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FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

CARINA CANNAVÔ ALVES

TESSITURAS ENTRE NARCISISMO E A

AMEAÇA DA PERDA DO FILHO COM CÂNCER

SANTA MARIA - RS
2019
CARINA CANNAVÔ ALVES

TESSITURAS ENTRE NARCISISMO E A

AMEAÇA DA PERDA DO FILHO COM CÂNCER

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao


Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de
Santa Maria (FISMA), como requisito final para a
obtenção do grau de Psicóloga.

Orientadora Profª. Drª.Patrícia Paraboni

SANTA MARIA - RS
2019
CARINA CANNAVÔ ALVES

TESSITURAS ENTRE NARCISISMO E A

AMEAÇA DA PERDA DO FILHO COM CÂNCER

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Psicologia da Faculdade Integrada


de Santa Maria (FISMA), como requisito final para a obtenção do grau de Psicóloga.

Banca examinadora:

_________________________________________

Profª. Drª Patrícia Paraboni

________________________________________
Prof. Ma. Natália de Andrade de Moraes

________________________________________
Prof. Ma. Silvana Maia Borges

SANTA MARIA - RS
2019
Dedico este trabalho à minha filha Manu,
... só tem só nós na beira da lagoa!
AGRADECIMENTOS

A parte da escala geral dos sons que convém melhor a uma voz ou a um instrumento é
dado o nome de tessitura (FERREIRA, 2008, p.774). O termo também pode ser aplicado a
feitura de textos nos quais a disposição e união das partes constituintes de um todo podem ser
organizadas trazendo contexto ao trabalho escrito. Segue abaixo os agradecimentos do meu
contexto pessoal escrito com a união de várias partes!
Meu primeiro agradecimento vai para a pessoa mais importante da minha vida. O
músico que começou a estudar música sem instrumento. Que já tinha fitas VHS sem ter vídeo
cassete. Que comprava CD’s antes de adquirir o disk player. Que ingressou na graduação já
sabendo o que vai fazer no doutorado. E que um dia achou que eu poderia escrever algo
relevante. Agradeço a você Fábio pela compreensão, amor, suprimento e companheirismo. Eu
te amo! Eu não poderia ter feito escolha melhor. Agradeço ao meu filho mais velho, Filipe.
Pela pessoa incrível e inteligente que você é. As nossas longas conversas sobre política
internacional ou gírias contemporâneas me atualizam. Agradeço a minha filha Emanuela!
Não dá pra mensurar o quanto você me ajudou. Nem para nomear tudo que fez. Não tenho
palavras para te agradecer. Nada que eu diga paga o que você fez durante todo esse tempo.
Serás recompensada! Aos dois de igual modo principalmente por terem ficado com o Ibrahim
no período que mais precisei, por todos os banheiros lavados, roupas estendidas e louças
choradas e limpas. Agradeço ainda por entenderem que o almoço não queimou, só deu uma
sapecadinha (risos). Agradeço ao meu caçula Ibrahim que me acompanhou muitas vezes em
sala de aula quando eu não tinha com quem deixar. Você é um filho maravilhoso, doce,
amável e cheio de alegria. Agradeço a minha avó Nadir Pereira Cannavô que me criou com
todo amor para minha mãe poder trabalhar. Vó eu te amo! Obrigada por estar presente neste
momento. Muito dos meus valores pessoais, de amizade e domésticos eu devo a você.
Agradeço a minha mãe Regina Maria Cannavô que investiu muito em mim. Obrigado por me
ensinar o valor dos livros, dos estudos e dos dicionários (talvez nossa mais intelectual
brincadeira). Agradeço pelo seu amor e compreensão.
Sou eternamente grata à UNIFACEX pelo período que tive o privilégio de estudar aí.
Sou grata a cada professor por compartilhar seus conhecimentos. Aprendi com vocês que o
valor das pessoas excede ao valor do conhecimento (e dos acontecimentos) acadêmico. Uma
gratidão especial para minha coordenadora de Psicologia do UNIFACEX Ana Regina de
Lima Moreira! Agradeço aos meus amigos psicólogos de Natal! Companheiros de turma onde
desenvolvi fortes laços de amizade que irão durar a vida toda. Aprendi tantas coisas com
vocês e por isso sou grata. Obrigada Daniele, Amâncio, Amanda, Patrícia Lima e Paulino.
Obrigada W. Júnior, Virna, Mateus e Bruna. Um obrigada especial para a amiga Ane Louise,
amo você! Admiro seus pais.
Meus agradecimentos especiais vão para os mais queridos psicólogos espalhados pelo
RN: para o rei do gado Leandro, para a psicóloga linda que é a Nica, para a mamãe mais
recente do RN Daíne, para o divertido Mateus. Amo vocês! Colegas de grupo e amigos que
fizeram muita falta aqui. Tem ainda uma pessoa muito especial que eu quero agradecer.
Confesso que tua luta contra o câncer me deixava constrangida nas minhas intermináveis
queixas acadêmicas. Obrigada por toda ajuda que me deu com a documentação que eu
precisei trazer. Tua amizade me inspira e eu sinto a distância. Obrigada Patrícia Maria Pereira.
Agradeço a minha orientadora Profª. Drª Patrícia Paraboni por toda sua castração
(risos), confesso que aproveitei esta parte do trabalho para me soltar um pouquinho, já que o
rigor da academia me impediu (risos) Você é uma pessoa doce e firme. Agradeço-te por me
orientar nesta jornada, por ter um olhar tão preciso e atento. Aproveito para agradecer aquele
que deu o xeque mate na minha escolha pela psicanálise, o professor Diego Frichs Antonello,
o melhor professor de psicanálise que eu tive. Também as professoras: Prof. Ma. Natália de
Andrade de Moraes e Prof. Ma. Silvana Maia Borges por aceitarem fazer parte da minha
banca avaliativa.
Agradeço a Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA por me receber tão bem.
Aos novos colegas que fiz aqui em Santa Maria muito obrigada. Agradeço ainda a
coordenação de Psicologia da FISMA e aos professores: Jéssica Jaíne, Caroline Prola, Janaína
Strenzel, Guilherme Correa, Marcelo Moreira Cézar, Rosecler Gabardo, Patrícia Roso,
Andriza, Kátia, Cleuber, Leonardo, Cristiane Elesbão e Caroline Cadermatori. Meu muito
obrigada!
Agradeço ainda aos pais do CACC – Centro de Apoio à Criança com Câncer que me
inspiraram ao fazer este trabalho, também aos funcionários e direção.
Mas tem uma Pessoa que merece muito mais que gratidão. Ao Deus eterno imortal,
invisível, mas real, a Ele todo louvor, honra e glória! Acredito que uma convicção só pode ser
mudada se você se deparar com outra que te convença do contrário ou que te apresente algo
ainda mais lógico e real. Não achei nada que substitua Tua presença! Obrigada JESUS. Autor
e consumador da minha fé!
“Aqueles que têm certeza da eternidade suportam olhar para a finitude da vida!”
Carina Cannavô Alves
RESUMO

Os casos de câncer entre as crianças têm aumentado e as novas configurações subjetivas do


ser humano na atualidade tem no narcisismo uma temática bastante atual. Assim, o objetivo
desse trabalho foi tentar compreender os aspectos presentes na relação entre o narcisismo dos
pais renascido nos filhos e a ameaça de morte diante do câncer infantil. Para isso foi realizada
uma revisão bibliográfica narrativa, cujos resultados encontram-se nos quatro capítulos que
compõem essa monografia. No primeiro capítulo são abordados alguns aspectos relativos ao
câncer, em especial o câncer infanto-juvenil e seu tratamento. Mostramos a seguir a
importância da família como principal cuidador dos pacientes infantis e o quanto pode ser
desestruturador para elas as possíveis perdas a que acabam expostas nessa situação. A partir
disso, no terceiro capítulo, adentramos na conceituação sobre o narcisismo, do eu ideal e ideal
de eu, tentando esboçar como se dá a constituição narcísica e o potencial impacto do
diagnóstico de câncer do filho no narcisismo parental. Tais aspectos nos conduziram ao
último capítulo no qual abordamos a questão da transitoriedade, da morte, da crença narcísica
e de como a possível perda do filho pode levar ao desencadeamento de depressão em alguns
pais.

Palavras-chave: Psicanálise. Narcisismo. Pais. Câncer infantil.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8

METODOLOGIA ................................................................................................................ 10

CÂNCER: DEFINIÇÃO E TRATAMENTO .................................................................... 12

FUNÇÃO FAMILIAR E VULNERABILIDADE HUMANA .......................................... 17

NARCISISMO PERDIDO E NARCISISMO RENASCIDO ............................................ 21

TRANSITORIEDADE, MORTE E NARCISISMO.......................................................... 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 34

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 36
8

INTRODUÇÃO

Durante o percurso de elaboração deste trabalho houve a tentativa de redigir algo


sobre grupos de pais de crianças com câncer, sendo o plano de pesquisa apresentado nesse
assunto. Entretanto, a mudança temática se deu em decorrência das leituras fomentadas pela
pesquisa sobre grupos e os temas que circundam o câncer infantil: a família, a morte e as
perdas decorrentes do processo de tratamento. Em meio a essas leituras surgiu a inquietação
sobre as questões narcísicas dos pais em relação ao processo de adoecimento pelo câncer de
seus filhos. Assim, a questão do narcisismo parental foi tomando corpo em meio aos textos
consultados avolumando-se a tal ponto de tomar o lugar principal da pesquisa.
Nos estudos psicanalíticos entende-se a importância do narcisismo como parte
fundamental na constituição dos sujeitos. O conceito proposto por Freud (1914/1996)
demonstra que ele passa pela relação parental entre pais e filhos – a qual é narcísica. A
condição neotênica do infante cria um grau de dependência por um lado, mas promete
substancialmente por outro, o ressurgimento do narcisismo perdido dos pais, preenchendo-os
de esperança quanto a um futuro cheio de alegria e sucesso para o novo ser que se apresenta.
A criança é protegida da dor e do sofrimento pelos pais, os quais negam que o filho sofrerá
restrições e passará pelas tristezas da vida. Tristezas essas suscetíveis a todo aquele que se
dispõe a viver em sociedade (JUNIOR; MEDEIROS, 2017).
Como, porém, esse entendimento se dá quando um terceiro elemento aterrador,
chamado câncer, começa a fazer parte dessa relação? Quando a substância essencial para o
renascimento narcísico, a esperança futura, fica ameaçada? E quando o depositário dessa
expectativa vindoura não tem mais condições físicas e psíquicas de sustentar o narcisismo
renascido dos pais?
A bibliografia sobre o câncer infantil aborda sobre o quanto é avassalador para as
famílias a descoberta do diagnóstico, sendo a estrutura familiar abalada. O adoecimento leva
os membros da família a uma adaptação inesperada enquanto tentam reajustar seus papéis e
responsabilidades. Ao longo do processo de tratamento, feito muitas vezes longe de casa, as
perdas são inúmeras. As modificações nos arranjos domésticos e profissionais alteram o
cotidiano, provocando desajuste financeiro, seguidos de angústia, dor, sofrimento e medo
(NASCIMENTO et al., 2005).
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Outra perda que se efetua ou pode ocorrer, é a do narcisismo dos pais, revivido nos
filhos. A sociedade atual tem colocado os filhos em um patamar nunca antes experimentado
pelo ser humano na história das civilizações. Se antes a criança era tratada como um pequeno
adulto e desconsiderada em sua condição mais frágil (ARIÈS, 1981), hoje a supervalorização
da infância exacerbou sentimentos a ponto de canalizar nos filhos e assim esperar deles que
realizem tudo o que os pais não puderam ou não tiveram condições de realizar. Entretanto, o
diagnóstico de câncer do filho pode acabar com os ideais e desejos dos pais, abalando seu
narcisismo. Nesse sentido, essa pesquisa, amparada no referencial psicanalítico, buscou
compreender os aspectos presentes na relação entre o narcisismo dos pais renascido nos filhos
e a ameaça de morte diante do câncer infantil.
Atualmente, os casos de câncer entre as crianças têm aumentado. A estimativa
brasileira para os casos de câncer infantojuvenil em 2018 esteve em torno de 12 mil casos. A
Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer comunicou que em 19 países, entre a década
de 70 e 90, houve um aumento de 1% ao ano nos casos infantis e 1,5% em adolescentes. O
índice de sobrevivência também subiu, pois o avanço nas pesquisas oncológicas e as formas
de tratamento da doença tem proporcionado sobrevida e até cura (BRASIL, 2018).
A esperança de sobrevivência, as novas tecnologias medicamentosas na área
oncológica e a condição de crença narcísica dos pais em relação aos filhos é aqui abordada
como causa que leva a uma negação da morte. O luto na contemporaneidade não é vivido na
sua intensidade e naturalidade. As famílias enfrentam inúmeras perdas durante o tratamento,
sendo a mais crucial a perda do filho. Embora a psico-oncologia trabalhe junto aos pacientes e
as famílias no enfrentamento do câncer, faz-se necessário compreender os fatores da
contemporaneidade para o aperfeiçoamento clínico. Pois na atualidade novas formas
sintomáticas que mais se aproximam da depressão narcísica tem surgido como sofrimento
decorrente da quebra de ideais.
Para tanto adentramos na conceituação sobre o narcisismo da obra freudiana, bem
como abordamos os conceitos de eu ideal e o de ideal de eu, assim como as noções de crença
narcísica. Além disso, serão apresentadas algumas questões familiares que envolvem o
câncer, assim como uma breve descrição do câncer e possibilidades de tratamento. Sabendo, a
partir da investigação efetuada, o quão insuficiente é o material disponível em psicologia e
psicanálise que circunda as questões sobre o câncer de uma maneira geral. Compreendemos a
relevância do presente trabalho para que a partir das reflexões aqui expostas possa
desencadear a abertura para outras pesquisas na área.
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METODOLOGIA

Para realizar o objetivo proposto nessa pesquisa foi utilizado o método bibliográfico
com revisão narrativa da literatura. Essa metodologia proporciona a possibilidade de
pesquisar em materiais já publicados em diversas fontes como: livros, artigos, teses,
monografias, dissertações, anais de eventos e em materiais disponibilizados pela internet em
bases de dados científicas. Esse tipo de pesquisa permite conhecer uma gama de fenômenos e
informações mais amplas, podendo atingir sua abrangência as experiências e pesquisas
publicadas sobre o tema em questão em todo território brasileiro. Elegendo para tanto,
publicações em língua portuguesa e sem especificação de data (GIL, 2010).
Este método de revisão bibliografia narrativa constitui-se como uma abordagem
metodológica ampla e diversificada no que se refere às revisões. Inclui estudos experimentais
e não experimentais, combina dados teóricos e empíricos, incorpora conceituação e analisa
problemas metodológicos (GIL, 2010). Depois de ter sido feita a escolha do tema, o
levantamento bibliográfico preliminar, a formulação do problema e a elaboração do projeto de
pesquisa, foram identificadas as fontes bibliográficas que melhor correspondiam ao problema
e objetivo da pesquisa.
Cabe aqui salientar que a temática foi alterada ao longo da pesquisa. Se num primeiro
momento o projeto de pesquisa foi direcionado pelo interesse do pesquisador pela temática
grupal na área de cuidadores de crianças neoplásicas, num segundo momento, depois de
adentrar na área, outros interesses foram despertados: a relação existente entre o narcisismo
dos pais renascido nos filhos e a ameaça de morte frente ao câncer infantil. Para tanto, as
palavras-chave utilizadas para a busca em plataformas online foram: narcisismo, psicanálise,
pais, câncer infantil. Dentre as bases de dados utilizadas para esta revisão, situam-se as
publicações nas áreas de saúde e psicologia: SciELO (Scientific Electronic Library Online) e
Pepsic (Periódicos Eletrônicos de Psicologia). Os critérios de inclusão foram as publicações
completas de periódicos nacionais, no idioma português, elaborados a partir de estudos
brasileiros, que incluíam as palavras-chave, sem data estabelecida e que tinham o viés
psicanalítico. Foram excluídos os artigos estrangeiros e que não contemplavam os critérios de
inclusão.
Outros textos e livros encontrados sobre o tema, foram acrescentados à monografia.
As etapas seguintes consistiram na leitura exploratória, a leitura analítica, o fichamento, a
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leitura interpretativa e a escrita do texto monográfico. Entende-se por leitura exploratória o


tipo de leitura que objetiva avaliar se a obra consultada interessa ao tipo de pesquisa que está
sendo feita. Pode ser comparada à exploração superficial de uma região, feita por
exploradores. Pode ser feita examinando a folha de rosto, o índice bibliográfico e notas de
rodapé, bem como a leitura da introdução, da conclusão e dos elementos adjacentes da obra
(GIL, 2010).
Na leitura analítica, na qual foram selecionados os materiais da etapa anterior, o
trabalho foi direcionado para ordenar e sumariar as informações das fontes. Na sequência, foi
realizado o fichamento que é a organização em registros (fichas) das obras analisadas. No
fichamento foi registrada a identificação da obra consultada, seguida de anotações das ideias
decorrentes da leitura, conteúdos relevantes, comentários acerca das obras e informações que
interessavam à pesquisa. As fichas que foram produzidas nesta pesquisa, foram fichas de
resumo com identificações bibliográficas (GIL, 2010).
Precisamos mencionar que conforme avançavam as leituras e fichamentos dos textos
que nos interessavam, outros textos foram descobertos a partir das referências desses. Foram
acrescentados desse modo a pesquisa e fazem parte do referencial teórico. Logo após o
fichamento procedemos à leitura interpretativa intercambiando conhecimentos e relacionando
com autores que trouxeram uma aproximação do problema proposto na pesquisa (GIL, 2010).
O resultado encontra-se a seguir divido em tópicos que abordam o câncer, as famílias de
crianças com câncer, o narcisismo, a transitoriedade, morte e o narcisismo.
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CÂNCER: DEFINIÇÃO E TRATAMENTO

O câncer representa a segunda causa de morte no Brasil e só perde para as doenças


cardiovasculares que são a primeira causa de morte. A Agência Internacional para pesquisa
em Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) afirma que a incidência global
duplicou nos últimos 30 anos. O envelhecimento, o crescimento da população e as mudanças
nos hábitos de vida são apontados pela Agência como fatores que contribuem para o aumento
da incidência de neoplasias malignas (câncer). Os últimos dados da IARC/OMS também
mostram a taxa de sobrevida aumentada devido às novas antineoplasias disponíveis, embora
seja percebido mortalidade ainda alta (OPPERMANN, 2014).
Segundo o INCA – Instituto Nacional de Câncer - o câncer é o nome dado a um
conjunto de doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, invadindo
tecidos e órgãos. As células normais formam os tecidos do corpo humano e se multiplicam
por um processo contínuo que as faz crescer, multiplicar-se e morrer de maneira ordenada.
Algumas, porém, não se dividem, como os neurônios; outras, como as células do tecido
epitelial, dividem-se de forma rápida e contínua. Dessa forma, a proliferação celular não
implica necessariamente presença de malignidade, podendo simplesmente responder a
necessidades específicas do corpo (BRASIL, 2018). Sua manifestação no corpo humano pode
ser benigna ou maligna. O tumor benigno não é classificado como câncer, embora obedeça a
lógica do crescimento desordenado e possa ser tratado por meio de procedimento cirúrgico.
Sendo retirado sem risco ou dano ao organismo do paciente (OPPERMANN, 2014).
O câncer (tumor maligno) multiplica-se rapidamente e suas células tendem a serem
muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, eles podem espalhar-
se para outras regiões do corpo. Existem diferentes tipos de câncer e eles correspondem aos
vários tipos de células do corpo. Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou
mucosas, são denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos,
como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas. Eles então são assim nomeados
de acordo com o órgão ou tecido de origem. Apresentam evolução e comportamento
específicos (OPPERMANN, 2014).
O crescimento das células cancerosas é diferente do crescimento das células normais.
As células cancerosas, em vez de morrerem, crescem sem controle, formando outras células
anormais. Diversos organismos vivos podem apresentar, em algum momento da vida,
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anormalidade no crescimento celular – as células se dividem de forma rápida, agressiva e


incontrolável, espalhando-se para outras regiões do corpo – acarretando transtornos
funcionais. O câncer é um desses transtornos cuja característica principal é a perda do
controle da divisão celular e a capacidade de invadir outras estruturas orgânicas (BRASIL,
2018).
As causas do câncer são de origem diversa. Desde os fatores genéticos até os
ambientais. As combinações decorrentes destes dois fatores podem interagir aumentando a
probabilidade de transformações malignas nas células normais. O câncer pode acometer
pessoas de idades variadas (OPPERMANN, 2014), inclusive crianças e adolescentes.
A idade que entra para as estatísticas do câncer infantojuvenil vai de zero a 18 anos. O
câncer infantojuvenil é considerado raro, quando comparado aos tipos que afetam os adultos.
Apenas 1% e 3% entre todos os tumores malignos da maioria da população. O câncer nessa
faixa etária é estudado separadamente das neoplasias adultas, pois as diferenças existentes
entre eles variam quanto à localização dos tumores; quanto à origem histológica do tumor, ou
seja, qual tecido deu origem ao tumor; e quanto ao comportamento clínico da doença. Sendo
os mais frequentes tipos de câncer infantojuvenil: a leucemia, o câncer do Sistema Nervoso
Central e os linfomas (BRASIL, 2018).
A leucemia atinge os glóbulos brancos, tem origem desconhecida e caracteriza-se por
acumular células doentes na medula óssea. A medula óssea é o local de fabricação das células
sanguíneas e ocupa a cavidade dos ossos, nela são encontradas as células que dão origem aos
glóbulos brancos (leucócitos), aos glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos) e às
plaquetas. Na leucemia, uma célula sanguínea que ainda não atingiu a maturidade sofre uma
mutação genética que a transforma em uma célula cancerosa. As células anormais
multiplicam-se rápido e substituem as células normais por cancerosas. Existem mais de 12
tipos de leucemia, sendo que os quatro primeiros tipos são leucemia mieloide aguda (LMA),
leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfocítica aguda (LLA) e leucemia linfocítica
crônica (CLL) (BRASIL, 2018).
O câncer do Sistema Nervoso Central (SNC) compreende o cérebro e a medula
espinhal. Os tumores do SNC devem-se ao crescimento de células anormais nos tecidos
dessas localizações. O câncer do SNC representa de 1,4 a 1,8% de todos os tumores malignos
no mundo. Cerca de 90% dos tumores de SNC são no cérebro (BRASIL, 2018).
Os linfomas são tipos de câncer localizados no sistema linfático, que é um conjunto
composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis
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pela imunidade e vasos que conduzem essas células através do corpo. Os linfomas podem ser
de dois tipos: o linfoma Hodgkin e o linfoma não Hodgkin (LNH). O linfoma de Hodgkin se
origina no sistema linfático e tem a característica de se espalhar de forma ordenada, de um
grupo de linfonodos para outro grupo, por meio dos vasos linfáticos (BRASIL, 2018).
A doença surge quando um linfócito (célula de defesa do corpo), mais frequentemente
um do tipo B, se transforma em uma célula maligna, capaz de multiplicar-se
descontroladamente e disseminar-se. A célula maligna começa a produzir nos linfonodos,
cópias idênticas, também chamadas de clones. Com o passar do tempo, essas células malignas
podem se disseminar para tecidos próximos e, se não forem tratadas, podem atingir outras
partes do corpo. A doença origina-se com maior frequência na região do pescoço e na região
do tórax denominada mediastino. A maioria dos pacientes com linfoma de Hodgkin pode ser
curada com o tratamento disponível atualmente (BRASIL, 2018).
Já o Linfoma não Hodkin (LNH) é um tipo de câncer que também tem origem nas
células do sistema linfático e que se espalha de maneira não ordenada. Existe mais de 20 tipos
diferentes de linfoma não-Hodgkin. Como o sistema linfático faz parte do sistema
imunológico, que ajuda o corpo a combater doenças e é encontrado no corpo todo. O linfoma
pode começar em qualquer lugar. Também pode atingir crianças, adolescentes e adultos. De
modo geral, o LNH torna-se mais comum à medida que as pessoas envelhecem. Entre os
linfomas é o tipo mais incidente na infância. Os homens são mais predispostos do que as
mulheres (BRASIL, 2018).
Clinicamente, os tumores pediátricos apresentam menores períodos de latência. Em
geral, aparecem rapidamente e são mais invasivos ou agressivos; mas correspondem melhor à
terapêutica clínica adotada e são considerados de bom prognóstico. A associação entre câncer
pediátrico e fatores de risco ainda não está totalmente estabelecida (BRASIL, 2018).
Um passo importante apontado pelos especialistas do INCA para o tratamento
adequado do câncer é o diagnóstico e o estadiamento. Por estadiamento entende-se a
avaliação da extensão do comprometimento do organismo pela doença. Só então será feito um
planejamento terapêutico por especialistas das áreas clínica, cirúrgica, laboratorial e demais
métodos de apoio diagnóstico. O diagnóstico neoplásico é feito a partir da história clínica do
paciente, juntamente com exames físicos detalhados (BRASIL, 2018).
Dentre as metas do tratamento antineoplásico estão o prolongar da vida e sua
qualidade, pois nem sempre a cura é possível em todos os casos. Mas alguns tipos de câncer e,
15

sobretudo alguns tumores em crianças, como a leucemia aguda e os linfomas, mesmo não
possuindo métodos de detecção precoce, apresentam alto potencial de cura (BRASIL, 2018).
Há três formas principais de tratamento: a quimioterapia, a radioterapia e os
procedimentos cirúrgicos. Eles podem ser usados em conjunto, variando apenas quanto à
suscetibilidade dos tumores a cada uma das modalidades terapêuticas e à melhor sequência de
sua administração (BRASIL, 2018).
A quimioterapia é a forma de tratamento sistêmico do câncer, utiliza medicamentos
denominados “quimioterápicos” (ou antineoplásicos) administrados em intervalos regulares,
que variam de acordo com os esquemas terapêuticos. Ela é administrada em ciclos, de acordo
com o tipo de câncer, geralmente necessita de internação e/ou permanência da pessoa
acometida e sua família/cuidadores em localidade próxima aos hospitais de referência 1, pois
as reações adversas da administração quimioterápica podem levar o paciente a ter uma baixa
abrupta na imunidade sofrendo o risco de adquirir outras doenças (BRASIL, 2018).
A radioterapia é o método de tratamento local ou locorregional do câncer. Utiliza
equipamentos e técnicas variadas para irradiar áreas do organismo humano. A radioterapia é
uma forma de radiação para erradicar ou reduzir a carga tumoral, aliviar sintomas ou reforçar
o tratamento quimioterápico, diminuindo as chances de volta da doença em localizações mais
propensas à recaída. Em crianças e adolescentes, cada vez menos se utiliza a radioterapia, em
virtude dos efeitos colaterais tardios ao desenvolvimento orgânico que ela acarreta (BRASIL,
2018).
Faz parte dos tratamentos preconizados pelo INCA o apoio multidisciplinar com
equipes de várias áreas de atuação (BRASIL, 2019b). A psico-oncologia é o campo
interdisciplinar da saúde que estuda a influência de fatores psicológicos sobre o
desenvolvimento, o tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer. A psico-oncologia
não trabalha somente com o paciente, mas também ampara as famílias para que possam
enfrentar o câncer, preparando para os ajustamentos do cotidiano ou para sua finitude
(CAMPOS, 2010).
Os tratamentos contemporâneos proporcionam que se estenda cada vez mais a vida e
concedem novas esperanças de cura. Como vimos não envolvem apenas o doente em seu
aspecto físico e biológico, mas abrangem aspectos psicológicos, inclusive naquilo que se

1
Hospitais de Referência para o tratamento do câncer - “Todos os estados brasileiros têm pelo menos um
hospital habilitado em oncologia, onde o paciente de câncer encontrará desde um exame até cirurgias mais
complexas” (BRASIL, 2019a).
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relaciona com o tema da morte. É possível iludir-se com cada vez mais exames, saber das
novidades farmacológicas de tratamento e das recentes descobertas sobre o câncer. E cada vez
menos iniciar uma preparação para “o cessar” da vida (LABAKI, 2001).
Recidiva é o nome dado ao reaparecimento do câncer infantil após um período de
remissão, ou seja, de diminuição de sintomas/melhora. Recidiva é um retrocesso do câncer.
No período da recidiva os sintomas voltam, os exames se alteram e novos ciclos de tratamento
recomeçam. Volta-se a estaca zero. Esta situação de recidiva costuma vir acompanhada de
frustração, altos níveis de ansiedade, estresse e incerteza em relação à sobrevivência do filho.
Muitas vezes as possibilidades se esgotam e começa a preparação para cuidados paliativos
(ARRUDA-COLLI et al., 2016).
O problema da morte, segundo nos indica Labaki (2001), eram antes enfocados
durante os tratamentos psicológicos de apoio aos familiares de pacientes. Mas os tratamentos
medicamentosos, juntamente com as alternativas atuais da medicina estão a prolongar a vida.
Por isso, quanto mais esperanças os familiares tem menos acedem ao discurso sobre a morte.
Mas ainda, assim, segundo esta mesma autora, eles podem até não falar sobre isso, mas
certamente em nada se altera a mobilização da ideia de morte em cada paciente.
Abordar alguns aspectos relativos ao câncer infantil se fez necessário para
exemplificar a situação contexto em que os pais de crianças com câncer se veem envolvidos.
Pois suas especificidades são pano de fundo e ponto de partida para compreensão da relação
entre o narcisismo e a ameaça de morte que o câncer causa.
17

FUNÇÃO FAMILIAR E VULNERABILIDADE HUMANA

Existem muitos conceitos para definir família e para Osório (1997) a família é uma
unidade básica de interação social que através dos tempos tomou formas e mecanismos
diferentes. Trata-se do primeiro grupo que o indivíduo faz parte. A constituição familiar
coexiste hoje sobre princípios morais e psicológicos diversos, contraditórios e inconciliáveis.
A estrutura familiar varia ao longo do tempo segundo referências religiosas, econômicas,
históricas e sociopolíticas, sempre levando em consideração a cultura.
A situação “neotênica” da espécie humana, que é a impossibilidade de sua
descendência sobreviver sem cuidados ao longo dos primeiros anos de vida, foi responsável
pelo surgimento do núcleo familiar como agente de perpetuação da vida humana. A família se
torna, então, o modelo natural para garantir a sobrevivência da espécie. Sendo assim, propicia
a matriz para o desenvolvimento psíquico dos descendentes e aprendizagem da interação
social. A partir dos objetivos genéricos de preservar as espécies, nutrir, proteger a
descendência e fornecer as condições para a aquisição de suas identidades pessoais, a família
desenvolveu através dos tempos funções diversificadas de transmissão de valores éticos,
estéticos, religiosos e culturais (OSÓRIO, 1997). Para Pichon-Rivière (2009), a família
proporciona o marco para a definição e conservação das diferenças humanas, dando forma
objetiva aos papéis distintos: de pai, de mãe e de filhos, que constituem os papéis básicos de
todas as culturas.
Aspectos pessoais das relações e da dinâmica familiar são descortinados no período
em que ocorre a descoberta e o tratamento de câncer. As verdadeiras motivações das alianças
estabelecidas entre as pessoas aparecem e mostram sobre o que elas estão construídas.
Questões familiares de toda ordem são expostas pelo câncer e por um tempo são colocadas em
segundo plano. A tendência dessas questões é ficarem adormecidas. Elas tendem a retornar
depois e dão lugar, assim, à urgência primeira de combate à patologia que afeta o paciente
infantil. Os familiares geralmente conseguem enfrentar mais coisas que achavam que
poderiam, muitas vezes ultrapassando seus limites (DOUSSET, 1999).
O papel da família de preservar e cuidar os seus filhos, os laços afetivos que os pais
desenvolvem com eles e a efemeridade humana, revelada pela vulnerabilidade imposta pelo
câncer infantojuvenil, coloca a família diante da ameaça do término abrupto da vida,
invertendo a ordem natural de sua finitude. O câncer, assim, invade o espaço familiar e revela
18

não só a fragilidade, mas também a situação afetiva e social da família (DOUSSET, 1999).
Soma-se a tudo isso a condição narcísica dos pais sob verdadeira ameaça de ser novamente
perdida.
Geralmente os pacientes em tratamento de câncer necessitam acompanhamento. No
caso do câncer infantojuvenil as famílias são mobilizadas para oferecer à criança apoio. O
momento do diagnóstico de câncer infantil é percebido pelos pais como um desestruturador
familiar. Um evento potencialmente catastrófico ligado ao ideário de morte. Apesar dos
avanços na área médica e farmacológica, os pais de criança em tratamento ainda continuam
expostos a situações de sofrimento emocional por períodos prolongados. E entre as principais
causas desse sofrimento estão: a hospitalização de longa duração, a terapêutica
medicamentosa agressiva (com seus efeitos colaterais desagradáveis), a separação dos
membros da família durante as internações, a interrupção das atividades cotidianas, a
abdicação do emprego dos pais, a interrupção dos estudos da criança, desajustes financeiros,
episódios de angústia, dor e medo da possibilidade da morte do filho (MENSORIO;
KOHLSDORF; JUNIOR, 2009; NASCIMENTO et al., 2005, CARDOSO, 2007).
Ao receber a notícia do diagnóstico as famílias experimentam um forte abalo
decorrente da situação inesperada, o que favorece o sentimento de angústia, sendo que a
notícia abrupta pode desencadear um traumatismo psíquico. Diante disso, surge o sentimento
de impotência e desamparo, no qual o sofrimento é seguido de passividade ou fuga. A notícia
do diagnóstico traz consigo o estigma associado ao sofrimento intenso pelo qual passará o
paciente e, talvez, sua posterior morte. A angústia é um dos principais afetos que acometem
os pais. Trata-se de um afeto diante daquilo que o sujeito não pode articular e que é
impossível de ser representado e simbolizado. Momento que desorienta, desampara e faz com
que os pais de crianças com câncer sintam-se perdidos (ALMEIDA; SANTOS, 2013). Vale
ressaltar que nem todos reagem da mesma maneira.
É importante compreender os desafios do câncer infantil a partir da condição do
cuidador do paciente pediátrico. Torna-se fundamental reconhecer a relação processual
presente vivenciada pela criança, pelos pais e pela família extensa, a fim de contemplar
mudanças na forma de perceber e lidar com as perturbações psicológicas, consequências
profissionais e financeiras associadas ao tratamento (KOHLSDORF; JUNIOR, 2012).
Para Kübler-Ross (2017) existem fases ou estágios de adaptação em relação à
descoberta do câncer. No primeiro estágio as famílias não acreditam que seja verdade,
contudo procuram outros médicos, solicitando novos exames. Não para confirmar o
19

diagnóstico, todavia para ouvir que o primeiro diagnóstico pode ter sido um erro médico. Na
fase seguinte as famílias dirigem hostilidades e raiva aos médicos que comunicam o
diagnóstico e aos que examinaram o doente; e projetam sua fúria nos funcionários do hospital.
Sentem, ainda, culpa e desejo de recuperar oportunidades do passado. Logo depois que o
ressentimento, a raiva e a culpa se apresentam, a família entra na fase do pesar preparatório.
Quanto mais conseguirem vivenciar e lidar com o pesar antes da morte, maiores são as
possibilidades de suportar a perda depois. Se os membros de uma família podem juntos
compartilhar emoções que permeiam esse processo, enfrentarão depois aos poucos a realidade
da separação iminente e poderão aceitá-la. Com isso, podem ir vivenciando a perda iminente
gradualmente preparando-se para a morte.
Quando pesquisamos temas relacionados ao câncer infantil e aos familiares que
participam ativamente do processo de tratamento, como os cuidadores mais próximos, no caso
o pai e a mãe, não é incomum encontrar inúmeros relatos constantes na literatura que
salientam os sentimentos que tomam conta dessas pessoas nesse período. Entre esses
sentimentos, muitas vezes confusos e invasivos, verificamos os registros sobre o medo da
morte e da recidiva do câncer como os que mais aparecem (MENEZES et al., 2007;
OLIVEIRA et al., 2010; CAMPOS et al., 2007; DUARTE; ZANINI; NEDEL, 2012;
CASTRO, 2010). Sobre esses aspectos Campos et al. (2007) relatam sua experiência com
grupos de pais cujas temáticas versaram sobre a relação médico-paciente, o que é o câncer, o
medo da recidiva, a educação dos filhos, distância de casa e metas futuras.
No estudo de Oliveira et al. (2010) consta sobre as incertezas do curso da doença, que
incluem o medo da morte e as recidivas, as quais são evidenciadas nos discursos das mães ao
falarem sobre suas percepções vividas junto aos filhos. Os sentimentos ambíguos acerca da
quimioterapia, ora parecem devolver a vida para a criança, ora intensificam o medo da morte
e das recidivas. Duarte; Zanini e Nedel (2012, p. 115) destacaram a importância da
compreensão dos sentimentos de “impotência diante da criança doente, a sensação de
insuficiência, a expectativa de morte e a descrença nas medidas terapêuticas disponíveis e
refletem um tipo de paralisia diante da situação”. A angústia diante da percepção de que o
câncer pode levar à morte independente dos esforços, torna mais evidente os sentimentos
vivenciados pelos pais. Os autores ainda afirmam que esses pensamentos abalam as estruturas
familiares e proporcionam que seus membros repensem a sua própria existência.
Contudo a impensável possibilidade de morte do filho permeia os sentimentos após a
comunicação do diagnóstico. Pensar que algo possa acontecer de forma contrária ao que se
20

pressupunha, desencadeia desespero diante da ideia da morte. A angústia dos pais não recai
somente sobre o sofrimento do próprio filho, mas Castro (2010) acrescenta que os outros
pequenos pacientes internos do hospital, também mobilizam pais e mães de outras crianças. A
dor compartilhada naquele ambiente é tanta que muitos deles expressam que desejam trocar
de lugar com o filho.
Os pais passam pelo processo do tratamento de câncer infantil sob “constante ameaça”
de morte dos filhos. Esse sofrimento chega ao ponto de sentirem seu próprio narcisismo
ameaçado pela potencial perda daquele que antes foi um pedaço de si e carrega a sua
revivescência. Todo investimento libidinal dispensado pelos pais aos filhos e todo o projeto
daquilo que nem mesmo os pais puderam alcançar é depositado nos pequenos. O câncer,
porém, é implacável. Não no sentido extremo e terminal que resulta em morte, mas no sentido
de paralisia e intimidação da vida, ficando tudo em suspenso, inclusive os investimentos
narcísicos que agora se voltam novamente para os cuidados exclusivos com o corpo da
criança (GÓES, A.,2013).
Para Freud (1950[1895]/1980) as pessoas concentram suas forças nas necessidades
básicas ao se deparar com grave ameaça. A finalidade autoconservadora de caráter inadiável,
como no câncer, com o imperativo do tratamento e a inescapável “urgência da vida” mobiliza
os indivíduos para aspectos iminentes, como a morte. Uma maneira de dar conta do básico
para viver, no caso das famílias, fazer viver. O que também pode ocorrer neste período é a
ferida narcísica parental revivida nos filhos que agora sucumbem diante da doença e tem seu
reinado majestoso ameaçado como veremos a seguir.
21

NARCISISMO PERDIDO E NARCISISMO RENASCIDO

O conceito de narcisismo é desenvolvido por Freud em 1914, em seu texto Sobre o


narcisismo: uma introdução. Porém, as notas dos editores ingleses, presentes na versão da
editora Imago, fazem referência aos apontamentos feitos por Freud sobre o tema em uma
reunião da Sociedade Psicanalítica de Viena, a 10 de novembro de 1909. Isto indica que
apesar do texto base sobre o narcisismo só ter sido publicado em 1914, Freud já circundava o
tema desde essa época, ou talvez antes disso. Algumas referências mais extensas, segundo o
mesmo editor inglês, aparecem no texto de Freud: “Uma lembrança de infância de Leonardo
da Vinci” de 1910.
O surgimento do termo narciso em psicanálise, bem como sua descrição clínica, foi
atribuído por Freud (1914/1996) a Paul Nacke. Em 1920, Freud declara que houve um engano
a tal atribuição e cita Havelock Ellis como aquele de quem derivou o conceito.
Posteriormente, porém, em 1928 o próprio Ellis escreveu um artigo citando a coautoria entre
ele mesmo e Nacke quanto ao conceito de narciso. Freud (1914/1996) esclarece que ao pensar
em narciso, Ellis (1898, apud FREUD 1914/1996) usou a expressão “semelhante a narciso”
para designar uma atitude psicológica, enquanto Nacke (1899, apud FREUD 1914/1996)
introduziu o termo ‘narcismus’ para descrever a perversão sexual. Eles estavam dando nome a
atitudes psicológicas ligadas à perversão sexual baseando-se no mito de narciso2.
Em Freud (1914/1996), o termo narcisismo serviu para denotar a atitude de uma
pessoa que se ocupa ou interessa-se pelo próprio corpo da mesma maneira como poderia tratar
de se ocupar ou interessar-se pelo corpo de outrem como objeto sexual. Este objeto sexual
comumente contemplado, afagado, acariciado serve para que se obtenha satisfação completa.
O narcisismo seria, então, o ato de provocar tais sensações em si mesmo, adquirindo com isso
satisfação de si para si. Além disso, o autor afirma que na atitude narcísica estaria presente o
complemento libidinal do egoísmo da pulsão de autopreservação. O narcisismo vem a ser a
atitude de voltar para si a libido que antes era dirigida ao mundo externo.
Freud (1914/1996) afirma que o ego, enquanto unidade, não existe desde o início, mas
tem de ser desenvolvido. Diferente das pulsões autoeróticas que se encontram no bebê desde o
início, para que o narcisismo advenha será necessária uma nova ação psíquica, a qual deve ser

2
Essas informações encontram-se em nota de rodapé do texto de Freud (1914/1996) sobre o narcisismo da
versão inglesa traduzida da versão publicada em 1925.
22

adicionada ao autoerotismo. O autor levanta a hipótese de ter havido desde o início uma
separação entre pulsões sexuais e outras pulsões do ego. Além disso, considera que o
indivíduo leva uma existência dúplice: uma para servir às suas próprias finalidades e outra
como um elo em uma corrente, que ele serve contra sua vontade ou involuntariamente. No
entender do autor o indivíduo é o veículo mortal de uma substância que por suas
características sucessivas é imortal - único dono temporário de um patrimônio que lhe
sobrevive. Essa expressão utilizada por Freud (1914/1996) – “patrimônio que lhe sobrevive” –
faz referência às células com as quais o homem e a mulher contribuem para a concepção
desse novo ser que é gerado. Assim, ao filho atribuirão os seus mais belos sonhos dourados. O
“patrimônio que lhe sobrevive” também esboça a ideia de imortalidade.
Em um trecho do texto sobre narcisismo, Freud (1914/1996) destaca que a atitude
afetuosa dos pais para com os filhos é como uma revivescência e reprodução de seu próprio
narcisismo. Na distante infância dos pais a libido do ego retornava a eles e tinham a impressão
de serem onipotentes. Eles criaram há muito tempo a fantasia de satisfação plena, de vontade
prontamente atendida. Acontece que por época do Complexo de Édipo e do fenômeno da
castração, os que agora são pais, começaram a compreender que a realidade se impõe sobre
toda a vontade humana e que o custo para a vida em sociedade é a submissão às regras
colocadas por ela. No decorrer do desenvolvimento adulto, a libido que antes era investida em
si mesmo é reinvestida nos filhos. Ela se torna assim libido objetal. Mas ainda reverbera na
memória dos pais o sentimento megalomaníaco, tão próprio do narcisismo, em forma de
expectativas que não poderão, também, na sua totalidade serem satisfeitas pelos filhos.
Pinheiro (1995, p.1) se refere ao narcisismo como a “invenção de dois adultos - os pais
da criança ou daqueles que dela se ocupam”. A autora descreve que o aparelho psíquico da
criança passa por “um longo e complexo processo de assimilação” que vai desde os sonhos
dourados dos pais, pensados para a criança que chega, até as imposições sociais que obrigam
o aparelho psíquico, em desenvolvimento, a se reorganizar. O aparelho egóico compreende
uma pluralidade de EUs que são meios necessários à aceitação da castração, ou seja, a
onipotência indispensável utilizada enquanto o sujeito cresce e se desenvolve psiquicamente.
Freud (1914/1996) se refere a “sonhos dourados” como uma atitude emocional de
supervalorização, na qual os pais acham que o filho é perfeito, ocultando e esquecendo todas
as deficiências deles. Para os filhos não faltará investimentos, seus pais vão supervalorizar e
suprir as necessidades da vida, sendo que a doença, a morte, a renúncia ao prazer e restrições
à vontade não serão empecilhos para os pequenos reis, coroados pelos pais. O filho será o
23

centro da criação, portanto, “sua majestade o bebê”. Assim, a criança concretizará “os sonhos
encantados” dos pais, no ponto mais sensível, a imortalidade do ego. Tão oprimida pela
realidade, a segurança será alcançada por meio do refúgio na criança. O amor dos pais nada
mais é que o narcisismo dos pais renascido, o qual, transformado em amor objetal revela sua
natureza original.
A época presente trouxe coisas interessantes de se notar quanto à organização das
famílias com a chegada de um novo membro. Alguns casais costumam escolher o nome da
criança logo após a ultrassonografia revelar o sexo do bebê. Na sequência já começam as
compras do berço, do carrinho, das roupinhas e uma série de desejos e aspirações são
projetadas no novo membro da família. Assim começam as idealizações e os desejos sendo
inscritos na criança e marcando sua constituição psíquica. O evento do nascimento é um
momento de expectativa e inquietação, pois inscreve na realidade a imortalidade do ego dos
pais, com o qual cada um nega a finitude da vida e procura perpetuar-se pela eternidade. O
filho é a esperança de realização de seus desejos (GÓES, F., 2006).
Ao nascer a criança ainda não é um sujeito psíquico. Todo o preparo que antecede o
seu nascimento e as expectativas colocadas nela irão contribuir para a formação desse sujeito
que é necessariamente vinculado à presença de um outro, no caso os pais ou cuidadores.
Existe no princípio da vida da criança uma precariedade do eu em relação ao psiquismo que
só poderá se tornar uma alteridade a partir do reconhecimento dos pais sobre esse ser como
diferente e dotado de singularidades (MORAES; MACEDO, 2011).
Esse outro (parental) precisa primeiramente investir libidinalmente a criança, para que
ela pouco a pouco comece a perceber suas fronteiras físicas. Fazendo, assim, distinção entre
ela mesma e o cuidador. De um lado o cuidador erogenizando o corpo infantil, por outro esse
eu sendo constituído. O narcisismo é um problema do eu e do outro, pois inicialmente o eu é o
outro, por conta da identificação inicial de não diferenciação. A identificação move o conceito
de narcisismo, por isso é denominada de identificação narcísica. A importância do movimento
identificatório no processo de construção de si mesmo está presente na descrição do
narcisismo, o qual depende da qualidade das relações existentes entre o eu e seus objetos de
investimento. Nesse sentido o que é oferecido pelo objeto externo terá papel decisivo na
configuração da imagem de si. Há uma importante relação entre o que será projetado como
ideal da criança e as condições narcísicas dos pais. Eles por meio da relação com os filhos
fazem renascer e atualizar aspectos do próprio narcisismo (MORAES; MACEDO, 2011).
24

O narcisismo da criança deriva de um campo intersubjetivo, ou seja, entre duas


subjetividades ou entre consciências individuais, entre os vários sujeitos humanos que podem
ser dois ou mais sujeitos ou como queira entre alteridades. É, assim, um entrecruzamento do
discurso do desejo dos pais, no qual eles tentam obturar uma falta essencial. A criança seria
como uma ilusão narcisista que constitui o narcisismo primário dos pais. O cuidador tem a
capacidade de ver a criança como alguém diferente de si mesmo. A qualidade libidinal
prazerosa do cuidado proporciona a construção do sujeito psíquico (MORAES; MACEDO,
2011).
O ser humano uma vez que experimenta a satisfação completa, aquela que se dá
quando seu corpo frágil é erogenizado libidinalmente, alimentado e cuidado, sendo tratado
como uma majestade para a qual nada falta, tem dificuldade em abrir mão dessa vivência.
Essa satisfação já desfrutada torna-se empecilho para a renúncia posterior que ele precisará
fazer para conviver em sociedade. O conceito de eu ideal está ligado a uma memória desse
período da qual o ser humano resiste em desvencilhar ou renunciar (MORAES; MACEDO,
2011).
Para adentrar mais um pouco nestas questões é necessário entender a diferença entre
eu ideal e ideal de eu. O eu ideal ou ego ideal é a representação imaginária de uma posição
superlativa absoluta, dotada da onipotência de que desfruta a “sua majestade o bebê” na
infância, sem medos, sem castração, sem regulação pelo outro ou pelo mundo da cultura.
Trata-se de uma formação intrapsíquica que segundo Laplanche e Pontalis (2016), outros
autores pós freudianos, escolheram chamar de ideal narcísico de onipotência, pois seria
forjado a partir do modelo do narcisismo infantil.
Freud não fez nenhuma distinção conceitual entre eu ideal e ideal de eu, mas depois
dele “certos autores retomaram o par formado por estes termos para designarem duas
formações intrapsíquicas diferentes” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2016. p.222-223). Freud
apenas introduziu o termo eu ideal designando que na origem da formação das instâncias
ideais de personalidade o sujeito coloca como objetivo, para ele mesmo, retornar ao estado de
onipotência do narcisismo infantil. Nesse sentido, o eu ideal é sempre inerente a onipotência
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2016).
O ideal de eu ou do ego está mais ligado ao referencial simbólico em conformidade
com os valores herdados das instâncias parentais e da sociedade em geral. Podemos dizer que
ele está sempre em relação a um outro (KAUFMANN, 1996). O ideal do ego resulta da
convergência do narcisismo (idealização do eu/ideal de eu) e das identificações parentais, com
25

seus substitutos e com os ideais coletivos. Além disso, é um modelo a que o sujeito procura
conformar-se (LAPLANCHE; PONTALIS, 2016).
O que o homem projetaria diante de si como “seu ideal – é o substituto do narcisismo
perdido da infância; nesse tempo o seu próprio ideal era ele mesmo” (LAPLANCHE;
PONTALIS, 2016.p.222). O ideal de eu procura resgatar o que ficou interditado no sujeito
através do processo civilizatório. As interdições decorrentes do aprendizado cultural de cada
indivíduo operam a função da castração que dita as regras, polindo ou socializando para o
bom convívio. O sujeito recorre ao ideal de eu para retomar o que foi perdido por essas
interdições. Neste sentido o ideal de eu ao tentar essa reconquista, no caso os pais em relação
aos filhos, precisa convocar um outro a ser um duplo na repetição de sua história (MORAES;
MACEDO, 2011).
A esperança dos pais coloca os filhos no lugar de substituição simbólica de seu
narcisismo primário. É importante ressaltar que ego ideal sofre uma transformação ao longo
da constituição psíquica, ele acaba tendo que se moldar de acordo com o que é valorizado
socialmente ou permitido, abdicando para isso do ego ideal, dando origem ao ideal de eu. Os
pais encontram-se no registro do ideal de eu e estão sempre a lidar com a frustração de não ser
aquilo que projetaram como idealização (eu ideal), transferindo para os filhos a recuperação
do eu ideal, o qual precisaram abandonar (em parte) para a vida em sociedade
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2016).
Os filhos tornam-se detentores da imagem idealizada dos pais. E esse ego ideal fixado
e projetado agora nos filhos, revela e remete ao que os pais gostariam de ter sido. Ficando na
instância imaginária tal ideação. Quando o indivíduo não consegue realizar-se, tende a fazer
grandes investimentos naquilo "[...] que possui a excelência que falta ao ego para torná-lo
ideal [...]" (FREUD, 1914/1996, p.107). Fica no imaginário dos pais que os filhos poderão
reproduzir na íntegra a experiência de satisfação sentida no narcisismo primário (GARCIA-
ROZA, 1984).
Os filhos são na verdade sentidos como uma parte de si mesmo. Talvez seja essa a
constatação freudiana quando ele comenta que “[...], pois cada um desses antes3 amados era
afinal de contas uma parte de seu próprio eu amado [...]” (FREUD, 1915/1996, p. 303) 4. E se

3
Embora a palavra “antes” do trecho acima citado, possa, na frase, sugerir uma substituição pela palavra “entes”
de “entes amados” a citação, assim, descrita está fiel ao texto em português referenciado.
4
O trecho citado referia-se quando da morte de pessoas próximas.
26

ao nascerem os filhos afloram nos pais expectativas sobre a imortalidade do ego revivida
neles, sendo a finitude negada, por outro lado, os pais ao deparar-se com as situações
ameaçadoras contra a vida dos filhos defrontam-se novamente com a incompletude do desejo
primário que talvez jamais possam alcançar novamente, pois não é real e sim imaginário. O eu
ideal remete de novo e de novo à figura que gostariam de ter sido, que achavam que iriam
realizar no filho, mas que os leva novamente ao desamparo.
O câncer deixa os pais a mercê de uma sensação não de onipotência, mas de
impotência frente a uma doença de difícil combate. Essa perspectiva duvidosa de cura faz
esmorecer toda significação antes dada aos filhos. Faz com que concentrem as forças na
salvação do filho e, portanto, do seu próprio narcisismo perdido. A satisfação imaginada
ficará suspensa até a possível cura. O convencimento da imortalidade do ego contribui para
renovar o ânimo. “[...] no inconsciente cada um de nós está convencido de sua própria
imortalidade” (FREUD 1915/1996, p. 299).
27

TRANSITORIEDADE, MORTE E NARCISISMO

A despeito do convencimento da própria imortalidade não podemos nos esquecer de


que os estudos sobre a morte e as coisas transitórias da vida estão interligados no texto
freudiano. Ao encontrar definições gramaticais sobre a morte, elas nos dão entender a ideia de
fim, de interrupção de algo que antes seguia em desenvolvimento, de cessação da vida
(FERREIRA, 2008).
A noção de morte em Freud obedece à formulação sobre o caráter de
irrepresentabilidade da morte. No texto “Nossa atitude para com a morte”, inserido no ensaio
“Reflexões para o tempo de guerra e morte” Freud escreve:
Para o homem primevo, sua própria morte era certamente tão inimaginável e irreal
quanto o é para qualquer um de nós hoje em dia. No entanto, no seu caso, uma
circunstância fez com que as duas atitudes opostas para a morte colidissem e
entrassem em conflito uma com a outra, circunstância de longo alcance. Ocorreu
quando o homem primevo viu morrer alguém que lhe pertencia [...]. Então, em sua
dor, foi forçado a aprender que cada um de nós pode morrer [...] duas atitudes
opostas [...] reconhece a morte como extinção da vida [...] nega a morte porque irreal
(FREUD, 1915/1996, p.303).

Para o autor, o homem primevo sobrevive no inconsciente de cada pessoa e afirma que
ele retirou da morte seu sentido de aniquilamento para proteger-se da ideia do próprio fim.
Por outro lado, sente-se resignado diante da morte de outros. Assim, aprende que a morte é
inevitável, mas ao se identificar com aquele que desapareceu este permanece subsistindo no
seu psiquismo. Portanto, substitui o objeto perdido no psiquismo, dando ideia de alma como
germe da imortalidade (FREUD, 1916/1996). O homem primitivo teve sentimentos
contraditórios em relação à morte, pois queria a morte dos inimigos, mas, ao mesmo tempo,
se opunha a ideia da sua própria morte. Passando a ter um choque de realidade quando da
morte de um ente querido. No entender de Freud não há representação de coisa possível para a
morte no inconsciente. Seu caráter de inacessibilidade implícita impede de constituir-se como
marca psíquica inconsciente do vivido (LABAKI, 2001).
Freud (1916/1996), em um texto sobre a transitoriedade das coisas belas e efêmeras,
vislumbra algumas ideias sobre como a mente humana se posiciona e processa as informações
penosas a que está exposta. O autor relata que ele e seus amigos caminhavam longamente
durante um dia de verão em um lugar muito bonito. Freud percebeu que enquanto um deles
seguia calado e indiferente à beleza do lugar; o outro, poeta, estava perturbado pelo
pensamento de que tudo aquilo que agora era belo logo desapareceria quando o inverno
28

chegasse. O homem não conseguia desfrutar do passeio e nem se desvencilhar da ideia de que
tudo ali era transitório.
Nesse episódio, Freud (1916/1996) afirma que dois impulsos mentais se acham
presentes em situações onde o sujeito se depara com a transitoriedade da vida: um penoso
pensamento de desalento, diante da morte anunciada do belo pela chegada do inverno e outro
de rebelião. Ele afirma que a exigência da imortalidade é fruto dos nossos desejos e, mesmo
que seja reivindicada pelos pensamentos, vê-se submetida à realidade do que é transitório.
O autor ressalta o valor da transitoriedade sentida como o valor da escassez do próprio
tempo ao saber-se fadado à derradeira morte. Assim, o valor de cada coisa e detalhe se
intensifica. O valor da beleza é determinado pela significação da própria vida emocional. E
apesar de compartilhar todas essas considerações com seus amigos naquele passeio, Freud
nota algo em relação ao que é transitório. Ele se utiliza da palavra “desalento”, ou seja, algo
que faz perder o ânimo, que tira a vontade de agir, algo mais aproximado dos quadros
depressivos de quem perde o interesse, um desânimo. Ou como diz no texto freudiano “um
penoso desalento” (FREUD, 1916/1996). Um sofrimento que provoca desconforto, que
domina a mente e que não é agradável.
Além disso, Freud percebe uma espécie de rebelião contra o luto. Pensar que a beleza
iria morrer antecipou o luto pela morte da beleza. E como a mente recua de algo que é penoso,
os amigos de Freud sentiram que em sua fruição de beleza interferiram pensamentos sobre a
transitoriedade (FREUD, 1916/1996).
No caso dos pais que estão sobconstante ameaça de perda dos filhos, alguns,
experimentam um luto antecipatório. Não só da morte da criança, que ainda não morreu, mas
de todo o entorno que já se perdeu em função da doença. Pois como vimos anteriormente no
texto sobre transitoriedade os dois impulsos mentais que se acham envolvidos nos
pensamentos sobre a morte de algo que se admira, no caso aqui especificamente os filhos que
se ama, fazem fruir desalento e/ou rebelião (FREUD, 1916/1996).
Atribuímos, então, este desalento ao luto antecipatório. No câncer infantil a doença vai
“carcomendo” a vida em seus mais variados aspectos como já citamos. Muitas coisas vão
embora. O luto é vivido diariamente, mesmo que a criança ainda esteja viva. E o luto
antecipatório é uma realidade diante da morte “anunciada do belo” (FREUD, 1916/1996) pelo
rebaixamento da libido experimentada nesse período para o necessário desligamento do filho.
Nesses casos, para além do luto, pode-se apresentar a “rebelião” que agiria como uma espécie
de revolta contra o luto.
29

Como o processo do luto decorrente da real morte da criança ainda não está em curso,
fazemos esta menção ao luto antecipatório inerente ao desalentador sentimento de perda, que
se assemelha ao desânimo e a falta de vigor ou falta de ânimo. Seria aqui um indício de uma
espécie de depressão narcísica que difere do luto pela morte consumada?
Antes, porém, da chegada a este ponto, onde luto, desânimo, rebelião e depressão
fazem parte do mesmo impulso mental diante da efemeridade do belo e da vida; voltemos ao
início da vida do bebê. Podemos pensar que na época da concepção e gravidez há um “[...]
sobreinvestimento narcisista, sentido como produção endógena, algo do próprio corpo”
(TABORDA, 2017.p.13). Assim sendo a imagem mental do bebê passa a ocupar o imaginário
dos pais como uma maneira de representação de um sujeito diferente deles, mas com grande
investimento narcísico. Passando a constituir-se como sujeito psíquico, como já abordamos
longamente.
Mesmo nessa “independência” entre esses indivíduos, a mãe, o pai e a criança, ou seja,
mesmo que cada um seja uno individualmente, a constituição psíquica da criança irá depender
desse investimento narcísico dos pais que, anteriormente na vida deles próprios, foi impactada
pela cultura e pela vida em sociedade, tendo que abdicar do eu ideal. A partir dessa
experiência, os pais, revivem nos filhos, ou fazem reviver um eu ideal representado por
perfeição e completude (TABORDA, 2017).
“[...] o grande investimento narcísico dos pais nos filhos seria uma maneira de evitar
um encontro com a própria castração” (TABORDA, 2017.p.14). Essa suposição dá a entender
que o fantasma da castração foi dissipado pelo filho personificado, tornando-se o depositário
das expectativas do casal. E visto como uma maneira de atingir o eu ideal.
O problema do câncer infantil reside que de novo a castração se impõe pelo princípio
de realidade. Se o falo é o filho, e o filho está doente, inclusive sob grave ameaça de morte, a
castração virá de novo e agora mais violenta. O câncer corrói, definha, míngua e murcha o
corpo frágil da criança. Assim, “[...] o ponto mais vulnerável do sistema narcísico, a
imortalidade do eu” fica encurralada e “sofre com a reedição de uma imensa ferida narcísica”
(TABORDA, 2017.p.15).
Ainda nesta perspectiva, há outro ponto da teoria sobre o narcisismo a ser observado
para que possamos avançar nas considerações que pretendemos alcançar sobre o narcisismo e
a relação com a ameaça da perda dos filhos com câncer. É a noção de crença narcísica que
traz em seu bojo teórico as concepções de imortalidade do eu e onipotência original.
30

A crença narcísica designa o ponto do ideário infantil onde o discurso dos pais é de tal
forma introjetado pela criança de maneira a pensar que possa existir uma forma de
onipotência original, ou seja, um investimento muito alto em ideias de imortalidade e
onipotência do eu. Cria no indivíduo que o recebe uma certeza no amanhã capaz de lhe
conferir esperança para continuar investindo na vida (PINHEIRO; QUINTELLA;
VERZTMAN, 2010). “Este eu narcísico, portanto, nasce de uma ficção, montada na fantasia
de um objeto complementar que traria a plenitude perdida, análoga à fantasia que recobre o
objeto da paixão (PINHEIRO, 1995.p.2).”
A crença narcísica, entendida como um alto investimento nas ideias de imortalidade e
onipotência, faz parte da própria formação do eu ideal. Ela funda a relação do sujeito com sua
própria imagem ideal, característica do mito de onipotência infantil, participando da formação
e constituição do sujeito. Esta formação psíquica do infante conta com os investimentos
parentais e com os discursos idealizados por eles: a criança que chega deve ser perfeita e não
passará pelos sofrimentos que seus pais experimentaram (PINHEIRO; QUINTELLA;
VERZTMAN, 2010).
Tendo em vista todo arcabouço teórico da psicanálise pesquisado sobre narcisismo,
nossa suposição neste trabalho recai sobre a mesma hipótese levantada por Pinheiro, Quintella
e Verztman (2010) de que o resultado de se ter uma criança acometida por câncer, levaria os
pais a lutar contra um tipo de depressão que nas palavras destes autores difere do luto e da
melancolia. Pois esta nova apresentação sintomática da depressão está ligada a uma perda de
“condição ideal impedida de transformação”.
Os pais, ao se identificarem narcisicamente com os filhos e estando sob a ameaça de
perdê-los podem desenvolver a depressão em decorrência da impossibilidade de recuperação
do eu ideal na criança doente de câncer. Acrescido ao fato de deixar no passado a esperança
dessa possibilidade e não saber lidar com a transitoriedade de sua crença narcísica, abrindo,
assim uma ferida narcísica, por ver-se defronte a cessação da vida do filho. E se o eu ideal é
uma representação imaginária talvez nunca alcançada, essa imagem reverbera no tempo
passado sem perspectiva de realização.
Para Pinheiro, Quintella e Verztman (2010) a reação à perda e a finitude da vida se
manifesta nos dias de hoje como um sofrimento psíquico que difere do luto e da melancolia, o
qual recebe dos autores o nome de depressão. Uma depressão que se manifesta com o
discurso de que “eu já fui algo ou alguém e hoje não sou mais”. Outro argumento que reforça
essa ideia postulada por nós é um fato que instiga-nos a pensar na semelhança entre esta nova
31

concepção depressiva, dita narcísica, elencada pelos autores com o “desalento diante da morte
anunciada e a rebelião contra o luto” descrito por Freud. Luto esse que ainda não foi
experimentado pelos pais, apenas sob ameaça de perderem seus filhos para o câncer, mas que
intimida pelo prenúncio de uma morte que virá. Colocando a imortalidade do eu narcísico dos
pais de novo sob suspeição.
A ameaça da perda do filho com câncer ainda não é o luto. Embora no luto a pessoa se
mantenha “[...] temporariamente num estado de rebaixamento libidinal e sofrimento ante a
morte ou a perda [...] (QUINTELLA, 2012.p.91)”. Este ainda não é o caso aqui. Os pais das
crianças com câncer têm, durante o processo de tratamento, vivido um luto antecipatório por
tudo que já perderam: lugar, casa, trabalho e os vínculos sociais. Mas este ainda não é o luto
definitivo. Por isso dizemos “de algo desalentador” e “rebelião”. Eles ainda se encontram em
um estado diferente. O luto possibilita que, durante esse rebaixamento libidinal que ocorre, a
dor não se eternize e o trabalho psíquico de desligamento do objeto possa ser feito, mesmo
que num processo lento e demorado.
O que estamos tentando elaborar aqui é o processo em que não diz respeito ao luto
propriamente dito. E sim, a uma perda que se assemelha mais a depressão. Descrita a partir da
crença narcísica como forma determinada de o sujeito situar-se perante a perda. Processo que
os autores Pinheiro, Quintella, Verztman (2010) denominam de depressão narcísica.
Essa crença narcísica que conjuga a imortalidade do eu com a onipotência, não
comporta a ideia de finitude (PINHEIRO; QUINTELLA; VERZTMAN, 2010). E por não
comportar essa ideia, surge um suposto questionamento: - Como naquilo que os pais são
imortais (no filho) e na realização de um eu ideal projetado neste filho pode haver finitude?
A presença predominante da crença narcísica na vida psíquica faz jus à onipotência e a
imortalidade do eu. Sendo assim, não consegue comportar a ideia da finitude, por isso pode
advir a depressão. Não comportar a ideia de finitude pode significar que a ideia primeira de
imortalidade de eu e de onipotência faz o aparato psíquico incapaz de entender os ciclos
temporais (PINHEIRO; QUINTELLA; VERZTMAN, 2010).
No caso do câncer infantil as perdas parentais são tantas que os processos psíquicos
envolvidos podem declinar para dois caminhos segundo a hipótese alçada por nós. Quando
forçadamente os pais têm de se afastar das suas condições usuais de vida para
acompanhamento do câncer infantil pendendo para a morte, em alguns casos um luto
antecipatório pelas coisas perdidas pode vir a estar em curso. Com a morte do filho o ponto
final de um luto que já estava em curso pode ter uma conclusão, ser elaborado de maneira
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gradual e como um processo que no decorrer de um tempo se resolve sozinho (FREUD,


1917/1996).
Há um tempo adequado e esperado, pois afinal algo se perdeu. E até que as coisas
novamente se ajustem e voltem a uma rotina suportável, os pais estarão a viver o luto. Os pais
tem que viver o luto do filho perfeito de suas idealizações. Encontrar-se com a morte é
encontra-se com a castração real. Apesar de ser um processo que precisa ser vivido, nem
sempre se tem sua resolução dessa maneira.
Por isso postulamos como hipótese que talvez a dor maior sentida pelos pais, quanto à
ameaça de perda dos filhos acometidos de câncer, seja porque de alguma forma a projeção
narcísica na vida dessas crianças ainda esteja fixada no eu ideal. O tempo e as frustrações
decorrentes da não correspondência dos filhos com câncer aos sonhos dourados dos pais vai
formando um novo ideal de eu, que resgatando aspectos da realidade, exige uma nova ação
psíquica que não o luto, pois a interferência da crença narcísica não permite que este seja
elaborado. Deste modo resta ao aparato psíquico parental a “rebelião” contra o império do real
que se manifesta em um “desalento/desânimo”. Uma imobilidade diante de uma situação sem
saída que figura mais como uma “imagem parada”, “imagem centralizada de si”,
(PINHEIRO; QUINTELLA; VERZTMAN, 2010). Tal qual o Narciso do mito que apenas
contempla.
A angústia como vimos anteriormente, é o principal sentimento que acomete os pais
durante a descoberta do diagnóstico. A desestrutura sofrida neste período e as perdas
decorrentes do longo processo de tratamento podem acarretar, hipoteticamente falando,
quadros depressivos com profundo “sentimento de perda”. Atrelado a isso os tratamentos
contemporâneos na área oncológica têm avançado a ponto de elevar as estatísticas de
sobrevida e tem esperançado cada vez mais os pais. Por outro lado sabemos que devido à
subjetividade de cada indivíduo nem todos reagem da mesma forma. Alguns, porém podem
desenvolver um tipo de depressão que difere do luto e da melancolia como encontrado no
texto de Pinheiro, Quintella e Verztman (2010). Esta depressão postulada por eles representa
o cerne do discurso depressivo dos pais que tem uma imagem de si perdida, o filho. E que
sofrem uma perda de entusiasmo e investimento na vida infantil, pois estão constantemente
ameaçados pela morte.
Alguns pais, dessa maneira, não iniciam o processo de elaboração do luto, visto que
não conseguem deparar-se com a condição de transitoriedade. Portanto, ao não destituir-se a
crença narsíca com a instauração do ideal do eu e ao negar o desejo que faz investir e a
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finitude daquilo que passa, resta aos pais de filhos vítimas do câncer infantojuvenil deprimir.
Em razão de que a depressão é a negação da morte de seu narcisismo. Esta depressão é tida
como uma saída defensiva possível que resulta em “sintomas graves de estagnação, perda do
interesse pela vida, desinvestimento, conflitos com a imagem de si – sintomas que às vezes
culminam em atos suicidas (QUINTELLA, 2012, p.95)”.
Isto nos leva a crer que mesmo sendo uma escolha não consciente há uma tendência
subjetiva em cada indivíduo que ora se inclina para a realidade dos fatos, aceita a castração da
realidade e vive o luto. E ora se inclina sobre uma imagem de si impossível de ser alcançada,
paralisa a vida e nega o desejo, que apenas contempla, não vive e ainda manifesta um sintoma
da contemporaneidade, a depressão (PINHEIRO; QUINTELLA; VERZTMAN, 2010).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar este trabalho tentamos responder hipoteticamente aos questionamentos


levantados no decorrer da pesquisa que nos instigou a pensar na possibilidade da ocorrência
de um tipo diferente de reação a ameaça da perda do filho acometido por câncer. Entendemos
que a contemporaneidade tem trazido formas de subjetivação com enfoque nas questões
narcísicas. Com isso fomos levados a pensar em como a substância essencial para o
renascimento narcísico dos pais nos filhos responde a um tipo de doença grave como o câncer
que pode levar a morte.
No que concerne as famílias de crianças acometidas de câncer verificamos ao longo da
pesquisa que as perdas decorrentes do processo de tratamento são percebidas como um luto
antecipatório que prepara a conjuntura parental para a despedida final. De outra parte
supomos que, devido a subjetividade de cada um, nem todos os familiares envolvidos com a
temática do câncer infantil reagem da mesma forma, embora as fases do luto estejam bem
demarcadas.
Há ainda aqueles que diante da ameaça de morte do filho podem vir a manifestar
sintomas que mais se assemelham a depressão narcísica. Devido o desânimo e a falta de
novos investimentos na vida que por ora não são capazes de fazer, por estarem paralisados por
essa ameaça que destrói os ideais sonhados.
Assim, ousamos por suposição psicanalítica concluir, que nos tempos atuais, a
despeito da exacerbação de um descompasso temporal que não assegura as certezas na vida e
na morte, os pais debaixo de uma interferência da crença narcísica não conseguem elaborar
seus lutos na forma de um processo. Talvez por isso possa advir a depressão como uma forma
de reação às inúmeras perdas e ameaças de perda que atravessam ao longo do câncer dos
filhos.
Esperamos que as elaborações apresentadas nesse Trabalho de Conclusão de Curso
venham a colaborar para a compreensão de futuras intervenções junto as famílias de crianças
com câncer que estão sob constante ameaça narcísica. No que se refere às limitações
encontradas na pesquisa, encontramos uma lacuna na literatura psicanalítica, muito embora,
na contemporaneidade, essas questões têm se multiplicado e emergido mais fortemente.
Para tanto sugerimos que novos estudos de abordagem psicanalítica tenham como
objeto de estudo a ênfase em psico-oncologia pediátrica tão carente de novos trabalhos.
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Observamos ainda que a atualidade exige que os motes relacionados ao narcisismo e a crença
narcísica sejam melhores explorados, pois afinal para Freud: “[...] satisfazemo-nos em
permitir que o que é ensinado na escola (faculdade) seja aceito com confiança, sabemos, no
entanto, que a via para a aquisição de uma convicção pessoal permanece aberta” (1927/1996,
p.36).
36

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