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A VISÃO
a origem da visão

TEXTO BASE | Gênesis 12. 1-3

INTRODUÇÃO
A visão recomendada à liderança é crucial por um motivo óbvio: se você não
sabe para onde está indo, certamente não chegará. Ainda podemos afirmar que a
visão consolida a convicção do chamado recebido.
Ao nos debruçarmos sobre o texto base de nossa reflexão, notaremos que junto
ao chamado – sai da tua terra – Abrão recebe uma visão – ser pai de uma grande
nação. A presente equação é fundamental para o bom andamento do povo de Deus:
chamado e visão.
Com o povo de Israel não é diferente, visto que ante o chamado para romper
com a terra de opressão e o regime de escravidão, receberam uma visão: a terra que
mana leite e mel. A Igreja de Cristo experimenta algo semelhante, uma vez que o
chamado das trevas para a luz é acompanhado por uma visão, a pátria celestial, a
nova Jerusalém, o reino de Deus. Em suma, podemos destacar que para todo o
chamado, Deus concede uma visão.
Até este ponto temos considerado a relevância e a grande importância da visão
compartilhada com um líder a fim de que possa transmitir fielmente com todos os que
estão sob seus cuidados. Isto posto, cabe ressaltar a origem de uma visão realmente
saudável.

ORIGEM TÓXICA
Uma origem tóxica para uma visão é a descrição de um nascedouro doentio e
profundamente prejudicial para todos. Tal visão tende a ser considerada promissora
até sua aplicação prática, que se mostra definitivamente catastrófica. Pontuaremos, a
seguir, alguns casos que se enquadram nesta descrição.
Em primeiro lugar destacamos a “oportunidade imperdível”. Em 1924,
George Leigh Mallory, professor e destacado membro da sociedade britânica,
determinou que subiria ao pico do monte Everest, feito que ninguém jamais havia
conseguido realizar. Quando foi questionado sobre a razão de sua missão ele
respondeu: Porque o monte está lá. No dia 8 de junho de 1924, o pai de três crianças
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foi visto com vida pela última vez. Setenta e cinco anos depois, em 1999, seu corpo
foi encontrado. Mallory sacrificou tudo em nome de uma oportunidade tão imperdível
quanto desnecessária.
Em segundo lugar podemos citar a “fórmula mágica”. Alguns líderes
tomam visões emprestadas. Para alguns o passado é a única fonte de inspiração, eles
fazem o que sempre foi feito justamente porque sempre foi feito dessa mesma forma.
Outros ainda buscam no sucesso alheio a origem de suas ações. É neste ponto que
reside grande risco, uma letal armadilha. Acerca disso Max Depree adverte: “o
sucesso pode fechar a mente mais rápido que o preconceito”. As fórmulas mágicas
que conduziram outros rumo ao sucesso podem ser o início do fim de uma carreira
promissora. O grande problema desta fonte tóxica é que o sucesso alheio impede uma
busca necessária, tornando o Corpo vivo em uma espécie de franquia banal.
Em terceiro lugar falamos sobre a vaidade. Num primeiro momento todos
nós rejeitamos a vaidade por sabermos que não é lícita, nem mesmo pertinente ao
coração de um crente, no entanto, sinceramente vasculhando nosso coração,
encontramos diversos atos e um sem-número de interações a partir da vaidade vil.
Napoleão Bonaparte estava o tempo todo envolvido na guerra e, assim, envolveu o
Império Frances na luta para conquistar a Europa. Ao ser derrotado, comentou: “Se
eu tivesse conseguido, seria o maior homem da história”. Quanto sangue foi
derramado, quanta dor foi multiplicada, só porque um homem queria ser grande para
si mesmo.
Em quarto lugar, destacaremos a limitada percepção de recursos. Uma
origem catastrófica para uma visão eclesiástica é a quantidade de recursos
disponíveis. Tão limitada quanto incrédula, tão origem é profundamente contrária a
disposição divina para toda e qualquer interação, a saber, a fé. Obviamente, não
advogo a inconsequência como modus operandi da igreja de Cristo, pelo contrário, no
entanto, seríamos tão rasos quanto o mundo se assim como os dez espias ficássemos
amedrontados por causa dos ocupantes da terra prometida. Os recursos que temos
hoje se mostram suficientes para hoje, mas não devem, nem podem determinar o
amanhã.
Outro grandiosíssimo problema com esta origem é que ela é enxarcada de
carnalidade, ou seja, deposita no que é possível toda a esperança. Interessante
perceber como a Bíblia trata tal abordagem:
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Assim diz o SENHOR: “Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da
humanidade mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do SENHOR. Ele
será como um arbusto no deserto;
não verá quando vier algum bem. Habitará nos lugares áridos do deserto, numa
terra salgada onde não vive ninguém. “Mas bendito é o homem cuja confiança
está no SENHOR, cuja confiança nele está. Ele será como uma árvore plantada
junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro. Ela não temerá
quando chegar o calor, porque as suas folhas estão sempre verdes; não ficará
ansiosa no ano da seca nem deixará de dar fruto” Jeremias 17.5-8

A percepção humana não é fonte segura para a visão do povo de Deus. Como
exemplo derradeiro lembremo-nos das passagens de Lucas 9.51-56 e Atos 8.14-17.
Em Lucas temos a seguinte descrição:
“Aproximando-se o tempo em que seria elevado aos céus, Jesus partiu
resolutamente em direção a Jerusalém. E enviou mensageiros à sua frente.
Indo estes, entraram num povoado samaritano para lhe fazer os preparativos;
mas o povo dali não o recebeu porque se notava que ele se dirigia para
Jerusalém. Ao verem isso, os discípulos Tiago e João perguntaram: “Senhor,
queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los?” Mas Jesus, voltando-
se, os repreendeu, dizendo: “Vocês não sabem de que espécie de espírito
vocês são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens,
mas para salvá-los”; e foram para outro povoado”.

Ao serem recebidos de modo hostil Tiago e João reagiram da forma mais


humana possível, requeriam o extermínio de seus inimigos. Os dois irmãos podiam
até mesmo ter bons motivos. De certo modo poderiam até mesmo pensar numa
grandiosa demonstração do poder de Deus e posterior divulgação da causa do
Senhor. Qualquer que fosse o motivo pelo qual pediram a intervenção violenta de
Deus, ambos receberam solene exortação do Senhor, pois por melhor que fossem
suas intenções, seus pensamentos estavam desalinhados com os planos do Pai.
O texto de Atos 8 é um interessante epílogo, um genial desfecho para a
passagem descrita pelo evangelista. A mensagem do Evangelho começava a se
espalhar rapidamente para fora de Jerusalém. Os apóstolos souberam que os
samaritanos estavam recebendo o Evangelho e decidiram enviar para lá Pedro e
João. Obviamente não sabemos o que se passou na cabeça de João quando recebeu
tal missão, mas com certeza podemos ler o que houve quando a percepção dos
homens se submeteu ao desejo do Pai:
“Os apóstolos em Jerusalém, ouvindo que Samaria havia aceitado a palavra
de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes, ao chegarem, oraram para que
eles recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito ainda não havia descido
sobre nenhum deles; tinham apenas sido batizados em nome do Senhor Jesus.
Então Pedro e João lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito
Santo”.

O fogo que Deus derramou não foi o que João raivosamente pediu.
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Que contraste! A visão humana para aquele local era a destruição total. O plano
de Deus trouxe a libertação. A visão humana ansiava pela morte. A vontade de Deus
trouxe vida eterna. Podemos afirmar que o paralelo entre esses dois textos seja a
imagem mais vívida da diferença entre os melhores pensamentos dos homens e o
caminho de Deus.
Por fim, podemos destacar necessidade como uma fonte tóxica para a visão
de uma liderança eclesiástica. Mover-se a partir da percepção de uma necessidade
social é altruísta e gentil, isso não podemos negar. No entanto, nem mesmo a melhor
e mais generosa ação pode ser validada como fonte oportuna para a visão.
A passagem de João 12.1-8 vemos a ação de Maria, a reação de Judas e, por
fim, afirmação de Jesus. Enquanto Maria, movida por profunda gratidão prepara o
Corpo de Cristo, Judas, conduzido por interesses escusos se esconde num
amontoado de boas intenções. Diante de tal tensão Jesus afirma: “sempre tereis os
pobres convosco; mas a mim nem sempre tereis”.
Assim aprendemos que toda toxicidade de uma visão se esvai quando o
relacionamento com Cristo é preservado. A fim de compreendermos melhor este
ponto, precisamos nos lembrar que a visão está essencialmente vinculada ao
chamado. Assim, podemos destacar que o relacionamento com Jesus é uma
prioridade bem maior que a satisfação das necessidades físicas.

A ÚNICA ORIGEM POSSÍVEL


Jesus não conduziu seu ministério sobre a premissa de oportunidade
imperdível, nem mesmo se deixou seduzir por fórmulas mágicas. Distante da vaidade
e longe de qualquer limitação, o ministério de Jesus superou toda e qualquer
expectativa, pois sempre foi comprometido com o que o Pai fazia. O Filho nos ensina
a ter profundo comprometimento com a vontade e o agir do Pai. Tal condição só é
possível enquanto formos conduzidos pelo Espírito que nos faz lembrar de tudo
quanto nos fora ensinado.
Somos dependentes de uma santa revelação. Muito mais do que o que vemos,
necessitamos do que Deus nos mostra.
Ao mundo, que nega a vontade de Deus, cabe somente uma triste e trágica
saída: projetar sua própria visão. Ao longo dos séculos assim temos contemplado, a
ponto de ouvirmos com orgulho e arrogância comuns aos ignorantes, que o ser
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humano não precisa de Deus para estabelecer um padrão ético e moral aceitável e
proveitoso. Ao nos depararmos com as notícias minuto a minuto vemos que os
horrores de oitenta anos atrás se repetem da forma mais banal possível, justificados
igualmente quando comparado com as eras de outrora.
O líder cristão sabe que a vida é complexa demais para ser entendida sem a
revelação e a direção de Deus. A missão que Deus compartilhou conosco e nos
incumbiu de realizar não pode ser efetivada sem a sublime revelação. A remissão da
humanidade é a grande convocação de toda a igreja, ao passo que o único que sabe
como realizá-la é Deus. À semelhança de Cristo, o líder deve entender que é sua
perpétua responsabilidade conhecer a vontade do Pai e adequar sua vida a ele.
No entanto, muitos líderes cristãos atuam com uma falsa noção do que seja
buscar a vontade de Deus. Proativos por natureza, querem partir para a ação, e isso
faz com que não passem muito tempo buscando ouvir o direcionamento que carrega
a especificidade da vontade de Deus. Procuram passagens bíblicas relevantes e
correm para a etapa de estabelecer objetivos, confiantes de que seus planos são “de
Deus” só porque acrescentaram oração e leitura ao processo.
Pedir a Deus que crie objetivos e abençoe os sonhos de alguém não garantem
que os tais sejam de Deus. Só Deus pode revelar seus planos e o faz à sua maneira,
no seu tempo e a quem ele deseja.
O papel do líder cristão não é criar sonhos para Deus, mas estar à frente de
seu povo no entendimento da revelação de Deus. O líder cristão é mais bem definido
como servo de Deus. O trabalho do líder é transmitir a promessa de Deus ao povo,
não criar uma visão e persuadir o povo a adotá-la.
O líder cristão deve ainda resistir à tentação de incluir suas próprias ideias onde
Deus prometeu um milagre. É isto que aprendemos ao contemplarmos a agonia
anterior e o caos posterior a decisão de Abrão e Sarai na obtenção da promessa via
ações humanas.
A revelação é o bastante, pois procede de um Deus que se mostra suficiente.
A busca só é incômoda, pois nos humilha ao revelar o quão dependentes
somos. Sendo assim, necessário é permanecermos humilhados sob a potente mão
de Deus até que Ele faça o que somente Ele pode fazer.

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