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antivíricos
A incidência das infeções víricas é grande. Particularmente, nos últimos 2 anos parece que ultrapassa
qualquer outra problemática (mas, na realidade, não: as resistências aos antibióticos e as infeções
bacterianas estão muito associadas a estas comorbilidades).
Dependendo da capacidade que os vírus têm de mutarem (ou não), temos alguns que nos causam problemas
e outros que se resolvem com vacinação.
De acordo com a OMS (2019), os principais agentes víricos (e consequentes doenças) são: hepatite B,
HIV, Influenza, hepatite C, HPV e outros não tão disseminados (de regiões mais endémicas, como o dengue,
zika), etc.
Efetivamente, há vírus que conseguimos eliminar com a vacinação, o que pode não vir a ser o caso do
SARSCoV2 (pelo tipo de mutações que pode sofrer)- ex: tosse convulsa e poliomielite. Já vírus como o
Influenza, apesar de haver vacinação, sofre rápidas mutações e temos, então, de ter antivíricos disponíveis
na terapêutica. Noutros casos que evoluem para doença crónica (ex: hepatite B e HIV), em que não temos
alternativas de vacinação é, também, importante a administração de antivíricos.
Os antivíricos começam, cada vez mais, a ser classificados em duas grandes áreas: os que atuam
diretamente em alvos do vírus, responsáveis pela sua sobrevivência e os que atuam em alvos do hospedeiro
(afetando o ciclo de vida do vírus, as respostas imunológicas e incluem um arsenal terapêutico não só de
pequena molécula mas também vacinas, interferões e anticorpos.
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tipo de vírus que temos (vírus como o SARSCoV2 têm 2 mecanismos de entrada), o vírus pode entrar por
fusão ou por endocitose ocorrendo, de seguida, a descorticação (libertação da nucleocápside e do material
genético do vírus). Posteriormente, dá-se a transcrição (que é necessária para a produção de proteínas
Iniciais (reguladoras e da replicação- ex: DNApolimerase, transcriptase reversa, etc) para a replicação) e a
replicação (dependente de, por exemplo, pré-mRNA). No final, dá-se a produção das proteínas tardias
(estruturais), a reunião de todos estes elementos e a sua aproximação da zona da membrana do hospedeiro,
ocorrendo a libertação do vírus maduro (virião).
Os fármacos com ação direta nos vírus vão, assim, atuar em alvos importantes para o seu ciclo de vida
(diferentes dos que existem nos humanos. Mas, como os vírus são muito mais pequenos e simples, têm menos
proteínas e isto torna-se mais difícil comparativamente a outros parasitas). Há mecanismos de toxicidade
seletiva que se tentam atingir (sendo estes mais limitados em relação a outros quimioterápicos). Pretende-se
criar antivíricos de largo espetro (para não termos apenas um fármaco para dada infeção e para que tenhamos
fármacos que atuem em situações de resistências).
Quanto à sua descoberta, surgiram por volta de 1950/1960 mas, mesmo estas descobertas revelaram-se
muito pouco eficazes e muito tóxicas.
Os primeiros antivíricos eram extremamente tóxicos (primeiro para herpes, depois para Influenza,
herpes novamente e, por último, um “boom” dos AV- que começa com uma pandemia (a SIDA- doença, na
altura, com muito estigma social. Urgência de encontrar um tratamento para o HIV). Isto veio associado a um
ao descodificar do genoma vírico (com todos os desenvolvimentos técnicos e metódicos quer na microbiologia
molecular, quer na engenharia química) que permitiu a replicação dos próprios vírus e o trabalho deles em
laboratório.
O AV ideal deve reunir as seguintes características (equivalentes às de um quimioterápico): elevada
especificidade e toxicidade seletiva, largo espetro, não desenvolver resistência (grande problema, que leva a
uma necessidade contínua de procura de novos AVs).
O caminho não passa só pela descoberta de AV de ação direta/que atuam diretamente no vírus-
problemas de interações, de resistência, de custo e de desenvolvimento. Estes problemas estão, muitas
vezes, associados a comorbidades (ex: muitas vezes, uma infeção por HIV vai conduzir a uma panóplia de
infeções (coinfeções) , sejam elas fúngicas, bacterianas ou, até, víricas (o vírus usa a maquinaria do
hospedeiro e este fica imunocomprometido)).
Para combater estas situações e resistência, tem-se vindo a perceber que é útil a descoberta de AVs que
atuem no hospedeiro (normalmente designados por antivíricos de largo espetro- não estão tão dependentes
do tipo de vírus; melhoram o sistema imunológico. Outras vezes, este alvo é dependente do mecanismo de
replicação do vírus). Em suma: melhoram alguns aspetos negativos dos AVs com ação direta (vimos isto no caso
do covid, em que a primeira abordagem foi usar fármacos que já estavam na terapêutica e cuja ação tem mais
a ver com o nosso sistema imunológico e a sua resposta do que propriamente com o vírus (mais tarde, com o
remdesivir). Claro que isto está associado a problemas de menor especificidade e imunológicos.
Estudos feitos com AVs de origem natural revelam que estes atuam, muitas vezes, nos recetores de
entrada dos vírus, impedindo-a ou, até, noutros alvos intracelulares do hospedeiro → há diversas estratégias.
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Normalmente, temos inibidores enzimáticos (de enzimas que atuam na replicação do vírus- ex:
DNApolimerase, transcriptase reversa; protease e integrase são outros alvos que têm a sua maior expressão,
etc) e, por isso, são análogos de nucleosídeos (a sua maioria). Estes análogos de nucleosídeos são
antimetabolitos (pois mimetizam o substrato destas enzimas.
Temos, também, análogos não nucleosídeos, oligonucleótidos (fomivirsen- 1ª terapêutica anti-sense:
sequência de RNA complementar de RNA vírico. Produz uma cadeia dupla de RNA que bloqueia a tradução do
RNA vírico e, consequentemente, a síntese de proteínas. É injetável. Não tem qualquer biodisponibilidade oral
e rapidamente poderia ser degradado por nucleases. Este fármaco ainda é usado num caso muito particular:
infeção por CMV (citomegalovírus) em doentes com SIDA (injeção ocular para tratamento de uma infeção
ocular/retinites que levam à cegueira, muitas vezes)).
Estratégia: modificação por isóstero do grupo fosfato terminal (S em vez de O- para ↑ a sua resistência
às enzimas que degradam os nucleótidos.
Estereoquímicamente,os
nossos açúcares são D,
β-riboses.
Os nossos nucleosídeos
têm que sofrer mono, di e
trifosforilação antes de entrarem na
cadeia de crescimento. A 1ª fosforilação é feita pelas cinases (enzimas +abundantes que temos),em particular
pela cínase da timina- é muito seletiva (é o passo limitante) em relação às 2ª e 3ª (feitas pela cínase do
timidilato).
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O trifosfato e a base são essenciais quer para a interação com a enzima, quer com a cadeia e o açúcar é o
espaçador que garante a configuração correta.
Tem-se vindo a alterar frequentemente o açúcar. Os AVs sofrem modificações + profundas nos açúcares
e intensos nos outros grupos. Com estas modificações desenvolvemos, então, um AV.
Temos,essencialmente, 2 tipos de vírus:
● os como o herpes, que codificam não só a DNApolimerase como,também, a cinase responsável pela
monofosforilação → este é o ideal: termos um AV que é substrato da cinase do vírus e NÃO da humana- que é
tão limitante em termos de seletividade } este
foi o sucesso na descoberta de AV para vírus
como o herpes (de tão seguro que é, nem é
sujeito a prescrição médica). Este será o melhor
dos cenários: AVs que será
fosforilado/substrato não pela cinase humana
mas sim pela vírica.
● os como HIV (que não codificam para
cinases), cujos fármacos são de uso hospitalar,
tóxicos e com muitas limitações. Assim,
precisamos de desenvolver análogos que sofrem
fosforilação pela cinase humana ⇒ a sua
toxicidade seletiva depende, apenas, da
seletividade para a RNA/DNApolimerase serem diferentes das da humana (é um alvo que ambos têm). O ideal
seria que fosse um inibidor da RNA/DNApolimerase apenas do vírus e não hospedeiro (mas acabam por ter
sempre alguma homologia ⇒ AV acaba por ter
alguma seletividade para a enzima vírica e não
para a do hospedeiro).
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Uma outra modificação muito interessante é a alteração da estereoquímica: em vez de termos D,β (ribose
codificada pelos mamíferos), temos L,∝ ⇒ os vírus não têm uma maquinaria tão diferenciada como a nossa e
reconhecem, indiferentemente, o D do L ⇒ ↑ seletividade (as nossas cinases e DNApolimerase rejeitam esta
estereoquímica, atuando mais sobre o vírus).
Fizeram-se, também, modificações no anel: contração, aumento do seu tamanho, etc.
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herpes
É um vírus que, pelas suas várias doenças/subfamílias e resistências adquiridas, é prevalente ainda e
dispõe de vários antivíricos disponíveis.
Há 3 famílias (∝, β e ƴ):
● ∝- tipo 1 (HSV-1: labial e encefalites); tipo 2 (HSV-2: genital); varicela zoster (VZV)
● β- citomegalovírus (CMV: muito importante nas grávidas devido a malformações que possam
causar no feto); tipo 6 (HHV-6) e tipo 7 (HHV-7)
● ƴ- Epstein-Barr (EBV: “doença do beijo”/mononucleose) e tipo 8 (HHV-8: associado a um
síndroma de cancro/sarcoma de kaposi)
Os fármacos que vamos ver (apesar disto já estar a ser combatido) atuam apenas quando o vírus está
ativo/ na sua fase de replicação.
O herpes simplex do tipo I aloja-se no nervo vago (na face)-é latente. Só quando é reativado (pela luz,
stress, etc) na sua forma ativa é que temos os AVs a atuar.
É um vírus de DNA e entra por fusão. Tem, como principal alvo, a DNApolimerase.
O que torna o seu tratamento tão eficaz é o facto de não codificar apenas a DNApolimerae vírica mas,
também, uma cinase responsável pela monofosforilação ⇒ fármacos muito + seletivos).
Os fármacos que temos para o tratamento de herpes são, na sua grande maioria, análogos de
nucleosídeos. Atualmente, já temos análogos de fosfonatos de nucleosídeos (= nucleotídeos; já têm o
monofosfato ou o seu isóstero). E, cada vez mais (por causa das resistências),temos outro tipo de fármacos:
os não nucleosídeos.
Essencialmente, atuam nestas duas situações: podendo ser substrato/inibidor da DNApolimerase ou da
cinase da timidina.
O fármaco líder e de maior sucesso introduzido na terapêutica foi o aciclovir. Ele difere no açúcar. Foi o
primeiro derivado acíclico a ser introduzido (modificação molecular substancial). O facto de ser tão diferente
dos nosso, leva a que ele não seja reconhecido pelas
nossas cinases (não é reconhecido pela 1ª cinase da
monofosforilação da timina). OTC pois é muito
seguro.
Foi descoberto por screening. Estava a ser
investigado como inibidor de uma enzima que
metaboliza 1ª AV a ser descoberto (que era um
análogo nucleosídico que sofria rápida
metabolização por desaminação). Perceberam,
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então, que tinha atividade antivírica e, até, melhor do que a do AV que existia. Percebeu-se, ainda, que era
muito + seguro ⇒ foi rapidamente substituído.Foi o primeiro AV seguro e não tóxico- grande marco.
Atualmente é utilizado no tratamento de herpes simplex dos tipos 1 e 2, da varicela zoster.
Contudo, tem um problema: não tem biodisponibilidade oral.
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Quer o ganciclovir, quer o seu análogo (e pró-fármaco do aciclovir), desciclovir, tem baixa
biodisponibilidade oral (aciclovir usado a nível tópico). No entanto, o valaciclovir é administrado sob a forma
de comprimido.
Todos os pró-fármacos antivíricos são pró-pró-fármacos (já vimos pelo seu mecanismo de ação que,
intrinsecamente já são pró-fármacos- precisam da trifosforilação).
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Estas modificações tiveram o objetivo de melhorar as características do aciclovir ⇒ > duração de ação
(penciclovir) mas o mais utilizado é o famciclovir (> biodisponibilidade).
O facto de ser, também, fosforilada por uma cinase humana, contribuiu para que caísse em desuso, tendo
ação essencialmente tópica.
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Estes análogos fosfonatos de nucleosídeos têm baixa disponibilidade oral e são, muitas vezes, usados em
situações de resistência ao aciclovir. Têm, também, algumas reações adversas associadas (não são fármacos
100% seguros).
Por estas resistências e por só atuarem aquando da replicação viral, têm surgido outras alternativas
(sobretudo para CMV- imunossuprimidos e doentes pós-cirúrgicos).
Há outros alvos que foram estudados, que levaram à descoberta de fármacos não nucleosídeos, como o
ietermovir (atua na fase de replicação, num complexo que existe de terminase do CMV; não precisamos de
saber a estrutura; é um fármaco-órfão- só existe este fármaco para este alvo; é utilizado, até, como
prevenção; 1º fármaco da classe; teve
aprovação acelerada por atuar em
resistências de CMV) e o maribavir (existe em
alguns países; não é análogo nucleosídeo mas
quase que sim (olhando para a sua estrutura
⇒ há alteração de uma base); trata-se de um
benzimidazol; ao contrário dos outros
fármacos que atuam em CMV, ele não é
substrato da cinase (e, consequentemente,
não é fosforilado), ele inibe a primeira cinase
(UL97)).
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influenza
É um vírus de RNA.
Até agora, vimos que atuávamos muito na replicação com
análogos de nucleosídeos e de nucleotídeos- isto no caso dos
herpes | HIV | hepatites B e C- mas, aqui, vamos ter outros alvos.
É o agente causador da gripe (doença respiratória que afeta
as células epiteliais do trato respiratório superior). Tem envelope
e é sazonal (confere-lhe proteção; há sempre mutações que levam
a novas vacinas todos os anos). Tem 2 proteínas essenciais (que
vêm do hospedeiro mas que o vírus integra na sua membrana e
que, depois, servem para serem reconhecidas pelas células do
hospedeiro) no seu seu ciclo de vida, atuando como
alvos (essencialmente uma delas): a neuraminidase
(saída; principal alvo) e a hemaglutinina (entrada).
A hemaglutinina faz o contacto com a célula e com a
neuraminidase (responsável por quebrar os açúcares
onde a hemaglutinina se liga) → consegue-se a entrada
e saída dos vírus.
A própria classificação do vírus sazonal vem
destas 2 proteínas e, daí, ouvirmos falar de H1N1 (por
exemplo) que é o vírus influenza A, epidémico nos
humanos, com os antigénios H1N1 ou H3N2 (tem a ver
com as estruturas/propriedades antigénicas destas
proteínas de superfície- que são, depois reconhecidas pelas nossas células).
Temos, então, vírus do tipo A (epidémico e que sofre mutações que levam à necessidade de alteração de
vacinação todos os anos) , B ou C.
Para todos os vírus (incluindo o SARSCoV2), a vacinação não protege contra os 2 tipos de mutações que o
vírus sofre:
● antigenic shift (+ suave)
● antigenic drift (combina material genético de 2 diferentes; mutação maior- muitas vezes,
causa do risco de pandemia)
As pandemias que tivemos até agora foram de Influenza (gripe espanhola, gripe das aves)- risco da
convivência próxima dos animais com os humanos que faz com que haja uma alteração do hospedeiro do vírus.
Levam a mutações e, antigamente (quando não haviam fármacos nem vacinas), a mortes consideráveis.A gripe
das aves já foi mais controlada.
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Quanto ao seu ciclo de vida do vírus, este põe em evidência os alvos que podem ser/foram úteis para a
descoberta de antivíricos.
Até à gripe das aves, não havia AVs de valor/ com interesse mas foi o risco de uma pandemia que acelerou
a descoberta de AVs para Influenza (até aí, estávamos bem com o tratamento de sintomas e vacinação,
apenas).
Esta imagem já está desatualizada (na terapêutica já temos outros alvos) mas, na altura, estávamos muito
limitado à fase da endocitose e fusão ⇒ surgem os inibidores da neuraminidase (que vieram a revolucionar a
terapêutica). Os 1ºs inibidores foram descobertos nos anos 1960s (aquando dos 1ºs AVs a serem
descobertos).
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ADAMANTANO E DERIVADOS
Inibidores ligam-se ao local ativo da NA, impedindo a enzima de quebrar os resíduos de ácido siálico nos
receptores da célula do hospedeiro, impedindo assim a libertação de novos viriões (a infeção de novas células
do hospedeiro e a progressão da infeção).
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No caso do H5N1 (gripe das aves), quebra-se a ligação do ácido siálico com o polisacárido nas posições 2,3
- isto no trato respiratório inferior (daí a ser mais grave e difícil de controlar).
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Recorreu-se, então, novamente, à estratégia do structure based design para perceber o que era possível
de estudar.
Percebeu-se que havia, no local de interação do OH, resíduos de a.a. carregados negativamente (Asp-151
(ácido) e Glu-119) ⇒ para melhorar estas interações, adicionou-se uma base (grupo amina)-interação iónica ⇒
↑ estabilidade do complexo.
Funcionou.
Perceberam que, onde colocaram a amina,
sobrava imenso espaço (era um pocket muito
volumoso) ⇒ pensaram num isóstero do grupo
amina (guanidino- básico também mas de >
volume) e introduziram-no.
Obteve-se, assim, o zanamivir- primeiro
inibidor da neuraminidase vírica e o 1º da classe
para o tratamento de Influenza.
Esta modificação por um grupo volumoso
teve grande sucesso e tornou as interações 100x
mais fortes.
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mas, dada a sua baixa biodisponibilidade oral (muitos grupos polares), existe na terapêutica apenas por
inalação (apesar de ser de largo espetro: ativo para A e B- ao contrário dos adamantanos).
Evoluiu-se, então, para o oseltamivir, de administração oral.
Primeiro, tentou perceber-se que era
essencial para a interação:
● grupo acetamida (que foi mantido)
● grupo básico (quer era o guanidino
mas, percebeu-se que o tamanho do NH2
era mais apropriado)
● COOH (que mantivémos no
oseltamivir mas com a adição de um éster
(grupo facilmente hidrolisável quando
atinge a corrente sanguíneo) ⇒ não é ativo
(pois não tem o ácido carboxílico livre) mas
é um pró-fármaco com carregador (↑
biodisponibilidade oral).
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A alteração de glicerol para isopentilo, não só trouxe consequências para a biodisponibilidade (tornou-se
disponível oralmente- ↑
hidrofobicidade/lipofilia, tornou-se
menos polar) mas também melhor a
farmacodinâmica (liga-se na
conformação ativa, estendendo ainda
interações com o pocket 2 do local
ativo- estabelece interações
hidrofóbicas-, aumentando a
estabilidade do complexo).
Outro fármaco que está na terapêutica é o laninamivir (não está na terapêutica tal qual como
carboxilato mas no lado esquerdo, da cadeia lateral,
está mais hidrofóbico- está na forma de octanoato
mas é pró-fármaco na mesma - éster que hidrolisa e
origina o álcool). Este composto é mais eficiente
para algumas resistência mas, no entanto, não existe
em Portugal (existe no Japão).
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INIBIDORES DA DESIDROGENASE
DO MONOFOSFATO DE INOSINA
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MECANISMO DE AÇÃO (quelante): ele atua pois sofre ação de uma fosforibosiltransferase que introduz, na
base, o seu monofosfato e a unidade açúcar
(pró-fármaco que, depois, tem de ser di e
trifosforilado para inibir competitivamente a
RNApolimerase do vírus). Há anticancerígenos com
este mesmo mecanismo de ativação. Tem um
espetro de ação alargado pois atua na
RNApolimerase de outros vírus, nomeadamente no
da ébola. A base tem modificações um pouco
profundas mas seguiu uma estratégia semelhante
às anteriores para nucleósidos (só a ativação é que
é diferente, pela fosforibosiltransferase).
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anti-retrovíricos | hiv
Atuam em retrovírus- vírus que pertencem à família Retroviridae e, dentro desta família, à Lentivirinae
(caso dos vírus da imunodeficiência humana 1 e 2- HIV-1 (USA, Europa e Ásia) HIV-2 (África Ocidental),
respetivamente).
É um vírus de RNA de cadeia dupla e codifica uma transcriptase reversa (daí a ser um retrovírus), que
faz uma coisa muito diferente da humana: transcreve RNA para DNA.
É um vírus com envelope e, no seu envelope possui, também, as glicoproteínas que vêm do hospedeiro e
que, depois, vão ser responsáveis pelo reconhecimento molecular que vai permitir a entrada do vírus nas
células humanas (nem tanto as endoteliais mas sim os linfócitos-principal alvo deste vírus, daí a diminuirem
tanto a nossa habilidade imunológica). Têm, então, várias glicoproteínas, como a gp120 e a gp41- responsáveis
pela adsorção e entrada ⇒ vamos
ter estratégias terapêuticas para
atuar nestas glicoproteínas como
alvo.
PROBLEMA: este vírus não codifica
a cinase de timina que faz a 1ª
monofosforilação ⇒ temos um alvo
interessante (transcriptase reversa-
que não existe nos humanos) mas, se
pensarmos num análogo
nucleosídeo,ele vai ter de ser
monofosforilado pelo hospedeiro ⇒
baixas seletividades.
INFEÇÃO ≭ DOENÇA
Podemos ter uma infeção e não estarmos doentes (muitas vezes medido pelos valores de CD4
circundante). Situação de SIDA ⇒ contagem de CD4 < 200 (podemos é ter um período de infeções mais
oportunistas em contagens anteriores).
Os AVs vieram aliviar muito a situação da
doença (aliviando os sintomas) mas o vírus
também pode ficar latente no seu ciclo e acaba
por se tornar uma doença crónica.
OBJETIVO: ↓ carga vírica e prolongar a
sobrevivência.
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e a porta de entrada são os recetores CD4 do hospedeiro (que são reconhecidos pela gp120 do vírus e é ela
que leva ao processo de adsorção e fusão). De seguida, há libertação do RNA e das enzimas que ele codifica
(sendo que não codifica a cinase- é a transcriptase reversa que vai fazer a transformação do RNA num
híbrido (primeiro RNA-DNA de cadeia simples e, depois, em DNA de cadeia dupla). Outra enzima que
codifica, a integrase, aloja este DNA no DNA do hospedeiro (sendo que este até pode estar “adormecido”.
Quando começa o processo da replicação ou da transcrição, há a formação de RNA e das proteínas que
levam à sua reunião e libertação.
Um passo crítico do ciclo de vida (também devia estar a vermelho) é o da protease- alvo codificado por
esta enzima que quebra a cadeia polipeptídica formada nas várias proteínas formadas funcionais.
Assim, como alvos interessantes para HIV, temos, até, mais do que para os vírus anteriores:
● transcriptase reversa
● inibidores da protease (não vamos falar)
● outros: gp41, integrase, CCR5
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Temos, ainda, inibidores alostéricos (não atuam no local ativo, não são
competitivos de análogos de nucleosídeos) desta enzima- ao contrário do
que temos vindo a ver anteriormente.
Têm, obviamente, um efeito sinérgico com os análogos nucleosídeos e com
os outros alvos (mais uma estratégia).
1. ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEOS
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O fármaco mais recentemente aprovado (pela FDA) na terapêutica (ainda não em Portugal) foi o tasso =
tenofoviralafenidamida (pró-fármaco do tenofovir) segue a estratégia do PROTIDE (para melhorar a
absorção do fármaco pelas células,
temos o fármaco não só com um
carregador mas sim um carregador
característico: com um a.a., um fenol
(um aumenta a hidrofobicidade e o
outro permite o ↑ do uptake nas células
hepáticas ⇒ > biodisponibilidade a nível
intracelular.
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MECANISMO DE AÇÃO:
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A enzima aspartil-protease contém ácido aspártico no seu local ativo e é simétrica (dímero de 2 unidades
proteicas idênticas, cada com 99 a.a.. O local activo é na interface das 2 unidades e é, também, simétrico -
diferente da dos mamíferos) ⇒ permitiu o
structured based design seletivo de
peptidomiméticos no local ativa. É facilmente
cristalizada (com ou sem o seu inivbirodr ligado no
local ativo). Catalisa a quebra das ligações
peptídicas (entre prolina e fenilalanina ou
tirosina).
Conhecia-se bem o local e os espetros dos
substratos (onde se dá a clivagem) e, primeiro, para se desenvolver o inibidor enzimático, estudou-se o
mecanismo da enzima e mimetizou-se o estado de transição (que tinha um diol- muito reativo e que não era
possível, na altura) ⇒ ↓-se o carácter peptídico da molécula (biodisponibilidade oral praticamente nula pois
são rapidamente atacados pelas proteases- apesar de
haver algumas formulações para esta proteção,
tentamos o design peptidomimético (pois os péptidos é
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mimetizando o estado de transição). Usaram-se isósteros de amida e, o de > sucesso, foi a hidroxietilamina ⇒
início de muitos fármacos antivíricos inibidores da protease que estão na terapêutica (o saquinavir foi o 1º; o
ritonavir e o indinavir estão a ser muito usados como fármacos sentinela de outros AVs- nomeadamente para
SARSCoV2).
Outros fármacos que também surgem- e que foram grandes descobertas, na altura (pois fugiam ao
mecanismo clássico de inibir o ciclo de replicação/tradução)- foram os que atuam ao nível da entrada da
partícula do vírus HIV para os linfócitos do hospedeiro.
INIBIDORES DA INTEGRASE
Foram os últimos a surgir mas são, atualmente, dos + eficazes- são sempre usados, em combinação, com
um análogo de nucleotídeo ou com um não análogo.
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Como vimos no ciclo de vida, é necessária a integração do material genético do vírus (DNA de cadeia
dupla) no DNA do hospedeiro- a integrase é uma enzima codificada pelo vírus do HIV que tem esta função
INIBIDORES DA FUSÃO
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→ Outros fármacos que também surgiram como opção para impedir a entrada do vírus são os
antagonistas CCR5, que atuam no hospedeiro (não temos que saber a REA)- ao contrário do T20 (ambos se
ligam a alvos dos hospedeiros, não têm ação direta sobre o vírus).
São inibidores de uma interação proteína-proteína pois, para o vírus (através das suas gp120 e gp41) se
ligar ao recetor do hospedeiro, precisa do
auxílio de co-recetores (que são o CCR5 e
CxCR4)- ao acontecer esta interação, há uma
alteração da conformação do local de ligação
e dá-se a fusão do vírus com a membrana dos
hospedeiro ⇒ inibem o co-recetor do
hospedeiro, impedindo a fusão.
Estes, foram evoluindo para não terem
cardiotoxicidade (não atuarem em canais
Her).- foi muito por HTS e não existe uma
REA muito específica.
O problema dos fármacos contra HIV é que estão sempre muito associados a resistências. A terapêutica
foi evoluindo, de forma a tornar esta doença/infeção crónica mas sem a síndrome de SIDA (sem os elevados
valores contadores).
Por haver rápido desenvolvimento de resistências, a grande descoberta não passou só pelos fármacos mas
pela associação terapêutica/regime terapêutico destes fármacos ⇒ retarda o aparecimento de resistências
8o vírus vai encontrando mecanismos diferentes) como, também, a toxicidade medicamentosa (cada um dos
fármacos tem o seu perfil toxicológico).
Em 1996 começa, então, esta terapêutica combinada altamente eficaz (HAART) com 20 comprimidos por
dia, sendo que, atualmente, requer apenas 1 toma diária.
Evoluiu muito no sentido de combinar inibidores da integrase com inibidores análogos de nucleotídeos
(tenofovir) e um não análogo de nucleosídeo.
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As guidelines atuais têm como principais fármacos o tenofovir e lamivudina (análogo nucleosideo),
associados ao dolutegravir (inibidor da integrase) → 1ª linha de tratamento, quer para adultos, quer para
crianças.
Medidas foram estipuladas e estão a tentar ser cumpridas com o objetivo de erradicar esta doença que
afeta, maioritariamente, os países de África.
NOVAS ESTRATÉGIAS: passam muito pela evolução para fármacos covalentes (sustentabilidade de
resposta superior, em grande parte das vezes); PROTAC (degradantes enzimáticos- como nos
anticancerígenos).
É contínua a procura de novos fármacos, sendo que o conhecimento que sobre eles adquirimos tem que ser
constantemente atualizado.
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hepatite C
A hepatite C foi e é uma doença silenciosa pois, muitas vezes, as suas manifestações não se fazem sentir.
Tinha > incidência que o HIV e, há 10 anos atrás, o
tratamento (que era feito com 2 fármacos que atuavam a
nível do hospedeiro: ribavirina + interferão peguilado (1ª
linha)) tinha apenas 40% de eficácia.
Por volta de 2011, o seu arsenal terapêutico começou a
aumentar muito (com, até, inibidores da protease em vista).
Tivemos 2 grandes fármacos que revolucionaram esta
terapêutica- hoje em dia já não são muito utilizados mas o
seu design serviu para o desenvolvimento posterior.
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Pensou-se que, colocando um grupo diceto, não iria quebrar esta enzima ⇒ na realidade, o que aconteceu foi
uma adição nucleofílica e a enzima (protease) liga-se de forma covalente (irreversível devido à grande
estabilidade) ao inibidor.
Depois de percebido este
mecanismo, tentou ↓-se o
carácter peptídico (truncou-se o
péptido) a esta substância, para
se descobrir o farmacóforo.
Usou-se, também, uma outra
estratégia: a introdução de uma
prolina bicíclica (mimetiza o a.a.
leucina) ⇒ com esta substituição,
↓-se o carácter peptídico e ↑
hidrofobicidade.
Foi, ainda, possível uma
truncação adicional: o grupo
dicetoamida ficou na extremidade
(interação destes grupos com o
recetor- mecanismo de ligação
muito estável). E foi, assim, criado o boceprevir, com base no structured based design, na química dos
peptidomiméticos e ↑ hidrofobicidade e ↓ o carácter peptídico.
MECANISMO DE AÇÃO:
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A grande revolução e que trouxe a grande mediatização dos fármacos para hepatite C foi o sofosbuvir
que, em 2014, é introduzido (sendo que o tratamento custa 48 000€ ⇒ houve uma grande pressão do estado
para baixar para 20 000€).
Esta combinação é que veio revolucionar e aumentar para 95% a conversão serológica, permitindo-nos
dizer que, atualmente, é uma doença que tem cura.
ESTRATÉGIA: PROTIDE.
Trata-se de um pró-fármaco (fosforamidato), fosfonato análogo de nucleosídeo mas ele não tem só o
fosfonato: tem um fenol e um a.a. (que,
por sua vez, tem um éster- algum
impedimento estérico) → princípio da
estratégia PROTIDE (foi o 1º fármaco a
ser introduzido na terapêutica seguindo
esta estratégia),
Esta estratégia veio revolucionar
pois este vírus é hepatotrópico (tem
tropismo para o fígado) e este tipo de
fármacos são muito mais recaptados
pelos hepatócitos do que outras células
(devido à sua química) ⇒ atingem altas []s
hepáticas- sofrendo, lá um grande
metabolismo de 1ª passagem, onde é
bioativado.
A NS5B é uma RNApolimerase e, ao se construirem análogos de nucleósidos, percebeu-se que o análogo
assinalado a azul (o de metiluridina) era muito potente mas, no entanto, não conseguia sofrer a
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Basicamente começou-se o estudo com análogos de citidina e de uridina. Enquanto os de citidina eram
ativos, os de citidina não eram- depois, veio-se a perceber que estes não eram ativos (porque o vírus não tem
cinases- têm que usar as nossas da timidina para monofosforilar. Só que as nossas cinases são muito seletivas
e não monofosforilavam os análogos da uridina. Mas, se se desse um análogo de citidina, o composto tinha
atividade quando sofria desaminação por metabolismo, originando o fármaco que era potente, análogo da
uridina). RESUMO: a uridina não conseguia transformar-se no que queriam por ela própria pois não sofria
monofosforilação e era ineficaz, então partiram da citidina e perceberam que análogo de uridina é que tinha
atividade, só não conseguia monofosforilar-se.
Foi com base neste conhecimento de que era o análogo da uridina que era potente que foi desenvolvido um
derivado da uridina com um monofosfato (para ultrapassar o problema de não sofrer monofosforilação).
Guidelines incluem coinfeções que, muitas vezes, acontecem concomitantemente ⇒ combinação entre
fármacos anti retrovíricos e fármacos para hepatite C. Temos que estar atentos para estas interações
fármaco-fármaco pois, muitas destas terapêuticas têm metabolismos muito parecidos (envolvendo a CYP3A4).
Os inibidores da protease interferem com a maioria dos fármacos que conhecemos.
Já existem tratamentos de 8 semanas (muito bom, tendo em conta as eficácia e T1/2)
Os AVS surgiram muito mais tarde que todos os outros fármacos, é sempre + difícil pois os vírus têm uma
maquinaria + simples. Não foi fácil a descoberta de fármacos não tóxicos e, os grandes aumentos, têm sido
pelo conhecimentos de biologia molecular mas, sobretudo pelo risco de pandemia (casos do HIV, Influenza e
SARSCoV2).
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hepatite B
A hepatite B, ao contrário da
C, foi resolvida com prevenção
(vacinação- segura, estável e
eficaz)- o vírus não tem
capacidade de mutar tanto ⇒
10% dos casos podem evoluir para
carcinoma (preocupante) mas a
sua incidência tem diminuído ao
longo das décadas.
A inexistência de cura para esta doença tem passado muito pela persistência a nível hepático do DNA do
vírus na sua forma adormecida. (não replica).
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sarscov-2
Estamos perante um problema de Síndrome de Dificuldade Respiratória Aguda (ARDS) que caracteriza a
doença e que em muito contribuiu para que tivéssemos uma terapêutica de suporte com tratamento
sintomático como sendo a situação que foi evoluindo.
Covid-19 foi o nome que se deu à doença, o agente é o SARSCoV-2 (corona vírus) e “SARS” está muito
relacionado com a sintomatologia que origina
(Síndrome de dificuldade respiratória
aguda).
Foi graças ao conhecimento das pandemias (e seus riscos) anteriores que se conseguiu, rapidamente,
introduzir o remdesivir (e outros
fármacos).
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Química farmacêutica II Ana Fernandes, 21/22
formato de coroa ao vírus, proteína M- da membrana e a N- da nucleocápside). Para além destas, codifica
para 16 proteínas não estruturais, que constituem alvos interessantes.
Já há substâncias com ação eficaz contra a proteína E.
Quanto ao ciclo de vida este é, também, importante- dispõe os alvos de fármacos que fomos ouvindo falar
na comunicação social (e os quais atuam, muitas vezes, no hospedeiro).
Há muitos fármacos a serem investigados que atuam em várias fases do ciclo de vida do vírus que se
relacionam com o hospedeiro.
Estão representados 2 ciclos pois o vírus entra de 2 formas. Pode entrar por:
● endocitose (o da esquerda)- dependente do pH. O vírus é reconhecido pelo recetor ACE2 (enzima
conversora da angiotensina) e são necessárias enzimas: catepsinas (proteínas do hospedeiro que vão
auxiliar, no lisossoma e durante processo de endocitose, a libertação da nucleocápside e do material
genético do vírus). O vírus replica para RNA -, transcreve para mRNA +, dá-se o processo de translação e
reunião do
virião e sua
libertação →
isto ocorre aos
milhões nas
células
epiteliais
● fusão (o da
direita)- pH
independente.
Temos
co-recetores a
auxiliar a
interação da
proteína Spike (do vírus) com o recetor (do hospedeiro humano) ACE2: co-recetores TMPRSS2. O
material genético é, então, libertado por fusão, não sendo necessário recorrer às catepsinas)- daqui para
a frente é igual.
O que caracteriza a severidade desta situação é a tempestade de citocinas que ocorre de imediato e que
leva ao agravamento do quadro inflamatório (↑ libertação de citocinas e ↑ resposta pró-inflamatória).
Sobre o tratamento- foi bastante acelerado- não obedeceu às pipelines dos 20 aos de ensaios clínicos) e
temos: fármacos com antivírica, imunomoduladores, anticorpos monoclonais ou não (neutralizantes) e
teraPêuticas celular e génica em estudo. Estão + de 660 fármacos em estudo, 470 em ensaios clínicos. 11
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tratamentos aprovados (e, destes 11, muitos são de suporte- anestésicos, etc; não antivírico)), apenas 1
tratamento aprovado pela FDA como antivírico (remdesivir) e vários em ensaios finais.
Em julho (2021) foi o último anticorpo (atua na interleucina 6- para atenuar a tempestade de citocinas) e
temos outro de interação direta com a Spike.
As estratégias de anticorpos monoclonais surgiram em maio-julho 2021 e as outras surgiram previamente
(remdesivir surge em janeiro 2020; inibidor de uma cinase em combinação- novembro 2020). Foram usados,
também: plasmas covalentes (fármacos) e medicações de cuidados intensivos e de terapêutica de suporte).
No início, fizeram-se, então, muitos estudos em sílico com fármacos já existentes→ estratégia de
reposicionamento.
Em simultâneo, isto transpôs-se para estudos in vitro e, depois, para estudos in vivo com fármacos já
existentes.
Foi assim que o remdesivir entrou na terapêutica.
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PROBLEMA: estes fármacos não foram especificamente desenhados para estes vírus- a sua eficácia é
muito duvidosa. O remdesivir, inclusive, tem estudos que mostram baixa eficácia (apesar de existente e
útil)→ limitação ⇒ necessário um processo de otimização (que já está a decorrer- investimento de algum
risco da indústria e academia nesta que é uma necessidade comum).
Há 2 anticorpos monoclonais que estão a atuar na ↓ da tempestade de citocinas- aprovados pela FDA
recentemente (sem certezas se já estão em Portugal mas, provavelmente, não).
Muitos dos fármacos já existentes que se estudaram atuavam, sobretudo, em alvos do hospedeiro:
● camostat- inibidor do
co-recetor TMPRSS2 (que é uma
protease), que auxilia a entrada do
vírus juntamente dos recetores
ACE2 → está a ser estudado
● arbidol- usado na Rússia para
Influenza e atua na interação entre a
proteína S (Spike) e o recetor ACE2
→ fármaco já com ação na interação
entre o hospedeiro e o vírus
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Química farmacêutica II Ana Fernandes, 21/22
A comunicação social, a um
ponto, divulgou que a toma de
anti-hipertensores (IECAs) era
benéfica mas, até agora, os ensaios clínicos defendem que, numa 1ª fase de infeção até seriam úteis (quando
há uma baixa carga viral) mas, numa fase + agravada pode ser prejudicial (por feedback -, pode levar a ↑ nº
recetores) → o estudo está a ser contestado → muito controverso.
Sobre o que tem sido (e continua a ser) o grande foco: protease e RNApolimerase são os grandes alvos- à
semelhança do que acontece no HIV e na hepatite C.
DIFERENÇA: enquanto na hepatite C e no HIV dispomos, também, de inibidores alostéricos desta enzima
(nomeadamente da RNApolimerase), no caso do corona não conseguimos seguir este caminho- tem falha de
pockets hidrofóbicos no local ativo e, por isso, não permite a criação de análogos não nucleosídeos alostéricos
inibidores da RNApolimerase.
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O mesmo se verifica com os outros fármacos e, por isso, apresentam baixa eficácia.
O único que se mantém na terapêutica com > eficácia/ > potência é o remdesivir.
O galidesivir (também já existente) também está em estudos clínicos para SARSCoV-2.
MECANISMO: é terminador de
cadeia mas naõ da forma que já vimos
(pois tem OH em 3’ e tem os 2 OHs em
CIS- supostamente não devia ser) mas
tem o grupo ciano, que causa
impedimento estérico (à semlhança dos
2 OHs em TRANS), tornando-o um terminador de cadeia.
Olhando para a sua estrutura, percebemos que é um análogo nucleósido (com adenosina, monofosfato),
segue a lógica do PROTIDE- tem uma permeabilidade muito elevada pelos 2 tipos de substituintes que já
vimos e, a nível intracelular, já ocorre a hidrólise por esterases do seu éster (não quer dizer que também não
ocorra na *parte que parece um garra da máquina de tirar brinquedos* mas é lenta (devido ao grupo
volumoso)).
Depois, por ação de esterases, a glicina sofre um rearranjo e, a partir daqui, esta ativação é toda NÃO
enzimática.
É um pró-fármaco com carregador que, após a hidrólise para libertação do carregador liberta-se, por
sucessivas modificações e rearranjos, a restante porção, ficando um metabolito de alanina que, por ação de
fosforamidases é, também, libertado, originando o fármaco (que ainda não é ativo- tem que sofrer
trifosforilação).
Na sua forma trisfosforilada é, então, um inibidor competitivo → incorpora-se na cadeia e causa a
terminação.
É a única pequena molécula com ação direta sobre o vírus (existe um outro inibidor de uma cinase) que
existe, atualmente, para o tratamento. Não é de grande eficácia mas mostra alguma e, por isso, está a ser
administrado a nível hospitalar. Foi rapidamente aprovado não só por ter entrado em ensaios clínicos para o
ébola mas, + uma vez, pelo conhecimento sobre a sua ação sobre o MERK e SARSCoV-”1”.
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Outro fármaco que está, também, na terapêutica em alguns países (sobretudo Asiáticos) é o molnupiravir.
Não foi originalmente desenvolvido para SARSCoV-2 (não quer dizer que ele não tenha eficácia).
1. INIBIDORES DA PROTEASE
Há muitos em estudo.
Temos várias estratégias mas
começam todas com o mesmo
conhecimento: através de um
corona vírus e de uma proteína
muito homóloga (3Cl.pro da
porcina) percebeu-se que o que
era essencial para a atividade de
um bom inibidor desta 3Cl.pro →
a partir deste péptido começa,
então, o design de inibidores da
protease.
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Temos, ainda, as naftaleno-metilaminas (as da esquerda) , com uma química diferente mas, também de
origem peptidomimética (amida central) e outros dipétidos (os da direita- quase truncar o anel, não
covalentes) → tudo isto vem de uma evolução de um vírus anterior; descobre-se um líder (do rhino vírus) que
permite várias famílias de inibidores da protease.
O fármaco mais avançado (em fases II e III, em simultâneo- no ppt diz em fase I mas está
desatualizado) é o 332 da Pfizer. Tem biodisponibilidade oral e foi descoberto por structured based design.
Podem constituir uma alternativa pois foram desenhados para esta protease, deste vírus (que é, de si,
diferente da do HIV). Trata-se de uma protease de cisteína. Estes ensaios clínicos estão a ser feitos em
conjunto com um fármaco sentinela (ritonavir- não pela sua atividade inibidora da protease mas por sofrer
metabolismo pela CY3A4, ↑ T1/2 do 332 → mesma estratégia do que para o HIV).
O 1º inibidor tem, então, uma estrutura peptídica que vem truncar e ↓ um petit o 1º péptido e tem um
aceitador de Michael
(carbonilo ∝,β-
conjugado) ⇒ permite
uma adição nucleofílica-
é uma warhead (= ogiva/
cabeça ou testa de
ferro, em tuga), quem
comanda o mecanismo →
ligação covalente
reversível mas muito
estável (quase
irreversível).
A evolução passou por
substituir a porção
eletrofílica
farmacofórica do 1º inibidor por um ciano (no 332), que se vai ligar covalentemente. Tem, também, uma
bis(o)prolina (ou dis(o)prolina???? Deus que entenda que eu não consigo)- que também está no boceprevir (↑
hidrofobicidade e mimetiza o a.a.).
Tudo isto veio de uma evolução de um grupo eletrofílico e que faz adição nucleofílica da cisteína
(nucleofílica) ao aldeído (assinalado e que corresponde ao aceitador de Michael) que, depois passou para
ciano- responsável pelo mecanismo de ação. Dá-se a ligação da cisteína ao fármaco.
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Química farmacêutica II Ana Fernandes, 21/22
não tem biodisponibilidade oral (apesar de ser um pró-fármaco).
O que está em ensaios clínicos do análogo (retângulo laranja) não é o fármaco em si mas o seu
pró-fármaco (que é um fosfato), que permite uma > solubilidade e uma administração injetável.
Por ser um alvo muito promissor, há vários fármacos em ensaios clínicos por reposicionamento mas os 2
que vimos são os mais eficazes.
SUMA: inibidores da
protease sim (mas nem tanto
os da do HIV, pois a sua é de
aspartato e a do corona é de
cisteína- ainda estiveram em
ensaios clínicos para
SARSCoV-2 mas não tiveram
sucesso).
A PharmaMar está a tentar introduzir um outro fármaco na terapêutica (está em ensaios clínicos), com
um mecanismo de ação diferente- a
plitidepsina, que é um ciclopéptido
(depsipéptido- além dos péptidos,
tem um éster na sua estrutura
cíclica) → demonstrou eficácia para
um proteína do hospedeiro, que está a
ser investigado.
O baricitinib (inibidor de uma
cinase) mostrou, em ensaios clínicos,
ter ação sinérgica com o remdesivir
na ↓ da tempestade de citocinas. Esta
conjugação tem-se revelado eficaz
para o tratamento de SARSCoV-2.
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Química farmacêutica II Ana Fernandes, 21/22
Num estudo da faculdade em parceria com estrangeiros, percebeu-se que as pessoas com a doença mais
severa tinham o gene GRP78
sobrexpresso e, hoje, já se sabe que é
uma proteína importante para a
entrada do vírus. Na altura, fez-se um
estudo de Docking e Virtual Screening
para perceber que inibidores
poderíamos ter da interação entre uma
porção da proteína Spike e o recetor
do hospedeiro, GRP78 → chegou-se a
alguns fármacos que poderiam ser
investigados para o tratamento.
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