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ACHADOS DE MARCOS MONTEIRO SOBRE SANTO TOMÁS DE AQUINO

«Sobre S. Tomás, astrologia, e gente que não sabe ler.


Tem um sujeito meio maluco me atazanando via messenger, na missão de 1) me convencer
a abandonar a astrologia porque ela não é cristã, e 2) me convencer a abandonar a Igreja
Católica porque ela não é cristã.
Aí, ele usa o melhor material à mão, S. Tomás de Aquino :D
"Você leu o Artigo 1 da Questão 95 da Segunda Parte da Segunda Parte: É pecado prever o
futuro (adivinhação)?"
Objeção 3: "men by natural inclination seek to foreknow future events; and this belongs
to divination. Therefore divination is not a sin. " (...) it is not called divination, if a man
foretells things that happen of necessity, or in the majority of instances, for the like can be
foreknown by human reason: nor again if anyone knows other contingent future things,
through divine revelation: for then he does not divine, i.e. cause something divine, but
rather receives so-mething divine. Then only is a man said to divine, when he usurps to
himself, in an undue manner, the foretelling of future events: and this is manifestly a sin.
Consequently divination is always a sin; and for this reason Jerome says in his
commentary on Micah 3:9, seqq. that "divination is always taken in an evil sense." (...)
Reply to Objection 3. Man has a natural inclination to know the future by human means,
but not by the undue means of divination.1 Ou seja, S. Tomás diz que os homens, por
inclinação natural, procuram prever eventos futuros. Mas se o homem prediz coisas que
acontecem necessariamente, ou na maioria dos casos, isso não é divinação porque pode ser
prevista pela razão humana.
Então, divinação é sempre um pecado, mas prever o futuro de coisas necessárias (e receber
profecias de Deus) não é divinação.
Ou seja: DIVINAÇÃO É PECADO, MAS ASTROLOGIA (pelo menos a não-retardada) NÃO
É DIVINAÇÃO, SEGUNDO SÃO TOMÁS.
Não é lindo?» – 29 de março de 2018
«SANTO TOMÁS, encerrando a discussão sobre determinismo e livre-arbítrio."[Capitulo 137,
Diz-se que há coisas causais e fortuitas]: Ainda todavia que todas as coisas, mesmo as mínimas,
sejam dispostas por Deus [...] quando sucedem coisas fora da intenção das causas segundas, são
fortuitas ou casuais com respeito a essas causas; e podem dizer-se simpliciter casuais [...]. Se

1
http://www.newadvent.org/summa/3095.htm#article1
porém se têm com respeito a Deus, não são fortuitas, mas premeditadas". Sto. Tomás de A-
quino, Compêndio de Teologia, pág. 275. Pronto, colegas, podem ir discutir outra coisa, Lua
fora de curso, regência de Quíron, sei lá.» – 15 de maio de 2015.

«"Ah, mas S. Tomás nunca disse que os astros influenciam as pessoas! Isso é mentira"
Arrã:
Compêndio de Teologia, Capítulo 127, Ed. Concreta. Trad. Carlos Nougué e Tiago Gadotti.
"Os corpos inferiores são dispostos pelos superiores, mas não o intelecto humano"
"Assim, pois, como umas substâncias intelectuais são governadas por Deus mediante outras, ou
seja, as inferiores mediante as superiores, assim também os corpos inferiores são causados pelos
movimentos dos corpos celestes, e da virtude dos corpos celestes os inferiores conseguem a
forma e a espécie, assim como a razão inteligível das coisas advém aos espíritos inferiores pelos
superiores. Como porém na ordem das coisas a substância intelectual se antepõe a todos os
corpos, não convém segundo a referida ordem da providência que Deus reja nenhuma substân-
cia intelectual mediante nenhuma substância corpórea. Como pois a alma humana é uma subs-
tância intelectual, é impossível que, enquanto pensa e quer, se disponha segundo o movimento
dos corpos celestes. Portanto, nem sobre o intelecto humano nem sobre a vontade humana os
corpos celestes podem agir nem influir diretamente".
[...]
"Capítulo 128. De que modo o intelecto humano se perfaz mediante as potências sensitivas, e
assim, indiretamente, se submete aos corpos celestes"
Mas deve considerar-se que a cognição do intelecto humano tem origem nas potências sensiti-
vas; por isso, se se perturba a parte fantástica ou imaginativa, ou a memorativa da alma, per-
turba-se a cognição do intelecto, e, se tais potências se encontram bem, então convenientemente
se faz a recepção do intelecto. Semelhantemente, com efeito, a imutação do apetite sensitivo
provoca alguma imutação à vontade, que é o apetite da razão, porquanto o bem apreendido é
objeto da vontade. Sem dúvida, enquanto somos diversamente dispostos segundo a concupis-
cência, segundo a ira, segundo o temor ou segundo outras paixões, diversamente algo nos pa-
rece bom ou mau. Mas todas as potências da parte sensitiva, sejam apreensivas ou apetitivas,
são atos de partes do corpo, e, se se imutam estas, é necessário que se imutem per accidens
aquelas mesmas potências. Como, portanto, a imutação dos corpos inferiores está sujeita ao
movimento do céu, as operações das potências sensitivas, ainda que per accidens, submetem-
se ao mesmo movimento, e, assim, indiretamente, o movimento celeste algo opera sobre o ato
do intelecto e sobre o da vontade do homem, enquanto, com efeito, pelas paixões a vontade se
inclina a algo. Como porém a vontade não se submete às paixões de modo que deva seguir
necessariamente seu ímpeto, senão que antes tem em seu poder reprimir as paixões segundo o
juízo da razão, consequentemente a vontade humana tampouco se submete aos influxos dos
corpos celestes, senão que tem livre juízo para segui-lo ou para resistir-lhe quando bem lhe
pareça, o que porém não é próprio senão dos sábios. Mas seguir as paixões e as inclinações
corporais é de muitos, ou seja, os que carecem de sabedoria e de virtude".
Depois eu faço um "TL;DR" desse trecho.» – 22 de agosto de 2018.

Comentários relevantes do post acima:


«Don Geronimo Acho que é meio obvio que se os astros controlam a parte física eles
controlam indiretamente o intelecto ao controlar o que e como a pessoa sente e como a
vastíssima maioria das pessoas tem um intelecto adormecido, vivendo de sensação em
sensação o resultado prático é que elas são 100% controladas pelos astros já que seus
intelectos existem apenas potencialmente.
«Marcos Monteiro - Astrologia Sim, é uma realidade triste, mas que eu constato quase
todos os dias. As pessoas se comportam como se não tivessem livre-arbítrio nenhum.
Eu só faço um adendo, eu usaria o "controladas pelos astros" entre aspas, porque, tradu-
zindo o que S. Tomás queria dizer para a nossa mentalidade, os astros simbolizam as
formas/ideias, etc. Quando a gente pensa em "controlar", hoje em dia, pensa em forças
físicas, o que não era o caso.»

«Versão "TL;DR" do trecho de S. Tomás:


Tudo, exceto as substâncias intelectuais (a vontade e o intelecto humanos, os anjos, etc.), é
movido pelos astros, porque os corpos superiores movem os corpos inferiores.
O intelecto e a vontade podem ser movidos indiretamente, porque, ainda que livres, são influ-
enciados (não de forma obrigatória) por corpos.
OU SEJA: Segundo S. Tomás, se você não for um anjo, só as suas partes REALMENTE livres
(vontade e intelecto) são isentas da "influência dos astros" (i.e., são independentes dos limites
do mundo corporal cuja natureza os astros mostram). E se você não for um santo, na prática,
nem estas.» – 22 de agosto de 2018.

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