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ESQUIZOANÁLISE E BIOPOLÍTICA

1. Ementa;

O grande projeto da modernidade é colocar ordem às coisas, organizar,


identificar, conjuntizar, codificar, etc, com o fim de suprimir aquilo
que é caos, ambivalência, ambigüidade e paradoxo. E nesse projeto as
Instituições Sociais, como o Estado, a religião e a Universidade,
tiveram papel importantíssimo na medida em que categorizavam e
codificavam leis, normas, crenças, condutas, valores, conhecimentos e
conceitos. E não só “coisas” eram codificadas e normatizadas, não só o
território e as finanças foram sujeitos ao poder de gestão do Estado e
de suas instituições; na Idade Moderna a vida humana
(biós) também adentra na esfera do Estado, onde a política adota poder
sobre a vida, gerencia a vida, tornando-se o que autores contemporâneos
chamam de biopolítica. Dessa forma, o Estado torna-se biopolítico, tal
como as Ciências Humanas também; a prática do psicólogo nas políticas
públicas, nas instituições e na clínica é preponderantemente
biopolítica. No que importa reconhecer a faceta biopolítica do
psicólogo? Que logicamente não só influem para o indivíduo e a sociedade
suas teorias e técnicas psicológicas, mas que o psicólogo torna-se um
agente biopolítico de produção tanto de vida quanto de morte.
Para complexificar a questão estamos num outro momento que
chamam de pós-modernidade, ou modernidade líquida, ou modernidade
despedaçada. A idéia central disso que chamam de “pós-modernidade” é o
momento em que se transita numa crise de valores e de códigos, em que a
velocidade e o trânsito se aceleram e “aquilo que era sólido se
desmancha no ar”, ou seja a estática dá lugar ao movimento, a matéria ao
fluido, a identidade à mudança, a repetição à diferença, o código ao
fluxo. Transformações nos valores sociais, desenvolvimento científico
vertiginoso, crise no Estado, nas Instituições sociais, na sexualidade e
gerenciamento do movimento e da vida são elementos desse período chamado
de pós-modernidade.
2. Objetivos;

Dessa forma, a partir da Esquizoanálise e de seus conceitos pretendemos


fazer uma leitura dessas transformações sociais e da irrupção do
biopolítico. Pretendemos utilizar a Esquizoanálise enquanto “caixa de
ferramentas” teórica que possibilite uma compreensão dos fenômenos
psico-sociais-históricos-biopolíticos e como conjunto de dispositivos de
intervenção que possibilite uma prática klínica grupal e institucional.
A Esquizoanálise é um campo de saberes ubíquo, resultado do encontro do
filósofo Gilles Deleuze e do psicanalista-militante Félix Guattari e que
vem influenciando muito as correntes de análise institucional e a
psicologia clínica no Brasil, mas infelizmente quase não é lecionada nas
Instituições de Ensino Superior. A principal obra desses autores é
“Capitalismo e Esquizofrenia” que é dividida em dois tomos: “O
Anti-Édipo” (1972) e “Mil Platôs” (1980). Nessa obra, fazem a relação
entre psiquismo e sociedade a partir do par esquizofrenia-capitalismo e
não mais no conhecido neurose-família, como é trabalhado na psicanálise.
Dessa nova relação desdobra-se uma nova conceituação sobre o
inconsciente (enquanto usina e não como teatro), o desejo (como produção
e não como falta), conceitos novos como a micropolítica, o rizoma, o
corpo sem órgãos, as máquinas desejantes, a transversalidade, as linhas
molares, moleculares e de fuga, o esquizodrama (campo desenvolvido por
G. Baremblitt), etc, e um novo paradigma: o ético-estético-político.

3. Conteúdo programático;

Plano de Aula

1a. Parte
- O projeto iluminista, a codificação do fluxo social e o
pós-modernismo
- Política, micropolítica e biopolítica
- Esquizoanálise: histórico e alguns conceitos
- O Capitalismo e o esquizo
- A descodificação do fluxo e a axiomatização do Capital
- Crítica à psicanálise e ao conceito de Édipo

2a. Parte

- Artaud e o Teatro da Crueldade


- O Corpo sem Órgãos
- Agenciamentos e dispositivos: O que é um dispositivo?
- Esquizodrama e a Psicologia

- Vivência em um dispositivo do esquizodrama (se tivermos até 35


inscritos)

4. Metodologia de ensino;
O curso será teórico-prático, tendo espaço para discussão e nas últimas
duas horas haverá a vivência de um dispositivo do Esquizodrama (se
tivermos até 35 inscritos).

5. Recursos didáticos;
Lousa e giz.

6. Bibliografia;

AGAMBEN, G. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte:


Ed. UFMG, 2004.

BAREMBLITT, G. Psicoanális y esquizoanalisis (um ensayo de comparación


crítica). Buenos Aires: Ediciones Madres de Plaza de Mayo, 2004.

BAREMBLITT, G. Introdução à esquizoanálise. Belo Horizonte: Inst. Félix


Guattari, 2002.

BAREMBLITT, G.F. Diez proposiciones descartables acerca del


esquizodrama.
(mimeog.)

DELEUZE, Gilles. Qu'est-ce qu'un disposif? IN Michel Foucault


philosophe. Rencontre internationale. Paris 9, 10, 11 janvier 1988.
Paris, Seuil. 1989.

DELEUZE, G. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992.

DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

DELEUZE, G & GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, Vols.


1 a 5. São Paulo, 34, 1997.

GUATTARI, F. A Revolução Molecular. São Paulo: Brasiliense, 1981.

PELBART, P.P. Vida Capital: Ensaios sobre biopolítica. São Paulo:


Iluminuras, 2003.

7. Carga horária; 6h

8. Número de vagas: 100

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