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Por Amor ao Separatismo – Anna Lee

Ser separatista é focar em nós mulheres enquanto lésbicas e minimizar a energia cedida aos homens.
Como uma separatista, quando eu me concentro em lésbicas, eu incluo todas as lésbicas que optam por
se concentrar em lésbicas. As duas declarações anteriores definem o ideal separatista. Obviamente, a
diversidade (de raça, classe, idade e assim por diante) entre nós não é tão completa quanto poderia ser,
mas é um fato que a comunidade lésbica é mais diversificada do que qualquer outra comunidade
existente. Embora seja importante não romantizar a comunidade lésbica, nós muitas vezes depreciamos
nossas realizações e intenções. Vou voltar para o que bloqueia essa diversidade mais adiante. Eu quero
discutir primeiro como eu vim a me identificar como uma separatista e em seguida como o vínculo não
reconhecido entre mulheres e homens proíbe a diversidade racial entre lésbicas.

Assumindo meu separatismo: Kinda

Abracei a teoria do separatismo muito lentamente. Enquanto outras separatistas aceitaram a teoria
separatista quase simultaneamente à sua saída do armário enquanto lésbica, eu gradualmente comecei a
entender e aceitar o separatismo ao longo de vários anos. Eu também soube que o estilo de vida
separatista foi adotado por algumas lésbicas pré-feminismo. Mesmo adotando esse estilo de vida, pelas
minhas observações, a justificação ideológica ou teórica não era importante para as lésbicas pré-
feminismo. Tudo isso é para dizer que minha jornada não é necessariamente a mesma que a de outras
lésbicas pós-feminismo e nem meu separatismo é o mesmo praticado por lésbicas pré-feminismo.
Minha jornada é minha, à qual eu adicionei minhas percepções de outras jornadas.

Eu me assumi em 1969, acreditando que me apaixonar por uma mulher havia sido uma casualidade e
que o nosso amor uma pela outra não era diferente do amor heterossexual. Dizer que eu amei uma
mulher porque ela era uma mulher era muito queer (sexualmente estranho). Em 1969, ninguém estava
falando sobre mulheres que amam mulheres; era difícil de encontrar informações e a análise era muito
não-sofisticada. Enquanto os anos 60 são vistos como um período livre, amoroso e libertador, às vezes
se esquece, especialmente se o(a) observador(a) não participou desses anos, que o amor livre e a
liberação sexual eram focados e direcionados ao sexo masculino. As mulheres eram os objetos. Por
mais que uma mulher amando outra mulher fosse uma alternativa às relações heterossexuais
“predatórias”, a auto-identificação como lésbica estava fora dos limites impostos pelos homens hippies.
Como eu disse, amar uma mulher porque ela era uma mulher era muito estranho. Assim como houve
silêncio na década de 60 ao redor das mulheres que amavam mulheres, também as relações interraciais
foram se tornando toleráveis mas não completamente aceitáveis. Como uma mulher negra eu amei uma
mulher branca. Demoraria ainda quatro anos antes que Daughters publicasse Rubyfruit Jungle em
1973, que celebrou a saída do armário gay e descreveu um relacionamento interracial (embora não
entre amantes) como aceitável.

Entrei nesse vazio numa pequena cidade do centro-oeste com outras quatro pessoas “queers” ela não
especifica o sexo. E nós acreditamos que éramos as únicas na terra. Na verdade, nós sentimos que
tínhamos atingido o nirvana. Que as outras pessoas não serem tão iluminadas explicava porque
heterossexuais praticavam o auto-ódio que era escolher parceiros diferentes de si mesmos. Dezenove
anos depois Katherine Forrest iria escrever uma história curta descrevendo homossexuais como
possuidores de inteligência, sensibilidade e criatividade. Heterossexuais já não teriam essas
características e por isso estavam se extinguindo. Homossexuais explicaram uns aos outros que o
reconhecimento dos heterossexuais de seu processo de extinção era a razão pela qual eles perseguiam
homossexuais ao longo da história.
Acreditar que éramos superiores aos heterossexuais me levou ao meu próximo passo: a constatação de
que eu amava minha amante (uma mulher diferente do primeiro caso) porque ela era uma mulher. A
ideia de separar-me de machos ainda me era totalmente estranha. Ainda que eu acreditasse que era
importante eu amar uma mulher porque ela era uma mulher, eu acreditava que meu amor por uma
mulher não era diferente do que o amor de uma mulher por um homem ou amor de um homem por um
homem. O adiantado D. O. B. Daughters of Bilitis - primeira organização para defesa dos direitos das
lésbicas nos EUA buscava tolerância para lésbicas, ainda que encorajando lésbicas a se vestirem de
Drags. Neste caso, “drag” significava se vestir como se fosse uma mulher feminina heterossexual. O
DOB argumentava que lésbicas precisavam tornar-se aceitáveis para heterossexuais através do nosso
vestir e comportamento. Até o início dos anos setenta, DOB, e particularmente sua publicação, The
Ladder, tinha começado a questionar o papel feminino e usar a palavra lésbica. Coincidentemente,
enquanto The Ladder se tornava independente do DOB, o uso da palavra lésbica se tornou mais
aceitável e, de fato, a norma na publicação. No entanto, o contexto em minha pequena cidade do
centro-oeste manteve-se semelhante à abordagem de direitos civis defendida pelo DOB no início dos
anos 50.

A capacidade de resistir depende em parte do contexto no qual nos encontramos. Se uma comunidade
lésbica feminista ou visível existisse na minha cidade, eu teria me entendido como uma seguidora das
que me precederam, em vez de uma desbravadora que há de lutar sozinha (o que quer que “lutar” seja
no momento) como lutei. Mas o contexto é apenas uma parte da capacidade de resistir ao domínio
heterossexual. A outra parte são os meios individuais de resistir à “normalidade”. Eu acredito que a
pressão para ser “normal” é ao que tantas lésbicas se referem quando dizem que é um milagre que
qualquer uma de nós foi capaz de se assumir.

Então, não tendo um contexto social ou uma análise política que desafiasse a minha aceitação da
heterossexualidade como norma e minha busca por tolerância vinda de heterossexuais, eu continuei a
me apaixonar e desapaixonar por muitos anos. Eu certamente tinha uma consciência feminista
incipiente, mas eu não examinava a maneira pela qual eu participava de relacionamentos como amante
ou amiga. Quando me mudei para a costa leste um novo mundo se abriu para mim.

Aqui eu era capaz de observar um grupo misto maior e examinar a “normalidade” das relações
heterossexuais. O contexto não era predominantemente gay, como tinha sido minha experiência
anterior com os outros quatro queers no centro-oeste. Eu conheci socialistas brancos; anteriormente eu
havia interagido com os nacionalistas e socialistas negros (um grupo separado dos quatro queers). Era o
final dos anos 70. Fiquei espantada que um grupo inteiro de pessoas podiam falar e escrever páginas e
páginas de retórica marxista. Eu pensei que essa habilidade retórica era limitada aos radicais
universitários que eu tinha conhecido. Com concentração e esforço, eu era capaz de fazer apenas
algumas frases e, em seguida, esquecia qual era meu ponto. Eu tinha um grande grupo para observar
nas reuniões do Partido Mundial do Trabalhador que participei. Notei algumas características
semelhantes aos negros nacionalistas e socialistas. Um deles foi o falar em linguagens específicas ou
jargões. Outro foi o fato de que a liderança era principalmente do sexo masculino, e as mulheres que se
preocupavam com as questões das mulheres e com recrutar mulheres.

Eu tinha muitas discussões animadas com a minha namorada na época e com meu(a) amigo(a) do
centro-oeste, que também havia se mudado para a costa leste. Eu sabia que algo estava errado mesmo
não tendo uma análise política sobre isso. Mencionei à minha namorada que o Partido Mundial dos
Trabalhadores discutia a questão estupro só em termos de homens negros sendo injustamente acusados.
Nós duas concordamos que os homens negros foram desproporcionalmente acusados, processados e
condenados. Nós discordamos da prática de que as mulheres sempre eram descredibilizadas sobre suas
experiências. Ela acreditava que depois da revolução de classe, as mulheres não seriam estupradas ou
forçadas a aceitar papéis subservientes a todo momento. Ela se apegou a essa crença, apesar de todos os
papéis importantes dentro do partido serem realizados por homens. Eu já tinha visto esta mesma recusa
de nomear relações como prejudiciais dentro do movimento nacionalista negro. Mais tarde eu viria a
saber que grupos mistos encorajam as mulheres a acreditarem que os nossos problemas são menos
importantes que as questões nas quais os homens estão engajados.

Assumindo meu separatismo: Verdadeiramente

Minha namorada me apresentou a um negócio feminista que me permitiu perceber o mundo de uma
perspectiva totalmente diferente e que me deu um contexto para entender o que tinha me incomodado
sobre os vários movimentos em que eu tinha me envolvido. Também fui apresentada a um mundo que
era verdadeiramente mulher-identificado. Essa identificação com mulheres encorajou a análise de
minhas relações com as mulheres e gerou uma nova militância longe de ações do sexo masculino.

O grupo que dirigia o negócio feminista valorizava mulheres. Cada mulher do grupo acreditava que o
trabalho e as ideias das mulheres eram importantes. Elas queriam um coletivo formado, gerido e
identificado por mulheres. Elas cometeram erros, mas sua intenção era criar um mundo de mulheres
que desafiassem, inspirassem e nutrissem elas mesmas e outras mulheres. Então em 1979 iniciei a
minha maior aventura, em que todas as coisas que eu tinha tomado como certas foram questionadas. Eu
tive que repensar quase todas as suposições que eu tinha feito sobre como o mundo funcionava e qual
era meu papel nele. Eu também tive a oportunidade de interagir com outras mulheres, especialmente as
lésbicas, em um contexto que assumia que poderíamos mudar o mundo e que o nosso movimento
estava crescendo. Eu tinha opções que eu nunca tinha tido.

As opções eram tanto sobre resistência aos machos quanto sobre conexões entre mulheres. Nós nunca
consideramos as mulheres que gostariam de envolver os homens em nossa comunidade como parte da
nossa comunidade. As lésbicas e as poucas mulheres heterossexuais que estiveram envolvidas na nossa
comunidade consideravam o espaço só para mulheres como um fato dado. Energia e relacionamentos
entre mulheres eram prioridade para ambos os grupos. O separatismo foi valioso para ambos os grupos.
As questões que eram vistas como secundárias pelos grupos dominados por homens foram examinadas
como se nossas vidas dependessem disso. Na verdade, nossas vidas realmente dependem de
compreender os modos pelos quais machos tentam nos controlar através da violência. A violência
masculina contra as mulheres variou e varia entre definir quem nós podemos ser e nos matar.

O homem na nossa cabeça ou em nossas vidas?

Pelo fato de que os homens definiam as formas aceitáveis pelas quais racismo poderia ser discutido, a
capacidade de lésbicas de desenvolver posturas anti-racistas foi prejudicada. A nossa capacidade até
mesmo de perceber o racismo entre as mulheres era mínima. Racismo dizia respeito a homens negros,
como se as mulheres negras não existissem. Big Mama Rag, um jornal de Denver agora extinto,
argumentou que as mulheres devem apoiar as lutas de libertação nacional. As mulheres devem apoiar
lutas de libertação nacional mesmo que os machos que participam deles entendam as questões das
mulheres como secundárias à libertação do país ou comunidade.

Por muitos anos e até hoje, o escopo do racismo definido pelo macho significa que, se homens,
incluindo homens negros, são excluídos então um ato de racismo ocorreu. Em 1987, um homem negro
bateu numa lésbica branca depois que ela impediu-o de ver sua escultura, e os organizadores do
Sisterfire, o festival em que esse incidente ocorreu, argumentaram que a lésbica branca tinha provocado
o incidente. Como resultado os organizadores sugeriram que a violência tinha sido mútua. O argumento
é que bater enquanto violência = exclusão enquanto violência. Há algo de errado com esta equação? O
que está errado com esta equação é que o racismo está definido como a exclusão de negros do sexo
masculino. A lésbica branca excluiu os homens brancos, mas não as mulheres negras, de verem sua
escultura. Os organizadores do Sisterfire ignoraram as mulheres negras em sua definição do racismo e
do que seria um ato racista. Big Mama Rag em um pensamento similar descartou os interesses das
mulheres não-europeias na sua defesa das lutas de libertação nacional. Independente da intenção de Big
Mama Rag ou Sisterfire, o resultado é que as mulheres se vincularam aos homens brancos sob o
pretexto de proteger os homens não-brancos. A discussão a seguir irá demonstrar como o vínculo real é
com homens brancos.

A análise sobre estupro original e radical das organizadoras de centros de crise de estupro foi
substituída (muitas vezes junto com as organizadoras originais) pela aceitação das organizadoras ou até
mesmo o desejo da participação da polícia na prevenção do crime de estupro. Organizadoras desses
centros reivindicaram avidamente o envolvimento da polícia, embora a polícia nunca tenha
demonstrado uma preocupação com ou um sucesso em encontrar os estupradores do sexo masculino de
mulheres negras. A polícia, no entanto, têm mostrado uma vontade de estuprar mulheres negras. De
fato, a análise sobre estupro das feministas brancas desconsiderou as experiências das mulheres negras.
A polícia também demonstra um sucesso muito grande em proteger os homens brancos de enfrentar as
penalidades por seus estupros, enquanto que, como eu comentei anteriormente, os homens negros são
desproporcionalmente visados para pagarem a pena pelo crime de estupro. Quem se beneficiou do
envolvimento da polícia em centros de crise de estupro? Não as mulheres negras. Não os homens
negros. Mas os homens brancos se beneficiaram. Enquanto a agenda das feministas brancas pode não
ter sido articulada, o seu desejo de se relacionar com homens brancos não foi despercebido. No
exemplo da Sisterfire, os organizadores alegaram que a construção de coalizões é importante e
essencial. A formação de coligações é a ligação com os homens, que numericamente são homens
brancos.

Outro exemplo da ligação entre lésbicas brancas e homens brancos é o endosso quase incondicional da
necessidade de apoiar os machos que estão morrendo de AIDS. Jeanette Silveira disse-me numa
conversa que ela considera o não-envolvimento em trabalhos relacionados a AIDS como um teste
decisivo para o separatismo. Concordo com ela que a AIDS não é uma questão separatista, mas muitas
lésbicas brancas tanto separatistas e quanto não-separatistas reivindicam que pelo fato de as mulheres
negras estarem morrendo de AIDS, lésbicas deveriam se envolver nessa luta. É verdade que as
mulheres negras e homens morrem de AIDS. Não é verdade que a AIDS é transmitida através do ar que
respiramos ou a água que bebemos. É transmitida através do contato sexual com alguém que tem AIDS
e através da troca de sangue com alguém que tem AIDS. Devido à forma como AIDS é transmitida,
lésbicas são um grupo de baixo-risco. A fim de induzir as lésbicas para trabalhar com AIDS, a definição
de lesbianismo é diluída para incluir as mulheres que têm contato sexual com homens. Quem, então, é
uma mulher heterossexual?

Não importa para mim se a quantidade de lésbicas e mulheres heterossexuais é intencional; o que me
preocupa é o mascaramento da ligação do sexo feminino-masculino, branca, alegando que a AIDS é
significativa para lésbicas, porque as mulheres negras estão morrendo de AIDS. Não é a primeira vez
que as mulheres brancas têm usado as mulheres negras para defender uma agenda que resulta em um
vínculo mais forte entre as mulheres brancas e homens.

Este vínculo entre as mulheres brancas e os homens brancos é motivado pelo desejo de poder de
mulheres brancas e pelo desejo masculino branco de recapturar as atenções das mulheres (como eu
discuti com mais profundidade no meu papel on new age spiritualy). Eu tive que reexaminar o meu
relacionamento com homens negros. Não tenho a certeza de que lésbicas brancas têm examinado a sua
relação com os homens brancos. Não tenho certeza porque o vínculo entre eles é silencioso, mas se
manifesta de muitas maneiras. Algumas das quais eu descrevi.

Eu tenho muita convicção que meus irmãos têm o poder do pênis. Qualquer homem
independentemente de classe, de renda ou raça detém o poder no mundo. Verdadeiramente, alguns
homens têm mais controle no mundo do que outros. Mas cada um tem, se nada mais, uma mulher ou
uma mulher-substituta como sua escrava, por exemplo, sua esposa, mãe, amiga e assim por diante. Um
macho, independentemente de seu status no mundo, pode exercer o seu poder sobre pelo menos uma
mulher praticamente sem interferências. Um exame superficial das estatísticas relativas a machos
golpeando mulheres ou estuprando as filhas demonstra que essas ações são raramente punidas. Mas as
mulheres e filhas que se opõem a essas atividades masculinas são severamente punidas.

O que todas nós, especialmente lésbicas brancas, precisamos ter convicção é na diferença entre poder e
privilégio revogável. Ter poder sobre algo é possuir os recursos necessários para decidir qual será o
resultado de uma situação. Privilégio revogável é a capacidade de assimilar as decisões e a agenda de
outras pessoas. Esse privilégio pode se manter, desde que as decisões e agenda dessas outras pessoas
sejam seguidas. As mulheres brancas têm privilégio revogável. Quando elas servem aos interesses dos
homens brancos, os recursos são colocados à sua disposição. Quando não o fazem, a disponibilidade de
recursos diminui. Quando abrigos para mulheres maltratadas contratam lésbicas ou realizam serviços
disponíveis para lésbicas que foram espancadas, o financiamento da cidade, município, estado ou
governo nacional é cancelado. É importante para homens que as mulheres sejam corrigidas e
devolvidas a eles. Não importa para eles que as lésbicas sejam remendadas e devolvidas a uma situação
de espancamento lésbico.

Lésbicas ou feministas brancas podem, na verdade, saber que a disponibilidade dos recursos depende
de manter os doadores machos confortáveis, ou eles podem não querer examinar a boca dos cavalos
dados de presente muito de perto. Quando certas ações culminam em resultados previsíveis e
consistentes, então as ações e não a retórica devem ser analisadas. Eu ainda estou esperando que
lésbicas brancas questionem o seu vínculo com homens brancos e o que esse vínculo significa para a
criação de uma comunidade lésbica diversificada. A ligação entre as lésbicas e homens brancos é
atualmente um obstáculo à criação de uma diversidade significante de classe e raça.

Introspecção Lésbica Negra

A definição aceita da cultura negra também é um obstáculo. Nós, como lésbicas negras, estamos
permitindo que os homens negros definam o significado de nossa negritude. Enquanto especificamente
discuto a necessidade de lésbicas negras promoverem nossas próprias definições de negritude, eu
acredito que todas as nossas comunidades de origem precisam ser examinadas pela centralidade
feminina de cada uma para determinar quais são as qualidades que podemos trazer para a comunidade
lésbica que melhorem vidas lésbicas.

Dentro da comunidade negra, eu cresci com modelos de mulheres fortes. Estes modelos não eram
lésbicas, mas mulheres que compreenderam que a sua sobrevivência dependia de sua capacidade de se
mover através do mundo sem um intermediário masculino. Elas sabiam que não podiam depender de
machos. As mulheres negras na minha comunidade criaram redes de mulheres, para que pudéssemos
pedir ajuda umas às outras. Não me surpreende que as mulheres ao meu redor me incentivaram a
confiar em mim mesma ou acreditaram em mim. O que essas mulheres negras fortes nutriram em mim
foi um egoísmo forte. Um egoísmo suficiente para sobreviver em um mundo que não necessariamente
olhará com bondade para mim, um mundo que em demasiadas vezes me odiava. Essa comunidade de
mulheres negras ensinou lealdade a mim e a elas. Também me ensinou a encarar a verdade. Não só para
que a verdade me liberte, mas para garantir minha sobrevivência. Se eu não gosto da verdade que
encontrei, então eu devo mudar essa verdade, e não fingir que ela não existe. Pretensões de classe
média foram reservadas para aqueles que podem pagar por elas. Pretensões de classe média não iriam
salvar a minha pele.

Mesmo que a maioria de nós cresçamos com modelos de mulheres negras fortes, mesmo que
aprendamos que nós nunca poderemos ser brancas e, portanto, aceitáveis, nós nos recusamos a levar
interações negras lésbicas a sério. Negamos a nossa centralidade feminina e somos pegas pelas
definições masculinas de negritude. Quanto mais perto uma atividade se encontra de machos negros,
mais a atividade é vista como negra. Em uma conversa, uma irmã apoiou os muçulmanos negros,
mesmo que ela não fosse uma e mesmo os muçulmanos negros insistindo que as mulheres devam ser
subordinadas aos homens. Em outra conversa, uma irmã colocou uma mulher negra que se comportava
a partir de uma perspectiva heterossexual como mais profissional do que uma mulher negra
abertamente lésbica que performava num contexto mulher-identificado. Em cada caso lésbicas negras
não foram levadas em conta. É uma visão de mundo comum entre qualquer grupo oprimido que o que
criamos entre nós não vale realmente a pena e não tem o profissionalismo e legitimidade que são
possuídos pelo opressor e seus lacaios.

Lésbicas negras rejeitam brancos definindo quem somos, mas aceitam homens negros definindo quem
podemos ser. Até que possamos valorizar o que criamos, não existiremos, exceto na distorcida casa de
espelhos no carnaval. Uma vez que não consideramos seriamente a nossa posição no mundo como
lésbicas negras, nós estamos muito frequentemente preocupadas mais com nossas aparências do que
com o desenvolvimento uma análise política que comece conosco. Uma análise política que faça das
questões de lésbicas negras as pautas centrais para a compreensão do mundo e da nossa relação com o
mundo. Eu certamente não estou sugerindo que as lésbicas negras são sem sentido ou não pensantes. O
que estou sugerindo é que as definições que usamos de quem somos não foram criadas por nós. Temos
um trabalho duro pela frente. É necessário que o façamos.

Separar-se de homens negros é assustador. É assustador porque estamos entrando em um vazio. É um


vazio através do qual até mesmo as fortes mulheres negras que conhecemos não podem nos ajudar a
passar. As mulheres negras fortes podem nos dar um impulso a buscar as nossas respostas, mas não as
próprias respostas. A criação de nós mesmas pode ser emocionante. A excitação está deixando o que é
familiar e confortável. Bernice Reagon sugeriu que o trabalho da coalizão é difícil porque é preciso ir
além da segurança do conforto. Pelo contrário, o trabalho de coligação se assemelha a nossas
comunidades de origem, porque os homens são valorizados membros das coalizões que ela quer criar.
É a criação de uma comunidade lésbica que é desconhecida para nós. Ou pelo menos a maioria de nós,
uma vez que poucas de nós cresceram em um contexto lésbico. Trabalho de coalizão é um retorno ao
que é conhecido.

Separatismo é onde ele está acontecendo

Na década de 70 nós enfrentamos esse vazio chamado centralidade lésbica apenas com uma simples
dica de como criá-la. Cometemos alguns erros graves e provavelmente vamos cometer muitos mais. No
entanto, é no contexto do separatismo lésbico que temos alcançado nossas maiores realizações.
Criamos espaços para conhecermos umas às outras. Desenvolvemos uma análise que utiliza lésbicas
como base. Reconhecemos nossas diferenças e procuramos valorizar nossos diferentes ableisms.
Criamos redes econômicas lésbicas. Desenvolvemos habilidades lésbicas em carpintaria, música,
produção, impressão, venda e assim por diante. Essas habilidades, competências e análises floresceram
em um contexto lésbico. Ultrapassamos nossos sonhos mais selvagens.

Os sonhos não são cinzas, embora tenha havido um hiato na década de 80. Devemos reconhecer os
nossos sonhos e vistas passados. O próximo passo deve direcionar-se a abordar a forma como
interagimos com mulheres íntimas. Por íntimas quero dizer todas as lésbicas com quem nos
relacionamos. A comunidade lésbica não é nada além da forma como nos relacionamos umas com as
outras. A comunidade lésbica exige a nossa participação para existir. Espero que a nossa comunidade
lésbica nunca se torne tão institucionalizada que nós, enquanto indivíduas, usufruamos dela mas não
tenhamos que contribuir em nada para que ela continue. Uma vez que a comunidade se torna
institucionalizada ela se torna fossilizada. Algo fossilizado é incapaz de nutrir a alegria da criação.
Apenas é. É imutável e estático. Está morto.

A comunidade lésbica é um conjunto diversificado de pessoas íntimas. É o nosso desafio estabelecer


intimidade com aquelas que cresceram de forma diferente de nós. Mesmo dentro de grupos cujas
membras poderiam ser classificadas como semelhantes haverá diferenças entre nós. Então, cada uma de
nós deve ensinar-se a valorizar as diferenças em relacionamentos íntimos. É bastante fácil se valorizar
as diferenças de longe. É muito mais difícil incluir diferenças em nossos círculos íntimos. É ainda mais
difícil procurar aqueles que são diferentes, mas devemos, porque precisamos essas diferenças em
nossas próprias vidas a fim de crescermos, de sermos desafiadas, e criarmos realidades que ainda não
sonhamos.

*Embora esse artigo seja vagamente baseado no “A Black Separatist”, que aparece na antologia
separatista For Lesbians Only (London: Onlywomen Press, in press), tenho renomeado este trabalho
para minimizar a confusão.

Uma Separatista Negra – Anna Lee

Costumo ver as palavras “feminista”, “mulheres*”, etc. serem usadas para designar apenas brancas.
Neste artigo, eu usei os termos para especificar todas as mulheres. Eu uso o termo “irmã” para abordar
mulheres negras. 1

Enquanto feminista ativa, eu não posso arcar economicamente com falar sobre o separatismo lésbico
em publicações assinadas pelo meu próprio nome. Como uma mulher negra, eu corro um risco duplo.
Eu vivo no limite entre trabalho ou bem-estar. Abraçar publicamente o meu lesbianismo me levaria a
necessitar de assistência social.

Tornei-me uma separatista gradualmente. Ao longo de um período de doze anos, eu mudei de ser
celibatária em um ambiente heterossexual para ser gay, mas aceitando as normas heterossexuais como
fatos. Por exemplo, eu gastei meu dinheiro em filmes, restaurantes e entretenimentos para homens em
minha casa. Eu acreditava e agia sobre o dito da sociedade de que eu era o mesmo que pessoas
heterossexuais, mas simplesmente amando mulheres. Quando me mudei do centro-oeste, aprendi
muitas coisas e percebi o quanto de auto-ódio que eu tinha internalizado. O centro-oeste não têm uma
comunidade de mulheres ou atividades feministas que poderiam ter desafiado minhas suposições. Fico
feliz que vários grupos se formaram desde que saí. Para mim, deixar o centro-oeste me deu acesso a
uma variedade de oportunidades. Havia e ainda há irmãs falando sobre feminismo e introduzindo uma
perspectiva no feminismo branco que apoia o meu compromisso com o movimento de mulheres que
inclui todas as mulheres.

A diversidade de metas e projetos foi emocionante na minha nova comunidade. Aqui, finalmente, tive
uma chance de ser desafiada por mulheres que vinham pensando sobre teoria e agindo a partir dos seus
conhecimentos. Comecei a reavaliar algumas das minhas suposições sobre nossas possibilidades.
Comecei a perceber meu lesbianismo como não só o que eu fiz na cama e com quem, mas também
como uma análise do mundo.

Atualmente, eu reivindico e afirmo sob tremenda pressão todos os aspectos de quem eu sou –
separatista lésbica negra. Fazer isso me coloca em conflito com cada um dos grupos a partir dos quais
eu deveria receber apoio, carinho e sustento. É um ato de malabarismo manter minha sanidade e
lembrar quem é o meu verdadeiro inimigo. Lembrar quem é o meu verdadeiro inimigo me obriga a
considerar cuidadosamente algumas escolhas muito críticas. Não é fácil ou simples identificar quais
atos que impulsionam mulheres de forma positiva e quais não. Seria mais simples ignorar esta questão.
Seria mais fácil evitar considerar as ramificações de meus atos individuais. Fazer isso, no entanto,
condenaria a mim e a nós ao fracasso. Agir eticamente é difícil, mas lidar com a questão pode significar
que durante a luta eu, e talvez nós, vamos aprender pelo menos alguma coisa a mais do que se nenhuma
luta tivesse ocorrido.

Por exemplo, a existência do estupro traz minhas perspectivas constantemente conflitantes à tona, não
tanto a respeito do estuprador, mas em termos da minha, e sinceramente da nossa, resposta ao estupro.
Em parte, as perguntas são: como feministas brancas (mesmo separatistas) analisam, discutem e reagem
à ocorrência de estupro, e o que uma resposta ética incluiria?

A questão do estupro exige de nós, mulheres, que definamos nosso inimigo claramente e consideremos
as ramificações da nossa análise. A complexidade do estupro exige toda a nossa atenção. Defendo o
direito das mulheres de se libertarem do medo do estupro, que é utilizado pelos pais pra manter todas
nós na linha, mesmo que (e às vezes especialmente que) nós não nos associemos com eles.

Há realidades que são convenientemente omitidas da análise feminista. Uma delas é o reconhecimento
de que todos os homens são potenciais estupradores, mas alguns machos são consistentemente
selecionados para carregar a punição pelo crime. Em estudos psicológicos, o perfil do estuprador não
difere do perfil de um homem branco heterossexual “saudável”. Ouço as feministas brancas
expressarem seus medos sobre o homem negro na rua mais frequentemente do que qualquer indicação
de que o seu namorado, marido ou vizinho branco possam estuprá-las. Enquanto é mais fácil dizer que
todos os homens são potenciais violadores, feministas brancas convenientemente ignoram que são
homens negros que são punidos. Isto deve ser mantido em mente se há um compromisso sério de
mulheres brancas em enfrentar o nosso inimigo. Fazer o contrário é apoiar o mesmo status quo que
denigre nosso valor como mulheres.

Feministas brancas convenientemente esquecem que homens negros são presos, julgados e condenados
a uma taxa mais elevada do que homens brancos. O julgamento de Scottsboro faz parte da minha
memória indelével, mas não parece ser parte da delas. Os homens negros envolvidos nesse julgamento
foram condenados mesmo que historicamente mais homens brancos já tenham estuprado mulheres.
Hoje, as estatísticas não mudaram. Homens negros recebem penas mais duras e são recomendados para
execução em números desproporcionais. Uma resposta feminista à questão do estupro não pode parar
no reconhecimento de que os homens negros são vistos como o típico estuprador.
O fato é que mulheres negras também suportam o fardo do estupro. Independente de estarmos
discutindo o estupro de mulheres negras durante a escravidão ou as irmãs sendo estupradas em uma
noite de sábado, o percentual de vítimas negras é desproporcional aos nossos números absolutos. A
convergência de sexo e raça assegura que estamos diante de uma chance muito maior de sermos
violadas em nossas vidas do que mulheres brancas.

Até agora, esses dois fatores foram excluídos na análise feminista branca. Certamente, mulheres
brancas beneficiam-se diretamente dessas omissões. O desconhecimento das implicações raciais pode
permitir que as feministas brancas finjam que uma análise branca do estupro transcende a questão de
negras e brancas. Ignorá-las também incentiva as feministas brancas a negar que a questão do estupro é
outra coisa que não uma simples crença de que todos os homens são potenciais violadores. Eu não
tenho dúvidas sobre essa declaração. Minha objeção diz respeito à recusa de examinar a complexidade
do problema. Essa recusa conduz em última análise a alguns efeitos nocivos que discutirei mais adiante
neste documento.

Como separatistas, não estamos livres do medo de estupro. Qualquer análise dessa questão deve incluir
as nossas reflexões. Acredito que usar as ferramentas analíticas que ganhamos enquanto separatistas
nos levará a desenvolver e responder à questão da violação de uma maneira que avançaremos como
mulheres. Tendo em conta que o sistema judiciário é tão consciente de questões de raça e classe quanto
as nega, homens negros têm a garantia de receber a punição mais severa. Ao exigir uma maior
utilização desse sistema de justiça, as feministas brancas incentivam, por padrão, a penalização de
ambas as mulheres e homens negros. Para a irmã violada, o sistema judiciário branco não vai encontrar
o agressor ou condenar o culpado. Para os homens negros, o sistema de justiça irá condená-los, mesmo
que sejam inocentes. O resultado para cada um é diferente, mas igualmente humilhante e opressivo.

Mesmo que mulheres não estuprem, este fato não elimina a nossa responsabilidade e, particularmente,
a responsabilidade das mulheres brancas de discutir e analisar as dimensões do estupro de forma ética.
Fazer o contrário muitas vezes nos leva à crença equivocada de que mais policiais ou mais mulheres
policiais seriam um avanço no alívio dos horrores do estupro que as mulheres enfrentam. O foco único
em todos os homens enquanto potenciais violadores encoraja centros de crise de estupro a convidar a
polícia para participar ativamente nos seus programas e a cooperar em programas policiais.
Eventualmente, centros de crise de estupro são subsumidos pelas metas dos policiais, não mais
desafiando a filosofia anti-mulher dessa sociedade, e tornando-se tão não-ameaçadores que os governos
municipais podem financiá-los com segurança. Naturalmente, esta não é a única razão do porque os
centros de crise deixaram de servir aos interesses das mulheres. Crises econômicas forçam os centros a
procurar por subvenções na LEAA (Law Enforcement Assistance Administration). Eu me pergunto, se
as feministas brancas tivessem uma clara compreensão de quem é ferido e quem é ajudado por essas
demandas, esse dinheiro pareceria tão atraente ou aceitável?

A análise majoritariamente aceita do estupro tem dividido mulheres brancas e negras. Ao fazê-la, as
feministas brancas escolheram alinhar-se com os homens brancos em detrimento da formação de
coalizões com as irmãs. Não são apenas os centros de crise de estupro que escolheram esta “solução”.
Mais tarde vou discutir esta escolha em outro contexto. O ponto é simplesmente que a análise feminista
branca do estupro ignora com sucesso a complexidade da questão, assegurando que as ações
decorrentes excluirão as irmãs ao mesmo tempo em que colocam homens brancos na vanguarda. Essa
análise impossibilita que consideremos escolhas éticas que incluiriam todas as mulheres e nos
permitiriam avançar.
Parece-me que criar nossos próprios esquadrões contra estupro para lidar com os nossos estupradores é
uma medida tapa-buracos mais eficiente do que a chamada por mais proteção policial. A longo prazo,
parar a mentalidade do estupro é ainda mais importante (voltarei a esta questão). Qualquer análise do
estupro deve enfrentar os homens brancos em vez de ligar-se a eles para matar homens negros.

Afirmar tudo isso é começar a pautar considerações necessárias sobre posturas éticas. Por exemplo, eu
ainda me sinto alienada da comunidade nacionalista masculina e negra porque eu sou uma lésbica, e
ainda assim eu entendo que nossas lutas estão intimamente interligadas. Ao mesmo tempo, muitas
vezes me sinto alienada da comunidade feminista branca que tem o privilégio de ignorar e minimizar o
racismo. Feministas brancas podem exigir o meu apoio, presença e energia sem ver que é isso que estão
pedindo de mim. Elas podem se recusar a reconhecer o preço que eu pago: a perda da minha proteção,
ainda que limitada e limitante como ela é. Minha negritude é visível e é a primeira linha de ataque
contra mim. Eu também sou uma mulher e optei por continuar a minha luta dentro da comunidade de
mulheres. Eu parei de lutar internamente contra a homofobia e o sexismo de meus irmãos.

Como já explicitei, fundir as minhas identidades aparentemente separadas não é fácil, mas todas elas
existem dentro de mim. É muito importante para mim reconhecer que o racismo fere os meus irmãos e
eu. Embora possa se manifestar de forma diferente para cada um de nós, é a negritude que define as
condições em que vivemos. Eu estou muito ciente que meus irmãos têm o poder do pênis. Eles não são
confrontados com ser mulher neste mundo e eu sou. É verdade que qualquer homem,
independentemente da classe, renda ou raça detém o poder no mundo. Com certeza, alguns homens têm
mais controle no mundo do que outros. Cada um tem, se nada mais, uma mulher ou uma mulher-
substituta como sua escrava – esposa, mãe, namorada, etc. Isso não é verdade para mim. Eu conheço
mulheres brancas que são ativas nas lutas anti-racistas e dispostas a resolver este problema.
Infelizmente, eu não conheço nenhum homem negro que esteja ou já esteve disposto a lidar com o seu
próprio sexismo ou homofobia. Minha análise do poder, quem o possui e a quem são cedidos recursos
me permite fazer a distinção entre poder e privilégio revogável. Mulheres brancas tem privilégio
revogável. Durante a escravidão mulheres brancas torturaram escravas negras e hoje agimos como se
privilégio fosse, de fato, poder. A realidade é que o privilégio revogável é apenas isso. Se o grupo que
possui o privilégio decide usar seus “poderes” de uma forma desagradável para aqueles que realmente
detêm o poder, o privilégio é imediatamente revogado. Pouquíssimas feministas brancas percebem que
seu privilégio foi cedido por homens brancos e pode ser facilmente tomado de volta se ela não exercê-
lo de acordo com o interesse deles. Ou, talvez, elas percebam isso; e ao fazer a conexão, desejem iludir
irmãs sobre esta realidade. Não importa. O resultado é que a hegemonia dos homens brancos
permanece incontestada por mulheres brancas que não estão dispostas a reconhecer ou abordar as
formas pelas quais o privilégio é usado para dividir mulheres brancas e negras.

Separatismo me deu as ferramentas analíticas e, sim, a coragem de dizer em voz alta que os homens são
o inimigo. Você acha que por isso eu vou ser destruída por deus (bom menino branco que ele é)? Não
só vou dizer isso em voz alta, mas eu também vou trabalhar tanto quanto possível a partir de um
contexto mulher-identificado. Tornar-me uma separatista me incentivou a perceber que o mundo pode
ser interpretado através dos meus olhos lésbicos. Minha sexualidade me dá fogo e paz. É um modo de
vida que é a base para estender a mão, a compreensão, e a ligação com outras mulheres.

Separatismo não é retirar-se do mundo ou negar que o que acontece no mundo me afeta. Eu não posso
simplesmente ignorar o heterossexismo, o racismo, a misoginia do mundo. O ódio perpetrado pelo
homem branco controla minha realidade econômica. Eu não posso estar em espaços exclusivamente
femininos e fingir que estou vivendo de forma independente dos homens. Espero que mulheres que
conseguem ou dizem que conseguem fazer isso neste nível não o façam sem propósito e, portanto, de
forma irresponsável. Eu acho que é importante que mulheres possuam terra e vivam nela, mas a
afirmação de que elas estariam totalmente separadas dos homens ignora a interdependência do mundo.
Por exemplo, a eletricidade pode ser abandonada, mas o pagamento de impostos não. Além disso, o que
eu tenho ouvido e lido sobre mulheres afirmando serem independentes dos homens é tão incrivelmente
inconsciente no que diz respeito a classe que estou furiosa. Estou furiosa pelo privilégio necessário para
manter essa pretensão ser tão transparente e NÃO ESTAR DISPONÍVEL PARA AS IRMÃS. Cada vez
que eu ouço como isso está acontecendo, percebo a capacidade das mulheres de tornar a juntar-se à
sociedade patriarcal e capitalista, mesmo que negando essa sua habilidade. Mulheres brancas esperam
que sejamos tão burras a ponto de aceitar o que elas dizem como a verdade final? Qualquer irmã que
sobrevive teve um curso intensivo das mentiras brancas e aprendeu a perceber a realidade, não o que os
brancos querem nos fazer crer ser verdade. O privilégio de mulheres brancas não é meu! Eu não tenho
pai branco, nenhuma conexão que vai lubrificar a minha reentrada. Eu já fui, de fato, escolhida para
fornecer a base invisível onde o capitalismo pode construir e prosperar.

Ao focar-me no privilégio branco comumente manifestado no interesse de viver no país, eu não desejo
desqualificar espaços exclusivamente femininos. Esse espaço é crucial para mim e eu sempre lutarei
para preservá-lo. É um lugar que nós, como mulheres, mortas e caçadas por homens, podemos ir para
renovar a nossa energia, para lembrar por que nós escolhemos uma luta tão difícil. Algum dia – mesmo
agora já estamos aprendendo aos poucos como viver e amar umas às outras de uma maneira muito
diferente – nós poderemos fazer a realidade finalmente estar de acordo com o que acreditamos.

Separatismo é a transição de uma população bissexual (feminino-masculino) para uma exclusivamente


feminina. Uma em que as diferenças são apenas diferenças: nem boas nem más. Eu quero ser muito
clara. Minha visão do futuro não inclui machos. Há aqueles que se preocupam com o que eles estão se
tornando. Eu não compartilho sua preocupação. Para mim, parar a mentalidade do estupro pressupõe a
necessidade de eliminar a causa – machos. Eu não irei focar neles ou abrir mão da minha preciosa
energia mais uma vez para atender as necessidades ou bem-estar masculinos. Pois eu já não acredito
que é possível re-educar os homens a abandonarem o poder. Mulheres se iludem com a crença de que
os homens realmente não querem dominá-las. Que se eles conhecessem qualquer outra maneira de se
comportar, os “pobres” rapazes de bom grado escolheriam a alternativa de remover os pés dos pescoços
das mulheres. Essa ilusão é baseada na suposição de que a dominação é o outro lado da submissão. Se
mulheres continuarem a se agarrar a essa crença, nós perpetuaremos a conspiração de que ninguém nos
estupra e espanca. É o sistema, e não um homem, ensanguentando nossas bocas. Na verdade, é do
interesse dos rapazes nos encorajar a não ver o perpetuador da nossa opressão. Há uma guerra
acontecendo e a maioria das mulheres se recusam a reconhecer que estamos ainda lutando. Um
compromisso com o liberalismo individual – “caminhos diferentes para pessoas diferentes” – as
impede de perceber cada mulher estuprada, espancada, morta ou trancada na prisão ou instituição
mental como uma vítima de guerra. Continuamos a querer acreditar que ninguém, certamente não o
nosso irmão, pai, amigo viado, poderia nos odiar tanto assim. Nossas baixas são, na verdade, parte
integrante da visão dos homens sobre o mundo. É a fêmea submissa e maternal que distingue sua
masculinidade. Cada vez que eu ouço que algum garoto é bom ou gentil lembro-me do poema de
Ntozake Shange nos alertando sobre meninos aparentemente bons. Essa ideia nos impede de perceber
que algumas mulheres podem ter sido feridas por este rapaz gentil. Algumas mulheres que não
conhecemos, talvez nunca encontraremos, mas apenas uma já é demais. Pra ser muito clara, da próxima
vez que poderia ser eu ou você.

Quanto mais a sociedade ocidental homem-identificada tende à direita (o que é uma caracterização um
pouco imprecisa, uma vez que implica na existência de alguma época progressiva), mulheres mulher-
identificadas não podem se dar ao luxo de se tornar mais conservadoras. Não podemos nos dar ao luxo
de trabalhar duro, fincar nossos pés e abaixar nossas cabeças esperando que essa onda reacionária passe
deixando-nos intocadas, sem marcas de sua passagem. Agora é a hora de intensificar os nossos
esforços, não recuar!

Precisamos identificar nossos próprios objetivos. Ms Magazine, o baluarte da aceitabilidade (para


homens e mulheres homem-identificadas), pode se sentir livre para proclamar um rapaz como
feminista, na matéria da capa, nada menos. “Ms” deixou de merecer o nosso apoio. Falar sobre homens
feministas deve exigir o mesmo fôlego que discutir negros brancos. Enquanto Norman Mailer escrevia
sobre o negro branco, ele também estava ocupado esfaqueando sua esposa. Este é precisamente o
perigo de incluir aqueles que propõem serem solidários com os nossos objetivos como um de nós,
quando ninguém sabe o dano ou dor que ele está causando em alguma mulher. Mesmo se não
soubermos desse dano, apoio não é o mesmo que identidade. Incluir rapazes como feministas só serve
para confundir a questão de quem é o nosso inimigo, embaçando tanto essas fronteiras que a força da
ideologia é reduzida à consistência de algo brando e insípido intelectualmente em inglês: pablum.

Está se tornando aparente que muitas feministas brancas e algumas separatistas estão cedendo às
políticas da moral majoritária, aceitando essas definições fascistas de quais são as questões importantes
a serem discutidas. Em suma, permitindo o direito de ditar a agenda lésbica pelas mulheres brancas.
Isto é particularmente perigoso dada a dominação dos meios de comunicação feminista e da ideologia
por mulheres brancas. A agenda da mulher branca é, então, apresentada como a única para todas as
mulheres. Na verdade, as feministas brancas estão mais dispostas a mudar sua ideologia para incluir
homens brancos em seus livros, concertos e outros projetos do que mudar sua ideologia para incluir
irmãs. Um espaço feminista quer incentivar os homens a estar lá para discutir como eles podem apoiar
a luta das mulheres enquanto nega o acesso às mulheres negras. Ou mulheres protestam porque a
construção do SF Women’s Building não abarca espaços para que grupos de mulheres policiais se
encontrem. Os machos procurados são brancos; a ausência de irmãs não é notada. Esta tendência
reconhece os homens brancos como detentores do poder nesta sociedade. Para feministas obterem seu
apoio, esses rapazes devem ser atendidos e apaziguados. Detendo o poder, homens brancos podem dar
ou retirar todos os tipos de benefícios, incluindo aluguel gratuito, espaço de anúncios ou a publicação
de um livro. A lista é interminável.

Debaixo do poder de meninos brancos está o vínculo não reconhecido entre mulheres brancas e
homens. Uma ligação baseada na semelhança racial. Uma ligação negada quando desafiada. Eu
reconheço que o vínculo existe quando eu noto o alcance da luta das mulheres brancas. A divulgação
supostamente é direcionada para irmãs, no entanto, o número de homens brancos aumentam enquanto o
número de irmãs não, nos mesmos projetos. Eu realmente deveria acreditar que a mulher branca é séria
em sua pretensão de desejar mais participação de irmãs? Eu já não me importo se o vínculo entre
mulheres brancas e homens é consciente; na verdade, é irrelevante quando ocorrem os mesmos
resultados de novo e de novo.

Algumas feministas brancas, para corrigir seus erros do passado, usarão homens negros para evitar a
acusação de que elas são a ligação com os homens brancos. Big Mama Rag viajará grandes distâncias
para demonstrar a sua preocupação com o racismo neste país, mas continua a ignorar as preocupações
de irmãs como elas mesmas articulam. A discussão torna-se uma maneira dissimulada de formar
coalizões com homens brancos reivindicando a questão do racismo como a sua cobertura. Não é apenas
a Big Mama Rag; a decepção permeia projetos de feministas brancas.

Separatismo é uma questão difícil. Embora eu acredite que as separatistas brancas não são mais racistas
do que outras feministas brancas, eu também sei que ser uma separatista não exclui automaticamente a
possibilidade de ser racista. Eu desafio todas as separatistas, particularmente as brancas, a participarem
ativamente na luta anti-racista em nossa comunidade e em certa medida, na sociedade em geral. Não
podemos perder nossos próprios objetivos neste processo, e separatistas brancas não podem relevar a
importância da inserção de irmãs nessa luta.

A não-luta em torno do racismo por mulheres brancas criou a situação que existe hoje. Poucas
feministas lésbicas negras são visíveis ou ativas em comunidades de mulheres brancas. O separatismo
adiciona mais uma dimensão e nossos números são drasticamente reduzidos. Dada a prevalência do
racismo nas comunidades feministas brancas, torna-se fácil para elas levar irmãs a estarem nas
gargantas umas das outras. Mulheres brancas defendem muito frequentemente a opinião de uma irmã
como superior a de outra. Rejeito esta tendência, reafirmando o direito de cada uma de nós participar
da luta que consideremos necessária. Eu especificamente apoio irmãs que o fazem. Com todas as
nossas emergentes e misturadas identidades, as irmãs têm o direito de serem capazes de receber apoio
para as escolhas que fazem na luta contra o patriarcado branco.

Finalmente, para todas as minhas irmãs que entendem o separatismo como uma ideologia branca, eu
rejeito essa noção. Temos sido definidas por aqueles que têm poder sobre nós. Nós não temos sido
capazes de definir para nós mesmas ou de desenvolver a nossa própria ideologia. Separatismo e
negritude não são necessariamente contraditórios. Uni-los requer reconhecimento e compromisso com
pautar as especificidades de todas as mulheres e com o sustento da nossa visão específica. É difícil para
mim integrar os dois, mas eu acredito que a razão para a dificuldade não é inerente à teoria ou à análise,
e sim devido à bagagem inútil que trazemos umas para as outras. Enquanto os homens podem não estar
em nossas casas, eles ainda residem em nossas mentes. Livrar-nos deles e de sua agenda exige atenção
constante. Se não estamos sempre conscientes, colocamos em perigo a nós mesmas e nosso movimento
para continuar a lutar suas batalhas por eles.

Este artigo é um início de uma discussão que, espero, irá continuar. As questões levantadas são cruciais
para a nossa própria sobrevivência e para a qualidade dessa sobrevivência. Será que mulheres com mais
privilégios do que outras vão manter o vínculo com homens brancos pela hegemonia branca de classe
média, como o fizeram durante o movimento sufragista? Ou será que as mulheres se conectarão umas
com as outras, finalmente? Será que vamos reconhecer que nós, como um grupo, temos o direito de
nossa própria integridade e ideais? Nós, como mulheres, podemos nos dar ao luxo, como Naomi
Littlebear lembra-nos, de deixar qualquer irmã para trás?

In For Lesbians Only, edited by Sarah Lucia Hoagland and Julia Penelope, Onlywomen Press, 1988

Se assumindo sapatão (1) e mestiça (2)

Littlebear Morena, N. (1988). Coming Out Queer and Brown. Em Hoagland, S.L. & Penelope , J. (Ed.)
For Lesbians Only: A Separatist Anthology. Londres: Onlywomen Press, pp. 345-347. Retirado de:
http://www.feminist-reprise.org/docs/morena.html

Clara: Agora por que tanta gente me pergunta, ‘Por que não há muitas Lésbicas Latinas envolvidas com
o movimento feminista?’ Uma coisa é real, se eu estivesse no “barrio” (bairros nos Estados Unidos da
América onde moram muitas latinas) agora teria medo de me assumir. Poucas culturas que conheço
aprovam que suas crianças sejam cuir, especialmente as Católicas, ainda sim eu conheci muitas
sapatonas presbiterianas assumidas.

No bairro você tem irmãos e irmãs heterossexuais reproduzindo aquela famosa ideia de que o
movimento das mulheres é uma viagem das mulheres brancas cheias de pêlos no suvaco e das
caminhoneiras e vadias mal comidas que não se dão ao respeito, uma 100% Mexicana não fará parte
desse movimento a não ser que não se importe de ser chamada de vendida; e se essa humilhação não
bastar para fazer você se manter dentro do armário, agradeça a Virgem Maria pela culpa que carregará.
‘A Raça perecerá,’ se você não estiver lá pra ter meia dúzia de bebês e quem quer ter esse peso na
consciência? O único jeito de sair é dando as mãos ao seu homem para juntos batalharem contra os
demônios brancos da opressão.

Vamos encarar um fato, se você tiver grana, é mais fácil sair da cidade, a não ser que tenha a sorte de
viver em uma cidade grande; eu não tive. eu acabei aqui por acidente; eu pensava que Oregon era tipo
Novo Mexico. O que eu encontrei quando dei de cara com a comunidade das mulheres? Um bando de
mulheres brancas de um lado e esquerdo-machos heterossexuais (ex-namorados) do outro.

Bem vinda Irmã de Cor (zona leste de Los Angeles corrigi). Então você quer ser uma lésbica? Não
precisa pensar nisso, é uma questão entre quatro paredes. Primeiro irmã mestiça nos deixe dizer que
estamos aqui para apoiar você e seus irmãos marrons na luta contra o imperialismo racista. Aliás você
fala espanhol.’ Olha eu disse, eu quero fazer C.R. e sair do armário como uma mestiça orgulhosa sabe,
pegar pesado com as verdades sobre o macho mestiça no barrio loco, e eu quero um adesivo de
parachoque e a mãe natureza é um bottom lésbico. Bom esqueça essas merdas. Esse é seu script irmã e
é assim que você deve lê-lo: ‘Mulher de Cor se torna Mascote em Reuniões, Mulher de Cor conhece
Karl Marx, Mulher de Cor se torna politicamente correta, Mulher de Cor decide a quem boicotar e a
quem chamar de racista na comunidade, Mulher de Cor trazida para a sua vida direto do Hospital
Dammasch State, Filha da Mulher de Cor Parte II’ e não parece que só as outras mulheres de cor que
você conhece são marxistas, comunistas ou de classe média.

Há encorajamento para ‘fazer papel’ de minoria; você ganhará muito mais reconhecimento na
comunidade, sem falar em respeito e talvez medo. E quando eu não fiz amizade com Maria Gomez, a
única outra Chicana na cidade porque ela era muito heterossexual e arrogante sobre o seu namorado ter
se sentido oprimido quando assistia a um show de Rap de uma Grupa Lésbica na biblioteca das
mulheres, elas me chamaram de excludente. Já é suficientemente ruim que elas pensem que todas nós
somos parentes distantes sem assumirem que todas a mulheres de cor pensem igual e devem ser
amigas. Às minhas irmãs eu digo, ou vocês têm memória curta ou vocês não têm memória. E para as
irmãs brancas eu digo que meus irmãos oprimidos de cor me atropelariam com seus chevrolets se
soubessem que sou sapatão.

Não digam que eu não entendo ‘os pobres jovens homens, famintos por poder pessoal; dê uma olhada
no que o homem branco fez com todo esse poder individual. Você ousa dizer que pessoas de outras
raças não são ambiciosas? Atrás de cada jovem homem revoltado, independente da cor, há uma mulher
reprimida sem poder nenhum. Ah tudo bem zoar o homem branco; todo mundo desconta no homem
branco, até os homens brancos. É quase uma mania. Lésbicas brancas podem zoar o opressor e
denunciar sua classe mas, para as mulheres marrons, denunciar seus irmãos/ opressores é um crime
político. Clara: eu fico brava com essa injustiça, não faz muito tempo que eu lembro que esses caras
estavam presentes em minha vida, me seguiam nas ruas, se aproximavam para dizer ’Opa, rebola mas
não quebra,’ meio quarteirão depois com assobios e assédios ‘Ai gata, eu tenho um negócio que pode
rachar uma mulher no meio.’ Pois é cuzão, se eu tivesse uma tocha de propano eu fritaria seus ovos
rancheiros.

Mas você sabe que eu nunca disse isso muito alto e continuo não podendo fazê-lo ou alguém poderia
dizer que sou racista ou que você deve estar saindo muito com essas odiadoras de homens que querem
matar pequenos garotos e dios mio como eu me envolvi em toda essa ridicularização, me levem a um
confessionário. acho que voltarei a ser católica.

É bem mais fácil chamar alguém de racista do que, para uma chicana, chamar seu ‘irmão’ de machista
babaca. Merdas burocráticas, mas é o que funciona; nós nos mantemos seguras e fora do caminho
dentro de um armário duplo.

Eu concordo, eu e meu ‘irmão’ fomos ferrados pelo sistema, mas quando ele me azucrina ele é o
sistema e quando liberais brancos começam a me dizer ‘pegue isso mas não chacoalhe isso’ eles são o
sistema também.

*Comentários da tradutora Actinidia:


(1) O título do artigo poderia ser também “Se assumindo cuir e marrom”, porém Mala (2018) propôs
que fosse traduzido como “Se assumindo sapatão e mestiça” já que, no momento em que o texto foi
escrito, a palavra “cuir” significava “pessoa não-hetero”, “fora do padrão”. Só atualmente, “cuir” virou
sinônimo da “ideologia queer”. Aqui se optou por usar a palavra “sapatão”, que descreve uma lésbica
fora do padrão heterossexual obrigatório.
(2) Mala (2018) sugeriu que “brown” poderia ser traduzido como “mestiça”, por ser um termo que era
utilizado (por quem?) na América do Norte para designar a mulher não-branca porém não-negra, de
outros grupos étnicos, no caso a autora, como mulher latina nos EUA.

Referências:
1) Imagem de Naomi Littlebear Martinez ou Naomi Littlebear Morena: www.discogs.com/Naomi-
Littlebear-Morena…
Separatismo não é um luxo: algumas ideias sobre separatismo e classe

Por C. Maria

Julia Penelope, em “O Mistério das Lésbicas”, pergunta, “COMO, apesar do escárnio, encarceramento,
violência, e pobreza, nós encontramos coragem PARA CRIAR NÓS MESMAS??”(1) Essa questão
reacendeu minha raiva por ter ficado desempregada nos dois anos que se seguiram à minha graduação
na faculdade em 1986, assim como pela pobreza que mulheres são forçadas a aguentar. Mas como uma
Afro-Latina Dyke (N.T: Sapatão) vivendo e trabalhando no heteropatriarcado racista,(2) eu era levada a
considerar o presente sistema falocrático e me perguntava como seria possível para Lésbicas
Separatistas se mover além de um foco em classe.

Meu ponto nesse texto é que feministas socialistas estão erradas em insistir que Lésbicas foquem em
classe. Elas ignoram a conexão entre privação econômica e o sistema sexual de castas, onde homens
fazem que as vidas das mulheres sejam quase não vivíveis. Nós vivemos em um mundo que está pronto
pra preparar nossas piras funerárias diariamente.(3) Muitas Lésbicas, ao focarem-se em classe, não
entenderam a importância do separatismo, que é tornar nossas vidas Lésbicas vivíveis no presente. Isso
não é viver “um dia a cada vez.” Antes, Lésbicas precisam ser ativas, criativas, e participantes rigorosas
da nossa realidade presente. Para esse fim, eu concluo com uma proposta. Socialismo não é a resposta
A maioria das mulheres não podia se importar menos com o separatismo. Essa ignorância proposital
não apenas vem de não-feministas e anti-feministas, mas também de feministas que deviam saber
melhor, mas ainda assim escolhem ignorar o separatismo até mesmo como uma possibilidade. Parte
dessa ignorância é causada pelo medo da represália dos homens. Mas medo sozinho não parou muitas
Lésbicas e Feministas Radicais de imaginar um mundo livre da violência e opressão masculina. Então,
o que mais está por traz dessa ignorância?

A única forma de justificar essa dispensa é a crença entre feministas liberais, socialistas/da esquerda
heterossexuais e lésbicas de que alguns homens, particularmente homens pobres e homens etnicamente
diferentes, são mais oprimidos que mulheres no geral. Elas dizem que esses homens não se beneficiam
da opressão sexual das mulheres. bell hooks vai até o ponto de justificar crimes sexuais masculinos
cometidos contra mulheres e defender que homens são as reais vítimas.

‘Alienado, frustrado, bravo, ele pode atacar, abusar, e oprimir qualquer mulher individual ou mulheres,
mas ele não está colhendo benefícios do seu apoio a uma ideologia sexista. Quando ele espanca ou
estupra mulheres, ele não está exercendo privilégio ou recebendo qualquer prêmio positivo; ele pode se
sentir satisfeito
exercendo a única forma de dominação a que é permitido’ ênfase minha – da autora – .(4)De fato, o
abuso físico e sexual que vem do privilégio heterossexual masculino é tão penetrante e opressivo, que
as mulheres menos privilegiadas e as NÃO privilegiadas muitas vezes se tornam SIM Lésbicas
Separatistas.

Aquelas que enxergam Separatismo Lésbico como classista e racista negam as vidas de Lésbicas
Separatistas, muitas das quais não são privilegiadas. Por exemplo, hooks vê separatismo como
puramente uma questão de classe. ‘A maioria das mulheres não tem a liberdade econômica para se
separar dos homens, por causa da interdependência econômica. A noção separatista de que mulheres
podem resistir ao sexismo se retirando do contato com homens reflete uma perspectiva de classe
burguesa.’(5) Hooks assume que todas as Separatistas são brancas e privilegiadas. Mas se o
Separatismo é derivado de uma “perspectiva de classe burguesa”, a maioria das lésbicas mais
privilegiadas seriam Separatistas, ou ao menos considerariam seriamente o separatismo. E existiriam
menos Separatistas racialmente e etnicamente diferentes ou menos privilegiadas.

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No entanto, Separatismo É uma questão econômica. Lésbicas Separatistas estão dolorosamente


conscientes de que é o heteropatriarcado racista o que mantém as mulheres pobres. Nenhuma mulher,
não importa o quão rica, tem poder irrevocável. Todo homem, não importa o quão pobre, tem algum
poder irrevocável.(6) Na economia heteropatriarcal,(7) TODA mulher está economicamente presa aos
homens. Jeffner Allen explica esse dilema:

‘Ainda que escolhamos viver como Lésbicas, nós somos obrigadas…a permanecer em relação à
economia patriarcal… Nós somos obrigadas a permanecer em relação aos homens, especialmente para
garantir acesso à comida, água, abrigo, roupas, e frequentemente, pelos bens e dinheiro que devem ser
trocados por esses produtos.’

Qualquer mulher que se separa, mesmo que parcialmente, de um homem ou de homens, irá sofrer
economicamente. Viver como uma Separatista implica tomar o risco de que o heteropatriarcado racista,
a qualquer momento, tire os únicos meios de suporte disponíveis para que obtenhamos nossas
necessidades básicas e mantenhamos qualquer qualidade de vida. Se tornar uma Separatista significa
que a Lésbica colocou integridade acima qualquer outra consideração que a necessariamente a
prendesse aos homens.

Feministas Socialistas, no entanto, diriam que mulheres menos privilegiadas deveriam manter-se
aliadas aos homens EM NOSSOS GRUPOS, por que seria do “nosso” interesse. Mas homens menos
privilegiados continuam igualando seus interesses aos interesses do “nosso grupo.” Se mulheres
seguirem a prescrição feminista socialista, elas se manterão escravas econômicas e sexuais dos homens
a que são forçadas servir. “Liberdade”, para feministas socialistas, significa manter solidariedade com
homens menos privilegiados, não importa o quão sexualmente, fisicamente, ou psiquicamente abusivos
eles são com as mulheres que têm o azar de estar por perto ou envolvidas com eles. Mulheres não são
permitidas a se separar dos homens por nenhuma razão.

Segundo Alison Jaggar:

‘O que a poíttica do separatismo total ignora, todavia, é que alguns grupos de mulheres têm interesses
em comum com alguns grupos de homens. Mulheres trabalhadoras têm interesses em comum com
homens trabalhadores; mulheres Judias têm interesses em comum com homens Judeus; mulheres
diferentemente capacitadas têm interesses em comum com homens diferentemente capacitados; e
mulheres negras têm interesses em comum com homens negros.’(9)

O que Jaggar não explica é como mulheres negras, mulheres Judias, mulheres trabalhadoras, e
mulheres diferentemente capacitadas, apesar de um forte comprometimento para acabar com todas as
opressão, ainda têm a fortaleza/coragem de serem Separatistas. Ainda assim, feministas socialistas
chamam Lésbicas Separatistas trabalhadoras, Semíticas,(10) diferentemente capacitadas, Afro-
Amerikanas, Latinas, Amerikanas Nativas N.T. Indígenas, Asiáticas Amerikanas de racistas, classistas,
antissemíticas, etaristas e capacitistas.

Jaggar continua:

‘… uma politica de separatismo total é necessariamente classista e racista, não importa o quanto
classismo e racismo tenham sido erradicados dentro da cultura de mulheres. Em parte, é classista e
racista pois o acesso à cultura de mulheres é mais difícil para mulheres pobres e negras, assim como é
mais difícil para tais mulheres ser exclusivamente lésbicas. Em um nível mais fundamental…
separatismo total é classista e racista por que nega a importância das divisões de classe e raça…
Consequentemente, nunca poderá ser efetivo em trazer uma transformação social de longo alcance’
ênfase minha.(11)

Jaggar se contradiz imediatamente nessa declaração. Se classismo e racismo estão exterminados na


“cultura de mulheres”, por que ela ainda a vê como classista e racista?

A contradição não a perturba, ou então ela teria pensado melhor esse comentário. Qualquer coisa
desejável é mais difícil de se obter para mulheres menos privilegiadas. Mas ela prefere focar na ideia de
que mulheres menos privilegiadas são supostamente incapazes de serem Lésbicas. A mentalidade dela é
a mesma que a de muitos países socialistas, como Cuba, que proclamam que Lésbicas são um resultado
de uma influência burguesa perversa e regressiva. Eles apoiam a heterossexualidade compulsória
fazendo das Lésbicas criminosas.
O feminismo Socialista sofre de uma falta de inteligência moral e ética. Quando feministas socialistas
nos dizem que somos classistas e racistas por sermos Lésbicas Separatistas, elas estão escondendo sua
própria falha moral de considerar o mesmo para si. Feministas Socialistas presumem que mulheres
economicamente, racialmente e etnicamente oprimidas não são inteligentes o suficiente para tornar
nossas vidas o quão vivível for possível, ou para escolher nossos ideais e como agir em relação a eles.
Elas presumem que nós devemos ser “resgatadas” e colocadas de volta nas “graças” do
heteropatriarcado racista.

É impossível para Lésbicas Separatistas, especialmente para as Lésbicas Separatistas racialmente e


etnicamente diferentes, ignorar raça e economia por que essas são nossas realidades diárias. Nós
entendemos muito bem o que nos divide. E não importa quantas dessas dicotomias existam, nós
NOMEAMOS os agentes responsáveis por essas FALSAS diferenças impostas.Enquanto Lésbicas
Separatistas não têm como ignorar raça e economia, é a força de nossas diversidades E similaridades
que trará transformação social REAL, uma muito além do alcance do feminismo socialista.
O Resultado

Muitas feministas, particularmente feministas liberais e socialistas, defenderão trabalhar


na economia masculina baseadas no fato de que fazer isso elevará nossa condição socioeconômica.

Mas, como Jeffner Allen afirma, “homens, não mulheres, conquistam uma vantagem monetária…” (12)
Status de classe é algo que possuem os homens que trabalham na heteroeconomia patriarcal. As
mulheres não têm status de classe. A estrutura de classe masculina define e prescreve a servidão
econômica, emocional e sexual aos homens, enquanto a heteroeconomia patriarcal constrói a base
concreta para a opressão econômica das mulheres. A heteroeconomia patriarcal, pagando às mulheres
os salários mais baixos, nos coage a permanecer sob dominação racista heteropatriarcal. Terrorismo
sexual no ambiente de trabalho estende a contínua servidão das mulheres além do âmbito doméstico
falocrático. Por sua vez, esse terrorismo força as mulheres à esfera “privada”, onde o terrorismo pode
continuar em segredo. Como o estupro e a pornografia, o terrorismo sexual no ambiente de trabalho diz
às mulheres o que os homens pensam de nossa presença, nossa existência e nosso lugar no
heteropatriarcado racista.

As mulheres não adquirem status de classe por nosso próprio mérito, mas antes como anexos socio-
econômicos, políticos e sexuais dos homens. Qualquer mulher que recuse ser um anexo de homens
perde os “benefícios” da economia masculina. A Separatista Lésbica não é parte da heteroeconomia
patriarcal. Tampouco o é qualquer mulher que não seja um anexo de um homem.

A pobreza não é algo inteiramente próprio da heteroeconomia patriarcal. Os níveis da estrutura de


classe implicam em que membros tenham mobilidade “ascencional” (13).
Essa mobilidade é mobilidade fálica. As mulheres, seres não fálicos, são automaticamente excluídas.
Para sobreviver, mulheres autônomas, incluindo Separatistas Lésbicas, trabalham no sistema
econômico masculino exercendo tarefas que definem nossa falta de status de classe. Somos forçadas a
viver como trabalhadoras migrantes estáticas, que precisam ganhar nosso sustento e nunca reclamar de
nossa condição, ou afundamos ainda mais na degradação.

A falta de um status de nossa própria classe de mulheres pode ser mais evidentemente vista em
indústrias de “serviços”, como restaurantes e bares, escritórios corporativos e estabelecimentos de
vendas. As mulheres são a maioria dos trabalhadores de baixo nível nessas indústrias. Normalmente
trabalhamos 8 ou mais horas por dia, frequentemente por salário mínimo. Alguns empregos,
particularmente em restaurantes, pagam menos que o mínimo, forçando as mulheres a viver de gorjetas
recebidas por sorrirem, serem gentis e condescendentes (14). Esses empregos requerem pouca
formação educacional e oferecem poucas oportunidades de promoção ou aumento de salário. Não é
surpreendente que esses empregos tenham altas taxas de rotatividade, porque as mulheres que o
exercem são facilmente dispensadas.Fazendo mulheres exercerem tarefas degradantes e repetitivas, os
homens que controlam a heteroeconomia patriarcal podem continuar a fazer o que quer que eles
escolham sem pensar sobre as consequências. Os homens continuam, com total confiança, a
desperdiçar e destruir, sabendo que eles têm mulheres bem condicionadas a reparar tudo para eles. As
mulheres “pegam o trabalho sujo, se encarregam do entulho material e psíquico (…), produzem apenas
outra variante do autossacrifício feminino e do trabalho doméstico, varrendo as ruínas do patriarcado”
(15).

A Lésbica Separatista escolheu derrotar os homens, odiar os homens (16), a fim de defender as
mulheres e nossa liberdade de sermos nós mesmas. O preço para manter nossa integridade é quase
sempre a pobreza, a violência, a degradação e a negação de necessidades básicas. Apesar da pobreza
sofrida e dos obstáculos colocados à nossa frente, nós sabemos que estamos certas (17). E por causa da
alegria e da liberdade que irradiamos, nossos inimigos sabem que estamos certas.

‘Considere o caso dos guerreiros Masai, um grupo de pastores que vivem no Quênia e em partes da
Tanzânia. Apesar das mulheres cuidarem do gado, a fonte de riqueza do grupo, seus maridos são os
donos, e o gado é passado como herança para seus filhos. Se uma mulher dá à luz apenas meninas ou é
incapaz de gerar crianças, ela é ostracizada e forçada a viver por conta própria. Ela não é valorizada
como mulher por seu próprio direito. Ela é valorizada apenas se ela toma conta do gado e dá filhos a
seu marido. Suas filhas não poderão cuidar dela quando ela envelhecer. Elas devem partir quando se
casarem com homens nas aldeias vizinhas, forçadas a repetir o mesmo padrão que sua mãe sofreu
quando era jovem’ (18).

Uma vez que o poder concedido às mulheres pelos homens é revogável, não se pode dizer de nenhuma
mulher que é economicamente rica, porque ela não vive numa economia ou numa sociedade baseada
em valores femininos.

Uma Proposta

Muitas feministas não querem reconhecer o quanto elas se tornaram confortáveis com o privilégio
heterossexual delas no sistema opressivo que muitas outras mulheres querem deixar para trás. Elas
continuam pedindo por privilégios para elas mesmas, enquanto as condições para a maioria das
mulheres permanecem inalteradas. Poucas feministas propuseram a abolição do heteropatriarcado
racista, porque para isso elas teriam que confrontar sua própria cumplicidade e a dolorosa subordinação
que os homens forçaram às mulheres através de terrorismo, doutrinação, privação e mentiras. (19)

Nós podemos começar, mesmo que de forma modesta, a romper com a economia masculina. Lésbicas
Separatistas e Feministas Radicais já começaram, recusando estar com homens ou fornecendo as
necessidades, desejos e caprichos deles em nossas vidas pessoais/políticas. Embora mulheres
heterossexuais também possam contribuir com essa ruptura, através da sabotagem, é improvável que
elas coloquem elas mesmas e outras mulheres acima das prioridades masculinas. Lésbicas separatistas
podem fazer muito mais:

Nós podemos romper com a heteroeconomia patriarcal através do sistema de troca, onde bens e
serviços podem ser trocados diretamente por outro, ao invés de dinheiro. Por exemplo, se eu preciso
trocar minha janela quebrada, eu posso ter uma amiga que é uma vidraceira especialista para repor
minha janela em troca que eu arrume o carro dela quando precise, no presente ou futuro. Nós podemos
obter o que precisamos sem o uso de dinheiro. Nós também podemos criar nosso próprio sistema
monetário através do uso de um sistema de comprovante que apenas Sapatas trabalhando juntas
reconheçam. Esses comprovantes podem ser usados para obter necessidades básicas e serviços de
Sapatas com habilidades especializadas. Uma forma simular de ruptura é se negar a pagar impostos. A
maioria do dinheiro de pagamento de impostos vai diretamente para a máquina do lixo falo-militar para
inventar mais armas para aniquilar a vida sensível. O resto é usado para se manterem supostos eleitos e
nomeados ‘’oficiais’’ e ‘’oficiais’’ corporativos no sistema masculino heterossexual assassino, branco e
rico. Os dois mais recentes exemplos descarados são o roubo de milhões de dólares do dinheiro da
moradia federal e o roubo de bilhões de dólares por poupanças e empréstimos executivos. O sistema de
impostos é outra forma de parasitismo masculino, drenando a energia das mulheres através de trabalho
degradante para nutrir a ganância insaciável deles e o ódio pela vida.

Há métodos ilegais que podem ser perseguidos, tais como dinheiro de contrafacção, explorando a oferta
de moeda que é regulada por computadores, interrompendo negócios do Wall Street e outros centros
financeiros onde o negócio do patriarcado e da heteroeconomia é realizado todos os dias. Nós podemos
nos organizar em quadros de ladras para roubarmos necessidades básicas e dinheiro para nossa vida
diária. Com o aumento da habilidade, nós também podemos ensinar outras lésbicas como roubar. Nós
podemos ir a prédios abandonados e renová-los para viver e/ou para propósitos políticos. Lésbicas são
frequentemente negadas nos espaços, até por feministas. A renovação de prédios seria um bom modo
de reivindicar o nosso tão necessário espaço e pensar e agir para o nosso bem-estar.

Para aquelas que têm filhas meninas, nós também podemos nos recusar a mandá-las para escolas
públicas e privadas. Nós podemos criar no lugar nossas próprias escolas Lésbicas Radicais. Alguns
fundamentalistas cristãos têm resistido em mandar seus filhos para escolas públicas, porque, na opinião
deles, valores racistas heteropatriarcais não são promovidos o suficiente. Eles atualmente querem tomar
o controle do sistema de escola pública tirando as poucas ‘’reformas’’ que a educação tem sido
permitida a fazer. Contudo, a maioria das escolas cristãs continuam a ensinar valores racistas
heteropatriarcais e promovendo os ‘’maravilhosos’’ homens brancos, enquanto as mulheres são
ignoradas ou mostradas em papeis de suporte de estereótipos.

Os agentes do sistema monetário de impostos estão executando uma proteção agitada no


sistema educacional, que vai aceitar dinheiro em termos dos agentes. Uma educação Radical Lésbica
seria baseada em valores que mantenham nossa inteligência e
integridade moral. Nós podemos aprender sobre a vida de nossas irmãs antepassadas, lutas e
realizações e sobre o que tem sido feito no presente. Algumas feministas propuseram destruir o sistema
trabalhando na economia masculina, especialmente em um banco ou corporação grande, mas dando o
dinheiro para nossas causas. Não há nada inerentemente errado em tirar o dinheiro que ganhamos em
nossos empregos na heteroeconomia patriarcal e usar ele em causas Lésbicas. Essa é uma boa
estratégia, dar de volta a energia para nós Mesmas e para as outras. Nós precisamos encontrar todo
modo possível para tirar dinheiro da economia masculina para o nosso bem estar. Mas nós devemos
entender que tal estratégia é de curto prazo e deve contribuir para metas em longo prazo. Também deve
ser entendido que isso é muito difícil, embora não impossível, trabalhar em uma corporação, um grande
negócio, ou no governo, e simultaneamente manter a perspectiva e cólera da Sapatão Radical.

A corporação, o estado, a família heteropatriarcal, todos têm as mesmas linhas hierárquicas e


‘’relacionais’’ de superioridade e subordinação. Ao contrário das mulheres, especialmente Lésbicas
Separatistas, que são removidas se não se submeterem e existirem para os homens. Ao contrário das
mulheres que também são mantidas, pela estrutura corporativa masculina, como exemplo para todas as
outras mulheres do que será o destino deles se mudarem o sistema. A razão, inteligência e cólera das
mulheres são fragmentadas, dissipadas e propositalmente desviadas (20) com o objetivo de manter o
poder corporativo. A economia masculina precisa da cumplicidade das fêmeas, a qualquer preço,
incluindo para a destruição do conhecimento e paixão das mulheres. A corporação é parte do esquema
de mobilidade fálica ascendente. E como nós vimos, as mulheres não podem alcançar mobilidade
ascendente na heteroeconomia patriarcal.

Nós devemos perceber que enquanto nós trabalharmos na economia masculina, as fêmeas não vão se
beneficiar do trabalho que os homens nos disseram para fazer. Um passo crucial para terminar com a
heteroeconomia patriarcal, e, por fim, o racismo heteropatriarcal, tem sido proposto por Susan Cavin e
deve ser ao menos considerado por TODAS as Lésbicas Separatistas. E é parar de trabalhar para
homens em qualquer circunstância.

‘… é quando o oprimido para de trabalhar para os opressores… que as soluções libertadoras são
atualizadas. Enquanto as mulheres trabalharem na economia patriarcal elas permanecerão oprimidas.’
(21)

Nós podemos ser muito criativas em nossos métodos de ruptura. Mas nós temos que terminar com a
heteroeconomia fálica que perpetua a estrutura de classe masculina e o sistema de valores masculinos.
Então poderemos continuar a criar a sociedade ginocentrada que nós já começamos. Nós devemos agir
agora, porque nós reconhecemos o heteropatriarcado racista pelo que ele é; nós devemos ‘’torná-lo
inofensivo e… ver como alguém vive sem isso.’’ (22)

Lésbicas e nossa libertação são, ou deveriam ser, as considerações mais importantes em


nossas vidas. Atribuir a nós Mesmas e cada uma das outras menor valor é um perigo a nós todas.
Notas

1. Julia Penelope, “O Mistério das Lésbicas: IL” Éticas Lésbicas 1:2 (1985), p. 53.
2. É impossível não considerar o patriarcado tão racista quando lesbofóbico. Portanto, eu tive que
escolher expandir o insight original que Julia Penelope teve quando ela cunhou o termo
heteropatriarcado, que eu encontrei primeiro no artigo dela, ‘’Estamos reivindicando o passado DE
QUEM?” Vidas Comuns, Vidas Lésbicas 13 (Autumn 1984), p. 19.
3. A Inquisição na Europa tem sido referida por Starhawk como Os Tempos Ardentes. A verdade é que
desde o começo do heteropatriarcado racista, os corpos, mentes e espíritos das mulheres têm sido
imolados nas piras de morte falocráticas. A evidência da queima de mulheres é global porque a
falocracia é global.
4. bell hooks, Teoria Feminista: Da Marginalidade ao Centro (Boston: South End Press, 1984), p. 73.
5. ibid., p. 77.
6. Embora esse insight/incito esteja ao redor do movimento Feminista há algum tempo, isso é sempre
Original. Entre aquelas que des-cobriram está Anna Lee em seu artigo, ”Uma Negra Separatista”,
Visões Internas 5:3 (1981), p. 31.
7. Um termo que eu cunhei para mostrar como a exploração de todas as mulheres pelos homens está
conectada à economia que mantém a heterossexualidade como o ”estandarte” e força as mulheres a
permanecerem em relações com homens.
8. Jeffner Allen, “Economias Lésbicas.” Trivia 8 (Winter 1986), p. 40.
9. Alison Jaggar, Políticas Feministas e Natureza Humana (Totowa: Rowman e Allanheld, 1983), p.
296.
10. Eu não escrevi propositalmente ‘’Judia’’. Isso não foi feito por desrespeito às Sapatas Separatistas
Judias, mas para incluir nossas irmãs árabes que são Lésbicas Separatistas.
11. Jaggar, Ibid.
12. Allen, p. 49.
13. Eu não estou propondo nenhuma forma de mobilidade ‘’descendente’’. Quando mulheres estão
ganhando 65 centavos para cada dólar que os homens ganham, quando mulheres graduadas ganham
MENOS que homens educados até a oitava série, quando mulheres não podem conceder o dia para
cuidarem de crianças pequenas, quando é estimado que no ano 2000, virtualmente todos os pobres
serão MULHERES E CRIANÇAS, nós não somos móveis ‘’descendentes’’. Nós somos IMÓVEIS!
14. Um ponto pessoal/político. Depois de trabalhar em uma grande variedade de restaurantes nos
últimos anos, eu fiz esta observação: Embora muitos homens trabalhem em restaurantes, eles
geralmente não trabalham nos restaurantes sujos ou de fast-food. Como restaurantes se tornaram mais
‘’chiques’, atendendo à clientela que eles querem atrair, homens são vistos nesses estabelecimentos
como empregados, onde o pagamento, benefícios e oportunidades de avanço são bem melhores. As
mulheres nunca são vistas como empregadas nesses restaurantes. VOCÊ apoia esse caso de opressão
comendo nesses restaurantes?
15. Christina Thurmer-Rohr. ‘’Da Decepção à Não-Decepção: Sobre a Cumplicidade das Mulheres’’.
Trivia 12 (Spring 1988), p. 69.
16. Ver a discussão de Jeffner Allen sobre o ódio aos homens no ensaio dela, ‘’Recordando: Um Dia Eu
Serei Meu Próprio Começo’’. Em seu Filosofia Lésbica: Explorações (Palo Alto: Instituto de Estudos
Lésbicos, 1986), pp. 19-24.
17. Marilyn Frye, “Algumas Reflexões sobre Separatismo e Poder.” Em seu A Política da Realidade:
Ensaios sobre Teoria Feminista (Trumansburg: The Crossing Press, 1983), p 98.
18. Eu ouvi pela primeira vez sobre as vidas das mulheres Masai em um filme que eu vi em uma aula
de sociologia do gênero em Abril de 1985. O compromisso delas é o compromisso de muitas mulheres
em todo o mundo, incluindo na América, onde as mulheres mais velhas, depois de fazerem muitos
sacrifícios para criarem seus filhos e manter a casa, frequentemente se encontram com nada para
mostrar de seu trabalho duro, especialmente se seus maridos morrem ou se divorciam delas. Há
também uma história interessante contada sobre a propriedade masculina do gado. Na história pré-
patriarcal, as mulheres eram proprietárias do gado e eram responsáveis por tomarem todas as decisões.
Mas veio uma seca durante o verão e matou todo o gado. Quando elas estavam aptas a reabastecer o
gado, os homens tiraram tudo das mulheres, desde as posições de responsabilidade à propriedade do
gado. Aqui nós temos mais evidências que não vivemos sempre em uma sociedade patriarcal. Ainda o
fato de que essa história, atribuindo culpa às mulheres por um desastre natural, foi contada por uma
mulher mostrando a cumplicidade feminina em justificar e manter as mentiras e controle masculino.
19. Gerda Lerner, A Criação do Patriarcado (Nova York: Oxford Univ. Press, 1986), p. 217.
20. Ver Mary Daly, Luxúria Pura: Filosofia Feminista Elementar (Boston: Beacon Press, 1984), p. 206-
7, para a discussão dela sobre as paixões e conhecimento das mulheres e como elas foram fragmentadas
e dissipadas pelo heteropatriarcado racista.
21. Susan Cavin, Origens Lésbicas (São Francisco: Ism Press, 1985), p. 153.
22. Thurmer-Rohr, p.. 74.

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