. Medicine 2008; 358(3):261-273.
Why are we concerned now? 2009a.WHO.
Regional Office for South-East Asia. Influenza
pandemic of last century: some lesson; 2009b.
WHO. World Health Organization. Avian in-
fluenza: responding to the pandemic threat

32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


2. Doença de
Newcastle

bigstockphoto.com

Nelson Rodrigo da Silva Martins1 - CRMV-MG 4809


Roselene Ecco2 - CRMV MG 8324
1.
Professor Associado, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, EV, UFMG.
2.
Professor Associado, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, EV, UFMG.

Introdução comendações da Organização Mundial


de Saúde Animal, para que o país esteja
A doença de Newcastle (DN) tem
em conformidade para exportação [25].
controle oficial pelo Ministério da
A DN é possivelmente a mais de-
Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Brasil 2099 a, b), no Programa Nacional vastadora entre as doenças da criação
de Sanidade Avícola (PNSA). Nos esta- industrial de aves [31]. A ocorrência de
dos, sob a coordenação do MAPA, os um surto de DN acarreta elevadas per-
Institutos Estaduais de Agropecuária das econômicas ao país atingido. Em
(em Minas Gerais, o IMA) são os atores razão deste impacto, e tendo em vista
do PNSA. A DN é exótica na avicultu- que a conformidade para o comércio
ra industrial brasileira e eventuais focos internacional, exigem-se aos países sig-
devem ser erradicados, conforme as re- natários, a erradicação e a condição de
2. Doença de Newcastle 33
livre das estirpes causa- da Organização Mundial
Em galinhas susceptíveis
doras de doença [25]. A de Saúde Animal (OIE -
o surto de doença de
DN é considerada a do- Office Internacional des
Newcastle pode ser
ença de maior impacto Epizooties) [25], que
extremamente grave,
econômico entre todas reúne as doenças, cujas
100% das aves afetadas
as doenças de animais, podem morrer desde consequências socioe-
pelas despesas com er- as primeiras horas de conômicas podem ser
radicação, custos com infecção e em até 72 graves e de grande im-
enfrentamento de surtos horas sem apresentar portância econômica no
e perdas de mercados sinais clínicos evidentes. comércio internacional
durante a interdição [1]. de aves e seus produtos.
As suspeitas devem ser
Etiologia encaminhadas para diagnóstico labo-
A DN é causada por um vírus da ratorial e são de notificação compul-
família Paramyxoviridae, subfamília sória (obrigatória) em todos os países
Paramyxovirinae [Brown et al., 1999] signatários e integrados à Organização
e gênero Avulavirus [16], classificado Mundial do Comercio [25].
como paramixovirus aviário 1 (APMV- A DN é uma zoonose da classe 2,
1, Avian Paramyxovirus 1 - paramixo- com infecção humana por quaisquer
virus aviário 1). APMV-1 é a única estirpes, incluindo estirpes vacinais.
etiologia da doença de Newcastle. Há Entretanto, a infecção geralmente não
no total nove sorotipos descritos de é grave, embora possa requerer contro-
Paramyxovirus aviários, designados le de infecção bacteriana oportunista.
APMV-1 a APMV-9. Ocasionalmente, Entretanto, não há relato da transmis-
patologias em aves domésticas foram são entre seres humanos. A doença em
também descritas com estirpes de ví- humanos ocorre geralmente em funcio-
rus dos sorotipos APMV-2, APMV- nários de frigoríficos de aves, laborato-
3, APMV-6, e APMV-7. Entretanto, ristas e vacinadores que aplicam a vaci-
APMV-1 o de maior importância e na com o vírus vivo e sem máscara de
ocorrência [11]. Em galinhas suscep- proteção. O período de incubação em
tíveis o surto de doença de Newcastle humanos é de 24 horas e o quadro clíni-
pode ser extremamente grave, 100% das co consiste em conjuntivite com hipere-
aves afetadas podem morrer desde as mia, lacrimejamento, edema das pálpe-
primeiras horas de infecção e em até 72 bras e hemorragia. Apesar de a infecção
horas sem apresentar sinais clínicos evi- da conjuntiva poder resultar em efeitos
dentes. A DN integra a lista de doenças graves, em geral a infecção é transiente e
infecciosas de notificação obrigatória a córnea não é afetada [1]. Entretanto,
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
há relato de um caso de viscerotrópicas (hemor-
Por muitos anos
infecção pulmonar grave ragias gastrointestinais e
pensou-se haver
e fatal com APMV-1 em diarreia) ou em neuro-
aves na condição
paciente imunodeprimi- trópicas (lesões no siste-
de reservatórios
do [12]. assintomáticos de ma nervoso central e si-
A evolução das estir- estirpes patogênicas, nais nervosos). Estirpes
pes de APMV-1 ocorre mas isto não mesogênicas causam
a partir de mutações na se confirmou lesões respiratórias mo-
região de clivagem da cientificamente. deradas, raramente neu-
glicoproteína de fusão rológicas e resultam em
(F). Estirpes patogênicas baixa mortalidade e até
emergem de não-patogênicas por muta- mediana mortalidade. As estirpes len-
ção no código genético para presença de togênicas, apesar de pouco virulentas e
aminoácidos básicos no sítio de cliva- usadas como vacinas, podem determi-
gem de F (resíduos 111-116 e fenilalani- nar infecções secundárias e diminuição
na em 117). Por muitos anos pensou-se da produção de carne e ovos [1, 8].
haver aves na condição de reservatórios A caracterização de APMV-1 pode
assintomáticos de estirpes patogênicas, ser obtida por inoculação experimental
mas isto não se confirmou cientifica- em aves SPF: Embriões, pintinhos e ou
mente. As evidências científicas da mu- franguinhas. As estirpes causadoras de
tação em F para maior patogenicidade doença apresentam virulência superior
foram demonstradas em episódios de a 0,7 para o índice de patogenicidade in-
doença de Newcastle na Austrália [20, tracerebral (IPIC) em pintinhos SPF de
40]. 1 dia de idade [1, 6, 7, 25].
Os isolados de APMV-1 podem ser As estirpes patogênicas têm múl-
classificados como velogênicos, meso- tiplos aminoácidos básicos no sítio de
gênicos e lentogênicos, clivagem da glicopro-
de acordo com a virulên- As estirpes patogênicas teína da fusão, com os
cia para embriões, pinti- têm múltiplos aminoácidos Arginina
nhos ou franguinhas [1]. aminoácidos básicos ou Lisina nas posições
As estirpes velogênicas no sítio de clivagem da 113-116 e Fenilalanina
são altamente patogêni- glicoproteína da fusão, na posição 117 (fórmu-
cas e podem resultar em com os aminoácidos la 113RXR/KR*F117
100% de mortalidade em Arginina ou Lisina nas – 113Arginina,
aves de qualquer idade, posições 113-116 e 114Glutamina/qual-
com a caracterização, Fenilalanina na posição quer, 115Arginina/
quanto ao tropismo, em 117. Lisina, 116Arginina e
2. Doença de Newcastle 35
117Fenilalanina) [1, 25]. sido usadas como vaci-
APMV-1 tem um
Esta composição é ne- nas vivas e inativadas no
amplo espectro de
cessária para a ativação
hospedeiros, ocorrendo Brasil e em todo o mun-
enzimática, que ocorre do. A infecção não re-
em pelo menos 247
intracelular por furina sulta em doença, exceto
espécies de aves, em
do complexo de Golgi. 27 das 50 ordens em condições de baixa
A proteína F0 recém for- de aves conhecidas, higiene e/ou baixa reno-
mada, é ativada em F1 e incluindo todas as vação/baixa qualidade
F2 pela furina, e permite espécies domésticas do ar [1,25].
infectividade aos novos e muitas silvestres
vírions que emergem e semi-silvestres ou Epidemiologia
da célula, procederem criadas em cativeiro, A transmissão da
a fusão e penetração. infectadas natural ou DN é horizontal, direta
Mecanismo semelhante experimentalmente. de ave doente ou por-
ocorre com as estirpes tadora para ave suscep-
patogênicas do vírus de tível, com a inalação de
influenza aviária (HPAIV). As estirpes aerossóis respiratórios ou das fezes, ou
não patogênicas (lentogênicas) não indireta por utensílios, alimento ou pes-
possuem esta composição e por isto não soal contaminado. Humanos sem prote-
são ativadas no complexo de Golgi, não ção prévia são susceptíveis à conjuntivi-
emergindo infectantes da célula. te por NDV e transmitem vírus. As aves
As diferenças em patogenicidade da ordem Anseriformes (pato, ganso)
residem principalmente na clivagem ou infectam-se, mas são mais resitentes à
não da glicoproteína da fusão, ativação manifestação de doença, sendo por isto
que permite a fusão do vírus à célula. importante fator de risco para aves ga-
APMV-1 é envelopado e depende da lináceas. As aves da ordem Galliformes
integridade do envelope para promover (galinha, peru, faisão, pavão) estão entre
a adsorção e penetração na célula alvo. as mais sensíveis [1, 25].
A infecciosidade é destruida por deter- APMV-1 tem um amplo espectro
gentes e desinfetantes (formol, cresol, de hospedeiros, ocorrendo em pelo me-
hipoclorito de sódio, iodo, quaternário nos 247 espécies de aves, em 27 das 50
de amônia, etc.), comumente emprega- ordens de aves conhecidas, incluindo
dos na avicultura, embora haja reduzida todas as espécies domésticas e muitas
eficiência desinfetante quando protegi- silvestres e semi-silvestres ou criadas
dos por matéria orgânica. As estirpes de em cativeiro, infectadas natural ou ex-
APMV-1 naturalmente não patogênicas perimentalmente [19]. Destaca-se a
(lentogênicas) têm IPIC < 0,7 e têm complicada epidemiologia, com muitas
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
espécies potenciais fontes de APMV-1, também relatados por inativação in-
condição que exige extremo rigor em completa de vacinas inativadas [36] e a
biosseguridade e ou imunoproteção contaminação de vacinas [18].
para as criações de galinhas, perus e ou- Durante o curso da infecção por
tras aves da indústria avícola. uma estirpe velogênica do VDN, a maio-
As aves da ordem Columbiformes ria das aves excreta grande quantidades
podem ser infectadas com estirpes de de vírus nas fezes, que se constituem no
APMV-1 próprias, designados parami- principal meio de disseminação do vírus
xovirus dos pombos (pigeon paramyxo- da doença de Newcastle de ave para ave.
virus 1, PPMV-1), mas são também O vírus da doença de Newcastle (VDN)
suscetíveis a infecção por estirpes de possui a capacidade de se difundir por
galinhas [31]. PPMV-1 também causa todo o mundo por meio de aves susce-
lesões graves em galinhas infectadas, es- tíveis, pessoas, equipamentos, ar, ração,
pecialmente atingindo o coração e encé- água contaminada, vacinas, veículos e
falo. Os pombos domésticos (Columba até por espécies não aviárias, entre as
livia) devem ser considerados como fon- quais, pequenos roedores e insetos [1].
te potencial de APMV-1 e de risco para A transmissão do vírus ocorre pelo
criações comerciais [21]. Anticorpos contato com produtos como ração ou
monoclonais para a hemaglutinina fo- utensílios (bebedouros, comedouros)
ram usados para tipificar as estirpes de contaminados, ou por aerossóis de fe-
APMV-1 de pombos, responsáveis por zes ou produzidos na respiração de aves
surtos de DN em galinhas no Reino infectadas. A infecção pode ocorrer pela
Unido em 1984 [2, 30]. inalação do vírus excretado por aves
Da mesma forma, algumas espécies com sinais respiratórios. A replicação
de aves selvagens podem ser importan- intestinal resulta em maior amplitude
tes na disseminação do vírus da doen- de contaminação, por exemplo, da água
ça de Newcastle [4]. A eliminação do e alimentos, sendo importantes fontes
vírus pode ocorrer durante um ano em de infecção [1].
papagaios verdadeiros (Amazona aesti-
va) e por cerca de 80 dias por canário
Ocorrência mundial
(Serinus canária), periquito australiano O primeiro surto da doença ocorreu
(Melopsittacus undulatus), mynah co- em 1926, em Java, na Indonésia e em
mum (Gracula religiosa) e manon-de- Newcastle, na Inglaterra. No entanto,
-cabeça-negra (Lonchura atricapilla) alguns autores reconhecem que sur-
[31]. Equipes de vacinação que transi- tos anteriores podem ter ocorrido na
tam entre granjas foram implicadas em Europa Central, Coréia e ilhas no oeste
surtos de DN [Utterbach]. Surtos foram da Escócia [1].
2. Doença de Newcastle 37
Mesmo com as medidas de biosse- 2008), Belize no Caribe (novembro de
guridade e vigilância sanitária, ainda há 2008), Bulgária (dezembro de 2008),
surtos que ocorrem em todo o mundo, Suécia (dezembro de 2008), Japão (de-
por exemplo, no México (fevereiro de zembro de 2008) e Belize no Caribe
2006), Azerbaijão (fevereiro de 2006), (dezembro de 2008) [25]. As ocorrên-
Ucrânia (fevereiro de 2006), Japão cias mundiais no segundo semestre de
(maio de 2006), França (novembro 2014 estão destacadas no mapa de dis-
de 2006), Brasil (novembro de 2006), tribuição publicado pela OIE [25] (Fig.
Suíça (novembro de 2006), Latvia 1).
(novembro de 2006), Reino Unido
(novembro de 2006), Itália (dezem-
Ocorrência no Brasil
bro de 2006), Sérvia e Montenegro No Brasil, a DN teve o primeiro re-
(dezembro de 2006), Turquia (dezem- lato de surto em Belém (PA) e Macapá
bro de 2006), Bulgária (dezembro de (AP), em 1953 [33], com a suspeita de
2006), Romênia (dezembro de 2006), importação de carcaças congeladas de
Bangladesh (junho de 2007), Congo aves de corte procedentes dos Estados
(janeiro e junho de 2007), Grécia (ju- Unidos da América, para um dos hotéis
nho e dezembro de 2007), Guinea (ju- da capital paraense [38] e isolamento da
lho e dezembro de 2007), Malásia (ju- estirpe M33 [9]. A partir desta data, a
lho de 2007), Filipinas (dezembro de doença foi observada em todo o territó-
2007), África do Sul (julho e dezem- rio nacional, ocasionando graves perdas
bro de 2007), México (julho e dezem- econômicas à avicultura [15]. Nos anos
bro de 2007), Bulgária seguintes foram assina-
(fevereiro e março de No Brasil, a DN teve lados vários surtos em
2008), Romênia (feve- o primeiro relato de aves reprodutoras, co-
reiro e março e abril de surto em Belém (PA) merciais, criadas em ga-
2008), Alemanha (abril e Macapá (AP), em linheiros domésticos e/
de 2008), Suécia (abril 1953 [33], com a ou em aves caipiras [3,
de 2008), Chile (maio de suspeita de importação 9, 27, 34]. Os episódios
2008), Finlândia (junho de carcaças congeladas resultaram em elevados
de 2008), Eslováquia (ju- de aves de corte prejuízos à avicultura
lho de 2008), Itália (julho procedentes dos Estados nacional, incluindo o
de 2008), Finlândia (ju- Unidos da América, comprometimento do
lho de 2008), Peru (se- para um dos hotéis da comércio internacional
tembro de 2008), Peru capital paraense [38] de produtos de origem
(setembro de 2008), e isolamento da estirpe avícola.
Suécia (novembro de M33 [9]. No Brasil, desde
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
1994 está em vigor, instituído pelo Janeiro e Goiás, em 2000 e 2001, res-
MAPA (Ministério da Agricultura, pectivamente, e em 2006 no Rio Grande
Pecuária e Abastecimento) o Programa do Sul, Amazonas, Mato Grosso [26] e
Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), novo surto no Amazonas em 2008 [29].
que estabelece normas de biossegu- Em 7 de abril de 2006, o MAPA,
ridade, vacinação e sacrifício de aves pela Instrução Normativa nº 17, resolve
com confirmação laboratorial de estir- aprovar (com fundamento na Portaria
pes patogênicas de APMV-1, em todas Ministerial nº 193, de 19 de setembro
as regiões avícolas [6, 7]. Desde 1997, de 1994, e o que consta do Processo
não foram relatados surtos em criatórios no 21000.001074/2006-37), no âmbi-
comerciais. Em 1997, foram descober- to do Programa Nacional de Sanidade
tas estirpes virulentas de APMV-1 em Avícola, o Plano Nacional de Prevenção
avestruzes importados (São Paulo), no da Influenza Aviária e de Controle e
Paraná em pássaros exóticos também Prevenção da Doença de Newcastle [6,
importados. Os surtos mais recentes 7]. Contudo, a rota de aves migratórias
ocorreram em galinhas e patos de fundo no Estado do Maranhão, foi incluída na
de quintal foram notificados no Rio de vigilância do PNSA, com a Instrução

Nunca relatada
Não relatada no período Doença em curso
Doença clínica Nenhuma informação

Fig. 1. Ocorrências de doença de Newcastle no segundo semestre de 2014. Com exceção da Romênia
(Europa), os demais países em vermelho concentram-se no continente africano e asiático. World
Animal Health Information Database (WAHID) – Version 1. Copyright © World Organisation for Animal
Health (OIE), [25], Acesso em 08/03/2015.

2. Doença de Newcastle 39
Normativa nº 17 (IN), somente em do teste de inibição da hemaglutinação
2008 [32]. e, detectaram títulos de anticorpos que
O PNSA, com prioridade para o en- variaram entre 2 e 64 em 10,68% das
frentamento da influenza e doença de aves, com sorologia positiva e isolamen-
Newcastle, é estruturado por uma rede to viral obtidos de pardais provenientes
de laboratórios oficiais e credenciados de granjas de postura.
que promovem a vigilância nos principais
polos de produção. A vigilância baseia-se Sinais clínicos e lesões
na notificação obrigatória, diagnóstico A DN por estirpes mesogênicas ou
laboratorial, assistência aos focos, me- velogênicas pode atingir diversos siste-
didas de biosseguridade, desinfecção e mas, principalmente os sistemas respira-
sacrifício sanitário, entre outras. Por se tório, gastrointestinal e nervoso central
tratar de vírus que pode infectar todas as e, varia em severidade, com a estirpe de
espécies aviárias, incluindo aves silvestres vírus, o perfil imune e quanto à espécie
de vida livre ou cativeiro e de criações ca- de ave. As estirpes velogênicas causam
seiras, a avaliação amostral deve incluir alta mortalidade, de até 100%, especial-
também estas aves, especialmente duran- mente em aves susceptíveis (não imu-
te o combate ao foco. Em nes), por não terem sido
relação às aves de fundo As estirpes velogênicas vacinadas ou sem con-
de quintal, embora de- causam alta tato prévio com o NDV.
vam ser considerados os mortalidade, de até Clinicamente, com estir-
aspectos socioeconômi- 100%, especialmente pes mesogênicas, a DN
cos envolvidos, o sacri- em aves susceptíveis caracteriza-se por sinais
fício sanitário não está (não imunes), por não respiratórios, incluindo
acompanhado de uma terem sido vacinadas ou conjuntivite (de lacri-
política de indenização. sem contato prévio com mejamento até hemor-
Desta forma, o pequeno o NDV. ragia), corrimento nasal,
criador pode restringir o diarréia, hemorragias
acesso de sua propriedade aos grupos de (úlceras) intestinais e si-
pesquisa [28]. nais nervosos centrais (incoordenação
Para reforçar a importância de aves motora, opistótono, torcicolo). Estirpes
silvestres na epidemiologia da doença velogênicas causam quadros muito mais
de Newcastle [35] analisaram o soro graves, com alta mortalidade súbita (su-
sangüíneo de 103 pardais (Passer do- peragudos), muitas vezes sem sinais. Os
mesticus) capturados em granjas de cor- sinais clínicos e lesões não são patogno-
te (24/103) e postura (79/103) locali- mônicos e podem ser confundidos com
zadas no estado de Pernambuco, através outra doenças, razão para que o diag-
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
nóstico definitivo dependa de exame assim como na traqueia (Fig. 4), moela
laboratorial [1, 6, 7, 25, 39]. e proventriculo (Fig. 5).
As lesões no sistema nervoso central
podem resultar em falta de coordenação Diagnóstico
motora e torcicolo (Fig. 2). Entretanto, A DN é de notificação obrigatória
são várias as causas de incoordenação, por lei. Entretanto, para a notificação
de deficiências nutricionais, outras do- de surto assume-se responsabilidade
enças infecciosas (encefalomielite aviá- legal, pelas consequências econômicas
ria, colibacilose) e intoxicações. A infec- e sociais e, assim, sendo imputáveis, ne-
ção inicial é comumente na conjuntiva gligência e demora ou a informação ir-
ocular, onde ocorre hemorragia (Fig. 3), responsável. A suspeita será fundamen-
tada por Médico Veterinário habilitado,
se atender ao quadro clínico-patológico

Fig. 4. Traqueia de ave experimentalmente infec-


tada por estirpe velogênica. Notar a congestão
Fig. 2. Galinha com torcicolo. Estirpes velogêni-
difusa e focos de hemorragia traqueal. (Fonte:
cas neurotrópicas podem causar sinal semelhan-
Cornell University, acesso em 08/03/2015)
te. Entretanto, neste caso, a causa foi lesão ves-
tibular e facilmente diferenciável por não haver
distribuição no plantel e mortalidade.

Fig. 5. Proventriculo e moela de ave experi-


Fig. 3. Frango com conjuntivite. Infecção expe- mentalmente infectada com estirpe velogênica.
rimental com estirpe velogênica. Notar a abor- Proventriculite com hemorragia multifocal na
dagem de análise da conjuntiva ocular (Fonte: mucosa (Fonte: Cornell University, acesso em
Cornell University, acesso em 08/03/2015). 08/03/2015).

2. Doença de Newcastle 41
descrito e em plantel mesmo por estirpes lo-
Para a confirmação
não vacinado. Em ter- cais no país. Entretanto,
laboratorial, é
mos gerais, reduz-se a cresce a preocupação,
necessário convocar
probabilidade de DN com o diagnóstico de
o serviço oficial de
em plantéis adequada- vigilância no Estado estirpes recombinantes
mente vacinados e com (IMA), que fará a H5N1, H5N2 e H5N8
títulos de anticorpos colheita de material e o em aves aquáticas na
superiores a 32. Para a envio ao laboratório de América do Norte (vide
confirmação laborato- referência (LANAGRO, influenza aviária, Fig.
rial, é necessário con- Campinas, SP). 6). A vigilância de DN
vocar o serviço oficial ocorre em paralelo com
de vigilância no Estado a vigilância de influenza
(IMA), que fará a colheita de material aviária. Os estudos de monitoração de
e o envio ao laboratório de referência aves migratórias não têm encontrado
(LANAGRO, Campinas, SP). estirpes de preocupação, mas apenas de
No Brasil pode-se cogitar a possibi- baixa patogenicidade [Golono, 2009].
lidade de surto de DN, por ocasião de APMV-1 pode ser isolado em em-
doença de média ou alta mortalidade, briões de galinhas (SPF, livres de pató-
especialmente em aves galináceas não genos específicos), inoculados aos 8-11
vacinadas contra a DN. Toda a mortali- dias de incubação via cavidade cório-
dade acima de 1% no transporte e 10% -alantóide (Fig. 6). A replicação viral re-
na criação deve ter sua causa identifi- sulta em atividade hemaglutinante (Fig.
cada [6, 7]. Diagnósticos diferenciais 7) no líquidio cório alantóide (LCA). O
devem ser encaminhados nos casos de diagnóstico oficial da DN está regula-
alta mortalidade, quando houver indi- mentado pelo MAPA no PNSA [Brasil
cação/suspeita de envenenamentos, 2009 a, b] e deve ser executado em la-
intoxicações, pasteurelose, salmonelose boratório credenciado. O isolado de
ou outras doenças que causam hemor- APMV-1 é caracterizado, no laboratório
ragias, sinais respiratórios e nervosos. de referência, para diferenciação entre
Considerando que os sinais clínicos e vírus vacinal (lentogênico) e de doen-
lesões não são patognomônicos e po- ça (mesogênico ou velogênico), como
dem ser confundidos com outra doen- segue:
ças, o diagnóstico definitivo depende de 1) Tempo médio de mortalida-
exame laboratorial [1, 6, 7, 25, 39]. de embrionária (TMME).
Não há razão, neste momento, para Diluições (base 10) entre -6
a suspeita de influenza aviária de alta e -9, utiliza-se 100 microlitros
patogenicidade, por estirpes asiáticas ou (0,1 mL) inoculados via cavida-
42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
de alantóide, na cavidade cório
alantoide (CCA) ou LCA em
embriões SPF (8-11 d) em
mínimo de 5 ovos por dilui-
ção e observados por 7 dias. A
mais alta diluição com 100%
de mortalidade determina es-
tirpe velogênica para mortali-
dade em menos de 60 horas;
mesogênica para mortalidade
entre 61 e 90 horas e lento-
gênica para mortalidade em
mais de 90 horas ou ausência
de mortalidade embrionária.
Anticorpos específicos para
APMV-1 podem ser determi- Fig. 6. Inoculação embrionária via cavidade
nados com o teste de inibição corioalantoide.

Fig. 7. Atividade hemaglutinante de líquido corioalantoide frente a hemácias de galinhas SPF a 5%.

2. Doença de Newcastle 43
da hemaglutinação (IH) (Fig. (LCA) com atividade hemaglu-
8), com significância qualquer tinante, diluido a 1:10 e livre de
título acima de 8 em IH para bactérias, 0,1 mL inoculado via
aves não vacinadas. Para aves intracerebral em pintos de 1 dia
vacinadas, deve-se demonstrar o (SPF) e observados por oito
aumento de, no mínimo, dois lo- dias (cada 24 horas). A interpre-
garítmos (em base 2) em média tação e escores determina: 0 =
geométrica de títulos de anti- normal; 1 = doente e 2 = morto,
corpos (resposta anamnéstica), sendo o escore final a média de
comparando-se os títulos, no todos os oito dias. A interpreta-
dia do atendimento e 15-21 dias ção determina serem velogêni-
após, por exemplo, a ascensão cas as estirpes com escore pró-
de 16 para 64. ximo de 2 e lentogênicas com
2) Índice de patogenicidade in- escore próximo de 0.
tracerebral em pintos de 1 dia. 3) Índice de patogenicidade intrave-
Vírus de líquido cório-alantóide nosa (IV) em frangas SPF de seis

Fig. 8. Inibição da hemaglutinação em microplaca de 96 cavidades. Os testes de soros em duplicata


foram realizados com APMV-1 com quatro unidades hemaglutinantes. Nas linhas A e B, soro com título
≥ 4096; linhas C e D, título 1024; linhas E e F, título 256; linhas G e H, título 512.

44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


semanas, inoculadas com 0,1 nos resíduos 113-116 e Fenilalanina
mL de líquido cório alantoide em 117) [Alexander, 2003; OIE, 2012;
hemaglutinante, diluido a 1:10 Wakamatsu et al., 2007].
e livre de bactérias, inoculado Apenas a demonstração de contato
IV em 10 aves (SPF) e 10 dias com APMV-1 por testes sorológicos ou
de observação diária: escore 0 = isolamento viral, sem a definição da pa-
normal; 1 = doente; 2 = paralí- togenicidade do vírus infectante, não é
tico; 3 = morto. Interpretam-se suficiente para imposição das medidas
como estirpes velogênicas com de controle, pois, cepas lentogênicas do
escore próximo de 3 e lentogê- vírus ocorrem em pássaros de todo o
nicas com escore próximo de 0. mundo e o uso de vacinas vivas é qua-
Os escores de IPIC de vacinas vivas se universal (Alexander, 2003). Desse
mais em uso no Brasil são Hitchner B1 modo, técnicas moleculares foram de-
(HB1) 0,2 e La Sota 0,4. As estirpes en- senvolvidas em anos recentes com o
terotrópicas assintomáticas têm escore intuito do diagnóstico definitivo rápido
de IPIC 0,0. da patogenicidade [Alexander, 2003,
Os métodos de análise do genoma Wakamatsu et al., 2007]. Entretanto, o
permitem a caracterização dos isolados, diagnóstico pode ser dificultado pela
com transcrição reversa do RNA para presença de inibidores da PCR em mui-
DNA e amplificação (PCR). APMV- tos órgãos e tecidos, especialmente san-
1 contém genoma RNA e necessita de gue e fezes (Gohm et al., 2000) e pela
transcrição reversa em cDNA para exe- dificuldade de extração de RNA dos te-
cução da PCR. A parte do genoma de cidos fixados pelo formol (Farragher et
APMV-1 que permite a caracterização al., 2008).
da patogenicidade é a que codifica a Imuno-histoquímica (Kommers et
região de clivagem da glicoproteína de al., 2001) e hibridização in situ (Brown
fusão. O produto amplificado pode ser et al., 1999) em tecidos fixados em for-
examinado com enzimas de restrição mol foram valiosos para diagnóstico e
ou seqüenciamento. As estirpes pato- determinar a distribuição viral (Brown
gênicas (mesogênicas e et al., 1999; Wakamatsu
velogênicas, com IPIC A parte do genoma de et al., 2007). Há pers-
> 0,7) têm na região APMV-1 que permite pectivas de hibridiza-
codificadora do sítio de a caracterização ção in situ fluorescente
clivagem da hemagluti- da patogenicidade (FISH) ter forte impacto
nina, código para múlti- é a que codifica a na obtenção de imagem
plos aminoácios básicos região de clivagem da da célula viva e no diag-
(Arginina e/ou Lisina glicoproteína de fusão. nóstico médico (Levsky
2. Doença de Newcastle 45
e Singer, 2003). Estudos recentes uti- As aves reprodutoras, à exceção de aves
lizando a técnica FISH têm mostrado SPF, de postura comercial e aves orna-
resultados rápidos e altamente sensíveis mentais realizarão vacinação sistemáti-
(McCarthy et al., 2008; Jergens et al., ca contra a DN. Os estabelecimentos de
2009). Entretanto, a detecção de míni- frangos de corte que realizarem vacina-
mas quantidades do vírus não é possível ção para DN e outras doenças de con-
com essas técnicas (Wakamatsu et al., trole oficial deverão obrigatoriamente
2007). informar a atividade ao serviço estadual
de defesa sanitária animal.
Prevenção e controle No Brasil a DN pode ser prevenida
Os núcleos ou granjas de produ- por vacinação, com vacinas vivas pre-
ção e de reprodução (matrizes, avós paradas com estirpes não patogênicas
ou bisavós), devem estar localizados (lentogências) do NDV, por exemplo
em áreas livres de estirpes patogênicas no 1º dia de vida (estirpes Hitchner B1
de APMV-1. A zona livre da doença de ou HB1) e revacinações periódicas (es-
Newcastle é o território geográfico defi- tirpe La Sota). Para aves de maior lon-
nido legalmente com extensão de pelo gevidade (poedeiras e reprodutores),
menos de dez quilômetros em torno do o programa vacinal geralmente inclui
estabelecimento. revacinações com vacina viva durante o
O Manual de Legislação [Brasil crescimento e a revacinação com vaci-
2009 a, b] determina que os estabe- na inativada via intramuscular antes da
lecimentos avícolas que realizam co- postura.
mércio internacional devem cumprir, O risco de desafio dos plantéis pode
além de outros procedimentos esta- ser reduzido com a implantação de pla-
belecidos pelo MAPA, no de biosseguridade,
as exigências dos países O risco de desafio com confinamento e dis-
importadores. No Art. dos plantéis pode tanciamento, para evitar
27, determina-se que a ser reduzido com a o contato com aves po-
vacinação nos plantéis de implantação de plano tencialmente portado-
aves de reprodução e co- de biosseguridade, ras, principalmente da
merciais somente poderá com confinamento e ordem Anseriformes.
ser realizada com vacina distanciamento, para Entretanto, as infecções
devidamente registrada evitar o contato com com estirpes lentogê-
no MAPA. O programa aves potencialmente nicas, mesmo vacinais,
de vacinação deverá ser portadoras, podem ter impacto em
específico por região e principalmente da plantéis infectados por
por segmento produtivo. ordem Anseriformes. Mycoplasma gallisepti-
46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
cum ou Escherichia coli, infecções que 8. BROWN, C.; KING, D.J.; SEAL, B.S.
Pathogenesis of Newcastle Disease in Chickens
podem ser controladas com antibioti- Experimentally Infected with Viruses of Different
coterapia antes e depois da vacinação. Virulence.Veterinary Pathology. v. 36, p. 125-132,
1999.
Os estudos australianos confirmaram
9. CUNHA, R. G.; SILVA, R. A. Isolamento e iden-
a emergência de estirpes patogênicas tificação do vírus da Doença de Newcastle no
(meso e velogênicas) a partir de não pa- Brasil. Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária,
togênicas (lentogênicas), por mutação v. 23, p. 17-33, 1955.

na região de clivagem da glicoproteína 10. FARRAGHER, S.M.; TANNEY, A.; KENNEDY,


R.D.; HARKIN, D.P. RNA expression analysis
de fusão [Kirkland, 2000; Westbury, from formalin fixed paraffin embedded tissues.
2001]. Histochemistry Cell Biology. v. 130, p. 435-445,
2008.

Referências 11. FLORES, M.L.; SEGABINAZE, S.D.; SANTOS,


H.F.; BASSAN, J.D.L. Epidemiologia da Doença
1. ALEXANDER, D. J. Newcastle disease and other de Newcastle – Revisão bibliográfica. A Hora
paramyxovirus infections. In: CALNEK, B. W. Veterinária. n. 153, p. 57-61, 2006.
et al. Diseases of poultry. 10.ed. Ames: Iowa State
University Press, p.64-87, 2003. 12. GOHM, D.S.; THUR, B.; HOFMANN, A.
Detection of Newcastle disease virus in organs
2. ALEXANDER, D. J., P. H. RUSSELL, G. and faeces of experimentally infected chickens
PARSONS et al. Antigenic and biological charac- using RT-PCR.Avian Pathlogy. n. 29, p. 143-152,
terisation of avian paramyxovirus type 1 isolates 2000.
from pigeons—An international collaborative
study. Avian Pathol 14:365—376, 1985. 13. GOLONO, M.A. Epidemiologia e caracterização
molecular de virus da influenza em aves residen-
3. ALICE, F. J. et al. Ocorrência da doença de tes e migratórias no Brasil [tese]. São Paulo (SP):
Newcastle na Bahia. Boletim do Instituto Biológico, Universidade de São Paulo; 2009. 102 p.
Salvador, v. 3, p. 124-31, 1956.
14. HASTENREITER, H. La maladie de Newcastle
4. AWAN, M.A. et al. The epidemiology of au Brésil.Bulletim Official International Epizzoties,
Newcastle disease in rural poultry: a review. Avian v.85, p.813-817, 1976.
Pathology Huntingdon, v. 23, p. 405-423, 1994.
15. ICTVdB Management (2006).
5. BOLETIM INFORMATIVO nº 925, semana 01.048.1.05.001.13.012.002. Newcastle disease
de 21 a 27 de agosto de 2006, FAEP - Federação virus WA2116. In: ICTVdB - The Universal Virus
da Agricultura do Estado do Paraná. Ministério Database, version 4. Büchen-Osmond, C. (Ed),
da Agricultura confirma foco de Newcastle no Columbia University, New York, USA.
Amazonas.2006.
16. JERGENS, A. E.; PRESSEL. M.; CRANDELL, J.
6. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária et al. Fluorescent in situ hybridization confirms
e Abastecimento. Plano de contingência para clearance of visible Helicobacter spp. associated
influenza aviária e doença de Newcastle. 2009. with gastritis in dogs and cats. Veterinary Internal
Disponível em: http://www.oie.int/fileadmin/ Medical. v. 2, n.1, p.16-23. 2009.
Home/esp/Animal_Health_in_the_World/
docs/pdf/PLANO_DE_CONTINGENCIA_ 17. JØRGENSEN, P. H., K. JENSEN HANDBERG, P.
VERS_C3O_1.3_JULHO_2009.PDF AHRENS et al. Similarity of avian paramyxovirus
serotype 1 isolates of low virulence for chickens
7. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e obtained from contaminated poultry vaccines and
Abastecimento. Manual de Legislação. Programas from poultry flocks. Vet Rec 146:665—668, 2000.
Nacionais de Saúde Animal do Brasil. 2009. 441
pp. Disponível em: http://www.agricultura. 18. KALETA, E. F.; BALDAUF. C. Newcastle disease
gov.br/arq_editor/file/Aniamal/Manual%20 in free-living and pet birds. In: ALEXANDER, D.
de%20Legisla%C3%A7%C3%A3o%20-%20 J. Newcastle disease. Boston: KLUWER Academic
Sa%C3%BAde%20Animal%20-%20low.pdf Publishers, p. 197-246, 1988.

2. Doença de Newcastle 47
19. KIRKLAND, P. D. Virulent Newcastle disease 29. PEARSON, J. E., D. A. SENNE, D. J.
virus in Australia: in through the ‘back door’. ALEXANDER et al. Characterization of
Austral Vet J 78:331-333, 2000. Newcastle disease virus (avian paramyxovirus-1)
isolated from pigeons. Avian Dis 31:105-111,
20. KOMMERS, G.D.; KING, D.J.; SEAL, B.S.; 1987.
BROWN, C.C. Virulence of pigeon-origin
Newcastle disease virus isolates for domestic 30. PEDERSEN, J.C.; SENNE, D.A.; WOOLCOCK,
chickens. Avian Diseases, v. 45, p. 906-921, 2001. P.R. et al. Phylogenetic relationships among viru-
lent Newcastle disease virus isolates from the
21. LEVSKY, J.M.; SINGER, R.H. Fluorescence 2002-2003 outbreak in North America. Journal
in situ hybridization: past, present and future. of clinical Microbiology. v. 42, n. 5, p. 2329-2334,
Journal of Cell Science. v. 116, p. 2833-2838, 2004.
2003.
31. PORTAL do Governo do Estado do Maranhão.
22. MAPA (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, Disponível em http://www.seagro.ma.gov.
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO). Programa br/2008/4/17/Pagina660.htm. Capturado em
Nacional de Sanidade Avícola. Portaria nº 193 de 22/02/2009.
19 de setembro de 1994 - Secretaria de Defesa
Agropecuária. Disponível na internet em http:// 32. SANTOS, J. A. et al. A ocorrência da doença de
www.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consul- Newcastle no Brasil (nota prévia). Revista de
tarLegislacao. Acessadoem 22/02/2009. Produção Animal, v. 1, n. 1, p. 5-12, 1954.
23. McCARTHY, Ú.M.; URQUHART, K.L.; 33. SILVA, R.A. et al. Novos focos da doença de
BRICKNELL, I.R.An improved in situ hybridiza- Newcastle no Brasil. Arquivos do Instituto
tion method for the detection of fish pathogens. Biológico Animal, v. 4, p. 109-114, 1961.
Journal of fish Diseases. n. 31, p. 669-677, 2008.
34. SILVA, J. S. A. et al. Newcastle disease vírus in-
24. OIE (Office International de Epizooties). fection in sparrows (Passer domesticus, Linneaus,
Newcastle Disease. Terrestrial Manual capítu- 1758) captured in poultry farms of the agreste
lo 2.3.14. 2012. http://www.oie.int/fileadmin/ region of the State of Pernambuco. Revista
Home/fr/Health_standards/tahm/2.03.14_ Brasileira de Ciências Avicolas, Campinas, v. 8, n.
NEWCASTLE_ DIS.pdf. Acessado em 2, p. 125-129, 2006.
05/03/2015.
35. SPALATIN, J. S. & R. P. HANSON. Recovery of
25. OLIVEIRA JUNIOR, J. G. et al. Vírus da doença a Newcastle disease virus strain indistinguishable
de Newcastle em aves não vacinadas no Estado do from Texas GB. Avian Dis 10:372—374, 1966.
Rio de Janeiro. Ciência Rural, Santa Maria, v. 33, n.
2, p. 381- 383, 2003. 36. UTTERBACK, W. W. & J. H. SCHWARTZ.
1973. Epizootiology of velogenic viscerotropic
26. OLIVEIRA, R. L; GIRÃO, F.G.F. Prevalência Newcastle disease in southern California, 1971—
da doença de Newcastle, Brasil, 1971-1979. 1973. J Am Vet Med Assoc 163:1080—1090,
In: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE 1973.
AVICULTURA, 1979, Belo Horizonte. Anais do
VI Congresso Brasileiro de Avicultura, p.122-28, 37. VAITSMAN, J.; MOUTSSATCÉ, I. Doença de
2006. Newcastle. Boletim 801 do Serviço de informação
Agrícola, Ministério da Agricultura, 56p. 1954.
27. OLIVEIRA, R. L. et al. Doenças de aves diagnos-
ticadas em dois laboratórios de Belo Horizonte 38. WAKAMATSU, N.; KING, D.J.; SEAL, B.S.;
entre 1975-1980. In: 7o CONGRESSO BROWN, C.C. Detection of Newcastle virus
BRASILEIRO DE AVICULTURA, 1981, Recife. RNA by reverse transcription-polymerase chain
Anais do 7o Congresso Brasileiro de Avicultura, reaction using formalin-fixed, paraffin-embedded
p.248-59, 1981. tissue and comparison with immunohistochem-
istry and in situ hybridization. Journal Veterinary
28. PAULILLO, A. C.; DORETTO JUNIOR, Diagnostic Investigation. v. 19, p. 396-400, 2007.
L. Doença de Newcastle. In: BERCHIERI
JÚNIOR, A. & MACARI, M. (Eds.). Doenças das 39. WESTBURY, H. Commentary. Newcastle disea-
aves. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e se virus: an evolving pathogen. Avian Pathol 30:
Tecnologia Avícolas, 2000, p.267-81. Jaboticabal: 5-11, 2001.
2000.

48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


3. Bronquite infecciosa
das galinhas

bigstockphoto.com
Nelson Rodrigo da Silva Martins1 - CRMV-MG 4809, nrsmart@gmail.com
José Sérgio de Resende1 -CRMV-MG 1623
Josiane Tavares de Abreu2 - CRMV-MG 5568
Maurício Resende3
1
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Professora, médica veterinária, mestra e doutora, Pontifícia Universidade Católica, MG
3
Professor titular aposentado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária/UFMG

Introdução queda quantitativa e qualitativa na pro-


dução de ovos, infertilidade, facilitação
A bronquite infecciosa das galinhas
de infecções oportunistas, que exigem o
(BIG) é doença aguda altamente con-
uso de antibióticos, e aumento na con-
tagiosa de frangos e galinhas (Gallus
denação de carcaças de frangos de corte
gallus domesticus). A BIG é considerada
atualmente uma das doenças que mais no abatedouro [2,5]. É importante des-
causa prejuízos à avicul- tacar que, em codornas
tura industrial de gali- A BIG é considerada domésticas (Coturnix ja-
nhas e frangos no Brasil atualmente uma das ponica e Coturnix cotur-
e no mundo. Há grande doenças que mais causa nix), a bronquite é cau-
impacto econômico, prejuízos à avicultura sada por um adenovírus
por causar aumento da industrial de galinhas (Aviadenovirus), sem
mortalidade, perdas em
e frangos no Brasil e no qualquer relação com a
desempenho produtivo,
mundo. etiologia de BIG.
3. Bronquite infecciosa das galinhas 49
Etiologia A BIG é causada pelo
tação de programas efi-
cientes e duradouros de
A BIG é causada vírus da bronquite
vacinação.
pelo vírus da bronquite infecciosa.
No envelope de du-
infecciosa (IBV – infec- As estirpes de IBV
pla camada lipídica, as
tious bronchitis virus), podem ser classificadas
grandes projeções su-
classificado no gênero em diversos sorotipos
perficiais (S) são glico-
Gammacoronavirus, fa- heterogêneos com baixa
proteínas essenciais para
mília Coronaviridae, proteção cruzada.
infecção, com papel na
ordem Nidovirales,
adsorção e penetração
com genoma de RNA fita simples e
na célula. A região mais externa de S,
polaridade positiva, e com envelope
denominada S1, liga-se aos receptores
lipoproteico [2, 5, 9]. Os coronavírus
celulares glicoproteicos de tipo ácido si-
descritos em faisão, galinha-d’angola,
álico. Variações na composição de ami-
marreco e peru têm semelhança gené-
noácidos em regiões hipervariáveis de
tica com IBV [3, 4, 11, 12]. Uma im-
S1 determinam diversidade antigênica
portante característica
e de sorotipos [2, 5]. O
de IBV é a grande diver- No Brasil, há estudos RNA é copiado na célu-
sidade genética e anti- que demonstram a la infectada em seis seg-
gênica. Uma população presença de estirpes mentos de RNA subge-
de IBV nunca é gene- de IBV com amplas nômicos (mensageiros),
ticamente idêntica, e a variações genéticas os quais, em coinfecção
heterogeneidade (qua- e sorológicas na entre IBVs diferentes e
sispecies) é a principal avicultura industrial. na montagem de novos
estratégia evolutiva de
vírions, podem gerar re-
evasão à resposta imune
combinantes, com potencial de evasão
e dificulta a eficiência vacinal. Outra
à imunidade preestabelecida, represen-
estratégia evolutiva de IBV é a possibi-
tando o principal fator na emergência
lidade de rearranjo genético entre dife-
de novo surto de BIG em plantéis vaci-
rentes IBVs [5, 9], podendo dar origem
nados. No Brasil, em Minas Gerais, há
a progênies virais de risco para plantéis
estudos que demonstram a presença de
com proteção prévia heteróloga. O IBV
IBVs com amplas variações genéticas
foi o primeiro coronavírus descrito em
[1] e sorológicas [7, 14, 15] na avicul-
animais (1937), nos Estados Unidos
tura industrial, além de relatos também
[5]. As estirpes de IBV podem ser clas-
em outros estados, como SP [16], SC,
sificadas em sorotipos heterogêneos
PR e RS, sendo atualmente descrito um
com baixa proteção cruzada [2, 5], ca-
grupo brasileiro (BRI).
racterística que torna difícil a implan-
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
Epidemiologia Transmissão
A bronquite infecciosa das galinhas A transmissão ocorre principal-
é causada por IBV e ocorre natural- mente por aerossóis respiratórios, com
mente em Gallus gallus domesticus. Em vírus replicado no epitélio respiratório
faisões e perus ocorrem coronavírus e eliminado em microgotas de muco
assemelhados e não IBV. Coronavírus respiratório durante a expiração [2, 5].
do peru (TCoV) e coronavírus do fai- Nas regiões de concentração da avicul-
são (PhCoV) são espécies distintas de tura (de Gallus gallus domesticus), há
IBV dentro de Gammacoronavirus, com problemas continuados com BIG, pela
apenas 34%, em média, de identidade proximidade e fácil difusão aérea de IBV
no gene que codifica a glicoproteína S1. em aerossóis respiratórios. Em granjas,
Estirpes de IBV mantêm entre si 75 a 85% ou regiões, com ocupação contínua de
de identidade em S1 [3, 11]. Entretanto, frangos de corte ou galinhas (sem vazio
isolados de IBV semelhantes à estirpe va- sanitário ou com falhas de biossegurida-
cinal H120 (>99% de identidade em S1) de), a imunidade induzida por vacina-
foram obtidos de pavão e marreco assin- ção pode eventualmente ser superada
tomáticos [12]. por variantes virais. Nessas condições,
Um episódio de doença respiratória de proximidade e falha de biosseguri-
foi descrito em galinha-d’angola, com dade, com presença contínua de aves,
isolamento de coronavírus relacionado a transmissão é fácil, e a erradicação
antigenicamente (neutralização cruzada) difícil. Como agravante, as estirpes que
com IBV. Anticorpos de galinhas matri- circulam na região podem ser deriva-
zes vacinadas contra IBV foram neutrali- das de estirpes vacinais, por mutação,
zantes contra o isolado [10]. ou recombinação com IBVs de campo.
Uma diversidade de Gamma​coro- Entretanto, é possível o controle de BIG
navirus foi detectada em espécies de em granjas ou núcleos sem vacinação
aves domésticas e silvestres, das or- contra BIG, que mantenham programa
dens Ciconiiformes, Pelecaniformes e de biosseguridade, com manejo exclusi-
Anseriformes [3]. vo, distanciamento, idade única e vazio
Os estudos mais recentes indicam sanitário entre lotes.
que a epidemiologia de coronavírus é A doença pode atingir os sistemas
complexa em classe Aves. Deve-se man- respiratório, reprodutor, gastrointestinal
ter a mente aberta para a possibilidade e/ou excretor, em galinhas ou frangos,
de que a existência de múltiplos hos- sendo recorrente tipicamente em gran-
pedeiros para infecção por IBV pode, ja ou região densamente povoada por
eventualmente, resultar em doença em múltiplas idades. O IBV infecta os epi-
novas espécies [3]. télios respiratório, gastrointestinal, renal
3. Bronquite infecciosa das galinhas 51
e do oviduto, em intensi- de casca mole, frágil,
A BIG é tipicamente
dade e impacto variável mais fina e despigmen-
agravada por
conforme a estirpe [2, tada, podendo também
Escherichia coli,
5]. Há predominância de ocorrer ovos com de-
bactéria inalada em
estirpes mais adaptadas formidades na casca. A
suspensão no ar, em
à infecção respiratória, galpões com baixa BIG apresenta gravida-
embora com reflexos nos renovação de ar e alta de variável com a estirpe
demais sistemas citados, concentração de poeira. de IBV envolvida, idade
excretor (rins e ureteres) da ave, genética, sexo,
e reprodutivo (regiões qualidade do manejo,
do oviduto, magno e útero). do ambiente, doenças concomitantes e
status imune. Os problemas mais graves
Patogenia ocorrem em granjas que mantêm po-
Para a infecção das células-alvo no pulações de galinhas/frangos de idades
epitélio ciliado respiratório, gastrointes- variadas e próximas. O desafio de pin-
tinal, tubular renal, no magno e no útero, tinhos nas proximidades de aves mais
as glicoproteínas (S1) no envelope viral velhas, especialmente para frangos de
de IBV adsorvem aos receptores celula- corte e poedeiras em recria, pode resul-
res que contêm ácido siálico, e essa ati- tar em quadros mais graves. A BIG é ti-
vidade é dependente da integridade do picamente agravada por Escherichia coli,
envelope [2, 5]. A infecção respiratória bactéria inalada em suspensão no ar, em
é mais grave em aves mais jovens, com galpões com baixa renovação de ar e alta
possibilidade de obstrução traqueal concentração de poeira. Quadros res-
parcial (Fig. 1) ou total por muco, se- piratórios graves ocorrem, com maior
guida de asfixia e morte. A infecção re- frequência, em criações com baixa qua-
nal ocorre tipicamente após a infecção lidade sanitária e de manejo, em galpões
respiratória, exceto para estirpes de in- com baixa renovação do ar, tipicamente
fecção renal exclusiva. Alguns IBVs pro- para aves que estão no chão, como fran-
duzem lesões graves nos rins (nefrite- gos de corte e poedeiras em cria [2, 5].
-nefrose), com morte por insuficiência
renal. A infecção do oviduto nas fêmeas Sinais clínicos
maduras e em produção resulta em, no A doença predominante é respi-
magno, falha na síntese das proteínas do ratória (Fig. 1), com estertores, tosse,
albúmen e, no útero, falha na produção dispneia, insuficiência respiratória,
da casca do ovo. A lesão no magno se asfixia e morte dos mais jovens. Os
caracteriza por produção de ovos com estertores respiratórios resultam da
clara aquosa, e a lesão no útero por ovos ciliostase e acumulação de muco no
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
lúmen traqueal (veja a atividade ciliar
normal em https://www.youtube.com/
watch?v=40Vxq5I22pM). Nas aves jo-
vens, a forma respiratória pode evoluir
para a forma renal, com a infecção que
destrói a estrutura e a função renal, le-
vando à mortalidade por insuficiência
renal. Na traqueia, pode haver muco
(Fig. 2), congestão e hemorragia, e nos
rins acúmulo de uratos nos mesonefros
e ureteres, com aumento de volume e
Figura 2. Imagem de traqueia de ave (Gallus
marmorização (Fig. 4). Muitos IBVs po- gallus domesticus) jovem com muco espumoso
dem infectar o oviduto de galinhas em em obstrução parcial do lúmen (seta).
crescimento ou em postura. As lesões no
magno e no útero podem ser irreversí-
veis e resultar na formação de ovos com
anomalias na clara e na casca, com cas-
cas frágeis, trincadas, irregulares, moles
ou ovos sem casca (Fig. 3). Alguns IBVs
infectam os intestinos e resultam em
diarreia, desidratação, deficiente diges-
tão, absorção de nutrientes e nanismo
infeccioso, sendo normalmente esses
Figura 3. As regiões do oviduto atingidas, magno
(seta branca) e útero (seta preta), resultam, res-
pectivamente, em clara aquosa e ovos de casca
frágil, mole ou sem casca. Notar, no útero aberto,
um ovo em formação de casca (ponta de seta).
Dois ovos sem casca, com uma (1) ou duas (2)
membranas de casca, estão enfileirados sobre
a região onde são produzidas essas membranas
(istmo).

Figura 1. Galinha com insuficiência respiratória


e respiração com o bico aberto. Notar a pre-
sença de conjuntivite mucoide. Assista ao ví-
deo no YouTube: https://www.youtube.com/
watch?v=_LF56iuT-og&spfreload=10 Figura 4. Processo de nefrite-nefrose renal (seta).

3. Bronquite infecciosa das galinhas 53


quadros associados a outros patógenos, significativos (acima de 8 em HI). Para
como rotavírus, reovírus, calicivírus, o diagnóstico definitivo, o vírus deve ser
parvovírus, entre outros, sugerindo ser isolado e caracterizado em laboratório
um quadro multicausal [2, 4, 5]. [2, 5]. O isolamento pode ser feito por
cinco passagens consecutivas em ovos
Diagnóstico embrionados de nove a 11 dias de incu-
A suspeita é especialmente significa- bação, obtidos de galinhas SPF, incuba-
tiva se há histórico de ocorrência prévia dos por até sete dias após a inoculação.
de BIG e não houve vazio sanitário ou Cultivos de anéis de traqueia podem
não se empregaram estratégias adequa- ser usados para o isolamento e estudo
das de biosseguridade. Entre as viroses de IBV (https://www.youtube.com/
respiratórias, a BIG é a mais comum watch?v=40Vxq5I22pM). Os tecidos de
em regiões com alta densidade avícola, aves doentes ou anexos ou tecidos dos
proximidade de granjas e multiplicidade embriões podem ser examinados por
de idades. Há doenças de manifestação métodos imunoenzimáticos ou por RT-
clínico-patológica semelhantes à BIG, PCR (transcrição reversa e reação em
como as micoplasmoses cadeia pela polimerase),
(Mycoplasma gallisepti- Para o diagnóstico para a detecção do IBV
cum, M. synoviae) e as co- definitivo, o vírus ou de seu genoma, res-
libaciloses (Escherichia deve ser isolado e pectivamente, geralmen-
coli), que podem ocorrer caracterizado em te após 48h de infecção
como coinfecções com laboratório. em até cinco passagens.
IBV, pneumovirose (me- A RT-PCR, seguida de
tapneumovírus aviário), análise dos produtos por
laringotraqueíte infecciosa (Iltovirus) restrição enzimática ou sequenciamen-
e doença de Newcastle (Avulavirus) to, permite a caracterização do isolado.
por estirpes mesogênicas ou lentogê- A RT-PCR e a análise do produto ampli-
nicas. O diagnóstico definitivo de BIG ficado podem também ser feitas a partir
depende de confirmação laboratorial. dos tecidos das aves doentes.
Anticorpos específicos para IBV po-
dem ser determinados por sorologia em Prevenção e controle
ELISA [13] ou inibição da hemagluti- A infecção natural depende da inte-
nação (HI) [2,4,7]. Em aves vacinadas, gridade do envelope de IBV. Entretanto,
podem-se observar títulos ascendentes o envelope viral pode ser destruído por
em duas coletas de soros, com intervalo limpeza com detergentes e desinfe-
de 15 a 21 dias, e, em aves não vacina- tantes, assim como fatores naturais de
das, os títulos de anticorpos mínimos inativação, como o calor e a radiação
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
solar. Para a prevenção de BIG, pode- à granja, por nebulização ou gota ocular.
-se necessitar do despovoamento (vazio A via água de bebida (vacinas vivas) tem
sanitário) do núcleo, granja e/ou região, resultado em resposta imune desunifor-
para a adequada desinfecção. A unifor- me. Para a proteção durante a produ-
mização das idades das aves no núcleo, ção de ovos, poedeiras e reprodutoras
granja ou região, pode permitir a ado- são geralmente revacinadas com vacina
ção de vacinação geral na granja, infec- inativada aplicada via intramuscular no
ção vacinal homogênea, em data única, peito, que induz proteção sistêmica, es-
potencialmente a melhor estratégia para pecialmente importante para o oviduto.
proporcionar uniformidade de respos- As vacinas inativadas, geralmente em
tas e menor escape de vírus mutantes. A emulsão oleosa para lenta absorção, são
resposta imune subprotetora é conside- comumente combinadas para a prote-
rada indutora de pressão de seleção de ção contra outras etiologias. As compli-
vírus mutantes resistentes à imunidade cações bacterianas são comuns em BIG
prévia. A desuniformidade de status e aumentam a morbidade e a mortalida-
imune entre indivíduos em um plantel de para aves mantidas em piso, frangos
ou entre os plantéis pode resultar na de corte e frangas de reposição, manti-
emergência de IBV variantes, e perpetu- das em ambientes com baixa renova-
am-se os episódios com vírus variantes. ção de ar e com poeira em suspensão,
A adoção de data única de vacinação que facilita a infecção respiratória por
pode ser importante estratégia, com o Escherichia coli. As infecções bacterianas
objetivo de reduzir o escape de vírus secundárias comumente exigem terapia
para plantéis sensíveis e uniformização antibacteriana, escolhida com base em
de resposta imune. As tentativas de con- teste de sensibilidade.
trole por vacinação em granjas, núcle-
os ou regiões que mantenham idades
Referências
1. Abreu, Josiane T.; Resende, J. S.; Flatschart, R.
múltiplas podem ter efeito benéfico por B.; Flatschart, Á. V. Folgueras; Martins, N. R.
alguns ciclos de produção, com dimi- S.; Resende, M. Molecular Analysis Of Brazilian
Infectious Bronchitis Field Isolates By Reverse
nuição progressiva da eficiência devido Transcription Polymerase Chain Reaction,
à variação viral. No Brasil, para vacinas Restriction Fragment Length Polymorphism, And
Partial Sequencing Of The N Gene. Avian Diseases
vivas, estão permitidas estirpes do soro- V. 50, N.3, P. 494-501, 2006.
tipo Massachusetts (H120, MA5, etc.), 2. Avian Infectious Bronchitis, C H A P T E R 2 . 3 .
atenuadas por passagens consecutivas 2 . OIE Terrestrial Manual 2013, Version adopted
by the World Assembly of Delegates of the OIE in
em ovos embrionados de galinhas SPF. May 2013.
As vacinas vivas podem ser aplicadas em 3. Cavanagh, D. Coronaviruses in poultry and other
pintinhos após a eclosão, ainda no incu- birds. Avian Pathology, 34, 439-448, 2005.
batório, por nebulização, ou na chegada 4. Chu, Daniel K.W.; Leung, C.Y.H.; Gilbert, M.;

3. Bronquite infecciosa das galinhas 55


Joyner, P.H.; Ng, E.M.; Tse, T.M.; Guan, Y.; Peiris, Justus Leibig University.
J.S.M.; Poon, L.L.M. 2011. Avian coronavirus in
wild aquatic birds. J Virol 85:12815–12820. 11. Lin, T.L., Loa, C.C. & Wu, C.C.. Complete se-
quences of 3’ end coding region for structural pro-
5. Cavanagh,, David; Naqi,, A.S. (2003) Infectious tein genes of turkey coronavirus. Virus Research,
Bronchitis. In: Saif YM, Barnes HJ, Glisson JR, 106 , 61 /70, 2004.
Fadly AM, Dougald MC, Swayne DE (eds) Disease
of Poultry, 11th ed. Iowa State University Press, 12. Liu, S., Chen, J., Chen, J., Kong, X., Shao, Y., Han,
Ames, pp 101–119. Z., Feng, L., Cai, X., Gu, S. & Liu, M. (2005).
Isolation of avian infectious bronchitis coronavirus
6. de Wit, J. J. (Sjaak), Cook, J. K. A. & van der from domestic peafowl (Pavo cristatus) and teal
Heijden, H. M. J. F.. Infectious bronchitis virus (Anas). Journal of General Virology, 86 , 719 /725.
variants: a review of the history, current situation
and control measures, Avian Pathology, 40:3, 223- 13. Martins, N. R. S.; Mockett, A. P. A. ; Barrett,
235, 2011. A. D. T. ; Cook, Jane K. A.. IgM Responses in
Chicken Serum to Live and Inactivated Infectious
7. E
piphanio, Ericka.O.B.; Martins, N.R.S.; Resende, Bronchitis Virus Vaccines. Avian Diseases, v. 35, p.
J.S.; Pinto, R.G.; Jorge, M.A.; Souza, M.B.; 470, 1991.
Caccioppoli, J.; Cardozo, R.M. Resultados pre-
liminares da utilização de cultivos de anéis de 14. Mendonça, Juliana F. P.; Martins, N. R. S.;
traqueia para o estudo de estirpes brasileiras do Carvalho, L. B. de; Sá, M. E. P. de; Melo, C. B. de.
vírus da bronquite infecciosa das galinhas. Arquivo Bronquite infecciosa das galinhas: conhecimen-
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia , tos atuais, cepas e vacinas no Brasil. Ciência Rural
Belo Horizonte, v. 54, n.2, p. 212-216, 2002. (UFSM. Impresso), p. 1-0, 2009.

8. Hewson, Kylie A.; Noormohammadi, A. H.; 15. Souza, M.B.; Martins, N.R.S.; Resende, J.S.
Devlin, J. M.; Browning, G. F.; Schultz, B. K. & Afinidades Antigênicas De Amostras De Campo
Ignjatovic, J. Evaluation of a novel strain of infec- Do Vírus Da Bronquite Infecciosa Das Galinhas
tious bronchitis virus emerged as a result of spike Com A Amostra Massachusetts M41. Arquivo
gene recombination between two highly diverged Brasileiro De Medicina Veterinária E Zootecnia, V.
parent strains. Avian Pathology 43, p. 249-257, 53, N. 2, P. 1-7, 2001.
2014. 16. Villarreal, L.Y., Sandri, T.L., Souza, S.P.,
9. ICTV. International Committee on Taxonomy of Richtzenhain, L.J., de Wit, J.J., Brandao, P.E.
Viruses. 2002. http://ictvdb.bio-mirror.cn/Ictv/ Molecular epidemiology of avian infectious bron-
fs_coron.htm chitis in Brazil from 2007 to 2008 in breeders,
broilers, and layers. Avian Diseases, 54, 894-898,
10. Ito, N.M.K., Miyaji, C.I. & Capellaro, C.E.M.P.D.M. 2010.
(1991). Studies on broiler’s IBV and IB-like vi-
rus from guinea fowl. In E.F. Kaleta & U. Heffels-
Redmann (Eds.), II International Symposium on
Infectious Bronchitis (pp. 302/307). Giessen:

56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


4. Doença de Marek

Nelson Rodrigo da Silva Martins1


- CRMV-MG 4809
Sandra Yuliet Marin2
Roselene Ecco3 - CRMV-MG 8324
Ana Caroline Doyle Torres4
1
Professor associado, médico veterinário CRMV 4809, mestre e
doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Pós-doutoranda, médica veterinária, mestra e doutora, DMVP,
Escola de Veterinária, UFMG
3
Professora associada, médica veterinária, mestra e doutora,
Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, UFMG
4
Mestranda, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG.

bigstockphoto.com

Descrita na Hungria em 1907 pelo doença. Os estudos da DM em galinhas


médico veterinário permitiram avanço no
Jozsef Marek, a doença A DM foi a primeira conhecimento das doen-
de Marek (DM) adqui- doença tumoral ças tumorais em animais
riu grande importância prevenida por vacinação e têm servido de modelo
durante o século XX com na história da medicina. para os estudos de alguns
o crescimento da avicul- Outro aspecto tipos de câncer em hu-
tura. Após a descrição da médico importante é manos [13]. A DM foi a
etiologia viral em 1967- a alteração arterial primeira doença tumoral
1968, foram desenvol- (arterioesclerose), prevenida por vacinação
vidas com sucesso as es- forma não neoplásica na história da medicina.
tratégias preventivas de da doença, sendo hoje Outro aspecto médico
DM baseadas em vacina- modelo médico para importante é a alteração
ção, que representaram as arterioscleroses arterial (arterioesclero-
em amplo controle da causadas por vírus. se), forma não neoplásica
4. Doença de Marek 57
da doença, sendo hoje modelo para as [9, 14]. O GaHV-2 é classificado em
arterioescleroses causadas por vírus. A três grupos distintos, denominados
DM causou, por muitos anos, grande como sorotipo 1, 2 e 3. O sorotipo 1
impacto em avicultura de galinhas, e contém todas as estirpes patogênicas,
seus efeitos negativos foram reduzidos enquanto as estirpes do sorotipo 2 não
de forma espetacular, como se “retira- são patogênicas. Integrantes do sorotipo
dos com a mão”, após o uso das vacinas 2 são representados pelos isolados de
em pintinhos no primeiro dia de idade perus, não patogênicos e assemelhados
e, mais recentemente, de forma alterna- antigenicamente a GaHV-2, e por isso,
tiva, em embriões aos 18 dias de incuba- utilizáveis em vacinas (HVT, herpes-
ção. Atualmente são raros os episódios vírus de peru) [3, 12, 17]. O GaHV-2,
da DM e muitos estão como todos os herpesví-
relacionados a falhas A DM é causada por rus, contém genoma de
vacinais, por falta de tí- vírus denominado DNA de fita dupla mui-
tulo vacinal ou doença GaHV-2 - Marek’s to longa (125.000 pares
imunodepressora que disease virus ou de bases), 30 proteínas
impeça a formação de GaHV-2 - Gallid estruturais confirmadas
resposta imune proteto- herpesvirus 2, da e 10 propostas, com 11
ra, ou ainda, variação de família Herpesviridae, presentes no envelope,
vírus de campo [12]. A subfamília sendo destas, pelo me-
vacinação embrionária Alphaherpesvirinae e nos 10 glicosiladas [9,
contra a DM representa gênero Mardivirus. 14]. Ainda, como todos
antecipação vacinal, que os herpesvírus, o GaHV-
tem como objetivo reduzir a probabili- 2 promove infecção per-
dade de infecção com estirpes de alta vi- sistente e vitalícia (latência), com ciclos
rulência emergentes. Além de galinhas, de reativação modulados pela resposta
DM natural e experimental foi descrita imune [14]. As estirpes integrantes do
em codornas japonesas e em perus, e sorotipo 1 (patogênico) diferem em
a reprodução experimental em faisões patogenicidade [3, 16]. Nos anos 1980
[17]. houve o surgimento de variantes de alta
virulência (vvMDV-very virulent Marek’s
Etiologia disease virus), possivelmente por pres-
A DM é causada por vírus deno- são seletiva exercida pela imunidade dos
minado GaHV-2 - Marek’s disease vi- plantéis [3, 5, 12, 17]. Na pele desca-
rus ou GaHV-2 - Gallid herpesvirus 2, mada presente na poeira dos galpões, o
da família Herpesviridae, subfamília GaHV-2 está protegido e muito estável,
Alphaherpesvirinae e gênero Mardivirus sendo a desinfecção ineficiente no am-
58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
biente de galpão, apesar entre plantéis. O GaHV-
A forma clássica de
de GaHV-2 extracelular 2 é transmitido pelo con-
apresentação clínica
ser muito sensível aos tato indireto ou direto
é caracterizada por
detergentes e desinfetan- entre as aves.
paralisias tipicamente
tes [2, 7, 12, 17]. O pintinho inala
unilaterais (Fig.
1), decorrentes da poeira do ambiente de
Transmissão e infiltração dos linfócitos criação, que contém
patogenia T transformados nos pele descamada conten-
Galinhas portadoras nervos, além de processo do vírus infectante [2,
transmitem via horizon- inflamatório e de 7]. Nos capilares aéreos
tal vírus para pintinhos progressão crônica com pulmonares, a poeira é
sensíveis, por pele des- letalidade moderada fagocitada pelos macró-
camada eliminada pela (até 30%). fagos e ocorre a infecção
ave portadora, que con- destes. O vírus livre e/ou
tém vírus infectante [2, 7]. As infecções os macrófagos infecta-
por GaHV-2 têm alta disseminação nas dos entram em circulação e transferem
regiões avícolas [12, 17]. As galinhas infecção para os linfócitos B no baço e
de criação industrial e de subsistência na bolsa cloacal (de Fabricius), que re-
portadoras de GaHV-2, inclusive as aves sulta em grave destruição de linfócitos
vacinadas, eliminam e transmitem vírus B nesses órgãos e imunodepressão. Na
de forma cíclica. fase inicial, a replicação e a lise de linfó-
A DM é bastante comum na avicul- citos se estendem para os linfócitos T
tura de subsistência em Minas Gerais do timo. Nessa fase da infecção, a atro-
(Martins et al., dados não publicados). fia do timo, do baço e da bursa pode ser
Essas aves podem atuar de forma sig- identificada pela macroscopia e histolo-
nificativa como reservatório de vírus gia desses órgãos (17). A viremia per-
patogênicos. Apesar de haver vacinação siste e permite que, nos linfócitos T (do
obrigatória em 100% da avicultura co- timo), ocorra a integração do genoma
mercial, pode ocorrer infecção (desafio) de GaHV-2 no genoma celular, resul-
natural com vírus de campo [11] em tando em transformação dos linfócitos
aves vacinadas, embora nenhuma ave T ativos em linfócitos T neoplásicos.
vacinada desenvolva tumores, por haver A forma clássica de apresentação
proteção antitumoral. Assim, aves (ga- clínica é caracterizada por paralisias ti-
linhas) vacinadas podem ser fonte de picamente unilaterais (Fig. 1), decor-
vírus patogênico, apesar de protegidas rentes da infiltração dos linfócitos T
contra tumores [11], razão para serem transformados nos nervos, com intenso
mantidas estratégias de biosseguridade processo inflamatório e de progressão
4. Doença de Marek 59
crônica com letalidade moderada (até (ovários, testículos) e atingir também
30%) [12, 17, 18]. A forma aguda é de o olho, na íris (causando fechamento
emergência mais rápida e mais grave, da pupila) e músculos esqueléticos. A
com impacto de morbidade e mortali- forma visceral pode ocorrer com alte-
dade altas, que resultam de infiltração rações macroscópicas neurais pouco
tumoral disseminada para órgãos vitais perceptíveis ou ausentes. Quando há
[12, 17, 18]. A patogenia de GaHV-2 envolvimento do sistema nervoso cen-
está principalmente determinada pela tral (cérebro e cerebelo), linfócitos infla-
habilidade em transformar linfoblastos matórios se infiltram ao redor dos vasos.
T em tumorais [12, 17]. Os linfócitos T Posteriormente, são substituídos por
transformados colonizam diversos teci- linfoblastos neoplásicos que invadem
dos (metástases). Na forma clássica, as também o parenquima adjacente. A
alterações clínicas típicas ocorrem após forma cutânea é caracterizada por infil-
as infiltrações linfoblásticas em nervos trações de linfoblastos nos folículos das
periféricos (causando perda e degenera- penas. Quando a proliferação é intensa,
ção axonal), principalmente os de maior pode invadir a epiderme e causar ulcera-
calibre, como os nervos ciático (Fig. 2), ções [17], que, presentes na pele da re-
braquial, vago e intercostais. Os plexos gião da cabeça (periocular), podem ser
dos nervos braquiais e ciáticos também confundidas com bouba aviária, sendo
são frequentemente acometidos [12, importante a histopatologia para o diag-
17]. As paralisias de MD no membro nóstico diferencial.
posterior podem resultar na posição de
perna estendida, tipicamente unilateral, Diagnóstico
por infiltrações tumorais no nervo ciáti- A forma clássica de DM pode ser
co. Podem também estar paralisadas as suspeita em aves, especialmente ga-
asas, os músculos intercostais, a região linhas, com paralisia de pernas (mais
lombar e os órgãos inervados pelo vago. comum unilateral) (Fig. 1), asas, pes-
A forma paralítica ou clássica resulta em coço e outros, especialmente em aves
processo crônico de emagrecimento e não vacinadas. As alterações nos nervos
fraqueza, em parte resultantes da dificul- podem ser caracterizadas por aumento
dade de locomoção para alimentação. localizado ou simétrico no diâmetro do
A forma aguda da DM resulta em nervo, com hiperemia e/ou hemorra-
mortalidade mais grave e rápida e está gia (Fig. 2). Estes são quadros comuns
associada ao desenvolvimento de tu- em galinhas de fundo de quintal ou de
mores que impedem a função de órgãos subsistência. Em falhas vacinais ou de-
vitais, como o fígado, os rins e o baço. pressão imune, em frangos de corte ou
Os tumores podem afetar a fertilidade frangas pré-postura, as lesões de pele,
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
com folículos das pe- das células tumorais e/
A confirmação do
nas aumentados e/ou ou detecção do antígeno
diagnóstico depende
hemorrágicos, podem [12, 17, 18] ou geno-
de visualização
ser sugestivas, especial- ma viral nos tecidos [1,
microscópica das células
mente se encontrados 3, 12, 17]. Os tecidos
tumorais e/ou detecção
tumores em vísceras. A acometidos devem ser
do antigeno ou genoma
confirmação do diag- enviados para histopato-
viral nos tecidos.
nóstico depende de vi- logia, para a observação
sualização microscópica de infiltrados de células
linfoblásticas pleomórficas (diagnósti-
co diferencial de leucose linfoide, com
células linfoblásticas monomórficas).
Na forma inflamatória, pequenos lin-
fócitos e plasmócitos também estão
presentes. Por imuno-histoquímica,
linfócitos T podem ser demonstrados
nos tumores com anticorpos mono ou
policlonais específicos para linfoblastos
T, ou GaHV-2 pode ser detectado nos
Fig. 1. Ave de subsistência apresentando a forma tecidos infectados, usando anticorpos
clássica da doença de Marek, caracterizada por
paralisia unilateral resultante da infiltração dos dirigidos para antígenos virais [12, 17,
linfoblastos T transformados e por processo in- 18]. Na doença de Marek, os tumores
flamatório nos nervos. Um vídeo da mesma ima-
gem pode ser acessado em https://www.youtu-
são de origem linfoblástica T e diferen-
be.com/watch?v=BydP994Tp7E. tes de linfoblastos B presentes na leuco-
se linfoide [18]. Reações em cadeia pela
polimerase (PCR) estão descritas para
a amplificação de segmentos de genes
que codificam proteínas estruturais e
não estruturais de GaHV-2 [1, 3, 8, 12,
17, 20, 22]. PCR com oligonucleotídeos
específicos, por exemplo, dirigidos para
a amplificação dos genes que codificam
as glicoproteínas B, C, D, timidina qui-
nase (TK) ou a proteína da célula in-
Fig. 2. Ave doença de Marek mostrada na Fig. 1. fectada (ICP-4 – infected cell protein 4)
Nervo ciático com espessamento (seta) leve de-
corrente da infiltração de linfoblastos ativados e [1, 3, 12, 17], permitem a confirmação
T transformados. da presença viral. O GaHV-2 pode ser
4. Doença de Marek 61
isolado dos tecidos infectados em ovos estirpes de GaHV-2 são associadas à
embrionados (membrana corioalantoi- célula e mantidas em nitrogênio líqui-
de) [19] e em monocamadas primárias do [12, 17].
ou de linhagens contínuas [18]. Os iso-
lados podem ser classificados quanto ao Referências
patotipo, uma vez que há diferenças em 1. Barrow, A. and K. Venugopal. 1999. Molecular
characteristics of very virulent European GaHV-2
patogenicidade entre estirpes do soroti- isolates. Acta Virologica, vol. 43(2-3):90-93.
po 1 [12, 17, 21].
2. Beasley, J. N., L. T. Patterson, and D. H. McWade.
1970. Transmission of Marek’s disease by poultry
Prevenção e controle house dust and chicken dander. American Journal
of Veterinary Research 31:339-344.
A vacinação contra a DM é obriga- 3. Becker, Y., Y. Asher, E. Tabor, I. Davidson, M.
tória para todas as galinhas e frangos Malkinson, and Y. Weisman. 1992. Polymerase
chain reaction for differentiation between patho-
industriais no Brasil [4] e tem resul- genic and non-pathogenic serotype 1 Marek’s
tado em controle muito eficiente da disease viruses (GaHV-2) and vaccine viruses of
ocorrência da doença. A vacinação GaHV-2-serotypes 2 and 3. Journal of Virological
Methods 40:307-322.
in ovo é feita no 18º dia de incubação
4. Brasil. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
(ou seja, antes da eclosão), e a vacina- PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, GABINETE
ção do primeiro dia de vida (ainda no DO MINISTRO, INSTRUÇÃO NORMATIVA
Nº 56, DE 4 DE DEZEMBRO DE 2007.
incubatório) é feita via subcutânea.
5. Buscaglia, C., Nervi, P., & Risso, M. 2004.
As vacinas contra a DM utilizadas no Characterization of four very virulent Argentinian
Brasil são sempre vivas, simples ou strains of Marek’s disease virus and the influence
combinadas, e com um mínimo de of one of those isolates on synergism between
Marek’s disease vaccine viruses, Avian Pathology,
1.500 unidades formadoras de placas. 33:2, 190-195.
Há vacinas preparadas com estirpes 6. Calnek, B. W. and S. B. Hitchner. 1969. Localization
do GaHV-2 sorotipo 1 atenuadas (por of viral antigen in chickens infected with Marek’s
disease herpesvirus. Journal of the National Cancer
exemplo, CVI988/Rispens), sorotipo Institute 43: 935-949.
2 (por exemplo, SB1) naturalmente 7. Calnek, B. W., A. M. Alexander, and D. E. Kahn.
não patogênicas, ou vacina do soro- 1970. Feather follicle epithelium: a source of en-
veloped and infectious cell-free herpesvirus from
tipo 3, herpesvírus de perus (HVT, Marek’s disease. Avian Dis. 14: 219-233.
herpesvirus of turkeys). As vacinas
8. Davidson, I., A. Borovskaya, S. Perl, and M.
com HVT são as mais comumente Malkinson. 1995. Use of the polymerase chain re-
utilizadas, preparadas com a estirpe action for the diagnosis of natural infection of chi-
ckens and turkeys with Marek’s disease virus and
FC126, relacionada antigenicamente reticuloendotheliosis virus. Avian Pathol 24:69-94.
ao GaHV-2, e podem ser conserva- 9. Index of Viruses - Herpesviridae (2006). In:
das liofilizadas (sublimação a -40°C) ICTVdB - The Universal Virus Database, version
4. Büchen-Osmond, C (Ed), Columbia University,
ou em nitrogênio líquido (vírus asso- New York, USA. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
ciado à célula). Todas as vacinas com ICTVdb/Ictv/fs_index.htm

62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


10. Kross, I., P. J. Davis, and R. W. Shilleto. Isolation al., eds. Blackwell Publishing, Ames Iowa, USA,
of highly cytolytic GaHV-2 strains from Germany 452-514.
and Spain. Avian Pathology, vol. 27, no. 3, pp. 313-
315, 1998. 18. Sharma, J. M. 1998. Marek’s disease. In D. E.
Swayne, J. R. Glisson, M. W. Jackwood, J. E.
11. Laneya, D.B., A.E. Jones, M. Zerbes, G.A. Tannock. Pearson, and W. M. Reed (eds.). A laboratory ma-
1995. Isolation of serotype 1 Marek’s disease viru- nual for the isolation and identification of avian
ses from vaccinated Australian flocks. Veterinary pathogens, 4th ed. American Association of Avian
Microbiology. Volume 46(1-3):213-219. Pathologists: Kennett Square, PA, 116-124.
12. Marek’s disease. Manual of Diagnostic Tests 19. Sharma, J. M., Coulson, B, D, Young, E. Effect of
and Vaccines for Terrestrial Animals 2014, In Vitro Adaptation of Marek’s Disease Virus on
Chapter 2.3.13. OIE, World Organisation for Pock Induction on the Chorioallantoic Membrane
Animal Health http://www.oie.int/interna- of Embryonated Chicken Eggs. Infection and
tional-standard-setting/terrestrial-manual/ Immunity, Jan. 1976, p. 292-295.
access-online/
20. Silva, R. F. 1992. Differentiation of pathogenic and
13. Payne, L. N. 1985. Historical review. In L. N. Payne non-pathogenic serotype 1 Marek’s disease viruses
(ed.). Marek’s disease. Martinus Nijhoff: Boston,
(GaHV-2s) by the polymerase chain reaction am-
1-15.
plification of the tandem direct repeats within the
14. Roizman, B.; Knipe, D.M.; WhitleyIn, R.J. Herpes GaHV-2 genome. Avian Dis 36:521-528.
Simplex Viruses. In: Fields Virology, Editors Knipe,
21. Witter, R.L., B. W. Calnek, C. Buscaglia, I. M.
David M.; Howley, Peter M. 5th Edition, Lippincott
Williams & Wilkins, p. 2502-2601, 2007. Gimeno & K. A. Schat (2005): Classification of
Marek’s disease viruses according to pathotype:
15. Schat, K.A. 2005. Isolation of Marek’s disease vi- philosophy and methodology, Avian Pathology,
rus: revisited. Avian Pathology, 34, 91-95. 34:2, 75-90.
16. Schat, K. A. and B. W. Calnek. 1978. 22. Zhu, G. S., T. Ojima, T. Hironaka, T. Ihara, N.
Characterization of an apparently nononcoge- Mizukoshi, A. Kato, S. Ueda, and K. Hirai. 1992.
nic Marek’s disease virus. Journal of the National Differentiation of oncogenic and nononcogenic
Cancer Institute 60:1075-1082. strains of Marek’s disease virus type 1 by using
17. Schat, K.A., Nair, V (2008). Marek’s disease. In: polymerase chain reaction DNA amplification.
Diseases of Poultry, Twelfth Edition, Saif Y.M. et Avian Dis 36:637-645.

4. Doença de Marek 63
5. Anemia
infecciosa bigstockphoto.com

das galinhas
Sandra Yuliet Marin1
Priscilla Rochele Barrios2 - CRMV-MG 7173
Nelson Rodrigo da Silva Martins3 - CRMV 4809
1
Pós-doutoranda, médica veterinária, mestra e doutora, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Professora associada, médica veterinária, mestra e doutora, Departamento de Veterinária, UFLA
3
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG

A anemia infecciosa das galinhas infecções virais, agravam o quadro pa-


(AIG) é uma das mais importantes do- tológico. Em 1979, no Japão, entretan-
enças do sistema imune de galinhas do- to, com a descrição do vírus da anemia
mésticas. Por muito tempo, as doenças infecciosa das galinhas (CAV), inicia-se
anêmico-hemorrágicas foram pouco en- o esclarecimento da importante doença
tendidas, com confusões nas descrições [14]. O CAV pode ter estado envolvido
das patogenias da anemia infecciosa, na maioria dos episódios de doença anê-
da doença infecciosa bursal e das ade- mico-hemorrágica de etiologia infec-
noviroses, possivelmente em razão de ciosa descrita antes de sua descoberta.
as infecções naturais serem comumen- Aspectos importantes de CAV incluem
te combinadas [11]. Outras doenças sua alta resistência à desinfecção, a alta
hemorrágicas e que afetam o sistema disseminação nas aves tanto da indús-
imune e a medula óssea, como as mi- tria avícola mundial quanto da brasileira
cotoxicoses, muitas vezes associadas às [3, 4, 8, 11] e da avicultura familiar [1] e
64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
o permanente risco de contaminação de CAV [9]. Os estudos sobre a qualidade
vacinas [2, 8], que empregam cultivos das vacinas comerciais revelaram a pre-
primários ou embriões de galinhas. Por sença de tripla contaminação por CAV,
se tratar de doença que deprime ou mes- ARV e Aviadenovirus, indicando que as
mo suprime determinados aspectos da vacinas vivas contra a encefalomielite
competência imune celular, a AIG sig- aviária e a doença de Newcastle podem
nifica importante impacto econômico ter alterado significativamente a epide-
para a avicultura industrial, por reduzir a miologia desses vírus.
produtividade e a resposta às vacinações
e por resultar no aumento da suscepti- Etiologia
bilidade a agentes oportunistas [11]. A AIG é causada pelo vírus da ane-
Estudos experimentais observaram que mia das galinhas (chicken anemia vi-
a coinfecção em galinhas pelo CAV e rus – CAV), a única espécie no gênero
outros patógenos tem efeito sinérgico Gyrovirus, família Circoviridae, grupo
sobre lesões macroscópicas, imunode- caracterizado pelo genoma de DNA pe-
pressão e mortalidade. Em coinfecção queno (em torno de 2.300 bases nucle-
com o vírus da doença de Marek, a otídicas), fita simples e circular, e capsí-
mortalidade pode ser muito elevada, e a deo icosaédrico sem envelope de 23nm
coinfecção com Orthoreovirus da artrite de diâmetro (Fig. 1) [6, 13]. O CAV é
viral (ARV) resulta em baixo ganho de muito resistente à limpeza e desinfec-
peso e diminuição do hematócrito de ção, resistindo aos principais produtos
forma mais acentuada. Galinhas previa- desinfetantes. Há outros integrantes de
mente infectadas pelo vírus da doença Circoviridae no gênero Circovirus des-
infecciosa da bolsa (IBDV) apresenta- critos em outras espécies de aves, todos
ram anemia e imunodepressão poten- diferentes do CAV e entre si, como o cir-
cializadas quando inoculadas com o covírus da doença do bico e das penas

Figura 1. Gyrovirus

5. Anemia infecciosa das galinhas 65


dos psitacídeos, circovírus de canários tes e complicadores da epidemiologia.
(e outras aves passeriformes da família Vacinas vivas contaminadas podem ter
Fringillidae), gansos, gaivotas, pombos, modificado a epidemiologia da AIG,
etc., e outros descritos em mamíferos, com introdução de genótipos diferen-
como humanos e suínos [6, 11]. tes e agravamento da disseminação [8].
É interessante notar que a presença de
Epidemiologia CAV em vacinas contaminadas pode ter
A AIG tem transmissão vertical, da ocorrido antes da descrição de AIG no
matriz para a progênie, e horizontal, da Brasil [2]. Estudos demonstram a alta
ave infectada para a ave sensível, por disseminação de AIV tanto na indústria
contato direto ou indireto. A infecção avícola mundial [9] quanto na brasileira
vertical é geralmente mais grave e fatal [3, 4, 8, 11].
para os pintinhos, com o quadro típico
hemorrágico, de anemia e depressão Sinais clínicos e lesões
profunda do sistema imune. Quando A doença clínica em jovens ocorre
pintinhos muito jovens e sensíveis são por infecção de linfoblastos T no timo
colocados nos primeiros dias de vida e de mieloblastos na medula óssea, ti-
em contato com pintinhos infectados, picamente em aves jovens de até três
ocorre transmissão horizontal, e estes semanas de idade, geradas por matrizes
podem desenvolver, em poucos dias, infectadas (infecção vertical), ou nos
um quadro grave semelhante. A natu- primeiros dias misturados com os pin-
reza altamente resistente do AIV torna tinhos infectados. As principais caracte-
muito difícil a limpeza e desinfecção de rísticas clínico-patológicas que devem
instalações, mesmo em vazio sanitário, ser procuradas são anemia profunda,
resultando em permanente o risco de hematócrito inferior a 27%, palidez
infecção para quaisquer plantéis, inclu- (Fig. 2), hipoplasia da medula óssea
sive SPF [12]. (Fig. 3), atrofia e hemorragia no timo e
A ocorrência de AIG foi descrita no hemorragias musculares [11].
início dos anos 1970 [6], e o CAV foi Há infecção subclínica em casos de
isolado pela primeira vez no Japão, em carga de desafio viral mais baixa, imuni-
1979 (estirpe Gifu-1) [13]. O primeiro dade parcial ou estirpe de menor viru-
relato de ocorrência no Brasil aconteceu lência. As aves sobreviventes ao quadro
em 1991 [3]. A demonstração da pre- clínico ou subclínico são muito sensíveis
sença de CAV em galinhas da avicultu- às infecções oportunistas, têm baixo de-
ra familiar [1] e a produção de vacinas sempenho produtivo, e não respondem
nos anos 1990 foram documentadas adequadamente às vacinações [11].
no país [2], indicando fatores agravan- As atrofias do timo e da medula ós-
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
sea (examina-se o fêmur) são as lesões e pequenos focos de necrose folicular,
mais consistentes durante a faixa etária degeneração hidrópica do epitélio e
mais sensível, em aves de até três sema- proliferação de células reticulares [9].
nas de idade [10]. Nessa faixa etária, os Na medula óssea, a atrofia e a aplasia en-
poucos lóbulos residuais do timo apre- volvem todas as linhagens hematopoié-
sentam-se hemorrágicos (vermelho-es- ticas, com pequenos focos de necrose.
curos), em contraste com o timo róseo As perdas celulares hematopoiéticas
saudável com 5-7 lóbulos de cada lado são substituídas por células adiposas e
do pescoço na ave saudável.
As células atingidas são linfoblas-
tos de origem tímica e mieloblastos da
medula óssea (Fig. 4). As alterações
histopatológicas caracterizam-se por
anemia aplástica (panmyelophthisis) e
atrofia linfoide generalizada. No timo,
as perdas de linfócitos iniciam-se pelos
linfócitos corticais, e não estão afetadas
as células não linfoides (granulócitos e
tecido conjuntivo). A grave depleção de
linfócitos CD4+ e CD8+ ou o declínio
seletivo de CD8+ têm papel importante Figura 2. Pintinhos SPF com 28 dias inoculados
no mecanismo de imunodepressão. Um com CAV no primeiro dia de vida.
quadro ainda mais grave
de imunodepressão ocor-
re em infecção combinada
com o vírus da doença de
Gumboro e/ou micotoxi-
coses [11].
Com o avanço da in-
fecção, a depleção linfoide
atinge o córtex e a medula
do timo, com degenera-
ção hidrópica e necrose.
Lesões na bolsa cloacal
são menos expressivas e
incluem também a rare- Figura 3. Medula óssea hipoplásica de ave naturalmente infectada
fação/depleção linfoide por CAV.
5. Anemia infecciosa das galinhas 67
células do estroma (tecido conjuntivo). timo, e em histopatologia, rarefação lin-
Infecções experimentais demonstraram focitária nos órgãos linfoides generali-
início de regeneração medular aos 16- zada. Considerando-se os reprodutores
18 dias após a infecção (PI), com hiper- do plantel doente, torna-se importante
plasia regenerativa da medula óssea em a investigação de eventual falha na bios-
torno da quarta semana PI [11]. seguridade, protocolo ou estratégia de
imunoproteção e status sorológico para
Diagnóstico anticorpos anti-CAV.
O quadro anêmico-hemorrágico, CAV pode ser isolado em ovos de
a extrema palidez de crista, barbela e galinhas SPF ou em cultivos de células
musculatura e a mortalidade em pinti- linfoblastoides T, a partir, principalmen-
nhos (de linhagens leves e pesadas) de te, de linfócitos T do timo ou do baço.
até três semanas de idade podem suge- A transmissão vertical pode ser investi-
rir anemia das galinhas. A determinação gada no sangue, nos órgãos internos e
do hematócrito é informação auxiliar, o nas membranas da casca de embriões
qual está reduzido para menos que 27% [11]. Pode, também, ser isolado em pin-
nas aves doentes. Em jovens, à necrop- tinhos SPF de um dia de vida, os quais
sia, são observadas hemorragias, prin- são inoculados por via intramuscular ou
cipalmente musculares, palidez em mu- intraperitoneal, com a observação de
cosas, hipoplasia ou aplasia da medula lesões macroscópicas e o aparecimento
óssea (amarelada, pálida), atrofia do de anemia em 12 dias após a inoculação
(11). A amplifica-
ção de segmentos do
DNA em PCR é atu-
almente a ferramenta
de diagnóstico rápido.
Os produtos amplifi-
cados são visualizados
para estimar-se a mas-
sa molecular, e enca-
minha-se o sequen-
ciamento do DNA
para as comparações
com as sequências
descritas na literatura
Figura 4. Células infectadas por CAV.
Adaptado de: https://microbewiki.kenyon.edu /index.php/
científica. As reações
Chicken_Anemia_Virus_and_Depression. são principalmente
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
desenhadas para a amplificação do gene ção, e eventuais falhas de biossegurida-
que codifica a proteína VP1 estrutural. de podem determinar o desafio em regi-
Pacotes de ELISA comerciais (kits, por ões densamente povoadas.
exemplo, da Idexx, Synbiotics ou outro Mantidos sob rigorosa biossegu-
fabricante) podem ser empregados para ridade, os reprodutores podem ser va-
o monitoramento de anticorpos anti- cinados entre a 12ª e 15ª semanas de
-CAV em plantéis de reprodução [11]. idade, para chegarem à maturidade (23ª
semana) protegidos. Algumas estirpes
Prevenção e controle vacinais destinadas aos reprodutores
As estratégias de prevenção da ane- podem representar risco para aves jo-
mia das galinhas objetivam evitar a do- vens mantidas próximas.
Não há até o momento antiviral para
ença do sistema imune, associada à per-
circovírus de aplicação prática em avi-
da precoce do timo e à atrofia da medula
cultura. Para terapia de suporte, podem
óssea em aves jovens, a forma mais grave
ser empregados princípios antibacteria-
de apresentação. Uma estratégia preven-
nos e antimicóticos, embora o dano ao
tiva envolve evitar o desafio de reprodu-
sistema imune possa ser muito grave e
tores e de aves jovens com medidas de
inviabilizar economicamente o plantel.
biosseguridade. Outra estratégia pode
ser a vacinação durante a puberdade dos
Referências
reprodutores, para assegurar imunida-
1. Barrios, P.R. ; Marín, S.Y.G.; Resende, M. ; Rios,
de durante a vida reprodutiva. Um dos R.L. ; Resende, J.S. ; Horta, R.S. ; Costa, M.P. ;
principais objetivos da vacinação é a eli- Martins, N.R.S. 2009. Occurrence of chicken ane-
mia virus in backyard chickens of the metropolitan
minação da transmissão vertical, evitan- region of Belo Horizonte, Minas Gerais. Revista
do a infecção vertical dos jovens, modo Brasileira de Ciência Avícola / Brazilian Journal of
Poultry Science, v. 11, p. 135-138.
de infecção mais grave para o sistema
2. Barrios, Priscilla R.; Marin, Sandra Y.G.; Rios,
imune. Embora a proteção dos repro- Renata L.; Pereira, Claiton G.; Resende, Mauricio;
dutores transfira anticorpos de proteção Resende, José S.; Martins, Nelson R. S. 2012.
A retrospective PCR investigation of avian
passiva que atingem a circulação do pin- Orthoreovirus, chicken infectious anemia and
tinho (IgG), demonstrou-se transmis- fowl Aviadenovirus genomes contamination in
commercial poultry vaccines in Brazil. Arquivo
são vertical de vírus e anticorpos [5]. Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.
A adoção de política de biosseguri- 64, p. 231-235.
dade na criação, sem misturas de proce- 3. Brentano, L., N. Mores, I. Wentz, D. Chandratilleke,
and K. A. Schat. 1991. Isolation and identification
dências e de idades diferentes, é estraté- of chicken infectious anemia virus in Brazil. Avian
gia recomendada para todas as doenças Dis 35:793-800.
infecciosas e pode ser um benefício para 4. Canal, C. W.; Ferreira, D. J.; Macagnan, M. et al.
2004. Prevalence of antibodies against chicken
evitar diversos patógenos relevantes. anemia virus in broiler breeders in Southern Brazil.
Entretanto, o CAV é de difícil desinfec- Pesqui. Vet. Bras., v. 24, n.2, p. 89-92.

5. Anemia infecciosa das galinhas 69


5. Cardona, C. J., W. B. Oswald, and K. A. Schat. Tese de doutorado. Universidade Federal de Minas
2000. Distribution of chicken infectious anemia vi- Gerais.
rus in the reproductive tissues of specific pathogen-
free chickens. J Gen Virol 81:2067-2075. 10. Miller, M.M., Ealey, K.A., Oswald, W.B., Schat,
K.A. (2003) Detection of chicken anemia virus
6. ICTVdB Management (2006). 00.016.0.02.001. DNA in embryonal tissues and eggshell mem-
Chicken anemia virus. In: ICTVdB - The branes. Avian Dis 47, p. 662-671.
Universal Virus Database, version 4. Büchen-
Osmond, C. (Ed), Columbia University, New 11. Schat, K. A.; Van Santen, V. 2008. Chicken Anemia
York, USA. http://ictvdb.bio-mirror.cn/ Virus. In: Saif, Y.M., Fadly, A.M., Glisson, J.R.,
ICTVdB/00.016.0.02.001.htm. Mcdougald, L.R., Nolan, L. K. And Swayne D.E.
(Eds.), Diseases of Poultry. 12th ed. Ames, Iowa
7. Jakowski, R. M., T. N. Fredrickson, T. W. Chomiak, State University, p. 211-235.
and R. E. Luginbuhl. 1970. Hemapoietic destruc-
tion in Marek’s disease. Avian Dis 14, p. 374-385. 12. Schat, K.A., Schukken, Y.H. 2010. An 8-year lon-
gitudinal survey for the presence of antibodies to
8. Marin, Sandra Y. G.; Barrios, Priscilla R.; Rios, chicken infectious anemia virus in two specific-
Renata L. ; Resende, Maurício; Resende, José S.; pathogen-free strains of chickens. Avian Dis. 54(1),
Santos, Bernadete M.; Martins, N. R. S.. 2013. p. 46-52.
Molecular Characterization of Contaminating
Infectious Anemia Virus of Chickens in Live 13. Viral Zone. Gyrovirus. http://viralzone.expasy.
Commercial Vaccines Produced in the 1990s. org/all_by_protein/117.html.
Avian Diseases, v. 57, p. 15-21. 14. Yuasa N., Taniguchi T., Yoshida I. 1979. Isolation
9. Marin, Sandra Y. G. 2012. Anemia Infecciosa das and some characteristics of an agent inducing ane-
Galinhas: Diagnóstico, Epidemiologia e Filogenia. mia in chicks. Avian Dis., 23 p. 366-385.

70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


6. Doença
infecciosa
bursal
Nelson Rodrigo da Silva Martins1 - CRMV-MG 4809
Maurício Resende2
Priscilla Rochele Barrios3 - CRMV-MG 7173
Sandra Yuliet Marin4
1
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Professor aposentado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
3
Professora Adjunta médica veterinária, mestre e doutora, Departamento de Veterinária, UFLA bigstockphoto.com
4
Pós-doutoranda, Escola de Veterinária, UFMG

A doença infecciosa bursal (DIB), linhagens de linfócitos B e redução da


também conhecida como doença viabilidade das aves industriais, com au-
de Gumboro, em referência à cida- mento da condenação por oportunismo
de dos Estados Unidos (no estado de infeccioso. A DIB está em muitos casos
Delaware) onde foi descrita pela pri- naturais, em infecção associada à ane-
meira vez, é uma das principais doen- mia infecciosa das galinhas, causada por
ças a comprometer a imunocompetên- um circovírus que atinge linfócitos T
cia em aves. A doença (timo). As coinfecções,
atinge principalmente a inclusive com outros
bolsa cloacal (BC), ou-
A doença é importante vírus, como adenovírus
tro nome para a bolsa de
pela alta morbidade, e reovírus, e bactérias,
Fabricius, destruindo os
alta a moderada como Escherichia coli e
linfoblastos B, precur-
mortalidade, Clostridium, resultam
sores dos plasmócitos,
imunodepressão por em maior comprome-
estes responsáveis pela
perda na diversidade de timento das funções
síntese de anticorpos.
linhagens de linfócitos B sistêmicas e do sistema
A doença é importante
e redução da viabilidade imune, com maior mor-
pela alta morbidade, alta
das aves industriais, bidade, maior mortali-
a moderada mortalida-
com aumento da dade e maior perda da
de, imunodepressão por
condenação por imunocompetência [12,
perda na diversidade de
oportunismo infeccioso. 25, 26].
6. Doença infecciosa bursal 71
Etiologia A DIB é causada Transmissão e
A DIB é causada pelo pelo vírus da doença doença
vírus da doença infec- infecciosa bursal A DIB é doença de
ciosa bursal (infectious (infectious bursal transmissão horizontal
bursal disease virus – disease virus – IBDV), da ave ou do ambiente
IBDV), um birnavirus um birnavírus infectado para a ave sus-
(família Birnaviridae). integrante da família ceptível, direta ou indi-
Os birnavírus são carac- Birnaviridae. reta, principalmente via
terizados por genoma fecal-oral, mas também
RNA de fita dupla em dois segmentos por inalação de poeira/aerossóis fecais.
(razão para o nome, bi-RNA-vírus) A infecção se dá em macrófagos e linfó-
e partículas (vírions) sem envelope. citos B imaturos. A doença clínica ocor-
A cápsula proteica (capsídeo) tem a re em G. g. domesticus por vírus do soro-
proteína VP2 como principal antíge- tipo 1. As lesões concentram-se na bolsa
no determinante da patogenicidade e cloacal (BC), nos rins, nos intestinos e
imunogenicidade, na qual há variações nos vasos sanguíneos dos músculos es-
determinadas por mutações na região queléticos [12, 25, 26]. Em plantéis jo-
vens sensíveis, tipicamente, a DIB surge
codificadora no geno-
de forma rápida e atinge
ma [11]. Em Gallus
As lesões concentram- morbidade de 100%,
gallus domesticus indus-
se na bolsa cloacal, nos causando apatia (Fig. 1),
triais (frangos de corte
rins, nos intestinos e nos diarreia e morte.
e galinhas) no Brasil, vasos sanguíneos dos Na BC, há progres-
têm ocorrido surtos músculos esqueléticos. sivo aumento de volume
com estirpes de IBDV Em plantéis jovens até aproximadamente
clássicas (tipo 52/70) sensíveis, tipicamente, quatro dias de infecção,
desde 1978 e de alta a DIB surge de forma com edema (Fig. 2),
virulência (vvIBDV) rápida e atinge hemorragia, transuda-
desde 1995. No mun- morbidade de 100%, to fibrinoso na serosa e
do, os IBDV clássicos causando apatia, muco na mucosa. A par-
foram descritos a par- diarreia e morte. tir do quarto dia, há gra-
tir de 1962 (Gumboro, dual redução do tama-
Estados Unidos), de- nho bursal, até a atrofia
pois em várias partes do mundo, e os completa no sétimo dia após a infecção,
vvIBDV foram primeiramente descri- coincidindo com o período de sinais
tos na Europa, no final dos anos 1980 clínicos e diarreia, profunda prostração
[2, 6, 7, 16, 17, 18, 22, 43, 47]. (Fig. 1) e inatividade. Após a fase clínica
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
Fig. 2. Frango de corte. Bolsa de Fabricio aumen-
Fig. 1. Frango de corte. Ave com apatia, pescoço tada de volume. Notar o aspecto amarelado das
recolhido (“encorujada”) e penas sujas, resultan- pregas visíveis através da serosa, resultante do
te de diarreia. edema (seta).

há recuperação clínica dos sobreviven- jovens entre três e seis a oito semanas de
tes no plantel, embora grande parte dos idade de frangos e galinhas. À necropsia,
indivíduos esteja com grave perda da observam-se hemorragias nos múscu-
competência imune humoral [12, 25, los esqueléticos, principalmente coxas,
26]. pernas e peito, e a BC está aumentada
A infecção de aves jovens suscep- (Fig. 2), podendo apresentar edema
tíveis com estirpes clássicas resulta em transudativo gelificado na face serosa
alta morbidade (100%) e mortalidade até o terceiro ou quarto dias de infec-
moderada (média de até 30%), caracte- ção, ou atrofiado, do quarto ao sétimo
rizada por diarreia, desidratação, pros- dias de curso clínico. Na mucosa bursal,
tração (Fig. 1), inatividade, redução do são observáveis petéquias, sufusões ou
consumo de alimento e aumento súbito hemorragias luminais ou pontos claros,
da mortalidade. Em aves jovens, a doen- correspondentes à vacuolização folicu-
ça surge de forma aguda ou superaguda, lar. Os rins podem estar aumentados,
tipicamente com até sete dias de curso pálidos, por acumulação de uratos, ou
clínico. A manifestação de doença clíni- hemorrágicos, e os ureteres podem con-
ca está associada à existência do órgão- ter uratos, por desidratação. As hemor-
-alvo – a bolsa cloacal – em seu tamanho ragias são observadas, além da muscula-
máximo relativo à massa corporal da tura esquelética, também na mucosa do
ave, com alta disponibilidade de células- proventrículo, na mucosa de transição
-alvo (linfoblastos B) disponíveis para a entre proventrículo e moela, no intesti-
replicação viral, condição que ocorre em no delgado (placas de Peyer) e nas ton-
6. Doença infecciosa bursal 73
silas cecais. À histopa- linfocitária de órgãos
A forma subclínica é a
tologia, a BC apresenta
mais importante quanto linfoides secundários,
folículos linfoides com com graves efeitos ne-
ao impacto negativo
rarefação linfocitária, gativos na competência
para o sistema imune,
atrofia folicular, necrose
conhecida como doença imune. Tipicamente,
e cistos foliculares (Fig. quanto mais jovem a ave
imunossupressora,
3). Nas primeiras horas infectada, maior a des-
e ocorre em aves
do início da infecção, truição dos precurso-
jovens antes de haver
há grande aumento da
colonização linfocitária res linfocitários (maior
apoptose (morte celular supressão imune), os
de órgãos linfoides
programada) linfocitá-
secundários, com graves linfócitos ainda concen-
ria bursal. A doença por efeitos negativos na trados na BC, e menor
estirpes vvIBDV (de alta competência imune. apresentação clínica. O
virulência) pode ocorrer fator agravante dessa
em todas as idades, tem forma é a falta de indica-
o quadro clínico-patológico mais grave, dores clínicos, que resulta na formação
com morbidade e mortalidade próxi- de plantéis com alta susceptibilidade
mas de 100%. a agente(s) de infecção oportunista, e
A forma subclínica é a mais impor- a falta ou baixa resposta imune às va-
tante quanto ao impacto negativo para cinações, condições apenas percebidas
o sistema imune, conhecida como do- após grande investimento na criação
ença imunossupressora, e ocorre em do plantel. A redução ou falta de colo-
aves jovens antes de haver colonização nização linfocitária dos órgãos linfoi-
des secundários se deve à lise dos pre-
cursores de linfócitos B ainda na bolsa
cloacal, destruída no jovem antes das
três primeiras semanas de vida [9, 20,
21].

Diagnóstico
Em aves jovens, a infecção por es-
tirpes clássicas, tem como indicadores
Fig. 3. Frango de corte. Corte histológico de bolsa
para suspeita, a idade entre três e seis
cloacal atrofiada por inoculação experimental da semanas de vida, o surgimento agudo e
estirpe 52/70. Notar a redução das pregas, com de curta duração, de até sete dias, com
grande aumento relativo do espaço do lúmen,
necrose dos folículos linfóides (F), com formação grave prostração, diarreia, hemorragias
de folículos císticos e vacuolizados (V). musculares e aumento, hemorragia e/
74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
ou atrofia da bolsa cloacal, variável com Prevenção e controle
o tempo após a infecção. A avaliação his-
As primeiras estirpes usadas para a
topatológica da BC revela rarefação lin-
imunização de matrizes e para a indução
focitária, hemorragias, cistos e necrose
de anticorpos passivos apresentavam
foliculares (Fig. 3). Entretanto, lesões
alta patogenicidade para jovens [16].
semelhantes na BC podem ser obser-
A prevenção da DIB, a partir dos anos
vadas em outras doenças, como na do-
1970, propunha a vacinação das ma-
ença de Marek, e algumas micotoxico-
trizes com vacina inativada oleosa [40,
ses. O diagnóstico diferencial pode
45] para a proteção passiva das progê-
exigir a imuno-histoquímica para a
nies, pela transferência
detecção de antígenos
A RT-PCR pode ser de anticorpos da classe
de IBDV nos linfoblas-
tos B, podendo, entre- uma ótima ferramenta IgG (IgY) aos pintinhos
de diagnóstico, por pela gema. Entretanto, a
tanto, mesmo a imuno- partir do final dos anos
-histoquímica não ser permitir a detecção e
conclusiva, tendo em caracterização genética 1980, surgiram estirpes
das estirpes de IBDV. variantes de alta viru-
vista a alta dissemina- lência, com aumento do
ção de vírus vacinais na desafio ambiental (devi-
avicultura industrial. do à alta resistência de IBDV à desin-
A RT-PCR pode ser uma ótima fer- fecção), capazes de superar a imunidade
ramenta de diagnóstico, por permitir a passiva dos pintinhos, tornando-se ne-
detecção e caracterização genética das cessária a vacinação das progênies, com
estirpes de IBDV, com possível dife- vistas à indução de imunidade ativa [2,
renciação entre estirpe(s) vacinal(is) 6, 7, 16, 17, 18, 22, 43, 47]. A imunida-
e de campo. de ativa é mediada por todos os efetores
O diagnóstico sorológico, com a da resposta imune, sendo mais eficiente
detecção de anticorpos para IBDV e, principalmente, adaptativa. Para a re-
por ELISA, pode ser ferramenta em dução da virulência residual das estirpes
plantéis não vacinados, mas de difícil vacinais adaptadas ao ovo embrionado,
interpretação em núcleos ou gran- estirpes foram adaptadas ao cultivo de
jas com múltiplas idades e diferentes células [35]. Atualmente, para a preven-
épocas de vacinação, o que permite o ção contra as estirpes de alta virulência
intercâmbio de infecções vacinais. É (vvIBDV), há a necessidade da vacina-
importante destacar que, nessas con- ção precoce, no 18º dia de incubação
dições, surgem as oportunidades para ou no primeiro dia de vida. No entanto,
a reversão de virulência das estirpes desde 1995, no Brasil, o desafio de IBD
vacinais. ressurgiu com força, causando doença
6. Doença infecciosa bursal 75
em aves jovens vacina- (1994). VP2 sequences of recent
Os riscos e o grande European ‘very virulent’ isolates of
das, possivelmente pela
efeito imunopatogênico infectious bursal disease virus are
acumulação ambiental closely related to each other but
de algumas estirpes are distinct from those of classical
do vírus, que é de alta
vacinais foram descritos strains. J. Gen. Virol., 75, 675-680.
resistência, e/ou pela
em diversos países e no 3. DARTEIL R., BUBLOT M.,
ocorrência de estirpes LAPLACE E., BOUQUET J.F.,
Brasil. AUDONNET J.C. & RIVIERE
de vvIBDV. Hoje, as no- M. (1995). Herpes virus of turkey
vas condições de risco recombinant viruses expressing
infectious bursal disease virus (IBDV) VP2 immu-
exigem, além da vacinação precoce, a nogen induces protection against an IBDV virulent
implantação de biosseguridade rigorosa challenge in chickens. Virology, 211, 4781-4790.
nas granjas. Todavia, os riscos e o gran- 4. DIAS, C. C. A., de OLIVEIRA SOUZA, F., da
de efeito imunopatogênico de algumas SILVA, E. M. S. A., ELLER, M. R., BARRIOS,
P. R., dos SANTOS, B. M., MORAES, M. P., de
estirpes vacinais foram descritos em ALMEIDA, M. R. (2009). Sequencing and phy-
diversos países e no Brasil [1, 4, 5, 16, logenetic analysis of the infectious bursal dis-
ease virus isolates from outbreak in layer flocks
30], com a reversão de virulência por in the state of Minas Gerais. Brazilian Journal of
mudança de apenas um aminoácido na Microbiology, 40(1), 205–207. doi:10.1590/
S1517-838220090001000036
posição 253 da proteína VP2 (17). No
5. EDWARDS, K.R., MUSKETT, J.C., THORNTON,
Brasil, foi relatado episódio de doença D.H. (1982) Duration of immunosuppression
por estirpe vacinal [4]. O escape vacinal caused by a vaccine strain of infectious bursal dis-
ease virus. Res Vet Sci. Jan;32(1):79-83.
entre lotes, principalmente das estirpes
vacinais de baixa atenuação, pode resul- 6. ETERRADOSSI N., ARNAULD C., TOQUIN
D. & RIVALLAN G. (1998). Critical amino acid
tar em doença por infecção precoce em changes in VP2 variable domain are associated
with typical and atypical antigenicity in very viru-
lotes sensíveis. Por essa razão, recomen- lent infectious bursal disease viruses. Arch. Virol.,
da-se a uniformização do manejo com 143, 1627-1636.
idade única por núcleo, para permitir a 7. ETERRADOSSI N., PICAULT J.P., DROUIN
vacinação simultânea de todas as aves. P., GUITTET M., L’HOSPITALIER R. &
BENNEJEAN G. (1992). Pathogenicity and pre-
Não há tratamento antiviral disponível, liminary antigenic characterization of six infectious
e a terapia antibacteriana ou antimicóti- bursal disease virus strains isolated in France from
acute outbreaks. J. Vet. Med. [B], 39, 683-691.
ca para as infecções oportunistas pode
8. ETERRADOSSI N., RIVALLAN G., TOQUIN D.
não obter sucesso pelo fato de a debili- & GUITTET M. (1997). Limited antigenic varia-
tação do sistema imune ser persistente. tion among recent infectious bursal disease virus
isolates from France. Arch. Virol., 142, 2079-2087.

Referências 9. FAHEY K.J., MCWATERS P., BROWN M.A.,


ERNY K., MURPHY V.J. & HEWISH D.R.
1. BOUDAOUD, A., ALLOUI, N. (2008). (1991). Virus-neutralizing and passively protective
Evaluation of the safety of live attenuated vaccine monoclonal antibodies to infectious bursal disease
viruses against infectious bursal disease (Gumboro virus of chickens. Avian Dis., 35, 365-373.
disease) in conventional broiler chicks. Rev Sci
Tech. Dec;27(3):793-802. 10. HADDAD E.E., WHITFILL C.E., AVAKIAN
A.P., RICKS C.A., ANDREWS P.D., THOMA J.A.
2. BROWN M.D., GREEN P. & SKINNER M.A. & WAKENELL P.S. (1997). Efficacy of a novel in-

76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


fectious bursal disease virus immune complex vac- D., DARLU P., MORIN Y., BEVEN V., DE
cine in broiler chickens. Avian Dis., 41, 882-889. BOISSESON C., CAZABAN C., GARDIN Y. &
ETERRADOSSI N. (2006). Very virulent infec-
11. ICTVdB Management (2006). 00.009.0.02.001.
tious bursal disease virus: reduced pathogenicity in
Infectious bursal disease virus. In: ICTVdB - The
a rare natural segment B-reassorted isolate. J. Gen.
Universal Virus Database, version 4. Büchen-
Virol., 87, 209-216.
Osmond, C. (Ed), Columbia University, New
York, USA. 23. LIM B.L., CAO Y., YU T. & MO C.W. (1999).
Adaptation of very virulent infectious bursal dis-
12. Infectious bursal disease (Gumboro disease)
ease virus to chicken embryonic fibroblasts by site-
Chapter 2.3.12. - OIE Terrestrial Manual 2008.
directed mutagenesis of residues 279 and 284. J.
13. JACKWOOD D.H. & SAIF Y.M. (1987). Virol., 73, 2854-2862.
Antigenic diversity of infectious bursal disease vi-
24. LIN Z., KATO A., OTAKI Y., NAKAMURA T.,
ruses. Avian Dis., 31, 766-770.
SASMAZ E. & UEDA S. (1993). Sequence com-
14. JACKWOOD D.J. & JACKWOOD R.J. (1997). parisons of a highly virulent infectious bursal
Molecular identification of infectious bursal dis- disease virus prevalent in Japan. Avian Dis., 37,
ease virus strains. Avian Dis., 41, 97-104. 315-323.
15. JACKWOOD D.J. (1990). Development and char- 25. LUKERT P.D. & SAIF Y.M. (1997). Infectious
acterization of nucleic acid probes to infectious bursal disease. In: Diseases of Poultry, Tenth
bursal disease viruses. Vet. Microbiol., 24, 253-260. Edition, Calnek B.W., ed. Iowa State University
Press, Ames, Iowa, USA, 721-738.
16. JACKWOOD, D.J., SOMMER, S.E. (2002).
Virulent vaccine strains of infectious bursal disease 26. LUKERT, P.D. and SAIF, Y.M. (2003) Infectious
virus not distinguishable from wild-type viruses Bursal Disease. In: Saif YM, Barnes HJ, Glisson JR,
with marker the use of a molecular. Avian Dis. Fadly AM, Dougald MC, Swayne DE (eds) Disease
Oct-Dec;46(4):1030-2. of Poultry, 11th ed. Iowa State University Press,
Ames, pp 161-179.
17. JACKWOOD, D. J., SREEDEVI, B., LEFEVER,
L. J., SOMMER-WAGNER, S. E. (2008). Studies 27. MARQUARDT W.W., JOHNSON R.B.,
on naturally occurring infectious bursal disease vi- ODENWALD W.F. & SCHLOTTHOKEN B.A.
ruses suggest that a single amino acid substitution (1980). An indirect enzyme-linked immunosor-
at position 253 in VP2 increases pathogenicity. bent assay (ELISA) for measuring antibodies in
Virology, 377, pp. 110-116 chickens infected with infectious bursal disease
virus. Avian Dis., 24, 375-385.
18. KOUWENHOVEN B. & VAN DER BOS J.
(1993). Control of very virulent infectious bursal 28. MEULEMANS G., ANTOINE O. & HALEN P.
disease (Gumboro disease) in the Netherlands (1977). Application de l’immunofluorescence au
with so called ‘hot’ vaccines. Proceedings of diagnostic de la Maladie de Gumboro. OIE Bull.,
the 42nd Western Poultry Disease Conference, 88, -225–229.
Sacramento, California, USA, 37-39.
29. MUNDT E. (1999). Tissue culture infectivity of
19. KWANG M.J., LU Y.S., LEE L.H., LIN D.F., LIAO different strains of infectious bursal disease virus is
Y.K. LEE C. & LEE Y.L. (1987). Detection of in- determined by distinct amino acids in VP2. J. Gen.
fectious bursal disease viral antigen prepared from Virol., 80, 2067-2076.
the -cloacal bursa by ELISA. J. Chin. Soc. Vet. Sci.,
30. MUSKETT J.C., HOPKINS I.G., EDWARDS
13, 265-269.
K.R. & THORNTON D.H. (1979). Comparison
20. LASHER H.N. & SHANE S.M. (1994). Infectious of two infectious bursal disease vaccine strains:
bursal disease. World’s Poult. Sci., 50, 133-166. Efficacy and potential hazards in susceptible and
maternally immune birds. Vet. Rec., 104, 332-334.
21. LE NOUEN C., RIVALLAN G., TOQUIN D. &
ETERRADOSSI N. (2005). Significance of the ge- 31. ROSENBERGER J.K. & CLOUD S.S (1986).
netic relationships deduced from partial nucleotide Isolation and characterization of variant infectious
sequencing of infectious bursal disease virus ge- bursal disease viruses. J. Am. Vet. Med. Assoc., 189,
nome segments A or B. Arch. Virol., 150, 313-325. 357.
22. LE NOUEN C., RIVALLAN G., TOQUIN 32. ROSENBERGER J.K., KLOPP S., ECKROADE

6. Doença infecciosa bursal 77


R.J. & KRAUSS W.C. (1975). The role of the infec- 39. THORNTON D.H. & PATTISON M. (1975).
tious bursal agent and several adenoviruses in the Comparison of vaccines against infectious bursal
hemorrhagic-aplastic anaemia syndrome and gan- disease. J. Comp. Pathol., 85, 597-610.
grenous dermatitis. Avian Dis., 19, 717–729.
40. VAKHARIA V.N., HE J., AHAMED B. & SNYDER
33. ROSENBERGER, J. K., SAIF, Y. M.; JACKWOOD, D.B. (1994). Molecular basis of antigenic variation
D. J. (1998) Chapter 43. In: Laboratory Manual in infectious bursal disease virus. Virus Res., 31,
for the Isolation and Identification of Avian 265-273.
Pathogens, Fourth Edition. AAAP, AMERICAN
ASSOCIATION OF AVIAN PATHOLOGISTS 41. VAN DEN BERG T.P. & MEULEMANS G.
University of Pennsylvania, New Bolton Center, (1991). Acute infectious bursal disease in poultry:
Kenneth Square, PA 19348-1692, USA. protection afforded by maternally derived antibod-
ies and interference with live vaccination. Avian
34. SCHNITZLER D., BERNSTEIN F., MÜLLER Pathol., 20, 409-421.
H. & BECHT H. (1993). The genetic basis for the
antigenicity of the VP2 protein of the infectious 42. VAN DEN BERG T.P. (2000). Acute infectious
bursal disease virus. J. Gen. Virol., 74, 1563-1571. bursal disease in poultry: a review. Avian Pathol.,
29, 175-194.
35. SKEELES J.K., LUKERT P.D., FLETCHER O.J.
& LEONARD J.D. (1979). Immunisation studies 43. VAN DEN BERG T.P., GONZE M., MORALES
with a cell-culture adapted infectious bursal virus. D. & MEULEMANS G. (1996). Acute infectious
Avian Dis., 23, 456-465. bursal disease in poultry: immunological and mo-
lecular basis of antigenicity of a highly virulent
36. SMILEY J.R., SOMMER S.E. & JACKWOOD strain. Avian Pathol., 25, 751-768.
D.J. (1999). Development of a ssRNA internal
control reagent for an infectious bursal disease vi- 44. WU C.C., LIN T.L., ZHANG H.G., DAVIS V.S. &
rus reverse transcription / polymerase chain reac- BOYLE J.A. (1992). Molecular detection of infec-
tion – restriction fragment length polymorphism tious bursal disease virus by polymerase chain reac-
diagnostic assay. J. Vet. Diagn. Invest., 11, 497-504. tion. Avian Dis., 36, 221-226.

37. SNYDER D.B., LANA D.P., SAVAGE P.K., 45. WU C.C., RUBINELLI P. & LIN T.L. (2007).
YANCEY F.S., MENGEL S.A. & MARQUARDT Molecular detection and differentiation of infec-
W.W. (1988). Differentiation of infectious bursal tious bursal disease virus. Avian Dis., 51, 515-526.
disease viruses directly from infected tissues with 46. WYETH P.J. & CULLEN G.A. (1979). The use of
neutralizing monoclonal antibodies: Evidence for an inactivated infectious bursal disease oil emul-
a major antigenic shift in recent field isolates. Avian sion vaccine in commercial broiler parent chickens.
Dis., 32, 535-539. Vet. Rec., 104, 188-193.
38. SNYDER D.B., VAKHARIA V.N. & SAVAGE P.K. 47. ZIERENBERG K., RAUE R., & MULLER H.
(1992). Naturally occurring-neutralizing mono- (2001). Rapid identification of very virulent
clonal antibody escape variants define the epide- strains of infectious bursal disease virus by reverse
miology of infectious bursal disease viruses in the transcription-polymerase chain reaction combined
United States. Arch. Virol., 127, 89-101. with restriction enzyme analysis. Avian Pathol., 30,
55-62.

78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


7. Laringotraqueíte
infecciosa das aves
e diagnóstico
diferencial
de outras
doenças
respiratórias
Roselene Ecco1 - CRMV MG 8324
Nelson Rodrigo da Silva Martins2 - CRMV-MG 4809
1
Professora associada, médica veterinária, mestra e doutora, Departa-
mento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, UFMG
2
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP,
Escola de Veterinária, UFMG

bigstockphoto.com

Etiologia e subfamília Herpesvirinae. O vírus é


taxonomicamente identificado como
A laringotraqueíte infecciosa (LTI) Gallid herpesvirus 1 (GaHV-1)14. Na
é uma infecção viral microscopia eletrônica,
e de distribuição cos- A laringotraqueíte GaHV-1 é caracterizado
mopolita que acomete infecciosa (LTI) é por partículas virais ico-
especialmente o trato uma infecção viral saédricas e com envelo-
respiratório superior e a e de distribuição pe, medindo entre 195 e
conjuntiva das aves co- cosmopolita que 250nm de diâmetro21,27.
merciais . O vírus da
21,33 acomete especialmente O genoma é constituído
laringotraqueíte perten- o trato respiratório por fita dupla de DNA,
ce ao gênero Iltovirus, superior e a conjuntiva com aproximadamente
família Herpesviridae das aves comerciais. 155Kb, possuindo em
7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 79
torno de 48% de resíduos de guanina Colômbia, no Uruguai e no Brasil.
(G) e citosina (C)17. A galinha é o hos- No Brasil, a doença foi descrita
pedeiro primário e natural do GaHV-1, pela primeira vez por Hipolito et al.23.
mas a doença também foi relatada em Posteriormente, o vírus foi identifi-
faisões21 e em perus36. cado em lotes de galinhas com sinais
respiratórios em estados do Sul4 e no
Distribuição e ocorrência estado de São Paulo28,46. No estado de
O vírus da LTI tem sido identificado Minas Gerais, a doença foi identifi-
em vários países e a doença permanece cada em galinhas poedeiras nas gran-
como um grave problema na popula- jas das terras altas da Mantiqueira37 e
ção avícola. Quando surtos ocorrem, em galinhas de subsistência da mes-
é responsável por grandes perdas ma região38. Entre os anos de 2003 e
econômicas, causadas pela queda na 2010, foram notificados ao Ministério
produção de ovos, pelo aumento da da Agricultura os seguintes focos de
mortalidade, pela perda de peso e pela LTI no Brasil: Bastos (SP), Paranoá
predisposição a outras doenças res- (DF), Toledo (PR), Westfalia (RS),
piratórias25,33,35. É descrita principal- Guatapará (SP), Pedralva e Terras
mente em áreas de produção intensiva Altas da Mantiqueira (MG). Nas gran-
com alta densidade populacional e em jas das Terras Altas da Mantiqueira,
países como EUA, China, Austrália, de Bastos e de Guatapará, a doença
bem como na Europa e no sul da Ásia. está sendo controlada com vacinação.
A LTI em galinhas é controlada pelo Inicialmente, a vacina CEO foi intro-
uso de vacinas com o vírus vivo21. duzida nas granjas de Bastos, e a va-
Essas vacinas foram produzidas ate- cina TCO nas granjas de Guatapará.
nuando o GaHV-1 por passagens Em Bastos, quando a mortalidade
sequenciais em ovos embrionados cessou, a vacina CEO foi substitu-
(CEO - chicken embryon origin)40 ou ída pela TCO. Nas Terras Altas da
por múltiplas passagens em cultura Mantiqueira, as vacinas vetoradas uti-
de células (TCO – tissue cell origin)20. lizando como vetores o FPV (do inglês
Entretanto, em 2001, foi identificada fowl poxvirus) e o HVT (do inglês herpes-
a forma de laringotraqueíte infecciosa virus of turkey) foram introduzidas para
leve (silenciosa) no estado da Georgia o controle. Posteriormente, as outras
(EUA), cuja ocorrência aumentou duas regiões substituíram a vacina TCO
progressivamente42. Essa forma da pelas vacinas vetoradas. Nas demais lo-
doença tem sido associada com o uso calidades as aves foram sacrificadas, e as
de vacinas vivas. A doença também granjas repovoadas com aves não infec-
foi diagnosticada na Argentina, na tadas pelo vírus da LTI (informação ver-
80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
bal: Bruno R. Pessamilio em vetores (poxvírus
Recentemente, têm sido
– Coordenação de aviário ou herpes vírus
desenvolvidas vacinas
Sanidade Avícola
baseadas em engenharia dos perus) ou pela de-
– Mapa).
genética, com a inserção leção de genes determi-
As estirpes vacinais, nantes de virulência 21.
de genes do vírus
especialmente das vaci- da LTI em vetores
nas CEO, mas também (poxvírus aviário ou
Patogênese
a TCO, persistem em herpesvírus dos perus) A principal forma
matrizes de corte e pos- ou pela deleção de de infecção ocorre pelo
tura, tornando-as fontes genes determinantes de contato das aves porta-
de infecção14. A avaliação virulência. doras com aves suscep-
molecular do genoma tíveis. As vias naturais
viral de isolados norte- de entrada do vírus são a
-americanos indicou que estes são se- nasal e a ocular, mas a infecção também
melhantes às estirpes vacinais34. Tanto pode advir pela via oral. Após a entrada,
isolados de campo quanto estirpes vaci- segue a fase de replicação viral na con-
nais podem estabelecer infecção latente juntiva ocular e no epitélio das conchas
em galinhas2. Embora a vacinação com nasais e, em seguida, no epitélio dos
vacina viva atenuada re- seios nasais, na laringe,
sulte em proteção das O vírus pode na traqueia, nos pul-
aves contra a doença permanecer latente mões e nos sacos aéreos.
clínica em locais endê- no gânglio do nervo O vírus pode permane-
micos, isso não impede trigêmio ou persistir cer latente no gânglio
uma nova infecção por no trato respiratório do nervo trigêmio ou
uma estirpe virulenta do como infecção persistir no trato respi-
campo e a infecção laten- inaparente21. O vírus é ratório como infecção
te indesejada, podendo disseminado pelas aves inaparente21. O vírus é
haver uma reativação vi- doentes ou portadoras disseminado pelas aves
ral isolada, a recombina- pelas secreções doentes ou portadoras
ção com estirpes de cam- oronasais, podendo pelas secreções orona-
po ou infecção associada alcançar outras aves sais, podendo alcançar
a outros patógenos21,29. susceptíveis pelo ar, outras aves susceptíveis
Recentemente, têm sido ou mecanicamente via pelo ar ou, mecanica-
desenvolvidas vacinas fômites, esterco, cama e mente, via fômites, es-
baseadas em engenharia trânsito de funcionários terco, cama e trânsito de
genética, com a inserção ou outros animais pela funcionários ou outros
de genes do vírus da LTI granja. animais pela granja. O
7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 81
período de incubação varia de seis a 12 pode se estender para os brônquios, pul-
dias após infecção natural, via rota ocu- mões e sacos aéreos21,33,44. Em vários ca-
lar e respiratória, e de dois a quatro dias sos, acúmulo de material caseoso com fi-
após inoculação experimental via intra- brina pode ser observado na laringe e na
traqueal17. As aves portadoras podem parte inicial da traqueia (Fig. 1), levan-
frequentemente eliminar o GaHV-1, e do à morte por sufocamento. Quando
essa disseminação pode variar e aumen- as aves morrem dessa forma, é comum a
tar de intensidade por estresses, como ocorrência de cianose, que pode ser ob-
início e pico de postura, alta densidade servada no momento da morte.
populacional, variações na temperatura As alterações histológicas variam
e umidade, altos níveis de amônia, mu- com o estágio da doença. Geralmente
dança de alimentação, transporte, entre a mucosa respiratória normal (Acesse o
outros21,33. YouTube: https://www.youtube.com/
watch?v=40Vxq5I22pM, para visuali-
Sinais clínicos e patologia zar a atividade ciliar normal) apresenta
Clinicamente, a LTI na forma grave como principal componente o epitélio
é caracterizada por uma doença respi- ciliado e as glândulas produtoras de
ratória aguda com sinais que incluem muco, importantes no mecanismo de
secreção nasal sanguinolenta, espirros defesa inicial (aparelho mucociliar).
e dispneia acentuada. Sinais clínicos Alterações precoces incluem infiltração
relacionados à forma branda enzoóti- inflamatória na mucosa por linfócitos,
ca incluem diminuição da produção de plasmócitos, além de hiperemia e edema
ovos, conjuntivite, edema dos seios pa- (Fig. 2, 3, 4, 5). Nessa fase, necrose mul-
ranasais, traqueíte leve, descarga nasal tifocal do epitélio superficial pode ser
persistente e conjuntivite21,33,44.
As alterações macroscópicas são ob-
servadas principalmente na conjuntiva
e nas mucosas da laringe e da traqueia.
Dependendo da estirpe viral, as altera-
ções podem ser leves ou severas, consis-
tentes com laringotraqueíte hemorrági-
ca e/ou diftérica. Nas formas severas,
há inicialmente hiperemia intensa e
grande quantidade de exsudato fibrino- Fig. 1. Laringe e traqueia proximal de uma gali-
so. Posteriormente, ocorre necrose, he- nha com laringotraqueíte infecciosa. A mucosa
está coberta por exsudato esbranquiçado (seta)
morragia e formação de uma membrana ocluindo parcialmente o lúmen, caracterizando
diftérica espessa. A inflamação fibrinosa laringotraqueíte fibrinosa aguda.

82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


Fig. 2. Laringe e traqueia
proximal de uma galinha
com lesão típica de LTI. Na
lâmina própria, há infiltrado
por linfócitos e plasmócitos,
necrose do epitélio com
descamação e fusão do
epitélio formando sincícios
(seta grande), os quais apre-
sentam corpúsculos de in-
clusões intranucleares (seta
pequena). Hematoxilina e
eosina 200x .

Fig. 3. Esquema da muco-


sa da traqueia histologica-
mente normal: cartilagem
(C), lâmina própria (LP),
glândulas (g) constituídas
por células produtoras de
muco (M), linfócitos (l),
plasmócitos (p), epitélio ci-
liado (asterisco) e lúmen da
traqueia (LT).

Fig. 4. Traqueia ilustran-


do lesões típicas da LTI.
Necrose do epitélio ciliado
e das glândulas com des-
camação para o lúmen e
formação de sincícios (seta)
contendo corpúsculos de
inclusão intranuclear. No
lúmen, observam-se tam-
bém fibrina, células desca-
madas, restos celulares e
heterófilos.

7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 83


Dependendo da virulência da estirpe,
pode ocorrer perda completa do epité-
lio traqueal21,44.

Diagnóstico e controle
O diagnóstico definitivo da doença
causada pelo GaHV-1 é obtido pela his-
topatologia. Essa técnica define as lesões
típicas (patognomônicas), como a tra-
Fig. 5. Mucosa da concha nasal de uma galinha
queíte fibrino-necrótica (diftérica) com
com laringotraqueíte infecciosa. A lâmina pró- descamação epitelial e formação de sin-
pria apresenta-se espessa devido ao infiltrado cícios contendo corpúsculos de inclu-
inflamatório. Na superfície e no lúmen, as célu-
las epiteliais sinciciais estão marcadas (grânulos
sões intranucleares. A infecção pode ser
marrons) para os antígenos de GaHV-1. Imuno- confirmada pela detecção do antígeno
histoquímica. 400x. pela reação em cadeia pela polimerase
observada, e, após dois a três dias (PCR) ou pelo isolamento viral .É
15,33,44

(em condições experimentais), sin- importante ressaltar que somente a de-


cícios em formação são observados. tecção do antígeno ou o isolamento não
confirmam se a doença está ocorrendo,
Posteriormente, numerosas inclusões
pois deve-se considerar a condição de
intranucleares nas células epiteliais su-
latência desse vírus. De outra forma, a
perficiais e principalmente nos sincícios
ausência de lesões histopatológicas não
podem ser observadas
significa a ausência de
na mucosa da na laringe O diagnóstico definitivo
infecção por estirpes da
e na traqueia (Fig. 2, 4), da doença causada baixa patogenicidade.
nos pulmões, nos sacos pelo GaHV-1 é obtido A imuno-histoquí-
aéreos, na conjuntiva e pela histopatologia. mica (IHQ) da con-
conchas nasais (Fig. 5). Essa técnica define juntiva e do epitélio
Com a progressão da as lesões típicas respiratório permite a
infecção, a destruição (patognomônicas), visualização (por meio
celular e a descamação como a traqueíte de uma reação quími-
tornam-se difusas e for- fibrino-necrótica ca enzimática que gera
mam uma membrana que (diftérica) com uma coloração marrom
recobre a superfície, e descamação epitelial e ou vermelha) de antíge-
apenas uma fina camada formação de sincícios nos de GaHV-1 in situ
de células epiteliais em contendo corpúsculos de (Fig.5), sendo útil prin-
regeneração é observada. inclusões intranucleares. cipalmente nos casos
84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
em que as inclusões intranucleares não circulação, como descrito nos EUA34.
são observadas na histopatologia38,44. Assim, foram desenvolvidas vacinas li-
A detecção do DNA viral pela PCR vres de GaHV-1, utilizando-se como
tem se mostrado uma ótima ferramen- vetores o poxvírus aviário e o herpesví-
ta para o diagnóstico da infecção pelo rus dos perus para a expressão de pro-
GaHV-1, com sensibilidade maior do teínas relevantes à indução de proteção.
que o isolamento viral, além de ser uma Essas vacinas têm como característica a
técnica relativamente rápida15,25,33,37,38. ausência de infecção por GaHV-1 e de
Atualmente, para a PCR, amostras te- reversão de patogenicidade. A proteção
ciduais fixadas em formol têm mos- induzida por essas vacinas tem se mos-
trado bons resultados para a detecção trado menos efetiva que as vacinas vivas
antigênica. Para permitir que o DNA atenuadas26, entretanto tem auxiliado na
extraído de amostras teciduais fixadas redução da atividade viral, na transmis-
em formol e emblocados em parafina sibilidade e na redução de novos surtos
possa ser utilizado, as amostras devem da doença. Juntamente com a vacina-
permanecer no formol somente duran- ção, é de extrema importância que se
te o tempo de fixação, até no máximo tomem medidas de biosseguridade para
três a quatro dias. Após esse tempo, o evitar a disseminação do vírus e para a
formol danifica o DNA e este não pode prevenção de novos surtos.
ser extraído com qualidade suficiente O diagnóstico diferencial da LTI
para as reações. Caso não seja possivel deve ser realizado incluindo outros
enviar o material para o processamento agentes infecciosos que causam do-
dentro de três dias, recomenda-se lavar ença respiratória. Devem ser conside-
em água corrente e transferir o material rados: vírus da bronquite infecciosa,
para álcool 70% para sua melhor preser- Mycoplasma gallisepticum, Avibacterium
vação. A PCR convencional para LTI paragallinarum, metapneumovírus aviá-
tem mostrado resultados específicos e rio e os vírus da doença de Newcastle e
confiáveis37. da influenza.
As vacinas vivas atenuadas foram A seguir, os principais agentes infec-
descritas como efetivas na proteção das ciosos que devem ser considerados para
aves contra LTI22. No entanto, Hughes o diagnóstico diferencial serão discuti-
et al.24 demonstraram que o GaHV- 1 dos. Será dada ênfase à alteração histo-
vacinal é capaz de ficar latente na ave patológica que auxilia no diagnóstico
vacinada, ser reativado e eliminado de diferencial (ver as Figuras 1-10.) entre
forma intermitente para o ambiente. as infecções respiratórias e na coleta de
Um agravante importante é a reversão amostras para os exames com o objetivo
de virulência das estirpes vacinais em de diagnosticar a doença.
7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 85
Bronquite infecciosa cílios, arredondamento e achatamento
das células epiteliais, além de necrose
A bronquite infecciosa é uma doen-
multifocal e desprendimento. No lú-
ça aguda das galinhas comerciais, que
men, são encontrados eritrócitos, restos
causa perdas significativas na avicultura
industrial mundial. Em frangos, provo- celulares e fibrina9. Nessa fase, ocorre
ca perda de peso e aumento das conde- o infiltrado por heterófilos e linfócitos
nações no abatedouro ou aumento da na mucosa e no lúmen9,13 (Fig. 7). Com
mortalidade quando a ave está sendo a evolução da doença, após 48 horas,
transportada para o abate. Em poedei- inicia-se a regeneração do epitélio. A hi-
ras, acarreta diminuição na produção e perplasia é acompanhada por infiltrado
na qualidade dos ovos32,45. linfocitário intenso, causando espessa-
A doença é causada por um vírus do mento da lâmina própria. Os agregados
gênero Coronavirus, pertencente à famí- de linfócitos se assemelham a folículos
lia Coronaviridae (Gammacoronavirus linfoides com centro-germinativo evi-
aviário)9,27. A seguir, a abordagem re- dente. Essa alteração é observada aos
ferente ao diagnóstico diferencial em sete dias de evolução da doença. Nessa
patogênese e as lesões terão como foco fase, a lesão torna-se semelhante à cau-
as estirpes com tropismo pelos tecidos sada pelo Mycoplasma gallisepticum, ne-
respiratórios. A infecção inicial ocorre cessitando de testes complementares
via trato respiratório superior. A repli- para o diagnóstico definitivo9. Assim,
cação viral se dá no epitélio da mucosa para o diagnóstico diferencial, é impor-
das conchas nasais, na traqueia, nos pul- tante a seleção das aves durante a fase
mões e nos sacos aéreos.
Macroscopicamente, as lesões na
mucosa respiratória da fase aguda são
caracterizadas por hiperemia e exsuda-
to mucocatarral a fibrino-hemorrágico
(Fig. 6). Nas formas subaguda a crôni-
ca, exsudato caseoso pode ser observa-
do, por infecção bacteriana secundária,
principalmente com Escherichia coli.
Áreas vermelho-escuras e consolidadas
podem ser observadas ao redor dos brô-
nquios, caracterizando pneumonia 9.
Na histopatologia da traqueia, a Fig. 6. Traqueias de frangos com bronquite infec-
mucosa apresenta-se hiperêmica e ede- ciosa apresentando exsudato mucocatarral no
lúmen. California Animal Health & Food Safety
maciada. Na fase aguda, há perda dos Laboratory System (CAFHS) California, EUA.

86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


ocorre principalmente
em galinhas e perus em
produção comercial.
Entretanto, a bactéria
também foi isolada
de faisões, perdizes,
pombos, pardais, cor-
dornas, patos, gansos e
papagaios. A transmis-
são horizontal pode
ocorrer de forma dire-
ta, pelo contato com
aves clinicamente ou
Fig.7. Traqueia ilustrando lesões típicas da fase aguda da bronquite subclinicamente in-
infecciosa. A lâmina própria apresenta-se espessa devido ao infiltra- fectadas, ou de forma
do linfoplasmocitário; há necrose e descamação do epitélio. Há locais
com substituição do epitélio ciliado por células cúbicas. No lúmen, indireta (fômites). M.
observam-se restos celulares, células descamadas e fibrina. gallisepticum sobrevi-
ve poucos dias fora do
aguda da doença para a coleta das amos- hospedeiro. Assim, aves carreadoras são
tras, com o exame de pelo menos seis essenciais para a epidemiologia e infec-
aves32. ção. O trato respiratório superior e/ou a
Mycoplasma gallisepticum conjuntiva são portas de entrada para a
bactéria presente em gotas de secreção
Mycoplasma gallisepticum (M. galli- das aves ou em aerossóis3,31.
septicum) causa a denominada “doença Os sinais clínicos da infecção por
crônica respiratória” (DCR) das gali- M. gallisepticum incluem estertores tra-
nhas e a sinusite infecciosa dos perus. queais, secreção mucosa das narinas, da
M. gallisepticum é a espécie mais pato- conjuntiva e espirros. Diminuição do
gênica para aves e mundialmente dis- consumo de alimento, perda de peso e,
tribuída, causando grandes perdas eco- em galinhas de postura, diminuição da
nômicas para a avicultura comercial31. produção de ovos também ocorrem.
Em comum com outros micoplasmas, Ceratoconjuntivite pode ocorrer, sendo
são bactérias sem parede celular e muito caracterizada clinicamente por edema
pequenas, na forma de cocos com 0,25 a da face e das pálpebras, lacrimejamento
0,5mm de diâmetro quando observadas e hiperemia30.
ao microscópio de luz comum30,31. Macrospicamente, as lesões consis-
A infecção por M. gallisepticum tem primariamente em exsudato mu-
7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 87
cocatarral na cavidade aéreos e/ou a conjuntiva
Os casos crônicos de
nasal e nos seios nasais podem não apresentar
micoplasmose são
(Fig. 8), paranasais, na lesões. O espessamento
caracterizados por
traqueia (Fig. 9), nos ocorre devido ao inten-
formação de folículos
brônquios e nos sacos linfoides subepiteliais so infiltrado por ma-
aéreos. Algumas estir- na mucosa respiratória crófagos, plasmócitos e
pes de M. gallisepticum e também nos sacos linfócitos e à hipertrofia
produzem aerossaculite aéreos. A alteração das células produtoras
e pericardite fibrinosa19. do epitélio ciliado e a de muco. Na maioria das
Estas, quando agrava- formação dos agregados vezes e particularmente
das por outras infecções linfoides foliculares quando a infecção bac-
bacterianas, como E. (denominada reação teriana secundária não
coli, tornam-se caseosas. linfofolicular) são as está presente, o epitélio
Quando a ceratoconjun- alterações mais típicas ciliado permanece. No
tivite está presente, ob- da forma crônica da entanto, em áreas multi-
serva-se edema acentua- infecção por esse agente focais observa-se perda
do do tecido subcutâneo dos cílios com alteração
da face e das pálpebras, com ocasional do formato das células
opacidade da córnea30,31. ciliadas. Estas se tornam mais arredon-
dadas ou planas e alguma vezes (em
À histopatologia, observa-se espes-
casos crônicos) ocorre metaplasia para
samento acentuado da membrana mu-
epitélio pavimentoso estratificado. Os
cosa das conchas nasais, da traqueia, da
casos crônicos de micoplasmose são
conjuntiva, dos brônquios e dos sacos
caracterizados por formação de folícu-
aéreos. Dependendo da estirpe, os sacos
los linfoides subepiteliais na mucosa
respiratória e também nos sacos aéreos.

Fig. 8. Cavidade, seios e conchas nasais de uma Fig. 9. Traqueia de um frango com infecção por
galinha com infecção por M. gallisepticum. Há M. gallisepticum apresentando exsudato mucoso
hiperemia da mucosa e exsudato mucocatarral. no lúmen.

88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


A alteração do epitélio dos isoladamente para o
É importante ressaltar
ciliado e a formação dos
que resultados positivos diagnóstico conclusivo
agregados linfoides fo- da ocorrência da doen-
pela PCR não devem
liculares (denominada ça por M. gallisepticum.
ser considerados
reação linfofolicular) são A detecção pela PCR
isoladamente para o
as alterações mais típi- pode não diferenciar
diagnóstico conclusivo
cas da forma crônica da
da ocorrência da doença estirpes vacinais e aves
infecção por esse agen-
por M. gallisepticum. portadoras5. No caso de
te 18,19
(Fig. 10). Quando
A detecção pela PCR lotes vacinados, devem-
essas lesões histológicas
pode não diferenciar -se associar resultados
são observadas no curso
estirpes vacinais e aves histopatológicos à de-
crônico da doença, é de
portadoras. tecção molecular ou ao
valia para o diagnósti-
co diferencial de outros isolamento. Para uma
agentes respiratórios, os quais não pro- avaliação mais segura, é sempre impor-
duzem lesões idênticas. Salienta-se a im- tante a seleção de pelo menos cinco a
portância da avaliação histopatológica seis aves doentes para necropsia e cole-
de todos os tecidos respiratórios, além ta das amostras teciduais.
do coração, dos rins e do oviduto. A ava- O sequencimento de nucleotídeos
liação detalhada pode permitir um diag- de determinados genes de M. gallisepti-
nóstico histológico sugestivo ou com- cum é útil para a caracterização e dife-
patível. Informações
detalhadas referentes
ao histórico do lote e
da granja, incluindo va-
cinações, medicações,
sinais clínicos, taxa de
mortalidade, entre ou-
tros, são extremamente
relevantes para auxiliar
na interpretação das le-
sões e fornecer o diag-
nóstico da etiologia.
É importante res-
saltar que resultados Fig. 10. Traqueia ilustrando lesões típicas de infecção por M. gallisepti-
cum. A lâmina própria apresenta espessamento intenso, consequente
positivos pela PCR não do infiltrado por plasmócitos, macrófagos e linfócitos em arranjo linfo-
devem ser considera- folicular. Ocorre também perda dos cilios, e o epitélio ciliado é substi-
tuído por células cúbicas ou planas com ausência de cílios.

7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 89


renciação entre as estirpes vacinais e de devido ao retardo do crescimento em
campo1, no entanto ainda é uma técnica aves jovens. No entanto, a doença pode
com limitações para uso rotineiro nas causar um impacto muito maior, como
atividades de diagnóstico. ocorreu em surtos em poedeiras no es-
A histopatologia é uma ferramenta tado da Califórnia (EUA), com morta-
diagnóstica essencial para o diagnóstico lidade de 48% do lote e queda de 75%
de causa e efeito. Entretanto, em algu- na produção de ovos16, em frangos no
mas doenças, as lesões podem não ser estado do Alabama (EUA), que causou
suficientes para se obter um diagnósti- a condenação de 69,8% do lote devido
co conclusivo isoladamente, sendo im- à aerossaculite, além de surtos com per-
prescindível, para definir se há doença, da econômica descritos na Europa e na
a associação dos resultados morfológi- África8. No Brasil, não há registros que
cos com um ou mais testes auxiliares. quantificam mortalidade e perdas, mas
A PCR, o isolamento ou a determina- a doença é aparentemente controlada
ção de anticorpos em sorologia podem em aves comerciais por vacinação.
ser úteis. Associações entre técnicas de As galinhas são hospedeiras naturais
diagnóstico eficazes são essenciais em do A. paragallinarum. Galinhas de todas
casos de doenças que podem ocorrer de as idades são susceptíveis. O período de
forma mista ou quando infecções bacte- incubação é curto (24-48 horas) e o cur-
rianas secundárias são comuns. so da doença é maior em poedeiras ou
aves adultas (duas a três semanas). A do-
Coriza infecciosa ença é observada mais frequentemente
A coriza infecciosa (CI) é uma do- no outono e no inverno6,8.
ença respiratória aguda das galinhas, Os sinais clínicos mais comuns in-
causada pela bactéria Avibacterium pa- cluem secreção nasal, edema facial, con-
ragallinarum, anteriormente classifica- juntivite, anorexia e diarreia. A dimi-
da como Haemophilus paragallinarum7. nuição do consumo de alimento e água
Avibacterium paragallinarum7 é uma retarda o crescimento em aves jovens e
bactéria Gram-negativa que ocorre reduz a produção de ovos em poedeiras39.
eventualmente em poedeiras da avicul- A doença pode ter uma apresentação am-
tura industrial e comumente em poe- plamente diversificada quando agravada
deiras da avicultura familiar. A doença por outros patógenos (Mycoplasma galli-
tem significância econômica mundial septicum, M. synoviae e/ou agentes virais)
na avicultura de corte (frangos) e, es- e por fatores estressantes. As causas virais
pecialmente, de produção de ovos. A que podem estar associadas à CI incluem
principal perda econômica é a redução poxvírus aviário, laringotraqueíte e
na produção de ovos entre 10% a 40%12, bronquite infecciosa8.
90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
As alterações macroscópicas associa- As alterações histológicas agudas in-
das à CI aguda incluem inflamação catar- cluem edema, hiperemia, infiltração he-
ral aguda das membranas mucosas dos terofílica e necrose epitelial da mucosa
seios e da cavidade nasal. Frequentemente da cavidade nasal e dos seios paranasais
ocorrem conjuntivite catarral e edema (Fig. 13). Sinusite granulomatosa e he-
subcutâneo da face e da crista. Na forma terofilica é observada na forma crônica.
crônica, os seios paranasais estão disten- Em aves com envolvimento do trato
didos e preenchidos por exsudato caseoso respiratório inferior, foram observadas
(Fig. 11 e 12). O envolvimento de outros broncopneumonia catarral aguda e ne-
órgãos pode ser variável e inclui conjunti- crose do epitélio dos brônquios secun-
vite, aerossaculite e pericardite16. dários e terciários. Nos sacos aéreos, a
lesão é caracterizada por aerossaculite
heterofílica e hiperplasia epitelial8.
O tradicional método para o diag-
nóstico da CI requer isolamento da A.
paragallinarum e extensa caracterização
bioquímica para confirmar a identida-
de do isolado. A bactéria é fastidiosa e
de crescimento lento, e frequentemen-
te ocorre sobrecrescimento por outras
bactérias comensais de rápido cresci-
Fig. 11. Galinha poedeira com lesões típicas de mento. A bactéria é NAD-dependente
coriza infecciosa. O seio paranasal e a pálpebra e a caracterização bioquímica requer
estão aumentados de volume e hiperêmicos.
Note-se a acumulação de exsudato no saco
conjuntival.

Fig. 13. Histopatologia do seio paranasal da gali-


nha mostrada na Fig. 10. Há necrose e perda do
Fig. 12. Galinha poedeira com lesão crônica típica epitélio (cabeça de seta) de revestimento da mu-
de coriza infecciosa, caracterizada pelo seio para- cosa do seio paranasal. O lúmen está preenchido
nasal preenchido por exsudato caseoso. por exsudato (seta). Hematoxilina e eosina 100x.

7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 91


meios de alto custo6. O isolamento é após a fixação permite que o conteúdo
importante e deve ser considerado para seja preservado no interior dos seios e,
a realização de antibiograma, principal- assim, possa ser avaliado. Em tais casos,
mente para determinar antibióticos sen- essas partes podem ser fixadas junta-
síveis e resistentes. mente com a cabeça da ave. Quando
Métodos moleculares para o diag- as aves apresentarem, além de sinais
nóstico da CI, como a PCR, têm sido respiratórios, lesões renais (estirpe ne-
padronizados10,11. No entanto, a his- fropatogênica do vírus da bronquite in-
topatologia deve ser utilizada na for- fecciosa) e ovos com defeito na casca e
mação do diagnóstico, principalmente
tamanho (estirpe reprodutiva do vírus
considerando-se que a galinha é o hos-
da bronquite infecciosa), os rins, o ová-
pedeiro natural com possível infecção
rio e o oviduto (útero) também devem
subclínica.
ser coletados para histopatologia. Os
Recomendações para a cortes dos órgãos sólidos ou parenqui-
coleta de amostras teciduais matosos não devem ser muito peque-
para histopatologia e testes nos, mas também não devem ser seccio-
auxiliares nados a uma espessura maior que um
As conjuntivas, as conchas nasais, centímetro, pois isso dificulta a difusão
os seios paranasais, a laringe com a tra- do formol, comprometendo a fixação. A
queia, os brônquios, os pulmões e os seleção das aves para necropsia e coleta
sacos aéreos devem ser coletados. Para dos tecidos deve ser criteriosa. Quando
as doenças como a LTI, a bronquite e for possível identificar aves em diferen-
a micoplasmose, a parte central da tra- tes fases da doença (inicial ou aguda e
queia pode ser retirada (fechada), com avançada ou crônica), uma proporção
em torno de três a quatro centímetros,
de cada fase deve ser selecionada. Na
e mantida resfriada para o envio para os
fase aguda (primeiros dias), há lesões
testes moleculares (idealmente em 24
mais típicas para identificação de algu-
horas). A laringe, a parte proximal e a
parte distal da traqueia, os brônquios e mas dessas doenças. Os cuidados neces-
os pulmões devem ser acondicionados sários para a coleta e a conservação das
em formol tamponado 10%, respeitan- amostras aumentam consideravelmente
do a proporção de nove partes da solu- as chances de se obter o diagnóstico.
ção para uma parte do tecido coletado, Por outro lado, amostras insuficientes
o que garante uma boa fixação para a e mal conservadas e sem um histórico
histopatologia. Para o exame histoló- detalhado prejudicam ou até mesmo
gico das conchas nasais e dos seios pa- impedem a obtenção de um diagnóstico
ranasais, a secção do tecido somente preciso.
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
Referências DNA probes and PCR tests for Haemophilus pa-
ragallinarum. Avian Diseases, v.40:398-407, 1996.
1. ARMOUR, N.K.; LAIBINIS, V.A.; COLLETT,
S.R.; FERGUSON-NOEL, N. The development 11. CHEN, X.; SONG, C.; GONG, Y.; BLACKALL,
and application of a Mycoplasma gallisepticum P.J. Further studies on the use of a polymerase
sequence database. Avian Pathology, v. 42, p. 408- chain reaction test for the diagnosis of infectious
415, 2013. coryza. Avian Pathology, v. 27, p.618-624, 1998.

2. BAGUST, T.J. Laryngotracheitis (gallid-1) her- 12. CHUKIATSIRI, K.; SASIPREEYAJAN,


pesvirus infection in the chicken. 4. Latency es- J.; NERAMITMANSUK, W.;
tablishment by wild and vaccine strains of ILT CHANSIRIPORNCHAI, N. Efficacy of
virus. Avian Pathology, v. 15, p. 581-595, 1986. Autogenous killed vaccine of Avibacterium para-
gallinarum. Avian Diseases, v. 53, p. 382-386, 2009.
3. BAGUST, T.J.; JOHNSON, M.A. Avian
13. COOK, J.K.A.; JACKWOOD, M.; JONES, R.C.
Infectious Laryngotracheitis: virus-host inter-
The long view: 40 years of infectious bronchitis
actions in relation to prospects for eradication.
research. Avian Pathology, v. 41, p. 239-250, 2012.
Avian Pathology, v. 24, p.373-391, 1995.
14. DAVISON, A.J.; EBERLE, R.; HAYWARD, G.S.;
4. BELTRÃO, N.; FURIAN, T.Q.; LEÃO, J.A.;
MCGEOCH, D.J.; MINSON, A.C.; PELLET,
PEREIRA, R.A.; MORAES, L.; CANAL, C.W. P.E.; ROIZMAN, B.; STUDDERT, M.J.; THIRY,
Detecção do vírus da laringotraqueíte das gali- E. Family Herpesviridae. In: Fauquet, C.M.;
nhas no Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira. v. Mayo, M.A.; Maniloff, J.; Desselberger, U.; Ball,
24, p. 85-88, 2004. L.A. (eds), Virus Taxonomy, Academic press, San
Diego, p. 193-212, 2005.
5. BENČINA, D.; DORRER, D. Demostration of
Mycoplasma gallisepticum in tracheas of healthy 15. DIALLO, I.S.; TAYLOR, J.; GIBSON, J.; HOAD,
carrier chickens by fluorescent-antibody proce- J.; DE JONG, A.; HEWITSON, G.; CORNEY,
dure and the significance of certain serologic tests B.G.; RODWELL, B.J. Diagnosis of a naturally
in estimating antibody response. Avian Diseases, occurring dual infection of layer chickens with
v.28, p. 574-578, 1984. fowlpox virus and gallid herpesvirus 1 (infectious
laryngotracheitis virus). Avian Pathology, v. 39, p.
6. BLACKALL, J.P. Infectious Coryza: Overview of 25-30, 2010.
the Disease and New Diagnostic Options. Clinical
Microbiology Reviews, v. 12, p. 627-632, 1999. 16. DROUAL, R.; BICKFORD, A. A.; CHARLTON,
B. R.; COOPER, G. L.;CHANNING, S. E.
7. BLACKALL, P.J.; CHRISTENSEN, H.; Infectious coryza in meat chickens in the San
BECKENHAM, T.; BLACKALL, L.L.; Joaquin Valley of California. Avian Diseases, v. 34,
BISGAARD, M. Reclassification of Pasteurella p. 1009-1016, 1990.
gallinarum, [Haemophilus] paragallinarum,
Pasteurella avium and Pasteurella volantium as 17. FUCHS, W.; VEITS, J.; HELFERICH,
Avibacterium gallinarum gen., comb. Nov. and D.; GRANZOW, H.; TEIFKE, J.P.;
Avibacterium volantium comb. nov. International METTENLEITER, T.C. Molecular biolo-
Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, gy of avian infectious laryngotracheitis virus.
v. 55, p. 353-362, 2005. Veterinary Research, v. 38, p. 261-279, 2007.

8. BLACKALL, P.J.; SORIANO, E.V. Infectious 18. GAUSON, J.E.; PHILIP, C. J.; WHITHEAR, K.
Coryza and Related Bacterial Infections. In: Saif, G.; BROWNING, G. F. Lymphocytic infiltration
Y. M. Diseases of Poultry. 12th ed. Chapter 20, p. in the chicken trachea in response to Mycoplasma
789-803, 2008. gallisepticum infection. Microbiology, v. 146, p.
1223-1229, 2000.
9. CANAVAGH D.; GELB Junior, J. In Diseases of
Poultry. SAIF, Y.M.; FADLY, A.M. et al. Blackwell 19. GAUSON, J.E.; PHILIP, C.J.; WHITHEAR,
publishing, 12th ed, 2008. K.G.; BROWNING, G.F. Age related differences
in the immune response to vaccination and infec-
10. CHEN, X.; MIFLIN, J.K.; ZHANG, P.; tion with Mycoplasma gallisepticum. Vaccine, v. 24,
BLACKALL, P.J. Development and application of p. 1687-1692, 2006.

7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 93


20. GELENCEZEI, E.F.; MARTY, E.W. Studies on a DEVLIN, J.M. Attenuated vaccines can recom-
tissue-culture modified infectious laryngotrachei- bine to form virulent field viruses. Science, v. 337,
tis virus. Avian Diseases,v.8, p.105-122, 1964. p.188, 2012.

21. GUY, J.S.; GARCIA, M. Laryngotracheitis. In: 30. LEY, D. H. Mycoplasma gallisepticum infection. In:
Saif, Y. M. Diseases of Poultry. 12th ed. Chapter 5, FADLY, AM.; GLISSON, J.R.; MCDOUGALD,
p. 137-152, 2008. L.R.; NOLAN, L.K.; SWAYNE, D.E.; SAIF, Y.M.
Diseases of Poultry. 01 edition. Iowa: Blackwell
22. HAN, M.G.; KIM, S.J. Efficacy of live virus vac-
Publishing, 2008, 807-867 p.
cines against infectious laryngotracheitis assessed
by polymerase chain reaction-restriction frag- 31. OIE Terrestrial Manual 2008. CHAPTER 2.3.5.
ment length polymorphism. Avian Diseases., v. 47, AVIAN MYCOPLASMOSIS. (Mycoplasma
p. 261-271, 2003. gallisepticum, M. synoviae).
23. HIPÓLITO, O.; SOARES, L.A.;, PEREIRA, 32. OIE Terrestrial Manual 2013. Version adopted
O.A.C.; PINTO, A.A.; BOTTINO, J.A. by the World Assembly of Delegates of the OIE
Isolamento e identificação do vírus da laringo- in May 2013. Chapter 2.3.2. Avian Infectious
traqueíte infecciosa das galinhas no Brasil. In: Bronchitis. http://www.oie.int/fileadmin/-
Congresso Brasileiro de Microbiologia; Rio de Home/eng/Health_standards/tahm/2.03.02_
Janeiro, RJ. Brasil. p. 16. 1974. AIB.pdf.

24. HUGHES, C. S.; WILLIAMS, R. A.; GASKELL, 33. OIE Terrestrial Manual 2014. Version adopted
R. M. Latency and reactivation of infectious la- by the World Assembly of Delegates of the OIE
ryngotracheitis vaccine virus. Archive of Virology, in May 2014. OIE Terrestrial Manual 2014 1.
v. 121, p. 213-218, 1991. Chapter 2.3.3. Avian Infectious Laryngotracheitis.
http://www.oie.int/fileadmin/Home/eng/
25. HUMBERD, J.; GARCIA, M.; RIBLET, S.M.; Health_standards/tahm/2.03.03_AVIAN_
RESURRECCION, R.S.; BROWN, T.P.; INF_LARYNGO.pdf.
Detection of Infectious Laryngotracheitis Virus
in Formalin-Fixed, Paraffin-Embedded Tissues 34. OLDONI, I.; GARCÍA, M. Characterization of
by Nested Polymerase Chain Reaction. Avian infectious laryngotracheitis vírus isolates from
Diseases, v. 46, p. 64-74, 2002. the United States by polymerase chain reaction
and restriction fragment length polymorphism of
26. JOHNSON, D. I.; VAGNOZZI, A.; DOREA, F. multiple genome regions. Avian Pathology, v. 36,
Protection Against Infectious Laryngotracheitis p. 167-176, 2007.
by In Ovo Vaccination with Commercially
35. OLDONI, I.; RODRIGUES-AVILA, A.;
Available Viral Vector Recombinant Vaccines.
RIBLET, S.; GARCÍA, M. Characterization
Avian Diseases, v. 54, p. 1251-1259, 2010.
of Infectious Laryngotracheitis Virus (ILTV)
Isolates from United States by Polymerase Chain
27. ICTVdB Management (2006). 03.019.0.01.001. Reaction and Restriction Fragment Length
Infectious bronchitis virus. In: ICTVdB - The Polymorphism (PCR-RLFP). Avian Diseases,
Universal Virus Database, version 4. Büchen- v.52, p. 59-63, 2008.
Osmond, C. (Ed), Columbia University, New
York, USA. 36. PORTZ, C.; BELTRÃO, N.; FURIAN, T, Q.;
MACAGNAN, M.; GRIEBELER, J.; ROSA,
28. ITO, N.M.K.; GAMA, N.M.S.Q.; MIYAJI, C.A.V.L.; COLODEL, E.M.; DRIEMEIER, D.;
C.I.; OKABAYASHI, S.; LIMA, E.M.; BACK, A.; SCHATZMAYR, O.M.B.; CANAL,
BABADOPULOS, P. Diagnóstico da laringotra- C.W. Natural infection of turkeys by infectious
queíte infecciosa das galinhas. Brazilian Journal laryngotracheitis virus. Veterinary Microbiology,
of Poultry Science. Suplemento, v. 5, p. 118, 2003. v.131, p. 57-64, 2008.

29. LEE, S.W.; MARKHAM, P.F.; COPPO, 37. PREIS, I. S.; BRAGA, J. F. V.; COUTO, R. M.;
M.J.; LEGIONE, A.R.; MARKHAM, J.F.; BRASIL, B. S. A. F.;. Martins, N. R.S.; R. ECCO.
NOORMOHAMMADI A.H.; BROWNING, Outbreak of infectious laryngotracheitis in large
G.F.; FICORILLI, N.; HARTLEY, C.A.; multi-age egg layer chicken flocks in Minas

94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


Gerais, Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, 43. TADESE, T.; POTTER, A.E.; FITZGERALD,
p. 591-596, 2013. S.; REED, W.M. Concurrent Infection in chi-
ckens with Fowlpox Virus and Infectious
38. PREIS, I.S.; Fiuza, T.A.L.; Silva, C.C.; COUTO, Laryngotracheitis Virus as Detected by
R. M.; BRAGA, J.F.V.; Martins, N.R.S.; ECCO, Immunohistochemistry and a Multiplex
R. Pathological, immunohistochemical, and mo- Polymerase Chain Reaction Technique. Avian
lecular findings in commercial laying hens and in Diseases, 51, p. 719-729, 2007.
backyard chickens naturally infected with the in-
fectious laryngotracheitis virus. Revista Brasileira 44. TIMURKAAN, N.; YILMAZ, F.; BULUT,
de Ciência Avícola, v. 16, p. 359-366, 2014. H.; OZER, H.E.; BOLAT, Y. Pathological and
Immunohistochemical in Broilers Inoculated
39. SANDOVAL, V.E.; TERZOLO, H. R.; with a Low Virulent Strain of Infectious virus.
BLACKALL, P. J. Complicated infectious coryza Journal of Veterinary Science, v. 4, p. 175-180, 2003.
cases in Argentina. Avian Diseases, v.19, p. 672-
678, 1994. 45. TORO, H.; PENNINGTON, D.; GALLARDO,
R.A.; VAN SANTEN, V.L.; VAN GINKEL, F.W.;
40. SAMBERG, Y.; CUPERSTEIN, E.; BENDHEIM, ZHANG, J.; JOINER, K.S. Infectious bronchitis
U., ARONOVICI, I. The development of a vacci- virus subpopulations in vaccinated chickens after
ne against avian infectious laryngotracheitis. IV challenge. Avian Diseases, v. 56, p. 501-508, 2012.
Immunization of chickens with modified laryn-
gotracheitis vaccine in the drinking water. Avian 46. VILLARREAL, L.Y.B,; BRANDÃO, P.E.B.;
Diseases, v. 15, p.413-417, 1971. CHACÓN, J.L.V.; DORETTO JUNIOR, L,; ITO,
N.; GAMA, N.S.; ISHIZUKA, M.M.; LUCHESE,
41. SAWATA, A.; NAKAI, T.; KUME, K.; A.; BUCHALA, F.; ASTOLFI-FERREIRA, C.S.;
YOSHIKAWA, H. Lesions induced in the respira- FERREIRA, A.J.P. Detection and molecular cha-
tory tract of chickens by encapsulated or nonen- racterization of infectious laryngotracheitis vi-
capsulated variants of Haemophilus paragallina- rus in laying hens in Brazil. Revista Brasileira de
rum. American Journal Veterinary Research, v. 46, p. Ciência Avícola, v.  6, p. 253-256, 2004.
1185-1191, 1985.

42. SELLERS, H.S.;  GARCIA, M.;  GLISSON,


J.R.;  BROWN, T.P.;  SANDER, J.S.; GUY, J.S.
Mild infectious laryngotracheitis in broilers in the
southeast. Avian Diseases, v.48, p. 430-436, 2004.

7. Laringotraqueíte infecciosa das aves e diagnóstico diferencial de outras doenças respiratórias 95


8. Micoplasmoses

Ana Caroline Doyle Torres1


Hannah Luiza Gonsalves Coelho2 bigstockphoto.com
Sarah Ferreira Cunha2
Maurício Resende3
Roselene Ecco4 - CRMV MG 8324
Sandra Yuliet Marin5
Carolina Fontes Prezotto5
Nelson Rodrigo da Silva Martins6 - CRMV 4809
1
Mestranda, médica veterinária, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Graduanda em medicina veterinária, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
3
Professor aposentado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
4
Professora associada, médica veterinária, mestra e doutora, DCCV, Escola de Veterinária, UFMG
5
Doutoranda, médica veterinária, mestra, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
6
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG

Micoplasmoses são infecções cau- M. synoviae e M. meleagridis, todas de


sadas por bactérias do erradicação e vigi-
gênero Mycoplasma, Há muitas espécies de lância permanente
classe Mollicutes, filo micoplasmas descritas em e obrigatória nos
Tenericutes, reino aves, e as mais importantes plantéis reproduto-
Eubacteria (ou super- para as aves industriais são res, de acordo com o
-reino Bacteria), do- Mycoplasma gallisepticum Programa Nacional
mínio Procarya. Há (M. gallisepticum), M. de Sanidade Avícola
muitas espécies de synoviae e M. meleagridis, (PNSA, www.agri-
micoplasmas descri- todas de erradicação e cultura.gov.br). M.
tas em aves, e as mais vigilância permanente e gallisepticum e M. sy-
importantes para as obrigatória nos plantéis noviae estão dissemi-
aves industriais são reprodutores, de acordo com nados na classe Aves
Mycoplasma gallisepti- o Programa Nacional de e ocorrem em várias
cum (M. gallisepticum), Sanidade Avícola. espécies de aves das
96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
ordens Anseriformes, mente, direta ou
A transmissão horizontal,
Galliformes (in- indiretamente. A
da ave infectada para a
cluindo a galinha e o transmissão hori-
ave susceptível, ocorre
frango industriais), zontal, da ave in-
principalmente por
Psittaciformes (pa- fectada para a ave
aerossóis respiratórios e com
pagaios, periquitos), proximidade. Os aerossóis susceptível, dá-se
Columbiformes atingem principalmente as principalmente por
( p o m b o s ) , regiões da conjuntiva ocular, aerossóis respirató-
Passeriformes (pas- seios paranasais e laringe/ rios e com proximi-
sarinhos) e possivel- traqueia superior. Embora os dade. Os aerossóis
mente outras ordens micoplasmas resistam pouco atingem sobretudo
de aves. M. meleagri- tempo fora do hospedeiro, as regiões da con-
dis tem grande im- há risco de transmissão via juntiva ocular, os
portância e é de er- fômites com resíduos orgânicos e seios paranasais e
radicação obrigatória secreções. a laringe/traqueia
em perus [6, 7]. superior. Embora
Embora alguns os micoplasmas re-
micoplasmas, como M. gallisepticum, sistam pouco tempo fora do hospedeiro,
possam infectar diversas espécies de há risco de transmissão via fômites com
hospedeiros, a maioria é espécie-espe- resíduos orgânicos e secreções. As aves
cífica, com infecção restrita a uma espé- infectadas, com sinais respiratórios ou
cie de hospedeiro. Há micoplasmas de não, excretam micoplasma por aerossóis
plantas, insetos, aves, répteis e mamífe- respiratórios. M. gallisepticum perma-
ros, incluindo humanos [27, 42]. nece viável nas fezes por um a três dias
É importante destacar que as mico- (20°C), três dias em musselina (malha
plasmoses podem, principalmente, ser fina de algodão (20°C), na gema de ovos
subclínicas e clinicamente reveladas por por 18 semanas a 37°C e seis semanas
fator interveniente, por exemplo: aplica- a 20°C. Nas passagens nasais humanas
ção de vacina viva contra a bronquite in- pode resistir por 24 horas e, no cabelo,
fecciosa ou contra a doença de Newcastle, por três dias [10]. Foram descritas qua-
ou ocorrência de doenças imunossupres- tro fases na disseminação horizontal de
soras, como doença infecciosa bursal e/ M. gallisepticum, sendo a fase 1 laten-
ou anemia das galinhas [27, 42]. te por 12-21 dias antes da detecção de
anticorpos, a fase 2 com duração de um
Epidemiologia a 21 dias e crescente expressão clínica
A transmissão de micoplasmas em 5-10% do plantel, a fase 3 com du-
ocorre tanto vertical como horizontal- ração entre uma semana e 32 dias, com
8. Micoplasmoses 97
presença de anticorpos intervalos curtos (duas
As galinhas da avicultura
em 90-95% das aves, e
familiar são consideradas semanas) das reprodu-
a fase 4 entre três e 19 toras suspeitas e sua
potenciais reservatórios
dias e atingindo 100% retirada da reprodu-
de M. gallisepticum
da população [32]. O ção [41]. A legislação
[31], assim como
aumento da densidade criações comerciais com brasileira prevê o teste
populacional resulta idades múltiplas [36] e na puberdade (12 se-
em aumento da trans- passeriformes canoros de manas), no início da
missibilidade horizon- vida livre [35]. produção (5%) e per-
tal [27, 42]. A transmissão vertical manentemente a cada
As galinhas da avi- decorre da infecção nos três meses.
cultura familiar são reprodutores. Vetores mecânicos
consideradas poten- (insetos, equipamen-
ciais reservatórios de tos, pessoas) podem
M. gallisepticum [31], assim como cria- transportar material contaminado com
ções comerciais com idades múltiplas secreções. Vacinas vivas preparadas em
[36] e passeriformes canoros de vida ovos sem qualidade para produção de
livre [35]. imunobiológicos, ou seja, não SPF (spe-
A transmissão vertical decorre da cific pathogen free – livre de patógenos
infecção nos reprodutores. Nessa trans- específicos), podem conter micoplas-
missão, há passagem dos sacos aéreos, mas, além de outros agentes de trans-
que permite a passagem transovariana missão vertical.
[27, 42]. Na fêmea, há infecção transo-
variana, em que os folículos ovarianos Sinais clínicos e lesões
são infectados durante a sua formação. As doenças respiratórias de gali-
No macho, há infecção testicular e con- nhas, perus e outras espécies de aves em
taminação seminal [27, 42]. As maiores criações intensificadas destacam-se por
taxas de transmissão vertical ocorrem usualmente serem infecções combina-
durante a fase aguda com pico de re- das. A associação de patógenos torna o
plicação respiratória, contaminado até quadro clínico-patológico mais grave
50% dos ovos entre três e seis semanas [3, 37]. O ambiente de criação (renova-
após o desafio. Embora com o tempo ção de ar, poeira em suspensão, tempe-
pós-infecção haja grande declínio da ratura, umidade, etc.) e as variações en-
transmissão vertical, poucas aves positi- tre as estirpes de Mycoplasma exercem
vas asseguram a perpetuação nos plan- enorme papel no curso e no resultado
téis [28]. Dessa forma, é fundamental da doença [43].
a identificação, com monitoração em Em regiões de granjas de postura
98 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
comercial é comum a multiplicidade de Em perus, M. gallisepticum pode causar
idades e origens de aves. O impacto das acúmulo bilateral de exsudato nos seios
micoplasmoses pode ser muito variável, paranasais (Fig. 2), com ambas as faces
de infecções perceptíveis por leve perda aumentadas [25, 42].
em produtividade a graves infecções ge- Os casos complicados por
neralizadas, com participação de outros Escherichia coli são muito graves e va-
patógenos. riam com a patogenicidade da E. coli in-
terveniente. As complicações incluem o
Mycoplasma gallisepticum
acúmulo de exsudato caseoso (massa ca-
Entre as micoplasmoses, a doença seosa) sobre as estruturas, vísceras e es-
causada por M. gallisepticum é a mais paços do tóraco-abdômen, aerossaculi-
grave. A doença crônica respiratória te, peritonite, peri-hepatite, pericardite,
(DCR) é a forma clínica mais comum da
infecção por M. gallisepticum e caracte-
riza-se por transtornos respiratórios le-
ves ou moderados e baixa mortalidade.
Entretanto, a mortalidade pode chegar
a 30% quando agravada por Escherichia
coli [25, 42].
São manifestações clínicas frequen-
tes: estertores respiratórios, tosse, es-
pirros, redução da produção de ovos,
mortalidade embrionária [tipicamente Figura 1. Peritonite caseosa em galinha com
mortalidade embrionária tardia na cas- micoplasmose por Mycoplasma gallisepticum.
ca, a morte pré-eclosão de ovo bicado Notar grande massa caseosa amarelada na re-
gião central da imagem.
(pipped embryo)], mortalidade de pin-
tinhos (e jovens de outras espécies)
pós-eclosão, aumento da mortalidade
de frangos de corte e aumento das con-
denações no abatedouro, especialmente
por aerossaculite e peritonite (Fig. 1).
As micoplasmoses respiratórias, em sua
fase mais avançada no curso da doença,
são comumente coinfecções com E. coli,
principalmente em frangos de corte,
pelo alto desafio respiratório por ina-
Figura 2. Sinusite infecciosa em peru com mico-
lação da poeira contaminada por fezes. plasmose por Mycoplasma gallisepticum. Notar
grande aumento da face e lacrimejamento.

8. Micoplasmoses 99
salpingite, além de ar- septicum pode causar
Doença respiratória grave
trites. A infecção nos conjuntivite.
em frango de corte [48],
reprodutores pode re- Métodos de am-
foi descrita para a estirpe
sultar em mortalidade plificação genética e
F vacinal, com ganho de
embrionária tardia, de sequenciamento da re-
virulência após múltiplas
embrião fraco, que bica gião de espaço intergê-
passagens em aves [28],
o ovo mas não consegue
foi descrita para a estirpe F nica 16S-23S (IGSR) e
sair, e mortalidade de da citoadesina (mgc2)
vacinal.
jovens pós-eclosão. O permitem a diferencia-
embrião bicado (pipped ção de estirpes entre
embryo) e não eclodido pode ter massas patogênicas e vacinais não patogênicas
caseosas nos sacos aéreos [25, 42]. [1]. No entanto, estudos mostraram que
M. gallisepticum é caracterizado pelo há circulação de estirpes vacinais envolvi-
sinergismo em várias doenças respira- das em doença respiratória. Doença res-
tórias de aves industriais por vírus, por piratória grave em frango de corte [48],
exemplo, bronquite infeciosa [25], e foi descrita para a estirpe F vacinal, com
bactéria, incluindo coriza infecciosa (A.
ganho de virulência após múltiplas pas-
paragallinarum) [3] e colibacilose (E.
sagens em aves [28], foi descrita para a
coli) [38, 49].
estirpe F vacinal. As vacinas disponíveis
Atualmente, a genética da avicultu-
no mercado nacional incluem as estirpes
ra industrial é livre de M. gallisepticum
F, TS-11 e MG-70 [39]. Estirpes isoladas
e mantida sob erradicação e vigilância
em incubatórios no Paraná foram caracte-
obrigatórias dos plantéis de reprodução.
rizadas em F, TS-11, R e S6 de M. gallisep-
Entretanto, a infecção por M. gallisepti-
ticum. Estudos realizados no Laboratório
cum foi historicamente um coadjuvante
das infecções por vírus respiratórios, de Doenças das Aves [Gomes et al., não
como da bronquite infecciosa das ga- publicado] sugerem condição semelhante
linhas e da doença de Newcastle e, ti- para estirpes vacinais em Minas Gerais.
picamente, com quadros comumente Mycoplasma synoviae
agravados por E. coli. Essas condições
ocorrem em regiões com galpões pró- As micoplasmoses por Mycoplasma
ximos, pobre biosseguridade e proximi- synoviae podem resultar em artrite, com
dade da avicultura familiar. aumento articular, inchaço, hiperemia,
Em outras espécies de aves, como exsudato leitoso sinovial, claudicação e
Carpodacus mexicanus e outros passe- imobilidade articular. A infecção por M.
riformes, e na perdiz de chuckar [25, synoviae atinge também o sistema respi-
27], de vida livre ou cativeiro, M. galli- ratório, e os efeitos clínicos podem tam-
bém ser dependentes das coinfecções
100 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
virais ou bacterianas do de galinhas e perus,
De acordo com o PNSA, os
[25, 42]. o material genético
plantéis de espécies de aves
das linhagens comer-
Mycoplasma comerciais em reprodução
ciais deve ser importa-
meleagridis e M. devem, obrigatoriamente,
do livre e mantido em
iowae ser monitorados para
biosseguridade.
M. meleagridis e
as micoplasmoses alvo
A sorologia rápida
M. iowae são princi-
de erradicação M.
em placa (SRP) (Fig.
palmente patógenos
gallisepticum, M. synoviae
3), com antígeno co-
e M. meleagridis. Em se
para perus (Meleagris lorido específico para
tratando de galinhas e
gallopavo), resultando cada uma das espé-
perus, o material genético
em doença respirató- cies de micoplasma,
das linhagens comerciais
ria e reprodutiva, com é o método oficial
deve ser importado
redução da eclodibi- recomendado, com a
livre e mantido em
lidade e com mortali- amostragem represen-
biosseguridade.
dade embrionária. A tativa dos plantéis. O
transmissão vertical e a método SRP é sensí-
infecção embrionária por M. meleagridis vel, mas pouco específico, e exige retes-
resultam na doença em jovens logo após te dos soros reagentes, por inibição da
a eclosão [9]. Em aves desafiadas mais hemaglutinação (IH) ou ensaio imu-
adiante na vida, e que se recuperam, noenzimático (ELISA). IH e ELISA
há resposta imune protetora contra a são métodos sorológicos em microtes-
doença clínica, mas elas se tornam por- te qualitativos e quantitativos, específi-
tadoras subclínicas. M. iowae tem sido cos para cada espécie de micoplasma.
relacionado à redução na eclodibilidade
e à mortalidade embrionária em perus,
e em infecções experimentais, aerossa-
culite em perus e galinhas, assim como
anormalidades nas pernas [5].

Diagnóstico
De acordo com o PNSA, os plan-
téis de espécies de aves comerciais em
reprodução devem, obrigatoriamente,
ser monitorados para as micoplasmoses Figura 3. Soroaglutinação rápida em placa com
soro reagente para Mycoplasma gallisepticum.
alvo de erradicação M. gallisepticum, M. Os grumos roxos ocorrem devido à reação entre
synoviae e M. meleagridis. Em se tratan- o antígeno colorido e os anticorpos no soro.

8. Micoplasmoses 101
O PNSA preconiza, em estabe- aves. Há tolerância de variação de até
lecimentos de controle permanen- duas semanas, nos intervalos trimes-
te (reprodutores elite, bisavós, avós trais ou quadrimestrais, para adequa-
e matrizes), a avaliação periódica a ção às outras práticas de manejo. A
cada três meses, até a eliminação do amostragem para PCR poderá ser de
lote, para galinhas e perus, com iní- três aves para cada mil, no mínimo 10
cio na 12ª semana de idade, por so- e no máximo 20 por núcleo, quando
roaglutinação rápida (SAR) (Fig. 3), não for possível a coleta por suabe. Os
de, no mínimo, 300 amostras de so- soros de aves de reprodução estacio-
ros individuais para M. gallisepticum nal (sazonal) devem ser amostrados
e 100 (cem) amostras para M. syno- para SAR 30 dias antes da estação de
viae, selecionadas aleatoriamente e reprodução (postura) e 30 dias após
com amostras de tamanho igual de o final da postura. As aves reagentes
todos os galpões e ou boxes. Os so- são retestadas, no mínimo de 20, para
ros reagentes são retestados por IH confirmação por IH (soro) e PCR e/
ou ELISA. As aves reprodutoras em ou cultivo (suabe). Para perus, os tes-
início de produção, com cerca de tes devem incluir M. melleagridis e M.
5% de postura, devem ser retestadas iowae, com as mesmas metodologias e
por SAR para M. gallisepticum (150 amostragens.
amostras por núcleo), e M. synoviae É obrigatória a erradicação de M.
(100 amostras por núcleo). As aves gallisepticum, M. synoviae e M. melea-
reagentes, devem ser confirmadas por gridis para reprodutores comerciais,
IH ou ELISA. Os reagentes por SAR sendo proibido qualquer tratamento
e retestados por IH/ELISA são con- antibacteriano antes das amostragens
siderados negativos na diluição até de monitoração e vigilância, pois po-
1:20, suspeitos até 1:40 e positivos dem interferir nos resultados da soro-
até 1:80. Alternativamente, aos 5% de logia, resultando em falso-negativos,
postura, são coletados, no mínimo, assim como é proibida a vacinação,
dois e, no máximo, seis suabes de tra- por resultar em reatividade sorológica.
queia por núcleo e com reteste con- O isolamento e a identificação de
tínuo a cada quatro meses, para rea- micoplasma podem não ser possíveis
ção em cadeia pela polimerase (PCR) em rotina, e são poucos os labora-
e/ou cultivo. Os suabes traqueais tórios preparados para essa pesqui-
são utilizáveis em aves adultas ou de sa. Os meios de cultivo, para evitar
grande porte e podem ser misturados o isolamento das outras bactérias e
(pool) três a três, com mínimo de dois dos fungos presentes, devem conter
e máximo de seis por núcleo de mil antibiótico (penicilina) e acetato de
102 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
tálio. As colônias de
A política de Prevenção e
Mycoplasma são pe-
biosseguridade é necessária controle
quenas e necessitam
para a manutenção do A biossegurida-
de visualização ao mi-
status de livre para os de é necessária para
croscópio. Têm borda plantéis reprodutores
e região central que a manutenção do
industriais. As granjas status de livre para
lembram um ovo frito devem ser isoladas e sem
(Fig. 4). Atualmente, os plantéis reprodu-
visitação, com núcleos de tores industriais. As
as primeiras escolhas produção especializados granjas devem ser
para o diagnóstico de por origem e idade, com isoladas e sem visita-
micoplasmose e para distanciamento e sem fluxo
ção, com núcleos de
a caracterização de cruzado de pessoal ou produção especiali-
micoplasmas são os veículos. zados por origem e
métodos moleculares
idade, com distan-
de amplificação do
ciamento e sem fluxo cruzado de
genoma, por PCR, com oligonucleotí-
pessoal ou veículos.
deos iniciadores (primers) específicos.
Os plantéis de estoque genético,
Primers para IGSR (16S-23S intergenic elite, bisavós e avós de galinhas, fran-
spacer region) ou para mgc2, são usados gos e perus da avicultura industrial,
na caracterização e os produtos de PCR, são livres dos micoplasmas descritos
são avaliados por análise do polimorfis- no PNSA. Entretanto, pode haver
mo dos fragmentos de DNA obtidos problemas localizados na avicultura
por enzimas de restrição (RFLP) ou por de matrizes, precursoras de poedei-
sequenciamento [18, 42]. ras comerciais ou frangos, em gran-
jas estabelecidas há mais tempo,
com problemas de biosseguridade,
as quais, para controle, devem aten-
der às recomendações do PNSA.
Os plantéis comerciais de galinhas
de postura, de frangos de corte e de
perus têm melhor produtividade ao
serem livres de micoplasmose.
No momento da importação, as
aves ou os ovos férteis de reprodu-
Figura 4. Microscopia de colônia (seta) de ção e de produção comercial para
Mycoplasma gallisepticum em meio de Frey et
al. (1968). Notar o aspecto característico de “ovo reposição de plantéis avícolas são
frito”. Barra= 1mm. amostrados no ponto de ingresso
8. Micoplasmoses 103
(aeroporto), e os tes- da micoplasmose na
Para poedeiras em regiões
tes laboratoriais de- produção de ovos. A
endêmicas com múltiplas
vem atender às nor- estirpe de M. gallisepti-
idades e procedências de
mas para importação
galinhas, a vacinação pode cum F (MG-F) é a mais
e exportação de aves representar benefício na usada, produzida em
e ovos férteis. Para produtividade, por redução estudos de atenuação
aves de grande porte da manifestação clínica. da estirpe Connecticut
(ratitas: avestruzes, F [54], uma estirpe pa-
emas), os ovos im- togênica típica [57].
portados são transferidos para incu- Vacinas vetorizadas foram desenvol-
batório previamente habilitado pelo vidas e estão disponíveis tanto no mer-
MAPA e, no momento da eclosão, cado nacional quanto no internacional.
procede-se à coleta de mecônio de HVT (estirpe vacinal contra a doença
ovos bicados, ovos com mortalidade de Marek) foi preparado como vetor
na casca, aves de descarte e suabes de genes relevantes de M. gallisepticum
de cloaca e de traqueia, para isola- para a indução de proteção ao mesmo
mento dos agentes e/ou PCR . tempo contra a doença de Marek e M.
Para poedeiras em regiões endêmi- gallisepticum. A vantagem da vacina ve-
cas com múltiplas idades e procedências torizada é a ausência de M. gallisepti-
de galinhas, a vacinação pode represen- cum e seu potencial risco de reversão de
tar benefício na produtividade, por re- patogenicidade.
dução da manifestação clínica. A vacina- O tratamento pode ser adotado
ção com bacterinas (vacinas inativadas) apenas em plantéis comerciais não re-
tem a vantagem de não produtores, poedeiras
introduzir o risco de Vacinas vetorizadas e frangos, com obedi-
reversão das vacinas vi- foram desenvolvidas e ência aos prazos, para
vas. Entretanto, a imu- estão disponíveis tanto no eliminar o risco de
nidade induzida pode mercado nacional quanto resíduos, para consu-
permitir a infecção no internacional. HVT mo dos produtos e/
assintomática com M. (estirpe vacinal contra ou abate, bem como
gallisepticum de campo a doença de Marek) foi avaliação de custo-be-
[21]. preparado como vetor nefício. Nas granjas de
Vacinas vivas têm de genes relevantes de poedeiras com idades
sido empregadas na M. gallisepticum para a múltiplas, há perpe-
avicultura de postura indução de proteção, ao tuação das micoplas-
brasileira, com o objeti- mesmo tempo contra a moses, e a intervenção
vo de reduzir o impacto doença de Marek e M. com antibióticos [ti-
104 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
losina e azitromicina (macrolídeos) e tembro de 1994. Institui o Programa Nacional de
Sanidade Avícola do Ministério da Agricultura,
enrofloxacina (quinolonas)] ou com va- Pecuária e Abastecimento. Diário Oficial da União,
cinação pode melhorar os indicadores Brasília, Distrito Federal. 19/09/1994, Seção 1,
p.13.
de produção e reprodução. As vacinas
8. CERDÁ, R.O. Medidas de prevención y control
disponíveis contra M. gallisepticum para de la micoplasmosis en latinoamérica. In: 20o
poedeiras comerciais podem melhorar Congresso Latino Americano Avicultura, Porto
Alegre. Anais... Porto Alegre: Centro de Evento
os indicadores de produção de ovos em Fingers, 2007, p. 111-124.
granjas de múltiplas idades e são produ- 9. CHIN, R. P.; GHAZIKHANIAN, G. Y.; KEMPF,
zidas com estirpes, por exemplo, estirpe I. Mycoplasma meleagridis Infection. . In: Saif,
F de baixa patogenicidade natural, ou Y.M.; Barnes, H.J.; Fadly, A. M. et al. eds. Diseases
of Poultry. Ames: Iowa State University Press.
mais atenuadas, TS-11 e 6/85. 2003, 11 ed., p. 744-756.
10. CHRISTENSEN, N. H., CHRISTINE A. YAVARI,
Referências A. J. MCBAIN & JANET M. BRADBURY (1994)
Investigations into the survival of Mycoplasma gal-
1. ARMOUR, N.K., LAIBINIS, V. A., COLLETT, S. lisepticum, Mycoplasma synoviae and Mycoplasma
R. & FERGUSON-NOEL, N. (2013) The develo- iowae on materials found in the poultry house en-
pment and application of a Mycoplasma gallisep- vironment, Avian Pathology, 23:1, 127-143, DOI:
ticum sequence database, Avian Pathology, 42:5, 10.1080/03079459408418980.
408-415, DOI: 10.1080/03079457.2013.819486.
11. FERGUSSON, M.M.; LEITING, V.A.;
2. BLACKALL, P.J. 1999. Infectious Coryza: KLEVEN, S.H. Safety and efficacy of the avirulent
Overview of the Disease and New Diagnostic Mycoplasma gallisetpticum strain K5054 as live
Options. Clinical Microbiol Rev. 12, 627-632. vaccine in poultry. Avian Diseases, v.48, n. 1, p. 91-
3. BARBOUR E.K., MASTORI F.A., ABDEL 99, 2004.
NOUR A.M., et al. 2009. Standardization of a 12. FREY M.L., HANSON R.P. & ANDERSON
new model of H9N2/Escherichia coli challenge D.P. (1968). A medium for the isolation of avian
in broilers in the Lebanon. Vet Ital. 45: 2, 317-322. Mycoplasmas. Am. J. Vet. Res., 29, 2163-2171.
4. BOGUSLAVSKY, S.D.; MENAKER, I.L.; 13. GHARAIBEH, S.; LAIBINIS, V.; WOOTEN, R.
LYSNYANSKY, I. et al. Molecular characterization et al. Molecular characterization of Mycoplasma
of the Mycoplasma gallisepticum pvpA gene wich gallisepticum isolates from Jordan. Avian Diseases,
encodes a putative variable cytadhesin protein. v. 55, n. 2, p. 212-216, 2011.
Infection and Immunology, v. 68, n. 7, p. 3956-
3964, 2000. 14. GLISSON, J. R.; KLEVEN, S. H. Mycoplasma
gallisepticum vaccination: further studies on egg
5. BRADBURY, J. M.; KLEVEN, S. H. Mycoplasma transmission and egg production. Avian Diseases,
iowae Infection. . In: Saif, Y.M.; Barnes, H.J.; Fadly, v. 29, n. 2, p. 408-415, 1985.
A. M. et al. eds. Diseases of Poultry. Ames: Iowa
State University Press. 2003, 11 ed., p. 766-771. 15. GOH, M.S.; GORTON, T.S.; FORSYTH, M.H.
et al. Molecular and biochemical analysis of a
6. BRASIL. Instrução Normativa DAS/n.44 de 23 de 105 kDa Mycoplasma gallisepticum cytadhesin
agosto de 2001. Aprova sobre as normas técnicas (GapA). Microbiology, v. 144, n. 11, p. 2971-2978,
para o controle e a certificação de núcleos e esta- 1998.
belecimentos avícolas para a micoplasmose aviária
(Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma synoviae 16. HANATOW, L.L.; KEELER JR, C.L.; TESSMER,
e Mycoplasma meleagridis), em conformidade L.L. et al. Characterization of MGC2, a
com os Anexos a essa Instrução Normativa. 2009. Mycoplasma gallisepticum cytadhesin with ho-
Diário Oficial da União, Brasília, Distrito Federal. mology to the Mycoplasma pneumoniae 30-kilo-
23/08/2001. dalton protein P30 and Mycoplasma genitalium
P32. Infection and and Immunology, v. 66, n. 7, p.
7. BRASIL. Portaria Ministerial nº 193, de 19 de se- 3436-3442, 1998.

8. Micoplasmoses 105
17. HARASAWA, R. Genetic relationships among 29. LIN, M.Y.; KLEVEN, S.H. 1984. Evaluation of at-
mycoplasmas based on the 16S-23S RNA spacer tenuated strains of Mycoplasma gallisepticum as
sequence. Microbiology and Immunology, v. 43, n. vaccines in young chickens. Avian Diseases, v. 28,
2, p. 127-132, 1999. n. 1, p. 88-99.
18. HARASAWA R, MIZUSAWA H, NOZAWA K, 30. LOCKABY S.B., HOERR F.J., LAUERMAN L.H.,
NAKAGAWA T, ASADA K, KATO I. Detection et al. 1998. Pathogenicity of Mycoplasma synoviae
and tentative identification of dominant in broiler chickens. Vet Pathol. 35:3, 178-190.
Mycoplasma species in cell cultures by restriction
analysis of the 16S-23S rRNA intergenic spacer re- 31. MCBRIDE, M. D., D. W. HIRD, T. E.
gions. Res Microbiol 1993; 144 :489-93. CARPENTER, K. P. SNIPES, C. DANAYE-
ELMI, and W. W. UTTERBACK. 1991. Health
19. KATO, K. 1965. Infectious coryza of chickens. V. survey of backyard poultry and other avian species
Influence of M. gallisepticum infection of chickens located within one mile of commercial California
infected with H. gallinarum. Natl. Inst. Anim. Hlth. meat-turkey flocks. Avian Dis 35:403-7.
5, 183-189.
32. MCMARTIN, D. A., M. I. KHAN, T. B. FARVER,
20. KLEVEN, S. H. Transmissibility of the F-strain of and G. CHRISTIE. 1987. Delineation of the lateral
Mycoplasma gallisetpticum in leghorn chickens. spread of Mycoplasma gallisepticum infection in
Avians Diseases, v. 25, p. 1005-1018, 1981. chickens. Avian Dis 31:814—819.
21. KLEVEN, S. H. 1985. Tracheal populations of 33. METTIFOGO, E.; BUZINHANI, M.; BUIM,
Mycoplasma gallisepticum after challenge of bac- M.R. et al. Molecular characterization of
terin-vaccinated chickens. Avian Dis 29:1012-7. Mycoplasma gallisepticum isolates using RAPD
22. KLEVEN, S. H. Control of avian Mycoplasma in- and PFGE isolated from chickens in Brazil. Journal
fections in comerical poultry. Avian Diseases. v. 52, of Veterinary Medicine B - Infectious Diseases and
n. 3, p. 367-374, 2008. Veterinary Public Health, v. 53, n. 9, p. 445-450,
2006.
23. LAUERMAN, L.H., HOERR, F.J., SHARPTON,
A.R., et al. 1993. Development and application of 34. METTIFOGO, E.; FERREIRA, A. J. P.
a polymerase chain reaction assay for Mycoplasma Micoplasmose aviária. Andreatti Filho, R. L. Saúde
synoviae. Avian Dis. 37:3, 829-834. Aviária. São Paulo: Roca, p. 147-151, 2006.
24. LAUERMAN, L.H.; CHILINA, A.R.; CLOSSER, 35. MIKAELIAN, I., D. H. LEY, R. CLAVEAU, and M.
J.A. et al. Avian Mycoplasma identification using LEMIEUX. 2001. Mycoplasma gallisepticum from
polymerase chain reaction amplicon and restric- evening grosbeaks and pine grosbeaks with con-
tion fragment length polymorphism analysis. junctivitis in Quebec, Canada. J Wildl Dis In press.
Avian Diseases, v. 39. n. 4, p. 804-811, 1995. 36. MOHAMED, Y.S., MOORHEAD, P.D., BOHL,
25. LEY, D. H. Mycoplasma gallisepticum infection. E.H. 1969. Preliminary observations on possible
In: Saif, Y.M.; Barnes, H.J.; Fadly, A. M. et al. eds. synergism between infectious laryngotracheitis vi-
Diseases of Poultry. Ames: Iowa State University rus and Hemophilus gallinarum. Avian Dis. 13:1,
Press. 2003, 11 ed., p. 722-744. 158-162.
26. LEY, D.H.; AVAKIAN, A.P.; BEKHOFF, J.E. 37. MOHAMMED, H.O., CARPENTER, T.E.,
Clinical Mycoplasma gallisepticum infection in YAMAMOTO, R. 1987. Economic impact of
multiplier breeder and meat turkeys caused by F Mycoplasma gallisepticum and M. synoviae in
strain: identification by sodium dodecyl sulfate- commercial layer flocks. Avian Dis. 31, 477-482.
polyacrylamide gel electrophoresis, restriction en- 38. MOHAMMED, H. O., T. E. CARPENTER, R.
donuclease analysis, and the polymerase chain re- YAMAMOTO, and D. A. MCMARTIN. 1986.
action. Avian Diseases, v. 37, n. 3, p. 854-862.1993. Prevalence of Mycoplasma gallisepticum and M.
27. LEY, D. H., J. E. BERKHOFF, and J. M. synoviae in commercial layers in southern and cen-
MCLAREN. 1996. Mycoplasma gallisepticum iso- tral California. Avian Dis 30:519-26.
lated from house finches (Carpodacus mexicanus) 39. NASCIMENTO, E.R. POLO P. A., PEREIRA
with conjunctivitis. Avian Dis 40:480-3. V.L.A., et al. 2006. Serologic Response of SPF
28. LIN, M. Y. and S. H. KLEVEN. 1982. Egg transmis- Chickens to Live Vaccines and other Strains of
sion of two strains of Mycoplasma gallisepticum in Mycoplasma gallisepticum. Rev Bras de Cienc Av.
chickens. Avian Dis 26:487-95. 8:1, 45-50.

106 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


40. NASCIMENTO, E.R.; PEREIRA, V.L.A. 51. TAMURA ,K.; PETERSON, D.; PETERSON, N.
Micoplasmoses. In: Berchieri Jr, A.; Macari, M. et al. MEGA5: molecular Evolutionary Genetics
et al., ed. Doenças das aves. Campinas: Fundação Analysis using Maximum Likelihood, Evolutionary
APINCO de Ciência e Tecnologia Avícola, 2009, Distance, and Maximum Parsimony Methods.
p. 485-502. Molecular Biology and Evolution, v.28, n. 10, p.
2731-2739, 2011.
41. National Poultry Improvement Plan and Auxiliary
Provisions. 1982. Publication APHIS 91-55-031. 52. TULLY, J.G. Cloning and filtration tecnhiques for
Animal and Plant Health Inspection Service, U.S. mycoplasmas: mycoplasma. In: Razin, S.; Tully,
Department of Agriculture: Hyattsville, MD, J.G. eds. Methods in mycoplasmology. San Diego:
59-72. Academic Press, v. 1, 1995b, p. 173-177.
42. OIE - Office International des Epizooties. 53. TULLY, J.G. Culture medium formulation for pri-
Terrestrial Manual 2008, Chapter 2.3.5. – Avian mary isolation and maintenance of molicutes in
mycoplasmosis (Mycoplasma gallisepticum, M. molecular and diagnostic procedures in mycoplas-
synoviae). mology. In: Razin, S; Tully, J. G., eds. Methods in
mycoplasmology. San Diego: Academic Press, v. 1,
43. PAPAZISI, L., FRASCA S., GLADD, M., et al. 1995a, p. 33-39.
2002. GapA and CrmA Coexpression Is Essential
for Mycoplasma gallisepticum Cytadherence and 54. VAN DER HEIDE, L. 1977. Vaccination can
Virulence. Infec and immune. 70:12, 6839-6845. control costly chronic respiratory disease in poul-
try. Research Report, Conn Storrs Agric Exp Stn
44. RAVIV Z, CALLISON S, FERGUSON-NOEL N, 47:26.
LAIBINIS V, WOOTEN R, KLEVEN SH. 2007.
The Mycoplasma gallisepticum 16S-23S rRNA in- 55. VOLOKHOV, D.V.; GEORGE, J.; LIU, S.X. et al.
tergenic spacer region sequence as a novel tool for Sequencing of the intergenic 16S-23S rRNA spacer
epizootiological studies. Avian Dis.51:2, 555-60. (ITS) region of Mollicutes species and their iden-
tification using microarray-based assay and DNA
45. RAVIV, Z.; CALLISON, S.; FERGUSON-NOEL, sequencing. Applied Microbiology Biotechnology,
N. et al. The Mycoplasma gallisepticum 16S-23S v.71, n.5, p. 680-698, 2006.
rRNA intergenic spacer region sequence as a novel
tool for epizootiological studies. Avian Diseases, v. 56. WOSE, C.R.; STACKEBRANDT, E., LUWIG,
51, n. 2, p. 555-560, 2007. W. What are mycoplasmas: the relationship of
tempo and mode in bacterial evolution. Journal of
46. RAZIN, S.; YOGEV, D.; NAOT, Y. Molecular Mollecular Evolution. v. 21, n. 4, p. 305-316, 1985.
biology and pathogenicity of mycoplasma.
Microbiology and Molecular Biology Reviews, v. 57. YAMAMOTO, R. and H. E. ADLER. 1956. The
62, n. 4, p. 1094-1156, 1998. effect of certain antibiotics and chemical agents on
pleuropheumonia-like agents of avian origin. Am J
47. RECK C., MENIN A., CANEVER M.F., et al. Vet Res 17:538—542.
2013. Rapid detection of Mycoplasma synoviae
and avian reovirus in clinical samples of poultry us- 58. YODER JR, H. W. Mycoplasma gallisepticum in-
ing multiplex PCR. Avian Dis. 57:2, 220-224. fection. In: Calnek et al. eds. Diseases of Poultry.
Ames: Iowa State University Press. 1991, 9 ed., p
48. RODRIGUEZ, R.; KLEVEN, S.H. Pathogenicity 198-212.
of two strains of Mycoplasma gallisepticum in
broiler chickens. Avian Diseases, v. 24, n. 4, p. 800- 59. YOSHIDA, S.A.; FUJISAWA, Y.; TSUZAKI, Y. et
807, 1980. al. Identification and expression of a Mycoplasma
gallisepticum surface antigen recognized by
49. SMITH, H.W., COOK, J.K.A. & PARSELL, Z.E. a monoclonal antibody capable of inhibiting
(1985). The experimental infection of chickens both growth and metabolism. Infection and
with mixtures of infectious bronchitis virus and Immunology, v. 68, n. 6, p. 3186-3192, 2000.
Escherichia coli. Journal of General Virology, 66,
777-786. 60. ZAIN, Z.M.; BRADBURY, J.M. Optimising the
conditions for isolation of Mycoplasma gallisep-
50. STIPKOVITS L., KEMPFT I. 1996. ticum collected on applicator swabs. Veterinary
Mycoplasmosis in poultry. Rev. Off. Int. Epizoot, Microbiology, v. 49, n. 1, p. 45-57, 1996.
15, 1495-1525.

8. Micoplasmoses 107
9. Salmoneloses

Ana Caroline Doyle Torres1


Sandra Yuliet Marin2
José Sérgio de Resende3 - CRMV-MG 1623
Nelson Rodrigo da Silva Martins3 - CRMV-MG 4809
1
Mestranda, médica veterinária, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
2
Pós-doutoranda, médica veterinária, mestra, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG
3
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, DMVP, Escola de Veterinária, UFMG

bigstockphoto.com

Salmoneloses são infecções por pública são Salmonella Typhimurium


bactérias do gênero Salmonella. As sal- e S. Enteritidis e também alvo de con-
moneloses mais importantes no que trole oficial. Em humanos, outras soro-
tange à saúde das aves da avicultura variedades estão adquirindo relevân-
industrial (galinha e peru) são o tifo cia, como S. Newport [3]. O PNSA
aviário (Salmonella Pullorum) e a pu- estabelece, em legislação própria, as
lorose (Salmonella Gallinarum). Ambas normas de qualidade para a avicultura
foram erradicadas da genética das ga- industrial, para o controle das doenças
linhas e dos perus industriais, tendo de impactos econômicos e sociais mais
em vista as doenças graves que causam importantes [3].
nessas espécies. Atualmente, ambas As salmoneloses podem resultar
são consideradas sorovariedade única em doença superaguda ou crônica em
S. Gallinarum-Pullorum (SGP) [4]. O aves de todas as idades. As galinhas de
Programa Nacional de Sanidade Avícola subsistência ou de fundo de quintal são
(PNSA) determina a norma sanitária comumente infectadas, e, por sua rusti-
para aves industriais, galinhas, perus e cidade, algumas podem sobreviver em
outras espécies no Brasil [3]. As sorova- surtos de tifo e pulorose, podendo per-
riedades de maior importância à saúde manecer portadoras, com transmissão
108 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
via transovariana para a e com pouco ou apenas
As salmoneloses são
progênie. As salmonelas leve impacto clínico em
doenças causadas por
do grupo paratifo são aves antes das duas se-
bactérias do gênero
móveis e transmitidas manas de idade. Entre
Salmonella, sendo,
através da casca do ovo as milhares de sorova-
em aves domésticas,
contaminado [17]. riedades (>2.500) de
mais importante
Há pouco e quase Salmonella, todas po-
a sorovariedade
nenhum significado de Salmonella dem ter alguma impor-
SGP em saúde públi- Gallinarum-Pullorum, tância em saúde pública,
ca. Em 10 anos, entre causadora do tifo por infectarem a ave e o
1982-1992, de mais aviário, doença produto avícola de con-
de 458.000 isolados septicêmica de adultos sumo humano, carne e
de Salmonella de toxi- e pulorose, doença ovos, especialmente de
-infecção alimentar em septicêmica de pintinhos plantéis sem adequada
humanos, apenas 26 fo- ou peruzinhos após a monitoração [2, 3, 4, 13,
ram identificados como eclosão. Salmonella 17]. Nos produtos de
SGP [3]. Arizonae causa consumo de aves indus-
doença semelhante à triais, a tolerância é zero
Etiologia pulorose em pintinhos e e todas as partidas são
As salmoneloses peruzinhos. amostradas para o gê-
são doenças causadas nero Salmonella, junta-
por bactérias do gênero mente com outros gêne-
Salmonella, sendo, em aves domésti- ros importantes, como Campylobacter,
cas, mais importante a sorovarieda- Escherichia, e Listeria [3].
de Salmonella Gallinarum-Pullorum,
causadora do tifo aviário, doença Classificação
septicêmica de adultos, e pulorose, As salmonelas pertencem à família
doença septicêmica de pintinhos ou Enterobacteriaceae, gênero Salmonella,
peruzinhos após a eclosão. Salmonella em homenagem ao bacteriologista ve-
Arizonae causa doença semelhante à terinário Daniel E. Salmon, do United
pulorose em pintinhos e peruzinhos. States Department of Agriculture
Entre as infecções por outras sorova- (USDA). São bastonetes Gram-
riedades (grupo paratifo), têm especial negativos aeróbios e anaeróbios facul-
importância Salmonella typhimurium tativos e, em sua maioria, móveis por
(S. Typhimurium) e S. enteritidis (S. flagelos, com exceção da sorovariedade
Enteritidis), por sua ocorrência em to- Gallinarum-Pullorum, que é imó-
xi-infecções alimentares em humanos vel, não possuindo flagelos. A espécie
9. Salmoneloses 109
Salmonella enterica contém seis subes- manifestação clínica em outras espé-
pécies, sendo importante para aves a su- cies [17]. A transmissão de pulorose
bespécie de animais de sangue quente, S. e tifo pode ser vertical e horizontal.
enterica enterica. Estão listadas no PNSA No ovário, há infecção transovariana
Salmonella enterica enterica sorovarie- de folículos, que resulta em anomalias
dade Pullorum (S. Pullorum), S.e.e. so- foliculares com número crescente de
rovariedade Gallinarum (S. Gallinarum), folículos alterados, embora se mante-
S.e.e. Typhimurium (S. Typhimurium) nham folículos normais por um longo
e S.e.e. Enteritidis (S. Enteritidis). Mais período de transmissão.
de 2.500 sorovariedades foram caracte- A pulorose é forma septicêmica de
rizadas, e o número continua crescendo. aves jovens e tem forte associação com
Algumas sorovariedades são hospedei- a infecção transovariana na fêmea infec-
ro–específicas, e muitas ocorrem em tada. A fêmea transmissora é principal-
múltiplos hospedeiros, embora todas se- mente assintomática na fase de trans-
jam patógenos potenciais de humanos. O missão. A detecção de anticorpos por
PNSA determina a vigilância e a erradi- soroaglutinação rápida com antígeno
cação de focos de Salmonella enterica en- colorido [15] foi a metodologia de de-
terica sorovariedade Pullorum (S. pullo- tecção da infecção em galinhas portado-
rum), S.e.e. sorovariedade Gallinarum ras iniciada no final dos anos 1930, em
(S. gallinarum), S.e.e. Typhimurium (S. uma época em que pulorose era devasta-
typhimurium) e S.e.e. Enteritidis (S. en- dora, com até 100% de mortalidade nos
teritidis) [3]. Houve a recente unifica- Estados Unidos. A pulorose foi primei-
ção de S. Gallinarum e S. Pullorum na ramente denominada diarreia branca
sorovariedade S. Gallinarum-Pullorum bacilar, pela presença de diarreia bran-
(SGP) [13, 17]. ca, aderência de fezes brancas ao redor
e na cloaca e pela presença de bastonete
Transmissão e doença bacteriano. A gravidade de pulorose e
A pulorose (S. Pullorum) e o tifo a inviabilização da avicultura forçaram
aviário (S. Gallinarum) são doenças a criação de planos de erradicação nos
septicêmicas principalmente das espé- Estados Unidos da América [7, 15],
cies das galinhas (postura e corte) e dos sendo logo ampliados para combater
perus. Embora outras espécies de hos- também o tifo aviário. As salmonelas
pedeiros tenham sido descritas, como causadoras de doença em aves domés-
a codorna, o faisão, a galinha- d’angola ticas S. gallinarum (ou S. Gallinarum) e
e o pavão, a sorovariedade Gallinarum- S. pullorum (ou S. Pullorum) têm trans-
Pullorum é considerada muito restrita missão transovariana, principalmente
aos hospedeiros principais, com rara por infecção do óvulo durante a ovula-
110 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
ção para o infundíbulo. à necrópsia, podem ser observadas es-
A galinha portadora pode transmitir plenomegalia (Fig. 2), hepatomegalia
S. pullorum para 1/3 da progênie (via e focos de necrose hepática (Fig. 2). O
vertical de transmissão). O pintinho que fígado pode apresentar uma tonalidade
eclode infectado por S. pullorum trans- verde-escura.
mite a infecção no nascedouro e, duran- Há pouca importância de SGP em
te a cria, via fecal-oral (via horizontal de saúde pública. Entre 1982-1992, a iden-
transmissão). Progênies infectadas no tificação de mais de 458.000 isolados de
ovário/infundíbulo (via vertical) apre-
Salmonella de toxi-infecção alimentar
sentam clinicamente pulorose septicê-
em humanos nos Estados Unidos da
mica desde o primeiro dia de vida, com
América resultou em apenas 26 estirpes
infecção sistêmica, fraqueza, prostração,
diarreia, desidratação e tampão de fezes
na cloaca. A transmissão horizontal para
os demais em convívio resulta no surgi-
mento da doença generalizada em pou-
cos dias [13, 17].
O tifo aviário é a forma septicêmica
em adultos, caracterizada pela morte sú-
bita de aves de aspecto prévio saudável.
Apesar de o tifo aviário (S. gallinarum)
poder ocorrer em jovens e seus efeitos
Figura 1. Ovário com degeneração folicular. Neste
negativos serem importantes desde a caso, os folículos anômalos têm cor esverdeada,
eclosão, a doença típica ocorre em adul- deformidade e acumulação de líquido (seta).
tos. O tifo aviário pode ser doença su-
peraguda em adultos, com a morte sú-
bita de aves de aspecto saudável. As aves
com infecção mais prolongada podem
apresentar ooforite (Fig. 1), a infecção
do ovário, que gradualmente as torna
inférteis. Durante o processo gradual de
infecção ovariana, há, entretanto, a for-
mação de folículos normais e a geração
de progênie viável, que garante a trans-
missão vertical. Para aves em convívio, Figura 2. Coração com focos de necrose e baço
aumentado. Os focos de necrose são áreas mais
após a eclosão haverá a transmissão claras ou brancas. No baço, veem-se focos de ne-
horizontal. Em ambas as salmonelas, crose (seta).

9. Salmoneloses 111
identificadas como SGP [13, 17]. As Por exemplo: proteínas determinan-
demais salmonelas, mais de 1.400 soro- tes de virulência em bactérias Gram-
variedades do grupo paratifo, por exem- negativas, como as codificadas pelo
plo S. Typhimurium e S. Enteritidis, gene de invA, atuam desviando proces-
são principalmente transmitidas através sos bioquímicos celulares em favor do
da casca do ovo, durante a passagem patógeno. Uma nanosseringa (sistema
pela cloaca ou logo após a postura [13, secretório de proteína tipo III – T3SS)
17]. A Anvisa e o Mapa avaliam regu- transloca proteínas da bactéria através
larmente, por amostragem, a qualidade da membrana celular, permitindo a en-
do produto de origem animal. No re- trada no citoplasma de fatores de viru-
latório da Anvisa de 2008, foi encon- lência celular. Em outras palavras, T3SS
trada a presença de Salmonella (49% atua como uma seringa molecular que
S. Enteritidis, 7,2% S. Typhimurium e inocula proteínas efetoras de patogeni-
4,8% S. MBandaka) em 4% da carne de cidade [11].
frango (Fig. 3) [2]. A proteção contra S. Enteritidis foi
Fatores moleculares de virulência avaliada experimentalmente, sugerindo
bacteriana estão sendo caracterizados. que heterófilos (granulócito polimorfo-

Sorovar N Sorovar %
S. Enteritidis 122 48,8
S. Typhimurium 18 7,2
s. Mbandaka 12 4,8
S.Give 5 2
S.Heidelberg 16 6,4
S.Infantis 19 7,6
S.Rissen 8 3,2
S.Newport 2 0,8
S.Panama 5 2
S.Agona 9 3,6
S.Schwarzenground 3 1,2
S.Senftenberg 3 1,2
S.Minnesota 3 1,2
S.Lexigton 2 0,8
S.Ohio 3 1,2
S.Gaminara 1 0,4

Figura 3. Ocorrência de sorovariedades de Salmonella enterica enterica em carne de frango. Relatório


Prebaf, Anvisa, 2008 [2].

112 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


nuclear equivalente ao neutrófilo) são no tifo aviário podem ser motivos de
fundamentais no combate inicial e na suspeita [13, 17]. Para o diagnóstico
redução da patogênese [10]. A proteção sorológico, as aves são testadas por so-
é mediada por peptídeos antimicrobia- roaglutinação rápida (SRP; anticorpos
nos, óxido nitroso e compostos oxidati- no soro) (Fig. 4), e as aves reagentes
vos [6]. No início da infecção intestinal, (máximo de 10) são amostradas para
a imunidade inata é ativada e desenca- confirmação por isolamento e identifi-
deia influxo de heterófilos e macrófa- cação bacteriana. Dessas aves devem ser
gos para o local, reduzindo significati- coletados, com material cirúrgico auto-
vamente a invasibilidade da salmonela, clavado, para bacteriologia, fígado, baço
embora podendo resultar em eventual ovário, saco vitelino, os quias devem
dano autoimune. A perda dos heterófi- ser embalados separadamente em sacos
los pode modificar a evolução e o prog- plásticos ou frascos próprios e enviados
nóstico, de infecção localizada no siste- em caixa isotérmica com gelo reciclável,
ma gastrintestinal para doença sistêmica para confirmação laboratorial [3, 13,
fatal. A invasão é um processo inflama- 17].
tório, com expressão de citocinas pró- O diagnóstico de Salmonella pode
-inflamatórias e quimiocinas CXCLi1 e ser feito pela detecção do DNA bacte-
CXCLi2 (equivalentes à IL-8 de mamí- riano. A amplificação de parte do gene
feros). O influxo intestinal de heterófi- invA, descrita primeiramente para
los e monócitos fagocitários resulta em Salmonella Typhimurium [13], em rea-
inflamação e dano às vilosidades (fusão ções em cadeia pela polimerase (PCR) é
e achatamento), com secreções bacte- considerada um método universal para
rianas SPI1 tipo III. O reconhecimento a detecção do gênero (Salmonella spp.).
da flagelina por TLR5 (toll-like receptor Para a determinação da sorovariedade,
5) é elemento chave na estimulação da
imunidade inata, e sorovariedades de
Salmonella sem flagelina induzem pou-
ca inflamação [5, 8, 9, 19, 20].

Diagnóstico
A doença por SGP em jovens logo
após a eclosão ou com poucos dias de
idade, caracterizada por diarreia branca,
com tamponamento cloacal por fezes
Figura 4. Reação sorológica para pulorose-tifo
(brancas) na pulorose, ou doença com aviário. Soro reagente em sorologia rápida em
morte aguda/superaguda em adultos placa com antígeno colorido (grumos roxos).

9. Salmoneloses 113
o produto obtido deve ser sequenciado. gallinarum, S. pullorum, S. typhimu-
Para o diagnóstico das infecções por rium e S. enteritidis) dos plantéis repro-
Salmonella de importância em saúde dutores da avicultura tecnificada, por
pública, amostras de poedeiras de ovos seu impacto econômico e em saúde pú-
de consumo em estabelecimentos com blica. Entretanto, em ocasiões especiais,
galpões californianos, clássico ou modi- poderá ser utilizada a vacina contra S.
ficado, por sua maior exposição ao de- enteritidis em matrizes, sob a coorde-
safio, devem ser coletados 300 gramas nação do Mapa. Todas as estratégias de
de fezes frescas por galpão do núcleo, biosseguridade e monitoração devem
preferencialmente cecais, coletadas em ser implementadas para garantir a ma-
diferentes pontos distribuídos ao lon- nutenção do status de livres nos plantéis
go do galpão e reunidas em uma única comerciais.
amostra. Alternativamente, devem ser Os estabelecimentos avícolas de
coletados quatro suabes de arrasto ou postura comercial descritos na Instrução
dois pares de propés, agrupados em um Normativa nº. 10 devem manter alo-
pool, umedecidos com meio de conser- jadas somente aves vacinadas, com
vação, e cada suabe ou par de propés vacinas vivas para S. Enteritidis [12].
deve perfazer 50% da superfície do gal- Poedeiras comerciais de ovos de consu-
pão. Os suabes e propés devem ser ume- mo humano, criadas em estabelecimen-
decidos com meio de conservação e tos avícolas de postura comercial com
transporte, podendo ser água peptona- galpões do tipo californiano, clássico ou
da tambonada 1%, meio de Cary e Blair, modificado, por sua maior exposição ao
solução salina fisiológica ou solução de desafio, devem ser vacinadas contra S.
Ringer diluída a ¼ [12]. Enteritidis, para a redução da infecção
de ovos. A vacina viva de S. Enteritidis
Prevenção e controle deve ser aplicada no incubatório ou na
De acordo com o PNSA, são de vi- recria.
gilância e erradicação obrigatórias para Todos os plantéis devem ser sub-
aves reprodutoras as salmoneloses cau- metidos à vigilância epidemiológica
sadas por S. pullorum, S. gallinarum, para S. Enteritidis, S. Typhimurium e
S. typhimurium e S. enteritidis [3, 12]. S. Gallinarum-Pullorum com coletas de
O tratamento e a vacinação contra as amostras para testes laboratoriais [12].
salmoneloses são proibidos para re- O despovoamento, a eliminação de
produtores na avicultura industrial, e o galinhas e de outras aves domésticas da
Programa Nacional de Sanidade Avícola propriedade e o combate permanente
(PNSA) determina a erradicação das aos ratos são essenciais para a erradica-
quatro principais sorovariedades (S. ção da doença. O combate a um surto
114 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
de S. Pullorum em poedeiras vermelhas Departamento de Saúde Animal, Brasília.
2009. http://www.agricultura.gov.br/
com septicemia aguda foi descrito nos arq_editor/file/Aniamal/Manual%20
Estados Unidos da América (Iowa) e de%20Legisla%C3%A7%C3%A3o%20-%20
Sa%C3%BAde%20Animal%20-%20low.pdf.
pode servir de ilustração para as medi-
das necessárias no enfrentamento em 4. CDC. Centers for Disease Control and
Prevention. Salmonella Surveillance, Annual
criações de avicultura familiar. As aves Summary. (1992): Atlanta, GA, USA.
foram necropsiadas, e enviados teci- 5. CHAPPELL L, KAISER P, BARROW P, JONES
dos/secreções para diagnóstico labora- MA, JOHNSTON C, WIGLEY P. The immu-
nobiologyof avian systemic salmonellosis. Vet
torial. Ratos foram capturados em ar- Immunol Immunopathol (2009) 128:53–9.
madilhas, e a presença de S. Pullorum doi:10.1016/j.vetimm.2008.10.295.
foi demonstrada por isolamento dos 6. CHUAMMITRI P, OSTOJIC J, ANDREASEN
intestinos. Além da granja afetada, de- CB, REDMOND SB, LAMONT SJ, PALIC D.
Chicken heterophil extracellular traps (HETs):
monstraram-se anticorpos por SRP com novel defense mechanism of chicken heterophils.
sangue total e antígeno colorido em uma Vet Immunol Immunopathol (2009) 129:126–
31. doi:10.1016/j.vetimm.2008.12.013.
galinha e dois patos em granja próxima.
Eletroforese de campo pulsado demons- 7. EASTERN STATES CONFERENCE ON
LABORATORY WORKERS IN PULLORUM
trou semelhantes perfis de migração para DISEASE CONTROL. J Am Vet Med Assoc
S. Pullorum, indicando semelhança ge- (1930), 77:259—263.
nética dos isolados das galinhas, dos pa- 8. IQBAL M, PHILBIN VJ, WITHANAGE GS,
WIGLEY P, BEAL RK, GOODCHILD MJ, et
tos e dos ratos na granja afetada e na vizi- al. Identification and functional characteriza-
nha, possivelmente de origem comum. A tion of chicken toll-like receptor 5 reveals a
fundamental role in the biology of infection
depopulação, a limpeza, o vazio sanitário with Salmonella enteric serovar Typhimurium.
e a captura de ratos permitiram a erradi- Infect Immun (2005) 73:2344-50. doi:10.1128/
IAI.73.4. 2344-2350.
cação da estirpe de Salmonella Pullorum
responsável [1]. 9. KAISER P, ROTHWELL L, GALYOV EE,
BARROW PA, BURNSIDE J, WIGLEY P.
Differential cytokine expression in avian cells in
Referências response to invasion by Salmonella typhimuri-
um, Salmonella enteritidis and Salmonella
1. ANDERSON LA, DA MILLER and DW Gallinarum. Microbiology (2000) 146(Pt
TRAMPEL. Epidemiological investigation, 12):3217-26.
cleanup and eradication of pullorum disease
in adult chickens and ducks in two small-farm 10. KOGUT MH, TELLEZ GI, MCGRUDER ED,
flocks. Avian Dis (2006) 50: 142-147. HARGIS BM, WILLIAMS JD, CORRIER DE,
et al. Heterophils are decisive components in
2. ANVISA, Relatório de pesquisa em vigilância the early responses of chickens to Salmonella
sanitária de alimentos. 2008. http://www.anvi- enteritidis infections. Microb Pathog (1994)
sa.gov.br/alimentos/relatorios/relatorioprebaf. 16:141-51.
pdf.
11. LILIC M, QUEZADA C.M., STEBBINS C.E.. A
3. BRASIL. Manual de Legislação. Ministério conserved domain in type III secretion links the
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. cytoplasmic domain of InvA to elements of the
Programas Nacionais de Saúde Animal do basal body. Acta Crystallogr D Biol Crystallogr.
Brasil. Secretaria de Defesa Agropecuária. (2010) 66 (Pt 6):709-13.

9. Salmoneloses 115
12. MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e 17. SCHAFFER, J. M., A. D. MACDONALD, W. J.
Abastecimento, Instrução Normativa nº. 10, HALL, and H. BUNYEA. A stained antigen for
de 11 de abril de 2013, Defesa Agropecuária, the rapid whole blood test for pullorum disease.
Brasília, DF, 2013. J Am Vet Med Assoc (1931) 79:236-240.

13. MAPA. Ministério de Agricultura, Pecuária e 18. SHIVAPRASAD, H. L. Pullorum disease and
Abastecimento. Manual de Legislação. Programas fowl typhoid. In: Diseases of poultry, 11th ed.
Nacionais de Saúde Animal do Brasil. Brasília, Y. M. Saif, ed. Iowa State Press, Ames, Iowa. pp.
DF, 2009. Baixado de: http://www.agricultura. 568-582. 2003.
gov.br/arq_editor/file/Aniamal/Manual%20
de%20Legisla%C3%A7%C3%A3o%20-%20 19. WIGLEY P, HULME S, ROTHWELL L,
Sa%C3%BAde%20Animal%20-%20low.pdf. BUMSTEAD N, KAISER P, BARROW P.
Macrophages isolated from chickens genetically
14. OIE, Office International dês Epizooties. resistant or susceptible to systemic salmonel-
Terrestrial Manual. FOWL TYPHOID AND losis show magnitudinal and temporal differ-
PULLORUM DISEASE. Chapter 2.3.1.1. ential expression of cytokines and chemokines
Version adopted by the World Assembly of following Salmonella enterica challenge. Infect
Delegates of the OIE in May 2012. Immun (2006) 74:1425-30. doi:10.1128/
IAI.74.2.1425-1430.
15. RAHN K, GRANDIS SA-DE, CLARKE RC,
MCEWEN SA, GALAN JE, GINOCCHIO C, 20. WIGLEY P (2014) Salmonella enterica in the
CURTISS R, GYLES CL. Amplification of an chicken: how it has helped our understanding
invA gene sequence of Salmonella typhimuri- of immunology in a non-biomedical model
um by polymerase chain reaction as a specific species. Front. Immunol. 5:482. doi: 10.3389/
method of detection of Salmonella. Mol Cellular fimmu.2014.00482.
Probes. (1992) 6:271-279.

16. REPORT OF THE CONFERENCE OF


OFFICIAL RESEARCH WORKERS IN
ANIMAL DISEASES OF NORTH AMERICA
ON STANDARD METHODS OF PULLORUM
DISEASE IN BARNYARD FOWL. J Am Vet
Med Assoc (1930), 82:487-491.

116 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


10. Miopatia em
frangos de corte
bigstockphoto.com

Roselene Ecco1 - CRMV-MG 8324


Juliana Fortes Vilarinho Braga2
1
Professora associada, médica veterinária, mestra e doutora, DCCV, Escola de Veterinária, UFMG
2
Doutoranda, médica veterinária, mestra, DCCV, Escola de Veterinária, UFMG

Introdução ve o músculo peitoral maior e os mús-


culos das pernas e coxas5,17. A miopatia
A ocorrência de miopatia em frangos do músculo grande dorsal, em alguns
de corte tornou-se mais frequente nos frangos, foi observada conjuntamen-
últimos anos, refletindo diretamente em te com a miopatia peitoral profunda21.
perdas econômicas para o setor produ- Estima-se que a miopatia das estriações
tivo15,17. A miopatia pei- brancas atinja, aproxi-
toral profunda, também A miopatia em frangos madamente, 12% de in-
conhecida como doen- possui diferentes cidência3,15. A miopatia
ça do músculo verde ou apresentações: miopatia peitoral profunda foi
miopatia degenerativa peitoral profunda, descrita pela primeira
do supracoroideus, é limi- miopatia das estriações vez em perus e matri-
tada ao músculo peitoral brancas e a miopatia do zes pesadas em 1968.
menor. A miopatia das músculo grande dorsal Entretanto, ao longo
estriações brancas envol- (latissimus dorsi). dos anos, tornou-se
10. Miopatia em frangos de corte 117
mais comum em frangos aumento de tamanho
A miopatia das
de corte , especialmente
2
dos músculos peitorais6.
estriações brancas
em frangos selecionados Com o aumento da mas-
acomete o músculo
geneticamente para de- sa muscular, o músculo
peitoral maior e os
senvolvimento dos mús- peitoral menor, confina-
músculos das coxas.
culos peitorais . Alguns
19
do entre a fáscia muscu-
Nessa condição,
autores descrevem ainda lar inelástica e o esterno,
as lesões são
uma terceira forma de sofre compressão, isque-
caracterizadas por
miopatia peitoral, cha- mia e, consequentemen-
graus agudos a crônicos
mada de músculos páli- te, necrose. Acredita-se,
de necrose das fibras em
dos, macios e exsudati- ainda, que a movimenta-
paralelo e substituição
vos (do inglês Pale, soft ção das asas exerça maior
por fibrose e/ou tecido
and exudative – PSE), efeito sobre o músculo
adiposo.
similar à condição des- peitoral menor, o qual
crita em suínos .1
sofre as alterações fisio-
Como descrito acima, a miopatia lógicas relacionadas ao exercício, como
pode envolver o músculo peitoral maior o aumento de volume, contribuindo
(m. pectoralis major) e/ou o músculo para que ocorra a necrose. Além disso,
peitoral menor (m. pectoralis minor = su- o aumento da massa muscular da asa irá
pracoroideous muscle). Os músculos pei- torná-la mais pesada, contribuindo ain-
torais são responsáveis pelo voo das aves da mais para a tensão sobre o músculo
e atuam sinergicamente, levantando e peitoral menor2,5. A miopatia peitoral
abaixando as asas5. O músculo peitoral profunda foi reproduzida em frangos de
maior é o principal músculo propulsor, corte por meio de exercício forçado, em
sendo constituído por miofibras de con- que as aves foram induzidas a bater as
tração rápida (tipo II B) com atividade asas13,18. Nesse caso, apesar de ser uma
glicolítica. Essas fibras respondem com lesão induzida por exercício, sua origem
rápido aumento da massa muscular é isquêmica, em consequência da pres-
branca quando recebem dietas com va- são exercida sobre a musculatura, a qual
lores nutricionais elevados16. impede a perfusão sanguínea de forma
adequada6.
Etiologia e patogênese A miopatia das estriações brancas
A patogênese da miopatia peitoral acomete o músculo peitoral maior e os
ainda não foi totalmente esclarecida. músculos das coxas. Nessa condição,
No entanto, evidências apontam para a as lesões são caracterizadas por graus
seleção genética, a qual determinou rá- agudos a crônicos de necrose das fibras
pido crescimento e ganho de peso pelo em paralelo e substituição por fibrose

118 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


e/ou tecido adiposo9. Aparentemente, A miopatia peitoral sugerida como
as fibras mais susceptíveis são as fibras PSE ocorre no período pré-abate (um
brancas. A seleção genética pode ter au- a três dias) e tem sido relacionada com
mentado a quantidade de fibras brancas o estresse antes da morte, que levaria
ou glicolíticas, as quais podem ser mais à queda rápida no pH tecidual e à alta
vulneráveis pelo aumento na deman- proporção de glicólise após a morte.
da de energia e produção de lactato14. Especula-se, também, a relação com a
Paralelamente, a quantidade e a distri- homeostase de cálcio sarcoplasmático
buição dos vasos e, consequentemente, livre influenciando a atividade enzi-
o suprimento sanguíneo para o músculo mática da enzima fosfolipase A2 e con-
diminuíram em proporção a densida- sequente dano às membranas da fibra
de de fibras musculares, determinando muscular14.
hipóxia e remoção mais lenta do ácido Aparentemente, todas as linhagens
láctico com consequente necrose . 4
de rápido crescimento são acometi-
Alguns autores descreveram a mio- das pela miopatia do músculo peitoral
patia do músculo grande dorsal em fran- profundo. A faixa etária de maior ocor-
gos de corte machos de linhagens com rência variou de 37 a 45 dias de idade
crescimento rápido e com maior ga- nas linhagens Ross 308 e Cobb 500,
nho de peso (com incidência de 6%)21. respectivamente7.
Vários desses frangos
apresentaram miopatia Nas fases iniciais ou
Alterações
do músculo dorsal con- agudas, observam-se macroscópias e
comitantemente à mio- áreas hemorrágicas histológicas
patia peitoral profunda. e edemaciadas,
O músculo grande dor- As lesões observa-
intercaladas por áreas das incluem alterações
sal auxilia no movimen- vermelho-pálidas. Em
to das asas dirigindo o na cor e na textura
seguida, a musculatura muscular. Na miopa-
movimento do úmero torna-se esverdeada
na contração dos mús- tia do músculo peito-
a acinzentada, ral profundo, as lesões
culos peitorais. As modi- com focos contendo
ficações fisiológicas que podem envolver quase
material necrótico a totalidade do mús-
ocorrem no músculo amorfo, desfazendo-
durante a movimenta- culo. Nas fases iniciais
se facilmente. Com a ou agudas, observam-
ção das asas poderiam evolução da lesão, a
determinar alterações na -se áreas hemorrági-
musculatura torna-se cas e edemaciadas,
perfusão sanguínea e no esbranquiçada, firme e
pH, levando à necrose21. intercaladas por áre-
diminuída de volume. as vermelho-pálidas

10. Miopatia em frangos de corte 119


(Fig. 1A). Em seguida, a musculatu- delgadas, entremeadas em paralelo por
ra torna-se esverdeada a acinzentada, fibras musculares com a coloração nor-
com focos contendo material necrótico mal (Fig. 2A)9. Na fase aguda, podem
amorfo, desfazendo-se facilmente (Fig. ser observados material gelatinoso ama-
1B). Com a evolução da lesão, a mus- relado no tecido subcutâneo e áreas de
culatura torna-se esbranquiçada, firme hemorragia na superfície do músculo
e diminuída de volume (Fig. 1C)5,6. A alterado As áreas brancas tornam-se fir-
cor verde possivelmente origina-se após mes com a evolução da lesão e indicam
a transformação da mioglobina (proteí- fibroplasia pós-necrótica17.
na liberada pelas fibras musculares após A miopatia do músculo grande dor-
lesão) sob condições de anaerobiose. As sal caracteriza-se por edema amarelado
áreas esbranquiçadas e firmes indicam do tecido subcutâneo sobrejacente ao
fibroplasia pós-necrótica5. músculo. O músculo apresenta-se com
Na miopatia das estriações bran- equimoses na superfície, difusamente
cas, os músculos mais acometidos são esbranquiçado (Fig, 2B), edemaciado e
o músculo peitoral maior e os múscu- com a consistência diminuída21.
los da coxa e da perna. As lesões são Histologicamente, as lesões agudas
caracterizadas por estriações brancas e para todas as apresentações de miopa-

Figura 1. A. Vários músculos peitorais profundos aumentados de volume, edemaciados e com áreas de
hemorragia caracterizando a fase aguda da miopatia. B e C. Vários músculos peitorais profundos com
áreas de hemorragia entremeadas por áreas esverdeadas e amorfas e alguns esbranquiçados, caracte-
rizando a fase crônica da miopatia. Fonte: Kijowski et al. (2009).

120 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


Figura 2. Frango de corte. A. Músculo peitoral maior caracterizando a miopatia necrosante das estria-
ções brancas. Fonte: Sihvo et al. 2014. B. O músculo grande dorsal está esbranquiçado e com hemorra-
gias, caracterizando a miopatia. Fonte: Zimermann, F. Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia
Aviária – CDPA/ UFRGS.

tia são caracterizadas por degeneração o músculo peitoral maior apresenta-se


e necrose de coagulação (Fig. 3A) asso- espessa devido à proliferação intensa de
ciadas a infiltrado leve a moderado de colágeno. As células inflamatórias asso-
macrófagos. Os vasos sanguíneos podem ciadas a essa condição devem ser inter-
apresentar necrose da parede e trombo- pretadas como uma reação à necrose,
se oclusiva. Em frangos com lesões de especialmente os macrófagos, os quais
evolução mais prolongada, há necrose estão atuando na fagocitose e retirada
flocular com fragmentação de fibras en- dos restos celulares necróticos20.
voltas por numerosos macrófagos. Além Na fase aguda da miopatia das es-
disso, proliferação de tecido conjuntivo triações brancas, há feixes de fibras com
fibroso moderada a acentuada também necrose de coagulação entremeados por
é observada. Alterações indicativas de feixes de fibras musculares normais. Na
regeneração muscular (miotubos) (Fig. fase crônica, as fibras necróticas são rea-
3B) são encontradas especialmente nas bsorvidas por macrófagos e substituídas
lesões crônicas. Na miopatia do músculo por tecido conjuntivo fibroso e adiposo.
peitoral profundo, pode ocorrer também Células inflamatórias constituídas por
mineralização multifocal e infiltrado lin- poucos heterófilos e linfócitos em agre-
focitário multifocal predominantemente gados perivasculares multifocais tam-
perivascular. A fáscia (epimísio) sobre bém podem ser observadas17. Lesões si-

10. Miopatia em frangos de corte 121


Figura 3. Frango de corte com 43 dias de idade. A. Músculo peitoral menor. Degeneração e necrose de
coagulação (seta) multifocal, caracterizando a miopatia necrosante aguda. HE. 20x. B. Músculo peitoral
menor. Miopatia com perda de fibras associada a infiltrado por macrófagos, fibroplasia e regeneração
muscular (miotubos) (seta), caracterizando a fase crônica da miopatia. HE 40x.

milares foram descritas para a miopatia seccionando-se de preferência diferentes


do músculo grande dorsal21. locais e tipos de músculos para permitir
A coloração por Goodpasture analisar estágios diferentes das lesões. As
(Gram histológico) de casos de miopa- amostras, respeitando-se a espessura e a
tia não demonstrou bactérias associadas quantidade adequada do fixador (nove
às lesões. Além disso, pela análise histo- partes de solução para uma de amostra),
patológica, não há evidências de causas devem ser coletadas e conservadas em
infecciosas para essa condição. formol tamponado neutro 10%. A aná-
lise histopatológica auxilia a estabelecer
Diagnóstico e controle o diagnóstico da miopatia e a elaborar o
A identificação da miopatia peitoral diagnóstico diferencial com outras alte-
profunda é realizada inicialmente pelo rações musculares.
exame macroscópico Para o diagnóstico diferencial das
dos músculos peitorais lesões musculares em
menores, uma vez que a As amostras, frangos, devem-se consi-
doença pode ocorrer uni respeitando-se derar principalmente as
ou bilateralmente6. São a espessura e a seguintes causas: defici-
observadas alterações quantidade adequada ência de vitamina E e de
na coloração e na con- do fixador (nove partes selênio e intoxicação por
sistência dos músculos de solução para uma antibióticos ionóforos,
acometidos.17 Amostras de amostra), devem ser como a monensina. Na
de tecido muscular com coletadas e conservadas intoxicação por ionófo-
alterações macroscópi- em formol tamponado ros, as lesões possuem
cas devem ser coletadas, neutro 10%. distribuição mais am-

122 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


pla entre os diferentes músculos e não tre as fibras musculares pode ser obser-
ocorre fibrose e infiltrado linfocitário vado em frangos sem lesão muscular e
perivascular, como descrito para as mio- associado a dietas altamente calóricas. A
patias isquêmicas17. suspeita da ocorrência de miopatia com
A vitamina E é solúvel em lipídeos estriações brancas deve acontecer quan-
e atua prevenindo a distribuição de ra- do as linhas brancas estão combinadas
dicais livres, mantendo a integridade com edema e múltiplos focos de hemor-
dos órgãos por evitar danos ao DNA e ragia (fase aguda) ou quando as linhas
às proteínas das células. A vitamina E brancas estão mais firmes palpação ou
atua em sinergia com o selênio. A defici- ao corte (fase crônica reparativa).
ência dessa vitamina causa encefaloma- Para o controle, deve-se limitar a
lácia em pintinhos e, em frangos jovens, movimentação e a atividade excessiva
causa necrose de fibras dos músculos dos frangos após os 35 dias de idade.
peitorais e das pernas, além do múscu- A movimentação excessiva pode ser
lo da moela. As lesões macroscópicas e influenciada por: a) fornecimento de
histológicas da miopatia nutricional são ração e água; b) circulação excessiva
semelhantes às descritas para a miopatia de pessoas ou animais no galpão ou ao
das estriações brancas, no entanto essa redor; c) uso de equipamentos com so-
condição ocorre especialmente em fran- noridade alta; d) pesagem; e e) recolhi-
gos com idade próxima ao abate. A uti- mento ou captura de aves.
lização de diferentes níveis de vitamina
E não mostrou diferenças na ocorrência Considerações finais
da miopatia das estriações brancas10. A A aparência macroscópica da mus-
vitamina E parece não ter relação com culatura influencia diretamente o con-
a miopatia das estriações brancas que sumidor da carne. Os músculos com
ocorre em frangos na estriações brancas apre-
fase final de crescimen-
O aumento na sentam um aspecto que,
to8,10. Entretanto, a in-
ocorrência de miopatia para o consumidor, sig-
cidência da miopatia
em frangos de corte nifica carne com alto
das estriações brancas
aparentemente possui teor de gordura, fazendo
foi comparativamente
relação com o rápido com que este rejeite o
maior em frangos com
desenvolvimento da produto11.
maior volume muscular
massa muscular, bem O aumento na ocor-
e peso (especialmente
como com a restrição rência de miopatia em
nos músculos peitorais)
na vascularização e a frangos de corte aparen-
8,12,15
.
consequente oxigenação temente possui relação
Tecido adiposo en-
tecidual. com o rápido desenvol-

10. Miopatia em frangos de corte 123


vimento da massa muscular, bem como toral myophathy in broiler chickens. Bulletin of the
Veterinary Institute in Pulawy, v.53, p.487-491, 2009.
com a restrição na vascularização e a
consequente oxigenação tecidual. Não 6. KIJOWSKI, J.; KUPINSKA, E. Induction of
há evidências sólidas que permitam as- DPM changes in broiler chickens and charac-
sociação dessa condição com causas in- teristics of myophathy symptons. Bulletin of the
Veterinary Institute in Pulawy, v.56, p.217-223,
fecciosas. Estudos com seleção genética
2012.
visando ao desenvolvimento adequado
da massa muscular e a estruturas asso- 7. KIJOWSKI, J.; KUPINSKA, E.; KACZMAREK,
ciadas como fáscias e vascularização de- A.; STANGIERSKY, J.; POPIOL, A. Occurence
and characteristics of chicken breast muscles
vem ser intensificados para se evitarem
with DPM symptoms. Medycyna Weterynaryjna,
maiores perdas econômicas. A relação v.65, p.466-471, 2009.
dieta versus rápido crescimento e ganho
de massa muscular também deve ser 8. KUTTAPPAN, V.A.; BREWER, V.B.;
avaliada quando o lote é acometido pela MAUROMOUSTAKOS, A.; MCKEE, S.R.;
EMMERT, J.L.; MEULLENET, J.F.; OWENS,
miopatia peitoral. C.M. Estimation of factors associated with the
occurrence of white striping in broiler breast fil-
Referências lets. Poultry Science, v.92, p.811-819, 2013b.
1. BARBUT, S.; SOSNICKI, A.A.; LONERGAN,
9. KUTTAPPAN, V.A.; SHIVAPRASAD, H.L.;
S.M.; KNAPP, T.; CIOBANU, D.C.;
SHAW, D.P.; VALENTINE, B.A.; HARGIS,
GATCLIFFE, L.J.; HUFF-LONERGAN, E.;
B.M.; CLARK, F.D.; MCKEE, S.R.; OWENS,
WILSON, E.W. Progress in reducing the pale,
C.M. Pathological changes associated with white
soft and exudative (PSE) problem in pork and
striping in broiler breast muscles. Poultry Science,
poultry meat. Meat Science, v.79, p.46-63, 2008.
v.92, p.331-338, 2013a.
2. BIANCHI, M.; PETRACCI, M.; FRANCHINI,
10. KUTTAPPAN, V.A.; GOODGAME, S.D.;
A.; CAVANI, C. The occurrence of deep pecto-
BRADLEY, C.D.; MAUROMOUSTAKOS, A.;
ral myophaty in roaster chickens. Poultry Science,
HARGIS, B.M.; WALDROUP, P.W.; OWENS,
v.85, p.1843-1846, 2006.
C.M. Effect of different levels of dietary vitamin
E (DL-α-tocopherol acetate) on the occurrence
3. FERREIRA, T.Z.; CASAGRANDE, R.A.;
of various degrees of white striping on broiler
VIEIRA, S.L.; DRIEMEIER, D.; KINDLEI,
breast fillets. Poultry Science, v.91, p.3230-3235,
L. An investigation of a reported case of white
2012a.
striping in broilers. Journal of Applied Poultry
Research, v.23, p.1-6, 2014.
11. KUTTAPPAN, V.A.; LEE, Y.S.; ERF, G.F.;
MEULLENET, F.C.; MCKEE, S.R.; OWENS,
4. HOVING-BOLINK, A.H.; KRANEN, R.W.;
C.M. Consumer acceptance of visual appear-
KLONT, R.E.; GERRITSEN, C.L.M.; DE
ance of broiler breast meat with varying degrees
GREEF, K.H. Fibre area and capillary supply in
of white striping. Poultry Science, v.91, p.1240-
broiler breast muscle in relation to productivity
1247, 2012b.
and ascites. Meat Science, v.56, p.397-402, 2000.

12. KUTTAPPAN, V.A.; BREWER, V. B.; CLARK,


5. KIJOWSKI, J.; KONSTANCZAK, M. Deep pec-

124 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


F.D.; MCKEE, S.R.; MEULLENET, J.F.; 17. SIHVO, H.-K.; IMMONEN, K.; PUOLANNE,
EMMERT, J.L.; OWENS, C.M. Effect of white E. Myodegenetarion with fibrosis and regenera-
striping on the histological and meat quality tion in the pectorais major muscle of broilers.
characteristics of broiler fillets. Poultry Science, Veterinary Pathology, v.51, p.619-623, 2014.
88 (Suppl. 1), 447p. (Abstr.), 2009.
18. SILLER, W.G.; MARTINDALE, L.; WIGHT,
13. LIEN, R.J.; BILGILI, S.F.; HESS, J.B.; JOINER, P.A.L. The prevention of experimental deep pec-
K.S. Induction of deep pectoral myopathy in toral myopathy of the fowl by fasciotomy. Avian
broiler chickens via encouraged wing flapping. Pathology, v.8, p.301-307, 1979.
Journal of Applied Poultry Research¸v.21, p.556-
562, 2012. 19. SILLER, W.G. Deep pectoral myopathy: A pe-
nalty of successful selection for muscle growth.
14. MITCHELL, M.A.; SANDERCOCK, D.A. Poultry Science, v.64, p.1591-1595, 1985.
Spontaneous and stress induced myopathies in
modern meat birds: A cause for quality and wel- 20. WIGHT, P.A.L.; SILLER, W.G. Pathology of
fare concerns. Proceedings of Australian Poultry deep pectoral myophaty of broilers. Veterinary
Science Symposium, v.16, p.100-107, 2004. Pathology, v.17, p.29-39, 1980.

15. PETRACCI, M.; MUDALAL, S.; BONFIGLIO, 21. ZIMERMANN, F.C.; FALLAVENA, L.C.B.;
A.; CAVANI, C. Occurrence of white striping SALLE, C.T.P.; MORAES, H.L.S.; SONCINI,
under commercial conditions and its impact on R.A.; BARRETA, M.H.E.; NASCIMENTO, V.P.
breast meat quality in broiler chickens. Poultry Downgrading of heavy broiler chicken carcasses
Science, v.92, p.1670-1675, 2014. due to myodegeneration of the anterior latissi-
mus dorsi: pathologic and epidemiologic studies.
16. ROY, B.C.; OSHIMA, I.; MIYACHI, H.; SHIBA, Avian diseases, v.56, p.418-421, 2012.
N.; NISHIMURA, S.; TABATA, S.; IWAMOTO,
H. Effects of nutritional level on muscle develop-
ment, histochemical properties of myofibre and
collagen architecture in the pectoralis muscle of
male broilers. British Poultry Science, v.17, p.433-
442, 2006.

10. Miopatia em frangos de corte 125


11. Colibacilose em
aves comerciais
bigstockphoto.com
Juliana Fortes Vilarinho Braga1
Roselene Ecco2 - CRMV-MG 8324
Nelson Rodrigo da Silva Martins3 - CRMV-MG 4809
1
Doutoranda, médica veterinária, mestre, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, UFMG
2
Professora associada, médica veterinária, mestra e doutora, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias, UFMG
3
Professor associado, médico veterinário, mestre e doutor, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Escola de Veterinária, UFMG.

Introdução ta do intestino e em outras mucosas de


aves domésticas e silvestres, o que faz
A colibacilose é uma doença de gran- com que sorotipos patogênicos e não
de relevância econômica na avicultura patogênicos possam ser isolados a partir
mundial por ser uma das principais cau- do ambiente avícola32.
sas de queda na produtividade, custos Em aves comerciais, APEC estão as-
com tratamento e condenação de car- sociadas, na maioria das vezes, a infec-
caças de aves15,17. O termo “colibacilose” ções extraintestinais (principalmente
refere-se a qualquer infecção localizada do trato respiratório ou infecções sistê-
ou sistêmica causada por Escherichia micas) e resultam em uma variedade de
coli patogênica aviária (Avian Pathogenic doenças23. Embora as APEC sejam con-
Escherichia coli, APEC)5. sideradas patógenos primários ou se-
APEC são estirpes de E. coli que cundários, em aves, a maioria das doen-
possuem características de virulência ças produzidas por esses patógenos são
específicas com capacidade de causar secundárias a condições predisponentes
doença13. Estão presentes na microbio- relacionadas ao ambiente e/ou ao hos-
126 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
pedeiro. Assim, o controle de tais condi- contaminadas por inalação de poeira,
ções pode reduzir significativamente as que pode conter grande quantidade de
perdas devido às doenças causadas por APEC. Já foi demonstrado que o risco
APEC13. de ocorrência da colibacilose aumenta
com a elevação do nível de contamina-
Epidemiologia ção ambiental7. O período de incubação
Como mencionado anteriormente, varia de 12 a 72 horas. A taxa de morbi-
APEC são habitantes normais do apa- dade varia, e a mortalidade é de, apro-
relho digestório de muitas espécies de ximadamente, 5 a 20%, com pico de
aves e estão presentes em grandes quan- mortalidade ocorrendo cinco dias após
tidades no conteúdo intestinal e nas o início da doença49.
excretas27. O intestino das aves é coloni- A incidência da doença aumenta
zado por E. coli patogênica e não patogê- diante de qualquer fator que possa le-
nica nas primeiras horas após a eclosão, sionar o epitélio respiratório das aves13.
com rápida multiplicação da bactéria no Lesões no trato respiratório podem ocor-
órgão23. A bactéria também coloniza o rer devido a altas temperaturas, ventila-
trato respiratório superior (faringe e tra- ção deficiente, elevadas concentrações
queia) e pode ainda ser isolada de pele de amônia no ambiente e presença de
e penas, dependendo do nível de con- micotoxinas na ração13. Além de proble-
taminação ambiental27. Por essa razão, mas relacionados ao manejo, infecções
APEC e E. coli não patogênica podem bacterianas (Mycoplasma gallisepticum,
ser isoladas de aves sadias a partir des- Mycoplasma synoviae, Pasteurella multo-
ses locais. Essa informação tem grande cida e Avibacterium paragallinarum) ou
relevância, pois evidencia que apenas o virais (Metapneumovírus aviário, vírus
isolamento da bactéria não é suficiente da bronquite infecciosa das galinhas, ví-
para diagnosticar a colibacilose, como rus da doença de Marek e vírus da do-
será discutido (tópico “Diagnóstico”). ença de Newcastle) podem predispor as
A contaminação vertical por APEC aves à infecção por APEC5,11. É interes-
se dá pela transmissão da bactéria das sante ressaltar que mesmo vacinas com
reprodutoras para a progênie e pode vírus vivo podem favorecer a APEC de-
ocorrer durante a incubação, por meio vido à lesão transitória que elas podem
da contaminação da casca, ou in ovo, produzir durante a replicação viral ne-
como consequência de salpingite23. A cessária à indução da imunidade21.
transmissão horizontal da bactéria ocor-
re pelo contato com outras aves ou por Etiologia
meio de fezes, água e alimentos conta- E. coli é uma bactéria Gram-negativa,
minados. Frequentemente, as aves são não álcool-ácido resistente, não for-

11. Colibacilose em aves comerciais 127


madora de esporos, de forma e tama- tível a desinfetante e temperatura de
nho variáveis, geralmente com 2-3 x 80ºC30.
0,6µm. É habitante do trato intestinal
de todos os mamíferos e aves, com vá- Patogênese
rias diferentes estirpes, e muitas são A patogênese e o papel dos fatores
espécie-específica, sendo a maioria de virulência envolvidos na colibacilose
móvel com flagelo peritríquio. Podem ainda não foram completamente eluci-
ser cultivadas aerobicamente e ana- dados, embora progresso considerável
erobicamente em meios nutrientes tenha sido alcançado nos últimos anos
comuns. à temperatura de 18 a 44ºC. para se estabelecerem os mecanismos
Em placas de ágar sangue incubadas a da patogênese32. Ao contrário de outros
37ºC por 24 horas, produz colônias grupos patogênicos de E. coli, não há
pequenas, convexas, lisas e incolores. uma característica única ou um conjunto
Em relação às características bioquí- de características que definam os patoti-
micas, produzem ácido e gás em testes pos de APEC15. Ainda falta uma defini-
de fermentação de glicose, maltose, ção clara de seus patotipos com relação
manitol, glicerol, ramnose, sorbitol e aos sorogrupos, genes de virulência es-
arabnose. Produzem indol e são posi- pecíficos ou ensaios de virulência espe-
tivas para vermelho de metila e nega- cíficos13,18. Embora diversos sorogrupos
tivas para reação de Voges-Proskauer tenham sido isolados de aves septicê-
e fermentam a glicose5,6,20,39. micas, os sorogrupos O1:K1, O2:K1 e
Possuem três tipos de antígenos: ‘O’ O78:K80 ainda são reconhecidos como
(somático), ‘H’ (flagelar) e ‘K’ (capsu- os mais prevalentes. Entretanto, o nú-
lar). O antígeno ‘O’ é uma endotoxina mero de sorogrupos publicados está
termoestável liberada durante a lise da aumentando. Isolados pertencentes ao
bactéria37 e é responsável por 60% dos mesmo grupo ‘O’ podem ser genetica-
casos de colibacilose17. Além disso, é mente diversos, enquanto estirpes es-
um dos principais antígenos usados treitamente relacionadas podem refletir
para classificação de E. coli37, sendo fre- diferentes sorogrupos1,8.
quentemente utilizado para tipificação As estirpes de E. coli que causam do-
sorológica11. Cinquenta por cento dos ença extraintestinal de qualquer espécie
isolados de APEC pertencem aos soro- compartilham características comuns e
grupos O1, O2, O5, O8, O18 e O7845. são denominadas E. coli patogênica ex-
O antígeno ‘K’ está associado com viru- traintestinal (Extraintestinal pathogenic
lência37 e, assim como o antígeno ‘H’, é E. coli, ExPEC). A maioria das APEC
termolábel. A bactéria é moderadamen- são ExPEC e compartilham característi-
te resistente ao ambiente, mas é suscep- cas com os ExPEC de mamíferos5.

128 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


Na patogênese de ExPEC, a bactéria pecíficos do início da doença 9,41,55. Os
tem acesso aos tecidos do hospedeiro efeitos da fase aguda de endotoxemia
diretamente, através de lesões de pele, incluem diminuição do consumo de ra-
ou após colonização da mucosa. Essa ção e eficiência alimentar, diminuição
é dependente de fatores de adesão que do peso corporal e do peito, entre ou-
permitem a ligação do microrganismo tros. Além disso, há acúmulo de líquido
a receptores específicos e, posterior- e proteína nos tecidos e, posteriormen-
mente, sua multiplicação. As estirpes te, nas cavidades corporais, devido ao
virulentas são capazes de atravessar a aumento da permeabilidade vascular. A
mucosa, especialmente se esta tiver sido liberação de fatores quimiotáticos para
previamente lesionada, e sobreviver no heterófilos faz com que estes migrem
ambiente extracelular5. Entretanto, o para os tecidos circundantes35. Entre
ambiente extramucosa é extremamente seis e 12 horas, exsudato gelatinoso
hostil à bactéria e, caso esta não possua torna-se visível macroscopicamente e,
fatores que capacitem sua sobrevivência após esse período, ocorre a substituição
(p. ex., fatores de virulência), será rapi- progressiva do infiltrado inflamatório
damente destruída por células fagocí- de heterófilos para macrófagos e linfóci-
ticas, como heterófilos, trombócitos e tos. O exsudato continua a se acumu-
macrófagos25,26. A bactéria é fagocitada lar e, eventualmente, torna-se caseoso,
por macrófagos localizados no baço e sendo caracterizado por material firme,
no fígado e tem acesso à circulação4. A pastoso a seco, amarelado e irregular.
fagocitose e a destruição do microrga- Microscopicamente, o exsudato case-
nismo são promovidas por opsoninas, oso é constituído por heterófilos e ma-
como complemento e anticorpos con- crófagos contendo quantidade variável
tra o antígeno ‘O’ (endotoxinas), prote- de colônias bacterianas intralesionais
ínas de membrana externa e fímbrias2,3. e circundado por células gigantes mul-
As endotoxinas podem ajudar na sobre- tinucleadas10. O tecido lesionado pode
vivência e disseminação de APEC, uma se regenerar se o dano não for muito
vez que diminuem a habilidade bacteri- grave, mas geralmente há algum grau de
cida dos macrófagos pulmonares16. fibrose, que pode ser completa se a des-
Imediatamente após a exposição de truição tecidual for extensa. O exsudato
APEC ou suas endotoxinas aos tecidos contendo fibrina pode organizar-se e
das aves, há uma resposta inflamatória tornar-se tecido cicatricial (fibrose).
aguda. Proteínas de fase aguda produ- As lesões macroscópicas estão in-
zidas no fígado e citocinas IL-1, IL-6 e versamente relacionadas à patogenici-
TNF aumentam rapidamente, as quais dade. Estirpes altamente patogênicas
podem servir como indicadores não es- causam mortalidade tão rapidamente

11. Colibacilose em aves comerciais 129


que as lesões macroscópicas têm pouco mais comumente associadas com coli-
tempo para se desenvolverem, enquan- bacilose são peri-hepatite, aerossaculite
to aves infectadas com estirpes menos e pericardite, embora outras síndromes,
patogênicas sobrevivem mais tempo e como osteoartrite/sinovite, peritonite
desenvolvem lesões mais extensas5. As da gema, salpingite, coligranuloma, on-
aves sobreviventes ao quadro de septi- falite e celulite, possam ocorrer5.
cemia podem apresentar algumas lesões
Doença respiratória crônica
menos frequentes, como salpingite (in-
complicada e colisepticemia
fecção do oviduto), meningoencefalite,
celulite, osteomielite e sinovite, esple- É a doença infecciosa mais comum
nomegalia, fígado esverdeado e hipere- de aves comerciais. A doença respira-
mia do tecido muscular21. tória crônica (DRC) ocorre com maior
Em relação às APEC causadoras de frequência em aves entre quatro e nove
doença intestinal, os mecanismos pelos semanas de idade e comumente pro-
quais a bactéria causa infecção não fo- gride para septicemia. Essa síndrome
ram totalmente elucidados15. Uma vez clínica geralmente depende da asso-
que as estirpes APEC aderem à borda ciação com outros agentes ou fatores
apical do epitélio intestinal, produzem que produzem lesão prévia do epitélio
toxinas, também conhecidas como en- do trato respiratório superior (tópico
terotoxinas, levando à ativação de ade- “Epidemiologia”), como perda de cí-
nilato ciclase (no caso de toxina termo- lios e acúmulo de muco, os quais favo-
lábel) e guanilato ciclase (em caso de recem a colonização e a multiplicação
toxinas termoestáveis). Essa ativação de APEC. Após entrada pelo trato res-
resulta na maior produção de cAMP e piratório superior, colonização e mul-
cGMP, que afeta a absorção de sódio, tiplicação da bactéria na traqueia, há
cloreto e o balanço hídrico, levando à disseminação para os sacos aéreos e os
diarreia aquosa, e a morte ocorre por tecidos adjacentes. As principais lesões
desidratação e choque hipovolêmico15. observadas são peri-hepatite (Fig. 1A),
aerossaculite (Fig. 1B) e pericardite
Síndromes clínicas (Fig. 1C), as quais compõem a “tríade
de condenação de carcaça” (Fig. 1A),
A infecção pode se manifestar como
frequentemente encontradas no aba-
uma septicemia inicial, que é seguida
tedouro e associadas à infecção por
por morte súbita ou inflamação locali-
Mycoplasma gallisepticum. As aves aco-
zada em múltiplos órgãos, dependendo
metidas podem apresentar pneumonia,
da virulência da estirpe, da imunidade
pleuropnemonia e peritonite, podendo
do hospedeiro, da presença e dos tipos
evoluir para septicemia e morte21.
de fatores predisponentes. As lesões

130 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


A pericardite e a peri-hepatite são Infecção do saco da gema
condições também encontradas na
Também conhecida como doença
colisepticemia. Tais condições ocor-
do sono, é responsável por altos índi-
rem como uma sequela de septicemia,
ces de mortalidade precoce de pinti-
e a APEC se estabelece no fígado e no
nhos. A doença ocorre pela infecção
coração. No coração, observa-se es-
por APEC no umbigo e no saco da
pessamento do saco pericárdico, que
gema de pintinhos recém-eclodidos,
se apresenta opaco e preenchido por
como consequência de contaminação
líquido esbranquiçado ou amarelado.
antes que haja a cicatrização do um-
Na superfície do fígado, pode-se ob-
bigo. Infecção neonatal de pintinhos
servar a deposição de uma membra-
pode ocorrer horizontalmente, duran-
na de fibrina espessa, que se destaca
te ou logo após a incubação a partir do
facilmente5.
ambiente, ou verticalmente, por meio
Coligranuloma da galinha. Podem ser observadas re-
tenção do saco da gema, onfalite, sep-
Coligranuloma é uma doença rela-
ticemia e mortalidade de pintinhos
tivamente incomum, uma forma rara
jovens até a terceira semana de idade.
de colibacilose, e pode causar mortali-
Após a eclosão, os pintinhos apresen-
dade de até 75% em lotes individuais. É
tam andar cambaleante e aparentam
uma doença de aves adultas, caracteri-
sonolência, relutância para movimen-
zada por granulomas nodulares, geral-
tar-se e tendem a permanecer sob a
mente do tamanho de grãos de milho,
fonte de calor. Apresentam-se apáti-
semelhante ao observado na tubercu-
cos, com perda de apetite, abdômen
lose. Os nódulos são encontrados no
aumentado de volume, respiração rui-
fígado, na moela, no duodeno, no ceco,
dosa e diarreia. As lesões macroscópi-
no pulmão, nos rins, no mesentério e
cas incluem saco da gema aumentado
na parede intestinal. Não são observa-
e hiperêmico; a gema que era viscosa
dos nódulos no baço. As lesões macros-
e espessa adquire coloração amarelo-
cópicas incluem hiperemia de vísceras,
-esverdeada, aquosa ou viscosa, exa-
necrose de coagulação e aumento de
lando odor desagradável47,49. Em se-
volume do fígado, granulomas nodula-
guida, as aves morrem, sendo o pico
res no mesentério e na parede intesti-
de mortalidade nos dois primeiros
nal (particularmente ceco), hiperemia
dias de vida do pintinho. Os pinti-
e aumento de volume do baço e atrofia
nhos que sobrevivem aos primeiros
de bursa de Fabricius. Os nervos peri-
dias dificilmente serão tão saudáveis
féricos e a medula óssea encontram-se
ou fortes como os demais do lote38.
normais19,46.

11. Colibacilose em aves comerciais 131


Septicemia aguda de celomática, levando ao acúmulo de
material fibrinoso ou viscoso amarelado
Ocorre em aves em crescimento
(semelhante a exsudato purulento)33.
e adultas, sendo descrita principal-
mente em frangos de corte. É a for- Panoftalmite
ma mais prevalente de colibacilose,
É uma consequência incomum da
caracterizada por polisserosite e le-
septicemia por APEC. Nessa condição,
vando à depressão e à febre, frequen-
pode ocorrer cegueira devido a hipó-
temente, com alta mortalidade. As
pio e hifema. Os olhos apresentam-se
possíveis rotas de infecção são: in-
aumentados de volume, com aparência
fecção neonatal, infecção por lesões
embaçada a opaca e hiperemia inicial.
de pele, infecção de órgãos reprodu-
A presença de exsudato fibrino-hete-
tivos, do trato respiratório e via oral.
As estirpes APEC alcançam a circu- rofílico e colônias bacterianas é cara-
lação sanguínea e atingem o coração, terística. A inflamação pode tornar-se
fígado, baço e outras visceras. No granulomatosa gradualmente. A bac-
fígado, observam-se hepatomegalia téria pode persistir no olho acometido
com pequenos focos esbranquiça- por muito tempo, levando ao descola-
dos ou difusamente esverdeados, es- mento e à atrofia de retina e à ruptu-
plenomegalia, hiperemia pulmonar, ra da lente. A maioria das aves morre
hiperemia dos músculos peitorais e pouco tempo depois do início das le-
tendência para pericardite e perito- sões, mas algumas podem se recupe-
nite. A infecção do miocárdio causa rar. À histopatologia, são observadas
falha cardíaca. Aves morrem de for- áreas necróticas circundadas por infil-
ma aguda, e, à necropsia, a carcaça trado de heterófilos e células gigantes
pode estar em boa condição corpo- multinucleadas5,40.
ral e com papo cheio. A septicemia, Osteoartrite e sinovite
ocasionalmente, também leva sino-
vite e à osteomielite e, raramente, à São infecções da articulação com
panoftalmite5,43. (osteoartrite) ou sem (artrite, Fig. 1E)
envolvimento ósseo e/ou sinóvia e
Peritonite ocorre como sequela da colisepticemia,
Ocorre em poedeiras e matrizes por podendo ser experimentalmente pro-
ovulação ectópica. Nessa condição, ob- duzida por inoculação intravenosa de
serva-se fibrina e gema livre na cavidade APEC. Muitas aves recuperam-se den-
celomática e ocorre mortalidade de for- tro de uma semana após infecção, mas
ma aguda. A bactéria entra no oviduto e outras podem tornar-se cronicamente
cresce no conteúdo da gema na cavida- infectadas e emaciadas5,14.
132 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
Salpingite Síndrome da cabeça inchada
É a inflamação do oviduto e ocor- É a inflamação dos tecidos subcutâ-
re principalmente em galinhas de neos (celulite) periorbitais e adjacentes
postura, resultando em diminuição na cabeça, ocorrendo principalmente
na produção de ovos e mortalidade em frangos de corte. As aves afetadas
esporádica. A doença pode apresentar apresentam descarga ocular e conjun-
curso agudo ou crônico, resultante de tivite, que progridem para aumento
infecção ascendente a partir da cloaca de volume periorbital. Finalmente, os
ou de infecção do saco aéreo abdomi- olhos ficam fechados e o aumento de
nal33,42. As aves acometidas não produ- volume da cabeça torna-se uma alte-
zem ou põem ovos. Na salpingite crô- ração marcante nas aves severamente
nica, o oviduto apresenta conteúdo afetadas. Na fase aguda, as aves podem
amarelo-acinzentado e pode conter apresentar também hiperemia traqueal
grandes massas caseosas. Na histopa- e pulmonar. As lesões microscópicas
incluem inflamação fibrino-heterofílica
tologia, a reação tecidual do oviduto
e granulomas heterofílicos nos espaços
é leve, consistindo principalmente de
aéreos dos ossos cranianos, na orelha
infiltração de heterófilos multifocal a
média e nos ossos faciais, além de con-
difusa subjacente ao epitélio. Em poe-
juntivite e traqueíte linfoplasmocitária.
deiras, a salpingite pode levar à perito-
Pneumovírus aviário e vírus da rino-
nite se houver deposição de material
traqueíte dos perus, juntamente com
da gema na cavidade abdominal. Esta
E. coli, estão associados à síndrome da
é caracterizada por inflamação sero- cabeça inchada, sendo esta considera-
fibrinosa dos tecidos circundantes. da uma doença causada geralmente por
É importante ressaltar que uma ave infecção oportunista por E. coli. A sín-
com ooforite ou salpingite causada drome pode causar redução de 2 a 3%
por APEC pode infectar o conteúdo na produção de ovos e mortalidade de
interno do ovo antes de a formação da 3 a 4% 24,52.
casca se completar28,51.
Diarreia em pintinhos
Dermatite necrótica (celulite)
Acomete pintinhos na primeira
Frangos de corte podem ser aco- semana de vida e é causada por APEC
metidos por dermatite necrótica, com capacidade de aderir e obliterar o
também conhecida como celulite, ca- epitélio do trato intestinal (em inglês, é
racterizada por inflamação crônica do conhecida como Attaching and Effacing
subcutâneo na região abdominal e nas Escherichia coli, AEEC). Os pintinhos
coxas31. infectados por AEEC podem estar clini-
11. Colibacilose em aves comerciais 133
Figura 1. Frango de corte. Cavidade celomática: peri-hepatite ( ) fibrinosa, pericardite ( ) e aerossa-
culite (*) fibrinocaseosas que compõem a “tríade de condenação de carcaça”; (B) saco aéreo torácico
posterior: aerossaculite caseosa caracterizada por espessamento e opacidade do saco aéreo e depo-
sição de exsudato caseoso (*); (C) coração e saco pericárdico: pericardite fibrinosa ( ); (D) fígado:
hepatite necrótica multifocal ( ); (E) articulação tibiotarso-metatársica direita: artrite acaracterizada
por intensa quantidade de exsudato viscoso amarelado. Observar o aumento de volume da articulação
acometida ( ) em relação a seu antímero e o aspecto do exsudato ( ), ao corte (quadrante superior
direito da figura ‘E’.

134 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


camente normais ou apresentar diarreia ficação de E. coli a partir das lesões. É
e desidratação. Nas aves clinicamente importante ressaltar que apenas o isola-
acometidas, os intestinos podem es- mento da bactéria não é suficiente para
tar pálidos e distendidos, com fluido, o diagnóstico da doença. Esse é válido
contendo ou não muco ou exsudato. apenas quando há detecção do agente
Geralmente os cecos são os segmentos associado às lesões observadas nas aves.
do intestino mais afetados e apesentam- Para isolamento de APEC, devem
-se distendidos, com conteúdo líquido ser realizadas culturas de sangue cardí-
marrom e gás5. O diagnóstico da doença aco e tecidos acometidos, como fígado,
é feito por exame histopatológico, pois baço, sacos aéreos, gema, saco da gema,
as alterações produzidas pela bactéria exsudato do saco pericárdico ou cavida-
podem ser visualizadas apenas ao mi- de celomática e medula óssea. Deve-se
croscópio e concentram-se nos cecos. evitar contaminação com conteúdo in-
A histopatologia dessa porção do intes- testinal. A coleta de amostra para iso-
tino revela grande quantidade de coco- lamento bacteriano pode ser realizada
bacilos aderidos aos enterócitos, obli- utilizando-se suabes ou alças de inocu-
terando os microvilos das células. Além lação estéreis, os quais podem ser intro-
disso, as células epiteliais superficiais duzidos no parênquima hepático após
apresentam-se de formato irregular, de- este ter sua superfície flambada com es-
generadas ou necróticas, frequentemen- pátula aquecida34. Experimentalmente,
te com erosão. A borda em escova não se foi demonstrado que, em casos agu-
apresenta nitidamente definida nos en- dos, o isolamento é possível a partir de
terócitos apicais onde as bactérias estão seis horas até três dias após a infecção;
aderidas e pode-se observar perda de em casos subagudos, o isolamento é
microvilos na superfície dos enterócitos possível até sete dias após a infecção22.
em que há numerosas bactérias50. Contaminação com conteúdo intesti-
nal é raramente um problema, quando
Diagnóstico se utilizam material fresco e métodos
A suspeita da doença em aves é ba- bacteriológicos padronizados. Meios
seada nas características clínicas e na seletivos, como MacConkey, eosina azul
presença de lesões macroscópicas típi- de metileno ou ágar lactose Drigalski,
cas. Material caseoso na cavidade abdo- podem ser utilizados para isolamento.
minal, pericardite, peri-hepatite fibrino- Identificação das colônias isoladas é ba-
sa, aerossaculite, salpingite e peritonite seada em reações bioquímicas, previa-
de ovulação ectópica são sugestivos de mente citadas no tópico “Etiologia”13.
infecção por APEC. O diagnóstico pode Teste de patogenicidade dos iso-
ser feito pelo isolamento e pela identi- lados de E. coli também são essenciais
11. Colibacilose em aves comerciais 135
para determinar a virulência do isola- das por outros microrganismos, assim
do12. Até o presente momento, todos o diagnóstico diferencial para outros
os fatores de virulência detectados de agentes deve ser realizado. A aerossacu-
E. coli isolados de aves com colibaci- lite pode ser causada por Mycoplasma e
lose também têm sido identificados Chlamydophila; pericardite pode tam-
em isolados de amostras fecais de bém ser causada por Chlamydophila; e
aves clinicamente saudáveis. Por essa peri-hepatite pode também resultar de
razão, nenhum deles pode ser utiliza- infecção por Pasteurella, Salmonella e
do para identificação de APEC29. É outros microrganismos5. Além dessas,
interessante ressaltar que, embora a infecções causadas por outras bactérias,
sorotipagem ainda seja o método de como Staphylococcus, Streptococcus,
diagnóstico mais utilizado em labo- Enterococcus, Clostridium, Klebsiella
ratórios, ela permite apenas a iden- e Proteus, precisam ser diferencia-
tificação de um número limitado de das5,48,49. Logo, quando houver lesões
estirpes de APEC. Tem sido relatado sugestivas de colibacilose, a etiologia
que o ELISA é mais sensível do que o necessita ser confirmada pelo isola-
teste de hemaglutinação indireta, que mento da bactéria.
é comumente utilizado para detecção
de anticorpos contra E. coli. Estudos Prevenção, tratamento e
recentes sugerem que a sorotipagem controle
não deveria ser utilizada como ferra- A doença pode ter sua incidência
menta de diagnóstico efetiva, parti- reduzida pelo controle da contamina-
cularmente pelo fato de que o soroti- ção ambiental e por redução das con-
po não reflete a virulência de APEC. dições que favoreçam infecções res-
Alguns métodos de diagnósticos têm piratórias predisponentes. O método
sido desenvolvidos para melhorar a mais direto seria reduzir e controlar a
identificação de APEC e baseiam-se contaminação intestinal por sorogru-
na detecção de fatores de virulên- pos patogênicos. Alguns pesquisado-
cia. Recentemente, foi publicado um res observaram que sorotipos patogê-
método de genotipagem que permi- nicos poderiam ser excluídos do trato
te a identificação de mais isolados intestinal por exclusão competitiva
de APEC com maior confiabilidade quando pintinhos recém-eclodidos
do que os métodos de sorotipagem foram alimentandos com microbiota
clássicos utilizados nos laboratórios intestinal de aves resistentes54. Outros
veterinários45. métodos preventivos incluem a redu-
As lesões observadas na colibaci- ção da transmissão da bactéria por fu-
lose são semelhantes àquelas causa- migação de ovos dentro de duas horas
136 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015
após a postura, além do descarte de identificação de E. coli, deve-se sem-
ovos com casca rachada ou com con- pre realizar teste de sensibilidade an-
taminação fecal evidente. Infecções timicrobiana (antibiograma) para es-
do trato respiratório das aves podem colha do antibiótico para tratamento
ser reduzidas adquirindo-se aves li- da doença, pois vem-se observando
vres de Mycoplasma e controlando- elevação da ocorrência de resistên-
-se o ambiente da granja (umidade, cia aos medicamentos antimicrobia-
ventilação, concentração de amônia e nos, devido ao uso indiscriminado
poeira no ar)13. e prolongado, a concentrações sub-
As vacinas contra E. coli são li- terapêuticas e a indicações inefi-
mitadas à proteção homóloga, en- cientes 21. O sucesso do tratamento é
quanto as vacinas utilizadas contra maior quando feito na fase inicial da
os agentes primários que favorecem doença. Os fármacos mais frequen-
a colibacilose secundária podem atu- temente utilizados são quinolonas
ar elas mesmas como agentes primá- de terceira geração (enrofloxacina,
rios 53. Melhoramento genético para danofloxacina), sulfa associada a
seleção de aves com menor suscep- trimetoprim, macrolideos (eritro-
tibilidade à doença pode contribuir micina, tilosina) e aminoglicosídeos
para sua prevenção, mas, para isso, (apramicina, gentamicina) 21.
metas de reprodução e critérios de
seleção devem ser bem definidos. Saúde pública
Estudos anteriores não fornecem in-
formações suficientes sobre resposta Além do impacto em saúde animal,
clínica ou associações entre respos- tem sido considerada a hipótese de que
tas para promover uma definição um grupo de APEC pode apresentar
racional de susceptibilidade à doen- um potencial risco zoonótico15,19,44. A
ça. Isso, juntamente com melhorias hipótese de que aves comerciais pos-
gerais de alojamento, alimentação e sam atuar como fonte e reservatório de
ventilação, tem ajudado a reduzir a E. coli contendo genes de virulência e
incidência da doença 32. de resistência ou capacidade de causar
Tratamento com antibióticos e doença transmitida por alimentos a hu-
quimioterápicos é uma forma de di- manos tem sido considerada44. Estudos
minuir o impacto da doença 21, entre- que compararam APEC e E. coli isolada
tanto o custo é alto e frequentemente de diferentes amostras clínicas humanas
não resulta em recuperação suficien- sustentam essa hipótese, entretanto o
te antes do abate 53. É importante potencial zoonótico de APEC ainda é
ressaltar que, após o isolamento e a questionável36.
11. Colibacilose em aves comerciais 137
Referências 12. Dhama, K.; Mahendran, M. Technologies and
advances in diagnosis and control of poul-
1. Achtman, M.; Pluschke, G. Clonal analy- try diseases: safeguarding poultry health and
sis of descent and virulence among selected productivity. Poult Technol, v.2, p.13-6, 2008.
Escherichia coli. Ann Rev Microbiol, v.40, p.185-
210, 1986. 13. Dho-Moulin, M.; Fairbrother, J. M. Avian
pathogenic Escherichia coli (APEC). Vet Res,
2. Arp, L. H. Effect of passive immunization on v.30, p.299-316, 1999.
phagocytosis of blood-borne Escherichia coli in
spleen and liver of turkeys. Am J Vet Res, v.43, 14. Droual, R.; Chin, R. P.; Rezvani, M. Synovitis,
p.1034-40, 1982. osteomyelitis, and green liver in turkeys as-
sociated with Escherichia coli. Avian Dis, v.40,
3. Arp, L. H. Effects of antibodies to type 1 fim- p.417-24, 1996.
briae on clearance of fimbriated Escherichia coli
from the bloodstream of turkeys. Am J Vet Res, 15. Dziva, F.; Stevens, M. P. Colibacillosis in poul-
v.46, p.2644-7, 1985. try: unravelling the molecular basis of viru-
lence of avian pathogenic Escherichia coli in
4. Arp, L. H.; Cheville, N. F. Interaction of blood- their natural hosts. Avian Pathol, v.37, p.355-
borne Escherichia coli with phagocytes of spleen 66, 2008.
and liver in turkeys. Am J Vet Res, v.42: p.650-7,
1981. 16. Emery, D. A.;  Nagaraja, K. V.;  Sivanandan,
V. et al. Endotoxin lipopolysaccharide from
5. Barnes, H. J.; Nolan, L. K.; Vaillancourt, J-P. Escherichia coli and its effects on the phago-
Colibacillosis. In.: Saif, Y. M. (ed), Diseases of cytic function of systemic and pulmonary mac-
poultry. Blackwell Publishing, Ames, IA, 2008. rophages in turkeys. Avian Dis, v.35, p.901-9,
pp. 691-732. 1991.

6. Bettelheim, K.A. Biochemical characteris- 17. Ewers, C.; Janssen, T.; Kiessling, S. et al.
tics of Escherichia coli. In.: Gyles, C.L. (Ed). Molecular epidemiology of avian pathogenic
Escherichia coli in domestic animals and hu- Escherichia coli (APEC) isolated from colisepti-
mans. CAB Int’l, Wallingford, UK, 1994. cemia in poultry. Vet Microbiol, v.104, p.91-101,
p.3-30. 2004.

7. Carlson, H. C.; Whenham, G. R. Coliform bac- 18. Ewers, C.; Janssen, T.; Wieler, L. H. Aviare
teria in chicken broiler house dust and their pathogene Escherichia coli (APEC). Berl Munch
possible relationship to coli-septicemia. Avian Tierarztl Wochenschr, v.116, p.381-95, 2003.
Dis, v.12, p.297-302, 1968.
19. Ewers, C.; Li, G.; Wilking, H. et al. Avian
8. Caugant, D. A.; Levin, B. R.; Orskov, I. et al. pathogenic, uropathogenic, and newborn men-
Genetic diversity in relation to serotype in ingitis-causing Escherichia coli: how closely
Escherichia coli. Infect Immun, v.49, p.407-13, related are they? Intern J Med Microbiol, v.297,
1985. p.163-76, 2007.

9. Chamanza, R.; Veen, L.; Tivapasi, M.T. et al. 20. Ewing, W. H. Edwards and Ewing’s
Acute phase proteins in the domestic fowl. Identification of Enterobacteriaceae. 4 th ed.
World Poult Sci J, v.55, p.61-71, 1999. Elsevier, Amsterdam, 1986. pp: 1-536.

10. Cheville, N. F.; Arp, L. H. Comparative patho- 21. Ferreira, A. J. P.; Knöbl, T. Colibacilose Aviária.
logic findings of Escherichia coli infections in In.: Berchieri Júnior, A.; Silva, E. N.; Di Fabio,
birds. J Am Vet Med Assoc, v.173, p.584-7, 1978. J.; Sesti, L.; Zuanaze, M. A. F. (eds). Doenças
das Aves. Campinas: FACTA, 2009. pp.457-71.
11. Dhama, K.; Chakraborty, S.; Barathidasan, R.
et al. Escherichia coli, an economically im- 22. Gomis, S. M.; Watts, T.; Riddell, C. et al.
portant avian pathogen, its disease mani- Experimental reproduction of Escherichia coli
festations, diagnosis and control, and public cellulitis and septicemia in broiler chickens.
health significance: A review. Res Opin Anim Avian Dis, v.41, p.234-40, 1997.
Vet Sci, v.3, p.179-94, 2013.

138 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015


23. Gross, W. B. Diseases due to Escherichia coli Dufour-Zavala, L.; Swayne, D. E.; Glisson, J.
in poultry. In.: Gyles, C. L. (ed.). Escherichia R. et al. (eds.) A Laboratory manual for the
coli in Domestic Animals and Humans. CAB isolation, identification and characterization
International Library: Wallingford, UK, 1994. of avian pathogens, 5th ed. Am Assoc Avian
pp: 237-60. Pathologists, Athens, GA, 2008. pp.10-11.

24. Gross, W. B. Factors affecting the development 35. Madhu, S.; Katiyar, A. K.; Vegad, J. L. et al.
of respiratory disease complex in chickens. Bacteria-induced increased vascular perme-
Avian Dis, v.34, p.607-10, 1990. ability in the chicken skin. Indian J An Sci, v.71,
p.621-22, 2001.
25. Harmon, B. G. Avian heterophils in inflam-
mation and disease resistence. Poult Sci, v.77, 36. Maluta, R. P.; Logue, C. M.; Casas, M. R. T.
p.972-7, 1998. et al. Overlapped Sequence Types (STs) and
Serogroups of Avian Pathogenic (APEC) and
26. Harmon, B. G.; Glisson, J. R. In vivo microbi- Human Extra-Intestinal Pathogenic (ExPEC)
cidal activity of avian peritoneal macrophages. Escherichia coli Isolated in Brazil. Plos one, v.9,
Avian Dis, v.33, p.177-81, 1989. p.1-11, 2014.
27. Harry, E. G.; Hemsley, L. A. The relationship 37. Mellata, M.; Dho-Moulin, M.; Dozois, C. M.
between environment contamination with et al. Role of avian pathogenic Escherichia coli
septicemia strains of Escherichia coli and their virulence factors in bacterial interaction with
incidence in chickens. Vet Rec, v.77, p.241-45, chicken heterophils and macrophages. Infec
1965. Immun, v.71, p.494-503, 2003.
28. Jordan, F. T.; Williams, N. J.; Wattret, A. et al. 38. Montgomery, R. D.; Boyle, C. R.; Lenarduzzi,
Observations on salpingitis, peritonitis and T. A. et al. Consequences to chicks hatched
salpingoperitonitis in a layer breeder flock. from Escherichia coli inoculated embryos. Avian
Vet Rec, v.157, p.573-7, 2005. Dis, v.43, p.553-63, 1999.
29. Kabir, S. M. L. Avian colibacillosis and sal- 39. Montgomery, R. D.; Jones, L. S.; Boyle, C. R.
monellosis: A closer look at epidemiology, et al. The embryo lethality of Escherichia coli
pathogenesis, diagnosis, control and public isolates and its relationship to various in vitro
health concerns. Intern J Environ Res Public attributes. Avian Dis, v.49, p.63-9, 2005.
Health, v.7, p.89-114, 2010.
40. Nakamura, K.; Abe, F. Ocular lesions in chick-
30. Khoo, L. L.; Hasnah, Y.; Rosnah, Y. et al. The ens inoculated with Escherichia coli. Can J Vet
prevalence of avian pathogenic Escherichia coli Res, v.51, p.528-30, 1987.
(APEC) in peninsular Malaysia. Malays J Vet
Res, v.1, p.27-31, 2010. 41. Nakamura, K.; Mitarai, Y.; Yoshioka, M. et al.
Serum levels of interleukin-6, alpha1-acid gly-
31. Kumor, L. W.; Olkowski, A. A.; Gomis, S. M. et coprotein, and corticosterone in two-week-old
al. Cellulitis in broiler chickens: epidemiologi- chickens inoculated with Escherichia coli lipo-
cal trends, meat hygiene, and possible human polysaccharide. Poult Sci, v.77, p.908-11, 1998.
health implications. Avian Dis, v.42, p.285-91,
1998. 42. Ozaki, H.; Murase, T. Multiple routes of en-
try for Escherichia coli causing colibacillosis in
32. La Ragione, R. M.; Woodward, R. M. Virulence commercial layer chickens. J Vet Med Sci, v.71,
factors of Escherichia coli serotypes associated p.1685-9, 2009.
with avian colisepticemia. Res Vet Sci, v.73,
p.27-35, 2002. 43. Pourbakhsh, S. A.; Boulianne, M.; Martineau
Doize, B. et al. Dynamics of Escherichia coli in-
33. Landman, W. J.; Cornelissen, R. A. Escherichia fection in experimentally inoculated chickens.
coli salpingitis and peritonitis in layer chickens: Avian Dis, v.41, p.221-33, 1997.
an overview. Tijdschrift voor Diergeneeskunde,
v.131, p.814-22, 2006. 44. Rodriguez-Siek, K. E.; Giddings, C. W.;
Doetkott, C. et al. Comparison of Escherichia
34. Lee, M. D.; Nolan, L. K. Colibacillosis. In.: coli isolates implicated in human urinary tract

11. Colibacilose em aves comerciais 139


infection and avian colibacillosis. Microbiol, 51. Timothy, S.; Shafi, K.; Leatherbarrow, A. H.
v.151, p.2097-2110, 2005. et al. Molecular epidemiology of a reproduc-
tive tract-associated colibacillosis outbreak in
45. Schouler, C.; Schaeffer, B.; Brée, A. et al. a layer breeder flock associated with atypical
Diagnostic Strategy for Identifying Avian avian pathogenic Escherichia coli. Avian Pathol,
Pathogenic Escherichia coli Based on Four v.37, p.375-8, 2008.
Patterns of Virulence Genes. J Clin Microbiol,
v.50, p.1673-8, 2012. 52. Van de Zande, S.; Nauwynck, H.; Pensaert, M.
The clinical, pathological and microbiological
46. Shah, K. A.; Qureshi, S. Clinical study on outcome of an Escherichia coli O2:K1 infection
Hjarre’s disease in poultry. Vetscan, v.1, n.2, in avian pneumovirus infected turkeys. Vet
art.7, 2006. Microbiol, v.81, p.353-65, 2001.
47. Shah, M. S. D.; Khan, S. A.; Aslam, A. et al. 53. Vandemaele, F.; Vereecken, M.; Derijcke, J.
Effect of experimental yolk sac infection with et al. Incidence and antibiotic resistance of
E. coli on immune status of broiler chicks. pathogenic Escherichia coli among poultry in
Pakist Vet J, v.24, p.125-8, 2004. Belgium. Vet Rec, v.151, p.355-56, 2002.
48. Shane, S. M. Multifactorial conditions. In.: 54. Weinack, O. M.; Snoeyenbos, G. H.; Smyser,
Shane, S. M. (ed.). Handbook on Poultry C. F. et al. Competitive exclusion of intestinal
Diseases. 2 ed. 2005. pp: 91-110. colonization of Escherichia coli in chicks. Avian
Dis, v.25, p.696-705, 1981.
49. Singh, S. D.; Tiwari, R.; Dhama, K. Avian col-
libacillosis, an economically important disease 55. Xie, H.; Newberry, L.; Clark, F.D. et al. Changes
of young chicks. Poultry World, p: 14-20, 2011. in serum ovotransferrin levels in chickens with
experimentally induced inflammation and dise-
50. Sueyoshi, M.; Nakazawa, M. Experimental ases. Avian Dis, v.46, p.122-131, 2002.
Infection of Young Chicks with Attaching and
Effacing Escherichia coli. Infect Immun, v.62,
p.4066-71, 1994.

140 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 76 - março de 2015

Você também pode gostar