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Entonação:

extraído desse site:


http://www.classicalandflamencoguitars.com/Compensation.htm
Traduzido por Marcello Borges do Violão.org

Fazer um violão clássico tocar afinado é uma questão com a qual os


violonistas lutam constantemente. Uma das principais razões para isso é a
instabilidade inerente ao nylon. A afinação frequente de violões clássicos
será sempre necessária por causa de condições que fogem do controle de
violonistas ou luthiers.
No entanto, muitos dos problemas encontrados pelos violonistas ao tentar
fazer com que seus instrumentos toquem afinados estão embutidos em seus
instrumentos. Embora existam algumas limitações práticas sobre o nível de
perfeição que pode ser alcançado na entonação, devido a características
inatas dos violões clássicos, quase qualquer violão que pode ser tocado
pode fazê-lo com muito boa entonação. O objetivo deste artigo é lançar
alguma luz sobre as variáveis físicas da entonação - variáveis sob o controle
dos luthiers - nos violões clássicos, acessíveis para violonistas e luthiers
também.
Em primeiro lugar, pode ser útil mostrar como é determinado o espaçamento
entre os trastes. A escala temperada, que é a escala padrão para a música
ocidental tradicional e, portanto, para o violão, é baseada numa constante
derivada matematicamente: 17,817. Para qualquer comprimento de escala
(entre pestana e rastilho), o primeiro traste é colocado a uma distância a
partir da pestana, que é igual a 1/17,817 do comprimento total da escala. A
distância entre o primeiro e segundo traste é 1/17,817 da distância entre o
primeiro frete e o rastilho; a distância entre o segundo e terceiro traste é
1/17,817 da distância entre o segundo frete e o rastilho e assim por diante,
para cada traste seguinte. Usando este cálculo, a distância entre cada
traste sucessivo torna-se menor, e a distância da pestana para o décimo
segundo traste acaba sendo exatamente a metade do comprimento da
escala total.
Presumindo que o espaçamento entre os trastes é preciso, a segunda
variável importante que afeta a entonação é o alongamento da corda, que
ocorre quando uma nota é tocada na escala. Este alongamento aumenta o
comprimento total da corda, o que aumenta a tensão na corda, como se
tivéssemos subido o tom de afinação, portanto, faz com que a nota soe mais
aguda.
Mas as coisas não são tão simples. Cada corda tem um comportamento
diferente em relação à tendência de aumento da frequência quando tocada
na escala. Há três regras relacionadas que se aplicam aqui: o aumento da
frequência decorrente da pressão da corda sobre a escala é inversamente
proporcional ao tom ou diapasão (a regra do diapasão); o diapasão é
proporcional à tensão das cordas (a regra da tensão); e a tensão da corda é
proporcional à sua massa (a regra da massa da corda).
A regra do diapasão nos diz que o violão vai exibir uma tendência global
para aumento da frequência à medida que o diapasão da corda solta
diminui, e a 6ª corda (E) fica mais aguda do que a 1ª corda (E). No entanto, a
regra da tensão e da massa da corda também entram em jogo, e vemos isso
especialmente quando comparamos o comportamento de aumento da
frequência das cordas G e D. Se fôssemos aplicar a regra do diapasão
apenas para G e D, seria de esperar mais agudização de D do que de G. Mas
D na verdade agudiza menos do que G. Isto se deve ao fato da corda D ser
enrolada em metal, o que aumenta sua massa. Mesmo que D tenha
frequência menor do que G, tem maior tensão do que G e, portanto, agudiza
menos. Se quiser testar isso, afine sua corda G em D; a corda vai agudizar
mais do que quando estava afinada em G.
Podemos corrigir a tendência a agudizar em função da pressão sobre a
corda ajustando o seu comprimento total (o que se chama de
"compensação" na terminologia de luthieria). Mas onde é que vamos fazer o
ajuste (pestana e/ou rastilho)? Aumentamos ou diminuímos o comprimento
da corda, e quanto?
Para responder a estas perguntas, precisamos primeiro examinar com mais
detalhes o que acontece quando uma nota é premida. O primeiro
componente do alongamento ocorre quando a corda viaja até o topo do
traste ("trecho de viagem"). No entanto, quando o violonista preme uma
nota, o dedo não é pressionado para baixo diretamente sobre o traste, mas
para baixo, atrás do traste, com mais pressão aplicada para certificar-se de
um contato firme entre corda e traste, a fim de evitar zumbido. Isso causa
um alongamento adicional ("fretting stretch"). Cada um desses
componentes de estiramento da corda deve ser abordado na extremidade
apropriada da corda para se obter os melhores resultados de entonação.
O lugar correto para compensar o "trecho de viagem" é no rastilho,
ajustando o rastilho para trás e / ou movendo o ponto onde a corda o toca,
se houver espaço adequado no rastilho, aumentando o comprimento da
corda. A razão para isto tem a ver com a relação entre a quantidade de
estiramento e a relação entre a compensação e o comprimento ativo da
corda. À medida que prememos a corda em trastes mais altos, o
comprimento da corda total premida, e portanto a tensão da corda, aumenta
por causa da inclinação da escala com relação à corda aberta. Por que,
então, cxada nota sucessiva não vai ficando mais aguda? Porque, ao mesmo
tempo, a relação entre a compensação no rastilho e o comprimento ativo da
corda aumenta proporcionalmente.
Em termos práticos, é possível premer uma nota com "trecho de viagem"
simplesmente pressionando para baixo a corda com um pequeno pedaço de
madeira para que a corda fique prensada entre a madeira e o alto do traste.
Ao tocar a nota premida dessa forma e analisá-la num estroboscópio,
podemos verificar se a quantidade de recuo do rastilho está produzindo uma
nota afinada. A compensação no rastilho é correta quando a nota no décimo
segundo traste é exatamente uma oitava acima da nota premida. Você
também pode verificar o resultado de ouvido: a remuneração no rastilho é
correta quando o harmônico na décima segunda casa é exatamente igual à
nota premida. Por que o décimo segundo traste? Porque as notas
harmônicas e as premidas são teoricamente iguais na décima segunda
casa, mas não em outros trastes.
O lugar correto para compensar o estiramento pela pressão está na
pestana, ajustando o ponto em que a corda toca por último, reduzindo a
distância entre a pestana e o traste e, assim, removendo a agudização
causada pelo trecho premido. A razão para isto tem a ver com a relação
entre a razão entre o trecho premido e o trecho total, e a relação entre a
compensação na pestana e o trecho inativo da corda. Como as notas são
premidas em trastes mais para dentro da escala, a proporção entre o trecho
premido e o trecho total diminui por causa da inclinação da escala, que
aumenta a distância entre corda e traste à medida em que as notas ficam
mais agudas. Ao mesmo tempo, contudo, a proporção entre a compensação
na pestana e o trecho inativo de corda diminui proporcionalmente.
A maneira mais prática para compensar a pestana é avançá-la, removendo
uma quantidade da extremidade da pestana na parte mais próxima da
escala igual à compensação exigida para a corda G, que, como se vê, requer
a maior compensação na pestana. O avanço pode então ser ajustado
(diminuído) para as outras cordas cortando-se facetas no lado principal da
pestana para recuar o ponto de contato final como necessário. A
compensação na pestana estará correta quando qualquer nota premida na
escala normalmente, como quando se toca o violão, soar afinada. Na
prática, é mais difícil compensar com exatidão a pestana do que o rastilho.
Felizmente, os requisitos de precisão da compensação da pestana são
também menores, porque o estiramento causado pela pressão sobre a
corda, em grande parte sob o controle do violonista, varia mais do que o
"estiramento de viagem", o que é determinado pelas propriedades físicas do
violão.
Ao estabelecer os valores de compensação, a compensação na pestana
necessária para cada corda deve ser determinada após se determinar os
valores de compensação no rastilho. Isso porque o estiramento pela pressão
sempre acompanha o "estiramento de viagem" quando as notas são
premidas por um violonista.
Se alguém começa com um violão no qual nada foi feito para corrigir a
entonação, o acréscimo de compensação no rastilho descrito acima irá
produzir uma melhoria drástica na entonação, especialmente quando se
toca nas posições mais altas da escala. Muitos luthiers estão cientes disso,
mesmo que não estejam familiarizados com detalhes como a necessidade
de compensação individual para cada corda. Menos conhecido, no entanto,
é o benefício da adição de compensação complementar na pestana, que
distribui a melhoria na entonação ao longo de toda a escala.
Aplicando todas as medidas acima, desenvolvi empiricamente um conjunto
de valores de compensação para cada corda em um violão clássico da
seguinte forma:
Corda Recuo no rastilho Avanço na pestana
Et 1,00mm 0,25mm
B 1,50 0,50
G 2,25 1,00
D 1,75 0,50
A 2,00 0,50
Eb 2,50 0,50
Estes valores foram testados com um estroboscópio em diversos violões
que construí, usando cordas D'Addario J45, e têm consistentemente
produzido resultados muito precisos de entonação. Observe que os valores
de avanço e recuo são em incrementos de 0,25 milímetros; este é o máximo
de precisão possível quando se lida com osso, mas é mais precisão do que o
violonista mais habilidoso pode combinar com a reprodução técnica. É
importante notar que todos os valores de compensação devem ser testados
em cordas totalmente estendidas. Se o violão for ajustado para entonação
com cordas totalmente estendidas e, em seguida, tocado imediatamente
após se colocar cordas novas, ele vai parecer um pouco abemolado,
principalmente nas posições mais altas.
As medidas descritas acima podem permitir que um violão toque qualquer
nota afinada em qualquer lugar da escala; presumindo que as cordas
abertas estejam devidamente afinadas, o violão vai funcionar exatamente
como um instrumento de temperamento igual. Afinar o violão para conseguir
harmonia nos intervalos, no entanto, requer habilidade do violonista para
afinar o instrumento.
É bem sabido que o temperamento igual é deficiente devido a anomalias em
harmonicidade que mostram-se especialmente quando são tocados acordes.
Com uma afinação cuidadosa, o violonista pode restaurar a harmonicidade
afinando o instrumento com pequenas concessões ao temperamento igual.
A este respeito, o violão é diferente, digamos, de um piano, onde o técnico
pode ajustar cada nota individualmente e, assim, ajustar o intervalo de
harmonicidade independentemente do pianista. As medidas técnicas
descritas neste artigo para ajustar a entonação de um violão, no entanto,
garantem que o ajuste do violonista otimiza a harmonicidade do violão em
qualquer posição da escala, e não apenas nos pontos em que os acordes
são tocados para se afinar o violão.
Não tentei descrever todas as possíveis condições em um violão que podem
afetar a entonação. Por exemplo, meus violões são construídos com uma
distorção na superfície da escala, dos agudos para os graves, para otimizar
a ação da corda. Meus valores de compensação podem ter de ser ajustados
para instrumentos que não empregam esse recurso. Há um sem número de
características ou problemas ou defeitos que podem estar presentes em um
violão que afetam a entonação de tal forma que requerem atenção ou até
mesmo correção prévia antes de qualquer tentativa de atualizar a
entonação. Ao ajustar a entonação, cada instrumento deve ser analisado
individualmente.
(Esta é uma versão revista e atualizada de um artigo que apareceu pela
primeira vez em Guitar Review, verão de 1990.)

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