É claro no querer; Indiferente ao que há em conseguir Que seja só obter; Dúplice dono, sem me dividir, De dever e de ser —
Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus. Assim vivi, assim morri, a vida, Calmo sob mudos céus, Fiel à palavra dada e à ideia tida. Tudo o mais é com Deus!
1. Faz a caracterização de D. Pedro, tendo em conta a primeira estrofe.
2. Determina a expressividade das formas verbais “conseguir “ e “ obter”. 3. Refere a questão apontada no poema que determina a fatalidade do sujeito poético. 4. Identifica características épico-líricas no poema. D. Pedro era o filho preferido do rei, pelo que teve a oportunidade de receber uma educação excepcional para a época em que vivia. Isto transformou-o num amante da cultura, e levou-o a querer trazer mudanças para a pátria através das letras, formando uma ideia de Império Espiritual (o tal Quinto Império). Nos dois primeiros versos do poema, Fernando Pessoa, que fala através de D. Pedro, dá-nos a conhecer as características que mais destacavam esta figura: a sua paixão pela cultura, a sua grande honestidade, e o facto de ser uma pessoa extremamente ambiciosa e decidida, que sabe o que quer e vai obtê-lo, independentemente do que possa ter a ganhar. Isto porque D. Pedro, ao planear o futuro da pátria, não pensava no que era melhor para si, mas sim o que era melhor para aqueles que estavam sob as suas ordens. Mas, apesar de não ser ganancioso, a sorte escolhia não o proteger, pois não o considerava um dos seus. No entanto, ele não se importava com isso. Assim sabia que tudo o que conseguiu alcançar foi fruto do seu trabalho árduo e da sua vontade, e não mera sorte. Era um homem honrado, de convicções fortes, sabia o rumo a tomar, e lutou pelas suas crenças até à morte, mantendo-se sempre fiel a si mesmo. Por isso mesmo morreu em paz, sabendo que nunca se desviou do destino que Deus lhe ofereceu, e tudo o que lhe aconteceu de mal foi por Sua vontade, podendo então ser lembrado para sempre como uma lenda ou mito.