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1952, 1971 - Democracia e revolução na História da Bolívia

As mobilizações recentes da Bolívia estão ancoradas por décadas de lutas do povo boliviano para
defender os direitos da maioria trabalhadora. A Revolução de 1952 e a Comuna de La Paz
(Assembléia Popular) de 1971 foram dois momentos históricos importantes em que a classe
operária deu passos concretos para construir seu próprio poder. Isso não é apenas História, mas um
patrimônio político e experiência de luta das massas para pensar hoje seus próximos passos.
A atual Bolívia era a província mais rica do antigo império espanhol e pagou um alto preço por
possuir muita prata em seu subsolo. A brutal exploração deixou para trás um futuro país esmagado
pela exploração de uma minoria branca sobre a maioria indígena. De costas para o povo, a
oligarquia continuou explorando o mineral estanho e mantendo a servidão indígena no campo.
Na década de 1930 militantes trostkistas colocam de pé o POR (partido operário revolucionário) e
iniciam uma militância para organizar os sindicatos de mineiros e uma federação nacional em 1943.
A seção boliviana da 4ª Internacional consegue, coligada com a federação mineira, eleger em 1946
uma bancada de 8 deputados e 2 senadores. O controle operário das minas era a principal
reivindicação. Essa base de massas ajudará os trotskistas a ter um papel central na Revolução
Boliviana de 1952.
A insurreição ocorreu entre os dias 9 e 11 de abril, iniciada a partir de uma conspiração militar do
MNR (Movimento Nacionalista revolucionário), um partido pequeno-burguês reformista. As
massas tomaram para si a luta e contra a linha do MNR tomaram os quartéis, formaram milícias
armadas a partir dos sindicatos e impuseram a vitória da revolução popular. Na semana seguinte por
iniciativa dos trotskistas era fundada a COB (Central operária boliviana) tendo como bandeira
central de luta a nacionalização da mineração do estanho, principal riqueza do país e concentrada
nas mãos de 3 grandes magnatas. A COB possuía nesse momento da revolução o núcleo do poder
operário, expressando a dualidade de poderes. A revolução se aprofunda com a nacionalização das
minas e a reforma agrária de 1953. Mas as perspectivas revolucionárias e socialistas são derrotadas.
O MNR reprime a militância trotskista, consegue principalmente cooptar um setor do POR ligado
ao pablismo. O exército é rearticulado e muitos sindicalistas e dirigentes populares ganham cargos e
favores do governo. A revolução de 1952 não conseguiu ultrapassar seus marcos reformistas. As
principais conquistas começam a ser atacadas e ajudam a explicar o golpe militar de novembro de
1964.
Durante o governo militar do general reformista Juan José Torres, que chegou ao poder a partir de
uma greve geral da COB em outubro de 1970, surge a Assembléia Popular ou Comuna de La Paz.
Era a estratégia da dualidade de poderes, construir um conselho operário ou soviete a partir da
representação direta das massas e 212 delegados foram eleitos a partir de assembléias de diferentes
categorias profissionais, da juventude, de partidos políticos. A Comuna abriu seus trabalhos no dia
21 de junho e ao longo de algumas semanas discutiu e elaborou resoluções políticas que
demarcavam as ações de um futuro governo operário: a criação de tribunais populares, gestão
operária da mineração, formação das milícias operárias, criação da universidade única etc. Durante
os meses de julho e agosto formaram-se assembléias populares regionais na tentativa de enraizar o
movimento. Porém um novo golpe militar em 19 de agosto de 1971 sepultou em sangue a
experiência mais avançada de constituição de um poder operário na região.

A agenda de outubro de 2003


Em 20 de setembro de 2003 mais de 500 mil pessoas se manifestaram em todo o país contra a venda
do gás boliviano pelos portos do Chile. Uma frente de organizações se formou e exigiu do governo
a nacionalização imediata de todas as fontes de hidrocarbonetos. Entre fevereiro e outubro de 2003
o exército tenta esmagar a rebelião popular que ficou conhecida como Guerra do Gás e mais de 80
trabalhadores são mortos. No dia 17 de outubro o presidente Goni renuncia e no ano seguinte em
julho de 2004, um refendo popular aprova com mais de 90% dos votos a nacionalização do gás.

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