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Boletim Criminal

Comentado – maio 2019


(semana 5)

CAO-Crim
Boletim Criminal Comentado – maio 2019
(semana 5)

Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais


Mário Luiz Sarrubbo

Coordenador do CAO Criminal


Arthur Pinto Lemos Junior

Assessores
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Marcelo Sorrentino Neira
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha

Analista Jurídica
1 Ana Karenina Saura Rodrigues
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Aviso .......................................................................................................................................................3
ESTUDOS DO CAOCRIM ........................................................................................................................... 3
1 – Tema: A remição da pena na visão do STJ.....................................................................................3

2-Tema: Pluralidade de associações criminosas praticadas pelos mesmos agentes............................8

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM ........................................ 9


DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1- Tema: 2ª Turma decide que investigado não tem direito líquido e certo a acordo de colaboração
premiada.........................................................................................................................................9

2- Tema: Acordo de delação premiada e impugnação por terceiro (delatado)..................................10

DIREITO PENAL:

1-Tema: Jurisprudência em Teses traz entendimentos sobre a Lei de Drogas...................................14

2- Tema: Concurso material entre os crimes de roubo e extorsão....................................................15

STF/STJ: Notícias de interesse institucional .......................................................................................... 16

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AVISO

No próximo dia 7 de junho de 2019, no Auditório Luis Felippe, situado na Rua Riachuelo 115, 9° andar,
o CAOCrim realizará Capacitação sobre Técnicas no Plenário do Júri. Não haverá palestrantes. Cada
participante terá 5 minutos para expor sobre sua estratégia, sua técnica e seu entendimento nas
situações específicas, sensíveis e complicadas durante o julgamento no Plenário do Júri. Faremos a
sistematização das ideias em cada tema. O produto dessa reunião de trabalho permitirá a capacitação
de todos que oficiam nos Tribunais do Júri. Eis os principais temas a serem abordados:

a. art. 422 do CPP: o que pedir e quem arrolar;


b. critérios para a escolha dos jurados e fichas de avaliação;
c. suspeita de relação íntima do advogado com o jurado;
d. participação na produção da prova em plenário: i) como inquirir testemunha, parente do réu,
parente da vítima; ii) como explorar a prova pericial; iii) como atuar no interrogatório; iv) uso dos
elementos colhidos na fase policial;
e. como lidar com a presença de familiares do réu e da vítima no plenário;
f. assistente de acusação: a divisão de tempo para argumentação;
g. a defensoria pública como assistente de acusação (ex., crime cometido por policial);
h. a acusação em plenário: i) escolha do discurso mais adequado de acordo com as características do
caso; ii) como e quando fazer apartes; iii) como reagir a apartes; iv) como lidar com assuntos
controvertidos (sexualidade dos envolvidos no fato, religião, política etc.);
i. leitura em plenário de decisões judiciais proferidas no curso do processo, como pronúncia, acórdão
confirmatório e acórdão anulatório do primeiro julgamento;
j. obstáculos do processo digital: exibição dos vídeos de depoimentos e interrogatório;
k. como reagir à inovação na tréplica;
l. como lidar com as ofensas propaladas pelo defensor;
m. como lidar com o juiz tendencioso: i) no plenário; ii) na sala secreta;
n. a posição do quesito desclassificatório;
o. como se portar durante a leitura da sentença;
p. a conveniência de interpor recurso em plenário;
q. questões relativas à segurança do promotor após o julgamento.

ESTUDOS DO CAOCRIM

1 – Tema: A remição da pena na visão do STJ

1) Há remição da pena quando o trabalho é prestado fora ou dentro do estabelecimento prisional,


uma vez que o art. 126 da Lei de Execução Penal não faz distinção quanto à natureza do trabalho ou
quanto ao local de seu exercício.

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Dentre as finalidades da pena, talvez a de maior relevância atualmente seja a ressocialização, em nome
da qual são adotadas, durante a execução, medidas para que o condenado se reinsira gradativamente
no meio social e não volte a cometer delitos. Tanto que o art. 1º da Lei nº 7.210/84 dispõe que um dos
objetivos da execução, para além de efetivar as disposições da sentença, é o de “proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”.

Uma das principais medidas que podem viabilizar a ressocialização é o trabalho, que, aliás, constitui
dever do condenado (art. 39, V), e sua recusa em desempenhá-lo pode acarretar punição por falta
grave (art. 50, VI).

Não obstante se trate de uma obrigação do preso, o trabalho foi contemplado, no art. 126 da Lei nº
7.210/84, como hipótese de remição da pena na qualidade de medida de incentivo à ressocialização.
Dessa forma, para cada três dias trabalhos o condenado tem descontado um dia da pena a cumprir.

Há quem sustente que a remição pelo trabalho nos regimes semiaberto e fechado só pode beneficiar
o condenado que exerce atividade laborativa nas dependências do estabelecimento prisional, pois
somente a atividade exercida nestas condições é acompanhada e fiscalizada pela autoridade
administrativa.

Não é essa, todavia, a orientação que prevalece. Para o STJ, se o condenado em regime aberto ou
semiaberto pode remir parte da pena pelo estudo em estabelecimento de ensino regular ou
profissional, não há por que impedir o mesmo benefício somente porque, no caso do trabalho, o
exercício se dá fora da prisão. Além disso, o art. 126 da Lei de Execução Penal não faz distinção sobre
o local em que o trabalho é exercido. Por estas razões, aliás, o tribunal editou a súmula nº 562.

2) O tempo remido pelo apenado por estudo ou por trabalho deve ser considerado como pena
efetivamente cumprida para fins de obtenção dos benefícios da execução, e não simplesmente como
tempo a ser descontado do total da pena.

Em sua redação original, o art. 128 da Lei 7.210/84 dispunha que o tempo remido seria computado
para a concessão do livramento condicional e do indulto.

Havia na época duas correntes acerca dos efeitos da remição:

a) o tempo remido deveria ser deduzido do total da pena;

b) o tempo remido deveria ser computado como pena cumprida.

A Lei 12.433/11 modificou a redação do art. 128, que passou a dispor:

“O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos”.

Desta forma, a remição deve ser considerada na qualidade de pena cumprida para todos os efeitos,
como progressão de regime, livramento condicional, etc. Isto significa que, uma vez aplicada a remição,
os benefícios da execução devem ser recalculados com base no que resta da pena:

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“Nos termos do art. 128 da Lei de Execuções Penais, e da jurisprudência deste Tribunal superior “os
dias remidos pelo apenado por estudo ou por trabalho devem ser considerados como pena
efetivamente cumprida.” (HC n. 194.838/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe de 1º/08/2012),
devendo ser somados ao tempo de pena para verificação do preenchimento dos requisitos necessários
para a concessão de eventuais benefícios executórios.” (HC 462.464/SP, j. 20/09/2018)

Note-se que embora pareça redundante diante da redação atual do art. 128 da LEP, a tese tem como
precedentes decisões anteriores à alteração do dispositivo.

3) Não há remição da pena na hipótese em que o condenado deixa de trabalhar ou estudar em


virtude da omissão do Estado em fornecer tais atividades.

Como mencionamos linhas acima, o trabalho é uma importante ferramenta de ressocialização e é


tratado na Lei de Execução Penal tanto como um direito quanto como um dever do condenado.

Sabemos, no entanto, que o sistema carcerário é precariamente estruturado. Grande parte dos
estabelecimentos prisionais não são dotados de meios que proporcionem aos presos o cumprimento
do dever e o exercício do direito de trabalhar, o que consequentemente os impede de obter na pena
o benefício de que trata o art. 126 da Lei de Execução Penal.

Essa situação tem levado condenados a buscar nos tribunais o reconhecimento da remição
independentemente da efetiva realização do trabalho (é a denominada remição ficta). Argumenta-se
que a omissão estatal não pode servir como óbice para o exercício de um direito nem para obtenção
de um benefício legalmente garantido.

Os tribunais superiores, no entanto, não têm acatado pretensões dessa natureza, como se extrai da
tese nº 3.

O STJ tem decisões nas quais destaca que embora o trabalho possa acarretar a remição da pena, seu
exercício tem sobretudo a finalidade de ressocializar o detento. Logo, reconhecer o benefício sem o
respectivo exercício da atividade laborativa acaba por desvirtuar o instituto:

“A despeito da relevância dos fundamentos esposados pelo Juízo da Execução, não há como se admitir
o deferimento de remição ficta a apenados tão somente em razão das condições precárias verificadas
nos respectivos presídios, porquanto referido benefício é de ser concedido, consoante se denota do
art. 126 da Lei de Execução Penal, aos reeducandos os quais demonstrarem efetiva dedicação a
trabalho ou estudo, o que tem sido inclusive flexibilizado por esta Corte, a fim de se assegurar o
objetivo ressocializador da pena.

(…)

Nos autos do HC n. 415.068/MG, de Relatoria do Ministro Ribeiro Dantas, a Quinta Turma, ao apreciar
caso análogo ao presente, entendeu que o deferimento da remição pressupõe a necessidade de efetiva
participação do reeducando em processo de ressocialização.

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Assinalou o voto condutor do acórdão naquela ocasião que a suposta omissão estatal em propiciar ao
apenado padrões mínimos previstos no ordenamento jurídico não pode ser utilizada como causa a
ensejar a concessão ficta de um benefício que depende de um real envolvimento da pessoa do
apenado em seu progresso educativo e ressocializador , bem como que a indenização de presos em
situação degradante não deve ser feita por meio de um instituto criado para servir de contrapartida
ao efetivo trabalho ou estudo do reeducando, em um contexto de ressocialização de disciplina e de
merecimento.” (HC 425.155/MG, j. 6/3/2018)

Note-se que o STJ já decidiu até mesmo que a culpa do Estado na falha fiscalização do cumprimento
da carga horária de trabalho não afasta a necessidade de demonstrar que os requisitos para a remição
foram cumpridos (AgRg no HC 351.918/SC, j. 09/08/2016). Tem mais razão, portanto, o afastamento
da remição por trabalho assumidamente não realizado.

O STF segue a mesma linha:

“Execução Penal. Habeas Corpus originário. Remição ficta ou virtual da pena. Impossibilidade. Ausência
de ilegalidade ou abuso de poder. 1. A remição da pena pelo trabalho configura importante
instrumento de ressocialização do sentenciado. 2. A orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal
Federal é no sentido de que a remição da pena exige a efetiva realização de atividade laboral ou estudo
por parte do reeducando. Precedentes. 3. Não caracteriza ilegalidade flagrante ou abuso de poder a
decisão judicial que indefere a pretensão de se contar como remição por trabalho período em relação
ao qual não houve trabalho. 4. Habeas Corpus denegado.” (HC 124.520/RO, j. 15/5/2018)

4) Nos regimes fechado e semiaberto, a remição é conferida tanto pelo trabalho quanto pelo estudo,
nos termos do art. 126 da Lei de Execução Penal.

5) No regime aberto, a remição somente é conferida se há frequência em curso de ensino regular ou


de educação profissional, sendo inviável o benefício pelo trabalho.

Ambas as teses podem ser comentadas em conjunto porque, na verdade, dizem respeito ao mesmo
assunto, pois decorrem de precedentes nos quais se discutia a remição pelo trabalho no regime aberto.

O art. 126 da Lei de Execução Penal estabelece o seguinte:

“O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou
por estudo, parte do tempo de execução da pena.”

Nota-se que o dispositivo só faz referência aos regimes fechado e semiaberto, silenciando-se a respeito
do aberto, mencionado apenas no § 6º em relação à remição pelo estudo.

O STJ reafirma a tese de que no regime aberto não é viável a remição pelo trabalho, pois a labuta já é
condição para ingresso no regime menos severo (art. 36, § 1º, CP) não podendo, portanto, ser também
um benefício. Nesse sentido, Rogério Greco, citado pelo Min. Ayres Britto (HC 101.368):

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“[…] A peculiaridade do regime aberto, que o difere dos regimes anteriores, diz respeito ao trabalho.
Nos regimes anteriores – fechado e semiaberto – , o trabalho do preso faz com que tenha direito à
remição. Aqui, no regime aberto, não há previsão legal para a remição da pena, uma vez que somente
poderá ingressar nesse regime o condenado que estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de
fazê-lo imediatamente. Vê-se, portanto, que a condição sine qua non para o início do cumprimento da
pena ou mesmo a sua progressão para o regime aberto é a possibilidade imediata de trabalho do
condenado. Sem trabalho não será possível o regime aberto […]”.

6) A remição pelo estudo pressupõe a frequência a curso de ensino regular ou de educação


profissional, independentemente da sua conclusão ou do aproveitamento satisfatório.

Segundo a Lei de Execução Penal, a remição pelo estudo consiste no direito do condenado de reduzir
o tempo da pena privativa de liberdade cumprida em regime fechado, semiaberto, aberto ou em
livramento condicional dedicando-se ao ensino.

A contagem do tempo é feita à razão de um dia de pena a cada doze horas de frequência escolar (art.
126, § 1º, inciso I, LEP). As doze horas de estudo deverão ser divididas em no mínimo três dias. O preso
que concluir o ensino fundamental, médio, ou superior, durante o cumprimento da pena, será
beneficiado com o acréscimo de mais 1/3 (um terço) no tempo a remir em função das horas de estudo.

Os estudos poderão ser de ensino fundamental, médio, profissionalizante, superior ou requalificação


profissional, frequentados presencialmente ou à distância, devendo ser certificados pelas autoridades
educacionais competentes dos respectivos cursos frequentados, como dispõe o art. 126, § 2º.

A exigência de certificação, contudo, foi mitigada pelo STJ, que, aliás, tem inclusive admitido, a título
educacional, atividades não necessariamente relacionadas a instituições de ensino.

Como exemplo, podemos citar a leitura e a resenha de livros. Trata-se de uma atividade autônoma,
não exatamente de frequência escolar, mas que o STJ admite para a remição da pena. Para o tribunal,
a remição por leitura deve ser concedida em analogia in bonam partem em relação à possibilidade de
desconto da pena por meio do estudo. No entanto, para que o benefício seja criterioso tem-se decidido
que deve haver a instalação de projeto de leitura com a observância das diretrizes estabelecidas na
Recomendação nº 44/13 do CNJ (AgRg no REsp 1.616.049/PR, j. 27/9/2016).

O STJ admitiu também a remição pela participação do preso em um coral, atividade que demanda
intensa dedicação e a qual o condenado exercia por oito horas diárias:

“A atividade musical realizada pelo reeducando profissionaliza, qualifica e capacita o réu, afastando-o
do crime e reintegrando-o na sociedade. No mais, apesar de se encaixar perfeitamente à hipótese de
estudo, vê-se, também, que a música já foi regulamentada como profissão pela Lei 3.857/60” (REsp
1.666.637/ES, j. 26/9/2017).

7) A decisão que reconhece a remição da pena, em virtude de dias trabalhados, não faz coisa julgada
nem constitui direito adquirido.

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Vimos nos comentários à tese nº 02 que o tempo remido é considerado como pena cumprida, sendo
que o reconhecimento da remição se dá por meio de decisões judiciais ao longo da execução.

Isto não quer dizer que, uma vez reconhecido o desempenho do trabalho ou do estudo e seu impacto
na pena, a respectiva decisão faz coisa julgada e proporciona ao condenado um direito adquirido ao
benefício. Isto porque a remição da pena, baseada na disposição do condenado para perseguir sua
própria ressocialização, é condicionada ao não cometimento de faltas graves durante a execução,
tanto que o art. 127 da Lei de Execução Penal impõe a revogação de até um terço dos dias remidos
caso o agente descumpra seus deveres cometendo alguma das condutas de que tratam os artigos 50
a 52 da mesma lei.

Em razão da possibilidade de perda dos dias remidos, portanto, não faz sentido invocar a coisa julgada
e o direito adquirido decorrentes de decisão judicial que aplica a remição:

“Não ofende o direito adquirido ou a coisa julgada. O instituto da remição, como prêmio concedido ao
apenado em razão do tempo trabalhado, gera, tão-somente, expectativa de direito, sendo incabível
cogitar-se de reconhecimento de coisa julgada material. A própria Lei de Execução Penal estabelece
nos arts. 50 e 127 que as faltas disciplinares de natureza grave impõem a perda dos dias remidos.
Aplicação da Súmula Vinculante n.º 9 do Supremo Tribunal Federal” (HC 282.265/RS, j. 22/04/2014).

8) Cabe ao juízo da execução fixar a fração aplicável de perda dos dias remidos na hipótese de
cometimento de falta grave, observando o limite máximo de 1/3 (um terço) do total e a necessidade
de fundamentar a decisão em elementos concretos, conforme o art. 57 da Lei de Execução Penal.

O art. 127 da Lei de Execução Penal dispõe que, “Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3
(um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da
data da infração disciplinar”.

Desde 2011 (Lei 12.433), o cometimento de falta grave não implica mais na perda de todos os dias
remidos, mas de até um terço deles, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.
Para tanto, o juiz deve observar o disposto no art. 57, ou seja, a natureza, os motivos, as circunstâncias
e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.

A expressão “poderá”, contida no art. 127, deve ser interpretada como um poder-dever do magistrado,
que, uma vez reconhecendo a falta, deve decretar a perda disposta na lei, restando-lhe somente o
juízo de discricionariedade acerca da fração da perda, que, como vimos, tem como limite um terço dos
dias remidos. É disto que decorre a tese nº 8:

“3. A partir da vigência da Lei n.º 12.433/2011, que alterou a redação do art. 127 da Lei de Execução
Penal, a penalidade consistente na perda de dias remidos pelo cometimento de falta grave passou a
ter nova disciplina, não mais incidindo sobre a totalidade do tempo remido, mas apenas até o limite
de 1/3 (um terço) desse montante, cabendo ao Juízo das Execuções, com certa margem de
discricionariedade, aferir o quantum, levando em conta “a natureza, os motivos, as circunstâncias e as

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conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão”, consoante o disposto
no art. 57 da Lei de Execução Penal.

4. Hipótese em que inexiste ofensa ao dever de fundamentação das decisões judiciais, pois o Juízo das
Execuções Penais amparou a perda de 1/3 (um terço) dos dias remidos na gravidade concreta da
conduta e nas circunstâncias fáticas.” (AgRg no HC 465.680/SP, j. 28/3/2019)

2-Tema: Pluralidade de associações criminosas praticadas pelos mesmos agentes

Discute-se se é possível alguém integrar mais de uma associação criminosa. A maioria entende que
sim. Magalhães Noronha, tratando, na época, da quadrilha ou bando, já ensinava:

“Escreve Maggiore que ‘a permanência inalterada e por isso o delito é único e idêntico, quando uma
pessoa faça parte contemporânea e necessariamente de diversas associações para delinquir (em
tempo e lugar eventualmente diversos)’. Não concordamos com o insigne autor. A participação da
mesma pessoa em mais de uma quadrilha faz com que ela pratique diversos crimes. Inexiste
permanência de delito único, mas, realmente, vários deles, integrados pelas diversas associações
criminosas de que faz parte o agente, constituindo todas elas distintas violações da lei e, portanto,
apresentando-se em relação ao associado um concurso material de delitos. O que a lei pune é associar-
se e se ele mais de uma vez se associa, não vemos como se negar a pluralidade de crimes.”

De acordo com o STJ, é possível a coexistência de múltiplas associações criminosas, ainda que com
núcleos idênticos, desde que a alteração de composição demonstre que efetivamente se trata de
diversos grupos (AgRg no CC 148.154/SP, Rel. Min. Felix Fischer, DJe 9/11/2016).

Esse foi entendimento adotado pela Promotora de Justiça de Paulínia, Dra. Verônica Oliveira, num
caso concreto que envolveu esquema de corrupção naquela comarca. Clique aqui para ter acesso a
Denúncia, na qual o tema foi bem explorado.

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1- Tema: 2ª Turma decide que investigado não tem direito líquido e certo a acordo de colaboração
premiada

DECISÃO DO STF- Publicado em notícias do STF no dia 28/5/2019

Em decisão unânime, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na sessão desta
terça-feira (28), que não cabe ao Poder Judiciário compelir o Ministério Público a firmar acordo de
colaboração premiada com réus ou investigados, não havendo, por partes destes, direito líquido e
certo para exigir em juízo sua celebração. Com o julgamento de agravo regimental, foi mantida decisão

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do ministro Edson Fachin, relator, que em decisão individual havia negado seguimento a mandado de
segurança sobre o tema.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

A colaboração premiada é disciplinada entre os artigos 4º e 7º da Lei nº 12.820/13 e consiste na


possibilidade de que dispõe o autor do delito de obter benefícios (imunidade penal, perdão judicial ou
a redução da pena, ou sua substituição), desde que, de forma eficaz e voluntária, auxilie na obtenção
dos resultados previstos em lei.

Trata-se de um meio de obtenção de prova em que o agente colaborador, visando à obtenção de um


dos benefícios elencados na lei, contribui para a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; para a revelação da estrutura
hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; para a prevenção de infrações penais
decorrentes das atividades da organização criminosa; para a recuperação total ou parcial do produto
ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; ou para a localização de
eventual vítima com a sua integridade física preservada (art. 4º, incs. I a V).

De acordo com o disposto no § 1º do art. 4º, a concessão do benefício decorrente da colaboração deve
ser baseada na personalidade do colaborador, na natureza, nas circunstâncias, na gravidade e na
repercussão social do fato criminoso e na eficácia da colaboração. Isto quer dizer que não obstante o
agente confesse a participação na organização criminosa e descreva sua estrutura e suas atividades as
autoridades incumbidas podem negar o benefício se se tratar de algo incompatível com as
circunstâncias do fato criminoso ou com a perspectiva de eficácia do que foi revelado.

Ante a negativa que pode advir das autoridades competentes para celebrar o acordo, há quem
procure, por meio de mandado de segurança, o reconhecimento judicial do direito líquido e certo de
obter os benefícios da colaboração uma vez que de fato tenha havido cooperação de sua parte. Em
decisão recente*, no entanto, o STF negou a existência desse direito, tendo em vista que a colaboração
premiada é um negócio jurídico personalíssimo em que a voluntariedade é um fator marcante e
inafastável.

No caso julgado, o agente afirmava que, ao longo de dezessete meses, havia participado de trezes
reuniões e longas entrevistas nas quais havia fornecido diversos elementos relativos à atividade
criminosa. Mas, o Ministério Público se recusou a formular o acordo porque, segundo a avaliação de
seu representante, havia baixíssima probabilidade de que os elementos apresentados pudessem
viabilizar a expansão das investigações. Para o investigado, todo o processo envolvendo as reuniões e
os relatos geraram a expectativa de que o acordo seria formulado.

O ministro Edson Fachin havia negado seguimento ao mandado se segurança impetrado e, em sessão
realizada ontem (28/5), a 2ª Turma negou provimento ao agravo regimental. Em seu voto, o ministro
lembrou que, no processo da colaboração premiada, cada sujeito desempenha um papel específico,
sendo que, por expressa disposição legal, o juiz não participa do processo a não ser para avaliar o
acordo já promovido e, caso cumpridos os requisitos legais, homologá-lo (art. 4º, § 6º).

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O relator foi seguido pelos demais membros da Turma. O ministro Gilmar Mendes apontou que, para
evitar abusos dos órgãos estatais, nada impede que a recusa, que, no caso, havia sido de um órgão do
Ministério Público, seja submetida a controle interno por órgão superior da instituição, aplicando-se
analogicamente o art. 28 do CPP. O ministro lembrou ainda a disposição legal de que, recusado o
acordo, nenhum elemento de prova fornecido pelo agente pode ser utilizado exclusivamente em seu
desfavor (art. 4º, § 10).

* O número não foi divulgado devido ao sigilo imposto na tramitação.

2- Tema: Acordo de delação premiada e impugnação por terceiro (delatado)

INFORMATIVO 941 STF - SEGUNDA TURMA

A Segunda Turma iniciou julgamento conjunto de habeas corpus em que se discute a validade de
aditivo de acordo de colaboração premiada firmado no âmbito de operação deflagrada com o objetivo
de desarticular organização criminosa formada por auditores fiscais.

Na espécie, auditor investigado por supostos atos relacionados a propinas para redução de tributos foi
preso em flagrante por crimes sexuais. Nessa ocasião, ele e sua irmã fizeram um acordo de colaboração
premiada com o ministério público, o qual abrangeu todos os crimes a ele imputados e culminou com
a prisão de diversos auditores fiscais. Esse acordo foi rescindido diante de constatações de que o
delator teria mentido, omitido fatos e cometido novos crimes. Durante interrogatório pelo juízo de
origem, o delator asseverou que a rescisão do citado acordo teria sido arbitrária. Acusou promotores
do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de manipular suas
declarações e ocultar todos os vídeos dos depoimentos que havia prestado extrajudicialmente.

Posteriormente, o Parquet firmou com ele novo acordo de delação premiada, sob a condição de que
se retratasse das mencionadas acusações e ratificasse as declarações que fizeram parte do acordo
rescindido. O segundo acordo foi homologado como termo aditivo pelo juízo a quo.

O ministro Gilmar Mendes (relator) concedeu a ordem, de ofício, em ambos os habeas corpus, para
declarar a nulidade do segundo acordo de colaboração premiada. Reconheceu, por derivação, a
ilicitude das declarações incriminatórias prestadas pelos delatores. Determinou ao juízo de origem que
verifique eventuais outros elementos probatórios contaminados pela ilicitude declarada e atos que
devam ser anulados em razão de neles estarem fundamentados, além da viabilidade de manutenção
ou trancamento do processo penal ao qual estão submetidos os pacientes do habeas corpus.
Determinou, também, nos termos do art. 157, § 3º, do Código de Processo Penal (CPP), a inutilização
da prova declarada ilícita, após a preclusão da decisão de desentranhamento, sendo facultado às
partes acompanhar o incidente. Entretanto, tendo em vista a necessidade de segurança jurídica e
previsibilidade ao sistema penal negocial, considerou que devem ser mantidos os benefícios oferecidos
aos delatores pelo ministério público e concedidos pelo juízo de origem. Em razão das graves
denúncias com relação a atuações dos membros do ministério público na realização dos acordos de

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colaboração premiada, determinou, por fim, que se oficie ao Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) e à corregedoria do ministério público estadual, a fim de que instaurem procedimentos
investigatórios para o esclarecimento dos fatos, devendo tais órgãos manter o Supremo Tribunal
Federal (STF) informado sobre o andamento e os resultados da apuração.

Inicialmente, o relator relembrou que a Segunda Turma, no HC 151.605, já havia assentado, por
violação às regras de competência, a ilegalidade da homologação do acordo de colaboração premiada
ora questionado e reconhecido a ineficácia das provas por meio dele produzidas em relação ao
paciente daquele writ.

Assim, o relator frisou que as práticas realizadas na operação analisada são claramente temerárias e
questionáveis, visto que ocasionaram inúmeras impugnações e colocaram em risco a efetividade da
persecução penal.

Diante disso, afirmou a possibilidade de impugnação do acordo de colaboração premiada por terceiros
delatados e a necessidade de o STF rever o entendimento fixado em sentido contrário no julgamento
do HC 127.483. Nesse precedente, partiu-se da premissa de que o acordo de colaboração, como
negócio jurídico personalíssimo, não vincula o delatado e não atinge diretamente sua esfera jurídica.
Para o relator, é evidente e irrefutável que a esfera de terceiros delatados é afetada pela homologação
de acordos ilegais e ilegítimos.

O fato de ser viável aos coimputados se defenderem das declarações dos delatores, posteriormente,
em exame cruzado na audiência de instrução e julgamento não esvazia a necessidade de controle de
legalidade na homologação do acordo. Trata-se de fases diferentes do procedimento probatório:
admissibilidade do meio de obtenção e exercício do contraditório no momento de produção do meio
de prova. Portanto, em razão do impacto na esfera de direitos de terceiros e da necessidade de
legalidade dos benefícios penais oferecidos pelo Estado, o acordo de colaboração premiada deve ser
passível de impugnação e controle judicial.

O ministro Gilmar Mendes ressaltou que o estabelecimento de balizas legais para o acordo é uma
opção do nosso sistema jurídico, para garantir a isonomia e evitar a corrupção dos imputados,
mediante incentivos desmesurados à colaboração, e dos próprios agentes públicos, aos quais se daria
um poder sem limite sobre a vida e a liberdade dos imputados. É preciso respeitar a legalidade, visto
que as previsões normativas caracterizam limitação ao poder negocial no processo penal. No caso de
ilegalidade manifesta em acordo de colaboração premiada, o Poder Judiciário deve agir para a efetiva
proteção de direitos fundamentais.

Registrou que, em diversos precedentes, a Corte assentou que o acordo de colaboração premiada é
meio de obtenção de prova. Portanto, trata-se de instituto de natureza semelhante, por exemplo, à
interceptação telefônica. Tendo em conta que o STF reconheceu, várias vezes, a ilegalidade de atos
relacionados a interceptações telefônicas, não há motivo para afastar essa possibilidade em
ilegalidades que permeiam acordos de colaboração premiada.

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Observou que, no caso concreto, em face da gravidade das acusações atribuídas aos membros do
ministério público estadual, é questionável a possibilidade de esses agentes negociarem e transigirem
sobre a pretensão acusatória com relação a fatos supostamente criminosos a eles imputados. Além
disso, diante do cenário descrito, em que houve a realização de acordo de colaboração premiada
sucessivo à rescisão por descumprimento de avença anterior, há clara fragilização à confiabilidade das
declarações prestadas pelos delatores. A força probatória de tais declarações, já mitigada em razão do
previsto no art. 4º, § 16, da Lei 12.850/2013 (1), resta completamente esvaziada diante do panorama
de ilegalidades narrado.

Apontou, como orientação prospectiva ou até um apelo ao legislador, a obrigatoriedade de registro


audiovisual de todos os atos de colaboração premiada, inclusive negociações e depoimentos prévios à
homologação. Para o relator, grande parte dos problemas que se verificaram no caso concreto
decorrem da ausência de registro e controle dos atos de negociação e das declarações prestadas pelos
delatores.

Em seguida, o ministro Edson Fachin pediu vista dos autos.

HC 142205/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 21.5.2019. (HC-142205)

HC 143427/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 21.5.2019. (HC-143427)

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Neste caso específico, o Relator pretende que seus pares revisitem tese já assentada na Corte, qual
seja, de que o acordo de colaboração premiada é de caráter personalíssimo, não podendo ser
impugnado por terceiros.

O caos e a insegurança jurídica no processo penal em que se use a colaboração premiada como meio
de obtenção de provas estariam instalados se se admitisse que os coautores pudessem impugnar
acordo de colaboração premiada.

Nesse sentido, a Ementa do V. Acórdão proferido em sede de Agravo Regimental interposto em


Reclamação, Relator o Ministro Dias Toffoli:

“EMENTA: Agravo regimental na reclamação. Acordo de colaboração premiada (art. 4º da Lei nº


12.850/13). Negócio jurídico processual personalíssimo. Impugnação por coautores ou partícipes do
colaborador. Inadmissibilidade. Possibilidade de, em juízo, confrontarem as declarações do
colaborador e de impugnarem, a qualquer tempo, medidas restritivas de direitos fundamentais
adotadas em seu desfavor. Precedente. Acesso, pelo delatado, a todos os elementos de prova
documentados nos autos dos acordos de colaboração, incluindo-se as gravações audiovisuais dos atos
de colaboração de corréus (Súmula vinculante nº 14). Direito que, segundo o juízo reclamado, foi
assegurado. Impossibilidade de, na via estreita da reclamação, questionar-se a veracidade das
informações prestadas pelo juízo reclamado. Possibilidade de o agravante, invocando a decisão
recorrida, postular esse acesso ao juízo reclamado. Agravo regimental não provido. 1. Por se tratar de

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negócio jurídico personalíssimo, o acordo de colaboração premiada não pode ser impugnado por
coautores ou partícipes do colaborador na organização criminosa e nas infrações penais por ela
praticadas, ainda que venham a ser expressamente nominados no respectivo instrumento no relato
da colaboração e em seus possíveis resultados (HC nº 127.483/PR, Pleno, de minha relatoria, DJe de
4/2/16). 2. A homologação do acordo de colaboração, por si só, não produz nenhum efeito na esfera
jurídica do delatado, uma vez que não é o acordo propriamente dito que poderá atingi-la, mas sim as
imputações constantes dos depoimentos do colaborador ou as medidas restritivas de direitos
fundamentais que vierem a ser adotadas com base nesses depoimentos e nas provas por ele indicadas
ou apresentadas 3. As cláusulas do acordo de colaboração, contra as quais se insurge o agravante, não
repercutem, nem sequer remotamente, em sua esfera jurídica, razão por que não tem interesse
jurídico nem legitimidade para impugná-las. 4. O agravante, com fundamento na Súmula Vinculante
nº 14 do Supremo Tribunal Federal, poderá ter acesso a todos os elementos de prova documentados
nos autos dos acordos de colaboração - incluindo-se as gravações audiovisuais dos atos de colaboração
de corréus – para confrontá-los, mas não para impugnar os termos dos acordos propriamente ditos.
5. Considerando-se que, segundo o juízo reclamado, o acesso a tais elementos foi assegurado ao
agravante, descabe, na via estreita da reclamação, questionar-se a veracidade dessas informações. 6.
Se, como alega o agravante, o juízo reclamado limitou-se a garantir o acesso das gravações audiovisuais
a outros acusados, nada obsta que, invocando os fundamentos da decisão recorrida, postule esse
acesso diretamente ao juízo reclamado. 7. Agravo regimental não provido”.
(Rcl 21258 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 15/3/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-076 DIVULG 19-4-2016, p. 20-4-2016 - destacamos).

DIREITO PENAL:

1-Tema: Jurisprudência em Teses traz entendimentos sobre a Lei de Drogas

STJ - Jurisprudência em Teses

A Secretaria de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgou a edição 126 de


Jurisprudência em Teses, com o tema Lei de Drogas – IV.

Clique aqui

Uma tese deve ser destacada:

“não viola o princípio da dignidade da pessoa humana a revista íntima conforme as normas
administrativas que disciplinam a atividade fiscalizatória, quando houver fundada suspeita de que o
visitante esteja transportando drogas ou outros itens proibidos para o interior do presídio”.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Em síntese, a revista íntima cuida da inspeção reservada em pessoas (notadamente familiares) que
visitam os habitantes prisionais. É praticamente unânime a opinião dos estudiosos no sentido de que

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a revista íntima contraria não apenas a Constituição Federal, mas também Convenções Internacionais
(em especial, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos).

Alguns estados já adotam a “revista íntima humanizada”, obedecendo o seguinte procedimento: logo
ao chegar à unidade, a visitante faz um cadastro, onde os agentes identificam se essa pessoa está apta
ou não a fazer a visita. A aptidão é avaliada levando-se em consideração características do apenado
(comportamento, incidentes por atos de indisciplina, desacatos, ameaças, brigas internas etc.).
Realizado esse procedimento preliminar, inicia-se a revista manual, denominada “triagem”. Os agentes
revistam manualmente os objetos que os visitantes querem levar para dentro do presídio e
determinam o que pode ou não entrar. Em seguida, passam os objetos pelo raio x, onde é possível
verificar o seu interior. O visitante é convidado a se sentar num detector de metal em forma de banco,
que apontará qualquer objeto de metal que possa ter sido inserido da cintura para baixo. Como etapa
seguinte, passa por um “portal”, que detecta possíveis metais ocultos em outras partes do corpo.
Desse modo, seguindo essas fases, finaliza-se a revista sem humilhação.

Nessa linha de política pública penitenciária mais humanizada, diversos estados já proíbem a revista
íntima, dentre eles o de São Paulo, que editou a Lei 15.552/14. A norma estadual anunciou um prazo
de 180 dias (iniciado dia 12 de agosto de 2014) para o governo do Estado adquirir scanners, detectores
de metais e equipamentos de Raio-X para todas as suas unidades prisionais. Após a instalação dos
equipamentos, os servidores ficariam proibidos de exigir que as visitas se dispam e sejam tocadas.
Todos os visitantes passariam, então, por scanner; caso algo de interesse fosse detectado, os visitantes
passariam por outro equipamento (raio-x e/ou detectores de metal). Permanecendo o alerta, o
visitante seria impedido de entrar na unidade; se insistir, deveria ser encaminhado a um ambulatório
para que um médico fizesse a verificação. Localizado algo ilícito escondido no corpo, o visitante seria
encaminhado à delegacia.

2- Tema: Concurso material entre os crimes de roubo e extorsão

STJ- HC 476.558/SP

“HABEAS CORPUS. PENAL. ROUBO MAJORADO E EXTORSÃO QUALIFICADA. SUBTRAÇÃO DOS BENS E
POSTERIOR CONSTRANGIMENTO À REALIZAÇÃO DE SAQUE EM CAIXA ELETRÔNICO. CONSEQUÊNCIAS
DO CRIME. VÍTIMA QUE NÃO CONSEGUIU DIRIGIR DEPOIS DO FATOS. GRAVE ABALO PSICOLÓGICO.
FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. CONCURSO MATERIAL. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE CRIME ÚNICO. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. ORDEM DENEGADA.

1. A fixação da pena-base acima do mínimo legal está devidamente fundamentada na avaliação


negativa das consequências do crime, tendo em vista que a vítima não conseguiu mais dirigir veículo
automotor em razão do abalo psicológico causado pelos fatos. Trata-se, assim, de consequência
específica e especialmente gravosa presente no caso concreto.

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2. A revisão da conclusão fática alcançada pelas instâncias ordinárias acerca da prática dos crimes de
roubo e extorsão em momentos distintos e autônomos exigiria aprofundada incursão no acervo fático-
probatório, o que não é possível nos limites estreitos do habeas corpus.

3. Estão configurados os crimes de roubo e extorsão, em concurso material, se o agente, após subtrair
bens da vítima, mediante emprego de violência ou grave ameaça, a obriga a realizar saques em caixa
eletrônico.

4. Ordem denegada”.

Esta jurisprudência foi incluída a pedido do Setor de Recursos Criminais Extraordinários e Especiais.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Previsto no artigo 71 do Código Penal, dá-se o crime continuado quando o agente, mediante mais de
uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como
continuação do primeiro.

Percebe-se, da simples leitura do referido artigo, que o reconhecimento da continuidade pressupõe


crimes parcelares da mesma espécie.

Atualmente, está pacificado nos Tribunais Superiores que crimes da mesma espécie são aqueles
previstos no mesmo tipo penal, protegendo igual bem jurídico. Roubo e extorsão, apesar de
protegerem o mesmo interesse, não está etiquetados no mesmo tipo, sendo inviável a aplicação do
art. 71 do CP, mas do art. 69 (concurso material).

STF/STJ: Notícias de interesse institucional

Notícias STF

29 de maio de 2019
1- Rejeitado HC que pedia redução das penas de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá
Clique aqui para ler a íntegra da notícia

28 de maio de 2019
2- 1ª Turma absolve a ex-deputada Laura Carneiro, acusada de participação na Máfia dos Sanguessugas
Clique aqui para ler a íntegra da notícia

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