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SOLOS COLAPSÍVEIS
Identificação, comportamento,
impactos, riscos e soluções tecnológicas
São Paulo
2008
©Pró-Reitoria de Graduação, Universidade Estadual Paulista, 2008.
ISBN 978-85-98605-66-1
CDD 631.4
Reitor
Marcos Macari
Vice-Reitor
Herman Jacobus Cornelis Voorwald
Chefe de Gabinete
Kléber Tomás Resende
Pró-Reitora de Graduação
Sheila Zambello de Pinho
Pró-Reitora de Pós-Graduação
Marilza Vieira Cunha Rudge
Pró-Reitor de Pesquisa
José Arana Varela
Pró-Reitor de Administração
Julio Cezar Durigan
Secretária Geral
Maria Dalva Silva Pagotto
COMISSÃO EXECUTIVA
Elizabeth Berwerth Stucchi
José Roberto Corrêa Saglietti
Klaus Schlünzen Junior
Leonor Maria Tanuri
APOIO TÉCNICO
Ivonette de Mattos
José Welington Gonçalves Vieira
Capa
PROJETO GRÁFICO
DIAGRAMAÇÃO
Estela Mleetchol ME
PROGRAMA DE APOIO
À PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Fundamentos
Classificação Granulométrica
As partículas dos solos possuem diferentes tamanhos e a
medida desses tamanhos é feita por meio da análise granulométri-
ca do solo a qual é representada na curva de distribuição granulo-
métrica em escala semilog com o eixo das abscissas representando
o diâmetro equivalente das partículas e o eixo das ordenadas con-
tendo as porcentagens relativas a cada classe de tamanho.
O ensaio de granulometria geralmente é feito de acordo
com o tipo de solo. Para solos grossos, utiliza-se somente o
peneiramento que é realizado por meio de peneiras pré-distri-
buídas conforme especificação de norma. As quantidades reti-
das em cada peneira são então determinadas.
Para solos finos, o processo de peneiramento torna-se
impraticável. Recorre-se então, ao processo de sedimentação
que consiste na medida indireta da velocidade de queda das
partículas em meio aquoso.
A medida de densidade, feita com um densímetro, fornece
também a profundidade de queda da partícula (z) que é a distân-
cia entre a superfície da suspensão até o centro do bulbo do
densímetro. Dessa forma, a velocidade de queda da partícula,
enunciada anteriormente, pode ser calculada pela razão entre a
profundidade de queda (z) e o tempo para que isso ocorra. Isso
permite a determinação do diâmetro equivalente (Di) das partí-
culas para a fração fina do solo. A expressão a seguir apresenta
uma forma prática para o cálculo do diâmetro das partículas.
1
⎡ μ z⎤2
Di = 0,005530.⎢ ⋅ ⎥
(
⎣ S ρ − ρ W ) t⎦
D60
CNU =
D10
Outro coeficiente também utilizado é o coeficiente de
curvatura (CC) da curva granulométrica.
2
D30
CC =
D10 ⋅ D60
D10 (Diâmetro efetivo) = abertura da peneira para a qual temos
10% das partículas passando (10% das partículas são mais
finas que o diâmetro efetivo).
D30 e D60 – O mesmo que o diâmetro efetivo, para as percen-
tagens de 30 e 60%, respectivamente.
O coeficiente de não uniformidade (CNU) indica a am-
plitude dos grãos enquanto que o coeficiente de curvatura
(CC) fornece a idéia do formato da curva permitindo detectar
descontinuidades no conjunto. Quanto maior é o valor de CNU
mais bem graduado é o solo. Dificilmente ocorrem areias com
valores de CC fora do intervalo de 1 a 3. Daí, a pouca impor-
tância que se dá a esse coeficiente.
A classificação da curva granulométrica pode ser feita
de acordo com os seguintes intervalos para CNU e CC:
CNU < 5 → muito uniforme; 5 < CNU < 15 → uniformida-
de média; CNU > 15 → não uniforme; 1 < CC < 3 → solo
bem graduado; CC < 1 ou CC > 3 → solo mal graduado.
Finalmente, é importante ressaltar que somente o diâme-
tro efetivo (D10) e o CNU não são suficientes para representar
por si só a curva granulométrica, uma vez que solos distintos
podem apresentar os mesmos valores de D10 e CNU. Dessa
forma, somente a curva granulométrica pode identificar um
solo quanto à sua classificação textural.
Do ponto de vista de engenharia, a análise granulométri-
ca por si só não consegue retratar o comportamento do solo. A
fração de finos presente exerce papel fundamental. O compor-
tamento dos solos finos irá depender de diversos fatores como
24 SOLOS COLAPSÍVEIS
SOLOS GROSSOS
Pedregulho (G). Mais que 50% da Areia (S). Menos que 50% da fração
fração grossa retido na # 4 (4.75 mm) grossa retido na # 4 (4.75 mm)
Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que
passam na # passam na # 12% passam passam na # passam na # 12% passam
200 200 na # 200 200 200 na # 200
GW GP GM GC SW SP SM SC
Nomes Nomes
duplos: duplos:
GW-GM SW-SM
60
LINHA U
50
CH
Indice de Plasticidade (IP)%
ou LINHA A
40
OH
30
CL
ou
20
OL MH ou OH
10
7 CL ML ou OL
110
4 ML
0
0 10 16 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Limite de Liquidez (LL)%
Linha A: Linha U:
SOLOS GROSSOS
35% ou menos passam na # 200
Menos que 15% Menos que 25% Menos que 10% LL≤ 40% LL/ 41% LL≤ 40% LL/ 41%
passam na # 200 passam na # 200 passam na # 200
Menos que 30% Menos que 50% Não plástico
passam na # 40 passam na # 40
Menos que 50% IP < 6%
passam na # 10
IP < 6%
A-1-a A-1-b A-3 A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7
SOLOS SILTO-ARGILOSOS
35% ou mais passam na # 200
Silte Argila
Classificação MCT
2100
Massa Específica Aparente Seca (kg/m3)
2000
1900
1800 8 golpes
12 golpes
16 golpes
1700 24 golpes
32 golpes
1600
1500
9 10 11 12 13 14 15
Teor de Umidade (%)
FUNDAMENTOS 35
16
14
0
1 10 100
Número de Golpes
e’ = [(PI/100) + (20/d’)]1/3
2.0
NA NS' NG'
1.5
ÍNDICE e'
NA'
1.0
LA LA' LG'
0.5
0.0 0.5 0.7 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
COEFICIENTE c'
Índices Físicos
Os índices físicos são relações estabelecidas entre as fa-
ses presentes no solo de modo a caracterizá-lo quanto às suas
condições físicas. O solo apresenta três fases, a saber: sólida,
líquida e gasosa. A fase líquida (em geral, a água) e a gasosa
(em geral, o ar) constituem o material que preenche os vazios
do solo.
As diversas relações obtidas entre as fases do solo são
empregadas para expressar as proporções entre as mesmas. O
elemento de solo mostrado a seguir ilustra as fases presentes
no solo em termos de massas e volumes.
Var, Vw, VS, VV e VT representam os volumes de ar,
água, sólidos, de vazios e total do solo, respectivamente. MS,
MW, Mar e MT respectivamente são as massas de sólidos, água,
ar e total, como se pode observar na Figura 14.
38 SOLOS COLAPSÍVEIS
VV VV VW
n= e= Sr =
VT VS VV
MW MT MS MW
w= ρ= ρS = ρW =
MS VT VS VW
PT PS PW
γ= γS = γW =
VT VS VW
M W S r .e.ρ W VV e ρ S + S r .e.ρ W
w= = ; n= = ; ρ=
MS ρS VT 1 + e 1+ e
ρ S + S r .e.ρ W
ρ Sat = Massa específica saturada (Sr = 100%)
1+ e
ρS
ρd = Massa específica seca (Sr = 0)
1+ e
da expressão anterior pode-se demonstrar que: ρ = ρ d (1 + w)
VV n ; MW S .n.ρ w ; MT
e= = w= = r ρ= = (1 − n )ρ S + S r .n.ρ W
VS 1 − n M S (1 − n )ρ S VT
k 0 = (1 − senφ ' ).( RSA) senφ ' (Fórmula de Jaki estendida para argilas
sobre-adensadas)
Resistência ao Cisalhamento
Devido à sua natureza atritiva, a resistência dos solos é
caracterizada pela resistência ao cisalhamento. Isso ocorre
porque os movimentos relativos entre as partículas do solo, no
interior de um maciço, são decorrentes da ação das forças
cisalhantes.
Quando essas forças e a tensão normal atuantes atingem
um valor crítico, em determinados planos, diz-se que ocorre a
ruptura do solo. Esses planos são chamados de planos de
ruptura. Simplificadamente, pode-se dizer que a resistência ao
cisalhamento do solo corresponde à máxima tensão de cisa-
lhamento que o solo pode suportar sem sofrer ruptura ou a ten-
são cisalhante no plano em que a ruptura estiver ocorrendo.
A resistência dos solos é avaliada por intermédio de
critérios de ruptura. Esses critérios expressam matematica-
mente uma envoltória de ruptura que delimita os estados de
tensão possíveis para um solo.
No âmbito da Mecânica dos Solos, constata-se que o
critério de ruptura de Mohr-Coulomb consegue reproduzir
com boa fidelidade o comportamento resistente dos solos. O
critério de Mohr admite a resistência (s) como sendo função da
tensão normal (σ), ou seja, s = f(σ). A ruptura irá ocorrer para
uma combinação crítica da tensão cisalhante e normal num
plano qualquer.
Os estados de tensão são representados por círculos
denominados círculos de Mohr. Quando um corpo de prova
(CP) é ensaiado, este será solicitado até que aconteça a ruptura
do mesmo. Nesse instante, o estado de tensão é determinado por
46 SOLOS COLAPSÍVEIS
Fator Efeito
Índice de vazios (e) e↑ φ’↓
Angularidade (A) A↑ φ’↑
Graduação (CNU) CNU↑ φ’↑
Rugosidade ® R↑ φ’↑
Água (W) W↑ φ’↓ (pouco)
Tamanho da Partícula (T) Nenhum efeito (para mesmo e)
Tensão principal intermediária φ’ps > φ’triaxial (φ’triaxial > 34º)
Pré-carregamento Efeito mínimo
⎛ Su ⎞ ⎛S ⎞
⎜⎜ ' ⎟⎟ = ⎜⎜ u' ⎟⎟ .( RSA) m
⎝σ 0 ⎠ sa ⎝ σ 0 ⎠ na
m é um expoente com valor da ordem de 0,8.
As duas expressões anteriores podem ser rearranjadas da
seguinte forma:
S u = RRna .(σ 0' )1− m .(σ ad
'
)m
Essa expressão mostra que resistência não drenada
depende da tensão efetiva a que o solo estará submetido e da
pressão de pré-adensamento.
A resistência não drenada também pode ser determinada
através de ensaios de campo. O ensaio mais comum é o ensaio
de palheta ou vane test. Diversas correlações também podem
ser utilizadas para a estimativa da resistência não drenada.
Maiores informações e detalhes sobre ensaios de campo e das
correlações podem ser encontradas em Schnaid (2000), Pinto
(2000), e Massad (2003).
Capítulo 2
Introdução
Quando determinados solos experimentam aumento da
quantidade de água em seus vazios ou são umedecidos após
aplicação de sobrecargas, estes podem sofrer uma redução de
volume expressa por uma variação do índice de vazios sem que
necessariamente tenha havido aumento das cargas aplicadas.
Tal fenômeno tem sido atribuído ao colapso da estrutura
dos solos, donde esses solos têm recebido a designação de solos
colapsíveis. Em alguns casos, outros termos têm sido utilizados
para descrever este comportamento, dentre o quais podem ser
citados: subsidência, hidrocompactação e hidroconsolidação
(VILAR et al., 1981; COLLARES, 1997; PINTO, 2000).
Fisicamente, o fenômeno do colapso está relacionado à
perda de resistência do solo não saturado e pode ocorrer em
função da perda dos vínculos que mantinham as partículas
sólidas unidas ou pela destruição dos efeitos capilares.
As condições nas quais o processo se desencadeia podem
levar a crer que variados tipos de solos podem estar sujeitos ao
colapso, no entanto algumas condições próprias de ocorrência
do processo e características básicas dos solos colapsível devem
ser satisfeitas para que o colapso ocorra.
Origem
Solos colapsíveis podem ser encontrados em diversos
países como África do Sul, Angola, Argentina, Austrália, Bra-
60 SOLOS COLAPSÍVEIS
OCEANO ATLÂNTICO
EQUADOR
BRASIL PETROLINA
BRASÍLIA
JAÍBA
N ITUMBIARA
ITAPETININGA
QUILÔMETROS
0 200 400 800
Aterro Compactado
A compactação é um processo mecânico que tem por ob-
jetivo melhorar as características geotécnicas do solo, dimi-
nuindo sua permeabilidade e compressibilidade e aumentando
a resistência ao cisalhamento.
No entanto, quando a construção de um aterro é realiza-
da sem os devidos cuidados de compactação (materiais lança-
dos e mal compactados) a sua principal função, que é melhorar
as propriedades geotécnicas do solo, deixa de existir.
Nessas condições, a alta compressibilidade dos materiais
que compõem o aterro pode proporcionar ao maciço deforma-
ções significativas quando solicitados e umedecidos, caracteri-
zando o processo de colapso.
Outra característica marcante desses aterros mal com-
pactados, além da elevada compressibilidade, é a sua permea-
bilidade elevada devido à estrutura porosa que possuem. Com
altos valores de permeabilidade há facilidade para infiltração
d’água, havendo a possibilidade de ocorrências de recalques
excessivos devido suas características colapsíveis.
Uma situação ainda pouco comum, porém digna de aten-
ção são as más condições de compactação geralmente obser-
vadas nos resíduos e no material de recobrimento de aterros
sanitários, áreas que após o encerramento do empreendimento
podem vir a ser ocupadas podendo se constituir em futuros
locais de ocorrência de terrenos colapsíveis.
Granulometria
Em função da variedade de tipos de origem que solos co-
lapsível podem ter, é natural que as texturas desses solos tam-
bém possam se apresentar bastante variadas. Tais texturas no
entanto costumam ter uma relação íntima com o conjunto de
processos (naturais ou não) responsável por sua origem.
Assim, solos colapsíveis formados a partir de sedimentos
de origem eólica e fluvial apresentam textura predominante-
mente arenosa, já os perfis residuais têm sua textura controlada
pela rocha matriz que lhes deu origem e pela intensidade dos
processos intempéricos aos quais estiveram sujeitos.
Solos originados a partir de sedimentares químicas e de-
tríticas finas e rochas ígneas básicas tendem a proporcionar
solos colapsível de textura mais argilosa, enquanto solos for-
mados pela alteração de rochas sedimentares de textura mais
grosseira e rochas ígneas ácidas tendem a apresentar textura
arenosa.
Nos solos colapsível formados a partir de fluxos de lama
predominam as frações finas (como argilas). Já no caso de per-
fis colapsível originados a partir de aterros, a textura do perfil
vai depender da textura do solo utilizado para confecção do
aterro, havendo, no entanto, uma predominância de solos areno-
64 SOLOS COLAPSÍVEIS
• Solos colapsíveis no mundo: [11] Jennings & Solos colapsíveis no Brasil: [1] Ferreira & Teixeira (1989); [2]
Mariz & Casanova (1994); [3] Mendonça & Mahler (1994); [4] Paixão & Camapum de Carvalho (1994); [5]
Cruz et al. (1994); [6] Agnelli (1997); [7] Ferreira (1999); [8] Oliveira et al. (2000); [9] Collares; [10] Rodri-
gues (2003).
CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS COLAPSÍVEIS
• Knight (1975); [12] Dudley (1970); [13] Sultan (1971); [14] Klukanová & Frankovská (1998).
65
66 SOLOS COLAPSÍVEIS
Classificação
A grande variação de características possíveis de solos
colapsíveis apresentada nos tópicos anteriores evidencia a va-
riabilidade de categorias de solos (nas diferentes classifica-
ções) que podem apresentar tal comportamento.
Assim, as informações apresentadas neste tópico devem
ser entendidas como as classes mais comuns (segundo as dife-
rentes classificações) que tais solos podem representar, limita-
dos a informações do território nacional.
De acordo com a Classificação Genética, os solos desig-
nados transportados compõem o grupo daqueles que reúnem
condições genéticas mais apropriadas para apresentar compor-
tamento colapsível, sendo esse comportamento muitas vezes
independente do grau de alteração do perfil. Solos residuais
também podem apresentar tal comportamento, especialmente
se sua evolução se deu em clima quente e úmido.
Considerando-se a Classificação Granulométrica, pode-
se afirmar que a grande maioria dos solos colapsíveis se inclui
no grupo dos solos arenosos, porém existem casos notáveis de
solos de textura francamente argilosa que apresentam tal com-
portamento, especialmente se as partículas de granulometria
argila se encontram no estado floculado.
No caso da Classificação Unificada, os tipos mais co-
muns a apresentarem comportamento colapsível são os tipos S
(arenosos) sendo mais comum o tipo com mais de 12% de
finos-SC e o tipo composto SW-SM. Isso ocorre porque tal
classificação tem como critério fundamental de distinção das
classes a granulometria.
Em se tratando da Classificação HRB (AASHTO) os ti-
pos mais comuns a apresentar comportamento colapsível são
A-3, A-2-4 e A-4, que apresentam importante influência da
fração areia, porém são encontrados casos notáveis de solos de
textura fina (A-6 e mesmo A-7) que exibem comportamento
colapsível.
CARACTERÍSTICAS DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 67
Estrutura
Para a ocorrência do colapso é necessário que o solo pos-
sua uma estrutura com elevada porosidade associada a uma situa-
ção de equilíbrio metaestável entre suas partículas. Essa estrutura
é mantida pela presença de algum vínculo capaz de conferir ao
solo uma resistência temporária (COLLARES, 1997).
Os principais fatores que são capazes de garantir ao solo
esta resistência temporária são as forças eletromagnéticas de
superfície, a sucção e a presença de alguma substância cimen-
tante, como óxidos de ferro e os carbonatos.
A estabilidade provisória ou aparente da estrutura des-
tes solos é interrompida, portanto, quando ocorrem varia-
ções de sucção por umedecimento, mudanças no estado de
tensões e alterações do equilíbrio eletromagnético e das liga-
ções cimentantes.
Para ilustrar os fatores responsáveis pelo aumento tem-
porário de resistência e identificar os mecanismos de colapso,
são apresentados nas Figuras 23 a 26 os modelos simplificados
de arranjos estruturais colapsíveis.
ÁGUA ADSORVIDA
ÁGUA
CAPILAR
PARTÍCULA
ua -
uw =
CU
0
R
VA
VI
RG
ua - u
w=
EM
CONS
T. = >
0
DE
ΔH/Ho
AD
EN
SA
ME
NT
O
AMOSTRA FISSURADA
Jair Camacho
Introdução
A mecânica dos solos tradicionalmente estudada nos
cursos de mecânica dos solos cuida de modo particular dos
solos saturados. Entretanto, muitos dos solos encontrados co-
mumente na prática da engenharia apresentam-se em condi-
ções não saturadas, ou seja, apresentam comportamentos não
consistentes com os princípios e conceitos da mecânica dos
solos clássica.
As porções mais superficiais dos solos, de um modo ge-
ral, estão sujeitas a fluxos de água descendentes, originários
normalmente de chuvas, e a fluxos ascendentes, determinados
pela evaporação e até pela transpiração que se dá através da
vegetação. Tais fluxos promovem variações nos teores de umi-
dade do solo.
Desta forma os solos podem apresentar a fase líquida e a
fase sólida, nas condições saturadas, ou apresentar também a
fase gasosa, nas condições não saturadas. Neste caso a superfí-
cie de contato da água com a fase gasosa dá origem à mem-
brana contrátil, responsável por pressões negativas nos poros
de água presentes no solo.
As teorias e formulações desenvolvidas tendo em vista o
comportamento dos solos não saturados incluem o comporta-
mento dos solos saturados como um caso especial, o que nos
leva a uma mecânica dos solos generalizada. A figura 32 per-
mite uma visualização generalizada da mecânica dos solos. De
uma maneira geral pode-se dizer que abaixo do nível d’água o
74 SOLOS COLAPSÍVEIS
Sucção
A sucção, como definido por Marinho (1997) é uma
pressão isotrópica da água intersticial, fruto de condições físi-
co-químicas, que faz com que o sistema água-solo absorva ou
perca água, dependendo das condições ambientais, aumentan-
do ou diminuindo o seu grau de saturação.
A sucção, de um modo geral, pode ser relacionada com a
pressão parcial de vapor de água através da equação de Kelvin.
RT u
ψ =− ln v
vwω v uvo
Em que:
ψ = sucção (kPa)0
R = Constante universal dos gases (8.31432J/mol K)
T = Temperatura absoluta (K)
ν w = Volume específico da água (m3/kg)
ω v = Massa molecular do vapor d’água (18.016kg/mol)
uv = Pressão parcial de vapor da água do poro
u vo = Pressão de saturação do vapor de água sobre uma super-
fície plana de água pura, na mesma temperatura (kPa)
Para uma temperatura de referência igual a 20oC, tem-se:
uv
ψ = −135022 ln
u vo
76 SOLOS COLAPSÍVEIS
100
90
80
umidade relativa do ar (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
10 100 1000 10000 100000 1000000 10000000
sucção (kPa)
2000
sucção osmótica
sucção matricial
1600 sucção osmótica + matricial
Sucção (kPa)
1200
800
400
0
20 22 24 26 28 30 32
Teor de umidade (%)
60
Sucção na entrada de ar
s Curva de secagem
50
Teor de Umidade Volumétrico (%)
40
30
20
10
Teor de
umidade residual, r
0
0.1 1 10 100 1000 10000 100000 1E+006
Sucção Matricial (kPa)
12
10
umidade (%)
6
secagem
umedecimento
4
2
(a) Energia Normal
0
10 100 1000 10000 100000
sucção (kPa)
∂H
q = − k (θ)
∂x
∂θ ∂ ⎡ ∂ H ⎤
= k
∂t ∂z ⎢⎣ ∂z ⎥⎦
temperatura(oC)
25 27 29 31 33 35 37 39
0
20
40
60
profundidade(cm)
80
100
120
temperaturas na manhã
140 temperaturas à tarde
160
perfis de temperaturas médias sob um gramado,
180 entre outbro/99 e janeiro/2000
200
Resistência
A sucção matricial exerce sobre as partículas do solo um
efeito de aproximação, e isto pode contribuir de maneira signi-
ficativa para a sua resistência. Conforme Oloo et al. (1997)
existe um fator de capacidade de suporte da camada de solo
associado à sucção matricial que é o mesmo associado à coe-
são. A sucção matricial tem o efeito de aproximar as partículas
do solo, mantendo-as assim.
A Figura 43 ilustra mostra a relação que existe entre os
valores de mini-CBR imerso e não imerso de um solo laterítico
(Figura 43a) com as sucções matriciais presentes no momento
do ensaio (Figura 43b). Observa-se que as distribuições dos
valores de suporte lançadas em gráfico resultaram semelhantes
às distribuições das sucções. Isto significa que a sucção matri-
cial contribuiu ao menos em certa medida com a resistência
representada pelo valor de suporte.
90 SOLOS COLAPSÍVEIS
100
s/imersão
após imersão
mini-CBR (%)
10
(a)
1
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
umidade de compactação(%)
10000
sucção matricial (kPa)
1000
100
10
(b)
1
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
umidade de compactação (%)
σ' = (σ − u a ) + χ(u a − u w )
Em que:
σ’ = Tensão efetiva
σ = Tensão atuante
ua = Pressão no ar do solo
uw = Pressão na água do solo
O termo (ua – uw) representa a sucção matricial, que de-
pende do teor de umidade do solo, enquanto χ é um coeficien-
te que depende principalmente do grau de saturação, e ainda
da estrutura do solo, de ciclos de molhagem e secagem e mes-
mo de variações de tensões.
BLIGHT (1967) define o coeficiente χ como um parâ-
metro empírico que representa a proporção da sucção do solo
que contribui para a tensão efetiva e observa que, em BISHOP
& BLIGHT(1963), foi admitido tacitamente que os valores
permissíveis de χ estão compreendidos entre 0 e 1. Para solos
secos o coeficiente torna-se nulo (χ = 0) e, para solos satura-
dos, torna-se igual à unidade (χ = 1).
Sob tais condições, quando o solo estiver saturado, a
pressão do ar será igual à pressão na água e a tensão efetiva
será escrita na forma apresentada por Terzaghi:
σ' = (σ − u w )
O critério de Mohr-Coulomb pode então ser escrito como:
onde:
φb = ângulo que indica a taxa de aumento na resistência do
solo ao cisalhamento devido à sucção matricial.
A equação vale para os solos não saturados e para os so-
los saturados. Quando se considera que ua = uw ela passa a
assumir a forma pela qual é usualmente conhecida.
τ = c'+(σ − u w )tgφ'
Introdução
Os solos colapsíveis não se encontram na natureza na
condição saturada. Essa condição é na maioria das vezes im-
posta para a verificação de sua resistência mínima. Nesse con-
texto, importa mencionar que as propriedades mecânicas dos
solos, a saber: a permeabilidade, variação de volume e resis-
tência ao cisalhamento possuem características diferenciadas
quando analisamos os solos colapsíveis. Isso porque esses so-
los se encontram na condição não saturada.
Ao falarmos de solos não saturados, é fundamental que
se identifiquem as variáveis que condicionam o comportamen-
to mecânico destes solos. Como exposto anteriormente, a suc-
ção matricial tem sido reconhecida como a mais importante
fonte de sucção a interferir no comportamento mecânico de
solos não saturados. Dessa forma, é necessário que se conside-
re a sucção como uma variável independente suficientemente
capaz de governar a permeabilidade, a variação de volume e a
resistência ao cisalhamento dos solos.
A caracterização das propriedades mecânicas dos solos
não saturados partiu dos princípios básicos estabelecidos na
mecânica dos solos clássica.
Quando se considera o solo saturado (mecânica dos so-
los clássica) a única variável a influir no processo de variação
volumétrica (variação do índice de vazios) e na resistência ao
cisalhamento é a tensão normal atuante. Na mecânica dos so-
96 SOLOS COLAPSÍVEIS
Comportamento à Compressão
Os solos colapsíveis por se encontrarem na condição não
saturada têm sido avaliados sob o ponto de vista de compres-
sibilidade através de ensaios edométricos em laboratório e por
provas de carga em campo. Normalmente, estes ensaios procu-
ram quantificar as deformações do solo em função das cargas
aplicadas, do teor de umidade do solo e saturação do solo para
um dado nível de tensões. Evidentemente, a sucção deve ser
levada em conta para análises mais precisas.
Segundo Alonso et al. (1987) o comportamento tensão-
deformação tem sido analisado através das variáveis tensionais
(σ - ua) e (ua - uw) onde σ = σv para o caso de compressão con-
finada e σ = σoct para o caso de compressão isotrópica. A Figu-
ra 45 ilustra as trajetórias características no espaço (ua - uw) x
(σ - ua) seguidas durante a realização destes ensaios.
PROPRIEDADES DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 97
Resistência ao Cisalhamento
Os problemas relativos à Mecânica dos Solos são trata-
dos em termos de resistência ao cisalhamento que está direta-
mente relacionada às tensões efetivas atuantes no solo e/ou
maciço. O critério utilizado é o de Mohr-Coulomb aplicando-
se o princípio das tensões efetivas enunciado por Terzaghi
conforme a equação seguinte:
s = c’ + σ’tgφ’
s = resistência ao cisalhamento; c’ = intercepto de coesão efeti-
va; σ’ = tensão efetiva (σ’ = σ - u); φ’ = ângulo de atrito efetivo
do solo.
Esta equação define as variáveis do estado de tensões dos
solos saturados. Dessa forma, a resistência ao cisalhamento de
um solo não saturado não pode ser perfeitamente representada
PROPRIEDADES DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 107
s = C1 + C ∫ [Se] (u a − u w )
p
Sr − Srr
Se =
1 − Srr
Permeabilidade
A condutividade hidráulica do solo e a curva caracterís-
tica do solo são as duas propriedades do solo que determinam
o comportamento do fluxo da água em seus vazios. A conduti-
vidade hidráulica mede a capacidade de o solo transmitir água
e a curva característica é uma representação da capacidade do
solo armazenar água (Klute, 1986).
Em termos gerais, a condutividade hidráulica dos solos
não saturados depende dos mesmos fatores que influenciam a
permeabilidade dos solos saturados. Alguns autores afirmam
que a perda gradual de água no solo até este atingir a condição
não saturada (e que continua a diminuir seu grau de saturação)
faz com que o ar substitua gradualmente a água dos poros.
Nesse processo pode ocorrer uma diminuição da condutivida-
de hidráulica pela retração dos poros em função dessa dimi-
nuição da umidade. Os principais fatores que geram essa di-
minuição da condutividade hidráulica são os seguintes:
a) a área total disponível para o fluxo de água decresce
com a diminuição da quantidade de poros saturados
por água porque o ar passa a ocupar o lugar da água e
obstrui sua trajetória original;
b) o esvaziamento dos poros avança dos maiores para os
menores acarretando uma diminuição da condutivi-
dade hidráulica por que o fluxo da água, segundo a
equação de Poiseuille para fluxos laminares em tubos
capilares, é diretamente proporcional ao quadrado do
raio do tubo e,
c) com o enchimento dos poros de ar, aumenta a quan-
tidade de água que fica isolada e descontínua em di-
versos poros do solo, o que dificulta o fluxo da água
como líquido.
A determinação da condutividade hidráulica dos solos
não saturados envolve dois métodos. No primeiro deles, a
amostra é submetida a valores de sucção constante em suas
PROPRIEDADES DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 113
Na Alvenaria da Edificação
As alvenarias funcionam como elemento de fechamento.
Podem ser estruturais ou apenas de vedação. Nas alvenarias
estruturais, se houver deslocamentos ou recalques de funda-
ção, estas também sofrerão seus efeitos.
Podem surgir trincas e até mesmo rachaduras que preju-
dicam a estética da edificação e às vezes comprometer a esta-
bilidade da estrutura, que neste caso é a própria alvenaria.
Caso a alvenaria não exerça função estrutural, os danos
sofridos por ocorrência de colapso de solos têm características
eminentemente estéticas, porém podem apresentar danos fun-
cionais em dispositivos de instalações hidráulicas e elétricas e
em dispositivos de fechamento como janelas e portas.
As trincas, geralmente inclinadas em ângulo de 45°, são
conhecidas como trincas em “V”, ou seja, que apresentam
maior abertura na sua parte superior, estreitando-se para a par-
te inferior.
Na Figura 54, tem-se uma ilustração onde se vê a confi-
guração típica das trincas causadas por recalques na fundação
e logo em seguida, na Figura 55, tem-se uma foto de uma edi-
ficação na cidade de Pereira Barreto (SP), que passou pelo
processo de colapso do solo durante o enchimento do lago da
represa da Usina Hidrelétrica de Três irmãos.
É interessante observar que tais padrões de trincas po-
dem variar ligeiramente em função das características da exe-
CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE COLAPSO 121
No Acabamento da Edificação
As trincas e rachaduras em geral comprometem toda a
seção transversal da alvenaria, podendo ser vistas tanto do lado
externo da edificação como também internamente. As paredes
internas de cozinhas, banheiros e demais áreas molháveis, ge-
ralmente recebem revestimentos cerâmicos e estes também são
afetados.
Podem ocorrer danos também nas tubulações hidráulicas
e sanitárias, que não têm resistência mecânica suficiente para
absorver os movimentos resultantes do recalque da fundação.
O mesmo pode ocorrer no revestimento dos pisos, pois
são elementos frágeis e não conseguem acompanhar ou absor-
ver o movimento do solo subjacente. Na Figura 63, mostra-se
uma rachadura no piso cimentado de uma edificação, provoca-
da pela movimentação do solo em razão de deslocamentos
ocorridos em função de recalques oriundos de colapso por
umedecimento do solo.
CONSEQÜÊNCIAS DO PROCESSO DE COLAPSO 127
Na Estrutura da Edificação
Em função da magnitude dos recalques de fundação e da
forma de distribuição dos carregamentos, podem ocorrer desde
desaprumo, pequenas trincas, rachaduras, deformações em
função de novas tensões não previstas no dimensionamento e
até mesmo ruptura dos elementos estruturais.
Os elementos mais susceptíveis a danos em função de re-
calques de fundação são as lajes, em geral confeccionados com
elementos pré-moldados, armadas em apenas uma direção.
O surgimento das trincas pode acontecer no sentido das
vigotas, ou trilhos, se esta for a direção mais solicitada pelo
recalque. Pode também acontecer no sentido da seção trans-
versal dos trilhos e aí existe a possibilidade de desabamento,
pois estas trincas geralmente acontecem nas proximidades da
extremidade da laje com a parede de apoio.
128 SOLOS COLAPSÍVEIS
Introdução
O colapso pode ser definido como um fenômeno caracte-
rizado pela brusca redução de volume do solo, devido ao ganho
de umidade, com presença ou não de sobrecarga. Solos que
sofrem esse tipo de mecanismo são mais freqüentemente cha-
mados de “solos colapsíveis” (FEDA, 1666; DUDLEY, 1970;
ARMAN & THORNTON, 1973; NUÑEZ, 1975).
O fenômeno de colapsibilidade pode se manifestar por
ação simples ou combinada de dois mecanismos: (1) Aumento
do teor de umidade nos vazios do solo e, (2) Tensões que ex-
cedem o valor limite.
Dois pontos principais configuram o solo como poten-
cialmente colapsível: uma estrutura porosa (com elevado índi-
ce de vazios) e um teor de umidade menor que o necessário
para sua saturação (DUDLEY, 1970; NUÑEZ, 1975).
O problema está ligado, normalmente, a depósitos de
origem recente, em climas semi-áridos e áridos, entretanto,
existem relatos de ocorrência do fenômeno, em regiões com
outros tipos de clima. A Tabela 7 apresenta um resumo dos
vários tipos de solos, locais e climas em que ocorrem solos
colapsíveis.
130 SOLOS COLAPSÍVEIS
Identificação
Local Clima Referências
do Solo
Queiroz (1960)
Sherrer (1965)
Areia porosa Úmido
Brasil Vargas (1973)
Argila porosa (tropical)
Decourt (1971)
Wolle et al. (1978)
Sub-úmido Clevenger (1965)
Loess EUA Árido e Gibbs & Bara (1967)
Semi-árido Sultan (1969)
Denisov (1951)
Loess Sub-úmido
URSS Sokolovich (1971)
Solos arenosos Semi-árido
Abelev (1975)
Areias com
poucos finos Semi-árido
Solos Angola (tropical) Furtado e Martins (1973)
avermelhados Quênia Úmido Aitchison (1973)
Argilas: solos (tropical)
vermelhos
Semi-árido
Silte argiloso África Jennings & Knight (1957)
Sub-úmido
Silte arenoso do Sul Brink & Kantey (1961)
(tropical)
Loess
Kassif (1957)
Areia argilosa Israel Semi-árido
Aitchison (1973)
(hamra)
Argila arenosa
Austrália Semi-árido Aitchison (1973)
(parna)
Siltes e argilas
Espanha Semi-árido Aitchison (1973)
Gipsíferos
Loess Romênia Úmido Bally et al. (1965)
Siltes ou argilas
Reginatto & Ferrero (1973)
com carbonatos Argentina Sub-úmido
Nuñes (1975)
Loess
IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 131
GRÃO DE AREIA
GRÃO DE AREIA
GRÃO DE AREIA
GRÃOS DE SILTE
GRÃO DE AREIA
ARGILA
ARGILA
ARGILA
ARGILA
ARGILA
IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 135
⎛ w0 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ − LP
S
K=⎝ 0⎠
LL − LP
onde, w0 é a umidade natural, S0 é o grau de saturação natural
e LP e LL, são respectivamente, o limite de plasticidade e o
limite de liquidez.
De acordo com este critério “Solos parcialmente satura-
dos”, com valores de K > 0,85, devem ser chamados de solos
“subsidentes”, e os solos com S0<60% “colapsíveis quando
saturados”.
⎛γw ⎞ ⎛γw ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ − ⎜⎜ ⎟⎟
γ γ
R=⎝ d⎠ ⎝ S⎠
LL
onde, γW é o peso específico da água, γd é o peso específico do
solo seco, γS é o peso específico dos sólidos e LL é o limite de
liquidez, sendo analisado graficamente, em diferentes situações.
9.6
PESO ESPECÍFICO
CASO I
CASO II
12.8
16.0
CASO III
19.2
CASO I
CASO II
VAZIOS CASO III
VAZIOS
VAZIOS
SÓLIDOS SÓLIDOS
SÓLIDOS
Índice de Plasticidade CI
1 ≤ IP ≤ 10 0,10
10 ≤ IP ≤14 0,17
14 ≤ IP ≤ 22 0,24
Curva do Solo na
Ajuste da Curva do Solo na
curva Umidade Natural
Umidade Natural
eo (σvo, eo) Ajuste da
curva
eo (σvo, eo)
Δec
Δe c
Colapso
Colapso Curva do Solo
Curva do Solo e
e Inundado
Inundado
e
Δep
ep
Δew
ew
σo
σ fs σ fn log σ
UM
e
AM DE N
ID
OS
AM
ou
TR TUR
OS
ε%
TR
NA
AI
NU
AL
ND
AD
A
IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS COLAPSÍVEIS 145
Δe c ΔH c
CP = ⋅ 100% ou CP = ⋅ 100%
1 + eo Ho
eo
Δe c
Introdução
Muitos problemas provocados pelo colapso dos solos
estão relacionados aos vazamentos de tanques de combustí-
veis, efluentes químicos e tubulações de esgotos doméstico e
industrial.
As deformações devidas à inundação dos solos colapsí-
veis são influenciadas pelo tipo de líquido através da interação
química entre o líquido e o solo. Alguns solos colapsíveis pos-
suem estruturas formadas por grãos de areia e argilas em esta-
do floculado (agregado) e/ou disperso, carbonatos, óxidos de
ferro e alumínio, constituindo elementos cimentantes entre
partículas de maior granulometria.
Viscosidade
(centiPoise)
Superficial
(dyna/cm)
Constante
Específica
Dielétrica
Momento
Fórmula
(debycs)
Líquido
Dipolar
Tensão
(g/cm3)
Massa
Fluido I (%)
Sabão em pó 9,46
Água Sanitária 12,01
Esgoto 12,14
Água Destilada 8,28
Detergente 8,46
10
ΔH/H (%) 15
20
25
30
35
40
1 10 100 1000 10000
σ (kPa)
natural água destilada sabão detergente água sanitária óleo mineral
Adriano Souza
Introdução
A Engenharia de Fundações tem como objetivo determi-
nar formas seguras e econômicas de se transferir cargas estrutu-
rais ao terreno, de modo a evitar ruptura e deformações excessi-
vas. Dentre os tipos de deformação que o solo pode sofrer, o
colapso é, sem dúvida, um dos problemas mais importantes a
serem tratados em solos tropicais não saturados.
No projeto de fundações devem ser considerados três di-
ferentes processos que podem comprometer a segurança da
edificação: ruptura do solo; deformações excessivas do solo; e
ruptura do material constituinte da fundação.
Os tipos básicos de fundação são as ditas diretas ou rasas
ou superficiais, e as profundas, os quais se subdividem em
uma série de fundações e a escolha entre os diversos tipos de
fundações depende do conhecimento dos esforços atuantes
sobre as edificações, as características do solo e dos elementos
estruturais que formam as fundações. Assim, analisa-se a pos-
sibilidade de utilizar os vários tipos de fundação, em ordem
crescente de complexidade e custo (Wolle, 1993).
Fundações rasas são aquelas que transferem as cargas
para camadas de solo capazes de suportá-las, considerando
apenas o apoio da peça sobre a camada do solo, sendo despre-
zada qualquer outra forma de transferência de cargas.
Na fundação rasa se caracteriza a camada de suporte está
próxima à superfície do solo (profundidade até 2 m), ou a pro-
fundidade de apoio é inferior à largura do elemento de funda-
176 SOLOS COLAPSÍVEIS
Blocos e alicerces
Corrida
Fundações Isolada
Sapatas
rasas Associada
Alavancada
Radiers
Brocas
de madeira
de aço
de concreto pré-moldadas
Estacas
Fundações Strauss
profundas Franki
de concreto moldadas in loco
Raiz
Barrete/Estacão
a céu aberto
Tubulões
a ar comprimido
Tensão (MPa)
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1
5
Recalques (mm)
10
15
20
25
30
Notas:
a) para a descrição dos diferentes tipos de solo, deve-se seguir as
definições da NBR 6502.
b) no caso de calcário ou qualquer outra rocha cárstica, devem ser
feitos estudos especiais.
c) para rochas alteradas, ou em decomposição, tem que se levar em
conta a natureza da rocha matriz e o grau de decomposição ou
alteração.
180 SOLOS COLAPSÍVEIS
Blocos de Fundação
São elementos de apoio construídos em concreto simples
e caracterizados por uma altura relativamente grande, que é
necessária para que trabalhem essencialmente à compressão,
tendo forma prismática podendo ser em pedestal ou escalonado.
A altura “h” do bloco é calculada de tal forma que as
tensões de tração atuantes no concreto, possam ser absorvidas
pelo mesmo, sem necessidade de armar o piso da base:
⎧A − a0
⎪⎪ 2 .tg α
h≤⎨
⎪ B − b0 .tg α
⎪⎩ 2
em que:
A: maior dimensão da base do bloco;
B: menor dimensão da base do bloco;
ao: maior dimensão do pilar;
bo: menor dimensão do pilar; e
α: ângulo entre a base do bloco e o pilar (Figura 87).
em que:
σs: taxa de trabalho ou tensão admissível do solo; e
σt: tensão admissível à tração do concreto, que é fornecida
pela expressão:
⎧ fck
⎪
σ t ≤ ⎨ 20
⎪800 kN / m 2
⎩
Sapatas de Fundação
As sapatas são elementos de apoio de concreto armado,
de menor altura que os blocos, que resistem principalmente
por flexão e que podem assumir praticamente qualquer forma
em planta, sendo mais freqüentes as sapatas quadradas (A=B)
e retangulares (A>B).
No caso de pilares encostados em divisas, ou junto ao
alinhamento de uma calçada, não é possível projetar-se uma
sapata centrada no pilar, recorrendo-se então a uma viga de
equilíbrio ou viga alavanca a fim de corrigir a excentricidade
existente.
No dimensionamento de uma sapata, a geometria da sua
base depende da geometria da seção do pilar para o qual será
dimensionada, sendo que a área de sua base (Ab) é determina-
da em função da taxa de trabalho ou tensão admissível do solo
σs, de acordo com a expressão que segue.
P
A b = A.B =
σs
em que:
A: maior dimensão da base da sapata;
B: menor dimensão da base da sapata; e
P: carga atuante no pilar.
182 SOLOS COLAPSÍVEIS
∑P i
A b = A.B = i =1
σs
Nos pilares de divisa ou próximos a obstáculos onde não
seja possível fazer com que o centro de gravidade da sapata
coincida com o centro do pilar, pode-se criar uma viga alavan-
ca ou viga de equilíbrio ligada a outro pilar.
A forma, mais conveniente, para a sapata de divisa é
aquela cuja relação entre as dimensões A e B da base estejam
no intervalo: 2,0 ≤ A/B ≤ 2,5 resultado em:
R 1 = P1 + ΔP
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 183
em que:
P1: carga atuante no pilar de divisa; e
ΔP: acréscimo de carga no pilar de divisa devido à excentrici-
dade da carga P1.
O acréscimo de carga ΔP é determinado pela expressão:
e1
ΔP = P1 .
d
em que:
e1: excentricidade entre o C.C. do pilar e o C.G. da sapata de
divisa; e
d: distância entre o C.G. da sapata de divisa e o C.C. do pilar ao
qual ele foi alavancado.
B1 − b o1
e1 =
2
d = s − e1
em que:
s: distância entre o C.C. do pilar de divisa e o C.C. do pilar ao
qual ele foi alavancado.
Fundação em Radier
Tubulões
São designadas por tubulões as fundações profundas, de
grande porte, com seção circular e que apresentam, em geral, a
base alargada (Figura 89). Os tubulões podem ser de dois tipos
básicos: a céu aberto e pneumático.
Nos tubulões a céu aberto concreta-se um poço aberto no
terreno, o qual pode ser escavado manualmente ou mecanica-
mente, geralmente dotado de uma base alargada. Este tipo de
tubulão é executado acima do nível da água natural ou rebai-
xado ou, em casos especiais, em terrenos saturados onde seja
possível bombear a água sem risco de desmoronamento.
Pretendendo-se executar tubulões em solos onde haja
água e não seja possível esgotá-la, mesmo utilizando-se bom-
bas, devido ao perigo de desmoronamento das paredes do fuste
ou da base, utilizam-se tubulões pneumáticos com camisa de
concreto ou de aço, sendo os serviços de abertura e concreta-
gem feitos com a utilização de sistemas de ar comprimido.
186 SOLOS COLAPSÍVEIS
σs = 0,033.N ( MPa )
em que:
N : valor médio de N numa profundidade de 2.B abaixo da cota
de apoio da fundação rasa, válido para qualquer solo natural no
intervalo de N ≤ 20, na existência de um maior igualá-lo a 20.
Para solos argilosos podem-se utilizar resultados de en-
saios de adensamento, tomando-se como tensão admissível a
tensão de pré-adensamento do solo.
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 187
4.γ f .P 4.1,4.P
Df = ⇒ Df =
⎡ fck ⎤ ⎡ fck ⎤
0,85.π.⎢ ⎥ 0,85.π.⎢ ⎥
⎣ γc ⎦ ⎣ 1,6 ⎦
π.D 2b P
Ab = =
4 σs
Db − Df
H= .tg α
2
188 SOLOS COLAPSÍVEIS
em que:
tg α σ s
= +1
α σt
σ t : tensão admissível de tração no concreto = 5 MN/m2.
Observações da norma NBR-6122:
1) O centro de gravidade da área do fuste (C.G.f.) e da
área da base do tubulão deve coincidir com o centro
de carga do pilar (C.C.f.);
2) Nos tubulões escavados manualmente a céu aberto, a
diâmetro mínimo do fuste é de 0,80 m;
3) No caso de tubulões executados com revestimento, o
coeficiente de minoração do concreto γc = 1,5, mes-
mo que a camisa seja recuperada;
4) De acordo com a NBR-6122, desde que a base esteja
embutida em material idêntico ao de apoio num mí-
nimo de 20 cm, o ângulo α pode ser adotado igual a
60°, independente da taxa de trabalho do solo “σs”,
sem necessidade de armadura;
5) Ainda segundo a NBR-6122, os tubulões devem ser
dimensionados de maneira a evitar alturas de base
superiores a 2,0 metros. Em casos excepcionais, de-
vidamente justificados, admitem-se alturas superiores
a 2,0 metros;
6) O peso próprio do tubulão não e considerado nos cál-
culos do dimensionamento, pois na determinação da
taxa de trabalho do solo á cota de apoio, supõe-se
que a resistência lateral ao longo do fuste seja igual
ao peso próprio do tubulão.
Estacas
As estacas são elementos estruturais esbeltos que, co-
locados no solo por cravação ou perfuração, têm a finalidade
de transmitir cargas ao mesmo, seja pela resistência sob sua
extremidade inferior (resistência de ponta), seja pela resis-
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 189
Q p , r = q p , r .A p
190 SOLOS COLAPSÍVEIS
em que:
fmáx: atrito lateral unitário máximo;
qp,r: reação de ponta;
As: área da superfície lateral do fuste da estaca, e
Ap: área da seção transversal da ponta da estaca.
A resistência de ponta na ruptura (qp,r) e o atrito lateral
unitário máximo (fmáx), na ruptura, são determinados respec-
tivamente, em função da resistência de ponta do cone (qc) e do
atrito lateral local unitário (fs), obtidas no ensaio de penetração
do cone (CPT).
Caso o ensaio CPT disponível não forneça o valor do
atrito lateral local unitário (fs), pode-se utilizar a resistência
de ponta do cone (qc) para determinar a tensão lateral, através
da expressão:
α.q c
f máx =
F2
em que:
α: coeficiente definido por Bengemann (1965), que correla-
ciona o atrito lateral do cone com a resistência de ponta do
cone (qc).
Quando não se dispõem de valores do ensaio CPT, se
pode utilizar os valores de SPT, de acordo com a correlação
que segue:
q c = K.N
em que:
K: fator que converte a resistência à penetração (N) do ensaio
SPT em resistência de ponta do cone (qc), para determinar a
tensão-limite de ruptura de ponta de uma estaca. A Tabela 24
ilustra valores de α e K.
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 191
⎛N ⎞
f máx = 10.⎜⎜ + 1⎟⎟
⎝3 ⎠
q p , r = K.N
em que:
N : valor médio do SPT no interior da camada de cálculo, e
K: constante dada em função do tipo de solo (Tabela 25).
⎛N ⎞
Q r = α '.K .N p .A p + 10 .β.⎜ s + 1 ⎟
⎝ 3 ⎠
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 193
em que:
Ns: resistência à penetração (SPT) média no trecho considera-
do, de tal forma que 3 < SPT < 50, e
α’ e β: coeficientes em função do tipo da estaca e do tipo do
solo, apresentados nas Tabelas 26 e 27, respectivamente.
altas pressões
Injetada sob
(bentonita)
Escavada
Escavada
contínua
em geral
Hélice
Raiz
Argilas 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,0*
Solos intermediários 0,60 0,60 0,30* 0,60* 1,0*
Areias 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,0*
altas pressões
Injetada sob
(bentonita)
Escavada
Escavada
contínua
em geral
Hélice
Raiz
Q r = q p , r .A p + F.λ.f máx .A s
em que:
fmáx: atrito lateral unitário máximo;
qp,r: reação de ponta;
As: área da superfície lateral do fuste da estaca, e
Ap: área da seção transversal da ponta da estaca.
F: fator de carga lateral, que é função do tipo de estaca. Igual a
1,0 para estaca cravada e 0,5 para estaca escavada, e
λ: fator do tipo de carregamento da estaca. Igual a 1,0 para
estaca comprimida e 0,7 para estaca tracionada.
A resistência de ponta (qp,r) e o atrito lateral unitário má-
ximo (fmáx), na ruptura, são avaliadas, respectivamente, em fun-
ção das resistências de ponta do cone (qc) e de atrito lateral uni-
tário local (fs), obtidos no ensaio de penetração do cone (CPT),
como no método Aoki-Velloso. O valor médio do atrito lateral
unitário médio (fs,med) é determinado com os valores do ensaio
CPT, para 8.D acima da ponta da estaca e 3,5.D abaixo.
Caso não se disponha de resultados do ensaio CPT, po-
de-se utilizar os valores de SPT, de acordo com a expressão
que segue:
q c = a '.N b '
em que:
a’ e b’: constantes que dependem do tipo de solo (Tabela 28).
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 195
Solo a’ (kN/m2) b’
Areias sedimentares submersas 5,0 1
Argilas sedimentares submersas 6,3 1
Solos residuais de gnaisse areno siltosos submersos 8,5 1
(1)
Solos residuais de gnaisse Solo 1 8,0 1
(2)
Solos arenosos submersos Solo 2 12,1 0,74
(1)
dados obtidos na área da Refinaria Duque de Caxias (RJ); e
(2)
dados obtidos na área da Açominas (MG).
Qr
P≤
2
b) Para estacas escavadas:
⎧Qr
⎪
⎪⎪ 2
P≤⎨
⎪Q
⎪ s,r
⎪⎩ 0,8
a) problemas de projeto; e
b) problemas pós-construção.
Nos dois casos o foco principal das preocupações é o solo
em que estas foram ou serão construídas. Pois, quando se trata
de solo colapsível, há a necessidade de um cuidado maior, em
função da brusca redução de resistência e de capacidade de car-
ga que estes sofrem, frente ao seu umedecimento. Estas redu-
ções são consideráveis e costumam variar na faixa de 40 a 80%.
Para se chegar ao atual estágio de conhecimento a res-
peito do comportamento destes solos, quando solicitados por
carregamentos, estando eles em umidade natural, ou ainda,
por alguma razão natural ou extraordinária, venham a atingir
umidades superiores à faixa de umidade natural que estes te-
nham experimentado até o momento, muitos problemas e aci-
dentes com edificações foram registrados ao longo do tempo.
Este fato teve seu agravamento com o desenvolvimento
e ocupação de regiões que são cobertas por este tipo de solo. O
desenvolvimento do interior do Estado de São Paulo, com o
surgimento de novas cidades e o crescimento abrupto das já
existentes, implicou no aumento da magnitude das cargas lan-
çadas a estes solos, que aliado ao desenvolvimento hidroelétri-
co e a inundação de grandes áreas para a formação dos lagos
que armazenam água para a geração de energia elétrica, soma-
do as estações bem definidas de chuva e de seca, resultaram
em um grande desafio a ser compreendido, equacionado e,
principalmente, a ser resolvido de maneira eficaz e satisfatória
pelos engenheiros de fundações.
Em busca deste conhecimento diversas empresas de fun-
dações e de sondagem começaram a estudar este fenômeno e a
investir em instituições de estudo e pesquisa, desencadeando
na formação de novas linhas de pesquisa, grupos de pesquisa e
centros de pesquisa.
No meio acadêmico, diversos estudos foram e estão sen-
do desenvolvidos, desde ensaios em laboratório como ensaios
de campo. Por este motivo houve um grande avanço tecnoló-
gico sobre o assunto, com o surgimento de novas técnicas,
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 197
em que:
i: camada de solo na qual o fuste da estaca está inserido.
No projeto utiliza-se a carga admissível da estaca
(Qadm), que garante a ocorrência de recalques admissíveis e a
integridade do solo e do material da estaca, atendendo assim as
exigências da NBR-6122/1996, para a qual:
a) No caso de estacas de deslocamento (Franki, pré-
moldadas ou metálicas)
Qr
Qadm ≤
2
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 199
⎧
⎪Q
⎪ r
⎪2
⎪
Qadm ≤⎨
⎪ n
⎪ ∑ Qs , r , i
⎪ i =1
⎪⎩ 0,8
Problemas Pós-construção
Os problemas que podem ocorrer com uma edificação já
construída são os recalques por colapso, os quais são ocasiona-
FUNDAÇÕES EM SOLOS COLAPSÍVEIS 201
Introdução
Já de algum tempo é consenso no meio técnico que os
danos provocados pelo processo de colapso devem ser incluí-
dos entre os impactos ambientais. Tais danos podem se dar
tanto em obras de infra-estrutura como em edificações sujeitas
ao processo de recalques nos elementos de fundação por co-
lapso e, em casos especiais, em edificações vizinhas àquelas
afetadas pelo processo.
O processo por si só pode ser considerado uma forma de
impacto ambiental, na medida em que sua ocorrência está rela-
cionada à atuação humana como modificadora do ambiente e
que as alterações induzidas no solo pelo processo modificam
propriedades do solo.
As deformações sofridas pelo solo acarretam alterações
em sua compressibilidade e em suas propriedades hidráulicas o
que podem ter marcante influência em processos de fluxo de
fluidos no interior do solo e, conseqüentemente, de migração e
atenuação de compostos químicos no solo.
Além das alterações no solo, os impactos oriundos do
processo de colapso se manifestam de forma mais clara nas
obras civis apoiadas sobre estas camadas de solo, especialmen-
te prédios, e secundariamente, tubulações, canais e pavimentos.
Impactos Diretos
A maior parte dos impactos diretos que ocorrem como
conseqüências de processos de colapso de solos são perdas
econômicas, visto não se ter registro, no Brasil e no exterior,
de danos provocados por colapso que tenham ocasionado perda
de vidas.
Tais perdas correspondem aos custos relativos à recupe-
ração das obras danificadas em conseqüência da ocorrência de
recalques por colapso, sendo mais comuns os danos em alve-
naria e dispositivos de fechamento (como portas e janelas),
além dos reparos necessários nas redes de utilidade (especial-
mente água e esgoto), quando sua ruptura gerou o colapso,
por vazamento, ou quando a ocorrência do colapso ocasionou
tal ruptura.
No caso de edificações (residenciais, comerciais ou in-
dustriais), tais danos raramente atingem as estruturas da obra
e, mais raramente ainda, são responsáveis por sua ruína total
(com desabamento).
Quando isso se dá, geralmente se tratam de construções
antigas cujos processos construtivos (tanto das fundações
como das estruturas) não foram apropriados, gerando alta
instabilidade à edificação quando da ocorrência de recalques
diferenciais.
No caso de redes de abastecimento, quando a ocorrên-
cia do colapso é a causa e não a conseqüência da ruptura de
redes de água ou esgoto, os danos diretos também são de na-
tureza econômica e correspondem aos custos necessários para
os reparos.
IMPACTOS AMBIENTAIS DEVIDOS AO COLAPSO 211
Impactos Indiretos
Além das perdas diretamente relacionadas à ocorrência
do colapso, outros prejuízos podem acontecer como conse-
qüência indireta do processo.
No caso de edificações, é comum que o registro de pro-
cessos de colapso cause desvalorização imobiliária, a qual
pode atingir uma edificação exclusivamente ou todo um con-
junto habitacional, uma quadra ou um bairro.
Ainda com relação às edificações, o colapso pode repre-
sentar riscos para as redes hidráulicas e elétricas locais, ou
mesmo municipais, além de riscos de contaminação do subso-
lo, em função do tipo de atividade que ocorre na edificação.
No caso de rupturas de redes de utilidade como conse-
qüência de processos de colapso, os impactos indiretos espera-
212 SOLOS COLAPSÍVEIS
Prevenção
Mitigação
Introdução
O fenômeno de colapso de solos representa hoje um dos
principais problemas cotidianos da geotecnia de boa parte da
região sudeste do Brasil e, em especial, de uma parcela signifi-
cativa do interior do Estado de São Paulo, além de ocorrer em
áreas expressivas das regiões centro-oeste e nordeste.
O comportamento mecânico de tais solos quando solici-
tados tem sido alvo de diversos estudos há mais de vinte anos,
porém só muito recentemente surgiram propostas de regionali-
zação da informação local possibilitando a representação espa-
cial de processos de colapso de solo e, conseqüentemente, a
avaliação do risco dos mesmos.
Dados de ensaios laboratoriais e de campo, associados
ao conhecimento da distribuição espacial das classes de solo e
dos mecanismos desencadeadores do processo são o ponto de
partida para a elaboração de tais cartas.
A carência de estudos de avaliação das condições na-
turais para adoção de critérios de construção tem ocasionado
aumento no número de registro de processos de colapso de
solos.
O conhecimento da existência de processos de colapso
de solos e das condições que os potencializam pode propor-
cionar uma melhor adequação das obras de engenharia a
esta realidade.
Uma vez reconhecidos os impactos ambientais que podem
ocorrer em conseqüência do processo de colapso, que sua ocor-
218 SOLOS COLAPSÍVEIS
Conceitos
A palavra risco tem como significado mais amplo a indi-
cação de uma possibilidade de perigo ou de perda (AUGUSTO
FILHO, 2001). A avaliação de risco faz parte das atividades
diárias do sistema bancário, seguradoras e demais operações
econômicas, e nas últimas décadas passou a ser aplicada aos
chamados riscos naturais.
No caso específico dos campos de atuação da geotecnia
e da geologia de engenharia, muitos autores definem como
riscos geotécnicos, os processos de natureza geológica (escor-
regamentos, erosão e assoreamento, subsidências e colapsos de
solos, terremotos, atividades vulcânicas, tsunamis), principal-
mente quando estes processos interagem diretamente com al-
gum tipo de obra de engenharia civil.
Os riscos geológicos podem ser subdivididos, segundo a
natureza dos processos, em dois tipos: os endógenos e os exó-
genos. Os riscos geológicos do tipo endógeno são aqueles re-
lacionados à dinâmica interna do planeta (terremotos, ativida-
des vulcânicas, “tsunamis”) enquanto os riscos geológicos
exógenos são aqueles associados aos processos que ocorrem
na superfície da terra (escorregamentos, erosão e assoreamen-
to, subsidências e colapsos de solo).
A área de Riscos Geológicos caracteriza-se por ser um
campo de atuação que conjuga métodos e técnicas de análise
de outros ramos profissionais. Existem muitas fontes biblio-
gráficas que contemplam conceitos relacionados a riscos geo-
lógicos e termos associados.
Para UNDRO (1978): Ameaça é um evento raro ou ex-
tremo no meio natural ou antrópico que afeta adversamente a
AVALIAÇÃO DE RISCOS EM SOLOS COLAPSÍVEIS 219
Gerenciamento de Riscos
Os métodos e técnicas de identificação, avaliação ou
análise de riscos devem fundamentar a elaboração de pro-
gramas de gerenciamento, envolvendo uma série de ações de
mitigação adequadas a cada situação ou nível de risco. Estas
ações de mitigação, também são identificadas como medidas
de prevenção e controle, ou de naturezas estrutural e não estru-
tural (AUGUSTO FILHO, 2001).
De acordo com Augusto Filho (op. cit.), talvez o melhor
indicador do esforço mundial, no sentido de se aplicar as téc-
nicas de análise e gerenciamento de risco para os processos da
dinâmica natural do nosso planeta, seja a ação da Organização
das Nações Unidas – ONU, que proclamou os anos 90 como a
Década Internacional para Redução de Desastres Naturais.
Abordando a questão de prevenção de acidentes, Cerri
(1993) estabelece os objetivos, as respectivas medidas de
prevenção e as correspondentes ações técnicas, destinadas à
prevenção de acidentes associados a escorregamentos em en-
costas ocupadas.
Os objetivos apontados pelo autor são: eliminar e/ ou re-
duzir os riscos instalados; evitar a instalação de novas áreas de
risco; e conviver com os riscos instalados.
Para atingir esses objetivos o autor recorre ao emprego
de medidas estruturais e não estruturais. Medidas estruturais
são as que têm por objetivo principal evitar a ocorrência ou
reduzir a magnitude dos processos geológicos, por meio da
implantação de obras de engenharia. Freqüentemente exigem
aplicação maciça de capitais, no geral contemplando áreas
restritas (CERRI, 2001).
226 SOLOS COLAPSÍVEIS
Identificação e Análise
A caracterização das condições de solos na área foi feita
por Lollo (1998), utilizando a técnica de avaliação do terreno
segundo sistemática de Lollo (1996), e possibilitou a identi-
ficação de quatro elementos de terreno na área urbana, com
diferentes perfis de alteração de solos, cuja distribuição na área
pode ser observada na Figura 95.
Para confirmação das características dos perfis de altera-
ção típicos de cada elemento de terreno identificado e caracte-
rização das propriedades de tais solos, foram consultados da-
dos de investigações geotécnicas de campo e de laboratório
disponíveis na área.
Tais informações consistiram de boletins de sondagens
de simples reconhecimento, resultantes de trabalhos desenvol-
vidos pela CESP (Companhia Energética de São Paulo) e ou-
tras empresas; levantamentos geofísicos (sondagem elétrica
vertical e seções de radar de penetração no solo) efetuados por
Rodrigues, Elis, Prado e Lollo (2006); provas de carga e en-
saios de campo (CPT e SPT-T) de Menezes (2001), Souza
(1993), Segantini (2000); e ensaios de laboratório realizados
sob amostras indeformadas retiradas a cada metro em onze
AVALIAÇÃO DE RISCOS EM SOLOS COLAPSÍVEIS 229
Representação Cartográfica
Neste caso a representação cartográfica dos riscos consi-
derou dois tipos de documentos, de acordo com a forma de
representação: (1) Mapa de Cadastramento de Risco, e (2) Ma-
pa de Zoneamento de Risco.
No Mapa de Cadastramento de Riscos foram representa-
das as edificações para as quais se teve registros de danos em
decorrência de processos de colapso, as quais foram represen-
tadas segundo os graus baixo, médio e alto risco, conforme
esquema proposto. Tal carta é apresentada na Figura 97.
Gerenciamento de Riscos
O aspecto fundamental com relação aos processos de co-
lapso de solos na área é a uniformidade em termos de suscep-
tibilidade natural, ou seja, no que depende do fator solo os
processos tem mesma probabilidade de ocorrência em toda
área, fazendo com que não sejam possíveis estratégias de ge-
renciamento enfocando este componente do risco.
Por essa razão adotou-se o critério da susceptibilidade
induzida, a qual depende das características construtivas das
edificações analisadas e das redes publicas de água, esgoto e
AVALIAÇÃO DE RISCOS EM SOLOS COLAPSÍVEIS 237
Adriano Souza
Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia Civil – Geotecnia,
Professor Assistente Doutor, Departamento de Engenharia
Civil, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira.
Jair Camacho
Engenheiro Civil, Doutor em Engenharia Civil – Transportes,
Professor Assistente Doutor, Departamento de Engenharia
Civil, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira.