Você está na página 1de 14

Alim. Nutr.

, Araraquara ISSN 0103-4235


v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011 ISSN 2179-4448 on line

EFEITO DA GERMINAÇÃO E DA SANITIZAÇÃO SOBRE


A COMPOSIÇÃO CENTESIMAL, TEOR DE FIBRAS
ALIMENTARES, FITATO, TANINOS E DISPONIBILIDADE
DE MINERAIS EM TRIGO*

Paulo Roberto de Araújo BERNI**


Solange Guidolin CANNIATTI-BRAZACA***

RESUMO: A germinação é um processo bioquímico gundo a Resolução n. 360, de 23 de dezembro de 2003, da


complexo que ocorre com os grãos e é uma forma natural de ANVISA, fibra alimentar é definida como “qualquer ma-
melhorar sua qualidade nutricional. Sua prática é muito an- terial comestível que não seja hidrolisado pelas enzimas
tiga, simples e econômica, e vêm sendo muito utilizada nas endógenas do trato digestivo humano”. 7 O consumo de
ultimas décadas. O trigo (Triticum spp.) está entre os cere- fibras alimentares está relacionado com a redução de risco
ais mais produzidos e consumidos no mundo e, em muitas de câncer de cólon, diabetes e doenças cardiovasculares. 5
regiões, é a principal fonte de carboidratos, proteínas, mine- A umidade de grãos integrais de trigo é, em média, 12%,
rais e vitaminas do complexo B. Durante a germinação do e a composição química, na base seca, 17,8% de proteína,
trigo pode ocorrer desenvolvimento de micro-organismos 1,8% de cinzas, 1,9% de lipídeos, 78,5% de carboidratos
e a sanitização deve ser utilizada. O objetivo da pesquisa totais. 9, 30 Dentre os carboidratos o conteúdo de fibras ali-
foi verificar a influência da germinação e sanitização sobre mentares totais é 14,2% da matéria seca, sendo 12,3% de
a composição centesimal, teor de fibras alimentares, fitato, fibra insolúvel e 1,9% de fibra solúvel. 21
taninos, minerais e disponibilidade de minerais (Ca, Mg, A germinação é um processo bioquímico complexo
Fe, Zn) do trigo. Foram germinados grãos de trigo da varie- que ocorre com os grãos, ela é uma forma natural, simples
dade BRS-Tarumã com e sem sanitização. As amostras fo- e econômica de melhorar a qualidade nutricional e está sen-
ram recolhidas para análises, a partir da imersão inicial dos do muito utilizada nas últimas décadas. Orientações sobre
grãos em água para hidratação, após 8h, 32h, 56h, 80h, e alimentos, culinária e dietas vêm divulgando a germinação
104h. O estudo não observou interferências relevantes nas caseira de grãos. 14, 23 Durante a germinação ocorre desen-
características nutricionais em relação à sanitização inicial volvimento de micro-organismos que podem promover
realizada. Foi possível verificar alterações que interferem alterações nos teores de nutrientes do grão, pois podem in-
na qualidade nutricional dos grãos, com destaque para o terferir em seu processo bioquímico. Miranda & El-Dash33
aumento do teor de fibras solúveis e insolúveis e a redução e Vidal-Valverde46 analisaram as mudanças nutricionais em
do teor de fitato com consequente aumento da disponibili- grãos germinados realizando inicialmente uma sanitização
dade de minerais. Os resultados indicam que a germinação dos grãos com imersão em solução de hipoclorito de sódio
melhora a qualidade nutricional dos grãos de trigo. para reduzir a interferência de micro-organismos.
Com a germinação ocorrem mudanças nas frações
PALAVRAS-CHAVE: Fitato; composição centesimal; proteicas do trigo germinado, resultando em alterações
disponibilidade; minerais; fibras alimentares; germinação. desejáveis no perfil de aminoácidos e digestibilidade de
proteínas. 9, 30, 32 Ocorrem também alterações na atividade
INTRODUÇÃO antioxidante, na estabilidade de farinhas de trigo germina-
do e nos teores de fibras e oligossacarídeos. Além disso,
O trigo (Triticum spp.) está entre os cereais mais o processo de germinação pode aumentar os teores e bio-
produzidos e consumidos no mundo. É uma commodity im- disponibilidade de minerais e vitaminas do complexo B e
portante quando se trata da segurança alimentar e nutricio- diminuir as quantidades de fatores antinutricionais, como
nal no âmbito mundial, pois em muitas regiões é a principal os fitatos, inibidores da protease e taninos. 25, 32, 39, 49 No trigo
fonte de carboidratos, proteínas, minerais e vitaminas do germinado, após 72h, Egli et al.12 encontraram variação na
complexo B.10, 23, 47 O trigo integral pode ser considerado atividade de fitato, com redução de 33% do teor de fitato,
um cereal que possui alto teor de fibras alimentares. 23 Se- o que propicia melhoria na biodisponibilidade de minerais

* Trabalho elaborado com apoio do CNPq, bolsa PIBIC.


** Curso de Graduação em Ciências dos Alimentos – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo – USP –
13418-900 – Piracicaba – SP – Brasil.
*** Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP – 13418-900 –
Piracicaba – SP – Brasil. E-mail: sgcbraza@usp.br.

407
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

como o ferro, zinco, magnésio e cálcio. 12, 22 Com essas al- nas condições de germinação, sendo umedecidos a cada 8
terações, a qualidade nutricional do trigo pode ser aumenta- horas, até 4 dias de germinação, quando surge evidência de
da, e as características sensoriais modificadas. 4, 32, 43, 46 fotossíntese. Neste período ocorre a protrusão da radícula
As formas de germinação utilizadas em pesquisas e do coleóptilo, considerando estas como partes do trigo
já realizadas são muito diversas. Há diferenças nos tempos germinado.
e temperaturas de germinação, na presença de luminosida- Na Tabela 1 encontram-se as condições experimen-
de, na presença de pré-tratamento, duração da hidratação, tais nas quais os tratamentos foram realizados. Foram fei-
terminologias e nas análises realizadas, dificultando a com- tas três repetições de cada tratamento. Uma porção de 100g
paração de resultados. 8, 16, 27, 33 No entanto, considerando a de semente foi analisada sem sofrer tratamento, sendo esta
complexidade desse processo bioquímico e a sua suscetibi- a amostra padrão e seus resultados utilizados como contro-
lidade à influência de diversos fatores, que ainda não foram le nas análises estatísticas. A germinação foi realizada em
estudados em detalhes, observa-se que há a necessidade de duas fases. Na primeira, 5 porções de 60g de trigo foram
melhor esclarecimento sobre as mudanças químicas e bio- sanitizadas mergulhando os grãos em solução de hipoclori-
químicas que ocorrem. 4, 46 to de sódio 1% de cloro ativo por 20min e outras 5 porções
O objetivo da pesquisa foi verificar a influência da mergulhadas em água deionizada por 20min (Tabela 1). Em
germinação e sanitização sobre a composição centesimal, seguida, todas as porções foram lavadas e posteriormente
teor de fibras alimentares, fitato, taninos, minerais e dispo- deixadas imersas individualmente em água deionizada por
nibilidade de minerais (Ca, Mg, Fe, Zn) do trigo. 8h, correspondendo à fase de hidratação (Tabela 1). Este
tempo inicial foi escolhido para avaliar o momento em que
algumas mudanças começam a ocorrer. Na segunda fase as
MATERIAL E MÉTODOS porções foram individualmente germinadas à temperatura
ambiente de 20-22°C (Tabela 1) e à luminosidade ambiente
As sementes de trigo da variedade BRS Tarumã do- do laboratório, porém, sem a incidência direta do sol ou de
adas pela Embrapa Trigo foram sanitizadas e germinadas. luz artificial. A cada 8h adicionou-se aos grãos 400mL de
Foram realizadas as seguintes análises: composição cente- água deionizada, estes foram agitados levemente e escor-
simal, fibras alimentares, fitato, taninos, minerais (P, K, Ca, rido o excesso de água. Em todo o processo foi utilizada
Mg, S, Cu, Fe, Mn, Zn) e disponibilidade in vitro de Ca, água deionizada para não fornecer minerais à semente con-
Mg, Fe, Zn. Também foram utilizadas sementes não ger- taminando a amostra. As amostras foram recolhidas para
minadas como amostra padrão. Este cultivar foi seleciona- análises após 8h (hidratação), 32h, 56h, 80h, e 104h (ger-
do por ser comercializado em grão e permite a germinação minação) (Tabela 1).
pelo consumidor. Análises de composição centesimal foram realizadas
Por serem encontradas diversas terminologias na nas amostras após liofilização (Tabela 1), em cada um dos
literatura optou-se por utilizar e delimitar os termos hidra- tempos e na amostra padrão, sendo empregadas metodolo-
tação e germinação. O termo “hidratação” foi adotado para gias da AOAC 2 na determinação de umidade, cinza, extra-
o período inicial de 8h nas quais os grãos ficam imersos em to etéreo, proteínas e carboidratos. Foi utilizado o método
água até se tornarem túrgidos, ou seja, absorção máxima enzimático gravimétrico para determinação das frações
de água. “Germinação” é o processo que se inicia quando solúvel e insolúvel das fibras segundo a metodologia pro-
é retirado o excesso inicial de água mantendo-se os grãos posta por Asp et al. 1 Os carboidratos totais foram obtidos

Tabela 1 – Condições experimentais e parâmetros dos tratamentos de germinação e sanitização utilizados


no trigo.
Amostra padrão
Sanitização Sem sanitização
(controle)
Pré- Imersão NaOCl Imersão H2O
Sem imersão
Tratamento 1%/20min; 20-22°C* 20 min; 20-22°C
8h em H2O; 8h em H2O;
Hidratação (duração) Sem hidratação
20-22°C 20-22°C
Temperatura Sem germinação,
20-22°C 20-22°C
de germinação armazenado à 5°C
Tempo de
Sem germinação 32, 56, 80, 104h 32, 56, 80, 104h
Germinação
Secagem Liofilização**; Liofilização**; Liofilização**;
(T°C/duração) - 60°C, vácuo/48h - 60°C, vácuo/48h - 60°C, vácuo/48h
* Os valores de temperatura ambiente foram consultados na base de dados meteorológicos da Escola Superior de Agri-
cultura “Luiz de Queiroz”. 13
** A liofilização somente foi aplicada para as análises de composição centesimal, minerais e fitato.

408
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

por diferença.2 Neste trabalho foi utilizado um processo de nos teores em relação ao tempo. Os tratamentos com e
germinação comum de ser realizado em casa, o que implica sem sanitização apresentaram o mesmo comportamento,
no consumo do grão de trigo germinado in natura. Por esse não ocorrendo interferência significativa da sanitização.
motivo, optou-se por discutir os resultados de composição Em vários cereais germinados há aumento no conteúdo de
centesimal na base seca e base fresca. proteína proporcional ao tempo de germinação. 9 Outros
O perfil de minerais (P, K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Mn trabalhos verificaram aumento no teor de proteína em tri-
e Zn) foi determinado pelo método descrito por Sarruge & go germinado.11,34 Dalby & Tsai11 apresentaram valores de
Haag, 40 que utiliza digestão nitro-perclórica para extração aproximadamente 12,9% (N x 6,25) de proteína em trigo
dos minerais. O ácido fítico foi determinado segundo a me- sem germinar e 16,5% (N x 6,25) em trigo germinado à
todologia usada por Grynspan & Cheryan19 e o teor de tani- 28°C por 120h.
nos foi analisado de acordo com Price et al.36 Os teores de cinzas, na base seca, encontrados (Ta-
Separou-se 20g do peso de cada repetição para con- bela 2) não demonstraram diferença significativa (p≤0,05)
gelamento à -18°C, parando a atividade metabólica, para com relação a sanitização com hipoclorito 1%. Em relação
posterior realização de análise de biodisponibilidade de mi- ao tempo, somente após 80 horas de germinação apresen-
nerais in vitro. Estas foram realizadas pelo método de Luten tou aumento significativo de cinzas. Porém, retornou ao es-
et al. 31 Foi realizada simulação in vitro da digestão gástrica tado inicial após 104h, não diferindo significativamente do
utilizando enzima pepsina (SIGMA®) seguida de digestão trigo sem germinação. O aumento do teor de cinzas duran-
intestinal in vitro com solução de bile-pancreatina (SIG- te a germinação do trigo é considerado aparente. Isso por
MA®). Utilizou-se membrana de acetato celulose com poro que, durante a germinação, os grãos consomem parte de seu
de tamanho 10000Da da marca INLAB®. Após a digestão conteúdo total de amido, por respiração, para produção da
e a diálise, foi realizada a determinação de Fe, Ca, Mg, Zn energia inicial da germinação e o elimina em forma de CO2,
no conteúdo interno da membrana por espectrometria de com consequente perda de peso seco. 44 Já o decréscimo de
absorção atômica (Equipamento Perkim-Elmer®). Todas as cinzas pode ser atribuído a perdas durante a hidratação e
vidrarias utilizadas foram previamente lavadas e deixadas lavagens. 9
em solução de HCl por uma noite para evitar contaminação Na Tabela 2 observa-se que o teor de lipídeos obte-
com minerais. ve aumento significativo (p≤0,05) durante a germinação,
O delineamento estatístico foi realizado inteiramen- após 56 horas, para o trigo não sanitizado e, 80 horas, para
te ao acaso, com 2 tratamentos (sanitizado e não sanitiza- o trigo sanitizado. Em todos os estudos com trigo, o conte-
do) e 5 tempos (8h, 32h, 56h, 80h, 104h), mais a amostra údo final de lipídeos de grãos germinados foi superior ao
padrão (controle). Analisaram-se os resultados obtidos nas de grãos não germinados. Ranhotra et al.37 determinaram
análises pelo teste F e pela análise de variância (ANOVA) teor de lipídeos totais em trigo não germinado de 2,89%
considerando os resultados com probabilidade de erro me- e após três dias de germinação, de 3,37%. O aumento no
nor ou igual a 5% (p≤0,05). Foi realizado teste de Tukey conteúdo de lipídeos tem sido atribuído a síntese destes
entre tratamentos, para avaliar a influência da sanitização, e originada da degradação do amido. 30 Não há diferença
entre os tempos, para avaliar a influência da germinação. estatística significativa nos teores de lipídeos do trigo
germinado em relação à utilização de hipoclorito de só-
RESULTADOS E DISCUSSÃO dio nas amostras. Os grãos não sanitizados apresentaram
pico de síntese após 32h. No entanto, os grãos que foram
Os resultados obtidos de composição centesimal sanitizados tiveram atraso na síntese de lipídeos. Assim,
para o trigo germinado nos diferentes tratamentos foram o aumento do teor de lipídeos nos grãos sanitizados foi
apresentados em % da matéria seca na Tabela 2. Na literatu- mais lento, apresentando aumento significativo (p≤0,05)
ra consultada foram encontrados resultados de composição somente após 80h de germinação (Tabela 2). Isso pode ter
centesimal, em base seca, de trigo integral não germinado, ocorrido por estresse salino ocasionado pelo hipoclorito
sendo 17,8% de proteína, 1,8% de cinzas, 1,9% de lipídeos e de sódio, uma vez que diversas sementes sofrem este tipo
78,5% de carboidratos totais. 9,30 Os resultados obtidos para de influência na quebra de sua dormência para evitar a
amostra padrão (controle), na base seca (Tabela 2), estão de germinação em ambientes desfavoráveis. 44
acordo com os encontrados na literatura. Após a hidratação, Ocorreu redução na quantidade de carboidratos to-
as sementes têm suas atividades metabólicas aumentadas, tais (Tabela 2) e aparentemente não houve interferência da
ocorrendo a quebra da dormência com a produção de uma sanitização. Lemar & Swanson26 encontram valores de car-
série de enzimas e substâncias bioquimicamente ativas. 44 boidratos totais de 71,58%, 70,38%, 69,96% para os tem-
As mudanças nutricionais ocorrem quando as proteínas, pos de germinação 0h, 24h e 72h respectivamente. Durante
carboidratos e lipídeos são transformados por enzimas em a germinação ocorre a quebra do amido em açúcares solú-
compostos simples que serão utilizados na respiração, na veis, através da atividade das enzimas α-amilase e maltase.
produção de novas células do embrião e no transporte de Esses açúcares são consumidos na respiração do grão, isso
nutrientes para broto. 44 causa a redução do teor de carboidratos totais e perda de
Em relação ao teor de proteínas na matéria seca (Ta- matéria seca. 44 Grãos integrais contêm carboidratos com-
bela 2), nota-se que houve aumento significativo (p≤0,05) plexos que possuem propriedades positivas no controle da

409
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

glicemia e redução de Hiperlipidemias. 47 Mesmo com a mostra-se uma forma interessante e barata de inserir este
redução de carboidratos no trigo germinado em relação à cereal integral na dieta.
amostra padrão ainda há grande quantidade de carboidra- A Figura 1 apresenta os valores de umidade do trigo
tos, fibras alimentares e amido. germinado. Observa-se que houve aumento significativo
Em vista da deficiência geral de alimentos com ele- (p≤0,05) em relação ao tempo, sendo que o maior aumento
vada qualidade nutricional e baixo custo, procedimentos de umidade ocorreu durante a hidratação. A sanitização não
simples e baratos que possam melhorar o valor nutricio- influenciou significativamente na absorção de água (Figu-
nal de alimentos facilmente disponíveis, como os cereais, ra 1). Esse aumento expressivo de umidade pode reduzir
a concentração de nutrientes em relação à matéria fresca.
podem ser interessantes. 33 Os resultados da composição
O trigo pode ser facilmente germinado em casa e consu-
centesimal do trigo germinado mostram que a germina-
mido in natura. O aumento da umidade, aproximadamente
ção é uma técnica interessante para aumentar os teores de
700%, afeta a concentração de nutrientes no trigo germina-
proteínas e lipídeos do trigo e permitir o consumo deste do quando consumido fresco. Na avaliação da composição
cereal integral de forma diferente das tradicionais. Miran- centesimal de alimentos, os teores de nutrientes são expres-
da33 estudou a produção de farinhas de trigo germinado e sos habitualmente sobre a matéria seca, neste trabalho, fo-
constatou melhora nas características nutricionais e boa es- ram apresentados os resultados de composição nutricional
tabilidade ao armazenamento. A utilização da germinação na matéria seca (Tabela 2) e na matéria fresca (Tabela 3)
de trigo para consumo doméstico, e para a comercialização, para considerar o efeito do conteúdo de água.

Tabela 2 – Efeito da sanitização e da germinação na composição centesimal, em %


matéria seca, do trigo germinado.
Não sanitizado Sanitizado
Proteínas % matéria seca (Nx5,83)
Amostra padrão (controle) 18,90±0,461c2
8h (hidratação) 20,48±0,43 bA3
22,06±0,81aA
32h 20,88±0,73 bA
2016±0,71cbA
56h 20,77±0,37 bA
22,00±1,08abA
80h 22,82±0,56 aA
22,38±0,34aA
104h 23,19±0,26 aA
21,82±0,45abA
Cinzas% matéria seca
Amostra padrão (controle) 1,99±0,10b
8h (hidratação) 2,22±0,08 abA
2,05±0,09 bA
32h 2,14±0,09cabA 2,16±0,07abA
56h 2,08±0,01cbA 2,25±0,03abA
80h 2,33±0,03aA 2,41±0,05aA
104h 2,18±0,08cabA 2,08±0,09bA
Lipídeos% matéria seca
Amostra padrão (controle) 1,79±0,02bc
8h (hidratação) 1,57±0,081bA 1,66±0,10cA
32h 1,48±0,06bA 1,84±0,14bcA
56h 2,65±0,07aA 1,97±0,02bA
80h 2,50±0,15aA 2,54±0,00aA
104h 2,46±0,22aA 2,62±0,00aA
Carboidratos totais% matéria seca
Amostra padrão (controle) 77,34
8h (hidratação) 75,70 74,21
32h 75,49 75,88
56h 74,48 73,76
80h 72,32 72,65
104h 72,15 73,46
1
Média ± desvio padrão; 2Letras minúsculas diferentes na vertical indicam diferença significa-
tiva (p≤0,05) para o tempo de germinação dos tratamentos; 3Letras maiúsculas diferentes na
horizontal indicam diferença significativa (p≤0,05) para o efeito da sanitização nos tratamen-
tos.4 Os valores de carboidratos foram calculados por diferença, de acordo com metodologia da
AOAC2, não sendo possível a realização de teste estatístico.

410
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

Com base na matéria fresca, em que é levado em soma das frações solúvel e insolúvel, podendo ser obser-
consideração o efeito da umidade, os teores de proteínas, vado nas Figuras 2 e 3 aumento dos teores de FAT com o
cinzas, lipídeos e carboidratos apresentaram diminuição tempo de germinação. O valor de FAT na amostra padrão
significativa comparativamente a amostra padrão (Tabela foi 19,2% da matéria seca (Figura 2), ficando acima dos
3). Esses valores devem ser levados em consideração quan- valores encontrados na bibliografia consultada. No estudo
do grãos germinados e brotos são incluídos na alimentação de Scarnot et al.41 os teores de fibra alimentar em farinha
para compor parte da dieta e fornecer nutrientes importan- integral de trigo sem germinar foram 11,7% de FAT sendo
tes para manutenção da saúde. O único componente que 10,1% de FAI e 1,6% de FAS (matéria seca).
apresentou menor redução, apesar da umidade crescente, Os teores de fibras encontrados apresentaram au-
foi o teor de lipídeos, observado no período compreendido mento significativo com o aumento do tempo de germina-
entre 32h e 56h de germinação no caso do grão não saniti- ção. O teor de FAT elevou-se em 14,5% até 104h de ger-
zado. Após esse pico, o teor de lipídeos na base fresca volta minação. Houve também aumento significativo nas frações
a cair devido à absorção de água pelo grão. solúveis e insolúveis das fibras, aumento mais expressivo
Com a absorção de água o trigo aumenta em volume na fração solúvel que atingiu 36% de aumento ao final da
e modifica suas características sensoriais. Assim, ele pode germinação, calculado sobre a matéria seca (Figuras 2 e 3).
ser consumido sem cocção ou moagem para transformá-lo Porém, esse aumento somente foi percebido após 80h de
em farinha. A germinação se mostra uma forma prática e germinação, visto que inicialmente os teores de fibras ali-
barata de melhorar as características nutricionais e senso- mentares reduziram (Figuras 2 e 3). Não houve influência
riais do trigo e aumentar o volume e o peso da matéria- estatística significativa da sanitização inicial nos valores de
prima. Neste sentido, países como China, Índia, Birmânia fibras alimentares no trigo germinado.
e Indonésia utilizam da germinação, e outras técnicas, tra- Os resultados encontrados (Figuras 2 e 3) coincidem
dicionalmente no cotidiano há muito tempo. 46 Do mesmo com o estudo de Koehler, 23 que demonstrou que a concen-
modo, a germinação está se tornando muito popular nos tração de FAT diminui nas primeiras 48h de germinação e
países ocidentais. O mais comum é consumir os grãos ger- esse efeito é mais pronunciado a temperaturas próximas de
minados em saladas e sucos. Vários grupos de alimentação 20°C. Após essa redução, a concentração de fibras aumen-
viva, crudívoros, vegetarianos, veganos, entre outros, con- ta, particularmente depois de 96 h. À temperatura de 25°C
somem e divulgam o trigo germinado. 14,45 Porém, neste o aumento na concentração de FAT foi acima de 25% de-
trabalho pode-se observar que as melhorias na composição pois de 102 h de germinação.23 Ainda segundo o estudo de
centesimal do trigo germinado são desprezíveis quando Koehler23, o crescimento de FAS foi mais acentuado depois
este é consumido in natura justamente por causa do aumen- de 96h de germinação. A temperatura ambiente à qual o
to do conteúdo de água, que implica em ganho de volume e trigo foi germinado, no presente estudo, variou entre 20-
redução da concentração dos macronutrientes. 22°C e o comportamento encontrado nos teores de fibras
Nas Figuras 2 e 3 são apresentados os teores de fi- foi o mesmo que no estudo de Koehler23. Dessa forma, para
bras alimentares insolúveis (FAI) e fibras alimentares so- se obter quantidades expressivas de fibras alimentares em
lúveis (FAS), obtidos com e sem sanitização dos grãos de trigo germinado são necessários períodos mínimos de 80h
trigo. Os valores de fibras alimentares totais (FAT) são a de germinação.

Valores sobre as colunas em Média ± desvio padrão, letras em sobrescrito indicam grupos de-
finidos pelo teste Tukey baseados em análise de variância (letras diferentes indicam diferença
significativa (p≤0,05) para o tempo de germinação dos tratamentos).
FIGURA 1 – Efeito da sanitização e da germinação na umidade do trigo germinado.

411
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

Tabela 3 – Efeito da sanitização e da germinação na composição centesimal, em % matéria


fresca, do trigo germinado.
Não sanitizado Sanitizado
Proteínas % matéria fresca (Nx5,83)
Amostra padrão (controle) 17,46±0,431a2
8h (hidratação) 12,52±0,26 bA3
12,47±0,46bA
32h 10,94±0,38cA 10,42±0,36cA
56h 9,14±0,16dA 9,40±0,46dA
80h 8,04±0,20eA 8,57±0,13dA
104h 7,50±0,08eA 7,54±0,15eA
Cinzas % matéria fresca
Amostra padrão (controle) 1,80±0,09a
8h (hidratação) 1,36±0,04 bA
1,16±00,05bA
32h 1,12±0,04cA 1,12±0,00bcA
56h 0,91±0,01dA 0,96±0,02dcA
80h 0,82±0,02deA 0,92±0,06dA
104h 0,70±0,02eA 0,72±0,03eA
Lipídeos % matéria fresca
Amostra padrão (controle) 1,62±0,01a
8h (hidratação) 0,96±0,05 cA
0,94±0,05bcA
32h 0,77±0,03dA 0,95±0,07bcA
56h 1,16±0,03bA 0,84±0,01cA
80h 0,88±0,05cdA 0,97±0,00bA
104h 0,79±0,07dA 0,90±0,00bcA
Carboidratos totais % matéria fresca
Amostra padrão (controle) 69,454
8h (hidratação) 46,29 42,00
32h 39,32 39,33
56h 32,81 31,54
80h 25,49 27,15
104h 23,38 25,42
1
Média ± desvio padrão; 2Letras minúsculas diferentes na vertical indicam diferença significativa (p≤0,05)
para o tempo de germinação dos tratamentos; 3Letras maiúsculas diferentes na horizontal indicam diferen-
ça significativa (p≤0,05) para o efeito da sanitização nos tratamentos. 4 Os valores de carboidratos foram
calculados por diferença, de acordo com metodologia da AOAC2, não sendo possível a realização de teste
estatístico.

O trigo germinado é uma alternativa para incentivar lio colônico para carcinoma. 5 A partir de um grande estudo
e aumentar o consumo de grãos integrais e a ingestão de epidemiológico Europeu, Bingham et al.5 propuseram que
fibras alimentares. Uma projeção da FAO 47 para países de o consumo de fibras alimentares é um dos mais importan-
renda média como Brasil e China aponta que a porcenta- tes fatores pensados para prevenir o câncer colorretal, com
gem de energia na dieta derivada de cereais cairá de 60% bem estabelecidos mecanismos biológicos envolvidos na
na década 1980 para níveis abaixo de 50% em 2030, com hipótese. O consumo máximo de FAT por dia encontrado
grandes implicações na saúde pública, particularmente pela pelos autores foi de 33,1g.5 Segundo a legislação brasileira,
consequente redução da ingestão de fibras alimentares e 6
portaria n. 27 da ANVISA de 1998, alimentos com valores
carboidratos complexos contidos nesses cereais. Grande de 3g de FAT por 100g de sólidos do alimento podem ser
parte desta tendência de queda é atribuída à redução da pre- considerados alimentos fonte de fibras. O trigo germinado
ferência alimentar por trigo e arroz. 47 se enquadra nessas características, apresentando 22% de
No intestino as fibras melhoram o trânsito intestinal FAT na base seca (Figura 2), ou seja, 22g/100g de sólidos
reduzindo o contato entre o conteúdo intestinal e a mucosa. do alimento.
Estimulam a fermentação anaeróbica de bactérias levando Nos grãos, as substâncias antinutricionais podem ter
à produção de ácidos graxos de cadeia curta (acetato, pro- efeitos positivos ou negativos. A forma de inativação e/ou
pionato e butirato) que reduzem o pH. O butirato pode re- a remoção desses fatores variam de acordo com a espécie
duzir a proliferação celular e induzir apoptose, fatores que e variedade. No entanto, a maioria dos estudos realizados
estão associados com a inibição da transformação do epité- sobre esse tema demonstra que a germinação dos grãos se

412
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

Valores sobre as colunas em Média ± desvio padrão, letras em sobrescrito indicam grupos definidos pelo
teste Tukey baseados em análise ANOVA (letras diferentes indicam diferença significativa (p≤0,05) para
o tempo de germinação dos tratamentos). Cada coluna inteira representa os valores de Fibras Alimenta-
res Totais, por serem a soma das frações solúvel e insolúvel.
FIGURA 2 – Efeito da germinação sobre os teores de fibras alimentares solúveis e insolúveis
do trigo germinado sem sanitização inicial.

Valores sobres as colunas em Média ± desvio padrão, letras em sobrescrito indicam grupos definidos pelo
teste Tukey baseados em análise ANOVA (letras diferentes indicam diferença significativa (p≤0,05) para
o tempo de germinação dos tratamentos). Cada coluna inteira representa os valores de Fibras Alimenta-
res Totais, por serem a soma das frações solúvel e insolúvel.
FIGURA 3 – Efeito da germinação sobre os teores de fibras alimentares solúveis e insolúveis
do trigo germinado sanitizado inicialmente.

constitui em um dos processos mais eficientes para redução quantidade de taninos <1,3mg/g. Nota-se que é necessá-
dos efeitos antinutricionais como, por exemplo, a redução ria a realização de estudos dos teores de taninos no trigo
de fitato. 29 com métodos mais sensíveis e precisos. Os cereais contém
Para análises de taninos das amostras de trigo, fo- quantidades muito pequenas de taninos, o que condiz com
ram testadas três concentrações de amostra/metanol (0,6; os resultados encontrados nesse estudo. 38 Grela18 detectou
1,2 e 1,5g em 25mL de metanol) para alcançar proporção por espectrometria, 2,02 mg/g de taninos em trigo integral,
suficiente para obter leitura no espectrofotômetro. Os valo- num estudo que avaliou antinutricionais em cereais, valor
res de absorbância detectados nesta análise ficaram abaixo esse muito próximo do limite de detecção da metodologia
do primeiro ponto da curva padrão, sendo esta uma curva já utilizada neste trabalho.
bem diluída. Sendo assim, não foi possível detectar o teor As análises de fitato foram realizadas após liofili-
de taninos pelo método utilizado de Price et al., 36 já que zação, homogeneização e armazenagem da amostra, os
os valores ficaram abaixo do limite de detecção, ou seja, resultados encontrados (Figura 4) apresentaram diferenças

413
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

significativas em relação ao tempo de germinação. Houve trigo germinado indicam que este alimento pode ter maior
redução do teor de fitato a cada tempo de análise, sendo biodisponibilidade de minerais. Menor teor de fitato é in-
mais acentuada após 56h de germinação no trigo sem pré- teressante também se o trigo germinado fizer parte de uma
tratamento com hipoclorito e após 32 horas no trigo sani- alimentação basicamente composta por vegetais, pois terá
tizado (Figura 4). Não houve diferença significativa para menor possibilidade de complexar os minerais dos outros
utilização do hipoclorito 1%, no entanto, o pré-tratamento alimentos. Isso é especialmente importante em dietas restri-
acelerou a hidrólise de fitato, após 32h até 80h de germina- tas, vegetarianas, veganas e crudívoras. Alta biodisponibi-
ção. A partir deste tempo houve aumento no teor de fitato lidade de minerais na alimentação é essencial em algumas
para o trigo pré-tratado. fases da vida, por exemplo, durante a gravidez e a fase de
Apesar de a fitase ficar inativa no cereal seco, quan- crescimento da criança. 12 No entanto, os alimentos com-
do a umidade aumenta, ela é ativada e sua atividade ótima plementares da dieta à base de cereais são geralmente ricos
ocorre a 55°C e pH 5,1. Desse modo, processos como hi- em fitato, resultando na redução da biodisponibilidade de
dratação e germinação frequentemente levam a degradação ferro, principalmente ferro não-heme, zinco e cálcio. 12,17
Desta forma, o trigo germinado poderá ampliar a participa-
do fitato e aumento na disponibilidade de minerais. As mu-
ção dos cereais na alimentação oferecendo menos substân-
danças nas atividades da fitase e o conteúdo de fitato em
cias antinutricionais do que se consumido sem germinar.
cereais foram determinados durante a germinação por Bar-
A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos com as
tnik & Szafranska. 3 Segundo estes autores, o teor de fitato
análises de minerais. Os teores de minerais encontrados va-
em trigo apresentou uma redução de 24% após 72 horas de riaram com o tempo de germinação, sem, contudo apresen-
germinação e a atividade da fitase no trigo aumentou apro- tar um padrão em relação ao tempo. Observa-se esse fato
ximadamente 4,5 vezes, após 4 dias de germinação. principalmente nos valores dos microminerais (Cu, Fe, Mn,
A interferência do hipoclorito no comportamento Zn) (Tabela 4). Lorenz30 e Chavan & Kadan9 consideraram
dos teores de fitato (Figura 4) pode ser devido à influência que a variação de minerais em trigo germinado em relação
dos íons formados no pH do meio, o que pode ter acelerado ao tempo é devido às perdas de matéria seca resultantes da
a atividade da enzima fitase. Estudo verificou redução de respiração da semente de trigo e que esse aumento é apa-
46% do fitato em grãos integrais de trigo após incubação rente. As alterações de matéria seca durante a germinação
em água, com pH entre 6 e 7, a 55°C, por 24 horas.15 Quan- ocorrem principalmente com a hidratação das sementes e
do tampão acetato, com pH 4,8, foi usado ocorreu a redu- a consequente degradação e oxidação dos componentes do
ção de 91%. O mesmo estudo apresentou redução de 84% grão para prover-lhe a energia e aumentar as funções meta-
no teor de fitato em grãos integrais de trigo após hidratação bólicas. 44 De acordo com Lintschinger et al.28 e Harmuth-
em tampão acetato, com pH 4,5, a 45°C, por 12h.15 Hoene et al.,20 dependendo do tipo de semente e das condi-
O fitato forma complexos com minerais e oligoele- ções da germinação, como a hidratação, lavagem e pureza
mentos in vitro e podem influenciar na biodisponibilidade da água utilizada, pode causar perda de minerais como K,
in vivo dos minerais. 12,17 Os menores teores de fitato no Ca e Mg e em elementos traço como Fe e Cu.

Letras indicam grupos definidos pelo teste Tukey baseados em análise ANOVA: 1Letras minúsculas diferentes indi-
cam diferença significativa para o tempo de germinação dos tratamentos no nível de 5%; 2Letras maiúsculas diferen-
tes indicam diferença significativa para o uso de hipoclorito nos tratamentos no nível de 5%.
FIGURA 4 – Efeito da sanitização e da germinação no teor de fitato do trigo, em % matéria seca.

414
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

Tanto a perda de matéria seca e consequente con- Nas Figuras 5-a, 5-b, 5-c e 5-d encontram-se os re-
centração dos minerais quanto a perda dos minerais pela sultados de disponibilidade de Ca, Fe, Zn e Mg durante as
água utilizada podem ter influenciado os resultados de mi- germinação e o efeito da sanitização. Na Tabela 5 estão as
nerais e disponibilidade de minerais. Deve ser levado em correlações fitato: disponibilidade de minerais. Nota-se o
consideração também a influência dos íons de cloro devido aumento da disponibilidade de Ca, Fe e Zn (Figuras 5-a,
à sanitização. Estas podem ser as causas das variações en- 5-b, 5-c), e a diminuição da disponibilidade de Mg (Figura
contradas. Este efeito pôde ser percebido quando compara- 5-d). Estudos mostraram que a disponibilidade de minerais
do o uso da sanitização inicial pelo teste estatístico. Houve em grãos germinados tende a aumentar devido principal-
evidências estatísticas de que o tratamento provoca interfe- mente à degradação de fitato. 29 Ghavidel & Prakash 17 de-
rência nos casos do K, Fe e Mn (Tabela 4). Os teores desses
monstraram que há correlação de 0,999 entre aumento da
elementos são menores no trigo que foi sanitizado inicial-
disponibilidade de ferro e cálcio e a redução de ácido fítico.
mente indicando possível efeito do hipoclorito (Tabela 4).
Peres et al.35 apontam a forte atividade corrosiva do cloro No trigo germinado espera-se que a disponibilidade de mi-
sobre o ferro e outros minerais, que pode formar cloretos, nerais aumente inversamente proporcional ao teor de fitato.
cloritos e hidróxidos em meio aquoso que se precipitam em No caso do Zn, Ca e Fe o aumento da disponibilidade foi
água. Os resultados encontrados ficaram de acordo com os significativo em relação ao tempo de germinação (Figuras
valores encontrados por Ranhotra et al.37 e por Lintschinger 5-a, 5-b, 5-c). Os resultados demonstraram que houve boa
et al.28 em trigo germinado sem sanitização. correlação (Tabela 5) entre teor de fitato: disponibilidade de

Tabela 4 – Efeito da sanitização e da germinação no perfil de minerais em trigo germinado.

Amostra padrão Trigo germinado sem sanitização


(controle)4 8h 32h 56h 80h 104h
Macrominerais g/
Kg
1 2 3
P 4,15±0,03 e A 4,92±0,02cA 4,56±0,03 dA 5,14±0,04 aA 4,94±0,02 bcA 5,04±0,04 bA
K 3,55±0,04bA 3,84±0,04 aA 3,36±0,03 cA 3,84±0,03 aA 3,52±0,03 bA 3,55±0,01 bA
Ca 0,21±0,01 cA 0,33±0,01 aA 0,26±0,02 bcA 0,36±0,02aA 0,31±0,01 abA 0,33±0,02 aA
Mg 1,23±0,03 cA 1,53±0,04 bA 1,32±0,02 cA 1,72±0,02 aA 1,64±0,03 aA 1,53±0,04 bA
S 1,14±0,04 dA 1,43±0,04 bcA 1,33±0,02 cA 1,43±0,03 bcA 1,44±0,04 bA 1,56±0,02 aA
Microminerais
mg/Kg
Cu 4,04±0,04 fA 4,93±0,03 dA 4,83±0,02 eA 5,30±0,01 bA 5,07±0,02 cA 5,82±0,02 aA
Fe 46,84±0,04 fA 52,03±0,01 eA 57,75±0,04 dA
69,82±0,02 aA
58,84±0,04 cA 68,11±0,01 bA
Mn 57,02±0,02 dA 57,85±0,04 cA 64,63±0,03 aA
54,64±0,04 fA
56,53±0,02 eA 60,13±0,03 bA
Zn 36,62±0,02 fA 42,55±0,02 bA 40,05±0,02 eA
45,33±0,03 aA
41,74±0,04 dA 42,34±0,04 cA
Amostra padrão Trigo germinado com sanitização inicial
(controle)4 8h 32h 56h 80h 104h
Macrominerais g/
Kg 1 2 3
4,15±0,03 e A 4,83±0,01 cA 5,03±0,01 aA 4,75±0,03 dA 4,95±0,02 bA 4,83±0,02 cA
P
3,55±0,04aB 3,54±0,03 aB 3,56±0,01 aB 3,33±0,02 bB 3,55±0,03 aB 3,33±0,01bB
K
0,21±0,01 cA 0,35±0,04 aA 0,37±0,02 aA 0,27±0,02 bcA 0,26±0,02 bcA 0,31±0,01 abA
Ca
1,23±0,03 cA 1,54±0,04 abA 1,63±0,03 aA 1,46±0,03 bA 1,51±0,01 bA 1,52±0,02 bA
Mg
1,14±0,04 dA 1,24±0,03 cA 1,34±0,02 bA 1,15±0,03 dA 1,76±0,03 aA 1,23±0,02 cA
S

Microminerais
mg/Kg 4,04±0,04 eA 5,14±0,03 cA 5,86±0,04 aA 4,53±0,03 dA 5,24±0,03 bA 4,53±0,02 dA
Cu 46,84±0,04 fB 49,95±0,03 eB 52,61±0,02 aB 51,12±0,02 bB 50,71±0,02 cB 50,44±0,04 dB
Fe 57,02±0,02 bB 53,72±0,01 eB 56,32±0,02 cB 54,04±0,03 dB 57,12±0,02 bB 59,36±0,03 aB
Mn 36,62±0,02 fA 41,16±0,03 eA 44,51±0,01 bA 41,95±0,04 dA 45,03±0,03 aA 42,93±0,03 cA
Zn
1
Média ± desvio padrão; 2Letras minúsculas diferentes na horizontal indicam diferença significativa (p≤0,05) para o tempo de germinação
nos minerais; 3Letras maiúsculas diferentes na vertical indicam diferença significativa (p≤0,05) para o efeito da sanitização nos minerais.
4
Trigo sem germinação e sanitização, portanto os valores são idênticos

415
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

minerais o que coincide com os resultados encontrados na imersão em água com posterior aumento até as últimas ho-
bibliografia consultada. 15 Apesar de haver alguns valores ras germinação (Figura 5-d). A correlação fitato: disponibi-
discrepantes em tempos de germinação específicos, a sani- lidade de Mg não foi significativa (Tabela 5), este resultado
tização não apresentou influência significativa na disponi- também foi inesperado. Não foi encontrado estudos da dis-
bilidade de Ca, Zn e Mg, avaliada pela análise de variância ponibilidade de Mg em trigo germinado e poucos estudos
e teste de Tukey (Figuras 5-a, 5-c e 5-d). sobre a disponibilidade desse mineral em plantas e seus in-
Somente a disponibilidade de Fe no trigo germinado terferentes. Em recente revisão, Kumar et al.24 afirmou que
sanitizado sofreu interferência significativa do tratamento estudos sobre os efeitos/interação de fitato, Mg2+, Mn2+ e
(Figura 5-b), neste caso o resultado não apresentou alta cor- Cu2+ da dieta são limitados.
relação fitato: disponibilidade de Fe (Tabela 5). O mesmo A estabilidade e solubilidade dos complexos forma-
ocorreu para o valor total de ferro na amostra (Tabela 4). dos com fitato são dependentes do pH, da carga individual
Podem acontecer perdas de minerais como o Fe devido a dos cátions no meio, da proporção fitato:cátion e da presen-
pureza da água. A presença de íons Cl- pode promover a ça de outros compostos na solução. Por exemplo, comple-
formação outros compostos e interferir na complexação xos de Ca2+, Zn2+ e Cu2+ são mais solúveis em pH abaixo
dos metais com o fitato e consequentemente a quantidade de 4-5, enquanto Mg-fitato é mais solúvel em pH acima
de mineral dialisado poderá ser menor. 28, 35 de 7,5.24 Estes interferentes podem ser alguns dos motivos
A análise de disponibilidade de Mg resultou em para a queda inicial da disponibilidade de Mg.
comportamento diferente do esperado (Figura 5-d). Sua Outra explicação plausível pode estar no processo
disponibilidade apresentou queda acentuada após 8h de bioquímico de germinação intrínseco da própria planta,

Letras indicam grupos definidos pelo teste Tukey baseados em análise ANOVA: 1Letras minúsculas diferentes indicam diferença sig-
nificativa para o tempo de germinação dos tratamentos no nível de 5%; 2Letras maiúsculas diferentes indicam diferença significativa
para o uso de hipoclorito nos tratamentos no nível de 5%;
FIGURA 5 – a) Efeito da sanitização e da germinação na disponibilidade de Ca em trigo germinado. b) Efeito da
sanitização e da germinação na disponibilidade de Fe em trigo germinado. c) Efeito da sanitização e da germinação
na disponibilidade de Zn em trigo germinado. d) Efeito da sanitização e da germinação na disponibilidade de Mg em
trigo germinado.

416
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

Tabela 5 – Correlação entre redução de Fitato e aumento da dispo-


nibilidade de Ca, Zn, Fe e Mg em trigo germinado.
Correlação fitato/disponibilidade de minerais
Trigo não sanitizado Trigo sanitizado
-0,9372 1
-0,9679
Ca
0,00582 0,0015
-0,9241 -0,9021
Zn
0,0084 0,0139
-0,9308 -0,8510
Fe
0,0070 0,0316
ns3 ns
Mg
0,3344 0,5694
1
Coeficiente de correlação de Pearson ( r ).
2
Significativo (p<0,05). 3 Não significativo (p<0,05)

como o transporte desse mineral e alocação do mesmo para de trigo germinado por 104h, encontrando 1,03mg/100g
produção de clorofila e regulação de processos metabóli- e 1,74mg/100g com 13% e 10% de disponibilidade res-
cos. O processo de inserção de Mg2+ no anel porfirínico da pectivamente (Figuras 5-a e 5-b). Estes valores não atin-
clorofila é catalisado por enzimas com propriedades que- gem os mínimos necessários, segundo a portaria n° 27 de
lantes, como a Mg2+-quelatase. Esse processo ocorre con- 19986 e a Resolução nº 360 de 20037 da ANVISA, de 15%
tinuamente na planta, mas é mais intenso na germinação, da IDR de cada mineral para ser denominado alimento
quando a planta irá iniciar a sua produção de clorofila. 42 fonte destes minerais. Somente o teor de Zn em mg/100g
Zeng et al.48 estudaram a distribuição subcelular de Mg e de trigo germinado por 104h, calculado com os dados ob-
outros minerais em plântulas de arroz, seus resultados apre- tidos, sendo 1,48mg/100g, atinge o mínimo de 15 % da
sentaram que o Mg se encontra principalmente na parede IDR6 de 7mg/dia7, mas com baixa disponibilidade de 15%
celular de raiz, caule e folhas e possui baixa fração solúvel. (Figura 5-c).
Esses fatores poderiam dificultar a digestão e solubilização
do Mg em grãos germinados.
CONCLUSÃO
O método desenvolvido por Luten et al.31 possibi-
lita inferir sobre a biodisponibilidade dos minerais conti- A germinação propicia ganhos nutricionais, com
dos no trigo germinado, porém, a metodologia avalia in destaque para o aumento do teor de proteínas, fibras solú-
vitro a proporção de mineral que atravessa a membrana veis e insolúveis e a redução do teor de fitato com conse-
celulósica, com poros de diâmetro 10000DA, após simu- quente aumento da disponibilidade de Ca, Fe e Zn. O trigo
lação gastrointestinal. Devido à complexidade da matriz germinado pode ser considerado alimento fonte de Fibras
são necessários estudos in vivo para adequada aferição da e de Zn. No caso do Mg houve redução da disponibilidade,
sua biodisponibilidade de minerais e para averiguar se há este é um aspecto negativo, pouco compreendido, da ger-
efeito relevante da germinação na disponibilidade de mi- minação do trigo e necessita ser melhor estudado.
nerais, em especial o Mg. Os resultados encontrados apontaram interferências
Segundo a Organização Mundial de Saúde47 a fal- pouco relevantes em relação à sanitização inicial realiza-
ta de minerais na dieta, principalmente Ca, Fe, Zn e Mg, da para os parâmetros avaliados. Os conteúdos de K, Fe e
pode causar atraso no crescimento e desenvolvimento fí- Mn reduziram levemente com a sanitização, possivelmente
sico e mental. Ainda segundo a OMS, 47 o adequado apor- pela ação oxidante do hipoclorito sobre os grãos. A saniti-
te destes mesmos minerais está relacionado com a menor zação pode ser utilizada na produção de trigo germinado,
incidência de doenças crônicas. Ingestão insuficiente de visto que as alterações encontradas foram pouco importan-
micronutrientes ocorre principalmente em grupos vulne- tes. Está em desenvolvimento, dentro do mesmo projeto de
ráveis de países em desenvolvimento. 47 E é exatamente pesquisa, o estudo da eficácia da sanitização do ponto de
para estes grupos que a germinação de grãos vem sendo vista da segurança alimentar.
divulgada como forma de transformar os grãos e cereais O presente trabalho permitiu avaliar a influência da
em “superalimentos”.14, 45 Calculando-se a quantidade de sanitização e germinação em algumas características nutri-
Mg/100g de trigo germinado in natura, a partir dos da- cionais do trigo. Pôde-se identificar que o trigo germinado
dos de teor de Mg (Tabela 4) e umidade (Figura1), têm-se possui características nutricionais positivas e que seu con-
5,18mg/100g de trigo geminado por 104h, com aproxima- sumo deve ser estimulado. As alterações obtidas fazem com
damente 30% de disponibilidade (Figura 5-d). Da mes- que o trigo ganhe em qualidade nutricional quando germi-
ma forma, foi calculado o valor de Ca e de Fe em 100g nado e permitem o consumo do grão integral. Por haver

417
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

grande absorção de água com a germinação, ao recomendar 3. BARTNIK, M.; SZAFRANSKA, I. Changes in phytate
este tipo de alimento para compor uma dieta, é preciso le- content and phytase activity during the germination of
var em consideração o seu consumo in natura. Portanto, a some cereals. J. Cereal Sci., v. 5, n. 1, p. 23-28, 1987.
composição nutricional deverá ser baseada na matéria fres-
4. BAU, H. M. et al. Effect of germination on chemical
ca. Por isso, é preciso cautela ao utilizar o trigo germinado
composition, biochemical constituents and antinutritional
para compor a alimentação de grupos com dietas restritas
factors of soya bean (Glycine max) seeds. J. Sci. Food
como vegetarianos, veganos e crudívoros.
Agric., v. 73, p. 1-9. 1997.
5. BINGHAM, S. A. et al. Dietary fibre in food and
AGRADECIMENTOS protection against colorectal cancer in the European
Prospective Investigation into Cancer and Nutrition
Á Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –
(EPIC): an observational study. Lancet, v. 361,
Embrapa Trigo, pela doação das sementes utilizadas no
p. 1496-1501, 2003.
estudo.
6. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. Portaria n. 27, de 13 de janeiro
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Effect de 1998. Aprova o regulamento técnico referente à
of germination and sanitization on centesimal composition, informação nutricional complementar. Diário Oficial
dietary fiber, fitate, tannins and minerals availability in [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 16
wheat. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jan. 1998. Disponível em: http://e-legis.bvs.br/leisref/
jul./set. 2011.
public/php/home.php. Acesso em: 02 abr. 2005.
7. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
ABSTRACT: Germination is a complex biochemical Vigilância Sanitária. Resolução – RDC n. 360, de 23 de
process that occurs with the seeds, it is a natural way to dezembro de 2003. Aprova o regulamento técnico sobre
improve the nutritional quality and is being widely used a rotulagem nutricional de alimentos embalados. Diário
in recent decades because it is a very old practice, simple Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
and economical. Wheat (Triticum spp.) is among the grains
26 dez. 2003. Disponível em: http://e-legis.bvs.br/leisref/
more produced and consumed in the world, in many regions
public/php/home.php. Acesso em: 02 abr. 2005.
is the main source of carbohydrates, proteins, minerals
and vitamin B. During germination of wheat can occur 8. CALZUOLA, I.; MARSILI, V.; GIANFRANCESCHI,
growth of microorganisms and sanitization can be used. G. L. Synthesis of antioxidants in wheat sprouts.
The aim of this study was to determine the influences of J. Agric. Food Chem., v. 52, p. 5201-5206, 2004.
germination and sanitization in centesimal composition,
9. CHAVAN, J.K.; KADAM, S.S. Nutritional Improvement
fiber content, phytate, tannins, minerals and availability of
Ca, Fe, Zn and Mg in wheat. Were germinate wheat variety of cereals. Crit. Rev. Food Sci., v. 28, p. 401-437,
BRS-Tarumã with and without sanitization. The samples 1989.
were collected for analysis, from the initial immersion 10. CONCEIÇÃO, P.; MENDONZA, R. U. Anatomy of
of grains in water for hydration, after 8h, 32h, 56h, 80h the Global Food Crisis. Third World Quart., v. 30,
and 104h. The study found no relevant interference in the p. 1159-1182, 2009.
nutritional characteristics by initial sanitization performed.
It was possible to characterize nutritionally germinated 11. DALBY, A.; TSAI, C. Y. Lysine and tryptophan
wheat and pointing out the nutritional gains, highlighting increases during germination of cereal grains. Cereal
the increased content of soluble and insoluble fibers and Chem., v. 53, p. 222-226, 1976.
reduced phytate content with consequent increase of 12. EGLI, I. et al. The influence of soaking and germination
mineral availability. The results indicate that germination on the phytase activity and phytic acid content of grains
improves the nutritional quality of wheat grains. and seeds potentially useful for complementary feeding.
J. Food Sci., v. 67, p. 3484-3488, 2002.
KEYWORDS: Phytic acid; proximal composition;
availability; minerals; fiber; germination. 13. ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ
DE QUEIROZ”. Estação meteorológica automática:
dados meteorológicos diários. Piracicaba: Departamento
REFERÊNCIAS de Ciências Exatas/ ESALQ/USP, 2008. Disponível em:
http://www.lce.esalq.usp.br/automatica/pagina5.htmL.
1. ASP, N.G. et al. Rapid enzymatic assay of insoluble
and soluble dietary fiber. J. Agric. Food Chem., v. 31, Acesso em: 02 fev. 2008.
p. 476-482, 1983. 14. FEDERMAN, S. Culinária para prevenção do câncer
2. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL (segundo as diretrizes da Organização Mundial de
CHEMISTS. Official methods of analysis. 16th ed. Saúde). Teresina: Fundação Maria Carvalho Santos,
Washington, DC. 1995. methods. 2004. 80p.

418
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

15. FREDLUND, K. et al. Phytate reduction in whole 30. LORENZ, K. Cereal sprouts: composition, nutritive
grains of wheat, rye, barley and oats after hydrothermal value, food applications. Crit. Rev. Food Sci., v. 13,
treatment. J. Cereal Sci., v. 25, p. 83-91, 1997. p. 353-385, 1980.
16. GALLESCHI, L. et al. Antioxidants, free radicals, 31. LUTEN, J. et al. Interlaboratory trial on the determination
storage proteins, and proteolytic activities in wheat of the in vitro iron dialysability from food. J. Sci. Food
(Triticum durum) seeds during accelerated aging. Agric., v. 72 p. 415-424, 1996.
J. Agric. Food Chem., v. 50, p. 5450-5457, 2002. 32. MIRANDA, M. Z. Trigo: germinação e posterior
17. GHAVIDEL, R. A.; PRAKASH, J. Impact of extrusão para obtenção de farinha integral extrusada de
germination and dehulling on nutrients, antinutrients, in trigo germinado. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2006.
vitro iron and calcium bioavailability and in vitro starch (Documentos Online, 74). Disponível em: http://www.
and protein digestibility of some legume seeds. LWT - cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do74.htm, Acesso em: 10
Food Sci. Technol., v. 40 p. 1292-1299, 2007. nov. 2009.
18. GRELA, E. R. Nutrient composition and content of 33. MIRANDA, M. Z.; EL-DASH, A. Farinha integral
antinutritional factors in spelt (Triticurn spelta L) de trigo germinado. Características nutricionais e
cultivars. J. Sci. Food Agric., v. 71, p.399-404, 1996. estabilidade ao armazenamento. Ciênc. Tecnol.
Aliment., v. 22, p. 216-223, 2002.
19. GRYNSPAN, F.; CHERYAN, M. Phytate-calcium
interactions with soy protein. J. Am. Oil Chem. Soc., 34. MOSTAFA, M. M.; RAHMA, E. H.; RADY, A. H.
Chemical and nutritional changes in soybean during
v. 66, p. 93-97, 1989.
germination. Food Chem., v. 23, p. 257-275, 1987.
20. HARMUTH-HOENE A.E. et al. The influence of
35. PERES, F. A. S. et al. Tratamento de águas de
germination on the nutritional value of wheat, mung
refrigeração com peróxido de hidrogênio. Quim. Nova,
beans and chickpeas. Z. Lebensm. Unters F. A., v. 185,
v. 31, p. 1851-1855, 2008.
p. 386-393, 1987.
36. PRICE, M. L.; HAGERMAN, A. E.; BUTLER, L. G..
21. HERNOT, D. C. et al. In vitro digestion characteristics
Tannin content of cowpeas, chickpeas, pigeon peas, and
of unprocessed and processed whole grains and mung beans. J. Agric. Food Chem., v. 28, p. 459-461,
their components. J. Agric. Food Chem., v. 56, 1980.
p. 10721-10726, 2008.
37. RANHOTRA, G. S.; LOEWE, R. J.; LEHMANN, T.
22. HOTZ, C.; GIBSON, R.S. Traditional food-processing A. Breadmaking quality and nutritive value of sprouted
and preparation practices to enhance the bioavailability wheat. J. Food Sci., v. 42, p. 1373-1375, 1977.
of micronutrients in plant- based diets. J. Nutr., v. 137,
p. 1097-1100, 2007. 38. REDDY, N. R. et al. Dry bean tannins: A review of
nutritional implications. J. Am. Oil Chem. Soc., v. 62,
23. KOEHLER, P. et al. Changes of folates, dietary fiber, p. 541-549, 1985.
and proteins in wheat as affected by germination.
39. SAMPATH, S. et al. Effect of germination on
J. Agric. Food Chem., v. 55, p. 4678-4683, 2007.
oligosaccharides in cereals and pulses. J. Food Sci.
24. KUMAR V. et al. Dietary roles of phytate and phytase Technol., v. 45, p. 196-198, 2008.
in human nutrition: a review. Food Chem., v. 120,
40. SARRUGE, J. R.; HAAG, H. P. Análise química em
p. 945-959, 2010
plantas. Piracicaba: ESALQ-USP, 1974. 56p.
25. LEHNER, A. et al. Changes in wheat seed germination
41. SCARNOT, E. et al. Quantitative and qualitative study
ability, soluble carbohydrate and antioxidant enzyme of spelt and wheat fibres in varying milling fractions
activities in the embryo during the desiccation phase of Food Chem., v. 122 p. 857-863, 2010.
maturation. J. Cereal Sci., v.43, p. 175–182, 2006.
42. SHAUL, O. Magnesium transport and function in plants:
26. LEMAR, L. E.; SWANSON, B. G. Nutritive value of the tip of the iceberg. BioMetals, v. 15, p. 309-323,
sprouted wheat flour. J. Food Sci., v. 41, p. 719-720, 2002.
1976.
43. SIERRA, I.; VIDAL-VALVERDE, C. Kinetics of free
27. LIMA, V. L. A. G. et al. Fenólicos totais e atividade and glycosylated B6 vitamers, thiamin and riboflavin
antioxidante do extrato aquoso de broto de feijão-mungo during germination of pea seeds. J. Sci. Food Agric.,
(Vigna radiata L.). Rev. Nutr., v. 17, p. 53-57, 2004. v. 79, p. 307-310, 1999.
28. LINTSCHINGER, J. et al. Uptake of various trace 44. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology. 4th ed.
elements during germination of wheat, buckwheat and Washington, DC: Sinauer Associates Inc., 2006. 705 p.
quinoa. Plant Food Hum. Nutr., v. 50, p. 223-237,
45. TERRAPIA projeto. Alimentação viva na promoção
1997.
da saúde. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde
29. LOPEZ, W.H. et al. Minerals and phytic acid interactions: Pública (ENSP). Disponível em: http://www4.ensp.
is it a real problem for human nutrition? Inter. J. Food fiocruz.br/terrapia/?q=apresenta%C3%A7%C3%A3o.
Sci. Technol., v. 37, p. 727-739, 2002. Acesso em: 04 dez. 2010.

419
BERNI, P. R. A.; CANNIATTI-BRAZACA, S. G. Efeito da germinação e da sanitização sobre a composição centesimal, teor de fibras
alimentares, fitato, taninos e disponibilidade de minerais em trigo. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 3, p. 407-420, jul./set. 2011.

46. VIDAL-VALVERDE, C. et al. New functional legume 48. ZENG, F. et al. Effects of chromium stress on the
foods by germination: effect on the nutritive value subcellular distribution and chemical form of Ca, Mg,
of beans, lentils and peas. Eur. Food Res. Technol., Fe, and Zn in two rice genotypes. J. Plant Nutr. Soil
v. 215, p. 472-477, 2002. Sci., v. 173, p. 135-148, 2010.
49. ZIELINSKI, H. et al. The effect of germination process
47. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Diet, nutrition
on the superoxide dismutase-like activity and thiamine,
and the prevention of chronic diseases. In: JOINT riboflavin and mineral contents of rapeseeds. Food
WHO/FAO EXPERT CONSULTATION, 2003, Chem., v. 99, p. 516-520, 2006.
Geneva. Report… Geneva, 2003. (Technical Report
Series, 916). Recebido em: 03/07/2010

Aprovado em: 04/01/2011

420

Você também pode gostar