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Para aquele que crê, a solução de seus problemas não se restringe somente à
ciência e à técnica. Aos olhos da fé, há também uma solução pela via transcendente.
Hoje, verifica-se uma intensa procura pela Renovação Carismática Católica (RCC) e
pelo Pentecostalismo, porque ali pessoas são curadas e libertas de problemas não
solucionados pelas vias normais das ciências médica, psicológica e psiquiátrica. O
padre Alberto Gambarini (2007, p. 7), afirma que onde existir alguém capaz de
acreditar no poder de Deus, aí acontecerá um milagre. É muito comum testemunhos
de pessoas que frequentam igrejas de linha de atuação carismática e pentecostal,
afirmando que são curadas de diversos tipos de doenças e libertas espiritualmente de
todo mal, atribuindo a isso um milagre concedido por Deus em suas vidas.
No mundo da racionalidade, o milagre tem sido sempre contestado e
relacionado ao irracional, gerando um estado de tensão constante entre ciência e
religião. O milagre não se situa no mesmo nível da ciência e sim em um outro nível, o
da transcendência, somente verificável objetivamente, em relação à sua eficácia, e
não a seu causador. Mesmo que a ciência venha a refutar o milagre, considerando-o
irracional, por referir-se a um poder transcendente, que escapa à verificação empírica,
contudo não pode contestar sua racionalidade, pela eficácia que produz. Em seus
testemunhos, algumas pessoas exibem raios X mostrando um tumor em alguma parte
do corpo, antes da cura, e outro raio X de um mesmo laboratório, sem qualquer
evidência de tumor. Na RCC, acredita-se que o milagre ocorra por intervenção divina;
mas ali o milagre acontece com tal frequência e amplitude, que nos leva a perguntar:
O que é o milagre? Tudo é de fato um milagre?
A Bíblia está permeada por sinais miraculosos. Tais sinais eram
pedagogicamente utilizados como comprovação da eficácia do poder de Deus e para
o fortalecimento da fé cristã. Na Bíblia cristã, encontramos diversos sentidos do
milagre, destacando três aspectos fundamentais: 1) O aspecto psicológico de quem o
presencia: o milagre é qualificado como um “prodígio”, não se referindo
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Doutor e mestre em Ciências da Religião (PUC-GO) Pós-doutorado em Teologia (PUC-PR).
Professor da Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília.
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genuína de Deus; 3) que seja algo inexplicável por parte da ciência, reconhecendo ser
uma intervenção sobrenatural.
No Vaticano II, verifica-se uma virada antropológica, inclusive com mudança de
método, conferindo à teologia um caráter antropológico e cristológico. De acordo com
Octávio Ruiz Arenas (2001, p. 370-371), tudo o que se refere à explicação do mistério
cristão em relação ao homem, encontrará seu significado em Cristo. “Ao falar de Deus,
ela o faz mostrando seu significado para o homem em Jesus Cristo”. Com esta
perspectiva, renova-se também a teologia dos milagres. O Vaticano II afirma que os
milagres são sinais da chegada do Reino de Deus à terra (LG 5). “Cristo percorria as
cidades e aldeias curando todos os males e enfermidades como prova da chegada do
reino de Deus” (AG 12). Mas, em vista ao assentimento livre que o homem deve dar
à revelação (DV 5), os milagres de Cristo não são apresentados como uma imposição
para levar à fé, Pela qual o homem tem inteira liberdade para, no uso pleno de sua
inteligência e vontade, dar seu assentimento voluntário à revelação, entregando-se
total e livremente a Deus (DV 5). Por isso, os milagres devem ser entendidos como
um convite e não uma imposição obrigatória para se chegar à fé. A verdade é que
Cristo “apoiou e confirmou, sem dúvida, com milagres, a sua pregação”, mas com a
finalidade de “despertar e confirmar a fé dos ouvintes, e não para exercer sobre eles
qualquer coação (DH 11).
O magistério da Igreja Católica tem se mostrado reticente no que se refere à
questão do milagre na era contemporânea. De acordo com Mariz (2001, p. 41), a
ênfase no sobrenatural e no milagre é considerada por parte da ala progressista como
alienante. Adotando os mesmos pressupostos do discurso racionalista, os
progressistas atribuem os milagres narrados atualmente na RCC e no
pentecostalismo, como “fenômenos subjetivos, que quase nunca resistiriam a uma
observação empírica objetiva que obedecesse aos cânones científicos”, taxando-os
de irreais e mentirosos, e enquanto tal “estariam negando ou ofuscando a realidade
objetiva que, nessa visão, seria a ‘verdadeira realidade’”. A própria CNBB expediu um
documento intitulado “Orientações pastorais sobre a Renovação Carismática
Católica”, em que deixa clara a posição dos bispos no que se refere ao dom de cura,
relacionando-o à realização de milagres por parte de seu portador, sendo enfática em
sua orientação: “Ao implorar a cura, nos encontros da RCC ou em outras celebrações,
não se adote qualquer atitude que possa resvalar para um espírito milagreiro e
mágico, estranho à prática da Igreja Católica” (CNBB, 1994, Doc. 53, n. 59).
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REFERÊNCIAS:
TEIXEIRA, Evilázio Francisco Borges. Imago Trinitatis: Deus, sabedoria e felicidade. Estudo teológico
sobre o De Trinitate de Santo Agostinho. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
EICHER, Peter. Dicionário de conceitos fundamentais de teologia. São Paulo: Paulus, 1993.