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ateliê experimentação /escrita/

atividade dia 1:

● apresentar o conceito de flânerie


● apresentar jonas mekas e trechos
● música e exercício de composição
● leituras
● proposta de fotografia

flânerie

com a morte de Vitor Hugo (pai do verso) se instaura uma crise do verso.

antes mesmo, baudelaire, lança ​pequenos poemas em prosa​.

poema em prosa --- escreve o desaparecimento da poesia. seu modo de ser é aquele do
ser comum, banal. ​espécie de manifesto​, contra a poesia em verso e pela introdução do
que antes estava excluído pelo código poético.

surge uma dificuldade de definição de gênero, pois ​não há definição fechada e fixa. ​mas
é, sobretudo, uma prosa que se liberta do uso sistemático das cadências, da métrica, da
harmonia, das rimas, das imagens ornamentadas e do vocabulário rígido

objetivo​: encontrar um novo instrumento poético e de forjar uma prosa ritmada que
expresse o lirismo que o verso não contém mais.

busca​: do novo. e isto será encontrado no cotidiano, na modernidade da vida. pois é deles
que é revelado o surpreendente. ​sempre uma descrição de uma vida moderna e mais
abstrata, franca.

spleen de paris (baudelaire) = ​caleidoscópio ​(kalos - belo; eidos - imagem; scopeo -


observar).

é uma​ prosa de fotogramas

flânerie: ​“ a maioria dos homens passeia por paris como se alimenta, como vive, sem
pensar no que está fazendo...vagar em paris! adorável e deliciosa existência! flanar é uma
ciência. passear é vegetar; flanar é viver”. balzac.

“Seu ​olho aberto e seu ouvido atento​ procuram coisa diferente daquilo que a multidão
vem ver”.

Uma ​embriaguez ​apodera-se daquele que, por um longo tempo, caminha a esmo pelas
ruas. A cada passo, o​ andar adquire um poder crescente
“O homem da multidão”

as grandes cidades são matéria prima desse poema em prosa sobre o cotidiano da
vida moderna, que só é possível ser criada a partir do suporte da flânerie.

tudo o que aconteceu potencialmente neste espaço é percebido simultaneamente. O


espaço pisca para o flâneur.

o homem que se sente olhado por tudo e por todos​, como um verdadeiro suspeito; de
outro, o​ homem que dificilmente pode ser encontrado​, o escondido.

A massa​ em Baudelaire. Ela ​se coloca como um véu diante do flâneur​ é o mais novo
alucinógeno do solitário​.

a grande matéria não é, aqui, o verso, ou a palavra, mas o caminhar.

jonas mekas - as i was moving ahead occasionally i saw brief glimpses of beauty

nascido na ​lituânia​, cineasta, poeta e artista. chamado, também, de ​“o padrinho do


cinema de vanguarda americano”​. 1949, ano em que Jonas Mekas e seu irmão Adolfas
chegam aos Estados Unidos. Lituanos, eles imigram para a América depois de passar
quatro anos em diferentes campos de trabalho. ​Assim que chegam aos EUA compram
uma câmera.

No cinema de Jonas Mekas há uma fusão entre o não-ficcional e a poesia, o


documentário e o experimental, o cinema e a literatura.

Jonas Mekas é um homem de seu tempo, e “seu tempo é hoje”​. Tem sua história
marcada pelo ​interesse no “novo”​. Desde o fim dos anos cinquenta, atravessando os
anos oitenta, Jonas Mekas assumiu para si o papel de ​garantir que o cinema
independente pudesse acontecer em Nova Iorque​, mesmo em situações mais adversas
como em épocas de censura, falta de dinheiro, falta de locais para exibição, etc., e se
tornou uma espécie de ​herói do underground​.

Realizando seus filmes praticamente sozinho (captação, montagem, sonorização), ​filmando


sua própria vida e o mundo que o cerca, Jonas Mekas cria poemas audiovisuais,
quase sempre narrados por ele próprio em primeira pessoa, e se aproveita de
imperfeições da película (o que seria defeito para a maioria é para ele o que dá vida ao
filme), ​criando ​por vezes espécies de mantras audiovisuais, ​imagens de extrema força
poética.

Jonas Mekas filma o cotidiano e o transforma em algo extraordinário, e seus


principais temas giram em torno da retenção da memória.
Jonas ​Mekas registra as imagens que vê como um flâneur, que ao caminhar pelas
ruas sem destino, olha para o que lhe chamar mais atenção. Não sai as ruas com o
olhar direcionado, mas vaga com sua câmera, até que coisas passam por seus
olhos/câmera​, e então ele passa a reagir a essas “coisas”, que muitas vezes remetem a
lembranças. ​Mekas consegue captar desse modo o efêmero, o fugidio​. O cineasta
defende ainda que esse método de filmar, embora sustentado pela espontaneidade e
improvisação, não exclui a condensação ou seleção no momento em que filma, e ainda que
desse modo haveria a confirmação da vida e da liberdade.

“O cinema está entre os fotogramas”​, afirma Jonas Mekas no último rolo


do filme. Walden

Em diferentes trechos de Lost Lost Lost ouvimos ​Mekas expressar sua necessidade de
filmar todos os momentos de sua vida, tudo o que via. Em alguns momentos diz não
saber o porque, e em outros diz já ter perdido muito em sua vida, e que essa seria a
maneira de tentar reter suas lembranças. Mas ​é fato que a sua natureza propícia a
registrar os acontecimentos cotidianos, bem como sua vocação de flaneur, ficam
cada vez mais evidentes ao longo do filme, nos momentos em que as imagens de
praças, bosques, ruas e passeios ficam mais frequentes.

“Eu preferia gastar meu tempo anunciando o novo. Maiakovski


disse certa vez que há uma área da mente humana que pode ser
acessada somente através da poesia, e apenas através da poesia
que está desperta e é mutável. Poderia-se também dizer que há
uma área na mente (ou no coração) humana que apenas pode ser
acessada através do cinema, através daquele cinema que está
sempre desperto, sempre em mutação.”

No vídeo A Walk, de 1990​, durante um plano sequência de 58 minutos de duração, Jonas


Mekas anda pelas ruas do Soho, bairro de Nova Iorque. Sob uma chuva fina contínua,
Mekas comenta o que vê nos locais por onde passa, ou conta para os espectadores
pequenas histórias que surgem em sua mente enquanto caminha.

Sobre “​As I was moving ahead​”, Mekas escreveu: "Nesta exposição, como no meu
trabalho em geral, estou preocupado com a ​descoberta e celebração de pequenos e
insignificantes momentos ​pessoais da nossa vida, da minha vida, da vida de minha
família, da vida de meus amigos mais próximos; ​alegrias, comemorações, encontros,
pequenos acontecimentos diários, sentimentos, emoções, amizades.​"

“É minha natureza agora gravar. Para tentar preservar todas


as coisas que estou vivenciando... tentar preservar pelo
menos pedaços destas. Eu já perdi muito, então agora eu
tenho esses pedaços do que eu vivenciei.”

As cenas do mundo que chamam a atenção de Mekas não estão muito distantes das
que integram o repertório publicitário dos bancos de imagens que disponibilizam
imagens de felicidade adaptáveis para qualquer novo produto (seja ele um novo remédio
contra desarranjo intestinal ou um pacote de turismo). ​São imagens de crianças, passeios
no parque, piqueniques, pores do sol, flores, brincadeiras na neve. E no entanto nada
mais diferente. Não existe para Mekas algo como “as flores”, ou “a neve”, ou “a
infância”, cada flor, cada árvore sem folhas, cada indício do inverno parece renovar o
encanto de um primeiro encontro, e ele os registra com energia e desejo tal qual
nunca o houvesse feito antes.
Isso ​porque uma flor não vira uma imagem estável de flor, uma criança não vira uma
imagem de criança passível de substituir todas as outras imagens de criança. Seu
envolvimento é com o presente, com a experiência da flor ou da criança, ou que
circunda o momento em que ele os viu.

Nesses instantes é como se Mekas agisse como um fotógrafo, retirando do fluxo da vida (e
da vida do filme por vir) um pequeno fragmento para uma memória futura.
A pedido de Jacqueline Onassis, Jonas Mekas escreveu uma espécie de cartilha para que
os filhos da milionária aprendessem a filmar:

Exercícios no tempo
1.​ Filme uma árvore ao vento, por dez segundos, continuamente.
Filme uma árvore ao vento, em breves irrupções de quadros, com o
objetivo de condensar um minuto de tempo real em dez segundos
de tempo filmado.
Veja o que acontece.
2.​ Filme a face de uma pessoa, por dez segundos, continuamente.
Filme a mesma face, em breves irrupções, para ter dez segundos
de tempo filmado.
Veja o que acontece.
3.​ Filme uma chama (ou uma vela) por dez segundos. Mantenha a
câmera focada no fogo, parada.
Veja o que acontece.
4.​ Aponte a câmera para o horizonte e vire rapidamente.
Aponte a câmera para o horizonte e vire bem devagar.
Veja o que acontece.
5.​ Filme um rosto rapidamente (por dois segundos); então, filme
rapidamente uma flor colorida, de qualquer cor, e após filme o rosto
novamente, brevemente; depois, a flor de novo. Faça isso cerca de
dez vezes.
Veja o que acontece.
6.​ Filme uma rua (você pode fazê-lo de uma janela) ocupada pelo
trânsito.
Filme continuamente por dez segundos.
Filme a mesma rua e trânsito em irrupções rápidas de quadros.
Obtenha um filme de dez segundos.
Veja o que acontece.

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