No Brasil, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que
estabeleceu o direito à educação para todas as pessoas, é observado, de forma
mais recorrente, a publicação de uma série de aparatos legais que tratam da inclusão escolar, social e laboral de pessoas em situação de deficiência. Esses textos normativos foram também inspirados em documentos internacionais como Declaração Universal dos Direitos Humanos, Declaração Mundial sobre Educação para Todos e a Conferência Mundial sobre as Necessidades Educacionais Especiais.O direito de todas as pessoas à educação foi inicialmente concebidopela Declaração Universal de Direitos Humanos efortemente reconfirmadopela Declaração Mundial sobre Educação para Todos,que teve como objetivo primordial a revitalização do compromisso mundial de educar todos os cidadãos do planeta para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem e desenvolvimento pleno das potencialidades humanas.Reafirmando o compromisso com a Educação para todos, foi realizada a Conferência Mundial sobre as NEE,em Salamanca, Espanha, no ano de 1994, onde se reconheceua urgente necessidade de incluir crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Essa ação política visou garantir oacesso, a permanênciae o sucesso de alunos com deficiência nos sistemas de ensino regular. Inspirada nos supracitados documentos, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 1996) orienta as escolas a adotarem currículos, métodos, recursos e organizações específicas para atender às necessidades de cada aluno,assegurando terminalidade específica e garantindo o Atendimento Educacional Especializado (AEE) preferencialmente na rede regular de ensino. Em consonância com esse documento, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, publicada em 2001, afirma, que os sistemas de ensino
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica, por exemplo, revela que o docente deve ter conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos, aí incluídas as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais e as das comunidades indígenas. (RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, 2002).
O desafiante contexto de escolarização de alunos com TEA nos mostra a
necessidade de práticas escolares e formação de professores que diminuam o distanciamento entre teoria e prática, entre o conhecimento acadêmico produzido e a realidade da pratica educativa
A trajetória escolar de sujeitos em situação de deficiência, entre eles os com TEA,
foi marcada por um histórico de estigmatização, desigualdade de oportunidades e desvalorização humana. Esse fenômeno sugere a existência de falhas sócio- políticos-educacionais causadoras de uma constante situação de desvantagem desses indivíduos frente àcompetição escolar
Essas falhas envolvem um amplo conjunto de valores comuns e de propósitos que
estão subjacentes ao currículo e ao trabalhodas escolas. Dentre esses se destacama ausência de planejamento, de adaptação curricular específica para os alunos em situação de deficiência e o empobrecimento do currículo escolar (NOZI E VITALIANO, 2012; MENDES, 2006).É como se as escolas tivessem consagrado uma prática de planejamentos burocráticosesvaziados de sentido (SOUZA, 2008),que seguem a prescrição de documentos oficiais. Como consequência, na maioria das vezes, falham em atender as reais necessidades individuais dos alunos.
É recomendado que os currículos escolares brasileiros sigamos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) e, baseado nestes, definam objetivos para cada etapa de escolarização. Considerando a heterogeneidade dos educandos, o currículo deve propor métodos de ensino e organização que apoiem objetivos direcionados a cada aluno. Alguns estudos têm defendido que intenções educacionais mais individualizadas podem atender às demandas específicas de educandos em situação de deficiência, tornando o currículo escolar mais acessível para eles (PLETSH ET AL.,2011; PLETSCH E GLAT, 2012; GLAT, 2012).
Essa individualização não consiste na segregação do ensino, ou de criar um
currículo à parte, mas de transpor estratégias de ensino e aprendizagem mais coerentes com as necessidades educacionais de cada sujeito. Para a efetivação desta prática é necessário um instrumento de individualização que pressuponha 51planos sistemáticos de diferenciação de métodos e estratégias de ensino contextualizadas, possibilitadores de participação e apropriação dos bens culturais desenvolvidos na escola.
Nesse contexto, a literatura nacional e internacional tem apontado o Plano
Educacional Individualizado (PEI) como um instrumento otimizador do ensino e aprendizagem de estudantes em situação de deficiência. (PACHECO ET AL, 2007; VELTRONE, 2011; VALADÃO, 2011; PLETSCH E GLAT, 2012; GLAT ET AL, 2012; LYNCH E ADAMS, 2008; RUBLE ET AL, 2010; MITLER,2003; SMITH,2008 ). O PEI é definido como um recurso pedagógico, centrado no aluno, elaborado colaborativamenteeque estabelece metas acadêmicas e funcionais aos educandos com deficiência. Os planos podem ser de longo ou curto prazo,precisando ser avaliados pelo menos três vezes ao ano ou quando os participantes acharem necessário(SMITH, 2008)
O PEI é considerado uma proposta de organização curricular que norteia a
mediação pedagógica do professor, assim como desenvolve os potenciais ainda não consolidados do aluno. O registro ou mapeamento do queo sujeito já alcançou e o que ainda necessita alcançar é fundamental para que se possa pensar o que vai ser feito para que ele atinja os objetivos traçados
A elaboração de um PEI pode ser uma oportunidade importante para exercer um
trabalho colaborativo entre professores, pais, alunos, funcionários e especialistas. Os pais têm fundamental importância em todo o processo,pois, conhecendo melhor os filhos, podem ajudar a encontrar soluções favoráveis às demandas específicas destes sujeitos. Quando todos são corresponsáveis pela 54elaboração e execução do PEI os vínculos entre família, professores e especialistas são fortalecidos
O PEI, conforme previamente discutido, pode ser considerado uma espécie de
mapa educacional para os alunos com necessidades educacionais especiais em idade escolar. Ele descreve, essencialmente, o nível atual de desempenho do aluno; as metas e os objetivos educacionais de curto prazo, contextualizados com o currículo do ensino regular; as modificações das avaliações; a oferta de serviços educacionais específicos para possibilitar a participação no currículo da escola regular; a expectativa de duração das atividades; e como o desempenho do aluno será mensurado e informado aos pais.