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Índice

CAPÍTULO UM
Pedro: uma liçã o sobre cair e subir
CAPÍTULO DOIS
Judas: uma liçã o sobre autopiedade
CAPÍTULO TRÊ S
Pilatos: uma liçã o sobre poder político
CAPÍTULO QUATRO
Herodes: uma liçã o sobre amor pró prio
CAPÍTULO CINCO
Clá udia e Herodias: uma liçã o sobre opostos
CAPÍTULO SEIS
Barrabá s e os ladrõ es: uma liçã o sobre a verdadeira liberdade
CAPÍTULO SETE
As cicatrizes de Cristo: uma liçã o sobre fé duradoura
Outros títulos Liguori/Triunfo de Fulton J. Sheen:

Do quadro negro do anjo


Levante seu coração
Paz da Alma
Verdades Simples
A Cruz e as Bem-Aventuranças
Sete Palavras de Jesus e Maria
Personagens
DO
Paixão
LIÇÕES
sobre

e
CONFIANÇA
F ULTON J. S HEEN
Publicado por Liguori/Triumph
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Sheen, Fulton J. (Fulton John), 1895–1979
Personagens da paixã o: liçõ es de fé e confiança / Fulton J. Sheen.
pá g. cm.
Publicado originalmente: Nova York: PJ Kenedy & Sons, 1947.
ISBN 978-0-7648-0229-4 (pbk.)
1. Jesus Cristo – Paixã o. 2. Bíblia. Evangelhos do NT – Biografia. I. Título
BT430.S47 1998
232,96—dc21 98-3175
Impresso nos Estados Unidos da América
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apostolado dos Redentoristas. Para saber mais sobre os Redentoristas,
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Publicado originalmente em 1947 por PJ Kenedy & Sons. Esta ediçã o foi
publicada mediante acordo especial com o Espó lio de Fulton J. Sheen.
Dedicado à
MARIA IMACULADA,
Graciosa Mã e
de
Graça divina,
em token
de
Amor e gratidã o
Conteúdo
CAPÍTULO UM
Pedro:
uma liçã o sobre cair e subir

CAPÍTULO DOIS
Judas:
uma liçã o sobre autopiedade

CAPÍTULO TRÊ S
Pilatos:
uma liçã o sobre poder político

CAPÍTULO QUATRO
Herodes:
uma liçã o sobre amor pró prio

CAPÍTULO CINCO
Clá udia e Herodias:
uma liçã o sobre opostos

CAPÍTULO SEIS
Barrabá s e os ladrõ es:
uma liçã o sobre a verdadeira liberdade

CAPÍTULO SETE
As cicatrizes de Cristo:
uma liçã o sobre fé duradoura
Nã o há incredulidade;
Quem planta uma semente debaixo do gramado
E espera para vê-lo afastar o torrã o,
Ele confia em Deus.
Quem diz quando as nuvens estã o no céu,
Seja paciente, coraçã o, a luz irrompe aos poucos,
Confia no Altíssimo.
Quem vê sob o campo de neve do inverno,
A colheita silenciosa do futuro cresce
O poder de Deus deve saber.
— E DWARD B ULWER -L YTTON
CAPÍTULO UM
Pedro: uma lição sobre cair e subir

O drama mais interessante de todo o mundo é o drama da alma


humana. Se nã o fosse dotado de liberdade, poderia sair para a guerra e
para os empreendimentos sozinho e sem ser atendido; mas senhor de
sua escolha, ao contrá rio do sol e das pedras, ele pode usar o tempo e
as coisas para decidir seu destino, sua eternidade e seu julgamento.
Embora existam muitas fases nesses dramas, talvez a mais
interessante de todas seja a psicologia da queda e da ressurreiçã o.
Mais concretamente, como é que algumas almas perdem a fé e por que
passos a recuperam mais tarde? A resposta a tais perguntas pode ser
encontrada na histó ria do apó stolo Pedro, cujo nome aparece primeiro
na narrativa do evangelho, e que poderia ser apropriadamente
chamado de “O Filó sofo Pescador”, pois ele fez mais perguntas à
Sabedoria Divina do que qualquer outro de Seus discípulos. seguidores.
Por exemplo, “Para quem iremos?” "Onde você está indo?" “Por que nã o
consigo te seguir?” “O que este homem fará ?”
Para este intelectualista perspicaz da Galiléia, que nasceu Simã o e cujo
nome foi mudado para Pedro, e que da amargura de seu espírito
clamou: “Afasta-te de mim, ó Senhor, porque sou um homem pecador”,
vamos estudar os passos pelos quais ele caiu e os está gios pelos quais
ele voltou. Parece ter havido cinco etapas na queda de Pedro.
1. Negligência na oraçã o
2. Substituiçã o da oraçã o pela açã o
3. Mornidã o
4. A satisfaçã o de desejos, sentimentos e emoçõ es materiais.
5. Respeito humano
Negligência da oração . Nenhuma alma jamais se afastou de Deus sem
desistir da oraçã o. A oraçã o é aquilo que estabelece contato com o
Poder Divino e abre os recursos invisíveis do céu. Por mais sombrio que
seja o caminho, quando oramos, a tentaçã o nunca poderá nos dominar.
O primeiro passo para baixo na alma comum é o abandono da prá tica
da oraçã o, a quebra do circuito com a divindade e a proclamaçã o da
pró pria auto-suficiência.
Na noite em que Nosso Bendito Senhor saiu sob a luz da lua cheia para
o Jardim do Getsêmani para carmesim as raízes da oliveira com Seu
pró prio sangue para nossa redençã o, Ele se voltou para Seus discípulos
e disse: “Vigiai e orai para que nã o sofrais o teste. O espírito está
pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26:41). Afastando-se desses três
discípulos o mais longe que um homem poderia atirar uma pedra —
que maneira significativa de medir a distâ ncia na noite em que alguém
vai para a morte — Ele orou ao Seu Pai Celestial: “Meu Pai, se for
possível, deixa passar este cá lice”. de mim; contudo, nã o seja como eu
quero, mas como tu queres” (Mateus 26:39).
Quando Nosso Santíssimo Senhor voltou pela ú ltima vez para visitar
Seus discípulos, Ele os encontrou dormindo. Uma mulher nã o vigiará
uma hora ou uma noite, mas sim, dia apó s dia e noite apó s noite, na
presença de um perigo que ameaça seu filho. Esses homens dormiam.
Se conseguiram dormir em tal ocasiã o, foi porque nã o tinham uma
concepçã o adequada da crise pela qual passava Nosso Salvador,
nenhuma consciência da tragédia que já os assolava. Encontrando-os
dormindo, Nosso Santíssimo Senhor falou com Pedro e disse: “…O quê?
Você nã o poderia assistir uma hora comigo? (Mateus 26:40). Pedro
havia desistido de vigiar e orar.
A substituição da oração pela ação . A maioria das almas que ainda
sentem a necessidade de fazer algo por Deus e pela Igreja recorrem ao
consolo da atividade. Em vez de passarem da oraçã o à açã o,
negligenciam a oraçã o e ficam ocupados com muitas coisas. É tã o fá cil
pensar que estamos fazendo a obra de Deus quando estamos apenas
em movimento ou agitados.
Pedro nã o é exceçã o. No tumulto que se seguiu à prisã o de Nosso
Santíssimo Senhor, Pedro, que já estava armado com duas espadas,
permite que a sua habitual impetuosidade o domine. Atacando de
forma bastante imprudente a gangue armada, o que ele ataca nã o é um
soldado, mas um escravo do Sumo Sacerdote. Como espadachim, Peter
era um bom pescador. O escravo dá um passo para o lado e o golpe
direcionado ao alto da cabeça apenas corta sua orelha. Nosso
Abençoado Senhor restaurou o ouvido por um milagre, e entã o,
voltando-se para Pedro, disse: “…Coloque a espada de volta na bainha,
pois todos os que usarem a espada perecerã o pela espada” (Mateus
26:52). A Divindade nã o precisa disso. Ele poderia convocar doze
legiõ es de anjos em Seu auxílio, se quisesse. A Igreja nunca deve lutar
com as armas do mundo.
O Pai ofereceu o cá lice ao Filho, e ninguém poderia impedi-lo de bebê-
lo. Mas Pedro, abandonando o há bito da oraçã o, substituiu-o pela
violência contra os outros, e todo o tato foi perdido à medida que a
devoçã o a uma causa se transformou em zelo sem conhecimento. Seria
muito melhor tirar algumas horas da vida ativa e gastá -las em
comunhã o com Deus, do que estar ocupado com muitas coisas,
negligenciando a ú nica coisa necessá ria para a paz e a felicidade.
Nenhuma atividade desse tipo substitui vigiar e orar por uma hora.
Mornidão . A experiência logo prova que a atividade religiosa sem
oraçã o logo degenera em indiferença. Nesta fase as almas tornam-se
indiferentes. Eles acreditam que alguém pode ser muito religioso, muito
zeloso ou “passar muito tempo na igreja”. Pedro exemplifica esta
verdade.
Poucas horas depois, Nosso Abençoado Senhor é levado diante de Seus
juízes – e quase se sente inclinado a dizer: “Que Deus nos perdoe por
chamá -los de juízes”. À medida que aquela triste procissã o avança na
solidã o indescritível onde o Deus-homem se sujeita livremente aos
dardos malignos dos outros, o evangelho registra: “E Pedro o seguiu de
longe”. Ele havia desistido da oraçã o, depois da açã o, e agora mantém
distâ ncia. Apenas seus olhos permanecem no Mestre.
Quã o rapidamente se prova a insinceridade da açã o sem oraçã o! Aquele
que foi corajoso o suficiente para desembainhar uma espada algumas
horas antes agora fica para trá s. Cristo, que outrora foi a paixã o
dominante da nossa vida, agora torna-se incidental na religiã o.
Ainda permanecemos por força do há bito - ou talvez até por remorso
de consciência - nos passos do Mestre, mas fora do alcance de Seus
olhos e de Sua voz. É nesses momentos que as almas dizem: “Deus se
esqueceu de mim”, quando a verdade é que nã o é Deus quem nos
abandona, somos nó s que ficamos para trá s.
Satisfação de desejos, sentimentos e emoções materiais . Uma vez que o
divino desaparece na vida, o material começa a se afirmar. A dedicaçã o
excessiva ao luxo e ao requinte é sempre um indício da pobreza interior
do espírito. Quando o tesouro está dentro, nã o há necessidade daqueles
tesouros externos que a ferrugem consome, as traças comem e os
ladrõ es invadem e roubam. Quando a beleza interior desaparece,
precisamos de luxos para vestir a nossa nudez.
É natural, portanto, descobrir que na pró xima fase do seu declínio,
Pedro deveria estar satisfazendo o seu corpo. Ele nã o entra no tribunal.
Ele fica do lado de fora com os servos; e na linguagem expressiva da
Sagrada Escritura: “...quando acenderam o fogo no meio do salã o e
estavam sentados ao redor dele, Pedro estava no meio deles” (Lucas
22:55).
Há um processo em andamento em Pedro, mas dificilmente é um
progresso, pois é um movimento descendente – andar, ficar em pé,
sentar. Foi exatamente isso que Pedro fez. Caminhando: “Ele o seguiu de
longe”. De pé: Ele entrou no tribunal e ficou no meio do povo. Sentado:
Ele sentou-se perto do fogo que os inimigos de Cristo haviam acendido.
O luxo substituiu a fidelidade. Nunca antes alguém sentiu tanto frio
diante de um incêndio!
Respeito Humano . O ú ltimo está gio da queda é o respeito humano,
quando negamos a nossa fé ou nos envergonhamos dela sob o ridículo
ou o desprezo. Uma religiã o mundana se dará bem com o mundo, mas
nã o uma religiã o divina. Como Nosso Senhor advertiu: “Quando vos
perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo que
nã o acabareis as cidades de Israel antes que venha o Filho do Homem”
(Mateus 10:23).
À medida que as chamas daquele fogo iluminavam o rosto de Pedro, era
possível que os espectadores e aqueles que entravam no tribunal
vissem seu rosto. Naquele exato momento em que Nosso Abençoado
Senhor, no tribunal, prestava juramento proclamando Sua divindade,
Pedro também prestava juramento - nã o para reafirmar que Cristo era
o Filho do Deus Vivo, mas antes para negá -lo.
Houve o clamor dos oficiais e a risada atrevida de uma criada, que
disse: “Este homem também estava com Jesus de Nazaré”. Pedro negou.
Entã o, outra serva disse que ele era um deles, mas ele negou
novamente, dizendo: “…Mulher, eu nã o o conheço” (Lucas 22:57). Talvez
tenha passado uma hora e entã o um dos homens lhe disse: “…
Certamente você é um deles; porque você também é galileu” (Marcos
14:70). “… até a tua fala te denuncia” (Mateus 26:73). Pedro ficou
zangado com as repetidas afirmaçõ es deles e, com um retrocesso
atávico aos seus dias de pescador, quando suas redes ficaram
emaranhadas nas á guas da Galiléia, ele praguejou e praguejou
novamente, dizendo: “...nã o conheço este homem de quem você está
falando” (Marcos 14:71).
O respeito humano levou a melhor sobre Peter. Quantas vezes os outros
sabem o que devemos fazer, mesmo quando nos esquecemos. Quã o
sensíveis sã o aquelas consciências que abandonaram o seu Deus! Quã o
sensíveis eles sã o até mesmo à lembrança de que uma vez tiveram fé!
Muitas vezes ouvi tais almas dizerem: “Nã o fale sobre isso! Eu quero
esquecer isso. Mas nunca podemos esquecer – até a nossa fala revela
que estivemos com o galileu.
Entã o, se estes sã o os passos para nos afastarmos da fé, quais sã o os
passos para voltarmos a abraçá -la? Eles sã o:
1. Desilusã o
2. Resposta à graça
3. Alteraçã o
4. Tristeza
Desilusão . Sendo o orgulho um pecado capital, segue-se que a primeira
condiçã o da conversã o é a humildade: o ego deve diminuir, Deus deve
aumentar. Esta humilhaçã o surge, na maioria das vezes, através de uma
compreensã o profunda de que o pecado nã o compensa, de que nunca
cumpre as suas promessas, de que, tal como a violaçã o das leis da saú de
produz doença, a violaçã o das leis de Deus produz infelicidade.
Isto é significado no caso de Pedro pelo cumprimento de uma profecia
feita por Nosso Senhor a Pedro na noite da Ú ltima Ceia. Tendo avisado
Seus apó stolos de que eles ficariam escandalizados Nele naquela noite,
Pedro se vangloriou: “Darei a minha vida por vó s” (Joã o 13:37). E Nosso
Senhor respondeu: “…Dará s a tua vida por mim? Amém, amém, eu te
digo que o galo nã o cantará antes que você me negue três vezes” (Joã o
13:38).
Poucas horas depois, no exato momento em que Pedro amaldiçoou e
jurou que nã o conhecia a Cristo, veio pelos corredores dos aposentos
externos da corte de Caifá s o canto claro e inconfundível de um galo. Até
a natureza está do lado de Deus . Podemos abusar dela em nossos
pecados, mas no final ela abusará de nó s. Quã o certo estava Thompson
quando caracterizou a natureza como tendo uma “verdade traiçoeira,
um engano leal; em inconstâ ncia comigo, em lealdade a Ele.”
O canto do galo era uma coisa tã o infantil. Mas Deus pode usar as coisas
mais insignificantes do mundo como canal de Sua graça: o voto de uma
criança, uma palavra no rá dio, o canto de um pardal. Ele até pressionará
para o assunto da conversa o canto de um galo ao amanhecer. Uma alma
pode chegar a Deus por meio de uma série de desgostos.
Resposta à Graça . O pró ximo passo no retorno a Deus apó s o despertar
da consciência através da desilusã o do pecado é da parte de Deus.
Assim que nos esvaziamos, ou ficamos desiludidos, Ele vem preencher
o vazio. “…Ninguém vem ao Pai senã o por mim” (Joã o 14:6). E Sã o Lucas
nos diz: “E o Senhor, voltando-se, olhou para Pedro” (Lucas 22:61).
Assim como o pecado é uma aversã o a Deus, a graça é a conversã o a
Deus. Nosso Senhor nã o diz: “Eu te disse, você cairia”. Ele nã o nos
abandona embora nó s O abandonemos. Ele se transforma, uma vez que
sabemos que somos pecadores. Deus nunca nos desiste. A pró pria
palavra usada aqui para descrever o olhar de Nosso Senhor é a mesma
palavra usada na primeira vez que Nosso Senhor encontrou Pedro – o
significado é que “Ele olhou através” de Pedro. Pedro é chamado de
volta ao doce início de sua graça e vocaçã o. Judas recebeu os lá bios para
chamá -lo à comunhã o. Pedro recebeu um olhar com olhos que nos
vêem, nã o como nos veem os nossos pró ximos, nã o como nó s nos
vemos, mas como realmente somos. Eram os olhos de um amigo ferido,
o olhar de um Cristo ferido. A linguagem daqueles olhos nunca
compreenderemos.
Emenda . Assim como o pecado começa com o abandono da
mortificaçã o, a conversã o implica o retorno a ela. O rei de Hamlet
perguntou: “Alguém pode ser perdoado e reter a ofensa?” Existem
coisas como ocasiõ es de pecado, ou seja, aquelas pessoas, lugares e
circunstâ ncias que apodrecem a alma.
A conversã o de Pedro nã o seria completa a menos que ele deixasse
aquela arena onde servas, escravos e respeito humano se combinavam
para fazê-lo negar o Mestre. Ele nã o mais se aquecerá no fogo, nem
ficará sentado passivamente enquanto seu Juiz é julgado. A Escritura
registra sua emenda ou purgaçã o em palavras simples: “E saindo”.
Todas as armadilhas do pecado, os bens ilícitos, o respeito humano que
ele conquistou, tudo isso é agora pisoteado, enquanto “ele sai”.
Tristeza . Mas esta saída dos taberná culos do pecado nã o seria
suficiente se nã o houvesse tristeza. Alguns abandonam o pecado
apenas porque o consideram repugnante. Nã o há conversã o real até
que o pecado esteja relacionado com uma ofensa contra a Pessoa de
Deus. “Contra Ti pequei”, diz a Escritura, nã o contra o “Espaço-Tempo”,
ou o “Universo Có smico”, ou os “Poderes Além”. Tenha uma tristeza que
se arrependa de ter ofendido a Deus porque Ele é todo bom e
merecedor de todo o nosso amor, e você tem a salvaçã o.
Apropriadamente, portanto, os evangelistas escrevem: “E Pedro, saindo,
chorou amargamente” (Lucas 22:62). Seu coraçã o foi partido em mil
pedaços, e seus olhos que olhavam nos olhos de Cristo, agora se
transformam em fontes. Moisés bateu numa rocha e saiu á gua. Cristo
olhou para uma rocha e lá grimas brotaram. A tradiçã o diz que Pedro
chorou tanto por seus pecados que suas bochechas ficaram franzidas
com as torrentes penitenciais.
Sobre essas lá grimas surge a face da Luz do Mundo, e através delas vem
o arco-íris da esperança, assegurando a todas as almas que nunca mais
um coraçã o será destruído pela inundaçã o do pecado, desde que se
volte para Aquele que é a Arca da Salvaçã o. , o Amor do Universo.
Isso encerra a histó ria do mais humano dos humanos nos evangelhos,
que em um momento está no topo de uma onda caminhando sobre o
mar e no momento seguinte abaixo dela se afogando e gritando:
“Senhor, salve-me”. Num instante ele diz que morrerá com Nosso
Senhor; uma hora depois, ele nega conhecer Aquele por quem morreria.
Quem é que nã o sentiu dentro de si esses mesmos elementos
conflitantes – desejar o bem, fazer o mal – e, na linguagem de Ovídio,
“ver e aprovar as coisas melhores da vida, mas seguir as piores”.
Pedro é o exemplo supremo da advertência do evangelho: “...quem
pensa que está seguro, tome cuidado para nã o cair” (1 Coríntios 10:12).
Em ninguém é melhor contada a falá cia do humanismo, entendido
como a auto-suficiência de uma pessoa sem Deus, ou a total
inadequaçã o da nossa pró pria razã o e da nossa pró pria força para nos
tirar da confusã o em que nos encontramos sem renovaçõ es perió dicas
da consciência divina. graça que nos vem de Deus.
Porque Pedro é tã o parecido connosco nos nossos conflitos, ele é,
portanto, a nossa maior esperança. Os outros apó stolos escreveram
menos sobre a sua experiência do que Pedro. A Epístola de Paulo a
Timó teo é uma exortaçã o; a Epístola de Joã o é um apelo à fraternidade;
a Epístola de Tiago é a favor de uma religiã o prá tica; mas a Epístola de
Pedro é o resumo do seu antigo eu e pode ser chamada de “epístola da
coragem”. Em cada linha, em cada palavra desse documento revelado,
encontramos Pedro usando seu antigo eu morto como trampolim pelo
qual ele ascende à novidade de vida.
Ao Pedro que afundava nas ondas, ele, o novo Pedro, fala com coragem:
“…que pelo poder de Deus sã o salvaguardados através da fé, para uma
salvaçã o que está pronta para ser revelada no tempo final. Nisto vocês
se alegram, embora agora, por um pouco de tempo, tenham que sofrer
vá rias provaçõ es, para que a autenticidade da sua fé, mais preciosa do
que o ouro perecível, embora provado pelo fogo, possa ser para louvor,
gló ria, e honra na revelaçã o de Jesus Cristo.” (1 Pedro 1:5–7).
“Agora, quem irá prejudicá -lo se você estiver entusiasmado com o que é
bom? Mas mesmo que você sofra por causa da justiça, abençoado será
você. Nã o tenham medo nem fiquem aterrorizados com medo deles,
mas santifiquem Cristo como Senhor em seus coraçõ es. Estejam sempre
prontos para explicar a qualquer um que lhe perguntar a razã o da sua
esperança” (1 Pedro 3:13–15).
Nã o admira que Nosso Divino Senhor, que conhece todas as almas no
seu íntimo, tenha escolhido como cabeça da Sua Igreja nã o Joã o, que
nunca negou, e o ú nico de todos os apó stolos que estava presente na
colina do Calvá rio, mas antes escolheu Pedro, que caiu e entã o
ressuscitou, aquele que pecou e que foi entã o perdoado em meio à
penitência vitalícia, para que Sua Igreja pudesse compreender algo da
fraqueza humana e do pecado, e levar a milhõ es de suas almas o
evangelho da esperança, a certeza da misericó rdia divina.
Apropriadamente, entã o, quando Pedro chegou ao fim de sua vida, ele
pediu para nã o ser crucificado como Nosso Santíssimo Senhor foi com a
cabeça erguida, mas com a cabeça baixa na terra. Nosso Senhor o
chamou de Rocha de Sua Igreja, e a rocha foi colocada onde deveria
estar – profundamente nas raízes da criaçã o.
Naquele mesmo local onde o homem de coragem foi crucificado de
cabeça para baixo, com os pés cambaleantes em direçã o ao céu, ergue-
se agora a maior cú pula que já foi lançada contra a abó bada azul do céu,
a cú pula da Basílica de Sã o Pedro, em Roma. Ao seu redor, em letras
gigantes de ouro, lemos as palavras que Nosso Senhor disse a Pedro em
Cesaréia de Filipe: “…tu és Pedro; e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno nã o prevalecerã o contra ela” (Mateus
16:18).
Muitas vezes me ajoelhei sob aquela cú pula e sua inscriçã o e olhei
abaixo de seus muitos altares para o tú mulo onde está enterrada aquela
Rocha que tornou Roma eterna, porque o pescador veio morar lá .
Ninguém, suponho, jamais dobrou um joelho suplicante à quele
primeiro vigá rio da Igreja de Cristo, a quem Nosso Senhor disse que um
pecador deveria ser perdoado, nã o sete vezes, mas setenta vezes sete,
sem compreender com esperança o que Pedro sabia tã o bem : “Se você
nunca tivesse pecado, você nunca poderia chamar Cristo de 'Salvador'”.

Seja forte e tenha boa coragem; não tenha medo, nem se espante;
porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares .
— JOSUÉ 1:9
CAPÍTULO DOIS
Judas: uma lição sobre autopiedade

A expressã o “caído” ou “caído” refere-se à queles que, ao mesmo


tempo abençoados com graça e intimidade com o Divino, mais tarde o
abandonam. Nosso Senhor referiu-se a eles na pará bola do Semeador:
“Eles nã o tê m raiz; eles duram apenas por um tempo. Entã o, quando
chega a tribulaçã o ou a perseguiçã o por causa da palavra, logo se
desviam” (Marcos 4:17).
Ninguém ainda deixou o Corpo de Cristo ou Sua Igreja por algum
motivo, mas muitos o deixaram por algum motivo. A coisa pode ser
diferente: pode ser orgulho, riqueza, carne ou os mil e um substitutos
da Divindade. Esta verdade pode ser melhor ilustrada por um estudo de
Judas, o ú nico homem nos evangelhos que deixou Nosso Senhor por
uma coisa, e de quem Nosso Senhor disse: “Seria melhor para esse
homem se ele nunca tivesse nascido” (Mateus 26:24).
Um dia nasceu um bebê em Kerioth. Amigos e parentes vieram com
presentes para o bebê, porque ele era um filho prometido. Nã o muito
longe, outro Bebê nasceu na aldeia de Belém. Porque Ele também era
filho da promessa, amigos vieram com presentes de ouro, incenso e
mirra. Ambos os bebês cresceram em idade, e um dia o homem de
Belém encontrou o homem de Kerioth na divisã o das á guas, e Nosso
Senhor escolheu Judas como Seu apó stolo.
Ele foi o ú nico judeu entre os apó stolos; e como os judeus eram mais
há beis na administraçã o do que os galileus, Judas recebeu a bolsa
apostó lica. Provavelmente ele estava naturalmente mais preparado
para a tarefa. Usar uma pessoa para aquilo que ela está naturalmente
preparada é mantê-la – se ela puder ser mantida – longe da apostasia,
da alienaçã o e da insatisfaçã o. Mas, ao mesmo tempo, as tentaçõ es da
vida muitas vezes vêm daquilo para o qual temos maior aptidã o.
Deve haver primeiro uma falha interna, entretanto, antes que possa
haver uma falha externa. Judas era avarento. A avareza é um pecado
pernicioso, pois quando outros vícios envelhecem, a avareza ainda é
jovem. A cobiça de Judas revelou-se particularmente na casa de Simã o,
quando uma hó spede nã o convidada, uma mulher pecadora, irrompeu
no jantar e derramou ungü ento sobre os pés de Nosso Senhor e depois
enxugou-os com os cabelos. E a casa ficou cheia do cheiro do unguento.
Judas estava jantando naquele dia. Judas sabia quã o pró xima estava a
traiçã o do Senhor. Maria, aquela mulher, sabia quã o pró xima estava Sua
morte. Colocando a má scara da caridade, Judas simulou raiva pelo
desperdício de tã o precioso unguento: “Por que este unguento nã o foi
vendido por trezentos dinheiros e dado aos pobres? Agora ele disse
isso, nã o porque se importasse com os pobres; mas porque ele era um
ladrã o e segurava a bolsa de dinheiro e roubava as contribuiçõ es.” (Joã o
12:5–6).
Nosso Senhor nã o afrontou Judas, que O afrontou. Há algo
inexprimivelmente triste e, ao mesmo tempo, tã o paciente, gentil e
terno nas palavras de Nosso Senhor: “Deixe-a em paz” (Joã o 12:7).
Certamente nã o poderia haver desperdício em um ministério ao Amor
Divino.
Sempre haverá almas como Judas que se escandalizam com as riquezas
oferecidas a Cristo na Sua Igreja. Se um homem pode dar joias à mulher
que ama sem escâ ndalo, por que a alma nã o pode derramar sua
abundâ ncia ao Deus que ama em homenagem de afeto?
Nosso Senhor elogiou a mulher, dizendo que ela O havia ungido para
Seu sepultamento. Judas ficou chocado! Entã o Ele ia morrer! Pouco
tempo depois, na quarta-feira da Semana Santa, Nosso Senhor contou
aos apó stolos o que aconteceria. Judas o ouviu dizer: “Vocês sabem que
dentro de dois dias será a Pá scoa, e o Filho do Homem será entregue
para ser crucificado” (Mateus 26:2).
Cristo seria crucificado. Isso era certo. No cataclismo geral, Judas deve
resgatar algo para consolar seu espírito aquisitivo. “Entã o um dos Doze,
chamado Judas Iscariotes, foi até os principais sacerdotes e disse: 'O
que vocês estã o dispostos a me dar se eu o entregar a vocês?' Pagaram-
lhe trinta moedas de prata” (Mateus 26:14–15). Oitocentos anos antes
de Zacarias profetizar: “'Se te parece bem, dá -me o meu salá rio; mas se
nã o, deixe para lá . E contaram o meu salá rio, trinta moedas de prata”
(Zacarias 11:12). Aquele que assumiu a forma de servo foi vendido pelo
preço de um escravo.
Na noite seguinte, por ocasiã o da Ú ltima Ceia de Nosso Senhor, quando
Ele fez Seu Ú ltimo Testamento e nos deixou aquilo que ao morrer
nenhum homem jamais foi capaz de deixar, ou seja, Ele mesmo, o
Salvador falou novamente sobre Sua traiçã o: “…Um dos você está
prestes a me trair” (Mateus 26:21). Os discípulos entreolharam-se e
perguntaram: “Sou eu, Senhor?” “Sou eu?”
Nenhuma consciência é pura aos olhos de Deus; ninguém pode ter
certeza de sua inocência. Judas entã o perguntou: “Sou eu, Rabino?” O
Senhor respondeu: “Tu o disseste”. E Judas saiu e “era noite”. É sempre
noite quando alguém dá as costas a Deus.
Poucas horas depois, Judas liderou um bando de bandidos e soldados
colina abaixo em Jerusalém. Embora houvesse lua cheia naquela noite,
os soldados nã o sabiam quem deveriam prender, entã o pediram um
sinal a Judas. Voltando-se para eles, ele disse: “O homem que eu beijarei
é esse; prendê-lo” (Mateus 26:48).
Atravessando o riacho de Cedron e entrando no Jardim, Judas lançou os
braços ao redor do pescoço de Nosso Senhor e feriu Seus lá bios com um
beijo. Uma palavra voltou: “Amigo”. Depois a pergunta: “Você está
traindo o Filho do Homem com um beijo?” (Lucas 22:48). Foi a ú ltima
vez que Jesus falou com Judas. Judas tinha direito ao bezerro cevado,
mas preferia o de ouro.
Só Judas sabia onde encontrar Nosso Senhor depois do anoitecer. Os
soldados nã o sabiam. Cristo, na Sua Igreja, é entregue nas mã os do
inimigo interno . Sã o os maus cristã os que traem. O maior dano à causa
de Cristo nã o é causado pelos inimigos, mas por aqueles que foram
embalados nas suas associaçõ es sagradas e nutridos na fé. O escâ ndalo
dos “caídos” oferece oportunidades para inimigos que ainda sã o
tímidos. Os inimigos fazem o trabalho sangrento da crucificaçã o, mas
aqueles que comungaram com Cristo preparam o caminho.
Judas foi mais zeloso pela causa do inimigo do que pela causa de Nosso
Senhor. Aqueles que abandonam a Igreja da mesma maneira procuram
expiar as suas consciências inquietas atacando a Igreja. Como as suas
consciências nã o os deixarã o sozinhos, eles nã o deixarã o o Guia das
suas consciências sozinho. O Voltaire que deixou a Igreja foi o Voltaire
que zombou. O seu ó dio nã o se deve à sua incredulidade, mas a sua
incredulidade se deve ao seu ó dio. A Igreja os deixa inquietos em seus
pecados, e eles sentem isso. Se conseguissem expulsar a Igreja do
mundo, poderiam pecar impunemente.
Mas por que trair com um beijo? Porque a traiçã o à Divindade é um
crime tã o hediondo que deve sempre ser prefaciado por algum sinal de
afeto. Quantas vezes, em discussõ es sobre religiã o, ouvimos uma
palavra de louvor sobre Cristo em Sua Igreja e depois um “mas” que dá
início à calú nia.
As coisas humanas podemos atacar sem desculpa; eles nã o precisam de
amor fingido para embainhar a espada que mata. Mas na presença do
Sagrado e do Divino, deve-se fingir afeiçã o onde a afeiçã o deveria ser
nã o fingida.
Quantos há que atacam as suas crenças apenas porque, como dizem,
manteriam pura a sua doutrina. Se atacam a sua disciplina, é porque
querem preservar uma liberdade ou mesmo uma licença que
consideram essencial à piedade. Se acusam a Igreja de nã o ser
suficientemente espiritual, é porque afirmam ser defensores dos ideais
mais elevados – embora nenhum deles alguma vez nos diga quã o
espiritual a Igreja deve ser antes de a abraçarem. Em cada caso, a
hostilidade à Divindade é precedida por uma deferência para com a
religiã o: “Salve, Rabino”, e ele o beijou.
Assim que o crime foi cometido, Judas ficou enojado. Os profundos
poços de remorso começaram a surgir em sua alma; mas como tantas
almas hoje, ele levou o seu remorso para o lugar errado. Ele voltou para
aqueles com quem traficava. Ele vendeu o Senhor por trinta moedas de
prata, ou em nosso dinheiro cerca de dezessete dó lares.
A divindade é sempre traída de forma desproporcional ao seu valor
real. Sempre que vendemos Cristo, seja para o avanço mundano, como
aqueles que desistem da sua fé porque nã o podem chegar a lugar
nenhum politicamente com uma cruz nas costas, ou seja por riqueza,
sempre nos sentimos enganados no final.
Nã o é de admirar que Judas tenha levado as trinta moedas de prata de
volta para aqueles que as deram a ele, e enviou as moedas tilintando,
rolando e tilintando pelo chã o do Templo, dizendo: “Pequei ao trair
sangue inocente” (Mateus 27:4). Ele nã o queria mais o que antes mais
desejava. Todo o glamour se foi. Nem mesmo aqueles a quem ele
devolveu o dinheiro o quiseram. O dinheiro nã o servia para nada,
exceto para comprar um campo de sangue. Judas restituiu seu dinheiro;
contudo, as almas nã o se salvam abrindo mã o do que têm, mas dando o
que sã o.
Ficar enojado com o pecado nã o é suficiente. Também devemos estar
arrependidos. O Evangelho nos diz: “Entã o Judas, seu traidor, vendo que
Jesus havia sido condenado, arrependeu-se profundamente do que
havia feito” (Mateus 27:3). Mas Judas nã o se arrependeu no verdadeiro
sentido da palavra. Em vez disso, ele teve uma mudança de sentimento.
Arrependeu -se , mas nã o a Nosso Senhor; ele se arrependeu consigo
mesmo .
Este ú ltimo é apenas ó dio de si mesmo, e o ó dio de si mesmo é suicida.
Odiar a si mesmo é o começo do auto-assassinato. O ó dio de si mesmo
só é salutar quando associado ao amor de Deus.
A desilusã o e a repulsa podem ser um passo em direçã o à religiã o, mas
nã o é religiã o. Alguns pensam que amam a Deus porque a vida nã o
cumpriu todas as suas promessas ou porque os seus sonhos nã o se
realizaram. Eles ansiavam por uma parte terrena, e isso acabou sendo
uma miragem. Eles começam a ver a vaidade do mundo. Depressõ es,
tristezas, doenças, guerras, decepçõ es, gradualmente os afastaram do
mundo.
Eles nã o desfrutam mais do mundo. Eles nã o têm perspectivas de
algum dia recuperar a juventude, por isso passam a ter um leve ó dio
pelo pecado. Eles confundem sabedoria com saciedade. Eles pensam
que sã o puros porque nã o sã o mais tentados. Julgam as virtudes pelos
vícios dos quais se abstêm. Eles se importam muito pouco com a
aprovaçã o ou desaprovaçã o do mundo. Velhos amigos nã o sã o mais
interessantes; novos amigos nã o podem ser encontrados.
O resultado é que, com o passar do tempo, eles recorrem à religiã o
como consolo. Eles começam a guardar os mandamentos porque nã o
têm um motivo forte para nã o cumpri-los. Eles abandonam a bebida e
outros vícios que podem arruinar a sua saú de. O seu bem é o bem da
inércia; sã o como icebergs nas correntes frias do norte. Como essas
pessoas estã o cheias de ansiedade, complexos e medos, elas começam a
ler Freud e aprendem que suas emoçõ es devem, de alguma forma, ser
sublimadas. Eles se arrependem, mas se arrependem para si mesmos.
Eles lamentam a sua sorte, mas nã o lamentam ter ofendido a Deus.
E quando começou a traiçã o de Judas? O primeiro registro que temos
nos evangelhos da queda de Judas foi o dia em que Nosso Santíssimo
Senhor anunciou que se deixaria ao mundo na Eucaristia. Inserida
nessa maravilhosa histó ria deste grande sacramento está a sugestã o de
que Nosso Senhor sabia quem O trairia. Nosso Senhor acabava de
anunciar que continuaria a Sua Presença no mundo escondida sob a
forma do pã o.
Em Suas pró prias palavras majestosas, Ele anunciou que a uniã o com
Ele seria mais íntima do que a uniã o entre o corpo e o alimento que
ingerimos: “Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu tenho a vida por
causa do Pai, assim também aquele que se alimentar de mim terá vida
por minha causa... quem comer deste pã o viverá para sempre” (Joã o
6:57–58).
Nosso Senhor, sabendo o que se passava nas almas humanas,
acrescentou: “Mas há alguns de vocês que nã o acreditam”. E o
Evangelho acrescenta: “Jesus conhecia desde o princípio quem nã o
acreditaria e quem o trairia” (Jo 6,64).
A verdadeira traiçã o ocorreu na mesma noite em que Nosso Senhor deu
aquilo que prometeu que daria pela vida do mundo, a saber, a Sagrada
Eucaristia.
Nenhuma histó ria em todo o evangelho revela tanto o poder de uma
ú nica paixã o para envolver, acorrentar, possuir e degradar o cará ter de
uma pessoa como a tragédia do apó stolo traidor. Que associaçõ es
religiosas poderiam ter sido melhores do que as de Judas, que recebeu
em sua mente, memó ria e coraçã o a impressã o da ú nica Vida
incomparável com seus mil raios radiantes de sabedoria e caridade?
Somos nó s, entã o, que O conhecemos, que possuímos Sua verdade e Sua
vida, que podemos prejudicá -Lo mais do que aqueles que nã o O
conhecem. Talvez nunca desempenhemos o papel de traidor em grande
escala, mas através de sinais insignificantes: como o beijo de Judas, pelo
silêncio quando deveríamos defender, pelo medo do ridículo quando
deveríamos proclamar, pela crítica quando deveríamos testemunhar, ou
por um encolher de ombros quando deveríamos cruzar as mã os em
oraçã o. Bem, de fato, o Salvador pode nos perguntar: “Amigo, você me
trairá com um beijo?”
Judas desceu ao vale de Ennom – o vale das associaçõ es horríveis, a
Geena do futuro. Ele caminhou pelo chã o frio e rochoso, entre as rochas
irregulares entre á rvores retorcidas e raquíticas, que pareciam
exatamente com sua alma retorcida e torturada. Só havia um
pensamento em sua mente: esvaziar-se de si mesmo.
Tudo parecia testemunhar contra ele. A poeira era o seu destino; as
rochas eram o seu coraçã o; as á rvores, em particular, pareciam falar —
seus galhos eram como braços acusadores e dedos apontando; seus nó s
como tantos olhos. As folhas pareciam tremer em protesto contra
torná -las o instrumento de sua vã destruiçã o. Pareciam quase sussurrar
que todas as outras á rvores desse tipo tremeriam de vergonha até o
ú ltimo dia do Grande Julgamento.
Tirando um cabresto de sua cintura - e como esse cinto o lembrava do
cinto de Pedro, de onde pendia as chaves do céu - ele jogou-o sobre um
membro forte e amarrou uma das pontas do cabresto em volta do
pescoço. Os ventos pareciam trazer-lhe o eco das palavras que ouvira
um ano antes: “Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados e encontrai descanso para as vossas almas”. Mas ele se
arrependeria para si mesmo, nã o para Deus.
E à medida que o sol escurecia, duas á rvores fizeram histó ria em lados
opostos de Siã o – uma, a á rvore do Calvá rio e da esperança; a outra, a
á rvore de Ennom e do desespero. De um estava pendurado Aquele que
uniria o céu e a terra, e do outro estava pendurado Aquele que desejava
ser estranho a ambos.
E a pena de tudo isso é que ele poderia ter sido Sã o Judas. Ele possuía o
que toda alma possui: um tremendo potencial de santidade e paz. Mas
tenhamos certeza de que quaisquer que sejam os nossos pecados, e
independentemente da profundidade da nossa traiçã o, há sempre uma
Mã o estendida para abraçar, um Rosto brilhando com a luz do perdã o, e
uma Voz Divina que nos fala uma palavra, como aconteceu com Judas
até o fim: “Amigo”.

O amor não procura agradar ,


Nem por si mesmo tem qualquer cuidado ,
Mas por outro dá a sua facilidade ,
E constrói um Paraíso no desespero do Inferno .
—W ILLIAM B LAKE
CAPÍTULO TRÊS
Pilatos: uma lição sobre poder político

Alguém se pergunta se há realmente alguma coisa nova no mundo,


ou se apenas as mesmas coisas estã o acontecendo com pessoas
diferentes. Tomemos, por exemplo, a relaçã o entre política e religiã o.
Aqueles que acompanham o pulso da civilizaçã o contemporâ nea
provavelmente notaram que existem hoje duas acusaçõ es
contraditó rias contra a religiã o. A primeira é que a religiã o nã o é
suficientemente política; a outra é que a religiã o é demasiado política.
Por um lado, a Igreja é culpada por ser demasiado divina e, por outro,
por nã o ser suficientemente divina. É odiado porque é demasiado
celestial e odiado porque é demasiado terreno.
É particularmente significativo que estas foram as duas acusaçõ es pelas
quais o pró prio Cristo foi condenado: os juízes religiosos, Aná s e Caifá s,
consideraram-no demasiado religioso; os juízes políticos, Pilatos e
Herodes, consideraram-no demasiado político.
Caifá s, o juiz religioso, diante de seu tribunal, perguntou: “Ordeno-te
que nos digas, sob juramento, perante o Deus vivo, se tu és o Messias, o
Filho de Deus” (Mateus 26:63). Quando a pergunta ecoou pelo salã o de
má rmore e foi seguida por um silêncio vibrante de emoçã o, Cristo
finalmente ergueu os olhos para o juiz e respondeu: “Tu o disseste”
(Mateus 26:64).
Um brilho de satisfaçã o iluminou o rosto do juiz. Finalmente ele
triunfou! Mas ele nã o deve demonstrá -lo, e sob o véu da indignaçã o
horrorizada pelo insulto oferecido à suprema majestade de Deus ao
declarar-se Deus, ele rasgou suas vestes de baixo para cima, gritando:
“Ele blasfemou!” (Mateus 26:65). Cristo é muito religioso! Celestial
demais! Muito infalível! Espiritual demais! Muito interessado em almas!
Divino demais!
Porque Ele era muito religioso, Ele nã o era político o suficiente. Os
juízes religiosos disseram que Ele nã o se preocupava com o fato de que
os romanos eram seus senhores e que eles poderiam tomar o seu país
(Joã o 11:47-48). Ao falar sobre um reino espiritual, uma lei moral
superior e Sua divindade, e ao se tornar o líder de uma cruzada
espiritual, Ele foi acusado de ser indiferente à s necessidades do povo e
ao bem-estar nacional.
Os romanos nã o tolerariam ninguém com tal apelo. Ele traria a
retribuiçã o de Roma. Seus exércitos viriam e os destruiriam. Afinal de
contas, de que serve a religiã o se ela nã o participa na configuraçã o
política, econó mica e social de um país. Entã o Caifá s decidiu: É melhor
deixar um homem morrer do que toda a naçã o perecer.
Dentro de poucas horas, Nosso Abençoado Senhor, que foi acusado de
ser muito desinteressado pela política, é acusado de estar muito
interessado nela. A turba que tinha seu prisioneiro amarrado com
corda parou em frente à soleira da porta de Pilatos, que marcava os
limites de uma casa romana.
Pilatos, avisado da sua vinda, saiu ao encontro dos acusadores. Jesus e
Pilatos estavam cara a cara. Pilatos olhou para a Figura diante dele,
silenciosa e imó vel, carmesim com Seu pró prio sangue, com marcas
vermelhas vívidas em Seu rosto, já objeto de graves maus-tratos antes
de ser condenado. Voltando-se para a multidã o uivante, Pilatos
perguntou: “Que acusaçã o vocês apresentam contra este homem?”
(Joã o 18:29).
Se a acusaçã o fosse de que Ele blasfemou ao chamar a si mesmo de
Deus, Pilatos teria apenas sorrido. Ele tinha seus pró prios deuses e
todos os dias espalhava incenso diante deles. O que ele se importava
com suas divindades?
Mas havia uma outra acusaçã o sobre Cristo que poderia ser lançada, e
era a oposta, a saber, que Ele era demasiado político, que nã o era
suficientemente divino, que se intrometia nos assuntos nacionais, que
nã o era patrió tico. E em resposta à pergunta de Pilatos, foi lançado
contra a balaustrada do seu templo o estrondo ensurdecedor de três
acusaçõ es: “Encontramos este homem pervertendo a nossa naçã o, e
proibindo dar tributo a César, e dizendo que ele é Cristo, o rei”. (Lucas
23:2).
E assim, ao longo da histó ria, estas duas acusaçõ es contraditó rias foram
levantadas contra a Pessoa de Cristo no Seu Corpo, a Igreja. A sua Igreja
[foi] acusada de nã o ser suficientemente política quando condenou o
nazismo e o fascismo; é acusado de ser demasiado político quando
condena o comunismo. É demasiado antipolítico quando nã o condena
um regime político que alguns outros sistemas políticos nã o gostam,
mas que permite a liberdade religiosa; diz-se que é demasiado político
quando condena um regime político que suprime completamente todas
as religiõ es.
Qual é a ló gica dessas acusaçõ es contraditó rias? Aparentemente, o
mundo imagina que a Igreja é algo a ser usado, uma influência bastante
refinada, cuja ú nica funçã o é fazer barulho moral para certos tipos de
política. Quando há uma coincidência acidental entre o espiritual e o
político, como houve no Domingo de Ramos, entã o há um momento de
paz – mas é uma paz falsa, que é o prelú dio da Sexta-Feira Santa.
É a segunda acusaçã o que necessita de consideraçã o específica,
nomeadamente, a de que a Igreja está a interferir na política. Isso é
verdade? Tudo depende do que você entende por política. Se por
interferência na política se entende usar influência para favorecer um
determinado regime, partido ou sistema que respeite os direitos
bá sicos e a liberdade das pessoas dados por Deus, a resposta é
enfaticamente Não! A Igreja nã o interfere na política. Se por
interferência na política se entende julgar ou condenar uma filosofia de
vida que faz do partido, ou do estado, ou da classe, ou da raça a fonte de
todos os direitos, e que usurpa a alma e entroniza o partido sobre a
consciência e nega aqueles direitos bá sicos direitos pelos quais esta
guerra foi travada, a resposta é enfaticamente Sim! A Igreja julga tal
filosofia. Mas quando faz isto, nã o está a interferir com a política, pois
tal política já nã o é política, mas sim teologia. Quando um Estado se
estabelece como absoluto como Deus, quando reivindica a soberania
sobre a alma, quando destró i a liberdade de consciência e a liberdade
de religiã o, entã o o Estado deixa de ser político e começa a ser uma
contra-Igreja.
Enquanto a política for política, a Igreja nã o terá nada a dizer. É
totalmente indiferente a qualquer regime. A Igreja adapta-se a todos os
governos, desde que respeitem a liberdade de consciência. É indiferente
se as pessoas escolhem viver sob uma monarquia, uma repú blica, uma
democracia ou mesmo uma ditadura militar, desde que estes governos
concedam as liberdades bá sicas. Se por “interferência na política” se
entende a interferência do clero na esfera política do Estado, a Igreja
opõ e-se inalteravelmente a ela, pois a Igreja ensina que o Estado é
supremo na ordem temporal. Mas quando a política deixa de ser
política e passa a ser uma religiã o, quando reivindica a supremacia
sobre a alma humana, quando reduz a pessoa a uma uva em prol da
linha da coletividade, quando limita o seu destino a ser um servo de
Moloch, quando nega tanto a liberdade de consciência como a liberdade
de religiã o, quando compete com a religiã o no seu pró prio terreno, a
alma imortal que está destinada a Deus, entã o a religiã o protesta. E
quando o faz, o seu protesto nã o é contra a política, mas contra uma
contra-religiã o que é anti-religiosa.
Um organismo humano pode adaptar-se ao calor tó rrido do equador ou
ao frio glacial do Norte, mas nã o pode viver sem ar. Da mesma forma, a
Igreja pode adaptar-se a todas as formas de política, mas nã o pode
viver sem o ar da liberdade. Nunca antes na histó ria o espiritual esteve
tã o desprotegido contra o político. Nunca antes o político usurpou tanto
o espiritual. Foi Jesus Cristo quem sofreu sob Pô ncio Pilatos; nã o foi
Pô ncio Pilatos quem sofreu sob Jesus Cristo.
O grave perigo hoje nã o é a religiã o na política, mas a política na
religiã o. Pela primeira vez na histó ria cristã , a política, que começou por
se divorciar da moralidade e da religiã o, viu que o homem nã o pode
viver só de pã o. Por isso, tentou capturar a sua alma, por cada palavra
que sai da boca de um ditador. Pela primeira vez na civilizaçã o cristã
ocidental, o reino do anti-Deus adquiriu forma política e substâ ncia
social, e posiciona-se acima e contra o Cristianismo como uma contra-
Igreja com os seus pró prios dogmas, as suas pró prias escrituras, a sua
pró pria infalibilidade, a sua pró pria hierarquia. , sua pró pria cabeça
visível, seus pró prios missioná rios e sua pró pria cabeça invisível –
terrível demais para ser nomeada.
Em certos países hoje a religiã o só existe devido à tolerâ ncia de um
ditador político. Sem perseguir activamente a Igreja, usurpa as suas
funçõ es, dá cartõ es de pã o apenas à queles que conspiram contra a
religiã o, tenta criar uma uniformidade ideoló gica liquidando qualquer
pessoa que se oponha a essa ideologia e, pelo simples peso da
propaganda inspirada pelo Estado, afectaria a organizaçã o em massa da
sociedade numa base puramente secular e anti-religiosa.
A cultura hoje está se tornando politizada. O Estado moderno está a
alargar o domínio sobre á reas fora da sua província, da família, da
educaçã o e da alma. Está a concentrar a opiniã o pú blica em cada vez
menos mã os, o que se torna ainda mais perigoso devido à forma
mecâ nica como a propaganda pode ser disseminada. Procura atingir os
seus fins por meios extraparlamentares. A ideia de uma comunidade de
trabalhadores é substituída pela cooperaçã o em massa numa base nã o
pessoal; o contrato tomou o lugar da responsabilidade. As linhas estã o
se tornando claras.
O conflito do futuro será entre uma religiã o de Deus e uma religiã o de
Estado, entre Cristo e o Anticristo disfarçado politicamente.
A histó ria atesta que a religiã o nã o invadiu a esfera temporal, mas sim
governantes temporais invejosos invadiram a arena espiritual. À s vezes,
esses governantes eram reis e príncipes, até mesmo os chamados
“defensores cató licos da fé”. Hoje eles sã o ditadores.
Mas o problema é sempre o mesmo: a invasã o do espiritual pelo
político. Se for contestado que a religiã o uma vez fez Henry vir para
Canossa, afirme-se que foi exactamente pela mesma razã o que o mundo
fez guerra contra Hitler, nomeadamente, por causa da sua usurpaçã o da
liberdade espiritual. A diferença entre a época de Henrique e a de Hitler
é que quando a religiã o tinha alguma influência no mundo e os reis
tinham consciência, era possível para a Igreja inspirá -los à penitência.
Com essa autoridade moral rejeitada, agora as naçõ es têm de gastar
quinhentos e vinte e três mil milhõ es de dó lares e milhõ es de vidas para
impressionar alguns dos ditadores com o mesmo facto.
Há algo de alarmante nessa breve descriçã o de como Nosso Senhor
morreu. Nenhum outro nome é mencionado no Credo, exceto o nome
de um juiz – Judas, Aná s e Caifá s nã o sã o mencionados. A vida terrena
de Nosso Senhor é rapidamente ignorada, mas um detalhe significativo
é retido: “Ele sofreu sob Pô ncio Pilatos”. Este é um registro nã o apenas
de um fato histó rico, mas também uma profecia do que acontecerá com
Cristo em Seu Corpo Místico de tempos em tempos: Ou seja, Sua Igreja
nos dias sombrios da histó ria sofrerá uma morte e perseguiçã o
aparentemente finais, sofrimento sob Pô ncio Pilatos - o poder de um
estado onipotente.
Pode nã o ser benéfico para a religiã o opor-se à religiã o estatal, pois o
Estado moderno está armado e a Igreja nã o. A religiã o pode até ser
golpeada entre um juiz antigo que pensa que é conveniente que um
homem morra em vez de toda a naçã o perecer, e um juiz moderno que
sente que é conveniente que todas as pessoas morram por um homem
que é um ditador. Pode ouvir dos lá bios do Pilates moderno as palavras
de poder: “Você nã o sabe que tenho o poder de condená -lo?” Mas
sempre retornará a eles a voz suave de Cristo: “Vocês nã o teriam poder
se nã o lhes fosse dado do alto”.
Embora o pró prio Cristo nã o nos liberte do poder do estado totalitá rio,
como Ele nã o se libertou, devemos ver o Seu propó sito em tudo isso.
Talvez Seus filhos estejam sendo perseguidos pelo mundo para que
possam se retirar do mundo. Talvez os Seus inimigos mais violentos
possam estar a fazer a Sua obra de forma negativa, pois poderia ser a
missã o do totalitarismo presidir à liquidaçã o de um mundo moderno
que se tornou indiferente a Deus e à s Suas leis morais.
Talvez aqueles de nó s que nã o se importavam se Deus existe ou nã o
possam ainda sofrer com aqueles a quem ensinamos – através das
obras de Feuerbach e Hegel, por exemplo – a exilá -lo completamente.
Talvez o pró prio secularismo de que sofremos seja uma reaçã o contra a
nossa pró pria enfermidade espiritual. Talvez o crescimento do ateísmo
e do totalitarismo seja a medida da nossa falta de zelo e piedade e a
prova dos nossos deveres cristã os nã o cumpridos.
Somente quando carregarmos as marcas de Cristo seremos libertados
em Sua vitó ria. Talvez aqueles cristã os que, no século passado,
identificaram a religiã o com um optimismo ingénuo e traduziram o
darwinismo numa linguagem econó mica de prosperidade ilimitada,
ainda devam aprender que Cristo nã o é dos tempos, para que nã o fique
viú vo com os tempos.
Talvez tenha sido a nossa perda de padrõ es sobrenaturais, o declínio da
família, a nossa falta de reverência pelos outros, o nosso egoísmo
crescente, que tornaram possível esta situaçã o. Talvez devamos
aprender da maneira mais difícil que o nosso destino nã o se encontra
nas dimensõ es da histó ria temporal, pois a Igreja é, como disse
Newman, “um Império universal sem armas terrenas; pretensõ es
temporais sem sançõ es temporais; uma reivindicaçã o de governar sem
o poder de fazer cumprir; uma tendência contínua para adquirir com
uma exposiçã o contínua para ser despossuído; grandeza de espírito
com fraqueza de corpo.”
Mas qualquer que seja a razã o destes dias difíceis, disto podemos estar
certos: O Cristo que sofreu sob Pô ncio Pilatos assinou a sentença de
morte de Pilatos; nã o foi Pilatos quem assinou o de Cristo. A Igreja de
Cristo será atacada, desprezada e ridicularizada, mas nunca será
destruída. Os inimigos de Deus nunca poderã o destronar os céus de
Deus, nem esvaziar os taberná culos do seu Senhor Eucarístico, nem
cortar todas as mã os absolventes, mas poderã o devastar a terra.
A realidade crua que os inimigos de Deus devem enfrentar é que a
civilizaçã o moderna conquistou o mundo, mas ao fazê-lo perdeu a sua
alma. E ao perder a sua alma, perderá o pró prio mundo que ganhou.
Mesmo a nossa pró pria cultura dita liberal nos Estados Unidos, que
tentou evitar a secularizaçã o completa deixando pequenas zonas de
liberdade individual, corre o risco de esquecer que estas zonas foram
preservadas apenas porque a religiã o estava na sua alma. E à medida
que a religiã o desaparece, o mesmo acontece com a liberdade, pois
somente onde está o espírito de Deus é que existe liberdade.
A política tornou-se tã o possessiva na vida que, por impertinência,
pensa que a ú nica filosofia que uma pessoa pode defender é a direita ou
a esquerda. Esta questã o apaga todas as luzes da religiã o para que
possam chamar todos os gatos de cinzentos. Assume que o homem vive
num plano puramente horizontal e só pode mover-se para a direita ou
para a esquerda. Se tivéssemos olhos menos materiais, veríamos que
existem duas outras direçõ es para onde um homem com alma pode
olhar: as direçõ es verticais de “para cima” ou “para baixo”.
Ambos figuraram na crucificaçã o de Nosso Senhor. Mesmo aqueles
homens cruéis que crucificaram sabiam que essas eram as orientaçõ es
que contavam. Entã o eles gritaram para Ele: “Desce”, e nó s
acreditaremos. De uma forma ou de outra, esse eco foi captado e está
sendo espalhado pelo mundo hoje. “Abaixo a religiã o!” “Abaixo o
capital!” “Abaixo o trabalho!” “Abaixo os reacioná rios!” “Abaixo os
progressistas!”
Nã o estamos destruindo há tempo suficiente? É possível construir um
mundo com a palavra “para baixo”? Nã o há outro grito em nosso
vocabulá rio? O Capitã o Cristo nã o deu outro: “Se eu for elevado, atrairei
todas as coisas para mim”.
Levantado! Quem nos levantará ? Crucificando ditadores? Talvez! Mas
onde seremos elevados? À cruz, prelú dio do tú mulo vazio, cruz de
Cristo nosso Redentor. Ouça a palavra “para cima”. Grite no exterior!
“Acima do ó dio de classe; acima da inveja; acima da avareza; saindo da
guerra; além da margem do mundo; para além dos 'portais conturbados
das estrelas' - PARA CIMA... PARA CIMA... PARA CIMA, até Deus!”

É tão difícil e severo ser um verdadeiro político quanto ser


verdadeiramente moral .
-FRANCIS BACON​
CAPÍTULO QUATRO
Herodes: uma lição sobre amor próprio

É possível que uma alma tenha demasiadas oportunidades de


conversã o, de modo que no final fique cega pela pró pria Luz que
deveria ter iluminado o seu caminho até Deus? Herodes dá a resposta.
Sua capital ficava em Tiberíades, a cerca de quinze milhas de Nazaré e a
dezesseis quilô metros de Cafarnaum, ao longo do mar da Galiléia, onde
Nosso Senhor passou grande parte de Seu ministério. Herodes deve ter
ouvido muito de Nosso Senhor, nã o só pela pequenez do seu reino, mas
também porque o evangelho nos diz que Joana, a esposa do mordomo
de Herodes, foi curada de espíritos malignos por Nosso Senhor e depois
“ministrou” aos itinerante Jesus e Seus apó stolos, entregando suas
riquezas. Lemos em Atos que Manaém, um “irmã o adotivo” de Herodes,
tornou-se um dos primeiros professores cristã os em Antioquia. A
influência de Nosso Senhor pelo menos entrou na família e nas
amizades de Herodes, embora nã o tenha penetrado no seu coraçã o.
Dois episó dios expõ em a alma de Herodes. O primeiro, o divó rcio da
esposa e o segundo casamento com Herodias, que era esposa de seu
irmã o e também filha de seu meio-irmã o Aristó bulo. Como diria o
nosso mundo moderno: “Havia incompatibilidade entre Herodes e a sua
primeira esposa, mas ele e Herodias tinham muitas coisas em comum”.
O segundo ato revelador de Herodes é o tratamento dispensado a Joã o
Batista. Ele havia convidado Joã o Batista ao seu palá cio, nã o para ouvir
a verdade de sua pregaçã o, mas para desfrutar da emoçã o de sua
orató ria. Há tantos no mundo assim: eles nã o querem ser melhores;
eles querem apenas se sentir melhor. Mas Joã o nã o era o tipo de
pregador que suavizava o seu evangelho para se adequar ao paganismo
dos seus ouvintes. Por ter condenado o segundo casamento de Herodes,
ele perdeu a cabeça. Todos no mundo perdem a cabeça ao mesmo
tempo, mas é melhor perder a cabeça pelo caminho de Joã o na defesa
da verdade, do que pelo caminho de Herodes, no vinho e na paixã o.
Apó s a decapitaçã o de Joã o, Herodes ouviu falar de Jesus e pensou que
Jesus poderia ser o espírito vingador de Joã o que voltou para assombrá -
lo. Cheio de superstiçã o, ele pensou que era Joã o ressuscitado dos
mortos. “Ora, Herodes, o tetrarca, ouviu falar de todas as coisas que
foram feitas por ele; e ele ficou em dú vida, porque alguns disseram que
Joã o ressuscitou dos mortos; mas por outros que Elias havia aparecido;
e por outros ainda, que um dos antigos profetas ressuscitou. E Herodes
disse: 'Joã o eu decapitei; mas quem é este de quem ouço tais coisas?' E
procurava vê-lo” (Lucas 9:7–9).
Assim, as pessoas que nã o têm religiã o tornam-se viciadas em
superstiçõ es. Apó s a execuçã o de Joã o Batista, Nosso Senhor retirou-se
para o deserto. “No mesmo dia chegaram alguns fariseus, dizendo-lhe:
Vai e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te. E Ele lhes disse: 'Vã o
e digam à quela raposa: Eis que eu expulso demô nios e faço curas hoje e
amanhã , e no terceiro dia estou consumado. Contudo, convém que eu
ande hoje, amanhã e no dia seguinte, porque nã o pode acontecer que
morra um profeta fora de Jerusalém'” (Lucas 13:31-33).
Lembre-se de que Pilatos era o governador do Reino da Judéia, no sul,
enquanto Herodes era o tetrarca do Reino de Israel, no norte. Durante o
julgamento perante Pilatos, Nosso Senhor foi acusado de ser demasiado
político. Pilatos, depois de examinar Nosso Senhor, saiu ao pó rtico do
Templo e disse aos acusadores do Senhor: “Nã o encontro causa neste
homem” (Lucas 23:4). Esse deveria ter sido o fim do julgamento. Mas a
multidã o respondeu: “Ele incita o povo, ensinando por toda a Judéia,
começando pela Galiléia até este lugar” (Lucas 23:5).
Galiléia! Como Pilatos aproveitou essa palavra. Se Nosso Senhor fosse
da Galiléia, entã o Ele nã o estava sob a jurisdiçã o de Pilatos. Foi um
golpe diplomá tico de oportunismo político. Como galileu, Ele estava sob
a jurisdiçã o de Herodes, e Herodes estava em Jerusalém naquele
mesmo dia para a época pascal. Vá para Herodes. Ele deve ir. Foi “boa
política”, o que significa que foi conveniente, mas moralmente foi pura
desonestidade e desonestidade.
Herodes tinha todos os vícios de seu pai – cruel, avarento, dissipado –
mas nã o seu gênio para a astú cia. Ele era um edomita, e os edomitas
eram os descendentes de Esaú , que vendeu seu direito de
primogenitura a Jacó por um mingau de aveia, e que assim se tornou o
pai de um povo que amava mais do que valorizava as coisas desta terra.
Esaú é registrado nas Escrituras como o tipo de homem sensual que
nã o se elevou acima do animal, e cujo epitá fio está escrito no Novo
Testamento: “Para que nã o haja algum fornicador, ou profano, como
Esaú ; que por uma bagatela vendeu o seu direito de primogenitura”
(Hebreus 12:16). Em nenhum lugar do Antigo Testamento ouvimos
falar de deuses edomitas ou da religiã o edomita. Eram pessoas sem
consciência, vivendo de despojos e vingança. Sua ú nica qualidade era a
astú cia, e Nosso Senhor marcou sua raça com isso quando chamou
Herodes de raposa (Lucas 13:32).
Nosso Senhor está agora diante da raposa, do traidor, do adú ltero
incestuoso, do assassino de Joã o, do inimigo do povo, da pessoa mais
adequada do mundo para condenar a inocência. Aquele bebê de Belém
que seu pai tentou matar agora está algemado diante de Herodes. “E
Herodes, vendo Jesus, alegrou-se muito; pois há muito tempo ele
desejava vê-lo, porque tinha ouvido muitas coisas sobre ele; e esperava
ver algum sinal feito por ele” (Lucas 23:8).
Herodes ficou feliz! Mas feliz apenas porque esperava ver um truque.
Ele obrigaria Nosso Senhor a usar alguma magia para salvar Sua vida.
Isto é tudo o que a religiã o significa para algumas pessoas: um deleite
passageiro para superá -las por um momento no intolerável tédio da
vida. Faz com que se sintam bem entre as saciedades. A corte de
Herodes estava lá ; seu guarda-costas, cortesã s, bajuladores e
provavelmente Herodias e Salomé, cujas mã os ainda estavam molhadas
com o sangue do Batista.
Herodes começou fazendo muitas perguntas a Nosso Senhor, nã o
questõ es de doutrina e disciplina como Aná s havia feito, mas perguntas
motivadas pela curiosidade. As almas cansadas apresentam
dificuldades intelectuais, nunca apelam à regeneraçã o moral. Portanto,
a todas as perguntas Nosso Senhor nada lhe respondeu. Ele tentou
salvar Judas e Pilatos, mas Herodes – nem uma palavra.
Por que Nosso Senhor se recusou a falar com Herodes? Será que Aquele
que veio para salvar todos os homens e que os amou o suficiente para
morrer por eles, ainda nã o deveria sequer tentar ganhar almas
calejadas como Herodes? Por que deveria Aquele que falou com Judas, o
traidor, com Madalena, a prostituta e o ladrã o, agora ficar em silêncio
diante de um rei?
Porque a consciência de Herodes estava morta . Ele estava muito
familiarizado com a religiã o. Ele queria milagres, sim, mas nã o para
entregar a sua vontade, mas para satisfazer a sua curiosidade. Sua alma
já estava tã o embotada pelos apelos, inclusive os do Batista, que outro
apelo só teria intensificado sua culpa. Ele era totalmente surdo do lado
de Deus. Ele estava morto de corpo e alma, consumido pelo luxo e pelo
pecado. Herodes nã o estava oferecendo sua alma pela salvaçã o, mas
apenas seus nervos por excitaçã o.
A caça espiritualizada de sensaçõ es nã o é religiã o. Cristo nã o é ministro
dos sentidos. A capacidade de santidade foi morta em Herodes.
Portanto, o Senhor do universo nã o falou uma palavra ao mundano.
Nero tinha a consciência de Sêneca para guiá -lo, mas ela nã o reprimiu
sua luxú ria e crueldade. Alexandre teve Aristó teles, mas isso nã o
moderou o seu imperialismo. Herodes, o Grande, tinha os Reis Magos,
mas isso nã o impediu sua carnificina. Herodes, seu filho, teve Joã o
Batista, mas isso nã o impediu que ele zombasse da religiã o.
Herodes é o tipo de pessoa que já possui conhecimento suficiente sobre
religiã o, mas se recusa a fazer qualquer coisa a respeito. A Escritura os
descreve: “Porque odiaram a instruçã o e nã o receberam o temor do
Senhor”. “Entã o me invocarã o, e eu nã o ouvirei” (Provérbios 1:29, 28).
Os homens falaram do inferno em vá rias imagens, mas nenhuma é mais
terrível do que a imagem do silêncio de Deus. “…Ó meu Deus, nã o te
cales comigo; para que, se te calares comigo, eu nã o me torne como os
que descem à cova” (Salmos 28:1).
Deus à s vezes julga em silêncio. E aquele silêncio de Nosso Senhor
clamou mais aos ouvidos de Herodes do que a forte repreensã o de Joã o
Batista. Tal silêncio é um trovã o, pois é a pena que Deus inflige à alma
que nã o é sincera ou que procura uma verdade nã o para abraçar, mas
para rejeitar.
Provavelmente o pior castigo que Deus pode impor a uma alma é deixá -
la em paz. Entã o nenhum som, nenhuma consciência perturbada,
nenhuma censura. “Efraim está unido aos seus ídolos! Deixe-o em paz.
A natureza fala-nos na linguagem reprovadora da dor quando violamos
as suas leis, por exemplo, quebramos um osso. Uma dor de dente prova
que a natureza tem uma língua que nos ordena remediar o mal. A
consciência também tem voz; nos convida a voltar novamente para
Deus com todo remorso.
Mas existem algumas doenças que matam sem a voz da dor – o cancro
que destró i em silêncio. O mesmo acontece com a consciência. Se ele
nã o fala mais com remorso, nã o pense que você está saudável. Sua alma
pode estar morta. Nosso Senhor nã o lhe responderá nada entã o, mesmo
quando você O vestir como um tolo. Entã o o silêncio sobre a cruz para a
qual você O enviou será Seu ú ltimo apelo.
Este é também o castigo do espírito secular do mundo moderno. Sua
alma morreu para a religiã o. A religiã o tornou-se para a mente
moderna uma curiosidade vulgar. Cuidado com a consciência morta,
com os ouvidos mortos à s mil e uma graças reais que chegam a você em
um mês para se voltar para Deus, para buscar a verdade, para purificar
sua consciência. Cuidado com aquela trivialidade moral que sela os
lá bios de Deus, porque nã o há nada em tal alma onde o espírito de Deus
possa operar.
Ai daqueles que se vangloriam de que suas consciências estã o limpas
quando estã o realmente mortos. Conte-lhes sobre uma falha ou dever
nã o cumprido e eles responderã o com segurança que isso nã o os
incomoda. Independentemente do que os outros possam pensar, o
pecado nã o está nas suas consciências. Bem, eles podem examinar suas
almas e perguntar se a sua paz nã o é a falsa paz mortal do palá cio do
diabo, onde ele habita com toda a sua armadura. “Quando um homem
forte e armado guarda a sua corte, estã o em paz as coisas que ele
possui” (Lucas 11:21).
Chega um momento na histó ria em que os julgamentos morais da
religiã o sobre uma sociedade obsoleta caem em ouvidos mortos: “Eles
têm ouvidos e nã o ouvem”. De que adianta hoje a religiã o dizer ao
mundo moderno que o divó rcio e o colapso da vida familiar terminarã o
na destruiçã o da naçã o? Quem nos ouvirá se dissermos que um Estado
que persegue a religiã o é uma ameaça para o mundo? Quem dá ouvidos
ao aviso aos capitalistas de que a privacidade dos lucros é errada
quando os princípios da justiça social sã o ignorados e aos líderes
trabalhistas de que a organizaçã o nã o é um fim, mas apenas um meio
para o bem comum de uma naçã o?
As consciências mortas têm apenas uma reaçã o à religiã o, e é a mesma
reaçã o de Herodes, a saber, a zombaria que aparentemente lhes confere
superioridade intelectual. Ao considerar os outros como estando abaixo
da nossa inteligência, parece que alguém se coloca acima da sua
inteligência.
Isto nos leva ao segundo ato do drama de Herodes: vestir Cristo com as
vestes de um tolo e enviá -lo de volta a Pilatos. Em Roma, quando um
homem era candidato a um cargo pú blico, vestia uma tú nica branca –
toga candida , de onde vem a palavra “candidato” – e passava de eleitor
em eleitor em busca de sufrá gio. Talvez, ao vesti-lo assim, Herodes
quisesse sugerir que ele era um candidato à realeza e à divindade, mas
um candidato cujas reivindicaçõ es estavam recebendo pouco apoio de
um procurador ou de um tetrarca.
Foi uma boa piada. Ele podia confiar que Pilatos perceberia o humor
daquilo. Serviria a um duplo propó sito; isso provaria que Cristo era um
tolo, e quando Pilatos e ele rissem disso, seriam amigos, pois quando os
homens riem juntos, a inimizade cessa, mesmo quando o alvo do humor
é Deus.
O poder perverso nã o suporta a visã o de uma consciência inocente.
Desde os dias da juventude, quando o bom rapaz é ridicularizado pelos
maus rapazes, porque a sua bondade é um julgamento que lhes é
transmitido, até aos dias da maturidade, quando os homens maus
ridicularizam a religiã o, a moral é sempre a mesma: a perseguiçã o
religiosa surge no mundo, nã o porque a religiã o é corrupta, mas porque
as consciências sã o corruptas.
Uma das penalidades de ser religioso é ser ridicularizado e
ridicularizado. Se Nosso Senhor se submeteu ao humor obsceno de um
tetrarca degenerado, podemos ter certeza de que nó s, Seus seguidores,
nã o escaparemos. Quanto mais divina for uma religiã o, mais o mundo
irá ridicularizá -lo, pois o espírito do mundo é inimigo de Cristo. As
religiõ es puramente humanistas e as seitas populares fundadas por
modernos emocionais nunca sã o objecto do desprezo do mundo. Mas
uma vez que uma religiã o reivindica ser divina, entã o ela deve estar
preparada para aceitar o insulto daquilo que nã o é divino. Entã o o riso
e o humor, que sã o tã o necessá rios à existência humana, tornam-se
totalmente perversos porque se voltam contra Aquele que os deu.
Agora observe o ridículo da religiã o por parte daqueles que a infligem.
Aí ela impõ e uma pena terrível, pois cega o escarnecedor para a sua
maior necessidade e para a sua pró pria salvaçã o. É muito parecido com
um homem faminto que zomba de um vizinho que lhe dá comida
porque o vizinho está mal vestido.
A tragédia da zombaria religiosa é que ela rejeita Aquele que é o ú nico
que pode salvar. Herodes rejeitou a sua pró pria paz ao ridicularizar o
prisioneiro diante dele. Eles também, que nã o oferecem oposiçã o
intelectual, mas que ridicularizam tudo o que diz respeito à religiã o, e
que riem dos salvos e zombam dos santos, sairã o noite afora sem serem
abençoados e chorando.
Nosso momento atual é algo parecido com aquele em que a consciência
de Nosso Senhor ficou impotente diante de Herodes. Estamos sendo
vestidos com roupas de tolo. Somos ridicularizados se pregamos os
ensinamentos de Cristo. Somos chamados de tolos se pedimos a
restauraçã o da religiã o na educaçã o; tolos se afirmamos que todo poder
político vem de Deus; tolos se insistirmos que a unidade mundial é
impossível sem o reconhecimento de uma lei moral universal; tolos se
orarmos, se jejuarmos, se nos disciplinarmos.
E aí está a resposta: devemos ser tolos, assim como Cristo foi
ridicularizado como um tolo. Uma era de sensualidade é
necessariamente uma era de perseguiçã o. Uma era de irracionalidade é
uma era de zombaria. O poder perverso nã o se submeterá ao
julgamento da verdade. Traga, entã o, suas vestes brancas de zombaria,
ó Senhor, como você fez com Cristo, para que você possa mostrar o
grande abismo que está estabelecido entre Você e os servos do Espírito.
Vistam esse manto de tolo, irmã os cristã os, pois um novo crime está
surgindo no mundo, o crime de ser cristã o. Seu Cristo vestiu o manto de
um tolo diante de você: “Mas Deus escolheu os tolos do mundo para
envergonhar os sá bios” (1 Coríntios 1:27).
Seu manto de gló ria no céu também é branco. O Livro do Apocalipse
nos diz que o manto do má rtir é branco. Que os soldados tomem esta
tú nica branca de Herodes e a rifem com um lançamento de dados. Tuas
vestes de gló ria serã o brancas, nã o como símbolos simulados de
candidatura ao poder político, mas como o distintivo glorioso dos filhos
do Cordeiro. Nã o fique abatido ao vestir o manto. Você será odiado por
um tempo: “Eu escolhi você do mundo, por isso o mundo te odeia” (Joã o
15:19). “No mundo tereis angú stias” (Joã o 16:33).
A divindade é a ú nica coisa no mundo diante da qual as pessoas nã o
podem permanecer indiferentes por muito tempo. Eles devem amar ou
odiar. Cristo é grande demais para ser ignorado, santo demais para ser
odiado. O que os espíritos malignos disseram sobre Ele poderia ser
colocado na boca de todos os que praticam o mal: “O que temos nó s a
ver com Jesus de Nazaré? Você veio para nos destruir?
O mal é demasiado hipersensível para ser indiferente ao desafio do
bem. Conhece seus inimigos com muita antecedência. Que venha ao
mundo quem acredita em Freud e pregue: “Bem-aventurados os limpos
de coraçã o”; ou vá até aqueles que acreditam na luta de classes do
Fascismo Vermelho e pregam: “Se alguém tirar a sua capa, dê-lhe
também a sua capa”; ou entrar num mundo de agressividade e dizer:
“Bem-aventurados os mansos”; ou para um mundo onde as crianças sã o
criadas sem uma oraçã o ou um pensamento de Deus e dizem: “Deixai as
crianças virem a Mim”; ou deixá -lo empurrar os capitalistas para o mar,
mesmo que isso restaure a saú de de um homem, e ver se ele pode ter
outro fim além da cruz. Você nã o pode pregar a bondade a um mundo
mau e esperar nada menos do que ser crucificado.
Ninguém perderá tempo com trivialidades. Ninguém desembainhará
espadas contra os fracos. O instinto do mal é infalível; conhece seus
inimigos. Procure, entã o, o Cristo odiado, a quem é pago o belo tributo
da oposiçã o, o alto elogio do ó dio. Pois se o mundo odeia, entã o nã o é
mundano, e se nã o é mundano, entã o é divino, e se é divino, entã o é o
canal da salvaçã o.
Nã o negue o seu Mestre, mesmo sob oposiçã o. “Mas aquele que me
negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que
está nos céus” (Mateus 10:33). Enquanto formos odiados, vale a pena
nos preocupar. A igreja que daria apenas um tom moral aos
movimentos seculares pode morrer pela sua pró pria inaniçã o. Se as
forças pagã s do mundo nos deixassem intocados, se nã o nos
caluniassem, procurassem destruir-nos, estabelecessem pretendentes
rivais à alma, isso significaria que teríamos perdido a nossa influência,
que o nosso toque se foi, as nossas estrelas nã o brilhou mais.
Os homens agitam os punhos sobre o tú mulo de Napoleã o? Os exércitos
atacam e se enfurecem contra o tú mulo de Maomé? As forças atacam o
tú mulo de Lenin? Esses homens estã o mortos. Mas eles atacam a
cidadela de Cristo; eles se enfurecem contra Sua Esposa; eles matam os
membros do Seu Corpo; eles tentam sufocar os jovens coraçõ es que
respiram Seu nome na escola. Portanto, Cristo deve estar vivo hoje em
Seu Corpo que é a Igreja.
A Igreja ainda pode irritar as forças do mal do mundo. Ainda pode
inspirar perseguiçã o. Portanto Cristo está conosco. A alegria de ser
considerado inimigo do mal é a alegria da honra. Nosso coraçã o é
aquecido pelo tributo de inimizade daquelas á reas da vida, onde ser
contado como amigo, ou nã o ser considerado, seria ser condenado
como sal sem sabor e como velas fracas cujas luzes se apagaram.
E também neste contexto se pode ver na perseguiçã o dos judeus na
Europa um sinal de predileçã o divina. Eles podem nã o compreender a
metafísica da perseguiçã o, mas é interessante que neste século estejam
em acçã o forças que perseguiriam tanto o Antigo como o Novo
Testamento. Duas classes foram odiadas; aqueles que levaram Cristo e
aqueles que O levaram; aqueles que se prepararam para Sua vinda e
aqueles que o seguem. Poucos cristã os e judeus podem compreender a
metafísica da anti-religiã o moderna, mas as almas profundas entre
ambos podem ver e compreender o seu significado. Existem forças em
açã o no mundo que nã o teriam nada a ver com aqueles que já tiveram
alguma coisa a ver com Deus, e sob um inimigo comum ambos estã o
sendo unidos no abraço do Deus amoroso que nos criou a ambos.
Nã o. Cristo nã o cortejou oposiçã o; nem o Seu Corpo que é a Igreja. Ele
ofereceu amor de vez em quando, mas os egoístas nã o querem esse
amor, e daí surge a oposiçã o. Embora a Igreja dê amor a todos, ela pode
testar a virilidade dos seus amores através do fogo da resistência que
acende no peito de todos os que sabem que o amor de Cristo reinante
significa desastre para os seus maus caminhos.
O manto branco do tolo é um julgamento para o mundo; é o sinal do seu
mal; o estertor mortal de sua maldade. Porque os homens zombam, um
veredicto é dado a eles; porque a Igreja é martirizada por poderes
malignos, uma sentença foi pronunciada contra esses poderes. Suas
açõ es sã o conhecidas como pecaminosas pelo que fazem com a
inocência. Assim, os homens que vivem no mundo e nã o sabem onde
procurar a religiã o, finalmente a encontrarã o na religiã o que o seu
pró prio mundo crucificou, e ao encontrá -la encontrarã o a paz que o
mundo nã o pode tirar!
Verdadeiros seguidores de Cristo, estejam preparados para que o
mundo faça piadas à s suas custas. Você dificilmente pode esperar que
um mundo seja mais reverente a você do que a Nosso Senhor. Quando
zomba da sua fé, das suas prá ticas, abstinências e rituais, entã o você
está se movendo para uma identidade mais pró xima com Aquele que
nos deu a nossa fé. Nem você pode retribuir o escá rnio com escá rnio.
Nã o podemos travar as batalhas de Deus com as armas de Sataná s.
Retribuir zombaria com zombaria nã o é a resposta de um cristã o, pois
sob o desprezo Nosso Senhor “nada respondeu”. O mundo se diverte
mais com um cristã o que falha em ser cristã o, mas nada com seu
silêncio respeitoso.
A resposta de Nosso Senhor a Herodes foi que Nosso Senhor continuava
a ser Nosso Senhor. Os cã es latem para a lua a noite toda, mas a lua nã o
rosna. Continua brilhando. Brilhe em seu manto branco de zombaria, ó
cristã o! Um dia será o manto da sua gló ria!

Inquieta está a cabeça que usa uma coroa .


—S HAKESPARE
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados .
—MATEUS 5 :6
CAPÍTULO CINCO
Cláudia e Herodias: uma lição sobre opostos

Uma das mudanças mais revolucioná rias e ainda despercebidas no


mundo do pó s-guerra é o papel atribuído à s mulheres. Ganhar o mundo
para Cristo – ou ganhá -lo para o Anticristo – requer desempenhar um
de dois papé is: o de Eva ou o de Maria.
Em 21 de outubro de 1945, o Santo Padre (Papa Pio XII) publicou uma
encíclica sobre “Os deveres da mulher na vida social e política”, e em 26
de novembro, os comunistas, que [tinham] transferido a sua
configuraçã o revolucioná ria internacional para Paris para se isentarem
de responsabilidade para um jogo duplo, denominado Congresso
Internacional de Mulheres naquela cidade.
O apelo cristã o preocupava-se com “manter e fortalecer a dignidade das
mulheres” que bem poderiam perguntar “se podem esperar pelo seu
verdadeiro bem-estar num regime dominado pelo capitalismo” por um
lado, ou num “estado totalitá rio, por qualquer que fosse o nome que
fosse chamado, isso roubaria a educaçã o de seus filhos.” Descreveu um
programa para a educaçã o cristã das mulheres para a vida social e
política sob “o estandarte de Cristo Rei e o patrocínio da Sua
maravilhosa Mã e”, a fim de que pudessem ser “restauradoras da honra,
da família e da sociedade”.
O apelo anticristã o apresentado num panfleto de autoridade escrito
pela líder comunista alemã , Clara Zetkin, em preparaçã o para este
congresso, citava uma declaraçã o de Lenine feita a ela sobre o
“Congresso Internacional de Mulheres sem partido”. “Temos de
conquistar para o nosso lado os milhõ es de mulheres trabalhadoras...
para a transformaçã o comunista da sociedade... cujo objectivo é a
tomada do poder através do estabelecimento da ditadura do
proletariado... Imaginem aqueles que se encontrarã o com as chamadas
'hienas'. da revoluçã o', e se tudo correr bem, sob a sua liderança –
mulheres honestas, mansas e social-democratas; mulheres cristã s
piedosas abençoadas pelo Papa ou juradas por Lutero; filhas de
Conselheiros Privados; pacifistas ingleses elegantes e pacifistas
franceses apaixonados.” O sucesso desta iniciativa em Paris pode ser
verificado através da leitura dos nomes daqueles que compareceram –
mesmo dos nossos pró prios Estados democrá ticos.
Clara Zetkin continua: “É claro que as mulheres comunistas devem ser
nã o apenas a força motriz, mas também a força dirigente no trabalho
preparató rio. Os slogans comunistas e as propostas comunistas devem
ser o centro do trabalho do Congresso e da atençã o pú blica. Depois do
Congresso, devem ser difundidos entre as mais amplas massas
possíveis de mulheres e ajudar a determinar a açã o internacional de
massas por parte das mulheres.”
Assim, pareceria que as mulheres do mundo deveriam ser divididas
como estavam nos tempos do Evangelho, ou pelo Deus dos céus e pela
liberdade enraizada no Espírito, ou entã o pela causa do Anticristo e
pela decapitaçã o de aqueles que proclamariam a lei moral no palá cio
dos ditadores. Esses dois papéis foram prefigurados em Clá udia e
Herodias.
Clá udia era a filha mais nova de Jú lia, filha de César Augusto. Julia foi
casada três vezes, a ú ltima com Tibério. Por causa de sua vida dissoluta,
Jú lia foi exilada quando deu à luz Clá udia a um cavaleiro romano.
Quando Clá udia tinha treze anos, Jú lia mandou-a ser criada por Tibério.
Quando ela tinha dezesseis anos, Pô ncio Pilatos, ele pró prio de origem
humilde, conheceu Clá udia e pediu permissã o a Tibério para se casar
com ela. Assim Pilatos casou-se com alguém da família do imperador, o
que garantiu seu futuro político. E com base nisso, Pilatos foi nomeado
procurador da Judéia.
Os governadores romanos foram proibidos de levar suas esposas
consigo para as províncias. A maioria dos políticos ficou muito feliz com
isso, mas Pilatos nã o. O amor quebrou uma severa lei romana. Depois
de Pilatos ter passado seis anos em Jerusalém, ele mandou chamar
Clá udia, que estava mais do que ansiosa para enfrentar a solidã o da
vida longe da capital do mundo e no meio de um povo desconhecido e
estranho.
Podemos razoavelmente concluir que Clá udia deve ter ouvido falar de
Jesus, talvez pela empregada judia que preparou seu banho, ou pelos
mordomos que trouxeram notícias sobre Ele. Ela poderia realmente tê-
lo visto, pois a Fortaleza de Antô nia, onde ela morava, ficava perto do
Templo de Jerusalém, e Jesus estava frequentemente lá .
Ela pode até ter ouvido Sua mensagem, e como “nenhum homem jamais
falou como este homem”, sua pró pria alma ficou comovida. O pró prio
contraste entre Ele e Suas idéias sobre o mundo que ela conhecia, e os
pensamentos que ela pensava, aprofundou Seu apelo. Quã o pouco as
mulheres de Jerusalém que viram Clá udia olhando através da grade,
que tentaram captar o brilho das pedras preciosas em suas mã os
brancas, ou marcar o orgulho de seu rosto patrício, alguma vez
adivinharam quã o profundos eram seus pensamentos, quã o intensa era
sua tristeza. , quã o profundo é o seu anseio.
Devemos lembrar que havia quase uma submissã o prussiana à lei entre
os romanos. Nenhuma mulher estava autorizada a interferir nos
processos legais, nem mesmo a oferecer sugestõ es sobre
procedimentos legais. O que torna a sua entrada em cena ainda mais
notável é que ela enviou uma mensagem ao marido, Pô ncio Pilatos, no
mesmo dia em que ele decidia o caso mais importante da sua carreira e
o ú nico pelo qual será lembrado. – o julgamento de Nosso Bendito
Senhor.
Enviar uma mensagem a um juiz enquanto ele estava no tribunal era
uma ofensa punível, e só o horror do ato que ela via prestes a ser
cometido poderia ter levado Claudia a fazê-lo. Como Mateus registra: “E
estando ele sentado no lugar do julgamento, sua esposa lhe enviou uma
mensagem dizendo: 'Nã o tenhas nada que ver com esse justo; porque
hoje em sonho sofri muitas coisas por causa dele'” (Mateus 27:19).
Enquanto as mulheres de Israel permaneciam em silêncio, esta mulher
pagã deu testemunho da inocência de Jesus e pediu ao seu marido que
tratasse com Ele de uma forma justa.
A mensagem de Clá udia foi um epítome de tudo o que o Cristianismo
faria pela feminilidade pagã . Ela é a ú nica mulher romana nos
evangelhos e é uma mulher do posto mais alto . Este sonho foi um
epítome dos sonhos e anseios de um mundo pagã o, a sua antiga
esperança de um homem justo – um Salvador. Era uma reminiscência
de Só focles: “Nã o procures nenhum fim para esta maldiçã o até que
algum Deus apareça para assumir vicariamente as dores dos teus
pró prios pecados”, e de um Prometeu que “amou demais o homem”.
Clá udia tinha um conhecimento imperfeito de Cristo, a quem chamava
de “aquele homem justo”. E também neste sentido foi a expressã o do
mundo pagã o. As melhores coisas, ao que parece, foram preservadas no
coraçã o de uma mulher. Ela tinha talento para o estado de alerta
espiritual.
Provavelmente houve um tempo em que Pilatos teria feito qualquer
coisa que sua esposa pedisse. Mas desta vez ele nã o o fez. O julgamento
revela que o homem político estava errado e a mulher apolítica estava
certa, pois Clá udia, melhor do que Pilatos, captou os pressá gios do
momento. Cristo sofreu sob Pô ncio Pilatos. Mas, para gló ria de Claudia,
uma voz feminina se ergueu em nome da justiça.
Agora vejamos Herodias, a segunda esposa de Herodes, mais
corretamente conhecida como Herodes Filipe, filho do velho Herodes, o
Grande, que ordenou o massacre das crianças de Belém. Quando o
velho Herodes morreu, ele deixou a maior parte de sua fortuna para o
marido dela, Filipe, mas sem o reinado, o que nã o combinava com as
ambiçõ es da mulher.
Aconteceu que quando o meio-irmã o de seu marido, Herodes Antipas
(entre os oito filhos de Herodes, o Grande, três tinham o nome de
Herodes) veio visitar Filipe, uma intriga de amor começou entre
Herodias e seu meio-irmã o. Herodes Antipas repudiou sua esposa, filha
de Aretas, o rei da Ará bia, casou-se com a esposa de seu irmã o e levou-a
para seu palá cio, a Casa Dourada de Machaerus. Herodes gostava de
homenagear estranhos e gostava particularmente de ouvir grandes
pregadores. Conseqü entemente, ele convidou Joã o Batista para pregar
em sua corte. Joã o nã o era o tipo de homem que perderia a
oportunidade de colocar Herodes e Herodíades face a face com as suas
consciências culpadas. Mal imaginavam o tema que o homem de Deus
escolheria como sua mensagem naquela Casa Dourada. Assim que
compareceu perante o tribunal, apontou um dedo acusador a Herodes,
que se casara com uma mulher divorciada, e trovejou: “Nã o te é lícito
ter a mulher do teu irmã o” (Marcos 6:18).
Herodíade estremeceu; Herodes se rebelou. Liberdade de espírito nã o
significa o direito de julgar a consciência de outro homem. Antes que
Joã o percebesse, havia ferros em seus braços e a porta da prisã o da
masmorra subterrâ nea se fechou na face daquele que Nosso Senhor
descreveu como “o maior homem já nascido de mulher”.
Um homem à s vezes esquece esses incidentes, uma mulher nunca.
Pouco tempo depois chegou o aniversá rio de Herodes. O cená rio é o
sombrio castelo de Machaerus, um dos lugares mais desolados do
mundo, construído no topo de um penhasco isolado de basalto negro,
1.000 metros acima da costa oriental do Mar Morto.
Está prevista uma grande festa baltasariana. No salã o de banquetes
brilhantemente iluminado está reunida a companhia de Herodes:
senhores, damas, autoridades militares, parasitas, bajuladores e a turba
que sempre se reú ne diante de um tribunal. O castelo está iluminado; o
barulho da folia penetra em uma masmorra profunda onde o
prisioneiro de Cristo espera.
Finalmente, Herodes nã o tem mais nada a oferecer aos seus convidados
saciados em termos de excitaçã o. Portanto, deixe o estímulo de uma
dança sensual completá -lo, e deixe a dançarina ser a bela jovem filha de
Herodias com seu primeiro marido. A comida é farta, o vinho corre à
vontade e, enquanto bebem, Salomé, filha de Herodíades, dança. É
surpreendente que uma princesa da orgulhosa casa herodiana se
humilhasse dançando como uma escrava publicamente na presença de
homens meio embriagados. O fato de uma mulher entrar em tal
multidã o era contrá rio à s ideias orientais de decência. Nã o é incrível,
porém, para aqueles que conhecem alguma coisa sobre a moral de
Herodes e sua família.
Herodes, meio bêbado de vinho e emocionado pela dança, diz a Salomé:
“Peça-me o que quiser, e eu o concederei… até metade do meu reino”. E
ela sai e diz à mã e: “O que devo perguntar?” Herodias responde: “A
cabeça de Joã o Batista”. E ela foi apressadamente ao rei e pediu,
dizendo: “Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de
Joã o Batista” (Marcos 6:22-25).
O que Herodes faria? O Evangelho diz que Herodes ficou “entristecido”
(Marcos 6:26). Mas ele havia jurado à donzela e deveria cumprir sua
promessa. Alguns preferem ser infiéis a Deus ou à sua consciência, em
vez de serem infiéis a um juramento meio bêbado.
Os convidados ouvem a porta da masmorra aberta…. Poucos minutos
depois, a cabeça ensanguentada de Joã o Batista é trazida à donzela em
uma bandeja de prata, e ela entrega o prato horrível à mã e.
É surpreendente a semelhança à primeira vista entre Clá udia e
Herodíades. Ambas eram mulheres nobres, ambas esposas de políticos.
Ambos tiveram contato com os maiores personagens religiosos de
todos os tempos: Clá udia com Cristo, Herodíades com Joã o Batista.
Ambas enviaram mensagens aos seus maridos, mas as suas reaçõ es
foram muito diferentes: uma serviu a Cristo, a outra a um ditador
totalitá rio.
Por que a religiã o era tã o desagradável para um e tã o cara para o outro?
Por que um reage à defesa da religiã o e o outro a uma ofensa contra
ela? Por que um procura salvar uma vida e o outro, tirá -la?
Todos na vida têm pelo menos um grande momento para se aproximar
de Deus. A forma como cada um de nó s reage depende se temos um
histó rico de boa ou má vontade. Em alguns há uma vontade de pecar, e
boas açõ es ocasionais sã o interrupçõ es de uma intençã o maligna
permanente. Em outros existe boa vontade; e embora uma má açã o
possa ocasionalmente cortar uma tangente através dela, a vontade,
sendo boa, está pronta para fazer as pazes e fazer todos os sacrifícios
para seguir as diretrizes da consciência e as graças reais do momento.
Ora, Clá udia tinha uma boa vontade e Herodias uma má vontade. Um
abraçou a religiã o, o outro a rejeitou. A boa vontade é como o solo bom.
Quando a semente da graça de Deus cai sobre ela, ela brota. A má
vontade é como a rocha, é incapaz de conversã o. “E outra [semente]
caiu sobre a rocha e, assim que brotou, secou, porque nã o tinha
umidade” (Lucas 8:6).
Clá udia e Herodias sã o os protó tipos de todas as mulheres que têm um
papel a desempenhar na vida social e política do mundo. As mulheres
serã o ou filhas de Herodias, destruindo as suas pró prias casas através
do divó rcio, educando os seus filhos como Salomé na falsa sabedoria de
como solicitar aos homens que façam o seu pior, alinhando-se com
qualquer líder político que promova os seus pró prios interesses ou
mime os seus pró prias ambiçõ es, que nunca esquecerã o as justas
repreensõ es dos Joã os modernos, e nunca terã o escrú pulos em serem
Bestas de Belchen para decapitar os arautos de Cristo.
Ou as mulheres de hoje serã o as filhas de Clá udia, desafiando a política
quando esta enviaria homens justos para a morte, incitando o caminho
do dever mais elevado quando a indecisã o, a cobardia e o compromisso
o atraem; ser para o marido um infalível pregador da justiça, seu
conselheiro e seu salvador; até mesmo enfrentando leis severas em vez
de ser infiel à consciência; e nunca tendo escrú pulos em falar sobre o
Cristo justo e justo, mesmo quando sua penalidade poderia muito bem
ser a rejeiçã o de um amor com poder, mas cuja conversaçã o casta,
juntamente com o medo, quase conquistaria um governador para
Cristo.
Os homens nã o têm sido particularmente bem sucedidos nos tempos
modernos na construçã o de um mundo bom. O sucesso das mulheres
em fazê-lo dependerá de elas trazerem à tona o que há de melhor nos
homens ou o que há de pior.
No Palá cio Ducal de Veneza há um afresco que cobre toda a parede da
Sala do Conselho. O artista colocou o rosto de sua esposa três vezes no
afresco e, em cada caso, em primeiro plano, visível em seu manto azul.
Uma vez ela olha do céu com uma pureza santa no rosto; uma vez do
purgató rio, com olhar preocupado e dolorido; e uma vez do inferno
com o horror da agonia impenitente. Qual é o significado desta
anomalia?
A resposta pode ser encontrada na vida do artista. À s vezes, sua esposa
era o anjo bom, para guiá -lo em direçã o a Deus e ao céu. À s vezes ela
era sua provaçã o, sua cruz e seu purgató rio. E outras vezes ela era sua
sedutora, uma agente de Sataná s que o levava para o inferno.
O nível de qualquer civilizaçã o é o nível da sua feminilidade. O que
Clá udia era, Pilatos poderia ser; o que Herodias foi, esse Herodes foi. É o
amor, e nã o o conhecimento, que faz o mundo. O conhecimento é
dividido para se adequar à mente à qual o conhecimento é dado. É por
isso que temos que dar exemplos à s crianças.
O amor sempre sai para atender à s demandas do objeto amado. Se a
pessoa amada é virtuosa, devemos ser virtuosos para conquistá -la.
Conseqü entemente, quanto mais elevado o amor, mais elevados devem
ser aqueles que o buscam; quanto mais nobre a mulher, mais nobre é o
mundo.
Quando os fogos sagrados de uma ternura comum derretem almas
gêmeas predestinadas à sua chama, cada um pode muitas vezes fazer
do outro o que deseja ardentemente.
O simples afivelamento da armadura de um cavaleiro por uma mã o
feminina nã o era apenas um capricho do romantismo; era o tipo de
confiança eterna. A armadura da alma nunca está bem colocada em um
homem, exceto por aquele a quem o homem respeitará quando estiver
em perigo de perder sua honra.
Precisamos de homens, sim, de homens fortes como Pedro, que deixem
o amplo golpe do seu desafio ressoar no escudo das hipocrisias do
mundo; homens fortes como Paulo, que com uma espada de dois gumes
cortará os laços que prendem as energias do mundo; homens fortes
como John, que com uma voz alta despertarã o o mundo do sonho
elegante do repouso nã o-heró ico.
Mas precisamos também de mulheres que, na linguagem do Santo
Padre, “sejam professoras-guias para as irmã s, para orientar ideias,
dissipar preconceitos, esclarecer pontos obscuros, explicar e difundir
os ensinamentos da Igreja, conter essas correntes que ameaçam o lar;
pois quem melhor do que ela pode compreender o que é necessá rio
para a dignidade da mulher, a integridade e honra da jovem, e a
protecçã o e educaçã o da criança.”
Se este é o tipo de mulher que você é, nó s a saudamos e brindamos; nã o
como a mulher moderna que descende de Herodias, outrora nossa
superior, agora nossa igual, mas como a mulher cristã – inspirada por
Clá udia – mais pró xima da cruz na Sexta-Feira Santa e primeira no
tú mulo na manhã de Pá scoa!

Deus é a verdade, e quem busca a verdade está buscando a Deus, quer


saiba disso ou não .
—B L. ​E DITH S TEIN
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus .
—MATEUS 5 :8
CAPÍTULO SEIS
Barrabás e os ladrões: uma lição sobre a verdadeira
liberdade

Vivemos numa era de revoluçõ es, mas o problema é que tipo de


revoluçã o devemos abraçar. Como todas as é pocas, a nossa tem seus
lemas e o principal deles é a palavra “liberdade”. Pode muito bem
acontecer que, tal como as pessoas falam mais sobre a sua saú de
quando estã o doentes, també m falem mais sobre a liberdade quando
correm maior risco de perdê -la. Quando uma pessoa é livre? Quando
ele está sem lei ou restriçã o ou quando atinge o propó sito para o qual
foi criado? Para responder a estas perguntas recorremos ao Drama
Eterno da Cruz.
Uma prisã o pode abrigar tanto inocentes quanto culpados. Durante o
governo de um invasor, é possível que mais inocentes do que culpados
sejam presos atrá s das grades. Mas sem transmitir a moralidade dos
prisioneiros, a prisã o baixa e escura sob a fortaleza de Pilatos mantinha
muitas almas cativas. Entre eles havia três que nos chamaram a
atençã o. O nome de alguém que conhecemos: Barrabá s. Os nomes dos
outros dois nã o sabemos. Segundo a tradiçã o sã o Dismas e Gestas.
Quando o sol nasceu naquela manhã em particular, cada um deles
esperava pela libertaçã o, pois era costume no dia da Pá scoa o
governador libertar um prisioneiro ao povo. Assim, a redençã o de Israel
do Egito foi comemorada por um cativo recebendo a sua liberdade.
Pilatos sabia que seria chamado a escolher alguém para ser libertado. A
urgência tornou-se aguda quando Herodes devolveu Nosso Senhor a
Pilatos, que por sua vez reuniu os principais sacerdotes, magistrados e
o povo e disse-lhes: “Vocês me apresentaram este homem como alguém
que perverteu o povo, e eis que eu, tendo-o examinado diante de você,
nã o encontre nenhuma causa neste homem, naquelas coisas em que
você o acusa. Nã o! Nem Herodes também. Pois eu te enviei a ele e eis
que nada digno de morte lhe foi feito.”
Pilatos tinha Cristo nas mã os. O problema era como se livrar Dele. Sua
imaginaçã o saltou para a prisã o. Ele teve uma ó tima ideia
politicamente! Moralmente, era fraco e até podre. Ele permitiria que o
povo votasse no prisioneiro que seria libertado. Pilatos provavelmente
estava ansioso para garantir a libertaçã o de Cristo e, para fazê-lo,
escolheu dentre aqueles três homens um chamado Barrabá s.
Barrabá s era bem conhecido ou “notável” e muito provavelmente, como
seu nome indica, filho de um rabino (Mateus 27:16). Sã o Joã o nos diz
que ele era um ladrã o (Joã o 18:40). Mais tarde, ele foi preso por sediçã o
e por assassinato cometido naquela ocasiã o (Lucas 23:19).
Ele era, na nossa língua, um “revolucioná rio”. Quando se recorda que
Israel estava sob o domínio romano, o termo “revolucioná rio” deve ser
entendido como um “patriota” ou um membro da clandestinidade de
Israel. Ele estava interessado em livrar-se do jugo da tirania política. A
naçã o inteira palpitava por um libertador do jugo romano. Por isso
perguntaram a Cristo: “É s tu aquele que há de vir ou devemos procurar
outro?” (Mateus 11:3). Durante dois séculos, Israel nã o teve nenhum
Judeu Macabeu para liderar uma revolta contra César. Barrabá s
interveio para preencher esse papel e, no seu entusiasmo pela
liberdade do seu povo, cometeu um assassinato; e, o que era mais sério
para Pilatos, ele era um sedicioso.
Pilatos procurou confundir a questã o escolhendo um prisioneiro que
era culpado exatamente da mesma acusaçã o que Cristo, a saber, sediçã o
contra César. Em poucos minutos, duas figuras estã o diante da multidã o
no pretensioso piso de má rmore branco do Pretó rio. Pilatos está
sentado em uma plataforma elevada, cercado pela guarda imperial.
Barrabá s, de um lado, pisca à luz do sol. Ele nã o via isso há meses. Do
outro lado está Cristo.
Aqui estã o dois homens acusados de revoluçã o. Barrabá s apelou para
as queixas nacionais; Cristo à consciência. Barrabá s libertaria os
grilhõ es e ignoraria o pecado. Nosso Senhor libertaria o homem do
pecado e os grilhõ es deixariam de existir. As trombetas soam. A ordem
é restaurada. Pilatos dá um passo à frente e se dirige à multidã o: “Qual
deles vocês querem que eu solte para vocês, Barrabá s ou Jesus
chamado Messias?” (Mateus 27:17).
A questã o de Pilatos tinha todo o ar de democracia e eleiçã o livre, mas
era apenas uma có pia barata. Reflita sobre a pergunta dele. Considere
primeiro as pessoas a quem foi dirigida e depois a questã o em si. O
pró prio povo nã o estava inclinado a matar Nosso Senhor (Mateus
27:20). Por isso alguns demagogos agitaram-se entre o povo e
persuadiram-no a pedir Barrabá s. Há sempre um grupo desorganizado,
bobtail, descuidado e irrefletido, que está pronto para ficar à mercê
daquele tipo de orató ria que tem sido chamada de “a prostituta das
artes”. O povo pode ser enganado por falsos líderes; aqueles mesmos
que gritam “Hosana!” no domingo pode gritar “Crucifica!” na sexta.
Aqui é revelado o grave perigo para a democracia, pois o que aconteceu
com essas pessoas acontece repetidamente na histó ria: o perigo de as
pessoas degenerarem em massas .
Qual é a diferença? Por povo entendemos pessoas que tomam as suas
pró prias decisõ es, que sã o governadas pelas suas consciências, que sã o
autodeterminadas por propó sitos morais e que defendem o direito
mesmo face à demagogia. Por massas entendemos as pessoas que
deixaram de ser governadas interiormente pelas suas consciências, que
sã o determinadas no seu pensamento por alguns líderes irresponsáveis
no exterior, que sã o susceptíveis ao contá gio mental da propaganda e
que têm, portanto, uma prontidã o psicoló gica para a escravidã o.
O que aconteceu naquela manhã de Sexta-Feira Santa foi que através
dos propagandistas o povo se tornou massa. Uma democracia com
consciência tornou-se uma má fia com poder. Quando uma democracia
perde o seu sentido moral, ela pode votar para sair da democracia.
Quando Pilatos perguntou: “Qual você quer que eu lhe solte?” (Mateus
27:17), ele nã o estava realizando eleiçõ es democrá ticas justas. Ele
estava assumindo que um voto significa o direito de escolher entre
Inocência e Culpa, Mal e Bondade, Certo e Errado.
Isto está errado. A verdadeira democracia nunca vota na Inocência e na
Culpa, pois tanto a corte de Pilatos como a corte de Herodes declararam
Nosso Senhor inocente. Toda democracia está enraizada num absoluto
teoló gico e em relatividades políticas e econó micas. Para a eterna gló ria
da democracia americana, quando vamos à s urnas nã o votamos se
teremos um regime de justiça ou um regime de injustiça; votamos antes
em meios relativamente bons para um bom fim. A nossa democracia
pressupõ e que existe um absoluto sobre o qual nã o votamos. Existem
certas verdades que nunca sã o desafiadas, por exemplo, “Todos os
homens sã o dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis”. É
porque nunca questionamos este e outros absolutos que somos livres
de votar. É isso que torna a América grande.
De Tocqueville inicialmente pensou que a América nunca sobreviveria
por causa de seus grupos, classes e pontos de vista conflitantes. Mas
mais tarde descobriu que por baixo de tudo havia uma tradiçã o comum,
uma herança comum, uma fé comum, que ninguém jamais desafiou.
Uma das razõ es pelas quais as democracias europeias se desintegraram
é porque nã o tinham o fundo comum dos absolutos. O racionalismo
rude de Voltaire, o humanismo sentimental de Rousseau, embora
suficientemente fortes para fomentar uma revolta em massa, nã o foram
suficientemente fortes para criar uma fé. Na América, além de termos
um sistema político, temos uma fé política. Por causa disso, os nossos
partidos políticos nunca foram completamente partidá rios. A outra
parte nã o está exilada. O partido majoritá rio torna-se o guardiã o dos
direitos das minorias. Como os partidos concordam em grandes ideias,
podem divergir em questõ es políticas.
Unitas in necessariis
Diversitas in contingentibus
Caritas em ônibus
Em resposta à pergunta de Pilatos, as massas retumbaram: “Liberte-nos
Barrabá s!” Pilatos mal podia acreditar no que ouvia. Barrabá s também
mal conseguia acreditar no que ouvia! Ele estava prestes a ser um
homem livre? Pela primeira vez ele tomou consciência de que poderia
agora continuar a sua revolta. Ele virou seu rosto inchado e ardente em
direçã o ao Nazareno. Ele pretendia medir seu rival da cabeça aos pés,
mas seu olhar nã o ousou mais se erguer. Havia algo em Seus olhos que
lia sua alma, como se aquele Nazareno estivesse realmente com pena
dele porque estava livre.
“Mas toda a multidã o gritou, dizendo: 'Fora este homem! Solte Barrabá s
para nó s'” (Lucas 23:18). “Pilatos novamente lhes disse em resposta:
'Entã o o que vocês querem que eu faça com o homem que vocês
chamam de Rei dos Judeus?'” (Marcos 15:12) “ainda desejando libertar
Jesus” (Lucas 23:20) . “Mas eles continuaram a gritar, dizendo:
'Crucifica-o! Crucifique-o!'” (Lucas 23:21).
“E ele lhes disse pela terceira vez: 'Ora, que mal fez este homem? Eu o
considerei culpado de nenhum crime capital. Portanto, farei com que
ele seja açoitado e depois o libertarei.' Com altos gritos, porém, eles
persistiram em clamar pela sua crucificaçã o, e suas vozes
prevaleceram” (Lucas 23:22,23). “O veredicto de Pilatos foi que sua
exigência deveria ser atendida. Entã o ele libertou o homem que estava
preso por rebeliã o e assassinato, a quem eles pediam, e entregou-lhes
Jesus para que fizessem o que quisessem” (Lucas 23:24,25).
A maioria nem sempre está certa. A maioria tem razã o no campo do
relativo, mas nã o no absoluto. A maioria é um teste legítimo, desde que
a votaçã o seja baseada na consciência e nã o na propaganda. A verdade
nã o vence quando os nú meros enquanto nú meros se tornam decisivos.
Só os nú meros podem decidir uma rainha da beleza, mas nã o a Justiça.
A beleza é uma questã o de gosto, mas a Justiça nã o tem gosto. O certo
ainda é certo se ninguém estiver certo, e o errado ainda é errado se
todos estiverem errados. A primeira pesquisa na histó ria do
Cristianismo estava errada!
Barrabá s ficou surpreso com um favor que estava além de suas maiores
esperanças. Ele lutou pela liberdade política. Ele havia obtido os nomes
de alguns quislings, sabotado obras romanas, organizado alguns
seguidores patrió ticos, conquistado algum prestígio ao ser preso, pois a
prisã o aumenta o prestígio dos revolucioná rios. Mas tudo isso nã o era
nada comparado aos gritos ensurdecedores para ele como seu líder, seu
heró i. Ele nã o era mais um fora-da-lei, mas um homem livre. Significou
a morte de Cristo – mas isso nã o foi nada!
Barrabá s estava livre! Ele tinha quatro liberdades:
1. Liberdade do medo – chega de prisõ es romanas.
2. Liberdade da necessidade – chega de pã o e á gua grosseiros.
3. Liberdade de expressã o – ele poderia mais uma vez falar de
revoluçã o.
4. Liberdade religiosa – ele poderia falar contra a religiã o se
quisesse.
Liberdade para ele significava liberdade de alguma coisa. E foi uma
liberdade vazia. Era tã o incolor quanto a á gua quando ele pensava que
seria vermelho como o vinho. Ele percebeu que depois da votaçã o
ninguém o seguiu. Foi a eleiçã o mais estranha da histó ria do mundo;
nenhuma procissã o de tochas para o vencedor, ninguém o colocou nos
ombros, nenhuma multidã o seguiu o vencedor com vivas. Mas todos
seguiram o candidato derrotado. Para ter a turba com ele, ele teve que
seguir a turba que seguia a Cristo. Com eles, despercebido, desceu até o
porã o da fortaleza de Pilatos, onde assistiu ao flagelo do candidato
derrotado.
Quando a flagelaçã o terminou, Barrabá s seguiu o candidato derrotado
até a colina do Calvá rio – ainda era a ú nica maneira de Barrabá s ter
seguidores. Barrabá s notou que seus dois companheiros de prisã o
também estavam lá . Eles nã o tiveram a sorte de terem sido indicados
para as eleiçõ es. Eles deveriam ser crucificados de cada lado de Nosso
Senhor, Dimas à Sua direita e Gestas à Sua esquerda.
Quando finalmente todas as três cruzes foram desenroladas contra o
céu escuro, Barrabá s ouviu Gestas à sua esquerda praguejar, xingar e
pedir para ser retirado. Mas ele também ouviu Dimas à sua direita
pedir para ser levado: “Lembra-te de mim quando entrares no teu
reino” (Lucas 23:42). A esse apelo voltou a promessa divina: “Hoje
estará s comigo no Paraíso” (Lucas 23:43).
Que tipo de liberdade era essa com que Dismas estava satisfeito?
Alguém pode ser pregado numa cruz e ainda assim ser livre? Pode
Aquele que está preso à quela á rvore central ser o doador da liberdade,
o guardiã o e salvador da liberdade? Entã o Barrabá s viu que a liberdade
que ele procurava nã o era a liberdade de ser livre de alguma coisa, mas
que a ú nica liberdade verdadeira é ser livre para alguma coisa. Agora
ele vê a liberdade nã o como um fim, mas como um meio. A liberdade é
para fazer algo que vale a pena fazer.
1. De que adianta estar livre do medo, a menos que haja alguém
a quem amar?
2. De que adianta estar livre da necessidade, a menos que haja
uma Justiça a ser servida?
3. Para que serve a liberdade de expressã o se nã o houver uma
Verdade a defender?
4. Para que serve a liberdade religiosa, a menos que haja um
Deus a quem adorar?
Barrabá s agora teria dado qualquer coisa para ser Dimas. Dismas
estava livre! Ele nã o era. Somente o amor pregado é gratuito; o amor
nã o pregado pode compelir e, portanto, destruir a liberdade. Escutem,
revolucioná rios!
Nã o sigam Barrabá s, o revolucioná rio que iria refazer a sociedade para
refazer o homem; mas sim Cristo, o Revolucioná rio que iria refazer o
homem para refazer a sociedade.
Acredite na violência, sim, mas nã o na violência que desembainha a
espada contra um vizinho, uma classe, raça ou cor, mas antes a
desembainha contra si mesmo, para eliminar a luxú ria, a inveja, a
ganâ ncia e o ó dio. Atendei, crentes na violência! Seja violento nã o
contra o pró ximo, mas contra o egoísmo, pois “o reino dos céus é
violento e os violentos o tomam à força” (Mateus 11:12).
Aprendam, todos os que tagarelam sobre a liberdade numa terra de
liberdade, que a única liberdade verdadeira no mundo é a liberdade de
ser um santo!
Nos desertos do coração
Deixe a fonte de cura começar .
Na prisão de seus dias
Ensine o homem livre a elogiar .
—O QUE UDEN
CAPÍTULO SETE
As cicatrizes de Cristo: uma lição sobre fé duradoura

O mundo apó s uma guerra apresenta as suas cicatrizes. Muitas vezes,


milhõ es de pessoas deslocadas vagueiam abatidas, assombradas e
caçadas pelas vastas extensõ es do mundo e, à medida que caem, a
pró pria terra que deveria ter-lhes servido mede as suas sepulturas
desfeitas. Mã os calejadas, cansadas de uma cruz de trabalho forçado,
procuram em vã o que os cireneus aliviem seu fardo; soldados feridos
mancam por um mundo pelo qual lutaram para libertar, e ainda assim
nã o veem aquela liberdade pela qual seus camaradas mortos foram
para os tú mulos e para as suas camas.
Enquanto nossa terra apresenta essas cicatrizes, quem pode nos trazer
esperança de que dias melhores estã o por vir e de que toda essa dor e
angú stia nã o sã o uma zombaria e uma armadilha?
Uma coisa é certa: nenhuma cura pode vir à s nossas asas quebradas
daquele Cristo liberal inventado pelo século XIX, que fez Dele apenas
um professor moral como Só crates e Maomé ou Confú cio, e preso como
eles nos grilhõ es da morte.
O ú nico que pode trazer consolo aos nossos tempos é um Cristo com
cicatrizes, que passou pela morte para nos dar esperança e vida, e este
é o Cristo da manhã de Pá scoa. O que tem grande importâ ncia na
histó ria da Pá scoa sã o as cicatrizes de Cristo. Madalena, que sempre
esteve aos Seus pés, quer na casa de Simã o, quer junto à cruz, está
novamente lá no jardim; e só quando ela vê naqueles pés as memó rias
vermelhas e lívidas da guerra do Calvá rio é que ela reconhece seu
Senhor e clama: “Raboni!” – Mestre.
Entã o Cristo veio ao mundo cético e duvidoso na pessoa de Tomé, cuja
melancolia o tornou um cético. Quando os outros discípulos disseram
que tinham visto o Senhor, Tomé disse-lhes: “A menos que eu veja a
marca dos cravos nas suas mã os, a menos que eu coloque o meu dedo
no lugar onde estavam os pregos, e as minhas mã os no seu lado , nã o
acreditarei” (Joã o 20:25).
Oito dias depois, quando os discípulos estavam na sala e Tomé com eles,
“Jesus veio, embora as portas estivessem trancadas, e ficou no meio
deles e disse: 'A paz esteja convosco'. Entã o Ele disse a Tomé: 'Põ e o teu
dedo aqui e vê as minhas mã os, e traz a tua mã o e põ e-na no meu lado,
e nã o sejas incrédulo, mas acredita.' Tomé respondeu e disse-lhe:
'Senhor meu e Deus meu!'” (Joã o 20:26-28).
O tipo de Cristo que o mundo precisa hoje é o Cristo Viril, que pode
revelar a um mundo mau o penhor da vitó ria no Seu pró prio Corpo,
oferecido em sacrifício sangrento pela salvaçã o. Nenhum falso deus que
esteja imune à dor e à tristeza pode nos consolar nestes dias trá gicos.
Tire de nossas vidas o Cristo das Cicatrizes, que é o Filho do Deus Vivo,
que ressuscitou dos mortos pelo poder de Deus, e que garantia temos
de que o mal nã o triunfará sobre o bem? Se Aquele que veio a esta terra
para ensinar a dignidade da alma humana, que poderia desafiar um
mundo pecaminoso para convencê-lo do pecado, nã o tivesse outro
resultado e destino senã o pendurar-se em uma á rvore comum com
criminosos e ladrõ es comuns para fazer um romano. feriado, entã o cada
um de nó s pode dizer: “Se é isso que acontece com um homem bom,
entã o por que eu deveria levar uma vida boa?” Que motivaçã o existe
para a virtude se a maior de todas as injustiças pode ficar sem
reparaçã o e a mais nobre de todas as vidas pode ficar sem justificativa?
O que devo pensar de um Deus que olharia indiferente para este
espetá culo da Inocência indo para a forca e nã o arrancaria os pregos e
colocaria um cetro ali; ou nã o enviaria nem mesmo um anjo para
arrancar uma coroa de espinhos e colocar ali uma guirlanda?
O que devo pensar da natureza humana se esta flor branca da vida
irrepreensível é pisoteada pelas botas com tachas dos carrascos
romanos e depois está destinada a apodrecer na terra como apodrecem
todas as flores esmagadas? Nã o enviaria um fedor maior por causa de
sua doçura primordial e nos faria odiar nã o apenas o Deus que nã o se
importava com a verdade e o amor, mas até mesmo com o nosso
pró ximo por ser parte em Sua morte? Se este é o fim da bondade, entã o
por que ser bom? Se é isso que acontece com a justiça, entã o deixe a
anarquia reinar.
Mas se Ele nã o é apenas homem, mas Deus; se Ele nã o é um professor
de ética humanitá ria, mas um Redentor; se Ele puder aceitar o pior que
este mundo tem a oferecer e entã o, pelo poder de Deus, elevar-se acima
dele; se Ele, o desarmado, nã o pode guerrear com nenhuma outra arma
senã o a bondade e o perdã o, de modo que o morto tenha o ganho, e
aqueles que matam o inimigo percam o dia, entã o quem ficará sem
esperança quando o Cristo Ressuscitado nos mostra Suas Mã os e Lado?
O que as cicatrizes de Cristo nos ensinam? Eles nos ensinam que a vida
é uma luta: que a nossa condiçã o de ressurreiçã o final é exatamente a
mesma que a dele; que a menos que haja uma cruz em nossas vidas,
nunca haverá um tú mulo vazio; a menos que haja Sexta-feira Santa,
nunca haverá Domingo de Pá scoa; a menos que haja uma coroa de
espinhos, nunca haverá o halo de luz; e a menos que soframos com Ele,
nã o ressuscitaremos com Ele.
O Cristo das Cicatrizes nã o nos deu nenhuma paz que afaste os
conflitos, pois Deus odeia a paz naqueles que estã o destinados à guerra
contra o mal.
As cicatrizes nã o sã o apenas lembretes de que a vida é uma guerra, mas
também sã o promessas de vitó ria nessa guerra. Nosso Abençoado
Senhor disse: “Eu venci o mundo”. Com isso Ele quer dizer que venceu o
mal em princípio. A vitó ria está garantida, só que a boa notícia ainda
nã o vazou. O mal nunca poderá ser mais forte do que era naquele dia
específico, pois a pior coisa que o mal pode fazer é nã o arruinar cidades
e travar guerras e lançar bombas ató micas contra os bons e os vivos. A
pior coisa que o mal pode fazer é matar Deus. Tendo sido derrotado
naquele momento mais forte, quando o mal vestiu sua maior armadura,
ele nunca mais poderá ser vitorioso.
Nã o pense, entã o, que o Jesus das Cicatrizes e Sua vitó ria sobre o mal
nos dá imunidade contra o mal e a desgraça, a dor e a tristeza, a
crucificaçã o e a morte. O que Ele oferece nã o é imunidade contra o mal
no mundo físico, mas uma chance de perdã o pelos pecados em nossas
almas. A conquista final do mal físico virá na ressurreiçã o dos justos.
Mas Ele ensina um nobre exército de sofredores do mundo a suportar o
pior que esta vida tem a oferecer com coragem e serenidade, a
considerar todas as suas provaçõ es como “a sombra de Sua mã o
estendida carinhosamente” e a transfigurar algumas das maiores dores
da vida. nos ganhos mais ricos da vida espiritual.
Com Sã o Paulo, entã o, clamamos num êxtase de triunfo: “O que nos
separará do amor de Cristo? Será a angú stia, ou a angú stia, ou a
perseguiçã o, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? …Nã o, em
todas estas coisas conquistamos esmagadoramente através daquele
que nos amou. Pois estou convencido de que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem as coisas
futuras, nem a força, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura será capaz de nos separar do amor de Deus, que está em
Cristo Jesus, Nosso Senhor” (Romanos 8:35–39).
Em oposiçã o à fé cristã no Cristo Ressuscitado está uma filosofia
materialista que põ e a sua fé nã o em Deus, mas no homem, e
principalmente num homem que cumpre o papel de ditador.
O nosso mundo ocidental vê o perigo nesta nova fé, mas é impotente
para se opor a ela, pois as suas defesas baseiam-se apenas na opiniã o
vacilante e flutuante de políticos e líderes que nã o têm padrõ es
convincentes para oferecer ao povo, que nã o tem fé e, portanto, nunca
pode dar uma fé. O que enfraqueceu a causa do mundo ocidental foi a
sua aversã o à doutrina, o seu ó dio ao dogma, o que o deixa sem uma
ideologia para se opor a uma ideologia - e, portanto, impotente para
lidar com o inimigo, excepto oferecendo algumas mudanças
indiferentes de gabinete.
Porque o nosso mundo ocidental deu as costas à queles fogos autênticos
que foram acesos nos altares eternos do Deus Vivo, deixa as tochas do
povo apagadas. Agora, como uma mariposa no escuro, o homem
ocidental voa até uma vela fumegante do totalitarismo, voa para dentro
dela e se perde. A luta hoje é muito desigual. As forças materialistas do
mundo têm uma filosofia de vida; o Ocidente nã o tem nenhum.
Visto que basicamente todas as disputas sã o teoló gicas, segue-se que se
renunciarmos à fé em Cristo que criou a nossa civilizaçã o cristã
ocidental, entã o nã o poderemos oferecer objectivos à s viagens e
nenhuma esperança a uma geraçã o perdida. Nã o se pode opor uma
ideologia com uma opiniã o, ou uma filosofia de vida com compromissos
apaziguadores. O simples fato de você dar o braço direito a um urso nã o
é garantia de que ele nã o pegará o seu esquerdo.
A verdadeira defesa contra o novo materialismo deve ser teoló gica. A
doutrina deve ser invocada para combater a doutrina. Isto é certo. A
menos que possamos dar à s pessoas do mundo ocidental uma fé para
combater a falsa fé, os discípulos faná ticos da revoluçã o mundial irã o
capturar e inflamar a lealdade de milhõ es, e seremos destruídos pelo
que é falso dentro de nó s.
Se, no entanto, tivermos fé que no conflito entre o bem e o mal Deus
ainda trabalha na histó ria, entã o a vitó ria final do bem pode resultar da
tragédia, assim como mais uma vez o amor eterno se torna triunfante
quando o pecado fez o seu pior.
Se parece que as cicatrizes de Cristo sã o apenas uma segurança
pequena e débil contra os poderes bem armados do mal, entã o olhemos
para o antigo conflito entre as forças do bem e do mal nas pessoas de
Davi e Golias. Golias presumiu que qualquer campeã o que aparecesse
para enfrentá -lo deveria ser um lanceiro, bastante esquecido de que a
causa de Deus repousa em outras armas além das lanças.
Davi pegou uma funda, um instrumento aparentemente inofensivo,
talhado na floresta, e escolhendo cinco pedrinhas de um riacho, saiu ao
encontro do filisteu.
A mente de Golias estava tã o obstinada que seria uma batalha de
armamentos que, quando viu Davi vindo até ele sem nenhuma
armadura no corpo e nada na mã o, exceto cinco pedrinhas e uma funda,
ele ficou ofendido com o insulto e disse a Davi: “Sou eu um cachorro,
para que você venha até mim com um cajado?” (1 Samuel 17:43). E Davi
respondeu e disse: Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com
escudo; mas eu vou contra ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus
dos exércitos de Israel, que tens desafiado” (1 Samuel 17:45).
Golias avançou com uma armadura da cabeça aos pés e tendo apenas a
testa sem viseira como alvo. Com o primeiro tiro de sua funda, Davi
atingiu Golias na cabeça, e a pedra ficou fixada em sua testa quando ele
caiu no chã o. Nã o tendo outra espada senã o a do filisteu, David tomou-a
e cortou-lhe a cabeça.
Um dia esta prefiguraçã o se realizou quando Cristo, na Sexta-Feira
Santa, veio lutar contra o Golias do mal, apoiado pelo poder de todos os
governos do mundo. Tomando nenhuma outra armadura além de uma
cruz da floresta, que parecia a funda de Davi, Ele pegou dos riachos em
cascata do ó dio do mundo nã o cinco pedras, mas cinco cicatrizes,
qualquer uma das quais teria sido suficiente para ter redimido o
mundo, e com eles matou o Golias do mal.
Se Ele, nosso líder, usava cinco cicatrizes, entã o nó s, Seus soldados,
devemos estar preparados no dia da Grande Revisã o, quando ele vier
julgar os vivos e os mortos, para mostrar-Lhe as cicatrizes que
conquistamos em Sua causa e em Seu Nome. Para cada um de nó s, Ele
dirá : “Mostre-me suas mã os e seu lado”. Ai, entã o, de nó s que descemos
o Calvá rio com as mã os brancas e sem cicatrizes!
Se houver alguma dessas cinco cicatrizes que escolheríamos como
David escolheu uma das pedras para matar o Golias do mal, seria a
cicatriz que foi feita pelo sargento do exército romano, quando ele
enfiou uma lança no lado do Salvador. Até o dia da vitó ria final,
marcharemos confiantes sob o comando do grande Capitã o Que usa
pela primeira vez na histó ria a condecoraçã o que a humanidade fixou
em Seu Peito: o Coraçã o Pú rpura do Deus Todo-Amoroso!

Ó, vinde, cantemos ao Senhor: regozijemo-nos de coração na força da


nossa salvação .
—LIVRO DE ORAÇÕ ES 95 :1
Sobre o autor
FULTON J. SHEEN (1895–1979) foi um dos prelados mais amados do
catolicismo do século XX. Escritor e orador prolífico, estudioso e
professor ilustre, mestre influente da mídia, Sheen foi um dos
comunicadores mais eficazes do nosso tempo. Seus inú meros livros
ofereceram inspiraçã o, reflexã o profunda e aná lises penetrantes da fé e
da vida cristã .

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