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ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA

PROF FÁBIO BRUSSOLO

1) ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO

O Capital de Giro envolve todas as contas do Ativo Circulante de uma empresa. Os principais itens
que carecem da atenção do Administrador Financeiro são: Disponível, Duplicatas a Receber e
Estoques, no caso do ativo.

1.1) ADMINISTRAÇÃO DAS DUPLICATAS A RECEBER

As duplicatas a receber de uma empresa surgem quando esta passa a vender a prazo e, portanto,
“financia” os seus clientes. Administrar esse item significa criar regras para essas vendas tanto no
que diz respeito ao crédito quanto às políticas de cobrança.

As vendas a prazo geram riscos de inadimplência e despesas com análise de crédito, cobrança e
recebimento, mas alavancam as vendas, isto é, aumentam o volume de vendas e,
consequentemente, o lucro.

Antes de se fazer uma venda para um cliente novo, deve-se fazer uma análise minuciosa e criteriosa
de seus dados cadastrais. Vendas a prazo efetuadas sem os devidos cuidados têm grande
possibilidade de se tornar um valor não recebível.

A análise de crédito não se resume a uma análise somente quando o cliente é novo. A situação de
clientes antigos deve ser constantemente monitorada e atualizada quanto aos aspectos de
pontualidade, capacidade de pagamento e situação financeira. As informações podem ser obtidas
com entidades especializadas como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e Centralização de
Serviços Bancários (SERASA).

Sob o ângulo estritamente comercial, quando a concessão está ligada à transferência de


mercadorias ou serviços, admite-se que ao cedente esteja ligado o interesse em obter maior
lucratividade em suas transações, e ao tomador resta-lhe a obtenção de capitais de terceiros de que
necessita também em seu negócio.

Conceder crédito implica em proceder ao recebimento do valor do crédito em época futura, o que
torna necessária a emissão de documentos que serão os instrumentos de cobrança. A emissão
desses documentos, geralmente denominados de fatura, pode ser de grande complexidade para as
empresas, dependendo do tipo de produto, mas principalmente os serviços são os que apresentam
maior complexidade em serem faturados.

Quanto maior o volume de vendas a crédito e o prazo médio de cobrança, maior será a necessidade
de capital de giro para financiar esse ativo. O custo desse financiamento deve ser agregado aos
custos dos produtos.
Segundo MORANTE & JORGE (2007:44) o crédito cumpre uma série de funções específicas:

a) “movimentar o processo de produção em todas as suas etapas, possibilitando maior volume de


operações;
b) estimular o consumo, tal que a produção crescente possa ser absorvida pela sociedade;
c) possibilitar aos investidores a aplicação de suas economias no processo produtivo, ou a nível de
consumo;
d) reunir capitais que, sozinhos, não conseguiriam financiar grandes projetos sociais, levando a
sociedade a um bem-estar econômico e a uma adequada distribuição de renda”

Os autores também citam três políticas possíveis para concessão de crédito MORANTE & JORGE
(2007:45,46):

a) POLÍTICA DE CRÉDITO LIBERAL: utilizada geralmente por empresas novas no


mercado que precisam tornar-se conhecida no mercado. As análises de crédito não são
tão rígidas, como em outras empresas. Pode ser utilizada também para empresas que
tem uma margem de lucratividade considerada alta;
b) POLÍTICA DE CRÉDITO RÍGIDA: utilizada pelas empresas cuja situação financeira não
permite maior riscos devido a possibilidade de prejudicar o seu capital de giro. Neste
caso as análises e liberação de crédito são bem mais rígidos;
c) POLÍTICA DE CRÉDITO COMPATÍVEL: utilizada pelas empresas que estão entre as
duas situações anteriores, e conseguem adotar uma linha de flexibilidade, considerando
condições do mercado e de seus clientes. Geralmente as empresas que utilizam essa
política são aquelas que possuem alto grau de controle em seus negócios.

As políticas de crédito definem formas de concessão de crédito, com base nas condições presentes
e expectativas futuras da situação econômico-financeira da empresa, das condições da economia e
mercado em que a empresa atua. Como tais, devem ser revistas sempre que houver alterações
importantes nestes fatores.

Alguns padrões devem ser observados na hora de se criar os padrões que a empresa utilizará para
criar a sua política de crédito, à saber:

- Vendas: condições mínimas muito exigentes restringem o universo de pretendentes a crédito e,


consequentemente, de compradores. Isso dificulta a realização das vendas. Já padrões menos
exigentes ampliam esse universo, abrindo as portas para a realização de maiores vendas;

- Valores a Receber: padrões de crédito que facilitam a realização de vendas são indicativos de
aumento da necessidade de capital de giro.

- Riscos: Os riscos de não recebimento de Valores a Receber aumentam com a definição dos
padrões de crédito menos exigentes. Aumenta o risco de perdas pelo não recebimento.
A análise de crédito pode ser feita com base em técnica conhecida como 5 Cs, (Caráter,
Capacidade, Capital, Collateral e Condições). HOJI (2003:130,131), os descreve:

“CARÁTER

O caráter é o item mais importante na análise de crédito. A avaliação do caráter do cliente


(consumidor ou administradores da empresa cliente), apesar do alto grau de subjetividade, por ser
referir a aspectos morais e éticos, é muito importante, porque vai depender da sua integridade ética
(honestidade) para saldar compromissos financeiros.
O levantamento de dados históricos, tais como pontualidade nos pagamentos, protestos e
pendências judiciais, pode auxiliar na avaliação do caráter. Muitas vezes o analista de crédito deve
colher informações adicionais do cliente acerca de cultura, hábitos, hobbies, profissionalismo,
honestidade nos negócios, etc.
Se o caráter do cliente não for aceitável, os outros itens da análise estarão bastante prejudicados.

CAPACIDADE

A firme determinação de pagar (caráter) não terá validade se o cliente não tiver capacidade de saldar
seus compromissos financeiros. O potencial de o cliente saldar seus compromissos financeiros pode
ser obtido por meio da análise das demonstrações financeiras e informações financeiras adicionais.
...

CAPITAL

A análise da estrutura econômica e financeira propicia o conhecimento do nível de solidez financeira


da empresa. Analisa-se, por exemplo, o nível de imobilização em relação ao patrimônio líquido, o
nível de investimentos em máquinas, equipamentos e tecnologias. Aspectos como máquinas e
equipamentos financiados por meio de operação de leasing devem ser levantados e devidamente
considerados na análise
...
A análise da necessidade líquida de capital de giro evidencia, com bastante clareza, quanto a
empresa precisa de capital para financiar suas operações. Daí é possível avaliar se a empresa terá
capacidade de expandir as suas atividades, considerando-se as possíveis fontes de recursos de
longo prazo.

COLLATERAL

Collateral é uma palavra em inglês que significa garantia. O collateral é utilizado para contrabalancear
ou reforçar a fragilidade de um ou mais “C” dos quatro outros itens. Pode ser representado por ativos
tangíveis ou ativos financeiros, desde que cubram o período de crédito concedido.

CONDIÇÕES

As condições econômicas atuais e o cenário econômico em que a empresa está inserida devem ser
avaliados em conjunto com o ramo de atividade que a empresa atua.
...”
1.1.1) POLÍTICAS DE COBRANÇA

A política de cobrança deve ser implementada em conjunto com a política de crédito. Não deve ser
facilitada demasiadamente a concessão de crédito para, posteriormente, ter de aplicar rigidez na
cobrança, ou vice e versa.

O administrador financeiro deve estar atento para evitar eventuais abusos praticados por áreas
comerciais, por meio de políticas de crédito e cobrança claramente definidas. Se a responsabilidade
pela concessão de crédito tiver participação da área de vendas, o pagamento da comissão de venda
deve ser vinculado ao efetivo recebimento das vendas.

Podemos citar alguns mecanismos de cobrança praticados pelas empresas:

a) Via Bancária: Através da rede bancária é que flui o maior volume de cobranças formais no
meio econômico. Essa forma é essencial para empresas que tenham clientes dispersos
geograficamente. Dentro desta via existem algumas modalidades de cobrança, à saber:
a. Cobrança Simples: O banco atua como simples prestador de serviço de cobrança.
Recebe as informações da empresa e emite a cobrança. Recebido o pagamento, o
banco efetua o crédito na conta da empresa;
b. Caução de Títulos: Os procedimentos são os mesmos da cobrança simples. A
diferença é que os títulos e o produto da cobrança representam garantia para
empréstimos obtidos pela empresa emitente dos títulos junto à instituição bancária;
c. Desconto de Títulos: A empresa realiza operações de empréstimo junto ao banco e
vincula o recebimento dos títulos “descontados” para a liquidação dos empréstimos.
b) Via Carteira: é o mecanismo que tem menos custos e maior flexibilidade, mas sua eficiência
é discutível. Os títulos ficam depositados na área de cobrança da empresa, e sua cobrança
é acionada nas respectivas datas de vencimento, geralmente, por cobradores da empresa.
Os registros dos títulos emitidos e seus pagamentos devem ser alvo de permanente e
eficiente controle.
c) Via Representante: Trata-se da modalidade de cobrança via carteira, mas realizada através
de terceiros localizados em outras cidades. Geralmente, neste caso, o próprio vendedor
acaba sendo o responsável pelo recebimento da venda, mas isso pode dificultar a
realização das vendas.
1.2) ADMINISTRAÇÃO DOS ESTOQUES

Os estoques são considerados um dos principais itens dentro do Capital de Giro de uma empresa, e
normalmente tem uma grande representatividade dentro do Ativo Circulante, sendo, geralmente, o
item de menor liquidez dentro deste grupo do Balanço Patrimonial.

A responsabilidade direta pela administração dos estoques não é do administrador financeiro, mas
ele pode influir sobre os resultados globais da empresa, interagindo junto a áreas operacionais
responsáveis pelo controle do giro e níveis adequados de estoque.

O administrador financeiro pode contribuir substancialmente nessa tarefa, evidenciando os valores e


tempos de permanência do estoque em cada fase de produção, por meio de um eficiente controle
gerencial.

Numa empresa comercial o que forma a conta de estoques são as mercadorias que estão
aguardando para serem revendidas.

Quando falamos de uma empresa industrial esta pode ter três diferentes itens dentro do seu
estoque:

a) Estoque de Matéria Prima: inclui os itens que farão parte do processo de produção, mas
que ainda não sofreram nenhum tipo de transformação;
b) Estoque de Produtos Semi-Acabados: inclui os produtos da empresa que estão em fase
de produção, mas que ainda não estavam acabados no momento do fechamento do
balanço;
c) Estoques de Produtos Acabados: inclui os produtos da empresa que já passaram pelo
processo de produção e estão a disposição dos clientes para serem vendidos.

Pode-se citar três justificativas diferentes para que a empresa mantenha uma política de estoques,
conforme JUNIOR, RIGO & CHEROBIM, 2010:416)

“...
a) Estoques operacionais, funcionais ou mínimos: representa a quantidade necessária de
estoque destinada a garantir o desenvolvimento e a operacionalização da produção. Seus
níveis devem estar adequados aos fluxos de entrada e saída de materiais e produtos,
considerando as características específicas dos processos de compra, transformação e
vendas. Nas empresas comerciais, os níveis de estoques devem estar adequados às
expectativas de vendas;
b) Estoques de segurança: são estoques de materiais e produtos definidos como importantes
para o processo produtivo, que são mantidos para superar os imprevistos que podem
acontecer nos processos de fornecimento, produção e vendas. O motivo maior do
provisionamento de estoques de segurança está na continuidade do fornecimento aos
clientes.
c) Estoques especulativos: estoques mantidos pra se beneficiar ou reduzir efeitos negativos
de variações de preços no mercado. Havendo perspectivas de aumentos de preços, as
empresas tendem a aumentar o volume de estoques para evitar que os aumentos de preços
venham onerar os custos de produção. A decisão de manter estoques especulativos deve
ser momentânea e considerar a relação de custo-benefício.”

Três situações são fundamentais na administração dos estoques, segundo MORANTE & JORGE
(2007:50):

1. quanto e quando comprar;


2. quanto e quando produzir;
3. quais os itens que merecem mais cuidado.

Uma boa administração de estoques significa manter o menor nível possível de recursos financeiros
neste ativo da empresa, para que a empresa possua condições de investir em outros itens mais
rentáveis, para aumentar os seus resultados. O que deve ficar claro é que enquanto o produto está
em estoque está consumindo recursos da empresa, portanto, não é interessante manter um estoque
alto dentro das empresas.

MORANTE & JORGE (2007:51) também citam os erros mais comuns que podem ser encontrados
na administração dos estoques que são:

 compra maior que o necessário;


 compra feita no tempo errado;
 compra sem conhecimento da produção;
 itens de maior densidade;
 armazenagem deficiente;
 seguros de valor inadequados;
 desuso e obsolescência;
 políticas indefinidas.

Os administradores modernos, qualquer que seja a sua área de atuação, devem ter a consciência de
que o capital de giro investido em estoques tem custo financeiro, e que afetará o resultado
econômico e financeiro.
BIBLIOGRAFIA

HOJI, Masakazu – Administração Financeira: uma abordagem prática – 4ª Edição – Editora Atlas –
São Paulo : 2003;

LEMES JUNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo –
Administração Financeira: Princípios, Fundamentos e Práticas Brasileiras. Aplicações e Casos
Nacionais – Campus – 2010.

MORANTE, Antonio Salvador; JORGE, Fauzi Timaco – Administração Financeira: Decisões de


Curto Prazo, Decisões de Longo Prazo e Indicadores de Desempenho – Editora Atlas – São Paulo :
2007;

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