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Universidade Estadual de Maringá – UEM

Maringá-PR, 9, 10 e 11 de junho de 2010 – ANAIS - ISSN 2177-6350


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MEMÓRIA E IMAGINÁRIO EM VIRGÍNIA VENDRAMINI: O SENTIDO DA


ARTE E O PROJETO POÉTICO-PLÁSTICO

Antonio Donizeti da Cruz (UNIOESTE)

Para o poeta Octavio Paz, a poesia é a Memória feito imagem e convertida em outra
voz. A poesia é sempre a “outra voz”, porque “é a voz das paixões e das visões; é de outro
mundo e é deste mundo, é antiga e é de hoje mesmo, antiguidade sem datas” (1993, p.
140). No dizer de Paz, os poetas têm sido a memória de seus povos, pois “cada poeta é uma
pulsão no rio da tradição, um momento da linguagem. Às vezes os poetas negam sua
tradição mas só para inventar outra” (1993, p. 108-109). A invenção lírica se projeta do
presente para o futuro. O poeta é ciente de sua tarefa: ser elo da corrente, uma ponte entre
o ontem e o amanhã. Entretanto, no findar do século XX, ele “descobre que essa ponte está
suspensa entre dois abismos: o do passado que se afasta e o do futuro que se arrebenta. O
poeta se sente perdido no tempo” (PAZ, 1982. p. 69). Nesse sentido, ao recriar sua
experiência, leva avante um passado que é um futuro. O tempo possui uma direção, um
sentido, ou seja, “ele deixa de ser medida abstrata e retorna ao que é: concretude e dotado
de direção. O tempo é um constante transcender” (PAZ, 1982. p. 69).
A função essencial do tempo na estruturação da imagem do mundo reside, conforme
Octavio Paz, no fato de que o homem, dotado de uma direção e apontando para um fim, faz
parte de um processo intencional (1991, p. 97). Os atos e as palavras dos homens são feitos
de tempo. Assim, a cronologia está fundamentada na própria crítica. Já a poesia é tempo
revelado, isto é, o enigma do mundo que se transforma em “enigmática transparência”. O
poeta diz o que diz o tempo, até quando o contradiz, pois ele é capaz de nomear o
transcorrer, e ainda, “torna palavra a sucessão” (PAZ, 1991, p. 98).
A poesia é potência capaz de dar sentido à vida. Ao buscar a essência da linguagem,
o artista realiza o poder mágico através das palavras enquanto mediação, comunicação e
exercício de construção de sentidos.
Para o filósofo Gaston Bachelard, o homem sonha através de uma personalidade de
uma memória muito antiga. Ele mira-se em seu passado, pois toda imagem para ele é
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lembrança. “As verdadeiras imagens são gravuras. A imaginação grava-as em nossa


memória. Elas aprofundam lembranças vividas, deslocam-nas para que se tornem
lembranças da imaginação” (1993, p. 181, p. 13. Grifo do autor). Nesse sentido, memória
e imaginação não se deixam dissociar, ou seja, ambas trabalham para o aprofundamento
mútuo. Elas constituem, na ordem dos valores, uma união da lembrança com a imagem.
“Uma memória imemorial trabalha numa retaguarda do mundo. Os sonhos, os
pensamentos, as lembranças formam um único tecido. A alma sonha e pensa, e depois
imagina” (BACHELARD, 1993, p. 181).
Conforme Bachelard, os poetas ordenam suas impressões associando-as a uma
tradição. O mundo é um espelho do nosso tempo e também a reação das nossas forças, isto
é, “se o mundo é a minha vontade, é também o meu adversário” (1989a, p. 165-166).
Resulta desse embate a compreensão do mundo mediante a surpresa das próprias forças
incisivas, nas quais consistem as renovações, pois é através da imaginação que o homem se
situa frente ao “mundo novo”, cujos detalhes predominam sobre o panorama, decorrendo
daí a expressão: “uma simples imagem, se for nova, abre o mundo” (1993, p. 143).
Gilbert Durand salienta que a memória tem “o caráter fundamental do imaginário,
que é ser eufemismo, ela é também, por isso mesmo, antidestino que se ergue contra o
tempo” (1997, p. 405. Grifo nosso.). É ainda “poder de organização de um todo a partir de
um fragmento vivido”. Essa potência “reflexógena” é “o poder da vida”, que por sua vez, é
capacidade de reação, de regresso. A organização que faz com que uma parte se torne
“dominante” em relação a um todo é a negação da capacidade de equivalência irreversível
que é o tempo. Por isso, a memória – bem como a imagem – é a magia dupla “pela qual um
fragmento existencial pode resumir e simbolizar a totalidade do tempo reencontrado”
(1997, p. 403). O ato reflexo é ontologicamente esboço da recusa fundamental da morte.
Longe de estar do lado do tempo, “a memória, como o imaginário, ergue-se contra as
faces do tempo e assegura ao ser, contra a dissolução do devir, a continuidade da
consciência e a possibilidade de regressar, de regredir, para além das necessidades do
destino” (DURAND, 1997, p. 403).
Para Gilbert Durand, “a memória, longe de ser intuição do tempo, escapa-lhe no
triunfo de um tempo ‘reencontrado’, logo negado. [...]. Longe de estar às ordens do tempo,
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a memória permite um redobramento dos instantes e um desdobramento do presente”


(1997, p. 401-402. Grifo do autor). Assim, ela tem o poder de dar “espessura inusitada ao
monótono e fatal escoamento do devir, e assegura nas flutuações do destino a sobrevivência
e a perenidade de uma substância” (1997, p. 402).
Ao realizar uma comparação entre a nostalgia da experiência infantil e a nostalgia do
ser, Gilbert Durand afirma que,

A memória pertence de fato ao domínio do fantástico, dado que organiza


esteticamente a recordação. É nisso que reside a ‘aura’ estética que nimba
a infância; a infância é sempre e universalmente recordação da infância, é
arquétipo do ser eufêmico, ignorante da morte, porque cada um de nós foi
criança antes de ser homem... Mesmo a infância objetivamente infeliz ou
triste de um Gorki ou de um Stendhal não pode subtrair-se ao
encantamento eufemizante da função fantástica. A nostalgia da
experiência infantil é consubstancial à nostalgia do ser. [...] qualquer
recordação da de infância, graças ao duplo poder de prestígio da
despreocupação primordial, por um lado, e, por outro, da memória, é de
imediato obra de arte. (DURAND, 1997, p. 402)

Essa afirmativa de Durand pode ser verificada nos textos de Virgínia Vendramini,
quando aborda a temática da infância enquanto fator não só de (re)memorização nostálgica
do passado, mas também como desdobramento de imagens que convergem para esse
período da vida, pois os elementos catalisadores – infância e memória – dão formas
estéticas à relação e confluências com e na própria obra de arte literária.
Frente às “faces do tempo” e à cristalização da “memória”, o homem se vê isolado,
ilhado, mesmo estando rodeado por uma multidão. Mergulhado em um mundo de imagens e
realidades que dão uma configuração à própria vida, ele é sabedor da sua condição
existencial: a solidão habita a sua vida. Ou seja, ela é experiência viva que se concretiza não
só enquanto recolhimento, mas, acima da tudo, como sentimento intrínseco frente à
sensação de isolamento e vazio vivenciado pelo sujeito humano.
Em Amor, poesia, sabedoria, o filósofo Edgar Morin define a poesia como amor,
estética, gozo, prazer, participação e, principalmente, vida (1998, p. 59). Ela é, igualmente,
a manifestação de possibilidades infinitas da indeterminação humana. Já a criação poética
tem o poder de reativar os conceitos analógicos e mágicos do mundo e, também, despertar
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as forças adormecidas do espírito, com o intuito de reencontrar os mitos esquecidos. Para o


filósofo, a poesia não é somente um modo de “expressão literária”, mas um “estado
segundo” vivenciado pelo sujeito e que deriva da participação, da exaltação, embriaguez e,
acima de tudo, “do amor, que contém em si todas as expressões desse estado segundo. A
poesia é liberada do mito e da razão, mas contém em si sua união” (MORIN, 1998, p. 9).
Essas duas forças são capazes de realizar a grande transformação vital, quer dizer, o amor
se liga à “poesia da vida”. O filósofo ainda complementa:

A vida é um tecido mesclado ou alternativo de prosa e poesia. Pode-se


chamar de prosa as atividades práticas, técnicas e materiais que são
necessárias à existência. Pode-se chamar de poesia aquilo que nos coloca
num estado segundo: primeiramente, a poesia em si mesma, depois a
música, a dança, o gozo e, é claro, o amor. (MORIN, 1998, 59-60)

Em relação à figura do poeta, Morin destaca que este é portador de uma


competência plena, “multidimensional”, pois sua mensagem poética tem a capacidade de
reanimar a “generalidade adormecida”, ao mesmo tempo em que “reivindica uma harmonia
profunda, nova, uma relação verdadeira entre o homem e o mundo” (1998, p. 158).
A linguagem poética é por natureza diálogo. É social porque envolve quem fala e
quem ouve. A palavra que o poeta inventa é a de “todos os dias” e faz parte de nosso ser,
quer dizer, “são nosso próprio ser. E por fazerem parte de nós, são alheias, são dos
outros: são uma das formas de nossa ‘outridade’ constitutiva. [...] A palavra poética é a
revelação de nossa condição original porque por ela o homem, na realidade, se nomeia
outro, e assim ele é ao mesmo tempo este e aquele, ele mesmo e o outro” (PAZ, 1982, p.
217).
Memória e imaginação poética estão interligadas na obra de Virgínia Vendramini.
Com suas voz lírica singular, a poeta elabora seus textos/poemas dando-lhes sentidos,
formas e um colorido singular, que exprimem um “sentimento do mundo”, em que fica
evidente a temática social edificada no poder das palavras e na força da linguagem poética.

A Artista da Palavra e das Cores


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A artista-poeta Virgínia Vendramini nasceu em Presidente Prudente (SP). Foi para o


Rio de Janeiro aos dezesseis anos, para estudar no Instituto Benajamin Constant, escolar
especializada na educação de Portadores de Necessidades Especiais (cegueira). Cursou, em
seguida, Português e Literatura na Universidade Gama Filho. Tem quatro livros publicados:
Rosas não (1995); Primavera urbana (1997); Hora do arco-íris (1998), que recebeu o
Prêmio Murilo Mendes no Concurso Livros Inéditos. Em 1999 publica Matizes. Escreve
desde a juventude e preocupa-se mais com a expressão do sentimento do que com os
aspectos da métrica e da rima. Cria e confecciona tapetes que expõe em mostras coletivas e
individuais. Seu trabalho com cores e formas está baseado na memória que guarda dos anos
de infância, quando ainda tinha um “pequeno resíduo de visão” (in Matizes, 1999).

Redes de imagens poéticas: palavra e memória lírica

Memória e imaginação poética são as forças que movimentam os poemas, as


pinturas e as imagens dos tapetes confeccionados por Virgínia Vendramini, pois através das
reminiscências, o sujeito lírico recorda o tempo da infância, no qual centra as suas
aspirações mais ternas. No texto, memória e imaginário são forças mediadoras e potências
capazes de interligar os fatos, as pessoas e suas ações e as coisas do mundo.
Os poemas de Virgínia Vendramini registram as sutilezas de um fazer poético
embasado na força da linguagem, na memória e na concretização de um dizer que aponta
para imagens visuais, claras, momentos de observação atenta de um eu em sintonia com o
mundo circundante.
Virgínia Vendramini, no poema “Gula”, do livro Matizes, faz um contraponto entre
passado e presente, em que o eu lírico rememora o tempo distante, das coisas mais ternas e
“doces” da infância:

Ainda guardo na boca


O gosto de fruta verde
Comida quente do sol.
Não havia defensivos...
Apenas um pouco de pó...
Bicadas de passarinhos...
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Ainda guardo a cobiça


Pelas mangas e goiabas
Distantes de minha gula.
Belas, nos galhos mais altos...
E guardo no corpo inteiro
Fome e sede insaciáveis
Das coisas doces da infância,
Delícias que são saudades.
(VENDRAMINI, 1999, p. 14)

A memória é a tônica que movimenta o poema, pois através das reminiscências, o


sujeito lírico recorda o tempo da infância, no qual centra as suas aspirações mais ternas. No
texto, o tempo e a memória são forças mediadoras e potências capazes de interligar os
fatos, as pessoas e suas ações, bem como as coisas do mundo.
O texto “Fósforos de cor” apresenta o tema da infância e das reminiscências, em que
as palavras ganham um colorido marcante mediante à memória lírica do sujeito da
enunciação:

Na sombra amiga da noite fria


Pequena chama verde-azulada,
Cintilações vermelho-douradas.
E chuva de estrelinhas de prata.

Um palito riscado... um outro...


Segundos de cor e claridade,
Luminosos cenários de sonhos
Depressa desfazendo-se em nada.

Ficava tão diferente o mundo


À luz dos fósforos coloridos...
Mas o tempo mudou os brinquedos,
Deixou as sombras, levou os sonhos...
(VENDRAMINI, 1999, p. 12)

Através das reminiscências, o sujeito lírico recorda o tempo da infância, no qual


centra as suas aspirações mais ternas em contraponto ao momento de reflexão sobre o
passado. O tempo e a memória são forças capazes de interligar os fatos, as pessoas e as
aspirações do eu-lírico em relação às mudanças vividas e as experiências pessoais. O tempo,
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nos versos de Vendramini, aparece de maneiras distintas: tempo existencial e tempo da


memória. Ao historicizar e (re)presentificar o tempo vivido, o sujeito poético mostra que,
enquanto processo de transição, a temporalidade e a historicidade dos fatos e
acontecimentos são matérias de preocupação embasadas nas circunstâncias da vida concreta
e do mundo imaginário.
No poema intitulado “Em tom menor”, evidencia-se o tema da memória relacionado
à imagem do piano antigo, que ficou gravado somente na memória. Ao contrapor o tempo
passado com o momento presente, o eu-lírico relembra com nostalgia as canções de
outrora:

No silêncio do piano antigo


Que perdura apenas na memória
A saudade se exercita em notas tristes
Nas escalas em tom menor.

Depois a melodia simples


Dedilhada devagar, ao acaso,
Entre pausas e compassos de espera,
Busca harmonia na perfeição do acorde.

E no silêncio do piano antigo


Que só ressoa na memória
A saudade repete incessante
Suas canções prediletas...
Amor – seu eterno tema.
(VENDRAMINI, 1999, p. 32)

O ato de recordar é elemento inerente ao fazer poético. Ao descrever


acontecimentos vivenciados em um tempo pretérito, o sujeito lírico rememora os
acontecimentos que ficaram distanciados, mas que no momento presente o sujeito da
enunciação reaviva na memória o conhecimento anterior e vivências de um tempo que faz o
eu lírico sentir saudade das coisas e acontecimentos que ficaram distante no tempo, ao
relembrar as canções prediletas ouvidas no piano. O “tom menor” aponta para as notas
tristes e para o silêncio do piano.
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A imagem do piano “sempre calado”, também aparece nos versos do poema


“Móveis e utensílios”, em que privilegia-se as imagens do tempo e as reminiscências do
sujeito lírico:

Sala de jantar em madeira escura


Com flores e com frutas entalhadas,
Cristaleira plena de porcelanas
Para serem vistas, jamais usadas.

Havia um piano sempre calado


E muitos álbuns de fotografia...
Nas estantes quantos livros fechados,
Com leitura que a Igreja proibia...

Havia bibelôs, estatuetas,


Um carrilhão que nunca se calava,
Anunciando nos quartos de hora
Que o tempo urgia, que a vida passava...

Minhas lembranças passeiam incautas


E tropeçando em vasos de saudade,
No corredor escuro da memória
Vou derramando em versos minha história...

História simples de uma casa antiga


Que abrigou sonhos, mágoas e brinquedos...
Casa velha que se perdeu no outrora,
Mas que dentro de mim vive em segredo.
(VENDRAMINI, 1999, p. 47)

As imagens presentes no poema – mediante as múltiplas categorias de percepção do


mundo – instauram uma operacionalização que remetem para uma (re)memorização dos
acontecimentos passados. As imagens da casa antiga, com seus móveis e utensílios, se
justapõem às lembranças do momento presente, vivenciadas pelo eu lírico, que constrói sua
história a partir das sensações que afloram mediante as lembranças que “passeiam incautas”
e tropeçam em “vasos de saudades, como diz o sujeito da enunciação. O olhar que se volta
para as rememorações vividas anteriormente acentua o poder das imagens e seu poder de
simbolização, pois no dizer de Jean Davallon, “a imagem é antes de tudo um dispositivo
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que pertence a uma estratégia de comunicação: dispositivo que tem a capacidade, por
exemplo, de regular o tempo e as modalidades de recepção da imagem em seu conjunto ou
a emergência da significação” (DAVALLON. In: PAPEL da memória, 1999, p. 30. Grifo
do autor). Constata-se, que as afirmações do autor vão ao encontro das correspondências
imagéticas que aparecem no texto de Vendramini. As imagens, presentes no texto, têm o
poder de (re)configurar os acontecimentos a partir de uma observação atenta do sujeito
poético, que registra o seu “estar no mundo” ao “rememorar o passado”. Daí a força da
imagem enquanto “um operador de memória no seio de nossa cultura” (1999, p. 30), como
afirma Davallon.
Na criação literária a poeta Virgínia Vendrami (re)inventa mundos e dá sentido à
vida através das palavras. Assim, a palavra-memória é uma força que impulsiona a poeta a
atingir seus sonhos, objetivos e realizações.
Palavra poética e memória são elementos basilares na poesia de Virgínia
Vendramini. Ao elaborar uma poiesis alicerçada em um mundo de (re)significações, a poeta
realiza um fazer poético direcionado à condição humana e ao sentido de transitoriedade.
Os textos de Virgínia Vendramini – lapidados no cinzel da memória – instauram um
procedimento poético em que a palavra poética tem o poder de despertar no leitor uma
atenção voltada para as coisas mais simples, sensíveis, pois a linguagem é sinal de vida e
permanência.

Referências

BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaios sobre a imaginação da matéria. São


Paulo: Martins fontes, 1989a.
BACHELARD, Gaston. A chama de uma vela. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989b.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
BORGES, Jorge Luis. Esse ofício do verso. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
BOSI, Ecléa (1994) Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia
das Letras.
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DAVALLON, Jean. A imagem, uma arte da memória? In: PAPEL da memória / Pierre
Achard... [et al.]; tradução e introdução de José Horta Nunes. Campinas, SP: Pontes, 1999.
DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à
arquetipologia geral. Trad. Hélder Godinho. São Paulo: Martins Fontes, 1997 (Ensino
Superior).
MORIN, Edgar. Amor, poesia, sabedoria. Trad. Edgard de Assis Carvalho. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1998.
PAZ, Octavio. O arco e a lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982
(Coleção Logos).
PAZ, Octavio. Convergências: ensaios sobre arte e literatura. Trad. Moacir Werneck de
Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
PAZ, Octavio. A outra voz. São Paulo. Siciliano, 1993.
ROSA, António Ramos. O conceito de criação na poesia moderna. COLÓQUIO/LETRAS,
Lisboa, n. 56, julho, 1980.
VENDRAMINI, Virgínia. Matizes. Maricá, RJ: Blocos, 1999.
_____. Primavera urbana. Rio de Janeiro: Blocos, 1997.
_____. Rosas não. Rio de Janeiro, 1995.

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