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INTRODUÇÃO
1
Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Linguística (email:
giuseppeafd@live.com)
2
Universidade Federal da Paraíba – Programa de Pós-graduação em Linguística (email:
julisantos7@gmail.com)
3
Nome fictício
[1]
Docência (Pibid), subprojeto Letras/Inglês, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a
fim de compreender o trabalho do professor na rede pública a partir da escrita reflexiva
deste profissional em formação. Interpretamos de que forma, de acordo com as marcas
linguísticas, este profissional atribui sentido ao seu trabalho, sendo importante identificarmos
quais são os temas, os conflitos e os personagens que perpassam, orientam e refiguram
esta atividade. Desta forma, o corpus deste trabalho consiste em um conjunto de relatos
reflexivos4 analisados de acordo com a noção de escrita reflexiva (BURTON, 2009).
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em uma análise maior e geral do diário de João, o relato interativo implicado foi
verificado como discurso predominante do mundo do narrar (BRONCKART, 1999). Há
também segmentos que demonstram um discurso teórico autônomo ancorado no mundo do
expor.
4
O termo diário advém da apropriação do gênero por parte dos autores do contexto de produção,
uma vez que os próprios professores-bolsistas do Pibid narravam o que foi vivido e o que sentiam: as
emoções, as incertezas, as angústias, os problemas, os sucessos e as impossibilidades de um
contexto de prática social. Para mais informações sobre as possibilidades e impedimentos do diário
reflexivo como prática social, prática de letramento e gênero acadêmico, consultar: Reichmann
(2013).
[2]
comunicativas. Herbele (2012, p. 94) menciona os pesquisadores do The New London Group
(1996), que também levam em consideração o multiletramento e [citação direta longa].
Uma vez sabendo que os alunos estão inseridos em um contexto, o trabalho de leitura na sala de
aula se torna complexo (...) Foi nesse momento que eu e minha colega de trabalho ficamos com
dificuldade. Não temos muita noção ainda de que gêneros podem ser aplicados em sala de aula,
uma vez que não temos muito conhecimento sobre os alunos.
Com o decorrer do tempo, aprendi comigo, pesquisei, li e escrevi; aprendi com outro,
concordei, reconheci o erro, sugeri e ajudei, e aprendi também com o mundo, entendendo
como ele funciona e como eu posso usar isso em favor da educação. Em outras palavras,
posso dizer que aprendi a refletir, a estabelecer um constante diálogo entre o professor
supervisor e coordenador, como também com os outros bolsistas do projeto. Nem tudo foi
fácil, passei por um processo de saber lidar com outro, em falar quando necessário, e o mais
importante: como falar, além de como me portar diante ao outro, me permitindo a aprender
com o diferente.
[3]
A partir do fragmento 3, é observado que João se encontra implicado em sua prática,
o que é revelado pelos verbos em primeira pessoa no pretérito perfeito, demonstrando que
tal seleção de verbos ilustra o trabalho docente como um processo, o que nos apresenta
sua característica pessoal (MACHADO, 2009); ou seja, uma atividade que mobiliza
dimensões físicas, mentais, práticas e emocionais do professor. Neste fragmento, há
modalizações deônticas marcadas pelo uso do verbo modal em primeira pessoa: “posso
usar isso em favor da educação”, o que revela sua capacidade e desejo em favor dos
valores da educação. Além disso, trazendo outros personagens como os colegas bolsistas,
o professor supervisor e o professor coordenador, João reconhece que os acontecimentos
foram difíceis quando faz uso das modalizações apreciativas como (nem tudo, fácil); para
João, torna-se professor não é algo simples. Ademais, nas duas ultimas linhas, João marca
seu discurso por meio de modalizações deônticas através da palavra “necessário”, o que
marca as normas de condutas em relação ao outro e ao diferente; ou seja, ao mundo
social, ressaltando a importância da interação com o outro, o que pode ser percebido
pelo uso dos modalizadores apreciativos mais e importante. Ainda sobre o fragmento 3,
João reflete sobre si mesmo e sobre o outro, trazendo o mundo subjetivo e social
(HABERMAS, 1987) em um único plano, conferindo à atividade docente a característica
transpessoal, uma vez que é “guiada por ‘modelos do agir’ específicos de cada ‘métier’”
(MACHADO, 2009, p.37). Neste trecho, perceptivelmente, sua voz de autor empírico
(BRONCKART, 1999) está bem presente quando ele avalia seu processo de formação
como professor, uma vez que ele comenta e avalia sua prática de acordo consigo
mesmo e com outros personagens envolvidos na ação, podendo este segmento de
textualização uma evidência de desenvolvimento pessoal (VTGOSTSKY, 2008 [1987]) a
partir da escrita reflexiva (BURTON, 2009).
CONCLUSÃO
[4]
A partir dos temas recorrentes, como a dificuldade da prática de leitura em sala de
aula e o trabalho docente como processo, a voz de autor empírico (BRONCKART, 1999) se
revela nas impressões, dificuldades e percepções do professor em formação com os outros,
consigo mesmo e com o meio físico. Neste sentido, ensinar é entendido como uma atividade
dirigida na qual são mobilizadas diversas representações de diversas origens, sendo
impossível atribuir as responsabilidades desta ação somente ao professor envolvido no
processo.
Para concluir, vale ressaltar que este trabalho compreendeu o Pibid como espaço de
formação e mediação por excelência, no qual os personagens interagem por meio não só de
encontros semanais, aulas, congressos, eventos, workshops etc., mas também, por meio de
outras práticas de linguagem que são essenciais para compreensão do comportamento
humano e da prática docente. As representações do professor em formação permitem
concluir que a presença de outras pessoas no processo de ensino aprendizagem é de suma
importância, revelando que o trabalho do professor não é unilateral, mas sim um trabalho
complexo e difícil de descrever que pode ser compreendido a partir de uma perspectiva
ampla que enxerga na linguagem um caráter decisivo nas relações sociais que pautam o
desenvolvimento humano, social e profissional. Assim, professores formadores devem levar
em consideração práticas que exercitem o pensamento crítico-reflexivo dos professores em
formação, atentando para o conceito de linguagem que é desenvolvido nestes espaços.
REFERÊNCIAS
BURTON, Jill; QUIRKE, Phil.; REICHMANN; Carla Lynn; PEYTON, Joy Kreeft. Reflective
writing: a way to lifelong teacher learning (e-book). 1. ed. San Francisco: TESL-EJ
Publications, 2009. 188p.
MACHADO, Anna Rachel; CRISTOVÃO, Vera Lúcia Lopes. L.; ABREU-TARDELLI, Lília
Santas. (Org.). Linguagem e educação: o trabalho do professor em uma nova
perspectiva. 1ed.Campinas, SP: Mercado de Letras, 2009, v. 1, 174p.
MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Por uma linguística aplicada Indisciplinar. São Paulo, SP:
Parábola, 2006, v. 1. 279p.
[5]
SANTOS, Ana Jéssica Côrrea; CRUZ, Shirleide Pereira da Silva. Pibid - uma análise das
portarias: avanços ou recuos? In.: XIII Congresso Nacional de Educação, 28 - 31 de
Agosto de 2017.0 Curitiba, 2017. Disponível em:
<http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24938_13085.pdf> (Acessado em 10 de
Outubro de 2018).
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008
[1987].
[6]