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Waly Dias Salomão
(Jequié, 3 de setembro de 1943 Rio de Janeiro, 5 de maio de 2003).
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Hoje
Waly Salomão
Hoje...
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Fábrica do Poema
Waly Salomão
sinédoques, catacreses,
metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
sumidos no sorvedouro.
não deve adiantar grande coisa
permanecer à espreita no topo fantasma
da torre de vigia.
nem a simulação de se afundar no sono.
nem dormir deveras.
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará o recalcado?
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por demais definida, de sintomatologia cerrada:
assim numa operação de supressão mágica
vou rasurá-la daqui do poema)
pois a questão-chave é:
sob que máscara retornará?
"Poema jet-lagged"
Waly Salomão
Eu e Outros Poemas
Waly Salomão
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e pessimismos,
iluminismos e trevas,
ilustração e paródia.
Devenir, devir
Waly Salomão
Término de leitura
de um livro de poemas
não pode ser o ponto final.
Meta desejável:
alcançar o
ponto de ebulição.
Morro e transformo-me.
Leitor, eu te reproponho
a legenda de Goethe:
Morre e devém
Morre e transforma-te.
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Novelha cozinha poética
Wally Salomão
Areia
Pedra
Ancinho
Jardins de Kioto
Sapo
Vaga-lume
Urutau
Estrela
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Anacreonte
Fragmentos de Safo
Hinos de Hörderlin
Odes de Reis
El jardín de senderos que se bifurcan
Jardim de Epicuro
Éden
Agulhas imantadas & frutas frescas para a vida diária.
Amante da Algazarra
Waly Salomão
Janela de Marinetti
Waly Salomão
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e, louco, sorvia a vida a talagadas de cachaça
de alambique.
graveto-do-cão pitu luar do sertão.
uma ponte corta um rio de fazer contas.
arco e flecha de Sultão das Maltas
mira certeira as ventas do dragão lá na lua.
uma seta e um nome tupi de cidade em uma placa
- é, é, jequi, cesto oblongo de cipó pra pegar peixe
n'água, é, é. -
e a rua de paralelepípedo e a rua de chão batido
e a outra rua metade paralelepípedo metade chão batido
lembra jurema pé de joá cacto mandacaru.
o anúncio ditava:
..."a farmácia estreita da rua larga"...
abro
minha caixa de amor e ódio
abuso
da enumeração evocativa,
desando a disparar:
rua alves pereira...
rua apolinário peleteiro...
rua do cochicho...
distingo bem o caroço duro de umbu chupado
da bostica, da bostiquinha redondinha
que nem biscoito de goma
que a cabra da caatinga fabrica.
de pouco vale agora essa sabença.
o chão e tudo é só paisagem calcinada
e tela deserta e miragem e cena envidraçada.
janela de marinetti
sem vista panorâmica
me lixo pro louvre da vitória de samotrácia
apois aposto na corrida futurista da preá
pego carona na rasante de um urubu
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diviso lajedo molhado espelhando umbuzeiro gravatá.
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Cidade-Sol.
Heliópolis,
Baalbeck
da minha infância desterrada.
in Algaravias, Editora 34
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Exterior
Waly Salomão
Mal Secreto
Waly Salomão
Não choro
Meu segredo é que
Sou rapaz esforçado
Fico parado calado quieto
Não corro, não choro, não converso
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Já sei sofrer
Não choro
Meu segredo é que
Sou rapaz esforçado
(Poema musicado por Jards Macalé, LP Fatal, Gal a todo Vapor – Show gravado ao vivo, 1971)
Lausperene
Waly Salomão
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esplende em flor.
Seu nome: Cabral.
Nome de descobridor.
SENHOR DOS SÁBADOS
Waly Salomão
Uma noite
noites
noites em claro
noites em claro não matam ninguém
mas é claro, perdi a razão
gritei seu nome por toda a parte
do edifício em vão
quebrei vidraças da casa
estilhaços de vidro espatifados no chão
risquei paredes do apartamento
com frases roucas de paixão
ah que noche mas nochera
ah que noche mas ...
Dentro da escuridão do quarto
rasguei no dente seu retrato
minha alma ardia meu bem...
Volte cedo
antes que acenda a luz do dia
apague meu desejo num beijo
bem bom
meu bem volte cedo meu bem volte bem cedo
OUTROS QUINHENTOS
Waly Salomão
Abr’olhos !
Apuro juízo e vista :
em matéria de previsão eu deixo furo
futuro, eu juro, é dimensão
que não consigo ver
nem sequer rever
isto porque no lusco-fusco
ora pitombas!
minha bola de cristal fica fosca
mando bala no escuro
acerto tiro na boca da mosca
outras tantas giro a terra toda às tontas
dobro o Cabo das Tormentas
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rebatizo-o de Boa-Esperança
e nessa espécie de caça ao vento leviano
vou pegando pelo rabo
a lebre de vidro do acaso.
Por acaso,
em matéria de previsão só deixo furo
- o juízo e a vista apuro -
futuro, juro, d’imensidão q ignoro
abr’olhos
vejo bem no claro
turvo no escuro
minha vida afinal navega taliqual
caravela de Cabral
um marinheiro enfia a cara na escotilha
um grumete na gávea ziguezagueia e berra
sinal
de terra, terra ignota à vista !
tanto faz Brasil, Índia Ocidental Índia Oriental,
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Barroco
Waly Salomão
Entanto são
Ecos de ecos que se interpenetram
Partículas de ecos ocos, partículas de ecos plenos que se conectam
Aí cosmos são cagados, cuspidos e escarrados pelo opíparo caos
E o uso do adjetivo está correto
Pois que o caos é um banquete.
Fantasmas de óperas.
Ratos de coxias.
Atos truncados.
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TRILOGIA AO MODO ENVIESADO DE WALY SALOMÃO
Estética da recepção
Turris eburnea
serpes, serpentes
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ou de um extrapoemático elefante
são sedas
delicadezas
Suportar a vaziez.
Suportar a vaziez.
Suportar a vaziez.
Suportar a vaziez.
(Tarifa de embarque)
Tarifa de embarque
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Não te decepciones
ao pisares os pés no pó
camadas de folheados
da loja Samira;
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que guardas intacta na tua mente régia.
da ilha de Arward.
de filho de imigrante
Perambule
Perambule
(Tarifa de embarque)
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Falax opus
Obra enganadora
Como se fosse dialogando com Zé Celso Martinez Correia
Chego e constato:
Teatro é ato
Ícaro caído
Dos refletores
Caricatura de Ícaro
Sapecado
- Aonde eu entro?
Onde eu entro?
- No entreato
No entreato
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No entreato
(Armarinho de miudezas)
Em louvor de Propertius
Waly Salomão
Agora
Um olhar que passa
E perpassa sobre as coisas
Indolente como um gato persa
piômana majestade
potestade oriental.
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