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Sob o efeito de avidya, sem sabedoria, sem abrir o olho de prajna, não vemos
as coisas como elas são (vazias, luminosas, plásticas, mágicas, lúdicas).
Perdemos a realidade vajra.
Esses são dois jeitos de descrever o que acontece quando estamos em uma
bolha: não só não vemos mais a realidade, não só perdemos a visão ampla e
profunda, mas nos condicionamos, viramos dependentes de energia porque
agora precisamos que tal e tal coisa aconteça, precisamos ganhar algum jogo
para equilibrar nossa energia.
Como estamos cegos para a coemergência, nosso critério para ver se vamos
por uma direção é o quanto nossos olhos brilham, mas quando os olhos
brilham, nós não vemos isso, nós vemos a coisa externa brilhando e então
dizemos: “Sim, vou por aí”.
Entramos com sabedoria, prajna, o que nos faz ver o aspecto construído e não
se perder (manter sempre um sorriso por trás, de êxtase, de “Uau”). E
entramos com compaixão, o que faz com que o movimento da energia venha
de outro lugar. É parecido com o tio jogando futebol com o sobrinho: ele não
está jogando futebol, ele está se relacionando com o sobrinho. E ele vai sofrer
na medida em que se perder ali, vai ficar irritado se perder na medida em que
não mais operar com compaixão, na medida em que for envolvido por alguma
bolha.
A gente sorri para a esposa, mas sorri também para a natureza livre que não é
a esposa e pela magia que faz ela ser a esposa não sendo a esposa. Então a
gente sorri para ela e também sorri por trás: “Uau!”. Assim a gente vai
mantendo prajna e manter prajna ajuda a manter autonomia de energia — do
mesmo modo, o equilíbrio autônomo da energia ajuda a manter prajna, ao nos
emancipar das bolhas. Parar nos leva a olhar. Olhar nos leva a parar. E tudo
isso resulta em maior capacidade de agir naturalmente, sem esforço, com
amor, compaixão, alegria, equanimidade, as seis perfeições e as cinco
sabedorias. A partir do reconhecimento do espaço livre, não mais a partir de
bolhas (ou seja, do não reconhecimento do espaço livre).
Todos esses processos não são sólidos, são experiências vazias e luminosas. A
urgência não é sólida, é uma sensação de que a urgência é real. A morte não é
sólida, é uma experiência de morte. É só por isso que o sofrimento pode ser
superado.
• seis reinos;
• seis bardos;
• intersubjetividade;
• complementaridade e história da ciência;
• jogos de tabuleiro, esportes;
• samsara em geral;
• 12 elos;
• qualquer visão de mundo ou narrativa...
“Hogen, do Mosteiro Seiryo, estava em vias de dar sua palestra antes do jantar
quando percebeu que a cortina de bambu, abaixada para a seção de
meditação, não tinha sido levantada. Ele apontou para ela, sem falar. Dois
monges levantaram-se da audiência e juntos a levantaram com movimentos
idênticos. Hogen, observando o momento concreto, disse: ‘Os gestos do
primeiro monge são corretos, mas não os do segundo.’”
...
Jornalista: As pessoas acharam você muito mudada depois que você saiu do
retiro?”
“Para que as coisas possam se revelar a nós, precisamos estar prontos para
abandonar nossas visões sobre elas.”
“Pensamos que são mundos e condições externas, mas não são mundos
externos: é a forma como nossa mente está operando. Então não pense que a
gente tenha a possibilidade de avançar sem que o mundo avance junto. Nos
textos budistas, como o Sutra do Diamante, o Buda diz que a iluminação se dá
com todos os seres juntos. Quando há a iluminação, todos os seres se
iluminam. O bodisatva, quando atinge a compreensão, vê todos os seres
manifestando a natureza iluminada também. A gente pode pensar: “Bah, isso
não vai dar! Todo mundo junto tem de atingir a iluminação… Isso não vai
acontecer nunca!” É porque temos essa visão externa… Mas o mundo já se
iluminou muitas vezes. Cada vez que alguém se ilumina o mundo inteiro se
ilumina.
Nós vamos começar a trabalhar desse modo. Mas eu poderia, por exemplo,
pensar assim: "Eu tenho muita sensibilidade. Eu olho para o outro e vejo a
energia que ele produz sobre mim, então vá de retro!". Se olhamos desse modo,
nesse momento prendemos o outro naquilo e nos prendemos na sensibilidade à
ação do outro. Parece que nós somos super espertos porque vimos o efeito que o
outro produz sobre nós. Se eu digo "Vá de retro!", eu consolido toda a situação.
Tão pronto ele aparece ou surge uma foto, uma lembrança ou alguém que o
menciona, eu digo: "É ele voltando!". Por outro lado, se olhamos para o outro
com compaixão, vendo que ele está perturbado por alguma coisa, eu não
consolido o ser nem consolido a relação nem a perturbação. Eu simplesmente
não vou me perturbar. Isso corresponde ao corpo translúcido, ao corpo de Guru
Rinpoche, se a gente pudesse passar a mão por dentro do corpo dele. Isso
significa que as negatividades podem vir mas elas não nos afetam. Isso é uma
mistura de méritos relativos com méritos de sabedoria (absolutos).”
“..The stronger your cultivation of compassion is, the more committed you will
feel to taking responsibility. Because of their ignorance, sentient beings do not
know the right methods by which they can fulfill their aims. It is the
responsibility of those who are equipped with this knowledge to fulfill the
intention of working for their benefit. It is only by your showing living beings
the right path leading towards omniscience, and by living beings on their part
eliminating the ignorance within themselves, that they will be able to gain
lasting happiness. Although you may be able to work for other sentient beings
to bring them temporary happiness, bringing about their ultimate aims is
possible only when these beings take upon themselves the initiative to
eliminate the ignorance within themselves. The same is true of yourself: If you
desire the attainment of liberation, it is your responsibility to take the
initiative to eliminate the ignorance within yourself. You might feel that since
fulfilling the wishes of other sentient beings and bringing about their welfare
basically depends upon them taking the initiative themselves, then what
particular need is there for you to work for the achievement of enlightenment?
After all, there are many buddhas who will be able to help the sentient beings
immediately if these beings take the initiative.
However, the benefit from particular spiritual guides or teachers depends upon
the recipient having karmic links with these beings. Thus, some spiritual
teachers can be most effective and beneficial to only a certain number of
disciples, and not to other beings. In order to understand this, it is helpful to
read the sutras, such as The Perfection of Wisdom in Eight Thousand Lines, in
which the buddhas and bodhisattvas, having seen that a certain practitioner
had a stronger karmic link with another spiritual teacher, advised him to seek
his own spiritual master. There will be sentient beings who may be able to
see a buddha directly, but who may not benefit as much from that as they
would from interaction with you, due to their having a deeper karmic link
with you.
Although your achievement of the omniscient state may not be beneficial to all
living beings, it will definitely bring a lot of practical benefit to certain living
beings. Therefore, it is very important that you work for your own achievement
of the completely enlightened state. Because there might be living beings who
depend very much upon your guidance on the spiritual path, it is important
that you take upon yourself the responsibility to work for the benefit of others.
By thinking in such terms, you will be able to develop the strong belief that
without attaining the omniscient state you will not be able to fulfill what you
set out to do and truly benefit others.”
...
"Eu acho justo a gente pensar que atrás de cada um de nós tem uma fila de
pessoas que só nós vamos poder ajudar. Então é melhor ir praticando. Praticar
significa não só chegar nesse ponto [sabedoria], mas poder voltar a olhar os
mundos cármicos onde a gente andava, agora com o olhar aberto, de tal modo
que a gente encontre uma linguagem para fazer as pessoas entenderem o
espaço livre da mente delas enquanto elas estão no meio daquilo mesmo que é
onde elas podem estar. Se a gente pretender que as pessoas saiam do mundo
onde elas estão para então começar a prática, isso é muito difícil. Além do
mais, isso não é Chenrezig. Chenrezig é justamente: o caminho começa onde a
pessoa está, na confusão onde ela está, ali mesmo. Não é tirando a confusão.
Tirando a confusão não tem graça."